ECOS DO BRASIL

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Professor Titular da Universidade de São Paulo e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Capa Ecos Brasil Final.indd 2

Benjamin Abdala Junior (org.)

Paulo Motta Oliveira

Ecos do Brasil se baseia na profunda troca cultural entre Portugal e Brasil. Lançada originalmente em 2000, em homenagem aos 100 anos de morte de Eça de Queirós, a obra é republicada agora pelas Edições Sesc numa edição revista e ampliada. O livro é estruturado em duas partes: a primeira compreende artigos de estudiosos brasileiros e portugueses sobre a obra eciana e a segunda traz uma antologia de textos não ficcionais de Eça de Queirós organizada por Carlos Reis. Os artigos abordam as vertentes ficcionais e não ficcionais da produção eciana, assim como buscam refletir sobre suas influências e as características pelas quais é mais comumente conhecida: o naturalismo, o realismo, a elegante mordacidade, a visão crítica e a composição minuciosa e irônica de tipos, comportamentos, grupos sociais e da atmosfera burguesa em Portugal.

Ecos do Brasil: Eça de Queirós, leituras brasileiras e portuguesas

de Ana Teresa Peixinho, analisa as Cartas de Londres, publicadas por Eça na década de 1870 num jornal do Porto, ou seja, no período em que lança seus primeiros romances, enquanto José Carlos Siqueira se debruça sobre o final da carreira do escritor, mostrando o papel central que as crônicas e ensaios possuem no período. Os últimos dois capítulos relacionam – de maneiras diversas – a obra do autor de Os Maias com a do bruxo do Cosme Velho, o nosso incontornável ­Machado de Assis. Os dois abordam a crítica que Machado escreveu sobre O primo Basílio. O primeiro, de Maria do Rosário Cunha, discute a poética das personagens queirosianas, centrando a atenção especialmente em Luísa de O primo Basílio, e reflete sobre a forma como não só Machado, mas também João Gaspar Simões, se referiram à personagem; o segundo, de Marli Fantini, analisa de forma mais detida a recepção de Machado sobre as obras do autor português, e levanta hipóteses para as posturas adotadas pelo autor de Esaú e Jacó. O livro se fecha com uma preciosa antologia de textos ecianos sobre o Brasil, organizada por Carlos Reis, e que inclui, como acima indiquei, a carta de Fradique Mendes a Eduardo Prado. Pela qualidade das análises, enriquecidas nesta segunda edição por textos inéditos, e pela antologia que permite uma visão da forma como Eça se referiu ao Brasil, este livro é sem dúvida um grande contributo para aqueles que já conhecem, ou para os que pretendem conhecer, a obra de um dos mais importantes escritores oitocentistas de língua portuguesa.

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Benjamin Abdala Junior

Ecos do

Brasil Eça de Queirós, leituras brasileiras e portuguesas

A

qui está uma oportunidade de, neste século xxi que já fecha a sua segunda década, nos reaproximarmos de um escritor português que teve, e ainda tem, grande importância para a cultura brasileira. Antonio Candido, no primeiro ensaio desta obra, termina seu texto se referindo à “caudal poderosa que foi a voga de Eça de Queirós no Brasil nesses cento e poucos anos”. Se Eça nunca aqui esteve – diferentemente de seu quase heterônimo Fradique Mendes, que tem uma interessante carta sobre o Brasil enviada a Eduardo Prado, com que se fecha a antologia de textos do autor presente neste volume –, várias foram as suas marcas impressas em nosso país. Candido aponta, num texto em parte autobiográfico, a importância do autor para a sua geração; Carlos Reis analisa vários críticos literários brasileiros que, ao longo de todo o século xx, se debruçaram, a partir de diferentes perspectivas, sobre a obra do autor de A relíquia; Elza Miné investiga a longa colaboração de Eça, publicada na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro; Isabel Pires de Lima amplia o espectro, ao apontar a presença de Eça em obras de autores do Brasil, de Portugal e de Angola, e, reforçando o que já havia dito Candido, ao afirmar “que ontem como hoje, mais de cem anos após a sua morte, Eça é lido, relido e estudado por brasileiros e portugueses com idêntico interesse. Tal perenidade é sinal indiscutível da elevada dimensão artística e da atualidade da obra queirosiana”. Essa importância é reforçada no capítulo seguinte, em que Benjamin Abdala Junior mostra a inegável importância de Eça para a obra de Graciliano Ramos, além de tecer comentários sobre os diálogos possíveis desses dois autores com Carlos de Oliveira. Em perspectivas diversas, os dois capítulos seguintes se centram em outros aspectos da obra do autor português. De forma quase simétrica, ambos trabalham com as publicações jornalísticas de Eça. O primeiro,

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