ESPAÇO EM OBRA

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Giselle Beiguelman Artista e professora da FAU-USP, seu trabalho inclui projetos em rede, instalações multimídia e intervenções no espaço público. Foi curadora de Arquinterface: a cidade expandida pelas redes e é autora de Futuros possíveis: arte, museus e arquivos digitais (2014), entre outros.

espaço em obra trata da convergência entre cidade, arquitetura e arte no Brasil e no exterior, e está organizado em três temas principais. O primeiro discute o impasse do urbanismo ante os novos desafios que o desenvolvimento impõe. O segundo estuda esses dilemas globais com foco no Brasil. O terceiro analisa a arte e sua inserção na arquitetura e no urbanismo, concentrandose nas intervenções artísticas que dialogam com a cidade e os cidadãos.

oe ço em aço em o paço em ob spaço em obr espaço em obra ISBN 978-85-9493-076-7

apoio cultural

guilherme wisnik + julio mariutti

Daí a necessidade de chamar atenção para a sustentabilidade, apostando em soluções baseadas na reciclagem e no reaproveitamento como possibilidades construtivas. E é isso que se faz neste livro. Sem ceder à tentação de demonstrar fórmulas e resolver conflitos, este espaço em obra é um convite à interpretação das palavras e das coisas. Ele se abre ao leitor como um original de segunda geração, no qual se descreve em cada retorno um novo centro e outro possível recomeço.

Este livro é resultado da parceria entre uma coletânea de artigos publicados por Guilherme Wisnik, arquiteto, crítico de artes visuais e professor da FAU-USP, e a concepção visual do designer gráfico Julio Mariutti; uma experiência que se materializa na interseção do racional com o sensível.

espaço em obra

da cidade organizada como “Carrópolis”, um dos temas da 10a Bienal de Arquitetura, da qual Wisnik foi curador-geral, e que pontua vários momentos desta coletânea. Esse tipo de cidade é estruturada a partir da ilusão de liberdade que o automóvel nos dá, ainda que nos aprisionando no trânsito, poluindo o ambiente e consumindo desmedidamente combustível fóssil. Símbolo de um life style irresponsável, a Carrópolis corrobora uma tese cara a Wisnik, de que “o conceito de obsolescência programada está se deslocando dramaticamente das mercadorias para o próprio território do planeta”.

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espaço em obra, de Guilherme Wisnik e Julio Mariutti, é um livro palimpsesto. Como os antigos pergaminhos que tinham o texto raspado para serem reescritos, aqui cada página remete a múltiplas camadas. Uma dessas camadas diz respeito ao diálogo autoral que Wisnik e Mariutti mantêm desde os tempos da revista Bamboo. Nela Wisnik escreveu uma coluna de 2012 a 2016, colocando a arquitetura, o urbanismo e a arte em diálogo com o design gráfico a partir das interlocuções com Mariutti. Outra camada aparece nos títulos. Desde o do livro, espaço em obra, referência à interpretação que o crítico Alberto Tassinari dá ao espaço moderno, até os das três partes que organizam o volume. O título da primeira parte, “O que aconteceu com o urbanismo?”, é uma citação de um ensaio do arquiteto Rem Koolhaas. O da segunda, “Gigantesco país da América”, retoma a expressão de Le Corbusier a respeito do Brasil. O último, “Artearquitetura”, é um neologismo que aponta para O complexo arte-arquitetura do crítico e professor emérito da Universidade de Princeton Hal Foster. A camada mais multifacetada é a da edição do conjunto dos textos. Ela apresenta, além dos 42 artigos publicados na Bamboo, cinco inéditos (“A informidade do informal”, “Lazer e jogo”, “Os lugares outros”, “Entre o lugar e o mapa” e “Vazio e sombra”). Reorganizados a partir de três chaves temáticas – os desafios do urbanismo, o Brasil e as relações entre arte e arquitetura –, os textos são articulados à temporalidade da leitura sequencial que o livro proporciona. Dessa forma, apesar de produzidos isoladamente e em diferentes épocas, formam um todo integralmente novo. Nele se avizinham, sem que se criem falsas continuidades, perfis analíticos de cidades como Tóquio, Shenzen, Brasília e São Paulo, e de artistas como Hélio Oiticica, Cildo Meireles, Gordon Matta-Clark e Michael Wesely, para citar alguns. Somam-se a eles verdadeiros portraits de arquitetos e estúdios, como Sérgio Bernardes, Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer; entre os internacionais, Tadao Ando, Herzog & de Meuron, Diller Scofidio e SANAA. Todos retratados a partir de suas obras. Não menos relevantes são as reflexões sobre o Plano Diretor municipal de São Paulo aprovado na gestão de Fernando Haddad, em 2014, frente aos impasses da cidade pós-industrial. Na mesma direção, vale o olhar retrospectivo para interrogar quais foram os desdobramentos, no campo da urbanização contemporânea, do “espetáculo do crescimento” do governo Lula. Entremeando esses temas, são colocadas discussões que nos levam a repensar a emergência de alguns fenômenos recentes e a persistência de outros. Por um lado, aparece a densidade de movimentos como Ocupe Estelita, no Recife, e Praia da Estação, em Belo Horizonte, que marcaram as formas de ativação do espaço público nas cidades brasileiras. Por outro, a vitalidade paradoxal, porque mortífera,


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