RODRIGO BROTERO LEFÈVRE E A VANGUARDA DA ARQUITETURA NO BRASIL

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Este livro nasceu das pesquisas de Buzzar em arquitetura moderna brasileira e sua historiografia, que marcam de forma profunda a trajetória acadêmica do autor. Sua concepção integra o objetivo maior de delinear uma nova perspectiva para a própria historiografia, a partir de um posicionamento crítico que não se estrutura exclusivamente por meio do discurso e das falas dos arquitetos a respeito de seus projetos, mas que toma essas falas como depoimentos e projetos culturais que necessitam ser interpretados e confrontados com a produção arquitetônica de um modo geral, com a teleologia da arquitetura moderna e com as ideias culturais e sociais que a alimentavam. Desse modo, busca adensar o (re)conhecimento de valores e concepções da produção arquitetônica brasileira.

Miguel Antonio Buzzar RODRIGO BROTERO LEFÈVRE E A VANGUARDA DA ARQUITETURA NO BRASIL

Em Rodrigo Brotero Lefèvre e a ideia de vanguarda, Miguel Antonio Buzzar estuda detalhadamente a obra do arquiteto paulista e apresenta aos leitores cada uma de suas fases ao longo da carreira, iniciada na década de 1960, com sua associação aos arquitetos Sérgio Ferro e Flávio Império, passando por seus projetos de residências e alcançando o período em que trabalhou na Hidroservice como arquiteto assalariado, quando desenvolveu obras de grande porte, como o Instituto dos Ambulatórios do Hospital das Clínicas de São Paulo e a sede do então DNER em Brasília. O autor também se detém na análise da dimensão social do trabalho de Lefèvre, salientando seu empenho em associar melhores condições de trabalho com o envolvimento de pedreiros e mestres de obras nas decisões construtivas e arquitetônicas, concebendo o canteiro não como lugar de exploração da mão de obra, mas de formação de cidadãos.

E A VANGUARDA DA ARQUITETURA NO BRASIL

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Miguel Antonio Buzzar

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O primeiro ponto a destacar é que estamos frente a uma obra de reivindicação. Com este livro, Miguel Antonio Buzzar pretende reparar uma omissão historiográfica importante: a ausência de um trabalho monográfico sobre Rodrigo Brotero Lefèvre. Não que não existam trabalhos a respeito dele. Há alguns estudos acadêmicos e, sobretudo, pesquisas sobre a “arquitetura nova”, em que comparece junto a Flávio Império e Sérgio Ferro (que é autor do prefácio deste livro, o que evidentemente o enriquece), mas até hoje faltava uma obra dedicada exclusivamente à sua produção. Tomara seja a primeira de muitas, pois, uma vez revelada a multiplicidade de facetas de Lefèvre, como é feito aqui, a inspiração poderá abrir outras portas. Devemos destacar a recopilação de material gráfico e fotográfico que o livro nos oferece, resultado de uma ampla pesquisa documental realizada pelo autor durante a preparação de sua tese de doutorado, trabalho que deu origem a este livro. Muitas imagens são inéditas. A obra nos apresenta inicialmente uma reflexão sobre a formação da casa brasileira em geral, por meio do seu “programa doméstico”. Mas, no decorrer do livro, percebemos que, da casa moderna brasileira, Buzzar adentra, ajustando as características de semelhanças e diferenças, a ideia de uma casa moderna paulista cujas particularidades, baseadas nas propostas iniciais de Vilanova Artigas e seguidas posteriormente pelas propostas dos “arquitetos dissidentes”, construíram conceitual e objetivamente uma tipologia precisa de “casa”, que em Lefèvre alcança especificidades determinantes de uma proposta autoral. Buzzar apresenta-nos, assim, um arquiteto paulista para uma realidade paulista, que, sem deixar de ter uma dimensão nacional, exprimia sentimento de revolta social, produto de um ambiente universitário (o de Artigas) recheado de ideais e politicamente comprometido. O autor transmite o resultado consciente da produção de um arquiteto “formado com dinheiro público”, afirma Ferro, que se vê impelido moralmente, e

de bom grado, a devolver à sociedade o que esta lhe deu. A sociedade neste caso não é abstrata; é aquela constituída pelos trabalhadores. A postura de Lefèvre e seus colegas não foi a da idealização do povo, mas sim a de “compartilhar o desenvolvimento dos projetos, transmitir e assimilar conhecimentos, integrando decisões” com o povo, ainda que a realidade política e a realidade vivida teimassem “em não coincidir”, como nos aponta Buzzar, o que levou à riqueza da obra de Lefèvre, “cheia de inflexões” que comparecem neste livro. Como em outros textos de Buzzar, não falta aqui a política como chave interpretativa. O autor, por meio dela, percorre as análises culturais e arquitetônicas apontando o caldo de cultivo em que essa vida social se desenrolava de forma intensa, ainda que permeada de percalços. A análise da atividade projetiva de Lefèvre não se limita à produção anterior aos anos 1970, como em geral ocorre. Pelo contrário, Buzzar desenvolve uma importante pesquisa sobre a produção do “trabalhador assalariado” Rodrigo Brotero Lefèvre, apresentando os projetos desenvolvidos para a empresa Hidroservice, equipamentos que levaram a marca da vida social da casa para a cidade, lembrando o ditado de Artigas: “as cidades como as casas”. Obras de envergadura que nenhum de seus colegas próximos produziu, o que demonstra a importância técnica e profissional de Lefèvre entre seus pares, mas que, como Buzzar aponta, não tem recebido a proporcional acolhida historiográfica. Este livro é um passo importante para mudar essa circunstância. FERNANDO G. VÁZQUEZ RAMOS Professor adjunto do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu e coordenador do núcleo Docomomo São Paulo

2/12/19 6:59 PM


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