SeLecT nº 5

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A r t e d e s i g n c u lt u r A c O n t e M p O r â n e A e t e c n O lO g i A

AndreA Zittel Artur lescher lucAs BAMBOZZi lAurA Vinci YAYO i KusAMA

lixo eletR ônico A sujeirA dOs equipAMentOs que cArregAMOs nOs BOl sOs

salve Rio+20 culturA digitAl , ecOlOgiA , indústriA , sOciedAde e urBAnisMO eM dOssiê especiAl

cuRto-ciRcuito A A rte pO de sAlVA r O M undO? t rês respOstAs e uMA pOlêMicA

Elemento condutor de ideias, a água é o motor e a questão do século 21 A dupla de artistas Gisela Motta e Leandro Lima fala sobre os significados da água em seu trabalho



em tempo

A seLecT nº 5 esTá nAs meLhores bAncAs de Todo pAís. A edição compLeTA Tem 132 páginAs. Aqui você AcessA pArTe do seu conTeúdo. FoLheie e degusTe. pArA AssinAr e consuLTAr As edições AnTeriores, Feche esTA jAneLA e cLique nos Links Assine e Arquivo, no cAnTo direiTo superior dA TeLA. boA LeiTurA!


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Cinto de segurança salva vidas.






index

ÁGUA E ARTE C I LDO M E I R E LES C R I OU UM SÓLI D O DISCURSO ECO LÓ GICO CO M ESTE PICO LÉ, Q UE FEZ SUCESSO EM KASSEL

62

36 CULTURA DIGITAL

42 ARTES VISUAIS

80 ENTREVISTA

108 ARQUITETURA

114 D ESI G N

E-green 20 milhões de toneladas de eletrônicos são descartados no mundo anualmente

Ecoartistas Propostas para solucionar problemas ambientais em obras que envolvem design, arquitetura e urbanismo

Paul Watson O lobo-do-mar luta contra a caça ilegal de animais marinhos e usa uma bandeira pirata no seu navio

Laboratório urbano As favelas são essenciais para repensar soluções para as cidades, diz o urbanista Stefano Boeri

Tecnoartesanato Aproximação entre artistas e comunidades de artesãos leva arrojo criativo a um novo design sustentável

FOTO: CORTESIA GALERIA LUISA STRINA


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index 102 FICÇÃO CIENTÍFICA

20.000 léguas O mundo submarino e os desastres ecológicos são temas pioneiros da ficção científica

89 DOSSIÊ

72

Rio+20 Um raio X multimídia aponta problemas e soluções da capital do meio ambiente do século 21

MODA

De alma lavada A sensualidade a flor da pele dos tecidos molhados, lavados e escorridos

52

PO RTFÓ LIO

Artur Lescher Rios de imagens e materiais atravessam a pesquisa e os fluxos da obra do artista paulistano

SEÇÕES 12 EDITORIAL | 16 CARTAS | 21 NAVEGAÇÃO | 32 TRIBOS | 34 MUNDO CODIFICADO| 48 TERRITÓRIO 120 CRÍTICA | 122 REVIEWS | 125 SELECTS | 126 COLUNAS MÓVEIS | 128 DELETE | 129 OBITUÁRIO | 130 REINVENTE


www.lucianabritogaleria.com.br

maio - junho 2012


editorial

12

Insípida, inodora e incolor A água é o elemento condutor das ideias da quinta edição de seLecT. Em tempos de aquecimento global, acidificação do oceano, falta de oxigênio nos mares e contaminação dos rios, a água lidera o ranking das vulnerabilidades do mundo. A água que, na origem dos tempos, determinou o posicionamento das cidades e desenhou o nosso mapa geopolítico e que hoje é sinônimo de comunicações cada vez mais fluidas e velozes precisa da nossa atenção. Como está hoje o alinhamento dos mais diversos campos da cultura em relação ao meio ambiente? Como os artistas se posicionam? Como a natureza transforma o artista e sua obra? seLecT toma parte do processo preparatório para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e concebe a edição Código Água, publicada dois meses antes do grande evento, que acontece no Rio de Janeiro, entre 13 e 22 de junho. Apesar da clássica definição, a água, na seLecT, não é insípida, nem inodora, nem incolor. A água é matéria artística, como aponta a editora Angélica de Moraes no texto “Sólido, líquido, gasoso: os três estados da arte”, e tem o amargo gosto do desaparecimento, como sugerido na obra Elemento Desaparecendo/Elemento Desaparecido, o célebre picolé de água de Cildo Meireles, exposto na Documenta 11, em Kassel. Tem gosto de natureza em desmoronamento, como relata Felipe Chaimovich na coluna móvel “On the rocks”, que descreve a degustação de gelo glacial como atração turística dos cruzeiros na Patagônia. E, sobretudo, a água tem cor: é azul fluorescente, como emana da instalação Zero Hidrográfico, de Gisela Motta e Leandro Lima, que estão na capa dessa edição. No Portfólio, o corpo da obra de Artur Lescher pode ser comparado a um curso d’água. E, em matéria de literatura, a repórter Nina Gazire disserta sobre como a ficção científica aquática viaja do mistério das profundezas do mar à indústria de exploração da água e às catástrofes ambientais. A água nos conduz também ao mundo das comunicações fluidas e das conexões móveis. A editora-chefe Giselle Beiguelman abre os olhos para a produção de e-lixo e as ambivalências da era da mobilidade e pergunta: quanto pesa a vida sem fio? A questão traz à tona, finalmente, as perspectivas do verde e da arte pós-utópica. A repórter Juliana Monachesi passeia pelas biosferas de bolso, as unidades habitacionais autossustentáveis e as micropaisagens que irrigam as relações entre cultura e meio ambiente. E, finalmente, imbuídos do espírito ecológico e das transformações ambientais de nosso tempo, o diretor de arte Ricardo van Steen e o designer Bruno Pugens elegem como caminho tipográfico desta edição as fontes magras, com pouca tinta.

Paula Alzugaray

D i reto ra d e re d a ç ã o

Paula Alzugaray

Ricardo van Steen

Giselle Beiguelman

Angélica de Moraes

Juliana Monachesi

Nina Gazire

Bruno Pugens

Anna Guirro

Hassan Ayoub

Mariel Zasso

Adriano Vanni ILUSTRAÇÕES: RICARDO VAN STEEN, A PARTIR DO APLICATIVO FACE YOUR MANGÁ


marcelo silveira

chronos

23.03 > 28.04.2012 avenida europa 655 s達o paulo sp brasil t 55 (11) 3063 2344 info@nararoesler.com.br www.nararoesler.com.br


expediente

14

EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL: DOMINGO ALZUGARAY EDITORA: CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE-EXECUTIVO: CARLOS ALZUGARAY DIRETORA DE REDAÇÃO: PAULA ALZUGARAY EDITORA-CHEFE: GISELLE BEIGUELMAN EDITORA DE ARTES VISUAIS: ANGÉLICA DE MORAES DIREÇÃO DE ARTE : RICARDO VAN STEEN REPÓRTERES: JULIANA MONACHESI E NINA GAZIRE COLABORADORES

Felipe Chaimovich, Fernando Serapião, Gabriel Kogan, Ivana Bentes Oliveira, Ludovic Carème,

A R T E D E S I G N C U LT U R A C O N T E M P O R Â N E A E T E C N O LO G I A

AN D RE A Z I T T E L ART U R LESC H E R DAN I E L LI B ES K I N D LAU RA VI N C I YAYO I KU SAM A

L I XO E L E TR Ô N I CO A S UJE I RA D OS EQU I PAM E N TOS QUE CARREGAMOS N OS B O LSOS

SA LV E R I O +2 0 CU LT U RA D I GI TAL , ECO LO GI A , I N D Ú ST RI A , SO C I E DAD E E U RBAN I S M O E M D OSS I Ê ES P EC I AL

CU RTO - C I R CU I TO A ART E P O D E SALVAR O M U N D O? T RÊ S RES P OSTAS E U M A P O LÊ M I CA

Elemento condutor de ideias, a água é o motor e a questão do século 21 A dupla de artistas Gisela Motta e Leandro Lima fala sobre os significados da água em seu trabalho

Foto: Ludovic Carème Tratamento de imagem: Leo Vas

Marcos Vinícius Faustini, Maurício Ianês, Nelson Brissac, Renata Motta, Ronaldo Lemos, Sheila Leirner, Zee Nunes PROJETO GRÁFICO

Cassio Leitão e Ricardo van Steen

DESIGNER

Bruno Pugens

ESTAGIÁRIO

Adriano Vanni

PRODUÇÃO

Anna Guirro

PESQUISA DE FOTOGRAFIA

Vera A. Esteves

COPY-DESK E REVISÃO

Hassan Ayoub

PRÉ IMPRESSÃO

Retrato Falado

CONTATO SERVIÇOS GRÁFICOS OPERAÇÕES E VENDA AVULSA

faleconosco@select.art.br GERENTE INDUSTRIAL: Fernando Rodrigues COORDENADORA GRÁFICA: Ivanete Gomes DIRETOR: Gregorio França GERENTE GERAL: Thomy Perroni ASSISTENTES: Luiz Massa, André Barbosa e Fábio Rodrigo OPERAÇÕES LAPA: Paulo Paulino e Paulo Sérgio Duarte COORDENADOR: Jorge Burgati ANALISTA: Cleiton Gonçalves ASSISTENTE SÊNIOR: Thiago Macedo ASSISTENTES: Aline Lima e Bruna Pinheiro AUXILIAR: Caio Carvalho ATENDIMENTO AO LEITOR E VENDAS PELA INTERNET: Dayane Aguiar. LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO DE ASSINATURAS: COORDENADORA: Vanessa Mira COORDENADORA-ASSISTENTE: Regina Maria ASSISTENTES: Denys Ferreira, Karina Pereira e Ricardo Souza

MARKETING

DIRETOR: Rui Miguel GERENTES: Débora Huzian e Wanderly Klinger REDATOR: Marcelo Almeida DIRETOR DE ARTE: Eric Müller ASSISTENTE DE MARKETING: Marciana Martins e Thaisa Ribeiro

PUBLICIDADE

DIRETOR NACIONAL: José Bello Souza Francisco GERENTE: Ana Lúcia Geraldi SECRETÁRIA DIRETORIA PUBLICIDADE: Regina Oliveira COORDENADORA ADM. DE PUBLICIDADE: Maria da Silva GERENTE DE COORDENAÇÃO: Alda Maria Reis COORDENADORES: Gilberto Di Santo Filho e Rose Dias AUXILIAR: Marília Gambaro CONTATO: publicidade@select.art.br RIO DE JANEIRO-RJ: Diretor de Publicidade: Expedito Grossi GERENTES EXECUTIVAS: Adriana Bouchardet, Arminda Barone e Silvia Maria Costa COORDENADORA DE PUBLICIDADE: Dilse Dumar; Tel.s: (21) 2107-6667 / (21)2107-6669 BRASÍLIA-DF: Gerente: Marcelo Strufaldi; Tel.s: (61) 3223-1205 / 3223-1207; Fax: (61) 3223-7732 SP/CAMPINAS: Mário EsTel.ita - Lugino Assessoria de Mkt e Publicidade Ltda.; Tel./Fax: (19) 3579-6800 SP/RIBEIRÃO PRETO: Andréa Gebin - Parlare Comunicação Integrada; Tel.s: (16) 3236-0016 / 8144-1155 MG/BELO HORIZONTE: Célia Maria de Oliveira - 1ª Página Publicidade Ltda.; Tel./Fax: (31) 3291-6751 PR/CURITIBA: Maria Marta Graco - M2C Representações Publicitárias; Tel./Fax: (41) 3223-0060 RS/PORTO ALEGRE: Roberto Gianoni - RR Gianoni Com. & Representações Ltda. Tel.: (51) 3388-7712 PE/RECIFE: Abérides Nicéias - Nova Representações Ltda.; Tel./Fax: (81) 3227-3433 BA/SALVADOR: Ipojucã Cabral - Verbo Comunicação Empresarial & Marketing Ltda.; Tel./Fax: (71) 3347-2032 SC/FLORIANÓPOLIS: Paulo Velloso - Comtato Negócios Ltda.; Tel./Fax: (48)3224-0044 ES/ VILA VELHA: Didimo Benedito - Dicape Representações e Serviços Ltda.; Tel./Fax (27)3229-1986 SE/ARACAJU: Pedro Amarante - Gabinete de Mídia - Tel./Fax: (79) 3246-4139/9978-8962 Internacional Sales: GSF Representações de Veículos de Comunicações Ltda - Fone: 55 11 9163.3062 - E-mail: gilmargsf@uol.com.br MARKETING PUBLICITÁRIO - DIRETORA: Isabel Povineli GERENTE: Maria Bernadete Machado COORDENADORA: Simone F. Gadini ASSISTENTES: Ariadne Pereira, Regiane Valente e Marília Trindade 3PRO DIRETOR DE ARTE: Victor S. Forjaz REDATOR: Bruno Módolo

ASSINATURAS

DIRETOR: Edgardo A. Zabala DIRETOR DE VENDAS PESSOAIS: Wanderley Quirino SUPERVISORA DE VENDAS: Rosana Paal DIRETOR DE TEL.EMARKETING: Anderson Lima GERENTE DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: Elaine Basílio GERENTE DE TRADE MARKETING: Jake Neto GERENTE GERAL DE PLANEJAMENTO: Reginaldo Marques GERENTE DE OPERAÇÕES DE ASSINATURAS: Carlos Eduardo Panhoni GERENTE DE TEL.EMARKETING: Renata Andrea GERENTE DE CALL CENTER: Ana Cristina Teen ; GERENTE DE PROJETOS ESPECIAIS: Patrícia Santana

SELECT é uma publicação da EDITORA BRASIL 21 LTDA., Rua William Speers, 1.000, conj. 120, São Paulo - SP, CEP: 05067-900, Tel.: (11) 3618-4200 / Fax: (11) 3618-4100. COMERCIALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO: Três Comércio de Publicações Ltda.: Rua William Speers, 1.212, São Paulo - SP; DISTRIBUIÇÃO EXCLUSIVA EM BANCAS PARA TODO O BRASIL: FC Comercial e Distribuidora S.A., Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP. Fone: (11) 3789-3000 IMPRESSÃO: EDITORA TRÊS LTDA., Rodovia Anhangüera, Km 32,5 Cajamar – SP – CEP 07750-000

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cartas

Acho a revista excelente, com uma mistura inteligente de áreas culturais que faz com que o público leigo em arte acabe tendo contato com ela a partir do interesse por esses múltiplos assuntos. Sabemos que uma revista especializada em arte atrai apenas o público também especializado, o que é uma pena. Nesse sentido, acho a seLecT revolucionária. Alexandre Dias Ramos , editor da Zouk

O mais interessante neste Delete do abadá é que assistir de camarote à passagem dos trios elétricos e foliões abadazados é bastante desinteressante. Já o carnaval de rua mesmo, subindo o Pelourinho, por exemplo, é lindo, divertido, uma delícia. Não tem preço...

Cecilia Pinto, via Facebook

Adoro a seLecT. Eu a leio todinha, anoto indicações de sites e o escambau. Parabéns! Linda revista! Tadeu Junglei, artista e cineasta

Não conhecia a seLecT e, por acaso, ao clicar em um link que um amigo postou no Twitter, acabei conhecendo-a. Li matérias e artigos no site e gostei da proposta da revista e do tipo de texto que vocês fazem. Emílio Baraçal, roteirista de cinema, quadrinhos e games

A seLecT é a melhor revista de arte, cultura e tecnologia editada hoje no Brasil. É uma lição à caretice de outras publicações dedicadas à cultura. Espero que vocês, no futuro, não se rendam a vampirismos que costumam abalar as melhores revistas. Alemar Rena, professor e músico

Olha só: a miniatura da capa numa propaganda de uma revista num consultório me chamou a atenção; aí fui procurar, fiquei curioso; comprei uma hoje; amanhã irei assinar - antes a Bravo! era um mal necessário, agora temos uma publicação descendo do pseudo pedestal do novo academicismo. E, sim, ganharam um leitor. João Grando, via Facebook

Gosto muito do conceito da revista e de todos os assuntos abordados por vocês. A seLecT veio somar cultura à massa! Alberto de Andrade Neto, estudante de museologia na UFSC

A ideia de ter a transcriação como assunto central torna a revista muito interessante e adaptada à nossa geração. Sou estudante de jornalismo e, sinceramente, já estava quase desistindo da graduação por ver sempre mais do mesmo nessa área. Mas a seLecT me fez acreditar que é possível fazer jorna-

FOTO: CORTESIA GALERIAS GAVIN BROWN’S ENTERPRISE E MICHAEL WERNER, NOVA YORK

lismo cultural com espaço para textos que vão além dos noticiários sobre pequenos fatos do dia a dia. Carollyne Lage,

A RT E D E S I G N C U LT U R A C O N T E M P O R Â N E A E T E C N O LO G I A

O L A F B RE U NI NG TO NY B E L LOT TO JAC L E I RNE R A NTO NI M U NTA DAS CO NSTA NT DU L A A RT

D O CA I R O À C RACO L Â N D I A , O CU PAÇ Õ ES R E I N VE N TAM A P O L Í TI CA

É P R EC I SO S E R J OV E M ? PS I CAN AL I STA , D E RM ATO LO G I STA E F I L Ó SO FO R ES PO ND E M

M U RA K A M I O JA PO NÊ S Q U E B OTOU WA RH O L NO C H I NE LO

estudante

Gente, vocês estão enterrando o computador pessoal? E com o tablet como coveiro? Eu acho que isso é como quando enterraram o cinema com a tevê. Ou a tevê com a internet. Está um pouco cedo para um obituário do PC. Gustavo Laet Gomes, Belo Horizonte

The Band, de Olaf Breuning

FEV/MAR 2012 ANO 02 EDIÇÃO 04 R$ 14,90

I S SN

A infantilização da cultura em tempos de Big Brother 2 2 3 6 - 3 9 3 9

ESPECIAL 3D COM ÓCULOS PARA VER IMAGENS DE NOVO FILME EM ULTRA-HD 9 7 7 2 2 3 6

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4

Esta quarta edição está sensacional. Gostei muito. Jefferson Peres, via Twitter

Adorei a capa, as matérias sobre a era do capitalismo fofinho e sobre o Murakami. Genial. Dimitri Mussard, diretor da importadora Acaju do Brasil

Nós estamos muito felizes com a cobertura da VIP Art Fair pela seLecT e queremos agradecer porque nossos visitantes do Brasil aumentaram 277% em relação à edição inaugural da feira. Jane Cohan, co-diretora da VIP Art Fair

Sou chilena, estive no Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco, onde conheci a seLecT e fiquei encantada com a publicação de vocês! María J. A. Barrera, via Facebook

Foi mal

Na página 53 da seLecT 02, os dados corretos sobre a pintura de Peter Doig são: Paragon (2006), óleo sobre linho. A obra pertence à coleção Rachofsky, de Dallas (EUA).

escreva-nos rua Itaquera, 423, Pacaembu, São Paulo - SP cep 01246-030

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colaboradores

18

Ronaldo Lemos

Ivana Bentes Oliveira

Renata Motta

Fernando Serapião

Maurício Ianês

Professor visitante da Universidade de Princeton (EUA) e diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV, RJ. Foi curador do Tim Festival. – RIO+20 P 90

É pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ. Participa das Redes Mídias Livre, Cultura Digital e Universidade Nômade. – RIO+20 P 98

É doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP e diretora do Sistema Estadual de Museus de São Paulo. – SELECTS P 125

É crítico de arquitetura, colaborador de Folha S.Paulo e editor da revista Monolito. Autor de A arquitetura de Croce, Aflalo & Gasperini (Paralaxe). – ARQUITETURA P 108

É artista visual. Participou da 28º Bienal de São Paulo. No campo da moda, trabalhou com Alexander McQueen e colabora com Alexandre Herchcovitch. – MODA P 72

Ludovic Carème

Zee Nunes

Felipe Chaimovich

Fotógrafo francês, tem o retrato como especialidade. Colabora com publicações internacionais como Libération, New York Times e The Guardian. – CAPA

Nasceu em Moçambique e veio para a Bahia aos 16 anos. Depois da carreira de modelo, tornou-se fotógrafo e diretor de desfiles da SP Fashion Week. – MODA P 72

É doutor em filosofia pela USP, curador e professor da Faap. Autor de Greenberg After Oiticica, em The State Art Criticism (Routledge). – COLUNAS MÓVEIS P 127

Marcos Vinicius Faustini

Ana Carla Fonseca Reis

Gabriel Kogan

É diretor de teatro e documentarista carioca. Autor do livro Guia Afetivo da Periferia. – RIO+20 P 93

É assessora para a ONU em economia criativa, economista e Doutora em Urbanismo pela USP. – RIO+20 P 97

Sheila Leirner É crítica de arte, jornalista e curadora. Vive e trabalha em Paris desde 1991. Foi curadora-geral da 18º e 190 bienais de São Paulo. – CRÍTICA P 120

É arquiteto e urbanista. Mestrando no Unesco-IHE (Holanda) sobre gerenciamento hídrico em São Paulo. – COLUNAS MÓVEIS P 126



A EMOÇÃO JÁ COMEÇOU. Confira a seguir mais uma matéria sobre os Jogos Olímpicos de Londres-2012. E acompanhe também outras informações nas versões para tablet, mobile e internet. Com a Editora Três, você já pode viver todas as emoções do maior evento esportivo do mundo. www.editora3.com.br

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ESTILO

JOGOS DA MODA Abertura das Olimpíadas vai ter uniformes assinados por estilistas famosos

As Olimpíadas são muito mais que um evento esportivo. Além de reunir torcedores e atletas, elas são também um palco de celebração da tecnologia e de indústrias que tangenciam a prática das distintas modalidades. O destaque especial fica para a área de moda. Foise o tempo em que os atletas andavam de calção tipo samba-canção e as moças com horrendos shortinhos “balonê” de gosto duvidoso. Não só os jogos tornaram-se verdadeiros laboratórios para a indústria têxtil, nos quais são testadas e aprovadas novas linhagens de fios e tecidos, como todo o design e o acabamento das roupas são hoje uma questão de estilo a toda prova. E neste ano, nos Jogos de Londres, a abertura e o encerramento do evento prometem transformarse em verdadeiras passarelas. Os atletas do país anfitrião vêm vestidos com uniformes assinados por Stella McCartney. A Itália não vai deixar por menos. Entra e sai de Armani. Os EUA vão de Ralph Lauren. Os Jogos prometem. GB PATROCÍNIO

PEÇAS DA ESTILISTA STELLA MCCARTNEY, QUE RESPONDE PELA DIREÇÃO DE CRIAÇÃO DA ADIDAS NAS OLIMPÍADAS DE LONDRES FOTOS: FRANCOIS DURAND/GETTY IMAGES E DIVULGAÇÃO


ÁGUAS

FONTES DE INSPIRAÇÃO

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Ana Maria Tavares faz elo entre projeto paisagístico de Burle Marx e bacias hidrográficas brasileiras

A água é tema recorrente nos trabalhos da artista Ana Maria Tavares. Atualmente, ela atua no projeto de uma instalação intitulada Rio Negro (Vitórias-Régias para Burle Marx), que estabelece elos entre o projeto paisagístico modernista e as bacias hidrográficas brasileiras. O novo trabalho dialoga com uma pesquisa hidrológica realizada pela artista em 2008, durante a Sonsbeek, tradicional evento relacionado à escultura, que acontece na Holanda desde 1949. Na ocasião, a artista realizou uma série de intervenções paisagísticas na cidade de Arnhem, usando como inspiração os mananciais locais. O trabalho The Secret of the Waters (for Mnemosyne) – em português, O Segredo das Águas (para Mnemosyne) –, partiu de uma investigação em busca das fontes de águas que são escassas naquela região, devido a uma série de precedentes geológicos. Com ajuda de um engenheiro de solo, foram marcados com discos de pedra os cinco mananciais encontrados. Ao fim do trabalho, a artista reuniu a comunidade da cidade holandesa em uma performance que fazia referência à lavagem da Igreja do Bonfim, em Salvador, onde os participantes carregavam, pelas ruas da cidade, uma rede feita de fitas. O trabalho foi repetido em 2009, no museu Kröller-Müller, localizado dentro do parque Hoge Veluwe National Park, em Otterlo, também na Holanda, onde a artista mapeou e marcou com grandes espelhos redondos cerca de 81 nascentes e riachos. A obra foi adquirida para a coleção permanente do museu. NG OBRA O SEGREDO DAS ÁGUAS, DE ANA MARIA TAVARES, INCLUI MAPEAMENTO DE FONTES E PERFORMANCE

JORNALISMO

PARCERIA COM A SP-ARTE seLecT participa da oitava edição da maior feira de arte do País, que traz novidades na estrutura e no espaço ocupado

Ampliada para ocupar os três pavimentos do pavilhão da Bienal de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, a maior feira de arte do País abre ao público, dia 10 de maio, com algumas mudanças também na estrutura de funcionamento. Uma das novidades é o Núcleo Editorial, que vai sediar no terceiro andar um lounge com computadores para o público acessar o hotsite alimentado com notícias sobre a feira e entrevistas com artistas e personalidades do meio que transitam pelo local. Os conteúdos editoriais serão produzidos por um pool de revistas de arte, que conta com a participação da seLecT e inclui ainda as revistas Das Artes (RJ) e Arte Brasileiros (SP), além de Art Nexus (Colômbia) e La Fabrica (Espanha). SeLecT vai deslocar para a SP-Arte sua equipe de repórteres e redatores, para acompanhar em tempo real o que estará acontecendo por lá em termos de cultura e negócios. O hotsite estará abrigado no site geral www.sp-arte.com e funcionará a partir da abertura do evento. FOTOS: KRÖLLER MÜLLER MUSEUM E FABIOLA SALLES; CORTESIA DA WHY-WALLY HERMÈS YACHTS - ART EFACTOR Y LAB


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ARTES VISUAIS

ARTE COMO PRÁTICA AMBIENTAL CCBB de Brasília ocupa seus jardins e áreas externas com oito reflexões sobre o estar no mundo

IN-MENSA, OBRA DE CILDO MEIRELES, REPRESENTA A GALERIA LUISA STRINA NA FEIRA

S P - A r t e , De 10 a 13 de maio, das 14 às 22 horas (quinta e sexta) e das 12 às 20 horas (sábado e domingo). Pavilhão da Bienal do Parque do Ibirapuera, São Paulo-SP

FOTO: CORTESIA SP-ARTE

Os ciclos sustentáveis, as formas de convivência e afetividade, o habitar em sentido amplo (incluindo o corpo e suas interfaces com o mundo), são o tema da exposição Daquilo Que Me Habita, idealizada e produzida pelo Ateliê Aberto, coletivo de artistas de Campinas (SP). A mostra reúne intervenções de oito autores nos jardins e áreas externas do CCBB de Brasília, transformando a circulação do local. Na fachada, Eduardo Srur instala Acampamento dos Anjos, barracas de camping na vertical, iluminadas a partir de dentro. Lia Chaia intervém no alto do vão livre com Esqueleto Aéreo, centenas de bandeiras recortadas nos padrões de diferentes ossos do corpo e estendidas em varais. E a dupla Cabeça Nuvem distribui no gramado de acesso ao CCBB uma divertida pista de obstáculos semelhante à usada em aulas de educação física e treinamentos militares. A curadoria, assinada por Maíra Endo e Samantha Moreira, entende a arquitetura como fluxo e a arte como prática ambiental. JM Daquilo Que Me Habita, de 24 de março a 13 de maio, Centro Cultural Banco do Brasil, SCES, Trecho 2, Conjunto 22, Brasília (DF)


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TURISMO CULTURAL 24

VIAGEM PELA LITERATURA Com escritores a bordo, barco soma papos literários a paisagens amazônicas

Imagine navegar por um dos rios mais caudalosos do planeta, o Negro, afluente do Amazonas, em confortável barco e na companhia de escritores de grande prestígio literário e inegável talento na difícil arte de entreter plateias com inteligência e simpatia. Essa ideia foi testada com sucesso em 2011 e terá sua segunda edição este ano, trazendo Ignácio de Loyola Brandão, Edney Silvestre e Valter Hugo Mãe. O projeto Navegar É Preciso é aberto à participação do público em geral e organizado pela rede de lojas Livraria da Vila. A atriz Clarice Niskier integra a lista de viajantes e vai encenar esquetes teatrais com textos literários. O grupo de percussão corporal Barbatuques se encarregará dos shows musicais. O primeiro Navegar É Preciso reuniu os escritores José Eduardo Agualusa, Cristóvão Tezza e Laurentino Gomes, entre outros. AM

LOYOLA BRANDÃO ESTÁ ENTRE OS CONVIDADOS DA VIAGEM LITERÁRIA

Navegar É Preciso, de 30 de abril a 4 de maio, Rio Negro (Amazônia)

TECNOLOGIA

MERGULHO VIRTUAL A última fronteira do Google está nas profundezas oceânicas

OCEANÓGRAFOS MAPEIAM O FUNDO DO MAR PARA O GOOGLE FOTOS: DIVULGAÇÃO E CATLIN SEAVIEW SURVEY HERMIONE LAWSON - HERMIONE@ZING.NET.AU

O Google vai lançar um equivalente do seu Street View para o fundo do mar. Sua versão submarina do projeto utiliza tecnologia desenvolvida para captura de imagens em profundidades jamais alcançadas por um robô, e poderá funcionar como uma ferramenta para pesquisas ambientais. Um protótipo do projeto, chamado Catlin Seaview Survey, foi apresentado em fevereiro no World Oceans Summit, em Cingapura. O novo serviço vai disponibilizar 50 mil panoramas e também terá um canal exclusivo no YouTube, além da transmissão ao vivo da expedição submarina no Google+Hangouts. Enquanto não chega o dia do lançamento, previsto para o fim do ano, uma amostra pode ser conferida no site do projeto: http://www.catlinseaviewsurvey.com/seaview.htm Em breve, as ilhas submarinas e cheias de cores, os tubarões-tigre e os peixes-palhaço que milhões de turistas mergulhadores vão esquadrinhar todo ano na Grande Barreira de Corais no nordeste da Austrália, estarão disponíveis para observação online, e ao vivo, no Panoramio. O projeto é resultado de uma parceria entre o Google e oceanógrafos da companhia de seguros Catlin Group Limited, com apoio de cientistas da Universidade de Queensland e da ONG Underwater Earth. JM



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URBANISMO 26 26

OÁSIS DO FUTURO Primeira cidade movida integralmente a energia solar nasce em pleno deserto árabe

São muitas as histórias sobre oásis perdidos que, no meio do deserto estéril, jorram sombra e água fresca em abundância. Em árabe, a palavra masdar significa fonte e dá nome a um projeto ousado e sem precedentes em pleno deserto de Abu Dabi, nos Emirados Árabes Unidos. Masdar City é uma cidade planejada que está sendo construída pela Abu Dhabi Future Energy Company e subsidiada pelo governo desse país. Projetada pelo escritório de arquitetura britânico Foster and

PROJETO DE MASDAR CITY, QUE SERÁ MOVIDA A ENERGIA SOLAR FOTO: CORTESIA MASDAR COMPANY

Partners, esta será a primeira cidade carbono zero do mundo. Para que isso se torne verdade, uma usina de energia solar produzirá até 60 megawatts e será complementada pela construção de parques eólicos com capacidade de produção de até 20 megawatts. Para o abastecimento de água, uma estação de dessalinização usará o líquido do mar e também será movida a energia solar. A cidade, que abrigará até 45 mil pessoas, deverá custar US$ 22 bilhões até o término das obras, em 2025. NG



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ARTES VISUAIS

AS QUATRO ECOLOGIAS DE REGINA VATER Artista pioneira no uso das imagens técnicas ganha livro e mostra individual no Oi Futuro

OBRAS DA SÉRIE ELECTRONIC NATURES, DE REGINA VATER

R e g i n a Va t e r : A s Quatro Ecologias, a partir de 21 de maio, Oi Futuro Flamengo, Rua 2 de Dezembro, 63, Rio de Janeiro

Uma de nossas primeiras artistas dedicadas ao uso das imagens técnicas, Regina Vater, ganha, enfim, extensa mostra individual no Oi Futuro. Residente nos EUA há mais de 20 anos, Vater elaborou, ao longo dos seus 40 anos de carreira, uma obra consistente e variada que compreende fotografia, filme, vídeo, performance, instalação e uma obra gráfica experimental que inclui livro de artista, arte postal e poesia visual. À diversidade de materiais, interfaces e mídias corresponde a complexidade, em todo seu trabalho, das abordagens conceituais em pesquisas que abrangem as relações entre arte, sociedade, natureza e tecnologia. A curadora da exposição, Paula Alzugaray, também diretora de redação de seLecT destaca: “A natureza poética e ecológica de sua obra cria condições para que ela seja pensada à luz do conceito das três ecologias de Félix Guattari – social, mental e ambiental. Mas, além disso, demarca-se em sua obra, de forma pioneira, o impulso que dirige o trânsito de seu pensamento ao longo das mídias e no campo de uma quarta ecologia, uma ecologia transmidiática, operando transversalmente entre arte, natureza e tecnologia. A exposição terá obras consagradas, porém raramente expostas no Brasil, como as séries Cinematic Stills e Electronic Natures, stills de naturezas filtradas pela imagem eletrônica e midiática, além do audiovisual LuxoLixo, obra inspirada no poema de Augusto de Campos, realizada com a colaboração de Hélio Oiticica, em 1973, em Nova York. O projeto prevê ainda a edição de um livro sobre a extensão da obra da artista. GB FOTOS: JOUNI SAARISTO E MARKUS BOLLEN



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PERFIL

A LINGUAGEM É UM VÍRUS Artista belga inicia em São Paulo uma série de trabalhos com viés socioeconômico

“A água é o petróleo do futuro.” Com essa afirmação, o artista belga Trudo Engels introduz as ideias envolvidas em seu projeto Água com Gás, concebido durante o mês de residência em São Paulo, para montagem de exposição individual na Galeria Luisa Strina. “Em 50 anos, este será um tema emergencial.” A pesquisa para o trabalho expõe dados já drásticos: na Europa, as companhias nacionais de água foram privatizadas e as grandes firmas, como a francesa Perrier, estão comprando todas as empresas públicas da África. No Brasil, a Coca-Cola incorporou a fonte Cristal e vende a água com preços próximos ao do refrigerante. O projeto Água com Gás incluirá, entre diversas ações e workshops, uma instalação para purificação de água. Esse também foi o sistema da exposição Le Château, que esteve em cartaz na Luisa Strina até 10 de março. A exposição incluiu oficinas, debates e uma instalação montada com centenas de embalagens de produtos alimentícios baratos. “Não gastei nem R$ 20 mil para comprar todo esse material”, afirma ele. “É a matéria mais barata que se pode encontrar. No Brasil, assim como nos EUA, forçam as pessoas a comer junk food. A comida real é muito cara aqui. Trata-se de uma conspiração. As pessoas comem comida ruim e barata, ficam doentes e não podem pagar o médico.”

Ambos os trabalhos – Le Château e Água com Gás – integram a série G-8, em que o artista levanta temas prementes da realidade socioeconômica contemporânea: globalização, transporte, agroindústria, desemprego, imigração, água. Em novembro próximo, Engels começa no México um projeto sobre milho modificado geneticamente. “A arte tem o poder de produzir ignição nas pessoas, contaminá-las com ideias. Devemos usar ideias como vírus”, diz. Trudo Engels dirige um coletivo de 24 artistas, porém, todos são alteregos dele mesmo. “Dois de meus artistas são artivistas. Um deles trabalha destruindo sementes de soja manipulada”, afirma. Mas entre os muitos eus de Trudo Engels há também os artistas “estéticos”. “Há aqueles que usam a estética para dar um apelo visual à sua mensagem política. Chamo essa estratégia de sabotagem positiva.” Trudo Engels afirma que em 15 anos terá realizado todos os trabalhos da série G-8. O local cotado para montar o projeto Água com Gás é o Canadá, a maior potência da água mundial. Ou o deserto. PA

“A água é o petróleo do futuro” SKETCH DA OBRA ÁGUA COM GÁS, DE TRUDO ENGELS, QUE PREVÊ O ALAGAMENTO DE POSTOS DE GASOLINA



tribos do design Chaleira Mefisto

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Nemos Quase anfíbios, eles ainda vivem em terra firme, mas é no meio líquido que se realizam. Produtos de um design que evita ser solúvel, são fluidos e valem um mergulho na reinvenção da água Aquário Chumby

O Chumby faz uso de plataformas digitais como Wi-Fi, tela touch screen e sensores USB. Conectadas ao computador, permitem monitorar os níveis de água e oxigênio do aquário, para o acompanhamento Lotus-Caixa de som em tempo real A designer Lim Loren da saúde do seu apropriou-se das formas peixinho. da vitória-régia para criar uma caixa de som que flutua na banheira Relógio Nixon Abyss ou na piscina, enquanto Este relógio é para mergulhadores você relaxa escutando que atingem grandes uma boa música. profundidades, com bússola para orientação em alto-mar.

Esta chaleira foi desenvolvida para um concurso de design da Electrolux que privilegiou projetos de energia limpa. A Mefisto funciona como um ebulidor que pode ser colocado diretamente no recipiente para aquecer a água sem uso de fogo ou eletricidade.

Roupa de mergulho feminina 2XU

Desenvolvida para triatletas que passam muito tempo na água. O neoprene, além de manter o aquecimento natural do corpo, é um material especialmente desenvolvido para garantir flutuação e flexibilidade sem esforço.

Bubble Modern Island

Esta espécie de bote-bolha é uma toalete móvel que pode ser anexada em barcos, canoas ou veleiros. Para evitar a poluição, a bolha vem com uma estação de tratamento de água que filtra os dejetos eliminados.

U-010

Projeto italiano desenhado por Marina Colombo e Sebastiano Vida, é nada menos que um iatesubmarino para viver em alto luxo até debaixo d’água. FOTOS DIVULGAÇÃO



mundo codificado Escala planetária 34

E-LIXO Escritórios e fábricas informatizados parecem ser ambientes assépticos e dão um ar de upgrade no mundo antes sujo de graxa, roldanas e litros de tinta preta. Não é bem assim. A produção desenfreada de equipamentos e a ausência de políticas de preservação ambiental relacionadas a coleta e processamento do lixo tecnológico estão prestes a criar um e-lixão planetário. PESQUISA: GISELLE BEIGUELMAN INFOGRÁFICO: RICARDO VAN STEEN E BRUNO PUGENS

Quantidade de lixo eletrônico produzida em um ano

50 milhões de toneladas = 1 trem capaz de dar a volta ao mundo

Consumo individual Sucata eletrônica gerada por um consumidor médio em toda sua vida

2080

Hoje

3,3 toneladas QUANTIDADES

Brasil

0,15

8,8 toneladas Produção anual por países Em milhões de toneladas

China

2,6 EUA

3,3 FONTES: INTERNATIONAL ELECTRONICS RECOVERY COALITION, NATIONAL GEOGRAHIC 94, JAN. 2008,THE DIGITAL DUMP, IAMGREEN.ORG, WELLHOME.COM


IMPACTO AMBIENTAL DA COMPUTAÇÃO

E-LIXO E SAÚDE Equipamentos eletrônicos possuem componentes que não são perigosos no cotidiano. Quando esses componentes são manuseados e descartados de forma amadora, tornam-se uma ameaça à saúde e ao meio ambiente.

Consumo de energia De todos os computadores do mundo em 1 dia (das 9 às 17h00)

CHUMBO

Monitores de tevê e de computadores CRT (com tubo) contêm até 4 kg de chumbo. Afeta: rins, sistema reprodutivo e desenvolvimento mental infantil

1,7 Milhão

MERCÚRIO

de Megawatts

Presente em placas e circuitos, está associado a danos neurológicos e renais

CÁDMIO

Elemento existente em todas as baterias de notebook, é agente cancerígeno e provoca danos nos rins e ossos

PVC

Sinônimo de gabinete de PC, sua queima libera gases muito tóxicos

PRODUÇÃO X RECICLAGEM Televisão / Computador / Celular Em milhões de unidades, mercado americano

Se todos os computadores do mundo fossem totalmente desligados nesta noite economizariam energia suficiente para acender a Torre Eiffel 24 horas por dia, por

720 anos

200 100 0Peças fabricadas

Televisões 18%

Peças descartadas

Peças recicladas

Produtos para computador

Celulares

18%

10%

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cultura digital

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QUANTO PESA A VIDA SEM FIO? Artistas questionam em suas obras as ambivalências da era da mobilidade, colocando a voracidade da indústria de celulares na berlinda e revelando a materialidade das redes GISELLE BEIGUELMAN FOTO: CHRIS JORDAN. CELL PHONES #2, ATLANTA. 2005


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TODOS OS ANOS SÃO DESCARTADOS 20 MILHÕES DE TONELADAS DE ELETRÔNICOS. ISSO DE ACORDO COM AS ESTATÍSTICAS MAIS OTIMISTAS. As mais pessimistas es-

timam que são 50 milhões de toneladas, o suficiente para encher 125 mil Boeings 747 com traquitanas de todos os tipos. Diante desse quadro, não seria exagero dizer que nada parece ser mais urgente para alguns artistas do que colocar em discussão as dimensões políticas e sociais da economia do hardware daquilo que consumimos. Atenção especial tem sido dada aos dispositivos móveis, e não por acaso. Em nenhuma área do universo das telecomunicações a velocidade e a voracidade das transformações são tão visíveis como na indústria dos celulares. Basta lembrar que para os 7 bilhões de habitantes do planeta existem mais de 5 bilhões de celulares em uso e que a cada segundo quatro aparelhos são descartados. Calcula-se que, em média, não se fica com o mesmo equipamento nem 22 meses. Esses números impressionantes instigaram as séries de Chris Jordan Intolerable Beauty: Portraits of American Mass Consumption (2003 -2005) e Running the Numbers: An American Self-Portrait (2006). Na primeira, os celulares e seus acessórios são os protagonistas. Na segunda, eles são um dos destaques, mas outros ícones da cultura americana, como cartões de crédito, carros, sacos plásticos etc. também estão presentes. Vale frisar com relação a


cultura digital

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As novas tecnologias de comunicação expandiram a noção de cidadania, incorporando práticas de consumo ao seu exercício

MOBILE CRASH, DE LUCAS BAMBOZZI, COLOCA EM DISCUSSÃO OS JOGOS DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA, INSERINDO O PÚBLICO ATIVAMENTE EM UMA CADEIA PRODUTIVA DA QUAL ELE É SEMPRE ALIENADO FOTOS: ACIMA E NA PÁGINA SEGUINTE, CORTESIA DO ARTISTA

Jordan, no que diz respeito a Running the Numbers, que ele é um artista extremamente bem-sucedido em termos de repercussão na internet, mas que tem trabalhado de forma muito elegante e criativa os recursos de visualização na tela do computador, pois o que se vê com e sem zoom são duas coisas totalmente distintas. E olhando particularmente as imagens dos celulares é impossível não perguntar: para onde vai tudo isso? E o que nos leva a consumir tanto? Uma resposta fácil seria dizer que tudo é fruto da sedução do marketing e da propaganda. Mas isso implicaria ignorar a complexidade de viver no século 21. Afinal, mostra o antropólogo argentino radicado no México Néstor Canclini em um instigante ensaio (Consumidores e Cidadãos), as novas tecnologias de comunicação expandiram a noção de cidadania, incorporando práticas de consumo ao seu exercício.


Canclini falava de tevê a cabo, mas podemos atualizar a discussão. O direito de acesso à internet ilustra bem essa relação, uma vez que inclui a necessidade não só de acesso à infraestrutura, mas também a uma gama de produtos comerciais e equipamentos de conexão. Esses equipamentos, vale lembrar aqui, são cada vez mais os dispositivos móveis, sugerindo que o indivíduo socialmente excluído, hoje, é o imóvel. Essa é uma questão extremamente relevante em economias emergentes como Brasil, China e Índia, que migraram para a cultura de rede, pulando o momento da comunicação em grande escala via linhas fixas. Nesses países, as indústrias de móveis desempenham um papel importante não só no campo das comunicações, mas também na rápida dinâmica da obsolescência programada que anima esse mercado.

VENCER UM JOGO SEM GANHADORES

Mobile Crash (2009), do artista brasileiro Lucas Bambozzi, problematiza sem paternalismo esse contexto social. Trata-se de uma instalação baseada em quatro projeções interativas que reagem à presença dos visitantes. As projeções mostram em uma série de vídeos curtos dispositivos eletrônicos, principalmente telefones celulares, sendo esmagados por um martelo. Editados em uma sequência rítmica e organizados como um jogo de 12 níveis, os vídeos tornam-se cada vez mais ruidosos e velozes, em resposta à intensidade dos gestos do público. Quanto mais nos movemos, mais rapidamente e com mais barulho símbolos de luxo são destruídos e transformados em lixo. Sem vencer partida alguma, fica-se com uma sensação de jogo ganho. Uma espécie de conquista do corpo sobre a velocidade do tempo febril da indústria, triunfo da vontade do indivíduo sobre a direção e o ritmo do processo. O resultado é uma experiência intensa e catártica, na qual a consciência social parece emergir da súbita possibilidade de participação ativa no procedimento de descarte dos dispositivos. Uma consciência, no entanto, mais próxima do estado de transe, não discursivo, e totalmente desvinculada, ou melhor, alforriada, de seu circuito comercial original.


cultura digital

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A dimensão política dos celulares não se esgota no seu uso. Há toda uma geopolítica dos dados e dos equipamentos TXH GHPDQGD XPD UHïH[¿R HP profundidade ainda por ser feita TANTALUM MEMORIAL, OBRA DE HARWOOD, WRIGTH E YOKOJI FAZ UMA HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DAS GUERRAS PELA POSSE DAS MINAS DE TANTALITA, NO CONGO, MINÉRIO ESSENCIAL PARA A FABRICAÇÃO DE CELULARES. AS GUERRAS JÁ MATARAM MAIS DE 6 MILHÕES DE PESSOAS DESDE 1998

Celulares, não custa lembrar, são muito mais que meros telefones sem fio com grande alcance. Estamos falando de equipamentos que se definem pela integração entre redes de acesso à internet em alta velocidade, transmissão e recepção de vídeos, participação em redes sociais, entre outras coisas, e tudo isso combinado com serviços e recursos locativos. São tanto um dos mais poderosos dispositivos de rastreamento e invasão da privacidade já inventados como potencializadores de outras formas de criatividade e ação política também jamais pensadas. Mas sua dimensão política não se esgota

no seu uso. Há toda uma geopolítica dos dados e dos equipamentos que demanda uma reflexão em profundidade ainda por ser feita. Tantalum Memorial (2008-2010), de Graham Harwood, Richard Wright e Matsuko Yokoji, aborda a cultura da mobilidade justamente a partir desse ângulo, fazendo uma homenagem às vítimas das batalhas pela posse das minas de coltan (ou tantalita), um dos grandes pivôs da longa guerra civil que matou, de 1998 até hoje, mais de 6 milhões de pessoas na República do Congo. Esse minério, uma mistura de columbita e tantalita, é um verdadeiro “ouro azul” e o Congo, o seu maior produtor natural. Sem ele não se fabrica nenhum celular, não importa a marca. Ele é essencial, por sua alta resistência térmica, para a produção do capacitor – peça que controla o f luxo de eletricidade e basicamente impede que seu aparelho derreta. As milícias do

FOTOS: TANTALUM MEMORIAL NA 01 SAN JOSE E MANIFESTA7 (2008). HARWOOD, WRIGHT, YOKOJI


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Congo e de Ruanda se organizam em torno das partes conf litantes e o tráfico do minério é feito em escala internacional até chegar às grandes fabricantes de celulares que compramos. Em Tantalum Memorial, uma estação livre de telefone conecta refugiados congoleses em Londres com redes informais de comunicação, organizadas nas ruas do Congo. Estimula-se que as pessoas contem histórias e reportem o que está acontecendo à sua volta. No espaço expositivo, uma réplica de uma central telefônica automática do tipo eletromecânico (sistema Strowger) domina o ambien-

te. A cada vez que um depoimento é recebido pela rede de telefonia social do projeto, interruptores são acionados. O sistema automático Strowger foi usado desde sua invenção, no fim do século 19, até os anos 1990, quando se passou a usar linhas digitais. Seu grande avanço foi dispensar o intermediário humano e ligar diretamente o emissor ao receptor telefônico. Afirma-se que Almon B. Strowger, que era agente funerário, desenvolveu sua ideia porque desconfiava que as telefonistas desviavam suas ligações para um concorrente. Verdade ou não, seu sistema foi o paradigma das redes de comunicação contemporâneas. Ao recuperá-lo como elemento de mediação do Tantalum Memorial, Harwood Wright e Yokoji dão presença a essa rede de conversas, ao mesmo tempo que fazem pensar na materialidade do que as redes têm de mais brutal.


artes visuais

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$rtistas norte americanas criam oEras TXe reïetem soEre as transIormaÃÑes amEientais

A ARTE PÓS-UTÓPICA DOS ECOSSISTEMAS PORTÁTEIS J U L I A N A M O N AC H E S I

PHOEBE WASHBURN (NOVA YORK, 1973)

Caos e controle podem coexistir Galões contendo Gatorade de limão e laranja bombeiam a bebida dos esportistas para tanques com bolas de golfe, que, por sua vez, alimentam o sistema de irrigação de aquários onde narcisos são cultivados. Trata-se de um sistema fechado, “uma Torre de Tatlin pósapocalíptica e pós-idealista”, nas palavras do crítico Jerry Saltz. Segundo o também crítico Holland Cotter, a instalação de Phoebe Washburn mostrada na Bienal do Whitney Museum de 2008 era “um ecossistema floral construído a partir de restos de materiais industriais que a artista encontrou nas ruas, perto de sua casa no Brooklyn. Ela não vê seu trabalho como um gesto de conservação ambiental nem de jardinagem em estufa, mas sim como evidência de sua compulsão por guardar o que os outros descartam”. Washburn, que foi aluna de Sara Szee na Escola de Artes Visuais de Nova York, vem literalizando a metáfora de um universo autorregulado em que caos e controle podem coexistir, ao introduzir plantas vivas em ambientes autossustentáveis, segundo a curadora Anna Mecugni. É o que acontece na obra Ordenha Tola de Prado Regulado (2007), espécie de fábrica mecanizada para a produção de tapetes de grama, que são levados para murchar e morrer no telhado do museu onde a obra é apresentada.

Uma micropaisagem sobre rodas com coleira para passear, biosferas de bolso, uma fábrica mecanizada de tapetes de grama, uma estufa cujo sistema de irrigação é alimentado à base de Gatorade e unidades habitacionais autossustentáveis são algumas das soluções de três artistas norte-americanas para a complexa imbricação entre arte e meio ambiente. Elas vêm ganhando relevância no cenário internacional ao tratar a natureza como experiência portátil, ou a arte como microecossistema pessoal. Andrea Zittel, Phoebe Washburn e Vaughn Bell fazem arte pós-utópica. Elas não querem mudar o mundo, recusam o rótulo de ecoartistas, mas promovem reflexão sobre as transformações ambientais de seu tempo.


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ACIMA: ORDENHA TOLA DE PRADO REGULADO (2007): FÁBRICA DE TAPETES DE GRAMA À ESQUERDA, ENQUANTO AUMENTAVA UMA FORTE SEDE DIMINUTA, O SUCO SE PERDEU (O NASCIMENTO DE UMA LOJA DE REFRIGERANTES), INSTALAÇÃO DE 2008: UM ECOSSISTEMA MOVIDO A GATORADE. PÁGINA ESQUERDA E, ABAIXO, NUNDERWATER NORT LAB (2011): VISITANTES PODEM CHEIRAR E ESPIAR AS PLANTAS SENDO CULTIVADAS E LANCHES SENDO PREPARADOS NO INTERIOR

FOTOS: CORTESIA ZACH FEUER GALLERY, NY


artes visuais

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ANDREA ZITTEL (CALIFÓRNIA, 1965)

Crítica radical ao consumismo Na interseção entre arte, design, arquitetura e urbanismo, Andrea Zittel desenvolve unidades habitacionais sintéticas, abastecidas com o mínimo necessário para a subsistência humana. A artista também cria as próprias roupas, que são como uniformes simplificados e adequados unicamente ao clima de cada estação do ano em Joshua Tree, na Califórnia, onde vive. O local é conhecido como A-Z Oeste. Em uma trajetória artística absolutamente coerente e espartana – que já foi qualificada de sustentável e sistemática –, desenvolve obras que são intituladas como parte de uma corporação fictícia, o Empreendimento A-Z. A empresa de uma mulher só opera uma crítica radical do consumismo e defende maneiras mais gratificantes de uso do tempo e do espaço. O Instituto A-Z de Vida Investigativa “engloba todos os aspectos do dia a dia. Os móveis para a casa, as roupas e a comida tornam-se terreno de investigação em um esforço contínuo para entender a natureza humana e a construção social de necessidades”, informa o site da artista (http://www.zittel.org). As Unidades de Vida A-Z, trailers adaptados que se desdobram em módulos de uma casa, e os Veículos de Escape A-Z, unidades propícias para sonhos escapistas de isolamento e segurança, estão entre seus microecossistemas mais famosos.


Obras são crítica radical ao consumismo, com casas trailers espartanas

À ESQ., A-Z WAGON STATIONS (2011), INSTALADOS EM A-Z OESTE, NO DESERTO DE JOSHUA TREE, EUA. AO LADO, INDY ISLAND (2009), ESCULTURA DE FIBRA DE VIDRO E ESPUMA INSTALADA NO PARQUE DO MUSEU DE ARTE DE INDIANÁPOLIS, EUA. ABAIXO, UNIDADE HABITACIONAL RURAL A-Z II (2001-2004), AÇO, PAINEIS PINTADOS, TETO DE CHAPA ONDULADA DE METAL E MOBILIARIO DE ISOPOR ESCUPIDO, TAMBÉM EM A-Z OESTE

FOTOS: JESSICA ECKERT (ESQ)/CORTESIA DA ARTISTA E ANDREA ROSEN GALLERY, NY; ACIMA, CORTESIA DA ARTISTA E ANDREA ROSEN; NO ALTO, CORTESIA DA ARTISTA E INDIANAPOLIS MUSEUM OF ART

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artes visuais

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Paisagens portáteis levadas a passear como se fossem animais de estimação: humor para fazer pensar sobre o difícil convívio urbano com a natureza

NO SENTIDO HORÁRIO, A PARTIR DA FOTO ACIMA: BIOSFERAS DE BOLSO PARA ADOÇÃO (EM ANDAMENTO), VILA VERDE (2008), PAISAGEM PARA CAMINHAR (2009-2010) E NOVOS PIONEIROS (2006), COM PLANTAS NATIVAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DE WILLAMETTE, NO ESTADO DO OREGON (EUA)


VAUGHN BELL (NOVA YORK, 1978

)

Paisagens sobre rodas

Vila Verde é composta de cinco biosferas distintas, criadas com plantas nativas das montanhas Berkshires (região oeste de Massachusetts e Connecticut), terra e água envoltas em estruturas de acrílico. Já a série Montanha Portátil representa paisagens sobre rodas que devem ser levadas para passear, como animais de estimação. Entre seus projetos mais recentes destaca-se a série de performances Esta Terra É Sua/Minha Terra, que oferece às pessoas uma biosfera de bolso ou um microecossistema para adoção. Os participantes assinam um formulário de adoção comprometendo-se a cuidar da planta. “Nestas performances, assim como em desenhos e esculturas, como Montanhas Hospedeiras e Biosferas Pessoais, eu exploro a miniaturização da paisagem, a separação de um pedaço de terra do todo e a relação de cuidado e controle que essas ações englobam”, afirma a artista em declaração em seu website pessoal (http://www.vaughnbell.net). Para Bell, o derradeiro veículo de baixo impacto é mesmo o corpo humano. Atualmente, ela está envolvida com a esfera pública de atuação, como artista residente do Departamento de Trânsito de Seattle, onde vive.

FOTOS: DANA DAVIS (BIOSFERAS DE BOLSO), KEVIN KENNEFICK (VILA VERDE) E FRANZ WAEUHOF (PAISAGEM PARA CAMINHAR) / TODAS CORTESIA DA ARTISTA

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em tempo

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