Revista Shalom Maná - Ano 28 nº 259 | Fevereiro 2015

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Ano 28 • nº 259 | Fevereiro • 2015 • R$ 12,00

Atualidades

Especial

Entrelinhas

A teologia da selfie

#Felizes aventuras

Purificação e luz

Quero dar a minha vida pelos jovens!


Ícone Maria Porta do Céu (Portaïtissa)


Emmir Nogueira Trecho Pregação Amor esponsal e o papel de Nossa Senhora

A Porta do Céu que nos foi dada em preparação para a Páscoa do Ronaldo é aquela que cuida da nossa santificação, aquela que abre para nós a porta do céu nos dois sentidos, de fora para dentro e de dentro para fora. É Nossa Senhora medianeira de todas as graças, é Nossa Senhora que colhe de Deus as graças para nós e que colhe de nós as intenções e as intercessões e as apresenta para Deus.


Revista Shalom Maná | Sumário

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A Palavra do Papa Sabedoria do coração

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Especial Os óculos de João Paulo II

Orando com a Palavra

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Todo aquele que fizer a vontade do meu pai é meu irmão

A Igreja Celebra Santa Bakhita: a Escrava de Deus

Atualidades

A teologia da selfie

Testemunho A decisão de tirar o feto é apenas sua

Especial Shalom Reconhecimento Pontifício na Cátedra de São Pedro

Assunto do Mês Quero dar a minha vida pelos jovens!

Só Família “Não suporto que os esposos se amem”

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Especial Santa Teresa portadora da inquietação dos buscadores de Deus!

Especial

Quaresma: 40 dias de conversão ao amor de Cristo

Notícias da Comunidade Nova geração de sacerdotes

Especial Coragem, sou eu, não tenhais medo!

Especial #Felizes aventuras

Entrelinhas Purificação e luz

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Expediente

CartaRevista ao LeitorShalom Maná | Fé em Versos

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Fundador e moderador geral da Comunidade Católica Shalom Moysés Azevedo Coordenação Geral das Edições Shalom Filipe Cabral Coordenação Editorial Jefferson Privino Equipe de Redação Irlanda Aguiar José Ricardo F. Bezerra Projeto Gráfico e Diagramação Kelly Cristina Gerente Comercial Eliana Gomes Lima Assinaturas Meiriane Silvério da Cunha

Ano 28 • nº 259 | Fevereiro • 2015 • R$ 12,00

Atualidades

Especial

Entrelinhas

A teologia da selfie

#Felizes aventuras

Purificação e luz

Um coração violentado Nesta Edição da Shalom Maná, você terá a chance de conhecer ou aprofundar-se na história de um jovem apaixonado por Jesus que, literalmente, doou até a última gota de sangue pela evangelização, gastou-se pelos jovens e pela Igreja: Ronaldo Pereira. Em memória de 20 anos de sua Páscoa, ocorrida em 17 de fevereiro de 1995, a Shalom Maná debruça-se sobre a espiritualidade de um dos responsáveis pelo crescimento do Projeto Juventude para Jesus (PJJ). Na Palavra do Papa, o sucessor de Pedro profere uma mensagem em comemoração ao Dia Mundial do Enfermo, enfatizando o “sair de si ao encontro do irmão”. Na seção A Igreja Celebra, vamos conferir a história de Santa Bakhita e seu testemunho de perseverança e fé até o fim de sua vida. Para quem gosta de Selfie, a Seção Atualidades traz uma reflexão sobre o comportamento das pessoas acerca dessa prática tão comum nos dias de hoje. Dando continuidade aos textos em comemoração do V centenário do nascimento de Santa Teresa D’Ávila, apresentamos as palavras do Frei Patrício sobre a coragem e a doce violência de coração de Santa Teresa. Ainda este mês, você confere a notícia sobre a ordenação de 27 neosacerdotes pelas dioceses do Brasil e de outros países, servos da Igreja no Carisma Shalom.

Quero dar a minha vida pelos jovens! Serviço de Apoio ao Assinante Estrada de Aquiraz - Lagoa do Junco Aquiraz /CE CEP: 61.700-000 Para assinar ou renovar (85) 3308.7403 3308.7415 Para anunciar (85) 3308.7464 Para sugestões, dúvidas, reclamações e testemunhos

Por fim, as “Felizes Aventuras”, nas palavras do Pe. Rômulo dos Anjos, incitam o aprofundamento nas Bem-aventuranças de Jesus Cristo, mergulhando na “Verdade do evangelho” como meio para a felicidade plena do homem e como tempo de um novo, tempo de graça e momento propício para contemplar a Deus. Desejamos uma leitura maravilhosa, madura e consciente, para que frutifique. Shalom! Jefferson Privino Coordenador Editorial

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Comunidade Católica Shalom

Revista Shalom Maná | Onde Estamos Nascida no meio dos jovens, em 1982, a Comunidade Católica Shalom surgiu de um ardente desejo de evangelizar os jovens mais afastados de Deus. A vivência da Vocação Shalom no seio da Comunidade é fundamentada na experiência com Jesus Cristo, o Ressuscitado que passou pela cruz, narrada no Evangelho de João. Jesus é o Shalom do Pai para o mundo, a verdadeira e única Paz . “Ser Shalom” significa, pelo poder do Espírito Santo, ser discípulo e ministro da Paz e levar o próprio Cristo a quem por Ele espera. Quer saber mais sobre a Comunidade? Entre em contato conosco ou navegue pelo portal: www.comshalom.org. Veja onde você pode nos encontrar: ONDE ESTAMOS Aparecida -SP

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MISSÕES INTERNACIONAIS

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Revista Shalom Maná | Fé em Versos

Oração do bom humor De São Tomás More

Indicada por Papa Francisco em encontro com os membros da Cúria Romana em dezembro/2014.

Senhor, dai-me uma boa digestão, mas também algo para digerir. Dai-me a saúde do corpo, mas também o bom humor, necessário para mantê-la. Dai-me, Senhor, uma alma simples, que saiba aproveitar tudo o que é bom e que não se assuste quando o mal chegar, e sim que encontre a maneira de colocar as coisas no lugar. Dai-me uma alma que não conheça o tédio nem os resmungos, suspiros e lamentos, e não permitais que eu me atormente demais com essa coisa incômoda demais chamada “eu”. Dai-me, Senhor, senso de humor! Amém. www.edicoesshalom.com.br | 7


Revista Shalom Maná | A Palavra do Papa

Hoje, quantos cristãos dão testemunho – não com as palavras, mas com a sua vida radicada numa fé genuína – de ser “os olhos do cego” e “os pés para o coxo”! Mensagem do Papa Francisco para 11 de fevereiro, Dia Mundial do Enfermo.

Queridos irmãos e irmãs, Por ocasião do XXIII Dia Mundial do Doente, instituído por São João Paulo II, dirijo-me a todos vós que carregais o peso da doença, encontrando-vos de várias maneiras unidos à carne de Cristo sofredor, bem como a vós, profissionais e voluntários no campo da saúde. O tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do livro de Jó: “Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo” (29, 15). Gostaria de o fazer na perspectiva da “Sapientia Cordis”, da sabedoria do coração. •

1. Esta sabedoria não é um conhecimento teórico, abstrato, fruto de raciocínios; antes, como a descreve São Tiago na sua Carta, é “pura (…), pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia”. Trata-se, por conseguinte, de uma disposição infundida pelo Espírito Santo na mente e no coração de quem sabe abrir-se ao sofrimento dos irmãos e neles reconhece a imagem de Deus. Por isso, façamos nossa esta invoca-

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ção do Salmo: “Ensina-nos a contar assim os nossos dias, / para podermos chegar à sabedoria do coração” (Sal 90/89, 12). Nesta Sapientia Cordis, que é dom de Deus, podemos resumir os frutos do Dia Mundial do Doente. •

2. Sabedoria do coração é servir ao irmão. No discurso de Jó que


contém as palavras “eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo”, evidencia-se a dimensão de serviço aos necessitados por parte deste homem justo, que goza duma certa autoridade e ocupa um lugar de destaque entre os anciãos da cidade. A sua estatura moral manifesta-se no serviço ao pobre que pede ajuda, bem como no cuidado do órfão e da viúva (cf. 29, 12-13). Também hoje, quantos cristãos dão testemunho – não com as palavras, mas com a sua vida radicada numa fé genuína – de ser “os olhos do cego” e “os pés para o coxo”! Pessoas que permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavar, vestir e alimentar. Este serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar de uma pessoa durante meses ou até anos, inclusive quando ela já não é capaz de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é este! Em tais momentos, pode-se contar de modo particular com a proximidade do Senhor, sendo também de especial apoio à missão da Igreja. •

3. Sabedoria do coração é estar com o irmão. O tempo gasto junto do doente é um tempo santo. É louvor a Deus, que nos configura à imagem do seu Filho, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão” (Mt 20, 28). Foi o próprio Jesus que o disse: “Eu estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22, 27).

Com fé viva, peçamos ao Espírito Santo que nos conceda a graça de compreender o valor do acompanhamento,

muitas vezes silencioso, que nos leva a dedicar tempo a estas irmãs e a estes irmãos que, graças à nossa proximidade e ao nosso afeto, se sentem mais amados e confortados. E, ao invés, que grande mentira se esconde por trás de certas expressões que insistem muito sobre a “qualidade da vida” para fazer crer que as vidas gravemente afetadas pela doença não mereceriam ser vividas! •

4. Sabedoria do coração é sair de si ao encontro do irmão. Às vezes, o nosso mundo esquece o valor especial que tem o tempo gasto à cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesim do fazer e do produzir, esquece-se a dimensão da gratuidade, do prestar cuidados, do encarregar-se do outro. No fundo, por detrás desta atitude, há muitas vezes uma fé morna, que esqueceu a palavra do Senhor que diz: “A Mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 40).

Por isso, gostaria de recordar uma vez mais a “absoluta prioridade da ‘saída de si próprio para o irmão’”, como um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus” (Exort. ap. Evangelii Gaudium, 179). É da própria natureza missionária da Igreja que brotam “a caridade efetiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove” (Ibid., 179). •

5. Sabedoria do coração é ser solidário com o irmão, sem o julgar. A caridade precisa de tempo. Tempo para cuidar dos doentes e tempo para os visitar. Tempo para estar junto deles, como fizeram os ami-

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sas que são escândalo para a fé, mas também verificação da fé (cf. Homilia na canonização de João XXIII e João Paulo II, 27 de Abril de 2014).

gos de Jó: “Ficaram sentados no chão, ao lado dele, sete dias e sete noites, sem lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande”. Mas, dentro de si mesmos, os amigos de Jó escondiam um juízo negativo acerca dele: pensavam que a sua infelicidade fosse o castigo de Deus por alguma culpa dele. Pelo contrário, a verdadeira caridade é partilha que não julga, que não tem a pretensão de converter o outro; está livre daquela falsa humildade que, fundamentalmente, busca aprovação e se compraz com o bem realizado. A experiência de Jó só encontra a sua resposta autêntica na Cruz de Jesus, ato supremo de solidariedade de Deus para conosco, totalmente gratuito, totalmente misericordioso. E esta resposta de amor ao drama do sofrimento humano, especialmente do sofrimento inocente, permanece para sempre gravada no corpo de Cristo ressuscitado, naquelas suas chagas glorio-

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Mesmo quando a doença, a solidão e a incapacidade levam a melhor sobre a nossa vida de doação, a experiência do sofrimento pode tornar-se lugar privilegiado da transmissão da graça e fonte para adquirir e fortalecer a Sapientia Cordis. Por isso se compreende como Jó, no fim da sua experiência, pôde afirmar dirigindo-se a Deus: “Os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti, mas agora veem-te os meus próprios olhos”. Também as pessoas imersas no mistério do sofrimento e da dor, se acolhido na fé, podem tornar-se testemunhas vivas duma fé que permite abraçar o próprio sofrimento, ainda que o homem não seja capaz, pela própria inteligência, de o compreender até ao fundo. •

6. Confio este Dia Mundial do Doente à proteção materna de Maria, que acolheu no ventre e gerou a Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, nosso Senhor.

Ó Maria, Sede da Sabedoria, intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e quantos cuidam deles. Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira sabedoria do coração.


Revista Shalom Maná | Especial

Os óculos de João Paulo II Maria Emmir Oquendo Nogueira | TT @emmiroquendo

O “

lhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança”. Eis a receita de João Paulo II para cada início, seja lá do que for: de dia, de mês, semana, ano... Mas, dá para ter gratidão com relação ao passado quando ele foi cruel conosco? Quando houve sofrimento e dor? E quanto ao presente, dá para viver com paixão quando nada nos agrada? Sobre o futuro, dá para abraçar uma improbabilidade? Bem, aí depende! Se olhar o passado com meu olhar humano e limitado, vou deixar a dor e o pessimismo tomarem conta de mim e cultivar um pomar de traumas. Se o olhar com os olhos da fé, saberei que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus” e que Deus, em Sua sabedoria, é poderoso o bastante para tirar do mal um grande bem. Resultado: apesar de todo sofrimento que possa ter tido no passado, sou grato por ele,

confiante de que me trouxe muito mais benefícios que malefícios. Quanto ao presente, se o olhar “de revestrés”, como diz o matuto, com um pé preso no passado, ele não será plenamente presente, mas projeção do passado. Vou virar estátua de sal! Entretanto, se resolver vivê-lo plenamente, isso é, amando, sabendo que “a cada dia basta seu cuidado” e que “só tenho hoje para amar a Deus”, então vou vivê-lo com a paixão e a audácia do amor que tudo crê, tudo suporta, tudo perdoa, tudo espera. Sobre o futuro, bem, se sei que ele está nas mãos de Deus e que Ele sempre deseja o melhor para mim, ele se transforma de improbabilidade em certeza de que, aconteça o que acontecer, Deus está – sempre! – no comando! A questão não é o que acontece, a questão são os óculos através dos quais se enxerga os acontecimentos.

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Revista Shalom Maná | Orando com a Palavra

Todo aquele que fizer a vontade do meu pai é meu irmão

Você tem escutado a Deus como Maria escutou? Você faz tudo o que o Ele lhe diz, como ela fez? Por José Ricardo F. Bezerra

A

ntes de iniciar a leitura desta página, peça o auxílio do Espírito Santo, Aquele que inspirou os autores sagrados a escreverem o que Deus quis, para que você entenda o quê e o para quê foi escrito. Oremos: “Ó vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Oremos: “Ó Deus que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Por Cristo Senhor nosso. Amém”. Tomemos hoje um trecho do Evangelho segundo Mateus (Mt 12,46-50). Leia-o três vezes, à meia voz, seguindo o método da Lectio Divina.

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Fazei tudo o que Ele vos disser Um primeiro ponto que me chamou a atenção nesses cinco versículos foi sobre o verbo falar ou dizer. O texto diz que Jesus estava falando com as multidões... Seus familiares queriam falar com ele... Alguém lhe disse que seus familiares queriam lhe falar... Jesus diz a quem lhe falou. São seis vezes em quatro versículos. Agora conte quantas vezes aparece o verbo “fazer”. Apenas uma vez, não é? Dá para notar a diferença, não? Há um ditado que diz que falar é fácil, fazer é que é difícil! Você concorda? No Sermão da montanha, Jesus já havia alertado que “nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade do seu Pai que está nos céus.” (Mt 7,21). Medite e reze sobre as suas palavras e ações.


“Jesus respondeu àquele que o avisou: Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos?” Num primeiro momento, essa resposta/pergunta de Jesus pode parecer um desprezo ou uma desonra para com a sua mãe. Mas isto não é verdade! Se o Senhor diz que para ser seu irmão ou mãe precisa fazer a Vontade do Pai, quanto mais não se pode dizer de Maria, que disse ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” (Lc 1,38). Ela, como ordenou aos servos nas Bodas de Caná, continua a nos dizer: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” Você tem escutado a Deus como Maria escutou? Você faz tudo o que o Ele lhe diz como ela fez? Peça ao Senhor pela intercessão materna de Maria a sua docilidade e determinação em ouvir e por em prática a Palavra de Deus. O grande Santo Agostinho diz que “mais valeu para ela (Maria) ser discípula de Cristo do que mãe de Cristo; maior felicidade gozou em ser discípula do que mãe de Cristo. Assim Maria era feliz porque, já antes de dar à luz o Mestre, trazia-o na mente. Maria é mais feliz por ser discípula do que por ser mãe de Jesus.” (Sermo 25,7-8: PL 46,937). E você, se sente realmente feliz por ser discípulo de Jesus? Peça hoje a Deus que Ele renove a experiência com o seu amor e lhe dê a verdadeira alegria que ninguém pode tirar.

Filhos de Deus

José Ricardo F. Bezerra é missionário da Comunidade de Aliança Shalom em Fortaleza-CE.

“Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe.” Do ponto de vista biológico, Jesus foi filho único da Virgem Maria, mas considerando sua filiação do Pai que está nos Céus, Ele quis se tornar irmão de todos os que o seguissem. O apóstolo João afirma: “Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos

chamados filhos de Deus. E nós o somos! (...) Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou.” (1Jo 3,1-2a). Na aparição a Maria Madalena, o próprio Jesus diz: “Mas vá dizer aos meus irmãos...” (Jo 20,17). E mais ainda. Antes de morrer na cruz Jesus quis dar sua mãe a todos os seus discípulos, representados na pessoa do discípulo amado. “Mulher, eis o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis a tua mãe!” (Jo 19,26b-27a). Portanto somos filhos de Deus e Maria é nossa Mãe.

Oração Continue em oração escutando o Senhor que amorosamente vem lhe falar do Seu grande amor por você. Escute-o dizendo o quanto lhe ama e deseja que você cumpra cada vez mais a Vontade do Pai na sua vida. Deixe que Ele lhe mostre as áreas de sua vida em que Ele deseja que você mude. Peça-lhe força, coragem e disposição para cumprir sempre a Vontade de Deus em meio aos desafios que você enfrenta. Suplique a ajuda poderosa de Maria santíssima, a serva fiel do Senhor. No quarto passo da lectio, deixe que o Espírito Santo aja em sua alma, levando-o(a) à contemplação das maravilhas de Deus que nos faz uma grande família, filhos do mesmo Pai que está nos céus, filhos no Filho. O Pai que nos escolheu antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor e nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo. Deus eterno e todo poderoso, a quem ousamos chamar de Pai, dai-nos cada vez mais um coração de filhos, para alcançarmos um dia a herança prometida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Shalom!

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Revista Shalom Maná | A Igreja Celebra

Santa Bakhita

A Escrava de Deus

Santa Bakhita transformou todo sofrimento que passou em atos de amor Àquele que a chamou desde sempre. Serviu-O nos irmãos e na Sua Igreja, quando fez tudo muito bem feito e com toda humildade. Se fez escrava por livre e espontânea vontade, porque sabia que este "patrão" era digno de ser adorado e servido. Fonte: vatican.va

I

rmã Josefina Bakhita nasceu no Sudão (África), em 1869 e morreu em Schio (Vicenza-Itália) em 1947. Flor africana, que conheceu a angústia do rapto e da escravidão, abriu-se admiravelmente à graça junto das Filhas de Santa Madalena de Canossa, na Itália. Em Schio, onde viveu por muitos anos, todos ainda a chamam “a nossa Irmã Morena”. A Providência Divina que “cuida das flores do campo e dos pássaros do céu”, guiou esta escrava sudanesa, através de inumeráveis e indizíveis sofrimentos, à liberdade humana e àquela da fé, até a consagração de toda a sua vida a Deus, para o advento do Reino.

Na escravidão Bakhita não é o nome recebido de seus pais ao nascer. O susto provado no dia em que foi raptada, provocou-lhe alguns profundos lapsos de memória. A terrível experiência a fizera esquecer também o próprio nome. Bakhita, que significa “afortunada”, é o nome que lhe foi imposto por seus raptores. Vendida e comprada várias vezes nos mercados de El Obeid e de Cartum, conheceu as humilhações, os sofrimentos físicos e morais da escravidão.

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Rumo à liberdade Na capital do Sudão, Bakhita foi, finalmente, comprada por um Cônsul italiano, o senhor Calixto Legnani. Pela primeira vez, desde o dia em que fora raptada, percebeu com agradável surpresa, que ninguém usava o chicote ao lhe dar ordens, mas, ao contrário, era tratada com maneiras afáveis e cordiais. Na casa do Cônsul, Bakhita encontrou serenidade, carinho e momentos de alegria, ainda que sempre velados pela saudade de sua própria família, talvez perdida para sempre. Situações políticas obrigaram o Cônsul a partir para a Itália. Bakhita pediu-lhe que a levasse consigo e foi atendida. Com eles partiu também um amigo do Cônsul, o senhor Augusto Michieli.

Na Itália Chegados em Gênova, o Sr. Legnani, pressionado pelos pedidos da esposa do Sr. Michieli, concordou que Bakhita fosse morar com eles. Assim ela seguiu a nova família para a residência de Zeniago (Veneza) e, quando nasceu Mimina, a filhinha do casal, Bakhita se tornou para ela babá e amiga. A compra e a administração de um grande hotel


em Suakin, no Mar Vermelho, obrigaram a esposa do Sr. Michieli, dona Maria Turina, a transferir-se para lá, a fim de ajudar o marido no desempenho dos vários trabalhos. Entretanto, a conselho de seu administrador, Iluminado Checchini, a criança e Bakhita foram confiadas às Irmãs Canossianas do Instituto dos Catecúmenos de Veneza. E foi aqui que, a seu pedido, Bakhita, veio a conhecer aquele Deus que desde pequena ela “sentia no coração, sem saber quem Ele era”. “Vendo o sol, a lua e as estrelas, dizia comigo mesma: Quem é o Patrão dessas coisas tão bonitas? E sentia uma vontade imensa de vê-Lo, conhecê-Lo e prestar-lhe homenagem”.

Filha de Deus Depois de alguns meses de catecumenato, Bakhita recebeu os Sacramentos de Iniciação Cristã e o novo nome de Josefina. Era o dia 9 de janeiro de 1890. Naquele dia não sabia como exprimir a sua alegria. Os seus olhos grandes e expressivos brilhavam revelando uma intensa comoção. Desse dia em diante, era fácil vê-la beijar a pia batismal e dizer: “Aqui me tornei filha de Deus!”. Cada novo dia a tornava sempre mais consciente de como aquele Deus, que agora conhecia e amava, a havia conduzido a Si por caminhos misteriosos, segurando-a pela mão. Quando dona Maria Turina retornou da África para buscar a filha e Bakhita, esta, com firme decisão e coragem fora do comum, manifestou a sua vontade de permanecer com as Irmãs Canossianas e servir aquele Deus que lhe havia dado tantas provas do seu amor. A jovem africana, agora maior de idade, gozava de sua liberdade de ação que a lei italiana lhe assegurava. A 8 de dezembro de 1896, Josefina Bakhita se consagrava

para sempre ao seu Deus, que ela chamava com carinho “el me Paron!”.

Testemunha do Amor A sua humildade, a sua simplicidade e o seu constante sorriso, conquistaram o coração de todos os habitantes de Schio. As Irmãs a estimavam pela sua inalterável afabilidade, pela fineza da sua bondade e pelo seu profundo desejo de tornar Jesus conhecido. “Sede bons, amai a Deus, rezai por aqueles que não O conhecem. Se, soubésseis que grande graça é conhecer a Deus!”. Chegou a velhice, chegou a doença longa e dolorosa, mas a Irmã Bakhita continuou a oferecer o seu testemunho de fé, de bondade e de esperança cristã. A quem a visitava e lhe perguntava como se sentia, respondia sorridente: “Como o Patrão quer”.

A última prova Na agonia reviveu os terríveis anos de sua escravidão e vária vezes suplicava à enfermeira que a assistia: “Solta-me as correntes ... pesam muito!”. Foi Maria Santíssima que a livrou de todos os sofrimentos. As suas últimas palavras foram: “Nossa Senhora! Nossa Senhora!”, enquanto o seu último sorriso testemunhava o encontro com a Mãe de Jesus. Irmã Bakhita faleceu no dia 8 de fevereiro de 1947. Foi canonizada em 2000 pelo então Papa João Paulo II, após o reconhecimento, pelo Vaticano, de um milagre de cura ocorrido em Santos, Brasil, em 1992. Eva Tobias da Costa, que tinha diabetes, solicitou a intercessão de Josephina Bakhita para sanar suas feridas incuráveis. Após invocar a santa e esfregar a imagem nas feridas que tinha nas pernas, elas voltaram ao normal, curadas. É a primeira santa sudanesa.

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Revista Shalom Maná | Atualidades

A te o l o da se gia lfie

A

O que leva as pessoas a compartilhar tantas fotos de si, tiradas por elas mesmas? Fonte: ZENIT NASA criou, em 2014, um mosaico temático feito com 36.422 fotos de pessoas de mais de cem países, tiradas por elas próprias e enviadas através das redes sociais com a hashtag #GlobalSelfie. A participação massiva é mais um reflexo do fenômeno da autofotografia, ou “selfie”, que se tornou “a palavra do ano” em 2013 na opinião do prestigioso dicionário Oxford da língua inglesa. E a “selfie” é um fenômeno que, pelo visto, parece destinado a continuar indo bem além de 2013. O que leva as pessoas a compartilhar tantas fotos delas mesmas tiradas por elas mesmas? Só em 2013, houve 1 milhão de publicações desse tipo de imagem por dia! O fenômeno não é apenas resultado da atual facilidade técnica para tirar fotos em qualquer lugar e a qualquer momento; também existe algo de psicológico nessa manifestação cultural: as pessoas se sentem, embora pareça uma redundância, protagonistas das próprias fotos, não

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apenas por serem fotografadas, mas por se fotografarem. Essa dimensão do protagonismo quer testemunhar com imagens que “eu estive lá”, que “eu sou assim”, que “eu estive com Fulano”; e, com um pouco de sorte, conseguir, quem sabe, alguma fama efêmera, caso a imagem se torne viral. O fenômeno selfie pode envolver também certos matizes patológicos. Em maio de 2014, no “Giro d’Italia”, o ciclista alemão Marcel Kittel caiu e um jovem se aproximou dele rapidamente; mas não era para ajudá-lo, e sim para tirar uma selfie com o atleta. Atitudes semelhantes se repetem com muitas pessoas no mundo todo e fazem parte do pano de fundo do curta-metragem “Aspirational”, da atriz Kirsten Dunst. No filme, Kirsten critica a cultura da selfie e a desumanização das pessoas em tempos de Instagram. Vemos a atriz, no curta-metragem, esperando alguém diante de sua casa quando passam duas

Foto: Wallace Fr


Foto: Wallace Freitas

plava a sua beleza, caiu no rio e morreu afogado. Aquela “selfie mitológica”, aplicada às circunstâncias atuais, pode servir como convite para prestarmos mais atenção não somente a essa superexposição vaidosa, mas também à falta de autenticidade das imagens manipuladas para aparentar o que não somos.

reitas

Historicamente falando, a primeira selfie data de 1914 e a protagonista foi uma adolescente de 13 anos: a grã-duquesa Anastácia, da Rússia. No âmbito religioso, podemos citar o Santo Sudário e o manto da Virgem de Guadalupe, duas “selfies” de peculiaridade sobrenatural. E, indo ainda mais longe, a primeira de todas as selfies remonta ao próprio Deus e tem como fundamento teológico a Bíblia. garotas que a reconhecem, se aproximam com seus smartphones na mão e, sem mais nem menos, começam a tirar selfies com ela. Terminada a “sessão fotográfica”, as jovens vão embora praticamente sem abrir a boca. “Não querem me perguntar nada?”, indaga Kirsten, enquanto uma das jovens se limita a perguntar à outra: “Quantos seguidores você acha que eu vou conseguir com esta foto?”. “Aspirational” é uma caricatura, mas tem fundamento bastante real. Como não recordar o menino espanhol que se emocionou até chegar às lágrimas por ter tirado uma foto com o jogador argentino Lionel Messi? “O que foi que o Messi disse para você?”, perguntou um jornalista ao menino. “Nada”, foi a resposta. Ele queria a foto, não as palavras do craque. As selfies não são algo novo. O mito grego de Narciso nos apresenta o rapaz que se apaixonou pela própria imagem refletida na água e, enquanto contem-

O capítulo primeiro do livro do Gênesis, em seus versículos 26 e 27, diz claramente que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Será que não podemos considerar a nós próprios como “selfies” de Deus? Neste sentido, cada selfie humana de hoje em dia é uma imagem que reflete algo de divino e que remete a Deus. Mas Deus é ainda mais original e tirou a mais perfeita de todas as selfies: Jesus Cristo, que, muito além de mera “imagem” de Deus, é Deus em pessoa feito carne. As selfies, de certa forma, são expressões da capacidade criadora semeada por Deus no coração humano e materializada em imagens. Não são uma simples popularização da fotografia, mas expressões muitas vezes instintivas que nos revelam um pouco do anseio de eternidade que temos na alma. Cada foto é uma forma de dizer “eu existo”, “eu faço parte da história humana” e, ainda mais profundamente, “eu sou imagem e semelhança de Deus”.

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Revista Shalom Maná | Testemunho

A decisão de tirar o feto é apenas sua

Lydia partilha conosco a história de Pedro Cássio, seu filho muito amado e muito esperado! Por Lydia Mourão Gomes Alencar

E

m uma vida cheia de incertezas, uma certeza sempre tive: Um dia eu seria mãe! Aos 19 anos, ao perder minha mãe, essa certeza só aumentou; eu queria experimentar de novo esse amor, sendo EU a mãe. Para ser mãe, meu filho ou filha precisaria de um pai, obviamente. E não poderia ser qualquer pai, já que eu tive o melhor pai do mundo, meu filho não poderia ter um destino diferente. Tinha que ser um pai fenomenal. Quando eu completei 30 anos, bateu o desespero: eu ainda não havia achado o homem ideal, aquele que me tornaria uma esposa feliz e que seria o melhor pai de todos. Em dois anos, tudo mudou, o homem ideal chegou. Casamos. Curtimo-nos um tempo. Três anos depois, começaríamos nossa família. As dez primeiras semanas de gestação foram tranquilas. Nem parecia que eu estava grávida; na décima primeira, começaram os enjoos e a azia. Na décima segunda, o tempo virou. Um exame simples, que várias gestantes fazem sem nem se dar conta do quão estressante pode ser. O nome? Translucência Nucal. Nunca achei que duas palavras me fossem tirar o sossego da forma como ocorreu em seguida.

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Vocês vão seguir com a gestação? Naquela tarde, arrumei-me bem linda, afinal, eu tinha um “encontro” com o meu bebê. Eu e meu marido fomos felizes da vida fazer o tal exame e, quem sabe, conseguir ver se era “ele” ou “ela”. De repente, o meu bebê já não era um bebê. O vocabulário da médica mudou de bebê para “o feto”: “O feto não está bem, está com a TN bem alterada, tem que ver com seu obstetra se você vai querer seguir com a gestação”. “Oi??? Se EU vou querer seguir com a gestação???” A médica saiu da sala, foi ligar para o obstetra. Eu e meu marido entramos em desespero e caímos no choro. O obstetra me ligou e disse que nos veria em dois dias e explicaria tudo, para tomarmos uma decisão. Foi o pior fim de semana da minha vida. Dois dias inteiros de sofrimento, mas também de intensa oração pela vida do meu filho. Toda a família também se uniu a nós em intercessão. Na segunda-feira, com voz dócil e jeito carinhoso, o médico explicou tudo: o que era TN alterada, quais eram as implicações disso. E, claro, finalizou o diálogo reiterando o que a médica havia dito no exame: “Vocês vão seguir


com a gestação? Por que eu não tiro o feto, mas posso indicar quem o tira”. Novamente, meu bebê era um “feto”, já descartável para dois médicos. Fui em um terceiro obstetra, uma mulher dessa vez. Na consulta, ela me explicou que meu bebê tinha um higroma cístico e que isso, aliado a TN alterada, era indicativo para algumas alterações cromossômicas e que, como tudo na vida, poderia não ser nada. Ela nos indicou a fazer um exame mais invasivo, uma coleta do material genético do bebê, a fim de descobrimos se havia ou não alguma alteração. Porém, eu só tinha 12 semanas de gravidez e esse exame só poderia ser feito a partir da 20ª semana, pois havia o risco de aborto espontâneo.

Tempo de preparação Na época, eu me questionava o porquê de fazer esse exame, já que, sim, eu teria o meu bebê de qualquer jeito. Hoje em dia, relembrando o passado, vejo como foi importante o diag-

nóstico precoce, pois eu, meu marido e toda nossa família tivemos tempo para nos preparar para a chegada desse bebê tão querido. Como essa terceira obstetra estava falando em bebê, ao invés de feto e, até então, não havia falado em interromper a gestação, eu me sentia segura. Entre a 12ªsemana e a 20ª, que antecedeu o exame, li de tudo: testemunhos de mães que passaram pela mesma situação, depoimentos de médicos, parentes e amigos. Infelizmente, a maioria era favorável a interrupção da gestação: “Você vai viver dentro de um hospital com essa criança”. “E se nascer e morrer em seguida, você terá ficado nove meses esperando uma criança que não vai durar nada”. “E seu marido, vai aceitar? Ele vai é te abandonar sozinha com uma criança doente”.

Vou amá-lo de todo jeito Enfim, chegou o dia e fiz o exame. O resultado só sairia em 20 dias.

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Antes disso, oito dias após eu ter feito o exame, a obstetra me ligou, queria me ver. Desse dia, com certeza, eu me lembro de todos os detalhes… Fui sozinha, pois era apenas uma consulta, já que o resultado só sairia bem depois. A médica foi bem direta: “Então, o resultado saiu antes, foi bom você estar sozinha, pois o resultado deu Síndrome de Down e, como é você quem está grávida, a decisão de tirar o feto é apenas sua”. Bomba! Pela terceira vez, meu bebê virou “apenas” um feto. A essa altura, nós já sabíamos que era menino, que já tinha unhas, que era cabeludinho, que era grande e, dentre outras caraterísticas, descobri que viria com Síndrome de Down. Dessa vez não chorei. Nesse dia, sem dúvida, eu estava regada pelo Espírito Santo. Lavei a alma: “É isso o que ele tem? Só isso? Síndrome de Down? Obrigada, meu Deus, por não ser algo mais sério”. A obstetra me olhou incrédula: “Você quer esse bebê? Você sabe as implicações disso? Eu tenho uma paciente que gastou todo o dinheiro do mundo tentando engravidar, fez seis inseminações artificiais e sempre abortava por que dava Síndrome de Down”. Dessa vez, a incrédula fui eu. A paciente fez isso? Tive pena. Tive pena da médica, tive pena da paciente, tive pena das seis almas que se foram. A médica quis ligar para o meu marido. Eu não impedi. Conheço o homem com quem me casei. Sabia que ele me apoiaria. Como o esperado, ele foi bem enfático ao telefone: “É meu filho e vou amá-lo de todo jeito”.

Eu sorri! A partir de então, minha gravidez seguiu tranquila. Curti bastante tudo o

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Então, ele nasceu. Eu o olhei nos olhos e disse: “Seja bem-vindo, meu filho”. E ele parou de chorar e me olhou. E eu senti Deus naquele momento, como jamais havia sentido. que ainda não tinha curtido na gravidez: fiz chá de bebê com a família e os amigos, decorei o quartinho do bebê, tirei várias fotos da minha barriga, fiz ensaio de grávida. Eu e meu marido fomos à praia, a festas. Tudo isso está registrado para eu mostrar ao meu filho quando ele crescer. Eu conversava diariamente com ele dentro da minha barriga. Em todo momento, eu dizia: “Vem filho, que você é muito amado, muito esperado, todo mundo te quer”. Eu tinha que repetir isso várias vezes, para ele saber que era bem-vindo, para que nascesse tranquilo. Meu filho nasceria com um atraso intelectual e motor, mas carente de amor ele não seria jamais. A única apreensão que eu tinha era em relação ao trabalho, pois eu estava desempregada; mas, como Deus é sempre providente, fui convocada para tomar posse em um concurso que eu havia passado dois anos antes. Ou seja, nem isso me preocupava mais. Então, ele nasceu. Eu o olhei nos olhos e disse: “Seja bem-vindo, meu filho”. E ele parou de chorar e me olhou. E eu senti Deus naquele momento, como jamais havia sentido. Eu não chorei. Eu sorri. Era só alegria. Até hoje, as pessoas me questionam se foi difícil tomar aquela decisão e eu sempre digo: “Não tinha o que decidir. Era o meu bebê, meu filho, o Pedro Cássio. Ele não iria morrer por falta de amor”.


Revista Shalom Maná | Especial

Shalom Reconhecimento Pontifício na Cátedra de São Pedro Na festa da Cátedra de São Pedro, em 22 de fevereiro, recordamos como esta data é tão significativa e revela aspectos fundamentais da missão da Comunidade Shalom Por Emanuele Sales

H

O que significa termos o nosso reconhecimento pontifício no dia da Cátedra de São Pedro?

motivo da existência do Shalom é professar a fé de Pedro. E quando Pedro professa a sua fé ele diz o que? Jesus está em diálogo com seus discípulos, em uma região paganizada, e pergunta: “O que os homens dizem que eu sou?” E então eles respondem muitas coisas acerca do que os homens diziam sobre Jesus. E Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?”, ou seja, “o mundo diz todas essas coisas aí, alguns dizem que eu sou Elias, outros alguns dos profetas, outros João Batista que ressuscitou”. E Jesus diz: “E vocês?”, os discípulos… “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Então, Pedro vai dizer, em nome de todos: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo!”. Essa é a fé de Pedro que nós somos chamados, enquanto Shalom, a professar e a anunciar: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo!”. O que significa dizer que Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo?

Segundo o nosso fundador, Moysés Azevedo, o Shalom ter sido aprovado no dia 22 de fevereiro significa que existimos para professar a fé de Pedro. Esse é o sentido da nossa existência. Foi para isso que Deus nos criou, que Deus nos constituiu essa família espiritual. O

Primeiro: o Cristo, o Messias, era aquele esperado por Israel. Significa dizer que Jesus é a esperança de Israel. A fé que nós somos chamados a professar, já que nós somos filhos de Pedro, é a fé que diz que Jesus é a esperança do mundo, porque Ele é a esperança de Israel. Dizer

á oito anos, em 22 de fevereiro de 2007, a Comunidade Católica Shalom recebia da Santa Sé o reconhecimento pontifício e aprovação de seus estatutos em um período ad experimentum. Em 2012, também na festa da Cátedra de São Pedro, os estatutos eram aprovados definitivamente. Mais do que o fato de a vocação Shalom ter nascido aos pés do Papa João Paulo II, exatamente dois anos antes do marco de fundação em 1982, o reconhecimento da Igreja em uma data tão significativa revela aspectos fundamentais da missão da Comunidade. É sobre esse assunto que o missionário da Comunidade de Vida Shalom e assistente local de Fortaleza, padre Silvio Scopel, reflete em homilia abaixo. Confira:

*Transcrição com tom coloquial mantido

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que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, significa também dizer que Ele é a alegria de Israel. Quando nós professamos a fé de Pedro, então, estamos professando que Jesus é a alegria do mundo. Dizer que Jesus é o Cristo, o filho do Deus vivo, é dizer que Ele é o Salvador de Israel. Então, quando professamos a fé de Pedro, estamos dizendo que Jesus é a salvação do mundo, que Ele é a esperança e a alegria do mundo, que Ele é o sentido da nossa vida. Jesus Cristo é o Senhor. É essa a fé que nós somos chamados a viver e a professar. A nossa alegria não está mais nos bens que o mundo pode oferecer, a nossa esperança não está mais no nosso potencial intelectual, porque eu posso ser a pessoa mais inteligente do mundo. A nossa esperança e a nossa alegria está no fato de termos Jesus como sentido de nossas vidas. E de termos a nossa fé Nele. Porque se eu estiver com Ele, ainda que tudo ao meu redor seja só tribulação, eu tenho esperança e alegria, caridade, salvação. No entanto, se eu tiver tudo, mas se eu não estiver com minha vida fundamentada em Cristo, a minha vida se torna “flácida”, sem sentido. Quando eu digo com Pedro “Jesus, Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”, eu estou professando que Ele é a minha esperança, a minha alegria e a minha salvação. Como Shalom, esta é a nossa missão: professar a fé de Pedro, anunciar essa fé. E o que a fé de Pedro faz com ele mesmo? A fé de Pedro realiza três coisas na vida dele. Primeiro, quando ele diz “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”, Jesus responde “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Ou seja, Simão, “caniço agitado pelo vento”, depois que professa a sua fé passa a ser “pedra”, “ro-

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cha”, “solidez”, “fundamento”. O que a fé não faz na vida de uma pessoa? O que a fé não faz na vida de alguém? “Ah, padre Silvio, eu estou me sentindo tão inseguro em minha vida”. Pois aprofunde a fé! Quando nós temos fé, deixamos de ser cristãos meio que molengas, que vão de um lado para o outro, “caniços agitados pelo vento”, e passamos a ser uma rocha. Essa rocha passa a apoiar outros irmãos, porque essa também passa a ser a missão de Pedro: “Vai e confirma teus irmãos”, Jesus diz a Pedro. Ao professar a fé, Pedro passa, de caniço agitado pelo vento, a rocha, pedra sobre a qual o Senhor edificaria a Sua Igreja. Esta fé também muda a nossa vida desse modo. Deixamos de ser “caniço agitado pelo vento” e passamos a ser rocha de um grande edifício espiritual que o Senhor está construindo. Pedro recebe também, por meio da fé, as chaves. O que significam as chaves? Aquele que tem as chaves pode abrir e fechar a casa na hora que quiser. Quem tem a chave tem autoridade sobre a casa. A fé de Pedro faz com que ele tenha poder sobre a casa de Deus nesse mundo, que é a Igreja. Por último, nós poderíamos entender a missão porque Pedro recebe o mandato de ligar e desligar. Recebendo esta missão, nós podemos compreender a grande missão de quem é pedra: quem tem a chave deve ligar o homem a Deus. Pedro é enviado por Cristo para confirmar os seus irmãos para se tornarem pescadores de homens. A fé que nós professamos, então, é a fé de Pedro. E a fé de Pedro nos leva a ser pescadores de homens, a ligarmos os homens a Deus. Por que Jesus quis instituir um papa? Por que Jesus quis que dentre


os apóstolos um fosse o chefe? Por que ele não deixou os “Doze”? Estava tão direitinho… Não, ele quis instituir “um”. Pelo simples fato de que o “um” é sinal de unidade. Se todos nós estamos ligados a uma única pessoa, significa que Cristo não está dividido. Se nós começamos a nos dividir e a dizer “Eu sou de Paulo”, “Eu sou de Apolo”, Cristo estaria dividido. E aí Jesus vai dizer na oração sacerdotal: “Pai, que todos sejam um, como eu e tu somos um”. Por isso, Jesus instituiu o primado de Pedro e o primado de Pedro foi confirmado pelos cristãos, pela Igreja primitiva. Depois que Pedro foi martirizado foi eleito São Lino, depois São Cleto, São Clemente e, assim, até nós termos hoje Francisco, o sucessor de Pedro. E nós, como Shalom, chamados a professar a fé de Pedro? Pedro tem a missão de ligar e desligar. O que diz para o Shalom de modo específico aquele que tem nas mãos a chave e nos lábios o poder de ligar e de desligar?

Na figura de João Paulo II, Pedro disse para o Shalom, falando para todas as novas comunidades: “Vós sois uma nova primavera para a Igreja”, em maio de 1998. “Vós sois a resposta providencial de Deus para a Igreja nos tempos de hoje”, isso disse João Paulo II. Bento XVI, Pedro, disse: “Mantende sempre em vós o espirito de igreja missionária”, ou seja, vocês são missionários. Em outro momento ele afirmou: “Sejam alegres instrumentos do amor e da misericórdia de Deus”. E por fim, há uma semana, Pedro, por meio de Francisco disse à Comunidade: “Não tenham vergonha do Evangelho de Jesus Cristo”. “Não tenham vergonha de viver e de anunciar o Evangelho radicalmente”. Foi isso que o Papa disse ao nosso fundador, em audiência. Pedro pede para nós por meio do Papa que sejamos uma resposta providencial do Espírito Santo para os tempos de hoje, que sejamos missionários e, em missão, sejamos instrumentos do amor e da misericórdia. Por isso, que Shalom, ao abrir a boca devem vir essas duas palavras: amor e misericórdia, porque este é o mandato de Pedro para nós. E por fim, Pedro nos pede que não tenhamos vergonha de viver e anunciar o Evangelho. Queridos irmãos, hoje, celebrando a Cátedra de São Pedro, nós oramos pelo Papa Francisco que tem tido um pontificado tão fecundo, tem chamado tanto a atenção do mundo e nós, como Shalom, colocamos diante de Deus aquilo que Ele nos fala por meio de Pedro. Eis a nossa missão. Eis porque Deus, como Igreja Católica, nos fez Comunidade. E eis aquilo ao qual Pedro nos chama. Ele tem o poder das chaves, o poder de ligar e de desligar. Enquanto fizermos o que Pedro nos manda estaremos no caminho seguro.

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Revista Shalom Maná | Assunto do Mês

Quero dar a minha vida pelos jovens! Dia 17 de Fevereiro marca o aniversário de 20 anos da Páscoa do Ronaldo Pereira. Seu nome significa “guerreiro da verdade”. Ele foi sempre um guerreiro pelo Reino de Deus que, segundo ele, deveria ser construído com ousadia e profissionalismo

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ma vida tem valor não pelo número de anos que se vive ou pelas muitas coisas que a pessoa tenha feito ou ganho. Para Deus, a vida tem valor quando ela é perdida em favor de alguém”. As palavras da cofundadora da Comunidade Católica Shalom, Emmir Nogueira, remetem a um pensamento comum entre os membros do Shalom quando se fala em vida ofertada, juventude espiritual e Ronaldo Pereira. Missionário da Comunidade de Vida Shalom, Ronaldo faleceu em 17 de fevereiro de 1995, ao voltar de uma missão em Natal (RN). Ronaldo foi um dos responsáveis pelo vigor do Projeto Juventude para Jesus (PJJ) da Comunidade Shalom, em seus primeiros anos, no início de 1990. Ingressou na Obra Shalom em 1988 e, em 1991, na Comunidade de Vida. Era apaixonado por São Paulo e Santa Teresinha do Menino Jesus. “Meu maior desejo é dar a vida pelos jovens!”, afirmou pouco antes de morrer, também aos 24 anos, como a carmelita francesa. Com a morte de Ronaldo, a Comunidade Shalom é mergulhada no mistério da dor. Seus membros começam a entender, segundo o fundador Moysés Azevedo, mais fortemente o sentido de eternidade. Todos sentem uma forte renovação no chamado à santidade, a viver o céu na terra, na consciência de que tudo passa, que só Deus basta e que o céu é nossa pátria definitiva. Leia a seguir breve partilha sobre Ronaldo, feita por Moysés Azevedo, no Congresso de Jovens Shalom, realizado em Fortaleza, em setembro de 2014, mantido o tom coloquial: “Muita gente me pede: “Moysés, você que conviveu tanto com Ronaldo, fala um pouco sobre ele”. O Ronal-

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do era um jovem como você, que fez sua experiência com Jesus Cristo, que teve a experiência da efusão no Espírito Santo, que viveu a sua juventude inteira, plena. Ronaldo tinha um desejo muito grande de mudar o mundo e se deixou envolver pela ideologia Marxista. Foi comunista antes de conhecer Jesus Cristo, e tinha um coração fechado. E aí numa missa, levado pela sua mãe, numa noite de louvor, teve a experiência com a pessoa de Jesus Cristo. De influências comunistas, renunciou à ideologia do Marxismo e se converteu profundamente a Jesus Cristo. Estudava administração, cuidava das empresas do seu pai, e tocado pela graça resolveu deixar tudo para ofertar a sua vida e a sua juventude para evangelizar os outros jovens. E era assim que ele vivia! Assumiu o Projeto Juventude num determinado momento, dando um dinamismo muito forte ao mesmo. Tinha um coração de pastor muito grande, e por isso sempre dizia: “Quero dar a minha vida, quero ofertar a minha vida e derramar o meu suor e o meu sangue por amor à igreja e por amor aos jovens”, e isso se cumpriu de uma maneira muito concreta. Essa frase todos nós dizemos, não é? E o mártir é exatamente aquela testemunha que derrama o seu sangue por amor a Jesus Cristo, mas ninguém é capaz de dar a sua vida a Jesus Cristo, derramando seu sangue se não der a sua vida no seu dia a dia, no seu minuto a minuto, nas escolhas fundamentais! E escolher ser um homem de oração, escolher ser uma jovem de oração, escolher viver na amizade com Deus! Escolher estar junto na comunidade, escolher participar juntos! Isolado ninguém é cristão! Você não conseguirá ser um jovem cristão se você for isolado, viver de uma forma

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isolada, é juntos, é na comunidade! É como um corpo que vamos caminhar, perseverando nos caminhos do Senhor! E perseverando nos caminhos do Senhor o Ronaldo teve aquele chamado, entrou na Comunidade de Vida, transformou-se num jovem missionário, e foi assim que o Senhor lhe encontrou, no meio da atividade da missão. Era voltando de uma viagem missionária em Natal, estávamos juntos no mesmo carro. Um acidente tolo, mas fatal. E naquele acidente, éramos 5 dentro do carro, só o Ronaldo faleceu. Uma pancada na sua cabeça e dizem os médicos que todo o seu sangue foi vertido ali, todo o seu sangue foi vertido. Lembro-me muito bem e partilho para vocês, porque como eu estava no carro, estava no banco do passageiro, e depois que o carro virou, aquela pancada do acidente, depois aquela escuridão, eu saindo do carro e comecei a chamar o nome de cada um dos que estavam dentro do carro. Na medida do possível cada um ia respondendo e o Ronaldo não respondia. Eu voltei para dentro do carro e o encontrei, e estava nos seus últimos momentos, eu não sabia, e lembro-me que dali sai pedindo a alguém para chamar uma ambulância, e me coloquei de joelhos diante do Senhor, e dizia: “Senhor, eu te peço aqui o milagre de Abraão, porque Abraão diante do punhal levantado, no sacrifício de Isaac, clamou a Deus e Deus colocou um carneiro no lugar. Eu te peço o milagre de Abraão”, e Nosso Senhor colocava no meu coração: “Eu te darei outro milagre, o milagre de Maria, de Maria que aos pés da cruz pode entregar o Seu filho”. Lembro-me indo para o hospital, chegando lá a resposta de que o Ronaldo tinha falecido, e eu pedi uma coisa


talentos, cheio de vida. E nós perguntávamos: “Senhor, porque ele?”, porque pensávamos, com todo o respeito, pensávamos assim: “Quem vai ser de nós o primeiro para ir para o céu?”, e só pensávamos nas tias de cabeça branquinha, já com 80-90 anos, pensávamos nelas, que elas iriam inaugurar o céu da comunidade Shalom, a nossa missão no céu. E Deus pega e tira um jovem de 24 anos, cheio de vida, com um potencial enorme. Também deixava interrogações enormes dentro de nós, e perguntávamos: “Mas porque ele Senhor?”. E numa dessas perguntas de por que ele, como nós percebíamos a voz de Deus no nosso coração a nos dizer: “Porque eu preciso de um jovem, eu quero ter um jovem diante de mim no céu intercedendo por todos os jovens que vocês vão evangelizar”.

ao Senhor na hora, dobrei os meus joelhos e disse: “Senhor, que não saia dos meus lábios o Teu louvor. Bendito seja Deus! Mesmo na dor, mesmo nas lagrimas, que não saia dos lábios o louvor”. E foi uma grande comoção na obra, na comunidade, porque era um jovem de 24 anos, cheio de vigor, cheio de

O Shalom no céu inaugurou a nossa eternidade com um jovem, para mostrar e nos recordar sempre a nossa identidade e a nossa missão, e com certeza na comunhão dos santos ele lá nos recorda continuamente o tipo de vida que devemos viver: uma vida ofertada, sem reservas, uma vida que oferta o seu suor e, se necessário, o seu sangue para amar, para se doar, para transmitir a misericórdia de Deus, para dar de graça o que de graça recebemos. Para evangelizar os jovens e com os jovens as famílias, e com os jovens os pobres, os construtores da sociedade, com os jovens o mundo inteiro! Mas para evangelizar os jovens e para nos dar esse sinal de como devemos viver, e para nos dar o sinal de que a eternidade já é aqui, já é agora, a eternidade. Meus queridos jovens, quero recordar para vocês ao que nós somos chamados: a eternidade. Tudo passa, mas a eternidade é o que permanece para sempre”.

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A violência do coração Por Emmir Nogueira

desses enO Ronaldo, irmão querido, ensinou- (que ele jamais negava!). Um veis é sua -nos muitíssimo nos breves anos que sinamentos informais e indelé cida como viveu entre nós, jovens e Comunidade. palavra de sabedoria conhe violência que Ensinou-nos com sua sabedoria através “violência de coração”. Esta Amor foi vivida de palavras, mas, sobretudo, marcou- vem do Amor e leva ao penitência de -nos com os ensinamentos indeléveis de por ele a cada dia, seja na a, seja no sua presença e atitudes. Tendo sido por comer algo de que não gostav lábios, mesvários anos coordenador do Projeto Ju- sorriso sempre presente nos se. Era notada ventude para Jesus, Ronaldo, também ele mo que o coração choras quem ele havia jovem, pôde ter uma visão bem ampla e por muitos de nós, com de violência e profunda dos principais desafios para um partilhado sobre este tipo o notando sua jovem católico. Ele mesmo, certamente, pureza. Nós, porém, mesm necíamos caos vivia na sua impressionante busca pela violência de coração, perma arriscando no fidelidade e santidade. Tendo falecido lados, como em respeito, s. com apenas vinte e quatro anos, Ronaldo máximo uma troca de olhare não teve tempo de deixar muitas coisas Porque viveu violentando seu coracomo , Porém pena. uma é escritas, o que ção e morrendo para si mesmo, o Ronaler, escrev que do viver de mais a gostav ele do foi digno de morrer como mártir, em deixou-nos recordações e testemunhos missão, em um momento que, certamenvivos e sempre presentes, sendo até hoje te, o Deus que o ama, teve de violentar o comum comentarmos ou pensarmos: “Se próprio coração para tê-lo consigo. Hoje, o Ronaldo estivesse aqui faria assim”. sua vida e sua morte nos apontam, com amor, coMuita coisa nos foi ensinada por ele grande alegria, que é tempo de é breve e durante as refeições, as conversas (que ragem e renúncia, pois o tempo ele jamais evitava!) os aconselhamentos o céu, bem, o céu é logo.

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Revista Shalom Maná | Só Família

“Não suporto que os esposos se amem” Fonte: ACI Digital

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ão suporto que se amem!”, foi a resposta imediata e clara que o demônio deu ao exorcista italiano Pe. Sante Babolin durante um dos “combates”, quando o sacerdote lhe questionou por que estava causando problemas à esposa de um amigo. “Por que este ódio?” Em declarações ao Semanário da Fé, o sacerdote explicou que Satanás detesta o Matrimônio porque é o sacramento mais próximo à Eucaristia. “Explico-me: na Eucaristia, nós oferecemos o pão e o vinho ao Senhor, que pela ação do Espírito Santo, convertem-se no Corpo e Sangue de Jesus. No Sacramento do Matrimônio ocorre algo parecido: pela graça do Espírito Santo, o amor humano se converte no amor divino, assim, de maneira real e particular, os esposos, consagrados pelo Sacramento do Matrimônio, realizam o que diz a Sagrada Escritura: ‘Deus é amor: quem conserva o amor permanece em Deus e Deus com ele”. Nesse sentido, o exorcista abordou o aumento no número de separações, cuja maioria se deve à degradação do amor entre homem e mulher.

Fotos: Santa Gianna Beretta Molla e Pietro Molla

“O Papa Emérito Bento XVI o assinalou em sua encíclica Deus Caritas Est: ‘O modo de exaltar o corpo, a que assistimos hoje, é enganador. O eros degradado a puro sexo torna-se mercadoria, torna-se simplesmente uma coisa que se pode comprar e vender; antes, o próprio homem torna-se mercadoria’. ‘E qualquer loja precisa renovar as mercadorias para vendê-la. Assim é do matrimônio fundamentado no sexo sem verdadeiro eros’”, expressou. O sacerdote recordou que “o amor humano e divino, oferecido pelo Sacramento do Matrimônio, não é um amor instintivo, como não é instintiva a fé em Cristo; por isso necessita cultivo, vigilância e paciência”. Por isso, alertou que “à infidelidade se chega com pequenas infidelidades; por isso cada esposo deve ter presente sempre, na sua cabeça e no seu coração, o outro; o diálogo e a confiança devem sempre permanecer”. “O Diabo prova os esposos cristãos para levá-los à infidelidade, exatamente porque ele, sendo ódio, não tolera o amor”, assinalou. Diante desta situação, recomendou que o casal reze o terço junto para afastar-se da tentação da infidelidade, além de praticar atividades que fortaleçam sua união. Sobre o perdão, o Pe. Babolin afirmou que tem “um papel decisivo”, pois “renova a graça do Sacramento do Matrimônio. Mas o verdadeiro perdão tem que ser um acontecimento excepcional, pois viver o Matrimônio em uma constante busca de perdão significa viver o amor em uma sala de reanimação”. “O Sacramento do Matrimônio oferece a força do Espírito Santo para que os esposos atuem uma espécie de personalidade corporativa, que realiza um caminho de santidade compartilhada”, assegurou.

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Santa Teresa

portadora da inquietação dos buscadores de Deus!

Neste ano a igreja celebra em outubro o V Centenário de nascimento de Teresa D’Ávila. Confira a cada mês textos sobre tão querida Santa, mulher de qualidades raras e que soube de verdade colocar a frutificar os talentos que recebeu de Deus. Por Frei Patrício Sciadini, OCD.

E

stamos celebrando o V centenário do nascimento de Santa Teresa de Ávila(1515-1582) e é uma grande graça de Deus que este ano se celebre também, por desejo do Papa Francisco, o ano da Vida Consagrada. Teresa teria exultado de alegria diante da carta que o Papa tem enviado a todos os consagrados e consagradas do mundo. Uma carta que abre o coração dos que olham o passado com gratidão, vivem com paixão o presente, sabe ver novos horizontes diante de si e tem no coração um grande amor pela Igreja. Hoje em dia o Papa tenta com todos os meios de “acordar-

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-nos” do nosso sono de mediocridade que nos impede de viver com entusiasmo renovado a nossa fidelidade à missão que nos é confiada. E preciso abrir os olhos e colocar os óculos das bem-aventuranças para ver que uma nova vida consagrada está surgindo com nova modalidade e com uma força que nem sempre sabemos acolher nos nossos corações endurecidos.


Não tenhas medo! Numa série de reflexões que quero escrever sobre Santa Teresa de Ávila, gostaria de tocar vários temas que fazem desta mulher uma pessoa de qualidades raras e que soube de verdade colocar a frutificar os talentos que recebeu de Deus. Não foi enterrá-los, mas os fez frutificar, indo contra todas as correntes de seu tempo. Não teve medo. E sabemos como nos momentos mais difíceis de sua vida, quando também a ela as noites, os desertos e os medos a torturavam por dentro, diante das dificuldades para realizar a obra das fundações dos Carmelos, normalmente sentia a voz do Senhor que lhe dizia: “Por que você tem medo, de que tem medo? Te deixei alguma vez sozinha? Os teus negócios são os meus negócios. Não tenhas medo!” Estas palavras lhe infundiam uma coragem nova e era capaz de enfrentar numa maneira “feminina e teresiana” qualquer pessoa. Sabia entrar na amizade e sabia falar de Deus e dos projetos de Deus com uma força única, que mesmo os mais adversos inimigos não podiam resistir-lhe.

Doce violência Trazia dentro dela uma inquietação dos buscadores de Deus. Quem busca de verdade o rosto de Deus e o seu amor sabe que nunca O poderá encontrar totalmente. Trazia no seu coração a mesma inquietação de Santo Agostinho e repete nos seus escritos a famosa frase: “Criaste o nosso coração para ti e ele anda inquieto até que não descanse em ti.” Aliás, sabemos que as Confissões de Santo Agostinho são uma força para sua conversão pessoal. Teresa adverte no mais íntimo de si mesma um desejo que a “persegue

com uma doce violência” desde sua infância: “Quero ver a Deus!” Este será o seu impulso constante ao longo dos seus 67 anos de vida. O desejo de ver a Deus a leva a dar-se totalmente a Ele. Ela mesma escreverá: “Deus se dá totalmente a quem totalmente a ele se doa.” Fará esta bela experiência de ser tomada, invadida pela força do Espírito Santo de Deus.

Geografia do Mosteiro É uma mulher inquieta, busca sempre algo mais. Traz dentro de si a insatisfação dos místicos, sabe que não podem se acomodar a uma vida tranquila, onde é amada e respeitada, como na casa paterna e como no Mosteiro da Encarnação. Procura algo mais e por isso, na sua inquietação, ela resolve dar “novo vigor ao Carmelo” que vivia um cansaço e uma estagnação que provocava uma vida burguesa e sem sentido. Mas como fazer isto? No Mosteiro carmelitano da Encarnação, onde viviam 180 monjas, ela pensa como realizar uma pequena comunidade à imitação do colégio de Cristo, 13 monjas, onde deve reinar o amor a Deus, o amor ao próximo, o desapego de todas as coisas, e embora Teresa a coloque por último, a virtude da humildade que para ela é o fundamento de todo o edifício. Nesta inquietação Teresa dá vida ao mosteiro de São José. É genial na sua “geografia do Mosteiro”: no meio está Jesus, numa porta a Virgem Maria e na outra São José, e assim não podemos ter medo de nada.

Qual o segredo? Mas qual é o segredo da pequena comunidade teresiana? É o amor. E o diz e repete em todas as maneiras e

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tons: poucas como somos, todas devem se amar, todas devem se ajudar, todas devem se estimar, promover. Teresa, na sua comunidade, queria como coração a oração silenciosa. Duas horas por dias, e depois a “verificação” da qualidade da oração na recreação comunitária. Esta monja que sabe que não lhe é possível ir “às periferias” para anunciar o evangelho, desde os seus mosteiros aconselha a todas as suas monjas e frades a irem às periferias através da oração pela Igreja e pelos teólogos e pregadores do evangelho, que devem ser preparados, para resistir aos ataques do mal.

“Por que você tem medo, de que tem medo? Te deixei alguma vez sozinha? Os teus negócios são os meus negócios. Não tenhas medo!”

Uma inquietação profética que leva Teresa a ser andarilha pelas terras de Espanha, fundando mosteiros de monjas, conventos de frades, porque onde tem uma casa de oração se tem a certeza da presença de Deus. É a maneira que ela encontrou com fidelidade ao seu carisma de contemplativa, de ser criativa diante de um mundo que “está em chamas por causa das heresias que dividem a Igreja.”

Eis um texto de Teresa:

Estes devem viver entre os homens e tratar com eles, estar nos palácios e, algumas vezes, conformar-se exteriormente com o que exigem as pessoas do mun­do. Pensais, filhas minhas, que é preciso pouco para tratar com o mundo e nele viver, para cuidar de negócios do mundo e adaptar-se, como eu já disse, às conversas do mundo, sendo ao mesmo tempo estranho ao mundo e inimigo seu, vivendo nele como exilado, não sendo, enfim, um ser humano, mas um anjo?

“Talvez pergunteis por que insisto tanto nisso, dizendo que devemos ajudar os que são melhores que nós. Explico: porque creio que não entendeis bem o quanto deveis ao Senhor por terdes sido trazidas para um lugar tão longe de negócios, situações perigosas e relações com o mundo, uma enorme graça. O mesmo não ocor-

Porque, se não agirem assim, sequer vão merecer o nome de comandantes; nem permita o Senhor que saiam de suas celas nessas condições, pois provocarão mais danos do que benefícios. Este não é o momento de se perceberem imperfeições em pessoas que devem ensinar. (Caminho de Perfeição 3,3)

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re com aqueles de quem falei, nem é bom que ocorra, muito menos nesta época, pois a eles cabe animar os fracos e encorajar os pequenos: o que seria dos soldados sem comandantes!


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Quaresma 40 dias de conversão ao amor de Cristo

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A Quaresma é a estação espiritual propícia para treinar-se com maior tenacidade na busca de Deus, abrindo o coração a Cristo. Por Papa Emérito Bento XVI* Quarta-Feira de Cinzas é para nós, cristãos, um dia particular, caracterizado pelo intenso espírito de recolhimento e reflexão. Empreendemos, de fato, o caminho da Quaresma, tempo de escuta da Palavra de Deus, de oração e de penitência. São quarenta dias nos quais a liturgia nos ajudará a reviver as fases destacadas do mistério da salvação.

Caminho para encontro com Cristo Como sabemos, o homem foi criado para ser amigo de Deus, mas o pecado dos primeiros pais quebrou esta relação

de confiança e de amor e, como consequência, a humanidade é incapaz de realizar sua vocação originária. Graças, contudo, ao sacrifício redentor de Cristo, fomos resgatados do poder do mal: Cristo, de fato, escreve o apóstolo João, foi vítima de expiação por nossos pecados1 e São Pedro acrescenta: Ele morreu de uma vez por todas pelos pecados2. Ao morrer com Cristo para o pecado, o batizado também renasce para uma vida nova e é restabelecido gratuitamente em sua dignidade de filho de Deus. Por este motivo, na primitiva

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comunidade cristã, o Batismo era considerado como a “primeira ressurreição”3. Desde as origens, portanto, a Quaresma é vivida como esse tempo da imediata preparação para o Batismo, que se administra solenemente durante a Vigília Pascal. Toda a Quaresma era um caminho para este grande encontro com Cristo, para a imersão em Cristo e a renovação da vida. Estamos já batizados, mas com frequência o Batismo é muito eficaz em nossa vida cotidiana. Por este motivo, também para nós a Quaresma é um “catecumenato” renovado no qual saímos novamente ao encontro de nosso Batismo para redescobri-lo e revivê-lo em profundidade, para ser de novo realmente cristãos.

Busca de Deus Portanto, a Quaresma é uma oportunidade para “voltar a ser” cristãos, através de um processo constante de mudança interior e de avanço no conhecimento e no amor de Cristo. A conversão não acontece nunca de uma vez por todas, mas que é um processo, um caminho interior de toda nossa vida. Certamente, este itinerário de conversão evangélica não pode limitar-se a um período particular do ano: é um caminho de todos os dias, que tem de abarcar toda a existência, cada dia de nossa vida. Desde este ponto de vista, para cada cristão e para todas as comunidades eclesiais, a Quaresma é a estação espiritual propícia para treinar-se com maior tenacidade na busca de Deus, abrindo o coração a Cristo. Santo Agostinho disse, em uma ocasião, que nossa vida é um exercício único do desejo de aproximar-nos

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Quem se deixa conquistar por Ele não tem medo de perder a própria vida, porque na Cruz Ele nos amou e se entregou por nós. E precisamente, ao perder por amor nossa vida, voltamos a encontrá-la. de Deus, de ser capazes de deixar Deus entrar em nosso ser. “Toda a vida do cristão fervoroso — diz — é um santo desejo”. Se isso é assim, na Quaresma somos convidados, ainda mais, a arrancar “de nossos desejos as raízes da vaidade” para educar o coração no desejo, ou seja, no amor de Deus. “Deus — diz Santo Agostinho — é tudo o que desejamos”. E esperamos que realmente comecemos a desejar Deus, e deste modo, desejar a verdadeira vida, o próprio amor e a verdade. É particularmente oportuna a exortação de Jesus, referida pelo evangelista Marcos: “Convertei-vos e crede na Boa Nova”4. O desejo sincero de Deus nos leva a rejeitar o mal e a realizar o bem. Esta conversão do coração é antes de tudo um dom gratuito de Deus, que nos criou para si e em Jesus Cristo nos redimiu: nossa felicidade consiste em permanecer n’Ele. Por este motivo, Ele mesmo previne nosso desejo com sua graça e acompanha nossos esforços de conversão.

Meu tudo em tudo Mas, o que é, na verdade, converter-se? Converter-se quer dizer buscar Deus, caminhar com Deus, seguir docilmente os ensinamentos de seu Filho Jesus Cristo; converter-se não é um


esforço para realizar a si mesmo, porque o ser humano não é o arquiteto do próprio destino. Nós não criamos a nós mesmos. Por isso, a auto realização é uma contradição e é muito pouco para nós. Temos um destino mais alto. Poderíamos dizer que a conversão consiste precisamente em não se considerar “criadores” de si mesmos, descobrindo deste modo a verdade, porque não somos autores de nós mesmos. Conversão consiste em aceitar livremente e com amor que dependemos totalmente de Deus, nosso verdadeiro Criador, que dependemos do amor. Isso não é dependência, mas liberdade. Converter-se significa, portanto, não perseguir o êxito pessoal, que é algo que passa, mas, abandonando toda segurança humana, seguir com simplicidade e confiança o Senhor, para que Jesus se converta para cada um, como gostava de dizer a beata Teresa de Calcutá, em “meu tudo em tudo”. Quem se deixa conquistar por Ele não tem medo de perder a própria vida, porque na Cruz Ele nos amou e se entregou por nós. E precisamente, ao perder por amor nossa vida, voltamos a encontrá-la.

Caminho da cruz

*Na ocasião da Quarta-Feira de Cinzas, em 2007.

Sim, queridos irmãos e irmãs, a Cruz também é para nós, homens e mulheres de nossa época, que com demasiada frequência estamos distraídos pelas preocupações e os interesses terrenos e momentâneos, a revelação definitiva do amor e da misericórdia divinos. Deus é amor e seu amor é o segredo de nossa felicidade. Agora, para entrar neste mistério de amor, não há outro caminho senão o de perder-nos, entregar-nos, o caminho da Cruz. “Se alguém quer vir

após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. Por este motivo, a liturgia quaresmal, ao convidar-nos a refletir e rezar, estimula-nos a valorizar mais a penitência e o sacrifício, para rejeitar o pecado e o mal e vencer o egoísmo e a indiferença. A oração, o jejum e a penitência, as obras de caridade para os irmãos se convertem, deste modo, em caminhos espirituais que devem ser percorridos para voltar a Deus em resposta aos repetidos chamados à conversão que a liturgia faz hoje. Queridos irmãos e irmãs, que o período quaresmal seja para todos uma renovada experiência do amor misericordioso de Cristo, que na Cruz derramou seu sangue por nós. Coloquemo-nos docilmente à sua escuta para aprender a “voltar a dar” seu amor ao próximo, especialmente aos que sofrem e atravessam dificuldades. Esta é a missão de todo discípulo de Cristo, mas para realizá-la é necessário permanecer na escuta de sua Palavra e alimentar-se assiduamente de seu Corpo e de seu Sangue. Que o itinerário quaresmal, que na Igreja antiga é itinerário para a iniciação cristã, para o Batismo e para a Eucaristia, seja para nós, batizados, um tempo “eucarístico”, no qual participemos com maior fervor do sacrifício da Eucaristia. Que a Virgem Maria, que após ter compartilhado a paixão dolorosa de seu Filho divino, experimentou a alegria da ressurreição, acompanhe-nos nesta Quaresma rumo ao mistério da Páscoa, revelação suprema do amor de Deus. 1 cf. 1 João 2, 2 2 cf. 1 Pedro 3, 18 3 cf. Apocalipse 20, 5; Romanos 6, 1-11; João 5, 25-28 4 cf. Marcos 1, 15

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Revista Shalom Maná | Notícias da Comunidade

Nova geração de sacerdotes

A “

Comunidade oferta esses quatro novos padres, a serviço, à luz do Carisma Shalom, para a evangelização dos homens, dos jovens, e com os jovens o mundo inteiro. Podemos dizer que essa nova geração de padres não é maior nem melhor que as outras, mas, com certeza, traz um dom, uma novidade”, afirmou o fundador da Comunidade Católica Shalom, Moysés Azevedo, sobre os quatro novos padres missionários da Comunidade. Eles foram ordenados sacerdotes em dezembro pelo arcebispo de Fortaleza, Dom José Antônio Tosi.

Foto: Leandro Hercules

Os padres Célio Lourenço, Cledison Reis, Livandro Monteiro e Rômulo Bezerra somam-se aos 23 padres que servem à Igreja no Carisma Shalom em várias dioceses do Brasil e de outros países.

Os padres Célio Lourenço, Cledison Reis, Livandro Monteiro e Rômulo Bezerra somam-se aos 23

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Foto: Licurgo Júnior


de. “Como Comunidade, como Carisma, queremos viver essa graça e essa responsabilidade de formar padres, podemos dizer assim, que se deixam renovar pelo Espírito para dar resposta como Igreja aos desafios da evangelização no mundo de hoje. Padres que tragam em seu coração, uma novidade do Espírito. Para nós, essa novidade é também a força do Carisma Shalom”, destacou. O Shalom conta hoje com 17 sacerdotes membros da Comunidade de Vida e 10 da Comunidade de Aliança. Mais de 61 membros estão no seminário, dez deles foram aprovados no vestibular neste ano e iniciarão seus estudos em 2015.

Foto: Licurgo Júnior

“Por meio das mãos de um sacerdote, por meio da voz de um sacerdote, o Reino de Deus vai crescendo e alcançando os corações, vai transformando as vidas e vai fazendo o mundo ser melhor” padres que servem à Igreja no Carisma Shalom em várias dioceses do Brasil e de outros países. Segundo Moysés, a ordenação representa uma grande graça de Deus, motivo de alegria e de responsabilida-

Para padre Silvio Scopel, responsável pela Comunidade Shalom em Fortaleza, é grande bênção de Deus a ordenação ser realizada no tempo do Advento e durante as comemorações da Arquidiocese. “Isso é um grande dom de Deus, porque por meio das mãos de um sacerdote, por meio da voz de um sacerdote, o Reino de Deus vai crescendo e alcançando os corações, vai transformando as vidas e vai fazendo o mundo ser melhor já nesta terra, para que cheguemos à plenitude do Reino de Deus nos céus”, afirma. “Como a presença dos sacerdotes em nosso meio significa um avançar do Reino de Deus, continuemos sempre os apoiando com a nossa oração, e colaborando com a missão deles de todos os modos, inclusive através de nossa comunhão de bens. Colaboremos com a Comunidade Shalom para que continue formando-os cada vez melhor, para que haja maior número de sacerdotes e sacerdotes mais santos”, conclui padre Silvio.

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Divirta-se

Personagens bíblicos com quatro letras José Ricardo Ferreira Bezerra

M

HORIZONTAIS 1- O esposo da Virgem Maria (Mt 1,19) 2- O esposo de Eva (Gn 4,1.25) 3- Rei de Israel casado com Jezabel (1Rs 16,28-31) 4- Filho de Isaac e Rebeca e irmão de Esaú (Gn 25,19.26) 5- Pai de Jessé e avô de Davi (Rt 4,17) 6- Rei de Judá e pai de Ezequias (2Rs 16,20) 7- Esposa de Salmon e mãe de Booz (Mt 1,5) 8- Avô de José e bisavô de Jesus (Mt 1,15) 9- Filho de Isaac e Rebeca e irmão de Jacó (Gn 25,19.25) 10- Filho de Baraquel que defendeu a Deus diante de Jó (Jó 32,2) 11- Sumo sacerdote, sogro de Caifás (Jo 18,13) 12- Profeta de Elcós (Na 1,1) 13- O irmão de Tiago (Mt 10,2) 14- Terceiro filho de Lia de Jacó (Gn 29,34) 15- Apóstolo chamado Gêmeo (Jo 21,2)

VERTICAIS 1- Quarto filho de Lia e Jacó (Gn 29,35) 2- O irmão de Caim (Gn 4,2) 3- Mãe de Isaac (Gn 21,5) 4- O pai do rei Josias (2Rs 21,19.26) 5- O esposo de Rute (Rt 4,13) 6- Segundo filho de Aarão (Ex 6,23) 7- Profeta que falou a Zorobabel e Josué (Ag 1,1) 8- Outro nome de Esaú (Gn 25,30) 9- Profeta que previu a separação dos Reinos de Israel e Judá (1Rs 11,29) 10- Filho de Jessé ungido por Samuel (1Sm 16,13) 11- Profeta filho de Fatuel (Jl 1,1) 12- Filho de Sárvia que matou Abner (2Sm 3,27) 13- Profeta que denunciou o adultério de Davi (2Sm 12,1) 14- O irmão de Abel (Gn 4,1) 15- Pastor de Técua que se tornou profeta (Am 1,1)

Verticais: 1. Judá, 2. Abel, 3. Sara, 4. Amon, 5. Booz, 6. Abiu, 7. Ageu, 8. Edom, 9. Aías, 10. Davi, 11. Joel, 12. Joab, 13. Natã, 14. Caim, 15. Amós Horizontais : 1. José, 2. Adão, 3. Acab, 4. Jacó, 5. Obed, 6. Acaz, 7. Raab, 8. Matã, 9. Esaú, 10. Eliú, 11. Anás, 12. Naum, 13. João, 14. Levi, 15. Tomé

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ti - O os c a

Doutor Q

ue Virou Santo

Este filme conta a história de Giuseppe Moscati, um médico italiano, católico, que trabalhou pelos pobres entre o final do século XIX e o início do século XX e viveu no dia a dia de sua profissão todos os ensinamentos da fé. Via na medicina uma forma de amenizar a dor das pessoas e não como uma fonte de lucro. Ajudou centenas durante o surto da Cólera e sempre se doou aos mais necessitados, sem jamais deixar a fé, inclusive indo à missa diariamente. Moscati é um dos poucos leigos a ser canonizado pela Igreja Católica. Drama. 2008. 200min


Revista Shalom Maná | Especial

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Essa foi a confortadora palavra dirigida por Jesus aos discípulos, que, atordoados pelas ondas fortes e ameaçadoras, temiam naufragar. Eles estavam cansados de remar, pois o vento era contrário. Por Pe. Antonio Marcos Chagas

ico pensando hoje, nos desafios que nunca faltam e nos problemas que sempre nos põem contra a parede (pessoais, sociais, econômicos, políticos, religiosos, etc, etc, etc). Não poucas vezes é possível dar-se conta da própria impotência ou mesmo da própria incapacidade e incompetência ante os revezes da vida, as tribulações e as inomináveis tentações (além dos pecados) que nos fazem tocar nossa fraqueza. Claro, não se está aqui tentando articular um discurso pessimista nem mesmo negativista. No entanto, estamos diante de um fato concreto: as dores da vida e os limites. E aí? O que fazer? Com certeza usar a inteligência para encontrar soluções, usar dos recursos que se tem para por em ação estas soluções,

mobilizar pessoas que possam ajudar, ser razoável e corajoso durante o processo (talvez longo) de enfrentamento do problema (enquanto a solução não chega). E quando não chega mesmo, aí mais cabeça fria e bom senso, realismo e firmeza para não desabar junto com o problema ou com os problemas. Com certeza, a pessoa humana é dotada, na sua natureza, de tantas ferramentas produzidas pela sua criatividade, genialidade, capacidade de iniciativa e mobilização, articulação e operacionalização. O que já se evoluiu de uns tempos pra cá é algo que não dá mesmo para não considerar.

O verdadeiro tesouro Entretanto, lá está o homem e a mulher, ainda aqui e agora: Insatisfei-

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tos, com um senso de que falta alguma coisa. Tem-se tanto (para quem tem, claro!), mas vem aquele vazio, aquele senso de que a felicidade existe, mas não é total. E, enquanto vivermos, nunca será. A pessoa humana está sempre insatisfeita, e, quanto mais complicada e refinada, tanto mais egoísta e perfeccionista, nunca a medida está completa e tanto pior é a situação de infelicidade, mesmo tendo tanto e conquistado muito. E, quando está tão satisfeita ao ponto que a fé não é mais necessária? E quando está tão cheia de conhecimentos e de ciência, de dinheiro e de bem-estar que Deus é mais conversa de gente que precisa de uma fé para se consolar? Bem, ainda assim, sem pensar de julgar, nem condenar ninguém, acho que os crentes (que verdadeiramente creem, e procuram não os milagres de Jesus, mas o Jesus - fazendo milagres ou não, fazendo ou não fazendo o que queremos!!!!), estes encontraram o tesouro! O verdadeiro tesouro. Não querem ser felizes sem Ele porque entenderam que isso, no fundo no fundo, é impossível!

Deus está no comando Agradeço ao Senhor porque temos um tesouro. E espero que ninguém dos que cremos o desvalorize nem o desperdice: A nossa fé. Uma certeza que lá está o nosso caro Jesus, lá está Ele sofrendo conosco, fazendo-nos crescer com as tempestades da vida e fazendo ouvir em cada momento de oração e em cada momento da vida: "Coragem, sou eu, não tenhais medo". Palavras preciosas, palavras confortadoras, animadoras, entusiasmantes. Sei lá! Fico pensando como é bom tê-lo. Hoje, quero nesta postagem, mais que pensar nos proble-

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mas (sem cair na alienação ou fazer da fé um analgésico ou um ópio, como acusava Karl Marx), fixo meu olhar n'Ele. E com os olhos fixos na pessoa tão divina e tão humana entendo que, este caminhar sobre as águas é um sinal que Ele tem tudo sob controle. Claro, sei que Ele quer que nos esforcemos em remar, mas, a certeza da sua graça, do seu socorro, da felicidade de entrar no mar da vida e navegá-lo com Ele dá um sentido, um valor tão maravilhoso que, ainda que não tivéssemos problemas ou dores, ainda que fôssemos totalmente autossuficientes, não poderíamos viver um segundo sem essa presença, sem esse caminhar sobre as águas da vida presente. Agradeço e sou feliz por Ele, por sua Presença santa. Por mais que O tenhamos menosprezado ou esquecido, ofendido ou até expulsado de nossas vidas, hoje, ante essa palavra forte que é Ele mesmo, só nos resta agradecer, bendizer e pedir que não se afaste de nós quem dá sentido, valor e vigor ao que somos e fazemos.

Deixar-se olhar por Ele Convido-te, caro Filoteu a lançar esse olhar silencioso e neste mesmo silêncio deixar-te olhar por Ele. Toma consciência desta Presença tão essencial e tão especial, deixa que esse instante tão carregado de eternidade e tanta plenitude seja uma fonte de ânimo para tomar os remos e prosseguir a singrar o mar e, sem medo navegar sob o eco de uma frase: "Coragem, sou eu, não tenhais medo!". Que Ele fique contigo.... E de Ti não se aparte mais. E, pelo mais, fica tranquilo: Em tão indescritível companhia que haverias tu de querer mais? Nele, por Ele e com Ele!


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Fotos: Wallace Freitas

#Felizes

aventuras

Neste novo itinerário desejamos mergulhar na riqueza de cada feliz aventura proposta pelo Mestre, que da “cátedra” da montanha nos ensina a viver um novo estilo de vida própria dos “bem-aventurados”. Por Pe. Rômulo dos Anjos

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aríssimo leitor, após um período dedicado ao tema de “descobertas”, queremos neste ano novo refletir sobre o caminho das Bem-aventuranças. Estas representam um programa de santidade e felicidade anunciado por Jesus Cristo no seu grande discurso da montanha. Este discurso é considerado pelo grande Agostinho como a “Carta Magna” do Evangelho, pois neste sermão contém “todos os preceitos pelos quais é formada a vida cristã”. Ele apresenta de forma perfeita o modelo de vivência cristã que é oferecido ao mundo inteiro, representado por aquela multidão sobre as colinas ao redor do Mar da Galileia, implica um seguimento radical de Cristo, pois o que vem enunciado nas suas proposições encontra Nele a vivência perfeita e o modelo por excelência. Sabemos que a autoridade de Jesus e o fascínio que suscitava no povo vinha particularmente do fato de que, Nele, palavras e obras se coincidiam numa perfeita coerência, deste modo Ele tinha uma grande autoridade de vida. Compreendemos então as bem-aventuranças como uma espécie de “auto retrato” de Jesus Cristo, que somos chamados não somente a imi-

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tar, mas também a nos apropriarmos como afirma padre Cantalamessa, pois o Evangelho é graça. Neste novo itinerário desejamos mergulhar na riqueza de cada feliz aventura proposta pelo Mestre que da “cátedra” da montanha nos ensina a viver um novo estilo de vida própria dos “bem-aventurados”. Deste modo queremos apresentar um programa que só pode ser compreendido e vivido como imitação de Cristo que revela-nos os verdadeiros e duradouros valores que são capazes de nos libertar daqueles fáceis e ao mesmo tempo falsos e incapazes de nos fazer verdadeiramente felizes.

Verdade do evangelho Este novo modo de viver de Jesus Cristo e dos seus discípulos não teme a condição humana marcada pelo pecado, desprezo, perseguição, sofrimento e morte. O Papa Bento com precisão afirma: “as Bem-aventuranças são a transposição da cruz e da ressurreição na existência dos discípulos. Eles refletem a vida do Filho de Deus que se deixa perseguir, desprezar até a morte, a fim de que a salvação seja concedida aos homens”. O Mistério Pascal é a resposta para nossa experiência pessoal e comunitária marcada pela dor e alegria, morte e ressurreição e revela-nos que o ponto culminante do nosso caminho é a Vida manifesta pelo Ressuscitado. A verdade do evangelho nos liberta do engano da ideologia de uma sociedade seduzida pelo bem-estar material e pelo poder mundano que só traz infelicidade. O Senhor nos propõe, ao contrário, um caminho de encontro dos verdadeiros bens que não se limitam à vida presente tão marcada pela bre-

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As bem-aventuranças como uma espécie de “auto retrato” de Jesus Cristo, que somos chamados não somente a imitar, mas também a nos apropriarmos vidade, mas que se referem também à vida do Reino de Deus, à vida eterna. O segredo do Evangelho nos revela que a felicidade plena do homem é o objetivo de todo o programa, tanto criador como redentor de Deus, esta é a grande obra da graça divina que se manifesta sem medidas na Epifania do Filho Amado. Em Jesus Cristo - definitivamente – nos é revelado que o Pai não criou o homem para permanecer preso na imanência da sua história breve e sofrida, mas que por meio da sua Obra redentora Ele veio dar a história humana o seu significado mais profundo e pleno que transcende tudo aquilo que ele simplesmente pode ver e tocar, sentir e experimentar nesta vida.

Tempo da graça Toda manifestação divina na vida do homem pecador encontra a sua plenitude na Obra do Filho e na manifestação do Espírito Santo que inaugura um tempo novo, tempo da Igreja, marcado pela constante ação divina. A Igreja vive e manifesta o “tempo da graça” que é dirigida a todo o homem e toda a humanidade. Por meio dela, que é “sacramentum mundi”, o Pai por meio do Seu Filho e no Espírito Santo deseja levar ao pleno desenvolvimento a redenção e


recriação do homem, que é chamado a participar e colaborar com esta grande Obra Nova. Em todas as suas obras e por meio da proclamação das bem-aventuranças o Filho de Deus anuncia ao homem que o Pai se ocupa com a sua situação humana e que o acompanha em toda a sua existência marcada pela finitude e limite. O Pai no seu infinito desígnio de Amor inaugura já nesta vida e na história a Sua Presença de modo pleno e manifesta ao homem a bem-aventurança celeste. Ele está de tal modo próximo e unido ao homem que permite-lhe viver a vida divina, e aqui está o núcleo central da nossa felicidade, o modo como ser feliz realmente e eternamente.

Contemplar a Deus Nesta perspectiva a vida de cada discípulo de Cristo, marcada pela experiência do Mistério Pascal, é já uma profunda participação na felicidade revelada por Cristo como participação na intimidade divina. Nos damos conta en-

O Pai no seu infinito desígnio de Amor inaugura já nesta vida e na história a Sua Presença de modo pleno e manifesta ao homem a bemaventurança celeste.

tão que a felicidade verdadeira é uma realidade revelada, pois sem Cristo não compreendemos nem a medida e a largura, nem a altura e a profundidade da felicidade para a qual fomos criados e corremos o risco de repetir o milenar erro de tantos que chamam de felicidade o que não é a procuram onde não se encontra. Estas bem-aventuranças encontrarão o seu ápice definitivo quando estaremos “Face a face” diante da Trindade Feliz. Aqui se encerra o objetivo da missão do Filho e do Espírito Santo: revelar ao homem a “Face” do Pai e torná-lo contemplativo do mistério do Deus Uno e Trino. Aqui se encerra e se revela a mais alta vocação do homem redimido: contemplar a Deus. Eis a fonte da máxima felicidade da vida humana. Finalizamos com este belo testemunho de São Simeão, o Novo Teólogo, que teve uma experiência mística de Deus tão forte que exclamou para si: “Se o paraíso não for mais que isso, já me basta!”. Mas a voz de Cristo lhe disse: “És bem mesquinho se te contentas com isso. O gozo que experimentaste em comparação com o do paraíso é como um céu pintado no papel com relação ao verdadeiro céu”. Caro leitor o Filho de Deus desceu do Céu para te levar ao Céu, para a comunhão de amor com a Trindade. Ele mesmo é o teu caminho, verdade e vida. Te é necessário somente uma coisa: amá-Lo, imitá-Lo e segui-Lo! Desta forma se cumpre a Vontade de Deus e se entra no seu Reino, na vida eterna, na vida Bem-aventurada.

BIBLIOGRAFIA: LEXICON, DIZIONARIO TEOLOGICO ENCICLOPEDICO, Ideazione, direzione editoriale a cura di Luciano Pacomio e Vito Mancuso, Edizioni Piemme Spa, Casale Monteferrato (AL), 1993. Papa Bento XVI, Angelus, Praça de São Pedro, 13 de fevereiro de 2011 Gabriel De Sta. Maria Madalena, Intimidade divina, Edições Loyola, São Paulo.

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Revista Shalom Maná | Entrelinhas

Purificação

e luz

Dia 02 de fevereiro, dia da Apresentação de Jesus no Templo e Purificação de Nossa Senhora1! Não tenho como esquecer a grande emoção com que descrevi no livro Filho de Deus, Menino Meu2, há 15 anos, esse dia em que o Espírito Santo agiu de forma tão única no Templo de Jerusalém. Transcrevo, abaixo, os principais textos convidando você a mergulhar no belíssimo mistério de docilidade, obediência, amor e louvor vividos nesse bendito dia. Por Maria Emmir Oquendo Nogueira 44 | www.comshalom.org


B

em cedo, estão preparados para resgatar Ieshuah, conforme a Lei. José leva consigo as cinco moedas para o resgate do menino e o par de rolas para a purificação da esposa. Maria ajeita a roupinha de Jesus. É preciso que lhe caia bem, neste dia especial. Com imenso respeito e cuidado, o coração orante, José coloca Ieshuah sobre uma bandeja e o apresenta ao sacerdote : “Minha esposa israelita deu à luz para mim este filho primogênito.” “O que preferes mais: este teu filho primogênito ou as cinco moedas que deves dar-me por sua redenção?” “Desejo redimir meu filho; toma para ti a quantia para sua redenção que te devo, conforme o prescrito na Torá.” O coração de José bate forte. Ainda uma vez este homem justo emociona-se, pasmo diante do mistério. O Templo é a habitação de Deus. A ele pertence Ieshuah, o Filho de Deus. No entanto, no esvaziamento de sua divindade, como qualquer pequenino judeu, ele se deixa colocar em uma bandeja, deixa-se levar pelas mãos de uma pobre criatura e ainda leva o sacerdote a perguntar-lhe, solene, se quer deixar o menino ou resgatá-lo! Mais que tudo isso: um pobre carpinteiro, com cinco pequenas moedas, paga o resgate do Resgatador, a redenção do Redentor! “Teu filho está resgatado!” ... “Teu filho está resgatado!”... “Teu filho está resgatado”, repetiu o sacerdote por três vezes. “Teu filho! Teu filho! Teu filho!... Teu! ...Filho de Deus! Filho meu! ...Filho de meu Deus! Menino meu!” (...) Maria, toda pura, toda bela, não necessita de purificação de seu parto santo incruento, que não lhe tinha tirado a virgindade. No entanto, como o Filho e com o Filho, compreende que “é necessário que se cumpra toda a Lei” , uma vez que na Lei ele se encarnara e à Lei daria cumprimento e vida. Maria caminha com a fiel Judite em direção ao Templo. Os dois esposos as seguem de perto. Sempre

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com Ieshuah ao colo, a Mãe tem a certeza de que sua purificação traz como que um segredo, uma graça. Pensa em como seria o rito, enquanto a amiga não se cansa de explicar-lhe os detalhes do ritual pelo qual já passara: “Ao entrar, você encontrará uma jovem que a ajudará com suas roupas e na imersão. Lembre-se: é preciso que você desça até o fundo e se abaixe, mergulhando na água de uma vez, sem deixar nada sem molhar, entendeu? Cuidado com o cabelo. Ele tende a flutuar, mas precisa ficar todo molhado! Eu, como você, o seguraria com a mão, para não ter perigo de não molhar. Se alguma partezinha sua não for tocada pela água, a purificação será inválida!” Maria ouve, atenta, fazendo que sim com a cabeça, como se não fosse a décima vez que Judite recomendasse as mesmas coisas. A cada narrativa, a amiga recomendava mais que se abaixasse toda, que se molhasse toda, que mergulhasse toda. A Maria pareceu-lhe que era este o segredo: abaixar-se, na purificação e na vida, abaixar-se, mergulhar inteira na pureza, na santidade, na humildade de Deus. Sob a luz das primeiras estrelas, a Esposa de Deus encaminha-se feliz,

orgulhosa de sua maternidade, para o tanque da purificação. Assistida pela jovem, que não a toca, imerge-se na água de uma só vez e inteiramente, segurando a cabeleira longa e bela, tantas vezes acariciada por Hanna, para soltá-la dentro da água, certa de que os cabelos ficariam bem molhados. Só Ieshuah ocupa sua mente, só Ele é seu pensamento. A água da purificação toca, reverente, o seu corpo santo e, como em Ezequiel é purificada por ele. As estrelas brilham em seus postos, obedientes como a Mãe, assistindo-a purificar a água. Esta, a um tempo, reflete o pálido brilho pontilhado das estrelas e revela um brilho vindo do interior, só possível na ordem da graça. Sem dar-se conta do que se passa, Maria, feliz, apresenta-se ao sacerdote, dá graças ao Três Vezes Santo e apressa-se em ir ao encontro de Ieshuah e José, que tendo entregado as duas rolinhas, agora pode abraçá-la, cheio de pura alegria, reverência e amizade, pela primeira vez, desde o nascimento do Menino. Apoiados um no outro, tendo nos braços o Menino, cercados pelos amigos queridos, retornam, quase dançando de alegria, no meio da noite, para a casa de seu anfitrião. A doçura do Senhor Deus está sobre eles.

1 Nossa Senhora da Luz, da Apresentação, da Purificação, das Candeias, da Candelária – são os vários títulos de Nossa Senhora que se referem diretamente à Purificação de Nossa Senhora, segundo a Lei de Moisés. 2 Nogueira, Maria Emmir, Filho de Deus, Menino Meu. Edições Shalom, 2000.

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