SeLecT nº 14

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A R T E D E S I G N C U LT U R A C O N T E M P O R â N E A T E C N O L O G I A

MIRA SCHENDEL HANS HAACKE GUSTAVO VON HA EDWIN SANCHEZ LUISA STRINA

OUT/NOV 2013 ANO 03 EDIÇÃO 14 R$ 14,90

exemplar de assinante venda proibida

Inserção em Circuitos Ideológicos, de Cildo Meireles, 2013

Como são feitos os preços das obras, o prestígio dos artistas e de que forma o circuito comercial muda e é desafiado


nto. e m ti s ve n i m Ser feliz é uder mais que o esperado. en E ele pode r

Leia o prospecto e o regulamento antes de investir. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura. Fundos de investimento não contam com garantia do administrador, do gestor, de qualquer mecanismo de seguro ou do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

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Não é por quilo Obras radicais de Hans Haacke, Cildo Meireles, Rosângela Rennó e Lourival Cuquinha aplicam choque de realidade nos deslumbrados 6

64 curadoria

56

82

60

38

entrevista

Brandscapes

comportamento

mundo codificado

Luisa strina A galerista completa

PósPatrocínio

É tudo verdade

mineração de dados

40 anos de atuação

Marcas poderosas,

Os falsários que vivem

As cores predominantes

profissional e conta casos

como Miu Miu,

da arte de dar golpes nas

nas obras de arte e um raio

que devem entrar para a

descobrem a arte e abrem

ilusões do mercado

X da Bienal de São Paulo

história da arte brasileira

nova frente de recursos

SELECT.ART.BR

OUT/NOV 2013


Índex

seções

14

E d i tO r i A l

16

C A r tA S

20

SElECtS

34

triBOS dO dESign

36

COlunAS MóvEiS

38

MundO COdifiCA dO

102 r E v i E w S 112

dElEtE

113

OBituáriO

114

EM COnStruçãO

7

96 96 96

94

86

pa n o r a m a

GloBal

novos modeLos

made in BraziL

Artistas e gestores reinventam

Mira Schendell na tate

o espaço da arte, criando

Modern e highlights da

outros sistemas de produção,

internacionalização da arte

financiamento e exibição

brasileira

44 c a pa

o Preço da arte Como são criados os valores das obras, a reputação dos artistas e as coleções, como a do banqueiro José Olympio Pereira

74 desiGn

Para coLecionar Cadeiras para ver, guardar, adorar e até sentar FOTOS: CORTESiA ROSâNgELA RENNó / DiVULgAÇÃO / PAULO VAiNER / BOB WOLFENSON




colaboradores

10

ana letíCia Fialho

bob WolFenson

Charles esChe

nina Gazire

É coordenadora da Pesquisa Setorial Latitude e prestou consultoria na fase inicial de elaboração do capítulo dedicado ao Brasil do TEFAF Art Market Report 2013. – mercado P 44

Representado pela Galeria Milan, é fotógrafo, coeditor e cocriador da revista Sem Número. – capa P 46

Curador da 31a Bienal de São Paulo, diretor do Van Abbemuseum, em Eindhoven, na Holanda, e codiretor da Afterall Journal and Books. Foi cocurador da 9a Bienal de Istambul (2005). – colunas móveis p 36

Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, foi repórter de Artes Visuais da IstoÉ e da revista seLecT. – economia criativa p 90

euGênia Pessoa hanitzsCh

Fábio Gomes GoVeia

Gabriela lonGman

Estuda design na USP, foi designer do Centro Universitário Maria Antonia e colabora, desde 2011, com manifestações visuais do Movimento Passe Livre. – mundo codificado P 38

Fernando YounG O fotógrafo fez a foto de capa do CD Abraçaço, de Caetano Veloso, e dirigiu o clipe A Bossa Nova É Foda com Tonho Quinta-Feira, além da direção de fotografia da série do GNT Copa Hotel. – capa p 46

SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

Professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Também coordena o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) na Ufes. – mundo codificado P 38

naninha borGes Produtora cultural. Atuou junto à Osesp como assistente do diretor artístico, além de trabalhar na Fundação Bienal de São Paulo, no Studio Fátima Toledo e na Secretaria de Estado da Cultura – capa P 46

Jornalista e mestre em História da Cultura pela EHESS-Paris. Hoje trabalha na área de comunicação internacional da Bienal de São Paulo. – comportamento P 60

Paulo Vainer

Juliana Cunha lima

Representado pela Pequena Galeria 18, é fotógrafo e diretor de filmes publicitários pela produtora Paranoid Films. – design P 74

Socióloga e repórter de cultura, tem pós-doutorado em sociologia da arte pela USP-FFLCH. Autora de Geraldo Ferraz e patrícia Galvão: A Experiência do Suplemento Literário do Diário de S. paulo (Annablume, Fapesp, 2005). – internacional P 86

ana maria maia

João Pedrosa

Jornalista e mestre em História da Arte. É curadora assistente do Panorama de Arte Brasileira do MAM-SP e integrante do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake. – vernissage 108

Colecionador, consultor e curador de arte e antiguidade. No momento assina uma curadoria com obras dos anos 1980 na Galeria Berenice Arvani. – design p 74



E D I TO R I A L Paula Alzugaray

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Roda da fortuna Diga-me quem te coleciona que te direi que artista és. A provocação lançada por Bruno Faria no Facebook foi respondida por outros artistas com indagações à altura. Diga-me quem te cura que te direi quem és, disse Carlos Mélo. Diga-me quem te “representa” que te direi teu valor, propôs Marilia Sales. Valor, visibilidade e legitimação são as questões da hora, estão na boca do povo. Quando o mercado de arte atinge no Brasil e no mundo sua maior alta, é também quando se começa a entender que suas funções vão além da compra e da venda. O galerista é um cúmplice do artista, diz Luisa Strina em entrevista nesta edição. É um estrategista que coloca sua obra em museus importantes e nas coleções certas, garante ela. Nobre papel, sem dúvida, especialmente quando as instituições públicas não dão conta de fomentar, de sustentar, ou fazer circular a efervescente e potente produção artística brasileira. De acordo com os dados levantados pela pesquisa setorial Latitude, lançada em julho, quem sustenta o mercado e realmente consome arte contemporânea no Brasil são os colecionadores privados (responsáveis por 71,5% do volume de negócios das galerias pesquisadas, ante apenas 4,24% de instituições brasileiras). Segundo o mesmo relatório, a distribuição das galerias no País também é desigual: 85% estão localizadas entre São Paulo e Rio. Tudo isso indica um desequilíbrio de forças, um sistema cultural centralizado, cuja outra ponta é extremamente frágil. Um sistema que pede novos modelos.

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OUT/NOV 2013

Ricardo van Steen

Se, historicamente, os artistas tensionam as relações da cultura com o mercado (desde Cildo Meireles com sua série Inserção em Circuitos Ideológicos, dos anos 1970, até Lourival Cuquinha e seu sistema subversivo de venda de obras, ambos contemplados nesta edição), agora é a vez de os outros players desse sistema repensarem suas formas de atuação. Se os mecanismos de patrocínio estão viciados, criadores e empreendedores têm de buscar financiamento longe dos editais e leis de incentivo e reinventar a roda da fortuna da cultura. A palavra-chave para muitos é networking. Para Charles Esche, curador da 31ª Bienal de São Paulo, a palavra-chave é pluralidade. Em ensaio realizado para a Coluna Móvel desta edição, Esche reflete sobre duas posturas divergentes na arte: o mainstream e a investigação. Como Esche, seLecT toma como desafio discernir sobre os limites entre valor simbólico e valor de mercado da obra de arte. O ensaio A Complexa Ecologia da Coprodução de Sentido, de Esche, abre uma série de cinco artigos escritos pelos cocuradores da 31ª Bienal, que serão publicados nas próximas edições da revista. Assim, seLecT acompanha o processo de construção conceitual da próxima Bienal de São Paulo.

Giselle Beiguelman

Marion Strecker

Luciana Pareja

Hassan Ayoub

Michel Spitale

Luciana Fernandes

Roseli Romagnoli

Mariel Zasso

Paula Alzugaray Diretora de Redação

ILUSTRAçõES: RICARdO VAN STEEN, A pARTIR dO ApLICATIVO fACE yOUR mANgá



c a r ta s

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Vivi para ver esta capa linda, com aquela que sempre insistiu em viver à margem, quando sempre foi o centro. Tadeu Chiarelli, diretor do MAC-USP Excelente a última edição de seLecT, dedicada ao tema paranoia/vigilância. Edição de aniversário de dois anos da revista com ótimos textos, boas reflexões sobre questões urgentes e atuais do nosso tempo (como de costume). Para mim, a seLecT permanece como a melhor revista de arte, cultura

e, por que não, comunicação do País. Torço pela vida longa da revista, acho um privilégio poder ler uma publicação sempre tão boa. Gabriela Almeida, estudante da UFRGS Que edição maravilhosa! Elisa Stecca, designer

A melhor revista de arte do País está com edição primorosa. Maria Amelia Bulhões, curadora de web arte da Bienal de Curitiba

Escreva-nos Rua Itaquera, 423, Pacaembu, São Paulo - SP CEP 01246-030 revistaselect revistaselect

seLecT está no ponto. Imperdível. Luciana Moherdaui, jornalista

www.select.art.br faleconosco@select.art.br

seLecT expaNdida REPORTAGENS ONLiNE

EDiçãO iPAD Fala, Luisa Strina Leia a íntegra da entrevista com a marchande Luisa Strina, decana do mercado brasileiro de arte; assista a trechos em vídeo e conheça histórias dos

quase 40 anos da galeria paulistana. 30 anos de Videobrasil Especial traz vídeos e textos críticos sobre obras da mostra Panoramas do Sul.

Jornalismo 2.0 Guilherme Kujawski acompanha no Google+ Station to Station, o trabalho nômade de Doug Aitken, que cruza os EUA de trem e envolve centenas de artistas.

Alguns dos principais players do mercado de arte brasileiro, de colecionadores a artistas, passando por gestores e curadores, entrevistados por Marion Strecker.

7. Para Além das Capitais http://bit.ly/1dwKzVT Por Mariel Zasso

9. O Curta Perdido de Disney e Dalí http://bit.ly/1dwKPE8 Da Redação

8. Nova Arquitetura de Madri http://bit.ly/1dwKDVv Por Mariel Zasso

10. Adeus, Hudinilson Jr. http://bit.ly/1dwKTDT Da Redação

Top 10 siTe seLecT oUT/NoV 1. Fala, Pablo Capilé http://bit.ly/1dwK3qP Por Giselle Beiguelman 2. Google Tomado http://bit.ly/1dwK9ia Por Mariel Zasso

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OUT/NOV 2013

3. Em Nome da Ruídocracia http://bit.ly/1dwKe5m Por Pedro Paulo Rocha 4. Novas Gerações em Destaque http://bit.ly/1dwKhhL Por Mariel Zasso

5. A Nova Guerra http://bit.ly/1dwKmlF Por Guilherme Kujawski 6. Déjà vu? http://bit.ly/1dwKscP Por Luciana Pareja Norbiato


caixa.gov.br/caixacultural

MÃOS QUE REGEM UMA ORQUESTRA

OU TOCAM UM INSTRUMENTO. MÃOS QUE TALHAM A MADEIRA

MÃOS QUE ESCREVEM, DESENHAM, PINTAM

OU ESCULPEM EM ARGILA.

E BORDAM AS CORES DO BRASIL.

MÃOS QUE INTERPRETAM.

QUE SÃO BRAÇOS, PERNAS, VOZ E RITMO NOS PALCOS E NAS RUAS.

MÃOS QUE TÊM NA CAIXA O BANCO BRASILEIRO

MÃOS QUE SÃO

OLHOS PARA CLICAR

AS BELEZAS NATURAIS, URBANAS E COTIDIANAS.

MÃOS QUE MERECEM NOSSO APOIO,

QUE MAIS INVESTE RECURSOS

MAS QUE ACIMA DE TUDO

PRÓPRIOS EM CULTURA.

MERECEM NOSSOS APLAUSOS.

Até o final de 2013 serão mais de R$ 60 milhões destinados às artes e aos artistas brasileiros. Onde tem cultura brasileira, tem as mãos da CAIXA.


EXPEDIENTE

EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL: DOmINgO ALzugARAy EDITORA: CÁTIA ALzugARAy PRESIDENTE-ExECuTIVO: CARLOS ALzugARAy

16

DIRETORA DE REDAçãO: PAuLA ALzugARAy EDITORA-ChEfE: gISELLE bEIguELmAN DIREçãO DE ARTE : RICARDO VAN STEEN EDITORA CONVIDADA: mARION STRECkER EDITOR míDIAS DIgITAIS: guILhERmE kuJAwSkI REPóRTER: LuCIANA PAREJA NORbIATO REPóRTER ONLINE: mARIEL zASSO COLABORADORES

Ana Letícia fialho, Ana maria maia, bob wolfenson, Charles Esche, Eugênia Pessoa hanitzsch, fernando young, gabriela Longman, fábio gomes goveia, Juliana Cunha Lima, João Pedrosa, Naninha borges, Nina gazire, Paulo Vainer

pROjEtO gRáfiCO DESigNER SECREtáRiA DE REDACãO

Ricardo van Steen e Cassio Leitão michel Spitale Roseli Romagnoli

pESQUiSA DE fOtOgRAfiA

Letícia Palaria

COpy-DESk E REviSãO

hassan Ayoub

pRé-impRESSãO

Retrato falado

CONtAtO SERviçOS gRáfiCOS mERCADO LEitOR ASSiNAtURAS

faleconosco@select.art.br gERENTE INDuSTRIAL: fernando Rodrigues DIRETOR: Edgardo A. zabala DIRETOR DE VENDAS PESSOAIS: wanderlei Quirino SuPERVISORA DE VENDAS: Rosana Paal DIRETOR DE TELEmARkETINg: Anderson Lima gERENTE DE ATENDImENTO AO ASSINANTE: Elaine basílio gERENTE DE TRADE mARkETINg: Jake Neto gERENTE gERAL DE PLANEJAmENTO E OPERAçõES: Reginaldo marques gERENTE DE OPERAçõES E ASSINATuRAS: Carlos Eduardo Panhoni gERENTE DE TELEmARkETINg: Renata Andrea gERENTE DE CALL CENTER: Ana Cristina Teen CENTRAL DE ATENDImENTO AO ASSINANTE: (11) 3618.4566. De 2ª a 6ª feira das 09h00 às 20h30 OuTRAS CAPITAIS: 4002.7334 DEmAIS LOCALIDADES: 0800-888 2111(ExCETO LIgAçõES DE CELuLARES)

vENDA AvULSA

gERENTE: Luciano Sinhorini COORDENADORES: Jorge burgatti e Ricardo Augusto Santos CONSuLTORAS DE mERChANDISINg: Alessandra Silva e Talita Souza Primo ASSISTENTES: fábio Rodrigo, Ricardo Souza e gislaine Aparecida Peixoto.

OpERAçÕES

DIRETOR: gregorio frança. SECRETÁRIA ASSISTENTE: yezenia Palma. gERENTE: Renan balieiro. COORDENADOR DE PROCESSOS gRÁfICOS: marcelo buzzo. ANALISTA: Luiz massa. ASSISTENTE: Daniel Asselta. AuxILIAR: Indianara Andrade. COORDENADORAS DE LOgíSTICA E DISTRIbuIçãO DE ASSINATuRAS: karina Pereira e Regina maria. ANALISTA JR.: Denys ferreira. AuxILIAR: Cesar william. OPERAçõES LAPA: Paulo henrique Paulino.

mARkEtiNg pUBLiCiDADE

DIRETOR: Rui miguel gERENTES: Débora huzian e wanderly klinger REDATOR: marcelo Almeida DIRETOR DE ARTE: Thiago Parejo ASSISTENTE DE mARkETINg:Andréia Silva DIRETOR NACIONAL: José bello Souza francisco gERENTE:maurício Emanuelli SECRETÁRIA DIRETORIA PubLICIDADE: Regina Oliveira COORDENADORA ADm. DE PubLICIDADE: maria da Silva gERENTE DE COORDENAçãO: Alda maria Reis COORDENADORES: gilberto Di Santo filho e Rose Dias AuxILIAR: marília gambaro CONTATO: publicidade@select.art.br RIO DE JANEIRO-RJ: Diretor de Publicidade: Expedito grossi gERENTES ExECuTIVAS: Adriana bouchardet, Arminda barone e Silvia maria Costa COORDENADORA DE PubLICIDADE: Dilse Dumar; Tel.s: (21) 2107-6667 / (21)2107-6669 bRASíLIA-Df: gerente: marcelo Strufaldi; Tel.s: (61) 3223-1205 / 3223-1207; fax: (61) 3223-7732 SP/CAmPINAS: mário EsTel.ita - Lugino Assessoria de mkt e Publicidade Ltda.; Tel./fax: (19) 3579-6800 SP/RIbEIRãO PRETO: Andréa gebin - Parlare Comunicação Integrada; Tel.s: (16) 3236-0016 / 8144-1155 mg/bELO hORIzONTE: Célia maria de Oliveira - 1ª Página Publicidade Ltda.; Tel./fax: (31) 3291-6751 PR/CuRITIbA: maria marta graco - m2C Representações Publicitárias; Tel./fax: (41) 3223-0060 RS/PORTO ALEgRE: Roberto gianoni - RR gianoni Com. & Representações Ltda. Tel.: (51) 3388-7712 PE/RECIfE: Abérides Nicéias - Nova Representações Ltda.; Tel./fax: (81) 3227-3433 bA/SALVADOR: Ipojucã Cabral - Verbo Comunicação Empresarial & marketing Ltda.; Tel./fax: (71) 3347-2032 SC/fLORIANóPOLIS: Paulo Velloso - Comtato Negócios Ltda.; Tel./fax: (48)32240044 ES/VILA VELhA: Didimo benedito - Dicape Representações e Serviços Ltda.; Tel./fax (27)3229-1986 SE/ARACAJu: Pedro Amarante - gabinete de mídia - Tel./fax: (79) 3246-4139/9978-8962 Internacional Sales: gSf Representações de Veículos de Comunicações Ltda - fone: 55 11 9163.3062 - E-mail: gilmargsf@uol.com.br mARkETINg PubLICITÁRIO - DIRETORA: Isabel Povineli gERENTE: maria bernadete machado COORDENADORA: Simone f. gadini ASSISTENTES: Ariadne Pereira, Regiane Valente e marília Trindade 3PRO DIRETOR DE ARTE: Victor S. forjaz REDATOR: bruno módolo

SELECT (ISSN 2236-3939) é uma publicação da EDITORA bRASIL 21 LTDA., Rua william Speers, 1.000, conj. 120, São Paulo - SP, CEP: 05067-900, Tel.: (11) 3618-4200 / fax: (11) 3618-4100. COmERCIALIzAçãO: Três Comércio de Publicações Ltda.: Rua william Speers, 1.212, São Paulo - SP; DISTRIbuIçãO ExCLuSIVA Em bANCAS PARA TODO O bRASIL: fC Comercial e Distribuidora S.A., Rua Dr. kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP. fone: (11) 3789-3000 ImPRESSãO: Log & Print gráfica e Logística S.A.: Rua Joana foresto Storani, 676, Distrito Industrial, Vinhedo - SP, CEP: 13.280-000 www.SELECt.ARt.BR

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EXPOS

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S ã o Pa u lo

A Arte dA imAgem em movimento Expoprojeção 1973-2013, de 23/10 a 12/1/2014, Sesc-Pinheiros, Rua Paes Leme, 195, 2º Andar, SP Não é de hoje que artistas visuais flertam com o mundo da imagem em movimento. Problemática em alguns momentos, sinergética em outros, a interseção entre os dois campos resultou em vários exemplos bem-sucedidos ao longo da história da arte moderna e contemporânea. No Brasil, as experiências de artistas com filmes, vídeos e congêneres foram reunidas pela primeira vez no evento Expoprojeção 73, realizado por Aracy Amaral na sede do Grupo dos Realizadores Independentes de Filmes Experimentais (Grife), em São Paulo. E é louvável que o Sesc tenha apostado na reedição da exposição, agora com curadoria da própria Aracy Amaral e de Roberto Moreira Cruz. Um dos núcleos de Expoprojeção 1973/2013 tem como base a metade das obras da exposição original, algumas restauradas e, no caso de trabalhos em super-8, remasterizadas, como os filmes produzidos por Claudio Tozzi, Jorge Izar, Abrão Berman, Victor Knoll, Luiz Alberto Pelegrino, Maurício Fridman e Olivio Tavares de Araújo. No segundo núcleo, há remontagens de instalações históricas e obras inéditas de artistas como Cinthia Marcelle (Automóvel, 2012). gK acima, Caetano Veloso em frame do filme Loucura e Cultura (1973), de antonio Manuel

À dir., imagem da performance Colony Collapse (2012), de Pierre Huyghe; à esq., obra de lin Tianmiao para a expo Esprit Dior

xangai Pa r i S

modA no mUSeU Esprit Dior, até 10/11, Museum of Contemporary Art, Xangai www.mocashanghai.org Moda e arte nunca estiveram tão unidas na China: o Museum of Contemporary Art de Xangai sedia até 10 de novembro a expo Esprit Dior. A maison exibe mais de cem vestidos-ícone do estilista, além de imagens de Patrick Demarchelier. Para imprimir frescor artsy, os artistas chineses Lin Tianmiao, Liu Jianhua, Qiu Zhijie, Yan Pei-Ming, Zeng Fanzhi, Zhang Huan, Zhang Sujian e Zheng Guogu foram convocados por Florence Muller a criar obras para a mostra. “A seleção dos artistas chineses é representativa do que impulsiona a cena da arte contemporânea chinesa. Foi feita com a ideia de um diálogo estreito entre as obras, os artistas e criações da Maison Dior”, disse Muller. A curadora é especialista nas relações entre as duas áreas – é autora do livro Arte & Moda, publicado no Brasil pela Cosac Naify e esgotado (Leia entrevista com Florence Muller no site de seLect). SELECT.ART.BR

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obrA vivA de HUygHe Pierre Huyghe, até 6/1/2014, Centre Pompidou, Paris, www.centrepompidou.fr Transformar o espaço expositivo em ambiente vivo, com elementos emprestados do mundo real, é uma tônica do trabalho do artista francês Pierre Huyghe. Sua primeira retrospectiva, realizada pelo Centre Pompidou, remonta 50 de seus projetos, que levam para o espaço expositivo desde cães até uma colmeia povoada de abelhas, instalada sobre a cabeça de uma estátua. É o resgate de 20 anos de uma produção orgânica – e mundialmente reconhecida.

FoToS: CoRTESiA do ARTiSTA/ CoRTESiA Lin TiAnmiAo/ LionEL Roux E piERRE huyghE/ AdRiAn FRiTSChi, CoRTESiA dARoS LATinAmERiCA/


S P/ r J

Le PArc: A formA dA PercePção Uma Busca Permanente. De 3/10 a 9/11, Galeria Nara Roesler, Av. Europa, 655, SP/ Le Parc Lumière – Obras Cinéticas de Julio Le Parc, de 12/10 a 24/2/2014. Casa Daros, RJ Não se fala da história da Arte e Tecnologia sem passar pela obra de Julio Le Parc. Artista argentino nascido em 1928 e radicado em Paris desde 1958, é um pioneiro das interseções das artes visuais com a ciência. Econômico no número de materiais que emprega, explora com versatilidade a participação visual do público por meio de dispositivos ópticos e cinéticos. Nascido em Mendoza, estudou em Buenos Aires, onde se encontrou com o grupo marxista Arte Concreta, liderado por Lucio Fontana. Mas foi em Paris que sua obra assumiu as características que o celebrizaram: movimento, transparência, caráter sistêmico. Inspirou a primeira coleção do estilista Paco Rabanne e integrou o Grupo Grav (Groupe de Recherche d’Art Visuel), cujo Manifesto aspirava tirar o espectador de suas inibições, orientando-o para a interação com outros espectadores. A obra do grande mestre, que completou 85 anos em 23 de setembro, é comemorada em duas grandes mostras na Galeria Nara Roesler e na Casa Daros. Na galeria, a mostra conta com curadoria da colecionadora e estudiosa de arte latino-americana, a venezuelanaamericana Estrellita Brodsky, e terá uma instalação inédita, concebida para a ocasião. Na Casa Daros, a ênfase é na obra luminosa de Le Parc, conforme destaca o curador Hans-Michael Herzog no prefácio do catálogo. gb

Boîte-lumière (1960-1971), de Julio le Parc, da coleção Daros latinamerica

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EXPOS

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rio DE JanEiro

tAcitA deAn: o úLtimo fiLme Tacita Dean: A Medida das Coisas, de 2/10/13 a 26/1/14, Instituto Moreira Salles, Rua Marquês de São Vicente, 476, RJ, www.ims.com.br Conhecida por sua militância em favor do cinema analógico, a artista inglesa Tacita Dean tem sua primeira exposição individual na América Latina. Com curadoria da historiadora de arte venezuelana Rina Carvajal, a exposição traz 11 filmes e sete obras em papel. São trabalhos emblemáticos, como Disappearance at Sea (1996) e Bubble House (1999). Além disso, serão exibidos filmes recentes e trabalhos inéditos feitos a partir de fotografias e postais antigos do Rio de Janeiro. Fotografia do exterior da Bubble House, que foi tema de filme de Tacita Dean 19em 1999

The Big Wheel (1979), uma das obras icônicas do artista incluídas na retrospectiva

rio DE JanEiro

dUPLo Sentido Marcos Chaves: I Only Have Eyes for You, até 10/11/13, Fundação Eva Klabin, Av. Epitácio Pessoa, 2.480, RJ, www.evaklabin.org.br

n oVa Yo r k

mAqUinário crítico de bUrden Chris Burden: Extreme Measures, de 2/10/13 a 12/1/14, New Museum, NY, www.newmuseum.org Quando passou das performances radicais à escultura, no fim dos anos 1970, o artista norte-americano Chris Burden usou diferentes tipos de máquinas e peças de engenharia para criticar conceitos como poder e autoridade em um mundo onde até o homem é peça de engrenagem. O New Museum faz uma grande retrospectiva de seus 40 anos de carreira trazendo obras icônicas, como The Big Wheel (1979), em que uma moto faz girar em velocidade absurda uma roda gigante de aço maciço. SELECT.ART.BR

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Apropriações semântico-verbais indébitas e a recriação do real com ironia dão a tônica da ocupação que Marcos Chaves faz na Fundação Eva Klabin, com curadoria de Marcio Doctors, dentro do projeto Respiração. Sutileza é a marca das seis intervenções. Entre elas a inserção de um quadro da mãe do artista junto às obras do acervo ou a projeção sobre uma janela da imagem do sol batendo na mesma, em certa hora da tarde. A obra tem título que homenageia Duchamp, Hot Widow.

FoToS: CoRTESiA TACiTA dEAn/ CoRTESiA CoLLECTion ThE muSEum oF ConTEmpoRARy ART LoS AngELES/ CoRTESiA mARCoS ChAvES



EXPOS S ã o Pa u lo

novA ArqUitetUrA P33: Formas únicas da continuidade no espaço de 5/10 a 15/12, MAM-SP, Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, SP, www.mam.org.br 22

Contundente, Lisette Lagnado não dá ponto sem nó. Seu Panorama da Arte brasileira, o 33º realizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, põe o dedo na ferida da instituição, o descompasso entre sua sede diminuta e seu acervo, que não para de aumentar. Transferido para o Parque do Ibirapuera em 1969, o MAM ocupa em caráter definitivo um prédio então projetado como um pavilhão temporário de uma edição da Bienal. Para propor cinco novos projetos (utópicos, já que a instituição não busca outro edifício), Lagnado e a curadora-adjunta, Ana Maria Maia, selecionaram 32 convidados do Brasil e do exterior, que, além de ocuparem os dois espaços expositivos sob a marquise, expandem suas intervenções para o Centro de São Paulo, onde o MAM se localizou entre 1949 e 1958. Nomes como Pablo León de la Barra, Dominique GonzalezFoerster e o escritório de arquitetura SPBR integram a lista. Três encontros abertos ao público ampliam o debate com a participação do curador Jochen Volz e do arquiteto Marcelo Morettin, entre outros. L P n acima, cortinas de alumínio geométricas, de Daniel Steegmann Mangrané, e, abaixo, Catarata (2012), do costa-riquenho Federico Herrero

SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

FoToS: AndRé CEpEdA E EdouARd FRAiponT


apresenta

LUZESCRITA

Arnaldo Antunes Fernando Laszlo Walter Silveira

curadoria: Daniel Rangel EXPOSIÇÃO 5 de setembro a 27 de outubro 2013 De terça a domingo, das 10h às 21h ENTRADA FRANCA LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Galeria 4 Avenida Almirante Barroso, 25 – Centro Rio de Janeiro – RJ Tel. 21 3980 3815

realização

patrocínio


EXPOS

S ã o Pa u lo

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não Ao mUndo-cão Fotonovela – Sociedade/Classes/Fotografia, 17/10 a 22/12 e 3º Fórum Latino-Americano de Fotografia em São Paulo, 16 a 20/10, Itaú Cultural, Av. Paulista, 193, SP, www.itaucultural.org.br América Latina sem pobreza, violência e exotismo? Sim, esse é o enfoque das 285 obras da mostra Fotonovela – Sociedade/Classes/ Fotografia, que acompanha o 3º Fórum Latino-Americano de Fotografia em São Paulo. O recorte, pensado por Iatã Cannabrava e o catalão Claudi Carreiras, traz trabalhos do coletivo argentino Cooperativa Sub e a peruana Daniela Ortiz, entre outros.

Frieze london 2013 tem dez galerias brasileiras e uma revista nacional, a seLecT

amarte És mi Pecado (2003), de Stefan ruiz, integra a mostra do itaú Cultural

S ã o Pa u lo

mAniA de ArqUivo Arquivo Vivo, de 2/10 a 8/12, Paço das Artes, Av. da Universidade, 1, SP www.pacodasartes.org.br É com base no conceito de “mal de arquivo” de Jacques Derrida que a diretora e curadora do Paço das Artes, Priscila Arantes, selecionou os 22 trabalhos da mostra internacional Arquivo Vivo. A mania de compilar e agrupar elementos em série, entre outros métodos arquivais, foi a inspiração das obras de nomes como Cristina Lucas (Espanha), Hiraki Sawa (Japão), Letícia Parente e Paula garcia (Brasil). Mesas-redondas, mostra de filmes e uma oficina completam a programação. SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

lonDrES

frieze UPdAted Frieze Art Fair London, de 17 a 20/10, Regent’s Park, Londres Novo curador, novo design e novas áreas públicas. A Frieze London se veste de novidades para entrar em sua segunda década de funcionamento. Com uma seleção de 150 galerias forward-thinking (com pensamento de ponta) de todo o mundo, a 11a edição tem seis galerias brasileiras, entre elas a Mendes Wood, com um projetosolo de Daniel Steemann Mangrané na seção Focus, dedicada a galerias com até dez anos de existência. Pelo segundo ano consecutivo acontece também a Frieze Masters, que lança um approach contemporâneo à arte histórica, da qual participam quatro brasileiras, entre as quais a Galeria Nara Roesler. A seLect também integra a feira, no estande de revistas de arte. FoToS: STEFAn RuiZ/ CoRTESiA pAuLA gARCiA - FoTo: mARCoS CimALdi/ CoRTESiA ALi ChERRi


S ã o Pa u lo

zoom in, zoom oUt 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil: 30 anos + Panoramas do Sul, Sesc-Pompeia, Rua Clélia, 93, de 6/11 a 2/2/2014, www. videobrasil.org.br O Videobrasil surgiu em 1983 – apenas dois anos depois de o vídeo entrar no mercado brasileiro – e em sua primeira edição já mostrava vocação transdisciplinar. O primeiro prêmio do festival não foi dado a um videoartista, mas ao dramaturgo José Celso Martinez Corrêa. Desde a última edição, em 2011, o então festival de arte eletrônica reconheceu a importância das hibridizações da imagem contemporânea e assumiu sua identidade híbrida, assimilando pesquisas artísticas em diversos meios. Estas e tantas outras histórias dos 30 anos do VB serão contadas no 18º festival internacional de Arte contemporânea Sesc_videobrasil, a partir de novembro. A programação gira em torno de uma videoinstalação polifônica que reúne em 200 monitores cerca de 20 horas de depoimentos, registros e obras apresentados ao longo das três décadas. “Há

milhões de narrativas nesta instalação”, diz a diretora, Solange Farkas. “É possível fazer ali desde uma leitura linear da arqueologia da mídia – do Betamax aos softwares – até leituras transversais dos eixos vocacionais do VB: o vídeo em interseção com a tevê e as artes visuais.” Além de uma mostra com artistas emblemáticos dos 30 anos, a mostra competitiva Panoramas do Sul reúne 94 artistas do Sul geopolítico do globo. Foram selecionados novatos e veteranos do festival, como o brasileiro Marcellus L., que participa com um vídeo minimalista realizado na Islândia, e o libanês Ali Cherri, que participa pela terceira vez do festival com uma videoinstalação que mostra imagens da destruição de uma estátua do ditador sírio Hafez al-Assad. O ato foi executado pelas próprias autoridades libanesas, temendo e se antecipando a atos de vandalismo. PA imagem da videoinstalação Pipe Dreams, do artista libanês ali Cherri, que integra a seleção Panoramas do Sul do 18º Festival Sesc_Videobrasil

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C U LT U R A C O N T E M P O R Â N E A

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urBANisMo

Cidades e possibilidades X Bienal de Arquitetura. De 12/10 a 1º/12. Centro Cultural São Paulo e diversos espaços da cidade http://www.facebook.com/xbienaldearquitetura/ Com curadoria de Guilherme Wisnik, Ana Luiza Nobre e Ligia Nobre (adjuntas), a Bienal de Arquitetura discute a cidade contemporânea, a partir dos temas mobilidade, densidade, espaço público e infraestrutura. Traz exposições especiais sobre o Rio de Janeiro e Detroit, incorpora projetos selecionados em chamada pública pela internet e obras de artistas que problematizam o imaginário urbano. Parque do High Line de Nova York terá exposição especial na Associação Parque Minhocão durante a Bienal de Arquitetura

urBANisMo

Capital inexplorado Ideas City. 25 a 27/10, Sesc-Pompeia, Rua Clélia 93, SP, www.sescsp.org.br Desde 2011, o New Museum de Nova York desenvolve o projeto multidisciplinar Ideas City, que abriga um festival bienal, realizado em Nova York, e uma série de conferências promovidas naquela cidade e em outros grandes centros mundiais. No contexto da Bienal de Arquitetura, o evento chega a São Paulo com o tema Capital Inexplorado e discute os recursos – criativos e econômicos – que são subutilizados nas cidades. reunião da Pixelache, Finlândia, evento que se desdobra no Brasil em outubro

são Paulo recebe o projeto do New Museum ideas city no sesc-Pompeia

c u Lt u r A d i g i tA L

para além das Capitais Tropixel - Campus da UFJF (Juiz de Fora, MG), de 17 a 19/10 e Ubatuba (UbaLab, São Paulo), de 21 a 25/10. http:// tropixel.ubalab.org Pesquisadores e articuladores de redes colaborativas, mídia independente, arte e cultura digital, Raquel Rennó e Felipe Fonseca são dois dos organizadores do Tropixel, festival internacional inédito que acontece em outubro em Ubatuba (SP) e Juiz de Fora (MG). Primeiro evento brasileiro da rede Pixelache, criada há mais de dez anos em Helsinque, na Finlândia, a expectativa do encontro é trazer contribuições para a construção de futuros mais justos, humanos e participativos. SELECT.ART.BR

OUT/nOv 2013

FOTOS: IwAn BAAn, wIkImEdIA E PIxELAChE


ciNeMA

mUndo de Filmes 37 a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, de 18/10 a 31/10, www.mostra.org Quem dá a cara da 37a Mostra Internacional de Cinema é Stanley Kubrick. O cineasta morto em 1999 tem retrospectiva completa, lançamento de livro, expo no MIS e é retratado na arte deste ano. O cartaz é inspirado em aquarela feita em 1974 por sua viúva. Além dele, o filipino cult Lav Diaz tem 12 de seus filmes exibidos e vem a SP participar do júri. Cerca de 300 filmes compõem a programação.

cena do filme ilo ilo, do cineasta cingapuriano Anthony chen, que tem exibição na Mostra. A produção venceu a camera d’or em cannes

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DESIGN por João Pedrosa

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Perfil

O admirável NeNdO Design como processo e narrativa é a matéria fundamental de Oki Sato, o novíssimo, profícuo e genial mestre do design global Oki Sato é um gênio do design atual. Filho de japoneses, nasceu em Toronto, Canadá, em 1977, e o sentimento de deslocamento sempre influenciou sua visão de mundo. Em 2002, inaugurou, em Tóquio, o Estúdio Nendo, muito apropriadamente argila em japonês. Depois vieram outros dois, em Milão e Cingapura. Subtração e simplicidade são seus dogmas. Seu design fala, principalmente, sobre comunicação. Oki Sato acredita que coisas simples são mais fáceis de comunicar. Possui humor infantil, no seu melhor sentido, e acha que, quando o minimalismo vai longe demais, se torna frio, e que isso é contraproducente. O trabalho do Estúdio Nendo tem semelhanças com vários outros gênios da criação – de épocas, países e áreas de criação diferentes. Seu humor se alinha com Jean Royère, suas silhuetas tridimensionais com Waltercio Caldas, a magia de sua luz com Shiro Kuramata, a ilusão de ótica com M.C. Escher, o uso do tecido com Issey Miyake, e a transformação de um objeto banal numa peça lúdica e cenográfica com Bob Wilson. A manipulação inteligente do processo criativo faz dele um designer filósofo, que sobrepõe arquitetura, decoração e instalação. Essa lógica integral tornou-o um sucesso instantâneo no mundo do design atual, resultando em clientes de enorme prestígio global, como Capellini, Bisazza, Swarovski, Miyake, Hermès, Louis Vuitton, Camper etc. No admirável mundo novo de Nendo, a matéria fundamental da criação não é a argila, mas sim um processo mental. Eis as dez regras da lógica visual de Nendo:

Bordas/Linhas: a mudança sutil de uma simples linha pode mudar toda a experiência de um espaço ou objeto SELECT.ART.BR

OUT/NOV 2013

Processo: um ingrediente lógico na sua paixão pela experiência. É o caso de sua cadeira Repolho, em associação com material descartado do processo de moda de Issey Miyake

Na página anterior, frames da videoinstalação A Sun Without Shadow (2010); à esquerda, frame de Three Dead (2010) Novos problemas, novas soluções: criar condições erradas implica novas e inusitadas soluções

Multiplicidade: a paixão pela repetição faz da observação um ato de recriação. É o caso de seu apartamento para 78 pássaros FOTOS: DIVULGAÇÃO


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Elo: ao criar conexões entre coisas que não se relacionavam antes, surgem soluções inovadoras, como a tomada Alce, que suporta e recarrega baterias de computador ou celular

Manipulação da escala: quando a escala é manipulada, surgem valores novos que transcendem a sua cor, o material e a forma

Dobras: transforme algo bidimensional em tridimensional, como uma criança brincando com um pedaço de papel, que pode se transformar em origami

Esconder: a dissimulação atrai a atenção para o objeto, aguçando a curiosidade natural do observador e inspirando uma investigação mais profunda sobre a sua natureza

Pele: a superfície que encobre um corpo determina o seu todo. Assim, o designer adiciona valor efetivo e funcional ao objeto, por meio de superfícies matéricas bem pensadas

Harmonia: princípio fundamental que se opõe à hierarquia. Segundo Nendo, é preciso se livrar de preconceitos que aderem aos objetos, como uma espécie de lama


LINKS

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Arte pArA dAr e vender Foi-se o tempo em que arte na rede era exclusividade dos web artistas. Galerias, casas de leilão, feiras e escolas alternativas investem nas potencialidades comerciais da internet, apostando até em cursos de marketing online voltado para o mercado de arte. GB

Cursos online O Node Center, um centro especializado em estudos curatoriais de Berlim, oferece cursos na web que pretendem calibrar a profissionalização do mercado de artes. Em outubro é a vez de Redes Sociais para Galeristas e Profissionais de Arte. http://bit.ly/19hQdrG

CASS IO VASCO NCELLOS

Foto Spot Comercializa fotografias assinadas e numeradas de artistas de renome, como Claudia Jaguaribe, Tuca Reinés e Cassio Vasconcellos. É possível fazer sua busca por cor, tema e preço. http://www.fotospot.com.br

Art Price Oferece análises e relatórios sobre o mercado com cotações de obras, mapeamento de leilões e bancos de dados sobre artistas. http://www.artprice.com/

Art Market for Dummies Projeto de visualização de dados do site francês Quoi, possibilita navegar e combinar diversas informações sobre o mercado de artes entre os anos 2008 e 2012 http://bit.ly/157kNaB

M AR I A LUZ I AN O

Urban Arts Galeria brasileira de arte digital com ênfase em ilustração e design. https://urbanarts.com.br

RUB E N S G E RS H MA N

Catálogo das Artes Versão nacional do Art Price, dedica-se à coleta de preços de obras de arte e antiguidades em leilões no Brasil, com divulgação apenas para assinantes. www.catalogodasartes.com.br SELECT.ART.BR

AGO/SET 2013

Amazon Art A megaloja célebre pelo comércio de livros, oferece milhares de obras para aquisição online. A busca pode ser feita por gênero, cor, tamanho, orientação e preço. http://amzn.to/16IMbdc FOTOS: DIVULGAÇÃO


SÓ NO SONY ENTERTAINMENT TELEVISION

© 2013 ABC Studios & Marvel. Verifique A ClASSifiCAção indiCAtiVA.

NEM TODO hERÓI É SUpER

NOVA SÉRIE TODA QUINTA, àS 21h



s u s t e n ta b i l i d a d e

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Rio veRmelho Obra de land art do artista tunisiano Jean Paul Ganem é espaço de convivência ao ar livre que reconstitui o traçado original do Rio Tietê O Caminho do Rio, Jean Paul Ganem, sem data de encerramento, Jardim Botânico de São Paulo, Av. Miguel Stéfano, 3.031, SP O tunisiano Jean Paul Ganem divide seu tempo entre Paris, Montreal e a capital paulista, que visita constantemente há 25 anos. Sua intimidade com a cidade conferiu-lhe um senso crítico quanto à poluição excessiva, seja do ar ou das águas dos rios. Graças ao trabalho de land art que desenvolve entrecruzando paisagismo em intervenções públicas que problematizam questões dos espaços urbanos, foi convidado a realizar uma intervenção no Jardim Botânico de São Paulo pelo projeto Cidade Galeria. O

artista criou O Caminho do Rio, um trajeto sinuoso de folhagens vermelhas que reconstitui o antigo traçado do leito do Rio Tietê em seus 2,5 mil metros quadrados. A obra traz uma reflexão entre o Tietê de ontem, cristalino, e o de hoje, em lento processo de despoluição. O jardim foi inaugurado no primeiro dia da primavera, com direito a jazz ao vivo com a Orquestra Heartbreakers; piquenique com os chefs Laurent Suaudeu e Janaina Rueda, entre outros; e a première do filme A Margem da Paisagem, um Ensaio Poético sobre a Obra de Jean Paul Ganem, com direção de Eliane Caffé. Até o fim de 2013, quem visitar o parque poderá usufruir do rio de flores e participar de visitas guiadas. luciana Pareja Norbiato

Vista da nova obra, que ocupa a entrada principal do Jardim Botânico de São Paulo com flores e folhas de tonalidade avermelhada

PATROC Í N I O


tribOS DO DESign por Ricardo van Steen

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B RAS I L Ó F O N O S O Brasil homenageado pelos designers estrangeiros que viveram ou passaram por aqui

Bardi’s bowl A cadeira bardi’s bowl pertence à primeira fase da trajetória brasileira da italiana Lina bo bardi, quando ainda acreditava ser possível interferir nos rumos da industrialização acelerada da década de 1950. Hoje a bardi’s bowl é produzida em uma série limitada e numerada que, de tão exclusiva, não fará parte do catálogo da fabricante italiana Arper Havaianas-missoni Essa parceria já está na segunda geração, devido ao sucesso estrondoso das sandálias concebidas pela equipe de criação da sempre charmosa Missoni Tesouro redescoberto O carrinho de chá JZ, desenhado nos anos 60 pelo polonês-brasileiro Jorge Zalszupin, ganhou uma nova e limitada tiragem pela sofisticada Etel

Cross culture A cadeira Loft, da jovem designer californiana Shelly Shelly para a Danerka, se inspira nos clássicos do design dinamarquês com um toque de modernismo brasileiro De portugas para brasucas Mil & Quinhentos é um rótulo de vinhos portugueses elaborado especialmente para o público brasileiro . O mapa original usado por Cabral foi o ícone encontrado para aproximar os povos

fotos: divulgação

Melissa Ginga O grande talento de Karl Lagerfeld foi traduzido em uma linha de sapatos para a Melissa inspirada no imaginário brasileiro

Ipanema A mais famosa praia do rio de Janeiro foi o cenário ideal para o arquiteto francês Jean-Marie Massaud desenhar a poltrona ipanema para a americana Poliform



Co lu n a m ó v e l / a rt e e eCo n o m i a

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Charles esChe

A complexA ecologiA dA coprodução de sentido

Quero começar com uma distinção entre arte mainstream e o Que poderíamos chamar de arte investigativa. a arte mainstrean é muitas vezes formal ou materialmente “inovadora” e “desafiadora”, enquanto a variedade investigativa é com frequência mais enfocada no engajamento social e na análise das condições existentes – nesse processo, a obra poderia ser uma repetição ou uma reinterpretação da arte antiga, um projeto curatorial ou um novo objeto. visitando Berlim dois anos atrás, vi duas exposições que pareciam ilustrar perfeitamente essas diferenças. a primeira foi uma exposição de arte espetacular de carsten höller no hamburger Bahnhof. as pessoas podiam pagar mil euros por noite para receber atendimento cinco estrelas e ter acesso exclusivo à coleção pública. o “quarto” da estadia era uma alta plataforma panóptica no centro, acessível por meio de uma porta trancada. o visitante comum era convidado a examinar o quarto e uma série variada de animais presos em gaiolas de design. havia algo quase pré-revolucionário nessa celebração desavergonhada da riqueza pelo artista e pela instituição financiada pelo estado. em contraste, na haus der Kulturen der Welt estava o princípio de potosi, uma exposição notável, com curadoria SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

dos artistas alice creischer e andreas siekmann e que contava a história do início do capitalismo nas colônias espanholas da américa do sul. ela usava a produção da arte na Bolívia para nos mostrar algo novo sobre como o mundo veio a ser o que é, e como mapear as conexões entre linguagens artísticas antigas e contemporâneas. embora a divisão entre essas duas variedades não seja absoluta, ela dá uma ideia de como os imperativos comerciais das instituições artísticas orientam a agenda estética. höller ganhou muito mais com a venda de ingressos do que o princípio de potosi e, portanto, se poderia dizer que teve mais sucesso. no entanto, embora os curadores da primeira exposição facilitassem uma ideia do artista para produzir algo novo e gerar publicidade, eles não pareciam se envolver no propósito ou nos conteúdos da obra. na potosi prinzip, os artistas enquanto curadores ganharam criticalidade ao reorganizar a arte antiga e se permitiram relacionar a arte diretamente com a mudança social. a última está firmemente na variedade investigativa e me entusiasmou porque parece mais ambiciosa para a arte e também mais criativa e mais válida para o público. em geral, creio que o interesse do público, ou da “comunidade” que uma determinada sociedade ou grupo compartilham, é o lugar onde podemos nos reunir em torno da arte. a base econômica sobre a qual isso se constrói é secundária. vejo pouca diferença hoje em dia entre financiamento vindo do governo e de fontes privadas. ambos têm suas agendas e é preciso negociar com eles. a melhor maneira é ter uma pluralidade de financiamento e assim encontrar seu próprio espaço nas lacunas entre as demandas de todos os outros, por meio do qual você possa desenvolver uma voz independente. as galerias são uma parte importante dessa ecologia do mundo da arte. algumas estão interessadas nessa ideia do bem comum, outras não. para mim, é importante distinguir entre as galerias de “marca”, como gagosian, que criam uma exclusividade ao redor de sua arte e seus artistas, e galerias menores, mais dedicadas, que se envolvem com o interesse comum em sua comunidade e muitas vezes são bastante próximas dos artistas. as galerias desse tipo parecem parceiras e costumam apoiar obras importantes – com frequência também são menos bem-sucedidas comercialmente. na verdade, talvez fosse bom que o financiamento para as artes diminuísse em FoToS: divuLgAção


A exposição de Carsten Höller no Hamburger Bahnhof, de Berlim, em 2011, é considerada pelo curador Charles Esche um exemplo de arte mainstream

O século 21 exige uma visão expandida da arte e de suas relações com o mercado. Ela inclui a incorporação de vozes e linguagens diversificadas e novos formatos de curadoria e financiamento

geral, para que absurdos como carsten höller fossem inacessíveis e as galerias de marca fossem um pouco menos arrogantes. isso talvez trouxesse mais obras de arte interessantes para o alcance de mais bolsos. o fato de que os colecionadores privados ricos podem constantemente superar os lances dos museus públicos, que então têm de mendigar doações, não é uma situação muito desejável. na verdade, como diretor de museu, eu enfrento um dilema sempre que compramos uma obra. por que comprar? o que há na posse dos objetos que é tão fundamental para a arte – especialmente hoje, com a cópia digital? mas eu ainda compro, porque sinto que devo deixar um legado deste momento. um museu é, afinal, uma maneira de materializar a memória coletiva, e seria triste, no futuro, não ter nada do início do século 21 no van abbemuseum. você poderia considerar minha abordagem mais como a construção de um arquivo em que objetos, fatos e opiniões passam a representar a história do museu e da sociedade. trabalhamos nesse sentido no meu museu, unindo a coleção, a biblioteca e o arquivo em um só. para o futuro desenvolvimento do museu, estou interessado em duas ideias. uma é um museu disperso, que dividiria suas funções e se disseminaria pela cidade ou ainda mais além. a segunda é o conceito de Brian holmes de extradisciplinaridade, de montar projetos ou pesquisas que funcionam fora das fronteiras acadêmicas e econômicas que definem as atuações institucionais. sou a favor do dinamismo e da criatividade, desde que não seja a produção interminável de novos protótipos temporários para o mercado, mas que se enfoquem especulações sobre essa “comunidade” que eu insisto que deva ser compreendida e promovida. no campo mais amplo da arte, sinto a necessidade de desenvolver a coprodução de significado. isso sugere um leque maior de formas e vozes artísticas do que incluímos atualmente. para mim, todos esses desenvolvimentos podem surgir melhor quando uma instituição de arte assume uma clara posição e pede que os interessados se envolvam. nesse ponto, o controle do programa tem de sair dos escritórios curatoriais e ser compartilhado com as pessoas que estão envolvidas e engajadas. vamos juntos definir nossas agendas e encontrar novos meios de financiamento, incluindo apoiadores privados e patrocínio estatal, para construir o que consideramos urgente neste momento.

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Os 50 artistas mais valorizados do mundo (2008 - 2012) Apenas quatro estão vivos (Gerard Richter, Damien Hirst, Jeff Koons e Richard Prince) e 15 deles são chineses. Nenhum é brasileiro. As cotações são em euros.

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1.

PaBlo PiCasso 1.35 bilhões

2.

andY Warhol 1.31 bilhões

3.

Zhang da Qian 1.21 bilhões

4.

Qi Baishi 1.21 bilhões

5.

gErard riChtEr 644 milhões

6.

Xu BEihong 626 milhões

7.

FranCis BaCon 554 milhões

8.

Fu Baoshi 517 milhões

9.

alBErto giaCoMEtti 490 milhões

10. ClaudE MonEt 484 milhões 11. hEnri MatissE 400 milhões 12. li KEran 396 milhões 13. Wu guanZhong 395 milhões 14. BasQuiat 376 milhões 15. roY liChtEnstEin 658 milhões 16. MarK rothKo 344 milhões 17. Joan Miró 311 milhões 18. daMiEn hirst 310 milhões 19. alEXandEr CaldEr 309 milhões 20. luCio Fontana 290 milhões 21. lu Yan shao 282 milhões 22. MarC Chagall 272 milhões 23. Zao Wou-Ki 268 milhões 24. huang Zhou 265 milhões 25. YvEs KlEin 260 milhões 26. FErnand légEr 249 milhões 27. huang Binhong 236 milhões 28. Edvard MunCh 231 milhões 29. JEFF Koons 229 milhões 30. Edgar dEgas 215 milhões 31. WillEM dE Kooning 214 milhões 32. augustE rEnoir 213 milhões 33. Wu Changshuo 213 milhões 34. lin FEng Mian 210 milhões 35. hEnrY MoorE 204 milhões 36. rEné MagrittE 203 milhões 37. Zhu da 188 milhões 38. aMEdEo Modigliani 180 milhões 39. Fan ZEng 177 milhões 40. ZEng FanZhi 161 milhões 41. Egon sChiElE 143 milhões 42. CY tWoMBlY 140 milhões 43. vassilY KandinsKY 138 milhões 44. riChard PrinCE 137 milhões 45. KEEs van dongEn 136 milhões 46. luCian FrEud 130 milhões 47. XiE Zhiliu 129 milhões 48. KEEs van dongEn 128 milhões 49. salvador dali 126 milhões 50. CaMillE Pissarro 125 milhões

Fontes: Rel atóRios a Rt PRic e (2 008 a 2 01 2 ) e Quo i – l’act u exP l iQu é e h t t P://bit. ly/ 14 e bvst

MUnDO cODIfIcADO

NÚMEROS EM CORES Realizamos um estudo inusitado sobre o mercado de arte que envolveu uma equipe multidisciplinar de pesquisadores especializados em visualização de dados e história da arte E D I Ç Ã O G i s e l l e B e i G u e l m a n I n f O g r á f I c O s R i c a R d o va n s t e e n


Nacionalidade dos Artistas Participantes da Bienal de São Paulo A pesquisa concentrou-se nas edições de 2006 em diante porque foi nesse ano que se aboliram as representações nacionais, ficando a escolha dos artistas exclusivamente relacionada às eleições dos curadores da Bienal. Foram desconsiderados os países que participaram de apenas uma edição com um único artista.

áfrIcA DO sUl AlEMAnhA

áfrIcA DO sUl

ArgEntInA

39 áUstrIA

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2006 | 27a edição

vEnEZUElA

vEnEZUElA

2008 | 28a edição

2010 | 29a edição

2012 | 30a edição

Equip E: Mic hEl Sp italE E luc iana fEr nan d ES ( E d i ç ã o d E a rt E ) ; f Á b i o Gov E i a ( vi Sua li z a ç ã o d E da d oS So b r E a S p -a rt E E Sp -artE/ foto); EuG ê n i a h a n i t zSc h ( p ESqui Sa So b r E a b i En a l d E S ã o paulo) Fonte: Catálogos da Bienal de são Paulo


SELECT.ART.BR babel hilda araujo choque cultural franco noero elvira gonzaleS el muSeo art 57 a ponte banditrazoS nuvem emma thomaz elba benitz central afa eStação almeida e dale athena gavea athena contemporanea folio carreraS mugica

Studio nobrega

millan

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mercedeS viegaS

untitled

liSSon

ouT/nov 2013

oScar cruz

Sur

luciana caravello

Sylvio nery

Steiner

white cube

SwediSh photography

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yvon lambert

pace

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paulo kuczynSki

Sprovieri

lia rumma

arte 57

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tempo Sprovieri paulo kuczynSky

continua forteS vilaca anita Schwartz la caSona art concept jaqueline martinS celma albuquerque feldbuSchwieSner faSS bolSa de arte fernando pradilla houSer e wirth berenice arvani a gentil carioca eduardo fernandeS chriStopher grimeS ipanema gregor podnar guStavo rebello arte edicoeS gagoSian inox d concept caSa triangulo david zwirner amparo 60 dan contemporanea klauS Steinmetz caSaS riegner am horizonte baginSki kaikai kiki baro 1500 dan eliana benchimol hap

Spruth magerS

Silvia cintra box 4

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pequena galeria 18

ronie meSquite

van de weghe

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marcelo guarnieri

luciana brito

parra e romero

tranSverSal

multiplique boutique

murilo caStro

marilia razuk

thaddaeuS ropac

laura marSiaj

pinakotheke

FONTE: caTálOgOs da sp-arTE dE 2010 a 2013

neugerriemSchneider

leme

virgilio

peter kilchmann

mendeS wood dm

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marcia barrozo doamaral

raquel arnaud

vera corteS

max wigram

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nara roeSler

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luciana caravello Silvia cintra box 4

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luiSa Strina

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ruth benzacar

mercedeS viegaS

marilia razuk

Senda a. barcelona

virgilio

pequena galeria 18

vermelho

zipper

marcia b. do amaral

weingrull

anita beckerS

pilar

paulo darze

ronie meSquite

lurixS

luciana brito

lemoS de Sa

multiplique boutique

leon tovar

pinakotheke cultural

Sur

murilo caStro

mezanino

SimoeS de aSSiS

lume photoS

quadrum

gávea

eStação

multiplo

a gentil carioca

thaiS darze

la caja negra

flavio cohn

jean boghici

Sylvio nery

flavio cohn

ybakatu

Sergio goncalveS

ybakatu

Sylvio nery

ronie meSquita

mezanino

pinakothece cultural

murilo caStro

luiSa Strina

luciana brito

millan

monica filgueiraS

lurxiS

hilda araujo

marilia razuk

paulo darze

marcia barrozo amaral

raquel arnaud

laura marSiaj

leme

Steiner

SoSo arte

vermelho

zipper

pequena galeria 18

mariana moura

marcelo guarnieri

thomaS cohn

referencia

mercedeS viegaS

progetti

luciana caravello

multiplo

vera corteS

motor

oScar cruz

ricardo camargo

Sur

paulo kuczynSky

nara roeSler

Stephan friedman

mendeS wood

lemoS de Sa

tempo

Silvia cintra

leon tovar

Studio art nobrega

babel

amparo 60

d concept

arte 57

jean boghici

berenice arvani

guStavo rebello

eliana benchimol

forteS vilaça

ipanema

gc

la fabrica

horrach moya

anita Schwartz

artur fidalgo

fernando pradilla

almacen

dumareSq

celma albuquerque

emma thomaS

enrique guerrero

elba benitez

a gentil carioca

filomena SoareS

baro

ignacio liprandi

gavea

athena

faSS

choque cultural

folio

haSted kraeutler

eduardo fernandeS

caSa 11 hap

ad

eStação

el muSeo

arteedicoeS

la caja negra

amarelonegro

eStudio buck

caSa triangulo

hilda araujo

dan

2011

amarelonegro

la caja negra

eStudio buck

baro

forteS villaca

el muSeo

ipanema

almeida e dale

arte 57

dumareSq

enrique guerrero

bolSa de arte

arte em dobro

folio

horrach moya

celma albuquerque

eliana benchimol

eStação

a gentil carioca

faSS

ignacio liprandi

anita Schwartz

gc

dropz

dconcept

athena

dan

imS

emma thomaS

galeria babel

eduardo fernandeS

caSa triangulo

fernando pradilla

deco

choque cultural

almacen

guStavo rebello

artur fidalgo

berenice arvani

hilda araujo

hap

amarelonegro

amparo 60

mercedeS viegaS

vermelho

nara roeSler

thomaS cohn

millan

Silvia cintra box 4

novembro

leme

mezanino

Studio art nobrega

marcia barroSo do amaral

kbk

Steiner

projetti

oScar cruz

luciana brito

pequena galeria 18

Stephan friedman

virgilio

paulo darze

la caja negra

tempo

mariana moura

raquel arnauld

jean boghici

luiSa Strina

Sergio caribe

Sur

lemoS de Sa

lurxiS

marilia razuk

mendeS wood

zipper

Sycomore art

pinakotheke

ricardo camargo

paulo kuczynSky

ronie meSquite

monicaS filgueiraS

laura marSiaj

motor

2010

Sim

bergamin

2013

lurix

2012

Sergio goncalveS

Cores predominantes na SP-Arte

Estes g r áficos most ram as co res p re d o minantes n a s o b ra s ex p osta s p o r ca d a ga l e r i a pa r t i c i pa n te d a s fe i ra s SP-A r te e SP-A r te/ Foto de 2 0 10

a 20 13. As gale r ias fo ram organizad as e m ord e m c ro m á t i ca e n ã o a l fa b é t i ca . C h a m a a a te n ç ã o o c l a rea m e n to d os to n s, a o l o n go dos anos, e a sinc ro nia e nt re as cores d o m i n a n tes e a s co n s i d e ra d a s “ te n d ê n c i a” n os ca t á l ogos i n d ust r i a i s.

40


fonte: catálogos da sp-foto de 2010 a 2013

fauna

da gávea

kamara kó

Sim

lume

fotoSpot

luciana brito

logo

nara roeSler

jaqueline martinS

leme

laura marSiaj

eduardo fernandeS

millan

imS

faSS

dan

tempo 1

pequena 18

caSa triângulo

arte 57

baró

a caSa da luz vermelha

celma albuquerque

arte ediçõeS

lume photoS

central

logo

Sim

arte 57

tranSverSal

millan

gavea

babel

1500

pequena galeria 18

imS

vermelho

faSS

dan

hap

mendeS wood

luciana brito

celma abuquerque

moura marSiaj

zipper

caSa triangulo

arteedicoeS

zipper

Senda

arteedicoeS

baro

fauna

monica filgueiraS eduardo machado

dan galleria

arte 57

caSa triangulo

central galleria

tranSverSal

pequena galeria 18

imS

fotoSpot

arterix

faSS

luiz porchat

luciana brito

1500

lume photoS

motor

galeria de babel

leme

gávea

hap

nara roeSler

nara roeSler

hap

baro

galeria da gavea

inSt moreira SalleS

zipper

pequena galeria 18

motor

millan

luciana brito

arte 57

1500

caSa triangulo

faSS

galeria de babel

leme

oScar cruz

Cores predominantes na SP-Arte/Foto

A iden tificaç ão d as cores p re d ominantes nas ob ras teve p o r ba se a s i m a ge n s p ub l i ca d a s n os ca t á l ogos. A i n te r p reta ç ã o fo i fe i ta p o r u m prog rama

desenvolvido p e lo L ab ic ( L ab o rat ór io d e Est u d os d e Im a ge m e C i b e rc ul t ura d a U F ES) es p e c i a l m e n te pa ra esta e d i ç ã o d e se Le cT, q ue mape i a todos os p o ntos d a image m e d e co d i f i ca a q ue p e rce n t ua l m e n te é a d e m a i o r p rese n ç a . 41

2010

2011

2012

2013


Idades dos artistas participantes da Bienal de São Paulo As últimas quatro Bienais de São Paulo tiveram maior participação de artistas na faixa etária entre 31 e 40 anos. Contudo, nota-se que vem aumentando a participação de artistas com mais idade. Foram considerados apenas os artistas vivos à época de cada Bienal e sua idade na edição em que participou.

42

20a30

31a40

41a50

51a60 61a70 71a80 81a90

2006 | 27a edição

2008 | 28a edição

2010 | 29a edição

2012 | 30a edição

Fonte: Catálogos da Bienal de são Paulo (2006 a 2012), sites Pessoais de artistas e BanCos de dados diversos disPoníveis na internet

SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013


Tipologia das obras apresentadas na Bienal de São Paulo (2006 -2012) No período analisado, instalações (de todos os tipos) e vídeos monocanal foram os tipos de obras mais recorrentes. Chama a atenção o aumento da presença de pinturas na última edição. Foram excluídas tipologias de obras unitárias que só apareciam em uma única edição.

Composição musiCal

Desenho

Desenho

BorDaDo CerâmiCa

CoreograFia triDimensional

Desenho

triDimensional triDimensional

FotograFia

triDimensional

graVura impressão FotograFia

FotograFia FotograFia

impressão impressão instalação

instalação

impressão

instalação

instalação interVenção urBana net art

interVenção urBana

perFormanCe

pintura

interVenção urBana

perFormanCe

pintura puBliCação pintura

perFormanCe téCniCa mista

téCniCa mista

sliDes téCniCa mista puBliCação VíDeo

VíDeo

téCniCa mista VíDeo

2006 | 27a edição

2008 | 28a edição

2010 | 29a edição

Fonte: Catálogos da Bienal de são Paulo (2006 a 2012)

2012 | 30a edição

43


C A PA

44

O mercadO de arte nO Brasil tem dadO clarOs sinais de vitalidade e expansãO nOs últimOs anOs. O crescente númerO de puBlicações sOBre O tema cOntriBui para dar aO setOr uma visiBilidade inédita. pesquisas com ênfase em dados quantitativos, tais como índices de crescimento e estimativas de volume de negócios, são bastante recentes e parecem suscitar grande interesse, mas ainda são raras as reflexões críticas a respeito dos números disponíveis sobre o setor. por isso se faz necessário comentar alguns limites e lacunas de duas publicações recentes sobre o mercado brasileiro: a segunda edição da pesquisa setorial latitude e o capítulo dedicado ao Brasil pelo tefaf art market report 2013. nenhuma delas oferece uma visão abrangente sobre o mercado de arte brasileiro. a primeira por estar restrita a um segmento específico, qual seja o high end do mercado primário de arte contemporânea representado pelas galerias associadas à abact e/ou ao projeto latitude; e a segunda por apresentar fragilidades metodológicas, omitir as fontes utilizadas e apresentar uma base empírica inconsistente, comprometendo parte dos resultados apresentados, sobretudo os derivados de dados primários. O relatório tefaf afirma que o mercado brasileiro representaria 1% do global (cerca de 455 milhões de euros em 2012), com base em informações coletadas junto aos players do setor, que compõem uma amostra onde as galerias de arte contemporânea representam 82% dos respondentes, as galerias de arte moderna, 16%, e as de antiguidade, 2%. Os dados referentes às casas de leilão foram computados separadamente. isso não permite conhecer a estrutura e distribuição dos diferentes segmentos que compõem o mercado brasileiro, e muito menos estimar com segurança o volume de negócios que o setor movimenta. se o universo pesquisado é heterogêneo, deve-se atentar para que haja uma representatividade proporcional de cada uma das partes, pois, se uma delas fica sub ou super-representada, os resultados aparecem distorcidos. se considerarmos o universo das galerias brasileiras na sp-arte em 2012, por exemplo, perto de 35% pertencem ao mercado secundário, com foco em artistas modernos e contemporâneos consagrados, cujos preços ultrapassam facilmente a marca de 350 mil euros. O relatório tefaf informa que nenhuma galeria brasileira teria realizado vendas de obras nesse valor em 2012. isso não é factível, pois, conforme indica a pesquisa setorial latitude, as galerias do mercado primário trabalham com obras que chegam a r$ 8 milhões. Já o mercado de arte moderna pode alcançar valores ainda maiores. SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

plataformas de negócios

59%

na própia galeria

29%

feiras nacionais

9%

feiras internacionais

3%

outras situações

as pesquisas e suas lacunas Os limites dos relatórios sobre o mercado de arte brasileiro AnA LetíciA FiALho

evolução das exportações setor em geral

2011

$ 60,1 milhões projeto latitude

$ 18,6 milhões projeto latitude

$ 27,1 milhões setor em geral

$ 51,1 milhões PROJETO LATITUDE 2012


distribuição das galerias por cidade

57% São Paulo 28% Rio de Janeiro 9% Belo Horizonte 2% Porto Alegre 2% Curitiba 2% Recife

volume de negócios das galerias

71,5% colecionadores brasileiros 11,5% colecionadores estrangeiros 6% coleções corporativas brasileiras 4,25% instituições brasileiras 3% outros 2,5% instituições estrangeiras 1,25% coleções corporativas estrangeiras

36,91% Estados Unidos 23,56% Reino Unido 20,80% Suíça 5,14% França 3,65% Honk Kong 10% Outros destino das exportações brasileiras em 2012 – market share

além disso, deve-se considerar o contexto em que o relatório foi produzido. a tefaf é uma tradicional feira holandesa que vem buscando em economias emergentes alternativas para enfrentar a recessão europeia. a feira organizou no ano passado um pocket preview em são paulo, a fim de atrair colecionadores brasileiros, e anunciou a abertura de uma filial na china. O relatório publicado destaca que a importância do Brasil para o mercado global está no poder aquisitivo dos colecionadores brasileiros, que o nosso mercado é pequeno e essencialmente doméstico, e que as barreiras tributárias à importação de obras de arte seriam o grande obstáculo ao desenvolvimento do setor. tais afirmações refletem a posição de uma instituição que tem interesse na diminuição da carga tributária para importação, pois deseja se aproximar do mercado e, sobretudo, dos colecionadores brasileiros. Ora, o mercado nacional não é mais essencialmente doméstico, ele tem, sim, registrado um crescimento significativo, e o seu lugar no cenário global ainda não foi devidamente avaliado. Quanto à pesquisa setorial latitude, ela logra apresentar informações detalhadas e consistentes sobre as galerias do mercado primário, em grande parte porque o próprio setor entendeu a importância da produção de dados para suas estratégias de desenvolvimento e profissionalização. no entanto, a pesquisa não contempla outros segmentos nem aprofunda as informações sobre artistas e colecionadores, agentes fundamentais do circuito. Foge ao seu escopo, mas ainda assim é fundamental indagar, por exemplo, sobre quantos artistas do mercado primário vivem do seu próprio trabalho; quais são suas outras fontes de renda; qual o impacto do mercado no processo de produção artística; qual a relação dos artistas com outras instâncias de legitimação, sobretudo as instituições; quantos possuem empresa própria, empregam assistentes e outros prestadores de serviço; o que os artistas produzem está em sintonia com o que o mercado pode absorver? essas, entre tantas outras questões, deveriam servir de base para a formulação de políticas públicas adequadas ao fomento da produção artística contemporânea, que não pode ficar restrito ao mercado. O interesse em monitorar e analisar determinado setor é, em si, um sinal de sua relevância e amadurecimento, contudo, a produção de dados consistentes sobre os diversos segmentos do mercado de arte e seus agentes é ainda um desafio a ser enfrentado. só assim poderemos avaliar a posição do Brasil no cenário internacional e estabelecer relações horizontais com os experientes e competitivos players internacionais. ILuSTRAçõES: FonTE pESquISA SEToRIAL LATITudE

45


C A PA

46

Um grande mistério para qUem olha de fora é como se faz o preço da arte. e por qUe Uma obra pode cUstar r$ 100 e oUtra Us$ 17,5 milhões. a dimensão, o material usado ou a escassez de obras do artista interferem no preço, mas razões não explicam tudo: muitas compras são feitas por impulso. é mais barato comprar obras de jovens artistas (não necessariamente artistas jovens) do que de autores com carreira estabelecida. mais barato e mais arriscado, pois esse autor pode não seguir carreira ou não decolar. Uma pintura sobre tela costuma custar bem mais do que um trabalho em papel. pinturas podem ser vendidas por metro linear, a partir de tabela. quanto menor a tiragem de uma gravura ou escultura feita em série, maior o valor de cada cópia. e, principalmente, quanto mais prestigiado o artista, maior o preço. só que prestígio não é ciência exata. até revistas como a seLecT são, mesmo sem querer, agentes que transformam o valor da

arte. alçar uma obra à capa de um livro, catálogo ou revista é algo visto como “legitimação” e pode influir no preço, independentemente das razões editoriais ou gráficas por trás da escolha. em conversa com eliana finkelstein e equipe na galeria Vermelho, uma fórmula foi mencionada: multiplique o custo do material por dois. adicione um valor pelo currículo do artista, sua participação em bienais, feiras, textos escritos sobre ele, currículo acadêmico, demanda que possa ter no mercado, e aí começamos a ter um preço. “leilão trabalha com desejo”, diz o leiloeiro aloisio cravo. “faço a construção do preço partindo de informações do mercado, da atenção que determinado artista está recebendo no momento. se vejo que uma obra que vale r$ 10 mil tem grande procura, posso colocar o lance inicial em r$ 14 mil. mas não adianta o vendedor chegar para mim e falar: ‘mas eu só vendo se for por r$ 50 mil’. aí eu digo: ‘então não posso fa-

M A R I O N S T R E C K E R f oto s b O b w O l f E N S O N

¸O O PREC DA ARTE Como são criados os valores das obras, a reputação dos artistas e as coleções SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013


Jan FJElD Galerista

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Eliana FinkElstEin Galerista

“O mercado primário lida com a carreira do artista, enquanto o secundário lida com obras”


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DaDO CastEllO BranCO

arquiteto e decorador

“arte é também decoração, sim”

SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

zer negócio’. da mesma forma, às vezes um vendedor tem muita pressa em vender uma obra e diz: ‘Vende pela metade’. também não posso, porque desqualifica a obra. sou um balizador. tenho de ter argumentos para explicar por que construí esse preço.” cada vez mais o artista parece um profissional que gere a carreira como qualquer outro, distante da imagem romântica da arte como vocação. nos círculos modernos de cem anos atrás, chamar um artista de acadêmico era xingamento. hoje, currículo acadêmico pega bem, não por conta do aprendizado técnico, mas porque a arte precisa de sustentação teórica. essa sustentação pode vir de um crítico, pesquisador, curador ou do próprio autor. Um artista pode se tornar mestre ou doutor defendendo tese sobre o próprio trabalho, como não raro ocorre na Usp e em outras instituições. “seja na graduação ou na pós, a formação do artista no espaço educacional visa dar-lhe a oportunidade, assim como condição, de desenvolver uma capacidade de elaboração crí-

tica em relação à sua produção”, avalia marcos moraes, coordenador do curso de artes da faap. a regra das galerias do chamado mercado primário, que vende obras em primeira mão, é dividir a receita meio a meio com o artista. mesmo quando os donos da galeria são artistas, caso de a gentil carioca, de márcio botner, ernesto neto e laura lima, que começaram com uma divisão 60/40, mas depois se alinharam ao mercado.

COMissÃO E iMPOstOs custos de produção, documentação e divulgação são negociados e muitos artistas abrem pessoas jurídicas no simples para pagar menos imposto. o mercado secundário, leilões incluídos, trabalha com comissão de venda, paga ao vendedor, não ao artista. o artista não costuma receber nada pela revenda do seu trabalho. o arquiteto dado castello branco ajuda clientes a comprar obras de arte. ele considera que “arte é também decoração, sim”, e conta que dimensão e cor estão entre os critérios básicos para definir uma compra. “meus honorários


MarCOs MOraEs Professor

“a faculdade pode ser instrumento de inserção do ‘jovem’ artista ao possibilitar-lhe não apenas a formação, mas condições de visibilidade”

FErnanDa FEitOsa

Diretora da sP-arte

”Provocação é necessária em um evento de arte” contemplam o acompanhamento na compra de toda a decoração, inclusive as obras de arte”, diz ele. “o papel do arquiteto é procurar indicar artistas que façam parte do portfólio de galerias que tenham critério e curadoria já conhecida no mercado de arte”, opina. num ambiente com visões muito diferentes do que seja arte, uma coisa é certa. o brasil anda com pressa de superar o isolamento e aproveitar a euforia dos últimos anos. abertas as fronteiras, o mercado recebe mais artistas, compradores e galeristas estrangeiros e luta para continuar a baixar impostos e agilizar processos. enquanto nos eUa e na europa as feiras são um fenômeno dos últimos 50 anos, o brasil viu surgir a sp-arte e a artrio apenas no século 21, quando as artes já não precisam ser “belas” nem “plásticas”. a expressão corrente é artes visuais, pois engloba performances, videoarte, instalações e intervenções. mas talvez seja melhor chamar apenas de arte contemporânea, já que a obra pode ser sonora, olfativa ou mesmo puramente conceitual, prescindindo de materialidade. a única dúvida é se a palavra

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lisEttE laGnaDO

Crítica e curadora

“ não acho que o curador deva ficar indiferente ao mercado, pelo contrário! Deve ficar bem atento para não repetir os usual suspects em sua lista”

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tem acesso. não me surpreenderia que esse número fosse pelo menos o triplo”, diz feitosa, que também é colecionadora. “o público jamais deve se sentir acomodado. provocação é um item necessário e desejado em um evento de arte. somos a única feira no mundo que admitiu galeria de arte popular, street art e graffiti e galerias virtuais também”, diz ela. o “atraso” do mercado brasileiro se expressa com um gosto conservador dos compradores, como ressalta a decana galerista luisa strina (leia entrevista nesta edição de seLecT). corrobora a tese o empresário marcos Koeningkan, dono do site www. catalogodasartes.com.br, que informa que 77% das obras vendidas em leilões no brasil de janeiro a 4 de setembro deste ano foram “quadros”.

EUFOria

“contemporânea” vai ser usada no futuro para se referir à arte do nosso tempo, assim como o termo “moderno” já ficou no passado. a sp-arte abocanha a maior fatia do mercado de feiras e recebeu este ano 22,5 mil pessoas. a artrio recebeu mais que o dobro: 52 mil pessoas. no rio há mais glamour, mais rostos da tV globo e o píer mauá à beira-mar, o que contribui para a audiência. mas o público de são paulo é tido como mais especializado. ambas recebem incentivos fiscais: as compras realizadas até o limite de r$ 3 milhões não pagam os 18% de icms. por isso muitas obras chegam às feiras vendidas, para obter o benefício. “entre 2012 e 2013, por conta da isenção do icms, o valor negociado dobrou de r$ 50 milhões para r$ 100 milhões”, diz fernanda feitosa, diretora da sp-arte. “esse valor é oficial e corresponde a boletos carimbados pela fazenda durante o evento. o valor negociado pela totalidade das galerias é estimado, uma vez que são vendas privadas às quais a feira não SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

o “atraso” também se expressa pela dificuldade de mensuração. grande parte das vendas ainda é informal. em março, a fundação europeia de belas artes (tefaf ) estimou em 455 milhões de euros o mercado de arte e antiguidade no brasil. esse número corresponderia a 1% do mercado global de arte, mas a validade da estimativa é posta em xeque (leia artigo de Ana Letícia Fialho nesta edição). a primeira pesquisa mais abrangente do mercado de arte primário no brasil tem apenas dois anos. essas galerias costumam cuidar da carreira do artista, por exemplo, zelando pela documentação ou coproduzindo obras. “o sistema das artes mudou muito e se profissionalizou”, diz alessandra d’aloia, a primeira presidente da associação brasileira de arte contemporânea (abact) e sócia da galeria fortes Vilaça. entre 44 galerias da abact pesquisadas este ano, 60% reportaram vendas ao exterior. para ilustrar a euforia, 81% registraram aumento no volume de negócios em 2012. entre as metas da entidade está baixar o icms de 18% para 3% ou 4%. “talvez haja cem galerias no mercado primário e 200 no universo secundário”, diz eliana finkelstein, a atual presidente. o mercado secundário, que inclui leilões e antiguidades, movimenta muito mais dinheiro. até


JaC lEirnEr artista

“Existe arte de qualidade extrema que não chega ao mercado. E arte de qualidade duvidável sendo vendida como joia rara”

51


C A PA

“não acho que o curador deva ficar indiferente, bem ao contrário!”, opina lisette lagnado, que foi curadora-geral da 27ª bienal de são paulo e é curadora do panorama do museu de arte moderna de são paulo deste ano. “o curador deve ficar bem atento, para não repetir os usual suspects (do mainstream) em sua lista. por isso a necessidade da pesquisa, não necessariamente para revelar nomes ‘novos’, mas para recuperar figuras que aguardam reconhecimento histórico”, diz lagnado.

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rEsPalDO PrOFissiOnal

JUlia sanDEr Colecionadora

“Colecionar é um vício, uma paixão, algo que me traz imensa felicidade”

SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

porque lida com artistas consagrados e mortos, em que a escassez de obras é muito mais controlada. grandes galerias internacionais, como a White cube, a pace e a gagosian, vendem em feiras no brasil. a White cube já abriu galeria em são paulo. outras também estudam abrir filial no país. o que a arte tem a ver com o mercado? “tudo ou nada”, responde Jac leirner. “existe arte de qualidade extrema que não chega ao mercado. existe também arte de qualidade duvidosa sendo vendida como se fosse joia rara”, avalia. antes de se tornar reconhecida internacionalmente, Jac “projetava em sonho a eventualidade de, um dia, talvez, quando bem velhinha, participar de uma bienal de Veneza”. o sonho se concretizou cedo, mas ela também amargou cinco anos sem galeria em são paulo, antes de ser reintroduzida ao mercado por maria baró. e como o curador se relaciona com o mercado?

“o curador é também um produtor de imagens, algo tão caro nesta era”, diz Júlia rebouças, do instituto inhotim, em brumadinho (mg). “é alguém que aglutina ideias, agencia tensões, lança teses, para usar termos da vez. ou é apenas um diluidor dessas imagens, tensões e teses, e aí voltamos ao curador-legitimador para um mercado-vendedor.” alguns compradores usam respaldo profissional de curador. “há várias frentes de trabalho curatorial e um deles pode ser formar coleções (privadas ou públicas)”, diz lisette lagnado. “é uma tarefa que requer talentos específicos que nem todo mundo tem: traçar um perfil para as aquisições, saber administrar um orçamento (o cliente sempre gosta de achar que fez um ‘bom negócio’), garimpar obras difíceis (raras) ou da melhor fase do artista.” entre as coleções que mantêm curadores está o inhotim, que aos poucos se transforma num dos maiores museus ao ar livre de arte contemporânea do mundo. na rota do turismo cultural também entram a artrio, o museu de arte do rio (mar) e as bienais de são paulo e do mercosul, em porto alegre. com os eventos, as festas, os ricos, os serviçais, o vinho branco, o espumante, os privilégios vip – como o convite para a festa particular da gagosian no fasano de ipanema, com show particular de bebel gilberto. os principais compradores de arte no brasil são colecionadores privados. prazer e impulso são palavras usadas para explicar aquisições. comprar “é um vício, é uma paixão, algo que traz


JaC lEirnEr

artista representada pelas JOsÉ OlYMPiO PErEira galerias Fortes Vilaça e White Colecionador Cube

”Compro impulsivamente “Existe arte de obras de artistas que qualidade extrema seleciono racionalmente” que não chega ao mercado. E existe também arte de qualidade duvidável sendo vendida como se fosse uma joia rara”

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nhoff. ele foi visto na última artrio selecionando obras e ciceroneando doadores. sua expectativa era ampliar o acervo do museu em 30 ou 40 obras naquela semana de setembro, incluindo doações de artistas solicitadas durante a feira, como de sergio Vega.

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ClEUsa GarFinkEl

HErMEtisMO DO MErCaDO

Doadora

“se você vai gastar r$ 100 mil numa obra para sua coleção, o que custa comprar uma de r$ 10 mil para o museu?”

Coordenação Naninha Borges Maquiagem: Suelen Johann e Agnes Mamede SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

imensa felicidade”, diz a colecionadora Julia sander. ela conta que algumas obras suas se valorizaram muito, enquanto outras, não. “mas as amo mesmo assim. sou da teoria never sell (nunca vender)”, diz. presidente do banco credit suisse no brasil, o colecionador José olympio pereira participa de dois organismos do moma de nova York: o conselho internacional e o latin american and caribbean art fund, que compra obras para a coleção. ele fala que coleciona porque lhe dá imenso prazer e que compra impulsivamente obras de artistas que seleciona racionalmente. “as crianças dos eUa e da europa vão a museus”, diz danilo santos de miranda, diretor do sesc-sp. “a educação leva a museus e lá eles aprendem a olhar, mas também a falar baixo, a andar manso. são valores que respeitam os locais das artes e acabam tendo lugar dentro das pessoas. teremos um mercado consolidado quando tivermos uma educação consistente neste país.” outro agente que valoriza a educação e a comunidade local é o diretor do mar, paulo herke-

“eu sempre digo: se você vai gastar r$ 100 mil numa obra para a sua coleção pessoal, o que custa comprar uma obra de r$ 10 mil para o museu?”, diz cleusa garfinkel. ela doa há seis ou sete anos. costuma doar para o mam-sp, a pinacoteca do estado de são paulo e para o moma de nova York, “quando algum artista brasileiro faz exposição por lá”. “a escolha tem de seguir a linha do museu, não a minha”, ressalta. sobre a coleção pessoal, diz: “sou completamente aloprada: eu gosto, eu compro”. arte é um ativo sobre o qual se especula como qualquer outro? “sim”, responde o dono do catalogodasartes.com.br, marcos Koenigkan. “notamos que muitas obras são ofertadas em leilões apenas para se tentar firmar um novo patamar de preço para aquele artista, onde o próprio comitente é o comprador final da obra. existem obras que são colocadas em leilões apenas para ser catalogadas ou certificadas como autênticas. tem o artista da moda, cuja galeria conta com uma bela assessoria de imprensa, cujos preços vão à estratosfera em determinado momento. quando saem da mídia, sua obra despenca. isso acontece principalmente na arte contemporânea. Vale lembrar que é muito usual no mercado de arte divulgar apenas notícias boas, os recordes alcançados. ninguém divulga informações negativas.” outro problema são as obras falsas. recentemente, um galerista de são paulo foi convidado a se retirar da abact e acabou por fechar as portas depois de ser acusado de vender múltiplos não autorizados de uma obra de sérgio camargo. quando desconfiam que o cliente é especulador, galeristas esnobam o comprador. também esnobam quando veem a possibilidade de vender para alguém mais qualificado, como um


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DanilO santOs DE MiranDa Diretor do sesc-sP

“ teremos um mercado consolidado quando tivermos uma educação consistente no País”

museu ou um colecionador famoso, que ajudam na reputação do artista. para driblar o hermetismo desse mercado, há certas alternativas. a casa da Xiclet, por exemplo, surgiu como “espaço de arte independente e informal, onde todos podiam expor, sem seleção, sem curadoria, sem jabá, sem juros, sem eixo, sem entrada e sem saída”, diz Xiclet. “a desvantagem é que todos têm de pagar por essa liberdade, transparência, acessibilidade e demais serviços, como espaço, divulgação, montagem/desmontagem, atendimento, iluminação, vendas e vernissage”, conta. diz a história que galileu galilei (1564-1642), depois de ter sido forçado pela inquisição a renunciar à tese de que a terra gira em torno do sol, murmurou a frase Eppur si muove (em italiano, “no entanto, ela se move”). a arte eppur si muove, poderiam dizer os artistas. Eppur si muove, independente da existência de galerias, feiras, museus, escolas, leilões, bienais, colecionadores, curadores, críticos, revistas… Colaboraram Luciana Pareja Norbiato e Paula Alzugaray.


Ent r E v i sta

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Mezzo Milanesa, Mezzo calabresa Luisa Strina conta como construiu uma das maiores e melhores galerias de arte contemporânea do Brasil, que completa 40 anos em 2014, e diz que o gosto no País ainda é muito conservador

M a r i o n S t r e c k e r E Pa u l a a l z u g a r ay F OtO s B o B W o l F e n S o n

Ela podEria sEr apEnas uma dondoca, como pEnsou cildo mEirElEs no dia Em quE a conhEcEu, Em 1976. cildo tomou um longuíssimo chá dE cadEira E até assistiu à moça tricotar, antEs dE sair frustrado da galEria abErta dois anos antEs na sobrEloja dE uma Esquina das ruas padrE joão manoEl E oscar frEirE, Em são paulo, onde antes havia sido ateliê do pintor luiz paulo baravelli. cildo não sabia, mas o tricô era uma válvula de escape de luisa strina, que temia ser sequestrada por ele. o dia estava agitado para ela, que acabou se esqueccendo do visitante que estava ali por recomendação do marchand carioca paulo bittencourt, interessado em expor em são paulo. cildo meireles é hoje um dos 40 artistas da galeria, assim como antoni muntadas, jorge macchi, olafur Eliasson e renata lucas, entre muitos outros. trabalham juntos há 32 anos. “com luisa nunca assinei documento. nossos acordos são sempre de boca, cumpridos rigorosamente”, elogia ele, que é um dos artistas mais reputados do país. quando cildo quer falar com ela, liga para a galeria e pergunta se luisa strina está “calabresa ou milanesa”, numa referência à origem italiana de seus pais. se a resposta for “calabresa”, ele deixa a conversa para depois. profissional intuitiva, tem fama de sangue-quente e não é raro que levante a voz. a idade, porém, parece temperar luisa strina. reconhecida como uma das mais importantes galeristas de arte contemporânea do país, está com a agenda repleta de viagens, que documenta pelo instagram, e prepara a programação dos 40 anos de atividade que completa no ano que vem. nesta entrevista, ela relembra erros e acertos em suas compras, conta que desistiu de ser artista porque mais copiava do que criava, que chegou a presentear amigos no natal com trabalhos de mira schendel antes de sua incrível valorização, e que, se fosse mais jovem, entraria no mercado de hong Kong. dona de uma coleção expressiva de cerca de mil obras – ela tem cerca de 40 trabalhos de cildo meireles, emprestados para uma exposição em itinerância internacional, e sete obras de mira schendel emprestadas para a individual da artista na tate modern –, luisa strina foi uma das principais agentes da pro-

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“Em 2008, quando tivemos a outra crise, alguns jornalistas diziam que seria o caos, que ninguém venderia mais nada. Mas o mercado estourou”

fissionalização e da internacionalização do mercado de arte e viu o cenário artístico brasileiro mudar radicalmente. as comemorações dos 40 anos da galeria começam em 17 de dezembro próximo, com a coletiva secret codes, com curadoria do espanhol agustin pérez rubio, e terminam em dezembro do ano que vem, com curadoria de sua sobrinha, fernanda arruda. Você queria ser artista, estudou na Fundação Armando Álvares Penteado e depois na Escola Brasil. Como descobriu que não seria uma artista? Não pensa em voltar a fazer arte? Eu mais copiava os outros do que fazia uma coisa pessoal. Eu fotografo, mas não faço arte. sou cúmplice dos artistas. faço um trabalho com o alexandre da cunha, dos bordados em sacas de café e arroz. juntos nós definimos o que será bordado, e eu bordo. nós assinamos juntos. Esse é um trabalho que questiona os nossos papéis e discute o mercado. o que eu sou? sou o vendedor, sou o artesão, sou o artista? Qual a sua parte na venda dessa obra? Eu ganho mais que ele! porque ganho como galerista e como artesã. Como você escolhe os artistas com os quais trabalha? hoje tenho 40 artistas, o que é uma loucura. todos têm de ter um viés conceitual. Você foi uma das primeiras pessoas no mercado de arte brasileiro a expor em feiras internacionais. Como foi? o thomas cohn já fazia. fui pela primeira vez a uma feira quando o galerista joão sattamini me chamou um dia, porque o ludwig estava no brasil e queria conversar com a gente. Ele contou a seguinte história: tinha ido a brasília falar com o presidente sarney, porque queria fazer um museu em brasília com arte brasileira. Ele queria comprar us$ 5 milhões em arte SELECT.ART.BR

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brasileira. ou seja, com esse dinheiro, em 1987, ele compraria toda a arte brasileira e mais alguma coisa. mas precisava de uma terra para fazer o museu. o museu deveria se chamar ludwig, que é o que ele faz no mundo inteiro. mas o sarney disse que aquilo seria uma invasão alemã. Ele ficou furioso, veio para cá e disse que queria comprar arte brasileira conosco, mas teríamos de ir para a feira de colônia. E nós fomos, em 1989. Eu, joão sattamini, thomas cohn, um pool de galerias brasileiras. Ele comprou uma coisa ou outra lá. naquela feira, apareceu a diretora da feira de basel e me convidou para ir no ano seguinte para a suíça. depois comecei a fazer feiras na américa latina: argentina, méxico (guadalajara). a feira de miami ainda não existia. A feira é fundamental para a galeria? para o faturamento não, mas sim para mostrar para curadores, galerias internacionais, museus. Em basel, demorou para eu começar a vender. Em 1989, o mercado de arte estava em sua maior alta. Em 1990, ele despencou. até 1993, em basel, ficávamos vendo futebol na televisão. nesse período não se vendia nada, nada, nada. o mercado só voltou a aquecer em 1995, 1996. E não caiu mais? E agora, o mercado dá sinais de estagnação? não, absolutamente. Em 2008, quando tivemos a outra crise, alguns jornalistas diziam que seria o caos, que ninguém venderia mais nada. mas o mercado estourou. com essa subida do dólar, obviamente o crescimento deu uma parada no brasil, mas continuamos vendendo. Em tempo de crise, a arte é um ativo. se os juros estão baixos, opta-se por outro investimento. Muitos clientes estão fora do Brasil? meus clientes maiores são estrangeiros. com a alta do dólar, a arte ficou cara para os brasileiros, porque os preços são fixados em dólar. mas para os estrangeiros nada mudou. O que move os novos colecionadores? com a explosão do mercado, todo mundo quer comprar um artista e torcer para ele virar uma adriana Varejão ou uma beatriz milhazes. mas eu sempre digo que o brasil esteve 50 anos atrasado. E continua. mas agora arte virou moda. os museus estão lotados. no domingo, você não consegue entrar na pinacoteca. houve um aumento expressivo do interesse por arte no brasil. isso é um ponto pacífico. Então como esse atraso se manifesta? aqui há um gosto ainda muito conservador. Eu faço uma exposição como a de Eduardo basualdo e vendo para fora. mas está melhorando. tenho poucos e ótimos colecionadores brasileiros. Alguns compradores reclamam que há galeristas arrogantes. Você escolhe comprador? lógico. se há um colecionador privado e um museu interessados


fim do dia, ele sentou na minha frente, pegou uma revista e ficou lendo. Eu pensei: qual é a desse cara? Ele vai querer me sequestrar. fiquei apavorada, mas foi só isso. peguei até o tricô, de tão nervosa que eu estava. quando foi dez para as oito ele perguntou: será que agora você pode ver meu trabalho? aí comecei a temer pela minha loucura: de ter esquecido dele e de quem ele era. mas aí eu já estava tão nervosa que fiquei incapacitada de qualquer coisa. foi um crescendo de ansiedade entre mim e ele. pedi que ele voltasse outro dia. sei que ele saiu dizendo que eu era louca. Por que internacionalizar a galeria é prioritário? porque o mercado é internacional.

pela mesma obra, eu vendo para o museu. é mais importante para o artista ficar dentro do museu, onde sua obra será mais vista. Ouvi de um galerista que para determinados compradores ele simplesmente não vende. Isso acontece com você? pode até acontecer, mas é muito raro. E por que acontece? porque ele vai colocar em leilão em seguida. Isso seria ruim? sim, claro. há galerias nos Eua que, ao comprar, você assina um papel se comprometendo a não colocar a obra em leilão por cinco anos. poder leiloar incentiva a especulação. tive um cliente que fez isso: vendeu no dia seguinte três vezes mais caro. nunca mais vendi para ele. Você se sente responsável pela carreira dos artistas? somos cúmplices do artista. o galerista é um estrategista, deve saber em que galeria vai colocar lá fora, quantas... Em geral, o que interessa é ter uma galeria nos Eua, uma na Europa e uma aqui. mas há artistas que se deslumbram e querem ter três na Europa. É verdade que na primeira vez que Cildo Meireles veio à sua galeria você desconfiou e chamou a polícia? que história absurda. quem inventou isso? É folclore? teve uma história parecida. o luiz Villares me ligou e disse: tem um artista jovem que eu quero que você conheça. aí chegou aquele cara barbudo, com uma mala desse tamanho e sentou. Eu estava trabalhando com alguém, pedi para ele esperar, mas depois me esqueci dele. Ele era supertímido, ficou lá. Eu fiquei o dia inteiro atendendo outras pessoas. no

Há espaço para galerias estrangeiras no Brasil? a White cube (galeria inglesa) está aí. acho uma bobagem, quem compra arte internacional viaja para as feiras. quase pensei no ano passado em abrir uma galeria em berlim, tentei até. mas estou velha para isso. não vou também para a feira de hong Kong, que acho que é um mercado que só vai começar a funcionar daqui a cinco ou dez anos, e é tarde para mim. Ser marchand é uma atividade lucrativa hoje? depende. não dou números. mas eu vivo disso. dá para viver bem. Eu também compro muita coisa. comprei muitas peças do cildo por us$ 5 mil e que estão asseguradas na exposição de madri por vários milhões. aliás, dois banqueiros brasileiros me falaram este mês que tiveram mais lucro com obras de arte do que com a atividade deles. E é verdade: nada dá tanto dinheiro quanto arte, se for bem escolhida. Qual a melhor compra que já fez? a compra que eu não fiz foi a caixa de viagem de duchamp, boîte-en-Valise, que custava us$ 3 mil e eu não comprei porque faltava uma pecinha... Já comprou obras falsas? já. comprei em uma feira no rio uma aquarela da maria helena da silva. mandei para o espólio da artista e a resposta foi assim: “ou nós rasgamos a obra e mandamos picadinha para você, ou nós vamos à corte”. Eu falei: “corta, corta!” Curiosamente, o desfecho das comemorações dos 40 anos da galeria é com pintura, mídia que você não costuma trabalhar. a fernanda (arruda) vai fazer uma exposição de pintura. não gosto de pintura. o que me dá prazer é uma exposição como essa (do conceitual basualdo). ter uma galeria tem de ser para valer. ousar. Ousar é a sua diversão? é o meu hobby.

Leia a íntegra desta entrevista em: bit.ly/16g0XE8

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C o m p o r ta m e n t o

F FOR FAKE Falso. Do latim FALSUS, “errado, incorreto, enganador”, particípio passado de FALLERE, “enganar, induzir a erro” (Nota da autora: esta definição pode ser falsa, bem como os dados e declarações reproduzidos no artigo ao lado)

Ga b r i e l a lo n G m a n SELECT.ART.BR

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Na página anterior, Projeto Tarsila, L.T., da série Ilustrações para Pau-Brasil (2012); acima, Projeto Tarsila, Bicho Antropofágico IV (2011), ambos de Gustavo von Ha

Surgida juntamente com o mercado de arte na Sua forma maiS rudimentar, a queStão da obra falSa versus obra original paira Sempre no ar (ou pendurada na parede!). gravitando entre conceitos igualmente complexos como “cópia”, “reprodução”, “simulação” ou “apropriação”, a falsificação permeia o dia a dia de qualquer envolvido com o meio artístico, do galerista ao curador; do produtor ao restaurador; do colecionador ao colecionado. num depoimento impressionante, o ex-direfoToS: CoRTESiA do ARTiSTA E dA gALERiA LEmE

tor do metropolitan museum ton Hoving estima que, aproximadamente, 40% do mercado de ponta seja formado por obras falsas (entrevista dada a don thompson no livro o tubarão de 12 milhões de dólares, da editora bei). Seu cálculo parte do exemplo de que existem, aproximadamente, 600 rembrandt expostos em grandes museus do mundo e outros 350 em coleções particulares. enquanto isso, estudiosos do pintor calculam que ele tenha criado algo como 320 quadros. a conta, é bem verdade, custa muito para fechar.


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Original versus falsO com a multiplicação de feiras, leilões e transações cada vez mais globalizadas, a arte contemporânea está longe de passar incólume. criador das valiosas e facilmente copiáveis Spot paintings (custam algo como uS$ 3,4 milhões cada uma), o icônico damien Hirst viu-se obrigado a anunciar um catálogo raisonée “definitivo”, em que agrupa as 1.365 Spot paintings “realmente existentes” – tentativa de acalmar os ânimos de um mercado inundado por telas com bolinhas supostamente saídas do ateliê verdadeiro. enquanto isso, um estudo recém-publicado pela universidade da califórnia calcula que em torno de 91% dos desenhos e esculturas de Henry moore vendidos via web não sejam originais. os casos interessantes se multiplicam aqui e acolá. em maio deste ano, o advogado carlos ely eluf descobriu que um portinari de sua coleção havia sido substituído por uma cópia, que passou mais de uma semana na parede até que sua filha notasse a troca. “eu teria passado anos sem perceber”, disse na ocasião. na mesma época, a falsificação de um certificado autorizando a produção de uma obra de Sergio camargo a partir de um molde (o molde verdadeiro; o certificado falso) levou ao súbito fechamento da até então celebrada galeria transversal. de rembrandt a Hirst, de portinari a camargo, nada parece escapar ao fantasma da falsificação e à questão subjacente à sua existência: por que um quadro vale milhões de reais, libras ou euros e sua cópia exata (ou mesmo um original não reconhecido/não autenticado) não vale nada? a história de falsificadores famosos (eu fui Vermeer, de frank Wynne, é uma das melhores) nos assusta e nos fascina e a literatura clássica – de dom quixote a tin tin; de Sherlock Holmes a balzac – falará em moedas falsas, estátuas falsas, pinturas falsas sem maiores embaraços conceituais. QuandO O Original é O falsO o mundo, no entanto, está longe de guiar-se pela pura dicotomia. Se entre o preto e o branco existe a massa cinzenta, entre o verdadeiro e o falso mora uma zona não menos nebulosa que confunde a vida e a arte. Herdeiros de grandes artistas, em especial os modernistas, mantêm institutos e fundações responsáveis pela autenticação de originais e proteção jurídica de direitos. Vai nesse sentido a criação, no ano passado, da international union of modern and contemporary artists (iumcm), que congrega, entre outros, a fundação giacometti e os herdeiSELECT.ART.BR

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De Rembrandt a Hirst, de Portinari a Camargo, nada parece escapar ao fantasma da falsificação e à questão: por que um quadro vale milhões de reais, libras ou euros e sua cópia exata não vale nada? À direita, Projeto Leonilson T.L. (2010), de Gustavo von Ha

ros de picasso dispostos a mobilizar organismos internacionais e jurídicos contra os piratas da arte. a fundação andy Warhol, por outro lado, dissolveu seu comitê de autenticação depois de perder uS$ 7 milhões numa batalha judicial contra um colecionador de londres. tal e qual as obras que verificam, tais organismos e fundações também não estão imunes a desvios de conduta. presidente do instituto modigliani por décadas, o francês christian parisot foi preso em janeiro, condenado por fraude e falsificação de obras do artista. o processo em curso há muitos anos tornou-o malvisto pelas grandes galerias e casas de leilão, o que não o impediu de assinar certificações e atuar até o fim como curador de museus pouco atentos – encarregou-se, por exemplo, da exposição de modigliani, em 2012, cercado de pom-


corpos “falsificados” via photoshop), nos cinemas (matrix, truman Show, o super-recente bling ring) e, como não podia deixar de ser, na obra de alguns dos mais talentosos artistas brasileiros. num episódio inesquecível de 2006, quase todos os jornais e sites culturais de fortaleza publicaram reportagens e entrevistas com o “ousado” e “genial” artista plástico japonês Souzousareta geijutsuka às vésperas de sua exposição no mac do centro dragão do mar de arte. quem foi à vernissage, no entanto, encontrou no lugar dele o paulistano Yuri firmeza, contando que havia inventado tudo – o artista, a exposição, as imagens de divulgação – num golpe de mágica em que discutia o sistema da arte e as forças simbólicas da mídia e do museu. logo depois da revelação, a colunista da Folha de s.Paulo mônica bergamo perguntou-lhe numa entrevista por telefone: “e como eu sei que você existe mesmo?”, ao que firmeza respondeu categórico: “não sabe”.

pa, marketing e incentivo fiscal. quando o falsificador e o autenticador são a mesma pessoa, é preciso, no mínimo, parar e pensar. QuandO O falsO é O Original um dos episódios mais emblemáticos na história do jornalismo, a invasão alienígena narrada ao vivo pela cbS (na verdade, uma leitura dramatizada de guerra dos mundos, feita por orson Welles) nos soa hoje precursora. graças à multiplicação e aceleração generalizada de informações, mídias, redes, imagens, edições e manipulações de toda espécie, os processos de separação entre o verdadeiro e o falso, o documental e a ficção tornaram-se, sim, mais complexos e miscigenados. o hiper-real está estampado nas revistas femininas (com foToS: CoRTESiA do ARTiSTA E dA gALERiA LEmE

tal cOmO um detetive gustavo von Ha especializou-se em ser copista de tarsila do amaral e leonilson: pediu autorização legal das famílias e passou longos períodos em arquivos, decifrando técnicas, tintas, texturas, caligrafias e tipos de papel, a fim de reproduzir determinadas imagens. tal como um detetive, consultou restauradores e falsificadores. “Se você parar para pensar, os dois (restauradores e falsificadores) têm um trabalho muito parecido”, sugeriu o artista à seLecT. expostas numa individual na galeria leme, em 2012, e no último mês na galeria Vermelho (dentro da coletiva Suspicious minds), as cópias impressionam por sua semelhança com os originais, não fosse um detalhe: as imagens aparecem invertidas em relação aos originais, num efeito especular. “É a minha marca”, diz Von Ha. “gosto da ideia de duplos, de ilusão, de alteração da realidade.” no que talvez seja a melhor reflexão sobre o universo da falsificação, orson Welles criou em seu Verdades e mentiras (f for fake, no original) um roteiro em que magia, ilusão, arte e falsificação perpassam todo o esquema narrativo. para que serve um olhar realista num mundo permeado pela ilusão, nos pergunta discretamente o cineasta (ele próprio definindo-se como um falsificador)? morto em 1985, ele não poderia prever a ansiedade com que aguardamos o nosso google glass, ansiando por olhos falsos para ver mais e além. a realidade já não é verdadeira o suficiente.

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CURADORIA

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dAquilo que não se vende Artistas tensionam as relações da cultura com o mercado, expondo os vícios dos mecanismos de financiamento, os fetiches midiáticos e as estratégias institucionais que permeiam o circuito da criação contemporânea Giselle BeiGuelman

Hans Haacke A Arte dos negócios É impossível falar da relação entre arte e instituições sem passar pela reflexão sobre os meandros que atravessam os patrocínios, as doações e o mecenato. Mais impossível que isso é discutir esse assunto sem se lembrar da obra de Hans Haacke, artista alemão radicado nos EUA. Seus projetos questionam as dimensões políticas e sociais da criação artística e trazem à tona esquemas de legitimação de imagem SELECT.ART.BR

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A instalação The Invisible Hand of the Market (2009), de Hans Haacke, é uma citação de Adam Smith e foi montada na individual do artista no Museo Centro de Arte Reina Sofia, em Madri, no ano passado 65

pública e correspondências entre especulações financeiras e imobiliárias envolvendo membros de boards de grandes museus. Em Helmsboro Country (1990), Haacke aludia diretamente ao senador e lobista da indústria de tabaco norte-americano, Jesse Helms, que lutava pelo fim das instituições públicas de fomento à produção artística e se posicionou pela censura de exposições feitas com esses recursos. Os cigarros gigantes de Helmsboro são todos embalados com frases da Constituição americana sobre liberdade de expressão. A obra chamava atenção também para o fato de que as empresas de cigarros estavam entre as maiores doadoras a museus, nos anos 1990, nos EUA. Em um texto que se tornou referência nos estudos críticos da arte contempoFOTO: hANS hAACkE, TOm pOwEL/ CORTESiA hANS hAACkE E pAULA COOpER gALLERy, NEw yORk

rânea, Museums: Managers of Consciousness, publicado no catálogo de sua exposição no New Museum, em Nova York (1986), ele discutia o impacto cultural da emergência de um novo funcionário do setor cultural: “os gerentes de arte”. São “treinados por escolas de prestígio, eles estão convencidos de que a arte pode e deve ser gerida como a produção e comercialização de outros bens”, escreveu Haacke. Sua obra The Invisible Hand of the Market (2009) completaria, com uma citação explícita ao teórico do liberalismo Adam Smith, essa discussão por meio de um pêndulo que acena aos visitantes, dentro de uma placa com estética publicitária, oscilando entre o invisível e o explícito que compõem o sistema da arte.


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LourivaL cuquinHa investimento AlucinAdo Outro artista que problematiza as nuances do mercado em diversas obras é o pernambucano Lourival Cuquinha. Ele destaca em sua obra os processos de construção de valores monetários no campo da arte. Em sua obra mais recente, Conversion x Machina Bolha Bank (2013), ele satiriza os procedimentos que dão estatuto de investimento às obras de arte, equiparando o mercado financeiro e o de arte. Para tanto, criou uma máquina que tem por base um aspirador de cédulas, no qual são depositados os investimentos na obra. Esse investimento dá direito à compra de ações com garantia de valorização em dez vezes, caso a obra seja comercializada. Todo investidor ganha também uma placa de madeira, assinada por Cuquinha, que funciona como documento para resgate. Quanto mais ações são vendidas, mais a obra é valorizada. Lançada na ArtRio, em setembro, a instalação tinha como preço inicial R$ 45 mil, valor calculado a partir do custo de produção da instalação (R$ 4,5 mil) aumentado dez vezes. A partir daí, dois caminhos de relação da obra com a feira eram possíveis. A instalação poderia ser adquirida em sua totalidade por seu custo inicial, ou os interessados em lucrar com a venda do trabalho poderiam adquirir ações que eram, ao mesmo tempo, pedaços do banco-bolha e apostas da sua comercialização futura. As ações custavam de R$ 50 a R$ 3 mil e compunham uma metáfora refinada das bolhas do mercado financeiro. Quanto mais se compravam ações, mais o preço da obra aumentava. Cada quantia investida no aspirador de dinheiro era automaticamente valorizada dez vezes, aumentando assim o valor do trabalho. A obra terminou a feira valendo R$ 245 mil. SELECT.ART.BR

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Conversion x Machina Bolha Bank (2013), obra mais recente de Lourival Cuquinha, baseia-se na compra de ações do trabalho

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FOTOS: CORTESiA LOURiVAL CUqUiNhA E BARó gALERiA


rosângeLa rennó o improvável vAlor dA Arte

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andrea Fraser

o ArtistA como objeto

Official Welcome (2001) é uma performance de Andrea Fraser que ironiza a banalidade dos discursos de agradecimento proferidos por apresentadores e agraciados em cerimônias de premiações artísticas. Nela a artista incorpora uma celebridade pós-feminista que, em um transe súbito, faz um strip-tease que termina com a artista de calcinha Gucci, sutiã e salto alto. No fim do “surto”, a personagem exclama: “Não sou uma pessoa hoje. Sou um objeto em uma obra de arte!” A performance é emblemática de uma forma de contestação cara a Fraser. A crítica do sistema de arte, a partir da desconstrução de seus meandros institucionais, que incluem também a objetificação do artista e sua transformação em assessório do valor de sua obra. Uma de suas ações mais famosas, a videoperformance Untitled (2003) leva esse raciocínio ao limite. Nela Fraser grava um encontro sexual com um colecionador que teria pago US$ 20 mil “não pelo sexo, mas pela obra de arte”. Cinco cópias em DVD foram produzidas do encontro. Uma é do colecionador que pré-comprou a obra da qual participou. Em 2012, a obra foi reapresentada na exposição Homo Economicus, em Londres e Berlim, no formato de still fotográficos. SELECT.ART.BR

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FOTOS: diVULgAçãO

Na Bienal de São Paulo de 2010, Rosângela Rennó expôs 73 peças adquiridas em mercados de pulga, com o detalhamento de sua procedência. Objetos usados, desprovidos do significado de seus lugares de origem, foram leiloados ao final do evento, batendo recordes de venda. Um livro posterior (2012) trazia todos os detalhes de cada lote, promovendo um estado de curto-circuito entre o valor emocional (de origem) das coisas e o que é validado pelo meio artístico. “Várias são as razões que levam os objetos ao abandono: o excesso de uso e desgaste, a obsolescência natural ou programada, um desaparecimento involuntário ou a simples perda de interesse do proprietário em possuí-lo”, comenta a artista. “Entretanto, o que os leva de volta ao mercado, por meio das feiras de artigos de segunda mão, é a certeza de que algum valor, mesmo que improvável, lhes possa ser atribuído, sempre.”

À esquerda, a videoperformance Untitled (2003), de Andrea Fraser, onde a artista aparece em encontro sexual com colecionador; à direita, objeto da série Menos-Valia (Leilão) (2010), de Rosângela Rennó


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FOTOS: CORTESiA ROS芒NgELA RENN贸 E gALERiA VERmELhO


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Bijari territórios tensos Entre 2004 e 2007, o coletivo Bijari colaborou com movimentos sociais por moradia na cidade de São Paulo, trabalhando com as comunidades que ocupam os edifícios abandonados no Centro da cidade. “Essa camada social resiste à periferização a todo custo, mesmo que isso signifique viver nas ruas. Por conta dessa pressão do poder público, esses cidadãos acabam se organizando em movimentos sociais que buscam solução para o problema de moradia”, explica o Bijari, que produziu uma série de estênceis, além de trabalhos de adaptação das instalações ocupadas, que questionavam o sistema de valoração e especulação do uso do solo no contexto da crise econô-

mica urbana. Na abertura do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), em março de 2013, projeto que se insere no grande plano de reurbanização da área portuária carioca, o Bijari, um dos coletivos convidados para a mostra inaugural, recolocou a velha questão, agora em clima de Copa do Mundo. Acompanhados de moradores resistentes à reintegração sem posse da Ocupação Prestes Maia (2007), em São Paulo, apresentaram-se com camisas que traziam a insígnia Gentrificado no peito, estampando a consciência das assimetrias que acompanham os processos de requalificação urbana. Os curadores Paulo Herkenhoff e Clarissa Diniz endossaram a ação.

Feita em São Paulo durante a Ocupação Prestes Maia (2007), a ação Gentrificado, do Bijari, foi reapresentada neste ano na inauguração do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), localizado no coração do projeto de reurbanização da área portuária do Rio. Nessa ocasião, os membros do coletivo, acompanhados de mais de 40 integrantes de movimentos sociais pela moradia, vestiram camisetas estampadas com a palavra Gentrificado SELECT.ART.BR

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Lucas BamBozzi ilusões perdidAs Fetiche absoluto no mundo contemporâneo e, particularmente, no da arte digital: o hi-tech, a coqueluche daquilo que é a mais nova novíssima novidade, a compulsão do consumo pelo que é “o último lançamento do último milionésimo de segundo”. É essa uma das questões que o brasileiro Lucas Bambozzi coloca em pauta em suas obras recentes. A instalação Das Coisas Quebradas (2012) põe em relevo o fluxo de comunicação que nos rodeia e seu potencial de transformação em dejetos. Máquina autônoma destrói celulares obsoletos, tendo como fonte (input) a intensidade dos campos eletromagnéticos no recinto expositivo. Esses campos são gerados pelos telefones móveis em operação no local. Quanto maior o número de aparelhos em atividade, mais aumenta a atividade da máquina. “É a simulação física de um mecanismo contínuo, que opera entre as redes e o mundo real, onde a autonomia eventualmente caduca, os princípios se mostram obsoletos e percebemos que estamos na Era da Internet das Coisas Quebradas”, diz Bambozzi. FOTOS: ANdERSON BARBOSA E CORTESiA dO ARTiSTA

A instalação Das Coisas Quebradas (2012), de Lucas Bambozzi, coloca em relevo o fluxo de comunicação que nos rodeia e seu potencial de transformação em dejetos


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ciLdo meireLes o custo dA liberdAde Uma das obras mais importantes de Cildo Meireles é Inserções em Circuitos Ideológicos, série iniciada em 1970, no momento mais cruel da ditadura militar brasileira. Nela ele se apropria de objetos cotidianos, modificando-os simbolicamente e recolocando-os no mercado, como garrafas de Coca-Cola que tinham a frase Yankees Go Home impressas. Com isso, Meireles deslocava criticamente a noção de espaço público, associando-o à circulação. A série retorna agora com a pergunta Onde Está o Amarildo?, estampada na cédula brasileira de menor valor. Pedreiro que desapareceu depois de ser interpelado pela Polícia Pacificadora carioca, recoloca a pergunta que lateja no conjunto da obra: onde está a esfera pública no Brasil? Quem tem direito a ela? A que classes está reservada a liberdade de ir e vir no espaço? SELECT.ART.BR

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FOTO: CORTESiA gALERiA LUiSA STRiNA


De manufatura industrial ou artesanal, estas cadeiras são modelos de brasilidade tão preciosos que se tornaram itens de coleção

Design

JOÃO PEDROSA

F OTO s PA U L O VA I N E R

A ideia do único continua a servir aos interesses de colecionadores e museus. Mas o fetichismo, para ser comercial, já não pode mais ser baseado na unicidade. Quando um artista, arquiteto ou designer incorpora novos materiais, uma cor ou novas ideias – formais ou conceituais – às grandes ideias do passado e produz uma tiragem pequena e exclusiva, ele ainda garante o valor e a raridade de uma obra, de uma peça ou de um móvel. SELECT.ART.BR

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Geraldo de Barros A cadeira GBO1 de Geraldo de Barros foi realizada originalmente na década de 1960 e agora é reeditada pela marca Dpot. Sua estrutura é de metal roliço. O assento e o encosto de palhinha, em molduras de madeira colocadas em ângulo, ajudam a ergonomia, e dão à peça o caráter de mobiliário brasileiro.

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lina Bo Bardi Esta cadeira desenhada por Lina Bo Bardi tem sua origem no mobiliário dobrável mineiro, pensado para as viagens a cavalo pelas serras nos séculos 18 e 19. Aqui o objeto perde as abas duplas e o caráter de banco e ganha um apelo atual, não só por sua geometria minimalista e funcionalismo, mas principalmente por seu caráter utilitário. A cadeira nunca foi realizada em tiragem comercial, permanecendo como um protótipo de brasilidade, tão caro à obra da genial autora.

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aurélio Martinez Flores A cadeira Interdesign de Aurélio Martinez Flores, o maior arquiteto vivo de São Paulo, é de um purismo exemplar. Criada nos anos 1970, era laqueada de uma só cor. Martinez Flores criou uma peça genial a cada década e, justificando seu design bissexto, cita Van der Rohe: “Não se cria uma cadeira em cada segunda-feira!”

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rodriGo alMeida O banco do designer Rodrigo Almeida foi criado para a marca de eletrodomésticos Electrolux, em 2012, com peças reutilizadas de sua produção industrial. Mais exatamente de tubos de filtros da marca. Seu caráter geométrico e minimalista remete ao look industrial que tem apelo global hoje. É mais uma peça de colecionador do que um utilitário, criada nitidamente com o mercado de design/arte em mente, sem tanta preocupação com a ergonomia.

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leo Capote A cadeirinha de Leo Capote, realizada com uma coleção de ferramentas de metal soldadas entre si, é uma peça realmente única dentro de sua obra, já que foram usadas ferramentas que pertenceram ao próprio designer.

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eduardo lonGo

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A cadeira do arquiteto Eduardo Longo, dos anos 1970, remete diretamente à sua arquitetura esférica e às famosas casas-bola que fizeram sua fama. Naquela época, o arquiteto, prevendo com 30 anos de antecedência uma tendência global, rompeu com os princípios da racionalidade cartesiana e criou obras de caráter biomórfico que, de certa forma, prescindiam de todo e qualquer tipo de mobiliário. Com exceção de cadeiras.

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Design

Claudia Moreira SalleS O banco Dominó, desenhado por Claudia Moreira Salles em 2013, também tem seu apelo dentro do vernáculo da geometria minimalista, como quase toda sua extensa e elegante obra. Pode ser feito tanto de madeira quanto de concreto, com os pés de metal, dividido por um cilindro de madeira que tem a dupla função de apoio de braço e encosto. Claudia Moreira Salles recria a modernidade dentro da tradição..

Coordenação naninha Borges agradeCimentos aos ColeCionadores Jeanete musatti Waldick Jatobá Paulo Vainer aurélio martinez Flores e às loJas galeria nacional Firma Casa dpot

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De Roman Polanski a Hiam Abass, passando por Nam June Paik, artistas de diferentes linguagens e perfis associam-se a marcas do luxo e do entretenimento e indicam que o branding pode virar um novo patrocínio cultural

Branding

Marcados pela arte Giselle BeiGuelman

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Resposta do maRketing ao contexto da pRolifeRação de pRodutos de consumo, cada vez mais similaRes, e abundância midiática, o bRanding foca não o pRoduto em si, mas a constRução de imagináRios poR meio de associações com estilos de vida. depois da moda, a arquitetura tornou-se um dos principais elementos e alvo de estratégias do branding, funcionando como a espacialização de uma experiência de marca. as lojas da apple no Rockefeller center, em nova York, e da prada, no soho, na mesma cidade, projetadas por Rem koolhaas, são obras marcantes desse fenômeno. mas será que ele poderia ser expandido para outras áreas da cultura, permitindo que a arte fosse encampada em um projeto de branding? patricia Weiss, ceo da Wanted, agência especializada em branding, onde é a principal estrategista das ações relacionadas a entretenimento e plataformas transmídia, acredita que isso é possível, sim. ela afirma que estamos vivendo em um mundo de mercantilização da cultura tal qual o pensador guy debord havia preconizado em a sociedade do espetáculo (1967). ele é integralmente mediado por imagens e nele “o parecer ser vale mais do que ser, e o parecer ter, também”. mas o que vivemos hoje, assinala Weiss, é uma versão atualizada desse fato: “É espetáculo também, porque tudo o que antes era vivido di-


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FoToS: DIvuLGAÇão


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retamente pelas pessoas tornou-se, hoje, uma espécie de representação, diz à seLecT. isso faz com que a capacidade de conquista das marcas se transforme em uma batalha diária pela subjetividade e desafia os estrategistas de marca a “estabelecer um território conceitual único e diferenciado”, e é aí que se estabelece a ponte do branding com a arte. “não há como considerar mais a gestão do significado da marca de seu ecossistema vital, seus valores, suas iniciativas e formas de se relacionar com o mundo, sem contemplar uma forte participação na indústria cultural e na interseção dos territórios como as artes, especialmente na suas vertentes mais pop”, diz Weiss. marcas como bmW, nike, Heineken e absolut entenderam bem esse recado. basta lembrar as campanhas mundiais da vodca sueca com edições especiais do produto feitas por artistas e o recente espaço de experiência multimidiático absolut inn, inaugurado em são paulo. “esse é o nosso contemporâneo”, diz ela. “um tempo que veio para ficar e no qual as palavras envolvimento e engajamento substituem as palavras interrupção e intrusão.” Publicidade como entretenimento esse não é um caso isolado. entre outros exemplos, ela cita um curta futurista dirigido pelo cineasta Wong kar-Wai (um beijo Roubado e amor à flor da pele) para a philips, em 2007, por SELECT.ART.BR

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Depois da moda, a arquitetura e o cinema tornaram-se alvo de estratégias de branding. Agora é a vez da arte ocasião do lançamento de uma nova linha de tevês, na internet, e outro dirigido por martin scorsese para o lançamento de uma edição especial da cava freixenet. Recorda, ainda, de uma série de curtas para a internet da bmW, em 2001, para lançar a série x5, com a participação da pop star madonna e do ator inglês clive owen (the Hire). nesse conjunto, destaque especial para o projeto desenvolvido pela nike durante a artRio 2013, a exposição de arte digital natureza amplificada. Reuniu os brasileiros gisela motta e leandro lima, universal everything (inglaterra) e a dupla Quayola+sinigaglia (itália), em um armazém no píer mauá, para marcar o lançamento de seu novo tênis, explorando os conceitos da hibridação entre arte, ciência, flexibilidade e liberdade. campanhas mais recentes tiveram participação nacional. the beauty inside, um projeto trans-

Na página anterior e acima, frames do filme Le Donne della Vucciria, da diretora palestina Hiam Abass, realizado para a griffe Miu Miu e lançado no último Festival de Veneza


mídia que tinha a intel e a toshiba representadas na estrutura da ficção e teve no comando criativo um sócio brasileiro, pJ pereira. o projeto é um social film que envolve várias formas de participação do público via redes sociais em um romance que conta a história de alex, um rapaz que muda de corpo todos os dias até que se apaixona e passa a gravar diariamente suas várias versões em um computador. para Weiss, esse projeto “rompeu, como nenhum outro, as fronteiras da publicidade e do entretenimento. até o prêmio emmy ganhou.” entre os genuinamente nacionais, Weiss cita o lançamento do longa-metragem astro, uma fábula urbana em um Rio de Janeiro mágico, dirigido pela cineasta brasileira paula trabulsi. “a narrativa foi expandida em várias ações, como instalações multimídia, uma edição limitada desenhada pela osklen da camiseta usada pela astro, menu da chef vivi inspirado no frio da suécia e no calor do Rio e carros fiat 500, apropriados por artistas que foram usados como ‘personagens’ no filme. Resultado: em um mês de ações integradas, expandimos a conversa para mais de 500 mil pessoas, que foram conectadas com o universo da trama”, conta Weiss. a proliferação de ações nessa área e o sucesso de público e mídia que têm, além da gama de linguagens e perfis de artistas que envolvem – de combativos diretores, como polanski, que dirigiu um curta para a miu miu, a profissionais de renome no meio das artes visuais, como nam June paik, que desenhou a garrafa da absolut no ano 2000 –, abrem a possibilidade de pensar se o branding poderia vir a constituir-se em um novo modelo de patrocínio. a esse respeito, conversamos com Hiam abass, atriz e diretora palestina, internacionalmente conhecida pelos trabalhos em paradise now (de Hanni abu assad, 2005) e free zone (amos gitai, 2005). ela dirigiu para a miu miu o novo episódio da série Women’s tales, le donne della vucciria, que se passa em palermo e foi lançado no último festival de veneza. para esse projeto, a miu miu (leia-se prada), convida diretoras importantes para criar histórias, depois disponibilizadas na internet, sobre o universo feminino. FoToS: DIvuLGAÇão / EITAn RIkLIS. An IFC FILmS RELEASE

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Fala Hiam aBass

Você é conhecida pelo seu trabalho com diretores do Oriente Médio comprometidos com a cena ativista e pacifista. Como relaciona seus projetos passados com esse pedido da Miu Miu? Eu não comparo os trabalhos. Moro na França, longe da maioria desses diretores com quem trabalhei e dos papéis que interpretei. Desta vez, trabalhei com um tema com o qual pude me divertir, me libertar do engajamento, e realmente fazer um filme forte, cheio de vida, cheio de música, cheio de esperança. Sou uma pessoa alegre, não sou uma pessoa trágica, que dramatiza tudo, então achei que seria uma ótima oportunidade para fazer algo diferente e tratar de outro assunto, em que minhas raízes não precisam aparecer. É como um sonho. Você diria que o branding está suprimindo o modo antigo de patrocínio para a produção cultural? Sim, está. No caso dessa série, acho que o objetivo é, basicamente, ajudar mulheres a se expressarem, pois os filmes trazem mulheres na direção. Outra coisa é que esses filmes são uma ótima oportunidade, pois a marca proporciona um budget e a garantia de que será exibido, estará acessível para um grande número de pessoas. Acho que essas duas coisas são iniciativas admiráveis da Miu Miu: disponibilizar dinheiro para encorajar mulheres a fazer filmes e torná-los acessíveis a todos. Dessa maneira, não existe o processo de enviar sua história a alguém, que vai estudar o mercado para poder produzi-la e distribuí-la. É um jeito muito fácil de fazer com que a voz das mulheres seja ouvida por um grande número de pessoas. Você teve total liberdade para filmar qualquer coisa que desejasse? Total. A única condição do filme era que eu trouxesse a coleção. Eu poderia usar de um a cem vestidos, mas teria de usar alguma coisa da nova coleção. E o diálogo deveria ser em inglês, não em qualquer outra língua, então optei por não ter diálogos, preferi um ambiente de festa e pensei que a música seria uma parte importante. E minha ideia, desde o começo, foi fazer um filme que levasse a Miu Miu para as ruas e a aproximasse das pessoas. Que fosse vestida por mulheres normais em um lugar popular com música popular. Leia a íntegra desta entrevista em: bit.ly/156 RDmK


A rt e B rAs i l e i rA i n t e r n Ac i o n A l

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AgendA globAl Prestígio é ter a produção incorporada na órbita da arte mundial Juliana Cunha lima

A Arte contemporâneA brAsileirA e A suA pArticulAr constelAção são revelAdorAs de um movimento de projeção internAcionAl sem precedentes. A visibilidAde dA produção ArtísticA do pAís cresceu muito e se reflete mundo AforA em eventos de grAnde, médio e pequeno porte. exemplos hoje não faltam. vão desde exposições individuais organizadas pelo museum of modern Art de nova York (momA) e pela tate modern de londres, duas das maiores instâncias de consagração da arte contemporânea do mundo, até coletivas paralelas à feira do livro de frankfurt, na Alemanha, como as mostras brazil am main, na galeria rothamel, e brasiliana, no schirn Kunsthalle. em 2011, o momA organizou uma exposição individual de carlito carvalhosa, artista brasileiro bem-sucedido, porém, até então pouco conhecido no sistema internacional. para 2014, a instituição prepara uma exposição de lygia clark, uma das artistas mais importantes do país, consagrada expoente do neoconcretismo. já a tate modern, ao longo de 15 anos, adquiriu 30 obras de artistas brasileiros para o seu acervo e realizou exposições de Hélio oiticica e cildo meireles. em cartaz até 19 de janeiro, o museu apresenta o trabalho complexo e sutil de mira schendel, artista suíça radicada no brasil, contemporânea do grupo neoconcreto. A escolha de schendel justifica-se por muitas razões. “em primeiro lugar, pela natureza extraordinária de suas obras”, diz tanya barSELECT.ART.BR

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son, curadora da tate modern, em entrevista à seLecT. “outra coisa é mostrar artistas femininas de importância histórica, cuja obras não são conhecidas em profundidade no plano internacional. temos também por objetivo expor em nosso programa, de maneira mais proeminente, artistas brasileiros e da América latina, e, por fim, a tate tem uma meta mais ampla, que é mostrar como alguns artistas desafiaram radicalmente a linguagem do modernismo.” “legitimaçÃo” internacional A atração e o reconhecimento de galerias, curadores, críticos e instituições de fora por artistas e obras brasileiros são indicadores de que o circuito mundial de arte se “internacionalizou”. A projeção do brasil está inserida dentro de um movimento mais amplo de globalização. para o país ter prestígio cultural, ele deve fazer parte de uma narrativa internacional e ter sua produção incorporada na órbita da arte mundial. “os trabalhos de carlito carvalhosa, lygia clark e mira schendel não foram escolhidos pelas instituições para representar o brasil, mas por sua força individual e amplitude de sua poética”, opina Alessandra d’Aloia, galerista da fortes vilaça. “os artistas não precisam carregar a bandeira do país, como os atletas nas olimpíadas. A recepção internacional desses trabalhos passa, certamente, pelo fato de serem artistas brasileiros, mas isso não é o assunto das exposições. essa é justamente a mudança que deve ser celebrada, o fato de que esses artistas são tratados como expoen-


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0bra de Mira Schendell Sem Título (Disco), de 1972, em exibição na individual da artista na Tate Modern, em Londres, até 19 de janeiro de 2104 FoTo: miRA SChEdELL - CoRTESiA AmERiCAn Fund FoR TATE gALLERy 2007, miRA SChEndELL ESTATE


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“Nenhum artista quer chegar em um lugar e ficar parado” diz o artista Carlito Carvalhosa

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FoTo: jEFFREy gRAy BRAndSTEd


tes da arte contemporânea, de forma global.” A “internacionalização” mobiliza uma nova apreensão das narrativas da arte, no que diz respeito aos polos de consagração. A história cultural de outras realidades, como oriente médio, Ásia e América latina, ganhou notoriedade diante do “discurso oficial” dos centros. “os grandes museus internacionais, as grandes cabeças que pensam a arte entenderam que não podiam mais contar a sua história a partir de nova York. e começaram a pesquisar outras histórias paralelas de arte, a estudar o mundo inteiro”, diz o galerista daniel roesler, que representa o artista carlito carvalhosa em são paulo. A ruptura operada merece atenção. trata-se de uma mudança de paradigma na maneira de contar a história da arte e de valorizar e julgar artistas e obras. diante dessa perspectiva, instituições revolucionaram o seu sistema e passaram a elaborar programas, montar acervos, realizar exposições e investir em pesquisas voltadas para o interesse dessas outras realidades e de suas “histórias da arte paralelas”. para a curadora Kiki mazzucchelli, residente em londres, o caso brasileiro é, para instâncias de consagração como momA e tate, “uma oportunidade de adquirir obras significativas para formar um acervo internacional de qualidade. essas instituições apostam muito nisso para refletir com as suas coleções essa internacionalização do meio”. é nesse sentido que o brasil, entre outros países, passou da condição de nação periférica à de cosmo autêntico e legitimador.

Sum of Days, de Carlito Carvalhosa, é uma instalação sonora e participativa, concebida para o Atrium do MoMA-NY, onde foi apresentada entre agosto e novembro de 2011

História quase desconHecida A proeminência da arte brasileira no cenário internacional teve como marco, para tanya barson, a 24a bienal de são paulo, em 1998. A temática da antropofagia e do canibalismo foi uma escolha consciente do curador paulo Herkenhoff, a fim de posicionar a produção brasileira em uma narrativa hegemônica da arte e buscar dar à nossa história outra perspectiva. considerada um divisor de águas, aquela que ficou conhecida como a “bienal da Antropofagia” deu-se junto a um momento em que a arte contemporânea se fortalecia no mundo. o processo culminou, ainda de acordo com barson, em uma mudança

dramática no que diz respeito ao interesse e à atenção despendidos para a produção brasileira. no entanto, a curadora da tate aponta que “o brasil é também detentor de uma história longa e complexa no século 20 que necessita ser mais conhecida. e é nesse contexto que devemos situar mira schendel e a exposição que a tate organiza com a pinacoteca de são paulo”. o impacto da bienal de 1998 e essa afirmação são reveladores de um dado importante: a história cultural do brasil é bem menos conhecida do que imaginamos. “muita calma nessa hora, as pessoas de fora sabem muito pouco sobre a nossa história”, afirma monica esmanhotto, gerente do programa de promoção internacional da arte contemporânea brasileira da Abact/Apex. mas essa obscuridade acaba jogando a favor. A história da arte brasileira é algo que desperta ainda curiosidade, que estimula a investigação para ser desvendada, na medida em que não foi examinada no conjunto de seus aspectos, pelos centros mundiais de consagração. A individual de carlito carvalhosa no momA, em 2011, é um exemplo dessa oxigenação da historia. o artista foi o primeiro brasileiro a expor no espaço do átrio do museu e, com isso, entrou para o hall de consagração da arte contemporânea. “o momA é uma instituição incrível, um símbolo muito forte do que é a arte contemporânea”, diz carvalhosa à seLecT. “eles têm aquela coleção fantástica, mas não estão fechados no seu acervo. pelo contrário, o acervo é uma inspiração para continuarem procurando.” embora rejeite o termo “consagração”, ele admite que a experiência transformou sua carreira. Afinal, como consequência natural da visibilidade alcançada no momA, abriram-se portas importantes. em março, por exemplo, ele expôs na sonnabend gallery de nova York ao lado de jeff Koons. “foi espetacular”, diz ele sobre o momA. “foi a exposição mais visitada e aquela coisa toda. mudou minha carreira, porque você alcança uma visibilidade bem maior para mostrar o seu trabalho. depois do momA tem outra, e mais outra. tem a vida inteira. nenhum artista quer chegar em um lugar e ficar parado.”

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Econotopias para sobrEvivEr dE artE

Do brasileiro Fora do Eixo a grandes nomes do mercado internacional de arte, como Marina Abramović, criativos do mundo todo aderem aos novos formatos de produção, circulação e consumo cultural que se abrem a partir da internet NiNa Gazire

O FOra dO EixO, uma rEdE dE rEdEs dE FOmEntO à cultura autOs-sustEntávEl, EstEvE Em pauta na mídia naciOnal E intErnaciOnal dEsdE as maniFEstaçõEs quE tOmaram as ruas dE várias cidadEs brasilEiras Em junhO E julhO. Em

atividade há cerca de sete anos, tornou-se o centro de um verdadeiro Fla-Flu da cultura, depois da participação de seu líder, pablo capilé, no programa roda viva, da tv cultura, em agosto. depois de um post incendiário da cineasta beatriz seigner, no Facebook, com denúncias sobre desvio de recursos públicos e de exploração de artistas, seguiram-se vários outros, com denúncias de todos os tipos e defesas, não menos contundentes de intelectuais e ativistas importantes. O tom de pró esvaziou o debate acerca de questões importantes e urgentes. as possibilidades e problemas de operacionalizar a economia da cultura fora do “cercado” corporativo, como fazer produção artística no brasil sem depender do governo e, acima de tudo, como sobreviver sendo artista em uma economia em desenvolvimento. Experiências semelhantes ao FdE podem ser constatadas no mundo todo e apontam para modelos alternativos de sobrevivência em diversos setores da cultura. nos Estados unidos, as arti-

FoToS: CoRTESiA oMA

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Acima, performance da companhia norte-americana Equus, que integra terapia, dança e hipismo. Abaixo, evento na Casa Fora do Eixo em São Paulo. Na página seguinte, jantar para captação de recursos do InCUBATE, de Chicago

“A barganha é um postulado ético/estético. Quando você troca um serviço por outro, vai trabalhar diretamente sua melhor habilidade para receber algo de que realmente está precisando para concluir um projeto”, diz Woolard, da Ourgoods SELECT.ART.BR

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culações reagem aos cortes nos investimentos públicos na cultura. O national Endownment for the arts (nEa), que funciona como uma espécie de agência de cultura governamental, sofreu, em 2011, cortes de mais de 11% no seu orçamento de us$ 167 milhões. neste ano, o congresso propôs diminuir mais us$ 71 milhões de sua verba para 2014. “nós ainda precisamos do governo para distribuir dinheiro para a arte, serviços e educação. Enquanto protestamos pelo direito a essa ajuda que vem declinando, precisamos encontrar outras maneiras de sustentarmos uns aos outros. Em 2008, uma pesquisa do nEa mostrou que cerca de 2 milhões de pessoas se declaram artistas, média bem maior do que profissionais que se declararam médicos ou policiais”, explica caroline Woolard, uma das fundadoras da plataforma online Ourgoods.org e da trade school, em entrevista à seLecT. Ourgoods.org é uma rede social para trocas de serviços voltados para a arte e existe desde 2009. para participar, basta cadastrar-se a partir de duas opções “needs” (necessidades) e “have” (habilidades). por meio da análise do perfil dos outros cadastrados, pode-se negociar a troca de serviços, diretamente, sem a necessidade de venda ou recebimento de salário. É possível trocar, por exemplo, serviços de lapidação de pedras preciosas por obras de arte. atualmente, a rede conta com 4 mil perfis cadastrados, sendo 2 mil ativos. Projetos não convencionais já na trade school, também capitaneada por Woolard, professores, ou qualquer interessado em ensinar alguma coisa, combinam com os alunos os acordos de troca, sendo proibidas as transações financeiras. a trade school começou baseada em nova York e hoje funciona como uma escola nômade que já atuou em mais de 40 cidades do mundo, incluindo o rio de janeiro. “a barganha é um postulado ético/estético para nós. quando você troca um serviço por outro, você se sente bem, pois vai trabalhar diretamente sua melhor habilidade para receber algo de que realmente está precisando para concluir um projeto”, diz Woolard. the soup network, outro projeto norte-americano, também usa a internet como mecanismo de ação, mas nesse caso o objetivo é aproximar coletivos de artistas, curadores e especialistas, a fim de promover refeições comunitárias, que financiam projetos artísticos. a tática tornou-se comum nos Eua e é replicada, por exemplo, pelo incubatE, um grupo de artistas de chicago, e o


dez anos tentou conciliar modelos tradicionais de financiamento aos modelos alternativos. “nós nos inscrevemos em editais de instituições e muitas vezes recebemos financiamento, mas nunca é suficiente. temos de buscar outras estratégias, sempre”, diz a coreógrafa e idealizadora joanna mendl shaw. Ela criou uma companhia não muito convencional, pois mescla terapia e dança com a participação de cavalos. a ideia parece inusitada e seria inviável: se manter uma companhia de dança não é coisa barata, o que dizer de uma trupe com cavalos? para realizar os trabalhos do the Equus projects, joanna conta com uma rede de colaboradores espalhados pelos Eua, denominada hub sites, composta de criadores e treinadores. Em troca, ela oferece seu método de treinamento, não só de bailarinos, mas também de amazonas, cavaleiros e pessoas com problemas físicos.

F.E.a.s.t. (Funding Emerging art with sustainable tacts), de nova York, que por meio de editais abertos selecionam projetos artísticos que serão financiados por meio de jantares coletivos. “pessoas de diferentes lugares aparecem para nossas refeições e se sentem bem em participar, porque sabem que não estão apenas comprando uma refeição, estão fazendo algo maior. além disso, os jantares colocam pessoas de diferentes ramos da cultura em contato. muitos participam para fazer networking”, diz à seLecT abigail satinsky, uma das diretoras do incubatE. Encontrar o lugar do artista e pequeno empreendedor cultural na nova economia é um desafio crescente e alguns criam modelos particulares e mais independentes de atuação. the Equus projects, por exemplo, uma companhia de dança sediada em nova York, nos últimos FoToS: CoRTESiA doS CoLETivoS

´ Marina abraMovic O crowdfunding – sistema de financiamento coletivo na internet, em que os fundos são captados por meio de doações de pessoas que se interessam pelos projetos – é também alternativa para artistas que buscam financiamento longe dos editais. até mesmo artistas de grande porte, como marina abramović, buscam em uma das plataformas mais importantes do gênero, a kickstarter, recursos para a viabilização de projetos. O marina abramović institute, que funcionará como uma escola para o método de aprendizado sensorial criado pela artista, tem como meta recolher us$ 150 milhões por meio de doações anônimas. apesar de ter o dinheiro como motor, o crowdfunding oferece contrapartidas ao doador, como vantagens de acesso ao produto ou resultado, quando as metas são alcançadas e os projetos concluídos. no brasil, caso recente de sucesso é a hq shogum dos mortos, do artista mineiro daniel Werneck. cadastrado no site brasileiro catarse, semelhante à kickstarter, o projeto não só alcançou a meta inicial de cerca de r$ 9 mil em apenas dois dias, como também bateu recordes de arrecadação do próprio site, captando cerca de r$ 30 mil, ou mais de 330% do que a meta estabelecia. “Eu queria fazer um quadrinho que fosse totalmente independente. isso quer dizer que não poderia ter nem editora nem lei de incentivo. por isso decidi arriscar o crowdfunding”, disse Werneck à seLecT. O resultado será lançado em novembro deste ano, no Festival internacional de quadrinhos de belo horizonte.

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PA Ms A C i rNCouri A to

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HERÓIS DA RESISTÊNCIA SELECT.ART.BR

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Com formas criativas de gestão, espaços independentes de arte se profissionalizam e se multiplicam L u c i a n a Pa r e j a n o r b i at o

Na foto maior, performance na Casa Tomada de integrante do programa Residência Ateliê Aberto; no alto, à dir., intervenção no Phosphorus, localizado em um casarão histórico do Centro

Nas frestas do mercado formal de arte, uma galera jovem, cheia de ideias e de voNtade de experimeNtar, caNsou de ficar de fora do graNde baile dos museus e das galerias e está colocaNdo em prática Novos modelos e maNeiras de peNsar. Num movimento que tem seus primeiros antecedentes há cerca de 20 anos, os espaços independentes crescem e aparecem em várias cidades brasileiras. as duas máximas gerais são a busca por novas formas do fazer artístico e a batalha cotidiana pela sobrevivência. se o circuito tradicional caminha com um pé atado às demandas comerciais, esses núcleos tentam encontrar o equilíbrio entre a liberdade de premissas e a articulação de parcerias. atualmente, ganham representatividade, aumentam em número e se profissionalizam, cada um à sua maneira, produzindo formas criativas de gestão. FoToS: DIvuLGAÇÃo


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Dois pioneiros: Torreão e ATeliê AberTo Na ativa desde 1997, o ateliê aberto, de campinas, é um dos precursores desse modelo antimodelo. teve como referência outro projeto fundamental, o torreão, que funcionou em porto alegre entre 1993 e 2009. sob o comando dos artistas elida tessler e jailton moreira, o torreão abrigava projetos de site specific, desenvolvia as atividades de ateliê, escola e centro de estudos. pode-se dizer que foi a pedra fundamental de todos os espaços independentes que surgiriam no brasil depois. seu fechamento deu-se porque a torre que ocupava foi deixada pelos proprietários em herança para uma instituição religiosa. já o ateliê aberto migrou duas vezes. o endereço atual, no cambuí, não tem o ônus do aluguel. a atual sede foi adquirida por samantha moreira e a sócia maíra costa endo, as quais, em 2010, puseram a mão no bolso para a compra do imóvel, sem ajuda de patrocinadores ou dinheiro do ateliê. com isso, não só as contas melhoraram: a grade de programação pôde ser definida com regularidade e surgiu o programa de residência. “a cada seis meses nos reunimos para discutir novas soluções, para ver o que está funcionando bem e quais podem ser as alternativas para custear os nossos projetos”, explica endo. dessas conversas surgiram a colocação do ateliê aberto como produtora e montadora de exposições de terceiros, SELECT.ART.BR

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como, por exemplo, o centro cultural banco do brasil, e o desenvolvimento remunerado de projetos externos para a inscrição em editais e leis de fomento. ter uma gestora entre os sócios trouxe o aperfeiçoamento do processo de profissionalização, que começou há cerca de cinco anos, com a abertura de empresa. “É um desafio pagar todos os impostos corretamente”, diz endo. este é o primeiro ano em que o espaço conseguiu custear toda a sua programação por meio de edital da funarte, órgão ligado ao ministério da cultura, e de captação pelo proac (programa da secretaria de estado da cultura de são paulo CAsA TomADA: ConTAminAção da experiência do ateliê aberto é possível extrair um fio condutor entre os independentes: a transitoriedade de integrantes e as mudanças na gestão ao longo do percurso; a busca por um espaço de produção e/ou de exibição livre de amarras a modelos estanques; a constante procura por ações que custeiem os projetos sem condicionar as premissas conceituais. Neles, primeiro vem a ideia, depois se busca a forma de custeá-la. “tem gente que começa com mil patrocinadores, que começa com o conceito; nós começamos com o espaço”, conta tainá azeredo, fundadora e atual gestora da casa tomada, em são paulo. o espaço deve à casa em que está localizado sua

Fernanda Brenner (segunda da esq. para a dir.) e parceiras no Pivô, localizado no Edifício Copan


Mudança de integrantes, busca pela produção livre de modelos e luta constante para se custear são pontos em comum entre os alternativos existência e resistência. “Nós só existimos porque temos esse lugar, e assim conseguimos bancar as despesas. sem ele, nem teríamos começado.” É emprestado pela arquiteta que o criou, com a condição de ser conservado e de ter as contas pagas. o carro-chefe da agenda da casa tomada ainda é a residência ateliê aberto (homônima ao organismo de campinas por puro acaso, pois azeredo não os conhecia à época da fundação, em 2009), cuja tônica é abrigar a produção multidisciplinar de artistas e pesquisadores de meios de expressão distintos, como visuais, arquitetura, moda, cinema e música. lá, eles produzem lado a lado trabalhos que podem se “contaminar” entre si, resultando em obras híbridas e experimentais, sem a obrigação de atenderem a uma forma previamente concebida, embora não fiquem alojados no local. o resultado é sempre uma exposição cujas premissas e formato serão desenvolvidos ao longo do processo. parceiros e apoiadores são a tábua de salvação, assim como o programa amigos da casa, inspirado no modelo do clube de colecionadores do mam, em que o ingressante paga um determinado valor ao ano, de r$ 150 a r$ 3 mil, e leva uma obra de tiragem que varia de acordo com o preço. se completasse os 360 associados previstos, o recurso pagaria todas as despesas anuais. “No ano passado, conseguimos 50 amigos, o que já ajudou muito”, diz. pivô: um AmbienTe De liberDADe a ocupação de um local cedido em comodato também motivou a criação do pivô, que nasceu em 2012 como uma associação cultural de arte e pesquisa. desde então, funciona como residência de artistas e plataforma de exibições. mas as intenções da diretora-fundadora fernanda brenner e seus associados vai muito além disso, pois FoToS: MoA SITIBALDI / DIvuLGAÇÃo

se propõe a criar e ampliar, a cada novo projeto implantado, uma rede de profissionais e atividades interconectadas. daí a escolha do título pivô para nomear um lugar flexível e intermediário entre campos. a aproximação entre arte, urbanismo e arquitetura é um dos focos mais intensamente explorados até aqui. Não poderia ser diferente. o pivô está instalado em três extraordinários andares de um cartão-postal de são paulo, o edifício copan. o espaço – ainda levantando fundos para reforma – ficou abandonado durante 20 anos. hoje, sua ocupação por um projeto de intercâmbio artístico coincide com um movimento de recuperação de espaços de convivência do centro de são paulo. “existe uma demanda desse tipo de ambiente na capital e temos de estar conectadas com processos de urbanização que estão acontecendo na cidade”, diz brenner, que teve entre suas fontes de inspiração o projeto original do ps1, de Nova York, antes de ser incorporado pelo moma. modos de financiamento são diversos e incluem parcerias com instituições e galerias – como a

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mendes Wood durante um ano –, programas especiais e leilões, como o que ocorreu em 2012, a partir da doação de obras de 56 artistas nacionais e internacionais. phosphorus: lAmpejos CriATivos situado no coração histórico da capital paulista, o phosphorus ocupa, desde o fim de 2011, um casarão antigo ao lado do solar da marquesa e da catedral da sé. o que move a artista e curadora maria montero é “o desejo de um lugar para o encontro, sítio de reuniões, ambiente de convivência e plataforma de desenvolvimento de projetos colaborativos (...), uma experiência livre de amarras institucionais ultrapassadas”, afirma ela no web site do phosphorus. Quando o brechó juisi by licquor deixou o endereço que ocupava nos jardins para se instalar no prédio de 1890, tornando-se a casa juisi, montero encontrou ali o espaço que precisava para fomentar seu projeto de residências artísticas e iniciativas que incluem a exibição de filmes, exposições, festas e cozinha experimental. parcerias com galerias são algumas das estratégias que garantem oxigenação, diálogo e financiamento. SELECT.ART.BR

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pipA e ATeliê 397: CoisAs que fAzemos por prAzer leilões com obras doadas, parcerias e aluguéis de espaços. tudo isso dá a dimensão da criatividade da economia do setor, que faz malabarismos para se viabilizar. afinal, obter a autorização para captação de verba por meio de leis de incentivo fiscal como o proac e a rouanet não garante o pote de ouro no fim do arco-íris. Que o digam o ateliê 397 e o atelier a pipa, agraciados com tais recursos e sem ver um centavo autorizado, por não acharem interessados no investimento. para preencher a lacuna da verba incentivada, o ateliê 397 tem soluções divertidas, como o leilão esporádico surpraise, a lojinha michê (com o subtítulo “coisas que fazemos por dinheiro, mas com muito prazer”) e um projeto de múltiplos. todas as obras vendidas são doadas por artistas e galeristas. “Não representamos artistas, não somos uma galeria, não visamos lucro”, explica thaís rivitti, sócia do espaço ao lado de marcelo amorim. ela define a missão do espaço como “um local para fugir da institucionalização do mercado e dar sentido a uma atuação profissional no campo da arte”, soando como epíteto de quase todo o segmento.


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À esq., site specific de Tatiana Ferraz no Ateliê 397; à dir., evento do Atelier a Pipa, no RJ, para onde está expandindo atividades

Obter autorização para a captação de verbas por meio de leis de incentivo fiscal como a Rouanet não garante o pote de ouro no fim do arco -íris Nesse sentido, a programação traz conversas com artistas consagrados, exposições de gente nova e publicações que vão de livros de artista a textos de curadores e pesquisadores. mesmo a lojinha michê, que trabalha com os artistas em sistema colaborativo ou de doação nos objetos utilitários inusitados, como cangas de estampas eróticas e porta-níqueis de crochê simulando vaginas e seios, é uma reflexão sobre o sistema de arte e não quebra a premissa do ateliê. Tour De forCe por meio de um edital da funarte, a exposição espaços independentes – a alma É o segredo do Negócio reuniu no início deste ano o ateliê aberto, a casa tomada, o atelier subterrânea (porto alegre), a casa contemporânea (sp) e a polêmica e divertida antigaleria casa da xiclet (sp). um FoToS: DIvuLGAÇÃo

tour de force para reunir um pedaço da turma, em que o cubo branco foi gradualmente ocupado pelos núcleos no decorrer do período expositivo, com uma abertura que se confundiu com a finissage, no dia derradeiro. além do evento presencial, a mostra gerou um catálogo e a publicação espaços independentes, primeira compilação de organismos do gênero, sinal de uma incipiente organização do setor no sentido de buscar soluções conjuntas de visibilidade. foram listados no total 18 espaços, alguns já com a data de óbito. essa efemeridade pontual dificulta um mapeamento mais consistente da área, mas é a consequência da maleabilidade dos esquemas experimentais e também o sinal da dificuldade de sobrevivência financeira. “tentamos fazer um site, algo como o espaço dos espaços, para os organismos terem uma repre-


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sentatividade, uma agenda conjunta, tentamos até inscrevê-lo em leis. o pessoal se entusiasmou, mas no fim a ideia acabou morrendo na praia”, conta luciana felippe, que começou o atelier a pipa, em 2010, ao lado de fernanda izar. as cariocas alugaram a casa na vila madalena como ateliê para ambas, mas foram expandindo as atividades para um grupo de estudos e acompanhamento de artistas que conta com a supervisão do curador paulistano mario gioia, workshops e exposições em parceria com galerias e outros espaços, além de aluguel de salas para ateliês de terceiros. a dupla vem realizando algumas dessas atividades também na capital fluminense, onde são cada vez mais comuns espaços como o barracão maravilha, coletivo que subverte a ideia de ateliê para pensar um espaço de criação coletiva sem a pecha da tradição francesa, administrado por Zé carlos garcia, Natali tubenchlak, robson viana e hugo richard. Na ativa desde 2008, recebem neste ano os dois artistas do seu primeiro programa internacional de residência, o suíço flurin bisig e a belga manu engelen. .AurorA: A união fAz A forçA o .aurora (lê-se ponto aurora), com dois meses de existência, é um dos entusiastas do lema “a união faz a força”. com foco maior na difusão e comercialização dos trabalhos dos próprios integrantes, mesclados a iniciativas de inclusão de novos artistas sem exigência de representatividade no mercado, seus membros pensam formas de promover a articulação dos espaços localizados no centro de são paulo, como o pivô e o phosphorus. “pensamos em promover um guia que mostre o circuito cultural independente no centro da cidade, porque aqui é onde isso acontece mais abertamente”, diz francesco di tillo, italiano de bolonha que fundou o espaço na rua aurora ao lado de outros sete artistas e escritores. recém-chegados ao baile, ainda experimentam formas de difusão dos próprios trabalhos, de comunicação com o entorno em um projeto que traz artistas de outros espaços para exibir trabalhos em suas janelas, como também já faz a casa tomada. “há um deslumbre quanto a esse boom do mercado”, diz bel falleiros, que crê que SELECT.ART.BR

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Detalhe do .Aurora, que fica em um apartamento amplo na rua homônima, com obras de design de Laura Daviña, uma de seus oito integrantes

Os espaços independentes são fundamentais para estimular a circulação e a interação entre artistas o “mercado ainda não acolhe trabalhos que não sejam claramente vendáveis”. ainda assim, mesmo na pesquisa de uma arte mais experimental e não vinculada a tendências mercadológicas, há uma preocupação em se posicionar dentro do mercado também. “Queremos vender, claro, mas não sabemos muito bem como trazer o público interessado para cá, é tudo muito novo.” com todas as vicissitudes e diferenças, esses heróis da resistência vêm arejando a sistematização da arte e difundindo o seu fazer experimental. apesar das difíceis condições de sobrevivência, os espaços independentes são fundamentais para estimular a circulação e a interação entre artistas, mais ou menos estabelecidos comercialmente, e o público. são essenciais, também, para gerar uma reflexão sobre o próprio meio artístico e a arte de realizar projetos para além dos limites do capital. FoTo: DIvuLGAÇÃo


arte que voCê vai querer e Poder levar Para Casa / galerias de arte ContemPorânea da amériCa latina / debates e Palestras / PubliCações de artistas / gruPos de artistas indePendentes / ofiCinas infantis / aComPanhe a Parte online

6-10 de novembro Paço das artes / subsolo Cidade universitária - usP qui - sex / 14-22h sáb - dom / 12-20h entrada gratuita www.feiraParte.Com.br


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artes visuais

FLuiDeZ HistÓriCa LuCiana Pareja norbiato

30 X Bienal erra e acerta ao propor leitura aberta da história da arte brasileira Um dos méritos da mostra 30 X Bienal – Transformações na Arte Brasileira da 1ª à 30ª Edição, que marca o mesmo número de edições da exposição criada em São Paulo em 1951, é também o seu calcanhar de aquiles. A opção, por parte da curadoria de Paulo Venancio Filho, de não delimitar claramente as diferentes tensões e oposições sofridas pela arte brasileira ao longo do período de mais de 60 anos possibilita uma multiplicidade de leituras e de percursos por parte de um espectador iniciado. Entretanto, não toma partido quanto às tais “transformações na arte brasileira” sugeridas em seu subtítulo. Partindo de um espectro de quase 5 mil artistas brasileiros convocados para a Bienal ao menos uma vez, não se pode negar que Venancio Filho chegou a uma seleção de 111 nomes que representam uma amostragem considerável da “tradição moderna e contemporânea”. Porém, com a expografia fluida de Felipe Tassara, que permite diversos percursos às vezes em círculos, a compreensão dos motores que levaram um movimento estético a culminar em outro – ou mesmo as influências dos movimentos anteriores assimiladas pelos contemporâneos – fica imprecisa. Especialmente com a ausência de textos de parede e nichos específicos. O curador argumenta que a exposição “não tem um caráter museológico, arquivista”. Outro ponto que não fica claro é o critério de seleção das obras. “Me concentrei nos momentos em que os artistas assumiram importância, sem acompanhar suas carreiras”, explica VenanFoToS: LEo ELoy

30 X Bienal – Transformações na Arte Brasileira da 1a à 30a Edição, até 8/12, Fundação Bienal de São Paulo, Parque do Ibirapuera, portão 3, www.30xbienal.org.br

cio Filho. Porém, ao contrário do que suas escolhas sugerem, o curador afirma que a presença de sete obras de Hélio Oiticica e cinco de Lygia Clark, por exemplo, não indica seu protagonismo entre os concretos e neoconcretos. Para ele, Hercules Barsotti, presente com três trabalhos, tem igual importância. Logo, o destaque que a inclusão de mais obras dá a um artista não corresponde à concepção curatorial de seu valor. Ainda que não assuma inteiramente sua vocação didática e retrospectiva, a mostra evidencia as relações entre a história da Bienal e a história institucional da arte brasileira. Por isso não perde sua obrigatoriedade e pertinência.

Na página à esquerda, instalação Bolha Amarela (1967-1968), de Marcelo Nitsche; acima, tela Abstrato (1957), de Alfredo Volpi, e fotografia documental. Obras integram a mostra 30 X Bienal


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reviews Livros

a erÓtiCa e a genétiCa migratÓria PauLa aLZugaray

Vícios e dinâmicas do sistema de arte contemporânea são o foco e o pano de fundo do primeiro romance de Laura Erber Esta é a história de Ciprian, um artista romeno que faz intervenções em livros e bibliotecas e que nasceu com um mapa de viagem gravado em algum lugar do sistema nervoso central. Como alguns pássaros. Foi escrita por Laura, artista brasileira que tem a palavra como matéria de trabalho, não só como escritora, mas também no campo das artes visuais. A prosa de Laura Erber projeta-se como jorros de pensamentos de Ciprian. Seu fluxo mental vertiginoso remete ao sistema de escrita automática e é, portanto, sintomático de que o pai do protagonista tenha sido assistente de surrealistas. As frases do texto parecem se conformar meio que por acaso, como “pedaços de frases trazidas pelo vento”, como diz a “voz sem emissor”, que questiona a escritura do livro logo no primeiro capítulo. Por sua densidade, o primeiro capítulo pede para ser relido ao final, após o último. Daí que Esquilos de Pavlov, o primeiro romance de Laura Erber, torna-se um livro cíclico, encerrado em si mesmo, como o Jogo da Amarelinha, de Cortázar, ou a obra Terceira Margem, de Marilá Dardot. O ponto onde tudo começa é insignificante, adverte Ciprian para a voz sem emissor – que pode ser entendida como a voz da autora, a ghost-writer desta história. Mas ela rebate: O começo deve ser límpido como uma fábula. E

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Esquilos de Pavlov, Laura Erber, Editora Objetiva, 176 págs., R$ 32,90

começa: Era uma vez um artista contemporâneo e os abismos que arrastava aonde ia. Embora anuncie uma prosa límpida, a voz sem emissor não abre mão dos ruídos e continua a interpelar o artista romeno. Convoca-o frequentemente para a massa crítica de frases com imagens aparentemente desconexas: coelhos e louça suja por toda parte, a irritabilidade do pai, um musguinho, e outras “elucubrações de um jovem solitário em algum lugar isolado”. A narrativa segue em ritmo flaneur, acompanhando o estilo de vida nômade do artista viajante Ciprian Momolescu, que vagueia de residência em residência. Até que é contemplado com uma bolsa de uma instituição em Copenhague e seu destino muda. Aqui, uma segunda voz sem emissor – dessa vez proferida pela escritora que faz essa crítica – diria que esse é o lugar onde a história realmente inicia. Como afirma um dos personagens semificcionais de Esquilos de Pavlov, “não existe história individual, mas sim uma série de histórias paralelas impossíveis de comparar”. Assim, este se oferece como um livro de eternos recomeços, ou mesmo como um livro de contos, narrados ao sabor de personagens e de ambientes reais e semificcionais. Os acontecimentos no microcosmo da Fundação Das Beckwerk, o discurso de sua diretora Ulrikka Pavlov, a vida e as idiossincrasias de seus residentes vindos dos quatro cantos do planeta são construídos por Laura Erber como uma metáfora ambígua das forças que regem o sistema globalizado da arte contemporânea.


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artes visuais

mais-vaLia aFetiva ana maria maia

Associação entre matéria e valor monetário é o mote de intervenção de Matheus Rocha Pitta em edifício emblemático da arquitetura moderna brasileira Desde o projeto Dois Reais (2012), em que Matheus Rocha Pitta adquiriu por um preço simbólico centenas de quilos de escombros do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, que acabara de ser demolido no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a associação entre matéria e valor monetário lhe interessa. Neste caso, ele FoTo: mAThEuS RoChA piTTA

Golpe de Graça (2013), de Matheus Rocha Pitta, é uma intervenção que atravessa a arquitetura do Pivô, incidindo um corte do primeiro andar rumo ao térreo do Edifício Copan

Golpe de Graça – Matheus Rocha Pitta, a partir de 5/10, Pivô, Av. Ipiranga 200, Bloco A, loja 54, SP, www.pivo.org.br

observou como, após a estrutura do edifício dos anos 1950 ser sucateada e, finalmente, condenada, seu preço patrimonial se esvaiu, virou pó. As ruínas foram vendidas por R$ 1 para uma indústria de detritos, que deveria retirá-los o mais rápido possível do local e dar-lhes destino. Em Golpe de Graça, projeto inédito que Matheus expõe na Galeria Pivô, em São Paulo, passou a lhe interessar o processo inverso: como o “nada” toma proporção, como as moedas que por vezes ficam esquecidas no fundo da bolsa somam-se em um vulto muito maior de vontade e crença quando lançadas em pregões de apostas ou poços de desejos. O imponderável dessa “mais-valia” afetiva orienta uma instalação que atravessa a arquitetura do Copan, do primeiro andar rumo ao térreo, onde se encontra a entrada para o Pivô.


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reviews Embora estruturalmente monumental, a peça cria uma interferência mínima, a rigor só abre um buraco de centímetros no chão e na laje que separa os dois patamares. A ação que nasce dessa abertura, no entanto, serve como prova da atratividade dos jogos especulativos deles resultantes. O buraco funciona como um poço de desejos: do primeiro andar, o público é convidado a arremessar suas apostas. A trajetória dos centavos, das mãos dos seus investidores até o chão do andar de baixo, passando pela fenda aberta, descreve no espaço uma ampulheta invisível. A repetição desse gesto retira do terreno da abstração e torna concreto o tempo de passagem de cada um por aquele lugar. O visitante lega sua moeda depositada em uma pilha crescente, cujo resultado só se conhecerá no último instante de visitação. Além disso, esse exercício escultural coletivo deixa evidente ao longo do período da mostra a ideia de tempo histórico (história social, história econômica) contida naquele edifício emblemático da arquitetura moderna brasileira. O Copan, projetado por Oscar Niemeyer em 1951 e finalizado em 1966, após ser estigmatizado nas décadas de 1980 e 1990 como um lugar “mal frequentado”, hoje causa fetiche e figura entre os endereços que atraem a classe média de volta para o Centro da cidade. Seu metro quadrado, obviamente, acompanha o pregão de afetos e memórias ali sobrepostos, ou vice-versa.

Livros

a sangue-quente giseLLe beigueLman

Dois lançamentos editoriais discutem as transformações recentes do Brasil à luz das articulações entre os movimentos sociais e as redes Henrique Antoun, Fábio Malini e Rodrigo Sa-

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Henrique Antoun e Fábio Malini. A Internet e a Rua: Ciberativismo e Mobilização nas Redes Sociais. Editora Sulina. R$ 35. Download grátis: http:// ainternetearua.com.br/ Rodrigo Savazoni. A Onda Rosa-Choque. Reflexões sobre Redes, Cultura e Política Contemporânea. Azougue Editorial. No prelo

vazoni são pesquisadores na área de cultura digital conhecidos pela sua intensa participação nas discussões sobre o que se convencionou chamar de midialivrismo. Autores de uma série de ensaios e pensatas sobre os usos sociais das tecnologias de rede, eles reúnem em dois livros análises que permitem colocar em perspectiva as recentes manifestações que tomaram o País nos meses de junho e julho, compreendendo essas ações num espectro de transformações culturais e globais. O primeiro, de autoria de Malini e Antoun, tem como um de seus principais protagonistas a Multidão, no sentido dado por Toni Negri e Michael Hardt. Coletivo emergente, “empoderado” pelos circuitos de produção e circulação dos bens culturais que se abrem com as redes, a multidão traz as novas correlações de força que marcam o capitalismo na fase atual: a disputa pelo capital cognitivo. Já Savazoni discorre em textos escritos nos últimos três anos, sobre levantes como a Primavera Árabe, o 15 de Maio espanhol e o Occupy Wall Street. Procura situar movimentos brasileiros recentes, como a Onda Rosa-Choque, que culminou na virada eleitoral da prefeitura de São Paulo, e a rede de coletivos Fora do Eixo, no contexto das dinâmicas do ativismo político contemporâneo. Escritos no calor da hora, os dois livros, de perfis bastante diferentes, um mais acadêmico, outro mais jornalístico, deixam claro que a complexidade do nosso tempo não está na tecnologia propriamente dita, mas nas formas como ela, apropriada e distribuída, revalida as formas de pensar e fazer política. Como diz o sociólogo Sérgio Amadeu no prefácio de Savazoni: “As multidões estão ativas. Redes de opinião enfrentam outras redes de opinião. A bipolaridade se desfaz em meio a múltiplos conflitos. Agora é bem evidente que o poder comunicacional cada vez mais está na capacidade de formar e reconfigurar redes”.


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reviews artes visuais

Prosa, Pintura e PerFormanCe A repetição como mecanismo de criação da japonesa Yayoi Kusama A obsessão mais recente de que se tem notícia em se tratando de pintura de bolinhas é a do britânico Damien Hirst, que nos últimos 20 anos pintou perto de 1,4 mil telas da série Spot Paintings. O interesse pela repetição de pontinhos coloridos começara, no entanto, no fim do século 19, quando o pontilhista Georges Seurat desconstruiu a paisagem francesa em milhares de bolinhas. A mania pelas esferas viria a se espalhar pelos artistas da Op Art, nos anos 1960, mas a maior autoridade em pontos coloridos do planeta é mesmo Yayoi Kusama, cuja paixão por esferas é revisitada na mostra Obsessão Infinita, em cartaz no CCBB Rio. Ao apresentar cem obras criadas entre 1949 e 2012, a exposição esclarece que a repetição é um mecanismo presente em todas as fases da artista nascida em Matsumoto, no Japão, em 1929. Mais especificamente, a partir das pinturas monocromáticas da série Infinity Net, dos anos 1950, quando Kusama instala-se em Nova York e entra em contato com a comunidade de minimalistas lá residentes. Nessas pinturas, ela repete o desenho de semicírculos brancos sobre fundo branco, criando uma textura sutil de efeito meditativo, associada por ela ao ritmo das ondas do mar. As técnicas seriais se reproduziriam nas esculturas moles Accumulations, realizadas com tecidos, sempre na forma fálica. Durante todo o ano de 1962, os falos de tecido se multiplicariam em quantidades incalculáveis, encobrindo móveis, roupas e objetos, de modo parecido com o que se apresentava na obra de outra estrangeira residente em Nova York, a francesa Louise Bourgeois. Mas as bolinhas ganham campo na obra de Yayoi Kusama em 1963, quando a artista coloca o próprio corpo em cena, inaugurando a pesquisa FoTo: yAyoi kuSAmA

Anti-War Happening Brooklyn Bridge (1968), performance ativista contra a Guerra do Vietnã, realizada por Yayoi Kusama em Nova York

Obsessão Infinita , de Yayoi Kusama / Centro Cultural Banco do Brasil, Av. 1º de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro, de 11/10 a 26/1/2014

da body art na cena underground nova-iorquina. Nessa fase, as bolinhas proliferam por seu corpo e espaços instalativos, em gestos que a artista associa a processos terapêuticos de combate a traumas e alucinações de infância. A prática no ambiente libertário e experimental da Nova York dos anos 1970 não foi suficiente, no entanto, para liberar a artista de seus monstros. Em 1977, ela se internaria voluntariamente em uma clinica psiquiátrica, em Tóquio, onde vive até hoje. Foram mais de 30 anos de obscurecimento até voltar à luz do sistema de arte internacional, em exposição no Centro Georges Pompidou, em Paris, em 2011, e na Tate Modern, em Londres, em 2012, com curadoria de Frances Morris. PA


V e r N i ssaG e

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Não deixe a lebre solta O colombiano Edwin Sanchez expõe situações do mundo do crime e da ilegalidade do seu país na Bienal de Curitiba e na Galeria Jaqueline Martins, em São Paulo AnA MAriA MAiA

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Jimmy é um ladrão que vive no centro de Bogotá, na colômBia, e tem fama por seu domínio do punhal. em situações de confronto, ou sempre que aquela técnica se faz necessária na sua Jornada, ele a utiliza com rapidez e precisão. é assim que defende seu espaço no mundo do crime e da ilegalidade naquela cidade, principal tema da pesquisa que o artista edwin sanchez vem fazendo desde o início dos anos 2000. interessado em registrar essa realidade, mas, antes de tudo, tornar evidente e por vezes ambígua a linha separatória entre seus valores morais e éticos e os praticados dentro de uma “oficialidade”, sanchez aproxima-se com calma, discrição e postura de aprendiz, tentando evitar qualquer prejulgamento. o artista passa a encontrar Jimmy e a registrar em vídeo as conversas que tinham e, às vezes sem que ele perceba, o ladrão lhe ensina as artimanhas da morte com o punhal. isso fica registrado no vídeo clases de cuchillo (2008). “no deje la liebre suelta”, diz Jimmy, dando a entender que toda desavença deve ser resolvida, que o inimigo não perdoa, que a única alternativa ao predador é tornar-se presa. sanchez já mostrou seus trabalhos no Brasil em três ocasiões: no 17º festival videobrasil, em 2011, e nas coletivas poéticas relacionais, na galeria Jaqueline martins, com curadoria de fernando oliva, e avante, no laboratório curatorial da sp-arte, com curadoria de renan araújo, ambas em 2012. desde agosto último, ele integra a lista de artistas da 10ª Bienal de curitiba e em outubro inaugura mostra individual na galeria Jaqueline martins. a dupla oportunidade de acessar a obra do artista no país permite uma visada contextual da pesquisa que desenvolve em suportes diversos, recorrendo a estratégias de documentação, apropriação e denúncia de situações reais. uma quarta categoria definidora do processo de trabalho de sanchez torna mais explícita a sua presença em cenários do “submundo” colombiano e seu envolvimento com personagens desses lugares. de dentro de um contexto que não é diretamente o seu, reconhecendo e agindo conforme regras FoToS: CoRTESiA do ARTiSTA

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apesar de ter em Vista o circuito da arte, saNchez eNcamiNha suas pesquisas a partir de diáloGos e NeGociações muNdaNas

Na página ao lado, Desapariciones (2010), animação feita a partir de depoimentos e desenhos de um paramilitar, um guerrilheiro e um camponês. Acima, quadrinho do projeto Símbolo Pátrio (2013), que documenta as etapas da compra de armas no mercado negro de Bogotá


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de conduta também outras, o artista articula e provoca experiências que não aconteceriam sem a sua intervenção. dá a ver sensações ou juízos que não viriam a ser expressos na versão politicamente correta das coisas. o vídeo ejercício de anulación (2008), que pode ser visto em curitiba, registra uma ação do artista em uma rua do centro de Bogotá. parafraseando o gesto do espanhol santiago sierra, que, em 2000, remunerou trabalhadores precários para permanecerem sentados na sala de exposição da lisson gallery, em londres, cobertos por caixas de papelão, sanchez elege um mendigo deficiente físico como alvo e, munido de semelhante caixa, se lança em uma sequência de tentativas para atingi-lo. a repetição desperta os passantes de sua indiferença. apesar de preexistente, a “anulação” social daquele personagem habitual da região, uma vez tornada visível, incita uma reação coletiva contra o artista. o risco intrínseco a esse gesto, que coloca mendigo e artista numa posição de igualdade, como vítimas, é o que, para sanchez, o diferencia de sierra, visto que esse último operou (costuma operar, na verdade) a partir do lugar de poder e de blindagem que se tem, como artista, dentro do sistema da arte e dos espaços onde ele acontece, como galerias e museus. as relações de que nascem os projetos de edwin sanchez evitam as mediações a que ele poderia recorrer na qualidade de artista. apesar de ter em vista o circuito da arte, onde faz exposições e constrói uma carreira, encaminha suas pesquisas a partir de diálogos e negociações interpessoais e mundanas. com isso, agrega uma medida grande de subjetividade e afeto a assuntos de ordem pública, que dizem respeito à política e à história recentes da colômbia. REALIDADE ENCOBERTA outro trabalho que ele apresenta na Bienal e na galeria é desapariciones (2010), animação feita a partir de depoimentos e desenhos de um paramilitar, um guerrilheiro e um camponês, figuras-chave da guerra civil iniciada no país nos anos 1960. os três entrevistados respondem à pergunta “como desaparecer com um corpo?” SELECT.ART.BR

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suas ilustrações didatizam e tornam lúdico o imaginário de uma realidade encoberta, embora em muitos aspectos vinculada ao estado. segundo o artista, a colômbia é um país “narcopolítico” que volta a ser tematizado na obra inédita símbolo pátrio (2013), também presente na individual na Jaqueline martins. o símbolo em questão é uma mini-uzi, pistola muito usada nos anos 1980 e 1990 para matar militantes e jornalistas que se opunham ao esquema milionário do narcotráfico, do qual, inclusive, políticos eleitos participavam. para retomar essa memória, sanchez se propõe a comprar uma dessas armas no mercado negro de Bogotá e documentar todas as etapas em uma história em quadrinhos “real”, que mistura fotografias, desenhos e textos. a obra promove uma inversão a partir do conceito clássico de anomia, que define a existência de ordens paralelas ao estado motivadas pela

Acima, frames da série de “vídeos educativos” Clases de Cuchillo (2008), sobre como esfaquear uma pessoa. Jimmy, o instrutor, é um assaltante junkie que vive no centro de Bogotá


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ao iNVestiGar as ordeNs paralelas, a obra de saNchez certameNte fuNcioNa para se peNsar a Guerrilha armada Na colômbia, assim como o tráfico orGaNizado Nas faVelas do rio de jaNeiro

deficiência de sua infraestrutura pública. a ideia, certamente, funciona para se pensar a guerrilha armada da colômbia, assim como o tráfico organizado nas favelas do rio de Janeiro. no entanto, quando o artista relembra os vínculos dessas ordens paralelas de seu país com sucessivos governos, ele desfaz a conclusão fácil de que o mal está “fora”, de que as estruturas que operam dentro de uma legalidade, como o próprio mercado da arte, estariam todas ilesas. a partir dessa perspectiva ampliada e implicada, que edwin sanchez empreende sobre a sociedade colombiana, e sobre outras por extensão, a lição de Jimmy desnorteia. nesse caso, quem é mesmo a lebre? Na sessão Vernissage, projeto realizado em parceria com galerias de arte brasileiras, publicamos uma análise crítica da obra de um artista contemporâneo que estará em exposição durante os meses de circulação da edição. O projeto prevê o lançamento de seLecT na abertura da exposição.

FoToS: CoRTESiA d0 ARTiSTA


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Todo experTiquês será casTigado Embargos infringentes e sua turma invadem o noticiário, castigando-nos com seu vocabulário ininteligível

Ainda não inventaram a tecla SAP para ler o noticiário nacional. Uma pena. Essa preciosa invenção tecnológica permite que se escute o áudio original na televisão. Por analogia, uma tecla SAP associada aos jornais brasileiros poderia fazer com que conseguíssemos saber o que se passa no nosso Supremo Tribunal Federal em português! Imagine que incrível seria saber o que dizem aqueles senhores e senhoras vestidos de Batman e Robin sobre o futuro do mensalão, compreender o que aconteceu de errado, ou não, no julgamento e até, quem sabe, os motivos que levam todo jurista a falar como se estivesse com uma batata quente na boca. E quem dera isso pudesse ser estendido a outras editorias... A começar pela de esportes. Experimente tentar compreender o que aconteceu no jogo de domingo que você perdeu, acompanhando o texto de algum colunista inspirado ou jornalista especializado. Sem curso de geometria avançada nem tente saber quem ganhou e quem perdeu. Pior, só escutando o rádio, no qual os apresentadores parecem chegar aos nossos pobres ouvidos via ondas curtas, teletransportados do Planeta Mongo, onde Flash Gordon deu suas primeiras braçadas, ou outro recôndito canto do universo onde se fala qualquer língua, menos as vernáculas. E em que planeta vivem também os comentaristas de moda, e de onde saiu esse seu idioma remix de francês com embromation-sensation-megatudo-minimax-avant-la-lettre? E que curso é preciso fazer para destrinchar as resenhas sobre vinhos frutados, amadeirados, com notas de chocolate, que harmonizam com qualquer coisa que não seja nosso reles e mortal português desafinado? Data venia, todo mundo, mas assim não dá. GB

SELECT.ART.BR

ouT/nov 2013

Os ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa do STJ, rodopiam suas capas antes de mais uma sessão juridiquês

FoTo: joSé CRuz / ABr


OBITuárIO

Leo Lama carTão de crédiTo

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(1950-2013)

O pagamento via celular é o futuro dos homens sem banco e vai enterrar a ideia que deu fama a Frank McNamara Cópia de um dos primeiros cartões Diners, quando ainda eram feitos de cartolina

Conhecido pelo apelido de “plastic money”, o cartão de crédito nasceu bem pobrezinho, apesar de ser filho de gente rica e muito fina. Era feito de papel cartão e veio ao mundo no dia em que o executivo Frank McNamara saiu para jantar em Nova York e, na hora da conta, percebeu que estava sem a carteira. Foi aí que teve a ideia do que viria posteriormente se tornar um grande negócio: criar um cartão, com o nome do cliente, que dava garantia ao estabelecimento de que seu portador não era caloteiro e voltaria depois de um tempo para pagar sua conta. Vinte e cinco negócios de Nova York toparam. Era a aurora do Diners Club.

A família cresceu, dividiu-se em múltiplas bandeiras e espalhou-se dando a cara do consumo no século 20, sendo usado por dezenas de milhões de pessoas já nos anos 1960. Seu reinado parecia não ter mais fim, até que, ao longo dos anos 2000, o celular afrontou seu poder. Com a disseminação da telefonia móvel, formatos alternativos de pagamento via celular começaram a proliferar, especialmente nos países em desenvolvimento, onde podem atender com maior facilidade o público dos “sem banco”, prevendo-se para este ano um mercado que movimentará US$ 600 bilhões. GB


EM CONSTRUÇÃO

VIVIAN CACCURI NA BHERING 114

Uma intervenção baseada em mídias zumbis e perpetrada no “puxadinho” de um dos mais importantes museus brasileiros de arte. Por estranho que pareça, foi essa a proposta da artista paulista Vivian Caccuri para o 33º Panorama da Arte Brasileira, do MAM-SP. Caccuri achou nos arquivos do museu uma antiga fita em VHS com a documentação da abertura da sala da “Aranha” – espaço montado para abrigar a escultura da artista francesa Louise Bourgeois – e resolveu “simular” o evento em uma nova gravação, no mesmo local, 16 anos depois, valendo-se de equipa-

G u i l h e r m e K uj aw s K i

SELECT.ART.BR

AGO/SET 2013

mentos de gravação da época. As novas tomadas foram então inseridas no corte da fita original, gerando um arquivo, adulterado, mas que proporciona deslocamentos temporais e, antes de tudo, espaciais, por expor outros ângulos e detalhes da estrutura na marquise do Ibirapuera. Um projeto que envolve arqueologia de mídias, cultura remix e uma espécie de poética arquitetônica. A obra foi produzida no ateliê da artista, na Fábrica Bhering, no Rio, espaço onde funcionava uma fábrica de chocolates e hoje abriga ateliês e estúdios de artistas.

F OTO F e r N a N D O YO u N G


PILAR COMUNICAÇÃO

O RUMOS ITAÚ CULTURAL MUDOU PARA DAR MAIS LIBERDADE E AUTONOMIA AOS ARTISTAS PARTICIPANTES. INSCREVA-SE. No novo Rumos Itaú Cultural, os artistas estão à frente do programa, relatando o que precisam para fazer um trabalho de relevância artística e intelectual, capaz de gerar transformação. Seja nas suas carreiras, na linguagem, na forma com que buscam chegar às pessoas.

INSCRIÇÕES ABERTAS VEJA COMO PARTICIPAR EM www.itaucultural.com.br/rumos

realização estacionamento conveniado, com entrada pela rua leôncio de carvalho /itaucultural fone 11 2168 1777 atendimento@itaucultural.org.br avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000 [estação brigadeiro do metrô]



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