NÚMERO 17 OUTUBRO/NOVEMBRO 2014
OUTUBRO/NOVEMBRO 2014 | Edição 17 | Ano 5 | www.istoe2016.com.br • VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA • E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ
ISTOÉ 2016
FARRA NO BOLSA ATLETA CONFEDERAÇÕES USAM BRECHAS NA LEI PARA ARRANCAR MILHÕES DOS COFRES PÚBLICOS FEROZ E VELOZ ANA CLÁUDIA LEMOS, A MULHER MAIS RÁPIDA DO BRASIL, BRIGOU COM DEUS E O MUNDO. AGORA, ESTÁ EM BUSCA DE CONCILIAÇÃO
ISAQUIAS QUEIROZ, O SOBREVIVENTE ELE PERDEU UM RIM, FOI SEQUESTRADO E DEIXOU ESCAPAR O TÍTULO MUNDIAL POR UM VACILO – MAS É FAVORITO AO OURO NA CANOAGEM
PONTE AÉREA A ROTA SÃO PAULO-RIO, VITAL PARA A OLIMPÍADA, COMPLETA 100 ANOS E RENOVA SUA IMPORTÂNCIA PARA A ECONOMIA DAS DUAS CIDADES
MERGULHO DE QUALIDADE ACREDITE: O BRASIL FINALMENTE TEM CHANCE DE MEDALHA NOS SALTOS ORNAMENTAIS EM 2016
O NOVO CIELO? MATHEUS SANTANA, 18 ANOS, RECORDISTA MUNDIAL JÚNIOR DOS 100 METROS LIVRE E UM DOS MELHORES VELOCISTAS ADULTOS DO MUNDO
6 EDITORIAL 11 EXPEDIENTE
SEÇÕES
REPORTAGENS
12 CLIQUE OLÍMPICO Os “olhos de lince” do para-atleta americano Michael Kacer, ferido por um morteiro no Afeganistão
26 “NÃO SOU CRIANÇA” Aos 18 anos, o nadador Matheus Santana, um dos mais rápidos do mundo, quer mostrar que tem potencial para superar Cesar Cielo
16 ENTREVISTA: RUBÉN MAGNANO Técnico da seleção brasileira de basquete diz que vencer a Argentina no Mundial foi “tirar um peso das costas” 20 AQUECIMENTO Por que o hóquei sobre grama feminino do Brasil ficará fora da Olimpíada em casa 82 PERFORMANCE Os melhores tocadores digitais para ouvir música até debaixo d’água 84 CONCENTRAÇÃO Um roteiro imperdível dos marcos arquitetônicos mais importantes do Rio 86 PAINEL Depois de brigar com a Confederação de Boxe, a medalhista olímpica Adriana Araújo volta à seleção 90 PÁGINA DOURADA A sublime trajetória de Teófilo Stevenson, o boxeador que recusou fortunas “por amor ao povo cubano”
34 SALTO DE QUALIDADE Por que, pela primeira vez na história, os brasileiros têm reais chances de medalha nos saltos ornamentais 42 ELE REMOU MUITO Isaquias Queiroz, o brasileiro candidato a ouro no remo em 2016, superou pobreza, doença e violência para se tornar um atleta de ponta 48 CORAÇÃO NAS PERNAS A emotiva e intempestiva Ana Cláudia Lemos busca paz de espírito para levar o time brasileiro à medalha no revezamento 4x100m do atletismo 54 SACO SEM FUNDO NO BOLSA ATLETA Como confederações se aproveitam de brechas na lei para drenar os programas de incentivos a atletas brasileiros 62 É“MURDERBALL” No rúgbi sobre cadeira de rodas, a ordem é explorar as deficiências dos adversários para marcar mais pontos. E o Brasil é bom nisso 68 QUESTÃO DE CABEÇA As novidades no diagnóstico da concussão cerebral, um problema muita vezes ignorado, mas que pode acabar com a carreira dos atletas 72 CEM ANOS DE RIO-SP No centenário do primeiro voo direto entre São Paulo e Rio, a terceira rota aérea mais movimentada do mundo perde o charme, mas não a importância 78 SERÁ QUE LIMPA? Os projetos e as ações para despoluir a Baía de Guanabara, cartão-postal que receberá as provas de vela na Olimpíada de 2016
É hora de repensar tudo Por mais que os dirigentes venham com a desculpa “estamos renovando, é preciso ter paciência”, não dá para esconder uma verdade incômoda: o basquete feminino brasileiro está definhando. No Mundial realizado em setembro, em Istambul, na Turquia, a participação nacional foi execrável. Depois de perder de lavada três partidas e vencer apenas uma (contra o fraquíssimo Japão), o Brasil terminou o campeonato em 12O lugar entre 16 participantes, igualando-se assim ao seu pior desempenho, que se dera na Colômbia, em 1975. Campeão mundial em 1994, capaz de forjar jogadoras extraordinárias como Paula, Hortência e Janeth, o País retrocedeu 40 anos – e às vésperas da Olimpíada em casa. A crise não vem de agora. O Mundial da Turquia foi o segundo consecutivo em que o Brasil não consegue vencer uma seleção europeia. Mais surpreendente ainda: a última vitória brasileira contra um time do Velho Continente foi em 2006, em São Paulo. Portanto, há quase uma década. Ok, não dá para ser campeão mundial toda vez, mas os resultados depois da conquista de 1994 mostram o tamanho do vexame na Turquia. No Mundial de 1998, o Brasil terminou em quarto; em 2002, foi sétimo; em 2006, repetiu o quarto lugar; e fechou o torneio de 2010 na nona colocação. Chegamos agora, como se vê, ao abismo. Já passou da hora de a Confederação rever seus conceitos. Já passou da hora de o campeonato nacional ter maior visibilidade, e aí é preciso negociar com as tevês uma exposição decente para nossas atletas. Já passou da hora de gente de fora do Brasil ajudar na gestão da seleção. Já passou da hora de criar um programa nacional de prospecção de talentos. Se o vôlei conseguiu, o basquete pode conseguir também. Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br
EXCLUSIVO
RENAN DO VÔLEI PROMETE NÃO DEIXAR IMPUNES OS CORRUPTOS DA CONFEDERAÇÃO
NÚMERO 19 JUNHO/JULHO 2014 Edição 19 | Ano 5 www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ
ISTOÉ 2016
VAI TER COPA E OLIMPÍADA QUAL SERÁ O LEGADO DO MUNDIAL DE FUTEBOL PARA OS JOGOS DO RIO?
SAUDÁVEL CONCORRÊNCIA COMO A RIVALIDADE ENTRE THIAGO BRAZ E AUGUSTO DUTRA FAZ BEM PARA O SALTO COM VARA BRASILEIRO
E MAIS _OS DRONES QUE VIGIAM OS GRANDES EVENTOS _LUCIANO DO VALLE POR MAGUILA _AS AGRURAS DO BMX
JUNHO/JULHO 2014
_OS BRAVOS BOXEADORES DO CONGO
É P R EC I S O T ER RAÇA WALLACE, TINGA, DAIANE DOS SANTOS E OUTRAS ESTRELAS DO ESPORTE BRASILEIRO REVELAM COMO SUPERARAM AS BARREIRAS DO PRECONCEITO DE COR
Wallace, jogador da seleção de vôlei
A edição de junho da 2016, que trata sobre racismo no esporte, foi medalha de prata no concurso Melhor Capa do Ano 2014 da Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER). Muito obrigado aos leitores que escolheram a 2016.
No site: www.istoe2016.com.br No iPad: baixe gratuitamente na App Store
editorial
expediente editor e diretor reSPonSÁvel doMingo alzugaray editora Cátia alzugaray PreSidente-executivo CaCo alzugaray diretor editorial Carlos José Marques diretor editorial-adjunto luiz Fernando sá diretor de redação aMauri segalla editor luCas Bessel editor de arte pedro Matallo editor-executivo de fotografia Cesar itiBerê editor de fotografia JuCa rodrigues colaBoradoreS
fotografia agência iStoÉ aPoio adMiniStrativo
TexTo: danielle sanCHez, deMétrio rana, elaine ortiz, HerCulano Barreto FilHo, MarCelo gugoni, Mariana BarBoza, Mariana laJolo, MôniCa tarantino, nelson siqueira, raul Montenegro, rodrigo Cardoso, rodrigo riBeiro, toM Cardoso e Vera lynn FoTo: Caio guateli, daniel KFouri, edu lopes, eduardo zappia e Jonne roriz produção: Cintia sanCHez ilusTração: luCiana oliVeira e oliVer quinto rePÓrtereS fotogrÁficoS: João Castellano, Masao goto Filho, pedro dias e rafael Hupsel gerente: Maria amélia scarcello SecretÁria: terezinha scarparo aSSiStente: Cláudio Monteiro auxiliar: lucio Fasan
Projeto grÁfico coPy-deSk e reviSão ServiçoS grÁficoS oPeraçõeS
venda avulSa logíStica e diStriBuição de aSSinaturaS aSSinaturaS
ricardo van steen (colaborou Bruno pugens) lourdes Maria a. rivera, Mario garrone Jr., neuza oliveira de paula, regina Caetano e tamiris prystaj gerente induStrial: Fernando rodrigues diretor: gregorio França gerente: renan Balieiro coordenador de ProceSSoS grÁficoS: Marcelo Buzzo coordenadoreS de oPeraçõeS: luiz Massa e regina Maria analiSta Pleno: denys Ferreira analiSta jr.: Fábio rodrigo aSSiStenteS: César William e indianara andrade auxiliar: jário pereira líder eStoque: paulo Henrique paulino. gerente: luciano sinhorini coordenadoreS: Jorge Burgatti e ricardo augusto santos conSultoraS de MerchandiSing: alessandra silva e talita souza primo aSSiStenteS: Fábio rodrigo, ricardo souza e gislaine aparecida peixoto coordenadora: Vanessa Mira coordenadora-aSSiStente: regina Maria aSSiStenteS: denys Ferreira, Karina pereira e ricardo souza diretor de vendaS PeSSoaiS: Wanderlei quirino gerente adMiniStrativa de vendaS: rosana paal gerente de aSSinaturaS: pablo pizzutiello gerente de ProjetoS eSPeciaiS:
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CliqueOlĂmpicO imagens surpreendentes dO espOrte
foto: ADRIAN DENNIS/Afp
OlhOs de lince Michael Kacer entrou no Exército dos EUA aos 17 anos. Aos 26, durante uma patrulha de rotina no Afeganistão, em 2008, foi atingido pela explosão de um morteiro lançado por soldados do Taleban. O campo de batalha, a hierarquia militar e a camaradagem dos colegas eram suas paixões. Afastado do serviço ativo por causa das lesões, decidiu direcionar forças para o esporte. Aos 32 anos, nada, corre e arremessa peso. Nesta foto, preparava-se para mandar longe uma bola de aço durante os Jogos Invictus, promovidos pelo Reino Unido para honrar os militares da coalizão afegã lesionados em batalha. As lentes de contato que imitam os olhos de um felino foram sua marca registrada no evento. Personalidade forte e motivação ele tem. Também tem um sonho: competir na Paraolimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.
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entrevista rubén magnano
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RIVALIDADE: “Ganhar da Argentina era a nossa chance de mudar a história”
“ T i ramos um p eso d e nossas cosTas” por rodrigo cardoso foto fred jean/ag. istoé
Foi no Brasil que esse argentino de 60 anos, nascido em Córdoba, comeu o melhor peixe da vida, um tambaqui, em Manaus. Como reza a cartilha de todo estrangeiro, aprendeu a gostar de caipirinha. Música preferida? Sertaneja. Há quatro anos e meio vivendo no País, Rubén Magnano, técnico da seleção brasileira masculina de basquete, não perdeu, porém, um traço típico de seus pares: a fibra. Depois de passar por um vexame na Copa América, no ano passado, ao perder todos os jogos e ver a vaga para o Mundial chegar por meio de um convite, arrumou as malas e foi atrás das estrelas brasileiras que desfalcaram o time naquele torneio classificatório. Teve com cada um deles – Nenê, Anderson Varejão, Leandrinho e Tiago Splitter – uma daquelas conversas definitivas, em que tudo é dito e nada fica para trás. Funcionou. No Mundial da Espanha, encerrado em setembro, o Brasil fez bonito até as oitavas, quando eliminou a Argentina, campeã olímpica em 2004 sob o comando do próprio Magnano. Nas quartas, a seleção perdeu para a Sérvia, e o Brasil terminou a competição em sexto lugar, a melhor colocação em 24 anos. Na entrevista a seguir, Magnano acena com a renovação do time e aponta o dedo para os problemas estruturais que fizeram com que o basquete brasileiro, dono de dois títulos mundiais, parasse no tempo. E revela o que significou vencer a Argentina: “Tiramos um peso de nossas costas”.
O fato de o sr. treinar o Brasil, grande rival argentino, mudou o jeito que os torcedores de basquete de seu país o tratam por lá?
Qual é o significado de o basquete brasileiro ter eliminado a Argentina no Mundial da Espanha? Havia algum tipo de trauma entre os jogadores?
Acho que não. Sempre senti o respeito e a gratidão por parte do povo argentino. O maior exemplo disso foi no Pré-Olímpico de Mar Del Plata, em 2011. Na apresentação da equipe brasileira, quando me anunciaram, todo o estádio passou a bater palmas e cantar o meu nome. Foi uma experiência inesquecível. São coisas que se guardam para sempre.
Era o jogo que tínhamos de ganhar para continuar e o rival era novamente a Argentina, que havia eliminado o Brasil no Mundial da Turquia e na Olimpíada de Londres. Aquela era a nossa hora de mudar a história. Para o basquete brasileiro foi uma vitória muito importante, pelo rival e pelo momento. Todos nós tiramos um peso muito grande de nossas costas.
O sr. gostaria de treinar novamente a Argentina?
Que aspectos o sr. considera mais positivos na participação do Brasil no Mundial?
Aprendi que nunca se diz nunca mais. Eu não sei o que pode acontecer na minha vida como treinador, mas acho muito difícil. Eu já vivi um processo com a seleção argentina. Agora, meu foco está na seleção do Brasil.
O ponto mais positivo foi ter jogado o Mundial, um mérito da direção da Confederação Brasileira, que conseguiu o convite (dentro de quadra, o País não tinha alcançado a vaga). Depois, o desempenho da equipe, que foi bom. Quando cheguei ao Brasil, a seleção estava havia 16 anos sem disputar uma Olimpíada. E ficamos na quinta posição na última edição dos Jogos (no Mundial, o Brasil foi sexto). Acho que tivemos um crescimento como equipe.
Sentiu alguma vez preconceito por parte dos brasileiros pelo fato de ser argentino? Não, nenhum preconceito. Eu me sinto respeitado. foto: fred jean/ag. istoé
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E os aspectos negativos?
A NBA atrapalha o trabalho da seleção?
Tenho a sensação de que estivemos muito perto de uma medalha. Ganhamos da Sérvia e da França, respectivamente segunda e terceira colocadas. No jogo que nos colocaria entre os quatro melhores, não fomos emocionalmente inteligentes e perdemos a partida. Para mim, foi o momento mais obscuro de nosso trabalho.
Eu tenho a minha ideia em relação aos atletas que jogam na NBA. Acho que depende muito deles a decisão de vir para jogar pela seleção brasileira. Mas é claro que a NBA não gosta que seus jogadores defendam as suas seleções. Então, o que fazem é os aconselhar para que não joguem. No Mundial, tivemos todos os nossos atletas jogando pelo Brasil. Essa é nossa ideia: que eles tenham um comprometimento com a seleção brasileira.
A média de idade desse grupo que disputou o Mundial foi de 31 anos. Pretende fazer uma renovação já para a Olimpíada de 2016? É verdade que temos um grupo com uma média de idade a se considerar. É certo também que toda renovação passa por possibilidades de escolha do treinador. Certamente vai haver mudanças, mas não serão muito radicais.
Por que o Brasil não tem um grande craque? A Argentina tem Ginóbili, a Espanha tem Gasol... O Brasil tem seus craques. Acontece que esses jogadores citados já conseguiram algumas conquistas com suas seleções. Nós estamos no caminho para conseguir esses triunfos. E outra coisa: a possibilidade de ter craques depende da estrutura que o esporte oferece.
Quem o sr. apontaria como a grande estrela do basquete brasileiro no futuro? Temos alguns, como o Raulzinho, o Cristiano Felício e o Bruno Caboclo.
Alguns jogadores não defenderam a seleção brasileira na Copa América, evento em que o Brasil perdeu todos os jogos. O Nenê, só para citar um exemplo, foi muito criticado por torcedores que acharam que ele não foi patriota. Como o sr. costurou uma reaproximação com os jogadores da NBA? Eu tive um diálogo pessoal com cada jogador. O diálogo é a melhor forma de costurar qualquer relação. Por isso, tivemos uma ótima preparação e uma boa participação no Mundial.
O que o sr. espera desses jogadores nesse intervalo de dois anos entre o Mundial e a Olimpíada? Espero que não percam o comprometimento com a seleção, que cada um comece a pensar que jogará uma Olimpíada em casa e no orgulho e na responsabilidade que isso significa.
Por que o basquete brasileiro, bicampeão mundial, parou no tempo? O basquete brasileiro ficou muitos anos em uma zona de conforto, deixando um espaço vazio para outros esportes, que pegaram esse espaço e nunca mais soltaram. Grandes referências do basquete não ajudaram em nada. Ficaram apenas olhando a história. Um resultado deve ser trabalhado para despertar novos resultados. Há muitas variáveis para explicar essa questão. Por exemplo, a competição é o elemento mais importante para o desenvolvimento e a formação de um futuro jogador de qualquer idade. Se não tem competição, concorrência, você não conhece o seu teto. Hoje, no Brasil, há poucos clubes onde se pratica o basquete sistematicamente. Ou seja, com pouca competição há pouco crescimento. Outra variável importante é a preparação de nossos treinadores. A escola de treinadores (Escola Nacional de Treinadores, criada pela CBB, em 2009) ainda é muito nova e devagar vai fazendo seu trabalho. Onde há um garoto que quer aprender, deve ter um professor que possa ensiná-lo.
Qual a diferença de trabalho realizado no Brasil e na Argentina? A maior diferença é de estrutura. Na Argentina, o número de clubes que oferecem o basquete, tanto para garotos de 8 anos quanto para adultos, é maior, assim como o número de jogadores ativos, o total de jogos disputados anualmente por um atleta, as diferentes competições. Na Argentina, há torneios locais, regionais, provinciais, nacionais. A Liga Nacional de Basquete existe há quase 30 anos. Há uma forte escola de treinadores, o mini-basquete é obrigatório nos clubes.
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FUTURO Para Magnano, a falta de campeonatos de bom nível e o baixo número de garotos que se interessam por basquete impedem o Brasil de ser uma potência no esporte. Entre as promessas nacionais, ele aponta Bruno Caboclo (foto), hoje na NBA
As críticas que o Oscar Schmidt faz ao basquete brasileiro, aos jogadores e ao sr. mais contribuem ou atrapalham o processo de desenvolvimento do basquete brasileiro? Oscar foi um grande jogador de basquete.
Qual o melhor jogador de basquete que o Brasil já teve? Sem dúvida, Amaury Passos.
Que nota o sr. daria para a sua passagem até aqui pela seleção brasileira?
Isso explica, portanto, por que o Brasil não consegue formar talentos no basquete. Qual avaliação o sr. faz do trabalho realizado nas seleções brasileiras sub-15, sub-17 e sub-19? A primeira coisa é ter bem claro que um talento não se forma, se desenvolve. Outra coisa muito importante é que um garoto das categorias de base fica com a seleção 45 ou 50 dias por ano e durante dez meses em seus clubes. Ou seja, o nosso período de trabalho de desenvolvimento é muito curto. Por isso eu sempre falo que as seleções de base de um país são o reflexo do que acontece nas competições nacionais. Também é claro que, ultimamente, por causa de problemas financeiros, a Confederação Brasileira não conseguiu proporcionar condições necessárias às nossas seleções de base para sair e disputar competições. Espero que rapidamente consigamos solucionar isso.
A chance de uma medalha na Olimpíada é maior do que no Mundial? Jogar em casa vai fazer a diferença? As possibilidades de medalha estão abertas. A equipe viu que pode lutar contra as grandes potências do basquete de igual para igual. Nas últimas duas competições, nos Jogos de Londres-2012 e no Mundial da Espanha-2014, a equipe mostrou sua cara e ela faz acreditar que podemos lutar por uma medalha no Rio, em 2016. fotos: mustafa oZer/afp | david dow/afp
É muito difícil fazer uma avaliação numérica do meu trabalho. É a direção da CBB que tem de fazer essa avaliação. Eu acredito que estamos fazendo um bom trabalho.
Há quantos anos o sr. mora no Brasil? Como é a sua rotina em São Paulo, onde mora? Eu moro no Brasil há quatro anos e meio com a minha esposa, Patricia. Em São Paulo, tenho como rotina, depois do café da manhã, ficar envolvido com o basquete. Assisto aos jogos, principalmente os dos times que têm jogadores brasileiros, e leio muito sobre o que acontece com o nosso esporte no mundo. Também gosto bastante de ir ao cinema, sair para comer e compartilhar momentos com meus amigos. Nossa adaptação no Brasil foi muito boa e facilitada pela experiência que tivemos em outros países, como Itália e Espanha. E também porque eu já conhecia bastante o Brasil.
De que o sr. sente falta na Argentina? Sempre tenho saudades da família, filhos, pais, irmã, amigos. São sentimentos que alguém não deve esquecer. E é muito difícil encontrar um argentino que não tenha saudades da carne e do vinho. Por outro lado, gosto muito das praias do Brasil, da caipirinha. Em Manaus, comi o melhor peixe de rio da minha vida, o tambaqui. Virei fã da música sertaneja quando morei em São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais. O brasileiro é um povo muito hospitaleiro e esse traço, para uma pessoa que vem de fora como eu, é muito legal.
“COM A PROTEÇÃO DO CRISTO REDENTOR, A OLIMPÍADA VAI DAR CERTO”
“A OLIMPÍADA VAI DAR CERTO” POR TOM CARDOSO Aos 82 anos, Ziraldo chegou faz tempo à terceira idade, mas não à velhice. Continua tão produtivo quanto antes, dando conta de todos os seus projetos. Para a mais recente de suas ideias, ele espera contar com a ajuda do prefeito do Rio de Janeiro, eduardo Paes. O cartunista propõe a instalação de muros de aço inoxidável erguidos exclusivamente para os “mijões” da cidade. Resolvidos esse e outros problemas, o cartunista está otimista: o Rio sediará a “Olimpíada das Olimpíadas” em 2016.
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sua relação com o Rio é saudosista? O miele se queixa que não existe mais piano-bar na cidade. você sente falta de algo? Sinto todas as faltas que o Miele sente. Intensamente. Por falar em Miele, vou te contar uma coisa que tenho pensado sobre ele. Miele me parece o mais completo exemplar de brasileiro urbano da nossa geração. Quer dizer, falo de brasileiros com um mínimo de notoriedade. Conheço e convivo com o Miele, não na intensidade que eu gostaria, há quase sessenta anos, desde os tempos áureos, solares e cheios de descobertas. Gostaria muito de fazer um filme com o Miele. Um filme assim: ele, conversando com um contemporâneo seu, os dois contando casos desses sessenta anos paulisto-cariocas, a cada momento sentados na mesa de um dos bares onde beberam juntos. Dava um filme que poderia ser um belo retrato do nosso tempo nas duas cidades que, exatamente nesse tempo, ditavam o comportamento brasileiro.
Setembro/outubro 2014 FotoS: SteFAno mArtInI | evArISto SA/AFP
Como você vê o processo de revitalização do Rio? ele está de fato em curso ou virou mais uma peça publicitária dos governos? Acho o atual prefeito esforçadíssimo. Sincero mesmo. Trabalhador. Mas eu acredito que ele precisa resolver um problema da cidade. Grande parte do centro do Rio fede à urina de uma maneira insuportável. qual é a solução? Fiz um projeto para ser dado de presente para a prefeitura. É tudo no muro. Seriam definidos os muros disponíveis e estratégicos. Pregados nesses muros, chapas de aço inoxidável como as dos banheiros de estádio, água clarinha correndo o tempo todo, com direito a gelo, naftalina e fiscalização. O custo seria zero: é só vender os espaços das tapadeiras que separam o mijão das moças que passam. As cervejas seriam os grandes anunciantes. e as mulheres? Mais simples ainda. O prefeito faria uma lei que obrigasse botequins, bares e restaurantes a terem banheiros femininos decentes, limpos. As portas dos banheiros, elegantíssimas, seriam vendidas como espaço publicitário. Cervejas de novo. Tudo para zerar os custos. Fiscalização, claro, e isenção de imposto para os estabelecimentos cumpridores dos seus deveres, com o auxílio técnico e arquitetônico da prefeitura para os bares mais pobrinhos. A Copa deixou algum tipo de legado ao País? se deixou, podemos repetir o feito na Olimpíada do Rio? O verdadeiro milagre brasileiro é o jeito. Veja: eu disse o jeito que o brasileiro tem de lidar com multidões. Você não era nascido e pode não saber que os cariocas fizeram aqui (em 1955) um Congresso Eucarístico Internacional cuja organização foi
um exemplo para o mundo. Fizemos também, bem mais tarde, os Jogos Pan-Americanos. Deu tudo certo. O País todo fez o maior movimento de massa que já houve no Brasil: as Diretas Já. Tudo em paz, sem um só acidente grave. Depois, fizemos a Rio92 que todo mundo disse que ia dar errado. Não deu. Fizemos a repetição dela e, outro dia mesmo, tivemos a extraordinária visita do papa. Que Deus, que é brasileiro, ajudou para que tudo desse certo.
inteiro. Aliás, eu estava lá no dia que nós todos sobrevivemos à saída do estádio. Teríamos morrido aos montes se tivéssemos vencido o jogo e saído desembestados por aquelas passarelas inacabadas, com restos de obra lá em baixo, cheios de vergalhões, tábuas e pregos, ferramentas abandonadas, fincos e espetos olhando a gente descer chorando. Não posso imaginar o que teria acontecido com duzentas mil pessoas enlouquecidas rodando passarelas abaixo.
BÊnÇÃo: “o verdadeiro milagre brasileiro é o jeito de lidar com multidões. a visita do papa foi extraordinária”
mas e o alto custo da maioria dos estádios? Alguns deles têm enorme potencial para virar “elefantes brancos”. Assim como os coliseus dos romanos ainda marcam o lugar por onde eles passaram e mudaram a história, nossos estádios brancos vão atravessar o tempo. E, o que é melhor, nem mesmo os estádios de Manaus e o do Pantanal vão virar elefantes brancos. Eles vão mudar a face de suas cidades. Não é pixotada minha, não, nem “acendrado amor pela Brasil”, coisa da qual eu mesmo me acuso. Estou dizendo isso porque, meninos, eu vi o Maracanã mudar a cara do Rio de Janeiro
e a Olimpíada? Eu acho que a Olimpíada aqui no Rio vai ser uma festa inimaginável. Acho, é claro, que não vai dar tempo de preparar os brasileiros para ganhar mais medalhas de ouro do que aquela universidade da Califórnia. A gente vai brilhar, pode escrever. Com a proteção do Cristo Redentor, tudo vai dar certo. Mesmo que não tenhamos feito nada para merecer.
aQueCIMeNtO
eliMinaDa a meio-campo patrícia Boos “nosso nível é baixo, mas nunca medimos esforços para melhorar o desempenho”
ELAS VÃO PERDER A FESTA EM CASA
POR NELSON SIQUEIRA
Os motivos que levaram a seleção brasileira feminina de hóquei sobre grama a ficar fora da Olimpíada do Rio
no hóquei sobre grama, a vaga olímpica não é garantida para a seleção anfitriã dos Jogos. O cuidado é explicado. Na competição olímpica, apenas 24 equipes disputam as medalhas (12 no masculino e 12 no feminino). Esse é um seleto grupo que o Brasil ainda levaria muitos anos para alcançar. Com o país anfitrião, porém, os critérios são mais relaxados. Se os brasileiros não têm nenhuma chance de medalha, juntar-se à festa e jogar contra os melhores times do planeta era um objetivo real. No caso do time feminino, o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Federação Internacional de Hóquei (FIH) estabeleceram uma meta para assegurar a vaga em 2016: alcançar no mínimo o 40º lugar no ranking mundial até o fim de 2014. Com a equipe na 41ª posição, era preciso disputar torneios internacionais, conseguir vitórias e secar adversários. Não vai dar. O maior baque para a seleção feminina foi não participar da Copa Pan-Americana de 2013 em Mendoza, na Argentina, depois de perder a vaga para a Guiana em uma competição classificatória disputada no Rio de Janeiro. Após esse desastre, a triste conclusão foi de que a vaga olímpica era um objetivo muito difícil de ser alcançado, embora não impossível. Com o cenário pessimista, e alegando falta de verbas, a Confederação Brasileira de Hóquei sobre grama e indoor (CBHG) decidiu não inscrever a equipe em um torneio muito importante: a primeira fase da Liga Mundial, disputada em setembro no México, que contava valiosos pontos para o ranking mundial. De fato, jogou a toalha.
Foto: DIvuLGAÇÃo Sobre ILuStrAÇÃo SHutterStoCK
Falta estrutura Os únicos campos existentes no País são os construídos para os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Um deles está totalmente abandonado, com lama ressecada, traves quebradas, vegetação alta e marcações de futebol.
Sem incentivo interno AtUAlmente, O CAmPeOnAtO BRAsileiRO femininO tem APenAs qUAtRO eqUiPes: _Desterro (sC) _Florianópolis (sC) _CarioCa (rJ) _MaCau (sp) O time dO mAtiAs, de sãO JOsé dOs CAmPOs (sP), disPUtOU A 1ª ROdAdA, mAs ABAndOnOU A COmPetiçãO POR fAltA de veRBAs
“não adianta trazer técnicos estrangeiros para fazer milagres. Podíamos importar alguns para cuidar da gestão antes que a gente perca até o pouco que foi alcançado” Bruna Ferraro, lateral da seleção brasileira que joga no hóquei francês “temos poucas jogadoras, só quatro times no Campeonato Brasileiro e apenas um campo oficial no País. Outro grande problema é a falta de uma boa sequência de partidas internacionais” Bert Bunnik, holandês, ex-coordenador de alto rendimento da CBHG “Jogamos apenas quatro ou cinco jogos oficiais por ano em nossos clubes. disputamos mais jogos quando estamos defendendo a seleção em um campeonato do que no ano inteiro aqui no Brasil” Juliana Gelbcke, a Juba, maior artilheira da história do hóquei feminino brasileiro
Quase na mesma época, a confederação anunciou que a seleção masculina viajaria à Holanda para um período de três meses de preparação para a disputa da World League no México, da qual acabou eliminada nas fases iniciais. “O masculino está numa situação um pouco melhor por ter vários jogadores de qualidade formados no exterior e ter mais praticantes aqui no Brasil”, diz o técnico argentino Eduardo Righi, que já comandou a seleção brasileira e hoje desenvolve um importante trabalho de base no País. “Mas a dificuldade de conseguir a classificação também é muito grande e a participação na Olimpíada praticamente depende de um milagre.” Essa situação deixou uma incômoda pergunta no ar: por que parte do grande investimento nos rapazes não poderia ser direcionada para as meninas? O gerentegeral técnico da confederação, Bruno Patrício, após receber da reportagem da 2016 perguntas muito específicas sobre o assunto, limitou-se a responder de forma lacônica. “Ainda não há definição a respeito da participação da seleção brasileira feminina de hóquei sobre grama nos Jogos Olímpicos de 2016. Todas as informações relativas à seleção feminina de hóquei serão divulgadas, no momento oportuno, no site oficial da confederação”, disse. A não ser que haja uma grande virada de mesa, não há o que fazer. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) já descarta a participação da seleção brasileira feminina em 2016. Em nota, a entidade informou que vai “concentrar os investimentos na seleção masculina, que tem um nível de jogo mais próximo da qualidade técnica exigida pelos Jogos Olímpicos em 2016”. O COB também informou que investiu R$ 1,7 milhão no time das mulheres em 2014, sem obter o resultado esperado. Sem convites para a maior festa do esporte mundial, só resta às brasileiras desabafar. “A participação nos Jogos nos ajudaria a conseguir mais recursos e pessoas interessadas em praticar o hóquei”, diz a meio-campo Patrícia Boos, uma das líderes da equipe. “Por mais que saibamos que nosso nível ainda é baixo, nunca medimos tempo e esforços para melhorar o desempenho”, diz a atleta Juliana Gelbkce, a Juba. “Me sinto frustrada e muito triste em saber que não estaremos na Olimpíada.” A lateral Bruna Ferraro, uma das mais experientes do time e que esteve em todas as últimas convocações, também lamenta: “No fim, a culpa é das atletas que, sem nenhum suporte, não alcançaram os resultados propostos”, afirma.
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COMECE A POUPANÇA INGRESSOS PARA A OLIMPÍADA DE 2016 CUSTAM DE R$ 40 A R$ 4.600. CADASTRAMENTO NO SITE DE VENDAS COMEÇA EM NOVEMBRO Vale a pena separar uma graninha desde já: a organização dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, divulgou os preços dos ingressos para as competições e as cerimônias de abertura e encerramento. Dos 7,5 milhões de entradas disponíveis, 3,8 milhões custarão até R$ 70 (a mais barata custa R$ 40). A maior parte desses ingressos “populares” é para disputas preliminares. Assim como aconteceu durante a Copa do Mundo, os melhores embates terão preço relativamente alto. Para ver o jamaicano Usain Bolt voar baixo numa provável final dos 100 metros rasos, no Engenhão, será preciso desembolsar entre R$ 350 e R$ 1.200 – mesmos valores para a final do vôlei masculino, quando Bernardinho pode se despedir da seleção brasileira. Já as cerimônias de abertura e encerramento terão entrada mínima de R$ 200 e máximas de R$ 4.600 (abertura) e R$ 3.000 (encerramento).
>
COnfiRA Os inGRessOs mAis BARAtOs e Os mAis CAROs dOs PRinCiPAis esPORtes e O O CAlendÁRiO de vendAs
noVeMBro De 2014 CADASTRAMENTO NO SITE DE VENDAS
>atletisMo
>JuDÔ
R$ 100 A R$ 350 (preliMinares) R$ 70 A R$ 250 (preliMinares) R$ 350 A R$ 1.200 (super Final com 100 m rasos) R$ 220 A R$ 700 (Finais) ..................................................................................
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PEDIDOS DE INGRESSOS
>BasQuete
>nataÇÃo
JunHo e JulHo De 2015
R$ 50 A R$ 70 (preliMinar FeMinina) R$ 350 A R$ 1.200 (Final MasCulina)
R$ 160 A R$ 350 (preliMinares) R$ 260 A R$ 900 (Finais CoM 100 M liVre)
SORTEIO DAS ENTRADAS
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>FuteBol
>tÊnis
R$ 40 A R$ 70 (preliMinar FeMinina) R$ 390 A R$ 900 (Final MasCulina)
R$ 50 (preliMinar eM QuaDra seCunDÁria) R$ 220 A R$ 700 (Finais)
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>HipisMo – saltos
>Vela
R$ 160 A R$ 250 (preliMinares) R$ 300 A R$ 540 (Finais)
R$ 40 A R$ 70 (preliMinares) R$ 70 A R$ 100 (Final)
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taMBÉM serÁ possÍVel assistir Às CoMpetiÇÕes a partir Da orla ..................................................................................
>GinÁstiCa artÍstiCa
>VÔlei
R$ 100 A R$ 350 (preliMinares) R$ 260 A R$ 900 (Finais)
R$ 100 A R$ 350 (preliMinares) R$ 350 A R$ 1.200 (Final MasCulina)
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entre MarÇo e Maio De 2015
a partir De seteMBro De 2015 VENDA DOS INGRESSOS RESTANTES
OLIMPÍADA COM ZERO CARBONO O Comitê Organizador Rio 2016 fechou parceria com a gigante da indústria química Dow para neutralizar as emissões diretas de gases do efeito estufa produzidos durante a organização e a entrega do evento. como Parceiro oficial de carbono, a empresa irá mitigar 500 mil toneladas de “co2 equivalentes” (co2eq), nomenclatura utilizada para comparar as emissões de vários gases do efeito estufa de acordo com o potencial de aquecimento global. A parceria ainda vai trazer benefícios adicionais, como a neutralização de 1,5 milhão de co2eq até 2026, como forma de compensar outras emissões ligadas aos Jogos. “isso é algo que estará presente em todas as etapas do preparo para a olimpíada”, afirma tania Braga, gerente geral de sustentabilidade do rio 2016. “Além disso, as tecnologias utilizadas no programa de mitigação de carbono vão gerar um importante legado para diversos setores econômicos do País”, completa. o trabalho da Dow na implantação de tecnologias mais eficientes e menos poluentes será feito nas áreas de embalagens para alimentos, agricultura, energia e construção.
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no topo Destaque no juvenil, Matheus chegou à China, em agosto, como uma promessa. Saiu de lá com três medalhas e como o sexto nadador mais veloz do mundo
Quero ser grande ElE é um garoto dE 18 anos, mas não gosta quE o vEjam como adolEscEntE. rEcordista mundial júnior nos 100 mEtros livrE E dono dE uma das mElhorEs marcas do ano EntrE os adultos, o carioca mathEus santana Está prEstEs a sE tornar um gigantE do EsportE brasilEiro por Mariana Queiroz BarBoza fotos caio guatelli
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DESCUIDo Quando mudou do Rio de Janeiro para Santos, o atleta morou sozinho e saiu da dieta. Resultado: perdeu o controle da diabetes e quase ficou sem a vaga no Mundial
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Uma das fotos qUe ilUstram esta reportagem caUsoU profUndo desgosto no nadador matheUs santana. o retrato, feito no Wet’n Wild, em Vinhedo, no interior de são Paulo, foi uma proposta da redação da 2016. a ideia era colocar Matheus, um atleta de só 18 anos completados em abril, para brincar no parque aquático ao lado da criançada que gosta de fazer festa por lá. a mensagem era simples: o adolescente multicampeão da natação se diverte em seu ambiente natural – um mundo de águas. Matheus topou ir ao parque, mas durante a produção das fotos ficou incomodado. ele não queria que os leitores da revista o enxergassem como uma criança. diante da insistência do fotógrafo, irritou-se ainda mais e desistiu de ir adiante com o ensaio. no dia seguinte, ainda enfurecido, enviou um e-mail a esta repórter. nele, diz que ser jovem não quer dizer ser “criança, imaturo ou moleque” e escreveu que “o que fizeram comigo foi algo altamente deselegante e constrangedor”. o episódio descrito acima expõe o turbilhão de emoções que inquieta atletas que estão em transição entre a carreira juvenil e a vida esportiva adulta. em agosto, Matheus quebrou o recorde mundial júnior dos 100 metros livre na olimpíada da Juventude de nanquim, na China, com a marca de 48s25. É um índice tão estupendo que representa o sexto melhor tempo do mundo em 2014, incluindo adultos. embora seja apenas um garoto – um garoto que se aborrece com uma foto –, Matheus santana está a caminho de se tornar um gigante do esporte brasileiro. Matheus é um símbolo da resistência. resistiu primeiro a um princípio de bronquite na infância. Foi colocado pelos pais na escolinha de natação do Fluminense no rio de Janeiro e, com 5 anos, encontrou nas piscinas a cura para os problemas respiratórios que o afogavam mesmo sem entrar na água. Logo cedo, o talento de Matheus e o físico bom para um velocista (hoje mede 1,90 metro) o fizeram se destacar no esporte. “Meu sonho era vê-lo atleta um dia”, diz o pai, Israel. Como ele, assistente técnico de eletrodomésticos, e a mãe, Maria das graças, funcionária dos Correios, trabalhavam fora e se revezavam em bicos e horas extras para pagar as inscrições de campeonatos e as viagens de Matheus, eram obrigados a deixar o futuro atleta com uma tia que vivia na Penha, a cerca de 40 minutos de carro de Botafogo, onde a família morava. “a gente investiu tudo no Matheus porque ele sempre quis vencer”, diz Israel. “aí não tem como dizer não.”
“no JUVEnIL, MAtHEUS BAtEU o RECoRDE DE CIELo DUAS VEZES. EM 2013, CoM 50s43, SUpERoU o tEMpo DE 50s81 REgIStRADo poR CIELo noS 100 M. EM 2004. noS 50 M, ConSEgUIU 23s18, ContRA 23s29 a resistência de Matheus foi testada de novo quando, aos 8 anos, passou mal e descobriu que era diabético. segundo o pai, “foi assim do nada”. salônica nogueira, nutricionista da unisanta, atual clube do nadador em santos, explica que, no caso dele, a doença está associada a uma carga genética materna e à baixa eficiência da insulina que seu corpo produz. “É uma diabetes infantil do tipo 1, com a qual ele vai ter que conviver pelo resto da vida”, diz a profissional. “ele tem que estar sempre pronto e nós, alertas.” o nadador teimou em aceitar a doença e resistiu às orientações da nutricionista até sofrer um revés. no ano passado, acabou cortado da seleção que iria para o Mundial Júnior, em dubai, pelo descontrole no nível de hemoglobina glicada. um exame de sangue de rotina pedido pela Confederação Brasileira de desportos aquáticos (CBda) mostrou que o índice de Matheus estava em 11%. Para uma pessoa normal, o nível de hemoglobina glicada vai até 6% e, para os diabéticos, pode chegar
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A foto DA DISCóRDIA o retrato acima, que faz parte de um ensaio da 2016 feito num parque aquático no interior de São paulo, constrangeu Matheus. para o nadador, ser jovem não quer dizer ser “criança, imaturo ou moleque”
a 7%. uma dosagem tão alta de açúcar no sangue, resultado de meses vivendo sem a supervisão dos pais, que ficaram no rio, poderia colocar o atleta em coma. Israel foi chamado a santos para se reunir com a equipe da unisanta. “Fiquei assustado com o que ele estava comendo”, afirma o pai. “era lanche, Mcdonald’s, saía para a rua e comia o que queria.” a decisão da CBda de deixar Matheus fora do Mundial foi um susto em toda a equipe que o acompanha. “Teve que acontecer um negócio bem chato para eu começar a perceber que ele era diferente e eu tinha que aprender mais”, diz o técnico Márcio Latuf, com quem Matheus trabalha junto há quase dois anos. o nadador é o primeiro de nível profissional com diabetes a compor o time da unisanta. Hoje é Latuf quem mede diariamente a glicose de Matheus à beira da piscina e o nadador aplica em si mesmo quatro doses de insulina por dia. Todo começo de mês, a diabetes o obriga a fazer um exame de bioimpedância, que identifica a porcentagem de gordura corporal e ajuda a determinar a dieta a ser seguida. a nutricionista afirma que até o consumo de suplementos e bebidas isotônicas é controlado. durante os treinos, enquanto as garrafas térmicas dos demais atletas do clube revestem os mais diversos pozinhos coloridos, Matheus só bebe água. e, a cada três meses, o compromisso é com a medição da hemoglobina glicada. “o teste mostra o comportamento alimentar ao longo de todo esse período; então o paciente
não consegue mentir para o médico”, diz salônica. na nova fase, um psicólogo e um endocrinologista entraram em cena. o nadador mudou a alimentação e o medicamento e começou a render mais nos treinos. É com a mesma resistência que Matheus deve enfrentar os adversários na olimpíada do rio, em 2016. Para isso, treina seis dias por semana em ciclos que variam conforme as principais competições que o esperam. neste ano, eles foram divididos de acordo com o Troféu Maria Lenk, disputado em abril, em são Paulo (Matheus ficou em segundo nos 100 metros livre, atrás apenas de Cesar Cielo), os Jogos olímpicos da Juventude, em agosto, na China, e o Torneio open Brasil, em dezembro, no rio de Janeiro. o técnico programa tudo numa planilha de excel. na fase de acúmulo de metragem, que dura de quatro a cinco semanas, a agenda inclui treinos de manhã e à tarde, de segunda, quarta e sexta. Às terças, quintas e sábados, o trabalho acontece só pela manhã, num total de nove treinos por semana. as outras fases são: específica, quando o técnico trabalha o ritmo de prova em períodos com até oito treinos semanais, e apuro, dedicada a polir a estratégia de prova. o atleta intercala uma hora de musculação e treinamento funcional com o objetivo de ganhar força, sem ficar tão musculoso. “Quando o nadador é mais magro, a área de atrito frontal é menor e ele ganha mais velocidade”, diz o técnico. segundo Latuf, o que também faz de Matheus um foto: joão castellano/ag. istoé
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nadador excepcionalmente talentoso é a habilidade de carregar consigo muita água numa só braçada, movimento que impulsiona e dá velocidade. Márcio Latuf e Matheus concordam que a saída para a prova, na hora em que o nadador mergulha, ainda precisa melhorar. “saio meio devagar, tenho que ser um pouco mais rápido”, diz o atleta. dono de quatro medalhas olímpicas e 19 em Jogos Pan-americanos, gustavo Borges confia no futuro de Matheus. “ele não é explosivo, mas é veloz”, diz gustavo. “Tem capacidade técnica e muita concentração. É um grande nome para o Brasil em 2016.” atual recordista brasileiro, Cesar Cielo engrossa o coro: “ele pode pensar numa medalha individual nos 100 livre e ser uma grande chave para o nosso revezamento”. se as previsões se concretizarem, Matheus santana deverá consolidar a tradição brasileira na formação de bons velocistas. desde o desempenho de Borges nos Jogos Pan-americanos de 1991 em Havana, Cuba, quando ele bateu o recorde pan-americano nos 100 metros e conseguiu a prata nos 200 e o bronze nos 50, o País viu nascer várias gerações de velocistas (a geração Borges tinha também Fernando scherer, o Xuxa, depois veio Cielo, há pouco tempo surgiu Bruno Fratus e agora Matheus santana). Isso só aumentou o interesse dos novos atletas. “Todo mundo quer nadar os 100 metros e a qualidade do material humano melhorou muito”, afirma Borges. ainda assim, a oferta poderia ser muito maior, já que o perfil de atletas com mais de 1,85 metro de altura é disputado com outros esportes. nesse cabo-de-guerra, foi o ídolo Michael Phelps quem desequilibrou a escolha de Matheus. “Lembro que, ainda pequeno, eu chegava correndo da escola para ver o Phelps vencendo em Pequim”, diz o recordista mundial júnior. naquela olimpíada, em 2008, o americano levou na bagagem de volta oito medalhas de ouro. a biografia de Phelps está entre seus livros preferidos, junto com as histórias de vida de anderson silva e Michael Jordan. “agora estou lendo a do Bernardinho.” Como lembrança, além da admiração, ficam as lições de autoajuda. no armário da cozinha de casa, uma frase que colocou a pedido do presidente da CBda: “Hoje eu vou treinar melhor que ontem.” no teto do quarto e tatuado no antebraço direito aparece o seguinte: “ever tried. ever failed. no matter. Try again. Fail again. Fail better”. atribuída ao dramaturgo irlandês samuel Beckett, a citação diz “Tentou. Fracassou. não importa. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor”, numa tradução livre para o português. Perguntado se fala inglês, Matheus é interrompido pelo
pai. “deixa que eu respondo. ele já foi em dez cursos, não terminou nenhum.” Matheus ri. o pai está sempre por perto. acompanhou o filho no Wet’n Wild e prontificou-se a responder às perguntas mesmo quando elas eram endereçadas a Matheus. a decisão de Israel de se mudar para santos para acompanhar de perto a dieta e as decisões de Matheus frustrou qualquer expectativa da declaração de independência aos 18 anos. antes de o filho fechar com a unisanta, Israel tentou negociar com outros clubes no rio, mas Matheus não queria mais ficar. uma namorada o esperava em santos. “eu passei três meses com raiva dele”, diz o pai. Hoje Israel retomou o controle. Quase todas as manhãs, arruma o apartamento, a duas quadras da faculdade, e passa no treino para conversar com os técnicos. “se ele precisa de bronca, o recado vai passando, todo mundo fica sabendo. Às vezes ele me acha chato, mas é para o bem dele”, afirma. “o Matheus tem que botar na cabecinha que, para competir em alto nível, precisa deixar de lado certas coisas. não pode pensar que pode relaxar só porque ganhou um ouro, bateu um recorde aqui, outro lá.” a piscina da unisanta está em reforma. o teto antigo e a arquibancada foram retirados para dar espaço a uma estrutura mais moderna, mas as obras só devem terminar depois de outubro. enquanto os nadadores faziam o vai-e-vem nas raias reduzidas temporariamente a 21 metros (menos da metade do habitual), dois pedreiros usavam uma fita amarela sobre os atletas para medir a distância entre os arcos que vão sustentar a nova cobertura retrátil. as mudanças na infraestrutura fazem parte da preparação da unisanta para 2016. escolhida pelo CoB para receber delegações de outros países, a universidade já teve visitas de representantes de Japão, rússia, Itália e dinamarca. nos próximos meses, depois que voltar de Mar del Plata, na argentina, onde competirá no sulamericano absoluto, Matheus pretende frequentar a faculdade para além dos horários dos treinos. Matriculado no curso de administração de empresas, ele só foi a uma aula. o dia em que viajou para fazer as fotos para a 2016, em Vinhedo, seria o segundo. no caminho até a cidade no interior de são Paulo, o nadador já tinha desistido da aula. “Talvez ainda dê tempo”, disse o pai. “não, hoje não dá”, retrucou o atleta. depois do estresse da foto com as crianças, Matheus aceitou fazer uma nova sessão de retratos na unisanta. olhar imponente, postura de campeão, o sucessor de Cielo foi clicado, enfim, como um adulto da natação. ele quer mesmo ser grande logo.
Ent r E os mai o rEs
as dez melhores marcas do mundo nos 100 metros livre em 2014* 10___47.59 James Magnussen AUStRáLIA 20___47.65 Cameron McEvoy AUStRáLIA 30___47.98 florent Manaudou fRAnçA 40___48.05 nathan Adrian EStADoS UnIDoS 50___48.13 Cesar Cielo BRASIL 60___48.25 matheus santana BRASIL 60___48.25 Andrey grechin RúSSIA 60___48.25 Vladimir Morozov RúSSIA 90___48.31 paul Biedermann ALEMAnHA 100__48.36 fabien gilot fRAnçA *Até SEtEMBRo
saltos ornamentais
Águas
Há quase 100 anos o Brasil compete nos saltos ornamentais na olimpíada, mas jamais ganHou medalHa. com mais investimentos, intercâmBio internacional e melHoria da infraestrutura, o país terá uma cHance real de queBrar essa sina em 2016
pLasTICIdadE a combinação perfeita de força e técnica faz das competições de saltos ornamentais verdadeiros espetáculos. na foto, Ian Matos (mais à esq.) e Luiz felipe outerelo treinam na piscina da universidade de Brasília
profundas por ElainE Ortiz fotos jOnnE rOriz
saltos ornamentais
profundEZas a saltadora Tammy galera mergulha na piscina da unB: desafio do esporte é formar talentos
“TEMos quE CoMpETIr ConTra a nossa rEaLIdadE, E não ConTra nInguéM. MEdaLha sEM InvEsTIMEnTo é quasE MÁgICa” _JuLIana vELoso, aTLETa
sessenta degraus separam a Borda da piscina da plataforma a dez metros de altura. Na subida, cada passo significa a aproximação de um colossal desafio. Enquanto o atleta sobe, o mundo vai perdendo os sons até que o silêncio toma conta de tudo. Nem parece que a arquibancada está lotada. As câmeras de tevê pouco importam. Em estado de concentração máxima, o saltador, mesmo o mais experiente, sente medo. Não há mais volta: é preciso penetrar a imensidão azul. No breve voo, que só dura 3 segundos, o corpo desliza a 60 km por hora – na velocidade de um carro. Disputadas há três séculos, as provas de saltos ornamentais são tão espetaculares quanto difíceis. Talvez por isso existam poucos praticantes. Apenas 301 atletas dos cinco continentes participam das competições oficiais da Fina (Federação Internacional de Natação) e estima-se que o número de adeptos, inclusive de forma recreativa, não passe de 30 mil no mundo. “É um esporte que muitos querem admirar, mas que poucos têm coragem de praticar”, diz o técnico da seleção brasileira, Ricardo Moreira. No Brasil, o esporte vem ganhando visibilidade. Virou tema do longa-metragem “Tinnitus”, com estreia prevista para 2015 e centrado na história de um atleta portador de deficiência auditiva, além de pano de fundo da próxima novela das nove da Rede Globo, que será protagonizada por um saltador. “Isso vai ser fantástico para a divulgação do esporte”, diz Eduardo Falcão, supervisor de saltos ornamentais da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). “Estamos trabalhando a fim de abrir novos clubes para atender à demanda que deverá vir pela frente.”
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A infraestrutura é outro fator crucial no desenvolvimento da modalidade. Nesse aspecto, o Brasil acaba de dar um importante passo. Em março, a Universidade de Brasília reabriu o seu parque aquático após sete anos de reforma e inaugurou o primeiro Centro de Excelência em Saltos Ornamentais do País. A iniciativa contou com o apoio do Ministério do Esporte, que destinou R$ 800 mil para o empreendimento. Uma reforma no Grêmio Cief, em João Pessoa, também está em andamento e até 2016 o Rio de Janeiro contará com dois espaços recuperados: o Parque Aquático Maria Lenk, a principal arena para a disputa da modalidade na Olimpíada, e o Parque Aquático Julio Delamare. Por enquanto, o Centro de Excelência da UnB é o local mais completo para o treinamento dos atletas de alto rendimento, por contar não somente com piscinas, mas também com ginásio equipado com os aparelhos necessários para o treino a seco – ao contrário do que se imagina, a maior parte da preparação dos atletas de saltos ornamentais deve ser fora da água. “Dependendo da fase de desenvolvimento do saltador, cerca de 80% do treino é feito dentro ginásio, principalmente na cama elástica”, diz Ricardo Moreira, que também coordena o Centro de Excelência da UnB. “A estrutura de Brasília não deixa nada a desejar, se comparada às das principais potências do mundo.” A ausência de estrutura adequada impacta diretamente no crescimento do esporte no Brasil. De acordo com a CBDA, apenas quatro Estados participam dos eventos nacionais de saltos – Rio de Janeiro, São Paulo, Paraíba e Pará, além do Distrito Federal, sendo que nessas localidades apenas dez clubes ou associações oferecem a modalidade, com um total de 100 atletas cadastrados para 2014. “Cerca de 20% dos recursos da confederação são aplicados nos saltos ornamentais”, afirma Ricardo Moura, presidente interino da CBDA. “Estamos montando novos centros de treinamento, mas os saltos precisam de um resultado de peso no alto rendimento para gerar interesse de novos praticantes.” É com foco na urgência da renovação de atletas que o Centro de Excelência da UnB iniciou um trabalho inédito com crianças, selecionando 20 alunos de escolas públicas do Distrito Federal para compor uma equipe de base e, quem sabe, formar futuros campeões. Meninos e meninas a partir de 7 anos treinam quatro horas por dia de segunda a sábado, replicando as estratégias de treinamento dos países mais bem-sucedidos nesse esporte. “A partir de 2020 vamos colher os frutos da preparação que começamos agora”, afirma Ricardo Moreira. Paralelamente a isso, a UnB está realizando uma série de cursos de capacitação com técnicos e árbitros, já que a quantidade desses profissionais também é escassa. “Para que o
Brasil tenha mais atletas, é necessário formar técnicos de qualidade”, diz Moreira. A prova da pouca renovação está nos nomes que irão representar o Brasil na Rio-2016. Eles são os mesmos que surgiram há mais de uma década e que devem, inclusive, se aposentar após os Jogos. É o caso de Juliana Veloso, Hugo Parisi e Cesar Castro, a melhor geração e a que mais participou de Jogos Olímpicos e competições internacionais pelo Brasil. Juliana esteve em quatro Olimpíadas (Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012) e quatro Pan-Americanos (Winnipeg-1999, Santo Domingo-2003, Rio-2007 e Guadalajara-2011). Seus melhores resultados foram obtidos nos Pans de 2003 (medalha de prata na plataforma de 10 metros e de bronze no trampolim de 3 metros) e 2007 (bronze na plataforma de 10 metros). Com a experiência de quem compete profissionalmente desde a década de 1990, a atleta, 33 anos, afirma que nada mudou em termos de infraestrutura e investimento. A diferença é que, agora, há boas intenções. Para ela, atualmente no Fluminense, a ausência de ginásios adequados para o treino a seco foi um dos aspectos que mais influenciaram em sua carreira. “O Brasil ainda está muito atrás”, diz. “No Rio, só temos as piscinas. Assim fica difícil competir em condições de igualdade com quem desfruta de uma realidade melhor. Medalha sem investimento é quase mágica.” Foi também a pouca estrutura e a possibilidade de demolição do Parque Aquático Julio Delamare, fechado para as obras da Copa do Mundo da Fifa, que fizeram, no ano passado, o atleta do Mackenzie Cesar Castro deixar o Rio e partir para os Estados Unidos, onde treina seis horas por dia na Universidade da Geórgia. “Foi uma fase muito triste”, afirma Cesar. “Além da demolição do ginásio de treinamento, a destruição do parque aquático também poderia acontecer.” Ele lembra do sufoco que viveu. “Por algum tempo, lutamos, liminares foram concedidas e derrubadas, e no final, a piscina permaneceu.” O ginásio, porém, foi demolido. “É por esse motivo que decidi sair do Brasil”, afirma o atleta de 31 anos, que fez história ao quebrar um jejum de cinco décadas sem que o Brasil chegasse às finais de uma Olimpíada. Em Atenas-2004, garantiu o nono lugar no trampolim de 3 metros – a última vez havia sido em Helsinque-1952, com o sexto lugar de Milton Busin, ainda hoje a melhor classificação de um brasileiro em Olimpíadas. Ao lado de Cesar Castro, o brasiliense Hugo Parisi, 30 anos, está entre os 20 melhores atletas no ranking mundial da Federação Internacional de Natação. Atual campeão sul-americano na plataforma de 10 metros, já conquistou a competição quatro vezes, participou de 27 campeonatos brasileiros, três Olimpíadas (Ate-
saltos ornamentais
EsforÇo os atletas da seleção brasileira giovanna pedroso (à esq.) e Ian Matos (abaixo) treinam em média seis horas por dia, de segunda a sábado
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nas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012) e coleciona três medalhas de bronze conquistadas em circuitos mundiais. Hugo iniciou a carreira aos 6 anos em Brasília, passou por clubes como Vasco e Fluminense, mas só conseguiu melhorar seus resultados depois que recebeu o apoio do Mackenzie. “Quando treinava no Rio eu sempre me deparava com algum tipo de problema”, afirma. “Se não tinha salva-vidas, não podia treinar. Se tinha jogo no Maracanã, também não. Era impossível manter uma constância de treinamento.” O planejamento que começou a ser feito recentemente não impactará nas carreiras de Juliana Veloso, Cesar Castro e Hugo Parisi, mas deixará um importante legado para os saltos. A presença deles na equipe de 2016 serve também para inspirar os novos talentos que compõem a seleção brasileira de saltos ornamentais. É a primeira vez que se desenvolve um projeto de integração da equipe nacional. Em agosto, um training camp realizado no Centro de Excelência da UnB reuniu os atletas da seleção principal, jovens revelações e técnicos brasileiros. Durante 11 dias, eles receberam treinamento do mexicano Chava Sobrino, reconhecido como um dos melhores técnicos do mundo e que dirige a seleção australiana da modalidade desde 1995 – sob seu comando, a equipe subiu ao pódio em todas as edições olímpicas a partir de 2000. A troca de conhecimento é uma das estratégias traçadas pela CBDA para 2016. Segundo Sobrino, em qualquer lugar do mundo é rara a oportunidade de unir todos os atletas em treinos intensivos, como foi feito no training camp de Brasília. “Nos Jogos do Rio, a medalha é uma possibilidade real para a seleção brasileira, que tem qualidade técnica, mas precisa incrementar o grau de dificuldade dos saltos”, diz. Ele destaca também o fato de os competidores serem de diversos clubes brasileiros e não apenas de um ou dois. “Se há competitividade interna, há qualidade para disputas de categoria internacional.” Além da integração em Brasília, outras estratégias estão sendo adotadas pela Confederação Brasileira. Em 2013, dez atletas juvenis e dois técnicos passaram seis meses na China com o objetivo de absorver técnicas de iniciação no esporte e compreender a metodologia de treinamento do país. A China é a principal potência mundial dos saltos ornamentais. Em 2014, todas as medalhas de ouro e de prata da Copa do Mundo de Xangai foram conquistadas pelos anfitriões. Nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, os chineses faturaram sete medalhas de ouro das oito possíveis. Em Londres-2012, seis das oito. Não à toa, seus atletas ocupam as primeiras colocações em todas as categorias do ranking da federação internacional. “A China é nosso primeiro referencial, mas é impor40 istoé 2016
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tante dizer que os brasileiros não se adequariam ao treinamento chinês”, diz Eduardo Falcão, supervisor de saltos ornamentais da CBDA. “Temos que absorver um pouquinho da técnica de cada país que é referência e criar nossa própria metodologia.” Entre as promessas para 2016 destacam-se Ingrid Oliveira, do Fluminense, e Giovanna Pedroso, do Tijuca Tênis. Apesar de classificadas para a Copa do Mundo de Xangai, a Confederação preferiu enviá-las para um treinamento no México e prepará-las para os Jogos da Juventude, realizados em agosto, na cidade de Nanquim, na China, e o Mundial Júnior da Fina, em setembro, em Penza, na Rússia. O investimento se mostrou efetivo. Ingrid terminou a competição na China em quinto lugar na plataforma de 10 metros e em sétimo no trampolim de 3 metros. A preocupação em desenvolver talentos é tão importante que um dos mais tradicionais clubes formadores de São Paulo, o Pinheiros, também está com essa ideia fixa. De suas plataformas de saltos já saíram nomes como Cassius Duran, que defendeu o esporte em três Olimpíadas, e um jovem talento que é cotado para integrar a seleção brasileira em 2016. Trata-se de Jackson de Oliveira, 20 anos, dono de seis títulos brasileiros. “Ele realiza saltos difíceis e tem muita condição de integrar a equipe principal”, diz Fernando Telles Ribeiro, atleta olímpico de saltos ornamentais nos Jogos de Melbourne-1956 e Roma-1960 e que, aos 76 anos, acaba de conquistar três medalhas (uma prata e dois bronze) no campeonato mundial master, realizado no Canadá, em agosto. Fernando é diretor-adjunto de saltos do Pinheiros, onde atua há três décadas. “O clube nunca contou com tantos alunos praticando saltos ornamentais”, diz. Ainda há um longo caminho a percorrer. “Antes o que existia era apenas amadorismo, hoje a profissionalização é uma realidade. Agora estamos na fase intermediária, já saímos da indigência.” A profissionalização se deve a políticas adotadas pelo governo federal, impulsionadas pela realização de grandes eventos esportivos no País desde o PanAmericano de 2007 até chegar à Olimpíada de 2016, passando pela Copa do Mundo de 2014. Entre essas medidas, além da implantação de infraestrutura, destaca-se a concessão de incentivos financeiros como o Bolsa Atleta. Trinta e um brasileiros dos saltos ornamentais recebem o benefício criado em 2004. “É um apoio fundamental, porque prolonga a carreira do atleta na medida em que permite a dedicação integral às modalidades”, diz Ricardo Moreira. Os Jogos do Rio trouxeram recursos inéditos para o esporte. Dados do Portal da Transparência mostram que, em 2013, R$ 1 milhão foi liberado pelo governo federal para a realização de clínicas e treinamentos específi-
cos para atletas, técnicos, coordenadores e árbitros das modalidades de saltos ornamentais, nado sincronizado e maratonas aquáticas. Em 2012, já havia sido destinado R$ 1,1 milhão para a compra de equipamentos. O apoio de patrocinadores também tem sido essencial para o projeto de base. A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos conta com aportes dos Correios, Bradesco, Sadia, Universidade Estácio de Sá e Speedo. O Brasil jamais conquistou medalhas nos saltos ornamentais, apesar de ter representantes olímpicos desde os Jogos de 1920, na Antuérpia. A esperança é que a sina seja quebrada no Rio. Por ser país-sede, o Brasil já está classificado para as quatro finais de sincronizados (trampolim de 3 metros e plataforma de 10 metros, tanto no masculino quanto no feminino). “Temos observado isso na história: todo país-sede conquista uma medalha em provas sincronizadas pelo fato de já ter vagas garantidas”, afirma Eduardo Falcão, da CBDA. “Isso aconteceu até com a Grécia, em 2004, país que não possui nenhuma expressão na modalidade e mesmo assim conquistou o ouro no trampolim masculino.” Nas disputas individuais, o desafio é maior, uma vez que as vagas precisam ser conquistadas no Campeonato Mundial da Rússia, em setembro de 2015, e na Copa do Mundo do Brasil, em fevereiro de 2016. No que depender do esforço dos atletas, os resultados virão. Juliana Veloso pretende ampliar os treinos de quatro horas diárias para até oito no próximo ano. Hugo Parisi prefere não pensar em resultados, uma vez que sua primeira responsabilidade é se classificar para a plataforma de 10 metros e só depois disso pensar nos Jogos do Rio. Por enquanto, ele reforça o discurso político. “O que espero é que o Brasil saiba aproveitar o legado dos Jogos e que a estrutura esportiva fique a serviço da população.” Cesar Castro diz que tudo o que tem feito ultimamente gira em torno de 2016: “Sonho e trabalho todos os dias para estar novamente entre os 12 finalistas no trampolim de 3 metros”. Uma competição de saltos ornamentais é um espetáculo extraordinário. Poucos esportes exigem combinação tão perfeita de força e técnica. Talvez isso explique por que, em Londres-2012, os saltos estiveram entre os esportes que mais venderam ingressos para as finais, com tíquetes mais caros que os do futebol e do vôlei. A previsão para 2016 é que a tendência seja mantida. De acordo com o Comitê Organizador dos Jogos do Rio, o ingresso para a final dos saltos poderá chegar a R$ 900, mais caro do que os das partidas decisivas de tênis (R$ 700) e judô (também R$ 700). “Há cinco Olimpíadas os saltos estão entre os esportes que mais vendem ingressos” diz Eduardo Falcão. No Brasil, as arquibancadas certamente estarão lotadas – e, quem sabe, com os torcedores comemorando uma medalha que está custando a sair.
as rEgras _na olimpíada, as provas são realizadas em trampolim de 3 metros e plataforma de 10 metros, nas categorias individual (masculino e feminino) e sincronizado (masculino e feminino) _os homens executam 6 saltos e mulheres, 5 _notas de 0 a 10 são atribuídas pelos juízes, que depois descartam a mais alta e a mais baixa _antes da competição, os atletas devem apresentar a lista dos saltos que pretendem realizar. caso apresentem elementos diferentes, o salto será anulado _a piscina deve ter dimensões de 15 m x 25 m e 4,5 m de profundidade _os saltos podem ser parados ou em corrida. eles são executados nas seguintes posições: > EsTEndIdo (o corpo fica reto durante o salto) > grupado (as pernas ficam flexionadas em direção ao peito e são seguradas pelas mãos) > Carpado (as pernas ficam esticadas, formando um ângulo com o tronco) > posIÇão LIvrE (a posição do corpo é opcional)
10 m
3m
canoagem
em PÉ isaquias queiroz na raia da USP: a perda inacreditável do título mundial na prova de 1.000 metros abalou o atleta, mas não afetou sua vontade de buscar o pódio olímpico
É um lonGo CaminHo poBreZA, Acidentes, um rApto nA inFÂnciA e A FrustrAÇÃo de perder o título mundiAl por BoBAgem: os percAlÇos nA vidA do cAnoístA isAquiAs queiroZ nÃo sÃo suFicientes pArA interromper A BuscA pelo ouro em 2016
atÉ o topo
POR MARIANA LAJOLO FOTOS DANIEL KFOURI
canoagem
a caminho: nascido em Ubaitaba, na Bahia, isaquias treinou durante um tempo em São Paulo, mas está de mudança para minas Gerais, onde a seleção brasileira ficará concentrada até 2016
O ventO sOprava a favOr. Após remar durante as eliminatórias em condições adversas, Isaquias Queiroz finalmente tinha a natureza a seu lado. Precisava se preocupar apenas com os adversários. O brasileiro, de 20 anos, seguiu confiante para o Centro Desportivo Krylatskoye, em Moscou, onde disputaria a prova mais importante de sua vida. Dono de uma medalha de ouro em Mundiais de canoagem, tinha a chance de repetir o pódio, mas dessa vez em uma distância (1.000 metros) que integra o programa dos Jogos Olímpicos. O feito o credenciaria ainda mais a conquistar medalha na Olimpíada do Rio, em 2016. Isaquias largou bem. Com remadas ritmadas, começou a se desgarrar do grupo a partir do primeiro terço da disputa. Na metade da prova, já havia aberto um barco de vantagem para seu maior rival, o alemão Sebastian Brendel. Nos metros finais, vislumbrou o topo do pódio. Havia perdido terreno, mas continuava na frente. Tinha o ouro e o recorde mundial em suas mãos. Isaquias deu uma remada mais forte e ergueu o bico da canoa, num movimento 44 istoé 2016
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de chegada que imita, na água, aquela esticada de cabeça que os velocistas dão nas disputas de corrida. Ainda teve tempo de olhar para a esquerda e se certificar de que o alemão havia mesmo sido superado. Na empolgação, no movimento derradeiro, inclinou o corpo para trás e caiu na água. Na sua cabeça, tinha vencido. Não tinha. Isaquias mergulhou antes da linha de chegada – e perdeu, de forma bisonha, o título mundial. As remadas pareciam ainda mais fortes na tela do computador de Figueroa Conceição. Na pequena cidade de Ubaitaba, no sul da Bahia, o primeiro treinador do atleta não conseguia acreditar. Lágrimas rolavam por seu rosto. Já haviam enchido seus olhos muito antes do fim da prova. Aquele velho clichê de “passou um filme pela minha cabeça” realmente aconteceu com ele. Figueroa se lembrou do garoto arteiro que fugia das aulas para tomar banho de rio, das primeiras conquistas, da falta de dinheiro e das dificuldades para conseguir transformá-lo em um campeão. “Eu comecei a chorar nos 500 metros, quando
ele abriu aquela vantagem”, diz. “É como assistir a um de seus filhos, fica difícil controlar a emoção.” Figueroa percebeu que Isaquias tinha potencial na primeira vez que o garoto subiu numa canoa, aos 10 anos. Em Ubaitaba (a 379 km de Salvador), o esporte é uma das paixões dos 21 mil habitantes. Não à toa, ela é conhecida como “a cidade das canoas” e já colocou diversos atletas entre os melhores do País. Agora, será sede de seleções cadete e júnior, sob a batuta de Conceição. As primeiras remadas de Isaquias foram dadas nas águas do rio das Contas, que corta o município. O menino chegou à modalidade por meio do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte. No início, era apenas um hobby, brincadeira de criança. “Eu gostava de ficar no rio, tomando banho”, diz o atleta, que era seguidamente suspenso dos treinos por causa de suas fugas. “O rio ali tem 3,5 quilômetros. A gente ia até o fim e ficava tomando banho. Se o técnico flagrava, era suspensão.” A mãe de Isaquias via na canoagem uma chance de garantir que o filho seria cuidado por alguém enquanto ela estivesse trabalhando. Servente da rodoviária local, ralou a vida toda para sustentar os seis filhos sozinha – o marido morreu em 1999, vítima de um derrame. Mas Dilma, 53 anos, também temia pela saúde do garoto. Bio, como é conhecido em Ubaitaba, tem outro apelido: Sem-Rim. Em 2004, um ano antes de começar a remar, caiu em cima de uma pedra e sofreu lesões internas. Levado às pressas ao hospital, perdeu um rim. “Eu estava com medo, às vezes ele sentia muita dor”, diz a mãe. “Mas me disseram que não tinha problema, então deixei que ele fosse remar.” Esse foi só um dos sustos que Dilma passou com o filho na infância. Ainda pequeno, Isaquias mexeu no fogão e deixou cair sobre seu corpo uma panela de água fervendo. Aos 5 anos, diz Dilma, o garoto foi raptado e encontrado horas depois. Não por acaso, ela ficou uma pilha de nervos quando uns moleques apareceram buzinando em sua casa numa tarde de setembro de 2013, perguntando pelo seu filho. “Na hora pensei que ele tinha morrido, mas aí eles começaram a dar risada e me contaram que tinha sido campeão”, lembra. “Até hoje tiram sarro de mim por causa disso.” No Mundial da Alemanha, em 2013, o brasileiro conquistou o inédito ouro no C-1 500 e o bronze no C-1 1000, que está no programa olímpico (o “c” é de canoa, o primeiro número indica quantos atletas vão na embarcação e o segundo, a distância percorrida em metros). Antes, havia sido campeão Mundial júnior, em 2011, curiosamente o ano mais conturbado de sua carreira. Isaquias deixou Ubaitaba e foi viver no Rio de Janeiro. Acostumado a uma vida livre e cercado de amigos, teve dificuldade para se adaptar à rotina cansativa de treinamento, ao tédio e à solidão. Muitas vezes, ligava
conqUiStaS PromiSSoraS As provAs olímpicAs dA cAnoAgem mAsculinA e os melhores resultAdos de isAquiAs em cAdA umA delAs c-1 200 m
OurO nO Mundial da Juventude (2011)
c-1 1000 m
BrOnze nO Mundial adultO (2013)
c-2 1000 m
nãO disputa
para a mãe e dizia que queria voltar. Reclamava também da falta de dinheiro para se manter e para bancar viagens e competições. Quando soube que ficaria fora do Pan de Guadalajara, em 2011, o garoto explodiu. Foi para Ubaitaba sem permissão e acabou suspenso. “Aí fiquei com mais raiva ainda. Saí da seleção e só voltei no ano seguinte, quando o Sebastián Cuattrin (ouro no Pan do Rio-2007) me chamou para treinar em São Paulo”, diz. “Eu era jovem, queria me divertir, e o mais difícil nessa vida de atleta é o confinamento.” O remador também demonstrou irritação após o Mundial de 2013. Medalha de ouro no peito, reclamou da falta de reconhecimento por parte da Confederação Brasileira de Canoagem. A rusga foi superada. Agora, Isaquias consegue ajudar a mãe com o que ganha como atleta. Ele é beneficiário da Bolsa Pódio, do governo federal, com R$ 15 mil por mês neste ano. Também tem apoio via confederação, que recebe verba
da Lei Piva (R$ 2,9 milhões em 2014) e patrocínio do BNDES. O banco investiu, em 2013, R$ 3,7 milhões para manter o centro de treinamento de canoagem slalom em Foz do Iguaçu, enquanto a implantação do CT em São Paulo recebeu R$ 2,5 milhões. Isaquias treinava na raia olímpica da USP, na capital paulista, mas está de mudança para Lagoa Santa, em Belo Horizonte (MG), nova base da seleção. Se marasmo e confinamento eram um problema em uma cidade grande, ele terá bem mais dificuldade no pequeno município de cerca de 53 mil habitantes. Inferno para o atleta, paraíso para o treinador. Jesús Morlán, contratado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, não vê a hora de ter sua lagoa particular para comandar os treinos. O espanhol chegou ao Brasil em abril de 2013 com uma missão ousada: alcançar o pódio nos Jogos do Rio, em 2016, nas três provas sob sua batuta (C-1 200, C-1 1000, C-2 1000). Jesús precisou mexer na estrutura que encontrou em São Paulo. Pediu a compra de novos materiais de ponta para o COB e para a confederação. Mas a principal revolução aconteceu na forma de treinar os atletas. Ele os ensinou a pensar a prova por etapas e estabelecer metas de tempo para cada uma delas. Ensinou a turma a controlar o ritmo e a frequência das remadas e a poupar energia. “O primeiro treinamento foi muito ruim, eles tiveram muita dificuldade”, diz. Depois de uma semana, parecia que os atletas já tinham nascido sobre a canoa. “Só aceitei vir para o Brasil porque sabia que teria material humano de qualidade. Minha meta é ganhar medalhas em 2016.” Jesús se define como “o tipo mais sem graça que existe” porque adora rotina. Sua programação semanal – e a dos atletas – inclui treinos em um ou dois períodos alternados ao longo da semana. Horário certo para almoço, jantar, treinamento e soneca da tarde. No domingo, é folga. Mas ele geralmente passa boa parte do tempo no computador. Pode ser definido também como maluco por trabalho. “Por isso não gosto de São Paulo, você perde muito tempo para fazer qualquer coisa”, diz. “Agora sou a pessoa mais feliz do mundo porque vou para uma cidade pequena, com lagoa privativa, não haverá mais greves, feriados, terei uma lagoa para treinar todos os dias.” Jesús é exigente com treinos e disciplina. E não gosta de atletas que reclamam ou pedem demais. Neste ano, concedeu alguns privilégios a Isaquias, como viajar nos fins de semana para visitar a mãe ou a namorada, no Rio. Nos próximos anos, porém, com a Olimpíada batendo à porta, deve encurtar a rédea. “Medalhas são conquistadas com ausências”, diz o treinador, que deixou a mulher e a filha de 3 anos vivendo na Colômbia. Encontram-se raramente, em datas especiais. Isso não significa que ele queira ver seus atletas infelizes. “Desejo que tenham namoradas, família, uma vida afetiva plena”, afirma. “Se você tem um 46 istoé 2016
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atleta infeliz, dificilmente ele vai render bem.” Mas a renúncia do treinador acaba servindo de exemplo para os esportistas, que estão prestes a encarar os anos mais desafiadores de suas vidas. Principalmente Isaquias. Além de se acostumar a ausências, ele tem enfrentado uma nova fase na carreira, com pedidos de entrevistas, fotos e compromissos fora da água. O garoto de Ubaitaba ainda não sabe lidar com as novas demandas e pouco se anima com elas. Às vezes, até se irrita. Para realizar as imagens desta reportagem, precisou de horas de convencimento ao telefone e, depois, pessoalmente. Mas basta sentar por alguns minutos e começar a falar da vida que um bem-humorado contador de histórias também aparece. “Às vezes, parece que falta ar”, confessa. “Mas aí você vai para o Mundial, ganha uma medalha e vê a recompensa.” Isaquias afirma que, se não tivesse escolhido a canoagem, ninguém saberia quem ele é. “Consegui ser uma pessoa na sociedade graças ao esporte”, diz. Subir ao topo do pódio no C-1 1000, derrotar o alemão campeão olímpico e se credenciar como favorito ao ouro na Rio-2016. Era essa a recompensa que Isaquias buscava com tanta vontade naquela final do Mundial de Moscou, em agosto. Caiu na água comemorando, ergueu os braços, gritou. Sebastian Brendel, ao cruzar a linha, despencou e se agarrou à canoa, exausto. Na lancha que os levaria à terra firme, cumprimentou o brasileiro pela conquista. Quando Isaquias chegou ao píer, eufórico, deu de cara com um oficial de prova que carregava o resultado final. Seu nome não estava lá. Logo chegou a notícia: a queda da canoa havia acontecido antes da linha final, e o brasileiro estava desclassificado. “Meu mundo desabou, a única coisa que eu tinha para fazer era chorar”, afirma. “Fiquei completamente fora de mim.” A primeira pessoa a receber o telefonema de Isaquias foi a namorada, Larissa, no Rio. Eles se conheceram em Ubaitaba, estão juntos há poucos meses, mas já carregam um anel de compromisso. Não foi bem uma conversa, já que ele não conseguia parar de chorar. Depois, tocou o telefone de Figueroa Conceição. Na Bahia, o treinador enxugou as lágrimas e disfarçou a voz embargada. Só algum tempo depois confessou que estava chorando. “Disse a ele que não importava o que tinha acontecido, ele havia mostrado que é o melhor do mundo”, afirma o primeiro treinador. “O alemão sabe que o Isaquias ganhou aquela prova.” O choro continuou no hotel, à tarde toda e à noite. Novas ligações para Larissa o ajudaram a relaxar, mas o fantasma daquela queda ainda o atormentava. Durante a prova, Jesús viu seu pupilo colocar na água, no maior teste de sua vida, tudo que haviam treinado. Ao contrário de outros treinadores, ele percebeu que Isaquias havia caído antes de cruzar a linha de chegada. Quem o procurava para apertar sua mão e celebrar a vitória ouvia sempre
“conSeGUi Ser Uma PeSSoa na Sociedade GraçaS à canoaGem”, diz isaquias. Com as Conquistas, vieram a fama e a difiCuldade de lidar Com os Compromissos. “às vezes pareCe
“Sem-rim”: isaquias ganhou o apelido na infância, após cair sobre uma pedra e precisar extrair o órgão. ele também foi raptado e se queimou com água fervente
que falta ar” a mesma frase: “Ele não ganhou”. Jesús falou pouco com Isaquias após a queda. Mas ficou atento. Queria ver como o pupilo responderia no dia seguinte, quando iria defender seu título no C-1 500. “Foi muito cruel”, diz. “Ele não precisava ter feito aquele movimento no final, e aprendeu uma lição muito dura.” Em Ubaitaba, Figueroa Conceição não tinha dúvida do que iria acontecer no dia seguinte. Desde pequeno, diz ele, Isaquias rema melhor se está com raiva. Quando o atleta voltou ao Centro Desportivo Krylatskoye, os olhos ainda estavam irritados de tanto chorar, mas sua confiança havia voltado. O ouro no C-1 1000 não era dele, mas pela primeira vez o brasileiro tinha sentido que podia derrotar o alemão campeão olímpico. O desempenho na final do C-1 500 foi impressionante. Isaquias saiu atrás, mas logo tomou a dianteira. Após 200 m, a vantagem era tanta que, ele diz, já contava com o bicampeonato. Depois, ainda ganhou o bronze no C-2 200 ao lado do amigo Erlon Souza. “Mostrei que sou jovem, mas sei me virar”, diz. “Sou brincalhão, mas, na hora de ser homem, sei o que fazer, sei mostrar o rendimento de um atleta de alto nível.” De volta ao Brasil, o canoísta correu para a Bahia. Aceitou desfilar em carro aberto por Ubaitaba somente após muita insistência dos amigos. Queria mesmo era entrar debaixo da asa da mãe, comer o feijão bem temperado de Dilma, descansar e voltar um pouco a ser apenas aquele garoto arteiro. Por pouco tempo. No Mundial da Rússia, Isaquias aprendeu que existe só um sentimento que compensa a saudade e as dores da vida de atleta: o de chegar na frente. Um erro lhe tirou esse gosto neste ano. E ele garante: não vai deixar que isso aconteça de novo em 2016.
atletismo
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i n d o m á v e l AnA CláudiA lemos, A mulher mAis rápidA do BrAsil, é explosivA dentro e forA dAs pistAs. AgorA, elA tentA CAnAlizAr essA forçA pArA BrilhAr nAs Competições de Atletismo
por Mariana LajoLo fotos Edu LopEs/CLiCk dE GEntE
em busca de iluminação ana cláudia lemos costuma falar o que pensa, e isso já lhe causou problemas com outras atletas e até com o técnico
atletismo OS GAROTOS DA ESCOLA SÃO CRISTÓVÃO, em Criciúma (SC), não tinham dúvidas na hora de montar os times para jogar futsal. ana Cláudia lemos, a única menina que se aventurava a ir para a quadra, era sempre escolhida logo. a garota franzina, um “fiapo de gente”, como ela mesma se define, não se amedrontava com trombadas dos grandalhões, embora quase sempre levasse a pior. e sabia que tinha uma qualidade que a fazia levar vantagem sobre os meninos: ninguém era mais veloz do que ela. “não importava em que posição me colocavam para jogar”, lembra. “meu negócio era pegar a bola e correr para o gol. e eu corria muito.” Corria tanto que um dia o talento saltou aos olhos de uma professora que vislumbrou outro futuro para a garota. aos 13 anos, ana Cláudia foi convidada a representar a escola em um festival de corrida, o Projeto Correndo pelo Futuro, que até hoje acontece na cidade. descalça, percorreu os 100 m em 13s85 e recebeu o convite para treinar atletismo. e foi ficando cada vez mais veloz. Hoje, aos 25 anos, ana Cláudia é líder do ranking brasileiro dos 100 m rasos e recordista sul-americana da prova (11s05). Correr é o que ela sabe fazer melhor. Para atingir o principal objetivo da carreira, uma medalha nos Jogos olímpicos, a velocista, que se acostumou a deixar as rivais para trás, precisa aprender agora a correr atrás de quem é melhor que ela. Controle tem sido a palavra-chave para a atleta, que tem na explosão – na pista e fora dela – uma de suas principais marcas. no mundial de atletismo de moscou, na rússia, em 2013, ana Cláudia deixou escapar a vaga na final dos 100 m. após marcar 11s08 nas eliminatórias, fez apenas 11s25 na semifinal. Se tivesse repetido seu primeiro tempo, entraria na disputa por medalhas. da arquibancada do estádio lujniki, o treinador Katsuhico nakaya assistiu atônito ao desempenho de sua atleta. viu ana Cláudia largar mal e, segundo a segundo, perder o controle da técnica e das etapas da corrida, fazendo força para alcançar as adversárias. o técnico ligou o sinal de alerta. “ela correu contra
quatro atletas que estão num nível acima do dela”, diz nakaya. “Se continuasse no processo de cada fase de corrida, poderia passar as adversárias lá no final, mas ela queria se aproximar logo.” Contra atletas do mesmo nível, a brasileira não tem essa preocupação de ficar atrás. Corre como sempre faz e sabe que isso é suficiente. mas não é assim que se ganha uma medalha. Por isso, nakaya instituiu mudanças nos treinos e no planejamento de competições. “agora, a ana treina com homens, para aprender a se comportar melhor quando corre atrás e precisa ultrapassar as adversárias”, diz. o planejamento também inclui levar a atleta para fora do País, para competir contra velocistas mais fortes. Treinador e atleta haviam planejado disputar mais competições internacionais e enfrentar as melhores do mundo, mas uma série de lesões deixou ana Cláudia fora das pistas por boa parte da temporada. os problemas físicos fizeram a velocista aprender a controlar outros sentimentos. “Teve dias em que ela ficou insuportável”, diz nakaya. “Para um atleta de alto nível, é complicado não poder treinar, lidar com essas limitações.” Controle também tem sido uma palavrachave para a velocista quando o assunto é temperamento. ana Cláudia costuma falar sempre o que pensa. Ser taxada de brava e arrogante já levou a atleta às lágrimas muitas vezes. “não entendia as pessoas ficarem falando de mim sem saber quem eu sou”, afirma. “estou aprendendo a controlar esse meu lado, já pequei muito por falar a verdade. É ruim, desgasta muito.” ana Cláudia é esquentadinha desde criança. Certa vez, quando soube que o irmão mais novo tinha apanhado na rua, não teve dúvida em dar uma dura no garoto valentão. dedo em riste, ameaçou “arrebentar” o menino, caso aquilo ocorresse de novo. “ele tinha uns 7, 8 anos, era pequeno”, diz. “e eu lá, grandona, dizendo para o garoto avisar a mãe que se ela não desse conta dele eu daria.” o perfeccionismo da atleta também tem sido vigiado de perto por nakaya. a velocista se cobra muito e fica chateada com resul-
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a diFerença da Fração
o melhor tempo de AnA CláudiA lemos em 2014 A deixAriA A trÊs metros de distÂnCiA dA AmeriCAnA tori BoWe, A mAis rápidA do Ano nos 100 metros rAsos
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outubro/novembro 2014 FotoS: tArSo SArrAF\AGIF | ben HoSKInS/GettY
possibilidades a velocista tem apenas o 32º melhor tempo do ano no individual, mas o conjunto brasileiro do revezamento 4 x 100 m está entre os dez mais rápidos
tados ruins. mais: geralmente, não está satisfeita com o que faz nos treinos e quer trabalhar além do que o técnico pede. nas fases mais pesadas, treina até cinco horas por dia. “ela se cobra muito e acaba somatizando coisas negativas, e até sente dor”, afirma o treinador. Quando começou a treinar corrida, aos 13 anos, ana Cláudia dividia o tempo com o futsal, na época sua maior paixão. Só decidiu se dedicar totalmente às pistas quando levou uma bronca do então técnico roberto Bortolloto, que questionou sua capacidade de dar conta dos treinos de atletismo. “Queria mostrar que ele estava errado”, lembra. e deu certo. logo os resultados apareceram. ana Cláudia ganhou os estaduais menor e juvenil de Santa Catarina e começou a viajar para disputar torneios nacionais. em 2008, ainda recém-saída do juvenil, conseguiu vaga nos Jogos olímpicos de Pequim, como reserva. em Criciúma, a mãe, raimunda, acompanhava feliz e aliviada o sucesso da atleta. desde que a filha mais velha começou a correr, a tevê da casa fica ligada o dia todo nas datas de competição. e ninguém pode trocar de canal. Quando saiu do Ceará com a garota de 5 anos e se mudou para Santa Catarina, raimunda, faxineira e dona de casa, só esperava que ana Cláudia terminasse os estudos, algo que ela mesma não conseguiu – voltou à escola neste ano. logo que a filha começou a mostrar interesse por todo e qualquer tipo de esporte, a mãe passou a sonhar em ter uma professora de educação física na família. “nunca imaginei que ela fosse virar uma atleta”, diz. a menina saiu de casa aos 18 anos. Foi difícil para dona raimunda, que passou um ano dormindo à base de remédios. a ajuda da família foi essencial para ana Cláudia nos primeiros anos no atletismo. raimunda e Francisco, o pai, que trabalha com serviços gerais na Prefeitura de Criciúma, não tinham condições de pagar todas as despesas da filha. a mãe preferia caminhar até o trabalho para dar o dinheiro da passagem à atleta. Certa vez, precisou pedir ao padrinho de crisma da garota para comprar a jaqueta que ela usaria para viajar. raimunda deixou até de pagar contas de água e luz para comprar roupas e sapatos de treino. numa dessas vezes, a família acabou no escuro, com a luz cortada. “nada foi fácil, não caiu do céu”, diz ana Cláudia, que largou a faculdade de educação física por causa da agenda apertada de treinos e viagens.
10s80
(18 DE JULHO) = 9,25 M POR SEGUNDO
11s13
tori boWie (estados unidos)
(10 DE AGOSTO) = 8,98 M POR SEGUNDO
ana cláudia lemos (brasil) outubro/novembro 2014
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atletismo
ViDa CaRioCa
“foi o momento mais decepcionante da minha carreira”, diz ana cláudia sobre as acusações, não comprovadas, de que teria delatado colegas num escândalo de doping
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estrutura ana cláudia é atleta da bm&F bovespa. ela conta com técnico, fisioterapeuta, nutricionista e psicóloga
a fase de dificuldades passou. atualmente, ela consegue retribuir o investimento dos pais e ajudar os dois irmãos. a atleta é funcionária da Bm&FBovespa, uma das principais equipes de atletismo do País, que recebe apoio de Caixa, Pão de açúcar, nike e Prefeitura de São Caetano do Sul. a esportista também ganha salário da marinha do Brasil, tem patrocínio pessoal da nike e recebe Bolsa Pódio, do governo federal. Com a família longe, ana Cláudia procurou seu alicerce em São Paulo nas duas figuras masculinas com quem mais convive: nakaya e o noivo, Basílio. a parceria com o treinador começou em 2009, quando ela o procurou para treinar na Bm&F. a corredora chegou cinco quilos acima do peso ideal (hoje tem 55 kg e 1,56 m) e abalada pelo escândalo de doping em seu ex-time, a rede atletismo. naquele ano, cinco atletas da rede haviam testado positivo para eritropoietina (ePo, que aumenta a produção de células vermelhas no sangue) em um teste-surpresa feito pela Confederação Brasileira de atletismo. os técnicos Jayme netto e inaldo Senna assumiram ter ministrado a substância aos pupilos. Quando o escândalo estourou, pairou sobre ana Cláudia a suspeita de ter delatado o esquema de dopagem. “Foi o momento mais decepcionante da minha carreira”, diz. “me acusaram de algo que não fiz. Se eu tivesse delatado, teria assumido.” o episódio machucou. ela conta que outros esportistas a tratavam mal, nem olhavam mais para ela. “eu achava que talvez não tivesse força para continuar no atletismo”, diz. Se o escândalo da rede foi o momento mais difícil da carreira da velocista, o mundial de 2013 talvez tenha sido um dos mais frustrantes. além de não ter corrido bem na prova individual, ana Cláudia viu uma chance real de medalha escapar pelos dedos quando vanda Gomes deixou o bastão cair no revezamento 4 x 100 m. após a prova, vanda alegou ter passado “40 dias comendo e dormindo mal” na europa e disse que a equipe pouco treinou. a atleta foi suspensa. o episódio expôs um racha no time, que também tinha evelyn dos Santos, Franciela Krasucki e rosângela Santos, substituída por vanda na final. “eu fiquei muito abalada com aquele erro, que nunca havia acontecido com o revezamento”, diz Franciela, 26 anos. “mas temos que levar como um aprendizado.” Franciela afirma que discorda das afirmações de vanda sobre as condições de hospedagem, alimentação e treinamento. Hoje, a relação entre elas é profissional. “não somos melhores amigas, mas somos colegas de
profissão e uma depende da outra para vencer.” ana Cláudia é a velocista brasileira mais bem colocada no ranking mundial dos 100 m, com a 32ª marca deste ano. Franciela está em 59º e é a segunda do País na lista. os tempos ainda não as colocam entre as candidatas a medalhas em mundiais e olimpíadas em provas individuais, mas a velocidade das corredoras e a técnica apurada na troca dos bastões (exceção ao episódio do ano passado) deixam o revezamento com chances de subir ao pódio. neste ano, o time tem o décimo tempo do mundo. em 2013, obteve a sétima marca e, nos Jogos de londres-2012, ficou em sétimo lugar. “o atletismo feminino do Brasil tem sido mais valorizado”, diz ana Cláudia, que tem à disposição uma estrutura com técnico, fisioterapeuta, nutricionista e psicóloga. “Só preciso pensar em treinar. nunca foi tão clara a chance de subirmos ao pódio.” a Confederação Brasileira de atletismo recebe r$ 3,9 milhões por ano da lei Piva, além de patrocínio da Caixa econômica Federal, que renderá r$ 90 milhões de 2013 a 2016. “Hoje a gente consegue viver bem do atletismo. anos atrás, isso não acontecia”, diz Franciela, atleta do Pinheiros (SP). Uma das metas da equipe feminina, além de buscar o pódio no mundial de Pequim, em 2015, é conseguir deixar as desavenças fora das pistas. “eu aprendi a conviver em grupo, mas já foi mais difícil”, diz ana Cláudia. Para Franciela, o crescimento do revezamento serviu de incentivo para as atletas buscarem melhores marcas individuais, deixando a rivalidade entre elas mais saudável. “do mundial para cá, o jeito da ana Cláudia melhorou muito mesmo. e nós aprendemos a lidar melhor com ela também”, diz. além de investir no trabalho do revezamento, ana Cláudia tem metas ambiciosas para a carreira individual. Quando o assunto são as marcas que planeja alcançar, prefere a discrição e não fala em tempos ou cor de medalha. não consegue, no entanto, esconder um pensamento recorrente. Sempre sonha acordada com a olimpíada do rio, em 2016. imagina-se entrando no estádio João Havelange lotado, sente o frio na barriga e o calor da torcida em sua caminhada para a pista em que disputará a final olímpica. ela ouve o árbitro pedir a todos para ficarem em silêncio e, após o tiro de largada, a torcida explodir gritando seu nome. e corre o mais rápido que pode, como fazia quando pegava a bola dos garotos da escola em Criciúma. a velocista não conta exatamente como é o fim desse sonho, mas ele certamente inclui ana Cláudia no pódio, com uma medalha no peito.
digital retouch Helder Bragatel produção de moda Michelle Harue (beSociety MGT) beauty Alex Origuella (beSociety MGT)
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a farra do bolsa atleta
confederações driblam a lei e se aproveitam de brechas jurídicas para sugar milhões de reais dos cofres públicos e prejudicar o investimento nos verdadeiros campeões
por Demétrio rana ilustrações luciana oliveira
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Procure nos mecanismos de busca da internet qualquer referência ao Campeonato Brasileiro de Vela de 2013. Você não encontrará nenhum link. O erro não é do Google: a competição não existiu. Mesmo assim, o governo federal paga, mensalmente, por meio do Bolsa Atleta, algumas centenas de milhares de reais a velejadores que ficaram nas três primeiras colocações na disputa de cerca de 60 provas (apenas dez delas olímpicas) desse suposto campeonato. Esse é só um dos diversos modelos de fraude no Bolsa Atleta identificados pela reportagem da 2016. Em reunião do conselho técnico da Confederação Brasileira de Vela (CBVela) em abril de 2013, a entidade decidiu que só indicaria as dez classes olímpicas, as quatro pan-americanas e um total de 15 provas da categoria júnior ao Bolsa Atleta, programa criado no governo Lula e que é a vitrine esportiva da gestão Dilma. Só no primeiro edital de 2014, referente aos resultados esportivos de 2013 nas modalidades olímpicas, 6.667 atletas foram contemplados com valores que vão de R$ 370 (atletas de base e destaques em competições estudantis) a R$ 3.100 (atletas que estiveram em Londres-2012). Um novo edital, para as modalidades não olímpicas, foi aberto em agosto. No ano passado, essa chamada premiou mais 866 esportistas. Aquela decisão da vela, entretanto, acabou revisada na reunião de julho. Nela, estava presente Claudio Biekarck, que depois seria vice-campeão brasileiro de Lightning em 2013. Graças às mudanças nos critérios, ele receberá do governo mais de R$ 11 mil neste ano. A Associação Brasileira da Classe Lightning foi quem organizou o “Campeonato Brasileiro de Lightning”, na represa de Guarapiranga, com 15 barcos de São Paulo, um do Paraná e outro do Rio. O evento não cumpriu o que manda a Portaria 33, de 18 de fevereiro de 2014, que alterou o 11o parágrafo do artigo 30 da Portaria 164, de 6 de outubro de 2011. “Os eventos indicados, para efeito de concessão do Bolsa Atleta, serão considerados válidos somente se apresentarem cinco equipes ou competidores, de estados ou países diferentes, conforme o caso, à exceção de eventos de modalidades e provas do programa olímpico ou paraolímpico, que poderão apresentar número inferior de equipes ou competidores, mediante justificativa da entidade nacional de administração desportiva, aceita pelo Ministério do Esporte”, diz o texto. De 2011 até fevereiro, a legislação, no parágrafo 70 do mesmo artigo, exigiu repre-
sentantes de cinco Estados mais a federação organizadora (seis Estados, portanto), sem mencionar o mínimo de competidores de outros países em eventos internacionais. Para driblar a lei, a CBVela criou um Campeonato Brasileiro de Vela com 32 “etapas” separadas, em datas diferentes (na verdade, os campeonatos de classes) e com quase 60 provas adultas – contando masculino e feminino. Na maioria das disputas não olímpicas, como é o caso da Lightning, não havia barcos de cinco Estados diferentes, o que inviabilizaria a indicação da prova para o Bolsa Atleta. Via assessoria de imprensa, a CBVela explicou que a legislação fala em eventos, sem especificar nada sobre etapas. “O nosso Campeonato Brasileiro teve 14 Estados inscritos”, argumentou a entidade. Segundo a confederação, o Ministério do Esporte sempre esteve ciente do mecanismo, apesar de a pasta ser categórica: “A prova precisa ter mais de cinco competidores ou equipes de estados diferentes”. Não há qualquer referência, no site da CBVela, a esse suposto Campeonato Brasileiro, nem mesmo nas súmulas oficiais das competições disponíveis na internet. Questionada, a confederação não enviou as súmulas das competições para que fosse calculado o número de atletas que recebem a bolsa. A postura leniente do Ministério do Esporte (ME) com a CBVela contrasta com os critérios adotados perante outras modalidades. No começo de setembro, quando já estavam abertas as inscrições do edital das modalidades não olímpicas, a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP) notou, por conta própria, que o ofício enviado pelo ministério, avisando sobre a abertura do edital, ignorava as alterações na lei promovidas em fevereiro e não citava o mínimo de países. Aproveitando que estava em Brasília, a diretoria da CBHP foi ao ME, que reconheceu o erro. Ali, a coordenadora do Bolsa Atleta, Adriana Taboza de Oliveira, explicou que o mínimo de Estados é por prova, não por competição. “A patinação tem muitas provas e na maioria não tem cinco Estados. Em função de abusos, agora a prova tem que ter cinco Estados. Ela (Adriana) explicou pessoalmente. A lei fala claramente”, diz Moacyr Neuenschwander Filho, presidente da CBHP. No mesmo dia, ele redigiu um ofício pedindo que a exceção aberta a provas olímpicas valha também para aquelas que constam no programa dos Jogos Pan-Americanos, beneficiando as patinações artística e de velocidade.
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Como funCiona o Bolsa atleta o bolsa atleta é dividido em duas “chamadas”. na primeira, o ministério do esporte abre edital para as modalidades que fazem parte do programa olímpico ou paraolímpico. depois de encerrado o processo, com a divulgação da lista de contemplados, o ministério abre outra chamada, para as modalidades que não fazem parte do programa olímpico ou paraolímpico.
1a Chamada _
2a Chamada_
_olímpica/Paraolímpica atletas com mais de 16 anos que tenham disputado os jogos
não contempla categoria olímpica/paraolímpica
olímpicos/paraolímpicos imediatamente anteriores. r$ 3.100 mensais _internacional
internacional
atletas que ficaram entre os três primeiros em campeonatos
atletas que ficaram entre os três primeiros em campeonatos
internacionais indicados pela confederação da modalidade.
internacionais indicados pela confederação da modalidade.
valem mundiais, pan-americanos e sul-americanos. as provas
valem mundiais, pan-americanos e sul-americanos.
precisam ter participantes de cinco países, exceto as olímpicas/
todas as provas precisam ter participantes de cinco países.
paraolímpicas. r$ 1.850 mensais
r$ 1.850 mensais
_nacional
_nacional
atletas que ficaram entre os três primeiros na principal
atletas que ficaram entre os três primeiros na principal
competição nacional ou no ranking nacional. as provas precisam
competição nacional ou no ranking nacional em provas
ter participantes de cinco estados, exceto as olímpicas/
do programa pan-americano. elas precisam ter
paraolímpicas.
participantes de cinco estados.
r$ 925 mensais
r$ 925 mensais
_estudantil atletas de 14 a 20 anos, que ficaram entre os três primeiros de provas individuais dos jogos estudantis nacionais (escolares ou universitários) ou foram selecionados entre os destaques das modalidades coletivas.
como o orçamento da
r$ 370 mensais
segunda chamada é restrito a 15% do total,
_base
não há contemplação para
atletas de 14 a 19 anos, obrigatoriamente de subcategoria
categorias de base ou
iniciante, que ficaram entre os três primeiros na competição
estudantis.
individual indicada pela confederação ou que tenham sido eleitos um dos dez destaques das modalidades coletivas. r$ 370 mensais no ToTaL, o GoVerno reserVou r$ 180 miLHÕes Para o boLsa aTLeTa em 2013
Considerando apenas o valor de Bolsa naCional (r$ 925), somente no ano passado o governo federal pagou irregularmente r$ 3,096 milhões a atletas das modalidades beisebol (masculino) e softbol (feminino) outubro/novembro 2014
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A legislação que cobra um mínimo de Estados vem desde 2011, mas nunca havia sido exigida na patinação, conforme relata seu presidente. Situação idêntica vivia a Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol (CBBS), outra que cuida de modalidade pan-americana. Os campeonatos brasileiros historicamente reúnem apenas times de três Estados (São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul), mas só neste ano os eventos deixaram de ser válidos para o Bolsa Atleta. Se em 2013 foram 279 esportistas contemplados, o número vai cair para zero quando a próxima lista for anunciada, em novembro. Considerando apenas o valor de bolsa nacional (R$ 925), o governo federal pagou irregularmente R$ 3,096 milhões a atletas das modalidades beisebol (masculino) e softbol (feminino), somente no ano passado. Como comparação: neste ano, 20 das 29 confederações olímpicas brasileiras receberam menos de R$ 3 milhões da Lei Agnelo/Piva, principal fonte de recurso das entidades. “Pode ter havido um erro”, argumenta o secretário de alto rendimento do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser. “Essa regra é para todos. A lei precisa ser cumprida. Se não foi cumprida no outro ano, tem que ser agora.” O “erro” vem desde 2011 e só foi notado agora, apesar de qualquer busca na internet mostrar os resultados do campeonato brasileiro com apenas dois ou três Estados. Questionado, o Ministério não reconheceu o erro. Defendendo-se, alegou que a antiga redação do parágrafo 110 era dúbia, mas não citou o parágrafo 70 da Portaria de 2011: “A entidade nacional de administração de cada modalidade somente poderá indicar evento nacional no qual estejam representadas, no mínimo, cinco unidades da federação distintas da unidade da federação que sediará o evento”. O texto não deixa dúvidas. Por causa da mudança de postura do ministério, a Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol, que não recebe verbas da Lei Agnelo/Piva e vive de recursos próprios, acredita que o fim do apoio via Bolsa Atleta terá efeito cascata, uma vez que o dinheiro era utilizado, pelos atletas, para pagar viagens, técnicos e inscrições – esta, sim, sua principal fonte de dinheiro. “Pode ser irreversível para a modalidade, porque vai haver muita desistência”, lamenta o presidente da CBBS, Jorge Otsuka. “O único programa esportivo que realmente servia para os atletas nacionais era o Bolsa Atleta.” Otsuka já estuda mudar o formato do Campeonato Brasileiro, de forma que times
das sete federações estaduais associadas participem, ainda que com níveis técnicos muito discrepantes. Se para as competições nacionais a lei vinha sendo desrespeitada, nas internacionais, que distribuem bolsa mensal de R$ 1.850, até este ano não havia nenhum mecanismo que garantisse a “internacionalização” dos eventos aptos. E, apesar da mudança na legislação, o ministério segue aceitando bizarrices como o Campeonato Sul-Americano de MMA. “O Dragon Fight MMA Internacional, o maior evento do Rio Grande do Sul, vai dar Bolsa Atleta internacional do primeiro ao terceiro lugar de todas as categorias.” Foi assim que a Federação Gaúcha (FGMMA) anunciou, no Facebook, o evento realizado em Gramado, em outubro do ano passado. UFC? Que nada. Para o governo, foi esse campeonato na Serra Gaúcha, sem nenhuma repercussão em sites especializados, que definiu os três melhores atletas sul-americanos de MMA em 2013. Para admitir o MMA no Bolsa Atleta, dentro da chamada para categorias não olímpicas, o ministério deveria ter levado o caso ao Conselho Nacional do Esporte (CNE), conforme manda a Lei assinada pelo presidente Lula (n0 10.891/2004). “As indicações referentes às modalidades (não-olímpicas) serão submetidas ao CNE, para que sejam observadas as prioridades de atendimento à Política Nacional de Esporte e as disponibilidades financeiras”, diz o texto. Na única reunião do CNE até setembro, o tema não foi debatido. Até o ano passado, a modalidade não fazia parte do programa. “Estou surpreso com a inclusão do MMA no Bolsa Atleta. Para o Conselho Federal de Educação Física, MMA não é modalidade exclusiva. Se não é modalidade, não deveria estar no Bolsa Atleta”, reclama Jorge Steinhilber, presidente do Conselho Federal de Educação Física (Confef), um dos 22 membros titulares do CNE. O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem dois membros no CNE, mas disse que a questão deve ser respondida pelo Ministério do Esporte. O secretário de alto rendimento do ME, Ricardo Leyser, alega que é consenso que o MMA seja esporte (“A população e a imprensa dizem isso”) e que por isso o tema não foi levado ao CNE. Questionado sobre outras modalidades, como a dança esportiva, disse que, neste caso, seria necessária consulta. Posteriormente, a assessoria de imprensa da pasta afirmou que, em 2010, o CNE aprovou que, a partir daquele momento, o ministério estipularia os critérios de concessão de forma
para admitir o mma no Bolsa atleta, dentro da Chamada para Categorias não olímpiCas, o ministério deveria ter levado o caso ao conselho nacional do esporte (cne). na única reunião do cne até setembro, o tema não foi debatido
que as modalidades que os cumprissem seriam declaradas aptas ao pleito. A ata da reunião citada, porém, diz algo muito diferente: “O secretário (Leyser) propôs que (...) as próximas propostas de concessão fossem encaminhadas antecipadamente aos membros do CNE, com tempo hábil para uma análise mais detalhada. Todos aprovaram”. O Dragon Fight aconteceu em formato de GP (com um atleta lutando até cinco vezes em um dia, de acordo com os organizadores), mas é impossível encontrar os resultados na internet. De acordo com Ronnie Lincoln, presidente da Federação Gaúcha de MMA, a competição reuniu “uns oito ou nove” atletas de outros países entre 104 competidores. “A gente convida; se eles não vêm, a gente não pode fazer nada”, disse. Na página da suposta CBMMA, reconhecida pelo ministério, há apenas um texto explicando o que é MMA e um telefone inexistente. O governo só vai divulgar em novembro a lista de contemplados no edital de modalidades não olímpicas, mas, se respeitar a legislação, vai recusar os pedidos de eventos como o citado Dragon Fight e o Mundial de Jiu-Jitsu Esportivo (que não é o jiu-jitsu tradicional), realizado em São Paulo, com 396 categorias, combinando faixas etárias, graduação, peso e gênero. Só 18 são válidas para o Bolsa Atleta, uma vez que, em 2012, para tentar amenizar a farra de concessão de benefícios, a legislação ganhou um mecanismo que limita as bolsas a três categorias de peso por gênero e faixa etária em uma mesma competição. “As lutas em geral foram o motivador de o ministério restringir a concessão do Bolsa Atleta”, diz Leyser. “Foi a falta de critérios técnicos que criou essa necessidade de restringir. Se houver outras situações, a gente pode restringir ainda mais a concessão.” Mesmo assim, na lista de eventos e provas aceitos para o edital 2014, o ministério relacionou o suposto
Mundial, o Pan e o Sul-Americano de Jiu-Jitsu Esportivo, que praticamente só reuniram atletas brasileiros. No Mundial, em categorias como a médio e a pesado feminino, só havia uma lutadora inscrita – e ela era brasileira. As recorrentes tentativas de burla nas modalidades não olímpicas, citadas por Leyser, são fruto mais uma vez de uma política leniente. Afinal, o ministério (quase sempre sem consultar o CNE) praticamente não impõe restrição à inclusão de modalidades. A capoeira não entra porque é entendida como atividade artística, mas existem oito modalidades, de sete confederações nacionais diferentes, que se chamam “caratê”. “O nome é o mesmo, mas a prática é distinta”, alega o secretário. No total, são 20 modalidades de luta (uma delas chamada de “artes marciais”) entre as mais de 50 aceitas nas categorias não olímpicas. Enquanto o Ministério do Esporte cria mecanismos legais para barrar tentativas recorrentes de burla nas modalidades não olímpicas, na chamada para as olímpicas e paraolímpicas a Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) faz a festa há anos, sem qualquer restrição. “Nós administramos 12 modalidades do esporte chamado canoagem”, explica João Tomasini, que desde a fundação da CBCa, em 1989, é o presidente da entidade. Só três modalidades (slalom, velocidade e paracanoagem) fazem parte do programa olímpico/paraolímpico. Entre as outras nove estão o caiaque polo (jogado com bola e gol) e o rodeio (surfe dentro da canoa). Não é necessário entender muito de olimpismo para perceber que estas não são modalidades olímpicas. “Essas modalidades foram indicadas porque podem formar um atleta olímpico”, argumentou Tomasini. “Mesmo que isso desrespeite formalmente a lei?”, questionou a reportagem da 2016. Foi quando surgiu um compromisso para Tomasini, que teve de desligar
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as expliCações do ministério do esporte em conversa de mais de duas horas por telefone com a 2016, o
informar o número da conta bancária. o tempo total para o trâmite é
secretário de alto rendimento do ministério do esporte, ricardo leyser,
de até 30 dias, prorrogáveis por mais 30. a pasta considera que, “nesse
sempre que questionado sobre denúncias de irregularidades no bolsa
espaço de tempo, as partes (ministério, confederação e atleta) podem
atleta, exaltou os “100% de transparência” do processo. segundo
retificar dados ou cancelar o pedido de bolsa”.
ele, cabe à população e à imprensa checar a lista de contemplados e denunciar irregularidades. uma semana depois, o ministério do esporte respondeu aos
durante toda a conversa, leyser não citou nenhuma vez que a lista divulgada no “diário oficial” não é definitiva. além disso, em dez anos de bolsa atleta, em nenhum momento o ministério divulgou
questionamentos feitos por escrito pela reportagem. a assessoria
a lista de “bolsistas”, apenas de “contemplados”, dando sempre a
da pasta alega que a lista divulgada no “diário oficial” é de
entender que todos os listados recebem a bolsa.
“contemplados” e que não necessariamente esses 6.667 atletas
questionado sobre casos em que um “contemplado” não virou
serão “bolsistas”, uma vez que ainda há um prazo para checagens.
“bolsista” por irregularidades, o ministério alegou não possuir dados.
de acordo com o próprio ministério, no entanto, o prazo existe para
a planilha de cancelamentos mistura casos de falta de documentos
que o esportista possa assinar e enviar o termo de adesão e também
com outros de documentação irregular, segundo a pasta.
o telefone. No dia seguinte, novo compromisso. Depois disso, foram enviados três e-mails, mais os trocados com a assessoria de imprensa. Na última ligação, a resposta aos questionamentos da revista estava sendo “redigida naquele exato momento”. Passaram-se vários dias, até o fechamento desta reportagem, e a CBCa não explicou por que indica nove modalidades não olímpicas na chamada olímpica. A equipe campeã mundial de rafting em 2013, pelos critérios do Bolsa Atleta, teria direito aos R$ 1.850 mensais em um ou outro edital. Mas a legislação é clara ao vetar a bolsa da categoria nacional (para atletas que tenham conquistado do primeiro ao terceiro lugar em competições brasileiras) em modalidades não olímpicas. Apesar de o próprio site da CBCa informar que tem 11 “modalidades”, o Ministério do Esporte não admite o erro e diz que o COI considera a canoagem um “esporte ou modalidade esportiva, assim como a vela”. “As práticas (canoagem polo, rafting) são derivações do esporte/ modalidade canoagem, o que permite incluí-las na primeira fase de concessão”, informa a entidade. A Confederação Brasileira de Triatlo (CBTri), porém, contraria o ministério. Em nota oficial, publicada em julho, avisou aos atletas que a pasta não havia aceitado incluir suas modalidades não olímpicas (aquathlon, duathlon, longa distância e sprint triatlo) na categoria nacional, que é restrita às modalidades olímpicas. 000 istoé 2016
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Outras confederações não têm dúvidas em tomar a decisão correta do ponto de vista legal. A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) indica (e o ministério aceita) as ginásticas artística, rítmica e de trampolim na chamada olímpica e a aeróbica na não olímpica. O mesmo fazem as confederações de handebol, tênis e futebol com as versões de praia desses esportes. A Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) tem uma postura ainda mais nobre. Indica atletas das provas de salto, adestramento e CCE (olímpicas) e deixa de fora do Bolsa Atleta todas as outras sete modalidades disputadas inclusive nos Jogos Equestres Mundiais. “Estamos focados em 2016”, diz Luiz Roberto Giugni, presidente da entidade. “Ajudamos como podemos, mas não indicamos para o Bolsa Atleta. Estipulamos metas, premiamos a meritocracia, então tem que ter resultado. Desde que assumimos a CBH, há sete anos, acabamos com o apadrinhamento nas bolsas.” O contraponto ao hipismo vem do tiro esportivo, que busca brechas na lei para beneficiar o maior número possível de atletas, ainda que com merecimento questionável. A modalidade teve 345 esportistas contemplados com bolsa neste ano, contando os para-atletas. Só na Fossa Double, são nove beneficiados pelas conquistas no Campeonato Sul-Americano que recebem R$ 1.850 mensais do governo. Como isso é possível? Simples: basta considerar a prova por equipes. Nela, participaram quatro trios brasileiros, que ficaram nas quatro primeiras posições. Sim, você leu certo: uma competição sul-americana
com quatro equipes brasileiras. A Fossa Double é prova olímpica, a disputa teve times de cinco países diferentes e não há nenhuma restrição legal para que resultados em eventos coletivos em modalidades individuais não tornem o atleta apto a receber o Bolsa Atleta. Na competição por equipes do tiro esportivo, as pontuações obtidas nas provas individuais são somadas – não há uma disputa em separado. Já no Campeonato Brasileiro, na Fossa Double, apenas dois times tinham os três atletas que normalmente compõem uma equipe. Por isso, já largavam em vantagem na obtenção do benefício. O terceiro colocado, que tinha duas pessoas no conjunto, naturalmente superou os demais “times”, que tinham só uma pessoa cada um. Esse é o questionável mérito para receber o Bolsa Atleta. Tudo dentro da lei. Afinal, havia cinco Estados e cinco equipes. Também não há nenhuma restrição legal ao que faz a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM). No Campeonato Brasileiro, há a disputa individual, por duplas, por equipes interclubes e a por equipes interestados. Quanto mais medalhas de ouro em jogo, mais possibilidades de Bolsa Atleta, afinal. Tudo dentro da lei. O risco é outras modalidades assumirem a mesma postura. Como exemplo, os três primeiros colocados na disputa por equipes do Brasileiro de Natação deste ano (Minas, Corinthians e Pinheiros) somaram 162 atletas. Considerando também os campeonatos nacionais juvenil e infantil, são potenciais 373 atletas sugando R$ 4,14 milhões do Bolsa Atleta todos os anos. Tudo dentro da
lei. Mais do que isso: com o respaldo e o apoio do ministério, que indica haver um saco sem fundo de dinheiro. “Se houver atletas brasileiros ocupando as três primeiras colocações, respeitando a representatividade mínima de participantes por prova, eles terão direito de pleitear o benefício. O objetivo é aumentar o número de beneficiados”, informa a pasta. Enquanto isso, algumas modalidades ficam em um beco sem saída. É o caso do ciclismo BMX, compreendido pelo Ministério do Esporte como potencial medalhista em 2016. Dos sete melhores brasileiros do ranking mundial, todos com chances reais de estarem na Olimpíada, dois fazem parte do Plano Brasil Medalhas, um recebe bolsa internacional e os demais têm que se virar com R$ 850 por mês. Como a CBC (ciclismo) segue a legislação à risca e os pódios sul e pan-americanos são disputadíssimos – a Colômbia ganhou duas medalhas na última Olimpíada e os EUA são referência na modalidade –, não há para onde correr. Entre as três categorias etárias, só seis brasileiros recebem bolsa internacional no BMX: o Brasil é oitavo do ranking mundial entre 42 países. O leitor já viu lá atrás: são nove premiados pelas conquistas por equipes na Fossa Double no tiro esportivo – o time foi 11O entre 13 equipes no Mundial. Parece uma premiação ao contrário. Quem aproveita as brechas jurídicas ganha medalha de ouro. Quem segue os critérios à risca sai do pódio.
PARAOLÍMPICOS
NO RÚGBI EM CADEIRA DE RODAS, NÃO HÁ COITADINHOS NEM MISERICÓRDIA: A ORDEM É JOGAR DURO E EXPLORAR AS DEFICIÊNCIAS DO ADVERSÁRIO. E O BRASIL É BOM NISSO POR RAUL MONTENEGRO FOTOS EDUARDO ZAPPIA
UM DOMINGO DE “MURDERBALL”
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pancadaria atletas de Brasil e colômbia brigam pela bola em partida de rúgbi em cadeira de rodas. apesar das severas deficiências de muitos dos esportistas, o jogo é duríssimo
PARAOLÍMPICOS
“UH, UH, UH, UH, UH, UH” UH”... UH” “UH, UH”. Num ginásio em Niterói (RJ), sob um calor de 30ºC de uma tarde de domingo, sons de aspecto tribal antecediam um conflito entre homens em cadeiras de rodas. “Uh, uh, uh, uh. Rúgbiiiii! BRASIL! Uh, uh, uh, uh. Rúgbiiiii! BRASIL!”, berravam a plenos pulmões os jogadores da seleção brasileira de rúgbi em cadeira de rodas, que se chocaram – literalmente – com nove equipes sul-americanas no Big Maximus, campeonato internacional da modalidade. É fácil perceber por que os brutamontes do rúgbi tradicional não durariam um minuto na quadra em que é disputada a versão para deficientes. As cadeiras fortificadas são repletas de riscos e marcas de batalha que lembram um veículo de guerra – não à toa, a estética da competição é cheia de alusões às carruagens dos gladiadores romanos. O primeiro nome da modalidade, que surgiu em 1977, no Canadá, foi “murderball” (o que seria algo como “assassinatobol” em português). Anos depois, o nome foi alterado para não afugentar os patrocinadores. Cada time é formado por quatro atletas que jogam numa quadra com cones no lugar dos gols. Um ponto é marcado quando o jogador atravessa os cones carregando a bola. É permitido, claro, o contato
entre as cadeiras para atacar e barrar o avanço da equipe rival, mas tocar no corpo do oponente é ilegal. O esporte foi criado e até hoje é praticado majoritariamente por tetraplégicos. Ao contrário do que se pensa, os tetras não são pessoas que só conseguem se movimentar do pescoço para cima. Muitos deles mexem braços e tronco, apesar de essa movimentação ser reduzida. Amputados e aqueles com outros problemas (como paralisia infantil e cerebral) também podem participar, desde que tenham deficiência nos membros inferiores e superiores. Os participantes são classificados de acordo com sua funcionalidade e recebem uma pontuação de 0,5 a 3,5. Quanto mais baixo, menor a mobilidade. Os 0,5 normalmente não têm movimentação dos dedos, punhos e possuem dificuldade de estender o braço. Já os 3,5 podem trabalhar com os dedos, punhos e tronco, o que permite dar mais velocidade à cadeira, fazer movimentos ágeis e passar a bola com mais precisão. Um time pode entrar com até 8 pontos em quadra: os pontos mais baixos jogam na defesa, enquanto os pontos altos têm função de ataque. O jogo daquela tarde, Brasil e Colômbia, foi o melhor do torneio. As duas seleções são as mais
fortes da América do Sul, e o Big Maximus valia quatro vagas para os Para-panamericanos de 2015, em Toronto, no Canadá. Antes do apito inicial, os atletas já suavam enquanto o sol das 15h entrava na quadra da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos, local da competição. Não havia arquibancadas, mas cadeiras de plástico e tendas alaranjadas da prefeitura davam conforto e impediam o público de sofrer insolação. Foi após um breve aquecimento que a ação começou de fato, com a bola ao alto que marca o início das partidas. Os juízes ainda conversavam entre si, mas os jogadores já agitados se movimentavam em quadra, dando pequenas batidas uns nos outros. Foram os colombianos que obtiveram êxito na primeira ação do jogo, e a bola acabou sobrando para Alonso, craque deles, que não tem as mãos e enrola as extremidades dos braços com um monte de fita adesiva para manejar a pelota. Também foi da equipe rival o ponto número um, com menos de 20 segundos contabilizados. A seleção brasileira empatou logo depois, e os lances iniciais deixavam claro que fortes pancadas e quedas dariam a tônica da disputa. Até o 4 x 4, foi toma lá, dá cá, sempre com o Brasil pontuando da mesma forma: passe de longa distância e um atacante disparado na frente. A partida revivia os primeiros confrontos da modalidade na América do Sul, em 2008, quando o esporte chegou por aqui. Naquela época, ninguém sabia direito o que era aquilo. Os poucos corajosos que tentavam jogar muitas vezes se amarravam nas cadeiras com fitas em vez de um cinto apropriado – e o Brasil vira e mexe era surrado por colombianos e argentinos. “Eles começaram junto com a gente e dão trabalho”, afirma Alexandre Taniguchi, o Japa, atacante de 28 anos e 2,5 pontos de funcionalidade. A tensão da torcida até aquele momento refletia a paridade do jogo. O barulho mais alto vinha do banco colombiano, com gritos de “vamos” e “pasión, pasión”. No público, formado por cerca de 100 pessoas, a maioria de atletas e familiares, o pai de um jogador adotava ares de técnico. “Passa. Recua. Avança”, dizia. Os poucos que viam o esporte pela primeira vez davam risadinhas nervosas a cada trombada, mas logo o ritmo frenético envolveu todos na dinâmica da partida. Em quadra, pela primeira vez o Brasil descolou no placar após dois dos quatro jogadores colombianos ficarem de fora por 1 minuto por causa de faltas. 6 x 4. Daí em diante a seleção ficou à frente no marcador, mas o sufoco não passou com o fim do primeiro quarto, que terminou em 13 x 11. A maioria está numa cadeira de rodas por causa de acidentes na água, incluindo os quatro titulares do Brasil. Japa e os também atacantes Bruno Ferreira (27 anos, 2,5 pontos) e Davi Coimbra de Abreu (25 anos, 2,5 pontos) se acidentaram ao mergulhar numa piscina durante festas com a família e os amigos. O defensor Gilson Wirzma Junior (27 anos, 0,5 pontos) foi furar uma onda em 20 de fevereiro de 2007, terça-feira de Carnaval, quando bateu a cabeça no fundo de uma praia
duas rodas os atacantes davi, Bruno e Japa (à esquerda, de cima para baixo). os dois primeiros, sobre suas cadeiras de jogo. o último, com a que usa no dia a dia. na página ao lado, jogo entre Brasil e colômbia
em Quissamã (RJ). “Tinha bebido bastante, estava pulando bloco num calor danado e fui dar uma de corajoso no mar agitado”, diz. “Como sempre fui zoador, meus amigos acharam que eu estava brincando e fiquei um minuto embaixo d’água até ser resgatado.” Outros atletas sofreram acidentes de carro, mas a luta maior de todos eles começou depois, no hospital, com a operação e a fisioterapia. “Minha sétima vértebra explodiu, e os médicos colocaram uma de titânio no lugar”, conta Davi. “Fiquei 3 meses sem conseguir falar, sem conseguir fazer nada.” No segundo quarto, uma das pesadas cadeiras de batalha quebrou. Num esporte com alto nível de impacto, essa é uma situação comum, e o mecânico do time tem até 1 minuto para fazer o reparo dentro de quadra. Caso contrário, o jogador é substituído para que o conserto seja realizado. Dessa vez, o brasileiro Alexandre Giuriato teve um pneu furado, e a troca durou pouco mais de 10 segundos. Os jogadores que naquela tarde executavam com naturalidade passes compridos, dribles girando a cadeira 360º e piques de velocidade sobre equipamentos modernos ingressaram no esporte de forma bem diferente. Japa e Bruno conheceram o rúgbi numa associação de esportes adaptados de Campinas (SP). Já Davi e Junior saíram da reabilitação do hospital Sarah Kubitschek, em Brasília (DF), diretamente para a modalidade. As duas cidades são os maiores celeiros do País, ao lado de Curitiba (PR). Foi só após se firmarem que eles compraram as cadeiras, que custam até R$ 10 mil (as usadas no dia a dia, bem menores e sem reforços, custam R$ 2 mil). Como a maioria dos atletas precisa pagar pelos próprios equipamentos e não tem rendimento muito alto com suas bolsas e aposentadorias (alguns não recebem nem isso), eles normalmente adquirem cadeiras de segunda mão de esportistas americanos. Ainda na segunda etapa, a formação mudou várias vezes, em parte para que os adversários não se acostumem com as jogadas, em parte porque o Brasil possui um bom banco e pode se dar ao luxo de revezar, exigindo 100% dos jogadores. Assim, a equipe deslanchou e abriu dez pontos de vantagem. Como no rúgbi tradicional, o resultado se construiu com o uso dos braços e do cérebro. Com Bruno (2,5), Davi (2,5), Japa (2,5) e Junior (0,5) a seleção alocou precisamente os oito pontos de funcionalidade que poderia gastar (como o esporte é misto, a regra permite 0,5 ponto a mais para cada mulher em quadra, mas ainda são poucas as que jogam no País). Contra a Colômbia, a estratégia foi pressionar os atletas com pontuação alta para que os que possuem deficiências mais severas fossem obrigados a tocar – e perder – a bola. Como os
tempos para passar do meio do campo e marcar um gol são limitados a 12 e 40 segundos, respectivamente, o Brasil conseguiu forçar o erro dos adversários. “No ataque, tentamos aliviar nossa principal opção de passe, o Davi, no momento da preparação da jogada”, diz o técnico Luís Gustavo Pena. “Coloquei o Japa na transição por causa de sua boa leitura de jogo e agilidade. E o Bruno a gente põe para cobrar porque ele tem um bom passe longo.” Com a tática, o Brasil deslanchou nos últimos quartos e alargou ainda mais o placar. Nesse momento, a torcida começa a entoar “eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Nem o sol batendo contra o ataque nacional na etapa final impediu o avanço naquela que prometia ser a partida mais dura do torneio. Até ali, a seleção ganhara todos os jogos com relativa facilidade: 54 x 4 sobre o Chile, 56 x 6 contra Chocó (um departamento colombiano que entrou no lugar da Bolívia) e 65 x 30 em cima da Argentina. Em novembro de 2008, Japa e Bruno viram uma realidade bem diferente como dois dos convocados da primeira formação de um time nacional. Participaram do Big Maximus inaugural, em Bogotá, que contou com brasileiros, colombianos, argentinos e uma equipe formada por voluntários americanos e canadenses. Davi e Junior foram chamados só depois. “Alguns países começaram no esporte agora, mas a Colômbia ensinou o Brasil a jogar”, diz Luiz Claudio Pereira, presidente da Associação Brasileira de Rúgbi em Cadeira de Rodas. “Só que fomos aprender nos Estados Unidos, no Canadá e Europa, progredimos, e eles ficaram no mesmo nível.” O jogo acabou em 56 x 32. Jogadores e comissão técnica se abraçaram e comemoraram sabendo que, hoje, o Brasil está na 19ª posição do ranking mundial e ficou com uma das vagas para o Para-Panamericano, ao lado de Argentina, Colômbia e Chile. Eles não esqueceram, porém, que a seleção jogará contra as sete melhores do mundo na Paraolimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Não falta motivação. “Não quero ir lá só marcar presença e tirar foto”, afirma Bruno.
garra o atacante rafael Hoffmann durante a partida mais disputada do torneio Big Maximus, em niterói (rJ). o Brasil aprendeu o esporte com os colombianos, mas já os superou
no Jogo contra a seleção coloMBiana, a estratégia foi pressionar os atletas com deficiências mais severas para que eles fossem obrigados a tocar, e perder, a bola
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saúde
a m e a ç a s i l e n c i o s a Novos testes AUXILIAM NA IDeNtIFICAÇÃo DA CoNCUssÃo CeReBRAL, MAL QUe ACoMete AtLetAs De vÁRIAs MoDALIDADes e QUe, QUANDo sUBestIMADo, PoDe teR CoNseQUÊNCIAs PeRMANeNtes
por mônica tarantino
o jogADoR URUgUAIo ÁLvARo PeReIRA se emocionou com a vibração da torcida do São Paulo quando ficou em campo mesmo depois de ter desmaiado. A disputa de bola pelo alto com Bruno Lopes, do Criciúma, em agosto, terminou em uma cabeçada na nuca de Pereira que o fez cair desacordado no gramado. Saiu carregado, mas, assim que acordou, disse ao médico do time, Auro Rayel, que queria ficar em campo. O doutor discordou, Pereira insistiu e permaneceu na partida. Quatro minutos depois, o atleta roubou a bola na defesa, disparou para o ataque e abriu caminho para o gol que garantiu o empate. A arquibancada explodiu em festa. Após o jogo, o uruguaio passou mal nos vestiários e foi levado ao hospital. Os exames de ressonância magnética não indicaram traumatismo, mas a questão não era tão simples. Pereira tinha sofrido uma concussão grave. Em entrevistas posteriores, o atleta disse que não lembrava do que tinha acontecido imediatamente após a trombada. Não sabia nem mesmo como tinha deixado o campo. “Lembro só que pedi para entrar rápido”, afirmou. Em junho, na Copa do Mundo, o lateral-esquerdo tinha vivido situação semelhante. No jogo Uruguai x Inglaterra, levou uma joelhada no rosto e caiu desmaiado. Assim que acordou e percebeu que o médico da seleção fazia gestos para substituí-lo, disse que continuaria em campo. A coragem que balançou as torcidas, porém, contraria as mais recentes descobertas da ciência sobre o modo correto de agir após uma concussão. A falta de memória de Pereira é um dos sinais de que o cérebro sofreu um abalo forte o suficiente para deixar sequelas no curto e no longo prazo. Em geral negligenciado pelos atletas, esse tipo de trauma, mesmo que pareça leve, preocupa cada vez mais os médicos e cientistas. Um robusto conjunto de pesquisas realizadas em centros importantes como a Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, e a Universidade de Melbourne, na Austrália, mostra que as concussões podem resultar em sintomas como alterações de humor, tonturas e dores de cabeça por tempo prolongado. E mais: que voltar a jogar com o cérebro abalado pelo impacto pode ter outras consequências, como diminuição da atenção, da concentração e da velocidade de reação e planejamento, cruciais no esporte. “São efeitos que podem durar anos se não forem tratados”, disse à 2016 o neurocientista Michael Collins, de Pittsburgh. Muitas pesquisas investigam também as relações entre a concussão e danos neurológicos no longo prazo. Os traumas cumulativos aumentam a deposição de proteínas no cérebro, o que eleva muito as chances de males degenerativos. Fazem parte dessa lista a demência, a doença de Alzheimer e um problema circulatório causado pelo depósito de placas de gordura nas artérias que irrigam o cérebro.
dor de cabeça Henrique Moniz, jogador de polo aquático, bateu a cabeça, desmaiou e sofreu uma concussão quando tentava recuperar suplementos de dentro de uma van
outubro/novembro 2014 foto: pedro dias/ag. istoé
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No caso de Pereira, a repetição dos desmaios e a falta de memória levaram os médicos do São Paulo a pedir uma avaliação mais completa. Queriam saber se o cérebro dele havia se recuperado do choque. A resposta foi não: Pereira tinha lesões funcionais. O lateral foi então avaliado com as mais modernas tecnologias existentes para mensurar os danos da concussão ao cérebro. É uma metodologia que começa a se espalhar pelo mundo. Ela chegou há um ano ao País pelas mãos do médico do esporte Moacir Silva Neto, de Brasília, e de Ricardo Eid, de São Paulo. Em 2007, Silva Neto foi estudar na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, com o renomado Collins. Voltou com conceitos novos e exames que permitem identificar traumas cerebrais que podem passar despercebidos pela tomografia computadorizada ou pela ressonância magnética. Depois, foi à Universidade de Melbourne conhecer as pesquisas do neurocientista David Darby, pioneiro no desenvolvimento de testes computadorizados para medir alterações em funções como a velocidade de processamento de informações e a concentração. Já Eid foi duas vezes a Pittsburgh e é coordenador do Ambulatório de Concussão da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os testes neurocognitivos são o grande achado da medicina para avaliar o funcionamento cerebral. Um dos mais comuns é o sistema Impact, que pode ser usado em jovens a partir de 12 anos de idade. Em uma das atividades, o atleta observa uma sequência de figuras geométricas. Depois, nova sequência é exibida para que o indivíduo identifique figuras já vistas. Outro teste mostra um cenário parecido com um jogo da velha. A tarefa é reconstituir a distribuição dos sinais. Há também “joguinhos” com números, cartas de baralho, pássaros, cores, palavras. Cada clique certo e também o tempo que a pessoa leva para selecionar opções valem pontos. “São atividades que permitem avaliar aspectos do funcionamento cerebral como a velocidade de reação, planejamento e memória”, diz Eid. A recomendação dos especialistas é que esses testes sejam realizados quando o atleta está saudável. Caso sofra algum trauma, os dados de base servirão de comparação para entender a extensão dos danos. Na falta do exame prévio, os resultados são confrontados com dados padronizados por sexo e idade.“O tratamento, o tempo de repouso e o afastamento das atividades físicas varia conforme a pessoa”, diz a neuropsicóloga Mariana Assed, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
HiStóriaS de iMPacto Depoimentos De atletas que levaram pancaDas aparentemente inofensivas na cabeça, mas acabaram sofrenDo as consequências
“Em abril, durante um campeonato, levei um golpe e desmaiei. No hospital, fiz exames de imagem e o médico disse que não havia traumas. Depois de dois dias eu não conseguia prestar atenção em nada e minha visão estava embaçada. Fui procurar um médico do esporte. Nos testes para avaliar sintomas de concussão, só acertei 30% das questões. Isso confirmou o diagnóstico. A ordem foi ficar quieto em casa. Fiquei um mês sem fazer nada. Quando repeti os testes, acertei 98% das questões. Só então voltei a lutar normalmente.“ vinícius Dias de Carvalho, 16 anos, campeão paulista sub-18 de judô em 2013
Estava na Croácia com a seleção brasileira de polo aquático. Depois de um treino puxado, queria pegar meus suplementos na van da equipe, que estava trancada. Achei que conseguiria entrar pulando por uma janela aberta. Calculei errado e bati a cabeça. Apaguei e, quando voltei, estava desnorteado. A cabeça doía muito. Eu não ia falar nada e estava esperando o mal-estar passar, mas por acaso comentei sobre o incidente. O médico ouviu e ficou preocupado. Imediatamente pediu que eu fizesse testes de cognição. Meus resultados estavam todos fora da curva. Fiquei três dias em repouso total e não pude jogar até o final da viagem. De volta ao Brasil, descansei mais uma semana. Só fui liberado quando repeti os testes e deu tudo normal. Henrique Moniz, 28 anos, vice-campeão sul-americano em 2012 pela seleção brasileira de polo aquático
“Em 2013, quanto jogava pelo Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, levei uma pancada na cabeça durante uma disputa de bola. Levantei do chão e continuei na partida, mas acabei o jogo muito tonto. Fiz uma tomografia, mas não havia lesão, apesar de eu sentir tontura. Procurei um especialista. Ele pediu que eu fizesse testes de computador. Depois explicou ao meu treinador que era necessário me liberar por duas semanas de qualquer atividade. Eu só voltaria a jogar quando os mesmos testes dessem resultados normais.” Ketlen Wiggers, 22 anos, atacante do clube de futebol do centro olímpico de São Paulo
foto: emiliano capozolli | kelsen fernandes | pedro dias/ag. istoé
receituáriO conheça os sintomas e o que está muDanDo no Diagnóstico e terapia Da concussão cerebral _O que é trauma cerebral provocado por uma pancada ou choque na cabeça
_LOngO PrazO os sintomas podem se exacerbar e se manter por
ou em qualquer área do corpo que possa produzir impacto sobre a cabeça.
meses se o tratamento adequado não for ministrado no momento da
_quem está sujeitO no esporte, qualquer um que pratique modalidades
lesão. É o que se chama de Síndrome Pós-concussão.
de contato ou que envolvam mecanismos súbitos de aceleração e
_temPO de recuPeraçãO as lesões tendem a regredir até a
desaceleração.
normalidade. no entanto, é necessário esperar, em média, dez dias até
_PrinciPais sintOmas o sintoma mais comum é a dor de cabeça. Pode
que o cérebro se recupere. traumas consecutivos podem levar a danos
haver náusea, tontura, vômito, dificuldade de concentração, mudança de
cognitivos permanentes e favorecer lesões sérias.
humor e nos padrões de sono, fadiga, confusão, alterações de visão e no equilíbrio. em casos mais graves, há desorientação e perda da memória.
PacienteS e doutoreS o médico ricardo eid, a jogadora de futebol Ketlen Wiggers e o judoca Vinícius de carvalho: diagnóstico mais preciso ajuda a evitar danos no longo prazo
A questão é se há vantagens reais em investir na avaliação mais detalhada das funções cognitivas. Na opinião do médico Silva Neto, um dos problemas que ela ajuda a resolver é a disposição dos atletas de diminuir a importância dos sintomas. “Em geral, eles atribuem dores de cabeça e sono após uma pancada na cabeça ao treino puxado”, afirma ele. “Chegam a se omitir para não deixar de treinar.” Segundo Silva Neto, essa atitude aumenta os riscos. “Sofrer um novo trauma, mesmo que pequeno, após a concussão pode levar a um edema cerebral”, diz. A suspeita é de que esse tipo de problema tenha causado, em 2011, a morte prematura, na Irlanda do Norte, do estudante Benjamin Robinson. Ele morreu depois de receber vários golpes pesados durante um jogo de rúgbi. Por causa do aumento do número de concussões, o Comitê Olímpico Internacional (COI) indica esses testes para esportes de contato, especialmente o boxe e o rúgbi. Além disso, as entidades discutem novas regras para gerenciar o problema. Em 23 de setembro, a Fifa determinou que os árbitros paralisem a partida por três minutos quando um atleta perder os sentidos, ainda que rapidamente. A finalidade é dar tempo aos médicos para avaliar a retirada do atleta de campo. A Federação Paulista de Futebol aderiu
ao debate. Pretende adotar regras como a do futebol inglês, em que a perda de consciência em campo, nem que seja por segundos, determina a saída do jogador. “Se o atleta perdeu a consciência, o correto do ponto de vista médico é substituí-lo”, afirma o neurologista Jorge Pagura. A tendência mundial é que a avaliação mais acurada das concussões se espalhe pelo esporte e também por escolas e universidades. “O alcance da internet tornou viável configurar sistemas de testes remotos que podem analisar o desempenho cognitivo”, disse David Darby, da Universidade de Melbourne. A Universidade de Birmingham, na Inglaterra, anunciou recentemente o desenvolvimento de um teste de respiração, uma espécie de bafômetro, para mensurar a intensidade do choque. O exame detecta compostos químicos produzidos pelo cérebro após uma pancada. Tais substâncias foram localizadas na corrente sanguínea de pessoas com lesões cerebrais. Os estudos procuram comprovar se esses marcadores podem ser identificados por exame simples de sangue. Mesmo que os novos testes cheguem rapidamente, porém, é necessário que os atletas tenham consciência dos riscos e assumam a responsabilidade pela saúde e pela vida.
AVIAÇÃO
UM SÉCULO DEPOIS DO PRIMEIRO VOO DIRETO ENTRE SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO, A TERCEIRA ROTA AÉREA MAIS MOVIMENTADA DO MUNDO PERDE O GLAMOUR, MAS PERMANECE CRUCIAL PARA O SUCESSO ECONÔMICO DAS DUAS CIDADES O FRIO ERA CORTANTE NA CIDADE DE SÃO PAULO naquela manhã de 5 de julho. As rodas do monoplano francês Blériot, equipado com motor de 80 cavalos, perderam contato com o solo do descampado na região da Mooca às 9h46. O piloto Eduardo Pacheco Chaves, amigo de Alberto Santos Dumont e do francês Roland Garros, acabava de decolar num raid que consistia em voar, sem escalas, de São Paulo até a capital federal, Rio de Janeiro, pela primeira vez na história. Pousou no Aeroclube Brasileiro, no Campo dos Afonsos, pouco depois das 14h10. O jornal “O Século” do dia seguinte, 6 de julho de 1914, destacaria o feito: “O notável voo de Edu Chaves revolucionou os meios aviatórios cariocas, onde a façanha de Edu tem causado assombro”. Há 100 anos, o piloto alcançara o feito inédito de cobrir, após pouco mais de quatro horas, o trajeto de quase 400 quilômetros entre as duas cidades. A rota aérea é a mesma que, um século depois, se transformaria em uma das mais movimentadas do mundo.
100 ANOS DE PONTE AÉREA POR MARCEL CUGONI
TRADIÇÃO Aeromoça e passageiro prestes a embarcar no aeroporto Santos Dumont, na década de 70
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AVIAÇÃO
> OS DONOS DO AR AS PRINCIPAIS MÁQUINAS QUE VOARAM NA ROTA RJ-SP
JUnkEr JU-52, triMotor Primeiro a voar comercialmente entre São Paulo e rio de Janeiro. ORIGEM AlEMAnHA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 265 ASSENTOS (MÁX) 17 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1930/1936 EMPRESA QuE OPEROu NA ROTA RJ-SP VASP
A uma velocidade média de 80 km/h e com altitude entre dois mil e três mil metros, o feito de Chaves soa algo bizarro para os que hoje repetem o trajeto, muito acima disso, a 23 mil pés (ou cerca de sete mil metros) do nível do mar, num voo corriqueiro que acomoda os passageiros em cabine pressurizada que evita as baixas temperaturas da altitude, durante o qual são servidos café quente, bebidas geladas e sanduíches, enquanto é possível reclinar-se em poltronas estofadas e acompanhar uma tela que traz informações precisas sobre o trajeto, inclusive com cálculos de estimativa de chegada. Eis então que o peculiar bip sonoro anuncia uma mensagem do piloto do voo TAM JJ 3930: “Previsão de chegada ao Rio de Janeiro: 40 minutos”. O comandante Alberto Moreira Neto cultiva um tipo de elegância digno dos aviadores do passado. Quepe bem ajustado à cabeça, terno azul-marinho de corte justo com quatro listras amarelas nas mangas (marcação que indica o posto de liderança), um vasto, porém bem aparado, bigode que harmoniza com o tom de voz sereno, bastante adequado à tarefa de guiar um equipamento de 56 toneladas com mais de 140 pessoas a bordo.
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Em seus 30 anos de experiência em voo, iniciados na Força Aérea Brasileira, os dez mais recentes na cabine de um A319, Moreira Neto conta que desafio maior do que lidar com a grande quantidade de aeronaves no percurso é o de realizar um pouso no Santos Dumont, cuja inauguração ocorreu em 1936, abrindo as portas do então chamado “Calabouço”. Diz o comandante: “É um aeroporto com uma pista dimensionada para operação que exige um treinamento constante.” Ele prossegue: “Sempre tem uma coisa diferente, apesar de parecer rotineiro: o vento muda todo tempo, uma hora você pousa do Pão de Açúcar para a ponte Rio-Niterói; e poucas horas depois, pousa no sentido contrário”. A vista é exuberante pela janela. O sobrevoo da cidade do Rio permite distinguir, ao longe, o Cristo Redentor e o Maracanã, figuras carimbadas dos cartões-postais da Cidade Maravilhosa. O sol brilhando sobre a Baía de Guanabara faz refletir o mar dentro da cabine do avião, com luz mais baixa para o procedimento de pouso. A inclinação súbita gera uma apreensão nos passageiros, dando a impressão de
que a aeronave pode tocar a água a qualquer momento – mas, de repente, ela está em solo. A frenagem deve ser eficiente porque a pista do aeroporto é curta para o porte de aeronaves que nela pousam. Apenas 1.323 metros. Para comparar, a pista principal de Congonhas tem 1.940 metros e a de Cumbica, que recebe aeronaves de voos internacionais, 3.700 metros. Os 7,7 milhões de pessoas que todos os anos viajam de avião entre o Rio de Janeiro e São Paulo – o número diz respeito à movimentação nos aeroportos de Congonhas (São Paulo), Cumbica (Guarulhos), Santos Dumont e Galeão (Rio de Janeiro) – representam a terceira maior massa de passageiros aéreos do planeta, segundo dados da consultoria Amadeus, especializada em tecnologia da informação para o setor de turismo. Só por duas rotas aéreas passa mais gente: Jeju-Seul (Coreia do Sul), com 10,1 milhões de pessoas, e SapporoTóquio (Japão) com 8,2 milhões. “Ouso dizer que por aqui passam as pessoas responsáveis por 70% do PIB brasileiro”, imagina Luiz Barreira, gerente de operação da TAM no Santos Dumont. Barreira come-
doUGlAS dC-3, BiMotor
ConVAir 240, BiMotor
loCkHEEd l-188 ElECtrA, tUrBo-HéliCE, qUAdriMotor
Chegou a ter 93% da oferta mundial de assentos no pós-guerra; Cerca de 400 ainda voam. ORIGEM EUA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 370 ASSENTOS (MÁX) 32 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1935/1946 EMPRESAS QuE OPERAM NA ROTA RJ-SP CrUzEiro do SUl, VASP, VAriG, rEAl, PAnAir E oUtrAS
Fez o primeiro voo oficial da ponte aérea rio-São Paulo, pela VAriG. ORIGEM EUA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 507 ASSENTOS (MÁX) 48 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1948/1954 EMPRESAS QuE OPERAM NA ROTA RJ-SP VAriG, CrUzEiro do SUl, rEAl
Ficou exclusivamente na ponte aérea rJ-SP de 1975 a 1992 pela Varig ORIGEM EUA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 652 ASSENTOS (MÁX) 95 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1957/1959 EMPRESA QuE OPEROu NA ROTA RJ-SP VAriG
FokkEr 27 Mk 600, BiMotor
EMBrAEr EMB-120 BrASiliA, tUrBo-HéliCE, BiMotor
BoEinG 737-300, JAto CoMErCiAl, BiMotor
Primeiro avião da tAM a voar entre Congonhas e Santos dumont pela Super Ponte tAM ORIGEM HolAndA/EUA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 486 ASSENTOS (MÁX) 56 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1958/1980 EMPRESAS QuE OPERAM NA ROTA RJ-SP tAM E rio-SUl
o primeiro totalmente fabricado no Brasil a voar na ponte aérea. ORIGEM BrASil VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 574 ASSENTOS (Máx) 30 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1983/1983 EMPRESA QuE OPEROu NA ROTA RJ-SP rio-SUl
Aeronave mais utilizada na década de 1990 na ponte aérea. ORIGEM EUA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 876 ASSENTOS (MÁX) 148 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1984/1987 EMPRESAS QuE OPERAM NA ROTA RJ-SP VAriG, VASP E trAnSBrASil
çou na aviação quando tinha 18 anos e pode se gabar de conhecer com riqueza de detalhes quase todas as operações de solo de um grande aeroporto. Só na TAM são 16 anos dedicados a organizar a operação minuciosa de fazer alçar voo cada uma das aeronaves da empresa que passam por ali diariamente. Diretor de planejamento de malha e frota da TAM, Federico Helman confirma a impressão de Barreira: “A ponte aérea é a rota com a maior oferta de assentos de toda a nossa malha aérea doméstica.” O terno e a gravata e a pressa típica do mundo dos negócios são as características mais marcantes da maior parte dos passageiros que voam no trajeto. Em Congonhas, o fluxo de pessoas é tão intenso que basta uma sacola deixada num corredor para causar um efeito similar ao de um carro enguiçado numa pista das Marginais de São
Paulo. As viagens a trabalho dominam os voos durante a semana, começando no domingo à noite e se estendendo de segunda de manhã até sexta-feira. A ideia de ponte aérea surgiu no final da década de 1950 e transformou em parceiras as principais empresas do setor que operavam no Brasil. Após uma rodada de uísque no saguão de Congonhas, os gerentes de três grandes empresas (Varig, Vasp e Cruzeiro do Sul) tiveram a sacada: no embarque, eles passariam a permitir que passageiros viajassem em qualquer aeronave, mesmo tendo comprado passagens de uma das concorrentes. Outra medida seria o escalonamento de voos, para evitar partidas simultâneas. Sem uma decisão oficial, voos eram rearranjados de última hora, sendo atrasados ou adiantados conforme a demanda. Ao fim do dia, fechava-se a conta do total de embarques
para equacionar o retorno de cada empresa nesse bolo conforme o volume de assentos utilizados efetivamente. Gianfranco Beting, diretor de marketing da Azul e ex-vice-presidente da Transbrasil, afirma que a ideia era tão poderosa que, após poucos anos de operação, passou a ser copiada em outros lugares do mundo. “Com a possibilidade de um acordo entre as três empresas, a lâmpada acendeu.” A união oficial surgiu só depois que Rubem Berta, então presidente da Varig, caiu no esquema e acabou embarcando na concorrente. Segundo Beting, o nome do acordo fora tomado de empréstimo, pelo próprio Berta, da air bridge que os americanos operavam na Berlim dividida do pós-guerra a fim de superar o cerco soviético à capital alemã. Em 6 de julho de 1959, um Convair 240 da Varig fez a primeira partida de Congonhas rumo ao Santos Dumont e viajou com passageiros da Vasp e da Cruzeiro do Sul. A ponte aérea surgia para valer. O acordo oficial só veio para selar a importância do trajeto entre as duas cidades, que já era o mais movimentado do País a essa altura. A primeira viagem comercial entre São Paulo e Rio de Janeiro aconteceu em 1936, quando o Junker Ju-52-3m da Vasp partiu do recém-inaugurado aeroporto de Congonhas. A bordo, além de autoridades, o próprio Edu Chaves em pessoa. Em 1940, a Panair do Brasil entraria no jogo com voos diários, seguida pela Cruzeiro do Sul, em 1942. A Varig chegaria ao Rio em 1946, embora já operasse desde 1927 primordialmente no Sul do Brasil. A Real voava desde sua fundação entre as duas cidades. Para voar na ponte aérea bastava se apresentar no guichê. “Santos Dumont, Rio de Janeiro, senhor?”, perguntava a atendente de balcão para os que chegavam com cara de interessado e bagagem em mãos. “Corre que o avião está fechando a porta. O próximo voo sai em 2 minutos”, podia ser a resposta. Beting se lembra de ter levado uma pretendente para um jantar surpresa à beira-mar no Rio. “Não demorou nem três minutos para ir do táxi para dentro da aeronave”, rememora ele. Uma ficha plástica substituía o tíquete de embarque. O casal entrou, sentou nos bancos disponíveis e a aeronave partiu. “Só arranjei a namorada porque existia a ponte aérea.” O turbo-hélice Lockhheed L-188 Electra era um dos maiores exemplares do luxo oferecido aos passageiros da ponte aérea. No serviço de bordo da Varig, tábuas de frios e omelete eram rotina. No Lockheed L-049 Constellation, das rotas internacionais da Panair, um brinde com champanhe era parte do ritual de partida da aeronave. Há quem conte que o festim dentro da cabine ajudava a amenizar o barulho das turbinas do lado de fora. E para aguentar o resto do trajeto, pequenos tufos de algodão eram distribuídos em bandejas para tapar os ouvidos.
A união de Varig e Vasp foi duradoura na ponte aérea. A Real tentou reagir ainda em 1959, oferecendo voos de 15 em 15 minutos, mas não suportou a estratégia nem por seis meses. Acabou vendida à Varig em 1961. A Cruzeiro do Sul foi incorporada pela Fundação Rubem Berta, controladora da Varig em 1975. Em seu lugar, a ponte aérea já acomodava a emergente Sadia/Transbrasil. O vigor do pool de empresas duraria até o começo dos anos 1990, quando a TAM começou a ganhar espaço com uma estratégia diferente: atuar por conta própria a fim de cortar custos, mas sem perder a qualidade do atendimento. O tapete vermelho era marca registrada de quem voasse nos Fokker-27 do comandante Rolim Amaro. E ele, o próprio fundador da empresa, surgida em 1976 como uma empresa de transporte executivo, não deixava de recepcionar sempre que possível os passageiros. Em 1999, sem alarde nem grandes coberturas de imprensa, a ponte aérea deixou de existir. “Não houve decadência nem desinteresse por parte do público”, diz Beting, que era executivo da Transbrasil na ocasião. “Não fazia mais sentido a Varig carregar a Vasp e Transbrasil no acordo porque tinha mais chances de voar sozinha e com sucesso.” A TAM ganhara terreno e o cenário da concorrência era outro devido à expansão do setor. Dois anos depois do fim oficial da ponte aérea, em 2001, o surgimento da Gol selaria o novo cenário da aviação comercial, não só na rota Rio-São Paulo como do Brasil todo: a dos custos mais acessíveis e o ganho operacional. Iam embora junto o embarque rápido, a possibilidade de voar em qualquer empresa e outras vantagens da ponte aérea em si, como o serviço de bordo de luxo. De cima, São Paulo parece um tapete interminável de prédios. Ao começar o procedimento de pouso, o comandante Moreira Neto pede para que sejam desligados aparelhos eletrônicos e celulares, apesar de haver internet disponível para uso dos passageiros durante o percurso. O pouso é suave e o desembarque é rápido, resultado da organização precisa do gerenciamento da operação dos aeroportos da rota Rio-São Paulo. Na ida e no retorno, a decolagem ocorreu, nos dois trajetos, quase cinco minutos antes do previsto. Na vida de aeroporto, qualquer segundo tem impacto no sistema. “É uma correria, mas ninguém corre sem saber o que está fazendo”, diz Barreira, da TAM. A mensagem é a mesma de Elisa Pereira, gerente de aeroporto de Congonhas da empresa. Há 17 anos na companhia, Elisa diz que o maior desafio é coordenar com harmonia os 356 colaboradores de solo sob seu comando para fazer sair no horário o primeiro voo de cada dia. Em Congonhas, o primeiro parte às 6h04, quando abre o aeroporto. Não coincidentemente, um voo para o Rio de Janeiro.
FokkEr 100, JAto CoMErCiAl, BiMotor
BoEinG 737-800, JAto CoMErCiAl, BiMotor
AirBUS A319, JAto CoMErCiAl, BiMotor
Compôs a maior frota da tAM nos anos 1990, que ameaçou Varig, VASP e transbrasil na ponte aérea. ORIGEM HolAndA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/H) 856 ASSENTOS (MÁX) 109 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1986/1990 EMPRESA QuE OPEROu NA ROTA RJ-SP tAM
nova geração foi projetada para aeroportos de pistas curtas, como o Santos dumont (rJ). ORIGEM EUA VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 876 ASSENTOS (MÁX) 189 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1998/1999 EMPRESAS QuE OPERAM NA ROTA RJ-SP Gol, VAriG E WEBJEt
responsável por trazer a Airbus de volta ao Brasil depois de 17 anos. ORIGEM Europa (Alemanha, França e reino Unido) VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 871 ASSENTOS (MÁX) 156 PRIMEIRO VOO (MuNDO/BRASIL) 1996 EMPRESAS QuE OPERAM NA ROTA RJ-SP tAM E AViAnCA
A IDEIA DE CRIAR A PONTE AÉREA, EM QUE OS PASSAGEIROS PODIAM COMPRAR PASSAGEM DE UMA EMPRESA E VIAJAR POR OUTRA, SURGIU EM UMA REUNIÃO
EMBrAEr 145, JAto CoMErCiAl, BiMotor
REGADA A UÍSQUE ENTRE DIRETORES DA
Primeiro jato brasileiro a voar na rota rJ-SP e maior sucesso comercial da Embraer no mundo. ORIGEM Brasil VELOCIDADE MÁXIMA (kM/h) 833 ASSENTOS (MÁX) 50 PRIMEIRO VOO (BRASIL) 1995 EMPRESA QuE OPEROu NA ROTA RJ-SP rio-SUl
VARIG, VASP E CRUZEIRO DO SUL
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NUMERALHA AÉREA
1914 7,7 MILHÕES
Ano do primeiro voo comercial (EUA) e do primeiro voo SP-RJ Número de passageiros que viajam por ano entre os quatro aeroportos de SP e RJ
3 MIN 50 MIN
Tempo de embarque mínimo na ponte aérea Rio-São Paulo Duração média da viagem com o Lockhheed L-188 Electra na ponte aérea Rio-São Paulo
40 MIN 390 KM R$ 515,17 R$ 294,83
Duração média da viagem com o A319 na rota SP-RJ Distância média entre Rio e SP por rota aérea Valor médio da tarifa aérea brasileira em 2002 Valor médio da tarifa aérea brasileira em 2012
NARIZ: Boeing 737 em Congonhas, em retrato da década de 90 FOTOS: NELSON KON/SAMBAPHOTO
OUTUBRO/NOVEMBRO 2014
ISTOÉ 2016
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SUSTENTABILIDADE
VAI LIMPAR? o mAior desAFio BrAsileiro pArA os JoGos do rio estÁ ForA do cAmpo esportiVo: despoluir A BAÍA de GuAnABArA, Que receBerÁ As proVAs de VelA em 2016 POR HERCULANO BARRETO FILHO
SUSTENTABILIDADE
SUJEIRA POR TODOS OS LADOS
400 TONELADAS 64 TONELADAS 7 TONELADAS 300 QUILOS O QUE TERIA ACONTECIDO se os gramados dos estádios brasileiros na Copa do Mundo de 2014 estivessem esburacados, aumentando o risco de lesões em craques como Messi ou Cristiano Ronaldo? Ou se os ginásios que receberam as partidas dos mundiais de vôlei e basquete apresentassem goteiras, provocando escorregões traiçoeiros? Não é difícil calcular a tragédia que seria uma pista de atletismo olímpico com piso irregular. Ou piscinas turvas em competições de natação. A hipótese de ferimentos, de interferências externas nos resultados e até de riscos à saúde está sendo levada a sério por um grupo seleto de velejadores. A dois anos da Olimpíada do Rio, os competidores temem as condições sanitárias e o excesso de detritos na Baía de Guanabara, que vai receber as provas do iatismo em 2016. O sinal de alerta foi acionado em dezembro do ano passado, após as disputas que contaram com a presença de atletas de diversos países, e ganhou intensidade durante o primeiro evento-teste para os Jogos do Rio, realizado em agosto. Pneus de carros, colchões, latinhas, sacolas de plástico e até um sofá flutuavam na superfície da água, que exalava cheiro forte de esgoto em pleno desenrolar das competições. Cartão-postal do Rio, a baía se tornou uma grande interrogação. Ela, afinal, terá condições de receber as provas de vela? O medalhista olímpico Torben Grael, treinador-chefe da seleção brasileira de vela, é um crítico pertinaz da qualidade da água da Baía de Guanabara. A principal preocupação dele é a possibilidade de interferência nos resultados dos Jogos em decorrência do lixo no local. “A aparência da água não é compatível com uma cidade turística, é uma péssima propaganda para o Rio”, diz Torben. “Com relação à competição, o problema do lixo é o que mais preocupa, porque pode influenciar na 80 ISTOÉ 2016
OUTUBRO/NOVEMBRO 2014
OS DETRITOS QUE SÃO LANÇADOS DIARIAMENTE NA BAÍA DE GUANABARA
DE ESGOTO DOMÉSTICO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS INDUSTRIAIS DE ÓLEO DE METAIS PESADOS, COMO CHUMBO E MERCÚRIO
performance dos barcos e afetar resultados.” Torben explica como um mar poluído interfere nas disputas. “Em algumas classes, os barcos são muito rápidos. É difícil você ver o que está submerso. Será um vexame se tivermos medalhas decididas porque o lixo atingiu um barco durante a competição.” As críticas vêm de todos os lados. Medalhista de ouro em Londres-2012, o australiano Mathew Belcher disse ter encontrado um cão morto boiando nas águas da Baía de Guanabara durante os treinos no Rio. Em dezembro do ano passado, o britânico Ian Baker descreveu a Baía de Guanabara como “um esgoto absolutamente nojento”. Medalhista de bronze em Londres-2012, o norueguês Allan Norregaard foi ainda mais contundente em uma entrevista recente. “Tenho velejado por todo o mundo há 20 anos e a Guanabara é o local mais poluído onde estive.” A Baía de Guanabara é destino de parte do lixo produzido na região metropolitana da capital fluminense e de 60% do esgoto de seu entorno. Poluída por dejetos domiciliares, industriais, derrames de óleos e pela presença de metais pesados, a baía é receptora de todos os efluentes líquidos gerados nas margens e nas bacias dos 55 rios e riachos que a alimentam. Entre as principais fontes de poluição estão cerca de 14 mil estabelecimentos industriais, 14 terminais marítimos de carga e descarga de produtos oleosos, dois portos comerciais, duas refinarias de petróleo, mais de mil postos de combustíveis e diversos estaleiros. A partir da década de 90, a baía começou a integrar um projeto de recuperação ambiental, mas os resultados demoraram a aparecer. O compromisso firmado entre o governo do Rio e o Comitê Olímpico Internacional (COI) é reduzir em 80% os níveis de poluição do local antes do início dos Jogos. Para que a meta seja cumprida, é preciso ampliar
sensivelmente a rede de saneamento da cidade – segundo as autoridades, ela crescerá 60% até 2016. O governo também recorrerá a um projeto alternativo: a construção das Unidades de Tratamento de Rios (UTRs), orçadas em R$ 354 milhões. Por ora, apenas uma estação saiu do papel: a do Rio Irajá, que deve entrar em funcionamento a partir de novembro. A unidade Pavuna-Meriti está em fase de licenciamento para a aquisição de equipamentos. Depois do começo das obras, a previsão é que a instalação seja concluída em nove meses. Além dessas, outras quatro UTRs estão previstas. Para combater o excesso de detritos na água, a Secretaria de Estado do Ambiente iniciou, em janeiro, uma operação com três ecobarcos, como são chamadas as embarcações de coleta de lixo. Juntos, eles retiram das águas 15 toneladas de sujeira por mês, mas a expectativa é mais do que dobrar esse número com a chegada de sete novos coletores. No entorno da Baía de Guanabara, há 11 ecobarreiras, responsáveis por reter mensalmente 330 toneladas de resíduos sólidos. De acordo com o governo estadual, até 2016 outras oito ecobarreiras devem ser instaladas em rios e canais que desembocam na baía. Qual é o impacto dessas ações? Um levantamento feito pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que monitora a qualidade da água, mostra que os índices de coliformes fecais vêm sendo reduzidos nos últimos meses. Segundo o Inea, a área entre o Pão de Açúcar e a Ponte Rio-Niterói é própria para banho há mais de um ano. Apesar dos esforços, há quem considere a possibilidade de um plano B para as provas de vela na Olimpíada. Medalhista de bronze na categoria tornado em Seul-1988 e em Atlanta-1996, o velejador Lars Grael sugere a utilização da praia de Búzios para a realização das regatas. O velejador disse que as medidas adotadas pelo governo podem melhorar o quadro, mas são insuficientes. Com
mais de três décadas de experiência em provas de iatismo, Marcos Ferrari faz um diagnóstico preciso do que está em jogo. “Em condições ideais, o velejador só se preocupa em avaliar a direção, a intensidade do vento e a variação das correntes”, diz. “Na Baía de Guanabara, precisamos desviar a atenção para o que está na superfície da água. Transferir as provas para Búzios agradaria a todos, porque lá é um paraíso para velejar.” Na Guanabara, as embarcações chegam a atingir até 50 quilômetros por hora. Para os velejadores, a velocidade aumenta o risco de acidentes, especialmente se o barco sofrer colisões com detritos. A preocupação é ainda maior quando há encontro de marés. Quando a maré baixa, uma correnteza de água limpa e gélida entra pelo Pão de Açúcar e se mistura com a água turva do fundo da baía, obrigando o velejador a manobrar o barco contra a direção do vento e a correnteza. Em condições normais, esse fenômeno torna a Baía de Guanabara um dos locais com enorme grau de dificuldade para velejar. Na situação atual, a variação de maré pode agravar seriamente os desafios impostos aos atletas. “Só os melhores velejadores conseguem superar esse tipo de obstáculo”, diz Ferrari. O governo do Rio ganhou recentemente um aliado de peso na defesa da baía. Ícone da vela brasileira, Robert Scheidt também fez críticas à baía no começo do ano, mas nos últimos tempos tem se mostrado mais animado, principalmente depois de participar do evento-teste de agosto. “Não acho que teremos problemas na Olimpíada”, diz Scheidt. “Seria pior se fosse no verão, porque há maior incidência de chuva.” Diretor do Comitê Rio-2016, Mário Andrada nem sequer imagina a Olimpíada em outro local. “A baía tem plenas condições de receber regatas”, diz Andrada. “Não há nenhum risco à saúde dos atletas e nada vai atrapalhar a competição.” Tomara que seu prognóstico esteja correto.
GiGante em periGo As dimensões de um dos principAis cArtões-postAis do BrAsil
_Com 380 quilômetros quadrados, é a segunda maior do litoral brasileiro, atrás da Baía de todos-os-Santos, na Bahia, que tem 1,2 mil quilômetros quadrados _São 31 quilômetros de comprimento por 28 quilômetros de largura _a profundidade varia de 5 a 8 metros, podendo atingir até 17 metros no canal de entrada da Barra
PERFORMANCE
SPEEDO AQUABEAT
Compacto, o Aquabeat tem corpo emborrachado, tela de controle em LED e fones de ouvido semelhantes aos usados no dia a dia. Compatível com iTunes e Windows Media Player, tem bateria com duração de até 20 horas e aguenta até três metros de profundidade. Disponível nas cores preta e rosa. US$ 59,99 (4GB) • speedousa.com
CHILLI TECHNOLOGY WATERPROOF MP3 PLAYER
SONY WALKMAN NWZ-W274S
MÚSICA AT É DEBAIXO D ’Á G U A
Além de permitir ajuste na cabeça, possibilita escolher o tamanho dos fones. Os pequenos controles ficam posicionados logo acima de cada orelha. Com apenas 29 gramas, é capaz de suportar até dois metros de profundidade. Tem recarga rápida: três minutos na tomada garantem uma hora de música non-stop. Com carga total, funciona por até oito horas. Disponível em cinco cores, o tocador é compatível com iTunes e Windows Media Player. US$ 98 (4GB) e US$ 128 (8GB) • Amazon.com
OS APARELHOS QUE PERMITEM TRANSPORTAR SUA PLAYLIST COM TRANQUILIDADE PARA OS TREINOS DE NATAÇÃO E OUTROS ESPORTES AQUÁTICOS
POR DANIELLE SANCHES
82 ISTOÉ 2016
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Mais leve (pesa apenas 20 gramas) e mais simples que a maioria dos similares no mercado, o Chilli promete fazer o mesmo trabalho de seus concorrentes por um preço mais camarada. Tem menos ajustes, mas a construção robusta impressiona: suporta até dez metros de profundidade e toca música ininterruptamente por até dez horas. US$ 90 (4GB) • chilli-tech.com
FINIS NEPTUNE
Diferente de tudo o que você já viu: essa é uma boa definição para este aparelho, que transmite a música através do osso maxilar (a tecnologia se chama “Bone Conduction”, algo como “condução pelo osso”) até o ouvido interno. Esse complexo sistema, garante o fabricante, resulta em um som mais limpo do que se você usasse um fone de ouvido. Para funcionar corretamente, ele precisa ser ajustado na altura das orelhas – preso ao elástico dos óculos de natação, por exemplo. Fácil de manusear, o controle fica posicionado na nuca. Com bateria que dura até oito horas, o Finis suporta uma profundidade de até três metros. US$ 159,99 (4GB) • finisinc.com
NU DOLPHIN TOUCH PRO
O grande diferencial do Dolphin é sua capacidade de captar rádio mesmo submerso. O player, em formato de tubo metálico, tem um atraente visual high-tech e possui um clipe para fixação à roupa. Com bateria que dura até oito horas, o aparelho resiste a uma profundidade de até cinco metros. US$ 89,99 (4GB) • Amazon.com ARENA SWIMMING MP3 PRO
Projetado para flutuar – afinal, sempre há a chance de você perder o player na piscina –, o Arena Swimming MP3 Pro toca arquivos nos formatos MP3, WMA, AAC e FLAC e é compatível com iTunes. Também possui rádio FM, pedômetro e cronômetro. Pode ser mergulhado a até três metros e a bateria dura longas 15 horas. US$ 98,95 (4GB) • swimoutlet.com
CONCENTRAÇÃO
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PARA OS AMANTES DA ARQUITETURA, TRANSITAR PELA CIDADE MARAVILHOSA PODE RENDER AGRADÁVEIS SURPRESAS. O MUNICÍPIO TEM CONSTRUÇÕES ASSINADAS POR GÊNIOS COMO OSCAR NIEMEYER E CHRISTIAN DE PORTZAMPARC, ALÉM DE PRÉDIOS COLONIAIS QUE FAZEM PARTE DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO PAÍS
POR HELENA BORGES
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RIO DE CONCRETO
AQUEDUTO DA CARIOCA
Popularmente conhecida como Arcos da Lapa, a maior obra arquitetônica do Brasil Colônia foi concluída em 1750 com o objetivo de levar ao centro da cidade as águas do rio Carioca, na zona sul. São 42 arcos duplos de estilo romano, feitos em alvenaria, pedra e cal, com 270 metros de extensão por 19 metros de altura. Já foi também viaduto para os bondes de Santa Teresa, outra peça histórica carioca. Endereço: avenida Mem de Sá, sem número, Centro. Preço: entrada franca. Horário de funcionamento: 24 horas. Dica: nas sextas-feiras e aos fins de semana, a partir das 18h, uma feira de comes e bebes é montada junto à construção. Rodas de samba também viram a noite pelas ruas que passam por baixo dos arcos.
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MUSEU DE ARTE DO RIO
A construção divide-se em dois prédios heterogêneos e interligados: o Palacete Dom João VI, tombado e eclético, e o edifício vizinho, de estilo modernista, originalmente um terminal rodoviário. Neste fica a Escola do Olhar, de artes e cultura. Vale a pena passar pela cobertura e aproveitar a vista da Baía de Guanabara. Endereço: Praça Mauá, 5, Centro. Preço: R$ 8,00. Há também meia-entrada para estudantes e gratuidade para maiores de 60 anos ou menores de 5. Horário de funcionamento: das 10h às 18h. Dica: às terças-feiras, a entrada é gratuita. A administração indica levar um agasalho, já que a temperatura é baixa para preservar as obras.
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CIDADE DAS ARTES
Assinado pelo francês Christian de Portzamparc, o edifício possui grandes “velas” de concreto no lugar dos pilares de sustentação. Por elas passam todas as instalações, inclusive um Teatro de Câmara com 450 lugares. No térreo, um grande espelho d’água é entrecortado pelos pátios cobertos, onde se erguem vigorosas colunas. O primeiro andar, a dez metros do solo, abriga as principais salas de apresentação. Endereço: avenida das Américas, 5.300, Barra. Preço: entrada franca (não inclui entrada nas salas de espetáculo). Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h. Dica: visitas guiadas são realizadas às terças e quintas, às 11h ou às 14h, mediante pré-agendamento pelo e-mail saladeleitura@cidadedasartes.org.
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MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA
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A construção desse curioso prédio de 16 metros de altura consumiu 3,2 milhões de metros cúbicos de concreto, quantidade suficiente para levantar dez pavimentos. Com vista panorâmica da Baía de Guanabara, a varanda do segundo andar é cercada por vidros com 18 centímetros de espessura, fabricados exclusivamente para o projeto de Niemeyer. Endereço: avenida General Milton Tavares Souza, sem número, Boa Viagem, Niterói. Preço: R$ 10,00. Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h. Dica: às quartas-feiras, a entrada é franca. O museu também conta com uma biblioteca com 40 mil documentos sobre arte moderna e contemporânea.
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O mosteiro/igreja foi fundado por monges beneditinos vindos da Bahia e construído a pedido da população da então cidade de São Sebastião. Apesar das muitas reformas, mantém o caráter original da edificação, de 1617. O interior é totalmente forrado com talha dourada. Em contraste, a fachada é simples e sóbria, praticamente sem ornamentação. Endereço: rua Dom Gerardo, 78, Centro. Preço: entrada franca. Horário de funcionamento: diariamente, das 7h às 17h30. Dica: a missa dominical das 10h conta com repertório de canto gregoriano.
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MUSEU DE ARTE MODERNA
IGREJA DE SÃO BENTO
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PALÁCIO DE MANGUINHOS (FIOCRUZ)
Sobre a degradada paisagem que margeia a avenida Brasil está o imponente castelo da Fundação Osvaldo Cruz, inaugurado em 1918. O projeto é baseado em croquis do próprio Oswaldo Cruz e inspirado nos palácios ingleses do período Elisabetano e nos mouriscos espanhóis. As varandas são cobertas por azulejos de Bordalo Pinheiro e o piso tem mosaicos franceses inspirados em tapeçarias árabes. Endereço: avenida Brasil, 4.365, Manguinhos. Preço: entrada franca. Horário de funcionamento: de terça a sexta-feira, das 9h às 16h30. Aos sábados, das 10h às 16h. Dica: aproveite para conhecer o Parque da Ciência, dentro da Fundação, onde é possível escalar uma célula gigante ou entrar numa câmara escura que simula o olho humano.
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PALÁCIO CAPANEMA
O projeto do renomado arquiteto Affonso Eduardo Reidy é racionalista e plástico ao mesmo tempo. Possui pilares modulados de concreto aparente e fachadas envidraçadas que convidam o visitante a conhecer o jardim ao redor, obra do paisagista Roberto Burle Marx. O edifício não agride a paisagem, mas se utiliza dela, gerando um dos mais belos enquadramentos da Baía de Guanabara.
Um marco da arquitetura moderna no Brasil, o edifício é também a primeira aplicação em escala monumental das ideias de Le Corbusier. O mestre franco-suíço deu as diretrizes do projeto, assinado por um grupo de arquitetos de peso, como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Reidy. Entre os pilares de dez metros de altura, o visitante pode esbarrar em painéis de azulejo de Cândido Portinari e jardins de Burle Marx.
Endereço: avenida Infante Dom Henrique, 85, Centro. Preço: R$ 8,00. Horário de funcionamento: de terça a sexta, das 12h às 18h. Fins de semana e feriados, das 12h às 19h. Dica: aproveite a visita para conhecer o Parque do Flamengo, que inclui, além do museu, os jardins e o Aterro do Flamengo. Aos domingos, as pistas são fechadas para lazer.
Endereço: rua da Imprensa, 16, Centro Preço: entrada franca. Horário de funcionamento: 24h. Dica: aproveite para conhecer a livraria Mario de Andrade, que funciona dentro do edifício, diariamente, das 9h às 18h.
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TEATRO MUNICIPAL
Inspirado na Ópera de Paris e inaugurado em 14 de julho de 1909, o teatro possui colunas em mármore de Carrara no estilo coríntio e vitrais trazidos da Alemanha. Na maior das cúpulas, sobre uma esfera de vidro iluminada, repousa uma águia de cobre dourado com asas de seis metros. No interior, a escada que leva ao foyer se abre em duas, exibindo dois tipos de ônix, bronzes dourados e cristais. Endereço: Praça Floriano, sem número, Centro. Preço: R$ 10,00 (há meia-entrada para estudantes). Horário de funcionamento: visitas guiadas de terça a sexta, às 11h, 13h, 14h e 16h. Aos sábados, às 11h, 12h e 13h. Dica: durante a semana, ao meio-dia, o teatro realiza espetáculos de 60 minutos, com entradas a R$ 5,00.
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>BOXE
ADRIANA ARAÚJO DE VOLTA À SELEÇÃO Uma decisão estúpida e arbitrária foi, enfim, anulada pelos dirigentes do boxe nacional. Medalha de bronze nos Jogos de Londres-2012, Adriana Araújo está de volta à seleção brasileira depois de dois anos afastada por divergências com dirigentes da Confederação. Adriana retornou em grande estilo. No final de setembro, foi medalha de prata no Campeonato Continental de Boxe das Américas, realizado em Guadalajara, no México. Agora ela terá caminho livre para disputar a Olimpíada no Rio. Detalhe espantoso: no Brasil, Adriana não perde uma luta há 11 anos.
86 ISTOÉ 2016
oUtUBRo/NoVEMBRo 2014
BADMINTON RECORDE DE PARTICIPAÇÃO
Em setembro, a cidade de Vitória (ES) sediou a terceira etapa do circuito nacional de badminton, que quebrou o recorde no número de participantes. Confira os números mais interessantes da competição:
105 199 40 10 85 39 26
mulheres disputaram o torneio homens participaram clubes enviaram atletas estados estavam representados atletas vieram de São paulo, o estado de maior presença vieram do rio medalhas foram conquistadas pelo clube miratus, do rio, o maior vencedor do torneio
ATLETISMO
CICLISMO
Da série “esquisitices do esporte brasileiro”: a menos de dois anos para a Olimpíada, atletas de elite do Rio estão sem lugar para treinar. A transformação do estádio Célio de Barros em estacionamento do Maracanã e o fechamento do Engenhão para reformas da cobertura fizeram com que muitos competidores deixassem a cidade em busca de infraestrutura melhor. Sem o Célio de Barros e o Engenhão, só restaram pistas para iniciantes.
A 5a edição do Brasil Ride, a maior competição de mountain bike das Américas, será realizada entre 19 e 25 de outubro em um cenário exuberante: a Chapada Diamantina, na Bahia. Serão 600 quilômetros de trilhas percorridos por competidores profissionais e amadores de 17 países e 20 Estados brasileiros. O campeonato distribui pontos para o ranking da União Ciclística Internacional, que apontará os classificados para os Jogos Olímpicos de 2016.
BASQUETE
ESGRIMA
CADÊ AS PISTAS DO RIO?
BRUNO CABOCLO VAI MAL NO VIDEOGAME O paulista Bruno Caboclo mal estreou no Toronto Raptors, da NBA, e já é considerado o pior jogador da liga americana. Pelo menos para a 2K Sports, produtora do game NBA 2k15, lançado neste mês. É que a empresa divulgou a pontuação – aquele número que define a qualidade do atleta no videogame – de todos os participantes da competição. Caboclo ficou em último lugar, com um rating de 64. Como não poderia deixar de ser, o primeiro colocado no ranking é LeBron James (rating 98), que retornou ao Cleveland Cavaliers nesta temporada. O brasileiro não precisa ficar chateado. Aos 18 anos, ele é o jogador mais jovem da NBA e ainda desconhecido nos Estados Unidos.
CANOAGEM
À CAÇA DE VOLUNTÁRIOS Estão abertas as inscrições para o Programa de Voluntários Rio 2016. São 70 mil vagas disponíveis e algumas delas exigem conhecimento específico dos esportes em disputa. Os organizadores estão em busca de pessoas com conhecimento técnico em “canoagem velocidade”, “canoagem slalom” e “paracanoagem”. Se for o seu caso e estiver interessado em participar do processo seletivo, envie um e-mail para sebastian.cuattrin@rio2016.
foto: toNI PIRES/AG. IStoÉ
VEM AÍ O BRASIL RIDE 2014
NATURALIZADOS DECEPCIONAM É assim com todo país-sede de uma Olimpíada. Se não há tradição em um determinado esporte, a saída é naturalizar talentos para não dar vexame em casa. No caso da esgrima, a estratégia tem gerado controvérsia. A seleção nacional conta com quatro atletas nascidos em terras distantes, mas eles decepcionaram. Inclusive a ex-italiana Nathalie Moellhausen, campeã mundial por equipes em 2009, que tem sofrido em torneios importantes. Também alcançaram resultados frustrantes a americana Katherine Miller, o francês Ghislain Perrier e a espanhola Marta Baeza – todos agora legítimos brasileiros.
FUTEBOL
BH, SP E BRASÍLIA TERÃO MAIS JOGOS QUE O RIO Para muita gente, o futebol é o esporte que menos se identifica com uma Olimpíada (o argumento dessa turma é que a Copa do Mundo basta para saciar os fãs). Isso talvez explique os motivos que levaram o Rio a não dar tanta bola para o futebol. Segundo o planejamento do Comitê Organizador, a cidade receberá em 2016 menos jogos que Belo Horizonte, São Paulo e Brasília. No Rio serão disputadas oito partidas: as quatro semifinais (duas masculinas e duas femininas), as duas disputas de terceiro lugar e as decisões. BH, SP e Brasília ficarão com 14 confrontos cada uma. Salvador, a última sede, receberá oito jogos.
GINÁSTICA
CONFEDERAÇÃO ESQUECE DE INSCREVER ATLETA Beleza, o esporte brasileiro tem se profissionalizado nos últimos anos, mas em algumas áreas persiste um deplorável amadorismo. No Mundial de Ginástica Rítmica da Turquia, a Confederação se confundiu na inscrição das atletas e deixou fora da disputa de dois aparelhos Angélica Kvieczynski, a número 1 da modalidade no País. Depois da falha, a coordenadora Cristina Vital disse que esqueceu da mudança no formato da inscrição. Sorte que o campeonato não valia vaga para a Olimpíada.
GOLFE
TACADAS PARA TODOS Golfe não é só para ricos. Esta é mensagem contida no “Programa Golfe para a Vida”, criada pela Confederação Brasileira e com apoio das Federações estaduais. Na primeira semana de outubro, São Paulo recebeu uma das etapas do projeto. Realizado no Centro Esportivo Mané Garrinha, o curso contou com a presença de gestores dos Centros Educacionais Unificados (CEUS). A ideia é preparar profissionais capazes de promover a iniciação do esporte para jovens da periferia. Estima-se que, graças à proposta, 30 mil adolescentes terão contato com o golfe pela primeira vez na vida.
HANDEBOL
O MUNDO DE OLHO NO BRASIL A conquista do campeonato mundial feminino colocou o Brasil entre os principais palcos do handebol mundial. Em 2015, o País receberá importantes campeonatos internacionais. Além do Mundial júnior masculino, que será realizado no Rio Grande do Sul, outros três torneios estão confirmados: o Pan-Americano júnior masculino, o Pan-Americano de clubes masculino e o Pan-Americano de clubes feminino, este último em sua primeira edição.
HÓQUEI SOBRE A GRAMA ESPERANÇA, SÓ NA FUTURA GERAÇÃO
De todos os esportes olímpicos, talvez o hóquei sobre a grama seja o mais atrasado no Brasil. Apesar do aumento dos investimentos , a evolução observada em outras modalidades não aconteceu – e os resultados continuam pífios. Uma boa oportunidade de dar uma espiada no potencial da nova geração será o Campeonato Nacional Indoor, que reunirá jogadores das categorias sub-13, sub-15 e sub-18. As disputas serão realizadas nos dias 1O e 2 de novembro, no ginásio da Esef-UFRGS, em Porto Alegre.
JUDÔ
ELES GOSTAM DE FAZER O BEM Pode ser mera coincidência. Ou não. Fato é que são muitos os atletas do judô – esporte que prega, entre outras virtudes, o respeito ao próximo – que mantêm projetos sociais. No Rio, Flávio Canto, medalha de bronze na Olimpíada de Atenas-2014, toca um instituto que dá aulas de judô na favela da Rocinha. Em Teresina, no Piauí, a campeã olímpica em Londres-2012 Sarah Menezes criou uma ONG que atende mais de 700 crianças. Dono de duas medalhas olímpicas (prata em Sydney-2000 e bronze em Pequim-2008), Tiago Camilo comemorou há alguns dias dois anos de seu projeto em Paraisópolis, bairro pobre da zona sul de São Paulo. Mesmo com pouco tempo de vida, o instituto de Tiago oferece iniciação gratuita ao judô para 300 crianças carentes.
PENTATLO MODERNO
POLO AQUÁTICO
Yane Marques decepcionou no Mundial de Varsóvia, na Polônia. A medalhista de bronze em Londres-2012 terminou a competição em 14O lugar, muito abaixo de suas possibilidades. Yane ficou em 17O lugar na esgrima. Na disputa de natação, a pernambucana foi a 5a. No hipismo, caiu de rendimento, terminando a prova de saltos na10ª posição. A pior performance se deu no combinado de corrida e tiro (foi 22a). O título ficou com a inglesa Samantha Murray, que tinha sido prata nos Jogos de Londres.
O Brasil ainda está muito distante das potências do esporte, o que ficou evidente em um campeonato realizado em setembro, na Croácia. A seleção masculina foi vice-campeã, mas isso não deve ser motivo de comemoração. Participaram do torneio apenas times europeus (quatro croatas e um russo) e nenhuma seleção nacional. A boa notícia foi o desempenho de Felipe Perrone, artilheiro do campeonato e eleito o melhor jogador.
YANE LONGE DE SUA MELHOR FORMA
70 REAIS POR UMA FINAL
Quer assistir ao vivo a uma final olímpica? Se você é fã do levantamento de peso, não vai gastar muito para realizar esse sonho. De acordo com o anúncio do Comitê Rio-2016, o esporte terá o ingresso mais barato entre todas as modalidades. As disputas preliminares custarão a partir de R$ 40 e as finais, R$ 70. A boa notícia é que o Brasil pode até brigar por medalha. O paulista Fernando Saraiva Reis, que treina nos Estados Unidos, foi sétimo na última edição do Mundial e vem evoluindo rapidamente.
EM NOVEMBRO, TEM CLÁSSICO SUL-AMERICANO Anote na agenda: no dia 22 de novembro, tem clássico sul-americano. No estádio Raulino de Oliveira, em Volta Redonda (RJ), Brasil e Uruguai entram em campo para uma partida amistosa de Rugby 15. Assim como acontece no futebol, os dois países têm enorme rivalidade no rúgby. Uma semana depois, no dia 29, será a vez de os brasileiros enfrentarem os paraguaios. Serão os dois últimos jogos do Brasil na temporada.
ALINE SILVA FAZ HISTÓRIA
O BRASIL AVANÇA
O Brasil cumpriu seu objetivo na 13ª edição da Copa do Mundo de Nado Sincronizado, realizada em Quebec, no Canadá. O melhor resultado veio com o novo dueto olímpico, formado por Luisa Borges e Maria Eduarda Miccuci. Elas terminaram na 7ª posição. Confira a participação brasileira na Copa do Mundo desde 2006: Solo 2006 (14o) / 2010 (9o) / 2014 (Não foi realizado) Dueto 2006 (16o) / 2010 (7o) / 2014 (7o) equipeS 2006 (10o) / 2010 (9o) / 2014 (5o) Combo 2006 (8o) / 2010 (6o) / 2014 (5o)
SÓ DÁ BOTAFOGO
RÚGBI
LUTAS
NADO SINCRONIZADO
REMO
Se no futebol a situação está feia, pelo menos no remo o Botafogo vai bem (e faz justiça ao nome Botafogo de Futebol e Regatas). No começo de outubro, o clube conquistou o Campeonato Brasileiro Júnior de Remo, vencendo seis de onze provas disputadas na raia da Universidade de São Paulo. O alvinegro carioca superou o arquirrival Flamengo, vice-campeão, e o União, do Rio Grande do Sul, terceiro colocado. Alguns dias antes, o Botafogo havia faturado o Brasileiro sênior contra o mesmo Flamengo.
LEVANTAMENTO DE PESO
A paulista Aline Silva é a prova definitiva dos efeitos positivos de organizar uma Olimpíada. A escolha do Rio como sede para 2016 trouxe investimentos até para o seu esporte, que não desfruta de tradição no País. Com melhores condições de treinamento, dedicação integral e intercâmbio permanente, Aline se tornou uma atleta de gabarito internacional. Em setembro, conquistou a primeira medalha do Brasil em um Mundial de lutas associadas. Aline foi prata no torneio realizado no Uzbequistão. Não é difícil calcular como o resultado estimula e traz confiança para que ela suba ao pódio na Olimpíada do Rio.
BRASIL É VICE (MAS NÃO PRECISA COMEMORAR)
SALTOS ORNAMENTAIS
A GRANDE FASE DE IAN MATOS
HIPISMO
RODRIGO PESSOA E O SUTIÃ DE CUPCAKE
O cavaleiro Rodrigo Pessoa construiu nos últimos anos uma imagem de atleta sisudo. Isso, porém, não parece corresponder exatamente à realidade. Há alguns dias, Pessoa participou de uma prova em Los Angeles vestido de Katy Perry, a exuberante cantora pop americana. Entre outros adereços, ele usou um sutiã em formato de cupcake. A brincadeira foi realizada para arrecadar fundos para uma instituição de caridade. Não foi a primeira vez que o cavaleiro usou fantasias num concurso de equitação. Em dezembro de 2013, vestiu-se de Jack Sparrow, personagem da série de filmes “Piratas do Caribe”.
O saltador paraense Ian Matos comprovou sua ótima fase no Festival Pan-Americano realizado em setembro na Cidade do México. Ian conquistou o bronze no trampolim de 3 metros, atrás apenas de dois mexicanos. Foi o primeiro grande resultado do atleta depois de ter trocado Brasília pelo Fluminense, do Rio. Saltador de forte personalidade, Ian assumiu recentemente que é gay.
TAE KWON DO
EDIVAL E O ORGULHO DA PARAÍBA O paraibano Edival Marques Quirino Pontes só tem 17 anos, mas ostenta uma coleção impressionante de títulos. Bicampeão brasileiro, campeão dos Jogos Sul-Americanos da Juventude, campeão mundial juvenil e medalhista de ouro Jogos Olímpicos da Juventude, Edival é nome certo para o Brasil em 2016. Em João Pessoa, sua
terra natal, o garoto já é ídolo. Em setembro, foi homenageado pela Câmara Municipal com uma comenda só oferecida a quem presta altos serviços ao município. Edival nasceu em uma área pobre da cidade e, apesar de ter recebido inúmeros convites para treinar em outros centros, prefere permanecer na cidade.
TÊNIS
FENÔMENO JUVENIL ANUNCIA APOSENTADORIA Campeão juvenil do Aberto da Austrália de 2010 e líder do ranking mundial de sua categoria, o alagoano Tiago Fernandes era apontado como o sucessor de Gustavo Kuerten. Isso, porém, não foi suficiente para que desse o passo mais difícil na carreira – fazer a transição para os profissionais. Nessa fase, o tenista mais perde do que ganha e é preciso muito foco para não desanimar. Sem avançar no ranking mundial (patinava em torno da 900a posição), Tiago anunciou a aposentadoria aos 21 anos. Decidiu se dedicar integralmente ao curso de engenharia civil em Maceió.
TÊNIS DE MESA
NATAÇÃO A SELEÇÃO QUE IRÁ AO MUNDIAL DE PISCINA CURTA No início de outubro, saiu a lista oficial dos atletas que vão representar o Brasil no Mundial de Piscina Curta de Doha, no Catar, de 3 a 7 de dezembro. Serão 17 homens e 10 mulheres. Confira os convocados: ALESSANDRA MARCHIORO ANA CARLA CARVALHO CESAR CIELO DAIENE DIAS DAYNARA DE PAULA ETIENE MEDEIROS FELIPE FRANçA FELIPE LIMA FERNANDO ERNESTO GIOVANNA DIAMANTE GUILHERME GUIDO GUSTAVO GODOY DAIANE BECKER HENRIQUE MARTINS
HOYAMA APOSTA NO INTERCÂMBIO
HENRIQUE RODRIGUES
Técnico da seleção feminina de tênis de mesa, o dono de dez medalhas em Jogos Pan-Americanos Hugo Hoyama quer fazer com as garotas o que não fizeram com ele: realizar o maior número possível de intercâmbios com os melhores do mundo. Em setembro, o time viajou, sob o comando de Hoyama, para uma série de clínicas na China, maior potência do esporte. Já se nota evolução no tênis de mesa feminino. Atualmente, o Brasil possui três atletas entre as 70 melhores do mundo e foi campeão mundial por equipes da segunda divisão, o que jamais havia acontecido.
JOãO DE LUCCA
JESSICA CAVALHEIRO JOãO LUIz JúNIOR LARISSA MARTINS LEONARDO DE DEUS LUCAS SALATTA MANUELLA LYRIO MARCOS MACEDO NICOLAS OLIVEIRA NICHOLAS SANTOS THIAGO PEREIRA THIAGO SIMON
Poucos esportes exigem equilíbrio e concentração em doses tão elevadas quanto o tiro. Por isso mesmo, surpreendeu o destempero do paranaense Rodrigo Bastos no Mundial de Granada, na Espanha. Incomodado com uma marcação da arbitragem (que o puniu por ter demorado mais de 12 segundos para atirar), Rodrigo reclamou de maneira dura até ser advertido. A punição fez com que perdesse a chance de disputar medalha. Mesmo assim, Rodrigou terminou o campeonato em quinto lugar – a melhor colocação do Brasil na história da fossa olímpica.
foto: KEVoRK DJANSEZIAN
BONS RESULTADOS ANIMAM PARA 2016 Falar em medalhas para 2016 pode soar como exagero, mas o triatlo brasileiro vive um momento produtivo. Na final do Campeonato Mundial, realizada no Canadá, a capixaba Pâmella Oliveira terminou em oitavo lugar, enquanto o paulista Reinaldo Colucci encerrou a disputa em décimo. Pâmella é resultado direto do Projeto Rio Maior, centro de desenvolvimento de ponta que a Confederação Brasileira mantém em Portugal.
VELA
BRILHO E DECEPÇÃO AO MESMO TEMPO O Mundial de Vela realizado em Santander, na Espanha, trouxe um resultado extraordinário e outros decepcionantes para o Brasil. A melhor performance foi de Martine Grael (filha de Torben Grael) e Kahena Kunze, que conquistaram o inédito título mundial na classe 49erFX. A dupla tem um retrospecto que impressiona: no ano passado, foram vice-campeãs mundiais, campeãs da etapa de Miami da Copa do Mundo e sul-americanas. Só Martine e Kahena brilharam. A medalha foi a única do Brasil nesta edição do torneio. Além delas, apenas Robert Scheidt, quinto colocado na classe Laser, ficou entre os dez primeiros.
VÔLEI
OS PRIMEIROS CONFRONTOS DA SUPERLIGA Diante da força do Brasil no cenário internacional, não é exagero dizer que a Superliga é o campeonato de clubes mais forte do mundo. Acompanhe a tabela dos primeiros jogos e programe sua agenda: Superliga maSCulina ABERTURA: 25/10, àS 17h LOCAL: ARENA MINAS, EM BELO HORIzONTE
TIRO
RECLAMAÇÃO TIRA CHANCE DE MEDALHA
TRIATLO
JOGO: MINAS TêNIS (MG) X UFJF (MG)
TIRO COM ARCO
SÓ 16 ANOS, MAS TALENTO DE VETERANO É impressionante a velocidade de evolução do carioca Marcus Vinícius D’Almeida. Num período de apenas quatro anos, ele teve o primeiro contato com o tiro com arco e se tornou vice-campeão da Copa do Mundo. Marcus ingressou no esporte aos 12 anos, porque a sede da Confederação ficava perto de sua casa, em Maricá, no Rio. Apaixonouse rapidamente e venceu todos os campeonatos possíveis nas categorias de base até começar a competir entre os adultos. Em setembro, fez história ao ser o arqueiro mais jovem (só 16 anos) a chegar a uma final de Copa do Mundo. Ficou com o vice-campeonato, o que impressionou até os rivais. Antes, Marcus tinha conquistado a inédita medalha de prata na Olimpíada da Juventude.
Superliga Feminina ABERTURA: 7/11, àS 21h30 LOCAL: TIJUCA TêNIS CLUBE (RIO) JOGO: REXONA/ADES (RJ) X RIO DO SUL/EQUIBRASIL (SC)
VÔLEI DE PRAIA
TÉCNICOS BRASILEIROS EM ALTA Nenhum país é tão vitorioso na história do vôlei de praia quanto o Brasil. Desde que o esporte passou a fazer parte do programa olímpico, em Atlanta-1996, os brasileiros jamais deixaram de subir ao pódio. Em cinco Olimpíadas, os homens e as mulheres faturaram dois ouros, seis pratas e três bronzes. Não à toa, os profissionais do Brasil são os mais requisitados no mercado internacional. Há duplas na Austrália, Áustria, Grécia, Itália, Turquia e nos Estados Unidos e Chile sendo treinadas por brasileiros. Até 2016, essa tendência deve ganhar ainda mais força.
página dourada Conquistas que entraram para a história Vera Lynn
Oliver Quinto
texto
arte
“De que me vale um milhão De Dólares?” Maior boxeador olíMpico da história, teófilo stevenson recusou fortunas para lutar nos estados unidos porque aMava cuba e o coMunisMo
Teófilo STevenSon lawrence naSce na cidade de PorTo Padre, em cuba, no dia 29 de março de 1952.
É o PrimogêniTo do boxeador Teófilo STevenSon PearSon, oriundo da ilha caribenha San vicenTe, e da cubana doloreS lawrence. aPrende a luTar com o Pai. aoS 14 anoS, faz Seu Primeiro combaTe, na caTegoria PeSo-mÉdio, maS é derrotado por um oponente mais experiente.
aoS 17 anoS, eSTreia enTre oS PeSoS-PeSadoS. meSmo muiTo jovem, chega à final do torneio plava girón, o PrinciPal evenTo do boxe cubano. Perde a final Por PonToS. em 1970, começa a Treinar com o ruSSo andrei chervonenko, reSPonSável Pela Seleção cubana de boxe, e dá início a uma marca exTraordinária: deSde enTão, nunca mais perderia uma luta em território cubano. a eSTreia inTernacional Se dá noS jogoS Pan-americanoS de cáli, na colômbia, em 1971. STevenSon Perde Para o americano duane bobick, em deciSão Polêmica doS juízeS. fica com o bronze. em 1972, começa o reinado internacional de STevenSon. ganha Seu Primeiro ouro olímPico em munique, com direiTo a revanche conTra bonick.
conquiSTa ouTroS doiS ouroS olímPicoS, em monTreal-1976 e moScou-1980. aTÉ hoje, É o único boxeador que deTÉm três títulos olímpicos na meSma caTegoria de PeSo.
oS braçoS longoS e aS PernaS ágeiS de STevenSon fazem dele um PeSo-PeSado diferenTe: é mais técnico, mais veloz e mais letal que todos os outros.
a lenda corre o mundo e com ela Surgem aS oferTaS TenTadoraS. o boxe ProfiSSional quer levá-lo Para oS eSTadoS unidoS. STevenSon deSPreza o dinheiro:
“de que me vale um milhão de dólares americanos comparado ao amor de oito milhões de cubanos?”
uma ProPoSTa eSTremece o mundo do boxe: Por que não fazer um Tira-Teima com muhammad ali, ouTra lenda doS PeSoSPeSadoS? dizem Para STevenSon cobrar qualquer quanTia, maS o amigo de fidel caSTro Se manTÉm fiel ao comuniSmo: “não me vendo Por nada neSSe mundo.” a luTa enTre oS doiS maioreS PugiliSTaS da hiSTória jamaiS Seria realizada.
STevenSon encerra a carreira em 1988, doiS anoS dePoiS de conquiSTar o TricamPeonaTo mundial. Seu carTel imPreSSiona: 301 vitórias em 321 lutas.
ao deixar oS ringueS, Se Torna funcionário da federação de boxe cubana. morre em havana, em 11 de junho de 2012, aoS 60 anoS.
NÚMERO 17 OUTUBRO/NOVEMBRO 2014
OUTUBRO/NOVEMBRO 2014 | Edição 17 | Ano 5 | www.istoe2016.com.br • VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA • E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ
ISTOÉ 2016
FARRA NO BOLSA ATLETA CONFEDERAÇÕES USAM BRECHAS NA LEI PARA ARRANCAR MILHÕES DOS COFRES PÚBLICOS FEROZ E VELOZ ANA CLÁUDIA LEMOS, A MULHER MAIS RÁPIDA DO BRASIL, BRIGOU COM DEUS E O MUNDO. AGORA, ESTÁ EM BUSCA DE CONCILIAÇÃO
ISAQUIAS QUEIROZ, O SOBREVIVENTE ELE PERDEU UM RIM, FOI SEQUESTRADO E DEIXOU ESCAPAR O TÍTULO MUNDIAL POR UM VACILO – MAS É FAVORITO AO OURO NA CANOAGEM
PONTE AÉREA A ROTA SÃO PAULO-RIO, VITAL PARA A OLIMPÍADA, COMPLETA 100 ANOS E RENOVA SUA IMPORTÂNCIA PARA A ECONOMIA DAS DUAS CIDADES
MERGULHO DE QUALIDADE ACREDITE: O BRASIL FINALMENTE TEM CHANCE DE MEDALHA NOS SALTOS ORNAMENTAIS EM 2016
O NOVO CIELO? MATHEUS SANTANA, 18 ANOS, RECORDISTA MUNDIAL JÚNIOR DOS 100 METROS LIVRE E UM DOS MELHORES VELOCISTAS ADULTOS DO MUNDO
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