A R T E E C U LT U R A C O N T E M P O R Â N E A
JUN/JUN/AGO 2022 VOL. 11 N. 54
DECOLONIZE THIS PLACE DOCUMENTA 15 RESIDENTE GISELLE BEIGUELMAN RICARDO LÍSIAS
FORA FORA FORA LUTO FORA FORA FORA FORA FORA FORA FORA FORA LUTA +++
MILÍCIA FOME PODEROSOS É LUTA! GARIMPO PRISÕES ESCRAVIDÃO AGRO ARMAMENTISTAS ESPECULADORES PROPAGANDA GENOCIDA ANTIFASCISTA!
Re-Antropofagia (2019), de Denilson Baniwa
INFORMAR
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a arte jovem, suas diversas linguagens e possibilidades. 40 artistas, entre 15 e 30 anos, de diversas localidades do Brasil. curadoria André Pitol Luciara Ribeiro
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42 ENTREVISTA
DECOLONIZE THIS PLACE Artistas integrantes do movimento discutem suas estratégias descoloniais para amplificar lutas sociais
62 HISTÓRIAS BRASILEIRAS
QUEM TEM MEDO DO MST? Dora Longo Bahia e o capital financeiro no pano de fundo da crise do Masp
130 CURADORIA
COMUNICADOS EM TEMPO DE INSURGÊNCIA A s re l a ç õ e s e n t re a r te, d e s i g n e p o l í t i c a se ex p re ssa m g ra f i ca m e n te, e m co n tex tos d e re p re ss ã o , v i o l ê n c i a , g u e r ra o u c r i se d e m o c r á t i ca
74
120
PORTFÓLIO
ESTUDO DE CASO
GISELLE BEIGUELMAN
THIS IS NOT AMERICA
A desinformação
a persistência da expropriação
como um vírus contagioso
dos povos colonizados
88
+
ENSAIO
EXPANDIDA
POLÍTICA E IMAGEM
CURADORIA ONLINE
Ricardo Lísias analisa as táticas
natureza transformam a “legenda”
INTERNACIONAL
Artistas críticos midiáticos por
^
102
Clipe do rapper Residente denuncia
em dispositivo político
ARTE QUE INFORMA Reportagem aborda os 50 anos da Galeria Múltipla, que lançou
DOCUMENTA 15
o conceito do múltiplo no
Práticas comunais
mercado de arte brasileiro
fundamentam curadoria do coletivo ruangrupa SEÇÕES
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Editorial
REPORTAGEM
Da Hora
MEME CRÍTICA
Acervos Itaú Cultural
Humor no Instagram desconstrói vícios de funcionamento do circuito cultural
Coluna Móvel Mundo Codificado #FLORESTAPROTESTA Crítica Em Construção
10 16 32 34 40 146 156 178
FOTO: COMMITTEE TO DEFEND THE PANTHERS (1970, FAITH RINGGOLD); CARTAZ DO ATELIER POPULAIRE (1968)
E D I TO R I A L
ARTE E POLÍTICA: MANIFESTO 2 10
Informar é o oposto de viralizar;
Valorizar as histórias, as ideias e os tempos em seu potencial compartilhável;
Informar é checar, confrontar dados e versões,
Amplificar vozes silenciadas e sistemas de pensamento diversos;
processo que demanda tempo e responsabilidade; Reivindicar existência e permanência; Informar é narrar as histórias do cotidiano, com suas muitas camadas de complexidade, suas
Desimpregnar de imediatismo, virtualidades e desinformação;
capacidades inventivas em cada mínima nuance; Contribuir para o crescimento social; Informar é atentar ao detalhe sem perder a noção do todo, do contexto que esclarece as particularidades;
Produzir (outras) frentes de comunicação e cultura;
Colocar sobre os fatos observados uma lente hiper-
Amplificar lutas combatendo os argumentos mentirosos da “guerra de
reflexiva;
narrativas”;
Jogar luz sobre problemas e tensões negligenciados
Denunciar estruturas patriarcais, coloniais e todas as formas de violência;
pelo sistema; Denunciar a degradação da linguagem; Transmitir ideias culturais e políticas de forma não descartável;
Acolher identidades que não são fixas, abraçar todo tipo de diversidade, “desoutrificar”, dialogando em igualdade;
Informar é se comunicar por meio de uma linguagem não codificada;
Informar é começar uma conversa;
Informar é amplificar as lutas sociais que se opõem
É um exercício de escuta.
ao projeto obscurantista em curso no país; É testemunhar as lutas de proteção à terra indígena,
Da Redação
noticiar e amplificar essa luta; Desinfectar códigos de programação racistas e intolerantes; Produzir conteúdo a partir de múltiplas camadas de dados e avaliando criticamente as diferentes interpretações; Articular mecanismos de difusão de ideias que não necessariamente levam à viralização da mensagem; Estudar, pesquisar, apurar e divulgar o que não é visível e central; Vigiar e difundir as condições que asseguram os direitos humanos; Ater-se aos fatos;
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Capa: Cartaz da campanha FTP (Fuck The Police), Decolonize This Place
Um arquivo do mundo para apresentar a Deus no Dia do Juízo. Essa foi a tarefa que Arthur Bispo do Rosario deu a si. Sua obra – criada dentro de uma cela de manicômio – abrange objetos ressignificados, bordados,vestimentas e esculturas, perturba conceitos de loucura e amplia os sentidos da arte.
VISITAÇÃO até domingo 2 de outubro de 2022 terça a sábado 11h às 20h domingo e feriados 11h às 19h
foto: Hugo Denizart
ENTRADA GRATUITA ITAÚ CULTURAL Avenida Paulista, 149, São Paulo, SP, próximo à estação Brigadeiro do metrô
EXPEDIENTE
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EDITORA RESPONSÁVEL: PAULA ALZUGARAY
DIRETORA DE REDAÇÃO: PAULA ALZUGARAY REDATORA-CHEFE: JULIANA MONACHESI DIRETORA DE ARTE: NINA LINS REPÓRTER JÚNIOR: LUANA ROSIELLO PROJETO GRÁFICO ORIGINAL: RICARDO VAN STEEN E CÁSSIO LEITÃO
COLABORADORES
Ademar Britto Jr., Artur Lescher, Beto Sanovicz, Dora Longo Bahia, Gabriella Marinho, Gustavo Caboco, Leonardo Antan, Lilla Cirenza Lescher, Mari Stockler, Mateus Nunes, Monica Tinoco, Ricardo Lísias, Talita Hoffmann.
SECRETÁRIA FINANCEIRA
Cristina Dias
ESTÁGIÁRIA FINANCEIRA
Yara Céu
COPY-DESK E REVISÃO
CONTATO
PUBLICIDADE
ATENDIMENTO AO ASSINANTE
Hassan Ayoub
faleconosco@select.art.br
ACROBÁTICA EDITORA LTDA. Rua Angatuba, 54 - São Paulo - SP, CEP: 01247-000, Tel.: (11) 3661.7320
Pelo e-mail assinaturas.select@gmail.com ou (11) 3618.4566. De 2ª a 6ª feira das 09h00 às 20h30 OUTRAS CAPITAIS: 4002.7334 DEMAIS LOCALIDADES: 0800-888 2111 (EXCETO LIGAÇÕES DE CELULARES)
WWW.SELECT.ART.BR
SELECT (ISSN 2675-8296) é uma publicação da ACROBÁTICA EDITORA LTDA., Rua Angatuba, 54 - São Paulo - SP, CEP: 01247-000, Tel.: (11) 3661.7320 / Nossa Redação está situada na Travessa Dona Paula 112, CEP 01239-050, São Paulo, SP
A P O I O C U LT U RA L :
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COLABORADORES
LEONARDO ANTAN RICARDO LÍSIAS Escritor, autor de romances, contos e ensaios. Para analisar a decadência da democracia no Brasil e no mundo, publicou Diário da Catástrofe Brasileira – Ano I – O Inimaginável Foi Eleito e Diário da Catástrofe Brasileira – Ano II – um genocídio escancarado. ENSAIO 88
ADEMAR BRITTO JR. Formado em Estudos Curatoriais pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com formação também em Medicina, com especialização em Cardiologia e mestrado em Ciências Cardiovasculares pelo Instituto Nacional de Cardiologia do Rio de Janeiro. CRÍTICA 166
MATEUS NUNES Doutor em História da Arte pela Universidade de Lisboa, com período na USP, onde é professor convidado. Arquiteto e urbanista pela UFPA, em Belém, pesquisador integrado do Instituto de História da Arte da Universidade de Lisboa e professor do Masp. ESTUDO DE CASO 150 INTERNACIONAL 102
DORA LONGO BAHIA Artista e professora da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. HISTÓRIAS BRASILEIRAS 62
GABRIELLA MARINHO Artista representada pela 01.01 Art Platform e jornalista com especialização em Literaturas Africanas pela UFRJ, investiga a relação sociopolítica entre corpo e território. Atua há dez anos em frentes de comunicação no terceiro setor, sendo hoje colaboradora do PerifaConnection. COLUNA MÓVEL 34
MONICA TINOCO
JOSÉ BENTO FERREIRA Crítico de arte, professor de Filosofia e doutor em Artes pela Universidade de São Paulo. PORTFÓLIO 120
MARI STOCKLER Estudante de arquitetura na Escola da Cidade e trabalha no núcleo de design da escola. FLORESTA PROTESTA 146
Fotógrafo. CRÍTICA 170
Artista visual, professora e pesquisadora independente. Mestre e doutora em Artes Visuais pela Unesp, pós-doutoranda pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. CRÍTICA 170
ARTUR LESCHER
LILLA CIRENZA LESCHER
TALITA HOFFMANN Artista graduada em Design Gráfico e Artes Visuais, com exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. FLORESTA PROTESTA 148
BETO SANOVICZ
GUSTAVO CABOCO Artista visual Wapichana, trabalha na rede Paraná-Roraima e nos caminhos de retorno à terra. Sua produção com desenho-documento, pintura, texto, bordado, animação e performance propõe maneiras de refletir sobre os deslocamentos dos corpos indígenas e as retomadas de memória. LITERATURA 154
Historiador da arte, curador e escritor. Graduado e mestre em História da Arte pela Uerj, onde pesquisou a linguagem artística dos desfiles das escolas de samba. É editor do projeto multiplataforma Carnavalize. CRÍTICA 156
Coordenadora do movimento 342Artes e 342Amazônia. COLUNA MÓVEL 36
Artista. Destaca-se no atual panorama da arte contemporânea brasileira por suas obras tridimensionais realizadas há mais de 30 anos. FLORESTA PROTESTA 146
OMA Galeria agora também nos Jardins SP | Rua Pamplona, 1197, casa 4 - Jardins SBC | Rua Carlos Gomes, 69 - Centro @omagaleria
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RIO DE JANEIRO
HAL WILDSON - RE-UTOPYA Até 30/7, Galeria Movimento, Rua dos Oitis, 15, Rio de Janeiro| https://www.galeriamovimento.com.br A primeira individual do artista goiano Hal Wildson articula uma revisão crítica acerca da história recente do Brasil e da formação de seu povo. Uma espécie de releitura da obra O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro, a mostra elabora questionamentos sobre memória, esquecimento, identidade, passado e futuros possíveis. Entre as obras expostas, a série Singularidades (Memória e Identidade) (foto) e a bandeira que dá título à mostra, Re-Utopya (2021) – bordado sobre bandeira do Brasil impressa em cetim –, é uma inquietante proposição para pensar os problemas do país no bicentenário da Independência. A fotografia com uma criança da aldeia Rio Silveira, da etnia Guarani Mbyá, de São Sebastião (comunidade que acolheu o artista na pandemia), terá parte do valor de sua venda revertida para a aldeia. “Essa é a família para quem eu queria projetar esse futuro de Brasil”, diz o artista.
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FOTOS: CORTESIA CENTRAL GALERIA
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RIO DE JANEIRO
GIRA De 16/6 a 16/10, Museu de Arte do Rio (MAR), Praça Mauá, 5, Centro Jornais, revistas, faixas de divulgação de shows e cartazes de propaganda política, entre outros descartes, compõem o novo conjunto de trabalhos de Jarbas Lopes, realizado especialmente para a mostra individual no MAR. A ideia é colocar produtos e objetos descartados para circular e serem ativados coletivamente pelos visitantes no espaço expositivo, em um questionamento à obsolescência das coisas. A proposição está alinhada às reflexões que a cidade do Rio de Janeiro acolherá durante o evento Rio + 30: o meio ambiente 30 anos depois da conferência ECO-92. À pauta ambiental somam cerca de cem obras produzidas ao longo dos 30 anos de trajetória do artista. VOL. 11 / N. 54
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FOTOS: CORTESIA GALERIA FOTOS: CASSIA TABATINI / DIVULGAÇÃO; BRUNO LEÃO / CORTESIA DA ARTISTA E GALERIA MENDES WOOD DMCENTRAL © ROSANA PAULINO
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RIO DE JANEIRO
MOVIMENTO ARMORIAL: 50 ANOS De 29/3 a 27/6, Centro Cultural Banco do Brasil, Rua Primeiro de Março, 66 | ccbb.com.br/rio-de-janeiro/ Música e artes plásticas encontram-se na mostra que homenageia a Arte Armorial, introduzida pelo dramaturgo e escritor paraibano Ariano Suassuna. Com curadoria de Denise Mattar, obras de Francisco Brennand, Antônio Carlos Nóbrega, Gilvan Samico [Pe. Cícero Romão (1974)] e Aluísio Braga, entre outros, ilustram a produção do movimento artístico lançado no Recife em 1970. A exposição é organizada em núcleos, trazendo à tona a diversidade, tradições e as mais representativas raízes da cultura popular nordestina.
S Ã O PA U L O
ATOS MODERNOS Até 4/7, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Praça da Luz, 2 | http://pinacoteca.org.br Resultado de parceria entre a Coleção Ivani e Jorge Yunes e a Pinacoteca, a exposição do projeto Atos Modernos apresenta cinco obras inéditas dos artistas Castiel Vitorino Brasileiro, Mitsy Queiroz, Luciara Ribeiro, Olinda Wanderley Tupinambá (foto)e Charlene Bicalho. “As obras procuram discutir aspectos da modernidade na produção e no pensamento contemporâneo em um ano de marcos importantes. Tratar das contradições e das memórias que nos constituem torna-se urgente”, define Horrana de Kássia Santoz, curadora de Pesquisa e Ação Transdisciplinar Coleção Ivani e Jorge Yunes. F O R TA L E Z A
DESENHOS: GEOMETRIA IMPERFEITA / CAVIDADES DILATADAS Até 4/9, Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Rua Dragão do Mar, 81 | http://www.dragaodomar.org.br/espacos/museu-de-artecontemporanea Partindo da premissa de que, num museu de arte contemporânea, a obra não deve ser mediada por nenhum suporte, o artista fortalezense Eduardo Frota, junto da curadora Jacqueline Medeiros, desbrava a superfície da materialidade concreta do espaço para criar uma nova fisicalidade. Com uma intervenção artística ampla e direta na arquitetura do museu, Frota discute questões sobre arte, fluxo, espaço e tempo, tais como o que significa ser um museu de arte do ponto de vista da arquitetura, circuitos de arte no Brasil ou ainda até que ponto a obra de um artista hoje está submetida ao espaço expositivo. Trabalhando com o mínimo possível de material, o artista desnuda desenhos e formas, muitos deles revelados pelo próprio ambiente do MAC-CE. VOL. 11 / N. 54
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FOTOS: LUIZ ALVES/ DIVULGAÇÃO
S Ã O PA U L O
S Ã O PA U L O
NIOBE XANDÓ & ERNESTO NETO
CANTOS DE IMAGENS
Até 30/7, Gomide&Co, Al. Ministro Rocha Azevedo, 1.052 |
De 2/7 a 18/9, Casa de Cultura do Parque, Av. Professor Fonseca Rodrigues, 1.300 |
http://gomide.co
https://ccparque.com
Em parceria com a Fortes D’Aloia & Gabriel, a Gomide&Co
“O pincel é o nosso terçado”, costumam afirmar os integrantes do MAHKU (Movimento
apresenta a série de pinturas Flores Fantásticas, de Niobe
de Artistas Huni Kuin), que dedicam seu trabalho artístico e intelectual para o sustento da
Xandó, em diálogo com as obras de crochê e materiais
vida coletiva nas aldeias. A partir de julho, eles apresentam em São Paulo um conjunto de
orgânicos de Ernesto Neto. O recorte de obras evidencia a
pinturas e esculturas na primeira mostra inteiramente dedicada à sua produção, realizada
espiritualidade e o encantamento que os artistas cultivam
em território nacional. A exposição traz novas representações visuais dos cantos e mira-
em suas práticas. O encontro inédito oferece ao público a
ções de fundo mítico e ritual desse povo indígena que vive entre o estado do Acre e o Peru.
possibilidade de uma leitura singular: as telas de Xandó
O grupo, fundado em 2013 no município de Jordão, no Acre, é formado atualmente por Ibã
desenvolvidas entre as décadas de 1950 e 1990 e os
Huni Kuin, Kássia Borges, Pedro Maná, Cleiber Bane e Acelino Tuin. A produção da mostra
trabalhos de caráter sensorial de Neto dialogam entre si e
é de Carmo Johnson Projects, com a acolhida de Cláudio Cretti, diretor artístico da Casa
também com a arquitetura da casa modernista de Flávio de
de Cultura do Parque, e a supervisão dos curadores Daniel Dinato e Ibã Huni Kuin, o ca-
Carvalho que acolhe a galeria.
talisador do coletivo. Na foto, Yube Nawa Ainbu (Mulher do Povo Jiboia), de Acelino Tuin.
RIO DE JANEIRO
ONDE ESTÁ O SUJEITO? Até 24/7, Centro Cultural Justiça Federal, Av. Rio Branco, 241 | https://www10.trf2.jus.br/ccjf/ Com curadoria de Evandro Salles, a mostra promove uma retrospectiva do trabalho de Rogério Reis que transita entre o fotojornalismo e a arte. A individual marca 45 anos de sua trajetória, apresentando cerca de cem obras distribuídas em nove séries. Além de fotos, ensaios, vídeos e objetos, há trabalhos inéditos realizados durante a pandemia, como Exaustão, Phebolitos, Encobertos e outros ressignificados especialmente para a mostra, como Na Lona (1986-2002), Surfistas de Trem (1989), Ninguém É de Ninguém (2011-2014), Linha de Campo (2013) e Micro-Ondas (2004). FOTOS: CORTESIA DO ARTISTA / CORTESIA E-FLUX FOTOS: DIVULGAÇÃO FOTOS: DOMICIANO DIAS / DIVULGAÇÃO; FOTO DIEGO ROCHA / ACERVO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO; DIVULGAÇÃO; E CORTESIA DO ARTISTA (BILL LUNDBERG)
B R A G A N Ç A PA U L I S TA
BRASIS: 20º FESTIVAL ARTE SERRINHA De 9 A 30/7, Fazenda Serrinha e Parque Natural Arte Serrinha | www.arteserrinha.com.br Com shows de Otto e Arnaldo Antunes, o multiartístico Fes22
tival Arte Serrinha chega em grande estilo à sua 20ª edição. Oficinas, residências, shows, cinema, arte e debates, com atrações pagas e gratuitas, acontecem ao longo de três semanas. Entre os destaques, o lançamento nacional do filme Lavra (2021), de Lucas Bambozzi (foto), sobre a contaminação de rios e os destroços de vidas após o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), o maior crime ambiental do Brasil moderno. Não poderia faltar ainda uma programação relacionada ao centenário da Semana de 22: o ator Pascoal da Conceição, a curadora Denise Mattar e o músico Zé Pi participam da mesa Modernismo e Antropofagia, enquanto o estilista Ronaldo Fraga desfila no Teatro Carlos Gomes e realiza a oficina Turista Aprendiz: Apresentando Uma Coleção de Moda.
S Ã O PA U L O
AUTOCONSTRUÇÃO O COMUM DE NÓS De 19/6 a 17/7, Ocupação 9 de Julho MSTC, Rua Álvaro de Carvalho, 427, Centro, @oficinadearteocupacao9dejulho Um projeto sociopolítico composto de oficinas de desenho, argila e texto, ministradas na Oficina da Ocupação 9 de Julho ao longo do primeiro semestre, culmina agora na exposição dos trabalhos desenvolvidos pelas moradoras do edifício. O compartilhamento de experiências, de táticas e práticas de sobrevivência, cuidado e autoproteção foram as proposições do projeto de “autoria diluída” e compartilhada entre mulheres artistas, com o intuito de “autoconstrução” de uma resistência comum ao estado de colapso e desigualdade extrema da realidade brasileira hoje.
VILA VELHA
MARILÁ DARDOT – PENSAMENTO DO FORA (REVISITADO) Parque Cultural Casa do Governador, Rua Santa Luzia – Praia da Costa, Vila Velha-ES Vinte anos depois de realizar o trabalho Pensamento do Fora (2002), nos jardins do Museu da Pampulha, em Belo Horizonte, Marilá Dardot revisita e reedita o projeto no Parque Cultural Casa do Governador, em Vila Velha, Espirito Santo. A artista distribuiu no parque 46 placas com citações de livros de autora(e)s mulheres, LGBTQIA+, negras, negros e indígenas, publicados ou reeditados no Brasil nos últimos 20 anos. Os livros foram doados ao parque para ser utilizados pelo setor educativo e lidos pelo público. Em ação paralela, Marilá Dardot convidou as autoras Cidinha da Silva e Stephanie Borges para uma conversa sobre literatura em mercado editorial, com foco em autoras negras. O vídeo está disponível. A artista também realiza individual na Galeria Vermelho, em São Paulo, a partir de junho.
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S Ã O PA U L O
MULHERES ARTISTAS: NOS SALÕES E EM TODA PARTE Até 30/7, Galeria Arte132, Av. Juriti, 132 | https://arte132.com.br Com curadoria de Ana Paula Cavalcanti Simioni, autora de vasta pesquisa sobre o tema, a exposição propõe reavaliação da história e produção de artistas ofuscadas pelo machismo na arte, parte delas egressas da Academia, e em sua maioria com participações constantes nos Salões da primeira metade do século 20. ”São várias as artistas brasileiras não pontuadas pela história da arte”, afirma Simioni, que trabalha aqui com obras de Aurélia Rubião, Bellá Paes Leme, Dorothy Bastos (Composição, na foto), Georgina de Albuquerque, Haydéa Lopes Santiago, Lucília Fraga, Miriam Chiaverini, Lucci Citty Ferreira e Yvone Visconti Cavalleiro, entre muitas outras.
RIO DE JANEIRO
NAKOADA: ESTRATÉGIAS PARA A ARTE MODERNA 9/7 a 27/11, MAM Rio, Av. Infante Dom Henrique, 85 | https://mam.rio Escapar das armadilhas do modernismo é o desafio autoproposto pelo artista Denilson Baniwa e por Beatriz Lemos, curadora-adjunta do MAM Rio, em uma parceria curatorial que tem como eixo o conceito de Nakoada, estratégia de guerra do povo Baniwa da região do Alto Rio Negro para elaborar novas possibilidades de permanência no mundo. “Nakoada é um gesto de retorno. Seria o momento em que pessoas que foram alvo de ações externas entendem o poder opressor do outro e agora procuram uma possibilidade de retornar à sua própria autonomia”, diz Baniwa. A mostra articula trabalhos especialmente realizados por quatro artistas e coletivos contemporâneos convidados – Cinthia Marcelle, Mahku, Novíssimo Edgar e Zahy Guajajara – com obras icônicas do modernismo brasileiro, como Djanira (Cafezal, 1952, na foto).
FOTOS: EVERTON BALLARDIN E IGNEZ CAPOVILLA
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BRASÍLIA
ILÊ FUNFUN: UMA HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE RUBEM VALENTIM Até 7/8, Museu Nacional da República | A partir de 9/11, MAM Bahia Quando a escultura Templo de Oxalá, do artista baiano Rubem Valentim, foi apresentada pela primeira vez na 14ª Bienal de São Paulo, em 1977, o crítico Frederico de Moraes afirmou que aquela representou “a primeira eclosão da espiritualidade dos afro-brasileiros (...), realizada no mais alto nível das conquistas plásticas da arte contemporânea internacional”. Em homenagem ao pioneiro, a mostra itinerante comemorativa do centenário do nascimento de Rubem Valentim (1922-1991) chega agora ao Museu Nacional da República, após passar pela Galeria Almeida & Dale, em São Paulo. O título faz referência à religiosidade que moveu o artista desde os anos 1950, em sua pesquisa das questões litúrgicas das religiões de matriz africana. Ilê significa casa e terreiro, templo sagrado do culto aos orixás, e Funfun, a cor branca que veste a família de Oxalá. Com curadoria de Daniel Rangel, a mostra organiza-se em três conjuntos: esculturas e relevos doados ao MAM-BA em 1997, obras inacabadas que estavam em processo de realização quando o artista faleceu em 1991, e uma cronologia com documentos de arquivo pessoal. O retorno para casa acontecerá quando a exposição itinerante chegar ao MAM-Bahia em novembro, mês em que Valentim completaria 100 anos. VOL. 11 / N. 54
JUN/JUL/AGO 2022
COLEÇÃO DE LIVROS DA CÁTEDRA OLAVO SETUBAL DE ARTE, CULTURA E CIÊNCIA Org. Martin Grossmann, Ana Paula Marzagão e Liliana Sousa e Silva,, Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência Desde 2015, o Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA), em parceria com o Itaú Cultural, organiza conferências, seminários e mesas-redondas com o
ELISA STECCA IMPROVÁVEL
intuito de fomentar reflexões interdis-
Coordenação editorial Paula Alzugaray, texto e entrevista
ciplinares sobre temas acadêmicos,
Rejane Cintrão, 160 págs., R$ 143
artístico-culturais e sociais nos âmbitos
O Fruto de um diálogo entre a artista Elisa Stecca e a curadora
regional e global. Como resultado, cinco
Rejane Cintrão, o livro pega emprestado o titulo de uma série de
volumes são agora editados: De Kant
esculturas realizadas em 2019. Improváveis foi inicialmente um
a Machado de Assis: Reflexões sobre a
jogo composto pela artista no Instagram, no qual dez peças eram
Modernidade no Brasil; Arte, Cultura e
montadas em pedra e cerâmica e depois remontadas em outros
Institucionalidade; Centralidades Peri-
arranjos. Improváveis são também os encontros de materiais
féricas: Diálogos sobre Arte e Cultura
que a artista promove em 18 séries de trabalhos instalativos e
no Brasil; e Relações do Conhecimento
escultóricos, realizados nos últimos seis anos e aqui reunidos.
entre Arte e Ciência: Gênero, Neocolonialismo e Espaço Sideral – Vols. 1 e 2.
SAMSON FLEXOR – ALÉM DO MODERNO Org. Kiki Mazzucchelli, MAM-SP, 216 págs., R$ 150
participou do movimento de renovação das artes visuais nos anos 1950 como artista
AGNALDO MANUEL DOS SANTOS – A CONQUISTA DA MODERNIDADE
e como professor em seu Ateliê Abstração. A publicação apresenta centenas de
Org. Juliana Ribeiro da Silva Bevilacqua,
obras datadas entre os anos 1922 e 1970. Com textos de Kiki Mazzucchelli, Mário
Galeria Almeida & Dale, 216 págs.
Pedrosa, Vilém Flusser, Vera Pedrosa, Silvia Cajado e Clarival Valladares.
Livro-catálogo reconstrói a trajetória
O catálogo da mostra, em cartaz no Museu de Arte Moderna de São Paulo até 26/6, apresenta a produção de um dos artistas pioneiros da abstração no Brasil. Flexor
e produção do artista baiano da ilha de Itaparica. A mostra, que esteve em cartaz em dezembro de 2012, na A&D, foi a maior já realizada sobre Manuel dos Santos, apresentando cerca de 60 obras, entre documentos e esculturas em madeira, todas ilustradas na publicação, acompanhadas de textos inéditos
LUCIA LAGUNA
de
autoria
curadora
Juliana Bevilacqua que pesquisa o
Org. Marcelo Campos, Editora
artista desde 2013.
A edição bilíngue conta com textos
COMO ZELAR UMA CIDADE VAZIA
inéditos de Diane Lima e Luiz Anto-
Marcelo Terça-Nada!, Editora Medusa,
O DESEJO DOS OUTROS – UMA ETNOGRAFIA DOS SONHOS YANOMÂMI
nio Simas e organiza a obra da artis-
52 págs., R$ 45
Org. Daniel Rangel, Galeria Almeida & Dale, 200 págs.
ta em três categorias que dão nome
O fotolivro é composto de imagens
No momento em que se comemoram 30 anos da
às suas séries de pintura: Paisagem
realizadas na cidade de Salvador du-
homologação da Terra Indígena Yanomâmi, este livro
e Arquitetura, Jardim e Mundo, Es-
rante a quarentena imposta pela Co-
alerta a importância do sonho para a resistência indí-
túdio e Janela. Os textos discorrem
vid-19, estabelecendo uma narrativa
gena. Entre os Yanomâmi, os sonhos não são desejos
sobre a genealogia do bairro do Ro-
ficcional em uma cidade esvaziada
inconscientes do sujeito, como descreve a psicanálise:
cha e a influência do subúrbio cario-
por tempo indeterminado. O livro
sonhar é habitar outros mundos, deparar com outros
ca na obra de Laguna, a observação
integra a Caixa AZero, que reúne
seres e, nesses encontros, mobilizar-se pelo desejo
do cotidiano, a influência da geogra-
35 publicações de artistas partici-
dos outros. Além disso, o sonho, especialmente ao ser
fia da cidade, o método, a disciplina
pantes de residência promovida em
socializado, adquire funções práticas, desempenhan-
e as referências à história da arte.
2021 pela Editora Medusa.
do um papel político no dia a dia da comunidade.
Cobogó, 224 págs., R$ 150
da
A C E R V O S I TA Ú C U LT U R A L A C E R V O S I TA Ú C U LT U R A L
SABERES INDÍGENAS COMBATE À DESINFORMAÇÃO 20 32
Em verbetes projetos edaverbetes do Itaú proposição de um pensamentocontra as Em Enciclopédia e Cultural, projetos, ainstituto trabalha assiduamente crítico sobre relações entre sociedade, política, no tecnologia e meio ambiente fake news e aas favor da produção de conhecimento país PROJETO
A ESTRELA A Estrela – projeto contemplado pelo Rumos 2015-2016 –, da jornalista Natália Martino com o fotógrafo Leo Drumond, ofereceu cursos profissionalizantes de comunicação a presidiários de Belo Horizonte (MG). Coordenados pela dupla, os presos aprenderam linguagens e técnicas de produção de vídeo, fotos e textos. Com essa capacitação desenvolveram a revista A Estrela. Foram produzidas quatro edições do projeto com apoio do Rumos. A proposta visou abrir perspectivas paraMULTICULTURALISMO esses homens e mulheres que perderam a
(...) No campo artes, o multiculturalismo assume CARIMBÓ liberdade e trazer uma pluralidade para o debate sobre questões carcerárias nodas Brasil. Gênero musical, dança e expressão artística de origem
formas variadas, ainda que tenha sempre caráter
amazônica, em particular no nordeste do estado
engajado e intervencionista, definido em função da
SÉRIE REPÓRTER experiência social do artista: sua origem, pertencimento do Pará, o carimbó conta com matrizes africanas, A jornalista, documentarista e ficcionista Elianeetc. Brum realizou para–oonde o de classe, orientação sexual (...) Nos EUA indígenas e europeias historicamente desenvolvidas Itaú Cultural a curadoria da segunda edição da Série Repórter, 2015, multiculturalismo é definido e teorizado porem intelectuais por setores sociais marginalizados, entre os quais do terceiro-mundista jornalismo por excelência”, isto é, a reportagem. de origem –, as relações entre comunidades pesqueiras, rurais e suburbanas. Aabordando “a narrativa O evento ocorreu no início de setembro daquele ano e agrupou produção artística e política estreitam-se naprofissiodécada de hipótese é de que o nome advém do tupi curi m’bó: em nais jovens e veteranos na prática doajornalismo: José1969, Hamilton Ribeiro, 1970. Basta lembrar criação, em da Art Workers português, pau oco escavado. “Curimbó” – ou korimbó – Lúcio Flávio Pinto, Clóvis Rossi, Laura Capriglione e Bruno Torturra,de entre Coalition – AWC [Coalizão dos Trabalhadores Arte], também designa o tambor tocado nas apresentações outros. Em entrevista a Duanne Ribeiro, Brum falou sobre as condições da em Nova York, e do simpósio organizado pela revista (...). Menções a carimbó já eram publicadas no século
produção hoje“O e aArtista importância desse gênero discussão. “É Artforum, e a Política”. [...] Ode Brasil parece 19, mas de modo depreciativo e persecutório (...). Antes jornalística fundamental para qualquer sociedade que se conte a história cotidiana ficar à margem dessas discussões até a década de 1980, atacadas e menosprezadas pelas elites econômicas das várias comunidades. O repórter documenta a memória das e tem a amdata do fortalecimento e da visibilidade chamadas e políticas, as expressões sociais, culturais, artísticas bição de construir memória. A reportagem uma reflexão em movimento minorias étnicas, raciais eéculturais. e religiosas vinculadas ao carimbó paulatinamente
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sobre essa história em movimento.” ganham a apreciação de outras camadas da sociedade.
Links em select.art.br/acervos
VOL. 11 / N. 54 JUN/JUL/AGO 2022 VOL. 10 / N. 49 JAN/FEV/MAR 2021
VERBETES PROJETOS UNA SHUBU HIWEA – LIVRO ESCOLA VIVA Na edição 2013-2014 doLIVRO edital ESCOLA Rumos Itaú Cultural, a UNA SHUBU HIWEA – VIVA
Editora Dantes foi selecionada para a publicação dea Na edição 2013-2014 do edital Rumos Itaú Cultural, um livroDantes que registrava a sabedoria dosde Huni Editora foi selecionada para medicinal a publicação Kuin, população indígena do Acre. Omedicinal livro é parte um livro que registrava a sabedoria dosde Huni um projeto mais amplo, que inclui Una Shubu Hiwea Kuin, população indígena do Acre. O livro é parte de – Livro Escolamais Viva,amplo, documentário e Una site que organizam um projeto que inclui Shubu Hiwea – a pesquisa desenvolvida pela editora Anna Dantes e Livro Escola Viva, documentário e site que organizam
equipe,desenvolvida com membros como o botânico Alexandre asua pesquisa pela editora Anna Dantes e Quinet, o etnobotânico Pedro Luz, a fotógrafa Camila sua equipe, com membros como o botânico Alexandre
Coutinho, o pajé ManuelPedro Vandique Buse, aCamila liderança Quinet, o etnobotânico Luz, aDua fotógrafa Huni Kuin José e a escritora Ana Miranda. Coutinho, o pajéMateus ManuelItsairu Vandique Dua Buse, a liderança A Editora existeItsairu desdee1994 e está focada na Huni Kuin Dantes José Mateus a escritora Ana Miranda. transmissão e na materialização dos saberes indígenas A Editora Dantes existe desde 1994 e está focada na pela palavra escrita. transmissão e na materialização dos saberes indígenas pela palavra escrita.
ABDIAS DO NASCIMENTO Abdias do Nascimento (Franca, São Paulo, 1914 – Rio de Janeiro, 2011). Ator, diretor e dramaturgo. Militante na luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra. (...) Dirige, entre 1948 e 1951, o jornal Quilombo, órgão de divulgação do grupo e de notícias de outras entidades do movimento negro. (...) No Rio de Janeiro, com o apoio de uma série de artistas e intelectuais brasileiros, inaugura o Teatro Experimental do Negro (TEN), em 1944, com a proposta de trabalhar pela valorização social do negro por meio da cultura e da arte. (...) Devido à perseguição política, em 1968, Nascimento parte para um exílio que dura 13 anos. Na volta ao país, investe na carreira política, assume cargo de deputado federal e senador da República pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), sempre reivindicando um lugar para a cultura negra na sociedade.
EVANDRO TEIXEIRA
PODCASTS MEKUKRADJÁ
Apresentado por Daniel Munduruku, o programa tem enfoque Evandro Teixeira (Irajuba, Bahia, na 1935). Fotógrafo. Figura central do dos fotoexperiência política, social e cultural povos indígenas. A jornalismo brasileiro na segundapalavra metade 20, suas tem imagens quedo dáséculo nome ao projeto origemde caiapó e significa grande sensibilidade e força expressiva compõem um panorama histórico sabedoria e transmissão de conhecimento. O uso da linguagem e cultural de vários temas – sociais, esportivos, políticos – e deixam do podcast pode ser compreendido comosua uma expansão das marca, sobretudo, no registro dos anos da ditadura civil-militar no tradições orais de aprendizado e ensinoBrasil. das culturas indígenas. O (...) Durante os 47 anos que trabalha no Jornal do Brasil,Munduruku cobre diversas pauapresentador, da etnia – predominante na região do tas, como o início da ditadura noRio Chile em 1973, o suicídio coletivo no culto Tapajós –, tem formação em história, filosofia e psicologia, e, de Jim Jones, na Guiana, em 1978,além a visita do papade João Paulo II a 14 cidades de dezenas livros publicados, recebeu o Prêmio Jabuti em brasileiras, além de diversos eventos e sociais. 2017. esportivos, Atualmente políticos na sua quinta temporada, o podcast já teve participação de agentes como a curadora Naine Terena, a cineasta Graci Guarani e a antropóloga Varin Mema (na foto)
CARLOS ZILIO Carlos Augusto da Silva Zilio (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Pintor, professor. Estuda, a partir de 1963, no Instituto de Belas Artes do
A FLORESTA QUE DORME DEBAIXO DO ASFALTO
Rio de Janeiro, onde é aluno de Iberê Camargo (1914 - 1994). (...) É um O líder indígena Ailton Krenak (na foto) e o permacultor australiano Peter dos fundadores da revista Gávea, da qual é editor responsável da reWebb, mediados pela jornalista Natália Garcia, protagonizaram um debate vista entre 1984 e 1996. (...) Publica, entre outras, a obra A Querela do do projeto Brechas Urbanas, em 2016. A ampliação do conceito de floresta Brasil: a questão de identidade na arte brasileira, editada pela primeira e o questionamento sobre como essa experiência pode modificar a cidade vez em 1982. (...) Após Lute, o artista interrompe sua produção para se são o eixo central da conversa, que aborda o entrelaçamento entre modos dedicar à militância política. Em março de 1970, é ferido a bala em conde vida, estruturas políticas e meio ambiente. Outra maneira sugerida para a fronto com a polícia e preso, sendo colocado em liberdade dois anos reativação da floresta latente no asfalto das cidades é a escuta da linguadepois. Na cadeia, Zilio inicia uma série de desenhos e de pinturas em gem das plantas e suas formas de comunicação. O Brechas Urbanas é um pratos que evocam a violência vivida. (...) Carlos Zilio participa da criaprojeto de debates do Itaú Cultural que busca encontrar soluções inovadoras ção da revista Malasartes, em 1974. para os modos de vida na cidade, contando com a participação de artistas, agentes políticos, sociólogos e pesquisadores.
FOTOS: CORTESIA ITAÚ CULTURAL FOTOS: ANDRÉ SEITI/ AGÊNCIA OPHELIA/ DIVULGAÇÃO/ CORTESIA ITAÚ CULTURAL
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C O L U N A M Ó V E L / G A B R I E L L A M A R I N H O , P E R I FA C O N N E C T I O N
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COM O CORAÇÃO NA MÃO: ARTE COMO MEIO DE REIVINDICAR EXISTÊNCIA E PERMANÊNCIA A ARTE É COMO UM CATALISADOR DE DETALHES. INDUZ À REFLEXÃO INDIVIDUAL E COLETIVA DE ACORDO COM SUAS DENSIDADES; AGUÇA AS SENSAÇÕES A PONTO DE FAZER COM QUE A MEMÓRIA SE CONSOLIDE ENQUANTO MEIO E, AO MESMO TEMPO, MENSAGEM; provoca “viradas de chave” por
tocar em lugares muito específicos em cada um de nós. Em tempos como os que vivemos hoje, em que estamos impregnados de imediatismo, virtualidades e desinformação, fixar a atenção, mesmo que momentaneamente, em um trabalho artístico faz ressurgirem projetos de sociedade que questionam o sistema social e político no qual estamos inseridos. VOL. 11 / N. 54
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Antes de se tornar física ou digital, a obra é intuição gerada por uma série de vivências que variam de acordo com a condição existencial de cada artista. Essa intuição é como o respiro, no contato com o mundo torna-se instrumento de transformação da realidade. Ao ser moldada, é como o barro, materializa caminhos estéticos e éticos entre artista e espectador. Seja através da memória, do impacto, da sutileza ou da denúncia, essa comunicação se torna uma busca em comum entre quem a compartilha e aquele a quem se apresenta. Como aterramento do que digo aqui e reverência aos mais velhos, trago Abdias do Nascimento e Stela do Patrocínio, dois
Com o Coração na Mão (2019), fotoperformance de Gabriella Marinho; na página ao lado, Procedimento Brasileiro do Crescimento Social (2019), de Leonardo Oscar Rack
Os processos de feitura artística são resultados de uma cosmovisão que está diretamente ligada ao direito político à existência. É preciso levar em consideração que, diante de uma sociedade racista, lgbtqia+fóbica, elitista, a diversidade mostra-se um mecanismo eficaz de comunicação, tomando proporções individuais e coletivas de transformação. Nesse caso, faz sentido dizer que o artista evoca e denuncia poeticamente, independentemente de qual linguagem decide adotar, o seu pertencimento ao mundo.
pensadores que, diante da inconformidade que o racismo e suas nuances aplicaram sobre seus corpos, puderam registrar por meio de suas feituras outra visão de mundo. Automaticamente quebram com a linearidade do pensamento, colocando em xeque, também, as relações que temos com o passado, o presente e o futuro. “Invocando estas leis imploro-te Exu plantares na minha boca o teu axé verbal restituindo-me a língua que era minha e ma roubaram” Padê de Exu Libertador, Abdias Nascimento “Eu não tenho coragem de enfrentar nada Eu tenho que enfrentar a violência A brutalidade a grosseria E ir à luta pelo pão de cada dia” Stela do Patrocínio
AMONTOADO DE IDEIAS Materiais que interagem entre si na busca por alguma resposta. Acredito que o tempo que temos vivido nos obriga a estar alertas aos detalhes. Produzir tem sido transcrever esses detalhes e congelá-los. É o que também faz Leonardo Oscar Rack na obra Procedimento Brasileiro do Crescimento Social. O artista, nascido na Região Metropolitana do Rio, usa o acúmulo de referências do grafite, do picho, do fazer manual e da cultura hip-hop, articulando a sobreposição em diversos suportes como forma de entender a relação que seu corpo constrói com o território e as pessoas que circulam por ele. “Meu pai me ensinou a amarrar a madeira amarela com arame queimado: o andaime improvisado. Essa estrutura da construção civil serve de base para a construção do poder, que cria também a estrutura que é medida pela derme racial, procedimento brasileiro do crescimento social”, explica Rack. Reorganizar a estrutura do que é ser indivíduo, do que é ser mundo e estar em constante transformação. A arte transita através do tempo como forma de manter viva a nossa capacidade de recriar dispositivos de luta. Como o PerifaConnection, que surge em 2019 como uma plataforma de disputa de narrativas da periferia. Por meio de frentes como comunicação e cultura, formação e articulação, contribui com o impacto das periferias no debate público. Com uma rede de colaboradores espalhados por todo país, traz à tona reflexões sociopolíticas, que atravessam os muros das instituições e tomam conta das ruas. FOTOS: MATEUS ALMEIDA (OBRA DE GABRIELLA MARINHO) / CORTESIA DOS ARTISTAS
CO LU N A M Ó V E L / M A R I STO C K L E R
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ENTRE O CORAÇÃO E AS TREVAS DE BRASÍLIA DURANTE CERCA DE DEZ DIAS DO MÊS DE ABRIL, O BRASIL ASSISTIU A ALGUMAS DAS CENAS QUE REAFIRMAM O NOSSO TRAÇO MAIS PARADOXAL: QUANDO A FORÇA DE ATOS CÍVICOS CORRE EM PARALELO À TENTATIVA DE SILENCIAMENTO DE MOVIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS; QUANDO ATOS SIMBÓLICOS E VIGOROSOS REAGEM A INJUSTIÇAS E AMEAÇAS A DIREITOS MAIS BÁSICOS.
Apesar da impressionante falta de divulgação nas mídias tradicionais, o Acampamento Terra Livre (ATL) reuniu em Brasília, entre os dias 4 e 14 de abril, cerca de 7 mil indígenas de quase 200 etnias. Um chamado contra os retrocessos do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, que mantém VOL. 11 / N. 54
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firme o projeto de destruição de direitos dos povos originários e da preservação do meio ambiente. O acampamento teve como objetivos a retomada dos processos de demarcação das terras indígenas, a rejeição do Projeto de Lei 191/2020, que libera a mineração e empreendimentos em terras indígenas, e a garantia dos direitos indígenas ameaçados pelo Projeto de Lei 490/2007, que propõe modificar o Estatuto do Índio no que diz respeito aos direitos territoriais. No Supremo Tribunal Federal, tramita o julgamento do “marco temporal”, quando os ministros decidirão se prevalece a regra atual para as demarcações de terras indígenas, ou se acolherão a interpretação dos ruralistas, segundo a qual os indígenas só teriam direito à terra se estivessem sob sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ignorando assim as históricas violações que esses povos sofreram ao longo dos anos. O STF também julgará em breve o pacote que compõe os Projetos de Lei 6.299/2002, que libera agrotóxicos, 2.633/2020 e 510/2021, que favorecem a grilagem, e 3.729/2004, que trata do licenciamento ambiental. São pautas que põem em risco o presente e o futuro indígena, e também o nosso.
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O Acampamento Terra Livre reuniu, de 7 a 14 de abril, em Brasília, cerca de 7 mil indígenas de 200 etnias
Nestes dias de abril as organizações indígenas fizeram quatro atos, 25 debates com a participação de 130 lideranças, reuniões nas embaixadas da Noruega, Alemanha, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos, receberam o ex-presidente e pré-candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e fizeram denúncias à ONU e ao Parlamento Europeu. O silêncio e a invisibilidade por parte de importantes veículos de imprensa sobre o acampamento e as agendas preparadas pelas organizações indígenas é uma vergonha. Tamanho equívoco choca ainda mais diante da grande repercurssão de uma palestra dada por Sônia Guajajara, coordenadora da Apib na Escola Avenues, de São Paulo. Sua palestra desagradou a um jovem estudante do ensino médio que, apesar de todos os recursos (a mensalidade nesta escola beira os R$ 14 mil), em sua falta de civilidade achou por bem desqualificar a convidada. Resultado: a “revolta dos herdeiros” ocupou grande espaço na internet, na imprensa oficial e na televisão. Enquanto isso, na ATL, um telão no palco mostrava a imagem da catedral modernista de Oscar Niemeyer, e a disposição de cadeiras de plástico e os grafismos de alta cultura me
intrigavam. Duzentas etnias não é pouca coisa. São culturas, linguagens, hábitos, gestos, músicas e padrões diferentes entre si. Ali, o que experimentei foi um festival de nuances de enorme riqueza, em contraponto ao “é tudo índio” do pensamento cafajeste que assola o Brasil. FATOS POLÍTICOS Tive o prazer de convidar para esta viagem Nair Benedicto, uma mestra como Maureen Bisilliat e Claudia Andujar. Nair lutou contra a ditadura militar, esteve presa e foi torturada, saiu da prisão e fez da fotografia seu argumento. Em tempos analógicos, viajou quilômetros para documentar indígenas, quilombolas, ribeirinhos e os hábitos de populações urbanas do interior do país. Na ATL, Nair, aos 82 anos de idade, passeava pelo acampamento e era reverenciada por jovens fotógrafos em uma troca comovente. Lá encontramos Sydney Possuelo, sertanista que recentemente devolveu ao governo federal a medalha e o diploma de Mérito Indigenista que recebeu do Ministério do Interior em 1987, por relevantes serviços prestados à causa indígena. Fez isso após a mesma honraria ser dada ao presidente da FOTOS: CORTESIA MÍDIA NINJA
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República, Jair Bolsonaro, desta vez pelo Ministério da Justiça. Em uma espécie de chacota sádica, Bolsonaro apareceu na cerimônia de cocar na cabeça e se referiu aos indígenas para que se transformem “em iguais, se sentindo exatamente como nós”. Segundo Possuelo, “a entrega da medalha é um fato político. Devolver é a mesma coisa que aceitar. Eu poderia simplesmente não aceitar. Aquela honraria perdeu a razão. Dada a Bolsonaro não me interessa mais. Em primeiro lugar, os povos indígenas e a memória dos povos indígenas foram ofendidos. Em segundo lugar estão as minhas motivações pessoais. Eu pensava que fazia parte de um grupo distinto. Isso me fazia cultivá-la. Ao ser entregue para qualquer um, ela perde a razão”. Nestes dias em Brasília, lembrei-me da excelente minissérie documental de Raoul Peck, intitulada Exterminate All The Brutes (HBO Max), sobre a invenção e as consequências de 500 anos de supremacia branca. Peck diz, a certa altura: “O que deve ser denunciado aqui não é tanto a realidade do genocídio nativo americano, ou a realidade da escravidão, ou a realidade do Holocausto; o que precisa ser denunciado aqui são as consequências dessas realidades em nossas vidas e na vida de hoje”. Exterminate All The Brutes empresta o título do livro de Sven Lindqvist, que se baseia em uma frase famosa de Coração das Trevas, o romance de 1899 de Joseph Conrad sobre a colonização do Congo e, em 1979, adaptado para o filme Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla, sobre a Guerra do Vietnã. Frames da minissérie documental Exterminate All The Brutes
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RETÓRICA DA EXTERMINAÇÃO Lindqvist questiona “por que Kurtz terminou seu relatório sobre a tarefa civilizadora do homem branco na África com essas palavras: Extermine Todos os Brutos? Por que Conrad as fez se destacarem como um resumo de toda a retórica exaltada sobre as responsabilidades da Europa para com os povos de outros continentes?” Quando leu o livro de Conrad pela primeira vez aos 17 anos, Lindqvist achou que era uma profecia do que estava por vir. Em sua narração para o filme, Raoul Peck lê as palavras de Lindqvist: “Em todos os lugares do mundo onde o conhecimento está sendo suprimido, um conhecimento que, se fosse divulgado, destruiria nossa imagem do mundo e nos forçaria a nos questionar – em todos os lugares, Coração das Trevas está sendo encenado”.
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Para dar um exemplo das reflexões que o documentário traz, a imagem da “sala de situação” durante a operação de caça a Bin Laden, liderada pela administração Barack Obama, chamou-se “Geronimo”, que vem a ser um dos mais importantes nomes da luta indígena contra a colonização dos EUA. A escolha do codinome Geronimo para um inimigo dos EUA não é uma novidade para os militares, que também usam o termo “terra de índios” para designar território inimigo. Segundo Peck, “todas as guerras promovidas pelos EUA reencenam fundamentalmente as guerras indígenas”. Enquanto acompanhava os atos do ATL em Brasília, lembrei-me também da fotografia que encontrei, datada de 1913, na qual apareciam duas indígenas Guarani e um homem, vestidas à moda da época. Atrás da foto estava escrito: “Aquela moça com a marca + é a Emilia que quer ficar em casa nossa”. Emilia provavelmente era referida como “quase da família” e morou e trabalhou na casa paulista, sem salário ou direitos, pois, afinal, ganhou um “teto”. Em um interessante artigo da revista Rosa 5, intitulado Políticas do Verniz, li que “se, há alguns anos, argumentava-se que as culturas amazônicas não seriam tão ‘desenvolvidas’ como outras que construíram cidades ou impérios — à imagem e semelhança do colonizador-arqueólogo —, isso se daria pela falta de evidências materiais. Mas qual evidência material poderia ser maior e mais vasta que a Amazônia?” Um levantamento da MapBiomas mostra que, entre 1985 e 2020 , as áreas mais preservadas do Brasil foram as terras
indígenas. Nesses territórios, o desmatamento foi de apenas 1,6% no período de 35 anos. Nos últimos três anos, no entanto, sob a administração do atual governo, o desmatamento na Amazônia cresceu inacreditáveis 56,6%, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). No ano passado, ambientalistas ficaram alarmados com a revelação de que o ritmo da devastação na Amazônia já tem impacto direto e com consequências graves para o ecossistema. A floresta já perdeu parte de sua capacidade de absorver o carbono. No encontro com o ex-presidente Lula, as lideranças indígenas Célia Xakriabá e Kleber Karipuna leram uma carta: “Estamos aqui porque entendemos a urgência e a emergência que o Brasil e nossos povos vivem. Nossas aldeias, terras e plantações estão sendo invadidas e destruídas com o avanço ilegal da mineração e do garimpo. Casas de rezas em aldeias de todas as regiões do Brasil estão sendo queimadas, crianças violentadas e jovens perseguidos e assassinados”. Vale a lembrança a Lula, aos demais pré-candidatos e à sociedade civil: no mundo pós-pandemia, o crescimento econômico estará diretamente relacionado à preservação do meio ambiente e à justiça climática. Países que não souberem fazer a transição energética e que não adotem políticas públicas antirracistas, estarão comprometidos social e economicamente. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão. Espero sinceramente que não seja o último a adotar um modelo que será definitivo para a manutenção deste planeta, até porque o Brasil tem a oportunidade, por conta de nossa matriz energética, de liderar este processo. FOTOS: MÍDIA NINJA / REPRODUÇÃO; CORTESIA HBO MAX (STILLS DA MINISSÉRIE)
MUNDO CODIFICADO
AJ+ VERIFICA
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EL SABUESO – ANIMAL POLÍTICO
CHEQUÉALO PR
CONPRUEBAS
ALEX CERVENÝ HIPERFLUXOS DE UMA MITOLOGIA REAL VERIFICADO
FÁCTICA – AGÊNCIA OCOTE
LA CASAQUERA
COCUYO CHEQUEA
SEMANARIO UNIVERSIDAD
NO COMA CUENTO
LA VOZ CHEQUEA
TVN
COLOMBIACHECK
DETECTOR DE MENTIRAS – LA SILLA VACÍA
FIQUEM SABENDO – DON’T LAI TO ME
ECUADOR CHEQUEA EL VERIFICADOR GK
NOTÍCIA DUVIDOSA? ANTES DE COMPARTILHAR, CHEQUE!
SALUD CON LUPA
OJO BIÓNICO
CHECAGEM TRUCO – AGÊNCIA PÚBLICA UOL CONFERE AOS FATOS
PROJETO COMPROVA AGÊNCIA LUPA ESTADÃO VERIFICA FATO OU FAKE
BOATOS.ORG VERIFICADOR DE PROMESAS ALEXBOLÍVIA CERVENÝ CONSTRÓI UM INTRINCADO BORDADO VERIFICA E-FARSAS MENTAL DE HISTÓRIAS E SISTEMAS DE IMAGINAÇÃO, OCASIONALMENTE MATERIALIZADOS EM RENDILHADOS CHECAZAP E FILIGRANAS QUE ENRIQUECEM OS ASPECTOS NARRATIVOS E VISUAIS DOS SEUS TRABALHOS. Artista bra-
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sileiro, nascido em 1963 em São Paulo, com uma sólida carreira de mais de quatro décadas em pintura, desenho, EL POLÍGRAFO gravura e escultura em cera perdida, maiólica e bronze, L U A N A R O S I E L LO Červený integra o corpo de nomes convidados para a 23ª Bienal de Sydney, na Austrália, que acontece de 12/3 a 13/6. Esta edição do evento, UYCHECK com curadoria de José Roca, Agências de checagem de informações têm Paschal Daantos Berry, Anna Davis, Hannah Donnelly e crescimento recorde, a partir de 2017, na Talia Linz, tem como título rīvus, com temática relacioCHEQUEADO América Latina, com o objetivo de combater nada à água. a disseminação de fake news, sobretudo A proposta curatorial sugere uma leitura de rios e ecossisREVERSO relacionadas à política, efeito colateral temas aquáticos salgados e doces como seres individuais, da era Trump, que institucionalizou a assim como animais, plantas, montanhas e corpos d’água viralização de mentiras em redes sociais e já são individualmente tratados. Entende também os rios aplicativos de mensagens para manipular como sedimentos de cultura, provedores de vida, rotas de as eleições. Acesse os links no mapa para comunicação e espaços ritualísticos, mas também como verificar se a “notícia” compartilhada por esgotos e valas comuns. Desempenham tanto um papel testemunhal quanto arquivístico, memorial, sobretudo um conhecido ou familiar é verdadeira ou em países colonizados e explorados a partir das expedifalsa e combata a desinformação! ções por essas águas. Alinhado às diretrizes curatoriais da Bienal de Sydney, Alex Červený participa com duas obras: “Aquífera” e “Atlântida”, ambas produzidas em óleo sobre linho em 2021.
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BRASIL
COLÔMBIA
AOS FATOS https://www.aosfatos.org AGÊNCIA LUPA https://lupa.uol.com.br PROJETO COMPROVA https://projetocomprova.com.br FATO OU FAKE https://g1.globo.com/fato-ou-fake/ BOATOS.ORG https://www.boatos.org E-FARSAS https://www.e-farsas.com CHECAZAP https://enoisconteudo.com.br/checazap ESTADÃO VERIFICA https://politica.estadao.com.br/blo-
COLOMBIACHECK https://colombiacheck.com DETECTOR DE MENTIRAS – LA SILLA VACÍA https://
gs/estadao-verifica/ UOL CONFERE https://noticias.uol.com.br/confere/ CHECAGEM TRUCO – AGÊNCIA PÚBLICA https://apublica.org/checagem/ FIQUEM SABENDO – DON’T LAI TO ME https://fiquemsabendo.com.br/dont-lai-to-me-newsletter-fiquem-sabendo/
BOLÍVIA BOLÍVIA VERIFICA https://boliviaverifica.bo
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MÉXICO EL SABUESO – ANIMAL POLÍTICO https://www.animal-
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EL POLÍGRAFO https://www.elmercurio.com/blogs/bus
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EQUADOR ECUADOR CHEQUEA https://www.ecuadorchequea.com EL VERIFICADOR GK https://gk.city/verificacion-de-datos/
Fontes: LATAMChequea; International Fact-checking Network (IFCN)
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Aquífera (2021), de Alex Cerveny´ FOTOS: DING MUSA/ CORTESIA DA ARTISTA
ENTREVISTA / DECOLONIZE THIS PLACE
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“VOCÊ PODE SER PROFESSOR E QUERER ABOLIR A UNIVERSIDADE; VOCÊ PODE SER ARTISTA E QUERER ABOLIR O MUSEU; VOCÊ PODE SER CIDADÃO E NÃO QUERER UM ESTADO-NAÇÃO”
PA U L A A L Z U G A R AY
Para o movimento DTP, a arte, a Universidade e a cidade são a plataforma de luta pela soberania indígena, negra, Palestina Livre, trabalhadores assalariados globais, desgentrificação e desmantelamento do patriarcado
À direita, reprodução de página de zine que documenta ocupação do grupo, em 2016, do espaço histórico Artists Space, localizado na linha de frente da gentrificação entre o bairro de luxo Tribeca e o bairro operário de Chinatown. Usando o Artists Space não como espaço expositivo, mas como um centro de organização, eles foram acompanhados pelo movimento indígena NYC Stands With Standing Rock e inauguraram o projeto com uma assembleia em Washington Square Park, enfocando a soberania indígena sobre a terra, o ar e a água, elemento que se tornou central na obra subsequente do Decolonize This Place
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7 DE MAIO DE 2016. SOB UMA BANDEIRA COM O TEXTO “DECOLONIZE THIS PLACE”, ATIVISTAS OCUPAM O BROOKLYN MUSEUM, EM NOVA YORK, MOVIDOS POR TRÊS CAUSAS.
Primeiramente, questionavam o enfoque de duas exposições em cartaz: o tratamento estetizante de imagens e objetos de movimentos radicais, conferido pela curadoria da mostra Agit-Prop; e o caráter propagandístico a Israel em mostra de fotografias de paisagens do Oriente Médio. O terceiro alarme, o processo voraz de gentrificação do bairro do Brooklyn. Embora aparentemente fato externo ao museu, foi relacionado às suas diretrizes ideológicas, quando um proeminente empresário do mercado imobiliário foi identificado na diretoria da instituição. Dois anos depois, outra ação em torno do museu do Brooklyn, desta vez sob a bandeira “Eles querem arte, não pessoas”, mirou seu acervo de objetos de arte africana e indígena, exigindo a formação de uma Comissão de Descolonização para a devolução das peças roubadas de sociedades colonizadas nos séculos 19 e 20. Entre os ativistas estavam Amin Husain, que havia se mudado da Palestina para Nova York para estudar Direito, e Nitasha Dhillon, graduada em Matemática na Índia. Eles se conheceram no Centre for Photography e juntaram forças criando, em 2010, o coletivo MTL+, que combina pesquisa, ativismo e práticas artísticas em filme, fotografia, intervenção e instalação. Decolonize This Place foi o resultado de anos de ações do MTL+, conjugadas a lutas de outros movimentos, como Occupy, Black Lives Matter, Standing Rock e Free Palestine. “No que parecem partes sem relação, nós vemos padrões, conexões. Como podemos falar da ocupação da Palestina sem nos referir à terra em que estamos pisando: primeiro roubada dos povos Lenape (habitantes originários de Delaware, New Jersey, Easter Pennsylvania e sul de Nova York), pulverizada pelo mercado imobiliário e agora direcionada para deslocamento de massas? Essas conexões entre lugares e lutas conduzem nossa organização e motivam o verbo no imperativo Decolonize This Place”, afirmam os integrantes, em statement sobre as ações no Brooklyn Museum. Em seis anos de atuação, o DTP organizou e participou de ações descoloniais de lutas de libertação, contra a gentrificação e a ideologia neoliberal, filantropia tóxica e artwashing VOL. 11 / N. 54
JUN/JUL/AGO 2022
em museus de arte, centrando seus atos em megainstituições como Whitney e MoMA. No Guggenheim, protestaram contra as condições de trabalho opressivas de imigrantes asiáticos na construção da filial em Abu Dabi. No Whitney, em 2019, a organização pressionou e obteve a renúncia do vice-presidente do conselho, envolvido com armamentos. No MoMA, o grupo segue pressionando pela saída de um membro da diretoria acusado de assédio e pedofilia, entre outras atrocidades. O grupo de trabalho Strike MoMA, que inclui DTP, Forensic Architecture, Curators and Educators for Decolonization, Artists for a Post-MoMA Future e Comité Boricua en la Diáspora, entre outros, já gerou um documento on-line de 250 páginas de denúncias. Hoje, o DTP tem oito integrantes, dos quais quatro conversaram com a seLecT sobre seus modos de operar uma formação descolonial. Todos se identificam como artistas e alguns como professores. Amin Husain, professor do curso Art Activism and Beyond, na Gallatin New York University, diz que estão baseados em NY porque “é um lugar muito estratégico para se estar: tem um microfone mais potente”. Nesta entrevista, de qual participam Amiin, Nitasha, Amy Weng e Marz Saffore, eles afirmam que a organização não foi criada só para promover contrainsurgência ou contra-ataques ao sistema, mas para fazer proposições, amplificar lutas, fomentar a solidariedade transnacional e usar os museus como plataformas de formação e prática da liberdade. seLecT: Em que medida o trabalho de arte, design e comunicação do Decolonize This Place é uma iniciativa contramidiática?
AMIN: Antes de chegarmos à estratégia de contramídia, é preciso pensar que, quando se opõe a algo, você adere à mesma lógica à qual se contrapõe. Isso dita como você responde e, portanto, de que bases parte. É por isso que é importante desvincular (o que fazemos dessa ideia de contra-ataque ou de ações contramidiáticas). Entender que, na verdade, se começar de um lugar diferente, você vai para um lugar diferente. Isso é algo que ficou muito claro no Whitney: começando com a questão do gás lacrimogêneo e terminando com a descolonização.
FOTO: CORTESIA DECOLONIZE THIS PLACE
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FOTO: PEDRO IVO TRASFERETTI, FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO
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