GRACILIANO: romancista, homem público, antirracista

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Este livro compreende o período da escrita dos quatro romances de Graciliano – Caetés, São Bernardo, Angústia e Vidas secas –, apresentando e analisando personagens e episódios fictícios à luz dos acontecimentos históricos do Brasil antes e durante o Estado Novo.

EDILSON DIAS DE MOURA

Num arco digno de um personagem redondo, à medida que escrevia seus livros e exercia sua função administrativa, Graciliano marcou posição como dissidente das teses racistas e defensor do arbítrio humano. Não carece explicar o adjetivo antirracista, pois isso veremos no Marciano, na Madalena, no Fabiano e na dona Irene, personagem real que muitos leitores terão o prazer de conhecer neste livro e a quem ele indaga: “Que nos dirão os racistas, d. Irene?”.

Graciliano Ramos é um dos autores mais importantes e estudados da literatura brasileira. Além de um excelente escritor, ele foi um administrador público progressista, com ações positivas na universalização da escola pública, na profissionalização do magistério e na distribuição de merenda, por exemplo – iniciativas que desagradaram muitos e estão no cerne de sua prisão arbitrária, em 1936.

O Graciliano Ramos que vem a público neste livro está circunscrito a um tempo anterior ao de sua fama como grande escritor da segunda geração do modernismo. Para muitos críticos literários que se debruçaram sobre sua obra, a grande dúvida sempre foi a de como classificá-lo entre os expoentes modernistas se sua escrita tinha traços do realismo, chegando mesmo a ser comparado com frequência a Machado de Assis.

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Chamado de comunista por amigos e inimigos, Graciliano decidiu se filiar ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) somente anos depois, em 1945, talvez movido por um legítimo desejo de desforra. Antes disso, porém, o modernista-comunista já havia sido um poeta parnasiano e um simpatizante das teorias positivistas – que até hoje fundamentam o direito criminal brasileiro.

GRACILIANO

entre elas: o ensino laico; a profissionalização do magistério; o estabelecimento de concursos públicos para professores; a proibição de castigos físicos contra os alunos; e, sublinhe-se, o incentivo para o ingresso de crianças negras nas escolas públicas. Com tais feitos, Graciliano foi demitido em 1936 e preso quase imediatamente depois, sem um processo legal, mas com suspeitas do motivo pelo qual se tornou alvo de conservadores, católicos e “anticomunistas” – todos apoiadores do governo Vargas, da Lei de Segurança Nacional e do estado de exceção que torturou e assassinou brasileiros e imigrantes no Estado Novo.

ISBN

978-85-9493-263-1

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Este estudo traz novidades sobre o escritor, enfocando sobretudo a década de 1930, período em que escreve e publica seus quatro romances: Caetés (1933), São Bernardo (1934), Angústia (1936) e Vidas secas (1938). Daí o adjetivo romancista. Também é nesse período que Graciliano, o homem público, ingressa na vida política: primeiro, eleito prefeito de Palmeira dos Índios (AL), em 1928-1929; depois, como diretor da Imprensa Oficial de Alagoas em 1931; e, por fim, em 1933, como diretor da Instrução Pública do mesmo estado, onde fica até 1936. De acordo com o autor, “para entender o social nos romances de Graciliano, a investigação de seus procedimentos administrativos se faz fundamental”. Isso porque muitos dos embates que Graciliano enfrentava na vida pública acabavam, de alguma forma, refletidos no enredo e nas ações de seus personagens. Seus romances causavam escândalo entre a “gente de bem”, e suas iniciativas na administração pública eram consideradas polêmicas,


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