MEU NOME NÃO É PIXOTE

Page 1

ISBN 978-85-9493-108-5

Meu nome não é Pixote

Dramaturgo, diretor, tradutor, roteirista e ensaísta. Autor de José Celso Martinez Corrêa, O teatro de Aimar Labaki e Stanislávski: vida, obra e sistema (coautoria com Elena Vássina).

Meu nome não é Pixote apresenta um estudo em múltiplas camadas da forma como o jovem transgressor é retratado pelo cinema, em especial no Brasil. Apoiado em ampla pesquisa, o livro é balizado por dois filmes: Pixote: a lei do mais fraco (1980) e Meu nome não é Johnny (2008). Enquanto analisa essas duas obras em profundidade, o autor aproveita para rever a produção do cinema nacional, com foco na juventude, nesses quase trinta anos que se passaram entre o lançamento dos dois filmes. Certamente espelhando o momento histórico em que foram feitas, as duas obras trazem anti-heróis com motivações e impulsos diferentes. O protagonista de Pixote, vindo das camadas mais desprovidas da sociedade, bate-se com o mundo marcado por falta de opções, na tentativa de sobreviver em meios hostis – a Febem e o ambiente urbano. Em Meu nome não é Johnny, João, jovem de classe média, debate-se no mundo por conta de seu excesso de opções. Em seu estudo, Ed Anderson Mascarenhas também mostra a mudança pela qual passou o cinema nacional na hora de escolher para onde apontar a câmera, revelando uma nova expectativa do cinema em relação à sociedade. E vice-versa.

ED ANDERSON MASCARENHAS

juventude e à transgressão. Sem deixar de notar as condições objetivas de produção e os diversos momentos políticos (da ditadura de 1964-85 aos anos de afirmação de políticas ligadas à juventude por parte dos governos petistas), o autor não cede à tentação de fazer leituras meramente ideológicas. Ele deixa entrever, dramaturgo que também é, quanto de inconsciente e lúdico há em cada criação, por mais comprometida com o real que seja. Para tanto, lança mão de um vasto aparato bibliográfico em que se destacam Joseph Campbell, Ismail Xavier e uma leitura atenta de teses acadêmicas ainda não editadas. Para haver um rebelde é preciso haver contra o que se rebelar. Rebela-se contra algo já estabelecido. Mas e quando a realidade mais imediata é fluida (como toda a moderni­ dade) e estruturalmente miserável (como tudo no Brasil)? Ao buscar inferir um imaginário e uma definição de rebel­ dia e juventude a partir de dois filmes brasileiros, Ed Anderson nos possibilita uma visão aprofundada do nosso presente – e, infelizmente, do nosso futuro. Meu nome não é Pixote, de Ed Anderson, é a bem realizada construção de um entendimento do Brasil por meio de seus anti-heróis, não importa de que classe social. E deixa entrever o que há de mais estrutural em comum entre as figuras trágicas de Pixote e João. O menor condenado pela ineficiência do Estado a viver como adulto e o inconsequente adolescente da classe média carioca têm, ambos, a mesma tragédia brasileira na raiz de suas desventuras: a falta de pai. São órfãos, literalmente. E também simbolicamente – como quase todos nós. Aimar Labaki

Meu nome não é Pixote ED ANDERSON MASCARENHAS

o jovem transgressor

no cinema brasileiro

Pixote é uma criança jogada às feras, numa Fundação Casa da época ou nas ruas de São Paulo; obrigada a viver como um adulto. João é um adolescente e adulto de classe média alta que se comporta como criança, vivendo “la vida loca” como se fosse um emprego tradicional. O primeiro é o personagem principal do filme homônimo dirigido por Hector Babenco (1980). O segundo é o protagonista de Meu nome não é Johnny (2008), de Mauro Lima. Ao comparar essas duas figuras ficcionais – ainda que baseadas em histórias reais –, Ed Anderson busca respostas para questões antropológicas e estéticas. No campo social, sua busca é entender como o imaginário ligado à juventude e adolescência se desenvolve em tempos de globalização e pós-modernidade, num país onde metade da população não tem esgoto e a elite não se considera parte do povo. De Walter Benjamin a Zygmunt Bauman – passando por Guy Debord, Theodor Adorno e Edgar Morin –, o autor nos apresenta um rico apanhado das diversas abordagens filosóficas que tentaram localizar a adolescência e a transgressão como elementos da consciência moderna. O mapeamento da evolução desse imaginário pode ser também acompanhado na análise de um arco de criações amplo o bastante para partir de Goethe, passar pelo cinema ameri­ cano dos anos 1950 a 1980 e desembocar na mais recente safra de filmes brasileiros, sem esquecer Marcelo Rubens Paiva, Mário de Andrade, Reinaldo Moraes, Hélio Oiticica e Elvis Presley. Do ponto de vista estético, o foco de Ed Anderson se detém na produção cinematográfica brasileira pós-cinema novo, na busca da representação do imaginário ligado à


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.