TERTÚLIA

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Como observa o tradutor Sérgio Molina, a palavra tertúlia tem origem no unicada, lá é bastante corriqueira, significando uma boa conversa entre amigos

Tiago Novaes, o livro reúne vinte ensaios livres elabora-

em torno de um interesse comum. Assim também é o espírito do livro Tertúlia,

dos a partir de alguns dos mais de quarenta encontros

que convida 20 escritores e tradutores brasileiros a se colocarem na posição

realizados em distintas unidades do Sesc São Paulo e

de leitores e discutir livremente sobre um autor que os tenha influenciado em

na Livraria da Vila entre 2005 e 2010, nos quais grandes

seu estilo e produção. Um projeto que se desdobrou de ações culturais reali-

escritores abordaram a obra daqueles que os influen-

zadas em algumas unidades do Sesc São Paulo, exibidas também pelo SescTV,

ciaram, e tradutores discorreram sobre as obras magis-

e agora encadernadas nesse volume. Sérgio Molina se empenha em desvendar

trais que traduziram. Como não poderia ser diferente,

as tramas de Miguel de Cervantes e seu D. Quixote; Maria Esther Maciel apre-

os convidados se revelaram grandes leitores, em um

senta os paradoxos de Jorge Luis Borges; Marcelino Freire comenta sua relação

diálogo franco sobre as sutilezas e as concepções, as

com Manuel Bandeira; Lygia Fagundes Telles investiga a Capitu de Machado

anedotas e as poéticas de outros vinte escritores clássi-

de Assis; Leonardo Fróes se debruça sobre a obra de Virginia Woolf; Juliano

cos e contemporâneos, alimentando o perene diálogo

Garcia Pessanha se encontra com Franz Kafka; Eric Nepomuceno narra suas

entre a literatura de nossos dias e a tradição, preser-

aventuras ao traduzir Gabriel García Márquez; Julián Fuks mergulha na obra

vando assim a vitalidade do encontro e a densidade

de James Joyce; Márcio Souza apresenta Inglês de Souza; Boris Schnaiderman

da experiência.

conta a história de Lev Tolstói; Manuel da Costa Pinto reflete sobre Albert

o tradutor Sérgio Molina elucida que: “Tertúlia provém

Cláudio Willer retoma a mística de Hilda Hilst; Bernardo Ajzenberg escreve

do castelhano, nasce no universo cultural da Espanha.

sobre a trajetória de Philip Roth; Contardo Calligaris compartilha o prazer de

E embora para nós a palavra soe um tanto rebuscada,

ler Luiz Alfredo Garcia-Roza; Paulo Bezerra conta como traduzir a consciência

lá ela é bem usual e despretensiosa, com uma cono-

de Fiódor Dostoiévski; Rodrigo Lacerda revela a armadilha de João Antônio;

tação que tem muito mais a ver com o espírito destas

Nélida Piñon analisa Pedro Páramo, de Juan Rulfo; Luiz Ruffato aponta a inexis-

nossas tertúlias: um bate-papo regular concentrado

tência de uma linhagem literária de João Guimarães Rosa; Mamede Jarouche

em torno de determinado assunto, mas sem perder o

apresenta As mil e uma noites; e Tiago Novaes homenageia Moacyr Scliar,

frescor da despretensão”.

além de ter sido o responsável por promover esse encontro de amigos auto-

Pois Tertúlia é isso: um bate-papo, sem a pressa

ia

Camus; Ana Miranda divaga sobre a vida e poesia de Augusto dos Anjos;

Tiago Novaes (org.)

Em sua magistral apresentação de Dom Quixote,

obra, de transcender a convenção, seduzir ou frustrar

nda

túl

verso cultural da Espanha e, embora para os brasileiros soe um tanto rebus-

Antes de publicar seus livros – isto é, de conceber a

Ter

publicações recentes que Tertúlia: o autor como leitor traz ao público. Idealizado e organizado pelo escritor

Tertúlia  o autor como leitor

É esta dimensão singular e pouco explorada nas

a erg Mir enb z j A Ana o man nard ider a Ber n ch is S ller Bor Wi o i aris d u allig C Cla o no tard uce m Con o Nep Eric ks n Fu nha á i l Ju essa P o an óes Juli o Fr d r a n s Leo ato elle Ruff es T z i d u n L agu che ia F o arou Lyg J Pint e ed sta m o a C M da uel reire Man no F i l e c uza Mar l o So acie i c M r á r e M sth ia E n Mar Piño ida l é N erra Bez a o l cerd Pau a L rigo lina Rod Mo o i g aes Sér Nov o g Tia

res e leitores em torno da literatura de cada um e de todos nós.

das convenções jornalísticas ou midiáticas, a uma dis-

o m o rc

tância justa e sadia da instituição acadêmica, e que se dá em um espaço instituinte de pensamento e amizade.

to u a o

Um diálogo sobre livros e entre livros, sobre escritores e entre escritores, sobre leituras e entre leitores. ISBN 978-85-7995-073-5

9788579950735

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a frase, a língua – o autor foi e continua sendo sempre um leitor. O ideal de criador que ele conjura e o imaginário que elabora de seus próprios leitores mantém relação íntima com a perspicácia de suas leituras, com a regência de um cânone privado, a constelação íntima dos autores que opta por admirar e com os quais irá dialogar. Nesse mesmo sentido, o tradutor, em seu ofício, também é um autor. Sua fidelidade está na atenção perseverante e arriscada da transmissão dos sentidos, das vozes, de uma coerência com a mensagem silenciosa da obra original. Para tanto, cumpre que faça uma infinidade de escolhas cuja natureza é a da própria criação literária. E, sendo autor, o tradutor é, por consequência, um leitor ávido cuja missão consiste em aproximar mundos culturais e linguajeiros distintos, sem deixar de preservar-lhes a essência e as vicissitudes.

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deliberadamente o seu público, garimpar a metáfora,

21/11/13 13:39


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