teatro que liberta todas as inibições, é festa, jogo, sonho, símbolo, recordação, antecipação, cerimônia. É um conforto que se destrói doce e insidiosamente, porque o que a gente quer é que toda essa harmonia, toda essa leveza, todo esse encantamento não acabe jamais e que a vida seja assim. Federico Fellini
SESI-SP Editora
ISBN ISBN978-85-504-1094-4 978-85-504-1094-4
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PINA BAUSCH Fabio Cypriano
O que Pina Bausch conta no palco e na plateia é um
PINA BAUSCH Fabio Cypriano fotografias de Maarten Vanden Abeele
Edições Sesc São Paulo
ISBN 978-85-9493-146-7
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Editor-chefe Rodrigo de Faria e Silva Coordenação Editorial Monalisa Neves Coordenadora de Direitos Autorais Juliana Farias Produção gráfica Camila Catto Sirlene Nascimento Projeto gráfico Elaine Ramos Preparação Vanessa Barbara Revisão Isabel Lopes Coelho Adriane Piscitelli Tradução da introdução Fabio Cypriano © SESI-SP Editora, 2018 © Fabio Cypriano e Maarten Vanden Abeele
SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor Regional Danilo Santos de Miranda Conselho Editorial Ivan Giannini Joel Naimayer Padula Luiz Deoclécio Massaro Galina Sérgio José Battistelli Edições Sesc São Paulo Gerente Marcos Lepiscopo Gerente adjunta Isabel M. M. Alexandre Coordenação editorial Cristianne Lameirinha, Clívia Ramiro, Francis Manzoni Produção editorial Thiago Lins Coordenação gráfica Katia Verissimo Produção gráfica Fabio Pinotti Coordenação de comunicação Bruna Zarnoviec Daniel
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Cypriano, Fabio Pina Bausch / Fabio Cypriano Imagem: Maarten Vanden Abeele São Paulo: SESI-SP Editora, 2018 176 p., 65 ilustr. Bibliografia isbn sesi-sp editora 978-85-504-1094-4 isbn edições sesc 978-85-9493-146-7 1. Bausch, Pina - Crítica e interpretação 2. Coreógrafas 3. Coreografia 4. Dança 5. Teatro i. Abeele, Maarten Vanden. i. Título. 05-6944 cdd-792.82092 Índices para catálogo sistemático: 1. Coreógrafas: Dança-teatro: Apreciação crítica: Artes 792.82092
sesi-sp editora Avenida Paulista, 1.313, 4o andar 01311-923 São Paulo - SP 2 |Tel. 2 11 3146-7308 editora@sesisenaisp.org.br www.sesispeditora.com.br
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Este livro é parte do acervo doado pela Cosac Naify à SESI-SP editora em 2016.
Este livro foi composto em Nofret, e impresso pela Ipsis em papel offset 120g/m2 e couché fosco 150g/m2, em novembro de 2018.
edições sesc são paulo Rua Cantagalo, 74 − 13º/14o andar 03319-000 − São Paulo SP Brasil Tel. 55 11 2227-6500 edicoes@edicoes.sescsp.org.br sescsp.org.br/edicoes /edicoessescsp
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PINA BAUSCH Fabio Cypriano fotografias de Maarten Vanden Abeele
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5 Prefácio à presente edição 7 introdução Robert Wilson 9 apresentação Miguel Chaia
17 Aproximações 23 A
dança-teatro de Pina Bausch
89 Destino 103
Brasil
Água
161 Notas 165 Peças de Pina Bausch 167 Bibliografia 172 Índice onomástico 174 Legendas das imagens
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Prefácio à presente edição Pina Bausch estreou sua última produção no dia 12 de junho de 2009 e pouco mais de duas semanas depois, no dia 30 de junho, morreu aos 68 anos, surpreendendo o mundo da arte. Foram menos de dez dias entre a morte e sua última aparição no palco, no dia 21, onde sempre subia para agradecer os aplausos à sua companhia de dança. Ao contrário de outros coreógrafos e coreógrafas que planejam como suas companhias devem ser encerradas, Pina não deixou um testamento. Mas parece que não foi necessário, já que, passados nove anos, o Tanztheater Wuppertal, que ela dirigia desde 1973, segue muito vivo. O agora Tanztheater Wuppertal Pina Bausch apresenta-se com temporadas regulares nos mesmos teatros onde sempre esteve presente em Wuppertal, Paris, Londres e Nova York, além de outras cidades de forma mais esporádica, como São Paulo, Tóquio e Atenas, entre tantas outras. A companhia continua com 36 bailarinos, de 19 países e de três distintas gerações, caso raríssimo entre todas as grandes companhias. Boa parte do elenco que criou as peças do grupo segue ainda apresentando o repertório bauschiano, além de criar novas produções com coreógrafos convidados, como ocorreu, agora em 2018, com o norueguês Lucien Øyen e o grego Dimitris Papaioannou. Ambas as peças tiveram repercussão altamente positiva. Mas a grande figura da dança alemã do século 20 não segue sendo vista apenas nos palcos de todo mundo. Em 2011, Wim Wenders lançou Pina Bausch, que se tornou um fenômeno nos cinemas e foi visto por um público muito maior, tendo até concorrido ao Oscar. De certa maneira, Pina é de fato coautora da produção, já que o filme foi tanto planejado como as peças nele incluídas selecionadas com ela. Wenders chegou a me dizer que tinha desistido de realizar o filme, mas o elenco insistiu e ele acabou retomando o projeto como uma homenagem.
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O filho da coreógrafa, Salomon Bausch, criou ainda a Fundação Pina Bausch, em 2009, sediada em Wuppertal, que vem trabalhando em várias plataformas: desde a organização do arquivo das 53 peças por ela criadas à montagem de exposições com o acervo de figurinos, cenários e fotos, entre outros elementos. Essas mostras seguem estimulando a reflexão sobre uma produção complexa, mantendo vivo um arquivo que estaria morto se não estivesse em movimento. Este livro que você tem em mãos foi lançado em 2005, resultado de uma pesquisa sobre Água, a peça criada a partir de viagens da companhia alemã a São Paulo e Salvador, em 2000, mas buscando contextualizar toda sua obra. Para tanto, foi essencial a parceria com o fotógrafo belga Maarten Vanden Abeele, que acompanhava regularmente a companhia e podia apresentar imagens de praticamente todas as criações, pois Pina revisou pessoalmente o livro, atentando a cada legenda, consertando datas e nomes, com sua costumeira obstinação e respeito ao elenco e aos apoiadores. Acompanhar seu trabalho foi um privilégio. Não só porque raros são os criadores que conseguem produzir obras tão marcantes e que continuam a fascinar públicos tão distintos e amplos, mas porque sua dedicação ao trabalho foi sempre intensa e inesgotável. Por isso é mesmo uma alegria que, passados treze anos, Pina Bausch ressurja no formato impresso. Assim, ela pode seguir em mais uma plataforma sem jamais estar estática, porque estará nos lembrando que o importante não é atentar a “como” as pessoas se movem, mas “porque”. Fabio Cypriano
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introdução Café Müller foi a primeira obra de Pina Bausch que vi, em 1978. Desde então, já assisti a muitas outras obras, e sempre me surpreende o modo como ela criou seu próprio universo teatral. Desenvolveu um vocabulário para iluminação de palco, gestual, movimento, cenário e figurinos, formando, assim, uma linguagem teatral completa. A dança é seu mundo particular e, ao mesmo tempo, é o nosso. Sua obra se baseia em princípios clássicos como tema e variações. Poucos artistas conseguiram criar um universo artístico completo com sua própria linguagem. O repertório de Pina abrange muitos mundos diferentes; ternura e violência, crueldade e diversão, ingenuidade e sofisticação. Ela teve a sorte de viajar e conhecer diferentes culturas e estéticas, as quais tem incorporado ao seu trabalho, enriquecendo-o e tornando sua linguagem cada vez mais universal. É justamente essa diversidade unificada que creio ser a maior contribuição de Pina ao mundo das artes cênicas contemporâneas. O que eu mais admiro nos espetáculos da coreógrafa é o seu senso de humor e, em particular, o humor das pequenas crueldades. Ela possui uma imaginação forte, excitante e seu trabalho é sempre uma espécie de rugido feliz. Embora não conheça Água, sempre me lembrarei das minhas próprias experiências no Brasil. De um modo geral, a minha obra é rotulada de teatro ou de ópera; na verdade, ela é baseada na dança. Os brasileiros sempre se mostraram receptivos ao meu trabalho e próximos ao mundo da dança. São Paulo é um lugar onde não existem prédios antigos, o que faz com que suas ruas formem uma plateia jovem e de mentes abertas, fazendo com que Nova York pareça velha e preguiçosa. A arte não cria um mundo melhor; ela é o que permanece de uma cultura. Ao olharmos para as culturas antigas, sua arte é das poucas coisas que ainda podemos ver e estudar. A influência da obra de Pina será uma das poucas lembranças da arte do século XX. Robert Wilson
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a p r e s e n ta ç ã o Existem momentos em que a arte se realiza plenamente, revolucionando a linguagem, sintetizando diferentes suportes e formas de expressão e atravessando o seu tempo, para além do provável. Neste livro, Fabio Cypriano recorta um desses instantes máximos ao desvelar a arte de Pina Bausch, expondo os meandros do processo criativo da artista e interpretando minuciosamente o esforço individual e coletivo para a produção da coreografia pensada a partir do Brasil − Água. O pano de fundo que acolhe esta análise de Pina Bausch é a arte na contemporaneidade, uma vez que o autor situa a dança-teatro de Bausch no interior das possibilidades da realização artística oferecidas pela vida social de hoje. Fabio Cypriano enfrenta e esclarece questões cruciais para se compreender a arte numa época de globalização, de insuspeitados recursos tecnológicos e de imposição midiática. Nessas condições, férteis indagações emergem do livro. Como pode um artista falar para o mundo mantendo sua expressividade individual, neste tempo de homogeneização? Como é possível, ainda, o diálogo orgânico entre um artista e seu grupo quando aumenta a tendência do crescente isolamento da pessoa? Quais as circunstâncias nas quais a chegada de um estrangeiro não significa a imposição hegemônica, mas a generosa ascensão do visitado para o primeiro plano da representação simbólica? E, mais ainda, nesse tempo de esgarçamento de fronteiras, como se comporta a arte: não será necessário que se busque maior potência de expressão ao atravessar fronteiras e recorrer ao hibridismo, explodindo a rígida separação entre dança, teatro, artes plásticas, música, fotografia, vídeo e cinema? Nessa linha, as fotografias de Maarten Vanden Abeele possibilitam uma nova dimensão para se entrar em contato com a obra de Bausch. Ao mostrar como Pina Bausch utiliza os recursos propiciados pela contemporaneidade, Fabio Cypriano nos presenteia com preciosas pistas para refletir sobre essas instigantes questões. Nesse sentido, este livro não poderia deixar de ser um espaço de relato de
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encontros: da dança com a arte e da velha terra europeia com as novas águas brasileiras. Enfim, de reunião de limites − geográficos, de linguagens e de suportes artísticos. Também no autor encontram-se qualidades para o mergulho que fundamenta a análise: a técnica, a atualização, a curiosidade e clareza do jornalista convivem com o método, o rigor teórico e a sistemática pesquisa do cientista social. Assim, como se fosse um jogo de espelhos resultante da relação entre o autor e a coreógrafa, Fabio Cypriano lança um olhar compreensivo sobre o olhar artístico de Pina Bausch. O livro nos mostra que é possível superar esse tempo de assassinos de pessoas sensíveis, como denuncia Antonin Artaud, e perceber que o artista escapa dessa pena ao se tornar um viajante, um desterritorializado, um constante migrante pendular capaz então de dançar sobre o planeta. E o autor insiste, ao constatar a forte potência expressiva das obras de Pina Bausch, que é necessário reunir todas as artes no mesmo espetáculo; que deve ser refeita a unidade quebrada entre arte e natureza; que o artista necessita da colaboração do outro − só assim o espetáculo artístico poderá manter-se poderoso na sociedade do espetáculo, como define Guy Debord. Dessa forma, Pina Bausch − ou a arte − poderá abrir brechas que recoloquem a preciosidade nas pessoas e não no produto, no ser humano e não no simulacro. Aliás, como sentencia Joseph Beuys na epígrafe do livro, se a arte é o maior dos enigmas, o ser humano é a solução. A principal linha de pesquisa perseguida por Fabio Cypriano é exatamente aquela que mostra como Pina Bausch possui um profundo senso de observação das pessoas e como procura, insistentemente, o que existe dentro de suas cabeças para então criar suas obras (“Eu não investigo como as pessoas se movem, mas o que as move”, declara Pina Bausch). Como o que importa é o ser humano genérico, sendo o homem a medida de tudo, qualquer lugar do mundo é um porto para a artista atracar o seu barco de teatro-dança. Percebemos que para ela o mundo não tem um centro. Fabio Cypriano acompanha Pina Bausch numa longa trajetória de busca da expressão da subjetividade, por diferentes países descaracterizados de suas nacio— nalidades e caracterizados pela humanidade, até chegar ao Brasil.
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A localidade imprime a especificidade da diferença encontrada nas experiências vividas. Por isso a arte de Pina Bausch é ligada à terra, ao entorno, ao ambiente circundante. É na paisagem que o humano genérico ganha coloração diferenciada, emergindo com maior ou menor intensidade o rosa-social, o festivo-verde, o místico-amarelo ou o sensual-vermelho, entre outras possibilidades. Fabio Cypriano irá percorrer um longo e fascinante caminho acompanhando o fazer artístico de Pina Bausch e detendo-se no método de trabalho do Tanztheater Wuppertal, desde sua origem até a longa travessia do Atlântico e o desembarque da companhia no Brasil. Para amarrar tão longa trajetória e articular múltiplos aspectos envolvidos nesse processo criativo que irá produzir Água, o autor desenvolveu dois métodos de análise: numa primeira abordagem, o autor realiza um sobrevoo, um olhar do alto sobre a história de Pina Bausch e sobre o conjunto da sua produção num solo, executado pelo sujeito investigador que introduz o leitor no universo de Bausch e o coloca em contato com um quadro de conceitos muito bem selecionados para abordar esse mundo da dança; e, num segundo momento, o autor coloca-se no plano da terra e assume a perspectiva de um passeante que acompanha corpo a corpo a dançarina-artista, num pas de deux que encantará o leitor ao propiciar descobertas fundamentais sobre a maneira de trabalhar de Pina Bausch e a estrutura poética da peça Água. O sobrevoo do autor é feito elaborando conceitos explicativos como “pedagogia multidimensional”, para articular os pedaços de disciplinas e agrupar os tipos de conhecimento exigidos por Pina Bausch; “eixo vertical” e “eixo horizontal” que permitem reter o método de trabalho de Bausch para apanhar as subjetividades e o entorno − respectivamente; e ainda a ideia de “coreógrafa-cartógrafa” para reafirmar Pina Bausch como uma mergulhadora de oceano das almas e das paisagens. Também vai buscar o conceito de “coreo-geo-grafias” que Helena Katz cunhou para explicitar o trabalho realizado por Bausch no teatro-dança. Dessa forma, na perspectiva do voo sobre a obra de Pina Bausch, Cypriano demonstra que essa artista investiga a complexa relação do
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indivíduo com a realidade circundante, para então criar suas obras. Reforça tanto a necessária relação entre forma e conteúdo na expressão poética quanto o caráter totalizante das suas coreografias. A outra estratégia metodológica utilizada pelo autor resulta de uma síntese perfeita entre o repórter e o cientista social. Lado a lado com a coreógrafa e sua equipe, também se metamorfoseando em viajante e mergulhando nas águas da peça brasileira, Cypriano mostra-nos como a cartógrafa-coreógrafa, durante cinco dias em Salvador, vai percebendo a sociabilidade do brasileiro naquela região, detectando os sensíveis movimentos dos corpos da população e captando a maneira de ser e a subjetividade da nossa gente. O livro aponta para detalhes do cotidiano e fatos corriqueiros que deverão acionar um complexo processo criativo, fundamentando a feitura da peça brasileira. Assim como acompanhamos a experiência vivida pela artista em Salvador, também somos deslocados para dentro do palco, a partir de onde o autor realiza uma minuciosa análise interna de Água. Cypriano passeia pelas diferentes partes e movimentos da peça desconstruindo o espetáculo e oferecendo uma nova e surpreendente leitura da obra. Aproximando a visita de Bausch e sua companhia por Salvador com Água, o autor nos conduz a locais de dança: o Candeal, a encruzilhada, a festa, a selva e as cataratas. Gradativamente, a partir desses encontros, o livro constrói uma narrativa na qual reverbera a energia do corpo brasileiro. A perspectiva europeia abre-se ao humor, à sensualidade e às outras formas da convivência local. Para situar o significado que o ser humano e a natureza adquirem, agora, em Pina Bausch, Cypriano cria poéticas e expressivas categorias como “delícia e desgraça” e “riso e saturação”, para que o leitor possa reencenar Água no seu imaginário, sob inspiração de Gaston Bachelard, para quem o conhecimento é sempre algo aproximado e encontra-se em fluxo contínuo e permanente. A oportuna lembrança desse filósofo parece ter inspirado a elaboração de novas categorias para que o crítico continuasse a reencenação da peça brasileira, pautada agora por sete metáforas. Elas estão vinculadas a sete mergulhos na peça brasileira: águas-claras, águas que vinculam, águas místicas, águas festivas, águas mornas, águas sensuais e águas
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energizantes. Misturando conceitos e visualidades, movimentos e elementos culturais do país, o texto nos oferece a oportunidade de sermos nós os bailarinos nessa nossa dança ou, melhor ainda, de nos banharmos no mágico ritual artístico. Ao final do percurso dessas duas estratégias de análise, perce bemos um livro surpreendente ao revelar um intenso processo criativo e, também, ao deixar entrever o forte vínculo entre o sujeito investigador e a artista que se oferece ao mundo. Se é indiscutível o esforço do estudioso em abordar articuladamente um tema de estudo, também transparece uma poética e afetuosa relação entre o autor e a artista. A junção dessas posturas aparentemente díspares entre sujeito e objeto de estudo, mas complementares quando resultado de uma pesquisa, alcança o nível de excelência e permite atingir o significado da arte para a vida. É assim que Cypriano nos aponta que “o importante para Bausch, é que a dança é uma forma de expressar a vida”. O livro nos faz retornar à ideia da universalidade da arte e à constatação das contingências dos encontros que envolvem o trabalho artístico, ao frisar que Pina Bausch recolhe na vida os elementos de suas criações. Então fica esclarecida a equação: o movimento humano é dança, dança é arte e arte é vida. Bausch quer encontrar uma linguagem para a vida, que não é arte mas pode se tornar arte. Detendo-se nas criações de Pina Bausch, Fabio Cypriano mostra uma arte portadora do espírito do mundo, deixando-nos perceber como essa artista, ao criar uma obra que se estrutura a partir de uma dinâmica própria, torna-se capaz de expressar poeticamente a potência humana. Das águas do teatro-dança do Tanztheater Wupp ertal emerge, então, todo o processo que torna possível que a arte expresse o Brasil enquanto um espaço privilegiado para continuar a encenação da condição humana. Ao desvelar a produção de Bausch, o autor acabou por expor o significado da estética como forma de vida. Miguel Chaia [Professor e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da puc-sp]
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teatro que liberta todas as inibições, é festa, jogo, sonho, símbolo, recordação, antecipação, cerimônia. É um conforto que se destrói doce e insidiosamente, porque o que a gente quer é que toda essa harmonia, toda essa leveza, todo esse encantamento não acabe jamais e que a vida seja assim. Federico Fellini
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O que Pina Bausch conta no palco e na plateia é um
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