SAPIENTIA
uma arqueologia de saberes esquecidos
SAPIENTIA uma arqueologia de saberes esquecidos
Em um mundo no qual a percepção do tempo e da realidade é distorcida pela velocidade da vida cotidiana e o acesso ininterrupto a informações, dedicar-se a (re)descobrir o conceito de sabedoria é um grande desafio e, ao mesmo tempo, um ousado privilégio. Neste livro, intelectuais brasileiros e alemães debatem a sabedoria em sua interface com contextos como a arte, os afetos, a economia, a ideia de futuro, os valores humanos e a educação, produzindo ressonâncias de como ela pode fornecer à humanidade possibilidades mais amplas de compreensão, discernimento e convivência.
Christoph Wulf Norval Baitello Junior [orgs.]
É sabido que o declínio da sabedoria na cultura ocidental se deu pela ascensão hegemônica de um novo modo de significar o mundo: pelo crivo do que é genérica e ingenuamente chamado de “informação”. Hoje, porém, a informação, que delineava os limites entre o que seria fato e verdade, foi enfraquecida pelo advento da pós-verdade, que relativiza qualquer tentativa de objetividade em nome de um parecer ser. Logo, mais do que nunca, faz-se necessário regressarmos à ideia esquecida da sabedoria, talvez a única ferramenta que ainda temos contra um existir inefável numa vivência desprendida do real.
Christoph Wulf Norval Baitello Junior [orgs.]
Há muitos motivos para que a sabedoria, de incontestável relevância social e cultural, seja pouco percebida ou apreciada nas sociedades modernas. O principal deles diz respeito ao fato de ela existir na contramão de tendências advindas da lógica capitalista, já que não pode ser instrumentalizada, por exemplo, como ocorre com o conhecimento científico. A sabedoria tem suas raízes fincadas nas experiências do corpo e no conhecimento prático, além de estar intimamente ligada a questões fundamentais da existência humana, à sociabilidade e à solidariedade. Em muitas culturas, leva à vida diária a transcendência – entendida ora como “Deus”, ora como um estado superior da consciência –, a compreensão do outro e da natureza e o agir de forma não violenta. Tais formas de saber, no entanto, não são adequadamente reconhecidas nas economias de conhecimento, que adotam um conceito muito restrito do que seja ciência. Organizada por Christoph Wulf e Norval Baitello Junior, esta coletânea abrange ensaios de autores do Brasil e da Alemanha, que, sob uma multiplicidade de pontos de vista, discutem em quatorze textos o que é a sabedoria propriamente dita e como podemos nos educar para ela. Distanciando-se das palavras de ordem, das ortodoxias e dos discursos de poder, a sabedoria é tratada aqui em seu diálogo com o sofrimento, o corpo, a educação, o valor da vida, o tempo, a música, a economia, o desconhecimento, o fim, a origem e o sentir, resultando em reflexões que se apartam do senso comum e se desdobram em provocações. Ao ultrapassar os saberes técnicos e funcionais de que nos cercamos, a sabedoria resgata uma profunda compreensão do humano, tornando-se passível de ser acessada por pessoas de todas as culturas, crenças e visões de mundo. Uma das grandes conquistas do sábio é entender com profundidade sua própria natureza e a natureza do outro.
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