AGORA, ELES SÃO OS HERÓIS DEPOIS DA TRAGÉDIA DA SELEÇÃO NA COPA, ATLETAS OLÍMPICOS COMO O CAMPEÃO DA NBA TIAGO SPLITTER TÊM A OPORTUNIDADE DE RESTAURAR O ORGULHO NACIONAL
O QUE VEM POR AÍ Os favoritos, os azarões e as estrelas dos Mundiais de basquete e vôlei
A LAPA DE TODOS A diversidade, a bagunça e o amor no mais festeiro dos bairros cariocas ALMA NACIONAL Rodrigo Pessoa nasceu na França, cresceu na Bélgica, casou nos EUA e mora em Mônaco – mas é um dos brasileiros mais vitoriosos da história do esporte
Tiago Splitter com um pequeno fã em São Paulo
AGOSTO/SETEMBRO 2014 | Edição 18 | Ano 5 | www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ
RIO REDENTOR O que os Jogos de 2016 vão trazer de positivo para o esporte, a economia e a autoestima do País
6 ExpEdiEntE 7 Editorial
8 ColaboradorEs seções
16 Clique OlímpiCO
A Copa do Mundo na perspectiva de uma tribo indígena isolada
20 AqueCimentO
O ator e apresentador Miele fala sobre sua paixão pelo Rio de Janeiro: “Vivi a melhor fase”
28 entrevistA:
JOAquim mOnteirO de CArvAlhO Novo presidente da Empresa Olímpica Municipal abre o jogo: “Não existe cidade 100% preparada para a Olimpíada”
90 perfOrmAnCe
As mais inusitadas, saudáveis e consagradas comidas das praias cariocas
92 COnCentrAçãO
A vida de excessos, vícios e autodestruição na autobiografia da fera dos ringues Mike Tyson
96 pAinel
Notícias de todos os esportes olímpicos
98 páginA dOurAdA
A vida e a carreira de Marcelo Negrão, herói do vôlei brasileiro em Barcelona-1992
ilustração: benjamim olitallo
reportagens
32 O ídOlO (quAse) desCOnheCidO Por que Tiago Splitter, primeiro brasileiro a vencer a NBA, ainda não tem o reconhecimento que merece
40 surge A OlimpíAdA
Como os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro podem ajudar a apagar o vexame da Seleção na Copa do Mundo
56 ApOstA AltA
Talita e Larissa adiaram sonhos e arrumaram briga para formar a mais promissora dupla do vôlei de praia nacional
62 AçÕes rentáveis
Como o Clube de Atletismo BMF&Bovespa se tornou um dos grandes cultivadores de talentos do esporte brasileiro
66 O lAr dO mOuntAin bike
Um orfanato na periferia de São Paulo forma feras do ciclismo e transforma a vida de dezenas de crianças e adolescentes
72 eternA bOemiA
O bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, consolida-se como um dos grandes expoentes da diversidade cultural brasileira
78 subterrâneOs dO riO
2016 passou um dia nas obras do metrô carioca, onde mais de oito mil pessoas trabalham dia e noite – em silêncio absoluto ou ao som de explosões
82 mundiAis pArA tOdOs
Os craques, os favoritos e as possíveis surpresas dos campeonatos mundiais de vôlei e basquete
Precisamos falar de futebol
Agora que o assombro da goleada por 7 a 1 da Alemanha já passou – se é que vai mesmo passar algum dia –, é preciso refletir sobre o que fizeram com o futebol brasileiro. Por que não revelamos mais craques em quantidade suficiente para formar um time distinto? Cadê os Zicos, os Carecas, os Romários? Por que nosso campeonato nacional é ruim? Por que os torcedores abandonaram os estádios? Por que a Confederação Brasileira de Futebol é rica e os clubes estão falidos? Por que exportamos adolescentes promissores e importamos ex-craques que exibem constrangedora indolência dentro de campo? Por que nossos técnicos – Felipões, Parreiras, Dungas, Muricys, Luxemburgos – são incapazes de inovar, fechados que estão com seus conceitos moribundos? Por que nós, que montamos uma Seleção extraordinária como a da Copa de 1982 (Telê, nós o agradeceremos eternamente por isso), que sonhava e que fazia sonhar, deixamos a magia de lado? Por que repetimos os mesmos erros – Dunga de novo? – e não abrimos as portas para ideias diferentes? Por quê? Quem diria: o futebol é hoje o esporte que mais nos envergonha. Temos campeões mundiais até na canoagem. No handebol, somos temidos. No judô, invejados. Instigado pela Olimpíada de 2016, o esporte brasileiro passa por uma evolução sem precedente. A estranha ironia é que o futebol, o número 1 do País desde sempre, está na contramão dessa fase extraordinária. Os Jogos do Rio representam rara oportunidade (jamais ganhamos o ouro, não custa lembrar), mas eis que escolhem para comandar a seleção olímpica o técnico Alexandre Gallo. Ele é um sujeito boa-praça, gente fina mesmo, mas tem currículo inexpressivo e parece pouco afeito a promover transformações. Por que fizeram isso com o futebol brasileiro? Por que continuam fazendo? Por quê? Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br
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istoé 2016
agosto/setembro 2014
editorial
expediente editor e diretor reSPonSÁvel doMingo alzugaray editora Cátia alzugaray PreSidente-executivo CaCo alzugaray diretor editorial Carlos José Marques diretor editorial-adjunto luiz Fernando sá diretor de redação aMauri segalla editor luCas Bessel editor de arte pedro Matallo editor-executivo de fotografia Cesar itiBerê editor de fotografia JuCa rodrigues colaBoradoreS
fotografia agência iStoÉ aPoio adMiniStrativo
TexTo: danielle sanCHes, deMétrio rana, edson FranCo, eliane loBato, FláVia riBeiro, MarCel gugoni, Mariana BarBoza, Mariana laJolo, raul Montenegro, renata Valério de Mesquita, rodrigo lara, rodrigo riBeiro, toM Cardoso, Vera lynn FoTo: Felipe Varanda, KiKo Ferrite, Mirian FiCHtner, riCardo Junqueira, stépHane laVoué produção: Cintia sanCHez ilusTração: BenJaMiM olitallo, oliVer quinto rePÓrtereS fotogrÁficoS: João Castellano, Masao goto Filho, pedro dias e rafael Hupsel gerente: Maria amélia scarcello SecretÁria: terezinha scarparo aSSiStente: Cláudio Monteiro auxiliar: lucio Fasan
Projeto grÁfico coPy-deSk e reviSão ServiçoS grÁficoS oPeraçõeS
venda avulSa logÍStica e diStriBuição de aSSinaturaS aSSinaturaS
ricardo van steen (colaborou Bruno pugens) lourdes Maria a. rivera, Mario garrone Jr., neuza oliveira de paula, regina Caetano e tamiris prystaj gerente induStrial: Fernando rodrigues
diretor: gregorio França seCretária assistente: yezenia palma gerente: renan Balieiro Coordenador de proCessos gráFiCos: Marcelo Buzzo analista: luiz Massa assistente: daniel asselta auxiliar: indianara andrade Coordenadoras de logístiCa e distriBuição de assinaturas: Karina pereira e regina Maria analista Jr.: denys Ferreira auxiliar: Cesar William operações lapa: paulo Henrique paulino gerente: luciano sinhorini coordenadoreS: Jorge Burgatti e ricardo augusto santos conSultoraS de MerchandiSing: alessandra silva e talita souza primo aSSiStenteS: Fábio rodrigo, ricardo souza e gislaine aparecida peixoto coordenadora: Vanessa Mira coordenadora-aSSiStente: regina Maria aSSiStenteS: denys Ferreira, Karina pereira e ricardo souza diretor de vendaS PeSSoaiS: Wanderlei quirino gerente adMiniStrativa de vendaS: rosana paal gerente de aSSinaturaS: pablo pizzutiello gerente de ProjetoS eSPeciaiS:
ebano gandini Junior diretor de teleMarketing: anderson lima gerente de atendiMento ao aSSinante: elaine Basílio gerente online e ParceriaS: solange Chiarioni gerente de aSSinaturaS (Sul): sidnei doMingues Caetano gerente geral de PlanejaMento e oPeraçõeS: reginaldo Marques gerente de oPeraçõeS e aSSinaturaS: Carlos eduardo panhoni gerente de teleMarketing: renata andrea gerente de call center: ana Cristina teen central de atendiMento ao aSSinante: (11) 3618.4566. de 2ª a 6ª feiraS daS 9h àS 20h30 outraS caPitaiS 4002.7334 deMaiS localidadeS: 0800-888 2111 (exceto ligaçõeS de celulareS) assine: www.aSSine3.coM.Br exemplar avulso: www.ShoPPing3.coM.Br Marketing
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EDSON FRANCO
Quando tinha 15 anos, Edson já sabia que queria passar a vida em redações. Entrou como auxiliar no Banco de Dados do jornal Folha de S.Paulo e, enquanto se graduava no curso de jornalismo da PUC-SP, foi galgando postos até chegar à redação, onde foi repórter e editor. Passou pelas revistas Guitar Player Brasil, Ele e Ela e Galileu. Em 2010, foi para a ISTOÉ e ajudou a dar forma à 2016. Hoje, é gerente de conteúdo do portal Terra. É coautor do livro “Música Popular Brasileira Hoje” (Publifolha) e editor de “Zózimo Diariamente”, uma biografia do jornalista carioca Zózimo Barroso do Amaral. Nesta edição da 2016, escreveu o delicioso guia do boêmio bairro da Lapa, no Rio de Janeiro.
KIKO FERRITE
Formado em ciências sociais pela USP, Kiko Ferrite começou a fotografar em 1995, durante uma viagem pelo sudeste asiático. Entre 1997 e 2000, trabalhou como fotógrafo na Editora Abril e como editor de fotografia nas editoras Trip e Três. Há 13 anos, assina capas e retratos de moda e campanhas para as principais publicações e agências do País. Nesta 2016, produziu as belas imagens que acompanham a reportagem sobre o Lar Nossa Senhora Aparecida, berço de talentos do mountain bike.
STÉPHANE LAVOUÉ
Para uma publicação que valoriza tanto a qualidade de imagens quanto a 2016, é uma honra contar com a participação deste fotógrafo francês de imenso talento. Mestre em captar as nuances da luz, Stéphane Lavoué fez retratos reconhecidos internacionalmente, como a imagem do presidente da Rússia, Vladimir Putin, que virou capa da revista Time. Nesta edição da revista, fotografou o campeão olímpico Rodrigo Pessoa e seu cavalo, Status, em um haras na Bélgica.
TOM CARDOSO
MARCELO GUGONI
A versatilidade é a marca deste jornalista paulistano formado pela Faculdade Cásper Líbero. Marcel já escreveu para a Folha de S.Paulo, o Estado de S. Paulo e o Portal R7 e passou pelas editorias de Cidades, Internacional, Esportes e Economia. É apaixonado por esportes e engrossa o time dos milhões de corredores de rua do Brasil. Nesta edição da 2016, fez a reportagem sobre o impacto dos Jogos Olímpicos no orgulho, na economia e na infraestrutura do Rio de Janeiro.
RENATA VALÉRIO DE MESQUITA
Jornalista da revista Planeta, da Editora Três, Renata trabalhou na extinta Gazeta Esportiva e em revistas especializadas em tecnologia da informação. Na primeira pausa para reciclagem, foi a Madri, onde se especializou em jornalismo de turismo e meio ambiente. Viveu por seis anos em Buenos Aires, onde deu aulas, fez traduções e produziu reportagens publicadas no jornal O Estado de S.Paulo. Nesta edição da 2016, produziu o perfil do cavaleiro Rodrigo Pessoa.
Nascido no Rio de Janeiro e criado em São Paulo, Tom Cardoso passou pelos jornais O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Valor Econômico. Ex-editor de ISTOÉ Dinheiro, tem dois livros publicados – “O Marechal da Vitória”, sobre a vida do empresário e dirigente esportivo Paulo Machado de Carvalho, e “75 Kg de Músculos e Fúria”, perfil do jornalista Tarso de Castro. Nesta edição, entrevistou o ator e apresentador Miele, um dos grandes personagens da história cultural da capital carioca.
COLABORADORES
CLIQUEOLÍMPICO IMAGENS SURPREENDENTES DO ESPORTE
FOTO: PEDRO BAYEUX
A tribo dA CopA O Mundial de futebol encerrado em julho foi o mais fotografado, filmado e comentado da história. No meio da avalanche de imagens que saíram do Brasil para se espalhar pelo mundo, achar o ângulo diferente era o grande desafio. Foi com esse pensamento na cabeça que Pedro Bayeux embarcou na missão de acompanhar Brasil x México com a tribo Tatuyos, nas profundezas da Floresta Amazônica. “Dez minutos antes do jogo, eles acionaram o gerador para ligar a única tevê da tribo. Durante a partida, passavam os aperitivos. A diferença é que, neste caso, os snacks eram enormes formigas fritas”, diz Bayeux. Na essência, os rituais são os mesmos: torcer, vibrar e compartilhar em nome de uma causa comum. Nos detalhes, mais similaridades: enquanto os adultos assistem, as crianças, levemente entediadas, preferem criar uma brincadeira qualquer.
CLIQUEOLÍMPICO IMAGENS SURPREENDENTES DO ESPORTE
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duros Como roChA São 3.404 km de trajeto. Subidas e descidas. Chuva e sol. Frio e calor. Em estradas sinuosas da França e de países adjacentes, mais de duas centenas de atletas disputam metro a metro um lugar no olimpo do ciclismo. O Tour de France é, acima de tudo, uma prova de resistência em que o preparo psicológico é tão importante quanto a força física. É preciso saber a hora certa de disparar, ceder lugar a um companheiro de equipe ou, se necessário, desistir da vitória em uma etapa para se recuperar na seguinte. Para os bravos que mesmo assim, se aventuram nessa jornada épica, o prêmio é permanente: cenários como este, um túnel entre Carcassonne e Bagnères-de-Luchon, na 16ª etapa da Volta. Vale o esforço.
“EU VIVI O MELHOR DO RIO”
saudOsista miele com uma de suas beldades nos anos 80: saudade de um rio de Janeiro que não existe mais
paulistano da gema, carioca por adoção, artista versátil, ator tardio: luiz carlos miele, 76 anos, é um showman com a cara do Brasil. O que nem todos sabem é que ele também tem um passado esportivo. Se tivesse 50 anos a menos, talvez até conseguisse uma vaguinha no meio de campo do Palmeiras. Mas o ex-centro médio do juvenil do Palestra nasceu na mesma época de uma geração brilhante, que mais tarde faria história com a chamada Academia. Azar dele e sorte nossa. O País perdeu só mais um esforçado volante, um “carregador de piano”, mas ganhou uma estrela de primeira grandeza, produtor de grandes musicais nas décadas de 1960 e 1970. Nesta entrevista, ele relembra passagens marcantes de sua carreira, fala do saudosismo que sente em relação ao Rio e diz que cogita abrir um bar ao lado do Cemitério São João Batista, na capital carioca, “para dar menos trabalho para a família”.
20 istoé 2016
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Apesar de ser paulistano, sua imagem está muito associada ao rio de Janeiro, por causa do trabalho como diretor de shows nas décadas de 60 e 70. o que acha da cidade? Eu vivi o melhor do Rio, a melhor fase. Sou, sim, saudosista. E tenho razões para ser. Hoje não existe um só piano-bar na cidade. Antes, você tinha o 706, o Number One, o Pujol e por aí vai... o sr. tem sido cada vez mais convidado para participar de filmes, minisséries, seriados, novelas. era um bom ator e não sabia? Continuo não entendendo nada. Começou com a história para participar do elenco da série “Mandrake” (exibida pelo canal HBO Brasil).
Depois veio o convite da Record para fazer uma novela – eu era o marido da Françoise Forton. É verdade que eu morria logo de cara... Agora voltou à Globo... É, agora estou na Globo. Sou um faz-tudo na emissora. Quebro todos os galhos. E sempre interpretando personagens mais novos do que eu, o que acho ótimo. Quando fizer 80 anos, ganho um papel em Malhação. mas o seu sonho de juventude era ser jogador de futebol, não? Sim. Eu treinei como centro médio no juvenil do Palmeiras, no começo dos anos 50. Só treinei, nunca cheguei a jogar profissionalmente. Eu era do juvenil B. No A, jogavam os craques, como o Mazzola (campeão mundial em 1958). E depois veio a turma que formaria a Academia. Eu não tinha mesmo a menor chance. mas continuou jogando em times amadores. Sim. Joguei muito nos Namorados da Noite e no Politheama (clubes fundados, respectivamente, pelos músicos Toquinho e Chico Buarque). Não jogo mais. Levei um tombo em casa e o meu joelho nunca mais foi o mesmo. era mais fácil jogar contra ou a favor do chico? Era sempre mais fácil jogar no Politheama a favor do Chico. Contra, era um inferno. O Chico era o juiz, o cara que determinava o tempo de jogo, que dependia, claro, do resultado da partida. Se o time dele estava perdendo, só terminava quando ele empatava ou virava. O jogo podia durar quatro horas.
Versátil: “sou um faz-tudo na globo. quebro todos os galhos”, diz miele, sobre as recentes aparições na tevê
por muitos anos o sr. ficou com a imagem associada ao “cocktail”, programa de cunho erótico exibido no início dos anos 90 no sBt. Hoje, 25 anos depois, o sr. faria de novo? Não. Jamais. Aquilo foi uma grande encrenca pra mim. por quê? Quando comecei a fazer o Cocktail, minha imagem começou a ser associada à putaria. Eu tinha na época uma produtora de audiovisual muito bem-sucedida na área corporativa. Perdi todos os meus clientes, quase todos grandes multinacionais. No começo, bem que eu tentei propor ao Silvio Santos algo mais erudito. Queria fazer um nudismo contestatório (risos). como assim? Ah, eu queria, enquanto as garotas faziam um strip-tease, colocar ao fundo uma crônica do Rubem Braga, ou um texto do Millôr Fernandes. Dei essa ideia para o Silvio e ele negou na hora. Disse: “Isso aqui é SBT, Miele. E ninguém entende mais de povão do que eu. Millôr aqui não pode”. Mas ele foi um bom patrão. E o programa deu muita audiência. e por que acabou? O Silvio na época tinha pretensões políticas, estava de olho na eleição para prefeito de São Paulo. Não ia pegar bem ter um programa como “Cocktail”. No fim ele nem saiu candidato. Mas eu já tinha ido embora.
o sr. trabalhava com um elenco de mulheres lindíssimas. não era uma tentação? Era, mas eu era casado, e ainda sou, com a mesma mulher. E essas meninas lindas a que você se referiu hoje são respeitosas senhoras. É uma merda ficar velho. Não faz muito tempo, eu perdi cinco amigos – Chico Anysio, Pery Ribeiro, Billy Blanco, Millôr Fernandes e Paulo Cezar Saraceni – num espaço curtíssimo de tempo. mas, pelo que estou vendo, o sr., aos 76 anos, está ótimo. não bebe como antes, mas continua bebendo, não? Sim, mas talvez eu apenas acate uma sugestão do meu amigo Ziraldo. qual? Ele acha que seria muito prático abrir um bar ao lado do cemitério São João Batista – é para lá que vai a maioria dos meus amigos. A gente pode beber sossegado, sem restrição e, quando bater as botas, já está tudo pertinho. Vai dar menos trabalho para os familiares. Já tem até nome, muito sugestivo. qual nome? Saideira.
aQUeCimentO
BADMINTON EM MELHOR DE 5 NOVAS REGRAS QUEREM DEIXAR O ESPORTE MAIS ATRAENTE PARA A TORCIDA Um novo sistema de pontuação para o badminton já está em fase de testes em competições pelo mundo. As novas regras preveem a vitória para quem levar a melhor em cinco sets, e não em três, como é atualmente. Além disso, as partidas serão disputadas até o máximo de 11 pontos, e não mais de 21. De acordo com a Federação Internacional de Badminton, as mudanças buscam dar mais agilidade e competitividade aos jogos, aumentando a expectativa dos torcedores. A novidade mal chegou e já virou alvo de reclamação. O chinês Lin Dan, cinco vezes campeão mundial da modalidade, criticou o novo sistema e afirmou que não vê razão para a mudança. Mimimis à parte, a ideia é que as novas regras sejam aprovadas para a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Para que isso aconteça, as mudanças precisam ser aplicadas definitivamente em todas as competições mundiais até maio de 2015.
BRASIL ASSEGURA VAGA NO TIRO ESPORTIVO PARAOLÍMPICO DEBORA CAMPOS FICOU EM TERCEIRO NO CAMPEONATO MUNDIAL DA MODALIDADE A carioca Debora Campos garantiu uma vaga brasileira no tiro esportivo para a Paraolimpíada em 2016. Radicada em Curitiba, a atleta, que teve a perna direita amputada após um atropelamento, ficou na terceira colocação entre as mulheres (P3, pistola de ar de 25 metros) no campeonato mundial da modalidade, realizado na Alemanha durante o mês de julho. Isso, por si só, deixaria o Brasil fora da corrida olímpica, já que apenas os dois primeiros classificados garantem vaga para os Jogos. No entanto, a húngara Krisztina David, que terminou à frente de Debora, já havia sido premiada com a classificação em outro evento. Dessa forma, a brasileira pode vir a participar nos Jogos em casa. Como as vagas vão para o País, e não para a atleta, cabe ao Comitê Paraolímpico Brasileiro decidir se Debora poderá participar da disputa por uma medalha. “Foi minha melhor pontuação e terei tempo para me preparar”, disse. “Quero mostrar que tenho competência para estar no Rio em 2016.”
OS ESPORTES QUE MAIS DERAM MEDALHAS PARA A UCRÂNIA
ESPORTE, APESAR DO CONFLITO
COI CRIA FUNDO PARA QUE ATLETAS UCRANIANOS POSSAM MANTER A PREPARAÇÃO PARA RIO-2016 Sensibilizado com a crise política na Ucrânia, o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu criar um fundo de US$ 300 mil (cerca de R$ 650 mil) para ajudar os atletas a continuarem sua preparação para a Olimpíada de 2016. De acordo com o presidente da entidade, o alemão Thomas Bach, o dinheiro deverá ser usado para custear o treinamento e pagar as despesas de competições dos atletas. Em comunicado, o campeão olímpico do salto com vara Sergey Bubka, presidente do comitê ucraniano, afirmou que o conflito entre o governo central e os rebeldes pró-Rússia, que querem a independência da parte leste do país, tem sido muito ruim para os esportistas. “A situação dos atletas ucranianos se deteriorou dramaticamente”, afirmou Bubka. Ex-república da então União Soviética, a Ucrânia participou dos Jogos Olímpicos de verão como país independente pela primeira vez em 1996, em Atlanta. Desde então, ganhou 115 medalhas, sendo 33 de ouro.
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DOPinG em alta casOs de usO de substÂncias irregulares aumentaram 20% em 2013, apesar de O nÚmerO de testes ter crescidO apenas 0,8% O número de atletas flagrados por uso de substâncias irregulares aumentou 20% em 2013, segundo a agência mundial antidoping (Wada, na sigla em inglês). de acordo com relatório da instituição, que analisa também esportes não olímpicos, só no ano passado 5.962 amostras coletadas tiveram resultado positivo para doping, contra 4.723 em 2012. no mesmo período, o número de testes aumentou apenas 0,8%. O documento da Wada ainda mostrou que rússia e china são os países que mais realizam testes (mais de 13 mil cada um), enquanto a Jamaica, com apenas 294 exames, fica em último. O velocista americano tyson gray e o jamaicano asafa powell, além do tenista croata marin cilic, foram alguns dos que falharam nos testes em 2013. confira, a seguir, os esportes “mais sujos” e os “mais limpos”.
esportes olímpicos
“mAis suJos” em 2013
esportes olímpicos
“mAis limpos” em 2013
esporte
percentual de amostras positivass
esporte
percentual de amostras positivas
levantamento de peso
3,4
bosled
lutas
2,3
hóquei sobre grama
0,1
hipismo
2,3
badminton
0,2
Judô
1,5
patinação
0,2
boxe
1,4
esqui
0,3
`
0,1
O RAIO BOLT NO BRASIL JAMAICANO CORRERÁ PROVA DE 100 METROS NA PRAIA DE COPACABANA O homem mais rápido do mundo está de volta às pistas. Depois de ter ficado de molho no primeiro semestre por causa de uma lesão no pé, o jamaicano Usain Bolt retomou as competições no início de agosto, nos Jogos do Commonwealth, na Escócia, e já confirmou participação em pelo menos outros três eventos. Melhor do que isso: o cara vem ao Brasil. O velocista garantiu que irá correr a prova de 100 metros do desafio “Mano a Mano”, que será realizado no dia 17 de agosto na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Em 2013, o homem mais rápido do mundo já havia participado de uma corrida de 150 metros no mesmo local. No ano passado, Bolt venceu a disputa amistosa sem grandes problemas, à frente do brasileiro Bruno Lins e do equatoriano Alex Quinones. A agenda do campeão em agosto também inclui desafios de 100 metros na Polônia, no dia 23, e, muito mais importante, a Diamond League de Zurique, no dia 28
aQUeCimentO
TEORIA DA EVOLUÇÃO
esfOrçO: pâmella no centro de treinamentos de rio maior, em portugal. em 2010, ela cumpria os 10 km em 40 minutos. hoje, percorre a mesma distância em 35 minutos.
A CAPIXABA PÂMELLA OLIVEIRA DEIXOU AS PISCINAS PARA SOFRER NO MAR, NA BICICLETA E NA CORRIDA. HOJE, É A PRINCIPAL ATLETA BRASILEIRA DO TRIATLO
A vida de pâmella oliveira era como a de um peixinho no aquário: tudo certo, planejado, sem margem para erros ou improvisos. Tanto controle durante os 15 anos que ela passou contando azulejos em piscinas fez a atleta capixaba sentir vontade de se aventurar. E ela levou o desafio ao extremo. O corpo acostumado a dar braçadas em águas calmas, na temperatura ideal, foi jogado ao mar frio, teve de aprender a correr, pedalar e suportar castigos nunca imaginados. Doeu muito, mas depois de sete anos de esforço, ela completou sua
transformação: passou de nadadora à principal triatleta do Brasil. E é a esperança de medalhas do País nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Para evoluir, Pâmella passou a dar atenção especial a seus pontos fracos. A experiência como corredora era quase nula. Bicicleta, só nas brincadeiras de infância ou para ir de um canto a outro em Vila Velha (ES). Tinha de aprender duas novas modalidades quase do zero para encarar o 1,5 quilômetro de natação, os 40 quilômetros de ciclismo e os 10 quilômetros de corrida de uma prova olímpica de triatlo.
O grande salto aconteceu em 2011, quando ela decidiu ingressar em um projeto da Confederação Brasileira de Triatlo (CBTri), que contratou o técnico português Sérgio Santos para orientar a equipe nacional. Considerado um dos melhores do mundo, ele havia levado a portuguesa Vanessa Fernandes à medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008. O plano incluía a mudança para a pacata Rio Maior, em Portugal, onde há um centro de treinamento completo e onde as ruas são propícias ao ciclismo A filosofia de treinamento também mudou. “No Brasil, ainda há uma mentalidade de treinar longas distâncias, mas as provas que disputamos são muito intensas”, diz a atleta. Com a orientação de Santos, muita coisa mudou. Em 2010, ela cumpria os 10 km em 40 minutos. Hoje, faz a mesma distância entre 35 e 36 minutos. Mas ainda precisa evoluir. Apesar de sair da água com grande vantagem por ser uma das melhores do mundo na natação, perde terreno nas outras modalidades. “Ela precisa melhorar aspectos técnicos do ciclismo, pedalar melhor em percursos sinuosos e correr mais rápido”, diz o treinador.
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O triatlO e as transições
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1,5 km de nataçãO (em águas abertas) > 40 km de ciclismO > 10 km de cOrrida >
A provA olímpicA
As perspectivas são boas. Hoje, Pâmella é a décima colocada no Circuito e 28ª no ranking mundial de triatlo. O Comitê Olímpico Brasileiro afirma que a meta é consolidar os triatletas no top 10 para depois pensar em planos mais ambiciosos para 2016. Estar em Portugal também deixou a triatleta mais perto das principais competições do mundo. Nas Américas, o Brasil figura entre os três melhores, um pouco abaixo de EUA e Canadá, mas ainda está distante do nível das equipes da Europa e da Oceania. O lado determinado (ou teimoso) da brasileira apareceu nos Jogos de Londres, em 2012. Depois de sair da água entre as primeiras colocadas, Pâmella derrapou a bicicleta no asfalto molhado e se estatelou no chão. Muito machucada e ainda caída, começou a gritar. Mas não de dor: queria que os oficiais da prova parassem de retirar seu material da área de competição. Apesar de tudo, iria continuar. “Não queria que toda minha preparação tivesse sido à toa. Se eu tivesse parado, talvez estivesse carregando isso comigo até hoje”, diz Pâmella, que terminou em 30º lugar. Ela espera que o melhor tenha sido guardado para 2016.
T1 entre nAtAção e ciclismo
“A quArtA modAlidAde” entre cada uma das etapas, Os atletas precisam trOcar de equipamentOs. essas fases – cruciais a pOntO de serem chamadas de quarta mOdalidade dO triatlO - exigem habilidades que VãO além de nadar, cOrrer e pedalar
O atleta sai da água e cOrre pOr alguns metrOs até chegar à área de transiçãO. o que ele precisa fazer:
> encontrar bicicleta e equipamentos > tirar o traje de banho > Vestir o capacete > calçar a sapatilha (em provas de alto rendimento, o calçado fica preso ao pedal, basta deslizar o pé para dentro)
T2 entre ciclismo e corridA O atleta desce da bicicleta antes de entrar na área de transiçãO e a empurra até O lOcal aprOpriadO
}
dificuldades:
> na transição, o cérebro tem de mudar todo o equilíbrio do corpo para a posição vertical e o sangue precisa irrigar mais para as pernas
> às vezes, falta sangue, e o atleta pode ficar tonto e desmaiar
> se o pé estiver muito molhado e sujo quando a sapatilha for calçada, pode facilitar a formação de bolhas
}
dificuldades:
> pedalando, o triatleta gasta muita energia e os
o que ele precisa fazer:
> colocar a bicicleta no local apropriado > calçar os tênis de corrida
músculos acumulam ácido láctico, que intoxica a musculatura, provocando dores
> de repente, o competidor tem que sair da bicicleta e começar a correr com as pernas já muito debilitadas
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entrevista Joaquim monteiro de Carvalho
aprendizado “em pequim (2008), as pessoas
não sabiam fazer filas — e aprenderam. nós também teremos que fazer adequações”
“N ão e xiste cidade 1 0 0 % pre par ada par a um a olim píada” ii v
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por ElianE lobato fotos mirian fichtnEr
que assumiu o cargo de presidente da EOM em abril, após o súbito pedido de demissão de Maria Silvia Bastos Marques – tem a missão de coordenar a execução dos projetos e atividades municipais relacionados aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016. Também é da EOM a responsabilidade de garantir que o evento deixe um legado positivo para a capital carioca. Por isso, o órgão se esmera em divulgar a Olimpíada mesmo nos pequenos detalhes. Não há parede ou porta de elevador sem adesivos referentes aos esportes que serão disputados. Joaquim é um dos motores desse entusiasmo. Otimista, diz que não há nada fora do cronograma. “Sessenta por cento das obras permanentes estão prontas”, afirma. Herdeiro de uma das mais tradicionais famílias do Rio, o executivo de 34 anos conversou com exclusividade com a 2016.
Acabamos de viver o que a presidenta Dilma Rousseff chamou de “Copa das Copas”. Em 2016, teremos no Rio de Janeiro a “Olimpíada das Olimpíadas”? Sem dúvida nenhuma será a olimpíada da gestão inteligente, de usar poucos recursos públicos e deixar legado de transformação para a cidade. este é o posicionamento da rio 2016. a cidade vai agradecer a transformação e o brasileiro, também. Vai ser um belo marco. Vale lembrar que teremos muitas estruturas temporárias para não deixar elefantes brancos.
Qual foi a lição mais importante deixada pela Copa do Mundo para a organização dos Jogos de 2016? Havia uma desconfiança inicial em relação à capacidade de entrega do Brasil em um evento dessa dimensão, mas acho que essa expectativa foi superada. os gargalos, obviamente, serão corrigidos. não se pode achar que um evento dessa complexidade não necessite de ajustes. Mas está provado que o brasileiro sabe fazer e entregar. Foi ótimo ter tido a experiência prévia da Copa. para nós, é um bom termômetro, que demonstra que a cidade está preparada. então, se foi bem em 2014, enquanto a cidade
ainda passa por obras – como o Cais do porto, o metrô, a duplicação do elevado do Joá –, vai ser melhor ainda em 2016. Mais de 80% dos turistas que estiveram no rio durante a Copa disseram que voltariam. isso é a prova de que a cidade teve uma exposição positiva.
Qual será o maior legado da Olimpíada para o Rio? Tudo que está sendo feito na cidade não é para atender só a demanda olímpica, é para atender a população como um todo. Mais de 2,5 milhões de pessoas serão beneficiadas diretamente pelas obras que estão sendo feitas. São os corredores exclusivos de ônibus (BrTs), o metrô que vai ligar a zona sul à Barra e os legados que não estão diretamente relacionados ao projeto olímpico, como a reformulação do porto Maravilha, que é a maior ppp (parceria público-privada) do rio, ou os reservatórios, como o da praça da Bandeira, que vai acabar com as enchentes históricas. São coisas que nada têm a ver com o evento diretamente, mas que são aceleradas por causa da olimpíada. Veja que bacana: a arena de handebol, na Barra, foi pensada para virar, após o evento, quatro escolas públicas. isso é muito legal.
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A sede da Empresa Olímpica Municipal (EOM) fica no prédio de número 2016 na rua Ulisses Guimarães, no Estácio, Rio de Janeiro. Todos os telefones do local têm prefixo 2016. Obviamente, não é mero acaso. A equipe comandada por Joaquim Monteiro de Carvalho –
entrevista Joaquim monteiro de Carvalho
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Como está o cronograma de obras? Será possível cumprir os prazos? está tudo em dia, não tem nada que assuste a organização dos Jogos. Temos quatro zonas olímpicas na cidade. a principal é a da Barra da Tijuca (zona oeste), onde acontecem 50% dos Jogos e onde fica a principal construção, o parque olímpico. Lá haverá nove arenas, onde serão disputadas as partidas de tênis, handebol, natação e ciclismo, entre outras. É também onde fica o Centro internacional de Trans-missão (iBC), o maior equipamento olímpico. para se ter uma ideia, ele é maior do que todos os estúdios do projac, da rede Globo, juntos. É onde fica, também, a Vila olímpica, que abrigará 18 mil pessoas. outra zona é em deodoro, local do Complexo esportivo que será sede de 11 modalidades olímpicas e quatro paraolímpicas. as outras duas são Copacabana e Maracanã.
O Complexo Esportivo de Deodoro não está com as obras atrasadas? não, está tudo dentro do cronograma. Sessenta por cento das obras de competição permanentes estão prontas . o que precisamos tirar do papel? a arena da pista de BMX, em terreno natural, que, normalmente, é feita em três meses. não é complexa nem precisa de grande investimento. além disso, eu diria que o maior desafio de deodoro é o circuito de canoagem slalom, as corredeiras onde acontecem as provas. esse é um desafio, mas já está sendo cuidado. Tem muita especulação, mas os números não deixam mentir, está tudo a todo vapor.
Os eventos-teste acontecerão no ano que vem?
Em números, o que essa diferença significa? nas primeiras 12 horas da olimpíada vai ter mais gente circulando na cidade do que houve nos sete jogos realizados no Maracanã, na Copa. nesse período, o rio teve 14 horas de exposição mundial. na olimpíada, serão mais de 2,5 mil horas de transmissão. nenhum produto, campanha ou mercado expõe tanto uma cidade quanto uma olimpíada. a Copa é um evento de um só esporte, o futebol. na olimpíada, são 56 campeonatos simultâneos. o ápice de concentração de gente, na Copa, foi na final. na olimpíada, é no primeiro dia, que, inclusive, já tem medalha de ouro. então, ela testa mais a cidade.
O sr. diria que a cidade estará 100% preparada para receber a Olimpíada? olha, não foi por acaso que a Jornada Mundial da Juventude (2013) foi um sucesso. nem a Copa, os carnavais, os réveillons nos quais mais de dois milhões de pessoas chegam e saem simultaneamente de Copacabana. o rio é a capital do entretenimento. os órgãos públicos estão cada vez mais familiarizados com esses processos, mais acostumados a reações, a absorver o impacto. É bom frisar que não existe cidade 100% preparada para receber um evento dessa dimensão. Cada uma tem suas particularidades, suas necessidades. em pequim (2008), as pessoas não sabiam fazer filas – e aprenderam. nós também teremos que fazer nossas adequações. isso é saudável.
Qual o percentual de investimento privado no evento? Sinto muito orgulho de falar isso: 60% vêmw
o primeiro, da vela, já acontece em agosto.aliás, essa modalidade é a única que terá dois eventos-teste para averiguar as condições climáticas da Baía de Guanabara.Só da vela são dez modalidades, 350 atletas, um negócio enorme.
do setor privado. Gosto, também, de ressaltar as oportunidades de emprego que os Jogos olímpicos estão gerando, principalmente na construção civil.
Qual é o principal gargalo na estrutura da cidade? Sem dúvida, o grande desafio de toda cidade
está saudável. estamos no mesmo barco, remando na mesma direção e com a mesma intensidade. Fazemos reuniões frequentes, não só para medir a evolução do projeto, mas também para fazer ajustes. Um que fizemos agora foi a opção por estruturas simples. não são arrojadas e muito menos luxuosas. São estruturas compatíveis com a necessidade da cidade. então não vai ter exageros, nada de tapetes e outras sofisticações. o segundo ajuste é tentar usar o máximo de dinheiro privado possível, por meio de parcerias público-privadas. a economia de recursos pode ser usada nos legados.
olímpica é a parte de mobilidade. Logística, operação e gerenciamento de multidão são sempre importantes. numa Copa do Mundo, você sabe que horas as pessoas vão chegar ao estádio, que horas vão sair, como vão. na olimpíada, é totalmente diferente. ninguém sabe se o cara que vai para deodoro seguirá, depois, para uma competição de praia em Copacabana e, na sequência, para o parque olímpico, na Barra. É outro fluxo de movimento, não dá para prever.
Como está a relação da Empresa Olímpica Municipal com o Comitê Olímpico Internacional (COI)?
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i “naS priMeiraS 12 HoraS da oLiMpíada Vai Ter MaiS GenTe CirCULando na Cidade do QUe HoUVe noS SeTe JoGoS reaLizadoS no MaraCanã (FoTo aCiMa). Na copa, o rio teve 14 horas de exposição muNdial. Na olimpíada, serão mais de 2,5 mil horas de traNsmissão. NeNhum produto expõe taNto uma cidade quaNto uma olimpíada”
O sr. teme o uso político dos Jogos Olímpicos, já que eles acontecerão em ano de eleições municipais? não sou político. o que sei é que a população vai ter muito orgulho da olimpíada de 2016. a cidade vai ganhar um belo presente.
O Rio de Janeiro está preparado para uma “invasão” de turistas sul-americanos por terra, como aconteceu na Copa? Queremos mais é que venham. estamos até preparando lugares para receber os motorhomes, com estrutura para banho, churrasco e coisas do tipo. Queremos que as pessoas circulem pela cidade, que vejam também a Lapa ou o parque de Madureira.
O sr. pertence a uma tradicional família dona de empresas, mas optou pelo serviço público. Por quê? Me sinto útil, preencho minha alma e fico feliz porque sirvo a pessoas na cidade mais linda do mundo, no maior evento do mundo.
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Primeiro brasileiro a vencer a nba, Tiago sPliTTer ainda é quase desconhecido em seu
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à frenTe da seleção no camPeonaTo mundial, o Pivô Tem a chance de Promover por Mariana Queiroz BarBoza fotos fred jean/ag. istoé
embaixador splitter
PróPrio País. agora,
uma revolução de imagem e PreParar Terreno Para novos ídolos no basqueTe
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por Mariana Queiroz BarBoza
O capa
Os aplausOs de funciOnáriOs e passageirOs do aeroporto de San Antonio, no Texas, tinham um alvo brasileiro no dia 21 de junho. Na fila do embarque internacional, o catarinense Tiago Splitter, 29 anos, preparava-se para viajar ao Brasil com a mulher, a espanhola Amaia, e o filho, Benjamin, de 2 anos. Cinco dias antes, o San Antonio Spurs havia derrotado o Miami Heat no quinto jogo da final e conquistado o título de campeão da liga de basquete dos Estados Unidos (NBA), a mais importante do mundo. Splitter, pivô da equipe, foi o primeiro brasileiro a alcançar essa façanha. Amaia sorria, mas, ao lembrar da cena, só conseguia dizer: “Que vergüenza, Tiago, que vergüenza!”. Na manhã do dia seguinte, sentado à mesa de uma lanchonete de fast-food do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, Splitter era um anônimo. Em pé, os 2 metros e 11 centímetros de altura chamam a atenção de quem passa pelo atleta que vestia camiseta azul, calça tactel preta, tênis e um relógio no pulso esquerdo – tudo da Nike, sua patrocinadora desde 2010. Mas, com a exceção de alguns olhares curiosos de quem imagina que um homem daquele tamanho só possa ser famoso, ninguém se dá ao trabalho de notá-lo. De repente, sinal de vida: um senhor grisalho, com sotaque americano, cumprimenta Tiago brevemente com um aperto de mãos e um “congratulations, sir”. Entre os brasileiros, nada. “É assim mesmo, o pessoal não acompanha muito basquete aqui”, diz o atleta. Em Blumenau (SC), cidade natal de Tiago, onde o astro da NBA passaria uma semana de férias com a família, seu pai, Cássio Splitter, contou o número de autógrafos pedidos no aeroporto: dois. O título da NBA faria daquelas férias as melhores em anos. “No ano passado, realmente foi difícil curtir, porque estava entalada a derrota para o Miami”, afirma o pivô. “Tive que tentar esquecer aqueles jogos, aquela bola de três do Ray Allen.” No sexto jogo das finais de 2013, faltavam cinco segundos para o fim quando Allen acertou a bola que empataria o placar e daria ao Miami
vingança Em 2013, na final da nBa contra o Miami Heat, Tiago Splitter levou um “toco” histórico de LeBron James (ao lado). Em 2014, veio a vingança, com um bloqueio sensacional em Dwyane Wade, também do Heat
Heat a chance de vencer na prorrogação. Na partida seguinte, os adversários ficariam com a taça. Além disso, Tiago teve que conviver com a repetição das imagens do toco que levou de LeBron James, então estrela do Miami, durante o segundo jogo dos playoffs. Não bastasse a reprodução em jornais e programas de tevê dedicados ao basquete, a cena inflada por uma narração dramática foi usada nas chamadas promocionais das partidas seguintes. No canal oficial da NBA no YouTube, as imagens podem ser encontradas em vídeos com as chamadas em inglês: “O toco RIDÍCULO de LeBron James em Tiago Splitter de todos os ângulos!” e “O toco INSANO de LeBron James em Tiago Splitter no jogo 2!” – esse com mais de 1,2 milhão de visualizações. Foi desse cenário que saiu a motivação para a temporada de 2014. O técnico do Spurs, Gregg Popovich, colocou os atletas para assistirem aos vídeos dos dois últimos jogos dos playoffs logo no primeiro treino do ano. “Vocês acham que perderam por azar? Não. Perderam porque erraram e o Miami mereceu ganhar”, disse. Foi a partir disso que Popovich reforçou a coletividade do grupo com o mantra “sempre um passo a mais”. “Eles deram aula de basquete”, afirma o argentino Rubén Magnano, técnico da seleção brasileira. “Um basquete altruísta, solidário, que me agrada.” Apesar de contar com grandes estrelas como Manu Ginóbili, Tony Parker e Tim Duncan, seu “big 3”, o San Antonio jogou sem uma figura que pudesse ser considerada decisiva como LeBron era no Miami. “Sem um jogador assim, às vezes é difícil definir os jogos”, diz Splitter. “Mas, como durante o ano, todo mundo teve bastante responsabilidade, os bancos, os titulares, é como se todo mundo estivesse acostumado a decidir, a arremessar uma bola importante num momento quente do jogo.” Essa é uma chance também para que os novatos possam brilhar. Quem foi eleito MVP (jogador mais valioso, na sigla em inglês) das finais foi Kawhi Leonard, 23 anos. fotos: Christian Petersen/getty | andy Lyons/aP
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“Sou uM JogaDor quE faz o TraBaLHo SuJo DEnTro Da quaDra. aJuDo a carrEgar o piano, MaS, àS vEzES, quEM Sai na foTo é Só quEM Toca”
inSpiração Tiago e o pai, cássio, querem tocar um projeto para popularizar o basquete no Brasil quando o astro deixar a nBa. Só assim será possível inspirar novas gerações de atletas
Com nove jogadores de diferentes nacionalidades, o San Antonio Spurs é hoje o time mais internacional da NBA. Entre os atletas, a piada é que esse é o “time da ONU.” O francês Boris Diaw, o australiano Patty Mills e, especialmente, o argentino Manu Ginóbili são os mais próximos de Tiago. “É legal conviver com outras culturas e reconhecer que todo mundo se sente da mesma forma: como um peixe fora d’água em outro país”, afirma. “Mas o Ginóbili, quando vai para a seleção argentina, é meu adversário. Aí é pau neles!” Sobre seu papel na equipe campeã, Tiago parece ensaiar o discurso com o pai e usa até as mesmas palavras. “Sou um jogador que faz o trabalho sujo dentro da quadra”, diz. Splitter costuma dizer que jogar basquete é como carregar um piano: precisa de um monte de gente para suportar o peso e uma para tocar. “Eu ajudo a carregar, mas, às vezes, quem sai na foto é só quem toca”, diz. Exatamente por isso, Tiago nunca foi o que na NBA se chama de “franchise player”, um jogador que seja sinônimo de uma equipe. Ele também não ambiciona ser escalado para o All-Star Game (Jogo das Estrelas, em inglês). “Para ser um All-Star, é preciso ter estatísticas, uns 20 pontos por jogo, rebotes”, afirma. “Eu teria que jogar 35 minutos para fazer isso. É um tempo que não jogo nem vou jogar.” Nos jogos em que venceu o Miami, o Spurs obteve uma diferença de pontos superior a 15 e, assim, encerrou as finais por quatro a um. Em 2013, o time da Flórida só decidiu no último jogo da série de sete. Faltava ainda mais uma coisa para elevar o moral da equipe e de Tiago. No segundo quarto da partida decisiva, no AT&T Center em San Antonio, Splitter deu um toco em Dwyane Wade, considerado o terceiro maior alaarmador da história da NBA, atrás de Michael Jordan e Kobe Bryant. A revanche estava completa. “O que mais lava a alma é ganhar, mas estou feliz que a galera gostou desse toco”, afirma o catarinense. Embalado pela reação da torcida local com o toco, o Spurs acertou logo depois quatro bolas de três pontos seguidas. “Deu um gás.” Mas, apesar de a defesa de Splitter ter acontecido num momento mais importante do jogo do que um ano antes, a repercussão foi bem menor. Para Anderson Varejão, pivô do Cleveland Cavaliers e companheiro de seleção brasileira, “não falaram o suficiente”. Varejão, aliás, foi um dos primeiros a parabenizar Tiago pelo título. Mandou mensagem e ligou em seguida. “Ele estava eufórico”, diz Varejão. Os dois são amigos desde a adolescência, quando entraram para a seleção juvenil. “O pai dele conhece meu pai, meus irmãos”, afirma o pivô. “O Tiago é observador e caladão, e lidera muito mais pelo exemplo do que pelas palavras.” No jogo decisivo para o pentacampeonato do Spurs, Varejão era comentarista da rede de tevê ESPN Brasil, quando Cássio Splitter entrou ao vivo por tele-
fone. “Parabéns, tio”, disse o jogador. “Varejão, muito obrigado pelas coisas que vocês estão fazendo pelo basquete brasileiro”, disse o pai de Tiago, emocionado. “Vamos ser campeões mundiais, cara. Vou cobrar isso de meia dúzia.” A data do jogo, no terceiro domingo de junho, coincidiu com o Dia dos Pais nos Estados Unidos. “É um grande presente que estou recebendo,” continuou Cássio, que não sabia que estava ao vivo em rede nacional. Tiago se diverte com a história. “Ele falava, falava, e o pessoal mandava mensagem para o celular do meu irmão: ‘fala para o seu pai calar a boca, ele está ao vivo, ele não sabe’.” Em Blumenau, a família comemorava a vitória do Spurs com uma turma grande de amigos e vizinhos que se reuniram na frente da tevê. Em San Antonio, Tiago se dividia entre fotos com o troféu, entrevistas e abraços. O vestiário todo revestido de plástico “para não sujar” esperava os jogadores com baldes de champanhe entre os bancos e armários. Enrolado numa bandeira do Brasil, Tiago tomou um banho de champanhe de lavar a alma. Saiu do AT&T Center três horas depois do fim do jogo para jantar com os colegas e seus familiares num restaurante reservado para a equipe. Na quarta-feira seguinte, o time se reuniu novamente para a tradicional parada de San Antonio. Cerca de 100 mil pessoas vestidas de branco e preto se postaram às margens do River Walk para ver os jogadores desfilarem num passeio de barco. De lá, eles seguiram para o ginásio Alamodome, onde outros 65 mil fãs esperavam. Cada atleta foi apresentado ao público e pôde agradecer o apoio no microfone. “Eu tenho noção do tamanho dessa conquista”, diz Tiago. “Mas também tenho noção de quais são as minhas características. Não adianta eu querer chegar à Seleção e chutar todas as bolas, porque essa não é a minha característica. Vou fazer bem o que eu faço.” Até setembro, Splitter estará na Seleção Brasileira, onde assume um papel diferente, de mais protagonismo. “Aqui ele tem muito mais responsabilidades
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ofensivas”, afirma Magnano, que trabalha com o atleta há quatro anos e meio. “O Tiago é parte da coluna vertebral da equipe, ao lado do [Marcelinho] Huertas, do Anderson [Varejão] e do Nenê.” Há um ano, sem Splitter e outros jogadores da NBA, que pediram dispensa, o Brasil foi eliminado da Copa América na primeira fase pela Jamaica. O torneio realizado na Venezuela era classificatório para o Mundial da Espanha. Assim, a vaga no torneio global só foi confirmada após um convite da Federação Internacional de Basquete. “Esportivamente, temos que fazer o melhor trabalho para que as pessoas saibam que fomos convidados porque temos uma equipe competitiva”, diz o técnico. Com o time completo, o Brasil dá mostras de que tem fôlego para conseguir uma medalha. Na Olimpíada de Londres, em 2012, a seleção caiu para a Argentina nas quartas de final, mas antes venceu a Espanha, que chegou à final com os EUA, e perdeu para a Rússia por apenas um ponto de diferença. “Ganhamos de vários times que são importantes e que estão no topo. Por que não podemos conseguir uma medalha? Falta ter sorte de ganhar num momento importante”, diz Tiago. “Todo mundo tem medo de jogar contra o Brasil.” Em 2016, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, esse temor será ainda mais reforçado pelo fator torcida.
A atual preparação do grupo, que vai enfrentar França, Espanha, Sérvia, Egito e Irã na fase de grupos do Mundial, começou em 21 de julho em São Paulo e incluiu três treinos diários: um na academia, um trabalho técnico e outro tático. Folgas, só depois de quatro dias contínuos de estímulos ou em meio período depois de dois dias. A equipe ainda passaria por Rio de Janeiro, Buenos Aires, Chicago e Eslovênia antes de embarcar para Granada, na Espanha. “Todo título de alguém que compõe uma equipe alimenta a fome do rival, e dentro do nosso time temos muitos campeões, da NBA, da ACB (liga espanhola), da NBB (liga brasileira)”, diz Magnano. “Agora, temos que prepará-los ainda mais para lutar contra isso.” Juntos por tanto tempo, os jogadores podem colocar em prática as brincadeiras que fazem a distância pelas mensagens do grupo “seleça” do WhatsApp. “A gente fica o ano todo no celular e pensando já nessa época de seleção”, diz Tiago. “Estamos sempre tentando sacanear o outro, tenho que dar umas zoadinhas”, afirma Varejão. O mal-estar causado pelo desfalque dos jogadores internacionais no time, todos garantem, ficou no passado. Na avaliação do técnico, “o clima é ótimo.” Fora do Brasil desde os 15 anos, quando assinou um contrato de dez anos com um time espanhol, Tiago Splitter já se acostumou a vir ao País só pela seleção.
oS núMEroS DE Tiago SpLiTTEr na nBa médias Por jogo pontos:
8,3
Minutos em quadra:
19,8
acertos de arremessos no garrafão:
56,1%
acertos de lances livres:
68%
rebotes ofensivos:
1,7
rebotes defensivos:
3,7
assistências:
1,2
Bloqueios:
0,6
roubadas de bola:
0,5
faltas cometidas:
1,9
vEncEDor Tiago com a taça da nBa em São paulo: é a primeira vez que o troféu da liga americana de basquete viaja pelo mundo
fotos: xxx
proTagoniSMo: na Seleção Brasileira, Tiago tem papel de liderança muito maior do que em seu clube, o San antonio Spurs. no campeonato mundial, entre agosto e setembro, o time nacional precisa provar que ainda tem qualidade para competir entre os melhores
Incentivado pelo pai, o catarinense se dedica desde criança ao esporte. Na época, Michael Jordan estava no auge, o que rendia broncas ao menino que ficava acordado até tarde para ver o ídolo em ação na tevê. Jordan também estava em cartaz no cinema com o filme “Space Jam”, lançado em 1996. Tiago, então, destacou-se pela equipe da cidade de Blumenau e recebeu propostas do Rio de Janeiro e de São Paulo antes de decidir partir para a Europa. Um olheiro o viu na Seleção e o convidou para um teste. Em Vitoria-Gasteiz, ele teria tudo pago: escola, apartamento, dinheiro e passagens aéreas, além da oportunidade de chegar à NBA de Jordan. “Eu estava nervoso porque, se quisesse rescindir o contrato, uma cláusula me obrigava a pagar US$ 10 milhões”, diz o pai. “Eu não tinha esse dinheiro. Tinha, no máximo, minha casa, dois carros velhos e meu escritório.” Mas Tiago estava determinado. “Pai, vou ficar”, disse o menino. Hoje ele ganha US$ 10 milhões por temporada. A aposta deu tão certo que Splitter foi eleito o melhor jogador da liga espanhola duas vezes. Depois de ficar três meses em sala de aula sem entender uma palavra, ele dominou o idioma e conheceu Amaia. “Por enquanto, a NBB ainda está num patamar abaixo da liga europeia ou da NBA”, afirma. “Um jogador brasileiro que quiser continuar evoluindo tem que sair do País, infelizmente.” Ex-jogador e apaixonado fotos: Christian Petersen/getty | ashLey Landis
por basquete, o advogado Cássio Splitter sonha em mudar essa realidade. Depois de desistir da carreira esportiva, deu aulas em Indaial, cidade de 50 mil habitantes no interior catarinense. Ganhava R$ 700 por mês e gastava tudo em tênis, uniformes e outros materiais para os alunos. “Para termos um basquete parecido com o da NBA, precisamos de uma estrutura profissional, dentro da Lei Pelé”, afirma. “Se conseguirmos arrumar a infraestrutura e a condição jurídica dos times, nós vamos dar o maior salto de basquete na América Latina.” Idealizador de projetos ambiciosos e com imensa vontade de transformar o Brasil numa potência no esporte, Cássio se angustia por não viver numa cidade grande onde pudesse colocá-los em prática. “Pena que não posso me dedicar mais.” Mas, para a satisfação de Cássio, Tiago, que ainda tem mais três anos de contrato com o Spurs, pensa em voltar para o País para encerrar a carreira. “Eu gostaria de voltar”, afirma. “Sei que a idade vem, os anos pesam e não vou conseguir jogar na NBA para sempre.” O pai promete fazer de tudo para influenciar o retorno do filho. “Quero meu netinho aqui perto, porque aí não vou precisar aprender inglês para falar com ele”, diz Cássio Splitter. produção: cintia sanchez agradecimentos: nike; Tigor Tigre; Marisol; Mineral; asics; calvin Klein
preparação
futuro Crianças da comunidade de Manguinhos brincam na areia de um dos projetos de urbanização para os Jogos olímpicos de 2016. o rio tem motivos para estar otimista fotos: Mario taMa/Getty
Rio RedentoR Depois Da tragéDia Da seleção na Copa, o país tem, na olimpíaDa De 2016, uma oportuniDaDe úniCa De restaurar o orgulho naCional
por MARCEL GUGONI
aGosto/seteMbro 2014
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preparação
vista o Pão de açúcar, cartão-postal do rio de Janeiro, surge em meio à neblina da manhã. Com o fim da Copa do Mundo, os esforços passam a se concentrar na olimpíada
o golpe desferido pela Alemanha na semifinal da Copa do Mundo não só escancarou as mazelas do futebol brasileiro como feriu de morte o orgulho nacional. os 7 a 1 foram dolorosos, horríveis, melancólicos, humilhantes. tudo isso é verdadeiro, tudo isso ficará cravado na memória para sempre, mas o Brasil tem a sorte, como poucas nações já tiveram, de uma nova oportunidade bater à porta. ela está logo ali, a exatos dois anos. Com a tragédia da Seleção na Copa, a olimpíada no Rio pode significar a redenção definitiva da autoestima brasileira. Será a hora de mostrar que o país do futebol também pode ser o país de todos os esportes. “os Jogos olímpicos são nossa prioridade agora”, afirmou a presidenta dilma Rousseff ao receber o recém-eleito presidente do Comitê olímpico internacional (Coi), thomas Bach, após o fracasso do Brasil nos gramados. Vai ter olimpíada, e ela pode ser extraordinária dentro e fora do universo esportivo. Para muita gente, os Jogos são realidade faz tempo. Há quase cinco anos, todas as segundas-feiras se iniciam do mesmo jeito para Marcus Vinícius Freire. ele chega às 9 horas ao trabalho, abre uma planilha de controle e passa a administrar seus principais recursos: pessoas. Homem com grande experiência no mundo empresarial (é formado em economia) e esportivo (foi medalhista com a “geração de prata” do vôlei em Los Angeles-1984), Freire é diretor-executivo de esportes do Comitê olímpico Brasileiro e um dos principais responsáveis pela preparação de atletas das 30 confederações olímpicas apoiadas pelo CoB. A ferramenta utilizada por ele permite acompanhar os treinamentos de todas as equipes, com detalhes de desempenho e indicações do que ainda falta fazer para que o Brasil tenha chance de medalha no maior número de modalidades possível. “eu trouxe esses sistemas e conceitos do mundo corporativo, inclusive o dashboard (painel de indicadores), que controla todas as informações e nos dá a vantagem de poder saber quem está fazendo o que neste momento”, afirma, num linguajar tipicamente corporativo. A lista de Freire tem 196 nomes – e o número vai aumentar. A estratégia é montada sobre um mapa das atividades de cada atleta, que é ranqueado a partir do desempenho em competições internacionais. fotos: eduardo Garcia/saMbaPhoto
na medida do possível, todas as soluções são individualizadas, seja a compra de equipamentos, seja a busca por experiência no exterior, o reforço de treinos com técnicos experientes ou um período de aconselhamento psicológico. “Sempre me pergunto o que é preciso para que um determinado atleta suba no ranking”, diz Freire. As metas já estão na mesa: em 2016, o Brasil quer ficar entre os dez países com mais medalhas. Considerando as edições recentes dos Jogos, isso significa subir no mínimo 26 vezes ao pódio, independentemente do degrau. A disputa é dura porque, muito embora a delegação brasileira tenha alcançado em Londres seu melhor resultado em eventos olímpicos (16º lugar no quadro geral), ganhou apenas 17 medalhas. Faltam pelo menos nove. nos Jogos Paraolímpicos, o retrospecto é de forte avanço e de metas mais ousadas: o País passou da 24ª colocação geral em Sydney-2000 para o 7º lugar em 2012, com 46 medalhas (21 de ouro). o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) busca estar entre os cinco primeiros. “o desempenho nos últimos Jogos mostra que já somos uma potência”, afirma Andrew Parsons, presidente do CPB. nenhum país sai vencedor em todas as 42 modalidades olímpicas e, por isso, vale a pena focar esforços. A China, mesmo competindo em casa em 2008, subiu ao pódio em pouco mais da metade dos esportes – e ficou em segundo no quadro geral, com 100 medalhas. o segredo da preparação está justamente em identificar as modalidades com chances mais consistentes (confira quadro) e desenvolver um programa de longo prazo. o Brasil tem histórico de ganhar medalhas em oito ou nove esportes. É pouco, mesmo pensando em esforço concentrado. Por isso, segundo Freire, o objetivo maior é aumentar o leque de opções. o primeiro grupo de trabalho é clássico: tem atletismo, basquete, futebol, judô, natação, vela, vôlei e vôlei de praia. no segundo, há revelações mais recentes, como boxe, ginástica artística, tae kwon do e pentatlo moderno. As demais modalidades passam pelo trabalho de formação que se estende para além de 2016. ou seja, representam chances maiores em tóquio-2020 e nos Jogos seguintes, ainda sem sede definida. o atual ciclo olímpico começou em 2013 e bons resultados já apareceram. no ano passado, atletas brasileiros levaram 27 medalhas em provas olímpicas de Campeonatos Mundiais e competições equivalentes. Foi o melhor ano da história do esporte nacional. isso significa que a meta será atingida? “não dá para dizer com certeza”, desconversa Ricardo Leyser, secretário nacional de alto rendimento do Ministério do esporte. os resultados mostram que os esforços de organização (como a contratação de técnicos estrangeiros), os incentivos (regulamentação de bolsas e patrocínios) e
o planejamento (aplicação da ciência do esporte) estão cada vez mais afinados. A unificação dos programas em torno de uma agenda comum é uma grande vitória. “nosso propósito é que o esporte olímpico brasileiro tenha projeção internacional”, diz Leyser. isso pode acontecer independentemente dos pódios. Para quem apoia o esporte, a medalha em si importa menos do que o processo que leva até ela. “Queremos inspirar e formar atletas”, diz Jorge nasser, diretor de marketing do Bradesco. o banco é um dos patrocinadores do time Brasil nos Jogos de 2016 e apoia seis confederações, algumas delas sem histórico de medalhas, como a de rúgbi, esporte que retorna ao programa olímpico em 2016. Além disso, o Bradesco desenvolve um trabalho de formação de atletas de base desde os anos 1980. A organização da Rio 2016 inicia agora uma das etapas mais importantes para os Jogos: as contratações para todas as estruturas temporárias que vão equipar as arenas, a Vila olímpica e os locais de treinos. Leonardo Gryner, diretor-geral de operações do Comitê Rio 2016, diz que neste momento já é possível “ir ao mercado fazer licitações, apesar de ainda não haver a contratação final”. o volume dessas estruturas varia conforme a arena. A de vôlei de praia, por exemplo, é 100% temporária e será desmontada da Praia de Copacabana ao término da competição. no vôlei, o Ginásio Maracanãzinho quase não precisa de adaptações, a não ser as estéticas com a identidade visual da olimpíada. “Cada esporte tem uma necessidade diferente, o que permite amadurecer o projeto e adaptar o orçamento”, diz Gryner. o trabalho é hercúleo: os Jogos vão receber 140 mil pessoas envolvidas na realização do evento, incluindo 7 mil integrantes do comitê organizador e 65 mil funcionários contratados, além de mais de 10,5 mil atletas de 200 nacionalidades. estima-se que 7 milhões de ingressos sejam disponibilizados para os Jogos. As vendas devem começar até o fim de 2014. Já os eventos-teste das modalidades ficam para meados do próximo ano. em 2014, começa a passar do papel à prática o projeto de voluntariado para preparar mais de 70 mil apoiadores. Metade deverá ajudar na orientação do público e dos participantes (comitês olímpicos, atletas, membros da imprensa, entre outros). os demais serão direcionados para tarefas específicas e especializadas – de médicos, enfermeiros e veterinários a técnicos em informática e comunicação, sem esquecer dos voluntários operacionais, como motoristas. “o treinamento de cada um desses grupos é bem diferente do daqueles que vão apoiar no atendimento”, diz Gryner. o desafio não é só recrutar e treinar, mas também entender o nível de comunicação de cada participante em outras línguas. “É importante salientar que não precisamos ter 100% dos voluntários
BrasiL PotÊNCia oLÍMPiCa nos Jogos De 2016, o Brasil quer estar entre os 10 maiores meDalhistas. o feito seria inéDito. Confira a meta para o rio e o históriCo nas olimpíaDas mais reCentes olimpíaDa
meDalhas
esportes meDalhaDos
posição geral
Rio 2016 (meta)
+ 25
+ 13
TOP 10
Londres 2012
17
8
16O
Pequim 2008
15
8
17O
Atenas 2004
10
7
22O
Sydney 2000
12
8
22O
Atlanta 1996
15
9
18O
tradição e reveLação as moDaliDaDes Com maiores ChanCes para o Brasil são uma mistura De esportes traDiCionais Com suCessos reCentes em Jogos olímpiCos e Campeonatos munDiais. Confira onDe o CoB aposta suas fiChas para 2016 moDaliDaDes Com ChanCe
meDalhas em Disputa
meDalhas possíveis
ATLeTiSmO
141
133
BASqueTe
6
2
BOxe
52
13
FuTeBOL
6
2
GináSTicA ARTíSTicA
42
26
GináSTicA de TRAmPOLim
6
4
GináSTicA RíTmicA
6
3
HAndeBOL
6
2
HiPiSmO - SALTOS
6
4
Judô
56
14
nATAçãO
102
62
PenTATLO mOdeRnO
6
4
TAe kwOn dO
32
4
TêniS
15
5
TêniS de meSA
12
8
VeLA
60
10
VôLei
6
2
VôLei de PRAiA
6
4
autoestiMa “Boleiros” na praia de ipanema (acima) e a comunidade de rio das Pedras (na página ao lado): eventos como a olimpíada ajudam o Brasil a construir uma imagem internacional positiva fotos: shutterstock | VaNderLei aLMeida/afP
fluentes no inglês”, esclarece André Marques, porta-voz do Grupo eF (english First) e diretor-geral da englishtown, escola de inglês que patrocina o evento e vai ajudar na qualificação dos apoiadores. Além do inglês, haverá testes e treinamentos básicos de alemão, espanhol, francês, italiano, japonês, mandarim e russo. o treinamento online oferecido pela escola começa agora, enquanto as seleções e entrevistas com os voluntários ficam para 2015. o conhecimento que o Brasil adquire é um dos maiores legados olímpicos, na opinião de Rodrigo Uchoa, diretor de novos negócios da Cisco do Brasil, uma das patrocinadoras dos Jogos de 2016. o investimento para desenvolver a infraestrutura de redes de transmissão de dados vai levar a empresa a uma situação ímpar. “temos engenheiros que conhecem profundamente a tecnologia de estádios e eles começam a utilizar esse aprendizado fora do Brasil”, afirma o executivo. Poder planejar e implementar um projeto olímpico, em qualquer área, representa uma expertise que coloca os brasileiros em posição privilegiada. “Só olhar o legado como sinônimo de infraestrutura física é um erro”, diz Uchoa. Mas e as ferrovias, linhas de ônibus e viadutos? tudo custa caro, mas o alto dispêndio está longe de ser exclusividade do Brasil. do ponto de vista econômico, é preciso reconhecer que todas as previsões iniciais de realização de um megaevento esportivo, como a olimpíada, são subestimadas. Bent Flyvbjerg e Allison Stewart, especialistas em gestão pública da Saïd Business School da Universidade de oxford, no Reino Unido, fizeram um estudo que demonstrou que 100% dos Jogos olímpicos estouram o orçamento. “É bem possível que os Jogos do Rio custem menos do que os de Londres, que foram os mais caros de que temos registro”, afirmou Flyvbjerg à 2016. A pesquisa é de 2012 e não inclui os dados da olimpíada de inverno de Sochi (Rússia), de 2014, que deve superar o evento na capital britânica e ocupar o posto de mais cara da história, com custo estimado em US$ 45,8 bilhões.
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“o BrasiL está NuMa Posição eM que CoNsegue usar a seu favor uMa sequÊNCia rara, com a organização de copa do mundo e olimpíada com apenas dois anos de diferença” o custo olímpico, porém, precisa ser separado do gasto com infraestrutura – em que estão incluídos rodovias, ferrovias, aeroportos, redes energéticas e de saneamento. isso porque, como são obras de necessidade pública, precisam ser feitas pelos governos independentemente de a cidade sediar uma olimpíada ou não. tais obras acabam sendo priorizadas devido aos Jogos, muito embora alguma coisa sempre atrase e seja entregue posteriormente. A primeira conclusão é a de que o país que realiza um megaevento como esse precisa se planejar. “Barcelona, em 1992, tornou-se o exemplo mais famoso de bom uso do legado”, afirma Flyvbjerg. Para ele, a cidade espanhola soube aproveitar um momento de investimentos para aplicar seu capital em mobilidade urbana e revitalização. o retorno foi quase imediato e, hoje, Barcelona é uma das cidades mais vibrantes da europa, mesmo em meio à grave crise econômica da espanha. Já Montreal, que sediou uma olimpíada em 1976, estourou tanto o orçamento previsto que demorou 30 anos para se reequilibrar. A conclusão é óbvia. “os benefícios costumam ser modestos perto do custo, e por isso vale acompanhar esse valor com cuidado em vez de transformar o projeto num cheque em branco”, diz o especialista de oxford. os benefícios econômicos do legado olímpico costumam ser menores quando o desenvolvimento da cidade-sede é baixo, segundo o especialista em economia do esporte Andrew Zimbalist, do Smith College, nos estados Unidos. “em geral, os únicos faturamentos palpáveis surgem pelo turismo e pelo comércio internacional”, diz. em seu novo livro, “Circus Maximus: the economics of Hosting the olympics and the World Cup” (inédito no Brasil), ele diz que um dos maiores problemas está justamente na subutilização do que foi construído. no Rio, 19 estruturas já estão em funcionamento devido aos Jogos Pan-Americanos de 2007 e à Copa do Mundo de 2014. o Brasil ainda está numa posição em que consegue usar a seu favor uma sequência rara na organização desses eventos. Só os estados Unidos, na Copa de 1994 e nos Jogos de Atlanta de 1996, fizeram o mesmo. isso permite ganhos de escala, avalia Zimbalist. em outras palavras, é o reaproveitamento de certas estruturas – como os está-
dios do engenhão, para o atletismo, e do Maracanã, para o futebol – que precisa ser otimizado. Há ainda um outro tipo de legado difícil de medir, mas igualmente importante: o retorno de imagem e o orgulho local. “todo mundo que fica falando do complexo de vira-lata do brasileiro vai ver que o País pode sair dos Jogos com capacidade de realizar qualquer megaevento com excelência, planejamento e entrega”, diz Gryner, do Comitê Rio 2016. Para as corporações que patrocinam os Jogos, o sucesso vem pela projeção mundial das marcas. “demonstra que a empresa tem bala na agulha”, diz Clarisse Setyon, coordenadora do núcleo de estudos de marketing esportivo da escola Superior de Propaganda e Marketing (eSPM). É um evento sem igual para construir com os clientes uma imagem positiva relacionada ao movimento olímpico, como respeito, consciência humanitária, saúde e integração. É nessa linha que se baseia o apoio da CocaCola aos Jogos olímpicos. A empresa patrocina o evento mundialmente desde 1928 – é o mais antigo apoiador. “trata-se de uma oportunidade única para contribuir com a disseminação dos valores e do espírito olímpico”, diz Flávio Camelier, vice-presidente da Coca-Cola Brasil para os Jogos olímpicos Rio 2016. Grandes eventos esportivos são também uma forma de as empresas olharem para si mesmas em ações de endomarketing. São campanhas que usam o gancho olímpico para promover incentivos internos e colaboração entre as próprias equipes. idealmente, isso resulta em maior produtividade e, em última instância, no aumento do faturamento. Apesar de o público olímpico ser mais fragmentado do que o da Copa – devido à simultaneidade de competições –, a imagem positiva de associação ao esporte é muito mais flagrante nos Jogos, conforme analisa Márcio Flores, diretor-executivo do Grupo M, especialista em ações publicitárias do tipo. “o futebol, até por causa dos muitos escândalos, deixa um legado de esporte associado à qualidade de vida bem menor do que a olimpíada”, diz. depois da debacle brasileira na Copa, os Jogos do Rio podem deixar um outro legado: a restauração da confiança dos torcedores nos atletas nacionais. Que 2016 chegue logo. fotos: Mario taMa/Getty | christoPher PiLLitz/Getty
PaCifiCação: Moradores do Morro do Cantagalo soltam pipa diante de uma das vistas mais privilegiadas do rio (acima), enquanto garotos do Jacarezinho batem bola (abaixo). Projetos de pacificação deram uma nova chance às comunidades carentes da capital carioca
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s o m b r a s
rodrigo pessoa, o mais reservado dos atletas de ponta brasileiros, supera os feitos do pai, fala dos planos para conquistar o ouro olímpico em casa e revela que os jogos do rio podem ser a última competição da carreira
por Renata ValéRio de Mesquita fotos stéphane laVoué
epopeia europeia rodrigo pessoa no haras em que o pai é treinador, em ligny, na bélgica. o cavaleiro nasceu e foi criado na europa, mas diz sentir orgulho de representar o brasil
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Ele nasceu na França, cresceu na Bélgica, casou nos Estados Unidos e mora em Mônaco, mas garante que é brasileiro de verdade. Todos os documentos comprovam isso. Mesmo assim, o cavaleiro Rodrigo Pessoa entende que, por nunca ter vivido no Brasil, muita gente pense que ele não tem, de fato, vínculo com o País. É um erro, ele garante. “Eu sempre me senti brasileiro”, afirma. “É uma honra competir representando a bandeira verde e amarela.” A nacionalidade veio do pai, Nelson Pessoa, assim como o talento para o hipismo. A personalidade quieta e reservada é herança da mãe, Regina de Paula Pessoa. Tudo mais ele conquistou com empenho e devoção. E lá se vão 41 anos de vida, 23 anos no circuito internacional, 70 vitórias em Grand Prix e mais de US$ 7 milhões em prêmios.
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Um dos poucos esportes no mundo em que mulheres e homens competem em relação de igualdade é também a única competição olímpica com um animal – se considerarmos que a equitação compõe a disputa do pentatlo moderno. Falar de hipismo sem mencionar os cavalos seria o mesmo que falar do esporte sem mencionar os Pessoa. Rodrigo, aliás, gosta de destacar que o animal representa 70% do conjunto. A carreira do ginete começou com um cavalo marcante, Special Envoy, até hoje um dos preferidos do atleta. Com ele, Rodrigo competiu pela primeira vez nos GPs principais, num Mundial e numa Olimpíada. Foi ele que lançou o jovem ao grande circuito internacional. Com a aposentadoria de Neco – como Nelson Pessoa foi apelidado –, o garanhão Baloubet du Rouet, do proprietário português dom Diogo Pereira Coutinho, foi passado para Rodrigo. Começou então uma parceria de oito anos cheia de glórias e surpresas. A dupla ganhou três Copas do Mundo seguidas, de 1998 a 2000 – em Helsinque, Gotemburgo e Las Vegas, respectivamente –, tornou-se constante favorita e parecia insuperável. Nos Jogos de Sydney-2000, entretanto, o animal, considerado o maior de todos os tempos, recusou-se a saltar o obstáculo na última fase da competição e jogou terra sobre o sonho de conquista de qualquer medalha. Temperado com tamanha dramaticidade, o acontecimento ganhou um documentário pelas mãos do cineasta Cacá Diegues. O título da obra, “No meio do caminho tinha um obstáculo”, de 2013, foi inspirado no poema do mineiro Carlos Drummond de Andrade. E mais drama estava por vir. Em Atenas-2004, Rodrigo e Baloubet conquistaram a prata, que viraria ouro um ano depois, quando se confirmou o dopping do animal vencedor, Waterford Crystal, montado pelo irlandês Cian O’Connor. Com tantas histórias, Baloubet foi, sem dúvida, o cavalo-atleta que mais marcou os brasileiros e também um dos maiores parceiros da família Pessoa. Ele está longe de ser o único, no entanto. Rodrigo mal consegue calcular quantas centenas de animais já montou. Nelson estima ter trabalhado com dois mil cavalos. “Mas, ao longo da minha carreira de competições, não chegam a 15 os que mais me deram resultado”, diz Neco. A influência dos cavalos nos resultados das competições ficou muito clara na Olimpíada de Londres, em 2012. Rodrigo, que foi o portador da bandeira brasileira na cerimônia de abertura, saiu dos Jogos de mãos abanando. O hipismo brasileiro como um todo sofreu com contusões, fraturas e doenças dos animais, que frustraram mesmos as expectativas mais conservadoras. Já nessa ocasião, Rodrigo, então cavaleiro e técnico da seleção – assim como seu pai foi um dia –, destacou a importância de a equipe nacional garantir mais cavalos
“à altura dos atletas” para ter chances reais de fazer bonito no Rio de Janeiro, em 2016. Hoje, Rodrigo treina com 12 animais simultaneamente. Um deles é o reforço que o ginete prepara para a Olimpíada em casa. Em janeiro, ele estreou a parceria com Status, de 9 anos, adquirido na Noruega. Só em julho, o conjunto foi vice-campeão do GP do Global Champions Tour de Cascais, em Portugal, e terceiro lugar no GP Longines no Athina Onassis Horse Show, na França. Promete. Nos Jogos do Rio, Rodrigo já não será mais o técnico. A Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) quer que o atleta foque apenas na atuação como cavaleiro. “Não abro mão do Rodrigo, mas queremos dar mais tempo a ele”, diz o presidente, Luiz Roberto Giugni. “Vamos solicitá-lo apenas na preparação final dos cavaleiros e cavalos.” Assim como Rodrigo, outros quatro grandes do Brasil – Doda Miranda, Marlon Zanotelli, Pedro Veniss e Bernardo Resende Alves – passam a fazer parte do Plano Medalha, da CBH. Os cinco receberão uma mesada fixa e ajuda de custo pontual para deslocamento de atleta, cavalo e equipe. “Na Europa, há três competições por fim de semana”, diz Giugni. “Aqui fazemos uma por mês, com dificuldades, e estamos nos mobilizando para mudar isso.” Até a Olimpíada de 2016, Rodrigo deve utilizar um centro de treinamento em Mônaco, perto de casa. O Haras de Ligny, na Bélgica, já não é mais propriedade da família Pessoa, mas Neco continua trabalhando lá com seus pupilos. “Vendemos tudo, porque o Rodrigo não quis continuar. Dava muito trabalho”, explica a mãe, Regina. “Ele é muito independente do pai, montou a vida dele do jeito que queria.” O atleta também já sabe que, em outro aspecto, não seguirá as pegadas do pai. Ele não pretende competir até os 65 anos, como fez Neco. “Depois dos Jogos do Rio, que são minha grande prioridade agora, vou tirar um tempo para decidir se continuarei competindo ou não”, diz Rodrigo. O fato é que o esportista já deixou muita estrada para trás. Aos 9 anos, disputou sua primeira competição com pôneis, na Inglaterra. O pai logo percebeu o verdadeiro talento do filho para montar. “Mas uma coisa é ter talento, outra é ter dedicação e querer fazer do esporte a sua vida”, diz Neco, que, aos 78 anos, ainda atua como treinador. Aos 19 anos, Rodrigo foi o cavaleiro mais jovem a disputar os Jogos Olímpicos de Barcelona-1992. Ficou num respeitabilíssimo 9º lugar. “Foi uma realização ver meu filho seguir a carreira, ainda mais porque sou professor e tenho uma grande satisfação em ver os alunos se superarem no esporte”, diz Nelson. Rodrigo, que já não gostava da escola, passou a faltar com frequência para competir e acabou abandonando os estudos, para desgosto da mãe. Hoje, no entanto, ele fala sete línguas. “A escola foi um pou-
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marcado: o cavalo baloubet du rouet se recusa a saltar na olimpíada de sydney-2000. apesar do refugo, o animal é considerado um dos maiores da história das provas de hipismo
Título
Cavalo
TíTulos a galope
1995_ Ouro por equipes no Pan-Americano de Mar del Plata (Argentina)
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as principais conquistas de rodrigo pessoa no hipismo – e os cavalos que o ajudaram
1996_ Bronze por equipes na Olimpíada de Atlanta (EUA)
tom boy
1998_ Campeão Mundial em Roma (Itália)
lianos
1998_ Campeão da Copa do Mundo (Volvo World Cup)
baloubet du rouet
1999_ Campeão da Copa do Mundo (FEI World Cup)
baloubet du rouet
2000_ Campeão da Copa do Mundo (FEI World Cup)
baloubet du rouet
2000_ Bronze por equipes na Olimpíada de Sydney (Austrália)
baloubet du rouet
2004_ Ouro individual na Olimpíada de Atenas (Grécia)
baloubet du rouet
2007_ Prata individual no Pan-Americano do Rio de Janeiro (Brasil)
rufus
2007_ Ouro por equipes no Pan-Americano do Rio de Janeiro (Brasil)
rufus
2011_ Prata por equipes no Pan-Americano de Guadalajara (México)
rebozo
fotos: JeaN-PIerre mULLer/afP
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i sem mencionar os animais seria o mesmo que Falar do esporTe sem Falar da Família pessoa. para rodrigo, o cavalo represenTa 70% do conjunTo
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Falar do hipismo
co sacrificada, mas as viagens traziam tanto conhecimento para ele que eu nem sei se isso foi uma grande perda”, diz Regina. “Os amigos dele foram sempre dos concursos, e foram as amizades que ficaram.” Neco foi o principal treinador de Rodrigo e precisou domar o gênio difícil do filho adolescente. “Apesar de ter muita paciência, comigo não tem desaforo”, diz Nelson. “Tinha que respeitar como pessoa e como pai também.” Mais do que isso, Rodrigo tinha como tutor um dos grandes atletas da história do hipismo. Na Europa, onde vive desde a década de 1960 e atingiu o auge da carreira, Nelson é conhecido como “mago” ou “bruxo”, tais eram as façanhas que realizava sobre o cavalo. Foi vencedor de mais de 150 GPs internacionais, ganhou mais de 100 provas no Brasil e bateu o recorde de vitórias no Derby de Hamburgo. Apesar de toda a reputação internacional, ele conta que, hoje, quando se apresenta fora da Europa, usa as credenciais do filho. “Digo ‘prazer, sou Nelson Pessoa, pai do Rodrigo.’” Quando Rodrigo chegou à categoria sênior, ele e Nelson disputavam as mesmas provas. Para o pupilo, essa fase foi mais um incentivo para superar o mestre. Mas um nunca conseguiu ver o outro como adversário. “Era mais um trabalho de equipe”, diz o atleta. “Quem fazia o percurso primeiro passava as dicas para quem vinha depois.” Muitas vezes subiram ao pódio juntos, algumas com o filho ocupando um degrau acima do pai. “Era uma dupla vitória quando ele ganhava de mim”, diz Neco. Para a mulher de Rodrigo, a americana Alexa Weeks, o campeão olímpico é “a perfeita combinação do pai e da mãe”. Na visão dela, que entrou para a família em 2009, o sogro é um apaixonado por cavalos, enquanto Rodrigo ama o esporte. Na medida em que Neco é um sonhador, um entusiasta, Rodrigo é menos emocional, sempre gosta de ter um plano desenhado. É mais prático e reservado, como a mãe. “Neco começa uma relação com qualquer um a cem por cento”, diz Alexa. “Com o Rodrigo e a Regina, você precisa ir aos poucos, conquistando o respeito”, afirma a americana, que também compete no hipismo. Como bem define Alexa, “o hipismo é um estilo de vida, não é só uma carreira”. Envolve muitas viagens, os dias são longos, os cuidados com os cavalos demandam muita atenção durante os 365 dias do ano. “Mas nós temos muita sorte de poder trabalhar todos os dias juntos, fazendo o que amamos e compartilhando nossa paixão.” Outra sorte de Alexa é contar com um marido que não refuga diante das tarefas de pai. A filha do casal, Sophia, está com 3 anos. “Ele dá banho, troca fralda e cuida dela sozinho”, garante a esposa. “Eu posso sair à noite com as minhas amigas, que ele dá conta.” Rodrigo chegou ao segundo casamento já com uma filha de 9 anos, Cecilia, fruto da união com a amazona americana Keri Potter. A menina – que tem a idade em que o pai já competia – não demonstra interesse pelos animais e prefere praticar ginástica olímpica. “Não fiquei decepcionado, acho que cada um tem de fazer o que gosta e o que tem vontade”, diz o avô.
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“depois dos jogos do rio, que são minha prioridade agora, vou Tirar um Tempo para decidir se continuarei competindo ou não”, diz rodrigo pessoa
Tradição o cavaleiro nelson pessoa compete na década de 1960 (foto maior). acima, com o filho, rodrigo pessoa, treinado por ele
pessoa inc. a carreira dos pessoa no hipismo serviu de trampolim para o mundo dos negócios
as conquistas de nelson e rodrigo pessoa tornaram a dupla famosa mundialmente. não há, no meio do hipismo, quem não conheça o sobrenome. É por isso, em grande parte, que o negócio de selas da família avança a galope. produzido na argentina, o equipamento de montagem é reconhecido há 25 anos como um dos melhores no mercado internacional. já a linha de roupas criada por rodrigo e alexa ainda passa por ajustes. “a empresa que fabrica está muito focada nos gastos de produção, e nós nos preocupamos mais em oferecer alta qualidade nas peças”, diz a mulher do atleta. “estamos trabalhando nisso.”
Para a matriarca, esse aparente desinteresse da neta chega a ser um alívio. Apesar de os cavalos terem dado muitas alegrias à família Pessoa, também tomaram muita coisa. “Nunca tínhamos férias juntos, tudo girava em volta dos animais e dos concursos”, diz. “Eu montei quando o Rodrigo era pequeno, por diversão, mas nunca gostei.” Regina acredita que o hipismo é mais sacrificante do que os esportes em geral, por envolver outro ser que respira, sente cansaço e dor. Já Rodrigo acha que isso é o que torna a modalidade especial. “Nossa ferramenta de trabalho é um ser vivo, não é uma raquete ou uma vara.” E, nessa relação tão singular, poucos têm mais sucesso do que a família Pessoa. fotos: reProdUção / JaCQUes CoLLet/afP
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i v parceiro status, um cavalo de 9 anos adquirido na noruega, estรก sendo treinado por rodrigo para competir no rio de janeiro, em 2016
v么lei de praia
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de par em par por Raul MontenegRo foto joão castellano/ag. istoé
TaliTa aposTou alTo e rompeu uma dupla de sucesso. larissa volTou da aposenTadoria e adiou o sonho de ser mãe. JunTas, elas querem o ouro – e nada menos do que isso – no vôlei de praia em 2016
sintonia: talita (à esquerda) e Larissa se uniram para formar a dupla mais promissora do vôlei de praia para 2016. Em Fortaleza (CE), elas já trabalham como velhas conhecidas
vôlei de praia
Fazer dupla no vôlei de praia é mais complexo do que parece. por isso, Talita antunes da rocha, 31 anos, sabia que teria uma conversa difícil pela frente no momento em que disse “sim” à proposta de parceria feita por Larissa França maestrini, 32 anos, uma das maiores jogadoras da história do esporte no Brasil. O problema: para encarar o novo desafio, ela teria que se “divorciar” de Taiana de Sousa Lima, 30 anos, a atleta com quem havia sido campeã do Circuito mundial de vôlei de praia em 2013. “dar a notícia foi péssimo”, diz Talita, sem cerimônias. “mas o meu objetivo é maior, é uma Olimpíada. Neste momento, é como colocar numa balança a melhor proposta de trabalho.” e assim foi feito. No dia 16 de julho, Talita e Larissa se uniram em quadra para formar aquela que promete ser a dupla brasileira de vôlei de praia com mais chances de ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos do rio de Janeiro, em 2016. a estreia no Circuito mundial também marcou o retorno de Larissa às arenas após um ano e meio de aposentadoria. Não que a defensora despachada e agressiva se sentisse velha para continuar no esporte. Nada disso. Larissa queria ser mãe. meses depois de conquistar o bronze na Olimpíada de Londres-2012, ela anunciou que abandonaria o esporte para tentar engravidar e criar uma criança ao lado da também jogadora Liliane maestrini França, com quem mantém um relacionamento há quatro anos. Foram três tentativas de fertilização, sem sucesso. “a primeira vez foi dificílima porque eu achava que se o exame desse positivo, como deu, não haveria problemas”, explica Larissa. “mas, com quase oito semanas de gestão, perdi o bebê, e foi um baque enorme.” O estalo que fez Larissa voltar ao vôlei de praia
ocorreu em abril, quando ela viu pela tevê as americanas Kerri Walsh e april ross bateram sua ex-parceira Juliana, que jogava agora ao lado de maria elisa, em um campeonato na China. “pensei: ‘não posso ver essas mulheres ganhando torneios e vindo para o meu país em 2016 enquanto fico sentada no sofá’”, diz. O convite a Talita era uma questão de lógica. a bloqueadora/atacante estava no melhor momento da carreira e “voava” na areia. além disso, tem personalidade complementar à de Larissa: é fria e muito focada durante as partidas. “Não tinha como desperdiçar a chance”, diz Larissa. Talita se mudou do rio de Janeiro para Fortaleza no começo de julho. passou alguns dias no apartamento da parceira, que há anos mora na capital cearense, antes de acertar o aluguel de um flat. “eu indiquei o lugar e deixei tudo prontinho para ela”, conta Larissa. “até a secretária lá de casa vai uma vez por semana para limpar.” de segunda a sábado, a dupla acorda às 6h30. Uma hora depois, começa a preparação física, que pode ser feita na praia ou nas dunas (corrida), na academia (musculação) ou no centro de treinamento construído por Larissa perto da reserva ecológica do Sapiranga. das 9h30 às 11h, elas alternam uma rotina de massagens e fisioterapia. após uma pausa para o almoço, praticam com bola no CT das 15h às 18h. À noite, mais massagem e fisioterapia. exausta, Larissa cai na cama às 20h30. Talita, que já vinha num ritmo forte de competições, não costuma se deitar depois das 22h. O desafio do vôlei de praia feminino do Brasil é repetir na Olimpíada os títulos obtidos no Circuito mundial. Uma vez que os Jogos de 2016 acontecem em casa, a expectativa é uma só: ouro. a única vez que o país conquistou a posição mais alta do pódio na compe-
tição olímpica foi em 1996, em atlanta, com Jacqueline Silva e Sandra pires. agora, Talita e Larissa prometem trazer a láurea dourada de volta às praias brasileiras. mas, na prática, o que muda com a nova formação? “Taticamente, a estrutura fica quase igual ao que era antes”, explica a ex-jogadora adriana Behar, prata em Sydney-2000 e atenas-2004 ao lado de Shelda Bedê. “a Talita tem um perfil de bloqueadora, é a especialidade dela por causa da altura. Já a Larissa cuida do fundo da quadra, fica na função da defesa, que era feita pela Taiana antes da troca.” O que deve fazer a diferença na nova dupla é a soma das competências individuais. Segundo Sandra pires, tanto Larissa quanto Talita são experientes o suficiente para saber aproveitar o tempo no fortalecimento do conjunto. “elas precisam evoluir rápido por meio dos fundamentos”, diz a campeã olímpica. “as duas sacam muito bem e têm de usar isso para acelerar o progresso da dupla.” Um ponto fraco, aponta, é a baixa estatura, algo comum nos times brasileiros. “as meninas com a altura das nossas bloqueadoras deveriam ser defensoras”, afirma. “e o ataque precisaria ser bem mais alto. Imagina passar por um bloqueio de quase dois metros todas as vezes?” para Sandra, as jogadoras do Brasil se superam juntando muita habilidade e preparação física, mas atuam sempre no limite. Larissa tem 1,74 m, enquanto Talita mede 1,81 m. a americana Kerri Walsh, campeã dos Jogos de Londres-2012 ao lado de misty may, tem 1,88 m. Jogar sob pressão, no limite, não será novidade para nenhuma das duas. ao lado da ex-parceira Juliana, Larissa formou aquela que foi considerada uma das melhores duplas do mundo. em 2005, no méxico, elas venceram pela primeira vez as americanas Walsh e may, três vezes ganhadoras da medalha de ouro olímpica, numa partida que durou 1h42 e entrou para o “Guinness Book” dos recordes. O time brasileiro foi o que mais somou pontos numa só partida de vôlei de praia. dois anos depois, elas subiram ao topo do pódio nos Jogos pan-americanos do rio. No auge, porém, não disputaram juntas a Olimpíada de pequim, em 2008, devido a uma lesão no joelho de Juliana – numa dupla improvisada com ana paula rodrigues, Larissa caiu nas quartas de final. Como a estreante Talita (ao lado de renata ribeiro) perdeu a disputa da terceira posição no mesmo torneio, os times protagonizaram a pior campanha do Brasil em Olimpíadas. Foi a única vez que o país não ganhou medalhas no feminino. em Londres-2012, Larissa e Juliana levaram para casa o bronze, um resultado decepcionante diante do favoritismo da dupla. “Não era o que eu queria, mas só sabe o que é uma medalha olímpica quem ganha”, diz Larissa. Na mesma competição, jogando com maria
elisa, Talita caiu nas oitavas de final. “Foi um dos meus momentos mais tristes”, diz a jogadora. “posso falar mil motivos, mil coisas. Não vai voltar.” É justamente a fome por um ouro olímpico que motiva tanto as duas jogadoras. No caso de Larissa, coragem foi a palavra de ordem para superar a tristeza da gravidez interrompida, retomar a carreira, eliminar os sete quilos ganhos durante o tempo parada e readquirir o ritmo de jogo. Já Talita assumiu os riscos de quebrar uma parceria de enorme sucesso, com a consequente decepção do outro lado. “Claro que não recebi bem”, crava Taiana, a ex-parceira. “Você está no meio de uma disputa superimportante e vê que todas as suas metas foram por água abaixo.” apesar do desgosto e da surpresa pelo rompimento súbito, a jogadora é grata pelo tempo que passou ao lado de Talita. “ela me ajudou a ganhar muita experiência, e agora estou buscando meu espaço e tentando ficar entre as tops do Brasil e do mundo”, diz. No vôlei de praia, a afinidade mental é tão importante quanto o preparo físico, técnico e tático. essa essencial conexão – e seus possíveis pontos fracos – é estudada à exaustão pelas adversárias. Talita é vista como uma jogadora tranquila e equilibrada, que não incomoda as parceiras e possui atuações regulares. Já Larissa fala bastante, assume a liderança e tem boa leitura tática do que acontece na partida. Como joga atrás, defendendo, fica mais tempo parada e consegue enxergar melhor o todo. “O que mais me fascina é ludibriar, é entender e prever o que a menina do outro lado vai fazer”, admite. para a ex-jogadora Sandra, uma estratégia que as adversárias podem usar para enfrentar a nova dupla é justamente concentrar o saque em Larissa. “aí ela não vai conseguir observar tanto, e a Talita vai ter que fazer um pouco disso”, diz. Como não há substituições no vôlei de praia, os problemas têm que ser encarados na hora. “a melhor parceira é aquela que identifica e compreende as dificuldades da outra e ajuda a superá-las”, diz Larissa. Segundo Talita, a cobrança dentro de quadra é natural, mas até ela tem limite. “Quando uma está com dificuldade de executar um movimento e eu falo demais ou falo da forma errada, atrapalho”, explica. Fora das arenas, as batalhas de Larissa não têm sido menos complexas. “Sei de todo o preconceito que existe na sociedade contra homossexuais”, diz a atleta, que conheceu a companheira, a também jogadora Liliane, em 2010, durante um torneio na Suíça. Quando Lili passou mal devido a uma infecção, quem a acudiu e levou ao hospital foi Larissa. a paquera começou discretamente. Liliane passou a assistir aos jogos de Larissa, que emprestou seu celular para que a pretendente enviasse notícias para casa. Três dias depois do agosto/setembro 2014
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pontos FortEs: talita (acima) se prepara para o saque, um dos melhores fundamentos da nova dupla. Larissa (na página ao lado) é considerada baixa para o esporte, mas compensa com muita explosão e preparo físico
primeiro encontro, ficaram juntas pela primeira vez. Começaram a namorar e a dividir apartamento. Casaram-se em agosto do ano passado, em porto das dunas, no Ceará. “O amor é sincero e desde o começo a gente quis falar para todo mundo”, diz Lili. “Nossas famílias apoiaram desde o primeiro momento e isso é o que importa.” apesar de terem tido relacionamentos com homens no passado, ambas se descobriram homossexuais no começo da vida adulta, antes de se conhecerem. “Sentimento a gente não escolhe nem controla”, diz Larissa. “aconteceu comigo e eu me permiti, sempre fui muito segura de mim.” as duas garantem que não desistiram da maternidade: apenas adiaram o sonho. Os nomes dos futuros filhos já estão até tatuados no antebraço de Larissa: Luiz e maria, como os pais dela. mas o assunto que domina o dia a dia de Talita e Larissa hoje é mesmo a Olimpíada do rio de Janeiro. elas estão confiantes que podem vencer todos os campeonatos daqui até 2016, quando querem coroar a parceria com uma medalha de ouro no peito. Não sem muito trabalho. Todas as ex-jogadoras entrevistadas apontam que o maior obstáculo será o de Larissa, que passou muito tempo parada e precisará suar para recuperar a capacidade de jogo. Ninguém duvida, no entanto, da capacidade da defensora, considerada até 2012 a competidora mais completa do Brasil. ao lado de uma atleta com o cacife da Talita, ela nunca demonstra pensar que o retorno pode ser mais difícil do que o esperado. “a gente sabe que no início, depois de um ano e meio parada, não dá para simplesmente chegar, jogar e ganhar”, diz. “mas vou trabalhar. Tem gente que não gosta de pressão, mas eu adoro porque passei minha vida inteirinha sendo pressionada.”
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agosto/setembro 2014 fotos: ryan Pierse/getty | bruno sPada/getty
“Dar a notícia foi péssimo”, diz Talita, sem cerimônias, sobre o rompimento com a parceira Taiana. “Mas o meu objetivo é maior, é uma Olimpíada.” “Claro que não recebi bem”, responde Taiana. “Você está no meio de uma disputa superimportante e vê que todas as suas metas foram por água abaixo.”
o vôLEi dE praia FEminino do BrasiL nas oLimpíadas > aTlanTa-1996 __Jackie Silva e Sandra Pires
ouro
__Adriana Samuel e Mônica Rodrigues
praTa
> sydney-2000 __Adriana Behar e Shelda Bedê
praTa
__Adriana Samuel e Sandra Pires
BronZe
> aTenas-2004 __Adriana Behar e Shelda Bedê
praTa
> pequim-2008 __Renata Ribeiro e Talita Antunes
4º lugar
> londres-2012 __Juliana Silva e Larissa França
BronZe
clube
dinhe i ro , e str utur a & vi t贸ria s O segredO dO sucessO dO clube de AtletismO bm&F bOvespA, que cOncentrA AlgumAs dAs mAiOres estrelAs dO espOrte brAsileirO e n茫O pArA de revelAr tAlentOs
por RodRigo LaRa
É fato: em 2014, a dois anos da Olimpíada no Rio de Janeiro, falar de atletismo brasileiro é basicamente fazer um exercício de crítica. Expressões como “falta de renovação” e “iniciativas pontuais” já são lugar-comum. Nos últimos Jogos Olímpicos, em Londres-2012, o Brasil fechou o evento na 22ª posição, com 17 medalhas. Nenhuma delas veio do atletismo. Os Estados Unidos, líderes em conquistas na ocasião, levaram para casa 104 medalhas, 29 delas obtidas no esporte que batiza o atleta. As soluções para reverter esse quadro passam, invariavelmente, por duas ações já conhecidas. A primeira diz respeito à descoberta de competidores. A segunda versa sobre como esses talentos terão suas carreiras conduzidas, garantindo que um possível vencedor tenha, de fato, potencial convertido em vitórias. E mudar a mentalidade enraizada no Brasil de simplesmente cobrar resultados no curto prazo talvez seja o maior desafio para o Clube de Atletismo BM&F Bovespa, localizado em São Caetano do Sul (SP). “Não queremos simplesmente patrocinar atletas”, diz Sérgio Coutinho, diretor técnico do clube. “Nossa meta é dar as condições e ferramentas para que os esportistas obtenham resultados e para que eles e todas as pessoas envolvidas no clube se desenvolvam.” Pode parecer discurso bonzinho de instituição bilionária – só em 2013, a Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo lucrou R$ 1,082 bilhão –, mas quem destaca o diferencial do clube são os próprios atletas. “Era impossível imaginar uma estrutura assim no Brasil há alguns anos”, afirma o fundista Marílson Gomes dos Santos. “O projeto é, desde o início, duradouro. O clube permite que os atletas se concentrem nas provas que realmente importam.” Além das garantias financeiras e trabalhistas – todos são contratados em regime CLT –, o BM&F Bovespa oferece estrutura de Primeiro Mundo. A área de 32 mil metros quadrados do centro de treinamentos em São Caetano do Sul engloba pista indoor com 120 metros, área de arremesso, salto em altura, salto com vara, salto em distância, sala de massagem, sala de musculação, sala para imprensa, sala de reuniões, secretaria, fisioterapia e pista externa para todas as provas de pista e campo. Os melhores resultados de Marílson foram conquistados depois que ele entrou para o clube, em 2000. Na lista estão o tricampeonato da São Silvestre e o bicampeonato da Maratona de Nova York – ele foi o primeiro sul-americano a vencer a corrida. Com a camisa do
segurança ronald Julião, do arremesso de disco do BM&F Bovespa: segurança financeira e estrutura para evoluir
clube
BM&F Bovespa, Marílson também obteve três recordes brasileiros e sul-americanos para as provas de 5 mil e 10 mil metros, além da meia maratona. “A estrutura é fantástica”, confirma Ronald Julião, melhor brasileiro no arremesso de disco e atleta do clube desde 2005. “Para aperfeiçoamento, é o melhor do Brasil, sem dúvidas.” O próprio Julião é exemplo da capacidade do clube em fazer esportistas evoluir. No início, ele simplesmente não gostava da modalidade na qual, hoje, é especialista. “Comecei arremessando peso e, para ser sincero, achava o disco algo bastante chato”, diz. Mas, com o trabalho realizado nas dependências do clube, os resultados logo apareceram. “Tive uma evolução rápida, todas as minhas marcas melhoraram, e ainda tenho a inspiração de treinar com campeões ao meu lado”, diz Julião. O centro de treinamento é a parte mais recente do trabalho da BM&F Bovespa junto ao atletismo. As primeiras iniciativas remontam ao final dos anos 1980. Na época, a então Bolsa de Mercadorias e Futuros realizou o Prêmio Ouro Olímpico, que premiou atletas vitoriosos na Olimpíada de Seul, como Aurélio Miguel, Joaquim Cruz e Robson Caetano, com barras de ouro. Em 1990, a entidade fez uma parceria com a Federação Paulista de Atletismo para incentivar novos esportistas. Em 2000, o programa já contava com 25 atletas, entre eles nomes de peso como Vanderlei Cordeiro de Lima, Maurren Maggi e Fabiana Murer. A partir daí, a ideia era criar um clube. O primeiro passo foi absorver a Funilense, agremiação de São Paulo que era protagonista no atletismo. O BM&F (o nome mudaria para BM&F Bovespa em 2008, após a fusão das duas bolsas) começou a competir em 2002 e, desde então, obteve dez títulos brasileiros em atletismo. O centro de treinamento de São Caetano do Sul, por sua vez, consumiu um investimento de R$ 20 milhões e foi inaugurado em 2012. Atualmente, o aporte mensal para a manutenção da estrutura do clube é de R$ 790 mil, ou R$ 9,48 milhões por ano. Além do centro de treinamento de São Caetano, o Clube de Atletismo BM&F Bovespa mantém três núcleos de formação de atletas. “Talentos não surgem do nada”, diz Coutinho. “Temos que evitar um erro comum no esporte brasileiro que é o de pular etapas.” Para o diretor técnico, o velocista jamaicano Usain Bolt é a maior prova de que a formação tem que começar cedo. O fenômeno das pistas, hoje o homem mais rápido do 64
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mundo, recebeu boa parte de sua educação esportiva na infância, nas escolas onde estudou. Os núcleos mantidos pelo clube são o Iema (Instituto Elisângela Maria Adriano), em São Caetano do Sul, o IVCL (Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima), em Campinas (SP), e a Arpa (Associação Rio-Pretense de Atletismo), em São José do Rio Preto (SP). Esses locais atendem crianças e adolescentes entre 12 e 18 anos. Além de apresentarem o atletismo aos frequentadores, eles funcionam como incubadora de talentos para a equipe principal. Foi a partir do Iema que Izabela Rodrigues da Silva passou a integrar a elite do clube, neste ano. A atleta de 19 anos, nascida em Adamantina, no interior de São Paulo, se divide entre as provas de lançamento de peso e de disco. “Comecei em várias modalidades, ainda na escola, mas acabei me destacando no peso”, conta. Quando Izabela tinha 14 anos, foi chamada para fazer um teste em São Caetano do Sul. Passou e ficou. Hoje, a atleta mora no alojamento da agremiação. No disco, a jovem foi campeã mundial juvenil em julho. Também é recordista sul-americana juvenil. No peso, foi campeã sul-americana em 2013 e é detentora do recorde sulamericano na categoria júnior. Izabela sonha alto, quer competir na Olimpíada de 2016, mas com os pés no chão. “É uma responsabilidade enorme competir em casa em um evento desse tamanho”, diz. Uma iniciativa de sucesso como a do BM&F Bovespa deve ser expandida para algo em nível nacional? Na opinião de Coutinho, deve ser justamente o contrário. “Temos um modelo que funciona e está dimensionado corretamente”, diz. “Para que ele continue rendendo frutos, temos que nos concentrar em manter a qualidade.” O problema é que, no Brasil, o atletismo, especialmente o de base, depende sempre de iniciativas privadas e pontuais. “Não existe no mundo nenhum projeto de sucesso que não seja governamental”, afirma o diretor técnico do clube, que salienta o papel fundamental das escolas no incentivo ao esporte. “Os países vencedores têm muito investimento de base. Aqui isso não acontece e nos resta lapidar os poucos talentos que temos.” Para Coutinho, mudar esse cenário seria o maior legado que a Olimpíada do Rio de Janeiro poderia deixar.
“MUdAR A MENTALIdAdE ENRAIzAdA NO BRASIL, dE SIMPLESMENTE COBRAR RESULTAdOS NO CURTO PRAzO, TALVEz SEJA O MAIOR dESAFIO dO CLUBE dE ATLETISMO BM&F BOVESPA” as estrelas da casa Alguns dOs AtletAs cOnsAgrAdOs que cOmpetem pelO bm&F bOvespA _fabiana Murer campeã mundial indoor e outdoor no salto com vara, campeã da diamond league e recordista sul-americana _Mauro Vinícius da Silva (Duda) bicampeão mundial no salto em distância indoor _Keila Costa campeã dos Jogos sul-Americanos de santiago no salto triplo e no salto em distância. vice-campeã pan-americana (rio-2007) _Marílson Gomes dos Santos bicampeão da maratona de nova York, recordista sul-americano dos 5.000 m, 10.000 m e meia maratona. tricampeão da são silvestre _ ana Cláudia Lemos recordista sul-americana nos 100 m, 200 m e no revezamento 4x100 m. campeã ibero-americana nos 100 m _Ronald Julião recordista brasileiro e campeão da universíade no lançamento de disco. vice-campeão dos Jogos sul-Americanos de santiago
a caráter: da esquerda para a direita, em pé: os atletas Marílson gomes dos santos (principal maratonista brasileiro), izabela rodrigues da silva (campeã mundial juvenil no arremesso de disco) e ronald Julião (recordista brasileiro no lançamento de disco). sentado, o diretor técnico do clube, sérgio coutinho: “temos um modelo que funciona e está dimensionado corretamente
CiClismo
por DemĂŠtrio rana fotos kiko ferrite
rotina rígida: no Lar nossa Senhora aparecida, em Parelheiros, periferia de São Paulo, todos acordam cedo, ninguém pode namorar e tevê é um privilégio raro. a disciplina, imposta para livrar crianças e adolescentes em situação de risco das tentações do “mundão lá fora”, também ajuda a forjar uma das melhores equipes de mountain bike do Brasil
Transformação
em duas r o d a s
Como um orfanato em São Paulo virou Celeiro de algunS doS maioreS talentoS do mountain bike braSileiro e ajudou a Salvar a vida de dezenaS de CriançaS e adoleSCenteS
>
CiClismo
Catador de suCata, Cleiton Ferreira tinha 13 anos quando conheceu Ricardo numa padaria. Pediu dinheiro e recebeu a oferta de uma nova vida. Matriculado na escola, fez amizade com Gilmar Belarmino, então com 11 anos, e também mudou a vida daquele que passaria a tratar como irmão. Vinte anos depois, eles são presidente e vice do Lar Nossa Senhora Aparecida, entidade escondida no bairro de Parelheiros, um dos mais pobres de São Paulo, mais perto do mar do que do centro da cidade. Os dois são parte das mais de 320 crianças e adolescentes que Selma, 44 anos, e Ricardo Cocuzzi, 57 anos, criaram ou ainda criam. O Lar, formado em 1995, começou a surgir dois anos antes, quando o casal tirou da rua um garoto com deficiência mental. Recém-separado da primeira esposa, Rico, como é conhecido, ex-ciclista profissional, curou a ressaca sentimental dentro da Renovação Carismática. Influenciado por essa ala da Igreja Católica latino-americana, decidiu tentar mudar o mundo ao lado da nova companheira, com quem dividia os fundos da sua loja de bicicletas. A primeira criança acolhida voltou para os faróis, mas outras ficaram.
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Mais do que uma casa para crianças e adolescentes órfãos ou em situação de risco, o Lar é uma das mais importantes equipes de ciclismo mountain bike (MTB) do País, liderada por Luiz Henrique Cocuzzi, vice-campeão pan-americano sub-23 e um dos dois únicos filhos de sangue do casal – a outra é Luiza, 10 anos. O time, com 20 atletas de todos os níveis, é treinado por Cleiton, que viveu no Lar até os 30 anos. “Eu não morava na rua, mas meus pais trabalhavam muito e eu ficava zanzando”, diz. “Acabei gostando do Rico, porque ele corria, fazia atividades diferentes.” Três irmãos dele passaram pela instituição, mas só Valéria, a mais nova, chegou criança e saiu adulta. Certo dia, Cleiton pressionou os pais biológicos a transferir a guarda para os Cocuzzi – e eles cederam. Após três anos morando nos fundos da oficina, o casal benfeitor financiou o sítio onde hoje fica o Lar. Foi aí que surgiu um diabo disfarçado de anjo: uma freira italiana, aqui chamada apenas de Irmã, disposta a dar todo o suporte. Com dinheiro misterioso vindo da Alemanha, ela ergueu, em três anos, os três prédios que formam hoje a boa estrutura física do Lar. Mas a freira cobraria
SuStEnto Parte do sustento do Lar vem da venda de bicicletas feitas com peças reaproveitadas, doadas por lojas de São Paulo. a oficina foi a origem de tudo
finançaS E PatroCínio: EtErna Luta Hoje, a equipe de mountain bike do Lar tem do bom e do melhor para competir. só a bike de Luiz Henrique Cocuzzi, vice-campeão pan-americano sub-23, vale mais de r$ 20 mil. “Eu não posso reclamar de equipamento”, diz. no ano passado, a fabricante japonesa Shimano ofereceu uma série de peças, mas não houve acordo financeiro para renovação do patrocínio. Em 2014, a empresa suíça Scott cedeu quadros de bicicleta para o time de alto rendimento, além de capacete e sapatilha para todos. os gestores reclamam, no entanto, que a Confederação Brasileira de Ciclismo não trata o Lar como equipe: sentem preconceito com o orfanato, algo que a confederação nega, alegando que há outras instituições formando atletas pelo Brasil. o time também pede atenção às categorias de base, enquanto a CBC diz que não tem recursos para fugir do foco no alto rendimento. Paralelamente,os administradores do Lar sentem que as empresas patrocinadoras oferecem ajuda bem-vinda, quase filantrópica, mas não pagam o valor que seria necessário. no ano passado, a instituição conseguiu aprovar junto ao Ministério do Esporte um projeto para captar pouco mais de r$ 310 mil via Lei de incentivo e manter uma equipe profissional de ciclismo até 2016. desse montante, já conseguiu negociar r$ 96 mil, com a Caixa e o BnP Paribas. o banco francês está centralizando as tratativas. o Lar tem até 2 de janeiro de 2015 para captar o dinheiro.
seu preço na entrega das chaves da última edificação. Acusada de liderar um esquema de tráfico de crianças para a Europa, quis usar o Lar como uma das suas casas de “engorda”, como descreve Cleiton. Nem de longe convenceu Rico, que é contra a adoção de crianças carentes. “Não se pode tirar a criança da família só porque é pobre”, diz. A Irmã, porém, fez valer seus interesses e o casal Cocuzzi acabou sabotado. “Lutei contra as duas maiores forças da Terra: a Lei e a Igreja”, conta Rico. A história daria um livro. Ricardo e Selma foram acusados de maus-tratos e até de terem matado duas crianças e enterrado os corpos no jardim – ambas foram encontradas vivas, sãs e salvas. A Irmã conseguiu tirar o casal do Lar. Alguns dos jovens foram internados na Febem. Outros fugiram e seguiram com os Cocuzzi para a casa da nonna Leontina, mãe de Ricardo. Gilmar, que passou o aniversário de 18 anos no S.O.S. Criança, liderou, ao lado de Cleiton, uma “guerra fria” contra a Irmã em defesa de Rico e Selma. Meses depois, ficou comprovado o trabalho benfeitor do casal, que reassumiu o Lar, encontrado em frangalhos – quase tudo havia sido roubado por seguranças contratados pela Irmã. As ambições dos traficantes de crianças haviam se concentrado especialmente nos olhos verdes de Juliano, hoje uma das revelações do MTB na categoria júnior. Não é todo dia que chega ao “mercado” um garoto com porte tão europeu, retorno rápido para os investimentos feitos. O menino agradece a Deus e a Selma por não ser soropositivo. Dezessete anos atrás, a mãe biológica dele procurou a gestora da casa. Com Aids, não queria passar a doença para o filho. Recebeu todo o suporte da mãezona do Lar e desapareceu depois de colocar Juliano no mundo. Aos 16 anos, o garoto hoje leva o sobrenome Cocuzzi no RG e às competições. Olho por olho, é difícil de acreditar que ele não é irmão de sangue de Jaqueline Borba, 17 anos, estrela em ascensão da equipe. Em março, em Barbacena (MG), ela ganhou bronze no Pan na categoria júnior (sub-19). Luiz Henrique, 20 anos, faturou a prata no sub-23, melhor resultado de um brasileiro no cross-country, a prova olímpica do MTB. Chegar ao Lar não é fácil. Saindo da Sé, o marcozero da capital paulista, são 41 quilômetros de carro. De bicicleta, é mais fácil seguir a excursão comandada por Rico todo fim de ano e descer para a praia pela estrada de manutenção da linha férrea. A volta da Serra do Mar é brincadeira para garotos como Luiz Henrique, que, aos 10 anos, subiu montado toda a Serra da Mantiqueira. Afinal, essas crianças vivem sobre as bikes, que são também o sustento da família. Três lojas de São Paulo (a Total Bike, a Ciclo Ravena e a Joytech) doam bicicletas e peças que, para elas, não têm mais valor comercial. A equipe capacitada do Lar recicla o material (cinco câmbios viram um) e monta bicicletas, que são comercializadas na região de 70
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Parelheiros. A entidade também conserta bikes e está se lançando como oficina de máquinas de lavar, para aumentar a fonte de renda. Rico diz que 50% do arrecadado no novo serviço irá para as poupanças abertas para os garotos. Dentro do Lar, todos têm obrigações, com divisão de gênero. As garotas se revezam na cozinha e na atenção aos menores, enquanto os garotos, além da oficina, trabalham na fabricação do pão consumido pelas quase 40 crianças que vivem ali – o casal não revela o número total, que varia semanalmente. Todos passam por rituais diários: almoçam e jantam juntos, fazendo uma oração coletiva antes da primeira mordida. Rico não crê mais na Igreja Católica, mas ensina os preceitos cristãos. Às 21 horas, todos têm que estar na cama. Ninguém é autorizado a namorar, nem mesmo o “astro” Luiz Henrique, que já se apaixonou por uma garota que acabou saindo da casa – o namoro foi vetado pelos pais. “Tem que focar no treino, na corrida. Tive que abrir mão”, conta o jovem, que se sustenta com bolsas do governo federal (Bolsa Atleta), da prefeitura de Itajaí (SC) e da Caixa (patrocinadora da Confederação Brasileira de Ciclismo). O sistema rigoroso e conservador do casal Cocuzzi, que também veta tevê à luz do dia e nunca apresentou uma camisinha a um morador do Lar, é uma forma de prepará-los para o maior temor de cada um deles: o “mundão lá fora”. Para os jovens, é muito marcante a fronteira que separa o Lar de todo o resto. Filha de uma dependente de drogas, Jaqueline chegou ao Lar com a irmã Janaína, dois anos mais velha. Esta, porém, já saiu da entidade. “Muitas pessoas começaram a encher a cabeça dela, dizendo que o mundão é mais divertido”, conta. “Ela quis ir lá, provou, e quando voltou já não era mais a mesma”, diz a promessa do ciclismo, num discurso recorrente dentro do Lar. Ironicamente, esses jovens são criados exatamente para desbravar o mundão. Luiz Henrique foi pela primeira vez à Europa em 2009, convidado pela UCI (União Ciclística Internacional) e pela CBC para um estágio de dois meses na Suíça. Aos 20 anos, vai para seu quarto Mundial – em 2011, Selma rifou sua moto para financiar a viagem. Neste ano, viajou sozinho e ficou em albergues para disputar etapas da Copa do Mundo na Alemanha e na República Tcheca. O esforço é para somar pontos no ranking mundial e tentar ser o segundo representante do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Uma vaga deverá ser de Henrique Avancini, 25 anos, melhor da história do País no MTB. Visando a Olimpíada de 2020 ou 2024, o Lar prepara Juliano Cocuzzi, que enche a boca para falar do irmão adotivo. Como Luiz Henrique, o adolescente quer morar na Europa e fazer carreira no ciclismo. Não abre mão, porém, de dar continuidade ao trabalho dos pais à frente do Lar. Jaqueline, por sua vez, teve a oportunidade de morar no Canadá por dois meses, num projeto capitaneado pela xará Jaqueline Mourão,
Pai E MãE ricardo e Selma Cocuzzi, os responsáveis pelo Lar, já ajudaram mais de 320 crianças. Ele, ex-ciclista profissional, ainda dá uma mão nos treinos da equipe de alto rendimento
a EStrutura do LoCaL foi Erguida CoM a ajuda dE uMa frEira quE trouxE o dinhEiro da aLEManha. MaS a irMã CoBraria SEu PrEço: aCuSada dE LidErar uM ESquEMa dE tráfiCo dE CriançaS, a rELigioSa quEria uSar o Lar Para nEgóCioS ESCuSoS
referência no MTB brasileiro e hoje atleta de esqui crosscountry. Longe da família, não aguentou. “Eu corro melhor com o Rico do lado. Ele me dá confiança. No esporte, você tem que estar ao lado da família”, diz. Em evolução física, vive fase de transição na carreira e vai ter que provar que é o melhor nome brasileiro da sua geração. “Ela é um talento em potencial”, avalia Francisco Cusco, gestor de alto rendimento da CBC. Dentro do Lar, Juliano e Jaqueline são líderes, responsáveis, respectivamente, pelo quarto dos meninos e das meninas. Seguem os passos de Gilmar e Cleiton, os dois veteranos que mantêm as vidas atreladas ao local, duas décadas depois de chegarem ali. Gilmar, hoje gerente de vendas do Boticário, montou no Lar uma rede de computadores a partir de doações e de recursos próprios. Todo sábado, dá aula de informática para três turmas. Além disso, cuida de boa parte da engenharia financeira da instituição. Cleiton logo assumiu a liderança do Lar ao lado do casal Cocuzzi. Dando aulas de alfabetização para adultos, juntou dinheiro para começar a pagar a faculdade de educação física, depois inteiramente bancada por Giovani, um abastado senhor suíço que se encantou com o esforço do jovem. Pós-graduado em treinamento esportivo, Cleiton é reconhecido pela CBC como um dos técnicos mais promissores do País. Ele dá treinos diários obrigatórios tanto para as crianças quanto para a equipe
de alto rendimento do Lar, da qual é o treinador-chefe, assumindo o papel que antes era de Rico. Para ficar sempre por perto, não tem emprego fixo. Faz bicos como padeiro, personal trainer e mecânico. Com um empréstimo do mecenas suíço, pretende comprar uma casa ao lado da entidade. Seu sonho é seguir dando a outras crianças a mesma oportunidade que ganhou. O irmão Gilmar também quer adquirir um sítio por perto. Deseja que o filho Guilherme, 7 anos, seja criado pelo avô Rico e a avó Selma, com uma trajetória que passe longe do que foram seus primeiros passos antes de chegar ao Lar. Um dia, voltando da escola, Gilmar teve de mudar definitivamente seu caminho. Ameaçado por bandidos que queriam “acertar as contas” com o irmão dele, foi obrigado a sair de casa. “Eles (os bandidos) pegaram meu vizinho achando que era eu”, diz. “Estavam me procurando para chantagear meu irmão, para assassiná-lo. Então eu decidi ir para o Lar e nunca mais voltar”, conta Gilmar, que, na época, morava no Capão Redondo, também na zona sul. A decisão durou seis anos. Já maior de idade, Gilmar foi visitar o pai biológico, que não o reconheceu. “Saí de casa aos 12 anos, bem acima do peso, com problemas de saúde, e voltei um atleta, muito forte”, diz Gilmar que, por isso, só pensa em proporcionar ao pequeno Guilherme um “conceito de vida diferente”, como ele mesmo justifica. Vida feita diferente pelo esporte.
VIDA CARIOCA
O TRIUNFO DOS ARCOS POR EDSON FRANCO ILUSTRAÇÃO BENJAMIM OLITALLO
REVITALIZADO, O BAIRRO DA LAPA SE CONSOLIDA COMO EPICENTRO DA NOITE CARIOCA E SE PREPARA PARA BATER O RECORDE DE VISITANTES NA OLIMPÍADA
“IMAGINA NA COPA!” Talvez esta seja a última vez que você lê essa frase. Repetida sem economia nas esteiras de bagagens dos aeroportos, nas redes sociais, nos hospitais e nas filas de banheiro dos bares, ela sumiu, mas, diferentemente de muita promessa pré-Mundial, deixou um legado. Ainda timidamente e com ligeira adaptação, ela ganha corpo nas noites do Rio de Janeiro. Depois de dançar, beber e fazer juras de amor aos turistas dos 32 países que participaram da Copa, os cariocas baixam o aplicativo da calculadora, multiplicam as possibilidades e passam a régua: os Jogos de 2016 vão juntar gente que canta 200 hinos diferentes. E esse povo não estará diluído em 12 sedes padrão Fifa. Noves fora os visitantes que voluntariamente optam pela perda do jogo da conquista por W.O., a conta das presas disponíveis no mercado não vai fechar. Assim, com o sorriso e a salivação no lugar da carranca que acompanhava a frase original, agora os nativos da noite esfregam as mãos e entoam em coro: “Imagina na Olimpíada!” E o Maracanã da diversão e do amor é a Lapa. É fato que aquela tal malandragem não existe mais, como Chico Buarque já havia diagnosticado em 1977, quando gravou “Homenagem ao Malandro”. Sem esse ser que, segundo Chico, aposentou a navalha, abriu-se espaço para uma das mais democráticas e variadas noites do País. Não há divisões de classe, gênero ou nacionalidade. Bastam R$ 10 para entrar na brincadeira. Com isso no bolso, o sujeito diferenciado engole um xis-tudo e, com uma cerveja latão em punho, zanza entre shows na rua ou dança na calçada, ao som que vaza dos janelões de um bar mais generoso. Se não tiver nem isso, ainda dá para circular pela rua Joaquim Silva, com artistas de rua pintando corpos alheios e garotas descontroladas dando bebida na boca de qualquer um. No outro extremo, discípulos
SÍMBOLO DA CIDADE Um jovem Jorge Ben Jor sobre os arcos da Lapa, no Rio de Janeiro: reduto da boemia carioca está cada vez mais democrático e eclético
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do rei do camarote impressionam moças empreendedoras ao desembolsar R$ 420 por uma garrafa de Veuve Clicquot. Apesar da muvuca que faz as calçadas desobedecerem à lei da física que determina a impossibilidade de dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço, tudo acontece num ritmo sossegado, sem imposições ditadas pelo relógio. Os motores da festa são ligados por volta do fim do “Jornal Nacional”, mas a coisa só decola mesmo depois das 23 horas. E não há a menor chance de um policial pedir pelo megafone que os baladeiros voltem para os seus bairros de origem. E assim a noite segue desimpedida pelo menos até as 5 da manhã. Tempo é o que não falta para apreciar aquilo que a atual boemia lapeana junta de melhor: a fauna. Nenhum(a) predador(a) passa fome nas 13 ruas que formam o bairro. Para as moças que amam a estética, há marombados que circulam sem camisa mesmo que os termômetros estejam abaixo dos 18 graus – o equivalente a um frio polar, de acordo com os parâmetros locais. Aquelas que querem sentir um gosto local encontram malandros de butique, com seus sapatos bicolores e chapéus panamá. Moças mais intelectualizadas têm à disposição um cardápio de hippies asseados ou militantes barbudos com camiseta do Che. As que querem resolver a vida financeira de uma vez por todas têm um pouco mais de dificuldade em identificar uma presa. Não são comuns sujeitos com cabelos esculpidos a gel, camisas polo da Lacoste por dentro da calça cáqui, cintinho
com fivela lustrosa e sapato dock sider sem meia. A elite branca se camufla para circular pela Lapa. Do lado masculino, saem na frente aqueles que dominam um segundo idioma. É o facão mais afiado para abrir a picada que leva ao coração de europeias liberais ou republicanas vindas dos EUA. Identificar boa parte delas é fácil mesmo à distância. Se for loira, estiver de saia curta, bota de cano alto e não for a Wanderléa, pode ir preparando o “how do you do?”. Quem valoriza o produto nacional encontra de universitárias embriagadas a grupos de nativas que dissolvem a mulatice no formol da escova progressiva. Os rapazes mais masoquistas podem sonhar com uma surra de chinelo da garota de shortinho branco e Havaianas, que passa num doce balanço a caminho do bar. Só aqueles que rezam pela cartilha do custo/benefício correm o risco de ficar com mãos e boca abanando na noite da Lapa. Na sua edição de 22 de junho deste ano, em meio à Copa do Mundo, o jornal carioca “Meia Hora” diagnosticava o problema e manchetava: “Tá faltando prima! Casas de saliência estão convocando ‘reservas’”. Matar a sede de maneira espetacular é uma arte sobre a qual a Lapa se debruça desde o século 18. Para trazer a água do atual bairro de Santa Teresa até o centro da cidade, foi construído no bairro o Aqueduto da Carioca. Um século depois, passou a ser volume morto no abastecimento e assumiu a sua verdadeira identidade: rebatizado de Arcos da Lapa, é um dos postais mais emblemáticos do
Rio de Janeiro. Apesar de parte de sua majestade ter sido revogada, ela deve ser reassumida em agosto deste ano. Trata-se do bondinho de Santa Teresa, que coroava a construção até agosto de 2011, quando o descarrilamento de uma composição matou cinco pessoas e feriu outras 40. Hoje a Lapa mata a sede espetacularmente em mais de uma centena de estabelecimentos, entre bares, restaurantes e casas de shows. As atrações se espalham por todos os cantos, o que desnorteia qualquer bússola que indique por onde começar a prospecção noturna. Para incentivar a disposição de interagir e lubrificar a lábia, o mais recomendável é dar uma passada na Casa da Cachaça. Bebedor diletante, Oswaldo da Costa tinha uma coleção com centenas de garrafas da bebida. Ao se deparar e sorver parte do estoque, o cartunista Jaguar (sim, é aquele mesmo do “Pasquim”) deu a ideia de abrir o estabelecimento. Assim, em 1960, nasceu o bar, que hoje expõe cerca de 300 rótulos. Seu Oswaldo tocou o negócio até 1987, quando morreu. Hoje, José Batista, um ex-funcionário, faz a curadoria do acervo, que conta com cerca de 300 garrafas. “O que sai mais é a cachaça Gabriela e a batidinha de gengibre da casa”, diz Batista. Adocicada e aromática, a batida custa R$ 4. Além de receber um divertido atestado de cachaceiro, o cliente sai dali com a certeza de que está mais amoroso do que quando entrou. Para novatos, a bola de segurança da noite na Lapa é o Carioca da
Gema. O selo de autenticidade do lugar já começa pelo endereço, na arterial Mem de Sá, num sobrado outrora ocupado por um cortiço. O preço do ingresso varia de acordo com a procura. Durante a Copa, a casa cobrava R$ 30. Na entrada do salão com pé-direito alto, uma banda alterna choros e sambas pouco conhecidos. Mesmo os cariocas da gema que frequentam o lugar só cantam junto na hora do laiá-lará. E olhe lá. Em dois mezaninos e em um puxadinho, espanta-se a fome com pratos que vão do pastel de feijão ao patê de foie gras. Tem gringo pra todo lado, e é comovente o esforço dos garçons para traduzir o cardápio para forasteiros. Um cliente com a camisa da Bélgica tenta entender a descrição do espetinho de frango. “São quatro pedaços de carne no espeto”, dizia o garçom, em um português pausado e com as sílabas ritmadas por leves golpes de caratê da mão direita sobre a esquerda. O comensal fingiu que entendeu, o prato foi pedido e segue a noite.
Vale a pena passar duas horas em pé, numa fila de espera que se estende por mais de 200 metros? Se a razão for uma visita ao Rio Scenarium, a resposta é um retumbante sim. A casa era um antiquário que foi crescendo, crescendo e absorvendo hordas de nativos e turistas. Em seus três andares e vários salões, liquidificadores, rádios, relógios e frascos de remédio antigos decoram as paredes. Cerca de 25% do público tem mais idade que os objetos expostos. Os demais são jovens, muito jovens. A banda da casa entretém dançarinos com sambas conhecidos, que estimulam a galera a dançar e a cantar junto enquanto ergue a long neck (R$ 8,60). Num anexo, moderninhos se deliciam com tecno nacional, enquanto os turistas americanos sofrem com o calor. “Vamos dançar ali perto do ar-condicionado”, suplica um deles a um amigo, ambos encharcados de suor e com as bochechas naturalmente decoradas para uma festa junina.
Se o plano for ficar confortavelmente instalado, com uma bebida na mão e acompanhando o desfile de beldades pela calçada, os mirantes mais apropriados são os bares Sarau e Leviano, logo atrás dos arcos, na Mem de Sá. No primeiro, o melhor é sentar em uma das mesas ao ar livre, protegidas por grades. Por R$ 27, come-se uma porção que junta os quatro bolinhos oferecidos pela casa: carne-seca, camarão na moranga, lombinho e baiãozinho. Juntando mais R$ 13, dá para irrigálos com 600 ml de cerveja Serra Malte. No palco, um grupo executa clássicos do paulistaníssimo sambarock. Do outro lado da rua, o Leviano oferece o mesmo coquetel de música, comida e cerveja, mas com uma pitada a mais de sofisticação. Exemplo é uma das estrelas do cardápio, o Duo Italiano, composto por uma burrata com tomate confitado e presunto de Parma, acompanhada de molhos e torradas de pão ciabatta. Custa R$ 46,90. Outra diferença a ser considerada: as bandas da casa
APESAR DA MUVUCA QUE FAZ AS CALÇADAS DESOBEDECEREM À LEI DA FÍSICA QUE DETERMINA A IMPOSSIBILIDADE DE DOIS CORPOS OCUPAREM O MESMO LUGAR NO ESPAÇO, TUDO NA LAPA ACONTECE NUM RITMO SOSSEGADO, SEM IMPOSIÇÕES DITADAS PELO RELÓGIO
VIDA CARIOCA
1
Rio Scenarium
2
Cordão da Bola Preta
3
Lapa 40°
4
Carioca da Gema
5
Sarau
6
Fundição Progresso
7
Circo Voador
8
Bar da Boa
9
Leviano Casa da Cachaça
OPÇÕES A Escadaria Selarón, com sua arte desconexa, e o Scenarium, mistura de antiquário com balada que traz música para todos os gostos: ao ar livre ou em ambientes fechados, a Lapa acolhe a todos
FOTOS: FELIPE VARANDA
colaboram com o aspecto democrático do bairro e, em vez de samba, tocam reggae, rock e pop. Uma das maneiras mais eficazes de furar retrancas para a conquista é saber bailar. O macho que domina minimamente a arte encontra brechas mesmo que a fêmea monte duas linhas de quatro diante do coração. Para os iniciados, o endereço certo é a gafieira Estudantina. Localizada uma quadra além dos limites do bairro, ela vem acompanhando o girar de casais desde 1931. Na porta, o diretor artístico Paulo Roberto recebe os dançarinos com um “boa noite” e um sorriso. No alto de uma imponente escadaria, aparece o salão. Tudo ali cheira a tradição. Da orquestra que despeja clássicos da gafieira e boleros ao piso de madeira e às mesas cobertas com toalha xadrez. Em sua maioria, o público é mais maduro. As damas apostam nos vestidos uns dois dedinhos pra cima do joelho e em bijuterias impossíveis de ignorar. Os homens vão de camisa social para fora da calça. O clima é de cortesia, elegância e gentileza. É comum o cavalheiro agradecer a honra da dança, o que afrouxa qualquer defesa. Não saber o que fazer quando se envolve a cintura de uma dama não é um problema na Lapa. Espaçoso e com vários ambientes, o Rio 40º fornece aulas de gafieira, samba e ritmos latinos para quem se julga incapaz de comandar um dois pra lá, dois pra cá decente. A casa tem pedigree. Um dos sócios é o dançarino Carlinhos de Jesus. O curso relâmpago não é dado por ele. “Hoje sou mais empresário e palestrante”,
justifica. Seus professores são bem treinados e, em menos de uma hora, fazem baladeiros inseguros passarem do ensino fundamental para o médio na disciplina da dança. Terminado o treino, sobe o som brilhante da banda do lugar. Nessa hora, Carlinhos não consegue conter o bailarino que tem dentro de si. Desce para a pista, pega uma dama e a transforma em um satélite seu. Para aqueles que não querem participar de nada disso, há mesas de sinuca no térreo. Logo atrás dos arcos fica uma casa que nasceu no Arpoador e deu à luz grupos performáticos como Asdrúbal Trouxe o Trombone e bandas como Blitz e Barão Vermelho. Trata-se do Circo Voador, inaugurado em 1982 e que manteve uma agenda com o melhor do rock nacional até 1996, quando o então prefeito Cesar Maia mandou fechar o lugar. Depois de muitas pendengas judiciais, a prefeitura foi obrigada a reconstruir o estabelecimento no local que ocupa hoje. Ao entrar ali, o que primeiro chama a atenção é o espaço de shows, que simula uma nave espacial. Mas o mais bonito de ver é a área externa, adornada por 54 palmeiras imperiais. Para manter a tradição, o palco ainda recebe Titãs e Paralamas do Sucesso. Mas hoje há espaço para Maria Rita, Moraes Moreira e atrações internacionais. Cardápio musical parecido anima as noites na vizinha Fundição Progresso, uma antiga fábrica de objetos metálicos transformada em centro cultural. Nome que ocupa o imaginário dos carnavalescos desde 1918, o Cordão da Bola Preta sobrevive bravamente em um amplo salão na Lapa. Sua
ligação com o passado se dá basicamente nos bailes de Carnaval e na tradicional feijoada no primeiro sábado de cada mês. Nas demais datas, o espaço é alugado para festas privadas que ajudam a pagar as contas. “Entre condomínio e questões trabalhistas, temos uma dívida de quase R$ 3 milhões”, diz o diretor Paulo Gomes. A banda que leva o nome do bloco se apresenta em vários lugares e ajuda a reforçar o caixa e a manter uma casa que não existiria caso o governo do Rio se mostrasse capaz de ampliar a limitada malha do metrô na cidade. Explico: o prédio havia sido desapropriado para que passasse ali a linha Estácio-Carioca. Como o tatuzão nunca passou nem perto dali, o Cordão do Bola Preta ganhou um espaço para chamar de seu. Os jovens que saracoteiam ali não sabem disso. E voltam felizes pra casa. De ônibus. Para que a noite de aventuras pela Lapa seja perfeita, o boêmio deve tomar aqueles cuidados básicos com carteira e celular, exigidos em todo lugar extremamente muvucado. Outra coisa: tente pensar que o cheiro que evapora do meio-fio é uma homenagem do bairro a Veneza. Superados esses obstáculos, o que sobra é uma noite divertidíssima, com atrações para todos os saldos bancários e muita gente bonita vinda de várias partes do planeta. E tudo isso se multiplica em datas especiais. Imagina na Olimpíada... Imaginou? Beleza, então a gente se vê lá em 2016.
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UM DIA NAS ENTRANHAS DO RIO POR FLÁVIA RIBEIRO FOTOS FELIPE VARANDA
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PELA MANHÃ BEM CEDO, antes de começar o trabalho, os operários responsáveis pela escavação do túnel nas obras de expansão do metrô carioca se reúnem em frente a um altar encravado na parede de pedra da entrada do local, no Jardim Oceânico, Barra da Tijuca. Ali, uma imagem de Santa Bárbara, protetora dos tuneleiros, como eles são chamados, ouve suas orações. Em cada mudança de turno, nova reza. No início de cada entrada de túnel, em São Conrado, Barra ou Ipanema, a cena se repete. E assim se inicia a jornada ao longo dos 16 km que formarão a Linha 4 do metrô do Rio de Janeiro, a ser inaugurada no primeiro semestre de 2016 – a tempo, garante o governo do Estado, dos Jogos Olímpicos. Pelo projeto, em seis anos terá sido feito, em extensão, o equivalente ao que foi construído em 30 anos. Uma obra que vai transportar, segundo as previsões, 300 mil pessoas por dia, tirando das ruas dois mil
veículos por hora, nos horários de pico. Para que isso seja possível, 8,6 mil operários se revezam em três turnos nas escavações e construções dos túneis e das seis estações. “Minha mãe mora na Rocinha e trabalha em Laranjeiras como cozinheira em casa de família. Quando tudo estiver pronto, vai poder usar e chegar rapidinho ao trabalho”, diz o sinaleiro Alfredo Luiz Machado de Oliveira, responsável por controlar, com sua lanterna de laser, a passagem de maquinários e veículos em geral por dentro do túnel de São Conrado. “Levei 15 dias para me acostumar à vida dentro do túnel, mas, depois, ficou tudo bem”, diz. “Preciso estar sempre atento para que acidentes não aconteçam.” Ainda assim, eles acontecem: em 30 de maio, um operário morreu e outro ficou ferido por causa do rompimento de um duto de ar comprimido na frente de trabalho da rua Gastão Baiana. Foi a única morte desde que a obra começou, em 2011.
AS OBRAS DE EXPANSÃO DO METRÔ CARIOCA EMPREGAM 8,6 MIL OPERÁRIOS QUE PASSAM ATÉ 8 HORAS SEM VER A LUZ DO DIA. NA ESCURIDÃO, ENTRE SILÊNCIO E EXPLOSÕES, OS CAVADORES DE TÚNEIS SE ESFORÇAM PARA DEIXAR TUDO PRONTO ATÉ A OLIMPÍADA DE 2016
RITMO ACELERADO: as obras de expansão do metrô carioca (na página ao lado e no alto) precisam estar prontas no início de 2016. Da esquerda para a direita, imagem de Santa Bárbara, protetora dos tuneleiros, e os trabalhadores que constroem as estações e instalam os trilhos
INFRAESTRUTURA Atravessar de carro o túnel entre a Barra e São Conrado – 5 km de trajeto, a maior escavação em rocha do mundo –, sabendo que sobre um pedaço dele está a Pedra da Gávea, é uma experiência impressionante. São 840 metros de puro material sólido na cabeça. Não dá para não se sentir pequeno. Em dado momento, toca uma sirene. No terceiro toque, vem a detonação. Mesmo a 2 km de distância do local, o cabelo voa com o deslocamento de ar. Como o túnel nesse trecho é escavado em rocha, a opção é pelas detonações controladas, que vão totalizar mais de 1.600 toneladas de explosivo até o fim da obra – o equivalente a 68 Réveillons em Copacabana. O volume de concreto retirado também é superlativo: 132 mil metros cúbicos, quantidade equivalente à usada na construção do Maracanã, em 1950. Para os tuneleiros, nada mais normal. “Outro dia, num culto numa igreja na Rocinha, vários irmãos vieram falar comigo: ‘Pô, irmão, tem hora que a gente sente um tremor aqui. A gente precisa se preocupar?’ E eu respondo: ‘Não se preocupa. Quando sentir o tremor, lembra que sou eu passando aqui embaixo’”, conta Carlos Pereira de Barros, 38 anos, mais conhecido como
Feijão. Baiano de Paulo Afonso, Feijão foi um dos operários que escavaram os túneis do metrô entre as estações Cantagalo e General Osório no início da década passada. Em 2011, voltou ao Rio. Participa das escavações do trecho da Barra desde o primeiro dia. Era encarregado de grupo de operários. No ano seguinte, foi promovido a mestre de obras. Com ele, vieram ao Rio o irmão, também mestre de obras, duas irmãs que trabalham como apontadoras nas saídas dos túneis – controlam os horários de detonação, almoço e a entrada e saída de veículos –, dois cunhados e um sobrinho, operários da obra. “Por tudo isso agradecemos ao meu tio, que escava túneis há 46 anos e que também trabalhou em Ipanema antes da chegada do tatuzão”, diz ele, orgulhoso da vida debaixo da terra. “Se eu pudesse, até almoçaria aqui dentro. Não sinto falta da luz do dia.” O tatuzão a que Feijão se refere é uma máquina alemã gigantesca, chamada de Tunnel Boring Machine (TBM), adquirida para perfurar a terra e já colocar as aduelas, enormes anéis de concreto que revestirão o túnel, no trecho da zona sul. Há 270 pessoas na operação do tatuzão, incluindo um grupo de alemães, profissionais especializados da Herrenknecht, que fa-
brica o TBM. Apelidado de Bárbara, em homenagem à santa, ele é responsável pela colocação de 2.754 aduelas nesse trecho. Arenoso em sua maior parte e construído em uma zona densamente habitada, o caminho não é adequado a explosivos. “A detonação é para rochas, não areia”, explica o gerente de produção do Consórcio Linha 4 Sul, Aluísio Coutinho. “Optamos pelo tatuzão, e o que compramos foi feito sob encomenda para o nosso tipo de solo”, completa ele, que é o engenheiro responsável pela obra. Ainda assim, um incidente fez o tatuzão parar em 11 de maio, depois de apenas 400 metros escavados. Dois buracos surgiram na rua Barão da Torre, causados por um afundamento de terreno numa zona de transição de uma área rochosa para uma arenosa. As perfurações tiveram que ser interrompidas por mais de dois meses. “Não estava previsto, mas não atrapalha o cronograma, porque as estações continuam a ser construídas”, diz Aluísio. Na estação da praça Nossa Senhora da Paz, gruas, guindastes, betoneiras, pórticos, escavadeiras e caminhões estão em constante movimento. Por dia, 450
homens não deixam a obra parar, e saem de lá cerca de 100 caminhões carregando o resultado das escavações. Dois terços da estação – que terá 160 metros de comprimento, 22 metros de largura e três pavimentos – já estão prontos. Com 22 metros de profundidade, ela exigiu uma parede de concreto de 1,2 metro de largura para barrar a água do lençol freático. Uma opção diferente da usada na estação do Jardim Oceânico. Lá, 400 bombas puxam a água do subsolo e jogam em canaletas que a levam para a lagoa. Enquanto isso, operários instalam uma manta impermeabilizante, a mesma usada na obra do novo World Trade Center, em Nova York. “Fazemos uma parede de concreto, botamos a manta, depois aço e mais uma parede de concreto”, enumera o engenheiro de campo Marcelo Piola. Serão 5.400 toneladas de aço e 70 mil metros cúbicos de concreto para finalizar não só a estação, de 200 metros de comprimento, mas também um rabicho de 350 metros que permitirá, no futuro, que se expanda a linha até o terminal Alvorada, sem interromper o funcionamento da estação durante as obras.
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JOGO PESADO: no alto, o “tatuzão”, a máquina alemã feita sob encomenda que cava o túnel nos trechos em que o solo é mais arenoso. Enquanto avança, o equipamento já instala as aduelas (acima), enormes anéis de concreto que revestem toda a passagem
OS NÚMEROS DA OBRA DO METRÔ DO RIO Operários: 8.600 Empresas: ODEBRECHT INFRAESTRUTURA, QUEIROZ GALVÃO, CARIOCA ENGENHARIA, SERVIX E COWAN Custo: R$ 8,79 BILHÕES (R$ 7,63 BILHÕES DO GOVERNO DO ESTADO E O RESTANTE DA CONCESSIONÁRIA RIO BARRA) Estações: 6 – JARDIM OCEÂNICO, SÃO CONRADO, GÁVEA, ANTERO DE QUENTAL, JARDIM DE ALAH E NOSSA SENHORA DA PAZ Trilhos da Barra a São Conrado: 1.100 Profissionais envolvidos na operação do tatuzão: 270 Aduelas necessárias para o trecho da zona sul: 2.754 Peso de cada aduela: 62 TONELADAS Média de aduelas instaladas por dia pelo tatuzão: 10 Passageiros que transportará por dia: 300 MIL Tempo da Barra a Ipanema: 15 MINUTOS Tempo da Barra ao Centro: 34 MINUTOS
O ANO DOS MUNDIAIS
Depois Do futebol, é a vez De outros esportes reunirem as melhores seleções Do planeta. a seguir, um guia completo Dos campeonatos munDiais De vôlei e basquete, com os favoritos ao título, os azarões e as estrelas que vão brilhar nas quaDras Por Vera Lynn
K e V i n
D u r a n t ,
e s t a D o s
u n i D o s
MunDiaL De BasQuete MasCuLino Quando | De 30 de agosto a 14 de setembro onde | espanha, nas cidades de Barcelona, Bilbau, Granada, Las Palmas, Madri e sevilha. a fase de grupos será disputada nas seis cidades-sedes e a fase final, em Barcelona e Madri.
Fórmula da disputa | na primeira fase, as 24 seleções estão divididas em quatro grupos com seis equipes em cada um. os times se enfrentam dentro da própria chave e os quatro melhores avançam às oitavas de final. A primeira seleção de um determinado grupo enfrenta a quarta de outra chave e assim por diante. a partir das oitavas, as partidas são eliminatórias.
os grupos ___A: Brasil, egito, espanha, França, irã e sérvia ___B: argentina, Croácia, Filipinas, grécia, porto rico e senegal ___C: estados unidos, Finlândia, nova Zelândia, república dominicana, turquia e ucrânia ___D: angola, austrália, Coreia do sul, eslovênia, lituânia e méxico os Favoritos ___Estados Unidos atuais campeões mundiais e olímpicos, os americanos vão levar à espanha 12 jogadores da nBa, quatro deles remanescentes do time que ganhou o ouro em londres-2012. os astros leBron James e Carmelo anthony não foram convocados. ___espanha vice-campeã olímpica, a espanha confia na experiência dos irmãos pau gasol, recém-contratado pelo Chicago Bulls, e marc gasol, do memphis grizzlies, para conquistar o título em casa. além deles, o time conta com outros quatro jogadores da nBa. ___argentina o time está envelhecido, mas na última década sempre tem chegado entre os primeiros nos campeonatos mais importantes. seis campeões olímpicos em atenas-2004 foram convocados, entre eles os craques manu ginóbili e luis scola. problema: ginóbili, atual campeão da nBa pelo san antonio spurs, está contundido e é dúvida. ___França poucos times evoluíram tanto nos últimos anos. no final de 2013, a França sagrou-se campeã europeia pela primeira vez, depois de eliminar a favorita espanha na semifinal e massacrar a lituânia na final. Com a ausência do armador tony parker, a seleção será liderada pelo pivô Boris diaw.
os CaMPeões MunDiais De BasQuete Estados Unidos__ 4 títulos (1954, 1986, 1994 e 2010) Iugoslávia__ 3 títulos (1970, 1978 e 1990) União Soviética__ 3 títulos (1967, 1974 e 1982) Brasil__ 2 títulos (1959 e 1963) Sérvia__ 2 títulos (1998 e 2002) Espanha__ 1 título (2006) Argentina__ 1 título (1950)
Quem pode surpreender ___Brasil do Brasil, dá para esperar tudo, de vitórias contra os favoritos a derrotas para os times mais fracos. a seleção não conseguiu vaga nas eliminatórias e precisou de um convite da Federação internacional para participar do mundial. a esperança é o quarteto da nBa: nenê, tiago splitter, leandrinho e anderson varejão. ___austrália a austrália tem batido na trave nos últimos anos e sempre incomoda os gigantes, perdendo por diferença mínima de pontos. para o mundial, está sem o armador patty mills, do san antonio spurs, que fez cirurgia no ombro. mas aposta na estrela ascendente do também armador dante exum, de apenas 19 anos. ___Lituânia terceira colocada no mundial de 2010 e atual vice-campeã europeia, a lituânia não conta com uma grande estrela, mas aposta na força do conjunto. É o famoso time “cascudo”: não tem muito brilho, mas dá um trabalho danado. ___sérvia vice-campeã mundial sub-19, a sérvia vai à espanha com um time de jovens promessas. destaque para o armador vasilije mici, eleito uma das cinco maiores revelações do basquete mundial em 2013.
>>>>as estreLas<<<< KeVin Durant, estaDos uniDos eleito o melhor jogador da última temporada da nBa, o ala de 25 anos do oklahoma City é um fenômeno: tem explosão no ataque parecida com a de LeBron James, precisão nos arremessos e força defensiva. JaMes HarDen, estaDos uniDos Com a impressionante média de 26,8 pontos no último playoff da NBA, o ala do Houston Rockets é famoso pela habilidade excepcional e pela espessa barba, que lhe valeu o apelido de “barba do capeta”. É carismático e conquista a torcida por onde passa. Pau GasoL, esPanHa aos 34 anos, o pivô é um colecionador de títulos: venceu duas vezes a nBa, pelo Los angeles Lakers, foi campeão mundial com a espanha, em 2006, e faturou duas medalhas olímpicas (prata em Pequim-2008 e Londres-2012). sonha em se despedir da seleção espanhola com o título em casa. tiaGo sPLitter, BrasiL o pivô entrou para a história ao ser o primeiro brasileiro campeão da nBa, pelo san antonio spurs. É marcador de rara eficiência e, no basquete americano, aprimorou o trabalho ofensivo.
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A pArticipAção do BrAsil nos MundiAis de BAsquete MAsculino 1950 > 4o 1954 > 2o 1959 > Campeão 1963 > Campeão 1967 > 3o
1970 > 2o 1974 > 6o 1978 > 3o 1982 > 8o 1986 > 4o 1990 > 5o 1994 > 11o 1998 > 10o 2002 > 8o 2006 > 19o 2010 > 9o
O ANO DOS MUNDIAIS
MunDiaL De BasQuete FeMinino Quando | De 27 De seteMBro a 5 De outuBro onde | turquia, nas cidades de ancara e istambul Fórmula da disputa | na primeira fase, as 16 equipes estão divididas em quatro grupos com quatro participantes em cada um. as seleções enfrentam adversários dentro da própria chave e as vencedoras de cada grupo avançam direto para as quartas de final. As equipes classificadas em segundo e terceiro lugares de cada grupo disputam as oitavas de final, em jogos eliminatórios contra os segundos e terceiros colocados dos outros grupos. Os vencedores dessas partidas avançam para as quartas de final. A partir daí, são eliminatórias simples até o final do campeonato.
os grupos ___A: Brasil, espanha, Japão e república tcheca ___B: Canadá, França, moçambique e turquia ___C: austrália, Bieolorrússia, Coreia do sul e Cuba ___D: angola, China, estados unidos e sérvia AS fAvorItAS ___Estados Unidos em nenhum outro esporte há uma predominância tão forte de uma equipe quanto no basquete feminino. na história da olimpíada, as americanas só perderam três partidas em 61 disputadas. a seleção está invicta há oito anos, ou 41 jogos (a última derrota foi para a rússia, na semifinal do mundial de 2006). no mundial de 2010, foi campeã vencendo todas as partidas por diferença superior a 20 pontos. precisa dizer mais? ___frança as francesas gostam de dizer que venceram todos os jogos na olimpíada de londres-2012. Quer dizer, perderam só para as americanas, mas essa derrota, diante da superioridade global das rivais, praticamente não conta. o time tem duas atletas na WnBa, a liga profissional do basquete feminino dos eua. ___austrália a austrália há muito tempo frequenta o pódio dos principais torneios. o auge da seleção foi em 2006, quando venceu o campeonato mundial realizado no Brasil. o time conta com duas jogadoras que fizeram história: as pivôs lauren Jackson, maior cestinha da história da olimpíada, e liz Cambage, primeira jogadora a efetuar uma enterrada nos Jogos (a façanha foi em londres-2012). ___Espanha atual campeã europeia e bronze no mundial de 2010, a espanha tem a maior média de altura entre as seleções de ponta. o país conta também com uma liga nacional bem estruturada, reconhecida como a mais competitiva da europa.
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Quem pode surpreender ___Brasil um pódio seria uma surpresa e tanto para o basquete feminino brasileiro, enfraquecido nos últimos anos por disputas políticas internas e por rixas entre jogadoras. mas não custa acreditar. afinal, o elenco conta com atletas de ótimo nível e o time está sedento para mostrar serviço, depois do fiasco na olimpíada de londres, em que só venceu um dos cinco jogos disputados. ___república tcheca no último mundial, em 2010, a república tcheca foi a zebra do torneio ao ficar com o vice-campeonato. o time é quase o mesmo de quatro anos atrás: sem grandes estrelas, mas com um jogo coletivo de alta eficiência. ___Lituânia Quando organizou o mundial de Basquete masculino, em 2010, a turquia foi vice-campeã. repetirá o mesmo agora com as mulheres? o time joga no embalo da torcida fanática e já mostrou certa evolução: na olimpíada de londres-2012, ficou com um honroso quinto lugar. ___Bielorrúsia sabe aquele time chato, que não deixa o adversário jogar e que jamais desiste? esse é o retrato da Bielorrúsia, quarta colocada no mundial de 2010 e que pode incomodar de novo em 2014.
>>>>as estreLas<<<< Lauren JaCKson, austráLia sem contar as americanas, é considerada a melhor jogadora de basquete do mundo. tem quatro medalhas olímpicas (três pratas e um bronze) e um título mundial, conquistado no Brasil em 2006. recordista de pontos na história dos Jogos, é famosa também pelo lado desinibido: já posou nua para uma revista de seu país. ÉriKa, BrasiL nos estados unidos, é idolatrada: jogadora do atlanta Dream, da WnBa, terminou a temporada passada como a terceira melhor reboteira do campeonato e a segunda que mais aplicou tocos. no Brasil, é relativamente desconhecida, mas está nos ombros desta pivô de 32 anos a responsabilidade de fazer o país voltar a brilhar nas competições internacionais. CanDaCe ParKer Versátil, Candace joga em qualquer posição – e sempre bem. na WnBa, sua média é de 20 pontos por partida, marca repetida na seleção americana. eleita a melhor jogadora dos estados unidos por duas vezes, tem no currículo dois ouros olímpicos. tina CHarLes Destaque da seleção americana que ganhou com facilidade o ouro em Londres, tina ostenta uma série de marcas na WnBa, como a estreante do ano e jogadora mais valiosa das finais. Para muitos, é a atleta mais completa do basquete feminino mundial.
C a n D a C e
P a r K e r ,
e s t a D o s
u n i D o s
as CaMPeãs MunDiais De BasQuete Estados Unidos __8 títulos (1953, 1957, 1976, 1986, 1990, 1998, 2002 e 2010)
União Soviética__6 títulos (1959, 1964, 1967, 1971, 1975 e 1983)
Austrália__1 título (2006) Brasil__1 título (1994)
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A pArticipAção do BrAsil nos MundiAis de BAsquete feMinino 1953 > 4o 1957 > 2o 1959 > Não partiCipou 1964 > 5o 1967 > 8o
1971 > 3o 1975 > 6o 1979 > 12o 1983 > 5o 1986 > 11o 1990 > 10o 1994 > Campeão 1998 > 4o 2002 > 7o 2006 > 4o 2010 > 9o
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MunDiaL De VÔLei MasCuLino Quando | De 3 a 21 De seteMBro onde | Polônia, nas cidades de Breslávia, Bydgoszcz, Cracóvia, Gdansk e Katowice
Fórmula da disputa | na primeira fase, as 24 seleções estão divididas em quatro grupos com seis equipes em cada. os times se enfrentam dentro da própria chave e os quatro melhores colocados avançam à segunda fase. Depois, as equipes são divididas em dois
M u r i L o ,
B r a s i L
grupos com oito participantes. os resultados da primeira fase continuam valendo e as seleções só jogam com adversários que ainda não haviam enfrentado. os quatro primeiros colocados avançam às quartas de final. A partir daí, as partidas são eliminatórias.
os grupos ___A: argentina, austrália, Camarões, polônia, sérvia e venezuela ___B: alemanha, Brasil, Coreia do sul, Cuba, Finlândia e tunísia ___C: Bulgária, Canadá, China, egito, méxico e rússia ___D: Bélgica, estados unidos, França, itália, irã e porto rico os CaMPeões MunDiais De VÔLei rússia/UrSS__6 títulos (1949, 1952, 1960, oS fAvorItoS 1962, 1978 e 1982) ___Brasil Brasil __ 3 títulos (2002, 2006 e 2010) a seleção mais vitoriosa das últimas duas décadas defende uma marca Itália __ 3 títulos (1990, 1994 e 1998) fantástica: o Brasil é o atual tricampeão mundial. o time atual, porém, é uma tchecoslováquia __2 títulos (1956 e 1966) incógnita. depois de um início vacilante na liga mundial (caiu em casa até Polônia __1 título (1974) para o irã), a equipe de Bernardinho chegou à final, perdendo para os estados Estados Unidos __1 título (1986) unidos. a boa notícia é que a camisa costuma pesar nos grandes torneios. Alemanha oriental __1 título (1970) ___Estados Unidos depois do decepcionante oitavo lugar na olimpíada de londres-2012, os estados unidos aceleraram a reformulação do time. deu certo. a jovem equipe faturou a última edição da liga mundial, com destaque para o ponteiro taylor sander, 22 anos, eleito o melhor jogador do torneio, tendo marcado impressionantes 24 pontos contra o Brasil na final. ___rússia o time campeão olímpico em londres-2012 não sobe ao pódio de um mundial Quem pode surpreender desde 2002 e, após o fim da união soviética, jamais venceu o campeonato. ___Polônia a atual geração é considerada a melhor em muitos anos, mas fraquejou na o fator casa não é o único que coloca os poloneses como potenciais candidatos liga, sendo eliminada das finais pelo irã. ao pódio. a polônia é de fato a quinta força do vôlei mundial. seu jogo é baseado na força do bloqueio e na consistência da defesa. ___Itália desde 1990, só dois países ganharam o campeonato mundial: Brasil, vito- ___Cuba ok, Cuba já viveu dias melhores no vôlei, mas não dá para descartar o time rioso nas últimas três edições, e itália, tricampeã em 1990, 1994 e 1998. vice-campeão mundial em 2010 (perdeu a final para o Brasil) e que há dois pesa contra os italianos o fato de não vencerem um torneio importante anos foi bronze numa edição da liga mundial. desde 2000, quando faturaram a liga mundial. ___Bulgária o vôlei conseguiu a façanha de ser mais popular na Bulgária do que o futebol. o país tem a tradição de formar bons jogadores e sempre ronda o pódio nas melhores competições. ___sérvia Bronze no mundial de 2010, a seleção subiu ao pódio da liga em três das últimas sete edições do torneio. o time alto e jovem tem potência de sobra no ataque.
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>>>>as estreLas<<<< DMitriy MusersKiy, rússia o gigante de 2,18 metros de altura atinge incríveis 3,75 metros no ataque. o Brasil conhece bem a força de Dmitriy. Na final olímpica de Londres-2012, jogando como oposto, marcou 31 pontos contra o time de Bernardinho. iVan ZaytseV, itáLia Filho do lendário jogador russo Vyacheslav Zaytsev, ivan é o maior pontuador do time italiano. Dotado da mesma categoria do pai, foca seu jogo na enorme explosão. MuriLo, BrasiL Considerado um dos jogadores mais completos do mundo, o experiente Murilo, 33 anos, é o ponto de equilíbrio de um time que sofre altos e baixos. na última edição da Liga, conduziu o Brasil às finais depois de um começo ruim no torneio. Pesa a seu favor o fato de crescer em momentos decisivos. tayLor sanDer, estaDos uniDos o estilo do ponta taylor sander lembra o de Giba: muita explosão e velocidade impressionante no ataque, apesar de não ser muito alto (1,96 metro) para os padrões do esporte. aos 22 anos, é a maior revelação do vôlei mundial.
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A pArticipAção do BrAsil nos MundiAis de vôlei MAsculino 1949 > Não partiCipou 1952 > Não partiCipou 1956 > 11o 1960 > 5o 1962 > 10o 1966 > 13o
1970 > 12o 1974 > 9o 1978 > 6o 1982 > 2o 1986 > 4o 1990 > 4o 1994 > 5o 1998 > 4o 2002 > Campeão 2006 > Campeão 2010 > Campeão
O ANO DOS MUNDIAIS
MunDiaL De VÔLei FeMinino
Quem pode surpreender ___Cuba até pouco tempo atrás, colocar o vôlei feminino de Cuba como uma surpresa seria heresia. mas o esporte decaiu no país e as cubanas sofrem para vencer até rivais medianas. a última grande conquista do time foi o Quando | De 23 De seteMBro a 12 De outuBro mundial de 1998. o mundo sabe que uma hora ou outra elas voltarão com onde | itália, nas cidades de Bari, Milão, Modena, roma, trieste força. difícil dizer se será no mundial da itália. e Verona ___China Há uma década, parecia impossível vencer a China no vôlei feminino. Fórmula da disputa | na primeira fase, as 24 seleções estão divididas em 2004, o time sagrou-se campeão olímpico com uma muralha intranem quatro grupos com seis equipes em cada um. os times se ensponível, mas desde então a seleção jamais foi a mesma. o que frentam dentro da própria chave e os quatro melhores avançam era virtude, um time alto e forte, virou defeito: as gigantes chinesas à segunda fase. Depois, as equipes são divididas em dois grupos parecem lentas demais para acompanhar adversárias mais velozes. com oito participantes. os resultados da primeira fase continuam ___Japão valendo e as seleções só jogam com adversários que ainda não o país está abaixo dos três gigantes do vôlei feminino mundial, mas é aquele haviam enfrentado. As três primeiras colocadas avançam à tertime que irrita: as japonesas defendem muito e dão um trabalho danado para ceira fase, formando assim dois grupos com três equipes em cada as rivais. nos últimos anos, o Japão melhorou a capacidade ofensiva. resta um deles. as duas melhores seleções desses grupos avançam à saber se será suficiente para ameaçar Brasil, rússia e estados unidos. semifinal. A partir daí, os jogos são eliminatórios. ___sérvia o país evoluiu no vôlei tentando combinar a capacidade defensiva das os grupos asiáticas com a velocidade de ataque das brasileiras. ainda está longe de ___A: alemanha, argentina, Croácia, itália, república dominicana e tunísia copiar o melhor dos dois estilos, mas os resultados começam a aparecer. ___B: Brasil, Bulgária, Camarões, Canadá, sérvia e turquia no grand prix de 2013, a sérvia ficou com o bronze. ___C: Cazaquistão, estados unidos, Holanda, méxico, rússia e tailândia ___D: azerbaijão, Bélgica, China, Cuba, Japão e porto rico >>>>as estreLas<<<< AS fAvorItAS ___Brasil atual bicampeã olímpica, a seleção brasileira tenta quebrar a sina de jamais ter vencido o mundial. nas duas últimas edições do torneio, ficou em segundo lugar, perdendo o título para a rússia. o time de José roberto guimarães está se renovando (a líbero Fabi aposentou) e andou perdendo amistosos. mas continua forte. ___Estados Unidos a seleção americana venceu o Brasil nas quatro vezes em que se enfrentaram em 2014. o time é consistente, mas tem fama de amarelar em olimpíadas e mundiais (jamais venceu esses torneios). a craque do time é destinee Hooker, eleita a melhor atacante dos Jogos de londres-2012. ___rússia as russas substituíram as cubanas no posto de maiores rivais das brasileiras no vôlei. nas duas últimas edições do mundial, foram campeãs ao vencer o mesmo rival: o Brasil. as meninas decepcionaram na olimpíada de londres-2012, quando nem sequer chegaram às semifinais. Foram eliminadas nas quartas pelas... brasileiras. ___Itália as italianas jamais conseguiram repetir o sucesso da seleção masculina. mesmo assim, ostentam uma conquista expressiva: o mundial de 2002. agora, em casa e com o apoio da torcida – além de um time reconhecidamente talentoso –, querem ao menos chegar ao pódio. ou até mais do que isso.
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sHeiLLa, BrasiL no ano passado, em votação de um site especializado em vôlei, sheilla foi eleita a melhor oposta do mundo. na seleção, tem uma história espetacular: são 33 medalhas conquistadas, incluindo dois ouros olímpicos e duas pratas em Mundiais. tHaísa, BrasiL além de ser a jogadora mais alta (1,96 metro) do time brasileiro, é também a que desfere os ataques mais potentes. titular da seleção desde os 20 anos (hoje tem 27), é a base de segurança da equipe. Quando as coisas não vão bem, bola para ela. HooKer, estaDos uniDos ela nasceu na alemanha, mas se naturalizou americana antes de brilhar no vôlei. oposta de talento excepcional, foi eleita por duas vezes a melhor jogadora do mundo. em 2013, deu um tempo na carreira para cuidar da gravidez, mas agora está de volta. o talento continua o mesmo. startseVa, rússia eleita a melhor levantadora da olimpíada de Londres-2012, startseva tem uma qualidade rara para uma jogadora de sua posição: o bloqueio de alta eficiência. Liderou a Rússia no título mundial de 2010.
s H e i L L a , agosto/setembro 2014
B r a s i L
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A pArticipAção do BrAsil nos MundiAis de vôlei feMinino 1952 > Não partiCipou 1956 > 11º 1960 > 4º 1962 > 8º 1967> Não partiCipou 1970 > 13º
1974 > 15º 1978 > 7º 1982 > 8º 1986 > 5º 1990 > 7º 1994 > 2º 1998 > 4º 2002 > 7º 2006 > 2º 2010 > 2º
o time brasileiro De vôlei feminino anDou perDenDo amistosos, mas chega forte ao munDial. estÁ entre os favoritos, ao laDo
as CaMPeãs MunDiais De VÔLei rússia/UrSS__7 títulos (1952, 1956, 1960, 1970, 1990, 2006 e 2010)
Japão__3 títulos (1962, 1967 e 1974) Cuba__3 títulos (1978, 1994 e 1998) China__2 títulos (1982 e 1986) Itália__1 título (2002)
De eua, rÚssia e itÁlia. o torneio também marca o retorno Da estrela americana Destinee hooKer, eleita a melhor JogaDora De lonDres-2012, que havia DaDo um tempo na carreira para cuiDar Da graviDez
PerForMance
Fa s T Fo o d p R a I a N o as Mais gostosas, rÁpidas, saudÁVeis e iNusitadas CoMidas serVidas Na orla do rio de JaNeiro. É de laMber os dedos e agradeCer ao Mar
SALADA DE FRUTAS DO VAL IPANEMA Quer comer frutas frescas e geladinhas debaixo do inclemente do sol carioca? O paraibano Valdemar Gomes Nascimento, 58 anos, tem. Há 40 anos no Rio, Val, como é conhecido, trabalhava como cozinheiro em um restaurante quando decidiu que precisava de uma grana extra. Era verão de 1990 e ele de repente se deu conta, num domingo de praia, da falta de opções saudáveis. No fim de semana seguinte, foi à feira e à luta. Há 24 anos, Val leva saladas de frutas já prontas em potinhos de 600 ml (R$ 10), guardados em um isopor cheio de gelo, para Ipanema, na altura da Rua Farme de Amoedo, sempre entre meio-dia e 17h.. “Não podem faltar morango, kiwi e uva sem caroço. São essas frutas que dão cor e vida à salada”, diz. O suco da laranja também é fundamental. Além delas, sempre tem banana, abacaxi, manga e melão”, explica Val, que é reconhecido de longe, por conta do enorme chapelão que usa para se proteger do sol.
HAREBURGER DO RAPHAE MARQUINHOS DO ÁRABE BARRA DA TIJUCA
O sujeito está calmamente aproveitando uma praia quando se depara com um árabe montado em um camelo, vindo em sua direção, com odaliscas ao lado. Miragem? Não. É Marco Antônio Maciel, o Marquinhos do Árabe, que bate ponto no Posto 2, da Barra da Tijuca, na altura da Barraca do Pepê, há 18 anos. “Mandei fazer o camelo com uns caras da Mangueira que fazem alegorias para o Carnaval. Contratei dois empurradores e as dançarinas. É meu diferencial”, conta ele, que é “ex-discotecário” de boate: “Não bota DJ não, no meu tempo era discotecário mesmo”. No cardápio, as esfihas (de carne, queijo minas com orégano, frango, berinjela e espinafre com queijo) e o quibe frito custam R$ 6. “O ponto perfeito da massa da esfiha, leve e fininha, com o toque certo de doce, faz sucesso”, conta ele, que vende seus quitutes de meio-dia às 16h, em dias de sol.
DO LEME AO LEBLON
Em 2006, Raphael tinha 19 anos, estudava Publicidade e estava atrás de um jeito de ganhar uma grana que permitisse uma viagem à Bahia com a namorada, nas férias. Vegetariano, começou a testar várias receitas de hambúrguer em casa. Quando chegou ao que considerou perfeito, pegou R$ 50 emprestados com a avó, o suficiente para fazer oito hambúrgueres, e levou para a praia, para vender, enquanto criava uma apresentação mística e cômica para seu produto. Surgia aí o hareburger, “o melhor hambúrguer de todas as galáxias, recheado de energias cósmicas, incrível!”, como anuncia Raphael, que avisa que a soja usada “não é transgênica, é transcendental”. Hoje, há sete variedades. Desde o tradicional, com queijo cheddar, mostarda em grãos com ervas finas, tomate e alface (R$ 11) ao Hare Rock Chutney’s Mango Fry, com queijo gouda “da lua jupteriana Io”, chutney de manga, rúcula e castanhas do caju “energizantes” (R$ 14).
BARRACA DO URUGUAIO IPANEMA
MARCELO DO MATE IPANEMA Não espere ouvir Marcelo Luiz gritando ao anunciar seu mate. Ele conhece a maioria dos frequentadores da área em que trabalha, no trecho de Ipanema entre a Rua Joana Angélica e a Rua Vinícius de Morais. Os chama pelo nome, em voz baixa. Quando não conhece, dá um jeito de ouvir o nome numa conversa antes de se aproximar. “Ninguém presta atenção em grito quando está conversando”, avalia. Esse é um dos segredos do sucesso de Marcelo. O outro é o próprio mate, vendido nas versões natural e com limão. A bebida, tradicional nas praias cariocas, é feita com água filtrada, garante. Chega ao público geladinha e com a dose certa de açúcar. O mate tem também um segredo, que o torna mais saboroso: “Mas isso não conto de jeito nenhum!”. Marcelo, que trabalha como segurança à noite, pode ser encontrado na praia todos os dias em que faz sol, das 9h às 16h. Em dias de folga no trabalho, fica até as 18h, podendo chegar até 20h no verão. O copo de 300ml custa R$ 3 e o de 400 ml, R$ 4.
Há 35 anos, o então sindicalista uruguaio Milton Gonzalez saiu da cidade de Canelones, em seu país, que vivia um período de ditadura, para o exílio político no Rio de Janeiro. Montou uma barraca na areia da praia de Ipanema, em pleno Posto 9, facilmente identificável pela enorme bandeira do Uruguai que tremula sobre ela. E ficou famoso por seu sanduíche, sempre com um molho especial à base de chimichurri, de maminha ou picanha (R$ 14), frango (R$ 12) ou linguiça (R$ 10), o mais famoso, no pão francês ou no pão de forma integral. Tudo preparado em casa por ele e sua mulher, Glória. O sanduíche é montado na hora, às vistas do cliente. Para acompanhar, cerveja bem gelada (R$ 5) e o maior sucesso entre os gringos que aportam na praia: caipirinhas (R$ 12) e caipivodcas (R$ 14). “Durante a Copa foi muito interessante ver como eles bebem caipirinha! Acho que nos Jogos Olímpicos vai ser igual”, diz.
SUCOLÉ DO CLAUDINHO
MÁRIO DA MOUSSE IPANEMA É a melhor, é a melhor! Não sou eu que falo. É o povo de Ipanema que diz”, grita Mário Roberto Ronca, 70 anos, e a resposta dos banhistas vem em coro: “É o povo que diz!”. Mário se aposentou há 15 anos de um emprego como representante comercial de uma editora e pensou: “O que eu vou fazer agora?”. Mousse foi a solução. Aprendeu uma receita com a cunhada e começou a vender em lugares como Tijuca e Saara. Há sete anos, resolveu tentar a sorte em Ipanema, no trecho entre as ruas Maria Quitéria e Vinícius de Morais. “Formou fila”, lembra. Desde então, aproveita o sucesso das mousses de brigadeiro, feita com barra de chocolate, e de maracujá, feita com a fruta natural. Para quem curte outros sabores, tem limão e cupuaçu no cardápio também. Todas custam R$ 3, e são feitas pelo próprio Mário e por sua mulher, Mirtes. Mário trabalha de segunda a sábado, sempre das 14h às 17h. “Tem que vender rápido, ou o isopor não conserva”, conta ele, que tira os domingos para descanso..
LEBLON E IPANEMA
“Chupa, chupa, chupa! Chupa, meu amor! Chupa, chupa, chupa. O sucolé é um terror.” Do posto 8 ao 12, nas praias do Leblon e de Ipanema, esse verso de duplo sentido anuncia a chegada de um dos quitutes mais refrescantes das praias cariocas: o sucolé do Claudinho. “Tem que ter alegria ao vender”, ensina Luis Claudio Santos Barros, 56 anos, há 24 nas praias da Zona Sul. Hoje ele conta com duas equipes: a que produz os sucolés – nome que ele deu aos seus sacolés –, feitos com frutas frescas compradas por ele mesmo toda manhã, e a que vende. Dois vendedores circulam no Leblon e quatro em Ipanema, sempre das 11h30 às 16h. Há 15 sabores no cardápio, mas nas areias costumam chegar de 8 a 10, dependendo da época do ano: “Só uso frutas de época, não trabalho com polpa”, explica. Os maiores sucessos são os de morango com leite condensado, cupuaçu, chocolate e coco com leite condensado. Todos a R$ 5.
BARRACA DO PEPÊ BARRA DA TIJUCA Surfista de primeira linha e campeão mundial de voo livre, Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, o Pepê, montou um quiosque na Praia do Pepino, em São Conrado, em 1981, para suprir a falta de opções de alimentação saudável. Pioneira no ramo de sanduíches naturais no Rio, a Barraca do Pepê, como ficou conhecida, pouco depois se mudou para o posto 2 da praia da Barra da Tijuca, e se transformou em um mix de quiosque e casa noturna. Pepê morreu em 1991, num acidente durante uma competição de voo livre. Mas seu quiosque está mais vivo do que nunca, com franquias espalhadas por shoppings cariocas. O da praia oferece sanduíches naturais e grelhados, salgados integrais como pastéis e folhados, sucos de frutas, vitaminas, shakes e açaí. Em alguns fins de tarde, normalmente aos sábados, shows de samba, rock, reggae e música eletrônica animam o espaço. AGOSTO/SETEMBRO 2014
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concentração
Leitura peso-pesado Na autobiografia “a Verdade Nua e Crua”, Mike tysoN Mostra as NuaNCes Mais dolorosas de uMa Vida MarCada por ViolêNCia e exCessos por daNielle saNChes
De moleque medroso e vítima de bullying a explosivo lutador de boxe, a vida do ex-boxeador Myke Tyson é uma leitura assustadora e fascinante. É justo dizer que o livro do mais jovem campeão da história dos pesos-pesados é uma narrativa de superação. Afinal, Tyson enfrentou uma infância dura, violenta e, mesmo assim, se tornou uma lenda. Clichê dos heróis? Talvez, embora Tyson esteja longe do estereótipo do americano vencedor. De família humilde, Michael Gerard Tyson se mudou para Brownsville, no Brooklyn, um dos bairros mais violentos de Nova York, aos 7 anos, e passou a conviver com as brigas da mãe e do padrasto – que, não raramente, chegavam às agressões físicas. Nessa época, sofreu com os valentões da vizinhança, que roubavam até comida de seus bolsos. Aos 11 anos, o futuro boxeador decidiu devolver os limões que a vida lhe deu: passou a roubar e a descer a mão em todos os encrenqueiros que o procuravam. Tornou-se temido entre os moradores da região. Dois anos depois, ao sair do reformatório onde ficou detido por crimes menores, foi acolhido pelo treinador Cus D’Amato. Experiente, ele viu o potencial que o garoto revoltado tinha para os ringues. Tyson acreditou na motivação do técnico e partiu para o que seria o início de uma carreira histórica.
Dizer que o boxe salvou Tyson da delinquência, no entanto, seria errado. De certa forma, o esporte foi a trilha glamourosa para o mesmo fim que o esperava nas ruas do Brooklyn: vícios, crime e autodestruição. Foi sorte ele não ter ficado pelo caminho. A partir da ascensão nos ringues, o livro se torna um catálogo sem-fim de violência, estupidez, extravagância, drogas e orgias sexuais. As manias de grandeza descritas por Tyson eram uma forma de esconder uma criança brutalizada pela vida que tentava desesperadamente perdurar em um mundo adulto. “Conforme minha carreira progredia e as pessoas começavam a me elogiar por ser selvagem, eu ia percebendo que ser chamado de animal era o maior elogio que poderia receber de alguém”, escreveu. Os detalhes até então secretos da conturbada carreira de Tyson mostram uma alma profundamente perturbada, talvez muito além da recuperação. Mesmo assim, é interessante ver que o ex-atleta, feroz como um animal selvagem, tenta reaprender a viver em sociedade. É tocante vê-lo falar do valor de suas fichas dos Alcoólicos Anônimos (que, segundo ele escreve, são mais importantes do que todos os cinturões) e da gratidão pelas pessoas que o ajudaram a “se tornar respeitável”. Contra todas as probabilidades, o leitor se pega desejando o melhor para Tyson.
“É preciso entender que eu só tinha 20 anos. (...) Como eu era o campeão mundial, todo mundo esperava que eu fosse um cara completamente equilibrado por causa do título e o que ele representa. Mas eu era só um moleque se divertindo. E eu estava perdido. Quando ganhei o cinturão, eu era uma alma completamente destruída porque não tinha nenhum rumo.” Mike Tyson – A Verdade Nua e Crua • R$ 39,90 livrariasaraiva.com.br
BRAD PITT ESCAPOU POR UM TRIZ
O ESTUPRO TE CONDENA
“UM DIA DE CADA VEZ”
Em 2012, Mike Tyson contou em um programa de televisão que flagrou o ator Brad Pitt na cama com sua então esposa, a atriz Robin Givens, no final da década de 1980. Na época, Tyson e Robin já estavam negociando o divórcio, mas não haviam batido o martelo da separação. No livro, o ex-boxeador conta que Brad Pitt ficou aterrorizado com a possibilidade de levar uma surra – e a história acabou ganhando contornos cômicos.
Nem mesmo os anos de bom-mocismo compadeceram as autoridades do Reino Unido, onde Mike Tyson foi proibido de entrar para promover sua autobiografia, no início deste ano, por causa de seu passado com a polícia. Uma lei de 2012 estabelece que qualquer pessoa condenada a mais de quatro anos de prisão não pode entrar no país – Tyson recebeu a pena de seis anos em 1992 por estuprar Desiree Washington, então participante do Miss América Negra. Ele sempre negou o crime. “Como você estupra alguém que chega ao seu quarto de hotel às duas da manhã?”, pergunta na autobiografia. Por bom comportamento, cumpriu três anos de pena. No entanto, colecionou também condenações por posse de cocaína e agressão, entre outros crimes.
Mike Tyson nunca escondeu seu vício em drogas e álcool. São inúmeras as passagens de sua biografia em que estrelas de Hollywood, amigos e empresários se esbaldavam com ele em festas regadas a bebidas e cocaína. Hoje em tratamento, o ex-lutador revela que teve uma recaída quando concluiu o livro, no início de 2013, e precisou ir para a reabilitação mais uma vez.
“Quando Brad me viu lá, em frente à casa, seu olhar era impagável. Ele parecia pronto para receber a extrema-unção. Pior, ele parecia chapado pra caralho. E ficou tentando se salvar. ‘Cara, não me bate, não me bate. A gente só estava ensaiando um roteiro. Ela ficou o tempo todo falando de você.’ (...) Ela estava morrendo de medo. Mas eu não ia bater em ninguém. Não queria ir preso por causa dela, só queria dar uma fodinha antes do divórcio.”
“Sou um viciado feroz e, se tiver uma recaída, vou acabar morrendo. (...) Não posso ajudar ninguém se eu mesmo não estiver bem, e quero desesperadamente ficar bem. Carrego muitas dores e quero apenas me curar – e vou dar o melhor de mim para fazer exatamente isso.”
CARREIRA
“Eu era como uma puta muito gostosa e bonita, que todo mundo queria comer… Sabem o que estou dizendo, né?”
>BASQUETE
A JUSTA hOMENAGEM A JANETh Pense nas maiores jogadoras da história do basquete brasileiro e o nome de Janeth raramente é lembrado. O esquecimento foi de certa forma aplacado no final de julho, quando ela recebeu a indicação para o Hall da Fama do Basquete Feminino. Nada mais justo. Terceira maior cestinha da história da seleção, atrás de Hortência e Paula, Janeth foi campeã mundial em 1994 e medalha de prata nos Jogos de Atlanta-1996 e Sydney-2000. Na WNBA, a liga profissional americana também fez bonito: foi tetracampeã pelo Houston Comets, sempre como titular e protagonista do time. 94
ISTOÉ 2016
aGoSto/SEtEmBro 2014
ATLETISMO
SE CONTINUAR ASSIM...
A dois anos da Olimpíada do Rio, Fabiana Murer continua mandando no salto com vara. Ela tem as duas melhores marcas do ano, cravadas em junho e julho. Confira os cinco melhores saltos de 2014. Ranking
Marca
Atleta
Data
1
4.80
Fabiana Murer (Brasil)
14 de junho
2
4.76
Fabiana Murer (Brasil)
18 de junho
3
4.71
Jennifer Suhr (EUA)
1º de julho
4
4.71
Lisa Ryzih (Alemanha)
4 de julho
5
4.71
Jennifer Suhr (EUA)
18 de julho
>BADMINTON
DISCRETOS MAS EFICIENTES Sem alarde, a seleção brasileira de badminton vem conquistando espaço nas provas internacionais. Em julho, no tradicional Argentina Tour 2014, o Brasil faturou duas das cinco medalhas de ouro em disputa. Lohaynny Vicente e Luana Vicente venceram nas duplas femininas, enquanto Alex Tjong e a própria Lohaynny ganharam nas duplas mistas. Detalhe: participaram do campeonato atletas de países de certa força no esporte, como Canadá, Dinamarca, Estados Unidos e República Tcheca.
>BOXE
FORÇA INTERNACIONAL O boxe brasileiro conseguiu dois grandes resultados no Festival Olímpico Pan-Americano, realizado em julho no México. Na categoria meio-médio-ligeiro, Joedison Teixeira levou o ouro ao vencer o lutador da casa, que era o favorito ao título. Na categoria dos médios, Myke Carvalho superou na final o colombiano Jorge Vivas, oitavo colocado no ranking mundial da associação AIBA. São bons sinais para um esporte que sonha com pelo menos quatro medalhas nos Jogos do Rio.
>CANOAGEM
PARAÍSO À VISTA Por que não levar uma prova bacana para uma paraíso natural? Foi com essa ideia fixa que os organizadores do Campeonato Brasileiro de Canoagem Onda conseguiram convencer a Confederação a levar uma etapa do torneio para a Praia do Rosa, em Imbituba, Santa Catarino. O lugar é lindo, de mar cristalino e ondas perfeitas. E, agora, palco de competições de canoagem nos dias 30 e 31 de agosto.
>CICLISMO
OS TÍTULOS DA NOVA GERAÇÃO Os paulistas Renato Rezende e Priscilla Carnaval conquistaram, em julho, o campeonato brasileiro de BMX. Com o título, os dois somaram importantes pontos para definir os representantes da modalidade nos Jogos
foto: mauricio Lima/afp
Olímpicos de 2016. Renato, 23 anos, e Priscilla, 20, superaram competidores mais experientes e comprovaram a força da nova geração que vem sendo preparada desde o início do atual ciclo olímpico.
>ESGRIMA
EXTRAVIO DE BAGAGENS ATRAPALhA PERFORMANCE Antes do Mundial de Kazan, na Rússia, o esgrimista paulistano Renzo Agresta comemorava o ótimo 15º lugar no ranking dos melhores da categoria sabre. A colocação o credenciava para voos altos no torneio realizado em julho, mas nada deu certo para ele. Agresta teve de competir com uniforme e sabre emprestados, porque sua bagagem, com todo o equipamento, foi extraviada na viagem. Sem o material a que estava habituado, não conseguiu ir longe. Terminou na 52ª posição entre 132 participantes.
>FUTEBOL
OUTRA DA CBF: GALLO NA OLIMPÍADA A CBF continua fazendo lambança. Mesmo sem trabalhos relevantes em times de ponta (foi mal no Atlético Mineiro, no Internacional e no Santos) e nas categorias de base da Seleção (só conquistou duas vezes o Torneio de Toulon, na França, e mais nada), Alexandre Gallo foi confirmado como técnico do Brasil na Olimpíada de 2016. Sua missão será
quebrar a sina brasileira de jamais ter vencido o torneio olímpico. A julgar pelo pobre currículo de Gallo, será uma tarefa árdua.
>GINÁSTICA
CT VAI SAIR DO PAPEL Demora, mas agora vai. O Comitê Olímpico Brasileiro anunciou que o novo centro de treinamentos da ginástica artística começará a ser erguido no dia 30 de setembro, com previsão de inauguração para o final do ano. O CT será instalado na área de aquecimento do HSBC Arena, na Barra da Tijuca, no Rio. A realidade é dura para os ginastas. A seleção está sem local para treinar desde fevereiro do ano passado, quando o velódromo, onde ficava o antigo CT, foi demolido.
>GOLFE
COMEÇA O PLANTIO DA GRAMA A Federação Internacional de Golfe está aliviada. Depois do temor de que as obras do campo para a disputa olímpica, que está sendo erguido na Barra da Tijuca, não ficassem prontas a tempo, os inspetores da entidade acompanharam há alguns dias o plantio da grama nos buracos 8 e 9. É pouco, mas é um começo. O sistema de irrigação também avança. Dois terços dele já foram concluídos. A continuar nesse ritmo, o Rio vai conseguir entregar o campo em setembro de 2015, como havia sido prometido.
>HIPISMO
PRATA PARA OS PARAOLÍMPICOS Não é só no hipismo olímpico que o Brasil tem colecionado bons resultados. No paraolímpico, a seleção é reconhecida como uma das melhores do mundo. Em julho, no Campeonato Internacional de Adestramento Paraequestre, realizado em Hartpury, na Inglaterra, o cavaleiro Sérgio Oliva conquistou a medalha de prata na prova de adestramento. Na mesma disputa, Vera Lúcia Mazzilli ficou em quarto lugar. A equipe brasileira está na reta final de preparação para o Mundial da modalidade, que acontece no final de agosto, na Normandia, França.
HANDEBOL
BRASIL CAI EM GRUPO FÁCIL
A seleção masculina deu sorte no sorteio das chaves para o mundial do Catar, em 2015. A única potência do grupo é a Espanha, atual campeã do torneio. Pelo regulamento, os times se enfrentam dentro da própria chave e se classificam para as oitavas os quatro melhores. A partir daí, os jogos são eliminatórios até a final. Confira como ficou a divisão: Grupo A: Brasil, Bielorrússia, Catar, Chile, Eslovênia e Espanha Grupo B: Áustria, Bósnia, Croácia, Irã, Macedônia e Tunísia Grupo C: Argélia, Egito, Emirados Árabes Unidos, França, República Tcheca e Suécia Grupo D: Alemanha, Argentina, Bahrein, Dinamarca, Polônia e Rússia
>HÓQUEI SOBRE A GRAMA SAIU O NOVO CAMPEÃO BRASILEIRO
Ficou em São Paulo o título brasileiro indoor masculino. No campeonato realizado em julho, em Mogi das Cruzes, cidade próxima da capital paulista, o Macau Esporte Clube ergueu a taça depois de golear o catarinense Desterro por 6 a 2. Participaram do torneio duas equipes paulistas, duas cariocas, uma catarinense e outra gaúcha. A nota negativa foi a desistência, em cima da hora, do Florianópolis – é mais uma prova da desorganização desse esporte no País.
>JUDÔ
CT COM GINÁSIO CLIMATIZADO Um dos mais modernos centros de treinamento de judô do Brasil foi inaugurado no final de julho na praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador. Ao custo de R$ 43 milhões, bancados pelo governo da Bahia, o belo CT ocupa uma área de 20 mil metros quadrados, onde foram construídos um ginásio climatizado com arquibancada para duas mil pessoas, oito tatames, um centro médico para o tratamento dos atletas, uma pista de corrida para aquecimento e até piscina destinada ao relaxamento dos judocas. O projeto mostra a força nacional do judô, que tem atletas de ponta baseados em todas as regiões do País.
>LEVANTAMENTO DE PESO 44 qUILOS DE PURA FORÇA
Ela começou na ginástica artística, enveredou para os saltos ornamentais, passou pelo atletismo e descobriu-se enfim no levantamento de peso. Aos 16 anos, a carioca Emily Rosa Figueiredo é um talento comprovado. Ela será a única representante do Brasil nas disputas do levantamento de peso dos Jogos Olímpicos da Juventude, entre 16 e 28 de agosto, em Nanquim, na China. Com apenas 44 quilos, Emily levanta 62 quilos no arranque e 78 quilos no arremesso.
>LUTAS
POUCO BRILhO NO MUNDIAL CADETE Foi tímida a participação brasileira no Campeonato Mundial Cadete, disputado em Snina, na Eslováquia, em julho. O melhor resultado veio com Rafael Crystello Filho, da categoria para atletas de até 100 kg. Rafael terminou na 20ª colocação. Além dele, que lutou nos estilos livre e greco-romano, Calebe Corrêa, Erivan Rocha e Juliana Rodrigues participaram do torneio.
brasileiras ficaram em quarto lugar no dueto e nas competições por equipe. Treinadas pela canadense Julie Sauvé, Luisa Borges e Giovana Stephan foram superadas apenas pelas campeãs mundiais espanholas e por duplas do Canadá e do México. Luisa e Giovana moram há seis meses na Espanha e devem ser as representantes do Brasil nos Jogos de 2016.
brasileiras na prova foram Gabriela Ferreira, que ficou em décimo lugar, e Betina Lorscheitter, que desistiu. Detalhe importante: a distância de 10 km é olímpica, o que evidencia o potencial de medalhas da maratona aquática brasileira em 2016.
>NATAÇÃO
Essa era barbada. Medalha de bronze nos Jogos de Londres-2012, Yane Marques venceu o Campeonato Pan-Americano de Pentatlo Moderno, na Cidade do México. Com a vitória, Yane se tornou a primeira pentacampeã da história da competição. Mais do que uma conquista individual, o resultado é ótimo para a seleção, pois abriu mais uma vaga para o Brasil nos Jogos Pan-Americanos que serão realizados em Toronto, no Canadá, em 2015. Outras duas brasileiras participaram do evento no México: Larissa Lellys ficou na nona posição e Priscila Oliveira, na 14ª.
NO TOPO DA MARATONA AqUÁTICA A baiana Ana Marcela da Cunha conquistou a nona medalha brasileira e a sua quarta individual no circuito da Copa do Mundo de Maratonas Aquáticas 2014. No final de julho, Ana venceu, na batida de mão, a travessia de 10 km do Lago St. Jean, em Roberval, no Canadá. Agora, ela contabiliza duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze, tendo subido ao pódio em todas as etapas do circuito, a principal competição do ano. As outras
>PENTATLO MODERNO NO PAN, PARA VARIAR, DEU YANE
RÚGBI PARA APRENDER A JOGAR
Poucos esportes cresceram tanto no Brasil quanto o rúgbi. Já há no País 23 clubes que iniciam a garotada no jogo. Confira quais são: Clube
Contato
BAnDEiRAntES RUGBy CLUB (SP)
guampa@bandrugby.com.br
toRnADoS, inDAiAtUBA RUGBy CLUBE (SP)
celoamato@gmail.com
iLhABELA RC (SP)
paulorick16@hotmail.com
PAStEUR AthLétiqUE CLUB (SP)
atilio.amarilla@uol.com.br
PoLi USP RUGBy (SP)
contato@rugbypoli.com
Rio BRAnCo RUGBy (SP)
alejandro@rbrc.com.br
SPAC (SP)
randalld@globo.com
São JoSé RUGBy (SP)
christianoclair@hotmail.com
SB tEMPLáRioS (SP)
sbtemplarios.rugby@gmail.com
nitERói RUGBy (RJ)
danielhgregg@hotmail.com
GUAnABARA RUGBy (RJ)
clayton.vaneli@guanabararugby.com.br
Rio RUGBy FC
riorugbybrasil@gmail.com
(RJ)
DEStERRo RUGBy (SC)
administracao@desterrorugby.com.br
CURitiBA UniBRASiL/CRC (PR)
eduardomelotto@curitibarugby.com.br
FARRAPoS RUGBy CLUBE (RS)
tito@farraposrugby.com.br
ChARRUA RUGBy CLUBE (RS)
danielblanquito@gmail.com
SAn DiEGo RUGBy CLUB (RS)
bruno@sandiegorugby.com
CAMPo GRAnDE RC (MS)
renatocfaria@hotmail.com
CUiABá RC (Mt)
contato@cuiabarugby.com.br
>NADO SINCRONIZADO
BELo hoRizontE RUGBy CLUBE (MG)
contato@bhrugby.com.br
hONROSO qUARTO LUGAR
GoiâniA RC (Go)
lucianu3p@gmail.com
O Brasil conseguiu um bom resultado no torneio Sincro, um dos mais tradicionais do circuito mundial. Nas provas disputadas na cidade de Castellón de la Plana, na Espanha, as
BRASíLiA RUGBy (DF)
cedric.wamba@gmail.com.br
João PESSoA RUGBy (PB)
romuloegito2@hotmail.com
>POLO AQUÁTICO
UMA BRAÇADA DE CADA VEZ O Brasil subiu mais um degrau nas provas de polo aquático do continente. Em julho, a seleção conquistou a medalha de prata no Pan-Americano Júnior, realizado em Riverside, na Califórnia – e superou sua melhor participação no torneio, um terceiro lugar no ano passado. As brasileiras só foram superadas pelas americanas (na final, perderam por 11 a 6), mas ficaram à frente do Canadá, país de certa tradição no esporte.
>REMO
VÔLEI
DUPLA LIDERANÇA NO RANKING MUNDIAL
A julgar pelo ranking de seleções da Federação Internacional de Vôlei, o Brasil é o favorito tanto no masculino quanto no feminino para os próximos Mundiais, que serão realizados entre setembro e outubro. Confira os cinco primeiros entre os homens e entre as mulheres.
NOVE VAGAS GARANTIDAS
Ranking feminino
A meta foi cumprida. No Festival de Remo disputado em julho na Cidade do México, o Brasil garantiu nove vagas (quatro no feminino e cinco no masculino) para os Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015. Mais uma vez, o destaque da delegação nacional foi a catarinense Fabiana Beltrame, que conquistou o ouro, ao lado de Beatriz Cardoso, no double skiff peso-leve.
Brasil
320 pontos
EUA
305 pontos
Itália
252 pontos
China
229 pontos
Rússia
195 pontos
>SALTOS ORNAMENTAIS
Brasil
345 pontos
Rússia
342 pontos
Itália
286 pontos
EUA
183 pontos
Polônia
176 pontos
PARISI ChEGA À SEMIFINAL NA ChINA
O brasileiro Hugo Parisi terminou a Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, em Xangai, na China, em julho, na 13ª posição, como semifinalista da plataforma de 10 metros. Hugo marcou 408.75 pontos e ficou a uma posição da decisão que deu o ouro e a prata aos chineses. César Castro e Juliana Veloso participaram do trampolim de três metros e não passaram da fase eliminatória.
>TAE KWON DO
PF INVESTIGA CORRUPÇÃO DA CONFEDERAÇÃO Uma investigação da Polícia Federal do Rio identificou desvios de recursos na Confederação Brasileira de Tae kwon do. Para a polícia, há ndícios de irregularidades nas empresas contratadas pela confederação para o fornecimento de equipamentos esportivos. No final de julho, agentes apreenderam documentos em três endereços da CBTKd do Rio. Em tempo: a entidade é presidida por Carlos Luiz Fernandes, que tem sido alvo de denúncias desde 2010.
>TIRO
NA MIRA DO MUNDIAL Depois de uma disputa acirrada, foram definidos, em uma seletiva realizada no Rio, os nomes dos atletas que vão representar o Brasil no Campeonato Mundial de Tiro Esportivo, em setembro, em Granada, na Espanha. Nas provas de carabina 3 posições, carabina deitada e carabina de ar os vencedores foram, respectivamente, Cassio Rippel, Bruno Heck e Leonardo Moreira. Felipe Wu e Julio Almeida competirão na pistola de ar e pistola 50m,enquanto Emerson Duarte participará da prova
Ranking masculino
pistola tiro rápido. Além do direito de participar do Mundial, os seis somarão pontos importantes na briga por vagas para a Rio 2016.
>TIRO COM ARCO
UM TÉCNICO COM 12 RECORDES MUNDIAIS A Confederação Brasileira de Tiro com Arco contratou um dos melhores técnicos do mundo para preparar a seleção nacional para os Jogos de 2016. O italiano Renzo Ruele tem um currículo impressionante. Desde 1981, quando começou a atuar no ramo, Renzo jamais ficou uma temporada sem conquistar títulos. Atletas treinados por ele amealharam, nas três últimas décadas, 15 títulos mundiais, 21 campeonatos europeus e 201 italianos. Sob a orientação de Renzo, foram quebrados 12 recordes mundiais.
>TRIATLO
NOVOS ATLETAS EM RIO MAIOR A Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri) abriu inscrições para atletas interessados em integrar o Projeto Rio Maior, em Portugal, onde a entidade mantém um centro de desenvolvimento de ponta. Podem participar triatletas filiados, nascidos entre 1985 e 2000. Em Rio Maior, cidade de cerca de 12 mil habitantes, serão
oferecidos alojamento, alimentação, apoio logístico, apoio financeiro e toda a assessoria técnica e esportiva. O prazo limite para envio das candidaturas é 17 de agosto, pelo site cbtri. org.br. Os atletas selecionados devem ser conhecidos até 31 de outubro.
>TÊNIS
SOARES E MELO CONTINUAM NO TOP TEN Basta dar uma espiada no ranking mundial de duplas para entender por que é enorme a chance de o Brasil conseguir sua primeira medalha na história do tênis olímpico. De acordo com a mais recente lista da ATP, Bruno Soares é o terceiro melhor jogador de duplas do mundo e Marcelo Melo, o sétimo. Entre os dez primeiros, só dois países possuem dois representantes: Brasil e Estados Unidos. Os irmãos americanos Bob e Mike Bryan ocupam a primeira e a segunda posições.
>TÊNIS DE MESA
NEM A ALTITUDE SEGURA OS BRASILEIROS Três ouros e dois bronzes. Este foi o saldo da participação brasileira no Festival Esportivo Pan-Americano, realizado no México, em julho. Os resultados chamam a atenção porque, ao contrário dos adversários, o Brasil nem sequer levou sua equipe principal ao torneio. Além disso, um surto de diarreia prejudicou o desempenho da delegação nacional e alguns atletas sofreram os efeitos negativos da altitude.
>VELA
FILME RETRATA RELAÇÃO DO BRASILEIRO COM O MAR Se você é apaixonado por cinema em particular e por esportes em geral, vale a pena assistir ao documentário “Mar Me Quer”, que conta a história da relação do brasileiro com o mar desde a chegada das naus portuguesas até as conquistas de velejadores como Torben Grael e Robert Scheidt, entrevistados no filme. Dirigido por Isabella Nicollas, o documentário teve préestreia em julho,em Ilhabela.
>VÔLEI DE PRAIA
PUBLICIDADE EM ALTA Depois da Copa, os patrocinadores começam a ampliar seus investimentos nos atletas olímpicos. Poucos dias após a ridícula eliminação brasileira para a Alemanha, a Nike apresentou o filme publicitário “O Amanhã Começa Agora”. A propaganda traz vários competidores brasileiros de ponta, em cenas que procuram fisgar o espectador pelo lado emocional. No vôlei de praia, as escolhidas foram as irmãs Maria Clara e Carol, que nos últimos anos têm se mantido entre as dez primeiras do ranking mundial.
PÁGINA DOURADA Conquistas que entraram para a história Vera Lynn
O QUEBRADOR DE RECORDES Vera Lynn
Oliver Quinto
TEXTO
ARTE
Durante muito tempo, ninguém saltou tão alto e atacou com tanta velocidade quanto o craque do vôlei Marcelo Negrão
MARCELO NEGRÃO NASCE EM SÃO PAULO, NO DIA 10 DE OUTUBRO DE 1972. AOS 2 ANOS, SE MUDA COM A FAMÍLIA PARA RECIFE. É NAS PRAIAS DA CAPITAL PERNAMBUCANA QUE COMEÇA A DAR, NAS BRINCADEIRAS COM O PAI, AS PRIMEIRAS CORTADAS.
AOS 10 ANOS, JÁ COM 1,80 METRO DE ALTURA, INICIA OS TREINOS DE VÔLEI NO COLÉGIO BOA VIAGEM. AOS 15, DURANTE O CAMPEONATO BRASILEIRO INFANTOJUVENIL, CHAMA A ATENÇÃO DE OLHEIROS E É CONVIDADO A JOGAR PELO ESPORTE CLUBE BANESPA. NO BANESPA, SE TORNA UM FENÔMENO. O CLUBE GANHA TUDO NO VÔLEI NACIONAL E NEGRÃO É CONVOCADO PARA A SELEÇÃO BRASILEIRA PRINCIPAL COM APENAS 17 ANOS. É SEU PRIMEIRO RECORDE: ATÉ ENTÃO, ERA O JOGADOR MAIS JOVEM A DEFENDER A SELEÇÃO ADULTA.
AOS 19 ANOS, JÁ COM 2 METROS DE ALTURA, VAI PARA A OLIMPÍADA DE BARCELONA. NUM TIME COM ESTRELAS COMO CARLÃO, MAURÍCIO E GIOVANE, PASSA A SER UMA DAS REFERÊNCIAS. FAZ O PONTO DO TÍTULO INÉDITO PARA O BRASIL E É ELEITO O MELHOR ATACANTE DO MUNDO.
EM 1993, CONQUISTA A LIGA MUNDIAL E CRAVA DUAS MARCAS ESPETACULARES. QUANDO SALTA PARA ATACAR, ATINGE A BOLA A 3,6 METROS DO CHÃO, MAIS DO QUE QUALQUER OUTRO JOGADOR. A VELOCIDADE DA BOLA EM SUAS CORTADAS CHEGA A 150 KM/H. OS RECORDES DE IMPULSÃO E VELOCIDADE DE ATAQUE ENTRAM PARA O "GUINNESS BOOK" E NEGRÃO É ELEITO O MELHOR JOGADOR DO MUNDO.
PARA O TÉCNICO JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES, ELE É UM DOS TRÊS MELHORES JOGADORES DA HISTÓRIA DO VÔLEI BRASILEIRO.
A PARTIR DE 1994 FAZ CARREIRA VITORIOSA POR DIVERSOS CLUBES BRASILEIROS E NA ITÁLIA. NUMA PARTIDA PELO CAMPEONATO ITALIANO, QUEBRA OUTRO RECORDE: COLOCA A BOLA 74 VEZES NO CHÃO.
NO FINAL DOS ANOS 90, A CARREIRA É PREJUDICADA POR UMA SÉRIE DE LESÕES. EM 2001, DURANTE UMA PARTIDA CONTRA A HOLANDA PELA LIGA MUNDIAL, ROMPE O TENDÃO PATELAR. FAZ TRÊS CIRURGIAS NO JOELHO. RECUPERADO DA LESÃO, VOLTARIA A JOGAR NA ITÁLIA E NO JAPÃO. EM 2009, ENVEREDA PARA O VÔLEI DE PRAIA, QUE PRATICA ATÉ HOJE.
ATUALMENTE, NEGRÃO DÁ CLÍNICAS DE VÔLEI E FAZ PALESTRAS MOTIVACIONAIS.
NÚMERO 18 ISTOÉ 2016
AGORA, ELES SÃO OS HERÓIS DEPOIS DA TRAGÉDIA DA SELEÇÃO NA COPA, ATLETAS OLÍMPICOS COMO O CAMPEÃO DA NBA TIAGO SPLITTER TÊM A OPORTUNIDADE DE RESTAURAR O ORGULHO NACIONAL
O QUE VEM POR AÍ Os favoritos, os azarões e as estrelas dos Mundiais de basquete e vôlei
AGOSTO/SETEMBRO 2014
A LAPA DE TODOS A diversidade, a bagunça e o amor no mais festeiro dos bairros cariocas ALMA NACIONAL Rodrigo Pessoa nasceu na França, cresceu na Bélgica, casou nos EUA e mora em Mônaco – mas é um dos brasileiros mais vitoriosos da história do esporte
Tiago Splitter com um pequeno fã em São Paulo
AGOSTO/SETEMBRO 2014 | Edição 18 | Ano 5 | www.istoe2016.com.br VENDA PROIBIDA – EXEMPLAR DE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ
RIO REDENTOR O que os Jogos de 2016 vão trazer de positivo para o esporte, a economia e a autoestima do País
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