Rineke DijkstRa aRthuR OmaR CantOni & CResCenti Bienal De sãO PaulO aRt RiO + sP-aRte /fOtO
a r t e e C U Lt U r a C O N t e M P O r â N e a
COLEC IONE
E D I Ç Õ E S
D E
A RT I S TA
P r i nt exc lu s i vo e n u m e ra d o d e
Pling Pling, 2009 , Cildo Meireles
Cildo Meireles
NOITE E D I Ç Ã O
E S P E C I A L
A N I V E R S Á R I O
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A N O S
EM tEMpo
A Select nº19 eStá nAS melhoreS bAncAS de todo pAíS. A edição completA tem 116 páginAS. Aqui você AceSSA pArte do Seu conteúdo. Folheie e deguSte. pArA ASSinAr e conSultAr AS ediçõeS AnterioreS, Feche eStA jAnelA e AceSSe oS linkS ASSine e Arquivo, no cAnto Superior dA telA. boA leiturA!
fogo cruzado
Uma noite de Virada CUltUral dá Conta? Concebida há dez anos a partir do modelo europeu da nuit blanche, a Virada Cultural condensa em 24 horas uma programação gratuita de shows, concertos, intervenções urbanas, video mapping, gastronomia, artes visuais e artes cênicas. Mas em que medida uma noite dá conta de abarcar as perspectivas culturais da noite paulistana? Artistas e agentes culturais opinam SELECT.ART.BR
Ago/SET 2014
FACUNDO GUERRA emPreSário Da noite, ProPrietário Do riviera, cinejoia, lion, entre outraS caSaS
Acho que qualquer tentativa de pensar todas as perspectivas da noite paulistana em uma noite, poliforma e múltipla como é, acaba por ser inglória. São Paulo tem uma das noites mais dinâmicas do mundo e um único evento como a Virada nunca teria fôlego para retratar a nossa riqueza cultural. No entanto, apenas por acontecer no Centro e fazer com que todos confluam para o eixo histórico de São Paulo já faz a iniciativa essencial para os paulistanos: a Virada tem sido ao longo dos anos uma peça fundamental na formação de uma nova identidade dos habitantes de São Paulo, e acho que, ainda que limitada, é essencial para a cidade.
DANILO SANTOS DE MIRANDA Diretor-geral Do SeSc-SP
Claro que não, ela é um momento em que alguns aspectos são explorados. Em primeiro lugar, trata-se de um evento e, como todo evento, tem um caráter divulgador, de chamar a atenção da população para novas ações, para o considerado novo, com uma programação extensa que cobre todas as áreas de expressão. Outro ponto em seu favor é a exploração de lugares de maneira inédita, como, por exemplo, a região próxima da chamada Cracolândia, que neste ano foi ocupada também. A Virada mostra a intenção das pessoas que administram a cidade em vê-la e mostrá-la por outro olhar, acho que essa é a função primordial. Todas essas atividades gratuitas realizadas em inúmeros equipamentos culturais públicos, nos museus, nas ruas, nas unidades do Sesc, nada disso dá conta da constância das ações do dia a dia, ou, neste caso, da noite a noite em São Paulo, que tem uma oferta cultural ampla, com bares, shows, teatros, muitas vezes só acessíveis a pessoas de determinada renda. Dessa forma, a Virada não dá conta de todas as demandas, mas é importante para trazer visibilidade a certos aspectos, e por isso deve ser realizada.
BEL KOWARICK atriz
A Virada é bárbara, mas não dá conta dessa tarefa. É um sinal importante do potencial cultural que a cidade tem para oferecer. O paulistano adora sair e interagir. As pessoas vêm para São Paulo em busca de cultura e encontros. A Virada nos mostra que poderíamos ter uma cidade viva 24 horas.
Fotos: Fernanda procópio; christina ruFatto/pinacoteca do estado de são paulo e marcos gorgati
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PAULO VICELLI diretor de relaçÕes instituCionais da PinaCoteCa do estado de são Paulo
A virada é um passo importante para que as pessoas se apropriem da cidade e circulem por áreas que não fazem parte do seu cotidiano. Outras iniciativas também devem ser incentivadas, como a abertura noturna dos museus, festas em espaços públicos, intervenções artísticas e revitalização de espaços importantes para a cidade.
ADHEMAR DE OLIVEIRA ProPrietário da rede esPaço itaú de Cinema
Na área musical, talvez sim, pois ela acabou ganhando o teor de uma Virada majoritariamente musical. Seu grande mérito seria produzir as Viradas das outras artes, como a Virada do Teatro, a Virada do Cinema, a Virada das Artes Visuais. No segmento dela, dá conta, mas deveria ampliar essa atuação.
ALBERTO TURCO LOCO HIAR diretor da Cavalera e ex-dePutado estadual Pelo PsdB
Acho a Virada Cultural um grande engodo, a nossa classe política é do tempo do “pão e circo”. Em contrapartida, muitos artistas têm medo de perder os favores culturais. Gostaria de saber se algum secretário ou ministro tem cultura só um dia por ano. Não precisamos de Virada Cultural, e sim de uma virada na cultura deste país. SELECT.ART.BR
Ago/SET 2014
BAIXO RIBEIRO Galerista da Choque Cultural e orGanizador do Colaboratório, iniCiativa Criada para debater e busCar alternativas para a noite paulistana
Em dez anos, a Virada Cultural deixou de ser apenas um evento anual e se transformou numa plataforma, com um programa amplo e várias ações coordenadas que acontecem no mesmo fim de semana em São Paulo. Nas primeiras edições, havia o objetivo de fazer as pessoas se voltarem para o Centro da cidade, redescobrindo sua noite, e esse objetivo foi realmente alcançado. Eu mesmo passei a ver o Centro de outro jeito, tendo participado de algumas Viradas. Nas edições mais recentes percebe-se
a vontade de ampliar o enfoque e a abrangência da Virada para além do Centro, com a programação de atrações em vários bairros da cidade e um fortalecimento da agenda em parceria com o Sesc, bibliotecas e outros equipamentos culturais. Acho que essa nova direção traz ótimas possibilidades de ampliação e diversificação de públicos. E para a periferia é mesmo muito importante esse tipo de iniciativa. Mas acho que, para o Centro, o modelo deveria ser repensado. Hoje, o Centro vive um momento diferente de dez anos atrás. Muita gente já o redescobriu e começou a explorar suas potencialidades. Muitos negócios inovadores estão surgindo e ressignificando esse território. Por exemplo, os vários empreendimentos ligados à arte, como Mezanino, Pivô, Phosphorus, Se, Lâmina, Cúpula, Red Bull
Station, Hussardos, Paper Box, Balsa, Fluxo, Choque Cultural e a Ocupa da Rua do Ouvidor. O Centro está criando uma nova identidade e a Virada deveria fortalecer esse processo e ajudar a alavancar esses negócios. Vejo o Anhangabaú, por exemplo, como o lugar ideal para instalarmos um festival permanente de arte pública: principalmente artes visuais, cênicas, performáticas e circenses. Festas de luzes e projeções, instalações interativas, festivais gastronômicos. Todas as antigas salas de cinema que estão abandonadas poderiam ser reativadas, a Galeria Prestes Maia revitalizada, o Teatro Municipal reenergizado, os Correios e a Praça das Artes ativados. Enfim, existe uma potência cultural incrível e latente neste lugar. A Virada poderia ser o pavio para que o Anhangabaú se transformasse num verdadeiro reator cultural.
fotos: alexandre vianna. página ao lado: aline arruda; divulgação; e felipe gabriel
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A vidA noturnA da capital holan-
desa é levada tão à sério que lá existe até a figura de um agente público com a função de mediar as relações entre a prefeitura e os produtores culturais da noite. A revista seLecT conversou, por e-mail, com Mirik Milan, prefeito da noite de Amsterdã, espécie de administrador de conflitos entre produtores de eventos, artistas e a municipalidade. Ele foi um dos convidados para o Seminário da Noite Paulistana, evento que procurou refletir sobre as implicações econômicas, sociais e culturais da noite urbana de São Paulo. Na entrevista, Milan deixou clara a necessidade de se criar um cargo igual ao seu para a cidade de São Paulo, apesar de admitir as complexidades locais. Também discorreu sobre a relação entre a vida noturna e as indústrias criativas, o papel dos imigrantes na noite europeia e cronourbanismo, noção que procura integrar desejos díspares em cidades que nunca dormem. Em princípio, cada espaço urbano tem sua própria dinâmica e modos de existência, bem como maneiras distintas de proporcionar uma vida noturna. Por outro lado, lembro-me da famosa frase de Hemingway, em que ele diz: “Se você tiver sorte o suficiente para ter vivido em Paris durante a juventude, então aonde quer que vá a cidade permanece com você, pois Paris é uma festa ambulante”. Tendo isso em vista, você acha que a noite de uma cidade tem uma cor local? Seria possível transportar uma festa que funciona muito bem em uma cidade como Amsterdã para São Paulo?
internacional. Nossa maneira flexível de lidar com situações difíceis moldou a identidade da cidade. Apesar disso, problemas de grandes metrópoles ocorrem com frequência aqui. O Centro já está muito ocupado e aqui reside o desafio. Não há mais espaços no Centro. Não há mais prédios vazios. Portanto, precisamos olhar para além do Centro. Em Amsterdã, a gente transformou um monte de prédios vazios em escritórios de co-working e espaços de lazer. Vejo o mesmo potencial em São Paulo, que pode transformar áreas perigosas em áreas criativas. Eu sei que há um longo caminho a percorrer, mas tenho certeza de que, se um político ou prefeito tiver coragem, isso pode fazer uma grande diferença. Isto é o que aconteceu ao longo dos últimos dez anos em Berlim e pode acontecer em São Paulo também. Um prefeito da noite em São Paulo pode ajudar a explicar às autoridades locais por que isso é tão importante.
O prefeito da noite de Amsterdã diz que vida noturna é muito mais que usar o tempo livre e que pode mudar a forma como os cidadãos pensam sobre o social
burgomestre da noite holandesa G u i l h e r m e K uj aw s K i
Cada cidade é original em sua própria maneira. Comparada às outras cidades do mundo, Amsterdã é um lugar muito pequeno. Mas tem um apelo SELECT.ART.BR
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fotomontagem: LUCIana feRnanDeS SobRe foto De phILLIpe VoLgeLeZang e RegIStRo De peRfoRmanCe Do gRUpo fIbeR
A vida noturna nas capitais europeias costuma ser frenética. Mas já ouvi relatos de que a noite de Paris, por exemplo, não seria a mesma sem a presença de imigrantes africanos, um povo que acopla espontaneamente componentes lúdicos aos canais de entretenimento. Como as fronteiras da Europa estão se tornando cada vez mais restritas ao acesso de imigrantes, você acha que a noite europeia corre riscos?
Não concordo. A vida noturna da Europa tem vários tipos de agentes motivadores. Sim, um prefeito da noite tem de ter cuidado para não se concentrar apenas na maioria branca e abastada. No caso de Amsterdã, a maioria das pessoas que saem à noite pertence ao grupo mencionado acima. Essa é a maneira como elas usam o tempo livre. Mas a vida noturna é muito mais que isso. Pense em todo o talento criativo que se desenvolveu por meio da vida noturna: fotógrafos, designers, DJs, VJs, músicos e produtores. Eu, por exemplo, comecei há dez anos organizando festas num pequeno clube noturno. Depois de um tempo, percebi que era realmente bom em descobrir jovens talentos. Meu trabalho, hoje, é organizar grandes festas, desfiles de moda e festivais culturais. Acho que muito pode ser aprendido com isso. Acho ainda que a noite é o lugar ideal para experimentar e descobrir gente criativa. A origem social não é um fator impeditivo. Claro que entendo que isso pode ser mais difícil em outros contextos. Em São Paulo, uma nova tendência é o uso de espaços públicos para eventos culturais e artísticos. Isso envolve questões de transgressão e demandas políticas. Tendo em conta que o seu papel é mediar os produtores culturais e a prefeitura, a fim de evitar conflitos de interesse, você acha que entretenimento noturno e ativismo resultam em uma antinomia? Ou os dois são complementares?
Acho que as intervenções que acontecem nos espaços públicos em São Paulo
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A Virada Cultural é a versão brasileira das noites brancas europeias
A cultura da noite pode ter a mesma função que a arte, pois é uma maneira de afirmar identidades
poderiam acontecer mais em Amsterdã. Nesse sentido, Amsterdã é muito rigorosa, pois, se você quiser fazer uma intervenção ali, vai precisar de toneladas de licenças e permissões. Isso faz com que seja quase impossível para artistas emergentes fazerem coisas desse tipo. Acho que as intervenções ajudam a construir uma conscientização do público sobre questões polêmicas. Também acho que os políticos locais deveriam ficar satisfeitos com que algumas pessoas se atrevam a abordar esses temas. Isso pode mudar a forma de como os cidadãos pensam sobre o social. Então, para mim, as duas coisas são complementares. Mas acho que o governo é responsável por ajudar as pessoas que estão em situação social desfavorável. É difícil criar uma conscientização pública quando você olha para o entretenimento noturno apenas como divertimento. A vida noturna também pode ter um aspecto de crítica social. A cultura da noite pode ter a mesma função que a arte, pois é uma maneira de afirmar identidades. O urbanismo deve ser pautado pelo princípio da hospitalidade dos espaços públicos, priorizando a igualdade e não as diferenças entre o Centro e a periferia. Você poderia nos contar sobre como melhorar a percepção dos espaços públicos em Amsterdã?
Amsterdã soma cerca de 800 mil habitantes. Assim, quando se trata da hospitalidade dos espaços públicos, temos de olhar como os grandes eventos são organizados. No dia a dia, o problema Centro/periferia não é tão grave. Mas, no Dia da Rainha, um feriado nacional, os problemas SELECT.ART.BR
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aparecem. Durante esse período, mais de 700 mil pessoas visitam o Centro da cidade, que é quase o dobro do normal. No caso de São Paulo, 6 milhões de cidadãos participam da Virada Cultural. Isso causa grandes problemas não exatamente por questões de segurança, mas para os danos causados aos bens públicos. Após o Dia da Rainha, Amsterdã fica coberta de lixo e são necessários quatro dias para limpá-la. Um monte de pessoas não quer que as autoridades locais organizem esses eventos. Na verdade, elas querem apenas coisas como concertos de música erudita à beira dos canais. O problema é que muitas das pessoas que vivem no Centro querem todas as vantagens de se viver lá. Estar perto do trabalho, com todas as boas lojas, os adoráveis canais, os grandes museus, mas não querem lidar com os imprevistos. O Centro da capital pertence a todos. Assim, a prefeitura tem a obrigação de garantir certa isonomia. Em Amsterdã, conseguimos mudar algumas coisas nos últimos anos para que ela se torne mais igualitária. As pessoas sempre reclamam. Minha estratégia é ouvir os dois lados e garantir direitos iguais. Um dos conceitos mais interessantes apresentados no Seminário da Noite Paulistana foi o do cronourbanismo, criado por Luc Gwiazdzinski, uma noção que busca a confluência entre as dimensões espaciais e temporais da cidade. Tem a ver com o jeito de lidar com diferentes hábitos noturnos, respeitando tanto boêmios quanto os que dormem cedo. É possível desenvolver uma abordagem nessa linha?
Sim, acredito que isso poderia realmente funcionar também em Amsterdã. Aqui quase não temos lojas, restaurantes, clubes e transportes públicos que funcionam a noite toda. O Centro da cidade é cheio e todos reclamam quando os bares e os clubes fecham. Estou trabalhando a ideia de criar uma zona 24 horas de entretenimento. Seria igual à economia 24 horas do bairro chinês. Se alguém vai lá, sabe exatamente do que precisa. Nessa área, os restaurantes, bares, clubes, lojas de departamento, farmácias, bibliotecas e academias poderiam ficar abertos até a hora que quiserem. Isso também retiraria a densidade populacional do Centro. Isso seria uma coisa inovadora e tornaria a cidade mais atrativa para as indústrias criativas. O dia pode aprender muito com a noite. foTo: JonnE RoRiz/MiLEnAR iMAgEM
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s e L ecT E d i ç õ E s d E A r t i s tA Patrocínio isobar
Cildo Meireles Artista dá início a projeto de múltiplos colecionáveis
EsfEra invisívEl é a obra inaugural da série Edições
a revista escolhe e comissiona os artistas. ao distribuir
de artista, que a selecT oferece aos seus leitores. O
os múltiplos colecionáveis, espera estimular a relação do
projeto faz circular obras de arte contemporânea na
público com obras de arte e contribuir para a educação
forma de múltiplos de tiragem limitada, de autoria de
artística da sociedade. Cildo Meireles foi escolhido para
nomes de reconhecida importância no cenário artístico.
dar início à COlEÇÃO sElECT – EDiÇÕEs DE arTisTa.
O A R T I S TA nasceu no rio de Janeiro, em 1948, e é um dos maio-
(londres), lacma (los angeles), e Museu do século 21
res expoentes mundiais da chamada arte conceitual.
(Kanazawa, Japão), entre outros. Em 2009, ganhou uma
Obras de sua autoria estão em coleções no inhotim
exposição retrospectiva na Tate Modern, em londres,
(MG), MaM-sP, MaC-UsP, MaC-niterói, Macba (Bar-
e em 2013 no Museu nacional reina sofía, em Madri.
celona), Daros latinoamerica (suíça), Tate Britain
vive e trabalha no rio de Janeiro.
A OBRA EsFErA iNVisÍVEL (díptico, 2014) técnica: Print Off-set sobre papel Medidas: 19,5 x 27 cm cada Papel: Alta Alvura 150 g/m2 tiragem: 20.000 neste trabalho, o artista aborda a questão da
momento, nas palavras do artista, ela “se torna du-
visibilidade-invisibilidade e chama atenção de forma
plamente invisível”, já que pode apenas ser imagi-
poética para aquilo que pode apenas ser imaginado.
nada, mas jamais vista. a gravura é baseada na obra
a esfera em questão nunca é visível, pois é um vazio
Esfera invisível (2012), um cubo de alumínio maciço
no interior do cubo. Quando o cubo é aberto, a esfera
medindo 50 x 50 x 50 cm, diâmetro de 25 cm e peso
se transforma em dois hemisférios côncavos. nesse
“irrelevante”, da coleção do artista.
PAT R O C Í N I O
APOIO
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V E R N I SSAG E
Imersão em cor Galeria Luisa Strina apresenta novas obras do celebrado artista conceitual Cildo Meireles e a grande instalação Pling Pling, mostrada na Bienal de Veneza de 2009
MÁRION STRECKER
Quem tem o projeto da instalação Pling Pling em seu computador e se responsabiliza pela execução da obra na Galeria Luisa Strina é o artista belga Trudo Engels. Ou melhor, é (ou são) Various Artists, o codinome que esse artista assumiu desde que decidiu “morrer” em 2009 e se transformar num coletivo de 24 identidades artísticas diferentes. Até o nome Pling Pling é do belga. A autoria da obra, entretanto, é de Cildo Meireles, reconhecido internacionalmente como um dos pioneiros da arte conceitual, movimento que ganhou o mundo desde os anos 1960 e mudou profundamente o entendimento da arte. As ideias tornaram-se mais importantes do que a execução da obra, que não precisa mais ser construída pelas mãos do artista. O autor pode delegar essa atividade a quem tenha habilidade técnica específica. “Expliquei para ele por telefone a ideia da coisa”, contou Cildo Meireles à seLecT durante uma visita a seu ateliê numa rua sem saída do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. “Ele é hipermeticuloso, adora matemática, cria sistemas numéricos”, fala Cildo sobre seu amigo de longa data, desde que Engels serviu como seu assistente numa exposição na Bélgica, em 1989. “Mandei um sketchzinho, um rascunho, mas ele fez toda a coisa em computador. Na verdade, dei as dimensões. Eu queria trabalhar sempre com dízima periódica: 3,33… metros e as portas 1,1111… por 2,2222… de altura. E cada sala – são seis, interligadas – de uma cor diferente: as três primárias e as três complementares”, descreve. “Eu tinha batizado a peça de Plim Plim, que era uma brincadeira com a Globo. Quando o Trudo me mandou as plantas finais, digitais, veio grafado Pling Pling. Achei legal porque ficava uma coisa
Ao lado, sala monocromática da instalação Pling Pling, de Cildo Meireles SELECT.ART.BR
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Photograph 1 (2014), fotografia em P&B sobre cartão espelhado, pertencente a uma série de intervenções sobre retratos de crianças tirados por fotógrafos profissionais
chinesa e fugia da possível reação da Globo e tal, algum tipo de encheção de saco. Aí mantive o Pling Pling. E é também uma homenagem a uma peça do Waltércio Caldas de que eu gosto muito, que se chamava Ping-Ping e era ligada a pingue-pongue”, conta Cildo. Essas revelações e a torrente de associações não fecham nem limitam o entendimento da obra. O visitante fará uma imersão em cada cor, ao entrar nas salas monocromáticas iluminadas por uma luz difusa. Cada cor despertará em cada espectador emoções específicas, que não serão necessariamente as mesmas, a depender da formação cultural e das vivências pessoais de cada um. Nem mesmo há uma definição unívoca de quais sejam as cores primárias, exceto o conceito de que delas derivam as secundárias. Se, para muitos, as cores primárias são o vermelho, o azul e o amarelo, conforme o difundido no século 18 e amplamente utilizado na indústria gráfica, os irmãos Lumière patentearam o próprio método de fotografia colorida, no início do século 20, em que as cores primárias eram laranja, verde e violeta. Com a invenção da televisão, nos anos 1920, veio o sistema de pontos coloridos RGB (sigla em inglês para vermelho, verde e azul), usado também em outros dispositivos eletrônicos, como computadores, scanners e câmeras digitais. Em cada sala monocromática, com paredes e chão pintados, haverá um monitor ligado a um computador oculto. Na maior parte do tempo, cada monitor vai transmitir a cor da própria sala. Mas em algum momento, no monitor programado numa divisão temporal também baseada em dízima periódica, surgirá a sua cor complementar. “Na sala violeta, o monitor é violeta na maior parte do tempo e, no outro período, ele muda para o laranja, que é o complementar do violeta”, explica Cildo. A instalação foi apresentada originalmente na Bienal de Veneza, em 2009. Esta será sua segunda montagem. A individual na Luisa Strina ficará em cartaz de 21 de agosto a 27 de setembro, em São Paulo, e também trará obras recentes, como Esfera Invisível (2012), um cubo de alumínio maciço medindo 50 x 50 x 50 cm, diâmetro de 25 cm e peso irrelevante, na descrição do artista. Aberto o cubo, “a esfera torna-se duplamente invisível”, comenta com seu humor peculiar, já que a esfera é um vazio no interior do cubo. Esta é a primeira individual do artista depois das retrospectivas no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, e no Hangar Bicocca, em Milão. Quando imergirmos na cor e virmos de relance a próxima sala da exposição, talvez não estejamos preparados para o que será estarmos imersos em outra cor. Fica uma dica extraída das Sentenças sobre Arte Conceitual de Sol LeWitt, de 1969: “Existem muitos elementos envolvidos numa obra de arte. Os mais importantes são os mais óbvios”.
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À esq. e à dir, salas da instalação Pling Pling, de Cildo Meireles, com monitores que ora transmitem a mesma cor da sala, ora a cor complementar
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FOTOS: CORTESIA GALERIA LuISA STRInA
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A seção Vernissage é um projeto realizado em parceria com galerias de arte, que prevê a publicação de um texto sobre a obra de um artista que estará em exposição durante os meses de circulação da edição.
mundo codificado
36500 noites animadas HIP-HOP
LATINOS
FUNK
ROCK
JAZZ
ELETRテ年ICO
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1950
1940
1930
1920
1910
SAMBA
giselle beiguelman INFOGRÁFICO pedro botton
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2000
1990
1980
1970
1960
Poetas, seresteiros, namorados, não precisaram correr, como cantou um assustado Gilberto Gil, preocupado em não ter mais noites de luar. Sambistas, roqueiros, jazzistas, tecnoartistas e funkeiros estão aí, embalando e vibrando 100 anos de noites.
Fotos: DIVULGAÇão
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r e p o rtag e m e s p e c i a l
A nova noite no Centro Velho de SĂŁo Paulo faz da festa uma plataforma cultural, com boas doses de arte, entretenimento e embates com o poder pĂşblico SELECT.ART.BR
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OCUPAÇÕES DÃO ASAS À DivErSiDADE G u s tavo f i o r at t i
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Nas páginas anteriores, a festa Puta Dei, com o lançamento da coleção Daspu na Copa, em 13 de junho, em que a companhia teatral Pessoal do Faroeste celebrou o Dia da Prostituição, na Rua do Triunfo, na região da Luz, com palavras de ordem levantadas por prostitutas para uma plateia com drinques na mão. À direita, o Paribar, na Praça Dom José Gaspar, revive a efervescência que teve entre os anos 1950 e 1970
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Se há alguma beleza no cenário que se revela em
espaços urbanos abandonados, São Paulo tem beleza de sobra à noite na região central. Precisava só de gente que desbravasse o território, e uma trilha foi aberta nos cinco últimos anos por um dos mais significativos movimentos urbanos deste início de século. Sem nome por aqui, mas simpática às propostas de invasões dos squatters de Londres e de outras capitais europeias, uma rede de festas e eventos culturais passou a ocupar becos, terrenos baldios, prédios vazios, muitas vezes de forma clandestina. Chamaram atenção pela apropriação de referências punks e hippies. Atraíram mais gente. Criaram um novo cenário, capaz de sugerir nova relação com a cidade e também perturbar a ordem estabelecida pelas autoridades. Foi nesse contexto que, no último aniversário de São Paulo, dia 25 de janeiro, um grupo de jovens portando caixas de som entrou em um túnel que liga as ruas Augusta e Amaral Gurgel, na região central. Aos domingos e feriados, a via fica fechada à circulação de carros, e assim o grupo decretou a liberdade daquele território para, de vez em quando, virar ponto de encontro de quem gosta de ouvir música e dançar. Deu certo, ganhou página no Facebook e o carinhoso apelido de Buraco da Minhoca. Sem cobrança de ingressos, as edições subsequentes da festa reuniram centenas de baladeiros e artistas. A edição de Carnaval foi especialmente forte. Mas, no fim de março, como já se esperava, começaram as encrencas: com a polícia, com a subprefeitura da Sé e com alguns moradores da região, que consideraram o Buraco da Minhoca irregular, barulhento e inseguro. A festa, por ora, acabou. As ocupações de rua que o núcleo Capslock e outros grupos propuseram nesse modelo “foram sempre sem qualquer autorização da prefeitura”, diz o DJ Paulo Tessuto, um dos líderes da ocupação do Buraco da Minhoca. “Confesso que, após sucessivas decepções, acabei perdendo o tesão em ocupar aquele espaço. Muita mídia e muita polícia defendendo as pessoas que moram na região, praticando abuso de autoridade a todo momento”, diz. Tessuto, que iniciou sua carreira na Voodoohop, pioneira nesse estilo de festa-ocupação, diz que a gestão anterior da prefeitura era ainda menos afeita a diálogos. Em 2008, o alemão Thomas Haferlach fez a primeira edição da festa em um bar do chamado Baixo Augusta. Alguns meses depois, decidiu ocupar o segundo andar de um prédio privado, até hoje com vários andares vazios, na Avenida São João. Sem muita preocupação com a falta de estrutura, mas com a anuência do proprietário, o organizador da Voodoo lançou um gênero, agregando logo na sequência outros proSELECT.ART.BR
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Coletivos artísticos, independentes e ativistas ocupam, fazem festas e promovem eventos culturais, muitas vezes clandestinos, debaixo de viadutos, em becos, terrenos baldios e prédios vazios do Centro Velho de São Paulo
fissionais, DJs, VJs, artistas e performers. Tessuto acha que, embora tenha crescido estruturalmente, a Voodoo não perdeu a autenticidade. “Por ser um organismo de colaboração aberto à experimentação, a festa sofreu alterações diversas. Sempre há pessoas novas colaborando. No conteúdo, porém, creio que não tenha se alterado tanto assim.” a nova cara da noite
No depoimento do DJ reside a chave para compreender como um estilo de noite se multiplicou com relativa velocidade. Ao agregar profissionais que atuam mais como sócios do que como funcionários, a Voodoo fez escola. Do núcleo também saiu Pilantröpóv Pausãnias, artista autônomo. Ainda hoje presente entre os agregados da Voodoo, ele vê nas festas uma possibilidade de interface entre entretenimento e rito. “Acho que, se você pensa a festa como uma plataforma em que a arte possa fugir dos cubos branco e preto, o propósito é a liberação de várias coisas, conexões, celebração”, define. Pausãnias diz que esse mesmo movimento de ocupações já foi mais conciso, há cinco anos, quando ainda mobilizava pouca gente. “Acho que enfraqueceu e minguou um pouco. Se a galera tivesse sido mais generosa e aberta, teria continuado. Brigas internas fragmentaram uma cultura que ainda estava engatinhando. O que levou a essas brigas? Copyright: mil fes-
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tas, e cada pessoa com a sua. Bom que dá asas para a diversidade, mas fragmenta as forças que poderiam ser usadas para gerar mais lucro”, defende. Lucro? Pois o que parece separar esse movimento de seus antepassados hippies ou punks, que vilipendiavam o capitalismo, é justamente a compreensão de que movimentos não precisam se opor ao sistema, mas podem brincar com ele, ganhando dinheiro, inclusive. Se de fato houver um pensamento por trás da noite alternativa e marginal paulistana, ele não atua contra a corrente, mas faz questão de compreendê-la e de tirar partido. “Ninguém faz muita coisa sem poder participar da economia”, defende o artista, que durante a entrevista usava peruca e vestimentas femininas japonesas, ao estilo das gueixas. Nesse sentido, faz parte também de uma leitura sistêmica o compartilhamento de estratégias subversivas, como as ocupações empreendidas por movimentos sociais, especialmente o Movimento do Trabalhadores Sem Teto. Rua do ouvidoR
No dia 1º de maio, Pausãnias participou de uma invasão inspirada nas ações de grupos articulados para pressionar o poder público a investir em moradias. Cerca de 30 artistas plásticos, arquitetos, pesquisadores, músicos e agregados invadiram um prédio do Estado, na Rua do Ouvidor, próxi-
mo ao Vale do Anhangabaú. De contrapiso e fiação expostos e com vários vidros de janelas quebrados, o edifício estava abandonado havia quase dez anos, após o governo remover de lá um grupo de famílias organizado pelo MTST. Em seu interior, hoje e por tempo indefinido, os novos ocupantes se equipam com barracas, sofás, mesas de trabalho, colchões, luminárias e outros mobiliários. A intenção é construir uma espécie de centro cultural educativo que tenha, inclusive, a anuência, a participação e o auxílio do Estado, segundo dizem alguns dos organizadores presentes. Para o arquiteto Felipe Melo Pissardo, as festas e clubes que ocuparam nesse contexto terrenos e imóveis no Centro de São Paulo não se propõem diretamente como movimentos políticos, mas acabam tendo fundamentos nessa raiz. “A partir de uma premissa que não tem a ver com a maneira tradicional de se fazer política, essas ocupações trazem novas leituras sobre a forma de habitar”, diz. “Assim, acabam alterando com uma ação a perspectiva política da população.” A vontade de participação é clara. Na noite de uma sexta-feira de junho, o grupo de artistas-ativistas Tanque Rosa Choque, reunido em um dos cômodos do edifício da Rua do Ouvidor, debatia o equipamento policial considerado por eles ostensivo na Praça Roosevelt. Cerca de dez jovens planejavam uma performance que durante toda uma tarde abraçasse o assunto.
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Após a apropriação do prédio, os ocupantes da Ouvidor usaram o mailing da Voodoohop para anunciar a realização de uma festa e levantar fundos, a ser usados para a reparação estrutural do edifício, incluindo um novo sistema hidráulico. Numa noite de sábado, em maio, a fila de entrada dobrava o quarteirão do prédio. O grupo conseguiu levantar, com a venda de bebidas e ingressos, cerca de R$ 17 mil, dos quais cerca de R$ 7 mil foram gastos na própria infraestrutura da festa. Os outros R$ 10 mil tiveram destino compartilhado, e o grupo diSELECT.ART.BR
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vulga que essa receita financiou, por exemplo, a instalação de uma nova caixa d’água, entre outros benefícios para o prédio. Para Fabio Canova, assessor de gabinete da subprefeitura da Sé, os eventos que excedem o limite de 250 pessoas sem autorização da prefeitura podem lesar a população de São Paulo, principalmente em dois aspectos. Primeiro, aqueles que participam do evento sofrem riscos diversos, sendo o de incêndio o mais perigoso deles. Segundo, as diversas esferas do governo perdem receita, pois deixam
Na página anterior, cerca de 30 artistas plásticos, arquitetos, pesquisadores, músicos e agregados ocupam prédio do Estado na Rua do Ouvidor, próxima ao Vale do Anhangabaú, com intenção de criar um centro cultural educativo. Á esquerda, a Trackers, espécie de clube que, além de festas, já ofereceu cursos relacionados à produção musical e à tenologia, sediou o Pop Porn, festival de performances e filmes eróticos, foi autuada pela prefeitura por falta de alvará, mas voltou a funcionar em uma semana. 67
Diálogo paraDoxal
de recolher os impostos relativos à cobrança de ingressos e venda de bebidas. De fato, na festa realizada na Rua do Ouvidor, a única forma de pagamento aceita era dinheiro vivo. Um sujeito que reclamou o direito de usar cartão na porta do prédio chegou a ser vaiado. Havia seguranças espalhados pelos três andares que abrigaram a festa, e um deles desencorajava a clientela a chegar perto das janelas, estruturas de aço e vidro que iam do chão ao teto. “Pode desabar”, dizia. Não houve acidentes.
O poder público, a prefeitura especialmente, tem dialogado com essa turma de maneira paradoxal. Há estímulos como o convite para que artistas envolvidos participem da Virada Cultural e de outros eventos. Para setembro, está sendo planejada a segunda edição do SP na Rua, rave urbana que reuniu a maior parte dos coletivos que formam essa rede no Centro de São Paulo. Mas há também uma série de cobranças, muitas delas ainda a ser colocadas em prática. Em junho, a Trackers, uma semana após sediar o Pop Porn, festival de performances e filmes eróticos, foi autuada pela prefeitura por falta de alvará. Chegou a ter a porta bloqueada, reabriu em menos de uma semana, mas no dia 29 voltou a ser lacrada pela Prefeitura de SP. Fato é que, por seu caráter conciliatório e abrangente, por ter agregado, inclusive, moradores de rua e usuários de crack em festas realizadas nas ruas, esse gênero de balada atraiu a atenção de artistas e curadores. Em 2012, a Voodoo foi responsável pela festa de encerramento da Bienal Internacional de São Paulo, realizada no topo de um edifício próximo à Câmara de Vereadores. Recentemente, ouviram-se também notícias de residências artísticas clandestinas na Galeria Formosa, antiga Escola Municipal de Bailado, situada na parte de baixo do Viaduto do Chá. Em nota, a prefeitura diz que “o espaço está desde o dia 2 de maio ocupado por um pequeno grupo que, em carta endereçada à Secretaria Municipal de Cultura, afirma que a invasão se justificaria pelo fato de o espaço estar ocioso, o que é totalmente falso”. Dessa forma, prossegue a nota, “a invasão da antiga Escola de Bailado é totalmente ilegítima e ilegal”. O movimento de apropriação (talvez a palavra reapropriação aqui fosse mais correta) contaminou, inclusive, outros campos e palanques. Residente na região da Luz, a apelidada Cracolândia, a companhia teatral Pessoal do Faroeste realizou com a marca de roupa Daspu, em junho, uma festa para celebrar o Dia da Prostituição, com palavras de ordem levantadas por prostitutas a uma plateia cheia de gente com drinque na mão. “Nós somos prostitutas, e eu assumi minha profissão não faz um, dois ou três dias. Já faz 23 anos que presto serviços sexuais. Não vivo à margem da sociedade. Eu abomino quem fala que o nosso espaço de trabalho nas ruas é considerado boca do lixo. O nosso espaço de trabalho é comum”, dizia a prostituta Betânia Santos, com um microfone na mão. Cerveja e outras bebidas servidas em copos de plástico também só eram compradas com dinheiro vivo. E é assim que, em rede, um cenário estranho e rico vai desenhando, em São Paulo, uma nova forma de enxergar o espaço urbano.
Portfólio
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The Buzz Club, Liverpool, UK 3 de março, 1995
Rineke Dijkstra Pa u l a a l z u g a r ay
Uma noite na vida de um clubber. Com esse recorte temporal e espacial específico, os retratos de adolescentes destacados de pistas de dança, realizados em foto e vídeo pela artista holandesa Rineke Dijkstra, constituem uma etnografia da noite
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The Buzz Club, Liverpool, UK 4 de março, 1995
The Buzz Club, Liverpool, UK 11 de março, 1995
The Buzz Club / Mystery World The Krazyhouse Rineke Dijkstra sempre buscou privar o retratado de uma posição de conforto. Para desafiar a segurança que uma boa pose tende a transmitir, a artista tem como objeto de sua pesquisa fotográfica situações em que seus retratados vivem estados transitórios, instáveis, de ambiguidade ou vulnerabilidade e tendem a baixar a guarda. A adolescência, período transitivo entre a infância e a idade adulta, fase de incertezas quanto ao corpo e à identidade, tornou-se seu grande tema. Assim se comportam diante de sua câmera os jovens banhistas com seus corpos em mutação, Fotos: cortesia da artista/ Marian GoodMan Gallery
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os toureiros após as lutas, as mulheres após darem à luz, ou as “disco girls” em progressivo descontrole e arrebatamento, deixando-se entregar ao prazer da dança. The Buzz Club / Mystery World (1996-1997) é uma série de retratos em vídeo e foto realizada em clubes de Liverpool, na Inglaterra, e de Zaandam, na Holanda. A artista convidou frequentadores desses locais a se deslocarem para um estúdio improvisado e dançar a música techno da pista, audível através das paredes. O resultado traz grupos de pessoas com os mesmos códigos identitários, incorporados nas roupas, no estilo e na atitude. Dez anos depois, Dijkstra voltou a Liverpool e convidou
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The Buzz Club, Liverpool, UK/ Mystery World, Zaandam, NL, 1996-1997 Videoinstalação em dois canais, 26min40s
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Beth The Krazyhouse, Liverpool, Inglaterra 22 de dezembro, 2008
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Amy The Krazyhouse, Liverpool, Inglaterra 23 de dezembro, 2008
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os clubbers do inferninho The Krazyhouse (2009) a dançar a música de sua preferência em um cubo branco montado em uma sala do local. Captados com luz clara, uniforme, e recortados de seu contexto, os clubbers ostentam, afinal, um realismo que se aproxima ao dos documentos etnográficos. Ambos os trabalhos, que ganham edição da própria artista neste portfólio de seLecT, configuram estudos sobre a desconstrução da pose. Da pintura de seus antepassados conterrâneos, como Rembrandt, que contribuíram para a afirmação do retrato como gênero pictórico, Dijkstra absorveu o talento para extrair a intensidade psicológica do modelo. Dessa forma, assistimos nestas páginas a um autêntico teatro das aparências. Com uma dramaturgia que parte da imagem construída que os retratados, segundo a artista, “escolhem revelar”, e avança em direção a corpos que gradualmente se desintegram e se deixam modificar pela atividade física e pelo êxtase, em estados alterados de consciência.
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The Krazyhouse (Megan, Simon, Nicky, Phillip, Dee) Liverpool, Inglaterra, 2009 Videoinstalação em 4 canais HD, 32min
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CopaCabana me engana ARTHUR OMAR
O filósofo alemão Andreas Huyssen diz que o esquecimento é a sombra da memória. A dinâmica se repõe nas esferas de visibilidade. É preciso não ver para enxegar as figurações das noites de Copacabana
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Curadoria
luzes, dados, mobilização!
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Artistas apropriam-se de sistemas de luzes, projeção e dados para transformar a arquitetura em interface e recriar a cidade como plataforma de comunicação
Giselle BeiGuelman
“Está tudo Escuro , mas é muito excitante”, disse o
filósofo e psicanalista Félix Guattari, comentando o cenário de incertezas dos anos 1980. Frase emblemática do que poderia ser definido como filosofia do otimismo crítico, cai como luva para conceituar a produção de certos artistas, como o polonês naturalizado americano Wodiczko, o brasileiro VJ Suave ou o coletivo espanhol Luzinterruptus. Em suas intervenções, eles combinam, com rara beleza, tecnologia e atitude
política. Já artistas como o grupo Urbanscreens, o britânico Bruce Munro e os participantes do projeto galeria digital da Fiesp, concebido por Marilia Pasculli, da Verve Cultural, apropriam-se de espaços urbanos para ressignificá-los, encantando os passantes mais desatentos e levando-os a (re) descobrir a cidade. De perfis muito variados, todos eles têm a noite como denominador comum. A escuridão como pré-requisito de suas infiltrações estéticas, políticas e poéticas.
urbanscreens
t el a s urb a n a s Coletivo alemão formado em 2005 em Bremen, o Urbanscreens leva às últimas consequências a ideia de telas urbanas e mostra em suas intervenções o que é video mapping, para além do fetiche de certas fachadas dançantes. Técnica que combina projeção de vídeo com modelagem arquitetônica computadorizada, o video mapping aqui se converte em “Lumentectura”, como definem os membros do grupo, um híbrido de arquitetura e luz. O resultado é a fusão entre estrutura física e imaginário digital, que instaura outra experiência da cidade.
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FoTo: URBANSCREEN PRodUCTioN
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VJ S u aV e
Mídi a s da rua Duo paulistano formado por Ygor Marotta e Ceci Soloage, o VJ Suave atua desde 2009 e dedica-se a intervenções multimídia que combinam street art e mídias digitais. Seu slogan “Mais Amor, Por Favor” traduz a delicadeza do ativismo político no qual estão engajados. Entre os destaques de sua produção estão o “suaveciclo”, um combinado de bicleta, aplicativo para grafitagem eletrônica e sistema de projeção, e os video mappings – desenhos manuais com tecnologias bem atuais, como os que resultaram na premiada série Homeless (2013).
Na página anterior, 320˚ licht, instalação do coletivo Urbanscreens no gasômetro de Oberhausen, na Alemanha, com padrões cinéticos no muro interno de 100 metros de altura
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Bruce Munro
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Luz n a pa i s agem Mago da noite, o artista inglês Bruce Munro transforma em espaço de encantamento tudo aquilo que toca. Bastante comprometido com a filosofia de reciclagem de mídia, como fica claro no seu impressionante CDSea (2010), um oceano de 600 mil discos digitais, que inundou a reserva biológica de Long Knoll Field, em Wiltshire. Mas Bruce Munro é também fascinado pelo impacto da luz na paisagem. Sua mais famosa intervenção, Field of Light, realizada em diversos países desde 2004, “planta” bulbos de luz em praças e lugares abertos, criando monumentos efêmeros que objetivam estabelecer também narrativas íntimas e pessoais.
À esquerda, o “suaveciclo” da dupla VJ Suave, de São Paulo, com projeção de graffite na paisagem a partir de uma bicicleta. Abaixo, a instalação Field of Light, do britânico Bruce Munro.
foto: Bruce Munro, 2014/foto por Mark pickthall. na página ao lado Juan herrera prado/vJsuave.coM
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Acima, Control Radioactivo, do Luzinterruptus, em que 100 figuras iluminadas pôem em evidência, em tom humorado, a paranoia em que estamos desde o desastre radioativo do Japão. À dir., projeto de Wodiczko transmite testemunho ao vivo de trabalhadora da indústria fronteiriça do México com os EUA
Luzinterruptus
C a minh a da s not urn a s Nas obras desse coletivo espanhol inteiramente dedicado à exploração da luz, as lâmpadas transformam-se em dispositivos críticos que iluminam questões energéticas, ecológicas e políticas. Comprometidos com discussões sobre iluminação de baixo custo, eles transformam suas ações em protestos visuais. Em Control Radioactivo, por exemplo, promovem caminhadas noturnas em que performatizam a céu aberto trabalhadores de usinas nucleares, chamando a atenção para sua presença e perigos ao meio ambiente.
W o d i c z ko
Projeç ão s oCi a l Pioneiro da combinação entre crítica, tecnologia e intervenção urbana, Wodiczko ficou famoso, nos anos 1980, ao fazer suas primeiras projeções em grande escala na Union Square, em Nova York. Reduto de sem-teto, a área começava a receber os primeiros investimentos rumo à sua gentrificação. Ao projetar imagens dos moradores da praça nos monumentos que a adornam, iniciava uma metodologia de ativismo que vem se atualizando continuamente. Sua estratégia: a visualização do tecido social e das tensões no uso do espaço público, por meio de projeções de corpos humanos em grande escala, na arquitetura, questionando seus aspectos políticos e ideológicos. Em uma de suas projeções mais importantes, incorporou som também à imagem das maquiladoras (trabalhadoras de empresas americanas que se instalam na fronteira do México com os EUA para pagar salários baixíssimos). Os edifícios do museu da cidade de Tijuana ganharam, por uma noite, os rostos das operárias e também suas vozes, contando histórias das vicissitudes do cotidiano nessas fábricas. SELECT.ART.BR
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foto: Krzysztof WodiczKo, cortesia Galerie lelonG, nova yorK. na pรกGina ao lado: Gustavo sanabria/luzinterruptus
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Acima, Aparição de Daniel de Paula, que instalou um poste de iluminação pública no interior do Centro Culltural São Paulo. Na página ao lado, intervenção com projeção interativa na fachada da Federação das Indústrias de São Paulo, na Avenida Paulista
d a n i e l d e Pa U l a
a luz de todo s nó s Aparição (2011) promove uma relação de tensão entre o espaço interior e exterior, a partir da surpreendente inserção de um poste de iluminação pública no Centro Cultural São Paulo. Obra do artista Daniel de Paula, o projeto forçou uma negociação entre dois órgãos distintos da prefeitura de São Paulo – o Centro Cultural São Paulo e a Ilume, responsável pela iluminação pública da cidade. “Além desse deslocamento geográfico, a posição do poste também foi deslocada para uma diagonal que se encaixava com a arquitetura do espaço por meio de um equilíbrio preciso”, diz o artista. Uma célula fotoelétrica acionava automaticamente a luz do poste.
SP Urban art
Pl ata form a digi ta l Projeto da curadora e artista Marilia Pasculli, a SP Urban Art transformou a fachada da Fiesp, na Avenida Paulista, em uma gigantesca Galeria de Arte Digital, colocando São Paulo em sintonia com grandes cidades asiáticas, como Seul, que cedem suas fachadas para ser ocupadas por vídeos e imagens interativas de qualidade. No caso paulistano, são inesquecíveis algumas das obras ali realizadas, com destaque para a mostra Play! (2013), que fez do prédio uma plataforma para jogos eletrônicos. Quem jogou Pac-Man nessa “tela” de 99 metros de altura não esquece. SELECT.ART.BR
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foto: Bia ferrer. na pรกgina ao lado:Cortesia do artista
Rineke DijkstRa aRthuR OmaR CantOni & CResCenti Bienal De sãO PaulO aRt RiO + sP-aRte /fOtO
a r t e e C U Lt U r a C O N t e M P O r â N e a
Ago / Set 2014 noite Pling Pling, 2009 Cildo Meireles
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