Cristina Martins Fargetti
CA N TO R A S DA S CA N TI GA S D E N I N A R J U R U N A
Hῖ, Xutã, Nuyã, Kuxinã, Tupi, Tabananã, Dayadumã, Dayawá, Xibidu, Kudaximã, Kahadu, Taperida, Sedu, Yarupi, Kabaya, Kadealu, Ma’ayu, Kabayaku e Duyadi G R AVA Ç Ã O realizada em Tubatuba/Maitxiri, Estúdio da
Mata, em setembro de 2011, por Cristina Martins Fargetti (coordenação) e Juliana Nazatto Mondini (técnica de som)
Desde a década de 1980, a linguista Cristina Martins Fargetti estuda a
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por juruna. Ao longo desses anos, ela adquiriu profundo conhecimento
língua e a cultura do povo yudjá, mais conhecido entre os não indígenas e proximidade com os membros da etnia, encontrando particularidades
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culturais como o tipo de humor característico e a presença de uma categoria de animais nomeada bichos-gente, que remontam à cosmologia ancestral juruna. Além de todo o trabalho de pesquisa acadêmica – boa parte referenciada neste livro –, foram reunidas e gravadas 49 cantigas
Fala de bicho,
M A S T E R I Z A Ç Ã O D O C D Celso Rocha e Estúdio Apache
modo, resistem ao processo de aculturação que ameaça os povos originários desde o contato com os brancos. A obra apresenta, ainda, um estudo e partituras compostos pela musicista Marlui Miranda e um CD com as cantigas gravadas com as vozes das mulheres yudjá.
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fala de gente
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CA NTI GAS D E N I N A R D O P OVO J U R U N A
Cristina Martins Fargetti PA R T I C I PA Ç Ã O D E
de ninar, cantadas por mães e avós que embalam suas crianças e, desse
ISBN 978-85-9493-031-6
Fala de bicho, fala de gente Marlui Miranda
Aproveitem os leitores a viagem extraordinária pelos yudjá do Parque Indígena do Xingu, também conhecidos como juruna, pelos sons e letras de Cristina Martins Fargetti, com a colaboração de Marlui Miranda. Duas grandes pesquisadoras, que a música e o amor por um mesmo povo tornam irmãs. Cristina Martins Fargetti, linguista e musicista, autora do livro, dedica-se a eles desde 1989. Enquanto o saudoso professor Aryon Dall’Igna Rodrigues, verdadeira enciclopédia para os estudiosos das nossas línguas, indicava em 1986 que a língua juruna era quase desconhecida, Cristina, ao longo dos anos, trabalhou com professores juruna na escrita, com eles desvendando significados, aprendendo o idioma, registrando rituais, músicas, mitos, organização socioeconômica, sempre com autoria da comunidade. Tem uma íntima ligação com o povo. No novo trabalho, sua atenção recai sobre um gênero musical pouco estudado nas pesquisas de diferentes profissionais: as cantigas de ninar. Antes de entoar as juruna, ela nos dá vontade de aprender as do repertório de Portugal, as menos numerosas brasileiras, as de García Lorca, as europeias. Fala das indígenas, ainda na sombra. E nos pega de surpresa: as crianças são envoltas em seres assustadores, cantigas de mães adúlteras, lamentos de pobreza... hão de adormecer não pelas letras e pelo conteúdo, mas por misteriosa magia de embalos e sons. Foi um desejo dos yudjá gravar, escrever e traduzir as cantigas de ninar, não incluídas em projetos anteriores. São as 49 que constam deste Fala de bicho, fala de gente. Com eles, Cristina organizou oficinas, observou, viveu junto de mães e crianças, utilizou tecnologia avançada para o registro. Pela música, surge um universo cósmico. Há gente, os humanos, e os que ela traduziu como bicho-gente, entes misturados, que não podemos classificar de animais mas também o são. Marlui Miranda, que já trabalhara com os yudjá, participou de algumas oficinas do projeto, orientou colaboradores de Cristina na tecnologia das gravações, deve ter cantado muito com sua voz dourada nascida do além, quem sabe dos Alapa, habitantes juruna dos céus, cantadores de gêneros musicais etéreos, mas não de ninar. Foi dela a gigantesca proeza de escrever as partituras de todas as cantigas do livro. Tive o privilégio de viajar muito com Marlui; pesquisamos juntas, desde 1978, a música de vários povos. Sei do dom que ela tem de se tornar indígena, com afeto e amizade, extraindo raízes musicais e instrumentais como se estivesse arrancando a mandioca na roça com as outras mulheres. No capítulo que escreveu, ela revela uma face nova: de filósofa, escritora, consumada estudiosa de teorias musicais, analista sofisticada. Os musicistas hão de apreciar as novidades que traz. Com Cristina Fargetti e Marlui Miranda, refletimos como é fundamental valorizar a oralidade – aí compreendida a música – em coexistência com a escrita e a notação musical. Fala, voz, melodia, canto de belos artistas que não escrevem nem leem viram arte a exibir, expressão tão preciosa como a de escritores e músicos. Afinal, todo mundo sabe cantar, mesmo os iletrados; mas quantos cantores e compositores populares dominam a passagem a partituras? Betty Mindlin – antropóloga, com doutorado pela PUC-SP, e economista, com mestrado pela Universidade de Cornell, trabalha há anos em projetos de pesquisa e apoio a numerosos povos indígenas da Amazônia e outras regiões. Autora de diversos livros, entre eles Moqueca de maridos (Record, 1997), traduzido para diversos idiomas.
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Marlui Miranda
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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor Regional Danilo Santos de Miranda Conselho Editorial Ivan Giannini Joel Naimayer Padula Luiz Deoclécio Massaro Galina Sérgio José Battistelli Edições Sesc São Paulo Gerente Marcos Lepiscopo Gerente adjunta Isabel M. M. Alexandre Coordenação editorial Clívia Ramiro, Cristianne Lameirinha, Francis Manzoni Produção editorial Maria Elaine Andreoti Coordenação gráfica Katia Verissimo Produção gráfica Fabio Pinotti Coordenação de comunicação Bruna Zarnoviec Daniel
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Para Yabaiwa, Tarinu e Kanapayu, três gerações de professores, três guardiães de sua cultura, que muito me ensinaram. Para Hĩ, minha mãe juruna, cantora de todas as músicas.
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© Edições Sesc São Paulo, 2017 © Cristina Martins Fargetti, 2017 © Marlui Miranda, 2017 Todos os direitos reservados Preparação de texto Marina Bernard Saraiva Revisão Karinna A. C. Taddeo e Léia Guimarães Projeto gráfico e diagramação Negrito Produção Editorial Capa Negrito Produção Editorial Coordenação geral, estabelecimento da grafia das letras das cantigas em língua juruna e sua interpretação Cristina Martins Fargetti Partituras musicais Marlui Miranda Pesquisa sobre a forma, a tradução e a origem das cantigas de ninar Kanapayu, Tarinu, Hĩ, Xutã, Yabaiwa, Karin Apoio à pequisa
F224f Fargetti, Cristina Martins Fala de bicho, fala de gente: cantigas de ninar do Povo Juruna / Cristina Martins Fargetti; Participação de Marlui Miranda. – São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017. 304 p. il.: fotografias. Inclui 49 partituras e CD com registro sonoro. ISBN 978-85-9493-031-6 1. Etnomusicologia. 2. Cantigas de ninar. 2. Brasil. 3. Xingu. 4. Povo juruna. I. Título. II. Miranda, Marlui.
CDD 784.624
Edições Sesc São Paulo Rua Cantagalo, 74 – 13o/14o andar 03319-000 – São Paulo SP Brasil Tel. 55 11 2227-6500 edicoes@edicoes.sescsp.org.br sescsp.org.br/edicoes /edicoessescsp
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SUMÁRIO
Donos do rio – Danilo Santos de Miranda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Um trabalho a muitas mãos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
PA RTE I G E NTE ↔ B I C H O 1.. Os juruna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .23 2.. Um humor diferente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Velhos, cobras e outros bichos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3.. Ser ou não ser gente: o paradoxo juruna. . . . . . . . . . . . . . . . .41 Bichos-gente e suas histórias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 Os bichos-gente dos juruna e o debate antropológico. . . . . . . . . . . . . 46 4..Características da fala de bicho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65 A noção de erro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Exemplos de variação? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Errando entre os juruna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 Os erros dos bichos-gente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72
PA RTE I I CA NTI GAS D E N I N A R 5.. Uma visão sobre o gênero. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77 Origens ibéricas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .79 As cantigas de ninar brasileiras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Músicas indígenas: em busca do conhecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 6..Cantigas de ninar dos juruna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 Tipologia temática – os critérios adotados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109 Questões linguísticas para o entendimento das cantigas. . . . . . . . . . . 112 O humor nas cantigas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 O cancioneiro juruna de cantigas de ninar e sua proposta de tradução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
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7.. Arte e sobrevivência: a ecologia sonora nas cantigas de ninar juruna – Marlui Miranda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 Cultura e sobrevivência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 Um ecossistema musical juruna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176 Uma “lavoura arcaica”. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 A filosofia ecológica no campo da música juruna. . . . . . . . . . . . . . . . . 179 Em torno do cancioneiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184 Hĩ, a guardiã. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .186 Questões sobre a transcrição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .189 Paralelos entre os etnomodos e os respectivos discursos. . . . . . . . . . 206 Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .210
PA RTE I I I PA RTIT U R AS D O CA N C I O N E I R O Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217 . Partituras – Marlui Miranda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 221 Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .279 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289 Sobre as autoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .297 Agradecimentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 299 Créditos das imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .303
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DONOS DO RIO D A N I L O S A N TO S D E M I R A N D A Diretor Regional do Sesc São Paulo
Segundo contam os juruna, no começo dos tempos os animais, as plantas e mesmo as coisas podiam falar da mesma forma que os homens. Hoje, animais, plantas e objetos não falam mais. Mas dizem os juruna que Sela’ã, o imortal criador de todos os seres vivos, era filho de pai onça com mãe humana. Como primeiro humano nascido de uma mulher, para não ficar sozinho, ele andou bastante e, soprando suas pegadas do chão, fez surgir outros seres humanos e bichos-gente, que falavam como os homens e até se pareciam um pouco com eles, mas se comportavam como bichos. Por isso, depois de um tempo Sela’ã decidiu transformar os bichos-gente em bichos. Os juruna afirmam que os bichos-gente, depois de transformados em bichos, deixaram de se julgar humanos e passaram a ter medo deles, apesar de todos terem convivido no passado. Segundo a autora, mais do que as diferenças em seu modo de agir, os bichos-gente não falavam bem o idioma juruna, e esse teria sido o principal motivo pelo qual Sela’ã os separou e desumanizou. Por isso, as cantigas de ninar que trazem a fala de bichos-gente resgatam algo muito distante no tempo. Elas são examinadas, no contexto mais amplo da cultura juruna, tanto no aspecto etnolinguista, que norteia a pesquisa da autora Cristina Mar-
tins Fargetti, estudiosa deste povo desde 1989; quanto no que se refere à etnomusicologia, de que Marlui Miranda se vale para estudar as partituras das cantigas. O leitor também saberá que o povo tupi da família juruna vive no Parque Indígena do Xingu, em Mato Grosso. Que, sobrevivente do genocídio paulatino que na década de 1960 a reduziu a cerca de 50 pessoas, hoje a população juruna é estimada em quase 500 pessoas, todas falantes e ciosas da língua que conseguiram preservar, condição rara entre os povos indígenas brasileiros. Que juruna quer dizer boca preta (yuru = boca, una = preta), uma referência à tatuagem preta facial que esse povo usava até meados do século xix. Juruna é, portanto, o termo que os outros indígenas e os brancos utilizam para os designar, mas a autodenominação do grupo é yudjá, que significa “dono do rio”, pois são exímios canoeiros e pescadores. É intenção do Sesc que, a exemplo dos demais livros em sua linha de cultura indígena e como de outras iniciativas do Programa Diversidade Cultural, este Fala de bicho, fala de gente possa promover o reconhecimento, o respeito e a preservação de identidades, bem como do patrimônio material e imaterial dos diferentes grupos étnicos e sociais em nosso país.
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Este livro aborda as cantigas de ninar dos juruna, tentando registrar e compreender a tradição desse povo tupi brasileiro que habita o Parque Indígena do Xingu. Estudo inédito por dois motivos – pela abordagem sobre tal assunto desse povo e sobre esse gênero musical entre comunidades indígenas –, também traz informações novas mesmo quando se trata das cantigas de ninar de origem europeia. Isso se constitui fato relevante, quando se pensa nas dificuldades de acesso a fontes seguras para um pesquisador em etnomusicologia ou áreas afins1. A documentação, não só no Brasil, é escassa e, infelizmente, tais cantigas estão desaparecendo, pois não são conhecidas pelas gerações mais jovens, o que é relatado em diversas culturas. Os juruna perceberam isso logo e, através de oficinas que deram origem à ideia deste livro, resgataram esse conhecimento. Dizem eles que hoje as jovens cantam para seus bebês, o que se mostra como resultado muito positivo de seus esforços de resgate e valorização de sua música. Além de apresentar um estudo de interesse para áreas como etnomusicologia, antropologia, linguística e educação, este livro é, acima de tudo, a documentação de um aspecto importante da cultura juruna, pois conta com registro sonoro, com transcrição das cantigas em língua indígena e com uma proposta de sua interpretação. A escrita juruna tem apenas vinte e dois anos de existência. Foi proposta por mim durante cursos de formação de professores indígenas2, ocorridos no próprio Parque Indígena do Xingu (PIX). Os professores consolidaram 1. Há trabalhos de cunho folclórico/folclorista (tais como os de Silvio Romero, Cantos populares do Brasil, 2ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Clássica de Alves, 1897; e de Alexina de Magalhães Pinto, Os nossos brinquedos, Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1909) que, apesar de se constituírem cancioneiros voltados, principalmente, para uma região do país, não apresentam cantigas de ninar. 2. Cf. Cristina Martins Fargetti, “Breve história da ortografia da língua juruna”, Estudos da Língua(gem), Vitória da Conquista, jun. 2006a, no 3.
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Cristina Martins Fargetti, Hi˜ Yudjá, Marlui Miranda, Nuyã Yudjá e Tarinu Yudjá.
a escrita através do ensino bilíngue nas aldeias, mas contam com pouco material publicado em sua língua; um livro em juruna e português sobre sua cultura material, que apresenta uma ampla documentação iconográfica, foi escrito por professores e alunos juruna. Há também outro sobre a cultura do milho3. Esta obra foi dividida em três partes: a primeira apresenta o povo juruna e suas particularidades, discute aspectos antropológicos e linguísticos e procura definir o que difere gente de bicho-gente4, distinção importante para se compreender boa parte das cantigas. A segunda apresenta um 3. Cf. id., Kanemãi’a’ahã dju’a papera: livro do artesanato do povo juruna (yudjá), Campinas: Curt Nimuendajú, 2010b; Cristina Martins Fargetti; Márcia Martins (orgs.), Makaxi papera: livro do milho do povo juruna/yudjá, Campinas: Curt Nimuendajú, 2012. 4. Como ficará mais claro a seguir, chamo os bichos de antigamente, com atributos humanos, de “bichos-gente”. Essa é uma expressão que uso, mas que não é usada pelos juruna. É como compreendo o fato de bichos serem e não serem gente para eles. Na verdade, os bichos, mesmo quando tinham atributos humanos, em especial a fala, não eram propriamente humanos. Sempre foram compreendidos como animais apenas, e assim eles mesmos se viam, e os humanos assim também os viam.
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breve estudo sobre o gênero cantigas de ninar e, mais especificamente, as características destas na cultura juruna. Também apresenta o cancioneiro, com a letra transcrita e a tradução das 49 cantigas recuperadas pela comunidade indígena e organizadas por mim. A segunda parte se encerra com um capítulo escrito pela musicista Marlui Miranda, também responsável pela transcrição das partituras de todas as cantigas da terceira parte.
Cristina Martins Fargetti no início de suas pesquisas com o povo yudjá/juruna, em agosto de 1989.
U M T R A B A L H O A M U ITA S M Ã O S Conheci os juruna em 1989, no início de minha pesquisa linguística, quando pensava apenas em conhecer uma nova língua, com sistema fonológico diferente, e torcia para encontrar fenômenos morfossintáticos também diferentes e instigantes. Eu não imaginava o quanto aprenderia com eles, o quanto modificariam minha vida acadêmica e pessoal. É uma honra seguir estudando sua língua e cultura, e espero fazer jus a sua confiança e amizade. O interesse por este trabalho iniciou-se com outro, em que parte das cantigas foi gravada via projeto pelo Instituto Socioambiental (ISA). Contudo, diante da quantidade de cantigas não documentadas e da necessidade de se pesquisar mais sobre elas, Yabaiwa Juruna, presidente da Associação Yarikayu, propôs um novo projeto5. Assim, foram realizadas gravações 5. O projeto pôde ser realizado a partir de financiamento pelo Observatório da Educação Escolar Indígena – Capes, dentro do projeto Território etnoeducacional juruna/yudjá: projeto político-peda-
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em campo nas aldeias Tubatuba e Maitxiri, num local organizado pelos próprios moradores, chamado karia wï’ĩdaha – literalmente acampamento para festa, mas que foi traduzido, carinhosamente, por “estúdio na mata”. Esse local distanciava-se cerca de cem metros da aldeia Maitxiri, constituindo-se em uma clareira aberta entre a vegetação, em espaço calculado em 10 por 15 metros, onde foram feitos bancos em três cantos, e para onde foram levadas mesas, cadeiras e equipamentos de som e imagem. Foi construído por homens da aldeia, em 2011, para ser um local que se afastasse do burburinho da aldeia, com todos os seus gritos, choros, latidos, batidas etc., que atrapalhariam as gravações. Contudo, apesar desse cuidado, minha equipe e eu tínhamos de realizar nossos trabalhos muito cedo, pois depois das 10h, o barulho de certo tipo de cigarra, que canta muito na mata nessa época do ano (meados de setembro), era ensurdecedor e atrapalhou muito o primeiro dia de gravação, foi perdido. Contei com um gravador profissional, marca Marantz, modelo PMD671 (adquirido para o meu grupo de pesquisa, Linbra, pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Língua Portuguesa da Unesp Araraquara), e microfones também profissionais para gravação em estéreo, marca Beyerdynamic (emprestados por Marlui Miranda). Para a correta utilização do equipamento, contamos, na cidade, com as instruções fornecidas por Marlui e pelo engenheiro de som Celso Rocha, então proprietário do Estúdio Apache, localizado em Piracicaba, São Paulo. Ele foi o responsável pelo tratamento do que foi gravado em campo, concretizando a edição que fiz e, posteriormente, a masterização, fornecendo desse modo a matriz para a reprodução do material editado. As gravações da maioria das cantigas de ninar, com as mulheres adultas e jovens da etnia, ocorreram em 2011, com registros de apenas algumas delas em 2012, e seguiram minha coordenação (quando discuti com Yabaiwa a ordem das cantigas a ser seguida; organizei os trabalhos na aldeia; coordenei as sessões de gravação, conversando com as mulheres sobre o que iriam cantar; organizei os equipamentos; remunerei participantes indígenas e não indígenas; estabeleci a grafia das cantigas, uniformizando de acordo com a ortografia da língua; pesquisei com os
gógico e sua implementação, coordenado por mim, com ênfase no ensino da língua indígena, com vigência entre início de 2010 e final de 2012 (principalmente para as gravações em campo e para a produção do CD e do DVD). Contou também, a princípio, com apoio dentro do projeto Para um inventário da língua juruna, financiado pelo IPHAN, com vigência entre 2009 e 2010 (para as reuniões de discussão do projeto). E, no final, com apoio do projeto Uma proposta lexicográfica para os juruna/yudjá do Xingu, pelo CNPq, Edital Universal 2013 (para o trabalho final de revisão e de tradução).
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mais velhos sua interpretação, propondo traduções para o português, mas aprofundando o estudo para análises interdisciplinares; etc.). Em 2012, os trabalhos no estúdio da mata tiveram inclusive a participação de alguns homens, que tocaram alguns dos instrumentos de sopro tradicionais da etnia (awã pare˜, um aerofone transversal de dois furos; hu’ï abe, um instrumento em duo com casca de tracajá funcionando em fricção juntamente com um aerofone vertical sem furos e de três tubos; e waruba, um aerofone vertical de quatro furos) e cantaram e dançaram com as mulheres algumas canções. Essas músicas, contudo, não compõem o CD, cuja edição, em sua maior parte, é anterior e registrou apenas as cantigas de ninar, na ordem em que aparecem aqui analisadas, uma vez que o projeto se restringia a elas, tratando-as o mais exaustivamente possível, o que não poderia ser feito com a música instrumental, que requer outro estudo específico. O DVD, produzido a partir das viagens dos dois anos (com a participação de Filó Comunicação), conta em seus extras com a filmagem dos momentos de gravação do CD em 2011 e com os trabalhos de 2012, inclusive com entrevistas de músicos indígenas e não indígenas, e amostras de outros tipos de cantigas, bem como de músicas instrumentais. Para a normatização das letras das cantigas, tive ajuda dos professores e estudantes da aldeia Tubatuba, podendo discutir formas ortográficas de palavras por vezes pouco conhecidas ou mesmo em juruna antigo ou na chamada fala de bicho. Tomei, contudo, decisões sobre sua forma final, retirando trechos escritos por jovens juruna inadequadamente repetidos, mantendo a escrita das cantigas seguindo a maneira com que foram cantadas. Assumo tais decisões, e os possíveis erros ainda remanescentes são de minha inteira responsabilidade. Para o trabalho de tradução das letras das cantigas, contei com a pesquisa feita por Yabaiwa, Karin e Tarinu, e com os mais velhos, em especial Hĩ, Xutã e Kanapayu. Algumas letras ficaram com a tradução/explicação em suspenso, apresentando um sentido parcial, pois sua história se perdeu com o tempo. Para a transcrição e tradução das histórias, tive a colaboração de Yawadá, mulher juruna, falante da língua, com bom conhecimento do português e disponibilidade para o trabalho na cidade. Seu tio, Tarinu, é o responsável pela transmissão de diversas histórias e pelo contato com os mais velhos na aldeia. A paciência e a generosidade dessas pessoas durante todo o processo são bens inestimáveis. As gravações em campo foram realizadas em setembro de 2011, contando com a participação da equipe do projeto, Flávia de Freitas Berto, Juliana Nazatto Mondini e Lígia Egídia Moscardini, que realizavam trabalho
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Gravação no estúdio da mata com as mulheres juruna, Juliana Nazatto Mondini e Bruna Epiphanio
de coleta de dados para suas pesquisas individuais. Juliana foi a técnica de gravação, uma vez que havia sido treinada para o manuseio do equipamento. Trabalhou em conjunto com Bruna Epiphanio, cinegrafista, que documentou em vídeo todo o processo, sendo auxiliada por quatro jovens juruna – as meninas Arekadu e Dadimã e os rapazes Yariatu e Arewana – que receberam treinamento de Bruna em oficinas e hoje são considerados jovens cinegrafistas juruna, produzindo material diverso entre seu povo. Uma nova viagem foi realizada em 2012, contando dessa vez com a participação de Marlui Miranda e da equipe anterior. Marlui tem uma história antiga com os juruna: no final da década de 1970 gravou “Tininin”, canção que fazia referência ao personagem criado por Ziraldo6. Posteriormente, no CD IHU, todos os sons, de 1995, gravou a música juruna “Ju Paraná”. Mas 6. Na década de 1960, Ziraldo criou a Turma do Pererê, um saci que tinha vários amigos, entre os quais um indiozinho chamado Tininin. Perguntei para o Ziraldo de onde ele tirou esse nome indígena, pois é o mesmo do atual chefe da comunidade. “Pois é o mesmo!”, disse Ziraldo, e então contou que no início dos anos 1960 havia conhecido o Tininin (com 6 ou 7 anos), que estava no Rio de Janeiro com os irmãos Villas Bôas. Ficaram amigos, e ele o acompanhou ao consultório de um dentista para tratamento. Gostou tanto do menino que se inspirou nele para criar a personagem. Nessa época, Marlui Miranda compôs e interpretou a canção “Tininin”, em parceria com Ziraldo, veiculada principalmente pela televisão.
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FA LA D E BIC H O, FALA D E G E NTE
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só conheceu pessoalmente os juruna em 2000, quando esteve no lançamento do vídeo Sãluahã: o retorno à festa 7, que trata da festa de término da reclusão de duas meninas juruna. Nessa ocasião, os juruna subiram ao palco e cantaram e dançaram com Marlui. Enfim ela pôde conhecer pessoalmente o povo em sua comunidade nessa viagem de 2012. Cantou para eles, inclusive para o chefe Tininin, e os juruna, por sua vez, cantaram para ela8. Nessa oportunidade, houve uma conversa a respeito das características da música juruna e sua proposta de interpretá-la. Em agosto de 2014, acompanhada pelos músicos Nelson Ayres (piano), Caíto Marcondes (percussão), Rodolfo Stroeter (baixo) e John Surman (sopros), Marlui lançou no Sesc Santana, em São Paulo, o CD Fala de bicho, fala de gente. Este constituiu um trabalho de releitura jazzística da música juruna, em especial algumas cantigas de ninar e algumas cantigas da Kuataha de abïa, a “festa do centro da aldeia”. Realizou um notável trabalho artístico, valorizando a música juruna e apresentando-a para o público geral. Este livro, com certeza, é um trabalho que permite muitas leituras e perspectivas diferentes: a língua e a música indígenas, com registros escritos e audiovisuais. É possível apreciar, portanto, a música juruna em sua manifestação original e entender a sua releitura artística. Obviamente, este trabalho é importante para os próprios juruna, que podem utilizar como forma de memória em sua escola, como bem enfatizou Yabaiwa, e estabelecer diálogo com músicos, antropólogos e linguistas que se interessem pela temática abordada, e com o público em geral, que pode ter acesso a questões culturais referentes a um povo indígena brasileiro.
Marlui Miranda sendo pintada com jenipapo por Tupi Juruna.
7. Realizado no Teatro Unimep com a participação de onze juruna, entre eles Yabaiwa e Tarinu, pai e filho. Esse vídeo, lançado em VHS, conta hoje com reedição em DVD. Cristina Martins Fargetti, Sãluahã: o retorno à festa (DVD), Piracicaba: Filó Comunicação, 2010c (58 min). 8. Isso está registrado no documentário. Cf. Cantigas de ninar do povo juruna (documentário), Cristina Martins Fargetti (direção e produção), São Paulo/Piracicaba: Ponto4 Digital/Filó Comunicação, 2012 (20 min).
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Cristina Martins Fargetti
CA N TO R A S DA S CA N TI GA S D E N I N A R J U R U N A
Hῖ, Xutã, Nuyã, Kuxinã, Tupi, Tabananã, Dayadumã, Dayawá, Xibidu, Kudaximã, Kahadu, Taperida, Sedu, Yarupi, Kabaya, Kadealu, Ma’ayu, Kabayaku e Duyadi G R AVA Ç Ã O realizada em Tubatuba/Maitxiri, Estúdio da
Mata, em setembro de 2011, por Cristina Martins Fargetti (coordenação) e Juliana Nazatto Mondini (técnica de som)
Desde a década de 1980, a linguista Cristina Martins Fargetti estuda a
E D I Ç Ã O D O C D Cristina Martins Fargetti
por juruna. Ao longo desses anos, ela adquiriu profundo conhecimento
língua e a cultura do povo yudjá, mais conhecido entre os não indígenas e proximidade com os membros da etnia, encontrando particularidades
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culturais como o tipo de humor característico e a presença de uma categoria de animais nomeada bichos-gente, que remontam à cosmologia ancestral juruna. Além de todo o trabalho de pesquisa acadêmica – boa parte referenciada neste livro –, foram reunidas e gravadas 49 cantigas
Fala de bicho,
M A S T E R I Z A Ç Ã O D O C D Celso Rocha e Estúdio Apache
modo, resistem ao processo de aculturação que ameaça os povos originários desde o contato com os brancos. A obra apresenta, ainda, um estudo e partituras compostos pela musicista Marlui Miranda e um CD com as cantigas gravadas com as vozes das mulheres yudjá.
I N C L U I C D E PA R T I T U R A S
fala de gente
Fala Bicho - capa.indd 1
CA NTI GAS D E N I N A R D O P OVO J U R U N A
Cristina Martins Fargetti PA R T I C I PA Ç Ã O D E
de ninar, cantadas por mães e avós que embalam suas crianças e, desse
ISBN 978-85-9493-031-6
Fala de bicho, fala de gente Marlui Miranda
Aproveitem os leitores a viagem extraordinária pelos yudjá do Parque Indígena do Xingu, também conhecidos como juruna, pelos sons e letras de Cristina Martins Fargetti, com a colaboração de Marlui Miranda. Duas grandes pesquisadoras, que a música e o amor por um mesmo povo tornam irmãs. Cristina Martins Fargetti, linguista e musicista, autora do livro, dedica-se a eles desde 1989. Enquanto o saudoso professor Aryon Dall’Igna Rodrigues, verdadeira enciclopédia para os estudiosos das nossas línguas, indicava em 1986 que a língua juruna era quase desconhecida, Cristina, ao longo dos anos, trabalhou com professores juruna na escrita, com eles desvendando significados, aprendendo o idioma, registrando rituais, músicas, mitos, organização socioeconômica, sempre com autoria da comunidade. Tem uma íntima ligação com o povo. No novo trabalho, sua atenção recai sobre um gênero musical pouco estudado nas pesquisas de diferentes profissionais: as cantigas de ninar. Antes de entoar as juruna, ela nos dá vontade de aprender as do repertório de Portugal, as menos numerosas brasileiras, as de García Lorca, as europeias. Fala das indígenas, ainda na sombra. E nos pega de surpresa: as crianças são envoltas em seres assustadores, cantigas de mães adúlteras, lamentos de pobreza... hão de adormecer não pelas letras e pelo conteúdo, mas por misteriosa magia de embalos e sons. Foi um desejo dos yudjá gravar, escrever e traduzir as cantigas de ninar, não incluídas em projetos anteriores. São as 49 que constam deste Fala de bicho, fala de gente. Com eles, Cristina organizou oficinas, observou, viveu junto de mães e crianças, utilizou tecnologia avançada para o registro. Pela música, surge um universo cósmico. Há gente, os humanos, e os que ela traduziu como bicho-gente, entes misturados, que não podemos classificar de animais mas também o são. Marlui Miranda, que já trabalhara com os yudjá, participou de algumas oficinas do projeto, orientou colaboradores de Cristina na tecnologia das gravações, deve ter cantado muito com sua voz dourada nascida do além, quem sabe dos Alapa, habitantes juruna dos céus, cantadores de gêneros musicais etéreos, mas não de ninar. Foi dela a gigantesca proeza de escrever as partituras de todas as cantigas do livro. Tive o privilégio de viajar muito com Marlui; pesquisamos juntas, desde 1978, a música de vários povos. Sei do dom que ela tem de se tornar indígena, com afeto e amizade, extraindo raízes musicais e instrumentais como se estivesse arrancando a mandioca na roça com as outras mulheres. No capítulo que escreveu, ela revela uma face nova: de filósofa, escritora, consumada estudiosa de teorias musicais, analista sofisticada. Os musicistas hão de apreciar as novidades que traz. Com Cristina Fargetti e Marlui Miranda, refletimos como é fundamental valorizar a oralidade – aí compreendida a música – em coexistência com a escrita e a notação musical. Fala, voz, melodia, canto de belos artistas que não escrevem nem leem viram arte a exibir, expressão tão preciosa como a de escritores e músicos. Afinal, todo mundo sabe cantar, mesmo os iletrados; mas quantos cantores e compositores populares dominam a passagem a partituras? Betty Mindlin – antropóloga, com doutorado pela PUC-SP, e economista, com mestrado pela Universidade de Cornell, trabalha há anos em projetos de pesquisa e apoio a numerosos povos indígenas da Amazônia e outras regiões. Autora de diversos livros, entre eles Moqueca de maridos (Record, 1997), traduzido para diversos idiomas.
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