Eterna é a Sua Misericórdia

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Daniel Ramos


Coordenação Geral João Edson Queiroz Gerente Comercial Marcos Carneiro Coordenação Editorial Jefferson Privino Assistente de edição Irlanda Aguiar Diagramação e Capa Erick Correia Revisão Elayne Castro Correia Maria Teresa Aguiar de Sá Roriz

Edições Shalom Estrada de Aquiraz – Lagoa do Junco CEP: 61.700-000 – Aquiraz/CE | Tel.: (85) 3308.7402/ 3308.7415 www.edicoesshalom.com.br |comercialedicoes@comshalom.org Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.

ISBN: 978-85-7784-119-6 © EDIÇÕES SHALOM, Aquiraz, Brasil, 2016, 1ª edição


Eterna é a Sua Misericórdia

PREFÁCIO “Um estudo bíblico só sobre a Misericórdia de Deus? - Que fantástico!” Foi isso que pensei assim que chegou a mim um exemplar deste livro que agora você tem em suas mãos. Rezar com a Palavra de Deus seguindo o método da Lectio Divina já é fonte de extraordinárias graças para a vida de um cristão e assim tem sido ao longo de séculos. No entanto, fazê-lo dedicando-se a aprofundar a “essência” de Deus, que é Misericórdia, é uma experiência surpreendente que fará um bem enorme para a alma e vida de você, leitor. Neste caminho nos conduz Daniel Ramos que é, antes de tudo, um homem conhecedor desta face misericordiosa de Deus, porque sua vida testemunha uma profunda vida de oração e a experiência de por Ele ser imensamente amado. Digamos que neste livro Daniel nos conduz ao outro lado da ponte, onde somos abraçados por toda a extensão da ternura do Pai. O autor é um missionário, casado, escritor e pregador, além de exercer uma profícua liderança católica no âmbito das Novas Comunidades, inicialmente no Brasil e atualmente na França. Neste estudo bíblico percorremos, do Antigo ao Novo Testamento, o que poderíamos chamar as “pérolas da 5


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Misericórdia de Deus”. Toda a Sagrada Escritura é revelação da obra de salvação que o Pai empreende por meio de Jesus Cristo e por ação do seu Espírito. Porém o autor nos traz uma seleção de passagens que marcam a experiência cristã destes dois mil anos. “Eu confessei ao Senhor os meus pecados, e Tu perdoaste minha culpa” (Sl 32,5). “Este recebe pecadores e come com eles” (Lc 15,2). “Quantas vezes devo perdoar?” (Mt 18,21). Maria Madalena, o paralítico, Zaqueu, o filho pródigo, são alguns dos nossos companheiros nesta jornada. Desejo que você trilhe este caminho de oracão com a Palavra de Deus, reconhecendo o tesouro que tem em mãos e que o Espírito Santo te preencha ao ponto de fazer-te misericordioso como o Pai. “Felizes os misericordiosos” (Mt 5,7). Eric Buarque Missionário da Comunidade de Aliança Shalom em Toscana, na Itália

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APRESENTAÇÃO Imaginemos um mundo sem a Misericódia de Deus. Errou? Tem que pagar. Caiu? Tem que prestar contas. Ofendeu? Tem que sofrer muito para voltar à amizade antiga. Esqueceu? É descartado por quem não esquece. Traiu? Não há segunda chance. Pecou? É lapidado, é condenado, é acusado, é rotulado. Sabemos que o mundo tende a ser assim... Mas Deus não abandonou o mundo. A Misericórdia existe e está à nossa disposição. Se caimos, a Misericórdia de Deus nos levanta. Se traimos, a Misericórdia de Deus nos oferece o perdão e a força para perseverarmos na fidelidade, além de verdadeiro arrependimento, que não é acusação que esmaga, mas dor de quem descobre um Amor Infinito. A Misericórdia existe! Exultemos, cantemos, celebremos! Ela existe, por isso há uma saída, há um caminho, há sempre uma via para um tempo novo, para uma vida diferente, para a felicidade! A Misericórdia não é uma miragem no meio do deserto, que enxerga quem está morrendo de sede e, quando se aproxima, desaparece. A Misericórdia é a constante proximidade de Deus, é Deus sempre conosco, Deus que não se cansa de nos perdoar e não desiste de acreditar em cada um de nós. É Deus que se comove conosco, e essa comoção o faz agir, o fez assumir nossa carne, nossa natureza, 7


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para nos elevar acima de tudo o que passa. A Misericórdia é eterna! Eterna é a Sua Misericórdia! Mas será que conhecemos mesmo a Misericórdia de Deus? Ela nos modela dia após dia? Sou constantemente edificado, salvo, restaurado e, por isso mesmo, tornei-me um instrumento da Misericórdia para as pessoas? Sinto-me incomodado com “tanta Misericórdia”? Não seria importante falar também da justiça? Vejo, no mais profundo do meu ser, que existe oposição entre justiça e Misericórdia? O Senhor nos inspirou esse estudo bíblico justamente porque o mistério da Misericórdia de Deus está no coração das Escrituras, e como a Palavra de Deus é uma espada de dois gumes, somente ela pode nos dar a experiência da Misericórdia de Deus. Tem realidades que só a Palavra de Deus é capaz de nos fazer descobrir e viver. Especialmente as realidades espirituais, e ainda mais essa que está no núcleo da Revelação: Deus quer salvar o homem, Deus não quer a morte do pecador. Deus quer que o homem viva, e viva da vida divina, da Trindade. Somente a Palavra de Deus é capaz de nos convencer e de realizar essa obra em nossas vidas. Nossa boa vontade não é suficiente. Rezar com a palavra de Deus e o mistério da Misericórdia é, portanto, uma aventura espiritual. Aperte os cintos: Deus vai vir com força. Muita coisa nova vai surgir. Esperemos ser surpreendidos por Deus! Ele não nos decepcionará. Desejo que, no final desses dias, você possa cantar junto à Nossa Senhora: “Minha alma glorifica o Senhor, meu espíri8


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to exulta de alegria, em Deus, meu Salvador. O Poderoso fez por mim maravilhas! Santo é Seu Nome!. (...) Sua Misericórdia é fiel de geração em geração!”1. Daniel Ramos de Castro Missionário da Comunidade de Vida Shalom em Toulon, na França

1  Lc 1,46-50.

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1º dia

_____/____/____ ‘‘Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela: esta te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar’’. (Gn 3,15)

a) Começaremos nosso estudo bíblico sobre a misericórdia rezando hoje com o recito do pecado original. Procure ler com calma, várias vezes, a passagem escolhida, permitindo que a Palavra penetre em sua alma. Ela vai realizando aquilo que só Deus pode realizar por meio do Seu Verbo: um encontro com a Misericórdia que revela a Verdade e, por isso, nos liberta, nos recria. b) Diz-nos a Bíblia do Peregrino: ‘‘A serpente representa, nas culturas circundantes, a força hostil a Deus e a Seu plano. Personificação do mal ativo, sedutor ou agressor (…). Além disso, o nome hebraico de serpente coincide com ‘vaticínio’. O falso oráculo é arma da serpente contra Eva: tira a base da proibição de Deus, dando-lhe intenções escusas, promete como bem o que é mal, pois conhecer o mal por experiência é um mal”1. O demônio introduz a tentação no coração de Eva por intermédio de uma pergunta: ‘‘Por quê?’’. Conversar com a tentação significa deixar crescer dentro de si 1  Nota da Bíblia do Peregrino referente à paxssagem citada de Gn 3,1, São Paulo, Paulus, 2012.

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uma série de desejos que tomarão tanto espaço interior que terminarão por relativizar a Vontade de Deus. Eva começa respondendo bem: ‘‘Deus disse’’. Saber o que Deus disse deveria bastar para o homem que Lhe ama e Lhe pertence. Mas Eva, ao escorregar para o diálogo pernicioso que a tentação gera, impede que a Vontade de Deus contorne uma felicidade maior. O demônio se aproveita e lança a mentira: ‘‘Sereis como deuses’’. Em vez de querer ser imagem e semelhança de Deus, querer tomar o lugar de Deus pretendendo uma liberdade absoluta. É uma usurpação de uma propriedade que só o Senhor tem. A serpente passa, então, de uma tentação à outra: do desejo de tudo saber ao desejo de fazer a experiência do mal como se fosse um bem. O homem passa a querer determinar, por si mesmo, o que é o bem e o que é o mal. Assim, o homem cai no engano de achar que pode acrescentar à criação algo de bom ao fazer por si a experiência do mal. “Infeliz aquele que chamar o mal de bem e o bem de mal, que faz das trevas luz e da luz, trevas’’2. O pecado cometido gera, então, infelicidade, confusão, tensão entre o homem e a mulher, vergonha da própria condição, medo, visão deturpada de Deus e desordem de todo tipo. A morte entra no mundo por meio do ser humano. c) A partir da Palavra rezada, e com a ajuda da meditação acima, deixemos o Espírito Santo agir em nós, falar-nos sobre os processos que vivemos em nosso interior. Perguntemos 2  Is 5,20.

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a Ele como temos reagido às tentações, se temos dialogado com elas, se temos permitido que em nós a Vontade de Deus seja, de fato, o grande Bem. Que imagem temos de Deus? Temos medo de Deus quando pecamos? Nós nos escondemos ou nos lançamos em Seus braços? d) “A primeira morte foi para Adão o distanciamento de Deus. Quando Deus lhe diz: ‘onde estás?’, essas palavras fazem com que perceba que ele está lá onde Deus não está”3. O pecado nos coloca onde Deus, fonte eterna de vida, não está, isto é, no terreno do mal, da morte. Temos consciência do mal que é o pecado? Reze sobre isso. e) Vamos nos voltar agora para a promessa de salvação que o Senhor Deus faz. O homem fechou a porta do paraíso para si, por meio do seu pecado, mas Deus cria, pela Sua Misericórdia, um caminho de volta, a partir de Sua Promessa de intervenção a qual vem pela mulher e sua descendência. Deus faz Misericórdia reabrindo um caminho que conduz à salvação. O homem foi bastante fragilizado pelo pecado, por isso precisará seguir um caminho de recriação. “Eis que vou fazer Obra Nova, a qual já surge, não a vedes? Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela estepe”4. Diz-nos Moysés Azevedo nos escritos da Comunidade Shalom: “O Senhor nosso Deus, que merece todo amor do mundo, realiza uma obra no meio de nós: uma obra nova, um caminho novo. Este 3  SANTO AGOSTINHO, De Civ. Dei, XIII, 15. 4  Is 43,19.

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caminho é real e cada dia que passa eu sinto concretizar-se mais fortemente em meu coração. É algo novo, é algo maravilhoso. (…) É um caminho de e para a felicidade.”5 Deus quer salvar, Deus quer sempre salvar. Deus quer a nossa felicidade. Reze, ore bastante e permita que a força da promessa de salvação de Deus lhe toque profundamente, recrie sua esperança e lhe dê um novo ardor para percorrer o caminho de e para a felicidade. f ) Quais propósitos a Palavra de Deus gera em seu coração? Faça a sua partilha por escrito em seu caderno.

2º dia

_____/____/____ “E o Senhor marcou Caim, para que não fosse morto por quem o encontrasse”. (Gn 4,15)

a) Hoje vamos rezar com a história de Caim e Abel. Tome Gn 4,1-16 e leia várias vezes, sem pressa. Deixe a Palavra de Deus lhe envolver. b) Adão e Eva procriam, um sinal da bênção de Deus sobre a humanidade e que, até hoje, permanece gerando vida. Deus tem sempre a palavra final de vida sobre a humanidade. O pecado gera morte, mas Deus é maior do que o pecado do 5  AZEVEDO, M., Escrito Obra Nova, Aquiraz, Brasil, Edições Shalom, 2008, n. 1, p. 13.

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homem, e não abandona o homem, apesar da condição ferida que o pecado causou. Vemos em seguida um ato religioso por excelência: Caim e Abel oferecem sacrifícios ao Senhor, frutos do trabalho de suas mãos. “A essência mesma, a natureza da religião, implica a necessidade do sacrifício. É aí que reside o supremo elemento do culto divino, que consiste em reconhecer e reverenciar Deus como o Soberano dominador de todas as coisas, debaixo do poder do qual nós mesmos existimos, com tudo o que possuímos… Suprimamos o sacrifício: nenhuma religião poderá existir”6. O sentimento religioso está presente no íntimo da humanidade nascente. Mesmo depois do pecado. Reze e deixe o Senhor lhe falar sobre a noção de sacrifício e oferta em sua vida, inclusive de como está sua partilha material, se ela é uma expressão do reconhecimento de quem é Deus na sua história. c) “Abel ofereceu as primícias do seu rebanho, de sua gordura, isto é, escolheu dar ao Senhor o que tinha de melhor. Caim ofereceu seu sacrifício a partir dos frutos da terra, os que lhe caiam sobre a mão, qualquer um. Cada sílaba contém para nós um ensinamento: Deus não olha a aparência da pessoa, mas nossos atos manifestam a intenção da nossa alma”7. Caim se enche de ciúmes de Abel e se fecha em sua má intenção porque percebe o irmão muito agradável ao Senhor. Deus fala a Caim, não o rejeita, apesar de sua fraqueza. O Senhor adverte Caim e pede que 6  LEÃO XXIII, Caritas Studium, 25/07/1898. 7  SÃO JOÃO CRISÓSTOMO, Homilia 18 sobre o Gênesis.

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domine o pecado que espreita à porta do seu ser. Mas Caim nada responde: apenas baixa a cabeça, negando-se a entrar no diálogo íntimo com Deus, simbolizando que está dialogando não com Deus, mas consigo mesmo, com a tentação, e esta é como um “animal” à espreita, sempre pronto para atacar. Assim Caim decide matar o irmão, e o faz. Nessa passagem, vemos o caminho do pecado no coração de alguém que se recusa a se abrir ao outro (Deus e o irmão) e que toma como verdade apenas o que sente nas suas feridas mais interiores. Deus nos chama a dominar as forças que querem nos armar uns contra os outros, Deus nos dá essa ordem, portanto, esse poder: “Embora o pecado te deseje, tu podes dominá-lo”8. Deixe o Espírito de Deus lhe iluminar a partir da Palavra de hoje e gerar novas posturas, uma dinâmica de abertura, por isso mesmo de vida! d) “A voz do Amado é reconhecida pela alma que O busca e tem intimidade com Ele na oração. Sem uma verdadeira, fiel e autêntica vida de oração diária é impossível reconhecer a voz Daquele que muitas coisas nos quer falar e corremos o risco de, surdos à Sua voz, chamar às nossas paixões, à nossa carne, aos nossos planos pessoais e à nossa vontade própria, de voz de Deus”9. Como você tem escutado a voz daquele que o ama? Com ansiedade, pressa, precipitação? Ou com sincero desejo de discernir o que o Esposo tem para você? Reze sobre isso. 8  Gn 4,7. 9  AZEVEDO, M., Escrito Amor Esponsal, Aquiraz, Brasil, Edições Shalom, 2008, n.21, p. 26.

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e) Deus marca Caim após o pecado com Sua Misericórdia, a qual lhe protege de uma morte certa. É uma marca de pertença, de proteção, apesar de ele não merecer. Deus age segundo Sua própria bondade e generosidade. Deus quer a vida. Mergulhe na Misericórdia do Senhor. Reze longamente sobre isso. f ) Anote sua partilha.

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OS e n h o rn o si n s p i r o ue s s ee s t u d ob í b l i c o j u s t a me n t ep o r q u eomi s t é r i od aMi s e r i c ó r d i ad e De u se s t án oc o r a ç ã od a sE s c r i t u r a s ,ec o moa P a l a v r ad eDe u séu mae s p a d ad ed o i sg u me s , s o me n t ee l ap o d en o sd a ra e x p e r i ê n c i ad a Mi s e r i c ó r d i ad eDe u s .T e mr e a l i d a d e sq u es óa P a l a v r ad eDe u séc a p a zd en o sf a z e rd e s c o b r i re v i v e r .Re z a rc o map a l a v r ad eDe u seomi s t é r i o d a Mi s e r i c ó r d i aé ,p o r t a n t o ,u ma a v e n t u r a e s p i r i t u a l .Ap e r t eo sc i n t o s :De u sv a iv i rc o m f o r ç a . Mu i t ac o i s an o v av a is u r g i r . E s p e r e mo ss e r s u r p r e e n d i d o sp o rDe u s ! ”


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