INFRAESTRUTURA O BALANÇO COMPLETO DE TODAS AS OBRAS DA OLIMPÍADA
BONDINHO COMO A GESTÃO FAMILIAR QUEBROU E SALVOU UM DOS MAIS FAMOSOS CARTÕES-POSTAIS DO MUNDO
DEPOIS DE VENCER OSCAR PISTORIUS E QUEBRAR RECORDES MUNDIAIS, ALAN FONTELES PERDEU A MOTIVAÇÃO. ACOMPANHAMOS SUA DIFÍCIL JORNADA PARA REENCONTRAR AS VITÓRIAS E COMPETIR COM ATLETAS SEM DEFICIÊNCIA
ABRIL/MAIO 2014 Edição 20 | Ano 5 PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ • www.istoe2016.com.br 4 3 2 1 0 2 0 0 0
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
A UM PASSO DA GLÓRIA
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COM O IMPULSO DA PARTICIPAÇÃO NA OLIMPÍADA, O ESPORTE DA ELITE TRAÇA PLANOS PARA SE POPULARIZAR NO BRASIL
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MARTINE E KAHENA ESTRELAS MUNDIAIS DA VELA, ELAS JÁ CAPOTARAM O BARCO, MAS NÃO PERDERAM A POSE
GOLFE É POP
VENDA PROIBIDA
PACATO GIGANTE QUEM É FERNANDO REIS, O DOCE BRUTAMONTES DO LEVANTAMENTO DE PESO QUE É ÍDOLO DE UMA UNIVERSIDADE AMERICANA
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O ENIGMA DUDA POR QUE O BICAMPEÃO MUNDIAL INDOOR DE SALTO EM DISTÂNCIA AINDA NÃO BRILHOU AO AR LIVRE
expediente editor e diretor reSPonSÁvel doMingo alzugaray editora Cátia alzugaray PreSidente-executivo CaCo alzugaray diretor editorial Carlos José Marques diretor editorial-adjunto luiz Fernando sá diretor de redação aMauri segalla editor luCas Bessel editor de arte pedro Matallo editor-executivo de fotografia Cesar itiBerê editor de fotografia JuCa rodrigues colaBoradoreS
fotografia agência iStoÉ aPoio adMiniStrativo
TexTo: danielle sanCHes, Mariana BarBoza, natália Martino, natHalia zieMKieWiCz, raFael de pino, raFael Freire, renan rodrigues, renata Valério de Mesquita, rodrigo Cardoso, rodrigo lara, rodrigo riBeiro, Vera lynn FoTo: daryan dornelles, Felipe gaBriel, JayMe de CarValHo Jr., otáVio dias, produção: Cintia sanCHez ilusTração: oliVer quinto rePÓrtereS fotogrÁficoS: João Castellano, Masao goto Filho, pedro dias e rafael Hupsel gerente: Maria amélia scarcello SecretÁria: terezinha scarparo aSSiStente: Cláudio Monteiro auxiliar: lucio Fasan
Projeto grÁfico coPy-deSk e reviSão ServiçoS grÁficoS oPeraçõeS
venda avulSa logÍStica e diStriBuição de aSSinaturaS aSSinaturaS
ricardo van steen (colaborou Bruno pugens) lourdes Maria a. rivera, Mario garrone Jr., neuza oliveira de paula, regina Caetano e tamiris prystaj gerente induStrial: Fernando rodrigues
diretor: gregorio França seCretária assistente: yezenia palma gerente: renan Balieiro Coordenador de proCessos gráFiCos: Marcelo Buzzo analista: luiz Massa assistente: daniel asselta auxiliar: indianara andrade Coordenadoras de logístiCa e distriBuição de assinaturas: Karina pereira e regina Maria analista Jr.: denys Ferreira auxiliar: Cesar William operações lapa: paulo Henrique paulino gerente: luciano sinhorini coordenadoreS: Jorge Burgatti e ricardo augusto santos conSultoraS de MerchandiSing: alessandra silva e talita souza primo aSSiStenteS: Fábio rodrigo, ricardo souza e gislaine aparecida peixoto coordenadora: Vanessa Mira coordenadora-aSSiStente: regina Maria aSSiStenteS: denys Ferreira, Karina pereira e ricardo souza diretor de vendaS PeSSoaiS: Wanderlei quirino gerente adMiniStrativa de vendaS: rosana paal gerente de aSSinaturaS: pablo pizzutiello gerente de ProjetoS eSPeciaiS:
ebano gandini Junior diretor de teleMarketing: anderson lima gerente de atendiMento ao aSSinante: elaine Basílio gerente online e ParceriaS: solange Chiarioni gerente de aSSinaturaS (Sul): sidnei doMingues Caetano gerente geral de PlanejaMento e oPeraçõeS: reginaldo Marques gerente de oPeraçõeS e aSSinaturaS: Carlos eduardo panhoni gerente de teleMarketing: renata andrea gerente de call center: ana Cristina teen central de atendiMento ao aSSinante: (11) 3618.4566. de 2ª a 6ª feiraS daS 9h àS 20h30 outraS caPitaiS 4002.7334 deMaiS localidadeS: 0800-888 2111 (exceto ligaçõeS de celulareS) assine: www.aSSine3.coM.Br exemplar avulso: www.ShoPPing3.coM.Br Marketing
PuBlicidade
diretor: rui Miguel gerenteS: debora Huzian e Wanderley Klinger redator: Marcelo almeida diretor de arte: thiago parejo aSSiStenteS de Marketing: andreia silva e thaisa ribeiro
diretor nacional: José Bello souza Francisco diretor de PuBlicidade: Maurício arbex secretÁria da diretoria de PuBlicidade: regina oliveira gerenteS executivoS: eduardo nogueira, érika Fonseca, Fabiana Fernandes, Mara Beatriz Marques, luiz sergio siqueira e regiane Valente aSSiStenteS de PuBlicidade: Valéria esbano coordenadora adM. de PuBlicidade: Maria da silva aSSiStente adM. de PuBlicidade: ederson do amaral gerente de coordenação: alda Maria reis coordenadoreS: gilberto di santo Filho e rose dias contato: publicidade@editora3.com.br rio de janeiro - rj: diretor de PuBlicidade: expedito grossi. gerenteS executivaS: adriana Bouchardet, arminda Barone e silvia Maria Costa. coordenadora de PuBlicidade: dilse dumar. tel.: (21) 2107-6667. Fax: (21) 2107-6669 BraSÍlia - df: gerente: Marcelo strufaldi. tel.: (61) 3223-1205 / 3223-1207. Fax: (61) 3223-7732. aracaju - Se: pedro amarante • gabinete de Mídia • tel.: (79) 3246-4139 / 9978-8962 – BelÉM - Pa: glícia diocesano • dandara representações • tel.: (91) 3242-3367 / 8125-2751 – Belo horiZonte - Mg: Célia Maria de oliveira • 1a página publicidade ltda. tel./fax: (31) 3291-6751 / 9983-1783 – caMPinaS - SP: Wagner Medeiros • parlare Comunicação integrada • tel.: (19) 8238-8808 / 3579-8808 – curitiBa - Pr: Maria Marta graco • M2C representações • tel./fax: (41) 3223-0060 / 9962-9554 – florianÓPoliS - Sc: anuar pedro Junior e paulo Velloso • Comtato negócios • tel.: (48) 9986-7640 / 9989-3346 – fortaleZa - ce: paulo temóteo • estação de Mídia • tel.: (85) 3021-0735 / 9991-4029 – goiÂnia - go: paula Centini e olímpio Cardoso • Centini y Cardoso • tel./fax: (62) 9221-5575 / 8152-1606 / 3954-9583 – Porto alegre - rS: roberto gianoni, thiago soll • rr gianoni Comércio & representações ltda • tel./fax: (51) 3388-7712 / 9985-5564 / 8157-4747 – recife - Pe: andré nicéas e eduardo nicéas • nova representações ltda • tel./fax: (81) 3227-3433 / 9164-1043 / 9164-8231 – riBeirão Preto - SP: andréa gebin • parlare Comunicação integrada • tel.: (16) 3236-0016 / 8144-1155 – Salvador - Ba: andré Curvello • aC Comunicação • tel./fax: (71) 3341-0857 / 8166-5958 – Vila VelHa - es: didimo effgen • dicape representações e serviços ltda • tel./fax: (27) 3229-1986 / 8846-4493 – internacional: gilmar de souza Faria • gsF representações de Veículos de Comunicações ltda • tel.: 55 (11) 99163-3062 Marketing PuBlicitÁrio: diretora: isabel povineli. gerente: Maria Bernadete Machado. aSSiStenteS: Marília trindade e Marília gambaro diretor de arte: Victor s. Forjaz redator: Bruno Módolo
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istoé 2016
O MÉRITO É DOS ATLETAS
As denúncias de corrupção na Confederação Brasileira de Vôlei, que resultaram na queda de seu presidente, o discreto mas astuto Ary Graça, levaram a um questionamento. Muita gente anda se perguntando se o Brasil seria a maior potência mundial desse esporte caso os dirigentes da CBV não tivessem capturado (de patrocinadores, de governos, das emissoras de tevê) milhões de reais. Hábeis nessa prática e com um caminhão de dinheiro à disposição, os gestores da Confederação – e só eles – fizeram do vôlei, até então desprezado pela maioria dos brasileiros, a segunda força esportiva do País, atrás do futebol. Pelo menos essa é a versão que corre por aí. Mas foram eles mesmos os maiores responsáveis pela façanha? A Confederação Brasileira de Vôlei não merece todo o crédito. É inegável que a CBV praticamente inventou o marketing esportivo no Brasil. É legítimo dizer que parcerias com a iniciativa privada deram frutos. É verdade que boas ideias, como a construção de um centro de excelência em Saquarema, no Rio, foram tão eficientes que acabaram replicadas por outras confederações. O que não faz sentido é afirmar que o vôlei só se tornou um gigante graças aos dirigentes e às fortunas manipuladas pela Confederação. Mais grave ainda: li alguns malucos declararem que a corrupção é a mãe de todas as conquistas do vôlei nacional. Nos últimos 30 anos, ninguém, de qualquer esporte, venceu tantas competições quanto as seleções masculina e feminina de vôlei. Em Mundiais, foram 4 ouros, 3 pratas e 2 bronzes. Em Olimpíadas, 2 ouros, 2 pratas e dois bronzes. Somadas as conquistas da Liga Mundial, no masculino, e do Grand Prix, no feminino, o vôlei detém 18 títulos e 9 vice-campeonatos. Os maiores responsáveis por essas vitórias são os atletas – e não os dirigentes corruptos. Sem William, Renan e Montanaro, o vôlei brasileiro continuaria no jardim da infância, a despeito de todo o dinheiro do mundo. A geração deles inspirou outras e estas, as próximas, e é assim até hoje. A história extraordinária dos atletas está acima dos corruptos. Que eles sejam punidos. Aos jogadores, o respeito que merecem. Amauri Segalla, diretor de redação asegalla@istoe.com.br No site: www.istoe2016.com.br No iPad: baixe gratuitamente na App Store
editorial
Formado em jornalismo pela PUC de Campinas, Jayme se especializou em fotojornalismo, retratos e fotografia documental. No Brasil, atuou como repórter fotográfico no “Correio Popular” e na “Folha de S. Paulo”. Atualmente, vive em Nova York, onde trabalha como fotógrafo correspondente para alguns dos principais veículos da imprensa brasileira. A pedido da 2016, voou até St. Louis, no Missouri, para realizar o ensaio com o halterofilista Fernando Reis, que estuda em uma universidade local e é celebridade por lá.
REnAn RODRiguES
Nascido em São Paulo e formado em jornalismo pela Universidade Metodista, Renan Rodrigues trabalhou no extinto portal Click21, no IG e no UOL, no qual se especializou na cobertura dos preparativos para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016. É um dos autores do livro “Glamour e Boca do Lixo”, que conta histórias da prostituição na região central de São Paulo. Na 2016, fez um completíssimo levantamento sobre o andamento das obras esportivas e de infraestrutura para a Olimpíada do Rio.
nAtáLiA mARtinO
Depois de uma temporada vivendo em São Paulo, onde trabalhou na revista ISTOÉ, a jornalista Natália Martino voltou para Belo Horizonte, mas continua colaborando com as publicações da Editora Três. Nesta edição da 2016, ela assina a reportagem de capa, um perfil do paraatleta Alan Fonteles, que pretende competir contra velocistas sem deficiência ainda neste ano. Essa é uma das coisas que Natália mais gosta de fazer: contar histórias de pessoas inspiradoras, sejam elas celebridades ou anônimas.
FREDERiC JEAn
No País há mais de 30 anos, o fotógrafo nascido em Arles, na França, se encantou por histórias escondidas da realidade nacional. Ex-fotojornalista da "Folha de S.Paulo" e das revistas "Veja" e "Época", é atualmente editor de fotografia da ISTOÉ. Apaixonado por esportes de aventura, como ciclismo e windsurf, transforma seu hobby em imagens marcantes. O talento de Fred pode ser comprovado na capa deste exemplar da 2016, com o paraatleta Alan Fonteles. Com sensibilidade e muita paciência, ele conseguiu registrar imagens marcantes do esportista, normalmente avesso às câmeras.
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JAymE DE CARvALhO JR.
OtáviO DiAS
Baseado em São Paulo, o fotógrafo Otávio Dias tem larga experiência em produções de moda, publicidade e cinematografia. Mas sua verdadeira paixão é o golfe. Ao unir trabalho e prazer, ele consegue captar as mais belas imagens desse esporte. A pedido da 2016, Otávio realizou os ensaios com os golfistas Daniel Stapff e Victoria Lovelady, dois prováveis representantes do Brasil nos Jogos do Rio, que marcarão o retorno do golfe ao cronograma olímpico. O resultado, como se verá nas páginas da 2016, é de cair queixos.
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COLABORADORES
PEDRO mAtALLO
Muito do que o leitor vê na 2016 só existe por causa do talento de Pedro Matallo, nosso editor de arte. Com a bagagem que só alguém que já passou por 14 redações tem, ele nunca deixa a revista “encaretar”. E Pedro vai além: nesta edição, viajou até Uberlândia, Minas Gerais, para fotografar os anões brasileiros que fizeram bonito no levantamento de peso no último campeonato mundial. Filho de um funcionário da ONU e de uma professora de psicologia – e casado com uma cantora de MPB –, ele respira arte e estilo. Da mesma maneira como combina cores, formas e imagens na revista, é o único ser humano capaz de usar tênis verde, meias vermelhas e calças azuis, ao mesmo tempo, sem ficar brega.
4 ExpEdiEntE 5 Editorial 8 ColaboradorEs
SeçõeS
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Clique OlímpiCO O tombo e a solidão nos Jogos de Inverno de Sochi
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AqueCimentO Um diagnóstico completo da situação de todas as obras da Olimpíada de 2016
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entrevistA: KAtiA rubiO Pesquisadora da USP e autora do mais completo estudo sobre o esporte olímpico brasileiro diz que o legado dos Jogos deve ser para os atletas
RePORTAGeNS
34 A lutA de AlAn
Como Alan Fonteles, a estrela paraolímpica brasileira que derrotou Oscar Pistorius, tenta colocar a cabeça no lugar para, em 2014, competir contra atletas sem deficiência
42 pArA sAir dO CAmArOte
Com o impulso ganho pelo retorno ao cronograma olímpico, o golfe, esporte das elites, quer angariar adeptos e crescer no País
50 Além dA genétiCA
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perfOrmAnCe As melhores câmeras e acessórios para gravar seu desempenho esportivo e se tornar uma celebridade da internet
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COnCentrAçãO Os points musicais do Rio de Janeiro para quem gosta de samba, rock, funk, charme, dança de salão...
56 vOA, rApAz
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pAinel Demitido de clube nos Emirados Árabes Unidos, Giba tira férias forçadas. Não que ele tenha se importado muito
62 ele pegA pesAdO
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páginA dOurAdA A vida de Edvaldo Valério, primeiro e único negro brasileiro a ganhar uma medalha na natação
Martine Grael e Kahena Kunze, filhas de gente do mar, mostram que o talento para a vela vai muito além da herança de família
76 telA pArA O mundO
Como a japonesa Panasonic faz para registrar e transmitir as mais belas imagens dos Jogos Olímpicos
80 vidA de CArtãO-pOstAl
As histórias do bondinho do Pão de Açúcar, no Rio, empreendimento que quase quebrou e acabou salvo graças à administração familiar
86 mire-se nO exemplO
As lições que os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia, podem ensinar ao Brasil. Ainda dá tempo
As estratégias de Duda, bicampeão do salto em distância indoor, para ganhar títulos também nas competições ao ar livre Quem é Fernando Reis, o gigante do levantamento de peso brasileiro que virou ídolo de uma universidade americana
68 pequenA esperAnçA
Anões de Uberlândia brilham no halterofilismo e querem buscar uma inédita medalha para o País nos Jogos Paraolímpicos
73 lOnge dOs hOlOfOtes
Na Copa do Mundo de 2014, a bola Brazuca quer fugir da (má) fama que marcou sua antecessora, a Jabulani
índiCe Foto: pedro Matallo
CliqueOlímpicO imagens surpreendentes dO espOrte
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ImensIdão branca O esporte pode ser solitário – o japonês Kozo Kubo sabe muito bem disso. Durante sua tentativa de completar a prova de 15 km do esqui cross-country sentado, na Paraolimpíada de Inverno de Sochi, na Rússia, não se via nenhum outro atleta em seu horizonte. O olhar cansado de Kubo, já na parte final da competição, demonstra a dificuldade desse esporte, em que é preciso mover todo o peso do corpo sobre a neve apenas com o impulso dos braços. Para o japonês, o dia não foi dos melhores. Os 46m03s que ele levou para completar o percurso lhe renderam apenas o 14º lugar, uma posição à frente do brasileiro Fernando Rocha (com 49m31s). A redenção viria no biatlo: na prova de 7,5 km, Kubo ficou com o bronze. E comemorou com muita gente ao seu redor.
Foto: Mark Kolbe/Getty
CliqueOlímpicO imagens surpreendentes dO espOrte
a queda Três voltas e meia no ar. Uma manobra ousada. Zero medalha. Annalisa Drew, dos Estados Unidos, estava na final do esqui estilo livre halfpipe nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia. Na primeira descida, conseguiu nota 66,40. Razoável, mas pouco para brigar pelo pódio. Na segunda tentativa, decidiu ousar: tentou um 1260, movimento que consiste em girar três vezes e meia no ar ao redor do próprio eixo antes de tocar o solo novamente. Desastre. Annalisa atingiu a borda do halfpipe e caiu. “Não tinha nada a perder”, disse mais tarde. Mas o que faltou para completar a difícil manobra? “Não atingir a borda”, afirmou, entre risos. Ajudou a manter o bom humor o fato de a medalha de ouro ter ido para uma conterrânea de Annalisa. A americana Maddie Bowman marcou 89 pontos para conquistar o primeiro lugar.
Foto: Cameron Spencer/Getty
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ONDE ESTAMOS, PARA ONDE VAMOS A POUCO MAIS DE DOIS ANOS DO INÍCIO DOS JOGOS DO RIO, A 2016 FEZ UM BALANÇO COMPLETO DO ANDAMENTO DAS OBRAS ESPORTIVAS E DE INFRAESTRUTURA URBANA. CONFIRA NESTA E NAS PRÓXIMAS PÁGINAS POR RENAN RODRIGUES
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oNDe estamos, PaRa oNDe Vamos a PouCo mais de dois anos do inÍCio dos Jogos do rio, a 2016 Fez um balanço ComPleto do andamento das obras esPortiVas e de inFraestrutura urbana. ConFira nesta e nas PróXimas Páginas
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sINal VeRmelHo sINal amaRelo sINal VeRDe
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BrT TrAnsBrAsil
Trem-BAlA
A linha de ônibus expresso que ligará o centro do Rio ao Complexo de Deodoro só ficará pronta após os Jogos de 2016. O projeto foi alterado com o aumento de terminais e o edital, que deveria ter sido lançado há oito meses, ainda não saiu do papel. Durante a Olimpíada, linhas de ônibus especiais e trens da SuperVia farão a ligação entre as duas regiões. A Transbrasil deve transportar 900 mil pessoas por dia e foi inicialmente orçada em R$ 1,5 bilhão, mas o valor final deve ser maior.
O leilão para definir a empresa que construirá o Trem de Alta Velocidade (TAV) já foi adiado em três oportunidades e só deve ser realizado em novembro deste ano. A ligação rápida entre Rio, São Paulo e Campinas, inicialmente prevista para operar na Olimpíada, teve a licitação cancelada pelo governo federal. Apenas uma empresa se interessou pelo projeto e novos estudos foram encomendados. O custo inicial do sistema de trens é de R$ 33 bilhões e a estimativa é de que ele só fique pronto em 2020.
lAdeTeC
esTádio de remo
O laboratório indicado no dossiê de candidatura para realizar os exames antidoping da Olimpíada é uma das dores de cabeça do comitê rio-2016. Além de ter perdido o credenciamento da Wada (Agência Mundial Antidoping), após três erros em testes no ano passado, um relatório do Tribunal de Contas da União apontou sobrepreço na reforma do edifício, que custou R$ 13 milhões. O laboratório carioca não poderá ser utilizado durante a Copa do Mundo e tentará ser recadastrado pela agência mundial no final de 2015, a menos de um ano dos Jogos Olímpicos.
O palco das provas de remo e canoagem de velocidade na Lagoa Rodrigo de Freitas ainda não tem orçamento final nem sequer previsão de início das obras. será preciso construir uma nova torre de chegada, garagem para barcos e área para acomodação dos atletas visando a olimpíada. Além disso, arquibancadas temporárias para dez mil pessoas serão erguidas em área anexa. Na matriz de responsabilidades, divulgada pelo governo federal, em janeiro deste ano, o projeto tem nota 2 em uma escala que vai até 5 e mede o andamento das obras.
PArque dos ATleTAs
sAmBódromo
Primeira obra dos Jogos de 2016 a ser concluída, a área de 150 mil metros quadrados foi inaugurada em agosto de 2011 e servirá como local de lazer das delegações durante a competição. Uma ponte ligará o parque à Vila dos Atletas, que será construída no terreno da frente. O espaço, com capacidade para 100 mil pessoas, custou R$ 44 milhões aos cofres do município carioca e conta com quadras de tênis, muros de escalada, parque infantil, ringue de patinação, academias de ginástica e ciclovia.
O palco que tradicionalmente recebe os desfiles de Carnaval do Rio já está pronto para a olimpíada. O lado direito das arquibancadas foi ampliado, como previa o projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer, aumentando a capacidade de público para 72.500 torcedores. As estruturas e fundações existentes também foram reformadas e entregues no final de 2012. O Sambódromo receberá as competições de tiro com arco, além da largada e da chegada da maratona.
aquecimento
como estão as INstalaÇÕes esPoRtIVas
CoTs (CenTros olímPiCos de TreinAmenTo)
Velódromo Totalmente coberto, com capacidade para 5 mil assentos fixos e até 800 temporários, o Velódromo começou a ser construído em fevereiro deste ano. A área será fixa e fará parte do primeiro Centro olímpico de Treinamento (CoT) do País. Localizado no Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, o local das provas de ciclismo de pista e do paraciclismo de pista terá teto curvo e é projetado para obter a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), sistema que busca reduzir o impacto ambiental. A arena poderá reutilizar água da chuva, por exemplo. A construção do Velódromo foi necessária porque a estrutura erguida para o Pan de 2007 não atendia aos requisitos da Federação Internacional de Ciclismo. O custo total é de R$ 143 milhões.
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CenTro de Tênis As obras começaram em novembro de 2013 e a previsão é de que o Centro de Tênis, que integra o Parque Olímpico, esteja pronto no 3º trimestre de 2015. Serão construídas 16 quadras, das quais metade será provisória para a competição e a maior terá capacidade para dez mil espectadores. Outras duas terão lugar para 5 mil e 2 mil pessoas. O espaço será utilizado para treinamento de atletas brasileiros após a Olimpíada, integrado ao futuro COT (Centro Olímpico de Treinamento). A verba de r$ 175,5 milhões para a construção do complexo, localizado na Barra da Tijuca, foi paga pelo governo federal e inclui as estruturas de arquibancadas temporárias e elevadores das quadras menores. A operação e a manutenção desse centro também serão realizadas pelo consórcio vencedor (Ibeg/Tangran/ Damian) até maio de 2017. Além de receber as competições do tênis nos Jogos Olímpicos, o complexo será palco das provas de tênis em cadeira de rodas e do futebol de 5 nos Jogos Paraolímpicos.
eles são considerados os maiores legados esportivos para o País após os Jogos. Serão construídas três arenas permanentes que, posteriormente, devem se transformar em local de treinamento para 12 modalidades olímpicas. O Hall 1 sediará as provas de basquete na Olimpíada, além do basquete e do rúgbi em cadeira de rodas na Paraolimpíada. A capacidade será de 16 mil lugares, sendo 5 mil assentos permanentes. O Hall 2 será palco do judô e da luta olímpica, além da bocha e do judô na Paraolimpíada. Serão 10 mil assentos permanentes, mesmo número do Hall 3, que terá disputas de tae kwon do, esgrima e vôlei sentado. A obra é uma das mais avançadas, tendo sido iniciada em julho do ano passado. As estacas dos futuros ginásios já foram colocadas e a expectativa é que o projeto seja entregue até o 3º trimestre de 2015. Os recursos das obras vieram de uma PPP entre prefeitura e as construtoras Carvalho Hosken e Andrade Gutierrez. O valor está incluído na construção de todo o Parque Olímpico, que custará R$ 1,6 bilhão. Apenas o orçamento dos COTs não foi informado pelo governo federal na matriz de responsabilidades.
PArque AquáTiCo mAriA lenk O parque aquático localizado na Barra da Tijuca foi construído em 2007 para o Pan-Americano, mas não poderá receber as competições de natação na Olimpíada. Além de ser descoberto, a capacidade mínima exigida pelo COI para finais da modalidade é de 15 mil pessoas (a arena comporta 6,5 mil). Sem o esporte aquático de maior apelo, a instalação sediaria o polo aquático, mas o planejamento foi alterado no ano passado. Agora, o Maria Lenk receberá o nado sincronizado e os saltos ornamentais. As principais alterações serão a construção de uma nova piscina de aquecimento, melhorias na iluminação, troca de revestimentos da torre de saltos e criação de um deck ligando a área de preparação ao local das provas. Uma empresa já foi contratada para realizar o projeto arquitetônico. Nova licitação será aberta pela prefeitura carioca para escolher o responsável pela obra. Ainda não há orçamento definido para as readequações, que no dossiê de candidatura eram estimadas em r$ 29,6 milhões. O espaço será usado posteriormente para treinamento de atletas de alto rendimento.
istoé 2016 Fotos: divulgação/reprodução
ArenA de hAndeBol A expectativa da prefeitura era de que as obras começassem no início de abril, mas problemas na licitação devem atrasar o cronograma. Na primeira concorrência, a empresa Sanerio foi a única interessada em realizar a arena, que custará r$ 178 milhões e será paga pelo governo federal. O problema é que a companhia foi desclassificada por não apresentar certificações técnicas para obras olímpicas. Para resolver o problema, a prefeitura dispensou a licitação e convidou interessadas no projeto. Venceu a empresa Dimensional. A arena será provisória, com capacidade para 12 mil espectadores. As instalações serão desmontadas e transformadas em quatro escolas com capacidade para 500 alunos cada uma. A primeira ficará perto do Parque Olímpico. Outra será montada na avenida Salvador Allende, também na Barra. A terceira atenderá parte dos moradores da Vila Autódromo, removidos para o projeto e que serão realocados no Parque Carioca. A quarta escola será montada em São Cristóvão. CenTro de esPorTes AquáTiCos Assim como a Arena de Handebol, o Centro Aquático será uma estrutura temporária dentro do Parque Olímpico. o onda Azul, consórcio vencedor da licitação, terá que construir uma arquibancada de 18 mil lugares e duas piscinas olímpicas (uma de competição e outra para aquecimento), além de fazer a desmontagem dos equipamentos após os Jogos. O governo federal, que banca a obra, ainda não definiu para onde as estruturas serão levadas após 2016. As piscinas podem ser remontadas em outros ginásios, já que são feitas de estruturas metálicas modulares. A estrutura externa do Centro Aquático seria permanente e utilizada no Centro Olímpico de Treinamento, segundo o dossiê de candidatura. Prefeitura e União, porém, optaram por reduzir os custos e realizar toda a obra com caráter móvel. O projeto custará R$ 225,3 milhões e está previsto para começar até o 2º semestre deste ano. O prazo de conclusão é até março de 2016. Além das competições de natação, tanto na Olimpíada quanto na Paraolimpíada, o Centro Aquático receberá a fase final do polo aquático.
ArenA de deodoro O ginásio sediará as provas de esgrima do pentatlo moderno e esgrima em cadeira de rodas, mas ainda não saiu do papel. A arena faz parte do Complexo de Deodoro, uma das obras mais atrasadas do Rio de Janeiro para a Olimpíada. O projeto trocou de mãos duas vezes, sendo repassado do governo federal para o Estado. Em agosto do ano passado, foi assumido pelo município. serão 5 mil lugares, sendo 3 mil desmontáveis para redução de custos. Após a competição, duas quadras poliesportivas ficarão como legado para treinamento. O ginásio, que também receberá competições de basquete, terá cobertura em estrutura metálica modular, com 108 metros de largura e 70 metros de comprimento. Pressionada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), a prefeitura corre para iniciar as obras ainda neste ano, mas não há orçamento para o projeto nem edital para definir a empresa responsável pela construção. No dossiê de candidatura, a expectativa era de que a arena custasse R$ 92 milhões, valor que deve aumentar. Os recursos serão repassados pelo governo federal ao município. CirCuiTo de CAnoAGem slAlom A prova do slalom, em que canoístas devem passar por obstáculos no menor tempo, quase foi transferida para Foz do Iguaçu, no Paraná. Lá já existe um circuito aprovado pela Confederação Brasileira de Canoagem, mas os custos para adequação da instalação fizeram o governo federal mudar de ideia e optar por um espaço permanente no Rio. A solução encontrada para diminuir o gasto foi reduzir em 40% o tamanho do traçado originalmente projetado, medida aprovada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). Após a olimpíada, o espaço será utilizado para treinamento de atletas de alto rendimento selecionados pelo ministério do esporte e para o lazer da população. Assim como os demais projetos de Deodoro, a obra está com cronograma apertado e ainda não saiu do papel. A prefeitura espera lançar a licitação e começar a construção do circuito ainda neste ano. O orçamento ainda é uma incógnita, assim como a capacidade das arquibancadas. No dossiê de candidatura, em 2008, o custo projetado era de R$ 61,8 milhões, com 8 mil assentos.
CenTro olímPiCo de BmX Será a principal instalação do futuro Parque Radical, dentro do Complexo de Deodoro. A pista de BMX terá de 300 a 400 metros e ficará como legado para treinamento de atletas de alto rendimento e utilização da população. As áreas de apoio e a arquibancada, com capacidade para 7,5 mil pessoas, serão temporárias. Junto do BMX, a pista de treinamentos de mountain bike e a arena de canoagem slalom irão compor o parque de incentivo aos esportes radicais para comunidades da região. A situação do projeto é a mesma das demais instalações de Deodoro: ainda não foi iniciada e terá prazo apertado para ser entregue até 2016. O governo federal irá repassar a verba e a execução será de responsabilidade da prefeitura, que ainda não lançou concorrência para escolher a empresa que tocará o circuito. A modalidade é considerada uma das mais baratas e estará pela segunda vez no programa dos Jogos olímpicos. No dossiê de candidatura, o projeto foi orçado em R$ 24,4 milhões, mas o valor deve ser atualizado nos próximos meses. istoé 2016
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aquecimento
CirCuiTo de mounTAin Bike A pista com seis quilômetros de extensão será construída dentro do Parque Radical, em Deodoro, assim como as arenas de BMX e canoagem slalom. Ao contrário das outras duas, porém, as arquibancadas e estruturas principais da disputa serão temporárias e desmontadas após a Olimpíada. A ideia é que apenas o percurso de treinamento (menor e menos técnico) seja mantido depois de 2016. Ele será aberto à população e utilizado para atividades de atletas de alto rendimento. O circuito da prova terá elevações de 20 a 100 metros e arquibancadas com capacidade para 5 mil espectadores. Além disso, os segmentos utilizados permitirão que os competidores passem na frente do público mais de uma vez. O custo projetado no dossiê de candidatura era de R$ 16,8 milhões, valor que será atualizado. O espaço não será utilizado na Paraolimpíada e a obra será bancada pelo governo federal, com execução do município. A licitação para definir a empresa responsável pela construção ainda não foi aberta.
ArenA de PenTATlo moderno e rÚGBi A possibilidade de o pentatlo moderno ficar fora do programa olímpico provocou uma queda de braço entre comitê organizador e COI na construção da arena. A entidade internacional queria que o Rio construísse um estádio para abrigar as cinco provas do esporte (esgrima, natação, tiro, corrida e hipismo), reduzindo os deslocamentos e permitindo que o público acompanhasse a disputa em apenas um local. A decisão, porém, foi manter o escopo do dossiê de candidatura e desmembrar as modalidades, que também serão disputadas no Centro Aquático de Pentatlo e na Arena de Esgrima. o local terá as disputas de hipismo, corrida e tiro do pentatlo, além de receber os jogos de rúgbi e de futebol de 7 (Paraolimpíada). As arquibancadas móveis terão capacidade para 15 mil pessoas e serão erguidas onde atualmente há um campo de polo, que voltará a funcionar após a Olimpíada. A obra será bancada pelo governo federal e executada pelo município, em licitação ainda não realizada. Em 2008, a previsão era de que a instalação custasse R$ 20 milhões aos cofres públicos. CenTro nACionAl de Tiro um dos raros legados do Pan-Americano de 2007, o Centro nacional de Tiro passará por readequações para a olimpíada. Boa parte da estrutura física está pronta, como alvos eletrônicos, transportadores de alvos e plataformas para a realização do tiro skeet e da fossa. A principal obra será a colocação de arquibancadas móveis com capacidade para até 2 mil espectadores. Outra necessidade é a montagem de um estande maior para finais, que deverá ter a área mínima de 1.250 metros quadrados, espaço que não é utilizado regularmente fora das competições olímpicas. O valor atualizado das readequações ainda não é conhecido e será pago pela União. O custo para as obras no dossiê de candidatura é de R$ 15 milhões. A prefeitura será responsável por licitar a empresa que fará o serviço e espera iniciar as obras ainda neste ano. O espaço é utilizado atualmente pelo Exército Brasileiro e como local de treinamento e competições para atletas de alto rendimento. O Centro de Tiro seguirá com esta finalidade após os Jogos. CenTro nACionAl de hiPismo Outra obra do Complexo de Deodoro que será reaproveitada após uso no Pan-Americano de 2007. As readequações serão maiores e mais caras que no Centro de Tiro. A capacidade das arquibancadas será expandida para 14 mil lugares. A pista principal, de aquecimento, o picadeiro coberto para adestramento e o circuito de obstáculos naturais para o cross country também passarão por adaptações para cumprir exigências do COI. A área total do equipamento é de 82 mil metros quadrados. No ano passado, atrasos em reformas cancelaram um evento teste para a Olimpíada: o Athina Onassis não foi realizado por “dificuldades no cumprimento do cronograma de obras”, segundo a organização do evento. Ainda não foi definida a empresa que realizará as reformas na arena. A verba é do governo federal e a execução é de responsabilidade da prefeitura. A previsão de custos no dossiê de candidatura de 2008 para o projeto era de R$ 40,6 milhões. Após os Jogos, o local seguirá com a finalidade atual: espaço para treinamento de atletas e uso da Escola de Equitação do Exército Brasileiro.
CenTro olímPiCo de hóquei O esporte seria inicialmente disputado no Parque Olímpico, mas foi transferido para o Complexo de Deodoro, que se consolidou como segunda área mais importante da cidade nas Olimpíadas. Já existe um campo no local, utilizado no Pan-Americano de 2007, mas o centro esportivo será reformado para atender aos requisitos da federação internacional da modalidade. O local também sediará as competições paraolímpicas de futebol de 5 e de 7. Serão utilizados dois campos com capacidade permanente para 10 mil e 5 mil espectadores. o Centro de hóquei será mantido como parte do CoT (Centro olímpico de Treinamento) após a olimpíada. A reforma ainda não foi licitada e não há orçamento para o projeto. A construção de um campo temporário de hóquei no Parque Olímpico era orçada em R$ 24,6 milhões no dossiê de candidatura.
mArinA dA GlóriA
enGenhão
O local de disputa da vela vive uma novela. o grupo mGX, do empresário eike Batista, desistiu do projeto de uma casa de shows, restaurantes e lojas. A concessão do espaço foi vendida à empresa BR Marinas. A nova proprietária, que ainda não assumiu oficialmente o porto particular, também planeja alterações, mas precisa de autorização dos usuários e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para avançar nas readequações. Segundo o comitê organizador, as obras não impactam na disputa da Olimpíada. O que será preciso construir é uma arquibancada móvel para 10 mil espectadores, além de adequar a rampa de acesso dos barcos à água. O problema é que ainda não ficou decidido quem arcará com os gastos, qual será o orçamento e nem a data de início das modificações. Além disso, a Baía de Guanabara precisa ser despoluída.
O palco das provas de atletismo segue fechado desde março de 2013 e é alvo de uma série de intervenções do município. A primeira delas, que corrigirá o problema de deslocamento da cobertura, será entregue ainda neste ano, reabrindo o estádio para jogos de futebol. Mas é do lado de fora que grande parte das modificações ocorrerá. Um viaduto foi entregue no final de 2012 e uma nova avenida será aberta para aumentar os acessos. Galpões em um terreno ao lado serão transformados em praças. As ruas serão alargadas, repavimentadas e terão reparos na rede de drenagem. o projeto de reurbanização custa r$ 118 milhões, já começou e tem prazo de conclusão para o segundo trimestre de 2016. As mudanças do lado de dentro da arena ainda não têm orçamento e estão sendo projetadas por um escritório de arquitetura. Além de construir 15 mil assentos temporários, a prefeitura promete trocar as duas pistas de atletismo (principal e de aquecimento).
mArACAnã e mArACAnãzinho o estádio foi reformado por mais de r$ 1 bilhão e entregue à iniciativa privada em julho do ano passado. A concessão por 35 anos foi dada ao Complexo Maracanã Entretenimento S/A, que ficará responsável por obras como a construção de um estacionamento e um museu do futebol. Na Olimpíada, a arena receberá a abertura, o encerramento e os jogos do torneio de futebol. Em abril de 2013, o COI enviou uma carta ao Estado reclamando das medidas dos túneis de acesso ao campo e da cobertura. O governo rebateu dizendo que as exigências seriam negociadas com o COI e que uma nova reforma não será necessária. O Maracanãzinho, que sediará as competições de vôlei, também terá que encontrar alternativas. Duas quadras de aquecimento seriam construídas no terreno da escola municipal Friedenreich. O governador Sérgio Cabral, porém, desistiu de demolir o espaço, além do Parque Júlio Delamare e do estádio de atletismo Célio de Barros. Por isso, é possível que o aquecimento tenha de ser realizado em uma quadra fora dos padrões oficiais, que já existe no ginásio.
CAmPo de Golfe O esporte volta ao programa olímpico após 112 anos e a construção do campo se tornou motivo de batalha judicial. Apesar de a cidade já contar com dois clubes de golfe particulares, a prefeitura optou por erguer a nova instalação no Parque Marapendi, área de proteção ambiental na Barra da Tijuca, por meio de uma PPP. O dono do terreno e a construtora RJZ Cyrella foram autorizados a construir 22 prédios de 22 andares que serão comercializados. Como contrapartida, bancarão os R$ 60 milhões para a instalação esportiva, administrada pela prefeitura por 25 anos com promessa de utilização pública. As obras começaram em abril de 2013, mas podem ser paralisadas. o ministério Público do rio, que tem em mãos um laudo ambiental contrário ao projeto, pode ingressar com uma liminar pedindo a interrupção da construção. O campo está na penúltima fase das obras e o Rio corre contra o tempo para realizar um evento teste em agosto de 2015. A entrega do campo está marcada para o segundo trimestre de 2016.
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aquecimento
como estão as obRas De INFRaestRutuRa
VilA dos ATleTAs Um bairro dentro de outro. os 31 prédios residenciais de 17 andares, divididos em sete condomínios, serão a casa provisória de atletas e membros das delegações que estiverem na olimpíada do rio. O espaço está sendo construído em um terreno de cerca de 800 mil m², próximo ao Parque Olímpico e ao Parque dos Atletas. Os apartamentos de dois, três ou quatro quartos serão comercializados após a competição. Além dos edifícios, uma espécie de shopping center e um parque com cerca de 70 mil m² serão erguidos na Vila para atender atletas e futuros moradores. O custo total da Vila Olímpica é de R$ 2,9 bilhões e as obras devem ser concluídas até o final de 2015.
AeroPorTo do GAleão A expectativa de que o Aeroporto Internacional do Galeão estivesse pronto para a Copa do Mundo dois anos antes da Olimpíada não se confirmará. Todas as obras estão com o cronograma atrasado e parte delas nem ficará pronta para o evento da fifa. As reformas nos setores B e C do terminal 1 serão revistas com o consórcio Aeroporto do Futuro, vencedor da licitação realizada no fim de 2013. O grupo pode ter que assumir projetos que inicialmente eram de responsabilidade da União. A Infraero diz que o problema não afetará as operações durante a Copa. O órgão promete entregar até abril deste ano o setor A do terminal 1, além de todo o terminal 2. Com isso, a capacidade de atendimento subirá de 17,4 milhões de passageiros por ano para 43,2 milhões. Outras obras de responsabilidade da concessionária são prometidas para 2016, como a construção de um estacionamento, mais uma pista para aviões e novas pontes de embarque. O investimento total para os projetos dos dois terminais é de R$ 655 milhões. Já os investimentos do consórcio que administrará o Galeão por 25 anos são orçados em R$ 5,7 bilhões. desPoluiÇão de lAGoAs e dA BAíA de GuAnABArA A meta é ousada e foi prometida na candidatura do Rio de Janeiro: coletar e tratar 80% do esgoto que é despejado diariamente na Baía de Guanabara, palco das provas de vela. O projeto, de responsabilidade do Estado, está em andamento e é composto por 12 ações. As principais são a construção de cinco unidades de tratamento de rios da região, ampliação do tratamento de esgoto dos municípios da baixada fluminense e das ecobarreiras (espécie de grade que segura o lixo). Ecobarcos também estão sendo usados. eles possuem uma rede que limpa o espelho d'água durante a navegação. são três em operação atualmente e a expectativa é que 10 estejam funcionando até 2016. O investimento até agora ultrapassa R$ 2,5 bilhões. Na região Oeste, o projeto de despoluição das lagoas de Jacarepaguá e Barra da Tijuca ainda nem começou. O consórcio Lagunar venceu a licitação estadual em julho de 2013, mas a contratação ficou suspensa após denúncia de formação de cartel e só foi assinada em março deste ano. O grupo receberá R$ 673 milhões para fazer a dragagem de 5,7 milhões de metros cúbicos de sedimentos.
BrTs Se a Transbrasil pode não ficar pronta para a Olimpíada, outros três BRTs (Bus Rapid Transit) devem estar em operação durante os Jogos. O sistema será composto pela Transoeste, Transcarioca e Transolímpica, com ônibus circulando em faixas exclusivas. Os três itinerários estão atualmente em obras. A Transolímpica será a via mais utilizada na competição, ligando os principais centros esportivos da cidade, Barra da Tijuca e Deodoro. A previsão de conclusão é para janeiro de 2016. Já a Transoeste, que terá 56 quilômetros de extensão e ligará a Barra a Campo Grande, teve parte de seu trecho inaugurado. os usuários, porém, reclamam dos acidentes e dos ônibus lotados. Por fim, haverá a Transcarioca, que fará a conexão entre o Aeroporto do Galeão e a Barra, e que deveria ter sido entregue em dezembro de 2013. A obra atrasou e a expectativa é que o sistema, que terá 32 quilômetros, seja inaugurado no 2º trimestre deste ano, meses antes da Copa do Mundo. Os BRTs têm orçamento de R$ 5 bilhões, divididos entre investimentos do governo federal, do município e da iniciativa privada.
as 5 obRas que maIs eNcaReceRam até agoRa* Vila dos atletas VlT O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) é uma obra de mobilidade urbana para a região portuária e central inspirada nos antigos bondes cariocas. O sistema irá integrar áreas importantes da cidade que não são servidas por linhas de metrô atualmente, como o aeroporto Santos Dumont e a rodoviária Novo Rio. Os 32 trens utilizados terão capacidade para 415 passageiros e não contarão com fios suspensos, sendo alimentados por duas fontes de energia e um trilho energizado. Na Olimpíada, o VLT ligará a vila de árbitros e mídia (na região do Porto) ao Santos Dumont e ao sistema de transporte público da cidade. Ao todo, serão seis linhas, com quatro estações maiores e outras 42 locais de parada. O sistema terá 28 quilômetros e a expectativa é que transporte 285 mil passageiros por dia. As obras já começaram e o projeto deverá ser entregue no começo de 2016. O VLT está orçado em R$ 1,16 bilhão, sendo R$ 532 milhões do governo federal por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e R$ 632 milhões de uma PPP (Parceria Público-Privada) entre a prefeitura e o consórcio VLT Carioca, que administrará o sistema por 25 anos.
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Centro aquátiCo
3 PorTo mArAVilhA A recuperação da zona portuária é o maior projeto da cidade previsto no dossiê de candidatura. A região, porém, pode nem ser utilizada durante a Olimpíada. Ela iria abrigar a Vila de Árbitros e Mídia, mas a prefeitura deseja levar o empreendimento para Curicica. o motivo é a economia de até r$ 80 milhões, já que os quartos teriam que ser alugados da iniciativa privada durante a competição. A maioria dos projetos na região, porém, não tem relação direta com a competição olímpica. É o caso da demolição do Elevado da Perimetral, que será substituído por duas vias expressas. Outras obras como o Museu de Arte do Rio e a via Binária já foram entregues. A conclusão de todas as reformas está programada para 2016. O projeto custa R$ 8 bilhões e será bancado por uma PPP. O município vende autorizações para construção de prédios acima do limite de altura da região e o dinheiro é investido no projeto. A concessionária Porto Novo executa as construções e presta serviços públicos como coleta de lixo, iluminação e operação de trânsito por 15 anos.
meTrô A criação da linha 4 do metrô deve ajudar a desafogar o trânsito em direção à Barra da Tijuca, principal local de competições da Olimpíada. A via terá 16 quilômetros de extensão e ligará a estação General Osório, em Ipanema, na zona sul, ao Jardim Oceânico, no começo da zona oeste. o projeto conta com seis estações e prevê que mais de 300 mil pessoas utilizem o sistema diariamente, retirando 2 mil carros por hora das ruas no momento de pico. As escavações do trecho entre São Conrado e Barra já foram concluídas e a instalação dos trilhos deve começar em abril. A concessionária que administra a obra diz que o sistema entra em operação no primeiro semestre de 2016, após uma fase de testes. Os 15 trens que rodarão pela linha 4 já foram comprados de uma empresa chinesa. O valor da obra é de R$ 8,5 bilhões, sendo R$ 7,5 bilhões de responsabilidade do Estado e R$ 1 bilhão do consórcio Rio Barra. Com a nova linha, o passageiro poderá utilizar todo o sistema metroviário da cidade com uma única tarifa.
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BRT TRANSBRASIL
TREM-BALA
A linha de ônibus expresso que ligará o centro do Rio ao Complexo de Deodoro só ficará pronta após os Jogos de 2016. O projeto foi alterado com o aumento de terminais e o edital, que deveria ter sido lançado há oito meses, ainda não saiu do papel. Durante a Olimpíada, linhas de ônibus especiais e trens da SuperVia farão a ligação entre as duas regiões. A Transbrasil deve transportar 900 mil pessoas por dia e foi inicialmente orçada em R$ 1,5 bilhão, mas o valor final deve ser maior.
O leilão para definir a empresa que construirá o Trem de Alta Velocidade (TAV) já foi adiado em três oportunidades e só deve ser realizado em novembro deste ano. A ligação rápida entre Rio, São Paulo e Campinas, inicialmente prevista para operar na Olimpíada, teve a licitação cancelada pelo governo federal. Apenas uma empresa se interessou pelo projeto e novos estudos foram encomendados. O custo inicial do sistema de trens é de R$ 33 bilhões e a estimativa é de que ele só fique pronto em 2020.
LADETEC
ESTÁDIO DE REMO
O laboratório indicado no dossiê de candidatura para realizar os exames antidoping da Olimpíada é uma das dores de cabeça do comitê Rio-2016. Além de ter perdido o credenciamento da Wada (Agência Mundial Antidoping), após três erros em testes no ano passado, um relatório do Tribunal de Contas da União apontou sobrepreço na reforma do edifício, que custou R$ 13 milhões. O laboratório carioca não poderá ser utilizado durante a Copa do Mundo e tentará ser recadastrado pela agência mundial no final de 2015, a menos de um ano dos Jogos Olímpicos.
O palco das provas de remo e canoagem de velocidade na Lagoa Rodrigo de Freitas ainda não tem orçamento final nem sequer previsão de início das obras. Será preciso construir uma nova torre de chegada, garagem para barcos e área para acomodação dos atletas visando a Olimpíada. Além disso, arquibancadas temporárias para dez mil pessoas serão erguidas em área anexa. Na matriz de responsabilidades, divulgada pelo governo federal, em janeiro deste ano, o projeto tem nota 2 em uma escala que vai até 5 e mede o andamento das obras.
PARQUE DOS ATLETAS
SAMBÓDROMO
Primeira obra dos Jogos de 2016 a ser concluída, a área de 150 mil metros quadrados foi inaugurada em agosto de 2011 e servirá como local de lazer das delegações durante a competição. Uma ponte ligará o parque à Vila dos Atletas, que será construída no terreno da frente. O espaço, com capacidade para 100 mil pessoas, custou R$ 44 milhões aos cofres do município carioca e conta com quadras de tênis, muros de escalada, parque infantil, ringue de patinação, academias de ginástica e ciclovia.
O palco que tradicionalmente recebe os desfiles de Carnaval do Rio já está pronto para a Olimpíada. O lado direito das arquibancadas foi ampliado, como previa o projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer, aumentando a capacidade de público para 72.500 torcedores. As estruturas e fundações existentes também foram reformadas e entregues no final de 2012. O Sambódromo receberá as competições de tiro com arco, além da largada e da chegada da maratona.
As 5 obrAs que mAis encArecerAm Até AgorA* Vila dos atletas vlt O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) é uma obra de mobilidade urbana para a região portuária e central inspirada nos antigos bondes cariocas. O sistema irá integrar áreas importantes da cidade que não são servidas por linhas de metrô atualmente, como o aeroporto Santos Dumont e a rodoviária Novo Rio. Os 32 trens utilizados terão capacidade para 415 passageiros e não contarão com fios suspensos, sendo alimentados por duas fontes de energia e um trilho energizado. Na Olimpíada, o VLT ligará a vila de árbitros e mídia (na região do Porto) ao Santos Dumont e ao sistema de transporte público da cidade. Ao todo, serão seis linhas, com quatro estações maiores e outras 42 locais de parada. O sistema terá 28 quilômetros e a expectativa é que transporte 285 mil passageiros por dia. As obras já começaram e o projeto deverá ser entregue no começo de 2016. O VLT está orçado em R$ 1,16 bilhão, sendo R$ 532 milhões do governo federal por meio do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e R$ 632 milhões de uma PPP (Parceria Público-Privada) entre a prefeitura e o consórcio VLT Carioca, que administrará o sistema por 25 anos.
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3 Porto Maravilha A recuperação da zona portuária é o maior projeto da cidade previsto no dossiê de candidatura. A região, porém, pode nem ser utilizada durante a Olimpíada. Ela iria abrigar a Vila de Árbitros e Mídia, mas a prefeitura deseja levar o empreendimento para Curicica. o motivo é a economia de até r$ 80 milhões, já que os quartos teriam que ser alugados da iniciativa privada durante a competição. a maioria dos projetos na região, porém, não tem relação direta com a competição olímpica. É o caso da demolição do Elevado da Perimetral, que será substituído por duas vias expressas. Outras obras como o Museu de Arte do Rio e a via Binária já foram entregues. A conclusão de todas as reformas está programada para 2016. O projeto custa R$ 8 bilhões e será bancado por uma PPP. O município vende autorizações para construção de prédios acima do limite de altura da região e o dinheiro é investido no projeto. A concessionária Porto Novo executa as construções e presta serviços públicos como coleta de lixo, iluminação e operação de trânsito por 15 anos.
Metrô A criação da linha 4 do metrô deve ajudar a desafogar o trânsito em direção à Barra da Tijuca, principal local de competições da Olimpíada. A via terá 16 quilômetros de extensão e ligará a estação General Osório, em Ipanema, na zona sul, ao Jardim Oceânico, no começo da zona oeste. o projeto conta com seis estações e prevê que mais de 300 mil pessoas utilizem o sistema diariamente, retirando 2 mil carros por hora das ruas no momento de pico. As escavações do trecho entre São Conrado e Barra já foram concluídas e a instalação dos trilhos deve começar em abril. A concessionária que administra a obra diz que o sistema entra em operação no primeiro semestre de 2016, após uma fase de testes. Os 15 trens que rodarão pela linha 4 já foram comprados de uma empresa chinesa. O valor da obra é de R$ 8,5 bilhões, sendo R$ 7,5 bilhões de responsabilidade do Estado e R$ 1 bilhão do consórcio Rio Barra. Com a nova linha, o passageiro poderá utilizar todo o sistema metroviário da cidade com uma única tarifa.
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entrevista katia rubio
EXPERT A professora da USP Katia Rubio dedicou 22 mil horas ininterruptas à pesquisa sobre a história do esporte olímpico brasileiro: "É uma insanidade o que estamos fazendo"
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“Quero resgata r a dignidade dos atletas” ii v
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por RodRigo CaRdoso fotos pedRo dias/ag. istoé
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Poucas pesquisadoras – se é que há alguma outra no mundo –
são capazes de contar a história esportiva de seu país como ela. Katia Rubio decidiu, 14 anos atrás, sair à caça de todas as pessoas que um dia defenderam o Brasil em Jogos Olímpicos. Desde então, descobriu que há 1.816 homens e mulheres nessa condição. E Katia foi à luta. Entrevistou 1.196 atletas e ex-atletas, transcreveu 613 horas de conversas de um total de 1.600, localizou e mergulhou na história de 321 que já estavam mortos. Professora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, Katia está prestes a completar uma maratona hercúlea – ainda restam 299 entrevistas a ser realizadas –, que consumiu 22 mil horas de seus 51 anos. Em agosto, depois de rodar todas as regiões do País e encontrar esportistas espalhados nos cinco continentes, vai lançar a primeira enciclopédia olímpica brasileira. Registrar a história olímpica de um país pelo olhar dos atores principais dos Jogos – os atletas – não é trabalho que alguém abrace com a mente sã. “É uma insanidade o que estamos fazendo”, afirma ela, que conta com a contribuição de uma equipe de 15 pesquisadores e parceiros financeiros. Membro da Academia Olímpica Brasileira e orientadora de mestrado e doutorado da Faculdade de Educação Física da USP, Katia descortina, na entrevista que segue, detalhes do extraordinário trabalho. Como nasceu a enciclopédia olímpica?
Em 2000, entrevistei o Rogério Sampaio, do judô, e a Magic Paula, do basquete. As entrevistas foram publicadas na defesa da minha tese de doutorado, que virou livro. Em 2002, comecei o projeto que resultou em outro livro, “Os Heróis Olímpicos Brasileiros”. Depois dele, quis vasculhar o que aconteceu com as mulheres brasileiras que participam dos jogos desde 1932, mas que só conquistaram uma medalha de ouro em 1996. Então, fiz a pesquisa entre 2006 e 2008 e daí nasceu outra obra, “As Mulheres Olímpicas Brasileiras”. Depois, tive contato com aqueles que não ganharam medalha olímpica e resolvi ouvir todos, independentemente do resultado. Foi então que nasceu o projeto. São 14 anos de pesquisa.
Como fez para sustentar o projeto financeiramente? Tive vários auxílios-pesquisa da Fapesp e do CNPq ao longo desses 13 anos. Mas eles têm validade de dois anos e precisam ser renovados com novos projetos. No interstício entre um auxílio e outro, fui atrás de novos recursos, porque as viagens não param e as tarefas se acumulam. Também recebi recursos da USP, principalmente para custear as viagens. Nas viagens internacionais que faço a congressos ou durante as férias, estico para entrevistar atletas
entrevista katia rubio
que sei que estão pelas redondezas. Contei com bolsas e no fim de 2013 usei meu 13º para o projeto não parar. No ano passado, no desespero, fizemos um crowdfunding, porque já não tínhamos mais de onde tirar dinheiro. Foi então que surgiu o apoio do Bradesco, que me permitiu continuar na saga de mapear a trajetória dos atletas olímpicos brasileiros.
O que significa contar a história de todos os brasileiros que um dia foram a uma Olimpíada? Eu quero tirar esse povo da invisibilidade. Não existe nada mais digno do que você poder dizer o que uma pessoa foi e o que ela representa para os outros. Essa é a questão do projeto, resgatar a dignidade, o papel histórico desses caras. É parar de ficar com essa discussão tola de legado. O povo enche a boca para falar de legado, mas não faz ideia do que isso seja. Como se legado fosse o estádio, a rede de esgoto. Isso é obrigação do Estado, independentemente de ter evento no País ou não.
Qual deveria ser, então, o legado dos Jogos? Jogos Olímpicos não são para isso. Quem faz os Jogos são os atletas. A questão central de uma Olimpíada é preservar o feito desses caras que resgatam a humanidade de quem não é capaz de fazer aquilo que eles fazem, cacete! Quem dá para o humano a condição da transcendência. Atleta olímpico é isso, o cara que saiu da média. O nosso projeto não fala da medalha, ela é só uma das coisas. Há histórias aqui que não pagam uma medalha.
Conte uma, por favor. A Helena de Menezes nasceu em Salvador e foi a primeira mulher soteropolitana a ir estudar no Rio de Janeiro para fazer uma faculdade de educação física. Um marco. Passei seis meses ligando para essa mulher, que foi olímpica em 1948 e 1952, competindo no atletismo, e um homem sempre atendia dizendo que Helena não estava. Depois de explicar a pesquisa, um dia ele me chama dizendo que queria me conhecer. Chego no prédio e um homem alto, forte, abre a porta. Era o marido da Helena. Ele diz que a esposa está doente, com Alzheimer. Propus a ele ficar junto, trazer álbuns, fotos, medalhas dela para fazermos um encontro. Disse que não queria que a imagem da esposa ficasse maculada e que se, no final do encontro, ele achasse que não ficou do jeito que gostaria, eu apagaria a entrevista. Depois de pedir um tempo para pensar, o homem me liga e concorda. Chego lá, Helena está toda produzida, o marido vai ajudando a contarmos a história dela, que está com 87 anos. Olho as fotos e Helena parecia a Ingrid Bergman, uma mulher linda. Aí fico sabendo que eles se conheceram nos Jogos de 1948, porque ele também foi atleta olímpico, e depois se casaram. Que lindo! Está vendo por que não pode só ficar contando história de medalhas?
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"O POVO ENCHE A BOCA PARA FAlAR DE lEGADO, COMO SE lEGADO FOSSE A REDE DE ESGOTO. isso é obrigação do estado, independentemente de ter evento no país ou não"
Você teve um entrevero com o COB por causa da utilização do termo olímpico. Como foi isso? Foi quando lancei o livro “Esporte, Educação e Valores Olímpicos”, em 2009. O COB enviou uma notificação extrajudicial dizendo que eu teria dez dias para recolher os livros. Argumentaram que eu estava usando coisas que pertenciam à entidade, como a palavra “olímpico” e os símbolos. Mas eu não usei símbolo nenhum e aquela palavra é um bem da língua portuguesa. Ganhei a causa. Me disseram que o Jacques Rogge (presidente do Comitê Olímpico Internacional entre 2001 e 2013) interveio e disse “parem com essa bobagem”. Eu estava na Grécia, dando aula na Academia Olímpica Internacional, e lá encontrei um professor que disse ter feito parte de um comitê criado para discutir o meu caso, em 2010. Mais tarde, quando fui entrevistar o Nuzman (Carlos Arthur, presidente do COB) para a enciclopédia, ele voltou a essa questão. Falou sobre ser dirigente e como às vezes se perde o controle das coisas. E então ele encara a câmera e fala: “Professora, desculpa”.
Recentemente, o Cesar Cielo peitou a confederação de natação pela falta de apoio. Qual é a importância de o atleta levantar a voz? O Cesão peitou a CBDA quando ele voltou com as medalhas de Pequim, mas vale lembrar que isso não durou muito. Seria ótimo se outros Cesões aparecessem e usassem a sua visibilidade para expor as mazelas institucionais, que é o que o Arthur Zanetti, em certa medida, fez ultimamente. Mas é incrível como isso some da mídia rapidinho, reforçando a ideia de que atleta é alienado, não sabe falar, tem medo de enfrentar os poderosos.
Por meio da pesquisa, o que se descobriu sobre algumas modalidades? O remo, o polo aquático e o tiro são modalidades mortas no Brasil. É só ver a quantidade de atletas já falecidos. O polo não vai a Jogos desde 1984, mas tem muitos atletas olímpicos porque antigamente esteve em várias edições. O atletismo é uma modalidade de pobres. O iatismo é de rico? Eu digo que não. Talvez nos primórdios, sim. Pela pesquisa, fica claro uma tomada da classe média no iatismo. Ela entrou na modalidade por meio de atletas que emprestavam o seu talento para os caras que tinham a grana, os donos do barco. É uma troca. Foi nos anos 80, no processo de profissionalização, que começou essa transformação. O marco, porém, se deu nos anos 90, com a possibilidade de patrocínio.
Qual modalidade é própria da elite? Hipismo é um esporte de classe social elevada. Mas descobrimos os que furaram essa membrana social, os tratadores dos cavalos que saltavam melhor do que os donos dos animais. Aí, por acaso, esses caras conseguiram chegar aos Jogos fazendo o que os donos dos cavalos não conseguiram. Não que sejam felizes por esse feito, porque, ao retornarem da Olimpíada, voltam para a cocheira. Há personagens magoados por isso. Vê-se a força da grana que ergue e destrói coisas belas. Há uma pessoa que foi para os Jogos e, quando chegou lá, a dona do cavalo disse: “Você não vai saltar com o meu cavalo”. E a pessoa não competiu. Não posso falar o nome, porque é coisa pesada. E a modalidade mais esquecida? O futebol feminino é a modalidade mais abandonada no Brasil. São garotas humildes, muitas sem instrução, marcadas por uma vida desgraçada. Ou seja, muitas sofreram preconceito dentro de casa por serem atletas de futebol, depois enfrentaram o preconceito do grupo social maior, porque, afinal de contas, futebol é coisa para homem. Futebol feminino é a modalidade que mais sofreu com as questões de ordem institucional. Elas são um nada para a CBF, para o COB. Depois do futebol feminino, o boxe é a modalidade mais abandonada. Ali é o submundo, a catacumba do esporte.
Infelizmente, histórias assim são muito comuns. São histórias impressionantes. Uma ex-jogadora de um esporte bem popular, medalhista olímpica nos anos 90, virou prostituta depois de encerrar a carreira. E, agora, evangélica, não vende mais o corpo e prometeu ao pastor que não tocaria mais no assunto. Fico puta com cineastas que me procuram querendo apenas histórias de alguém bem miserável. Quando entrei na casa da Silvina (Pereira da Silva, do atletismo), que mora no Morro da Mangueira, vizinha de parede da casa do Cartola, vi ali uma mulher, neta de escravos, que virou líder comunitária e ainda hoje mora na Mangueira. Isso me interessa mais do que a ida dela à Olimpíada de 1976. Silvina fez letras, é professora aposentada, deu aula por 30 anos. Naquela Olimpíada, os alemães, depois de vê-la competindo, a convidaram para treinar na Alemanha.
Ela foi? Ela me disse que o então presidente do COB (Sylvio de Magalhães Padillha) não deixou, entre outras coisas porque ela era negra. E ela fala da determinação do esporte que leva para o resto da vida e que a ajuda a peitar traficante, lutar por luz no morro, erguer escola lá dentro. É esse Brasil que quero conhecer. Por exemplo, a humanidade que transborda da história do exatleta do basquete Nilton Pacheco, que disputou os Jogos de 1948, é de chorar. O que você descobriu? Esse senhor teve três AVCs e está com sério comprometimento de fala. Cheguei à porta do prédio e o porteiro perguntou o que eu queria com o morador, dizendo que ele não dá entrevista. No apartamento, entendi o porteiro: encontrei um casal de velhinhos sem filhos, com uma enfermeira, uma cozinheira e uma faxineira cuidando dos dois. Entendi que o porteiro é o cara que zela pela segurança dos idosos: ele está de cama e a esposa não está muito melhor. O Nilton estava de pijama, sentado na poltrona e cercado de travesseiros brancos. A mulher me contou que ela também teve três AVCs, mas que o marido precisa mais dela do que ela dele. Isso é lindo demais. (Katia se emociona e chora).
Pelo visto, a pesquisa para a enciclopédia teve forte impacto em você. Nenhum curso me deu ou daria essa experiência. Não tem teoria psicológica que me dê isso, porque estou falando de uma condição humana muito específica: o que é ser atleta, ser atleta no Brasil e ser atleta no Brasil no século 21 depois de tudo por que passou o esporte no País. Não existe teoria sobre isso ainda. Ainda. A gente está tentando fazer isso.
A pesquisa transformou a sua vida de alguma forma? Quando comecei o "Memórias Olímpicas" eu estava deprimida, vinha de uma separação, de uma falta de perspectiva na universidade. Queria sair dessa encruzilhada. Agora, cada vez que ouço uma história, consigo redimensionar a minha condição pessoal, que não tem quase nada de diferente daquilo que foi a vida dos atletas, com a diferença de que falamos outra língua, a da universidade. Quando vejo o que esses caras passam para chegar a uma Olimpíada, penso: “Putz, vamos embora”. Porque nenhuma trajetória é feita sem dificuldade. lidar com essa dificuldade faz a gente ser o que é.
O que planeja fazer para que as histórias dos atletas não fiquem perdidas? O meu desafio na universidade era fazer uma produção acadêmica que tivesse relação com a sociedade e que as minhas coisas não ficassem empoeirando na biblioteca. Além da enciclopédia, planejo que essas histórias façam parte de um instituto, um centro de memórias. Quero ver o Nelson Prudêncio (atletismo) e o Rosa Branca (basquete) falando de si mesmos. O que importa é que essas pessoas possam ter, em vida, o que os que morreram não tiveram: o reconhecimento. Se conseguir isso, serei muito feliz.
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maior estrela paraolímpica do Brasil, alan fonteles quase perdeu a caBeça depois de conquistar o mundo. agora, de volta aos treinamentos e com o coração
mais calmo, quer fazer Bonito competindo contra atletas sem deficiência
InstRUMentOs Campeão paraolímpico nos 200 metros rasos, Alan Fonteles veste as próteses de corrida: após meses afastado dos treinos, o paraense busca retomar a forma que lhe rendeu o ouro
texto Natália MartiNo foto frederic jeaN/ag. istoé
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“Vou ter que Viajar hoje à tarde, não sei se Vou poder falar com Você.” Era a manhã da primeira segunda-feira de fevereiro e aquele seria o quarto “bolo” consecutivo que Alan Fonteles, 21 anos, daria na equipe da 2016. Naquele dia, a expectativa era maior, já que o atleta acabava de voltar de “férias forçadas” de dois meses – uma providência tomada pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) justamente para que a estrela colocasse a cabeça no lugar e passasse a cumprir seus compromissos. Desde o Mundial de Atletismo de Lyon, na França, em julho do ano passado, Alan encontra sérias dificulda-
des para comparecer aos eventos para os quais é convidado – palestras, lançamentos de livros, entrevistas – e aos treinos. Passou semanas intercalando presenças e ausências no Centro de Treinamento da BM&F Bovespa, em São Caetano do Sul (SP), até que fosse liberado temporariamente das obrigações. Nesse período de folga, não foram raras as vezes em que seu próprio treinador, Amauri Veríssimo, não sabia onde ele estava. Hotéis-fazenda da costa nordeste do Brasil. Foi para lá que ele foi, como contou quando finalmente conseguimos convencê-lo a nos atender entre a sessão de fisioterapia que estava prestes a
terminar e o horário do voo para Brasília, onde teria uma reunião com representantes do CPB. E Alan falou para valer. Disse que se sentia sobrecarregado com a rotina de treinos e compromissos sociais, que se tornou muito intensa desde a vitória que marcou sua ascensão, o ouro nos 200 metros na Paraolimpíada de Londres, em 2012. Isso teria gerado o cansaço, seguido pelo desânimo para frequentar os treinamentos. Ele reclama também da falta de compreensão de todos, especialmente dos profissionais da imprensa. “Soube que estavam falando que eu fiquei arrogante depois de ganhar o ouro”, afirma. “As pessoas falam sem
VenCeDOR: Alan supera Oscar Pistorius nos 200 m na Olimpíada de Londres, em 2012. O brasileiro já teve o sul-africano como ídolo, mas se decepcionou com a arrogância do atleta
Fotos: Glyn Kirk/AFP
nem saber o que está acontecendo, acham que atleta não tem vida pessoal.” Justificar ausências é algo que Alan só começou a aprender quando chegou a São Caetano do Sul, em janeiro de 2012, para treinar com a equipe de Amauri Veríssimo. Na época, ele tinha apenas 19 anos – “um menino, né?”, como repete várias vezes o treinador. Compreensivo, Veríssimo não punia as faltas, mas insistia que o atleta pelo menos comunicasse quando não fosse aparecer. Talvez tenha havido compreensão demais. Alan abusou do recurso quando começou a namorar a atual esposa, Lorrany. Para visitar a alagoana, o atleta costumava pedir folgas
às sextas-feiras ou durante toda a semana. Nesse tempo, dedicava-se apenas ao treinamento muscular em Maceió. Não é de estranhar que o relacionamento com Lorrany tenha preocupado a equipe técnica no início. As viagens constantes eram um problema para a maior estrela do esporte paraolímpico brasileiro e um atleta com uma coleção de feitos extraordinários. Mas o casal não tardou a resolver a questão da distância. Casaram-se em dezembro do ano passado, pouco mais de um ano depois do primeiro encontro. O atleta protagonizou um pedido de casamento televisionado ao vivo para todo o mundo
logo após a prova dos 200 metros no Mundial de Lyon. Foi só uma amostra de seu romantismo.“Ele sempre chega em casa com flores e cestas de café da manhã, é muito carinhoso”, diz Lorrany. Alan é reservado, não gosta de falar da vida particular e diz apenas que está aprendendo a ser um bom marido. Os dois dividem as tarefas na residência alugada em um condomínio próximo ao centro de treinamento, em São Caetano. Ele poupa a mulher da tarefa que ela acha mais penosa: lavar a louça. “A mãe obrigava a Lorrany a fazer isso todo dia”, diz Alan. “Ela detesta, e eu acabo fazendo essa parte.”
VeLOCIDADe MáxIMA o desempenho de alan fonteles melhora a cada ano. confira a evolução dos tempos do para-atleta nos 200 metros rasos _paraolimpíada de pequim (2008)
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_mundial de atletismo da Índia (2009)
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_torneio de atletismo dos estados unidos (2010)
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_mundial de atletismo da nova Zelândia (2011)
23s12
_paraolimpíada de londres (2012)
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_mundial de atletismo da frança (2013) – 20s66 (recorde mundial)
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nOVO PAULIstA: Alan e seu treinador, Amauri Veríssimo, tentam consertar uma prótese no Centro de treinamento da BM&F Bovespa, em são Caetano do sul (sP). Mudança da estrela paraolímpica para são Paulo coincide com melhoria nos resultados
Antes de casar, Alan sentia diariamente o peso da solidão. Nos dois primeiros meses após sair de Belém (PA) e mudar para São Paulo – período em que morou em um hotel – pensou em desistir diversas vezes. “Treinar a semana inteira e depois passar o domingo sozinho era o mais difícil”, diz. Ele visitava a família apenas uma vez por bimestre. Hoje, é com a esposa que o atleta passa todo o tempo livre. O programa predileto é ir ao cinema. Pegam até três sessões seguidas. Comédia, aventura, suspense, qualquer estilo serve. Em ocasiões especiais, os dois gostam de frequentar restaurantes sofisticados. Nesses momentos, o ciúme de Alan é testado. Com um sorriso tímido, olhos no chão enquanto fala, ele confessa que perceber homens mais velhos observando Lorrany o tira do sério. Antes do casamento, quando dividia apartamento com o também atleta Yohansson Nascimento, costumava promover pequenos churrascos para amigos. Essa é, para ele, a melhor forma de comemorar alguma coisa. Quando voltou vitorioso da Paraolimpíada de Londres, desfilou em carro aberto em Belém durante horas e, quando chegou em casa, atravessou a madrugada comendo carne com a famí-
entRe Os MeLhORes alan fonteles pretende correr contra atletas sem deficiência no troféu Brasil, em outuBro. compare o recorde do para-atleta nos 200 m com as melhores marcas do Brasil melhores tempos Brasileiros de 2014 (até 26 de março) _aldemir Gomes da silva junior 20s61 _antonio cesar rodrigues
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_jefferson liberato lucindo
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_haiko Bruno Zimmermann
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_Bruno lins tenorio de Barros
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recordes Brasileiros _claudinei quirino
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_robson caetano
19s96
_andré domingos
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_Bruno lins
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_claudio roberto souza
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}
RAIO x alan fonteles cardoso oliveira _nascimento: 21 de agosto de 1992 _estatura: 1,82 m (com a prótese de corrida) principais conquistas: _jogos paraolímpicos de pequim (2008) prova: revezamento 4 x 100 resultado: medalha de prata _mundial de atletismo da nova Zelândia (2011) prova: 100 metros rasos e revezamento 4 x 100 resultado: medalha de bronze _jogos paraolímpicos de londres (2012) prova: 200 metros rasos resultado: medalha de ouro _mundial de atletismo da frança (2013) prova: 100, 200 e 400 metros rasos resultado: medalha de ouro recordes mundiais: 100 metros rasos: 10s56 (mundial da frança) 200 metros rasos: 20s66 (mundial da frança)
_alan fonteles 20s66
lia. Álcool não faz parte do seu cardápio rotineiro, mas um copo ou dois de uísque durante as férias até passam. A pequena autoconcessão já rendeu problemas. Em dezembro de 2012, ele estava de folga em Belém e voltava de uma festa na companhia de quatro amigos quando bateu o carro em um ônibus. Ninguém se machucou gravemente, mas Alan admitiu que tinha bebido uísque com energético. Os holofotes se viraram para Alan não apenas pelo ouro em Londres, mas também por ele ter vencido o favorito absoluto, o sul-africano Oscar Pistorius, estrela mundial das provas de velocidade paraolímpicas. Aos 20 anos, o novo campeão saiu da prova, ligou para os pais, fez o teste antidoping, conversou pela internet com os amigos do Brasil e foi dormir já de madrugada, curtindo o gosto da vitória. Acordou no dia seguinte como uma celebridade envolta em polêmica. Entrevistas sucessivas ocuparam todo o dia do atleta, mas em vez de exaltar a conquista, a imprensa questionava sua validade frente às declarações dadas por Pistorius. O oponente havia colocado dúvidas sobre o desempenho do brasileiro, acusando-o de ter uma prótese maior do que o permitido, o que o teria beneficiado na corrida. A prótese do brasileiro de fato era maior do que a usada no duelo anterior com Pistorius, em 2011. O aumento, porém, foi fruto de um exame de raio X perfeitamente legal. Todos os atletas paraolímpicos passam por medições antes das competições. Só são permitidas próteses até o limite máximo de altura que suas pernas alcançariam. O brasileiro poderia chegar a 1,85 m, e sua prótese naquele campeonato o deixava com 1,82 m. A confusão teve dois resultados. O primeiro foi a decepção de Alan, que até então tinha o sul-africano como ídolo. “Dentro das pistas, continuo admirando o Pistorius, mas ele não é mais o meu ídolo”, afirma. “Não porque ganhei dele, mas por causa da forma como ele reagiu à derrota.” A desmistificação de Pistorius continuou pouco mais de seis meses depois, quando o sul-africano foi acusado de assassinar a namorada, a modelo Reeva Steenkamp, dentro de casa. istoé 2016
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Pistorius admitiu ter disparado contra a companheira, mas afirmou que o fez por tê-la confundido com um ladrão. Alan estava dormindo quando recebeu a ligação de um integrante da equipe técnica contando sobre o crime. “Aí pensei: acabou mesmo.” A segunda consequência da polêmica das próteses e do assédio da imprensa em Londres foi o desequilíbrio de Alan. O brasileiro diz que todo o barulho em torno da validade de sua vitória o prejudicou nas provas seguintes. Alan era um dos favoritos ao ouro nos 100 m e também tinha boas chances de vitória nos 400 m. Acabou em sétimo e quarto lugares, respectivamente. Falar do episódio faz sumir a expressão adolescente do atleta. “Em cada competição em que estive, aprendi alguma coisa e melhorei para a próxima”, diz. Ele parece ter aprendido mesmo. No Mundial de Atletismo, um ano depois da Paraolimpíada de Londres, apesar do assédio e do êxtase da primeira vitória, conseguiu se manter focado. Voltou para casa com três medalhas de ouro: nos 100, 200 e 400 metros. Essa última teve um gosto especial, já que significou a vitória sobre aquele que Alan diz ser seu único desafeto entre os atletas estrangeiros, David Prince. A rivalidade começou quando o americano enviou para Alan, via rede social, uma mensagem acusando-o de ter – adivinhem – fraudado o tamanho das próteses na corrida em que ele venceu Pistorius. Prince liderava o ranking nos 400 m rasos, mas só conseguiu o bronze no Mundial. O brasileiro voltou da França com o ouro e um doce sabor de vingança cumprida. Prontos para comemorar a vitória com ele estavam a família e os bons amigos de infância, a quem Alan se mantém fiel. Um dos mais próximos é Mauro Henrique Rodrigues, que o acompanhou desde os primeiros passos no atletismo. Quando crianças, brincavam pelas ruas sem asfalto de Ananindeua, na região metropolitana de Belém. Pipa, futebol, bicicleta: as pernas amputadas nunca impediram o paraense de realizar nenhuma atividade. Com próteses convencionais, sem nenhuma adaptação aos esportes, ele descobria uma maneira de fazer o que queria – inclinava um pouco mais o corpo, dobrava um pouco menos a perna, fazia o que fosse preciso para acompanhar os colegas. A verdade é que o garoto nunca soube o que é ter as duas pernas, já que elas foram amputadas quando ele tinha apenas 21 dias de vida. As próteses viraram parte do seu corpo. “Uma vez, eu machuquei a canela e ele me perguntou como era a dor”, lembra o amigo Mauro. “Eu disse que daria um soco no braço dele para mostrar e a gente começou a brincar de luta, como sempre fazíamos.” Nascido na zona rural de Marabá (PA), Alan amputou as pernas por causa de uma septisemia (infecção generalizada). Quando recebeu a notícia da gravidade da doença, sua mãe, Cláudia, não conseguiu nem acompanhá-lo a Belém – a mulher humilde, que sempre morou na roça, não tinha nenhum documento de identidade e, portanto, não podia entrar em um avião. O filho seguiu com a avó para a capital. Os pais foram de ônibus logo em seguida. Depois disso, a família nunca mais voltou para o interior. Venderam o sítio e compraram uma pequena casa em Ananindeua. Cláudia e o filho passaram a correr diariamente para sucessivas cirurgias de raspagem e sessões de fisioterapia. Enquanto isso, o pai estudava à noite e pegava todo tipo de bico durante o dia para sustentar a família. Levou quase um ano e meio até conseguir um emprego fixo, em uma empresa de serviços gerais. A vida melhorou à medida que Alan se tornava um atleta de verdade. Aos 8 anos de idade, o garoto pediu para participar de um projeto social do governo paraense. Queria correr. Sua maior inspiração era o velocista Robson Caetano. Alan foi recebido pela treinadora Suzete Montalvão, que aceitou o desafio de prepará-lo, apesar de nunca ter trabalhado com atletas paraolímpicos. Desde cedo, seu talento nas pistas foi notado por todos e, em 2003, ganhou os primeiros patrocinadores. Três anos depois, o triatleta Rivaldo Martins se comoveu ao ver o bom desempenho de Alan,
mesmo com próteses totalmente inadequadas ao esporte – que os colegas de treino chamavam de “pernas de pau”. Martins, com a ajuda do Comitê Paraolímpico e de instituições internacionais, o ajudou a conseguir próteses para o atletismo – com formato de “J”, feitas de fibra de carbono. Hoje, ele tem pelo menos oito dessas, que usa só para correr. No restante do tempo, está sempre com as próteses convencionais. Enquanto conquistava o mundo do esporte, Alan levava também uma vida de adolescente comum. Era o “pegador do colégio”, como define o amigo Mauro. O atleta se diverte ao lembrar da preocupação das freiras que cuidavam da escola onde estudava. Segundo ele, as religiosas chegaram a ligar para sua mãe várias vezes para relatar o mau comportamento do filho. “Eu namorava muito mesmo, às vezes com mais de uma ao mesmo tempo.” Os tempos de pegador acabaram. Hoje, garante, é homem de uma mulher só. Mas a empolgação de Alan ao falar do que o espera no futuro ainda é aquela de um adolescente cheio de sonhos. “Acho que meu diferencial sempre foi a força de vontade”, diz. E as vontades são muitas. Uma delas é comprar uma casa para viver com a mulher em São Caetano do Sul – o atleta já presenteou os pais com um imóvel e um carro. Alan também pretende competir no Troféu Brasil de Atletismo, em outubro, com atletas sem deficiência. Ainda não sabe se tentará o mesmo na Olimpíada, repetindo o feito do ex-ídolo Oscar Pistorius. A principal meta, porém, é conquistar o ouro na Paraolimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Para isso, precisará perder os quatro quilos adquiridos durante as férias de dois meses. Por enquanto, nada de treinos de velocidade. O foco é na resistência física e muscular para evitar lesões. Lá do norte do País, o melhor amigo, Mauro, torce. “Desejo para ele o de sempre: que corra cada vez mais rápido.” produção: cintia sanchez Agradecimentos: nike (www.nike.com.br) Mondaine (www.mondaine.com.br)
“sOUBe qUe estAVAM FALAnDO qUe eU FIqUeI ARROGAnte DePOIs De GAnhAR O OURO. As pessoAs fAlAm sem nem sAber o que está Acontecendo, AchAm que AtletA não tem vidA pessoAl”
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quero ser pop As estrAtégiAs do golfe pArA deixAr de ser elitistA no BrAsil e os AtletAs que podem dAr tAcAdAs em nome do pAís nos Jogos de 2016 por Mariana Queiroz BarBoza fotos otávio dias
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DE FAMÍLIA Influenciada pelo bisavô, fundador do Itanhangá Golf Club, Victoria Lovelady foi a única das cinco irmãs que se interessou pelo golfe
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POR ACASO Daniel Stapff, 23 anos, trocou o tênis pelo golfe depois que conheceu o esporte num resort. Hoje é uma das principais promessas olímpicas
O recOrte dOs arranha-céus que se vê nO hOrizOnte de qualquer ponto do campo do São Paulo Golf Club, um dos mais tradicionais do País, e a vaga lembrança da fila de carros que toma as ruas ao redor no bairro de Santo Amaro, na capital paulista, parecem estar ali só para reforçar a sensação de um oásis. Enquanto alguns poucos jogadores se espalham pelos quase 60 hectares de gramado, o som dos tacos atingindo com precisão as bolas brancas é o único que se repete em intervalos ritmados. “O bonito do golfe é que a natureza está sempre jogando com a gente”, diz a brasileira Victoria Lovelady, 27 anos, profissional do circuito feminino europeu. Na manhã daquela terça-feira de verão, a natureza colaborava. O calor excessivo havia sido aliviado por uma chuva na noite anterior e o céu azul proporcionava uma visão cristalina dos buracos sinalizados por bandeirinhas. Os limites do campo, contudo, deixavam claro que a interação com a natureza era um privilégio. Depois de 112 anos fora da Olimpíada, o esporte voltará nos Jogos do Rio, em 2016. O motivo? “É um mistério divino, estamos atordoados sem saber por que fomos agraciados com essa notícia”, afirma Paulo Pacheco, presidente da Confederação Brasileira de Golfe (CBG). Embora ainda não confirmadas oficialmente, duas vagas devem ser destinadas a jogadores brasileiros convidados. No total, serão 60 atletas, dois de cada nacionalidade. Victoria quer ser um deles. Por isso, treina de terça a domingo, monitorada por um aplicativo para tablet, o V1 Golf,
que grava vídeos e analisa informações sobre o movimento de cada tacada. Os dados são enviados para seu treinador colombiano, Pedro Russi. Influenciada pelo pai, um publicitário de São Paulo, e pelo bisavô, um dos fundadores do Itanhangá Golf Club, no Rio, ela começou cedo no esporte. Das cinco irmãs, foi a única que se interessou pelo golfe. Por isso, atraiu todo o apoio e os investimentos da família. Depois de cursar o equivalente ao ensino médio nos Estados Unidos, foi convidada a jogar dois anos no Santa Barbara City College, Califórnia, e outros dois na University of Southern California, em Los Angeles, onde se formou em relações internacionais. “Essa era a universidade dos meus sonhos, porque, além de ser academicamente forte, era a número 1 em golfe”, diz. Aquela era a primeira vez que a universidade recrutava algum atleta do City College. A exceção provou-se justa. A equipe de estudantes da qual Victoria fazia parte ganhou o campeonato nacional e foi recebida pelo então presidente americano, George W. Bush, na Casa Branca. “Foi quando decidi mesmo ser profissional”, afirma. “A motivação ficou mais forte depois de jogar com mulheres que hoje estão entre as 100 melhores do mundo e elas me deram o caminho das pedras. No Brasil, eu não tinha isso.” Em março, Victoria embarcou para o Marrocos, onde iniciou sua participação como a única brasileira no tour europeu, o torneio feminino que mais dá pontos para o ranking, depois do LPGA. Até dezembro, ela passará por países como Turquia, Holanda, Alemanha, África do Sul e
NA CONSTRUçãO DE UM CAMPO PúBLICO NA BARRA DA TIJUCA, NO RIO, ESTÁ A ExPECTATIVA DE POPULARIzAçãO DO GOLFE. DEPOIS DA OLIMPíADA, A ÁREA SERÁ DESTINADA A PROJETOS SOCIAIS PARA A FORMAçãO DE TALENTOS
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O GOLFE nO BRASIL
OS PLAnOS DA COnFEDERAçãO
_25 mil praticantes
_aO menOs 2 atletas nOs JOgOs OlímpicOs de 2016 e 4 nos jogos de 2020
_10 mil jogadores federados e com avaliação de handicap
_12 atletas prOfissiOnais de alto rendimento no top 500 do ranking
_40 atletas de alto rendimento na categoria Júnior
mundial até 2016
_2 tOrneiOs internacionais profissionais realizados no país por ano _5 tOrneiOs brasileiros profissionais por ano
_20 atletas amadOres de alto rendimento no top 500 do ranking mundial até 2016
_18 tOrneiOs amadores válidos para os rankings nacional e mundial
_500 atletas de alto rendimento na categoria Júnior até 2020
_r$ 8 milhões investidos em torneios no país
_30 mil JogAdores federados e com avaliação
_117 campOs cadastrados na cBg
índia. “Conheço o mundo inteiro jogando golfe”, diz. “Mas pago todas as minhas viagens e não quero mais gastar dinheiro da família. A relação de patrocínio e pai não é nada profissional.” Na bolsa branca, carrega 14 tacos (o máximo que se pode levar numa competição) devidamente protegidos por meias coloridas com pompons na ponta. Os tacos variam em comprimento, tamanho da cabeça, peso e ângulo. Quanto mais longo e maior for sua cabeça, mais longe a bola vai. No caso de Victoria, o taco de número 1 tem alcance de 240 jardas, o equivalente a 220 metros. “Eu sou ruim de matemática, mas, por causa do golfe, tive que aprender a calcular o ângulo e a distância do buraco para escolher o melhor taco”, afirma. “Com o tempo, vai ficando intuitivo porque tem influências mais subjetivas, como vento, por exemplo.” A proximidade dos Jogos Olímpicos vem acompanhada da expectativa pela construção do primeiro campo público de golfe no Brasil. Localizado numa área de proteção ambiental na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, o campo servirá a projetos de inclusão social e terá uma academia com preparadores físicos e acompanhamento psicológico para atender os profissionais com potencial para representar o País em competições internacionais a partir de 2016. As obras do campo público avançam apesar de ações judiciais que pedem sua paralisação devido ao impacto ambiental. Do total de 117 (parte deles em resorts e condomínios residenciais de luxo), já existem outros campos que dispensam carteirinha e aceitam jogadores avulsos 46
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de handicap até 2020
mediante o pagamento de taxas de uso por hora, mas o celeiro mais comum de novos talentos ainda são as associações recreativas. E essas são para poucos e pretendem continuar assim. Para se associar ao Golf Club São Paulo, é preciso conhecer outros cinco sócios e pedir a cada um deles uma carta de recomendação. Depois disso, uma ficha com o perfil do postulante será analisada por um conselho no prazo de um mês. Se for aprovado, o novo sócio paga uma taxa de transferência de R$ 250 mil e R$ 8 mil pelo título (que não pode estar no nome de uma mulher). À mensalidade de R$ 1.030 soma-se uma consumação mínima obrigatória de R$ 340 por bimestre. Não por acaso, o número de praticantes no Brasil ainda é pequeno: 25 mil. Em países como Argentina, Colômbia e Chile, há proporcionalmente mais jogadores. Nos Estados Unidos, onde quase um décimo da população joga, o golfe é considerado um esporte de classe média. “Mas há enorme potencial de crescimento”, diz Ênio Ribeiro, vice-presidente de esportes da IMx, empresa que organiza torneios profissionais desde 2009. Neste ano, serão sete (cinco do circuito nacional, um do latino-americano e um do mundial), orçados em mais de R$ 8 milhões, vindos de patrocínios de marcas como Nespresso, BMW e Rolex, e projetos da Lei de Incentivo ao Esporte. “Sem ela, o golfe não existiria profissionalmente no Brasil”, afirma Ribeiro. “É esporte de gente rica, mas não é um esporte rico, pois recebe poucos recursos.” Os torneios distribuem R$ 600 mil em
premiação ao longo do ano e contam pontos para o ranking mundial. Aos interessados na modalidade, o investimento inicial é salgado. O preço de um conjunto de tacos começa em R$ 500. Como a vida útil dos equipamentos é de até dez anos, há também um relevante mercado de segunda mão. Mais do que dinheiro, é preciso tempo para praticar. Num circuito completo, em que o objetivo é acertar 18 buracos com a menor quantidade de tacadas, os jogadores levam ao menos quatro horas. O golfista Daniel Stapff treina entre seis e sete horas por dia, seis vezes por semana, além de malhar por uma hora e meia na academia. Aos 23 anos, ele já foi campeão brasileiro e participou do PGA Tour, principal campeonato dos EUA. No ano passado, ficou em terceiro lugar no ranking nacional e em 72º no latino-americano. Nos últimos cinco anos, diz, seus custos baixaram muito porque passou a ganhar apoio na forma de material esportivo. “No começo, dos 14 aos 18 anos, meus pais gastaram muito em torneios e viagens”, afirma. Naquela época, Stapff participava de 12 a 15 campeonatos por ano – metade fora do País. O caminho comum aos profissionais inclui passar um período no Exterior. Daniel Stapff e Victoria Lovelady (o sobrenome é do marido americano) fizeram faculdade nos Estados Unidos e receberam bolsa para alunos atletas. Stapff planeja voltar para lá, enquanto Victoria se divide entre o Brasil e a Colômbia. Da mesma forma que atletas de alto rendimento de outros esportes olímpicos,
VOLTA AO MUnDO Ăšnica brasileira no tour feminino europeu, Victoria quer somar pontos no ranking mundial para conseguir uma vaga na OlimpĂada do Rio
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InTERCÂMBIO: estudar no Exterior é caminho comum entre os golfistas brasileiros. Victoria se graduou em relações internacionais na Califórnia e Stapff em finanças na Flórida
eles seguem uma dieta rígida, tomam suplementos e fazem treinos físicos focados em flexibilidade e controle muscular. Embora o golfe seja democrático no aspecto físico (idade, peso e altura têm influência limitada no desempenho), a maior lenda do esporte, Tiger Woods, mudou a partir dos anos 90 a maneira como os jogadores se relacionam com o próprio corpo e iniciou um movimento de valorização dos músculos. Hoje, a preparação física é obrigatória. A falta de uma figura pública brasileira que desperte a mesma admiração de Woods é o principal fator para a baixa popularidade do golfe por aqui. “Foi assim com o Guga no tênis, a Daniele Hipólito na ginástica, o Rodrigo Pessoa no hipismo”, diz Ênio Ribeiro. Na outra ponta, está a dificuldade de formação
de novos atletas. Um projeto da CBG de capacitação de professores da rede pública foi criado em 2012 com o objetivo de incentivar a base e detectar novos talentos. Os estudantes mais aptos são encaminhados às federações locais para iniciarem um programa de treinamento profissional. O projeto consome R$ 8,6 milhões por ano, sendo que R$ 1,1 milhão vem dos próprios jogadores, que pagam cerca de R$ 30 por mês para o controle de seu handicap, índice que indica o nível do golfista baseado em sua média de tacadas para completar o circuito de 18 buracos. Nos dois anos que faltam para a Olimpíada, a entidade espera incluir 200 mil crianças no esporte e torce para que uma delas se transforme finalmente no herói do golfe que o País precisa.
NO BRASIL, O NúMERO DE PRATICANTES AINDA É PEQUENO: 25 MIL. MAS, NOS ESTADOS UNIDOS, QUASE UM DÉCIMO DA POPULAçãO JOGA. “HÁ ENORME POTENCIAL DE CRESCIMENTO”, DIz ÊNIO RIBEIRO, VICE-PRESIDENTE DA IMx
produção: cintia sanchez Agradecimentos: Acostamento, Aramis, Monnari, Jorgito Donadelli, Triton, Coca-cola Jeans, Calvin Klein, Mandi, Dimy, My Gloss, Bob Store, Fabiana Milazzo, UMA, Mar Rio, Tommy Hilfiger e nem.
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M a r
d e
r o s a s
Quando o vento sopra as velas e as ondas lambem o casco, martine Grael e Kahena Kunze encontram eQuilíbrio. martine é popa, dá a direção. Kahena é proa, faz o barco andar. uma sem a outra não cheGa a luGar nenhum. Juntas, orientadas pelos ótimos resultados em reGatas internacionais, as parceiras traçam rotas rumo à vaGa olímpica na vela pela cateGoria 49erfX. até lá, se depender da crescente concorrência, a previsão do tempo não anuncia dias de calmaria por Nathalia ZiemkiewicZ fotos daryaN dorNelles
Aeroporto de MiAMi, fevereiro de 2014. Martine e Kahena estão voltando para casa depois de conquistar a quarta colocação em mais uma etapa da Copa do Mundo de Vela. Elas realizam o check in, despacham a bagagem e entram na fila do raio X. Uma mala de mão que carregam faz o aparelho apitar – é aquela tensão antiterrorismo no ar. O funcionário responsável pela segurança analisa a imagem daquilo que parece ser uma furadeira. “É parte do nosso material de manutenção do barco e esquecemos de despachar”, diz Martine, 22 anos. “Eles tomaram um susto.” Engana-se quem pensa que elas apenas pilotam, delegando os afazeres mecânicos a outras pessoas. As meninas circulam por aí com suas ferramentas e ficam encantadas diante de vitrines que exibam um alicate ou uma chave allen, enquanto muitas amigas (e esta repórter) mal sabem a diferença entre prego e parafuso. Isso porque, quando o vento não colabora com os treinos, a dupla passa horas arrumando cabos e velas e miudezas fundamentais para o desempenho na água. 50
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INSEPARÁVEIS Martine (à esq.) e Kahena: na primeira competição que fizeram juntas, venceram o mundial da juventude pela classe 420
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Elas mesmas se ajustam no dia a dia em busca da perfeita sintonia. Tanto para acumular vitórias no esporte quanto para resistir ao excesso de convivência. Martine e Kahena se conhecem desde pequenas, quando competiam como rivais. Na primeira vez que experimentaram velejar lado a lado, foram campeãs no mundial da juventude pela classe 420. Kahena, conta a mãe, esperava que Martine a convidasse para a campanha olímpica de Londres pela 470. Como Isabel Swan tomou esse lugar, a adolescente decidiu prestar vestibular para engenharia ambiental e se afastou dos torneios náuticos. “Quis curtir a vida e viver outras coisas”, diz Kahena, 22 anos. E assim fez até que, no final de 2012, Martine lhe apresentou uma proposta, certa de que Kahena tinha as qualidades técnicas necessárias para complementá-la. A nova classe 49erFX parecia especialmente desafiadora: o barco mais veloz (alcança 20 nós, ou 37 km/h), duas atletas penduradas no trapézio contrapondo o peso da vela, todas as concorrentes começando do zero e a Olimpíada no Rio de Janeiro. Os olhos azuis de Kahena brilharam. Ela recebeu apoio dos pais para trancar a faculdade. Desde então, é raro que se desgrudem. Os treinos diários incluem cerca de três horas e meia velejando em pé, além do preparo físico para suportar o desgaste. Enquanto isso, o técnico espanhol, Javier Torres, rodeia o veleiro, em um bote. Ele filma tudo para depois corrigir posturas e otimizar movimentos. São sete campeonatos internacionais ao longo do ano. Como a maioria deles acontece fora do País, Martine e Kahena passam praticamente o primeiro semestre inteiro viajando – ao todo, não completam duas semanas no Brasil. Voltam para casa apenas para matar a saudade da família por pouquíssimos dias antes de embarcar novamente. Elas acordam, treinam, comem, passeiam e dormem juntas. Se ficam “ma-
SujEIRA A dupla veleja na Baía de Guanabara: "Muita gente tem nojo de entrar nessa água imunda", diz Kahena
readas” da cara da outra de vez em quando? Quem as acompanha mundo afora garante que não. “As duas são boas amigas e isso se reflete de forma positiva na água”, afirma o técnico. “Se não fosse um respeito verdadeiro, seria difícil sustentar.” Durante todo o mês de fevereiro, moraram na Nova Zelândia para um intensivão ao lado de amigas velejadoras de lá. Javier conta que, no tempo livre, ainda inventavam de pegar uma excursão, pedalar ou surfar. Em março, seguiram para uma temporada na Europa, que deve durar até maio. As longas estadas nos locais das regatas, muito antes da largada oficial, não são luxo de turista. É preciso se aclimatar, testar a raia de competição e desenhar estratégias específicas para cada lugar, de acordo com a maré, o vento, as correntezas. Mulheres de personalidades fortes, aprendem a domar o vento e o temperamento. “A gente não briga, fica de mau humor em conjunto”, diz Kahena. Claro que há estresse, principalmente quando elas não se saem como o planejado numa prova. Como num casamento, as duas identificam o estado de espírito da outra. Dispensando palavras, comunicam-se com olhares. No Mundial do ano passado, na cidade francesa de Marselha, assaltaram o quarto do hotel enquanto ambas dormiam. Era a noite que antecedia a última regata. Os ladrões levaram computadores, celulares, relógios e outros pertences. “A Kahena ficou superestressada e, nesse dia, precisei segurar a minha onda para transmitir o máximo de tranquilidade a ela”, lembra Martine. Na rotina em terra, evitam conflitos para assegurar o equilíbrio. Quando conseguem alguns dias de folga uma da outra, em geral
fotos: Alexandre loureiro/Getty | daryan dorenelles
no Brasil, ficam de lados opostos da Ponte Rio-Niterói. Kahena vai para a casa dos pais, em Botafogo. Martine também, mas em Niterói. Um respiro mais que saudável. Até porque, além de parceiras, as duas são cunhadas. Kahena namora há três anos o velejador Marco Grael, irmão mais velho de Martine. Não gostam de comentar sobre o assunto – menos por ciúmes, mais por respeito à intimidade alheia. É certo que o amor surge na compatibilidade dos estilos de vida. Martine mantém um relacionamento de quatro anos com Fernando Pasqualin, outro atleta da vela. Filhas de velejadores, o bicampeão olímpico Torben Grael e Claudio Kunze, elas cresceram em embarcações a vela. Acostumaram-se com os cabelos embaraçados pela brisa marítima, com a camada espessa de protetor solar nas bochechas, com a captura de suas próprias refeições. O porto seguro dessas famílias não é exatamente um lugar, mas os momentos navegando juntos. Uma tradição que os Grael tentam preservar, a despeito das agendas desencontradas. Eles passaram a última ceia de Natal na Baía de Guanabara, a bordo de um veleiro de 1912, que pertencia ao avô de Torben. A paixão é genética. Martine tinha apenas seis anos quando começou a brincar num barco e sua mãe virou instrutora para ensinar os filhos. “A vela exige responsabilidade, independência e respeito aos outros, às regras do mar e de segurança”, afirma Andrea Grael, que morre de saudades da convivência com a filha. “O esporte ocupa o tempo dos jovens, mas de forma construtiva.” Kahena ensaiou as primeiras manobras na Represa de Guarapiranga, em São Paulo, onde viveu até os dez anos. Quando o clã
"Nã o gosto da c ompa ra ç ã o eNtre meu estilo e o dela" A PEdIdo dA 2016, toRBEN GRAEl EScREVEu uM dEPoIMENto SoBRE A fIlhA MARtINE "Na vela, é normal que os filhos aprendam a velejar com os pais e sigam o esporte até por conta do conhecimento técnico acumulado, mas não que cheguem a esse nível competitivo em que Martine e Marco estão. estimulei que eles aprendessem a velejar pelo prazer e para compartilhar de uma paixão que vem de família – a competição e a profissão foram consequências, escolhas deles. Na Martine, a competitividade foi aflorando com o tempo, fui dando apoio emocional e técnico nas disputas de que ela participava. Meus filhos acompanharam minha carreira a vida toda e agora eu os acompanho – eles têm liberdade comigo e vice-versa. Sempre comento sobre o desempenho da Martine e ela recebe bem. Não gosto da comparação que fazem entre o meu estilo (e as conquistas) de velejar com o dos meus filhos, embora seja muito comum. Acho que isso bota mais pressão sobre eles. claro que a Martine tem o sonho de disputar os jogos olímpicos, como qualquer atleta, ainda mais quando vai acontecer no seu país de origem. Ela chegou perto em londres, mas acabou perdendo uma eliminatória contra uma velejadora que era medalha de bronze. desde que entrou nessa nova classe, a Martine e a Kahena têm tido muito destaque mundial. Ela está mais madura em todos os sentidos, especialmente depois da bagagem que ganhou na campanha olímpica passada. toda a experiência vai ajudá-la muito agora. As meninas se dão muito bem, são parceiras e amigas, exigentes uma com a outra, têm uma química bacana, já foram campeãs mundiais juvenis juntas... Isso diz bastante do potencial dessa dupla."
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se mudou para o Rio, foi matriculada numa escolinha de vela. “Ela sempre foi uma garotinha valente, dessas que vestem a boinha e se atiram logo na água”, diz a mãe, Audrey, conectadíssima no Skype para se fazer presente na rotina de Kahena. O barco da classe 49erFX é muito instável. No início, até aprenderem a velejar nele, virar era algo corriqueiro. No ano passado, em um domingo ensolarado, as duas resolveram cair na água. Havia previsão de frente fria, mas ela não se concretizou no horário cravado pela meteorologia. No meio do treino, o tempo ficou esquisito. As duas não conseguiam mais fazer o barco arribar (afastá-lo da direção do vento), com destino ao Rio Yatch Club, em Niterói. Foram jogadas no sentido de um morro e capotaram dezenas de vezes. Não havia ninguém por ali para socorrê-las. Nas tentativas de desvirá-lo, o mastro quebrou e a vela ficou presa. Martine bateu o dente ao mergulhar por debaixo do barco. “Falava para mim mesma: 'não desespera!' Foi puro instinto de sobrevivência”, diz. Tentaram voltar para a praia, mas estava uma ressaca histórica. A dupla levou duas horas para completar um trajeto que dura dez minutos. Quando alcançaram o clube, finalmente caíram no choro. “Pelo maior sufoco que já passamos e pelo prejuízo que teríamos com o conserto do equipamento”, afirma Kahena, calculando um gasto de R$ 3 mil por esse episódio. Elas nunca se machucaram feio em colisões no altomar, mas acostumaram-se aos roxos nas pernas e às dores lombares. “Nenhum atleta vive sem dor”, diz Martine. Embora o iatismo seja um dos esportes que mais trouxeram medalhas olímpicas para o Brasil (só perde para o vôlei e o judô), o número de velejadores é pífio se comparado a outros países. Na Nova Zelândia, a vela é o segundo esporte mais praticado. Na Inglaterra, ele faz parte do currículo escolar na disciplina de educação física. Não temos uma cultura náutica por aqui. Duas pistas ajudam a entender
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o porquê da impopularidade: é caro ter um barco e os torcedores ficam distantes dos acontecimentos. Afinal, como vibrar com uma ultrapassagem sem enxergá-la? “Meu pai é mais famoso que o Pelé na Suécia, mas anda pelas cidades do Brasil sem ser reconhecido”, diz Martine. Hoje, Torben Grael atua como treinador-chefe da seleção brasileira de vela. A filha jura que não existe pressão ou cobrança da parte dele. Pelo contrário. “Ele tem muita experiência e já viveu praticamente tudo o que a gente está vivendo agora”, diz. “Vejo como vantagem porque me dá dicas bem importantes.” Claudio Kunze também não consegue se furtar do papel de pai velejador. “Martine e Kahena estão muito bem alinhadas e complementadas, é uma parceria 100% mesmo”, afirma Claudio. Elas fecharam 2013 como líderes do ranking mundial, mas comemoraram com os pés no chão. “Assim como nós estamos evoluindo, nossas rivais também estão. O nível subiu”, afirma Kahena. De fato, na etapa de Miami do Mundial, elas acabaram na quarta posição, apesar de terem largado na frente. A evolução técnica também depende da comparação com outras atletas. Não à toa, a dupla viaja para treinar com sparrings. Elas recebem um salário mínimo da Confederação Brasileira de Vela e têm as viagens bancadas por patrocinadores. Javier elogia o talento, o comprometimento e a veia competitiva das pupilas. “Não sou uma boa perdedora”, admite Martine. À primeira vista, já transparece o gênio forte que possui. Tem um jeito reservado e um olhar desconfiado, desses que não dão abertura a estranhos. Discreta, a morena vai se soltando aos poucos. De tênis e camiseta, acha graça da produção para este ensaio fotográfico. Nunca usa maquiagem nem faz escova no cabelo, recorre ao salto alto apenas em ocasiões muito especiais (“muito especiais meeesmo, porque machuca”). Acessórios? Somente um colar amuleto que ganhou da mãe. “Sou uma moleca, estou sempre ralada e cheia de cortes”,
diz. Vaidade também não é prioridade para Kahena. “Sente só a quantidade de calos nas minhas mãos”, diz, com voz doce e expressão ingênua. É difícil imaginar Kahena tomando tanta bordoada de vento ou manuseando cabos com força. Sorte que estereótipos existem para ser contrariados. Martine e Kahena não são apenas jovens atletas de talento. Elas têm voz ativa contra as mazelas brasileiras. No mundo todo, velejadores comentam sobre a poluição assustadora da Baía de Guanabara, local escolhido para as regatas do iatismo na Olimpíada do Rio. “Muita gente tem nojo de entrar nessa água imunda”, diz Kahena. “Em outros lugares, nós velejamos ao lado de golfinhos, dá para enxergar até dez metros de profundidade.” Martine não se conforma. Outro dia, enquanto remava de stand up por lá, fez questão de postar uma foto em sua rede social como protesto pelo descaso político e pela falta de conscientização popular com o meio ambiente. Estava sentada numa prancha com uma televisão que encontrou boiando. “Jogam todo tipo de lixo ali, o cheiro de esgoto e peixe morto é insuportável”, diz ela, que já tirou muito plástico preso na quilha do barco. “Qualquer machucadinho, se molhar, inflama e leva muito mais tempo para cicatrizar.” Na campanha do Brasil para conquistar o direito de realizar a Olimpíada, uma das promessas era despoluir 80% da Baía de Guanabara. Para a dupla, isso claramente não está acontecendo. Não há dúvida de que bons ventos sopram na direção de Martine e Kahena. Tomara que elas não precisem desviar de um sofá, como já aconteceu, para navegar rumo à medalha de ouro.
AléM dE PARcEIRAS, ElAS São cuNhAdAS. KAhENA NAMoRA hÁ tRêS ANoS MARco GRAEl, IRMão MAIS VElho dE MARtINE. ElAS Só VIVEM PARA o IAtISMo. martiNe maNtém um relacioNameNto de quatro aNos com FerNaNdo pasqualiN, também velejador
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Elas mesmas se ajustam no dia a dia em busca da perfeita sintonia. Tanto para acumular vitórias no esporte quanto para resistir ao excesso de convivência. Martine e Kahena se conhecem desde pequenas, quando competiam como rivais. Na primeira vez que experimentaram velejar lado a lado, foram campeãs no mundial da juventude pela classe 420. Kahena, conta a mãe, esperava que Martine a convidasse para a campanha olímpica de Londres pela 470. Como Isabel Swan tomou esse lugar, a adolescente decidiu prestar vestibular para engenharia ambiental e se afastou dos torneios náuticos. “Quis curtir a vida e viver outras coisas”, diz Kahena, 22 anos. E assim fez até que, no final de 2012, Martine lhe apresentou uma proposta, certa de que Kahena tinha as qualidades técnicas necessárias para complementá-la. A nova classe 49erFX parecia especialmente desafiadora: o barco mais veloz (alcança 20 nós, ou 37 km/h), duas atletas penduradas no trapézio contrapondo o peso da vela, todas as concorrentes começando do zero e a Olimpíada no Rio de Janeiro. Os olhos azuis de Kahena brilharam. Ela recebeu apoio dos pais para trancar a faculdade. Desde então, é raro que se desgrudem. Os treinos diários incluem cerca de três horas e meia velejando em pé, além do preparo físico para suportar o desgaste. Enquanto isso, o técnico espanhol, Javier Torres, rodeia o veleiro, em um bote. Ele filma tudo para depois corrigir posturas e otimizar movimentos. São sete campeonatos internacionais ao longo do ano. Como a maioria deles acontece fora do País, Martine e Kahena passam praticamente o primeiro semestre inteiro viajando – ao todo, não completam duas semanas no Brasil. Voltam para casa apenas para matar a saudade da família por pouquíssimos dias antes de embarcar novamente. Elas acordam, treinam, comem, passeiam e dormem juntas. Se ficam “ma-
sujeira a dupla veleja na Baía de Guanabara: "Muita gente tem nojo de entrar nessa água imunda", diz Kahena
readas” da cara da outra de vez em quando? Quem as acompanha mundo afora garante que não. “As duas são boas amigas e isso se reflete de forma positiva na água”, afirma o técnico. “Se não fosse um respeito verdadeiro, seria difícil sustentar.” Durante todo o mês de fevereiro, moraram na Nova Zelândia para um intensivão ao lado de amigas velejadoras de lá. Javier conta que, no tempo livre, ainda inventavam de pegar uma excursão, pedalar ou surfar. Em março, seguiram para uma temporada na Europa, que deve durar até maio. As longas estadas nos locais das regatas, muito antes da largada oficial, não são luxo de turista. É preciso se aclimatar, testar a raia de competição e desenhar estratégias específicas para cada lugar, de acordo com a maré, o vento, as correntezas. Mulheres de personalidades fortes, aprendem a domar o vento e o temperamento. “A gente não briga, fica de mau humor em conjunto”, diz Kahena. Claro que há estresse, principalmente quando elas não se saem como o planejado numa prova. Como num casamento, as duas identificam o estado de espírito da outra. Dispensando palavras, comunicam-se com olhares. No Mundial do ano passado, na cidade francesa de Marselha, assaltaram o quarto do hotel enquanto ambas dormiam. Era a noite que antecedia a última regata. Os ladrões levaram computadores, celulares, relógios e outros pertences. “A Kahena ficou superestressada e, nesse dia, precisei segurar a minha onda para transmitir o máximo de tranquilidade a ela”, lembra Martine. Na rotina em terra, evitam conflitos para assegurar o equilíbrio. Quando conseguem alguns dias de folga uma da outra, em geral
fotos: alexandre loureiro/Getty | daryan dorenelles
no Brasil, ficam de lados opostos da Ponte Rio-Niterói. Kahena vai para a casa dos pais, em Botafogo. Martine também, mas em Niterói. Um respiro mais que saudável. Até porque, além de parceiras, as duas são cunhadas. Kahena namora há três anos o velejador Marco Grael, irmão mais velho de Martine. Não gostam de comentar sobre o assunto – menos por ciúmes, mais por respeito à intimidade alheia. É certo que o amor surge na compatibilidade dos estilos de vida. Martine mantém um relacionamento de quatro anos com Fernando Pasqualin, outro atleta da vela. Filhas de velejadores, o bicampeão olímpico Torben Grael e Claudio Kunze, elas cresceram em embarcações a vela. Acostumaram-se com os cabelos embaraçados pela brisa marítima, com a camada espessa de protetor solar nas bochechas, com a captura de suas próprias refeições. O porto seguro dessas famílias não é exatamente um lugar, mas os momentos navegando juntos. Uma tradição que os Grael tentam preservar, a despeito das agendas desencontradas. Eles passaram a última ceia de Natal na Baía de Guanabara, a bordo de um veleiro de 1912, que pertencia ao avô de Torben. A paixão é genética. Martine tinha apenas seis anos quando começou a brincar num barco e sua mãe virou instrutora para ensinar os filhos. “A vela exige responsabilidade, independência e respeito aos outros, às regras do mar e de segurança”, afirma Andrea Grael, que morre de saudades da convivência com a filha. “O esporte ocupa o tempo dos jovens, mas de forma construtiva.” Kahena ensaiou as primeiras manobras na Represa de Guarapiranga, em São Paulo, onde viveu até os dez anos. Quando o clã
"Nã o gosto da c ompa ra ç ã o eNtre meu estilo e o dela" a pedido da 2016, torBen Grael escreveu uM depoiMento soBre a filha Martine "Na vela, é normal que os filhos aprendam a velejar com os pais e sigam o esporte até por conta do conhecimento técnico acumulado, mas não que cheguem a esse nível competitivo em que Martine e Marco estão. Estimulei que eles aprendessem a velejar pelo prazer e para compartilhar de uma paixão que vem de família – a competição e a profissão foram consequências, escolhas deles. na Martine, a competitividade foi aflorando com o tempo, fui dando apoio emocional e técnico nas disputas de que ela participava. Meus filhos acompanharam minha carreira a vida toda e agora eu os acompanho – eles têm liberdade comigo e vice-versa. sempre comento sobre o desempenho da Martine e ela recebe bem. não gosto da comparação que fazem entre o meu estilo (e as conquistas) de velejar com o dos meus filhos, embora seja muito comum. acho que isso bota mais pressão sobre eles. claro que a Martine tem o sonho de disputar os jogos olímpicos, como qualquer atleta, ainda mais quando vai acontecer no seu país de origem. ela chegou perto em londres, mas acabou perdendo uma eliminatória contra uma velejadora que era medalha de bronze. desde que entrou nessa nova classe, a Martine e a Kahena têm tido muito destaque mundial. ela está mais madura em todos os sentidos, especialmente depois da bagagem que ganhou na campanha olímpica passada. toda a experiência vai ajudá-la muito agora. as meninas se dão muito bem, são parceiras e amigas, exigentes uma com a outra, têm uma química bacana, já foram campeãs mundiais juvenis juntas... isso diz bastante do potencial dessa dupla."
atletismo
_Campe達o
segundo lar duda na areia do Centro de Treinamento do clube BM&FBovespa, em s達o Caetano do sul (sP): estrutura para quem n達o tinha nem cal巽ados para treinar
(em Construção) Quem é mauro Vinícius Hilário lourenço da silVa, o duda, bicampeão
mundial do salto em distância indoor Que, agora, luta para alcançar o sucesso também ao ar liVre por Renata ValéRio de Mesquita fotos pedRo dias/ag. istoé
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atletismo
Mauro Vinícius Hilário lourenço da silVa é uM noMe Muito coMprido e poMposo para cHaMar o priMeiro brasileiro bicaMpeão Mundial no salto eM distância indoor – e o terceiro atleta do mundo inteiro a realizar essa façanha. Duda é uma alcunha muito mais apropriada ao vencedor do Mundial de Atletismo de Sopot, na Polônia. Alto e magrelo (seu índice de massa corpórea fica pouco acima de 20, um verdadeiro sonho para os obcecados por dietas), até parece que ele ganha alguma ajuda do vento na hora de saltar. Completo engano. Até hoje, os grandes títulos da carreira de Duda foram obtidos em ambientes fechados, justamente onde as condições atmosféricas têm pouca influência. Para seu azar, as competições indoor também são menos valorizadas internacionalmente. Na Polônia, em março, ele aterrissou a 8,28 m da tábua de impulsão, mesma marca com a qual ganhou seu primeiro mundial, em Istambul, na Turquia, em 2012. Uma semana depois, trouxe apenas o bronze no salto em distância outdoor dos Jogos Sul-Americanos de Santiago, no Chile, com 7,88 m. “Esperava saltar 8,10 m”, admite. “Mas não fui tão bem porque não deu tempo de me adaptar ao fuso horário e estava com sono na hora da prova.” Duda é um mistério esportivo. No Troféu Brasil de 2013, disputado na cidade de São Paulo, o atleta, hoje com 27 anos, esparramou areia a 8,31 m da tábua, a melhor marca da sua vida. Curiosamente, ela foi alcançada num torneio ao ar livre, ambiente em que o esportista
ainda não conquistou nenhuma medalha internacional. Se tivesse repetido a medida no Mundial de Atletismo Outdoor de Moscou, ocorrido três meses depois, teria levado a medalha de prata. Ficou em quinto lugar. Um salto idêntico na Olimpíada de Londres, em 2012, teria valido o ouro. Lá, obteve a sétima colocação. A consistência que falta ao ar livre sobra em ambientes fechados. O sucesso nos saltos indoor é um mistério para o próprio atleta. Ele não sabe explicar por que se sai melhor nas provas em ambientes fechados, subvalorizadas por reunirem menos competidores em condições controladas. Duda consegue apenas especular: considera que, talvez, lhe falte paciência para ajustar o salto aos fatores externos, como vento, temperatura e pressão barométrica do local. “Já me disseram que pode ser porque sou um saltador mais de velocidade do que de força, então minha corrida não muda muito”, diz. Além do aspecto técnico, o treinador Aristides Junqueira aponta uma razão psicológica para a diferença de desempenho. “O nível de segurança dele é maior no indoor, por já ter ido melhor nessa categoria”, afirma Tide, como é conhecido. O time sabe que para chegar ao topo é preciso melhorar rapidamente a performance de Duda nas competições outdoor. Para isso, a dupla faz um trabalho específico para aprimorar a distribuição da aceleração e da pressão na hora de finalizar a corrida. É justamente nesse momento – do início ao fim do voo – que os fatores externos agem com mais força. Se Duda chegar com o quadril
“encaixado”, poderá ganhar impulso e atingir marcas maiores. “Ele caiu de pé, com 8,28 m, no Mundial da Polônia”, diz Tide, explicando que uma posição melhor na hora do pulo poderia ter rendido “diversos” centímetros a mais. Antes de aprender a voar com as próprias pernas, Duda preferia usá-las no futebol. Mas era tão rápido na corrida que ultrapassava a bola sem querer. Pode ter sido inspirado pelo centroavante corintiano Mirandinha, aquele que dizia: “Ou eu corro, ou eu penso”. O técnico de Duda sugeria, em tom de brincadeira, mas com aquele fundo de verdade, que o moleque se tornasse um velocista. Os pais seguiram o conselho. Em 2000, levaram Mauro Vinícius, então com 13 anos, à pista de treinamento da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, interior de São Paulo, onde moravam. Duda chegou calçando tênis de futebol de salão. Era o que tinha. Foi Claudinei Quirino, um dos maiores nomes do atletismo brasileiro, quem emprestou a Duda seu primeiro par de sapatilhas, vendo o potencial do garoto e sua falta de ferramentas para o esporte. “Ele já era um ídolo pra mim”, diz Duda. “Tive um estímulo extra ao correr com as sapatilhas dele naquele dia.” Duda impressionou a todos nos primeiros testes. Começou a treinar, mas não durou nem um mês. Como tem labirintite, o trajeto de ônibus até a pista lhe dava tanta vertigem que, quando chegava ao local, não tinha condições de fazer mais nada. Abandonou os treinos. Insistiu no futebol e se matriculou, pouco tempo depois, na escolinha do São Paulo. Treinou em
se tivesse repetido em londres-2012 a melhor marCa de sua vida (8,31 m), duda teria saído da inglaterra Com o ouro olímpiCo. em vez disso, fiCou em sétimo lugar
vão por quatro anos. Nesse meio-tempo, a mãe tinha um sonho recorrente. Na Olimpíada, seu garoto brilhava em algum esporte que nada tinha a ver com futebol. “Parecia ginástica olímpica”, diz dona Iza Lourenço, ex-professora e cabeleireira. “Mas, na tentativa que fizemos, Duda passou por cima do cavalo sem muito esforço. Era muito alto para essa modalidade.” Decidiram retomar o atletismo. O pai voltou com Duda à pista da Unesp em 2004. O retorno de Duda foi marcado por um reencontro crucial. Ao ver que o jovem se embrenhava pelos grupos de corrida, o técnico Tide foi duro. “Você é aqui comigo, e você é saltador”, disse ao atleta. Queria o menino de volta porque lembrava que ele tinha ido muito bem no teste de salto. “Eu tinha feito a avaliação naquela primeira vez e havia gostado muito”, lembra Tide, o primeiro e único técnico do esportista Para driblar o problema da labirintite de Duda, filho do meio entre três meninos, a família Lourenço da Silva se mudou para bem perto da pista. Agora, ele não tinha desculpas para não treinar. Com quase 17 anos, idade tardia para o início da carreira de atletas de alto rendimento, Duda só estava começando a decolar. Ele confessa que, na época, não resistia e batia uma bolinha com os irmãos. Depois de mais um ano, a ficha finalmente caiu. Quando entendeu que não tinha talento para o futebol, resolveu experimentar o que todos diziam ser melhor para o futuro: parou de jogar. “Futebol, hoje, só no videogame”, diz. Duda paga o preço necessário para cres-
cer no esporte. Abdica de festas, bebidas e de determinadas comidas, mas nunca tira o sorriso do rosto, sua marca registrada. “O atletismo é um esporte muito solitário”, afirma o técnico Tide. “Mas Duda tem boa índole, gosta de compartilhar os méritos, tem disciplina e é um bom ser humano, o que facilita muito as coisas.” Para o treinador Aristides, o atleta completo é feito de tronco (a parte metabólica), de membro (a parte mecânica) e de cabeça, que controla tudo. “Quantos talentos não se perdem por falta de juízo?”, pergunta. Na opinião do técnico, Duda, frequentador assíduo do hospital até os 5 anos de idade por causa de fortes crises de bronquite, virou esse tipo de esportista consciente. Do instante em que o Brasil perdeu um boleiro mediano até hoje, ponto alto da carreira do saltador Duda, o caminho mais pareceu uma corrida de obstáculos. A cirurgia para reparar um rompimento do ligamento cruzado da perna direita, em fevereiro de 2011, foi “como mastigar areia”. O atleta teve medo de não poder mais voltar às pistas. “Tive que reaprender a andar, porque perdi a sensibilidade, a força e o equilíbrio na perna operada”, diz. Com a recuperação, que tomou quase meio ano, a temporada de treinamento foi mais curta. Sem a mesma força, o atleta precisou aperfeiçoar uma corrida mais técnica. Deu certo. Para surpresa de todos, logo depois dessa fase, Duda marcou 8,27 m e conquistou uma vaga para o Mundial indoor de Istambul, de onde saiu campeão. O susto da cirurgia foi um divisor de águas. “Descobrimos que o treinamento dele
atletismo
QueM é duda nascimento: 26/12/1986 local: presidente prudente (sp) altura: 1,83 m peso atual: 69 kg Melhores marcas e medalhas mais recentes 2012 Mundial de atletismo de istambul (indoor) 8,28 m_primeiro lugar 2012 olimpíada de londres (outdoor) 8,01 m_sétimo lugar 2013 troféu brasil, são paulo (outdoor) 8,31 m_primeiro lugar 2013 Mundial de atletismo Moscou (outdoor) 8,24 m_Quinto lugar 2013 Jogos sul-americanos de cartagena (outdoor) 8,24 m_primeiro lugar 2014 Mundial de atletismo de sopot (indoor) 8,28 m_primeiro lugar 2014 Jogos sul-americanos de santiago (outdoor) 7,88 m_terceiro lugar
não pode ser muito volumoso, porque o Duda chega à forma muito rápido”, diz Tide. Junto ao forte trabalho psicológico, voltado a ensinar o atleta a lidar com o fracasso e as frustrações, o ritmo moderado de trabalho físico permanece. Duda passa a manhã suando a camisa no Centro de Treinamento da BM&F Bovespa, em São Caetano do Sul (SP). De tarde, descansa no flat onde mora, em São Paulo. As noites são livres para passear, mas não até muito tarde. Por volta das 22 horas ele já está na cama. Nos dois anos que faltam até a Olimpíada do Rio de Janeiro, o trabalho será focado em tornar Duda um atleta completo, preparado para superar o vento, o calor e a umidade das competições ao ar livre. A recente mudança para a capital paulista foi bem mais tranquila do que a primeira vez em que Duda teve de se afastar da família para apostar na carreira. Logo no início, em 2006, Tide e seus pupilos saíram de Presidente Prudente e foram para São José do Rio Preto, também no interior de São Paulo, para treinar no Clube Fulinense, que se tornaria o BM&FBovespa. Paralelamente, o rapaz começou a cursar a faculdade de educação física. Fazia menos de um ano que o pai, Mauro José da Silva, tenente militar, tinha morrido. Duda, muito ape-
gado à família, ligou desesperado para a mãe. Queria largar tudo e voltar para Presidente Prudente. Mais uma vez, dona Iza decidiu fazer uma mudança estratégica: alugou uma casa em Rio Preto para ficar ao lado do filho. Um mês depois da ligação, ela já estava instalada na cidade, onde vive até hoje. “Eu era professora em Prudente, mas não era concursada”, diz. “Além disso, recebo pensão desde a morte do meu marido, então não foi tão complicado mudar.” Encontrou uma boa escola pública para o filho caçula logo que chegou à cidade. Até o ano passado, trabalhou como cabeleireira. “Só parei porque os meninos pediram”, afirma. A primeira medalha de ouro no Mundial de 2012 permitiu a Duda retribuir o apoio. “Tudo o que ganhou ali ele investiu para comprar uma chácara para nós”, diz a mãe, cheia de orgulho. Dona Iza já virou celebridade na região. É reconhecida na rua e as pessoas lhe pedem até autógrafo. Ela também enche a boca para falar dos dois outros filhos. Os irmãos do campeão de atletismo se tornaram o que ele tanto queria ser: profissionais no futebol. João Henrique, o primogênito, jogou em Trinidad e Tobago e na Itália. Já Eduardo José, o caçula, jogou nos Estados Unidos e, atualmente, está no
time do Suzano (SP). “Assim que eles começavam a andar, já colocávamos os meninos para fazer esporte”, diz a mãe. A estratégia claramente funcionou. Duda, o menino que apareceu na pista de atletismo calçando tênis de futebol de salão, hoje tem entre 20 e 30 pares de sapatilhas de corrida. O atleta não se esquece, no entanto, dos primeiros calçados que ganhou. “Usar a sapatilha do Claudinei foi um estímulo para correr melhor e também um exemplo de humildade pra mim”, diz. Exemplo que Duda nunca deixou de seguir. Hoje, ele dá suas sapatilhas aos meninos iniciantes no atletismo. “Com patrocínio, tenho muitos pares”, diz. “Dou o material que não uso mais para quem calça o mesmo número que eu.” Ter uma linha de sapatilhas com o próprio nome é um de seus sonhos. O outro é sair do Engenhão, no Rio de Janeiro, em 2016, com uma medalha no peito. “Sonhar é barato. Não custa nada, não é assim?” Sonha, Duda. E corre. E salta.
nos dois anos que faltam até a olimpíada do rio, o trabalho será foCado em tornar duda um atleta Completo, preparado para superar o vento, o Calor e a umidade das Competições ao CalCanhar de aQuiles duda compete no Mundial de sopot (indoor), em março. nas provas ao ar livre, mais valorizadas, o bicampeão mundial ainda não se firmou
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levantamento de peso
Um doce de A cArA de mAu, os 140 quilos e As quAtro tAtuAgens são ApenAs
fAchAdA. Aos 23 Anos, fernAndo sArAivA reis, o mAis completo AtletA do levAntAmento de peso brAsileiro, gostA mesmo é de levAr flores pArA A nAmorAdA e fAzer AgrAdos pArA A Avó por Danielle SancheS fotos jayme De carvalho jr.
e gigante gringo Paulistano de nascimento, Fernando treina nos EUA. resultados no levantamento de peso garantiram bolsa em universidade americana
levantamento de peso
“PORRA, Dói PRA CARALHO. Dói TUDO, ATÉ A ALMA.” >
A descrição nua e crua do que sente quando está competindo é do halterofilista Fernando Saraiva Reis. Ouvir isso de sua própria boca é mera formalidade: quem assiste aos vídeos do atleta de 23 anos nem precisa do depoimento para saber que está doendo. E muito. O rosto contorcido, a musculatura saltada, os gritos e o suor escorrendo pela face são indícios óbvios do esforço físico e mental exigidos pelo levantamento de peso. “É preciso se acostumar com a dor”, diz o atleta. “Se não sente, é porque não está treinando.” Mas a dor a que Fernando se submete tem trazido resultados: em 2011, no Pan-Americano de Guadalajara, no México, ele quebrou um tabu de 60 anos e trouxe uma medalha de ouro pela primeira vez na história do levantamento de peso brasileiro. Também arrematou o ouro na categoria acima de 105 kg no Sul-Americano de 2014, realizado no Chile, ao levantar 407 kg na somatória total. Ainda mais impressionante foi o sétimo lugar no campeonato mundial alcançado em outubro do ano passado, uma colocação sem precedentes para halterofilistas brasileiros. “A meta agora é só uma: conquistar medalha para o Brasil na Olimpíada”, afirma. Em 2016, Fernando terá 25 anos, considerada a “idade de ouro” para o levantamento de peso, quando os atletas
atingem o auge da preparação física. Não à toa, a expectativa é grande – proporcional ao trabalho que ele tem pela frente. Em Londres, Fernando ficou com o 12º lugar ao levantar 400 quilos na somatória final. O ouro foi para o atual campeão mundial, o iraniano Behdad Salimikordasiabi, que levantou um total de 455 quilos nas provas de arranque e arremesso (confira quadro). “Quero chegar ao Rio de Janeiro erguendo pelo menos 445 quilos”, afirma. Para tanto, sua preparação inclui cinco horas de treinamento todos os dias (até fins de semana), com a ajuda do técnico, o cubano Luís Lopes, referência no esporte. Para contratá-lo, teve apoio do Pinheiros, clube ao qual é filiado, e do pai, Horácio Soares Reis, presidente da Federação Paulista de Levantamento de Peso. Fernando mantém boa relação com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), mas não nutre os mesmos sentimentos pela Confederação Brasileira de Levantamento de Peso (CBLP). “O apoio é mínimo”, afirma. “Também não há um trabalho de incentivo ao esporte nem de desenvolvimento de atletas na base.” A crítica é reforçada pelo pai do atleta, Horácio. “Corremos por fora com o nosso trabalho”, diz ele. O presidente da CBLP, Enrique Montero Dias, diz
desconhecer as críticas e garante que realiza um “trabalho de parceria” com todos os atletas, incluindo Fernando. “Junto com o COB e o Ministério dos Esportes, demos o apoio formal a ele e pedimos para incluir o atleta no Projeto Brasil Medalha”, diz o dirigente. “Nossa relação tem como único objetivo proporcionar condições para que ele possa lutar por medalhas nos Jogos Olímpicos.” Ao contrário da imensa maioria dos atletas do levantamento de peso, Fernando vem de família com boas condições financeiras e consegue aliar o esporte aos estudos. Hoje, vive nos Estados Unidos e divide sua rotina de treinamento com as aulas do curso de administração na Lindenwood University, em St. Charles, nos arredores de St. Louis, Missouri. A vaga veio por causa de sua fama como um dos melhores levantadores de peso das Américas. “A universidade estava oferecendo bolsa de estudos para atletas da modalidade”, lembra a mãe de Fernando, a advogada Silvia Saraiva Reis. “Enviei o currículo dele e quando souberam quem era convidaram na hora”, conta, orgulhosa. Com um dos mais completos programas de treinamento de halterofilismo dos Estados Unidos, o centro esportivo da Lindenwood University é especializado em formar atletas de alta performance,
os tiPos DE lEvAntAMEnto tAmbém chAmAdo de hAlterofilismo, o levAntAmento de peso fAz pArte do cronogrAmA olÍmpico desde A primeirA ediÇão dos Jogos dA erA modernA (1896, em AtenAs, nA gréciA).
_competiÇão é divididA em dois momentos:
2 Arranque – A bArrA com pesos
1 Arremesso – o AtletA ergue
O peso erguido nas duas
é levAntAdA AcimA dA cAbeÇA
A bArrA, fAz umA pAusA
provas é somado. Vence
de umA só vez, num Único
com elA nos ombros
aquele que alcançar o
impulso
e só então A levAntA
maior número
AcimA dA cAbeÇA
principalmente estrangeiros. “Ele é talentoso e trabalha muito duro”, afirma o técnico Jianping Ma, chefe do Departamento Olímpico de Levantamento de Peso da instituição. Embora quase desconhecido no Brasil, Fernando é uma celebridade entre os atletas locais. “É tipo um superstar entre os levantadores de peso americanos”, afirma o técnico. Segundo Jianping, o brasileiro é um bem valioso para a universidade, que consegue atrair estudantes de todo o mundo graças ao brasileiro. “Há quatro anos ele ganha todas as competições de que participa nos Estados Unidos”, diz. “Temos muita sorte de tê-lo conosco.” Nem as melhores condições de treinamento do mundo são capazes de anular a dor constante. “É muito simples: tenho que conviver com ela”, diz. As exigências desse esporte – em que atletas chegam a erguer duas vezes o próprio peso de uma só vez – são excruciantes para o corpo. “Exige muito das articulações e pode causar artrose precoce nos joelhos e na bacia, que sofrem com o desgaste das cartilagens”, afirma o médico Jomar Souza, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE). Segundo o especialista, levantar uma soma de quase meia tonelada – como muitos atletas fazem – passa longe
da carga naturalmente suportável para ossos e tendões. “Por isso, a condição genética favorável, aliada a uma preparação física intensa e minuciosa, é essencial para garantir a saúde física do atleta.” Além da óbvia preparação física, a mente precisa estar em harmonia com o corpo. O tênue equilíbrio entre força, coordenação motora e técnica dá ao levantamento de peso a fama de ser o segundo esporte mais complexo disputado em Olimpíadas, só perdendo, em técnica, para o salto com vara. “Não adianta estar desanimado e fazer algo meia-boca”, afirma o atleta. “O esporte exige 100% de você.” A saúde mental é sempre um desafio para esportistas como Fernando. Uma das formas que ele encontrou para trabalhar isso é o uso de símbolos, como as tatuagens que exibe nos braços e no torso. Os dragões simbolizam a serenidade necessária para competir, enquanto o tigre representa a força. O samurai reforça o conceito de honra do esportista. No peito, a inscrição Família Reis, “porque eles são tudo para mim.” Durante as competições, o atleta costuma recitar frases de Ayrton Senna, seu grande ídolo, e carregar uma santinha, presente do pai. Para manter seus 140 quilos – considerados “leves” pelo esportista –, Fernando acorda de madrugada para fazer refeições.
Durante a concentração da última Olimpíada, em Londres, chegou a comer 12 pedaços de frango em um único dia. Também não pensa duas vezes antes de incluir potes e mais potes de sorvete no cardápio. “O atleta precisa consumir altos níveis de proteína, para reparar os danos musculares, e carboidratos, já que precisa dessa força de explosão na hora de levantar o peso”, afirma o médico Jomar Souza. Fernando nunca sofreu uma lesão grave, daquelas que causam horror em quem assiste, quando o ombro ou o cotovelo se deslocam e giram para o lado errado. Ele mesmo procura não pensar nisso. “Fujo desses vídeos, não gosto nem de assistir.” Mas é algo que pode acontecer. Afinal, a sobrecarga de peso nos membros superiores é absurda. No longo prazo, depois de anos de competição e treinamento, o estresse no osso é tanto que pode causar fraturas e deslocamentos. O medo de presenciar uma lesão grave do filho é o que menos preocupa a mãe de Fernando, Silvia. Mesmo assim, a advogada admite que fica em casa durante as competições. “Eu sou muito ansiosa”, diz. “Não tenho estrutura emocional para ficar ao lado dele nessas horas.” Já o pai, o engenheiro mecânico Horácio, procura acompanhar o filho nas provas mais importantes. “Falo apenas o istoé 2016
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necessário, pergunto se ele está bem, e saio para os bastidores”, diz. Fernando é o mais novo de três irmãos e nasceu em uma família paulistana dedicada ao esporte. Os pais sempre incentivaram os três filhos a praticar todas as modalidades no Esporte Clube Pinheiros. “Esporte é uma forma lúdica de disciplinar”, afirma o pai. Fã de skate e do corte de cabelo estilo moicano, Fernando adorava ver o irmão mais velho levantar peso. Aos 10 anos, pediu para treinar de verdade. Não parou mais. O choque geral ao ver uma criança tão nova levantando peso foi inevitável. “O brasileiro está pouco acostumado com isso, mas na Europa e na Ásia as crianças começam com 6, 7 anos”, diz Horácio. A estranheza em relação ao uso da força e até ao tamanho dos atletas está sempre presente. Embora envolvida no esporte, a família de Fernando não fugiu à regra. “No começo, desconfiei”, diz a mãe. “Eu conhecia pouco do levantamento de peso e precisei de tempo para me acostumar.” A avó materna chegou a ficar sem falar com o pai de Fernando. “Ela dizia que o neto tinha um futuro brilhante, não precisava disso”, lembra Horácio. A desconfiança só desapareceu quando Fernando começou a alcançar resultados animadores. Em 2010, em Sofia, na Bulgária, competiu no campeonato mundial para juniores (até 20 anos) e conquistou a primeira medalha do Brasil nesse torneio, um bronze. No mesmo ano, nos Jogos Sul-Americanos de Medellín, na Colômbia, trouxe a prata. Atualmente, 16º no ranking mundial (confira quadro), Fernando detém desde 2007 os recordes brasileiros no arranque, arremesso e somatória geral nas categorias júnior e adulto para atletas com mais de 105 quilos. 66
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O preconceito contra o esporte se deve ao fato de as pessoas associarem atletas como Fernando (1,85 m, 140 quilos e quatro tatuagens) à agressividade. Nada mais distante da realidade, segundo o pai. “Os dirigentes do COB o chamam de gigante doce, tamanha é sua bondade”, diz. Tranquilo, brincalhão e alegre, Fernando gosta de praia, se diverte com os primos e amigos e costuma deixar flores no parabrisa do carro da namorada, a estudante brasileira Amanda inocêncio, que também mora nos Estados Unidos. Sempre que pode, passa tempo com Thor, um pit bull resgatado das ruas e pelo qual tem verdadeira adoração. “Ele sempre pergunta do cachorro, que já está velhinho e é o melhor amigo dele”, diz a mãe. Muito unida, a família Reis fez do esporte seu negócio: pais e filhos são sócios da F.Reis, centro de treinamento em São Paulo para atletas de alto rendimento que tem entre os clientes o atleta Jadel Gregório. Em maio, a formatura de Fernando contará com a presença ilustre da avó materna, aquela mesma que não queria ver um neto levantador de peso. “Fernando prometeu a ela que iria se formar, deixou até de ir a torneios para estudar e garantir o diploma”, conta a mãe, Silvia. Parece ser mesmo um doce de gigante.
DEDiCAÇão Fernando não tira folgas: treina cinco horas todos os dias. "não adianta estar desanimado e fazer algo meia-boca"
A EvolUÇão Dos rEsUltADos DE FErnAnDo sArAivA rEis Aos 17 anos, participou dos Jogos Pan-Americanos do Rio. Ficou em último. “Nem tinha como ser diferente. Como uma criança poderia competir de igual para igual com adultos?”, defende o pai do atleta, Horácio Soares Reis. Dois anos depois, em Medellín, competiu na categoria para atletas com mais de 105 quilos e conquistou a prata. Embalado pelo resultado, seguiu para o mundial de juniores em Sófia, na Bulgária. Ergueu 372 quilos e conseguiu uma medalha de bronze inédita para o Brasil. Nos anos seguintes, conquistou o ouro no Pan-Americano de Guadalajara, em 2011, e os campeonatos pan-americanos de 2012 e 2013. Acompanhe no quadro a colocação de Fernando no ranking mundial desde 2010.
cAtegoriA sÊnior, mAsculino, 105 quilos+ 2010
37º lugAr
2011
14º lugAr
2012
19º lugAr
2013
16º lugAr
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Anões de UberlândiA conqUistAm oUro em cAmpeonAto mUndiAl e Abrem cAminho pArA A primeirA medAlhA pArAolímpicA brAsileirA no levAntAmento de peso por Rafael fReiRe, de UbeRlândia fotos pedRo matallo
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fortões: Luciano Bezerra Dantas e Lucas elias tavares (à esquerda) conseguem erguer com facilidade mais de 100 kg, apesar de terem o tamanho de crianças
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três da tarde de um domingo qualquer. Cerca de 100 pessoas enchiam a pequena área de desembarque do aeroporto Tenente Coronel Aviador Cézar Bombonato, em Uberlândia, Minas Gerais. Era praticamente uma multidão para os padrões do terminal, cujo tamanho total é inferior a 5 mil metros quadrados. Ansiosos, os presentes experimentavam euforia comparável à de quem aguarda a chegada de um astro do cinema. A origem do voo confundia: Detroit, Estados Unidos. Quando os passageiros começaram a passar pelo portão, não apareceu nenhuma estrela hollywoodiana. O fuzuê se devia à presença dos anões Luciano Bezerra Dantas, 33 anos, e Lucas Elias Tavares, 18. “Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida”, diz Luciano. “Fiquei arrepiado da cabeça aos pés e tive que me segurar para não chorar”, conta a celebridade local, de 1,32 m de altura. Luciano e Luquinhas, como é conhecido o caçula da equipe, voltavam do World Dwarf Games 2013, uma espécie de olimpíada de anões, com medalhas de ouro no pescoço, conquistadas no levantamento de peso. O evento, realizado a cada quatro anos, teve como palco a cidade de East Lansing, no Estado americano de Michigan. Foram 395 competidores de 17 países distribuídos em 17 modalidades. Esta foi a primeira vez que anões brasileiros participaram. Na estreia, fizeram bonito, com quatro ouros no total. Além dos dois anões de Uberlândia, a seleção brasileira de halterofilismo contou com Maria Rizonaide da Silva, de Natal (RN), e Erinaldo Ferreira de Lima, de Goiânia (GO). Eles levantaram, respectivamente, 75 kg e 100 kg, e também foram campeões. “Fizemos o maior sucesso”, afirma Luciano. “É que eu só tenho olhos para minha esposa, porque lá tinha várias anãzinhas dando mole”, brinca o atleta, que é recém-casado com uma mulher de estatura mediana. Ele foi o esportista que levantou mais peso na competição: 145 kg, mais do que o dobro de sua própria massa corporal.
O desempenho dos anões de Uberlândia chamou a atenção do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), que já os considera sérios candidatos a medalhas nos Jogos Paraolímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. O objetivo da entidade é colocar o Brasil na quinta colocação no quadro geral, uma escalada de dois lugares em relação a Londres-2012. Será uma tarefa difícil, já que à frente do País estão potências como Austrália e Estados Unidos. Por isso, o CPB planeja investir em novos territórios, que ainda não trouxeram medalhas para o Brasil, como o halterofilismo. Dentro da modalidade, a grande expectativa é justamente pelo desempenho dos atletas com nanismo. “Eles são leves, têm os braços mais curtos e menos dificuldade para erguer peso”, afirma Edilson Rocha, diretortécnico do CPB. A maior prova de que o comitê está realmente de olho nos anões, segundo ele, é que os dirigentes planejam contratar treinadores de nações fortes no esporte, como Irã, Rússia e Nigéria. Se os Jogos fossem hoje, Luciano já estaria com seu lugar garantido. A marca de 145 kg é a sétima melhor do ranking do Comitê Paraolímpico Internacional (CPI) para a categoria. Mais impressionante ainda é que, nos Estados Unidos, ele optou por competir em uma divisão acima da sua, para não disputar diretamente com Lucas e aumentar as chances de medalha do País. No total, são dez categorias divididas pelo peso corporal do atleta, independentemente de sua deficiência. Ao contrário do halterofilismo olímpico, o levantamento de peso para deficientes é feito na posição conhecida como supino (com o atleta deitado).O desafio de Luciano será ficar entre os oito melhores do mundo nos próximos três anos. Já a tática do companheiro Luquinhas é perder 5 kg para brigar por uma vaga na disputa de atletas com até 54 kg. Se isso acontecer, os 118 kg que ele levantou nos Estados Unidos deverão ser suficientes para levá-lo à Paraolimpíada. “Quando eu comecei a treinar,
caso rEaLmEnTE consigam sE cLassificar para a paraoLimpíaDa, os anõEs DE uBErLânDia farão hisTória como os primEiros aTLETas BrasiLEiros com nanismo a DispuTar os jogos
Lu c a s ELia s Ta va rEs
Lu c ia no BEz Erra Da nTa s
idade: 18 anos altura: 1,27 m Profissional desde 2011 Peso: 59 kg Categoria: até 60 kg melhor marca: 118 kg
idade: 33 anos altura: 1,32 m Profissional desde 2009 Peso: 59 kg Categoria: até 60 kg melhor marca: 145 kg
Principais resultados > Medalha de ouro no World Dwarf Games (2013) > Vice-campeão brasileiro na categoria Júnior (2012) > Quinto colocado no Circuito Caixa Brasil Paraolímpico – etapa de Porto Alegre (2013) > Nono colocado no Circuito Caixa Brasil Paraolímpico – etapa de são Paulo (2013)
Principais resultados Medalha de ouro no World Dwarf Games (2013) > Campeão Brasileiro (2012) > Campeão do Circuito Caixa Brasil Paraolímpico – etapa de são Paulo (2013) > Campeão do Circuito Caixa Brasil Paraolímpico – etapa de Manaus (2013) >
pesava 79 kg, e agora estou com 59 kg”, diz Luquinhas. “Perder mais esses quilinhos não vai ser problema.” Caso realmente consigam entrar para a competição, os anões de Uberlândia farão história como os primeiros atletas brasileiros com nanismo a disputar os Jogos Paraolímpicos. Até hoje, quem ficou mais perto desse feito foi o também halterofilista Bruno Carra,
MeNtor o treinador Weverton santos diz ser fascinado pelo trabalho com os anões: "eles provam todos os dias que são capazes de tudo"
de São Paulo. Ele se classificou para a Paraolimpíada de Londres e chegou a viajar para a capital inglesa, mas acabou pego no antidoping dias antes do início da competição. De acordo com o CPI, o teste flagrou a presença de um diurético proibido. O atleta alegou, na época, que a substância vinha de um chá que ele tomara inocentemente.
Antes mesmo de entrarem para o hall dos esportistas paraolímpicos, Luciano e Luquinhas já sentem o gosto da fama em Uberlândia. “Hoje, as pessoas até nos param na rua para tirar fotos”, afirma Luquinhas. “Não esperávamos ganhar e, muito menos, obter tanto prestígio com o resultado.” Grande parte desse reconhecimento se deve à imprensa mineira. Em uma das reportagens do noticiário local, um repórter da tevê aceitou o desafio de tentar levantar, ao vivo, uma barra com o mesmo peso que Luquinhas havia erguido nos Estados Unidos. O responsável por narrar a tentativa foi Luciano. Ele não poupou brincadeiras ao ver o esforço do jornalista, que acabou, claro, não suportando o peso. O glamour da conquista no campeonato mundial de anões não reflete, porém, a vida dos esportistas. Luciano recebe R$ 950 do programa Bolsa Atleta. O valor não é suficiente para que ele dedique todo o seu tempo ao levantamento de peso. O jeito foi conciliar os treinos com o trabalho como caixa de supermercado. Desde que começou no esporte, há quatro anos, dá expediente no emprego das 8h15 às 14h30. De lá, vai de ônibus para a sala de musculação da Universidade Federal de Uberlândia, local usado pelo Clube Desportivo para Deficientes de Uberlândia (CDDU), organização sem fins lucrativos da qual ele e Luquinhas fazem parte. A bateria de treinos costuma acabar às 19 horas. Para manter a evolução e não se lesionar, ele simula seu desempenho em competições, levantando o máximo de peso possível nas segundas e sextas-feiras. Já os outros dias da semana são reservados para exercícios mais leves, apenas para o condicionamento do corpo. “Meu maior peso homologado foram os 145 kg no mundial de anões, mas já encarei 160 kg”, afirma Luciano. “E pode colocar isso aí na reportagem para o povo ter medo de mim.” Luciano é uma figura querida entre os colegas com e sem deficiência. Falante, gosta de brincar e não se preo-
cupa quando zombam de sua estatura, atitude que leva também para fora da academia. “O filho do meu patrão, no supermercado, também tem nanismo e, quando o chamam de anão, ele fica bravo”, diz Luciano. “Não dá para entender a raiva. Anão ou você é ou não é.” Luquinhas é mais reservado e tímido, mas também se diz muito bem resolvido com seu 1,27 m de altura. Ele cresceu ouvindo piadas dos dois irmãos mais velhos, que não têm nanismo, mas agora virou o jogo. “Eu fiquei fortão e eles, obesos”, diz o caçula. Se por um lado o esporte aumentou sua autoestima, por outro tirou todo o interesse que tinha pelos estudos. No começo do ano, Luquinhas abandonou a escola quando cursava o primeiro ano do ensino médio. Seu plano é concluir o segundo grau fazendo curso supletivo. O cérebro por trás da equipe de halterofilismo do CDDU é o treinador Weverton Santos, 33 anos. Ele, que foi aluno do curso de educação física da Federal de Uberlândia, começou a trabalhar com deficientes durante a graduação. “Isso sempre me fascinou, porque eles são pessoas muito determinadas e que conseguem provar todos os dias para a sociedade que são capazes de tudo”, diz. Hoje, além do levantamento de peso, a associação lida com atletas de natação, bocha, atletismo e vôlei sentado. Para todas essas modalidades, utiliza a estrutura da universidade. “Aqui, temos o suporte da faculdade, incluindo a área de fisioterapia e todo o corpo intelectual, que é bastante engajado no assunto”, diz Weverton. Esse trabalho, segundo ele, fez do CDDU um dos principais clubes de halterofilismo paraolímpico do País. O melhor portfólio da associação, porém, é o desempenho de atletas como Luciano e Luquinhas. Agora, só falta a medalha paraolímpica. Se depender da união do grupo de Uberlândia, ela sairá em 2016, sob aplausos tão calorosos quanto os que receberam os anões no aeroporto, naquela inesquecível tarde de domingo. istoé 2016
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futebol
Mera coadjuvante? A BrAzucA, BolA dA copA no BrAsil, quer fugir dA fAmA que mArcou suA AntecessorA, A imprevisível JABulAni. As estrelAs do pAlmeirAs fernAndo prAss e AlAn KArdec dizem se elA vAi fAzer A diferençA nos grAmAdos do pAís texto rodrigo lara
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Foto: Felipe Gabriel/ag.IstoÉ
Ela podE sEr hEroína ou vilã, dependendo de qual caminho tomar em uma partida de futebol. Pode ser bem tratada pelo craque ou levar caneladas dos jogadores menos talentosos. Nenhum elemento dentro de uma partida de futebol alterna com tanta rapidez e frequência os papéis de protagonista e coadjuvante como a bola. Uma simples pesquisa comprova isso: pergunte para um amigo ou amiga que acompanhou o último Campeonato Brasileiro qual era a marca da bola utilizada na competição. Dificilmente haverá uma resposta direta e certeira. No caminho oposto, há quatro anos, uma bola foi tema de discussões mundiais. Virou piada, bordão de programa de tevê (tendo seu nome narrado pela voz soturna do apresentador Cid Moreira) e sinônimo de algo que não acontece como o esperado. A Jabulani, a bola da Copa do Mundo da África do Sul, não saiu da boca do povo. Criada pela Adidas, seu nome significa “regozijar-se”, no idioma bantu, um dos 11 daquele país. Curiosamente, apesar da expectativa – com uma bola leve, que assumia trajetória imprevisível, eram esperados muitos gols –, a Copa do Mundo da África do Sul teve quantidade de tentos inferior à da Copa da Alemanha, em 2006, e da Coreia do Sul e Japão, em 2002. A Jabulani chegou às redes 145 vezes em 64 jogos, ante 162 gols nos campos alemães e 175 nos gramados asiáticos.
futebol
Por dentro d a Braz u c a Largada de uma altura de 2 metros, a Brazuca quica e atinge elevação de 134 cm a Brazuca é a mais colorida de todas as bolas que a adidas já fez para copas do Mundo Perda máxima de pressão durante o jogo: 7% absorção de água: 2% (em peso) circunferência: 69 cm Peso: 437 g
As possibilidades de melhoria para uma bola de futebol são limitadas. Como entidade que regulamenta a prática profissional do esporte, a Fifa também determina como uma bola deve ser: esférica, feita de couro ou material aprovado, com circunferência entre 68 cm e 70 cm, peso entre 410 g e 450 g e pressão entre 0,6 atm e 1,1 atm. Atender a essas demandas é o requisito básico para a bola ser aprovada para competições oficiais. E para a Copa do Brasil? Devemos esperar uma bola polêmica como a Jabulani? “São muitas diferenças entre ela e a Brazuca”, diz Rodrigo Messias, diretor do Projeto Copa da Adidas Brasil. “A bola anterior usava oito gomos assimétricos, já a Brazuca utiliza seis simétricos”, explica, salientando que essa característica permite voo mais estável. Outro aspecto alvo de críticas da Jabulani, o peso leve, não mudou muito na nova bola. Na verdade, ele diminuiu ligeiramente. “A Jabulani pesava 440 gramas, enquanto a Brazuca pesa 437 gramas”, diz Messias. O diâmetro continua o mesmo: 69 centímetros. Limitada pelos padrões da Fifa, restou à Adidas mudar características da bola que influenciam diretamente no comportamento em campo. Os tipos de materiais utilizados, não revelados pela empresa, afetam fatores como absorção de água (a bola ganha apenas 0,2% de peso), manutenção da pressão e quique em campo.
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A Brazuca começou a ser concebida assim que terminou a Copa da África do Sul. De acordo com a Adidas, a bola reúne características da Tango 12, utilizada na Eurocopa de 2012, e da Cafusa, que foi a estrela da última Copa das Confederações. Ao todo, foram necessárias 18 etapas até a redonda ser oficialmente lançada. Em busca da aprovação profissional – e também para evitar as críticas sofridas pela Jabulani –, a Adidas foi atrás da opinião de mais de 600 jogadores de 30 times em dez países distintos, incluindo aqueles que não possuem contrato com a companhia e que poderiam ser críticos em potencial da novidade. “Também realizamos testes cegos, sem a bola estar identificada”, afirma Messias. Estariam, então, os problemas da Jabulani corrigidos? “Correção não é o termo, já que para cada Copa a Adidas fabrica uma bola específica”, disfarça Messias. A Brazuca já entrou em campo em algumas oportunidades. As 32 federações e confederações que participarão da Copa no Brasil receberam a bola em dezembro de 2013. Além disso, a Brazuca foi utilizada no último Mundial de Clubes da Fifa, realizado no fim do ano passado, no Marrocos. Antes, ela havia participado de um amistoso entre Argentina e Suécia e também da Copa do Mundo sub-20 da Fifa. Nos dois últimos casos, entretanto,
fernado Pras s - goleiro
a la n ka rdec - a ta cante
"rolando na grama, em velocidade baixa, ela desvia um pouco da trajetória. a bola gira rápido no seu eixo, como se patinasse"
"Ela não perde altura fácil, é bem gostosa de chutar, não exige muita força. acho que vai gerar muitos gols na Copa"
atuou disfarçada de Cafusa. Em cada jogo da Copa do Mundo, serão fornecidas 25 bolas. Mesmo com todos esses testes, a 2016 estava curiosa sobre a opinião dos jogadores. Afinal, o que profissionais pensam sobre a bola oficial da Copa? Viajamos até Atibaia, no interior de São Paulo, para colher as impressões de dois atletas de ponta. Titulares do Palmeiras, o goleiro Fernando Prass, 35 anos, e o atacante Alan Kardec, 25, puderam passar minutos proveitosos com a redonda. A escolha não foi à toa: goleiros e atacantes foram os principais críticos da Jabulani. Enquanto a primeira classe acusou a bola de desviar aleatoriamente sua trajetória em chutes de longa distância, atacantes encontraram dificuldades justamente na hora de acertar o gol, já que o peso reduzido fazia com que a bola ganhasse muita velocidade e altura. No primeiro contato com a novidade, ambos os jogadores ressaltaram duas características. “Ela é bastante leve e parece ser menor do que a que estamos jogando o Campeonato Paulista”, afirmou Prass. Lado a lado com a bola em questão, da marca Topper, modelo KV Carbon 12, a Brazuca realmente parecia menor. Entretanto, a ficha técnica da Topper aponta diâmetro de 67 cm, dois a menos do que o da Adidas. A possível explica-
Fotos: joão castellano/ag. IstoÉ | Helio Suenaga/Getty
ção está na diferença de calibragem. “Ela tem uma textura diferente, que parece ajudar na hora do chute”, diz o atacante Alan Karkec. Para ser exato, a bola tem pontos em sua superfície com objetivo de “agarrar” na chuteira, facilitando na hora de colocar efeito. Em campo, após mais alguns passes e chutes, novas impressões. “Rolando na grama, em velocidade baixa, ela desvia um pouco de trajetória”, disse Prass. “A bola gira mais rápido no seu eixo, como se patinasse”, afirmou o goleiro. “Passes fracos e recuos que não sejam bem planejados para o goleiro podem complicar a vida dos jogadores”, disse Kardec. Na hora de lançamentos longos e chutes a gol, a Brazuca é menos exigente. Para Kardec, é fácil fazer a bola viajar por longas distâncias. “Ela não perde altura fácil, é bem gostosa de chutar, não exige muita força. Acho que vai gerar muitos gols na Copa.” Já Prass salienta que essa característica deve dificultar um pouco a vida dos goleiros. “É uma bola boa, mas ganha velocidade rápido.” Resta agora esperar o 12 de junho, quando brasileiros e croatas entram em campo na partida de abertura da Copa, no Itaquerão. Lá, se tudo der certo, ela deverá ser apenas uma coadjuvante, longe da (má) fama que marcou sua antecessora.
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VISIBILIDADE O campeão Mo Farah no telão do estádio olímpico de Londres: empresa promete dobrar a resolução das imagens 76
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momento de definição Fornecedora oFicial de equipamentos de áudio e vídeo, a japonesa panasonic apresenta um arsenal de inovações aos organizadores da rio 2016. É hora de escolher como a nossa imagem chegará ao mundo
Sentado à meSa do reStaurante de um hotel em Osaka, a segunda maior cidade japonesa, o executivo Shunsu Sonoda só tem olhos para o futuro. Ele vislumbra imagens com incrível definição, detalhes impossíveis de serem captados apenas pela vista humana, a realidade como jamais vimos até agora. E, como cenário para elas, paradisíacas paisagens do Rio de Janeiro ou arranha-céus no inigualável skyline de Tóquio. Sonoda não é um sonhador. Chefe do escritório global de marketing olímpico da Panasonic, sua missão é levar a companhia ao alto do pódio na acirrada competição do mercado mundial de eletrônicos, uma disputa que, para ele, passa diretamente pelas arenas das duas próximas edições das Olimpíadas de verão. “Na Rio 2016, teremos os Jogos do 4K”, afirma. “Mas, para Tóquio 2020, quando estaremos na nossa casa, o desafio é chegar ao 8K”. Sonoda é japonês e discorre, em um inglês carregado de sotaque, sobre uma linguagem tecnológica que começa a se tornar mais visível às lojas brasileiras. Então, convém uma tradução: o 4K e o 8K expressam uma medida de definição das transmissões e da recepção das imagens de televisão. Um aparelho de tevê 4K tem quatro vezes mais resolução do que um no padrão HD atualmente utilizado no Brasil. O 8K, por analogia, dobrará a resolução em relação às tevês 4K, já à venda no Brasil e novo ícone de consumo de telespectadores mundo afora. A Copa do Mundo de 2014 já terá transmissões no padrão 4K, mas poucos poderão desfrutá-lo, sobretudo por aqui, já que as emissoras nacionais não estão aparelhadas para fazer esse sinal chegar às casas. Na prática, o ano olímpico de 2016 é um horizonte realista para que essa tecnologia tenha sua estreia real no País, tendo os Jogos do Rio como grande vitrine.
por Luiz Fernando Sá, de osaka istoé 2016
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ALCANCE: Arena de Hóquei, em Londres: nos Jogos Britânicos, foram usados 45 telões
Não por acaso, Sonoda e seus colegas da Panasonic têm vivido numa verdadeira ponte aérea Japão-Brasil nos últimos meses. “Perdi as contas de quantas vezes estive no Rio ultimamente”, diz o executivo. No final de março, o time da companhia esteve em peso no País, onde participou de um seminário tecnológico do comitê organizador da Rio2016. Depois de um longo período de estudos dos planos das autoridades brasileiras, havia chegado o momento de os japoneses, fornecedores oficiais dos equipamentos de áudio e vídeo para os Jogos Olímpicos, apresentarem suas propostas. Na bagagem, carregavam um arsenal de soluções técnicas inovadoras para serem usadas desde a cerimônia de abertura até a identificação de crianças perdidas nas dependências olímpicas. A partir de agora, o momento é, sem trocadilhos técnicos, de definição: o que – e em que quantidade – será utilizado para levar as mais incríveis imagens dos Jogos, seja às telinhas dos operadores 78
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das centrais de segurança, seja aos telões dos ginásios e estádios e às tevês de bilhões de pessoas mundo afora. A cada edição dos Jogos, desde Seul 1988, a Panasonic entrega algo mais em relação à anterior (confira quadro no alto da página). Por isso, Londres 2012 e a recém-encerrada Olimpíada de Inverno de Sochi, na Rússia, serviram de base para a apresentação feita pelos técnicos da empresa. Os jogos britânicos inauguraram a era das transmissões em 3D. O Rio será o evento 4K. Cada vez que astros como o jamaicano Usain Bolt ou o britânico Mo Farah surgirem nos telões do estádio olímpico, por exemplo, serão vistos com qualidade até duas vezes superior à que encantou plateias há dois anos. “Com as novas tecnologias disponíveis, podemos reduzir a distância entre os milhares de lâmpadas de LED que formam os telões e, com isso, praticamente dobrar a resolução das imagens”, afirma Alessandro Batista, líder de projeto para a Rio-2016 na Panasonic Brasil.
“O que faremos dependerá do desejo dos organizadores e das necessidades de cada ambiente”. Em Londres, foram usados 45 telões, com uma área total de 1,7 mil metros quadrados. Quatro anos antes, em Pequim, foram 25, com 1,3 mil metros quadrados. Para auxiliar os brasileiros na tomada de decisões, a Panasonic oferece outra inovação: um software que permite construir, em realidade virtual, as arenas a serem usadas nos Jogos. Com eles, será possível passear pelas instalações e definir onde colocar cada equipamento e qual o mais adequado para cada local. Um dos pontos altos da experiência de Sochi, a projeção mapeada também está no cardápio à disposição dos brasileiros. Trata-se de uma tecnologia que permite fazer uma espécie de “leitura” da arquitetura de um edifício e, a partir de suas formas e elementos como portas e janelas, utilizá-lo como tela para a projeção de imagens de altíssima qualidade.
AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS INTRODUZIDAS PELA PANASONIC NAS OLIMPÍADAS seul 1988
_Começa a fornecer equipamentos para as transmissões olímpicas
Barcelona 1992
_Primeira transmissão digital de imagens
pequim 2008
_Primeira transmissão em full Hd
londres 2012
_Primeira transmissão em 3d
rio 2016
_Primeira transmissão em resolução 4K
tÓquio 2010
_Primeira transmissão em resolução 8K
eM SoCHi, a PanaSoniC aPreSenTou uM SoFTWare de reConHeCiMenTo FaCiaL Que Faz o raSTreaMenTo de QuaLQuer PeSSoa Que CirCuLe PeLaS inSTaLaÇÕeS
INOVAÇÃO Câmera para geração de imagens em 3D: tecnologia foi usada pela primeira vez em Londres 2012. No Rio, será a vez do 4K
oLÍMPiCaS
PRODUTOS FORNECIDOS PELA PANASONIC DURANTE OS JOGOS OLÍMPICOS pequim 2008
londres 2012
telas grandes de Led 14
atenas 2004
25 (1.312 m²)
45 (1.730 m²)
Sistemas de áudio em arenas
14
41
36
tevês
15.000
10.000
12.000
Gravadores
400
250
300
Câmeras
200
100
100
monitores
2.100
1.500
1.000
A maior contribuição russa, no entanto, pode estar na área de segurança. Preocupadas com ameaças de terrorismo, as autoridades de Sochi encomendaram à Panasonic o que havia de melhor em câmeras e sistemas de segurança – e está tudo disponível também para o Rio. Também aqui, a definição das imagens é fundamental. Associadas ao que há de mais moderno em softwares de reconhecimento facial, elas permitirão fazer o rastreamento de qualquer pessoa que circule pelas instalações olímpicas. Fundamental para a identificação de criminosos, os recursos podem ser usados, segundo Batista, em ações bem mais prosaicas, como um caso de desaparecimento de uma criança em meio à multidão. “Basta que a mãe tenha reportado onde e quando foi a última vez que a viu e uma pessoa na central de monitoramento poderá recuperar a imagem e, a partir daí, seguir cada passo dessa criança até a localização em tempo real”, explica. Seria, assim, um reencontro em alta definição.
VIDA CARIOCA
No boNde da hist贸ria
O teleféricO dO PãO de AçúcAr, que há um séculO levA turistAs A quAse 400 metrOs de AlturA, já trAnsPOrtOu mAis de 40 milhões de PessOAs. POr que ele cOntinuA A cAtivAr tAntA gente?
por Rafael de Pino
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O COmplexO dO pãO de AçúCAr, no Rio de Janeiro, formado pelos morros do Pão de Açúcar, da Urca e da Babilônia, sofre com uma guerra de facções. As batalhas travadas entre os grupos (um se localiza no cume do morro da Urca; outro, na base desse mesmo morro; e um terceiro, no cume do Pão de Açúcar, o mais alto) terminam em morte. A denúncia é do técnico em mecânica Nilo Valiatt, 63 anos de idade, 20 deles como funcionário da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, que administra os passeios de teleférico – ou bondinho, como o carioca carinhosamente o apelidou. “Está se transformando num problema muito sério, principalmente porque os turistas continuam alimentando os micos”, afirma Valiatt. “Agora os bichos brigam por território. Vêm pelos cabos de aço do bondinho e se encontram no meio do caminho. E o tapa come feio mesmo. Um grupo não entra mais no território do outro sem briga. Volta e meia um deles cai e morre”, diz. Quando a briga não acaba em morte, o destino pode ser trágico do mesmo jeito. “Às vezes chega o gavião e coloca todo mundo pra correr.” Com exceção do drama dos micos violentos, a visita ao alto dos morros da Urca e do Pão de Açúcar é um respiro de calmaria dentro de uma das maiores cidades do mundo, que está prestes a virar
o centro das atenções globais como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. A chegada à base de onde sai o bondinho já é um alento. A Urca é um dos bairros mais bucólicos da zona sul do Rio. Com o isolamento físico proporcionado pela cadeia de montanhas e a segurança passada pela presença do Círculo Militar da Praia Vermelha, é um lugar ainda muito ocupado por casas e diversos restaurantes de rua. A associação de moradores local é uma das mais atuantes do Rio e sempre aparece no noticiário como protetora ferrenha da tranquilidade no bairro. Desde 2006, lutou contra a instalação do Istituto Europeo di Design (IED), que abriria uma escola no antigo prédio do Cassino da Urca. O argumento principal foi o crescimento do número de visitantes no bairro. A polêmica mais recente foi a implantação de placas nos postes, convocando a população local para denunciar a presença de “toda pessoa ou atividade suspeita”. Se a associação existisse já em 27 de outubro de 1912, quando a primeira linha do bondinho foi inaugurada, provavelmente teria criado sérios entraves ao sonho do engenheiro Augusto Ferreira Ramos, fundador da Companhia. O visitante chega pela Praia Vermelha e enfrenta uma fila para comprar seu bilhete por R$ 53 (inteira) ou R$ 26 (para menores de 21 anos). Crianças com até 6
TRADIçÃO O engenheiro Augusto Ramos, fundador da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar: depois de 100 anos, o bondinho continua a ser administrado por uma empresa familiar
VIDA CARIOCA
anos não pagam, e idosos, estudantes e portadores de necessidades especiais pagam meia-entrada. As saídas do primeiro trecho do bondinho são de 20 em 20 minutos ou quando a lotação de 65 pessoas é alcançada antes desse intervalo. A subida da Praia Vermelha até o alto do Morro da Urca dura três minutos, e o bondinho, com operação totalmente digital desde 2009, quase não balança. Basta pisar no alto do Morro da Urca para ter o primeiro impacto de calmaria. É quase impossível ouvir os barulhos da cidade, e mesmo os grupos mais animados de turistas parecem respeitar o silêncio proporcionado pelo isolamento de uma montanha de 220 metros. O segundo trecho da viagem, entre os cumes do Morro da Urca e do Pão de Açúcar, também dura três minutos. Sem atrasos ou filas, em 20 minutos já é possível chegar com conforto a uma vista de 360 graus do Rio de Janeiro, a 396 metros de altura. Mais de 40 milhões de bilhetes já foram vendidos desde a inauguração. O maciço de granito azulado do Pão de Açúcar foi formado há 560 milhões de anos, segundo pesquisa recente do Serviço Geológico do Brasil. Sua beleza e imponência chamaram a atenção dos primeiros conquistadores portugueses. Foi citado ainda no século 15 pelo padre José de Anchieta como “admirável”.
O nome teria sido dado pela semelhança entre a montanha e o formato de cone dos vasos de açúcar transportados da Ilha da Madeira para a Europa, chamados “pães de açúcar.” Outra teoria é a semelhança fonética com a expressão em tupi “pau-nh-açuquã”, que significa “penedo alto, isolado e pontiagudo”. Por séculos, o Pão de Açúcar foi admirado apenas de longe. O primeiro ser humano a conquistar seu cume foi a montanhista inglesa Henrietta Carstairs, em 1817, aos 39 anos de idade. O feito foi logo repetido por alguns militares brasileiros e americanos, mas a conquista da montanha ainda era considerada praticamente impossível. A façanha mais surpreendente foi o do fotógrafo brasileiro de origem francesa Marc Ferrez. Em 1880, quando Ferrez escalou o Pão de Açúcar com mais de 100 quilos de bagagem, entre a máquina fotográfica e os equipamentos de revelação, aquele era o único grande panorama do Rio de Janeiro ainda não registrado. Outros picos famosos, como o Corcovado e a Floresta da Tijuca, já tinham a vista registrada por pintores e fotógrafos. A imagem captada por Ferrez estimulou a imaginação dos moradores e turistas e popularizou uma das vistas mais impressionantes e inacessíveis da cidade. Um dos muitos impressionados pela imagem de Ferrez foi o engenheiro Au-
gusto Ferreira Ramos. No começo do século passado, o Rio de Janeiro viveu diversas transformações urbanas implantadas pelo prefeito Francisco Pereira Passos. Concluídas as mudanças, foi organizada uma exposição nos moldes das realizadas em grandes capitais europeias para apresentar a “nova cidade” aos governantes e empresários estrangeiros. O local escolhido foi um terreno de 182 metros quadrados onde hoje está a avenida Pasteur, principal via de acesso ao bairro da Urca. A Exposição Nacional ocorreu em 1908 e Augusto Ramos, um dos organizadores, foi um dos frequentadores mais assíduos. Foi nessa época, segundo registros históricos, que ele teve a ideia de ligar a Urca ao cume do Pão de Açúcar usando cabos de aço e um teleférico – tipo de transporte de passageiros que tinha começado a ser implantado com sucesso na Europa. Em uma cidade com sede de modernização, não foi difícil encontrar apoio do poder público e de investidores. O engenheiro Ramos fundou a Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar em 1911 e importou os equipamentos de uma empresa da cidade de Colônia, na Alemanha. A inauguração do trecho entre a Praia Vermelha e o Morro da Urca ocorreu no dia 27 de outubro de 1912. O segundo trecho, entre o Morro da
O COMPLEXO DO PÃO DE AçÚCAR, ObsERvADO EM TODA A suA PLEnITuDE DE DEnTRO DO bOnDInhO, sOFRE COM uMA GuERRA DE FACçÕEs. As bATALhAs sÃO TRAvADAs EnTRE GRuPOs DE MICOs, DIsPOsTOs A MATAR E MORRER PARA DEFEnDER sEu TERRITÓRIO
Urca e o Pão de Açúcar, foi inaugurado pouco depois, em 18 de janeiro de 1913. Finalmente, qualquer pessoa poderia apreciar e registrar a vista pagando um bilhete de 2 mil réis, o equivalente a R$ 9 hoje em dia. Qualquer pessoa sem medo de altura, diga-se. Apesar de nunca ter registrado acidente com morte, o carro aéreo alemão – apelidado de “bondinho” pela semelhança que tinha com os bondes que faziam o transporte na cidade – era uma caixa de madeira de aparência frágil que saiu de operação só em 1972 e passou a ser exposta no topo do Morro da Urca. Hoje é possível entrar no bondinho original e sentir a madeira estalar sob os pés, mas é impossível simular a sensação de ter essas mesmas tábuas estalando a quase 400 metros de altura. Um terceiro trecho, também planejado por Ramos, ligaria o Morro da Urca ao Morro da Babilônia, que se estende da Urca até o bairro do Leme, na zona sul. Nunca saiu do papel por conta do Ministério da Guerra, que considerou que o teleférico ocuparia uma área estratégica da defesa da Baía de Guanabara e ameaçaria a segurança nacional. A ideia voltou a ser aventada por políticos na década de 1980 e em 2012, por conta do centenário da empresa, mas acabou
abafada por apelo dos moradores do Leme, assustados com o tumulto que poderia causar no bairro. A Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar mudou de comando duas vezes: Augusto Ramos deixou a presidência em 1934 e foi sucedido pelo industrial e banqueiro Carlos Pinto Monteiro (1934 a 1962) e pelo engenheiro Cristóvão Leite de Castro (1962 a 1999), que era funcionário desde 1930. Em 1994, a filha de Cristóvão, a arquiteta Maria Ercília Leite de Castro, assumiu como diretora-geral, mantendo-se à frente da companhia até hoje. Em 1961, seu Cristóvão estava prestes a assumir o controle acionário da Caminho Aéreo e buscava talentos para formar uma nova equipe de administração. Acabou encontrando aquele que seria seu funcionário mais fiel sem nem sequer precisar sair das imediações da entrada do teleférico. Antônio Lourenço tinha 21 anos de idade e trabalhava vendendo refrigerantes para os visitantes da Praia Vermelha em um restaurante. “Seu Cristóvão me via trabalhando ali e, um dia, me chamou para trabalhar com ele”, afirma Lourenço. O jovem começou na empresa como servente, mas atuava como “faz tudo”, instituição bem brasileira muito comum em empresas familiares como a que administra o bondinho. “Se faltava um
funcionário, eu substituía”, diz. “Fazia transporte com o cargueiro, lubrificava os cabos, colocava água nos tonéis.” O primeiro desafio foi superar o medo de altura. Até trabalhar no bondinho, Lourenço nunca tinha subido no teleférico. Acabou perdendo o medo, mas sofreu uma queda que quase lhe custou a vida. Estava refazendo as soldas de uma contenção de entulhos no Morro da Babilônia quando se soltou e caiu, segundo conta, “de uma altura de 20 metros”. Não sofreu um arranhão e ganhou o apelido de “seu Gato”, que o acompanhou até deixar a empresa em novembro de 2013, aos 73 anos, depois de 52 anos de trabalho. O atual diretor-técnico do bondinho, Giuseppe Pellegrini, entrou na empresa um ano depois de Antônio Lourenço, em 1962, e tinha verdadeira paixão pela altura. Nascido na Itália, Pellegrini emigrou depois que o pai morreu e a mãe ficou doente. Veio acompanhado de uma tia e tinha apenas 9 anos. Aos 14, começou a escalar com amigos de colégio e, aos 17, já era instrutor de seu clube de montanhismo. Teve alguns empregos antes de trabalhar no bondinho, mas acabava saindo deles para se dedicar à paixão pela escalada. Seu Cristóvão conheceu Pellegrini quando o italiano reuniu outros montanhistas para “ocupar” as encostas do Pão de Açúcar como parte das comemorações istoé 2016
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Os númerOs dO bOndinhO dO pãO de AçúCAr Inauguração: 27 de OutubrO de 1912 (primeirO treChO) e 18 de jAneirO de 1913 (segundO treChO) Ponto mais alto: 396 metrOs Duração total da subida: 6 minutOs Capacidade: 65 pAssAgeirOs Preço do bilhete hoje: r$ 53 A inteirA e r$ 26 pArA menOres de 21 AnOs Preço do bilhete na inauguração: 2 mil réis, O equivAlente A r$ 9 bilhetes vendidos desde a inauguração: 40 milhões
de 50 anos de atividade da empresa. “Ele me conheceu durante os preparativos da festa e me perguntou o que eu queria fazer da vida”, afirma Pellegrini. “Acabei escolhendo a área técnica, que era mais a minha praia.” Até ser contratado por Cristóvão, Pellegrini tinha subido o Pão de Açúcar 50 vezes. Somente uma tinha sido pelo bondinho. Um dos orgulhos de Pellegrini, além das realizações profissionais, é ter conquistado três das quase 300 vias de escalada abertas no complexo de montanhas do Pão de Açúcar. A região é conhecida como uma das mais importantes e desafiadoras áreas de escalada técnica do País. Atualmente, recebe esportistas do mundo inteiro. Os acidentes graves são raros, mas Pellegrini e sua equipe já auxiliaram no resgate de montanhistas. Em dezembro de 2012, o geofísico Bruno da Silva Mendes, 32 anos, morreu após uma queda de 70 metros em uma das vias de escalada mais populares do Pão de Açúcar. O acidente deixou outra escaladora ferida e o resgate só foi acionado depois do alerta de funcionários da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, que não é responsável pela manutenção da via ou pela segurança de quem tenta escalar as encostas. No teleférico, a empresa garante que nunca houve acidentes com vítimas fatais. O grande salto de segurança veio com a substituição do “caixote de madeira” original por um bondinho mais moderno, em 29 de outubro de 1972. A capacidade máxima de transporte subiu de 115 para 1.360 passageiros por hora, mas a principal mudança foi na segurança. O bondinho de 1972
sEGuRAnçA Funcionários fazem manutenção no bondinho: em mais de um século, nenhuma vítima fatal
passou a ter 43 itens de segurança e qualquer alteração nesses itens interrompia o funcionamento. Nessa mesma época, Pellegrini implantou entre os funcionários as mesmas técnicas de segurança utilizadas à época pelos montanhistas profissionais. O novo bondinho foi importado da Itália e seu formato lembrava o de um diamante. Além de belo, era feito de ferro e vidro e tinha muito mais estabilidade que o original, o que deu maior sensação de segurança aos visitantes. No fim da década de 1970, o bondinho virou protagonista da série de ação e espionagem mais famosa do cinema mundial, a franquia 007. Em “007 Contra o Foguete da Morte”, de 1979, o espião britânico James Bond, interpretado por Roger Moore, combateu o vilão Dente de Aço dependurado nos cabos de sustentação do bondinho. A atração turística, que já rivalizava com o Cristo Redentor no número de turistas, viveu sua época de ouro. Em 1980, o produtor musical Nelson Motta inaugurou no Morro da Urca a programação do Noites Cariocas, que marcou a vida cultural da cidade durante a década inteira e abrigou shows de estrelas em formação, como Lulu Santos, Barão Vermelho, Lobão e Blitz. Foi nessa época que se estreitou a relação da arquiteta Maria Ercília Leite de Castro, atual diretora-geral da Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar, com a empresa que seu pai presidia. A primeira memória de Maria Ercília com o bondinho é uma frustração: seu pai nunca deixou que ela andasse em cima do antigo carro de madeira, como faziam seus dois irmãos mais velhos. “Primeiro, ele me prometeu que eu poderia ir com ele quando fizesse 9 anos”, diz. “Depois que eu fiz 9 anos, ele disse que eu não tinha altura suficiente ainda. Quando tive altura, o bondinho antigo foi abandonado e eu nunca consegui realizar esse sonho de infância.” Enquanto os irmãos homens eram treinados para, um dia, substituírem Cristóvão na presidência da empresa, Maria
Ercília investiu na carreira de arquiteta. Formou-se e, anos depois, fez mestrado em administração de empresas. Só visitava a empresa nas reuniões de fim de ano. Com exceção, é claro, do período de shows do Noites Cariocas. “Foi uma época mágica”, lembra. “Adorei quando veio o Billy Paul (cantor americano de soul), mas o show que me marcou muito foi o do Ney Matogrosso. Ele trocava de roupa várias vezes, mas era quase impossível perceber.” O que era apenas diversão acabou virando trabalho em 1993. Depois de dois de seus irmãos terem passado pela empresa, sem sucesso, em uma época de grande crise econômica no País (e na empresa), Maria Ercília foi chamada por Cristóvão para substituí-lo. “Encontrei a empresa em muita dificuldade, sem dinheiro para nada”, afirma. A crise econômica passou com o Plano Real, em 1994, e a empresa, organizada, acabou se recuperando. Entre 2008 e 2009, com um investimento de R$ 18 milhões, os bondinhos de 1972 foram substituídos por versões mais modernas, com a operação totalmente digital. O design charmoso foi mantido. A gestão familiar da empresa também permaneceu: uma S.A. fechada com cerca de 40 acionistas, grande parte de representantes do espólio dos antigos donos, e 200 funcionários. “São poucas as empresas que duram 100 anos. É um motivo de orgulho”, afirma Maria Ercília. A cultura familiar impregnou os funcionários. O técnico em mecânica Nilo Valiatt, que demonstra preocupação com a crise envolvendo a disputa de território dos micos que vivem no Complexo do Pão de Açúcar, tem 20 anos de empresa, dedicados a fabricar com os próprios punhos todas as peças e engrenagens que fazem o bondinho funcionar. “Tenho muito amor pelo que faço”, diz. “Pegar um pedaço de ferro imundo, horrível, e transformar aquilo em uma obra que todo mundo admira é uma realização”, afirma. istoé 2016
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jogos de inverno
Os acertOs e errOs de sOchi A OlimpíAdA mAis cArA dA históriA pOde Oferecer lições vAliOsAs AOs OrgAnizAdOres dOs JOgOs dO riO
por Vera Lynn
velocidade a paraolímpica americana alana Nichols compete no slalon gigante 86
istoé 2016 Foto: Tom Pennington/Getty | Reprodução | Shutterstock
O COmitê OrganizadOr da riO-2016 enviOu 100 ObservadOres para Os JOgOs de invernO de sOChi. A missão dessa turma: acompanhar de perto tudo o que envolve a organização de uma Olimpíada e trazer informações, lições e dicas que possam ser utilizadas ou adaptadas para a realidade carioca. “O registro dessas experiências e a passagem de conhecimento são importantes para esclarecer detalhes e ajudar no nosso planejamento”, diz Patricia Ribeiro, gerente de gestão do conhecimento do Comitê Rio-2016. No relatório produzido pelos olheiros brasileiros que foram aos Jogos de Londres, constavam valiosas análises. Os profissionais perceberam que as alamedas para circulação dos torcedores no Parque Olímpico precisavam ser amplas – como de fato eram –, pois se tratava do principal espaço de convivência entre os turistas de diversos países. Em Londres, eles também mediram a distância entre as cadeiras, observaram a localização dos banheiros e o sistema de ar-condicionado dos ginásios esportivos. Tudo isso ajudou no planejamento da Olimpíada do Rio e agora novas informações virão dos olheiros de Sochi. Acompanhe, a seguir, as principais questões observadas pelos analistas brasileiros e descubra onde os russos erraram e onde acertaram.
hOsPedaGeM erro
tOrc ida acerto
cUstO erro
os russos fizeram de tudo para deixar Sochi bonita (se é que é preciso algum esforço para um lugar belo por natureza) e erguer instalações esportivas que impressionassem o mundo. Só esqueceram de investir na rede hoteleira local. Foi um vexame. Quartos com cachorros nas camas, falta de água quente, banheiros com duas privadas, buracos nos tetos, portas sem maçanetas e até um hotel com câmeras de segurança instaladas no box do chuveiro – é de se perguntar quem tinha acesso às imagens. as reclamações de turistas correram as redes sociais e viraram piada internacional.
Quem esperava uma recepção gelada dos torcedores russos enganou-se completamente. claro, a preferência era pelos atletas locais, ovacionados com disposição digna de um Maracanã lotado. Mas os russos também reconheceram os esforços de outros concorrentes – até os brasileiros, muitos deles abaixo do nível esperado para uma olimpíada, mereceram aplausos entusiasmados. a preocupação com arenas vazias não se justificou. Nas provas eliminatórias, era até possível ver assentos vazios, mas as finais estavam sempre lotadas. os organizadores contabilizaram mais de um milhão de bilhetes vendidos, acima da estimativa feita pouco antes da olimpíada.
a olimpíada de Sochi foi a mais cara da história. Custou us$ 51 bilhões, US$ 8 bilhões a mais do que os chineses gastaram para fazer os Jogos de Pequim-2008 e US$ 35 bilhões acima do custo previsto para a Rio-2016. Sob qualquer ângulo que se analise o gasto dos russos, trata-se de uma aberração. “Mesmo se as estradas fossem construídas com ouro e caviar, não justificariam tanto dinheiro”, escreveu um jornalista russo. o motivo da gastança é o de sempre: corrupção.
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jogos de inverno
VOLUNta riadO erro
traNsPOrte acerto
c ONec tiVidade acerto
Não tem jeito: a língua oficial de grandes eventos esportivos é o inglês. em Sochi, muitos voluntários não falavam outra língua a não ser o russo – o que não faz sentido algum, pois eles foram selecionados justamente para auxiliar na organização do evento. o problema foi observado até pelo alemão Thomas Bach, presidente do comitê olímpico internacional, que chegou a fazer piadas sobre o assunto. agora, o temor é que o Rio cometa o mesmo pecado. assim como na Rússia, no Brasil apenas uma pequena parcela da população fala inglês. o comitê organizador Rio-2016, porém, garante que todos os voluntários contratados para a olimpíada carioca serão obrigados a dominar uma língua estrangeira.
custou caro, mas funcionou. Foram US$ 9,5 bilhões para a construção de uma linha de trem de 48 quilômetros entre o centro de sochi e as montanhas de Krasnaya polyana, sede da maioria das provas. Por outros US$ 3 bilhões, o governo russo construiu em Sochi uma autopista elevada, o que praticamente eliminou o risco de congestionamentos. além disso, quem tinha credencial (atletas, treinadores, jornalistas e pessoal da organização) contava com ônibus gratuitos, bem sinalizados e que cumpriam rigorosamente seus horários. Para os turistas, uma medida simples revelou-se de extrema eficiência: carros com placas de outras regiões do país não podiam circular numa zona pré-determinada, próxima das arenas de competições (por que não repetir a mesma ideia no Rio?). a questão da mobilidade foi a mais bem avaliada pelo comitê olímpico internacional.
No quesito conectividade, os russos deram um banho nos ingleses. enquanto nos Jogos de londres-2012 a internet caía o tempo todo e até uma prova de ciclismo feminino acabou atrapalhada por falhas de comunicação, em Sochi tudo funcionou à perfeição. a infraestrutura de comunicação recebeu investimentos de us$ 250 milhões. Segundo os organizadores, foram instalados mais de 300 quilômetros de fibra ótica e a rede de banda larga era cinco vezes mais veloz do que a desenvolvida para a olimpíada britânica. os russos calcularam que cada visitante traria um mínimo de três dispositivos (um smartphone, um tablet e um computador, conectando todos eles a uma rede sem fio). a partir desse cálculo, estimaram a infraestrutura que seria necessária para atender à demanda.
O b ra s i L eNVi O U 100 O b s e r V a d Or e s Pa R a a Rú SS ia . a S iN FoRM açõ e S c ol e Ta daS PoR el eS S e Rve M de R e F e R ê Ncia PaRa oS J o G o S de 2016
QUeda o japonês Keiichi Sato durante a prova de 10 km de cross country, em Sochi Foto: Mark Kolbe/Getty | Reprodução | Shutterstock
Liberdade de eXPressÃO erro areNas esPOrtiV as acerto
seGUraNÇ a acerto
ok, os policiais foram treinados para atender com simpatia às solicitações dos turistas, mas, mesmo assim, havia um certo clima de intolerância no ar. Nenhuma manifestação popular foi aceita durante os Jogos e até os atletas receberam recomendações para evitar temas de conotação política. a Rússia certamente não transmitiu ao mundo a imagem de um país que preza a liberdade de expressão. O exemplo mais grosseiro dessa intransigência se deu com a banda pussy riot. durante a gravação de um videoclipe, que tinha o estádio olímpico como pano de fundo, a polícia russa mostrou as suas garras. como a música criticava o presidente vladimir Putin, os guardas não só interromperam as gravações como agrediram as integrantes da banda. depois, para justificar a violência, as autoridades disseram que as meninas do Pussy Riot tinham praticado um roubo em Sochi, o que obviamente era uma mentira deslavada.
a grande sacada dos organizadores dos Jogos de Sochi foi criar o “passe do espectador.” cada torcedor que comprava um ingresso recebia uma espécie de credencial com um código de barras. assim que o visitante apresentava o bilhete para acessar as arquibancadas, o leitor magnético o identificava pelo nome, endereço e outros dados individuais. o sistema estava preparado para reconhecer 100% dos torcedores – o que certamente dificultou a entrada de pessoas mal intencionadas. outro ponto positivo foi a postura das forças de segurança. a exemplo de Londres, os policiais atenderam os turistas com gentileza, transmitindo inclusive informações. “Uma das lições que aprendemos com londres e Sochi é a não ostensividade das tropas”, diz o delegado luiz Fernando corrêa, diretor de segurança do comitê Rio-2016. Uma ação adotada em Sochi deve ser replicada no Rio: na área destinada aos atletas, policiais não usarão fardas, mas apenas o uniforme olímpico. a ideia é evitar, nesses espaços, a presença ostensiva de militares portando armas.
Não só lindas de morrer, mas úteis e funcionais. assim podem ser descritas as principais instalações esportivas de Sochi. construído ao custo de US$ 800 milhões, o belo estádio olímpico Fisht (com suas paredes e teto de vidro que refletem a luz do sol, além de uma claraboia com vista para as montanhas nevadas) será um dos palcos da copa do Mundo de 2018. a apenas quatro quilômetros da fronteira da Rússia com a Geórgia, o Parque olímpico de Sochi contou com sete instalações esportivas, sendo a mais impressionante delas o domo de gelo bolshoi, local das disputas do hóquei no gelo. as ruas que cortam o Parque olímpico receberão o Grande Prêmio da Rússia de Fórmula 1 nos próximos sete anos.
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PERFORMANCE Consumo inspirado pelo esporte
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F I L M E V O C Ê M E S M O
Impossível mencionar o nome Polaroid sem lembrar do charme das máquinas de fotografias instantâneas, que foram uma febre na década de 1980. O que nem todo mundo sabe é que a fabricante americana também produz algumas câmeras esportivas que dão conta da maior parte das necessidades dos usuários comuns. O modelo XS7 HD Sports, por exemplo, possui uma tela touchscreen de duas polegadas que permite ver os resultados na hora da filmagem. De uso simples, a câmera ainda filma em HD ou VGA e é indicada para os novatos.
CÂMERAS, ACESSÓRIOS E OUTROS GADGETS PARA GRAVAR SUAS AVENTURAS ESPORTIVAS, COMPARTILHAR COM OS AMIGOS E SE TORNAR UMA CELEBRIDADE RADICAL DA INTERNET por Danielle Sanches
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Gravação em full HD, Wi-Fi, conectividade com smartphone e um aplicativo dedicado fazem da Panasonic HX-A100 uma das mais completas opções para atletas no mercado. A câmera, que pode ser acoplada a um suporte de cabeça ou a um capacete, é acompanhada por um disco rígido externo que agrega todos os controles e fica preso ao braço. Leve e elegante, é feita de material resistente a impactos.
Se o seu companheiro de aventuras tem quatro patas, este acessório é ideal para ele. O Sony Dog Mount Action Camera é uma espécie de coleira estilo peitoral que se adapta confortavelmente ao corpo do animal e serve de suporte para a câmera (da linha GoPro) captar as imagens pela perspectiva do cachorro. Ideal para cães de portes médio a grande, é garantia de imagens divertidas e ângulos inusitados.
SUPER SLOW
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Mais recente lançamento da Sony, a HDR-AS100 vem com a tecnologia providencial SteadyShot – feita para estabilizar a imagem enquanto você filma e dá tudo de si no esporte. Resistente à água, tem cinco modos de filmagem, incluindo o HD Super Slow, que grava 120 frames por segundo e é ideal para captar aquele momento dramático-intenso-imperdível da sua sessão esportiva. Com Wi-Fi e GPS integrado, permite que você compartilhe tudo em tempo real e ainda pode ser controlada pelo aplicativo para smartphone fornecido pela Sony.
Considerado uma das mídias sociais mais importantes de 2014, o Vimeo é um ótimo investimento de tempo se você quer divulgar suas performances (e, quem sabe, se tornar uma estrela do mundo radical). No grupo Action Sports Filmmaking, cerca de 1.500 pessoas se reúnem e compartilham filmes experimentais (já são quase sete mil publicados) e que mostram cenas pouco exploradas dos esportes radicais, principalmente no surfe. “Poste seus filmes e receba conselhos, elogios e a atenção que merece”, diz a descrição. Gratuito
Sejamos francos: nem todo mundo pode desembolsar US$ 400 em uma GoProHero3+. Mas você ainda precisa de uma testemunha que grave suas ações enquanto ri na face do perigo. Solução: Optrix iPhone (nas versões para iPhone 4, 4S e 5). O brinquedinho garante que arranhões, quedas e mergulhos não afetem seu celular. Mais: a capa ainda vem com lente especial com amplitude de 175 graus. Para filmagem solo, o ideal é ter um Monopod, uma espécie de bastão que se acopla ao supercase. Feito de alumínio o extensor alcança 91 centímetros.
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Na era da vigilância com drones, esses aparelhos alados provam sua versatilidade ao ingressarem no mundo dos filmes esportivos de ação. O DJI Phantom 2 Quadcopter é um exemplo de como essa tecnologia de defesa hoje é usada em outras áreas. Atrevido, o gadget é comandado por controle remoto e pode levar uma câmera (GoPro) acoplada. Atinge velocidade de dez metros por segundo e tem ainda função de piloto automático, que pode ser configurada antecipadamente via software. Vem com estabilizador de imagem e bateria que dura até 22 minutos.
Nem só de editores de fotografia são feitos os apps de imagens. O Action Shot é um editor de vídeo simples de ser usado e que ajuda você a separar as melhores sequências, criar uma trilha sonora especial e até produzir efeitos visuais para aumentar a carga emocional da sua obra-prima. Disponível nas versões para Windows e MAC, é gratuito.
Queridinha da maior parte dos esportistas radicais, a GoPro tem na versão mais recente, a Hero3+ Black Edition, uma câmera igualmente estilosa e potente. Considerada a estrela das câmeras de ação, ela captura imagens em movimento com alta qualidade – são cerca de 30 quadros por segundo – e é a escolha certa da maior parte dos cinegrafistas esportivos. Mais leve e com baterias que duram 30% mais, a nova versão traz Wi-Fi integrado e a tecnologia SuperView, que filma com mais precisão imagens de perto sem desfocar ou perder detalhes da paisagem ao fundo.
CONCENTRAÇÃO Cultura e esporte juntos
R I O M U S I C A L OS MELHORES LUGARES DA CIDADE MARAVILHOSA PARA QUEM GOSTA DE SAMBA, ROCK, FUNK, MÚSICA ELETRÔNICA, JAZZ, DANÇA DE SAL ÃO E MUITO MAIS
MIRANDA MPB Endereço: avenida Borges de Medeiros, 1.424 / Piso 2 – Lagoa – (21) 2239-0305• (www.mirandabrasil.com.br)
Inaugurada em 2012, a Miranda Brasil funciona no Espaço Lagoon, complexo gastronômico e de entretenimento às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, na área do Estádio de Remo. O nome é uma referência a Carmen Miranda, ícone da cultura brasileira. Além do visual, a casa se destaca pela excelente acústica e pelo conforto oferecido ao público. Por essas características, atrai para o seu palco alguns dos maiores nomes da MPB, como Gal Costa, Milton Nascimento e Nana Caymmi, mesmo sendo um ambiente para shows de médio porte – tem capacidade para 300 pessoas sentadas e 500 em pé. Com programação eclética, também abre espaço para artistas novos e rodas de samba.
CIRCO VOADOR ROCK
BECO DAS GARRAFAS BOSSA NOVA
Endereço: rua dos Arcos, sem número – Lapa – (21) 2533-0354 (www.circovoador.com.br)
Endereço: rua do Lavradio, 36 – Centro – (21) 3147-9007 (www.santoscenarium.blogspot.com)
Localizado no coração da Lapa, um dos centros da boemia carioca, o Circo Voador é o espaço preferido de artistas e fãs de rock no Rio, embora esteja aberto a shows de todos os gêneros musicais. Muito dessa identificação deve-se à história do lugar. Em 1982, uma trupe de jovens artistas montou uma tenda em frente à praia, ao lado da Pedra do Arpoador, onde aconteceram apresentações de bandas como Blitz, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso. O endereço durou apenas um verão, mas serviu de marco para uma geração. Na Lapa, o Circo ampliou seu público para além da zona sul da cidade. Após uma reforma, em 2004, ganhou infraestrutura para melhor atender 2,8 mil espectadores.
O lugar é histórico para os amantes de bossa nova. Aquele canto escondido de Copacabana ganhou o apelido de Beco das Garrafas, dado pelo jornalista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), porque moradores dos prédios costumavam lançar garrafas para acabar com o burburinho provocado pelos frequentadores do local. Claro que o Beco atual não é o mesmo da virada dos anos 50 para os 60, mas o clima remete àqueles tempos. Dos três bares – Little Club, Baccará e Bottle's –, onde se apresentaram Nara Leão, Baden Powell, Sérgio Mendes e muitos outros, só o último existe. Reaberto em dezembro, o Bottle's é voltado unicamente para bossa nova e samba-jazz. No Beco também funciona a loja Bossa Nova & Companhia, que vende livros, CDs, DVDs e outros artigos ligados ao gênero.
PEDRA DO SAL SAMBA
FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO FORRÓ
ESTUDANTINA DANÇA DE SALÃO
Endereço: rua Argemiro Bulcão, sem número
Endereço: Campo de São Cristóvão, sem número – São Cristóvão (21) 2580-5335 e 2580-6946
Endereço: Praça Tiradentes, 79 – Centro – (21) 2232-1149 (www.estudantinamusical.com.br)
A partir de 1945, migrantes nordestinos reuniam-se no Campo de São Cristóvão, nos fins de semana, para matar a saudade da terra natal, com música e comidas típicas. Aos poucos, o local se tornou uma feira popular frequentada também por cariocas e turistas. Em 2003, virou um grande mercado, com mais estrutura, quando foi reformado pela Prefeitura do Rio, e ganhou o nome de Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. Ali, em barraquinhas, restaurantes e alamedas, o som mais ouvido vem de zabumbas, sanfonas e triângulos: o forró e suas vertentes – xote, xaxado, baião, repente, embolada. É para dançar coladinho.
Entrar na Estudantina é voltar ao passado. A tradicional gafieira, inaugurada em 1928, funciona em um sobrado do século XIX em frente à Praça Tiradentes. A orquestra toca boleros, sambas-canção e outros ritmos para casais dançarem juntinhos. O salão não fica mais lotado como nos anos 30, 40 e 50, mas ainda é possível encontrar pés de valsa vestidos de calça branca, camisa de seda e sapato bicolor. Outro toque saudosista é o cartaz pendurado na parede com o estatuto da gafieira, que estabelece as regras de etiqueta para os frequentadores. Entre elas, a proibição de beijos demorados ou escandalosos.
VIADUTO DE MADUREIRA CHARME
BAILE DA FAVORITA FUNK
MÚSICA ELETRÔNICA FOSFOBOX
Endereço: Viaduto Negrão de Lima – Madureira – (21) 7836-8748 • (www.viadutodemadureira.com.br)
Endereço: Acadêmicos da Rocinha – rua Bertha Lutz, 80 – São Conrado – 21 7876-2654 • (bailedafavorita.com.br)
Endereço: rua Siqueira Campos, 143/loja 22-A – Copacabana (21) 2547-5976 • (www.fosfobox.com.br)
Na terra da Portela e Império Serrano, a black music também tem vez. E num espaço original: embaixo do Viaduto Negrão de Lima, mais conhecido como Viaduto de Madureira. Ali acontece todos os sábados, desde meados dos anos 90, um concorrido baile de charme, termo criado pelo DJ carioca Corello para definir o hip- hop mais melódico tocado em clubes do subúrbio do Rio. O evento surgiu como um contraponto à violência nos bailes funk, que vivia seu auge na época. Além da música – que pode ser tanto um r&b atual quanto um flashback –, os grupos de dança são uma atração à parte. Com roupas elegantes e penteados afro, seus integrantes dão um show na pista.
Pre-pa-ra que agora é hora de funk. A quadra da Acadêmicos da Rocinha é palco, mensalmente, do Baile da Favorita, uma festa-show de funk que une favela e asfalto. Criado pela promoter Carol Sampaio, o evento costuma acontecer uma vez por mês, e vai completar três anos em julho. A Favorita é a própria Carol, que anos antes havia sido presenteada por MC Marcinho com um funk com este título. O baile reúne os MCs mais famosos do Brasil e, na pista de dança, celebridades descem até o chão: Neymar já esteve lá – e, recentemente, sua ex-namorada e estrela da novela "Em Família", Bruna Marquezine, também mostrou seu rebolado. O repertório é sexy, mas com limites: dificilmente alguém vai ouvir um proibidão na festa.
O nome da casa é uma referência à caixa de fósforos, mas ela nem é tão pequena assim. Escondida numa antiga galeria no coração de Copacabana, a Fosfobox abriu em 2004 e passou por uma reforma completa em 2011. A pista principal de chão quadriculado fica no subsolo. No térreo, onde há uma pista menor, funciona o Fosfobar, com pufes e cadeiras. A qualidade do equipamento de som é um dos pontos fortes. A cada dia há uma festa com um estilo diferente: house, dubstep, electro, neofunk, techno, deep, bass, ghetto... Mas a Fosfobox também abre espaço para DJs que tocam pop e rock – indie rock, é claro.
Situada no bairro da Saúde, no centro do Rio, a Pedra do Sal é um marco histórico para a cultura negra carioca e abriga animadas rodas de samba ao ar livre, principalmente às segundas e sextas-feiras. Bares em volta garantem cerveja gelada e petiscos. Coração da chamada Pequena África, o lugar, com seus degraus escavados na Pedra, que dão acesso ao Morro da Conceição, tem história: era dali que o sal retirado dos navios chegava à cidade. A partir do século XIX, escravos e alforriados reuniam-se para jogar capoeira e frequentar terreiros. Era o ponto de encontro de precursores do samba, como Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres.
ISTOÉ 2016
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ESGRIMA
IMBATÍVEIS NA AMÉRICA DO SUL
O Brasil não tem adversários no continente. Isso ficou provado nos Jogos SulAmericanos de Santiago, encerrados em março. Os brasileiros subiram oito vezes ao pódio, liderando com certa folga o quadro de medalhas do esporte (foram 4 de ouro, 3 de prata e 1 de bronze). As vitórias mais expressivas vieram nas disputas por equipes. Na final, a seleção feminina de espada venceu a venezuela por 45 a 42, enquanto a masculina de florete derrotou o Chile por 45 a 31. O desafio agora é conquistar resultados expressivos contra atletas europeus, que dominam a esgrima mundial.
ATLETISMO
A RIVALIDADE QUE FAZ AVANÇAR
Surgiu uma saudável rivalidade no salto com vara. Eles nasceram em Marília, no interior de São Paulo, são treinados pelo mesmo técnico, o multicampeão Élson Miranda, e têm em comum a notável evolução de suas marcas nos últimos meses. Em 2013, Augusto Dutra, 23 anos, quebrou o recorde sul-americano três vezes. Seu conterrâneo, Thiago Braz, 20 anos, outras duas (é o atual detentor da façanha, com 5,83 metros). No Campeonato Sul-Americano, realizado em março, em Santiago, Augusto levou a melhor (ficou com o ouro ao pular 5,40 metros, enquanto Thiago não conseguiu realizar um salto válido). Os dois reconhecem que a rivalidade ajuda a impulsionar a carreira – é bom para eles e melhor ainda para as ambições olímpicas do Brasil.
BADMINTON
ESTRANHA AUSÊNCIA NO SUL-AMERICANO
Atletas e treinadores estão sem entender nada: por que o badminton ficou fora da décima edição dos Jogos Sul-Americanos, realizada em Santiago, no Chile? O estranho é que o esporte esteve presente nas duas últimas edições do evento e o número de competições disputadas no continente cresce a cada ano. Mais esquisito ainda: a sede da Confederação Sul-Americana de Badminton fica em Santiago, a cidade-sede dos Jogos, e mesmo assim ninguém foi capaz de fazer lobby a favor da inclusão.
>BASQUETE
GIGANTES NO CAMINHO DELAS
A seleção feminina deu azar no sorteio das chaves para o Mundial da Turquia, que será disputado entre 27 de setembro e 5 de outubro. O Brasil caiu no Grupo A, ao lado da Espanha (sexta no ranking da Federação Internacional), República Tcheca (uma das favoritas à medalha) e Japão (teoricamente, o time mais fraco). Confira como ficaram as chaves: > Grupo A SEDE ANCARA BRASIl, ESPANhA, JAPãO E REPúBlICA TChECA > Grupo B SEDE ANCARA CANADá, FRANçA, MOçAMBIquE E TuRquIA > Grupo C SEDE ISTAMBul AuSTRálIA, BIElORRúSSIA, COREIA E CuBA > Grupo D SEDE ISTAMBul ANGOlA, ChINA, ESTADOS uNIDOS E SÉRvIA
BOXE UM MALUCO NO LUGAR DE UM DOIDO
Medalha de prata nos Jogos de londres, Esquiva Falcão, agora boxeador profissional, gosta de dizer que virou atleta porque é doido. Seu substituto na seleção brasileira (como profissional, Esquiva não pode mais defender o País) não parece ser muito diferente. “Sou meio maluco mesmo”, disse lucas Martins, 20 anos, em entrevista recente. “Sempre briguei muito na rua, sempre tive problemas de convívio com a minha família e na escola.” Mais centrado na atual fase da vida, lucas é dotado daquela confiança extra que pode fazer a diferença, especialmente em um esporte como o boxe. “Substituir Esquiva não é difícil, é algo normal. vou ser melhor do que ele.”
GINÁSTICA
COMO AJUDAR LAÍS
Data
Local
Evento
17 E 18/5
CERquIlhO (SP)
CopA BrAsiL – primEirA EtApA
4 E 5/7
PRIMAvERA DO lESTE (MT)
CAmpEonAto BrAsiLEiro – sEGunDA Divisão
O movimento criado pelo Comitê Olímpico Brasileiro para ajudar a ex-ginasta olímpica laís Souza, que se recupera de acidente sofrido no dia 27 de janeiro, ganhou a adesão de atletas, artistas e empresários. Depois de ser criticada por campeões olímpicos, que alegaram ser de inteira responsabilidade do COB bancar os custos do tratamento de laís, a entidade disse que lançou a campanha para ampliar o volume de recursos oferecidos à atleta: “A campanha foi criada pensando no futuro da laís, de forma a ajudá-la a se autofinanciar. Todos os recursos que forem captados serão depositados na conta corrente da própria laís, a ser gerenciada por ela ou por sua família. O COB não tem acesso a essa conta.” Se você quiser contribuir, o depósito deve ser feito no Banco Bradesco (agência 0548-7, conta 0110490-0, em nome de laís da Silva Souza, CPF: 04838731957). Também foi criada uma página no Facebook em prol de laís (www.facebook.com/euapoioalais).
5 E 6/7
PRIMAvERA DO lESTE (MT)
CopA BrAsiL – sEGunDA EtApA
GOLFE
18 E 19/10
TRêS COROAS (RS)
CAmpEonAto BrAsiLEiro – primEirA Divisão
15 E 16/11
PIRAJu (SP)
CopA BrAsiL – tErCEirA EtApA
13 E 14/12
TOMAzINA (PR)
CopA BrAsiL – QuArtA EtApA
CANOAGEM
Saiu o calendário completo das competições de slalom que serão realizadas no Brasil em 2014. Confira a programação definida pela Confederação de Canoagem:
CICLISMO
ONDE ESTÁ O DINHEIRO?
Aos 8 anos, ela terminou em terceiro lugar uma prova do Mundial de bicicross. Aos 17, foi sexta do mundo na categoria júnior. Agora, aos 19, Priscilla Carnaval enfrenta um desafio crucial na carreira: como arranjar dinheiro para seguir adiante. Em 2013, por um erro no preenchimento do formulário, deixou de receber R$ 1,8 mil do Bolsa Atleta. Sem dinheiro para bancar os R$ 1,2 mil que pagava a seu técnico francês, um bicampeão mundial de BMX, decidiu recorrer ao irmão para ajudá-la nos treinamentos. O problema é que as principais provas do circuito mundial BMX são no Exterior e a Confederação não arca com as defesas. Em 2013, a mãe de Priscila investiu R$ 8 mil para que a filha disputasse uma etapa da Copa do Mundo na holanda.
FUTEBOL NEYMAR, OSCAR E HULK EM 2016
Faltam dois anos para a Olimpíada no Rio, mas Alexandre Gallo, treinador das categorias de base da seleção brasileira, já escolheu os três jogadores acima de 23 anos para 2016. “Se a convocação fosse hoje, eu levaria Neymar, Oscar e hulk”, disse Gallo. De acordo com as regras acordadas entre Fifa e COI, só três jogadores com mais de 23 anos podem participar dos Jogos. Em londres-2012, Mano Fotos: Maurício Nahas
Menezes levou o zagueiro Thiago Silva, o lateralesquerdo Marcelo e o próprio hulk. Gallo deu uma alfinetada em Mano Menezes. “Até hoje não entendo treinadores que levam um jogador por setor”, disse. “Imagine o que será, em uma Olimpíada, um ataque poderoso com Neymar, Oscar e hulk.”
TACADA CERTEIRA
um dos mais fortes candidatos do País a se classificar para os Jogos do Rio, Rafael Becker, 23 anos, ingressou no golfe graças a uma tragédia. Em 1998, com apenas 7 anos, ele capotou o kart durante uma corrida. Rafael perfurou os dois pulmões e quebrou a clavícula. Pior: além de desistir do kart, por imposição dos pais, não podia jogar futebol ou praticar outros esportes que exigissem muito fôlego. Acabou enveredando para o golfe – decisão que considera a mais acertada de sua vida. hoje profissional, Rafael terá que somar muitos pontos no ranking brasileiro para disputar a Olimpíada de 2016. Como país-sede, o Brasil terá direito a pelo menos uma vaga.
HANDEBOL NO FEMININO, SUSTO. NO MASCULINO, CONSAGRAÇÃO
Ok, o Brasil venceu o torneio feminino nos Jogos SulAmericanos do Chile, mas é preciso refletir sobre o surpreendente empate com a Argentina, seleção que costuma ser presa fácil para as brasileiras. Afinal, 11 campeãs mundiais participaram do torneio e o Brasil só levou o ouro no saldo de gols. “Tomamos um susto”, reconheceu o técnico Morten Soubak. O País também faturou o ouro no masculino ao vencer a Argentina na final por 25 a 23, após duas encarniçadas prorrogações. Nesse caso, porém, a vitória é para comemorar. Ao contrário do feminino, em que tradicionalmente há uma enorme distância entre Brasil e Argentina, no masculino as seleções se equivalem – o que só alimenta a rivalidade.
HIPISMO ADOLESCENTE DE MANAUS BRILHA NOS EUA
A turma que acompanha o hipismo não tem dúvida: uma das maiores revelações desse esporte
painel
Todos os esportes olímpicos
>LUTAS
>JUDÔ SOGIPA DE OLHO NA NOVA GERAÇÃO
AMAZONENSES NO TOPO
Fundada por alemães há 147 anos, a Sogipa colocou Porto Alegre no mapa olímpico. Por lá passaram nomes como os campeões mundiais do judô João Derly e Tiago Camilo. Para manter a tradição, o clube acaba de contratar algumas das principais revelações dos tatames brasileiros. Confira quem são:
As amazonenses brilharam na edição 2014 do campeonato brasileiro cadete. Na classificação geral do torneio, elas superaram Estados que tradicionalmente dominam as disputas, como Rio de Janeiro e São Paulo. Observe o resultado final:
_niCoLE EspínDoLA, 18 ANOS / SC: judoca da categoria meio-leve (-52 kg) com passagens pela seleção brasileira de base _DiEGo CAixEtA, 20 / SP: vice-campeão paulista júnior 2011 na categoria meio-leve (-66 kg) _mELinA DE sá, 18 / BA: campeão mineira sub-18. Judoca da categoria meio-pesada (-78 kg) _LuCAs rEmBrAnDt, 17 / BA: Campeão baiano e medalhista em campeonato brasileiros de base. É da categoria superligeiro (-55 kg) _miLEnA mEnDEs, 21 / PR: bronze no Grand Slam da China, em 2013, é da categoria meio-leve (-52 kg) _roDriGo LopEs, 18 / RJ: campeão brasileiro do peso ligeiro (-60 kg) e medalha de ouro no Torneio Internacional de Bremen (Alemanha), ambos em 2013
LutA FEmininA CADETE 2014
nos últimos anos é um adolescente de 16 anos, nascido em Manaus (AM) e que atualmente mora na Bélgica, para treinar com o tetracampeão brasileiro Nelson Pessoa. Trata-se de João victor Aguiar, que há alguns dias emplacou a segunda posição, na prova de 1,50 metro, no Festival Equestre de Inverno da Flórida (EuA), campeonato disputado por alguns dos melhores cavaleiros do mundo. João victor tem no currículo um campeonato brasileiro e um sul-americano júnior.
HÓQUEI SOBRE A GRAMA
GPS ANALISA PERFORMANCE DE ATLETAS
NATAÇÃO OS NOVOS PLANOS DE JOANNA MARANHÃO
As seleções masculina e feminina de hóquei sobre a grama recorreram à tecnologia para diminuir a enorme distância que as separam da elite mundial do esporte. Nos Jogos Sul-Americanos do Chile, todos os jogadores e jogadoras que entraram em campo usaram um pequeno GPS acoplado ao uniforme. As informações captadas pelo equipamento são condensadas em um software e analisadas pelos fisiologistas dos times. O aparelho transmite dados como a velocidade de aceleração dos atletas, o número de sprints que cada um é capaz de dar, a distância percorrida e até números relativos à saúde, como o batimento cardíaco dos competidores.
Depois de anunciar que irá abandonar as piscinas, Joanna Maranhão, 26 anos, recebeu uma enxurrada de críticas. Disseram que jogou a carreira fora, que não se dedicou aos treinos como deveria, que não teve força mental para superar a dura rotina de uma esportista de ponta. Tudo isso é bobagem. Joanna é dona de um feito notável: aos 17 anos, foi quinta colocada nos 400 metros medley dos Jogos de Atenas-2004, posição suficiente para colocá-la entre as melhores nadadoras da história do Brasil (País que, diga-se, jamais subiu ao pódio olímpico na natação feminina). Parte de seu tempo livre será preenchido com uma atividade nobre. Joanna, que revelou ter sofrido abuso sexual na infância, pretende angariar fundos para uma ONG dedicada a crianças que passaram pela mesma experiência devastadora.
LEVANTAMENTO DE PESO
PENTATLO MODERNO
A universidade Federal de viçosa, principal centro de formação de atletas do levantamento de peso do País, confirmou sua força no campeonato brasileiro sub-20 e sub-17, realizado em março. Composta por 13 atletas, a equipe da universidade conquistou cinco medalhas de ouro, três de prata e três de bronze, se tornando assim o time mais premiado da competição. Participaram do torneio mais de 100 atletas, número expressivo diante da baixa popularidade do esporte no Brasil.
O ouro conquistado com sobras por Yane Marques, 30 anos, nos Jogos Sul-Americanos do Chile, confirmou que a medalhista olímpica de bronze vai se manter durante muito tempo entre as melhores do mundo. A surpresa da competição apareceu logo atrás: com apenas 17 anos, a chilena Javiera Rosas faturou a prata. “Seria hipócrita não reconhecer os resultados das outras atletas sul-americanas”, disse Yane. O terceiro lugar no Chile ficou com a brasileira Priscila Oliveira, até então considerada a maior adversária de Yane no continente e que chegou a ameaçá-la no ranking nacional do pentatlo.
O DOMÍNIO DA FEDERAL DE VIÇOSA
NADO SINCRONIZADO
100 MEDALHAS INTERNACIONAIS PARA AJUDAR O BRASIL Nos esportes sem tradição, é assim: se você não tem expertise em casa, a saída é recorrer aos especialistas do Exterior. No início do ano, as brasileiras do nado sincronizado tiveram a oportunidade de realizar treinos conjuntos com
1º AmAzonAs 2º rio DE JAnEiro 3º são pAuLo 4º pArAíBA 5º Espírito sAnto 6º mAto Grosso Do suL 7º rio GrAnDE Do nortE 8º minAs GErAis
a seleção da Rússia, uma das potências mundiais do esporte. Para auxiliar na preparação do ciclo olímpico, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos contratou a técnica canadense Júlie Sauvé, dona de uma marca impressionante: ela conquistou mais de 100 medalhas internacionais nos 25 anos em que trabalhou na seleção canadense. Mais extraordinário ainda: Júlie faturou oito medalhas olímpicas em três décadas como treinadora.
UMA AMEAÇA PARA YANE?
POLO AQUÁTICO AGENDA LOTADA
O calendário 2014 do polo aquático brasileiro está repleto de atrações. Confira a seguir os principais eventos: Quando
Competição
29 DE MAIO A RIO DE JANEIRO E 1º DE JuNhO SãO PAulO
Local CAmpEonAto BrAsiLEiro suB-19 mAsCuLino E FEminino
JulhO
A DEFINIR
CLíniCAs pArA JovEns tALEntos CBDA/CorrEios
21 A 24 DE AGOSTO
PORTO AlEGRE
CirCuito suL-BrAsiLEiro ADuLto
23 A 30 DE AGOSTO
RIO DE JANEIRO E SãO PAulO
vii LiGA nACionAL
11 A 14 DE NATAl SETEMBRO
CAmpEonAto rEGionAL nortE norDEstE ADuLto
18 A 21 DE TOMAzINA (PR) SETEMBRO
CAmpEonAto BrAsiLEiro JuvEniL suB-15 mAsCuLino E FEminino
9 A 12 DE OuTuBRO
RIO DE JANEIRO
CopA BrAsiL Junior suB-17 mAsCuLino E FEminino
11 A 18 DE OuTuBRO
RIO DE JANEIRO E SãO PAulO
vii LiGA nACionAL CorrEios/ BrADEsCo
1º, 8, 15, 22 E 29 DE OuTuBRO
RIO DE JANEIRO E SãO PAulO
vii LiGA nACionAL CorrEios/ BrADEsCo
RÚGBI MAIS UMA INOVAÇÃO
REMO FLAMENGO É A BASE DA SELEÇÃO
O Clube de Regatas Flamengo faz jus ao nome e é o clube com mais atletas na seleção brasileira de remo. Observe o ranking: Clube Atletas na seleção Flamengo (rJ) 17 Botafogo (rJ) 15 Grêmio náutico união (rs) 9 pinheiros (sp) 4 saldanha da Gama (Es) 2 vasco (rJ) 1 Loureiro (rJ) 1 paulistano (sp) 1 álvares Cabral (Es) 1 América (sC) 1
SALTOS ORNAMENTAIS
ENFIM, UMA GERAÇÃO DE TALENTO
O Brasil sempre sofreu para formar saltadores ornamentais, mas os investimentos feitos nos últimos anos, como parte do ciclo olímpico para os Jogos do Rio, começam a dar resultado. Em março, Ingrid Oliveira e luana lira, de 16 e 18 anos, chegaram às finais das seletivas para a Olimpíada da Juventude, que será realizada em agosto, em Nanjing, na China. luana terminou a prova do trampolim de três metros em oitavo lugar, mas Ingrid foi mais longe ainda: conquistou um bronze na plataforma. A performance garantiu a classificação delas para o torneio chinês.
VÔLEI AS FÉRIAS
FORÇADAS DE GIBA
um dos maiores ídolos do vôlei brasileiro, o campeão olímpico Giba amarga um fim de carreira não muito brilhante. Três meses após deixar o Taubaté, clube do interior de São Paulo, para defender o Al Nasr, dos Emirados árabes unidos, o ponteiro foi demitido pelo clube estrangeiro. As razões do desligamento não foram reveladas, mas a assessoria do jogador afirmou que a demissão foi “uma falta de respeito com um atleta que deu ao mundo tantas alegrias e conquistas.” Em nota, o atleta, de 37 anos, deu a entender que pode deixar definitivamente o esporte após o episódio. Depois da demissão, ele foi passar férias com a namorada nas praias da Tailândia (foto acima). Não parecia preocupado.
TAE KWON DO O FUTURO INCERTO DE NATÁLIA FALAVIGNA
Medalha de bronze nos Jogos de Pequim-2008 e maior nome da história do tae kwon do brasileiro, Natália Falavigna vive o momento mais difícil da carreira. A fase negativa começou em junho de 2013, quando uma lesão no joelho a afastou por dez meses dos tatames e a impediu de participar do Mundial do México. Afastada das competições, ficou fora da lista de contemplados pelo auxílio da Bolsa Pódio e do Plano Brasil Medalhas, do governo federal. Em fevereiro, já de volta às lutas, acertou um soco acidental no rosto da adversária durante as disputas da seletiva nacional e acabou desclassificada e cortada da seleção. Agora, terá um longo caminho para recuperar seu reinado no esporte.
TIRO NA PRESSÃO
A Confederação Brasileira de Tiro Esportivo promove, em abril, a Oficina de Tiro Esportivo com Armas de Pressão, no Rio de Janeiro. O evento, liderado pelo técnico Silvio Aguiar, terá palestras, treinamentos controlados e, ao final, uma competição válida pelo campeonato da Academia do Tiro Esportivo. De acordo com a entidade, a ideia é qualificar esportistas profissionais no uso das carabinas de ar comprimido e também gerar interesse de iniciantes no esporte. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site atire.com.br. As vagas são limitadas.
TIRO COM ARCO RECORDISTA SUL-AMERICANO AOS 16 ANOS
um desconhecido de apenas 16 anos virou um dos maiores medalhistas do Brasil na última edição dos Jogos Sul-Americanos, em março. O carioca Marcus vinícius d'Almeida conquistou três ouros no tiro com arco e se destacou entre os 481 atletas da delegação. Os triunfos nos torneios individual, masculino por equipes e misto foram menos impressionantes do que as marcas pessoais. Os 1.342 pontos que Marcus alcançou na prova classificatória lhe renderam o novo recorde sul-americano. O recorde mundial, do sul-coreano Woojin Kim, é de 1.387 pontos.
TRIATLO A LIDERANÇA FOLGADA DE COLUCCI Os bons resultados nos últimos meses do paulista Reinaldo Colucci fizeram com que ele abrisse larga vantagem no ranking brasileiro do triatlo. Confira os cinco primeiros da lista: Atleta pontos 1º reinaldo Colucci 12.349,40 2º Diogo sclebin 7.971,60 3º Danilo pimentel 7.251,20 4º Bruno matheus 6.966,10 5º Fábio Carvalho 5.227,35
É preciso reconhecer o belo trabalho da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu). Além de aumentar a visibilidade de um esporte que pouca gente conhece no País, a entidade tem se esforçado para tornar a gestão cada vez mais profissional. um exemplo disso é a entrada de Fernando Portugal, capitão da seleção brasileira de sevens, para o conselho de administração da CBRu. O ingresso de Portugal no conselho atende à determinação da Medida Provisória 620, que exige a participação de atletas na gestão de associações que promovem competições esportivas. que o exemplo do rúgbi seja seguido por outras confederações.
VELA
ZARIF SEM PATROCÍNIOS
Não é fácil a vida dos atletas brasileiros – nem mesmo para grandes campeões. Atual dono do título mundial da classe Finn e eleito o esportista do ano no Prêmio Brasil Olímpico, Jorge zarif, 21 anos, iniciou a temporada 2014 sem um patrocinador pessoal. Para sobreviver, ele recebe verbas do COB e da Confederação Brasileira de vela. Como não está entre os 20 primeiros colocados no ranking mundial da Finn, o velejador não pode receber a Bolsa Pódio, do Ministério do Esporte.
TÊNIS
BELLUCCI NÃO VAI PARA A FRENTE
O brasileiro Thomaz Bellucci parece ser mesmo um caso perdido. O tenista de 26 anos, que em 2010 chegou a ocupar a 21ª posição do ranking mundial, tem patinado no circuito. Atualmente luta para permanecer entre os 100 melhores do mundo, mas é improvável que consiga repetir os bons jogos do passado. A continuar nesse ritmo, é de se duvidar que consiga disputar os Jogos Olímpicos do Rio, que poderiam significar sua redenção definitiva.
VÔLEI DE PRAIA
EMANUEL QUER EXPLICAÇÕES DA CBV
Maior campeão da história do vôlei de praia (tem um ouro, uma prata e um bronze olímpicos, três títulos mundiais e outros 150 títulos), Emanuel quer reunir um time de jogadores estrelados para obter explicações da Confederação Brasileira de vôlei a respeito das denúncias de corrupção envolvendo a entidade. Ele já ganhou o apoio de Murilo (outro multicampeão do esporte, com duas pratas olímpicas, dois títulos mundiais e seis conquistas da liga Mundial). vem cobrança pesada por aí.
TÊNIS DE MESA
ELAS QUEREM A PRIMEIRA DIVISÃO
O time masculino já atingiu a meta de chegar à primeira divisão do tênis de mesa mundial. Agora é a vez de as meninas tentarem uma vaga no pelotão de elite. A oportunidade está próxima: o campeonato mundial de equipes, que será realizado entre 28 de abril e 5 de maio em Tóquio, no Japão. A missão ficará a cargo de Caroline Kumahara, Gui lin, Jessica Yamada e lígia Silva. No Japão, elas serão comandadas pelo técnico francês Jean-René Mounie
PÁGINA DOURADA Conquistas que entraram para a história Vera Lynn
Oliver Quinto
TEXTO
ARTE
ARTILHARIA PESADA
EDVALDO VALÉRIO SILVA FILHO NASCE EM SALVADOR, NA BAHIA, NO DIA 20 DE ABRIL DE 1978. A FAMÍLIA TEM POUCOS RECURSOS FINANCEIROS. O PAI É FUNCIONÁRIO DA SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA E A MÃE É DONA DE CASA.
O baiano Edvaldo Valério, o Bala, supera Alexander Popov* e se torna o primeiro e único nadador brasileiro negro a ganhar medalha em Olimpíada
AOS 3 ANOS, NUMA CONSULTA DE ROTINA, O MÉDICO INDICA A NATAÇÃO PARA AJUDAR O MENINO A SE DESENVOLVER. NA ESCOLINHA, SÓ ACEITAM MAIORES DE 4 ANOS. A MÃE DE VALÉRIO MENTE A IDADE DO FILHO E ELE COMEÇA A DAR BRAÇADAS.
MESMO DESAJEITADO E SEM PACIÊNCIA PARA APURAR A TÉCNICA, SE TORNA, AOS 6 ANOS, O MOLEQUE MAIS RÁPIDO QUE A BAHIA JÁ VIU NAS PISCINAS. GANHA TODAS AS COMPETIÇÕES E É CONVIDADO PARA TREINAR COM SERGIO SILVA, QUE O ACOMPANHARIA POR MUITO TEMPO. O TEMPO PASSA E VALÉRIO VOA NAS PISCINAS. NA ADOLESCÊNCIA, O BAIANO É CHAMADO PARA DISPUTAR PROVAS EM OUTROS ESTADOS. A FAMÍLIA NÃO TEM DINHEIRO E ELE PENSA EM DESISTIR.
A VIDA É DURA. ACORDA ÀS 5 DA MANHÃ E VIAJA UMA HORA E MEIA DE ÔNIBUS PARA CHEGAR AO CLUBE ONDE TREINA. QUESTIONA SE O SUFOCO VALE A PENA.
TEM PROVA EM SÃO PAULO E, AOS 16 ANOS, VALÉRIO DESCOBRE A FORÇA DA SOLIDARIEDADE. OS PAIS DOS GAROTOS QUE TREINAM COM ELE PROMOVEM UMA RIFA PARA BANCAR AS DESPESAS DA VIAGEM.
DEPOIS DE MUITAS RIFAS, VIAGENS E VITÓRIAS, VIRA UMA MINI-CELEBRIDADE DA NATAÇÃO BRASILEIRA. GANHA O APELIDO DE “BALA”, QUE ELE ADORA E ASSUME DE IMEDIATO. AGORA É EDVALDO VALÉRIO, O BALA. EM 2000, A GLÓRIA MÁXIMA: É CONVOCADO PARA A SELEÇÃO QUE VAI AOS JOGOS DE SYDNEY. EDVALDO VALÉRIO, O BALA, É O PRIMEIRO NADADOR BRASILEIRO NEGRO A DISPUTAR UMA OLIMPÍADA.
O TIME DO BRASIL SE CLASSIFICA PARA A FINAL DOS 4X100 M LIVRE. E QUE TIMAÇO! ESTÃO LÁ, ALÉM DELE, AS ESTRELAS FERNANDO SCHERER, O XUXA, E GUSTAVO BORGES. O QUARTO INTEGRANTE É O DISCRETO CARLOS JAYME.
PASSADOS 14 ANOS, O BAIANO NÃO CANSA DE REVER O VÍDEO DA PROVA. A NARRAÇÃO DE GALVÃO BUENO O EMOCIONA ATÉ HOJE: “O BALA TÁ NA BRIGA. VAI SER DRAMÁTICA A FINAL. VEM A MEDALHA, VAMOS BALA. É BRASIL, É BRASIL. O BAIANO BALA GARANTIU O BRONZE”.
O REVEZAMENTO É A DERRADEIRA PROVA DA NATAÇÃO NA OLIMPÍADA. EDVALDO VALÉRIO, O BALA, É O QUARTO E ÚLTIMO HOMEM DO BRASIL A CAIR NA PISCINA.
ELE CAI NA ÁGUA EM QUINTO LUGAR. NA VIRADA, ESTÁ EM QUARTO. NOS 50 METROS FINAIS, ARRANCA PARA O BRONZE E FAZ UM TEMPO MELHOR ATÉ DO QUE O DO LENDÁRIO ALEXANDER POPOV. É O PRIMEIRO NADADOR BRASILEIRO NEGRO A GANHAR MEDALHA.
* Aleksandr Vladimirovich Popov é um ex-nadador russo que conquistou quatro ouros olímpicos em provas individuais.
EDVALDO VALÉRIO, O BALA, NADA AINDA POR UMA DÉCADA, MAS JAMAIS FOI DE NOVO TÃO FELIZ NAS PISCINAS. HOJE EM DIA, CUIDA DE UM PROJETO SOCIAL NA BAHIA – BAHIA QUE, GARANTE, NUNCA DEIXARÁ.
INFRAESTRUTURA O BALANÇO COMPLETO DE TODAS AS OBRAS DA OLIMPÍADA
NÚMERO 20
BONDINHO COMO A GESTÃO FAMILIAR QUEBROU E SALVOU UM DOS MAIS FAMOSOS CARTÕES-POSTAIS DO MUNDO
DEPOIS DE VENCER OSCAR PISTORIUS E QUEBRAR RECORDES MUNDIAIS, ALAN FONTELES PERDEU A MOTIVAÇÃO. ACOMPANHAMOS SUA DIFÍCIL JORNADA PARA REENCONTRAR AS VITÓRIAS E COMPETIR COM ATLETAS SEM DEFICIÊNCIA
ABRIL/MAIO 2014 Edição 20 | Ano 5 PARTE INTEGRANTE DA REVISTA ISTOÉ • www.istoe2016.com.br 4 3 2 1 0 2 0 0 0
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A UM PASSO DA GLÓRIA
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COM O IMPULSO DA PARTICIPAÇÃO NA OLIMPÍADA, O ESPORTE DA ELITE TRAÇA PLANOS PARA SE POPULARIZAR NO BRASIL
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MARTINE E KAHENA ESTRELAS MUNDIAIS DA VELA, ELAS JÁ CAPOTARAM O BARCO, MAS NÃO PERDERAM A POSE
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VENDA PROIBIDA
ISTOÉ 2016
PACATO GIGANTE QUEM É FERNANDO REIS, O DOCE BRUTAMONTES DO LEVANTAMENTO DE PESO QUE É ÍDOLO DE UMA UNIVERSIDADE AMERICANA
7
O ENIGMA DUDA POR QUE O BICAMPEÃO MUNDIAL INDOOR DE SALTO EM DISTÂNCIA AINDA NÃO BRILHOU AO AR LIVRE
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