Revista Status 01

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EDIÇÃO DE LANÇAMENTO EDIÇÃO DE LANÇAMENTO FERNANDA TAVARES

A DISPUTA ERIC CLAPTON VERSUS MICK JAGGER POR CARLA BRUNI

EXCLUSIVO

OS BASTIDORES DO WIKILEAKS CONTADOS PELO BRAÇODIREITO DE JULIAN ASSANGE NO BRASIL

FERNANDA TAVARES

A TOP DAS TOPS MAIS SENSUAL DO QUE NUNCA DANILO COUTO – QUEM É O SURFISTA QUE DOMOU UMA ONDA DE 20 METROS NA REMADA

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2 1 7 9 - 9 7 3 3 I S SN

MAIO 2011

1

ANO 1 MAIO 2011 R$ 12,90

ENTREVISTA ANNE HATHAWAY CONTA COMO FOI FICAR NUA PELA PRIMEIRA VEZ NAS TELAS E MAIS: GRAVATAS, ST. BARTS, TOYS FOR BOYS E A COLUNA DEVASSA DE REINALDO MORAES

STATUS ESTEVE NA BALADA MAIS LIBERAL DE BERLIM


Editorial Conselho Colaboradores O que é Status? Lá em casa Chave de cadeia Viagem Moda Vaidade Confraria Toys for boys Corpo e mente Nossa surfistinha Pornopopeia História da Status Flashback

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EDIÇÃO DE LANÇAMENTO EDIÇÃO DE LANÇAMENTO FERNANDA TAVARES

A DISPUTA ERIC CLAPTON VERSUS MICK JAGGER POR CARLA BRUNI

EXCLUSIVO

OS BASTIDORES DO WIKILEAKS CONTADOS PELO BRAÇODIREITO DE JULIAN ASSANGE NO BRASIL

FERNANDA TAVARES

A TOP DAS TOPS MAIS SENSUAL DO QUE NUNCA DANILO COUTO – QUEM É O SURFISTA QUE DOMOU UMA ONDA DE 20 METROS NA REMADA

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I S SN

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MAIO 2011

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ANO 1 MAIO 2011 R$ 12,90

ENTREVISTA ANNE HATHAWAY CONTA COMO FOI FICAR NUA PELA PRIMEIRA VEZ NAS TELAS E MAIS: GRAVATAS, ST. BARTS, TOYS FOR BOYS E A COLUNA DEVASSA DE REINALDO MORAES

STATUS ESTEVE NA BALADA MAIS LIBERAL DE BERLIM

STATUS TAMBÉM NO IPAD, NO FACEBOOK E NO TWITTER WWW.REVISTASTATUS.COM.BR

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APPROACH

Gastronomia, festas, viagens, cinema, literatura, tecnologia, comportamento e os segredos do bem viver

TOP SECRET

Entramos em uma das baladas mais liberais de Berlim. Ali, no famoso KitKat Club, tudo é permitido

ENTREVISTA Anne Hathaway conta como foi ficar nua nas telas e fala sobre o que a atrai em um homem

EXCLUSIVO

Os bastidores do encontro de Julian Assange e sua equipe nos dias que antecederam a divulgação dos documentos do WikiLeaks

VAI ENCARAR?

Um mergulho na guerra do narcotráfico, no México, que no último ano matou quase o dobro do que o conflito no Afeganistão

ENSAIO CAPA A beleza de Fernanda Tavares em uma explosão de sensualidade e sofisticação

SANGUE-FRIO Quem é o brasileiro que desafiou a morte e encarou uma das maiores ondas do mundo na remada


12

maio 2011

Editorial

Muita coisa aconteceu entre julho de 87 e maio de 2011. A linha da história que une a última edição da primeira fase de Status a esta que chega a suas mãos, a de relançamento, passou por muitos momentos importantes e marcantes, no mundo, no Brasil, no mercado editorial e aqui na Editora Três. No mundo, acabou a Guerra Fria, caiu o muro de Berlim e nasceu a internet. Ao mesmo tempo, foi praticado o maior ato terrorista da história, matando quase três mil pessoas nas Torres Gêmeas; no Brasil, tivemos nossa primeira eleição direta, controlamos a inflação, elegemos (e reelegemos) para a Presidência um ex-metalúrgico, que surpreendeu como o maior líder político de sua geração. Infelizmente, desgraças como a da região serrana do Rio insistem em nos lembrar que ainda estamos longe de ser integralmente um país de Primeiro Mundo. No mercado brasileiro, editoras nasceram e outras (algumas grandes) sucumbiram, mas o leque de produtos à disposição do leitor brasileiro, este sim hoje é de Primeiro Mundo. Aqui na Três, depois de todos estes anos lutando a boa luta, achamo-nos prontíssimos para os próximos embates, tanto os que se prenunciam estrondosamente, como a era da mídia digital (será mesmo? não custa perguntar...), quanto o nosso empolgante desafio do momento‚ o de relançar a revista que já foi a maior e mais importante mensal masculina do País. Proeza do meu pai, Domingo Alzugaray, que segue como nosso editor responsável.

Entendemos que, ao longo desses anos, o próprio conceito de Status mudou. Status, que já significou reconhecimento social pelo que “se tem”, evoluiu para (sim, também ter reconhecimento social, mas...) o que “se é”! Os líderes de Status de hoje são, por exemplo, Bono Vox, Lula, Wagner Moura, Brad Pitt, entre outros que não se contentam só com bens materiais. Estamos produzindo uma revista para um homem contemporâneo e antenado, mas que, ao mesmo tempo, mantenha as principais características do leitor da Status dos anos 80: um cara nada óbvio, que não se satisfaz com jargões fáceis, que tenha o sangue quente, mas ao mesmo tempo não se contente com mulheres-frutas (ou suecas sem nome) – e espera que o jornalismo da Três lhe entregue imagens e textos elaborados, com um olhar de quem conhece esse mundo por dentro, e não apenas sabe que ele existe: mundo onde as coisas mais importantes são as que estão de acordo com as nossas mais profundas expectativas e não tem a ver, necessariamente, com os luxos envolvidos. Você, nosso novo leitor de Status, pode contar com o “jornalismo de autor” que está no DNA da Editora Três, neste caso comandado por Nirlando Beirão, que dispensa apresentações para leitores exigentes. O Nirla montou uma equipe editorial composta pelo primeiro time da jovem guarda de jornalistas revisteiros do País, com Cacá Sambrana como seu braço-direito, os editores Piti Vieira e Bruno Weis liderando a reportagem, a celebrada editora de fotografia Ariani Carneiro e a reconhecida e premiada diretora de arte Renata Zincone. Isso sob o experientíssimo olhar da direção editorial da Três, sob as batutas de Carlos Marques e Luiz Fernando Sá.

#01

Nós da Editora Três estamos colocando tudo o que temos de melhor para entregar mais do que uma boa revista: um choque de bem-estar derramado mensalmente nos seus olhos. Bem-vindos ao mundo de Status. CACO ALZUGARAY

EDIT-


Vamos direto ao cardápio desta edição de lançamento. A começar pela estrela da capa, a top das tops Fernanda Tavares, que há 15 anos, desde que ganhou o concurso Look of the Year da agência Elite, faz da moda e da passarela o red carpet para a sua sedutora elegância. Fernanda Tavares foi clicada por Jacques Dequeker, gaúcho que passou em Nova York seus anos de formação e é reconhecidamente um dos talentos da nova geração de fotógrafos brasileiros e – por que não? – internacionais. Reparem só o toque de delicadeza que emana das fotos do ex-boxeur Dequeker. Temos uma reportagem de arrepiar sobre as gangues da droga no México – que já vitimaram até alguns brasileiros. Frequentamos a balada mais secreta – e mais maluca – da Alemanha. Convidamos a um passeio ao refúgio mais exclusivo do Caribe. Contamos como é que Status, nos anos 70, desafiou a censura do regime militar. Surfamos a onda mais alta com nosso recordista mundial. Temos Patrick Demarchelier, o papa da foto de moda no mundo; entrevista com Anne Hathaway; os bastidores do WikiLeaks; e temos a coluna devassa de Reinaldo Moraes, autor de Pornopopeia. Temos moda, música, cinema, gastronomia, motores, tecnologia. A arquitetura de uma revista que pretende ser contemporânea, ousada, cosmopolita, irreverente, bem-humorada, provocadora, com aquela pegada do homem que, mais do que de si mesmo, gosta de mulher – bem, esse projeto rigorosamente original traz a assinatura da designer Renata Zincone, nossa diretora de arte. Sintonizada com o que o jornalismo de entretenimento e savoir-faire tem de mais atual e inteligente, Status larga com a vantagem de não estar engessada no molde de outras publicações daqui e de fora. É brasileira, mas faria bonito em qualquer banca de Berlim, Londres ou Barcelona. O desafio que a Editora Três está assumindo com Status não faria sentido se fosse construído em cima de autoelogios. Nosso leitor é que vai julgar. NIRLANDO BEIRÃO

-ORIAL


EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL DOMINGO ALZUGARAY EDITORA CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE EXECUTIVO CARLOS ALZUGARAY diretor editorial CARLOS JOSÉ MARQUES diretor editorial-adjunto LUIZ FERNANDO SÁ

diretor de projeto Nirlando Beirão diretor de redação Carlos Sambrana editores Bruno Weis e Piti Vieira editora de imagem Ariani Carneiro diretora de arte Renata Zincone editores de arte Cinthia Behr e Pedro Matallo designer Evelyn Leine Gargiulo colaboradores

fotografia agência istoé

apoio administrativo projeto gráfico tratamento de imagens e pré impressão copy-desk e revisão serviços gráficos operações logística e distribuição de assinaturas venda avulsa

texto Carolina Guerra, Elaine Guerini, Gonçalo Junior, Mariana Sampaio, Natália Mestre, Natalia Viana, Priscilla Portugal, Reinaldo Moraes, Tom Cardoso e Vanessa Barone ilustrações Luciana Bicalho e Manuela Eichner fotos Frederic Jean e Pedro Dias consultoria tipográfica Ariel Cepeda e Billy Bacon/Boldº_a design company fontes Fabio Haag e Yomar Augusto produção Michelle Kimura editor executivo Cesar Itiberê editor Max G. Pinto repórteres fotográficos: Daniela Dacorso, João Castellano, Pedro Dias e Roberto Castro gerente Maria Amélia Scarcello secretária Terezinha Scarparo assistente Cláudio Monteiro auxiliar Lucio Fasan Renata Zincone (colaborou Sergio Cury) Retrato Falado Lourdes Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr. e Neuza Oliveira de Paula gerente industrial Fernando Rodrigues coordenador gráfico Ivanete Gomes diretor Gregorio França gerente Thomy Perroni assistente Luiz Massa assistente jr. Fabio Rodrigo e Paulo Sergio coordenadora Vanessa Mira coordenadora assistente Regina Maria assistentes André Barbosa, Karina Pereira e Luiz Massa gerente Rosemeire Vitório coordenador Jorge Burgatti analista Cleiton Gonçalves assistente Warinã Eduardo

assinaturas

diretor Edgardo A. Zabala diretor de vendas pessoais Wanderlei Quirino gerente nacional de promoções e eventos Jason A. Neto gerente de assinaturas Marcelo Varal supervisora de vendas Rosana Paal diretor de telemarketing Anderson Lima gerente de atendimento ao assinante Elaine Basílio gerente de trade marketing Jake Neto gerente de planejamento Reginaldo Marques gerente de operações e assinaturas Carlos Eduardo Panhoni gerente de telemarketing Renata Andréa S. Cardoso gerente de call center Ana Cristina Teen gerente de projetos especiais Patricia Santana CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: (11) 3618-4566. De 2ª a 6ª feira das 9h às 20h30 outras capitais 4002-7334 demais localidades 0800-7750098

marketing

diretor Rui Miguel gerentes Débora Huzian e Wanderley Klinger assistente Renata Lima diretor de arte Bruno Barbosa redator Caio Moretto

publicidade

diretor nacional José Bello Souza Francisco diretor de publicidade Maurício Arbex secretária da diretoria de publicidade Regina Oliveira gerentes executivos Eduardo Nogueira, Érika Fonseca, Fabiana Fernandes, Katia Bertoli e Luiz Sergio Siqueira executiva de publicidade Rita Cintra assistente de publicidade Valéria Esbano coordenadora adm. de publicidade Maria da Silva gerente de coordenação Alda Maria Reis coordenadores Gilberto Di Santo Filho e Rose Dias contato publicidade@editora3.com.br RIO DE JANEIRO/RJ: diretor de publicidade Expedito Grossi gerentes executivas Adriana Bouchardet, Arminda Barone e Silvia Maria Costa coordenadora de publicidade Dilse Dumar. Fones: (21) 2107-6667. Fax: (21) 2107-6669 BRASÍLIA/DF: gerente Marcelo Strufaldi. Fone: (61) 3223-1205/3223-1207. Fax: (61) 3223-7732. SP/Campinas: Mário Estellita - Lugino Assessoria de Mkt e Publicidade Ltda. Fone/Fax: (19) 3579-6800 SP/Ribeirão Preto: Andréa Gebin–Parlare Comunicação integrada Av Independência, 3201 -Piso Superior-Sala 8 Fone: (16) 3236-0016/8144-1155 MG/BELO HORIZONTE: Célia Maria de Oliveira – 1ª Página Publicidade Ltda. Fone/Fax: (31) 3291-6751 PR/CURITIBA: Maria Marta Graco – M2C Representações Publicitárias. Fone/Fax: (41) 3223-0060 RS/PORTO ALEGRE: Roberto Gianoni – RR Gianoni Comércio & Representações Ltda. Fone/Fax: (51) 3388-7712 PE/ RECIFE: Abérides Nicéias – Nova Representações Ltda. Fone/Fax: (81) 3227-3433 BA/SALVADOR: Ipojucã Cabral – Verbo Comunicação Empresarial & Marketing Ltda. Fone/Fax: (71) 3347-2032 SC/FLORIANÓPOLIS: Paulo Velloso – Comtato Negócios Ltda. Fone/Fax: (48) 3224-0044 ES/Vila Velha: Didimo Benedito – Dicape Representações e Serviços Ltda – Fone/Fax: (27) 3229-1986 SE/ARACAJÚ: Pedro Amarante – Gabinete de Mídia – Fone/Fax: (79) 3246-4139/9978-8962

marketing publicitário diretora Isabel Povineli gerente Maria Bernadete Machado coordenadora Simone F. Gadini assistentes Ariadne Pereira, Laliane Barreto e Marília Trindade 3PRO diretor de arte Victor S. Forjaz redator Alessandro de Araújo A Revista Status é uma publicação mensal da Três Editorial Ltda.. Redação e Administração: Rua William Speers, 1.088, São Paulo/SP, CEP: 05067-900. Fone: (11) 3618-4200 – Fax da Redação: (11) 3618-4324. São Paulo/SP. Sucursal no Rio de Janeiro: Av. Almirante Barroso, 63, sala 1510 Fone: (21) 2107-6650 – Fax (21) 2107-6661. Sucursal em Brasília: SCS, Quadra 2, Bloco D, Edifício Oscar Niemeyer, sala 201 a 203. Fones: (61) 3321-1212 – Fax (61) 3225-4062. 2016 não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comercialização: Três Comércio de Publicações Ltda. Rua William Speers, 1.212, São Paulo/SP Distribuição exclusiva em bancas para todo o Brasil. Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907 – Rio de Janeiro/RJ – Fone: (21) 2195-3200, fax (21) 2195-3307. Impressão: Editora Três Ltda. Rodovia Anhanguera, km 32,5/CEP 07750-000 – Cajamar/SP e Prol Editora Gráfica Ltda. Av. Luigi Papaiz, nº 581/CEP 09931-610, Diadema/SP


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Conselho

PAULO BORGES Empresário, diretor criativo do Fashion Rio e idealizador e diretor criativo do SPFW, semana de moda que conquistou nestes 15 anos o status de figurar entre as cinco mais importantes do mundo.

VIVI MASCARO Colunista social do portal iG, circula nas mais disputadas festas. Adora reuniões informais com amigos e relaxa quando assiste a bons filmes ou pratica seu esporte preferido: pedalar.

MARCUS ELIAS Dono da gestora de recursos Latin America Equity Partners (Laep Brasil), é especialista na recuperação de companhias em dificuldades financeiras. Adepto da meditação, faz duas horas de esporte diariamente.

MARCOS CAMPOS Chamado de O Rei da Noite, hoje é sócio do club Disco e do bar Número, em São Paulo, e do Praia Café de La Musique, em Florianópolis. Também coordena a consultoria MC2 Managing Ideas.

FERNANDA BARBOSA Ex-modelo internacional, é hoje uma das principais relações-públicas do Brasil quando o assunto é balada. Também é colunista da revista ISTOÉ Gente e tem paixão por viagens, cinema e bons vinhos.

JOÃO PAULO DINIZ O empresário investe em cultura, entretenimento, gastronomia e esporte. Também é triatleta e faz maratonas ao redor do mundo, com mais de 20 provas dessa categoria no currículo.

ANUAR TACACH Ele é sócio da InvestPromo, empresa de investimentos com participação nas agências Pepper, Led, Setter, Zicard e Retail. Nos tempos livres, corre maratonas e ainda toca guitarra.

ERNESTO SIMÕES O empresário é um dos donos da Ecman, companhia do setor de óleo e gás, e fundador da holding Petro Energy. De folga, curte surfar em vários lugares do mundo.

O TIME DA STATUS MARIO BERNARDO GARNERO Arquiteto de negócios nos cinco continentes, traz no sangue o traquejo cosmopolita do pai, Mario Garnero, do Grupo Brasilinvest, e do avô Baby Monteiro de Carvalho.

PAULO KAKINOFF Presidente da Audi Brasil, é o mais jovem executivo a liderar uma das filiais da marca alemã. Adora escutar Rolling Stones e praticar snowboard nas horas vagas.

Todo mês, nossos conselheiros vão se reunir e discutir os assuntos mais relevantes para o nosso leitor e antecipar tendências ao redor do mundo

ALBERTO HIAR Conhecido como Turco Loco, foi deputado estadual e vereador. Hoje comanda a grife de streetwear Cavalera e é sócio da V.Rom e da The Jeans Boutique.


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maio 2011

Colaboradores

JACQUES DEQUEKER O gaúcho de 40 anos vive em São Paulo desde 1998 e hoje é um dos mais disputados nomes da fotografia brasileira em moda, beleza e publicidade. Tem fotos publicadas nas principais revistas do Brasil e da Europa e, nesta primeira edição da STATUS, empresta seu talento ao ensaio de capa.

CO CO LA LA BO BO RA RA DO DO GONÇALO JUNIOR Autor da reportagem sobre a história da STATUS e suas estrelas inesquecíveis, o jornalista é editor de cultura do Diário de S.Paulo e tem 16 livros publicados, entre eles Maria Erótica e o clamor do sexo – Imprensa, pornografia, comunismo e censura na ditadura militar (editora Peixe Grande).

NATALIA VIANA Repórter independente há dez anos, a jornalista paulistana escreve sobre política, direitos humanos e meio ambiente. Colaboradora da organização WikiLeaks no Brasil, escreve nesta edição sobre os bastidores do Cablegate. Atualmente está fundando uma agência de jornalismo investigativo (apublica.org) e escrevendo um livro sobre a organização de Julian Assange.

VANESSA BARONE Jornalista e escritora, é autora do livro Descomplique – Um guia de Convivência e Elegância (Ed. Leya) porque acredita que civilidade é como um tubinho preto: combina com tudo e não sai de moda. A cada edição de STATUS, vai dizer o que as mulheres pensam sobre os homens.

MARCOS MELLO Artista plástico, ator e diretor de cinema, volta a trabalhar com traço através das curvas da Top Fernanda Tavares, É sócio de Jacques Dequeker na Cavallaria Filmes, precursora e especializada em filmes fashion no Brasil, e divide seu tempo entre os projetos de ficção, filmes de moda e publicitários. Nesta edição, preparou vídeos para iPad.

REINALDO MORAES Um dos mais cultuados escritores da atualidade, Reinaldo Moraes publicou romances (Tanto faz, Abacaxi, Órbita dos caracóis, Pornopopeia), livro de contos (Umidade), relato de viagem (Estrangeiros em casa, junto com o fotógrafo Roberto Linsker) e livro infantil (Barata!), além de coisas diversas para coletâneas, revistas e jornais. Mora em São Paulo e assina coluna na STATUS batizada com o nome de seu mais recente livro, Pornopopeia.

RES RES FOTOS RAQUEL DEQUEKER | ANA VITALE | PEDRO DIAS | MARIA DO CARMO


O QUE É STATUS ?

20

“Status é um patamar, um padrão, um referencial” LOBÃO, CANTOR E COMPOSITOR

“Status é uma lembrança distante da minha infância com belas fotos penduradas na banca, e eu não podia comprar. Quanto ao status social, uma bobagem” LUCIANO HUCK, APRESENTADOR

“Status é poder ir a Firenze e comer naqueles carrinhos de rua, em frente ao mercado de lá, um belo sanduíche de trippa e tomar um copo de Chianti. Ao ar livre, no meio das pessoas” SERGIO ARNO, CHEF DE COZINHA

“Status é saber conviver bem em sociedade, tratar bem todas as pessoas e ter conhecimento e cultura” ROSANGELA LYRA, DIRETORA DA DIOR NO BRASIL

“Status tem mais a ver com uma situação e uma atitude do que com dinheiro” FERNANDA BARBOSA, PROMOTER E EMPRESÁRIA

FOTO JACQUES DEQUEKER

maio 2011

“Para além dos holofotes alheios, status é um estado de prestígio próprio que provém do aprimoramento, através de trabalho, de um dom que sem tem” MANOEL BEATO, SOMMELIER “Status é ter bons modos” ALVARO GARNERO, APRESENTADOR E EMPRESÁRIO

“Status é como elegância: difícil dizer o que é, mas fácil perceber quem tem – seja uma pessoa ou uma revista” ZUENIR VENTURA, ESCRITOR

“Status me passa confiança, experiência, força, domínio, prestígio e, principalmente, destaque” EMMANUEL BASSOLEIL, CHEF DE COZINHA

“É uma ilusão. Uma criação que acaba sendo uma diversão!” AMIR SLAMA, ESTILISTA

“Status é viajar sem malas” WASHINGTON OLIVETTO, PUBLICITÁRIO

“Status é uma posição em que você é respeitada. As pessoas estão sempre buscando alcançá-la, seja socioeconomicamente ou politicamente” ANA PAULA JUNQUEIRA, EMPRESÁRIA

“Para mim, é o nome de uma revista que me deliciou pelos belos textos quando foi lançada. Seja bem-vinda de volta” MÔNICA WALDVOGEL, APRESENTADORA


APPRO CH

status global esquenta de bar em bar passaporte água na boca perigo ignição poder design o cara

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v

APPRO CH AS COISAS BOAS DA VIDA

v

40 status global 42 esquenta 43 de bar em bar 44 passaporte 48 água na boca 51 perigo 52 ignição 53 poder 54 design 56 o cara 57 lado B 58 play 60 projeção 61 entrelinhas 62 redenção 64 desejo 65 meninos e meninas 66 versus 68 brinquedos 70 caiu na rede foto Sølve Sundsbø / Art+Commerce


APPRO CH

status global esquenta de bar em bar passaporte água na boca perigo ignição poder design o cara

global

Ideias, tendências e o que acontece de mais legal no mundo

Por Bruno Weis

Voss • Viking por uns dias A Noruega é um dos destinos prediletos para praticantes de esportes de aventura e o festival Ekstremsportveko, que começa em 26 de junho, é o maior do gênero no mundo. A cidade de Voss, sede do evento, aguarda mais de 1,2 mil atletas de BASE-jump, skydive, paraglide, caiaque extremo e kitesurf, entre outras modalidades. À noite, o festival promove shows de música. www.ekstremsportveko.com

San Sebastian • Um hotel cinematográfico

Nova York • Home Grown A onda politicamente correta não vai vencer tão fácil, pelo menos é o que garante um punhado de moradores do Brooklyn que está cultivando as próprias folhas de tabaco para uso doméstico. Eles vivem na cidade com as mais altas taxas sobre o preço do cigarro e com as maiores restrições para quem quer fumar em espaços públicos. Seja para economizar ou marcar posição política, o movimento conta até com uma ONG: “Lobby de cidadãos contra o assédio aos fumantes” (www.nycclash.com).

Capital do orgulho basco, a cidade do norte da Espanha é a casa de um dos mais tradicionais festivais de cinema da Europa (este ano marcado para setembro). O melhor lugar para acompanhar o evento é o hotel Astoria 7, totalmente inspirado na sétima arte: cada um de seus 102 quartos homenageia uma grande estrela da história do cinema, como Fellini e Audrey Hepburn. www.astoria7hotel.com

Dacar •

Nirvana para poucos

São Paulo • Meninas superpoderosas “Uma festa de amigos para amigos, feita por amigos.” É assim que uma das organizadoras da “Biscate Não Sente Frio” define a balada que há seis meses revolve a noite de SP à base de um coquetel de hits dos anos 80 e 90 – e muita mulher com atitude. A última festa teve pole dance e as edições rolam a cada 45 dias. Convites via e-mail: biscatenaosentefrio@yahoo.com.br

Lá pelas duas horas da manhã não cabe mais ninguém no Le Nirvana, o club mais descolado da capital do Senegal. A casa promove shows ao vivo com nomes consagrados, como Youssou N’dor, o mais famoso cantor do país, e outros representantes da moderna música africana. Até o rapper americano JA Rule já pintou por lá. Frequentado pela elite local e turistas, o club fica ao lado de alguns dos principais hotéis da cidade. www.nirvanadakar.com

FOTOS ROGER BRENDHAGEN | DIVULGAÇÃO | AGUSTIN SAGASTI | ARQUIVO PESSOAL | FLAVIO SIMONETTI | KARIM SAHIB/AFP


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Beirute • Café na esquina Nada contra as peruas de hot dog que circulam pelas capitais brasileiras, mas na capital do Líbano é possível encontrar em quase toda esquina – mesmo nos subúrbios mais pobres – utilitários equipados com máquinas de expresso embutidas no porta-malas. Sim, café expresso a cada esquina, o que dá à capital libanesa um charme cosmopolita, sem falar no aroma. E prova que levar café a sério não é exclusividade brasileira, ou italiana.

Katmandu • Skate de Arte O designer Marius Arter, 27 anos, filho de suíços nascido em Katmandu, faz questão de mostrar suas raízes nepalesas nos skates artesanais que produz. Seus shapes são feitos de madeira e entalhados à mão por artistas nepaleses com técnicas tradicionais. Os entalhes remetem à cultura local: um dos desenhos é o rosto de Tenzing Norgay, o sherpa que escalou o Everest ao lado de sir Edmund Hillary, em 1953. Alguns clientes de Arter preferem emoldurar o skate (de US$ 129 a US$ 199) e pendurar na parede como decoração, mas a prancha é feita para rodar para valer. www.arnikoskateboards.com

Riad • Uma revolução além das ruas As mudanças nos países árabes se dão além das ruas. A ascensão das mulheres ao ensino superior e ao mercado de trabalho revela um novo rumo para aquelas nações. A Arábia Saudita, um dos países mais fechados do Oriente Médio, registra pela primeira vez na história mais mulheres do que homens entre os universitários do país (57% do total). Elas também triplicaram a presença nos escritórios desde o começo dos anos 90 – hoje são 17% da população economicamente ativa. É pouco, mas é um começo.

Brisbane • Senta que eu te escuto O combate à solidão urbana inspirou uma simpática intervenção na cidade do leste australiano. Inspirada nos assentos em pontos de ônibus ou estações de metrô reservados a deficientes físicos, a cidade agora oferece espaços indicados para quem quer...conversar. A instalação I just wanted to say foi criada por urbanistas e designers com o objetivo de facilitar a interação entre as pessoas. A ideia pode ser replicada e conta inclusive com uma interface na web via Google Maps.


APPRO CH

status global esquenta de bar em bar passaporte água na boca perigo ignição poder design o cara

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esquenta

Baladas, festas e clubs do mundo

AGITO INTERNACIONAL OS ENDEREÇOS CERTEIROS PARA SAIR À CAÇA OU SIMPLESMENTE SE DIVERTIR O empresário MARCOS CAMPOS é um dos nomes mais respeitados da noite paulistana. Dono do bar Número e da boate Disco, ele conhece como poucos os principais clubs do mundo e transita com naturalidade nas festas mais concorridas do eixo Ibiza/Saint-Tropez. Perguntamos a ele quais são as três melhores casas noturnas do mundo. Conheça sua lista:

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Café de La Musique LOCAL Florianópolis MÚSICA house e suas vertentes www.praiacafedelamusique.com.br

“É a nova Ibiza com a vantagem da qualidade do público. Lá, você encontra tops como Ana Beatriz Barros, Alessandra Ambrósio e as modelos mais belas do Brasil. É imbatível nesse aspecto. Meus amigos estrangeiros, que frequentam a noite no mundo inteiro, ficam alucinados. Afinal, a proporção de mulher/homem é de quatro para um. Sem contar que a vibe de uma festa no Brasil é única.”

Fabric LOCAL Londres MÚSICA techno, drum & bass e dubstep www.fabriclondon.com “Esse lugar é para quem gosta de uma casa noturna bem grande, com vários ambientes. Como possui muitas salas, cada uma com arquitetura e som diferentes, a sensação é de que você está em diversas baladas em um só lugar. Mas o que mais chama a atenção nessa casa é a qualidade musical. Os DJs que estão despontando e os melhores do mundo tocam lá.”

3

Space LOCAL Ibiza MÚSICA house e suas vertentes www.spaceibiza.com “É, sem dúvida, a melhor. Primeiro, porque está em Ibiza, a meca da música eletrônica. Depois, ela possui um moderno sistema de áudio com caixas Function One, que deixam o som mais cristalino – uma arma de sedução para atrair os principais DJs do mundo. Mas o ponto alto do lugar é a noite de domingo. Você vai direto da praia, começa às 17h e dura até 5h da manhã.”

FOTOS DIVULGAÇÃO | CHRIS JACKSON/GETTY


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status global esquenta de bar em bar passaporte água na boca perigo ignição poder design o cara

APPRO CH

de bar em bar Os melhores ambientes e bebidas

Por Natália Mestre

DRINQUE STATUS

Rum no centro das atenções Durante séculos, o rum sofreu – e ainda sofre – preconceito por ser uma bebida, digamos, barata. Some-se a isso, não possui uma Denominação de Origem Controlada (DOC), comum no mundo do vinho que, de certa forma, serve como atestado de qualidade. Mas, aos poucos, a bebida vai conquistando adeptos. E não só os que buscam Mojito ou Cuba Libre. “Estão surgindo novos drinques com o rum”, diz o premiado barman Marcelo Vasconcellos, do restaurante paulistano Clos de Tapas. Ele revela quais são os melhores brancos e escuros, indica os bares para apreciar a bebida e criou o drinque Status. Confira:

Esse drinque ácido, cítrico, com notas picantes e sedutoras é uma criação de Marcelo Vasconcellos, barman do restaurante paulista Clos de Tapas, exclusiva para Status. Aprenda como fazer e prepare-se para uma explosão de sabor! INGREDIENTES 50 ml jamaican rum ¼ de grapefruit fresco 25 ml de suco de tangerina 50 ml ginger ale caseiro Curry em pó

DESTINO CERTO RJ

MODO DE PREPARO DO GINGER ALE CASEIRO Coloque o gengibre fatiado dentro de uma garrafa de guaraná. A medida correta é usar 50 gramas de gengibre para cada litro da bebida. Deixe a garrafa fechada e só abra quando for usar.

BAR DO COPA Sentar-se à mesa do Bar do Copa, no interior do tradicional hotel Copacabana Palace, é como habitar o cartão-postal do Rio de Janeiro. E não poderia ser mais especial. Localizado à beira da piscina, o espaço possui uma carta de drinques exclusivos. www.bardocopa.com.br

MODO DE PREPARO DO DRINQUE Em uma coqueteleira, macere o grapefruit com o curry em pó. Acrescente o rum e o suco de tangerina. Sirva em um copo longo com gelo e complete com o ginger ale.

SP

MYNY BAR Com um ambiente intimista, inspirado nos típicos bares do underground nova-iorquino e com uma trilha sonora recheada de jazz e soul, esta casa localizada em São Paulo possui uma variedade de rótulos exclusivos de rum, difíceis de ser encontrados no mercado. www.mynybar.com.br

FOTOS MASAO GOTO FILHO | DIVULGAÇÃO

Havana Club Anejo 3 años É um clássico rum cubano produzido na região de Havana. O destilado marca presença por ser bastante aromático, no qual as notas de chocolate, banana, baunilha e pera caramelizada se destacam. PREÇO: R$ 53

ESCURO

BRANCO

Os ideais Captain Morgan Original Spiced Rum Ele é considerado o melhor entre os melhores da categoria. Possui notas frutadas e picantes e sua cor âmbar é o resultado do envelhecimento da bebida em barris de carvalho branco queimado. PREÇO: US$ 15


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passaporte

Hotéis e viagens para seduzir

Por Mariana Sampaio

A CASA DAS MODELOS O que dizer de um hotel criado pelo ex-dono do lendário Studio 54? Badalação, definitivamente, não faltará. O Gramercy Park Hotel, em Nova York, é uma das joias do americano Ian Schrager. Com decoração luxuosa – quadros de Andy Warhol e Basquiat estão espalhados pelas paredes –, ele é o point de celebridades. O ponto alto para quem busca diversão é o concorridíssimo Rose Bar. De vez em quando, astros como Keith Richards (foto ao lado) , dos Rolling Stones, e Axel Rose (foto maior), vocalista do Guns and Roses, dão uma palinha por lá. AMBIENTE O Rose Bar é o palco de uma das maiores concentrações de mulheres bonitas por metro quadrado em Nova York. Por isso mesmo, não é qualquer um que entra no lugar. Uma hostess barra os mais animadinhos. A vantagem de ser hóspede é que o acesso é livre. LOCAL Nova York DIÁRIA a partir de US$ 455 www.gramercyparkhotel.com

SEM RESERVAS VIAJOU SOZINHO E NÃO QUER CAIR NA BALADA? NÃO SE PREOCUPE. A FERVEÇÃO ACONTECE NO PRÓPRIO HOTEL. STATUS MOSTRA O MAPA DA MINA

Happy hour na Champs Elysées O hotel Pershing Hall, localizado entre as avenidas Montaigne, George V e Champs Elysées, possui um ar tradicional. Mas não se engane. Por trás da sobriedade, se esconde um hotel bem agitado. Um posto garantido pelo badalado lounge renovado por Andrée Putman, a “rainha” do design francês. AMBIENTE As cortinas e os lustres vermelhos dão um toque extravagante ao local que sempre está cheio de gente bonita e descolada. LOCAL Paris DIÁRIA a partir de 350 euros www.pershinghall.com

RIO 40 GRAUS Para quem quer sair da rota Leblon-IpanemaCopabana, o bairro Santa Teresa tem sempre opções charmosas. Uma delas é o Hotel Santa Teresa. A Baía de Guanabara, o Cristo Redentor e as montanhas da serra de Teresópolis fazem parte do cenário do hotel. AMBIENTE Contemplar o cair da tarde numa das poltronas do Bar dos Descasados ao som do DJ é imperdível. LOCAL Rio de Janeiro DIÁRIA a partir de R$ 835 www.santa-teresa-hotel.com

FOTOS JAMIE MCCARTHY/GETTY | JOE KOHEN/WIRE IMAGE | DIVULGAÇÃO


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água na boca Só o cardápio não basta

VINHOS DE FINA ESTAMPA MAIS DO QUE O AROMA, AS BEBIDAS DE BACCO TÊM UMA BOA HISTÓRIA PARA CONTAR NOS RÓTULOS

Com a bênção de Bacco Os vinhos canadenses não são considerados tão avançados quanto os australianos quando o assunto são os produtores do Novo Mundo. Mas, no quesito design, eles estão na vanguarda. Prova disso são os rótulos da Blasted Church, caricaturas criadas pelo estúdio de design Brandever. Todas elas fazem alusão à história que dá nome ao vinho. Em 1929, um pequeno grupo de trabalhadores foi até uma mina deserta na região de British Columbia com a missão de desmontar uma igreja abandonada e levá-la para Okanagan Valley. Eles usaram dinamite e conseguiram transportá-la com sucesso. Os divertidos rótulos podem ser apreciados em todos os vinhos como o riesling ao lado. www.blastedchurch.com

Por Carlos Sambrana

Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, o Barão Philippe de Rothschild, produtor do lendário MoutonRothschild, decidiu lançar uma edição comemorativa e convidou o artista Philippe Julian para criar o rótulo. A novidade chamou a atenção do público e, o que era para ser exceção, virou regra. Desde então, Pablo Pi-

casso, Salvador Dalí, Joan Miró, Marc Chagall e Andy Warhol, entre outros, assinaram o rótulo do Mouton – uma mania que fez escola. Outras vinícolas passaram a criar estampas artísticas e hoje ganharam toques de modernidade. Portanto, se você acha que conhece vinho, não basta saber o tipo de uva: aprenda tudo sobre rótulos.


Casamento de ideais Eis a prova concreta de que os vinhos do Velho Mundo e do Novo Mundo têm muito a compartilhar. Pelo menos quando o assunto é o charme de seus rótulos. O Chianti Riserva Belvedere (1), vendido na www.enotecafasano.com.br, é um puro-sangue da Toscana cujo rótulo traz carros da década de 1930, uma paixão do produtor Jacopo di Battista, e reflete a elegância desse vinho italiano. O australiano Snake Charmer (2) www.vinaceous.com.au, com a irreverente estampa de uma encantadora de cobras, traz o clássico shiraz, a uva mais emblemática do país. O californiano The Show (3) www.theshowwines.com é inspirado nos antigos pôsteres que eram espalhados por artistas nos Estados Unidos.

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UM HQ SABOROSO Uma história em quadrinhos retrata o nascimento do vinho australiano Mother’s Milk, da vinícola First Drop. Produzido em Barossa Valley, esse shiraz adormece por 15 meses em barricas francesas e, no final, em barricas americanas. Seu rótulo mostra a história de dois amigos que se juntam para produzir a bebida muito bem avaliada por críticos de vinho. A Wine Advocate, uma das bíblias no assunto, deu 90 pontos para a garrafa. www.firstdropwines.com

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TRÊS GERAÇÕES NA GARRAFA Produzido na região de Toro, na Espanha, o vinho Matsu, que significa “esperar” em japonês, é moderno em todos os sentidos. Tanto no seu rótulo, com expressivas fotos de camponeses que trabalham na colheita, como no seu feitio. Afinal, ele é biodinâmico – suas plantações não levam nenhum tipo de herbicida ou inseticida. Com 100% de uvas tempranillo, ele é encontrado em três versões: El Pícaro, um vinho jovem que permanece três meses em barrica; El Recio, maduro com 14 meses em barris de carvalho; e El Viejo, o mais potente que repousa em barricas de carvalho francês por 16 meses. www.vintae.es

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água na boca

Só o cardápio não basta

PARA COMER COM OS OLHOS

Por Priscilla Portugal

OS ENDEREÇOS GASTRONÔMICOS PARA QUEM NÃO DISPENSA UMA BOA VISTA

DE FRENTE PARA A HISTÓRIA

ALGO A MAIS Aproveite o cenário para impressionar contando a história da Domus Aurea, um palácio romano criado pelo imperador Nero depois do grande incêndio que devastou Roma em 64 d.C. CARDÁPIO O próprio chef aponta como ponto alto do menu o irresistível cannolo de chocolate com sua mousse e zabaione de café. Mas, se o objetivo é surpreender, o menu degustação apresenta sete pratos e custa cerca de 100 euros.

O novo point carioca Uma filial do Café Del Mare, de Ibiza, acaba de ser inaugurada em frente à praia de Copacabana. Da cozinha da chef Mariana Rodrigues sai a especialidade da casa: paella de frutos do mar. Para um jantar descompromissado, tapas e saladas são boas pedidas. O lugar ganha ares de balada com a iluminação que invade o espaço de noite, deixando a paquera correr solta. E o melhor: com vista para o mar. www.cafedelmarbrasil.com

O mais novo restaurante de Roma fica no terraço do hotel Palazzo Manfredi. Os pratos mediterrâneos vão de tartar de atum a carré de cordeiro com escalope de foie gras. Quem pilota os fogões é o chef Giuseppe Di Iorio, fã de ingredientes frescos e sazonais, principalmente as trufas do norte da Itália. Com design contemporâneo, o ambiente é todo envidraçado, proporcionando uma vista única: o Coliseu e a Domus Aurea que, iluminados, ficam ainda mais espetaculares. www.palazzomanfredi.com

Prazer temporário Tudo o que é bom dura pouco e isso parece se aplicar ao Nomyia, restaurante pop-up, inaugurado em Paris, com apenas 12 lugares. Motivo: ele funciona em uma caixa de vidro no topo do Palais de Tokyo. Ele nasceu em outubro de 2009 para durar uma estação, mas foi ficando e deve encerrar as atividades até o fim de maio. Portanto, aproveite antes que acabe. A VISTA O local proporciona um cenário ímpar para quem quer apreciar a torre Eiffel. No quesito “viemos aqui pra comer ou conversar?”, o vitelo com polenta e alcaparras e o gazpacho de manjericão com pepino fazem cada centavo dos 100 euros (pagos por pessoa) valer a pena. www.nomiya.org

FOTOS DIVULGAÇÃO / KLEINEFENN / GUSTAVO MARIALVA


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perigo

Homem na cozinha

HAMBÚRGUER MUITO ALÉM DO FAST-FOOD UMA DIVERTIDA NOITE A DOIS OU A FOME PÓS-BALADA PEDEM UM BELO HAMBÚRGUER CASEIRO, RECEITA CERTEIRA PARA INICIANTES NAS ARTES DAS PANELAS

Não é preciso ser um estrelado chef para fazer bonito na boca do fogão. Um pouco de planejamento ao comprar ingredientes e equipamentos e outra pitada de concentração na hora de executar a receita são suficientes para garantir uma refeição saborosa. Se o menu do dia indicar hambúrguer, nada de pânico: você tem tudo para impressionar sua convidada em um jantar com pegada informal – ou pelo menos garantir que seu estômago avance madrugada adentro devidamente forrado. O chef István Wessel, da grife de carnes do mesmo nome e autor do livro Homeburger – feito em casa é mais gostoso, ensina aqui as principais dicas para você derrotar para sempre qualquer chapeiro metido a mestre do hambúrguer.

Passo a passo

A MATÉRIA-PRIMA A carne do seu hambúrguer deve ser a mesma que você gosta de comer no churrasco, como picanha, maminha ou fraldinha. Outra opção é coxão mole. Seja qual for o corte, não pode ter nervo. Peça ao açougueiro para separar toda a gordura da carne e moê-la à parte. Depois, corte a carne em cubos e coloque tudo (carne e gordura, numa proporção de 150 g de gordura para cada quilo de carne) no moedor ou processador na função “pulsar”, para não deixar a carne moída demais.

FOTOS KATJA RUGE/CORBIS | SHUTTERSTOCK

APERTE A CARNE Você pode preparar seus ham-búrgueres na chapa de ferro, frigideira ou grelha. O importante é que a superfície esteja bem quente. O peso ideal varia de 150 a 200 gramas. Separe a carne em bolinhos e amasse com os dedos até a carne e a gordura se ligarem. Depois achate até chegar a uma espessura de mais ou menos 1,5 centímetro. Antes de colocar no fogo, acrescente sal e pimenta moída na hora. Se usar chapa ou frigideira, coloque um fio de azeite antes da carne.

GOSTO DE SANGUE Antes de tirar sua über almôndega do fogo, certifique-se de que grelhou cada lado por dez minutos, não mais do que isso – hambúrguer bom é hambúrguer rosado por dentro, coisa que a maioria das lanchonetes brasileiras, com suas carnes passadas demais, ainda não entendeu. “Esse é o maior pecado, tem de ser do ponto para menos, senão fica ressecado e sem gosto”, espeta Wessel. “Mas essa mudança de paladar é uma cultura nova, que ainda vai prevalecer.”

FRITAS ACOMPANHA? Sim, as boas e velhas batatas fritas são as parceiras ideais do seu sanduíche, mas elas dão muito trabalho e engorduram tudo. Então, esqueça. Vamos às opções: pão de hambúrguer ou pão francês são os mais indicados, mas antes besunte suas metades com uma boa mostarda. Acrescente salada fresca ou, se quiser dar uma bossa, relish de pepino ou cole slaw, aquela salada de repolho, cenoura e maçã verde com creme de leite e maionese. Depois é partir para o abraço – seja o dela, seja o do sofá da sala.


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ignição

Os brinquedinhos dos sonhos

Por Mariana Sampaio

Para ligar na tomada e acelerar Mais uma vez os meninos de Stuttgart surpreenderam. Resolveram unir o alto desempenho das pistas com capacidade de se locomover por meio de energia elétrica. Por enquanto é só um carro-conceito, mas, em 2012, já veremos o Porsche 918 Spyder desfilando por aí. Segundo a montadora, a série será limitada em, no máximo, mil unidades.

FRENTE •

Agressividade

O conversível de dois lugares tem linhas esportivas que lembram outros bólidos da montadora como o Boxster e o Carrera GT.

INTERIOR Um botão permite ao motorista escolher entre quatro modos de direção: E-Drive, Hybrid, Sport Hybrid e Race Hybrid. A bateria de íon-lítio oferece energia adicional ao carro e pode ser carregada na rede elétrica comum.

AS RODAS de alumínio com cubo rápido (apenas uma porca), as calotas em Perspex e o sistema de distribuição vetorial de torque garantem ótima tração.

TRASEIRA •

Aerodinâmica

Ela possui saídas de ar com função de pressão dinâmica. Ou seja, prende o carro no chão proporcionando mais estabilidade. Além disso, refrigera o motor localizado na parte de trás.

PEDIGREE ALEMÃO MOTOR POTÊNCIA CONSUMO ACELERAÇÃO VELOCIDADEMÁXI MA

V8 de 3,4 litros 500 cv 33,3 km/l 0 a 100 km/h em 3,2 s 320 km/h

FOTOS DIVULGAÇÃO


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poder

Quem tem, quem quer ter

A CIRANDA DO PRECONCEITO O QUE TÊM EM COMUM JAIR BOLSONARO, SARAH PALIN, MARINE LE PEN, SILVIO BERLUSCONI, KIM JONG-IL E MAHMOUD AHMADINEJAD

O capitão reformado e deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), defensor do regime militar e da tortura, machista e homofóbico, revelou dias atrás, no quadro O Povo Quer Saber, do CQC (Rede Band), uma faceta nova de seu comportamento. Nada que contrariasse, porém, seu assumido papel de fanfarrão. Perguntado por Preta Gil como ele reagiria caso um filho seu namorasse uma negra, Bolsonaro respondeu: “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente lamentavelmente como o teu.” Preta Gil está processando o deputado, mas Bolsonaro pode ficar tranquilo: não está sozinho

na sua cruzada do atraso. Se ele fosse norte-americano, seria Sarah Palin (possível candidata republicana em 2012). Se Sarah Palin fosse francesa, seria Marine Le Pen (líder das pesquisas presidenciais com um discurso racista e anti-imigrantes). Se Marine Le Pen fosse italiana, ela seria Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro que também não morre de amores pelos imigrantes e pelas minorias. Silvio Beslusconi, se fosse coreano, teria todos os dotes para ser o ditador caricato Kim Jong-il – que, por sua vez, tem o mesmo horror aos homossexuais e o mesmo amor à violência do líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Ahmadinejad, se fosse brasileiro, adoraria se espelhar no capitão Bolsonaro.

FOTOS AFP PHOTO ROBYN BECK | EPA/ABEDIN TAHERKENAREH | AP PHOTO/ANDREW MEDICHINI | AP PHOTO/ANDREW MEDICHINI | PAULO DE ARAÚJO/DA PRESS


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design Arte e decoração

PLANTA LUMINOSA O designer neozelandês Jeremy Cole, que já assinou trabalhos para marcas como Bulgari e expôs em galerias e museus da Europa, é um especialista em usar cerâmica em luminárias. Prova disso é o lustre Aloe Shoot, que reproduz uma planta fechada. Sensação no design internacional, a peça pode ser encomendada no www.jeremycole.net

Arquitetura à la disco Devido à beleza de suas praias, a cidade de Antalya, no sul da Turquia, é conhecida como a joia da Riviera Turca. Mas as preciosidades da região vão além do cenário natural. Ali fica um dos marcos do design da hotelaria mundial: o Hillside Su. Membro do seleto grupo da rede Design Hotels, ele tem uma cara que lembra as baladas dos anos 60. No lobby, por exemplo, seis enormes globos de espelhos estão enfileirados e refletem luzes coloridas que mudam do vermelho para o amarelo e do verde para o azul. Criado pelo designer Eren Talu, o hotel, que mescla o estilo retrô com toques de modernidade, conta com 294 quartos – todos com móveis clean – e seis diferentes restaurantes. www.designhotels.com

TOYS DESCOLADOS Feitos pela Medicom Toy, os packs duplos de minifiguras Kubrick e Be@rbrick são baseados no novo filme Tron: legacy, continuação do clássico de 1982. O conjunto é uma edição limitada de apenas 1.500 peças, e os brinquedos, baseados nos personagens, são Sam Kubrick & Lightcycle Be@ rbrick, Clu Kubrick & Lightcycle Be@rbrick e Tron & Sark Kubrick. Peças com lugar garantido em ambientes descontraídos. www.amazon.com

EXPLOSÃO DE CORES Supernova. É assim que uma explosão estelar é denominada por astrônomos. Para o artista plástico canadense Julien Valée a supernova é uma obra de arte. Ele criou a tela acima para retratar o momento da explosão de uma estrela com uma variedade de cores. A peça foi exibida em galerias de arte na Ásia e pode ser vista no www.jvallee.com

BEATLES EM CASA OS MÓVEIS EM ESTILO RETRÔ VOLTARAM COM TUDO. E A DESMOBILIA, UMA ESPECIALISTA NA CRIAÇÃO DE PEÇAS DE DESIGN, NÃO PERDEU TEMPO. UM DOS DESTAQUES É O BUFFET LIVERPOOL, QUE REMETE AOS BEATLES. GOSTOU? ENTRE NO WWW.DESMOBILIA.COM.BR

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o cara

Por que ele é invejado

CRISTIANO RONALDO

ELE PERDEU O POSTO DE MELHOR DO MUNDO DA FIFA. MAS NO CAMPO DAS CONQUISTAS AINDA É O NÚMERO 1 Que Lionel Messi, que nada! O português Cristiano Ronaldo, camisa 7 do Real Madrid, ainda deixa o rival do Barcelona para trás. Pelo menos, no campo das conquistas. Aos 26 anos, o craque namora a top model russa Irina Shayk, uma das mulheres mais belas do planeta. Quando criança, ela sonhava ensinar literatura. Ainda bem que deixou Dostoiévski de lado e preferiu mostrar outros dotes de mulher letrada ao mundo. Esta gata de olhos verdes e lábios carnudos fez o jogador ser um dos homens mais invejados dentro e fora das quatro linhas.

QUEM É IRINA Do alto de 1,78 m, com 86 cm de busto, 58 cm de cintura e 88 cm de quadril, ela é uma das modelos mais requisitadas do mundo. Já estrelou campanhas de lingerie para a La Perla e foi a cara de grifes como Armani Exchange e Guess.

FOTOS CRISTINA QUICLER/AFP | DIVULGAÇÃO


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lado B

A outra versão da história

De tacada em tacada

REGRAS

Nada de cavalos puro-sangue, camisas polo e modelos tomando champanhe à beira do campo gramado. Adaptação livre do polo clássico, o Hard Court Bike Polo é jogado em quadras de cimento, em cima de bicicletas, algumas com proteção nos aros da roda da frente, para prevenir acidentes com os tacos. O jogador tem que se desviar do adversário, criar jogadas técnicas com a bola e ainda se manter equilibrado. Na capital paulista, um grupo organizado de jogadores, o São Paulo Bike Polo, joga duas vezes por semana em uma quadra do Parque do Ibirapuera. Como é mais um jogo do que um esporte, não é preciso estar em forma e a cerveja corre solta do lado de fora da quadra.

EQUIPES Cada time possui três jogadores. QUADRA A ideal deve ter 40 metros de comprimento por 20 metros de largura – o tamanho de uma quadra de hockey de rua. EQUIPAMENTOS Há quem prefira montar o taco manualmente, usando bastões de

FOTOS GABRIEL RODRIGUES

esqui unidos a um cilindro feito com o tubo de um polímero resistente. Mas dá para comprar pronto. A bola é a mesma usada nos jogos de hockey de rua. Vale qualquer bicicleta, mas a tendência são as de apenas uma marcha, com freio na roda da frente.

empate, após o encerramento poderá reiniciar a partida. do tempo normal, ganha o É permitido ficar parado com time que marcar o gol de ouro. a bike na frente das traves.

JOGADAS A bola pode ser conduzida usando qualquer parte do taco, mas só é permitido o lançamento ao gol com uma das extremidades do cilindro. Após marcar, o time deve TEMPO O jogo tem duração de retornar ao seu campo de 10 minutos ou 5 gols. Havendo defesa; só assim o outro time

FALTA Não é permitido encostar o pé no chão. Acontecendo isso, o jogador deve sair da jogada e bater com o taco no meio de ambas as laterais da quadra. Os únicos contatos válidos são bike com bike, taco com taco e ombro com ombro.


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play

Discos, shows e o que mais interessar no mundo da música

Por Piti Vieira

Haja amor O novo aplicativo para iPhone da cantora de soul music Erykah Badu, que se apresentou no Brasil no fim do ano passado, é um exemplo da “gamificação” da música atual. Apresenta o básico de todo app de artistas musicais, como notícias, tweets e vídeo, mas também traz um sistema de pontuação chamado LoveMeter, que funciona de acordo com a quantidade de conteúdo sobre a cantora que o fã partilha com amigos, o quanto de música que ele compra dela e quantas vezes vai a seus shows, marcando posição estilo Foursquare (serviço de geoloca-lização que permite dizer onde se está através de um aplicativo no seu celular). E a recompensa? Mensagens de voz da própria Erykah, que, aparentemente, ficarão mais pessoais dependendo da pontuação do fã no LoveMeter. Pouco para quem está consumindo vorazmente tudo o que Badu produz. É o amoooooorrr...

PALHINHA Música favorita do ano passado “Lua Caiada”, do gaúcho Nelson Coelho de Castro. Três músicas antigas favoritas Pode ser “Pobre meu Pai”, do Sérgio Sampaio, “One More Cup of Coffee”, do Bob Dylan, e “Arranha-céu”, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa. Artista novo favorito A cantora Andréia Dias, o compositor Wado e a banda Les Pops. Minha colaboração dos sonhos Já realizei várias “colaborações dos sonhos” no Baile do Baleiro, meu

Num papo rápido e descontraído, o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro dá uma canja sobre o que tem feito ultimamente e revela suas preferências musicais projeto de covers, mas ainda gostaria de dividir microfones com Erasmo Carlos ou ter uma música gravada pela Nana Caymmi. Último grande show a que assisti Sir Paul McCartney, no Morumbi, e Mestre Benito di Paula, no Vivo Rio. Instrumento favorito Meu velho violão Di Giorgio, em que ainda hoje componho. Loja de discos favorita Antes, Baratos e Afins e Pops. Agora, Fnac, Cultura e Livraria da Vila [todas em São Paulo].

Disco preferido que comprei Revolver, do Walter Franco, e Serestas, do Lúcio Alves. Melhor cidade para se tocar Uma com um público bem caloroso. Coisa mais estranha que já recebeu de um fã Um sapato de salto, que uma fã me deu num show em Belo Horizonte. Meu toque de celular Silencioso, como sempre. Detesto barulho. O que é approach para você? Borogodó, ziriguidum, balacobaco...

Espelho meu “Meus piores erros foram cortes de cabelo”, já dizia o finado Jim Morrison. Liam Gallagher, atual vocalista da banda Beady Eye, que é a formação do Oasis, menos o irmão dele, Noel Gallagher, não pensa assim. O que gostaríamos de saber é quem corta o cabelo do rockstar.

+ A PERSONAGEM MELINA, DE MAYANA MOURA, NA NOVELA PASSIONE

O WILLY WONKA INTERPRETADO POR JOHNNY DEPP

= LIAM GALLAGHER DEPOIS DA BRIGA COM O IRMÃO NOEL

FOTOS DANIEL ARATANGY/DIVULGAÇÃO | FRANCOIS BERTHIER/CORBIS | DIVULGAÇÃO


R.E.M. – COLLAPSE INTO NOW 15º disco da banda americana, foi lançado recentemente e conta com participações especiais, como Eddie Vedder, Patti Smith e Peaches. BEASTIE BOYS – HOT SAUCE COMMITEE PT. 2 O oitavo disco de estúdio do grupo americano de hip-hop chegou no dia 19 de abril e foi lançado antes da parte 1, ainda sem data prevista. RADIOHEAD – THE KING OF LIMBS Lançado em fevereiro, o sucessor de In rainbows tem oito faixas e exatos 37 minutos de duração. FRANZ FERDINAND – SEM NOME DEFINIDO Recheado de mistérios, sabe-se apenas que o vocalista Alex Kapranos e o guitarrista Nick McCarthy já escreveram novas faixas. COLDPLAY – SEM NOME DEFINIDO Produzido por Brian Eno, responsável por sucessos do U2, o quinto disco da banda britânica conta a história de duas pessoas perdidas que se encontram em um ambiente difícil. DR. DRE – DETOX Aguardado há dez anos e adiado incontáveis vezes, o álbum do produtor de Snoop Dog e Eminem já tem um single – I need a doctor – lançado com participação de Eminem. AMY WINEHOUSE – SEM NOME DEFINIDO Seu terceiro disco, prometido para janeiro, ainda está em fase de gravação e produção. KANYE WEST & JAY-Z – WATCH THE THRONE Prometido para maio, o álbum das superestrelas americanas do rap ainda está em fase de gravação. Os dois alugaram um andar inteiro do Mercer Hotel, em Nova York, para finalizar o disco. Finos. RACIONAIS MC’S – SEM NOME DEFINIDO O grupo paulista de rap interrompe uma pausa de oito anos sem novos discos de estúdio para lançar o sucessor do elogiado Nada como um dia após o outro dia. CSS (CANSEI DE SER SEXY) – SEM NOME DEFINIDO O terceiro álbum deles, menos rock que Donkey, o disco anterior, terá reggae, música de baile, música dance, pop... LADY GAGA – BORN THIS WAY O segundo disco da cantora chega carregado de expectativas, nutridas pela própria, que afirmou que esse é o “melhor disco da década”. Será?

Cover de lego

Stones completo

Virou mania na internet recriar álbuns de música usando peças de Lego. A capa acima, inspirada no Abbey Road dos Beatles, foi produzida dessa maneira e publicada no Flickr, site de hospedagem de imagens. Existe até uma página conjunta (www. flickr.com/groups/lego_album_covers), que reúne todas as criações. O último a se aventurar nessa seara foi o britânico Aaron Savage, 21 anos, que resolveu gastar 100 libras em Lego. Para conferir, clique no www.flickr.com/ photos/savagearrow.

Acaba de ser lançada, no Reino Unido, uma supercaixa dos Rolling Stones, reunindo um total de 173 faixas em 45 singles. Singles (1971-2006) traz todos os discos da banda numa caixa rosa com o logotipo da famosa “língua pra fora” e farto material gráfico, com destaque para um livrinho com 32 páginas com fotos raras e texto do jornalista e “especialista em Stones” Paul Sexton. A caixa já pode ser comprada no Amazon por 169,99 libras, o equivalente a cerca de R$ 460.

Agenda

Os 11 discos mais esperados de 2011

Apesar da crise da indústria fonográfica, a lista de lançamentos para este ano é extensa e passeia pelos mais diferentes gêneros musicais. Confira os álbuns que o mundo espera – para baixar:

OS SHOWS IMPERDÍVEIS DE MAIO E JUNHO JAMIE LIDELL O cantor e produtor britânico de soul se apresenta no club Clash, em São Paulo, no dia 5 de maio. URBAN MUSIC FESTIVAL Os cantores de R&B Cee Lo Green e John Legend são as atrações principais do Urban Music Festival, que acontece em São Paulo no dia 29 de maio, na Arena Anhembi. ALICE COOPER O roqueiro americano se apresenta em Porto Alegre (Pepsi On Stage, 31 de maio), São Paulo (Credicard Hall, 2 de junho) e Curitiba (Master Hall, 3 de junho). BMW JAZZ FESTIVAL O novo evento de soul e jazz acontecerá em São Paulo nos dias 10, 11 e 12 de junho, no Auditório Ibirapuera, com a cantora Sharon Jones, os saxofonistas Wayne Shorter e Joshua Redman, os baixistas Marcus Miller e Renaud Garcia-Fons, entre outros músicos. CUT COPY A banda australiana de electro-rock fará seu primeiro show no Brasil no dia 10 de junho, no HSBC Brasil, em São Paulo.


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Os bastidores da sétima arte

Por Tom Cardoso

O síndico no cinema Inspirado na biografia escrita por Nelson Motta (Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia), o diretor Mauro Lima (Meu nome não é Johnny) começa a rodar em breve o longa-metragem inspirado na vida do controvertido cantor e compositor. O filme terá o cantor Duani (foto) fazendo o papel de Tim Maia (1942-1998). A julgar pelo personagem, será um filme bem movimentado. A música brasileira é farta de personagens trágicos e polêmicos, uma mina de ouro para a indústria do cinema. Alguns exemplos: ASSIS VALENTE (1911-1958) O autor de Brasil pandeiro tentou o suicídio várias vezes. Na primeira tentativa atirou-se do alto do Corcovado. Só foi bem-sucedido na quarta, ao tomar guaraná com formicida.

NELSON GONÇALVES (1919-1998) Ex-boxeador, o “Metralha” decidiu virar cantor para curar a gagueira. Estrela do rádio nos anos 40 e 50, viciou-se em cocaína e quase morreu. Foi salvo pela mulher.

RAUL SEIXAS (1945-1989) Ele passou a vida no limite entre a lucidez e a loucura. Chegou a ser preso durante um show, confundido como impostor de si mesmo. Trocou as drogas pelo álcool e morreu de cirrose.

MORENAS PRATEADAS

O bom e velho Clint de volta Quem não aguentava mais a fase sensível de Clint Eastwood, que predominou em seus três últimos filmes – Gran Torino (foto), Invictus e Além da vida – pode comemorar. Mas nem tanto. Um pistoleiro do tipo durão como nos filmes de Sergio Leone talvez ele não interprete mais, mas o seu próximo longa vai dispensar o uso de lenços. O cineasta vai contar a história do lendário diretor do FBI John Edgar Hoover (1895-1972), que ficou famoso por combater os gângsteres nos anos 30.

A atriz Alice Braga prestou uma sutil homenagem a Sonia Braga, sua tia, no clipe da música Nightwalker, de Thiago Pethit, lançado no final de março. O vestido prateado, que deixou Alice mais uma vez deslumbrante, é muito parecido com a inesquecível peça que vestiu Sonia no filme “Eu te amo”, de Arnaldo Jabor. Veja o clipe em: www.youtube. com/watch?v=QyAYrmLYVfg

DVD ABUTRES (2010, ARGENTINA/CHILE/FRANÇA) A película porrada de Pablo Trapero traz Ricardo Darín no papel do advogado especializado em lucrar com acidentes de trânsito. Com roteiro bem amarrado e atores que suam sangue, a produção é mais uma prova do vigor do cinema argentino.

FOTOS DIVULGAÇÃO | REPRODUÇÃO | MÁRIO M. LEITE/AE | JUAN GUERRA | ANTHONY MICHAEL RIVETTI/DIVULGAÇÃO


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Tudo sobre o mundo da literatura

É PROIBIDO PROIBIR Voltou a tramitar no Congresso o projeto de lei que permite a divulgação da imagem e informações biográficas de pessoas de notoriedade pública. Se o projeto de lei já existisse, Roberto Carlos não teria embargado a sua biografia (Roberto Carlos em detalhes, Editora Planeta), escrita por Paulo César Araújo, nem os herdeiros de Raul Seixas ameaçariam espernear nos tribunais caso o jornalista Edmundo Leite lançasse seu livro sobre a história do roqueiro. A seguir, outras biografias não autorizadas que poderiam virar best-seller:

Ronaldo, um craque transviado Sinopse: Revela detalhes da crise nervosa na final da Copa de 98 e o que o Fenômeno teria feito com os três travestis no motel Xuxa – a rainha dos baixinhos – e dos adultos Sinopse: Os bastidores das primeiras pornochanchadas; o namoro com Pelé e com o piloto Ayrton Senna

PING PONG

Fernando Morais O autor de A ilha volta ao tema Cuba para contar a história de cinco cubanos acusados de espionagem e condenados à prisão perpétua nos EUA. O livro sai em maio, pela Companhia da Letras. Morais conversou com a coluna. Os cubanos eram mesmo espiões? Eram nada. A condenação foi um erro. E o que eles faziam em território americano? Eles monitoravam grupos de extrema-direita,

que planejavam jogar bombas em Havana para enfraquecer o turismo local. O sr. ainda acha que os Estados Unidos vão invadir Cuba? Sim, é o que eles mais querem. Eles invadiram o Iraque, que fica do outro lado do mundo. Por que não vão invadir Cuba? A distância entre Havana e Miami é a mesma entre São Paulo e Piracicaba.

UM DIA SAI Fernando Morais podia escrever um livro sobre os seus livros que nunca saíram.

de gravação com ele. ACM fala sobre tudo, inclusive sobre a misteriosa morte do genro.”

ANTÔNIO CARLOS MAGALHÃES “Não tenho pressa, já que não tenho perigo de ser furado por ninguém. Tenho nove horas

JOSÉ DIRCEU “É uma tremenda história. Mas a vida do Zé sofreu um solavanco por causa do mensalão.

O QUE ESTOU LENDO? Luis Fernando Verissimo “O último livro do (José Roberto) Torero (em coautoria com Marcus Pimenta), O evangelho de Barrabás. Da nova geração de escritores, Torero é um dos meus favoritos. Escreve bem e é divertido”

FOTOS RODOLPHO MACHADO/AGÊNCIA O GLOBO | RENATO VELASCO | HEULER ANDREY/AGÊNCIA ESTADO | DIVULGAÇÃO

Vou esperar o julgamento para decidir.” HUGO CHÁVEZ “Ele topou, mas disse que havia outro jornalista brasileiro na jogada: o Bob Fernandes. O Bob está demorando para escrever. Não desisti, não.”

NÃO PERCA É sempre prazeroso ler uma biografia não autorizada, ainda mais quando o personagem é um ditador. E dos grandes. Nenhum outro tirano permaneceu mais tempo no poder na Europa (46 anos!) do que o português António de Oliveira Salazar, que teve sua vida dissecada pelo escritor Filipe Ribeiro de Menezes. Salazar – uma biografia política, 808 páginas, preço médio: R$ 59


aPPrO ch

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redenção

Fotógrafos incríveis e suas mulheres maravilhosas

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Um artista das lentes O francês Patrick Demarchelier é sócio do exclusivo clube dos mais brilhantes fotógrafos de moda e beleza do mundo. Mais que isso, seu talento e estilo superaram há muito qualquer fronteira entre fotografia e arte. Algumas de suas imagens das mulheres e homens mais famosos e belos do planeta, como Robert De Niro, Madonna, Paul Newman e Princesa Diana, de quem foi o fotógrafo oficial por oito anos, de tão célebres viraram ícones do nosso tempo. Nesta foto de 2008, publicada na edição de maio da revista Allure, o fotógrafo captura todas as curvas da modelo americana Leigh Yaeger em uma cena que exala pureza e sensualidade.


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desejo

O que dar para ela

DESIGN ATRAENTE Poucas pessoas conseguem traduzir a alma feminina com maestria em suas criações. O estilista italiano Giorgio Armani é um deles. Dono de um gosto refinado e de traços elegantes, ele criou uma sofisticada bolsa para a grife que leva o seu nome. Confeccionada em couro prensado que reproduz a pele de crocodilo, ela tem uma tonalidade levemente prateada e sai por R$ 8,1 mil. Trata-se de um presente único para quem pretende agradar uma mulher.

SEMPRE ELA... A BOLSA

UMA PEÇA COMO A DA GRIFE GIORGIO ARMANI SERVE COMO UMA ARMA DE SEDUÇÃO

FOTO FRED JEAN | MAKE/HAIR SAYURI ODO | MODELO DAISE SOARES/BRAVO MODEL


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meninos e meninas

O que elas pensam de nós

POR VANESSA BARONE

SÓ É BOM DE CAMA QUEM É BOM DE LÁBIA Você pode até disfarçar. Mas nós sabemos que você, homem, ainda se debate com as nossas idiossincrasias. Aposto que vive se perguntando, por exemplo, por que não dormimos depois do sexo? Seria óbvio? Não para nós. E isso não deve ser encarado como um problema, pelo contrário, deveria ser motivo de orgulho. Explico: o excesso de energia das mulheres nesse momento é diretamente proporcional ao tamanho do prazer obtido momentos antes. Ou seja, se tudo correu como o esperado – e você “mandou bem”, “deu no couro”, nos “fez mulher” ou como preferir chamar sua performance –, é bom ir arranjando assunto. Pode parecer que

SE TUDO CORREU COMO O ESPERADO – E VOCÊ

“MANDOU BEM”,

DEU NO COURO

NOS “FEZ MULHER” OU COMO PREFERIR CHAMAR SUA PERFORMANCE –, É BOM IR ARRANJANDO ASSUNTO.

nunca ficamos satisfeitas. Afinal, comenta você na mesa de bar, o sujeito dá tudo de si no momento crucial. Leva sua parceira aos limites da Via Láctea e bem que merecia ser agraciado com o silêncio cósmico. Mas não se trata disso. Para o seu azar (ou sorte, sei lá), somos seres complexos. Sexo é muito objetivo para nós. Precisamos de um dialogozinho para ter certeza de que tivemos alguma intimidade, que fizemos diferença no seu repertório de conquistas. Em compensação, não somos exigentes na escolha do tema desse interlúdio pós-coito. Você pode falar dos diferentes desempenhos de seu carro “flex” (ah, só homem faz essa conta), da maior onda que já surfou, do resultado da Libertadores ou da viagem que planeja fazer para jogar em Las Vegas. Pode contar como desbloqueou seu iPhone ou quais os novos aplicativos do seu iPad. Com o perdão do trocadilho: “iPode” tudo. Excetuando, é lógico, cair no sono enquanto grudamos nosso olhar nas paredes e imaginamos se a primeira presidente mulher do Brasil também passa por situações como essa.

FOTO ANA VITALE

Uma boa ideia é deixar a gente falar. Adoramos contar nossas teorias sobre o mundo e as pessoas. Geralmente, temos pensamentos formados sobre tudo, dos conflitos nos países árabes ao retorno à moda dos esmaltes metalizados. Você só precisa ouvir, sorrir e segurar nossa mão. Mas se quiser mesmo agradar, peça a palavra e inicie um assunto infalível: nossos predicados. Valem elogios à circunferência das nossas coxas, ao tamanho dos nossos seios ou ao formato do nosso umbigo (já sabemos que somos inteligentes, não perca tempo com isso). Palavras doces que nos façam sentir deusas, verdadeiras Angelinas Jolies (ainda que genéricas), Afrodites do terceiro milênio. Sabe como é? Aposto que sabe.


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versus

Rivalidade saudável

“ESTA AQUI NÃO, MICK”

“Carla tinha apenas 21 anos e era muito sexy, de cabelo comprido, uma silhueta notável e um rosto juvenil levemente asiático.” Italiana educada na França, modelo – um deslumbre. “Em muito pouco tempo fiquei obcecado por ela”, confessa Eric Clapton, em sua autobiografia (Editora Planeta, 2007). Clapton estava gravando em Nova York o álbum Journeyman e Manhattan virou cenário de “um romance muito veloz e muito romântico”. Os Stones chegaram à cidade em sua turnê Steel Wheels e Eric levou La Bruni ao Shea Stadium, na noite de 25 de outubro. Nos bastidores, apresentou-a a Mick Jagger. “Por favor, Mick, essa aqui não!” – brincou. Uma semana depois, Clapton partiu em turnê para a África e Mick e Carla já estavam dividindo os lençóis no que seria um seríssimo e turbulento affair. A dor de cotovelo de Eric levou um ano para curar.

Eric Clapton

X

Mick Jagger

Disputa: Carla Bruni Quando: segundo semestre de 1989 44 anos

Idade em 1989

46 anos

Blues melancólico

Estilo musical

Rock saltitante

Jeito de bom-moço

Sex appeal

Cara de mau

Musicista

Talento

Músico

Cocaine

Clássico

I can’t get no (Satisfaction) FOTOS DIVULGAÇÃO | MICHAEL CAULDFIELD/WIRE IMAGE


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brinquedos

Gadgets, games e inovações

Para viagem

STEVE JOBS NA APRESENTACÃO DO IPAD 2. QUANTO TEMPO ATÉ A NOVA VERSÃO DO TABLET?

Vale a pena? Os aficionados por tecnologia não vivem sem e as empresas não param de lançar novidades quando o assunto é tablet. De Apple a Dell, de Motorola a HP, de Lenovo a Samsung, há uma infinidade de modelos com os mais diversos aplicativos. A questão é: será que você precisa de um? Status listou cinco motivos cruciais para comprar e outros cinco para não comprar. Acompanhe:

COMPRE

NÃO COMPRE

Você tem a vantagem de carregar uma pequena biblioteca na palma da mão. Afinal, é possível armazenar centenas de livros digitais dentro de um tablet.

Não são tão portáteis assim. Você pode enfiar o celular no bolso e nunca saber que está lá, mas você pode fazer o mesmo com um iPad ou TouchPad?

É como um pequeno computador com todos os aplicativos necessários para o dia a dia: email, calendário, agenda e acesso à internet por meio dos sistemas wifi, 3G e até 4G – o que garante maior mobilidade.

Espere pela chegada do Android 3.0 Honeycomb, novo sistema operacional do Google, de uso exclusivo para plataformas abertas. Esse não é o caso do iPad, pois a Apple controla todos os softwares de seus produtos.

Enquanto um computador demora para ser ligado, o tablet leva alguns segundos. Mais: raramente eles travam, fazendo com que você perca seus arquivos.

Os tablets têm, em média, capacidade de armazenamento de até 64Gb e processador de 1.0Ghz de velocidade. Pouco perto das centenas de gigas que cabem em um computador.

Você deveria prestar atenção durante as reuniões, mas os tablets são uma ótima maneira de navegar na rede de forma discreta e, quando as coisas ficarem realmente chatas, pode jogar Angry Birds no modo silencioso.

Onde estão os games? Não estamos falando de Angry Birds. Será que seremos capazes de desperdiçar centenas de horas jogando World of Warcraft em um tablet? Os games ainda pertencem à era do PC.

Não há nada melhor do que assistir a uma cópia de seu filme favorito no iPad durante o trânsito caótico das maiores cidades do País. Fora que um tablet custa pouco menos do que instalar um DVD.

Ele vai ser substituído. Lembra-se dos netbooks? Até bem pouco tempo eles eram o futuro da computação. Provavelmente, acontecerá o mesmo com o tablet.

A empresa americana GAEMS redesenhou o case de viagem G155 para Xbox 360. O que há de novo nesta maleta compacta é mais espaço para guardar o console, os controles e a fonte de alimentação. Além disso, ele vem com controle remoto, cabo HDMI, altofalantes e tela de LED. Preço: US$ 279 www.projectgaems.com

O máximo... O BeoSound 8, da marca dinamarquesa Bang & Olufsen, é a “Dock Station” mais sexy para quem guarda suas músicas no iPhone, iPod, iTouch e – pasmem – iPad. Preço: R$ 2,95 mil www.lojabang.com.br

...e o mínimo O iPhone Horn Stand não necessita de energia externa, basta ser acoplado ao aparelho para reproduzir o som pelo seu minigramofone. Preço: US$ 25 www.cyberguys.com


Além do 3D Goggles – aqueles óculos usados para esquiar – hi-tech são coisa de filme, certo? Não mais. A empresa canadense Recon Instruments criou um novo acessório chamado Transcend goggles. Além de contar com uma tela LCD que mostra informações de velocidade, altitude e temperatura, tem um GPS e pode sobrepor imagens diretamente do Google maps. No fim do dia, ele gera um relatório que pode ser copiado para PC e Mac, graças à porta USB embutida. Preço: US$ 430 www.reconinstruments.com

CINCO APLICATIVOS PARA TURBINAR O TABLET E FACILITAR SEU DIA A DIA De acordo com a consultoria International Data Corporation (IDC), 80 bilhões de aplicativos, os chamados apps, serão baixados até 2014. Diante desse número, imagine a quantidade de produtos disponíveis no mercado. Para facilitar a sua vida, selecionamos cinco aplicativos gratuitos que não podem faltar no seu tablet. Acompanhe:

1 BLOOMBERG iPad e Android Se você é daqueles que não conseguem ficar um minuto sem checar o desempenho de suas ações na Bolsa de Valores, esse é o app ideal. Ele também traz notícias econômicas, cotações e vídeos sobre os mercados ao redor do mundo

2 GOOGLE GOGGLES Android Pesquise no Google com a ajuda de fotografias, sem digitar nada. Tire uma foto do objeto que você quer pesquisar e o aplicativo escaneia a imagem e procura referências na internet

TRANSFORMERS Fabricado com madeira proveniente de reflorestamento e polímeros recicláveis com alto padrão de qualidade, os carrinhos da marca americana Automoblox se diferenciam pela interação que pode ser feita entre as várias versões disponíveis do brinquedo. As peças são unidas por meio de conexões e podem ser desmontadas facilmente. Com isso, dá para transformar sedãs em picapes, peruas em hot rods e o que mais você conseguir. Os carrinhos não encantam apenas crianças. Muitos marmanjos apaixonados por automóveis também possuem suas coleções. Preço: a partir de US$ 36 www.automoblox.com

FOTOS JUSTIN SULLIVAN/AFP | DIVULGAÇÃO

4 3 EPICURIOUS iPad e Android Esse aplicativo vem do site de mesmo nome, que tem receitas das revistas Bon Appétit e Gourmet, além de dicas de outros chefs renomados. Permite fazer uma busca em todo o acervo de receitas, tem boa visualização de ingredientes e modo de fazer

THE WEATHER CHANNEL iPad e Android Do jeito que anda a coisa, não dá mais para viver sem saber a previsão do tempo. Esse app tem até mapas com o posicionamento das nuvens. É muito preciso

5 FLIPBOARD Android e iPad O aplicativo tem como função organizar a interface de redes sociais como Facebook e Twitter, e Feeds de sites como se fossem revistas virtuais, facilitando a leitura na tela


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caiu na rede

Escaneando sites de relacionamento, blogs e o melhor da internet

Por Piti Vieira

Top tweets @sergueirock [o malucão cantor carioca] O que mais me seduz nas gelatinas é que elas são flácidas nem por isso deixam de ser gostosas. Pensem nisso!

AS CINCO CATÁSTROFES MAIS FAMOSAS DO TWITTER Muita coisa pode dar errado em 140 caracteres. Selecionamos as cinco piores escorregadas que algumas artistas deram na rede de microblog

@xicosa [jornalista e autor do livro Modos de Macho e Modinhas de Fêmea] pô, Sthefany, ñ precisa levar tão a sério q o cara se chama Pato e pedir R$ 50 mil mensais d pensão por uns dias d casório.#menas

1

SANDY (@SandyLeah) “Tudo bem que a quantidade de vítimas foi bem maior no Haiti do que a de vítimas de catástrofes aqui no Brasil; mas tenho ouvido muito mais notícias de gente se mobilizando para ajudar o Haiti do que eu vi acontecer por aqui. Será que isso é justificável?”, postou Sandy, inocentemente.

2 3

THAILA AYALA (@ThaillaAyala) A atriz meteu-se numa confusão ao tuitar: “Todos ficam me olhando pensando que sou paraplégica.” Ela se referia às primeiras fileiras dos aviões, onde há mais espaço. Vacilou, né?

4

KIM KARDASHIAN (@KimKardashian) A socialite americana Kim Kardashian foi duramente repreendida pelos fãs e ativistas de proteção aos animais (ela tem seis milhões de seguidores) por seu mau jeito ao segurar um pobre gatinho preto em uma foto postada em seu perfil.

5

BRITNEY SPEARS (@britneyspears) Ser uma supercelebridade faz da sua conta do Twitter um alvo de hackers de alto nível. Britney Spears teve seu microblog invadido por duas vezes nos últimos anos. Em junho de 2009, seu perfil anunciava sua morte. Recentemente, eles voltaram a atacar e transformaram Britney em uma adoradora de satanás. Será que depois dessa ela contratou uma equipe de segurança de web mais eficiente?

Quem costuma se divertir com as cantadas publicadas no perfil @pedreiro_online, no Twitter, não imagina que por trás daquele avatar de um sorridente homem de capacete e expressão de “quero você” estejam duas mulheres. A blogueira Bic Muller, 25 anos, e a estudante de administração Joyce Falete, 21, são responsáveis por criar pérolas do tipo: “Gata, me chama de Válter Mercado e me ligue djá, sua linda!” e “Gata, vc é tão linda que até os lactobacilos vivos morrem de amor por vc.” Conversamos com as duas.

O fino da obra

GAL COSTA (@gal_costa) “Como na Bahia as pessoas são preguiçosas! Técnico do ar-condicionado ñ pode terminar o trabalho pq está com dor de cabeça. Essa é a Bahia!!!”, tuitou Gal. Seguiram-se uma série de ataques à reclamação e ela abandonou o microblog.

Como vocês tiveram essa ideia? Costumávamos criar cantadas diferentes em nossos perfis pessoais no Twitter, porque estávamos enjoadas de clichês de pedreiro. Um dia surgiu a ideia de criar um perfil apenas para postar essas cantadas, todas pensadas por nós, sem copiar ninguém. E as pessoas curtiram. Vocês já ganham dinheiro com a conta do Twitter? Possuímos um patrocinador de sextafeira. Neste dia da semana, sorteamos um prêmio para a escolhida do concurso #lindadodia, que alcançou o primeiro lugar nos trending topics do Brasil algumas vezes. Existem outras parcerias também. Sempre rola negociação com agências de mídias sociais que se interessam bastante em divulgar algo para mais de 93 mil pessoas/seguidores.

Como sair pelado no Facebook Quando a New York Academy of Art postou um desenho de uma mulher de topless feito pelo pintor americano Steven Assel, acabou se deparando com o aviso: “Você subiu uma foto que viola nossos termos de uso, e esta foto foi removida.” A escola escreveu um post indignado em seu blog: “Achamos difícil permitir que o Facebook seja o árbitro final – e curador online – da obra de arte que compartilhamos com o mundo.” Por meio de seu porta-voz, o Facebook disse ao jornal The New York Times que a eliminação foi um erro, e eles amam todas as artes, mesmo as com pessoas nuas. Na verdade, existe uma “regra não escrita que permite que desenhos ou esculturas de nu sejam publicados”, diz o porta-voz da rede de relacionamento. “Nesse caso, felicitamos o artista em sua interpretação realista que, francamente, enganou nossos revisores.”

FOTOS SHUTTERSTOCK | CORTESÕA/AFP | STÉPHANE LAVOUÉ


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*ATUALMENTE, O FACEBOOK POSSUI CERCA DE 600 MILHÕES DE USUÁRIOS E O TWITTER 200 MILHÕES

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TOP SECRET

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ONDE AS MENINAS SÃO BONITAS E MALVADAS NOSSA REPORTAGEM PASSOU UMA NOITE NO KITKATCLUB, O CLUB MAIS LIBERAL DE BERLIM, ONDE O DRESS CODE É USAR ROUPAS DE BAIXO, O SEXO É LIBERADO E A MÚSICA TEM FAMA DE BOA, SE É QUE ALGUÉM VAI LÁ PARA DANÇAR por Carolina Guerra, de Berlim

fotos Dante Busquet


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Em uma madrugada de sábado, no rigoroso inverno de Berlim no qual os termômetros

marcam cinco graus negativos, uma tenda vermelha, levemente ofuscada pela neblina, passa despercebida por quem não sabe para onde vai. Eu e meu companheiro alemão, que topou ver de perto uma das discotecas mais famosas e liberais da cidade, cruzamos a tenda e encontramos uma porta fechada. Um homem aparece após a primeira batida.

– “Estamos no lugar certo?”, pergunta meu amigo. –“Depende do que vocês estão procurando”, responde o homem postado na porta. –“Procuramos pelo KitKatClub”. –“Sim, é aqui. Mas o que vocês têm para mostrar? Algum traje em couro? Látex? Uma fantasia ou algo criativo? Não aceitamos jeans nem tênis”, diz o homem olhando nossas roupas de inverno. –“É... bom, a minha companheira pretende ficar de top e calcinha e eu, de cueca boxer”. –“Hum... Não sei. Vou checar se vocês podem entrar”. Uma mulher sai à porta, nos observa da cabeça aos pés e finalmente libera a nossa entrada. São 10 euros por cabeça. Logo na recepção, um quadro de arte erótica de uma Virgem Maria com os seios à mostra nos dá o tom do que vamos encontrar. No salão mais à frente, vemos uma Santa Ceia em forma de suruba generalizada. O local, definitivamente, não é para religiosos. Na chapelaria, um vaivém de gente tirando roupa para

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“É... BOM,

A MINHA COMPANHEIRA PRETENDE FICAR DE TOP

E CALCINHA E EU, DE CUECA BOXER” ANTES DE FUNDAR O KITKAT, O AUSTRÍACO SIMON THAUR (FOTO) COSTUMAVA VISITAR BARES E FICAVA NU JUNTO COM A NAMORADA. O INTUITO ERA VER A REAÇÃO DAS PESSOAS

entrar e se vestindo para sair. Há uma multidão de mulheres com lingeries a la dominatrix. Outras usam fantasias com tiras de couro cobrindo todo o corpo do alto de sandálias com salto agulha. O fetiche está por todos os lados: enfermeiras, bailarinas, homens sem camisa, de cueca, e até pessoas completamente nuas. As idades variam. Há garotas com cara de universitárias, jovens na casa dos 30 anos e até os com mais de 50 anos. Chega a minha hora de tirar a roupa. Para tentar me sentir à vontade, planejei algo um pouco mais conservador do que os trajes que eu usaria em uma praia no Brasil. Mesmo assim, nos primeiros minutos, fui acometida por um leve desconforto por estar exposta. Sentamos no bar. O barman, que usa dois chifres no lugar onde deveriam estar seus mamilos (um aparato descartável, segundo ele), nos serve uma taça de vinho. Logo me senti apenas mais uma na multidão. O clima é tranquilo, tudo muito à vontade e, apesar de algumas fantasias curiosas, ninguém ri de ninguém. As pessoas que estão lá, em sua maioria, procuram dançar e se divertir. Poucos parecem marinheiros de primeira viagem. Uma garota jovem, dona de uma voz suave,

nos aborda. Pergunta se queremos comprar chicotes. “Tenho de vários tipos e causam diferentes reações. Eu mesma os faço com borracha reciclada de pneus de bicicleta. Além de divertidos, também apoiam a sustentabilidade.” Não estamos interessados. Mas

a moça deixa seu e-mail, caso mudemos de ideia. Resolvemos então olhar a pista de dança. O trance psicodélico rola solto em dois ambientes. No primeiro, maior, há duas barras para pole dance, sempre ocupadas por tipos que gostam de fazer um show improvisado. Ali, de um lado, duas morenas de calcinha e sutiã dançam de um jeito lascivo, rodopiam, se esfregam na barra e por vezes se beijam. Já do outro lado, um travesti com seus 50 anos, de cabelos loiros e longos, e um biquíni minúsculo também faz a sua exibição. O nome da festa, é bom lembrar, é CarneBall Bizarre. Já a segunda pista, metade do tamanho da primeira, concentra um grande número de homens. Provavelmente porque é lá que está a entrada para uma sala não tão escura, onde os gays se aglomeram e se permitem


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fazer o que bem entendem. Apesar da rigidez do homem da porta, havia também algumas pessoas de tênis e calça jeans, outras de terno (teve um que arriscou um smoking e passou) e garotas de vestidos bem normais. É possível que sejam conhecidas do dono, o austríaco Simon Thaur. O idealizador do KitKatClub é um excêntrico por excelência. Nascido em um pequeno vilarejo na região do Tirol, deixou a Áustria aos 17 anos para conhecer o mundo. Seu sonho era ser músico, mas virou pornógrafo, astrólogo, diretor de filmes pornô e eventualmente dono de boate. Conheceu muitos países da Europa, Ásia e África. Nos tempos difíceis, chegou a tocar guitarra nas ruas para sobreviver – como fez em suas passagens pela Grécia e pelo Japão. “Nunca trabalhei em minha vida. Sempre tenho alguma ideia e a coloco em prática”, conta ele, em um inglês carregado de sotaque alemão. Não é difícil encontrá-lo no KitKat. Trata-se de um tipo entre 40 e 50 anos, magro, cabelo raspado. Na noite em que o vi, estava sem camisa, fumando um cigarro enquanto conversava com conhecidos. Thaur foi à Índia mais de cinco vezes e, entre uma visita e outra, desenvolveu um método próprio de mapa astral. “O problema de muitas pessoas acontece quando Urano está em Áries. É uma energia muito forte que pede por transformação”, diz Thaur. Ele diz ter cinco livros escritos, mas não publicados, sobre o tema. Como diretor de cinema, afirma ter feito mais de 80 filmes em dez anos, entre 1997 e 2007, todos eles um tanto artísticos, por assim dizer. Outra de suas aventuras inclui uma estadia

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de dois anos em um apartamento em Zurique, na Suíça, que era uma espécie de comunidade hippie, onde o sexo em grupo era rotina. “Foi uma época em que testei muitos valores, como o ciúme”, conta. Em 1994, foi para Berlim com a então namorada e abriu o KitKatClub, um clube de fetiche e música eletrônica. Antes disso, promoveu festas como as que acontecem hoje no KitKat e realizou pequenos testes de reação de público com sua namorada. Eles iam a bares e restaurantes comuns e ficavam nus para ver o que as pessoas diriam ou fariam. “Na maioria das vezes foi muito positivo. Nunca tive muitos problemas com isso.” Logo no começo, o KitKat teve de mudar de local, já que seu primeiro endereço era no distrito de Tempelhof, onde os moradores estranharam o novo vizinho – moderno demais para os padrões do lugar. Depois de algumas mudanças, o KitKat hoje está pousado no distrito de Mitte, na região central e perto de outras discotecas como Tresor, que ajudaram a compor a história da cena techno que se desenvolveu em Berlim nos anos 1990. “Acredito que, se a polícia quisesse, eles poderiam fechar o meu clube. Mas acho que eles estão ocupados demais para se importar com o que fazemos.”

A única regra oficial do KitKatClub é “Faça o que quiser, mas mantenha a comunicação”. A margem de interpretações para a frase é grande. A discoteca acaba sendo um lugar no qual as pessoas se permitem realizar suas fantasias. Lá, elas querem se mostrar e ver os outros. O exibicionismo é parte importante do jogo. Não há prostitutas e tampouco é um clube de swing. Claro, tudo isso pode acontecer, dependendo do que e de quem se encontra por lá. As palavras-chave, porém, estão mais para liberdade e ausência de julgamento. Apesar de o sexo ser liberado, não vi ninguém chegando nos finalmentes por ali. Dizem que as orgias do passado eram mais pesadas que as de hoje, assim como dizem que sábado é o melhor dia para ir ao KitKat e depois da duas da manhã é quando a noite começa a esquentar. Eu, como repórter, vi um mundo que não era o meu. Entrei, olhei, dancei e até me diverti. Mas quando achei que deu a hora, discretamente, peguei meus casacos na chapelaria e saí.


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O KITKAT É UM LUGAR ONDE AS PESSOAS GOSTAM DE SE MOSTRAR E VER OS OUTROS. HÁ DESDE PESSOAS QUE VÃO FANTASIADAS ATÉ AS QUE FICAM NUAS

DIZEM QUE SÁBADO É O MELHOR DIA

PARA IR AO KITKAT E DEPOIS DAS DUAS DA MANHÃ É QUANDO A NOITE COMEÇA A

ESQUENTAR


LÁ EM CASA

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MOTOQUEIRO À MODA ANTIGA AFICIONADO POR MOTOCICLETAS DESDE CRIANÇA, O JOALHEIRO ARA VARTANIAN POSSUI DEZ EXEMPLARES DAS DÉCADAS DE 40, 50 E 60. NOS FINS DE SEMANA, ELE ARREGAÇA AS MANGAS E VAI PARA A OFICINA LAPIDÁ-LAS. CONHEÇA AS SUAS PRECIOSIDADES POR PRISCILLA PORTUGAL


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RARIDADES SOBRE DUAS RODAS Os destaques da coleção

O J O A L H E I R O A R A VA R TA N I A N ,

36 anos, explora sua criatividade em dois mundos completamente distintos. No trabalho, cria colares, brincos e anéis. Quando está de folga, muda radicalmente de ambiente. Ele troca o ouro, as esmeraldas e os diamantes de seu ateliê por ferramentas como furadeira e esmeril na garagem de sua casa, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Afinal, é ali que Vartanian guarda sua joia mais preciosa: uma coleção de dez motos antigas – a maioria dos anos 40, 50 e 60 – que ele faz questão de customizar na garagem de sua casa. O lugar reúne tanques de combustível, pneus, ferramentas, capacetes e cartazes, como o do filme Easy Rider, clássico de Peter Fonda e Dennis Hoper de 1969. “Na falta de oficinas e pessoas especializadas, eu comecei a fazer as coisas aqui em casa”, diz Vartanian. “E conto com a ajuda do Beto Vieira, mecânico que sabe tudo sobre o assunto e virou um amigo.” A coleção, iniciada há cinco anos, cresceu tanto que já não cabe mais na garagem – invadiu o corredor externo da casa e até a sala. É lá que fica uma das preciosidades: a rabeta e o tanque de óleo de uma moto Flat Track, da inglesa Triumph, da década de 50. “Esta peça é especial porque tem a pintura metálica original e pertenceu ao piloto americano Don Jones.” O gosto por motos da época se deve, principalmente, ao design. “Ele era muito rico naqueles tempos”, afirma. A nostalgia não fica somente por conta dos modelos. A primeira vez que Vartanian andou de moto foi aos 7 anos, quando pilotou uma motoneta. Desde então, virou aficionado. Só interrompeu o hobby quando foi estudar em um colégio interno na Suíça e não tinha permissão para pilotar. “Sentia muita falta porque moto é assim, quem gostou uma vez nunca deixa de gostar.”

FOTOS ROGÉRIO CASSIMIRO

TRITON, ANOS 60

“Ela tem o quadro de uma Norton e o motor de uma Triumph. Eles faziam muito isso na época e punham esses tanques de alumínio, que são mais leves e permitem mais desempenho. Ela ainda tem freios de motos de corrida”

HARLEY PAN HEAD , 1952

“Foi o ponto de partida da minha coleção iniciada em 2006. Fiz a primeira versão na oficina de um amigo e fui modificando. É uma moto no estilo das usadas no filme Hells Angels”

HARLEY DAVIDSON ELECTRA GLIDE, 1972

“É a mais recente da coleção, chegou em fevereiro. Ela está com a pintura que veio de fábrica. Aliás, os adesivos também, assim como as chaves, que são originais. Isto é raríssimo. Eu estava atrás dessa moto há anos, ela era do avô de uma amiga. O interessante é que ela não tem ‘gato’ (peças de outras motocicletas, de outras épocas). Tenho até dó de trocar a placa dela, que ainda é amarela, porque faz parte do contexto”

NICKEL HEAD, 1946

“Trata-se da mais antiga da coleção. No Brasil, é chamada de Chicago, pois, na época que foi fabricada, a cidade americana tinha um grande número de pedidos e elas eram usadas pela polícia para correr atrás dos mafiosos”


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anne hathaway a atriz tem deixado a imagem de recatada de lado e se transformado na nova femme fatale de hollywood. em entrevista à status, ela conta os detalhes dessa mudança por Elaine Guerini

fotos Marc Hom


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Olhando para a atriz

Anne Hathaway hoje, um mulherão que incendeia a imaginação dos homens nas telas, mal dá para

acreditar que ela já foi um patinho feio. Mais precisamente aquela garota nerd e atrapalhada de “O Diário da Princesa” (2001), filme que a lançou ao estrelato em Hollywood. Mas a menina cresceu... E sua imagem está cada vez mais distante das personagens engraçadinhas e recatadas que ela colecionou no início de carreira – como em “O Diabo Veste Prada” (2006) e “Amor e Inocência” (2007), entre outros. “É natural que meus últimos papéis sejam reflexo do meu amadurecimento como mulher.

Não sou mais uma garotinha’’,

diz a morena de olhos negros. Mais segura de si e orgulhosa de seus atributos físicos, a nova-iorquina de 28 anos até deixou a câmera explorar o

seu corpo es-

cultural (os 55 quilos, muito bem distribuídos em 1,73 m de altura). Foi no set da comédia romântica “Amor e Outras Drogas”, que será lançada em DVD em maio, no Brasil. “Todo ator que se preza não pode desconsiderar filmar cenas de nudez. Mais dia, menos dia, isso teria de acontecer comigo’’, conta, lembrando que se sentiu desafiada a interpretar uma jovem “resolvida sexualmente’’. Principalmente depois que ela é diagnosticada com a doença de Parkinson, em estágio inicial, e encontra no

sexo a sua maior

distração. “No fim das contas, traduzir a carga emocional da personagem foi muito mais complicado do que tirar a roupa’’, diz, rindo. Recentemente, Anne também se arriscou cantando. Não só na função de apresentadora da cerimônia do Oscar, mas no estúdio de grava-

dublou uma das personagens do longa de animação “Rio’’ – em cartaz nos cinemas nacionais desde 8 de abril. A pedido do diretor brasileiro Carlos Saldanha, ela soltou a voz na faixa “Hot Wings (I Wanna Party)”, um mix ção onde

de samba com funk interpretado por Jamie Foxx e composto por Will.i.am, líder da banda Black Eyed Peas. “Foi o máximo gravar uma canção da trilha sonora, principalmente por saber que a música é um aspecto muito importante da cultura brasileira.’’

Sua perso-

nagem na animação é Jade, uma arara-azul rara e de personalidade forte. É com ela que o protagonista Blu (dublado pelo ator Jesse Eisenberg) tentará acasalar para salvar a sua espécie, em extinção. “Mas essa não será uma tarefa fácil para Blu. Enquanto ele é domesticado e medroso, Jade é uma ave

descolada, espirituosa e muito independente que vive nas

florestas do Rio de Janeiro. Ela caçoa de Blu o tempo todo por ele não saber voar.’’ Ainda este ano, Anne será vista na comédia romântica “One Day”, de Lone Scherifig, na pele de uma mulher que, ao longo de duas décadas, encontra o amor de sua vida (Jim Sturgess) uma vez

cachê na faixa de US$ 7 milhões por filme, também foi escalada para o papel da Mulher-Gato, no próximo episódio da franquia Batman, “The Dark Knight Rises”. Ela deixou para trás rivais como Jessica Biel e Keira Knightley, que também fizeram testes para o filme, atualmente em pré-produção. “ Às vezes preciso me beliscar para ter certeza de que tudo isso está realmente acontecendo comigo.’’ A seguir, os principais trechos da entrevista, realizada por ano. E a atriz, com

em dois encontros com a reportagem da Status, um em Londres e o outro em Los Angeles.

Status – Você parece mais solta e confiante, muito longe daquela imagem insegura que projetava anos atrás. Anne Hathaway – Não vou mentir. Continuo sendo uma pessoa muito ansiosa. Mas já fui pior, do tipo que se tortura e se preocupa com tudo. Hoje estou mais calma, confiante e relaxada. E confesso querer ainda mais sabedoria, o que nós provavelmente só conseguimos conforme vamos amadurecendo e sossegando a nossa alma. Com o tempo, tenho aprendido que são poucas as coisas com as quais tenho realmente de me preocupar.

– Como o quê? – Com o modo com que trato as outras pessoas. Hoje tenho uma filosofia: se você prejudicar ou ofender alguém, precisa pedir desculpas. Mas não se desculpe por mais nada na vida. Seja sempre você mesmo e siga em frente. – Concorda que sua carreira deslanchou ainda mais depois que você viveu a primeira bad girl de sua carreira (a viciada em drogas recémsaída de clínica de reabilitação de O casamento de Rachel – 2008)?


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– Não consigo avaliar a minha carreira assim. Acho que cada papel teve a sua importância na minha vida profissional e pessoal. Eu nunca sei dizer na hora, mas sempre descubro anos mais tarde por que fui levada a abraçar esse ou aquele papel. E eles sempre têm a ver com o momento que estou vivendo. Com O Casamento de Rachel não foi diferente. O que marcou mesmo foi a minha indicação ao Oscar de melhor atriz (em 2009), o que deixou o meu pai muito orgulhoso (risos). Ele foi o primeiro a destacar: “E olha que você ainda nem chegou aos 30 anos.’’

mente, porém, nunca passou pela minha cabeça. Sempre me senti mais atraída pela interpretação. Mas quem sabe? Ando fazendo coisas que eu nunca imaginei que faria...

– Como tirar a roupa num set? Como se sentiu ao fazer as cenas de nudez ousadas em “Amor e Outras Drogas’’? – Só um robô não se sentiria vulnerável. Até porque fiquei nua diante da equipe técnica do filme, pessoas que eu tinha acabado de conhecer. Apesar disso, procurei não fazer drama e encarar da maneira mais profissional possível. Fazia parte do trabalho e – Jade, sua personagem em “Rio”, dá uma canseira em Blu, seu eu tinha dado a minha palavra que ia fazer. Mesmo se quisesse, pretendente. Também banca a difícil quando um homem gosta de você? não daria para voltar atrás (risos). – Sou uma garota que não gosta de joguinhos. Eles realmente não me interessam. Para algumas mulheres, o jogo de se fazer de – É verdade que você levou o seu advogado ao set de filmagem? difícil é algo que rola naturalmente, sem forçar. Para mim, não. – Meu advogado defendeu os meus interesses no início das Sou do tipo que se deixa levar pelo coração, que se apaixona à negociações. Jake (o ator Jake Gyllenhaal, com quem ela contraceprimeira vista. Acho que o mais importante é se divertir com a nou) também envolveu o seu. E não há nada de incomum nisso, outra pessoa e aprender a se comunicar com ela, da maneira que sobretudo quando o filme tem cenas de nudez e sexo. Tudo o você mais gosta. que nós queríamos era ter o controle sobre o produto final, podendo pedir que o diretor (Edward Zwick) cortasse alguma cena – Depois de uma decepção, ficou mais difícil deixar novos amores não aprovada. entrarem na sua vida? (Anne namorou o italiano Raffaello Follieri, empresário que foi preso por fraude e lavagem de dinheiro em 2008) – E isso aconteceu? – Não sei muito bem como responder. Não é difícil para todo – Eu pedi que Ed cortasse cerca de cinco segundos de uma mundo? Não vejo isso como uma exclusividade das pessoas com cena. Não sei se foi exagero meu, mas achei que a câmera mostrou imagem pública. Claro que, com o tempo, a tendência é você a minha nudez por um tempo além do necessário. Eram poucos não confiar nos outros tão facilmente quanto fazia antes. E isso segundos, mas Ed concordou. faz parte do nosso aprendizado. O que importa é que eu sigo em frente, estou sempre fazendo novos amigos e continuo aberta para – O diretor pediu que você e Jake Gyllenhaal assistissem ao filme a vida. De quebra, ainda tenho um trabalho que eu adoro. Até “Nove Canções’’, de Michael Winterbottom, com cenas de sexo exhoje me sinto muito honrada quando me escolhem para um papel. plícito, não? – Sim, nós vimos o filme juntos. Embora seja fã do cinema de – Muitos falam de como você é expressiva, de como a sua força como Winterbottom, confesso não ter gostado muito de Nove Canções. atriz está no seu olhar. Concorda? Não vi motivo para tamanho realismo. Foi aí que tive certeza de – Obrigada! Mas eu não iria tão longe. Acho que a minha maior que eu e Jake não transaríamos de verdade nas filmagens (risos). força está no meu entusiasmo pela profissão e no fato de eu não ter medo de tentar coisas novas. – Ficou nervosa com a missão de cantar em “Rio”? – Carlos (Saldanha, o diretor) conseguiu de mim o que quis nesse filme (risos). Toda vez que nós nos encontrávamos para falar do projeto, ele me mostrava algumas imagens de animação. E elas eram sempre de tirar o fôlego. Principalmente as tomadas aéreas do Rio da Janeiro. Foi por isso que eu disse sim quando ele me perguntou se eu podia cantar. Eu teria dito sim para qualquer coisa. Mas a verdade é que me senti intimidada ao cantar diante de Sergio Mendes (que supervisionou a trilha sonora) e Will.i.am. Naquela manhã eu tomei uma xícara extra de café para encarar a situação. – Agora que soltou a voz, a ideia é seguir carreira na música também? – Cantar sempre foi algo que eu adoro. Fazer isso profissional-

“Sou uma garota que não gosta de joguinhos”


E XC LU S I VO

por Natalia Viana

O R R O T O P N D E D

O D N U M DAS O S R A TO IAN L A RE L B U M J A C , E SE AS E E D S S AN IP A E T MA IC QU D N R E IOR A A E S GR AM UA R IRA A I E S S TE LE D Z EL DA NIU IN SI E E D S T IXA EU NO RA LÁ O BA E R DA A B VA E M M G N A. TA AD O E AN ZE RR ES ID C S FA TE NA SIV ES S A MA LA IA LU OR U ING IA V EXC TID ÃO L M Ç S A A T O BA R A N A C S PE T SO O N A CO ATU SS T DE S À


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E XC LU S I VO

O T E L E F O N E N Ã O T O C O U . Ouvi o recado horas depois, em inglês britânico: “Alô, Natalia, aqui é a Hale, trabalhamos juntas em Londres. Agora estou com uma organização muito influente, queria te passar um trabalho.” Meu celular pegava mal porque eu estava em um bangalô à beira do rio Tapajós, no Pará, me preparando para escrever artigos para o jornal The Guardian sobre o aquecimento global e o desenvolvimento da Amazônia. O dia era 14 de novembro de 2010, duas semanas antes do lançamento dos 250 mil telegramas das embaixadas americanas pelo WikiLeaks. No silêncio da floresta, o convite soou longínquo, mal explicado. Entrei em contato com meu ex-chefe, Gavin MacFadyen, um dos jornalistas mais figuras que conheço e diretor do Centro de Jornalismo Investigativo de Londres, onde eu havia trabalhado com a tal Hale. A resposta veio rápida. “Estamos trabalhando em um grande projeto, extremamente empolgante, que vai ter enorme repercussão no mundo todo. Não é seguro escrever os detalhes, mas tenho certeza que qualquer jornalista gostaria de estar envolvido”, me explicou. “Todos os meus telefones estão grampeados, mas posso te ligar.” A proposta: eu deveria voar para Londres o mais rápido possível, sem saber ao certo para que ou em nome de quem. Gavin deu uma só dica, preciosa. O trabalho envolveria uma pessoa “recentemente famosa”. Como grande parte dos jornalistas investigativos, eu acompanhava a trajetória de Julian Assange e me entusiasmava com sua cruzada por documentos secretos. Intuí que era ele. “Tô dentro.” De Santarém ao aeroporto de Cumbica, mil pequenos medos se juntavam na minha cabeça: de ser tudo uma balela, de gastar em vão os R$ 4 mil pagos pelas passagens e de ser barrada no aeroporto de Londres como tantos brasileiros da minha idade, sem trabalho fixo ou uma boa explicação para a viagem. Assim, caprichei no ar blasé e lancei ao oficial da imigração: “Estou apenas de férias, vou aproveitar para fazer compras.” C O M PA N H E I R O S D E V I A G E M Em Londres, sabia aonde ir: Frontline Club, um conhecido pub no norte da cidade que promove o jornalismo independente. O dono, Vaughan Smith, cultiva a paixão pela profissão com a mesma devoção que cultiva os ingredientes orgânicos que suprem o local, na sua fazenda em Suffolk, no oeste da Inglaterra. Uma hora e meia depois, ela chega. Loira, olhos azuis, boca carnuda e com jeito de menina que mal disfarça a beleza, Hale desabafou: “Sinto muitíssimo, querida, mas você viu o que aconteceu hoje, né?” Eu não. “Emitiram um mandado de prisão contra ele.” Ele, como imaginara, era Julian Assange, uma das figuras mais controversas do jornalismo mundial. Àquela altura, o WikiLeaks já era conhecido no mundo todo – e incomodava muita gente. Em julho, havia publicado 75 mil di-

ários sobre a guerra do Afeganistão que provaram assassinatos indiscriminados de civis. Em outubro, outros 400 mil relatos secretos sobre o Iraque,

jogando luz sobre inúmeros casos de tortura contra prisioneiros. Hale parecia mais aborrecida com o atraso nos planos do que com a acusação de crimes sexuais feita por duas mulheres na Suécia. “É uma armação, isso vai embora com o tempo. Mas precisamos ter cuidado.” Meses antes, o Pentágono, braço militar dos EUA, emitira uma ameaça clara: o WikiLeaks deveria devolver todos os documentos secretos e apagá-los do seu site ou então os EUA “buscariam alternativas de obrigá-lo FOTOS CARMEN VALIÑO | PEDRO DIAS | LENNART PREISS/AP | LEON NEAL/AFP | DIVULGAÇÃO | MATT DUNHAM/AP

O INGLÊS GAVIN MACFADYEN (AO LADO) E O ISLANDÊS KRISTINN HRAFNSSON (ABAIXO) SÃO PARTE DA EQUIPE INTERNACIONAL QUE TRABALHA EM LONDRES AO LADO DO AUSTRALIANO JULIAN ASSANGE

a fazer a coisa certa”. Não tínhamos ideia do que poderia acontecer. A poucas quadras do clube, no andar superior de uma casinha comum, conheci meus companheiros de viagem. Ali vi, pela primeira vez, Julian, com seu rosto fino e nariz marcante, pálido, loiríssimo. Falou pouco, mas sua voz forte chamou a minha atenção – apenas menos, talvez, do que a vodca que me ofereceu assim que sentei à mesa. Islandesa e surpreendentemente boa. Do outro lado da mesa, um islandês de nome Kristinn sorria. Bonito, grisalho, elogiou o destilado de sua terra natal, enquanto ao meu lado Joseph, inglês nascido na Suazilândia, bebia sem culpa: “Eu não vou dirigir.” Seguiu-se então uma discussão insólita sobre quem seria o motorista – a escolha era entre um islandês quase bêbado, um africano meio cego e uma inglesa que não dirigia havia anos. “Como você pode ver, somos uma organização muito eficiente”, brincou Hale, ao se dar por vencida. Pouco antes de sair, Julian me mostrou um pedaço de papel rabiscado. “Não fala nada”, disse. Li na sua letra miúda: 250.000 telegramas de embaixadas americanas de 1966 a 2010, 1/10 não valem nada, 1/50 importantes, 1/250 muito importantes. Na saída, Kristinn se aproximou: “Você está bem?” “Estou. Queria fazer perguntas.” “Quando estiver-


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A AVENTURA COMEÇOU NO FRONTLINE, PUB NO NORTE DE LONDRES (À ESQ.), E INCLUIU 15 DIAS DE RECLUSÃO NA MANSÃO DE SUFFOLK, ONDE TODOS OS DOCUMENTOS SECRETOS FORAM LIDOS, ORGANIZADOS E CLASSIFICADOS mos na estrada”, respondeu. Hale pediu meu casaco, uma espalhafatosa peça de lã azul-marinho salpicada de bolinhas verdes. Subiu correndo e desceu com uma gargalhada que tentava abafar com as mãos. Quando Julian desceu, caímos na risada. Vestia um lenço estampado de cetim sobre a cabeça, meu casaco acinturado, óculos e enchimento nos peitos e nas costas, simulando uma bizarra corcova: “Vamos, vamos!” Chegamos a um posto de beira de estrada. Enquanto os demais foram comprar comida, Julian ficou no carro, por segurança. Aproveitei para perguntar: Por que querem uma brasileira? – Porque o Brasil é um grande país, independente, assim como a Austrália. Não pode ser visto como América Latina e também tem uma língua própria. Minha principal tarefa seria escrever matérias em português (temos muitos apoiadores no Brasil) e conseguir parceiros confiáveis na mídia brasileira. “Ah, uma coisa”, ele acrescentou. “Vamos lançar os documentos no dia 28, um domingo”. Trabalhar com o WikiLeaks, logo me daria conta, é quase sempre tentar realizar o impossível. Todo mundo se desdobra em cinco. Por anos, o site da organização estampou a seguinte frase, de George Orwell: “Em tempos de mentira universal, dizer a verdade é um ato revolucionário.” Uma organização que abraça tal frase ou é ingênua ou revolucionária. Ou os dois. Voltando para a estrada, recebemos ordens de desligar computadores e celulares. Ordens mesmo. Naqueles primeiros contatos com o grupo, entendi rapidamente que o WikiLeaks não é apenas Julian Assange. Qualquer ideia sua será contestada, discutida e rediscutida por todos, num exercício de possibilidades e impossibilidades que só termina com o melhor argumento – ou quando a estratégia mais ousada é traçada. Mas tratando-se de segurança digital, Julian manda, ponto. No dia seguinte, ele iria pessoalmente “blindar” o equipamento de todo o time. Já madrugada, a rodovia deu lugar a estradinhas tortuosas, rodeadas por plantações rasteiras e grandes casarões. Do lado de fora, plantações

e criação de faisões, patos, pombos brancos. Estávamos em Suffolk, na fazenda que abastece o Frontline Club de Londres. A mansão dos Smith, Ellingham Hall, tem dez quartos e quatro andares ligados por uma escada em caracol. O estilo é georgiano e tudo parece mesmo datar da época de um rei longínquo. Nas paredes, retratos a óleo dos antepassados nos olhavam, enquanto Vaughan ia contando a história de cada um deles. FECHADOS NA MANSÃO Para nossa segurança, ficaríamos fechados nesse casarão. As viagens à cidade deveriam ser raras, feitas em pequenos grupos. E apenas quando muito necessário. Na primeira reunião, no fim daquela manhã, a conversa chegou ao processo sueco. Tudo indicava que a Interpol iria emitir um alerta internacional e Julian não poderia mais viajar. Ele jamais pensara em se tornar um fugitivo. Mas o fato era que, se a ordem fosse dada, seria um homem procurado. “Me arrependo muito de não ter feito o WikiLeaks como uma empresa”, disse, abatido. “Se fôssemos uma

empresa que desse lucro, poderíamos vender conteúdo sobre os documentos e todo mundo nos respeitaria.” Raciocínio típico de Julian

Assange: perspicaz, original e inesperado, seguido de resposta típica do WikiLeaks: a ideia foi contestada com vigor até o jantar. No dia seguinte, recebi os documentos. Quem colocou tudo em tabelas de Excel foi um inglês de 25 anos, James Ball, jornalista excelente com números, dono de um tremendo raciocínio lógico e conservador – talvez um pouco demais para o WikiLeaks. Sempre discordava de Julian. Era delicioso assistir ao embate entre o establishment incorporado pelo jovem britânico e um hacker australiano com tendência a esgarçar limites. Meses depois, James se integraria ao The Guardian. Daria ao jornal horas de depoimento sobre o WikiLeaks, recheando um livro com sua visão “careta”. O livro foi mais tarde comprado por Steven Spielberg para embasar um futuro filme de Hollywood. Dormíamos mal e pouco, trocando o dia pela noite. Assim que recebi as duas tabelas de Excel – uma com os 1.947 telegramas de Brasília, outra com as 909 dos consulados –, passei cinco dias praticamente sem pregar os olhos. Estava diante de um relato inédito da nossa história recente, preciso e detalhado. Os documentos dão conta de todos os anos do governo Lula aos olhos do governo norte-americano, primeiro com Bush e depois com Obama. São documentos com valor histórico e não só noticioso. Por meio deles, os brasileiros saberiam pela primeira vez como é feita na prática


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a nossa política externa. Organizá-los e elaborar uma boa estratégia de divulgação, portanto, era essencial. Aos poucos os furos iam se revelando e eu, pacientemente, ia classificando um a um, elencando-os segundo a urgência e a importância. Assombrei-me com a colaboração entre a inteligência brasileira e a norte-americana nas operações antiterror, com a intervenção de membros do Itamaraty junto a juízes para liberar os pilotos americanos acusados do acidente da Gol. Me surpreendi ao ver que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, era o “homem mais confiável” para o embaixador dos EUA, enquanto falava mal do Itamaraty.

– Meu Deus! – gritei, quando li que Jobim havia dito que o presidente da Bolívia, Evo Morales, tinha um tumor. Silêncio na sala. A verdade

é que ninguém entendia os vaivéns da nossa política regional e cabia somente a mim avaliar o que era bombástico e o que não era. Todos ali concordávamos que era injusto deixar apenas cinco jornais – de países centrais, ocidentais – decidir o que era e o que não era notícia. Mas o acordo rezava que The Guardian, The New York Times, Le Monde, El País e Der Spiegel teriam exclusividade sobre todos os documentos até janeiro. O desafio então seria expandir a parceria sem irritá-los. A solução foi uma verdadeira gambiarra. Eu enviaria diariamente à imprensa brasileira as matérias que iria publicar no dia seguinte no site do WikiLeaks. Faltava só achar um parceiro, um grande jornal. E, mais importante, um jornalista confiável. Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo, tinha uma enorme vantagem: ele conhecia o Gavin, sabia que eu

JULIAN ASSANGE, COM A MANSÃO DE ELLINGHAN HALL AO FUNDO, DISCUTIU TODAS AS ESTRATÉGIAS DO CABLEGATE COM OS DEMAIS MEMBROS DO WIKILEAKS. SUA PALAVRA SÓ NÃO PODIA SER QUESTIONADA QUANDO A DISCUSSÃO TRATAVA DE SEGURANÇA DIGITAL

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trabalhara com ele e, portanto, iria levar a sério o único telefonema que eu podia fazer no isolamento do casarão. Nos dias que se seguiram, fiz de tudo para arrumar o número de seu celular, sem sucesso. Um dia, por sorte, esbarrei com ele no Facebook. “Fernando, preciso falar com você urgente. Pode me dar seu celular?”, digitei. Ao telefone, podia falar apenas o essencial: o WikiLeaks queria um parceiro brasileiro, pois tinha em mãos muitos documentos. A repercussão seria enorme, mas eu só poderia abrir o conteúdo no domingo, dia 28 de novembro, pela manhã. Sem mais detalhes. Nos dias seguintes, eu quase conseguia ouvir ecoar na redação da Folha a pergunta que já ouvira tantas vezes: “Afinal, quem é essa menina?” Fernando seguiu seu faro e fez o acordo,


S O T N E IS M U A C M E O D D O S IT A . E S U ID S” S “E M A V NÓ M E E GE E L U M D AN VA O Q R U SS D UE N A Q LIA L A JU U Q

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não sem antes enviar dezenas de e-mails querendo maiores detalhes. Novembro na Inglaterra é quase sempre noite. Em volta do casarão, tudo estava coberto de neve. A rotina seguia intensa, quebrada apenas pelos jantares, regados a bons vinhos europeus. Evitávamos os temas mais pesados; ali, não estávamos fazendo nada diferente do que jornalistas fazem nas suas redações. E, no entanto, sob ameaça do Pentágono, tínhamos de fato o que temer. “Mas esses documentos valem muito mais do que a minha vida. Ou a vida de qualquer um nesta mesa”, disse Julian uma noite, saboreando seu cálice de vinho do Porto. A seriedade da situação não impediu que ele teimasse em ir a Londres, na véspera do lançamento, para o casamento do amigo Gavin, que o escolhera como padrinho. Mas, àquela altura, com um mandado de prisão iminente, seu paradeiro já gerava especulações em toda a imprensa. Hale o apoiava: “É muito mais romântico!” Julian acabou não indo à festa, mas foi o principal assunto. A noiva não se importou.

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O I M P O R TA N T E É E S PA L H A R Nos últimos dias, a notícia se espalhara na imprensa. A internet trazia notícias em quase todas as línguas sobre os documentos que mantínhamos ali, naquela mansão fria. Julian e Hale já não falavam com ninguém: terminavam os detalhes do site, incluindo um engenhoso esquema que obrigaria cada veículo a efetivamente ler os documentos antes de publicá-los. Assim, todos os nomes de informantes que poderiam sofrer ameaça seriam retirados. Por outro lado, tínhamos que conter a tensão dos cinco jornais, que começavam a desconfiar um do outro. Para o WikiLeaks, pouco importava quem furaria quem. O que importa é espalhar. Que os documentos sejam mais lidos, mais reproduzidos, mais discutidos, que alimentem jornais, tevês, revistas, acadêmicos, ativistas, políticos, cidadãos, sejam de direita, esquerda ou centro. FOTOS CARL COURT/AFP

Assim que liguei para o Fernando na manhã do dia 28, ele mal escondeu a decepção: “Mas é só isso? Não tem nada mais forte?” Eu abria a série com uma matéria sobre operações de contraterrorismo no Brasil, dentro da estratégia de priorizar temas internacionais. Para a Folha, a história – que já havia sido ventilada pela imprensa – não era um furo. Fui firme. “É isso por hoje.” No final, o jornal se conformou. E, assim, dia após dia, as histórias que eu havia colhido naquelas noites pautaram a mídia nacional, jornais, rádios e tevês. E, enquanto comentaristas especulavam sobre o que mais haveria no balaio do WikiLeaks, só eu – jornalista independente, sem veículo ou patrão – é quem tinha a resposta. Às 6 horas do domingo, três horas antes do previsto, não deu mais para segurar. O El País soltou a notícia, seguido pelos demais. Enfim, o maior vazamento da história do jornalismo. Já corria a madrugada quando conseguimos estourar o champanhe de cinco litros. Brindamos

alto: “Ao WikiLeaks!”

Depois do lançamento, fiquei mais três dias na mansão. Os documentos, claro, trouxe comigo. Fugi do método mais seguro de transportar os arquivos criptografados e improvisei, enfiando o pen drive dentro de uma meia usada, na mochila cheia de roupas sujas. A despedida foi rápida e intensa. “Vamos ficar com saudade”, disse Hale. Voltei a Londres de trem, agarrada à mochila. Ali, a neve tinha gerado um caos enorme: os trens não saíam das estações, os ônibus fugiam da rota usual. Consegui um transporte até o bairro no subúrbio onde passaria a noite, na casa de uma amiga brasileira, mas o ônibus me deixou a meia hora de caminhada do endereço. Fui andando, arrastando a mala sobre os bocados de gelo que se formavam na calçada. Então voltou a nevar e o caminho me pareceu infinito.


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ilustração Manuela Eichner

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A GAROTA DE PROGRAMA TINHA NAMORADO

“Basta saber que ipsum dolor sit amet, placerat massa metus amet eleifend scelerisque, venenatis mattis felis vulputate viverra facere, elit molestie est lacus, odio sed urna integer. Dolores amet porta, lorem sit et luctus in luctus, magnis non rutrum, erat sociosqu eget leo et integer morbi. Turpis eros wisi morbi aliquet amet nam, training day nibh nascetur nascetur mattis sit massa. In molestie nullam sem molestie mauris, elementum dignissim, vel nec mus dolor rhoncus, bibendum sollicitudin. Est magnis mus proin ullamcorper.

Oskar Metsavah

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Oskar Metzavah. – Ola, como vai?

brooklyn’s finest and new york, i love

informado à família que o corpo do sobrinho está liberado e

ROGÉRIO* ERA CASADO E PROCURAVA UMA PROFISSIONAL DOBrasil SEXO NÃO TERsemana. PROBLEMAS deve chegar ao atéPARA o fim da próxima Status . – A confi rmação de um segundo brasileiro entre os 72 imiA confi rmação de um segundo brasileiro entre os 72 imigrantes asAFETIVOS. MAS QUASE SE DEU MAL NO DIA EM QUE RECEBEU UMA LIGAÇÃO INESPERADA

grantes assassinados na travessia do México para os sassinados na travessia do México para os Estados Unidos coloca fim em apenas um dos dramas vividos por duas famílias na região do Vale do Rio do Doce, em Estados Unidos coloca fim em apenas um dos dramas vivi“ComGerais. o perdão dos olhos presentes, queera ela tinha me ligaMinas A turma toda começou a frequentar a maginável: dos por duas famílias na região não do Vale doquem Rio do Doce, em ro contar um pouco mais sobre a fria em casa da nossa Bruna Surfi stinha, como ela do, mas sim o namorado dela, que eu nem Minas Gerais. que me meti atrás. Moro em uma dos que existia. O dos caraSantos, estavadepossesso, A identifi caçãomeses do corpo de Hermínio Cardoso de 24Uns, anos,mais foiSantos, apelidada. vezes, cação outros, A identifi doescorpo sabia de Hermínio Cardoso 24 anos, cidade do sul de Gerais, quase de na Defesa dizia que eu era, ondena eunoite trafoi confirmada pelaMinas Secretaria de Estado Social, na noite poradicamente. Eu mefoiempolguei. confirmadaLigava pela Secretaria de sabia Estadoquem de Defesa Social, fronteira com o Estado Paulo.aUma ondeaeuespera morava! saber por dessa quarta-feira (15), de masSão continua espera pra pelaela chegada dos cortrês vezes por semana. A primeira dessa quarta-feira (15),balhava, mas continua pelaQueria chegada dos corcidade não tão pequena, mas monótona, vez que a encontrei fazia pos ao Brasil. tarde de que eu tinha ligado para ela, que ia contar pos aouma Brasil. Ela com pediu onde para a minha esposa e gritava furiosamente. O G1você falouacaba comconhecendo o Itamaratymuita e comgente a Secretaria Estadual de na sol, dessas que doem O pele. G1 falou o Itamaraty e com a Secretaria Estadual de que eu me(16). sentasse numa poltronaSocial eDesenvolvimento sendo conhecidoSocial também, mesmodesta sem quinta-feira Eu não sabia odesta que dizer, enrolei (16). o caraOso na manhã Os Desenvolvimento na manhã quinta-feira antiga e gasta e saiudois do cômodo. Haviapormáximo ter apresentado queque consegui, doissido informaram, porformalmente. telefone, queNem não há previsão de data informaram, telefone, não hádesconversei, previsão de disse data mal pin- que tinha ligado sim, mas que foi por engapreciso dizer que isso acaba gerando muita alguns quadros na parede, para o traslado. paramuito o traslado. fofoca. Fazer algo escondido aqui é tarefa tados. Apenas uma reprodução mal feita no, que ela podia confirmar isso. Acabou deAires um Picasso menor me interessou. ElaGlória para o Jason Bourne, aquele personagem queAires, ela começou a falar do outro lado e eleSegundo Maria da Glória Aires, tia de Juliard Fernandes - Segundo Maria da tia de Juliard Aires Fernandes tentou chamaràa atenção, de Hollywood vivido Matt Damon, na minha cara. teria Por sorte, minha primeiro brasileiro a ser por identifi cado -, um perito terianão informado primeiroolhando brasileiroti-a serdesligou identificado -, um perito informado à midamente para baixo. Sentou-se atrás de mulher não percebeu nada. que consegue se livrar de qualquer tipo de e deve família que o corpo do sobrinho está liberado chegar ao Brasil enrascada. se você não for expert, uma mesa. Usava óculos escuros, grandes, Naquela noite não dormi, pensando no até o fim daPortanto, próxima semana. embora ambiente fosse de trabalho. Re- que podia acontecer. Passei os dias seguinacaba boca do rapidinho. A confina rmação depovo um segundo brasileiro entre os 72oimigrantes sumindo, Bruninha Sou novo, me há três e tenho assassinados nacasei travessia doanos México para os Estados Unidosme fez viajar por todas tes tenso, esperando o pior. Mas nada aconas por galáxias velocidade de cruzeiro. Uau! teceu. Não sei o que deu no cara, porque uma filhinha linda. Minha ótima, amo coloca fim em apenas umvida dosédramas vividos duasem famílias anaminha mulher e tal, como são região do Vale domas Riosabe do Doce, emas MinasSensação Gerais. entre minhas células, come- ele não ligou mais ou veio me procurar. Só coisas, a gente sempre quer mais. E foi pela cei a bater cartão na casa dela. Cair ali era sei que nunca mais procurei a Bruninha. como, bem... cobiça que o lado B da minha rotinaCardoso come- dos A identifi cação do corpo de Hermínio Santos, de 24deixa anos, essa parte pra lá. Não Agora eu aprendi, safadeza só quando eu vou entregar çou. Fiquei sabendo por amigos que uma foi confi rmada pela Secretaria de Estado de Defesa Social, natudo noitetão fácil assim. Confes- estiver viajando a trabalho.” já estava meio na dela, envolto em nova estava(15), morando aqui na minha dessa garota quarta-feira mas continua a espera so pelaque chegada dos cor*Rogério, 30 anos, é empresário cidade, uma menina linda, loira, gostosa de- meus desejos. Mas eis que um dia toca meu pos ao Brasil. tarde da noite, eu já em casa, asmais para o padrão garotas deEstadual programadecelular, Itamaraty e com adas Secretaria Desenvolvimento à tevê na sala. Meu identificador da região. Aqui, meu irmão, tudo funciona Social na manhã desta quinta-feira (16). Ossistindo dois informaram, de chamada mostrava o número da Bruna. VOCÊ JÁ SE METEU EM ALGUMA ENRASCADA NA VIDA PESSOAL na e velhaque zona, meretrício, porboa telefone, nãoouhábaixo previsão de data para o traslado. OU PROFISSIONAL? MANDE PARA O Tremi, masFernanachei melhor atender. Só que se Segundo você preferir. Atendimento domiciliar Maria da Glória Aires, tia de–Juliard Aires CHAVEDECADEIA@REVISTASTATUS.COM.BR. SE A SUA HISTÓRIA FOR BOA MESMO, PUBLICAMOS AQUI o imprevisível e até então inina da moçabrasileiro – é o luxo da luxúria local. descasa - primeiro a ser identifi cadoaí-,aconteceu um perito teria


VIAGEM por Nirlando Beirão

STBARTS PARAÍSO PARA POUCOS. COBICA DE MUITOS A MINÚSCULA ILHA DO CARIBE FRANCÊS TEM ÓDIO DE MULTIDÃO E PAIXÃO POR GRIFES, GASTRONOMIA E EXCLUSIVIDADE. IMAGINEM SÓ SE UM ECORESORT SURGIR AGORA NA PRAIA ONDE KATE MOSS PROTEGE SUA NUDEZ

FOTO JEAN-PHILIPPE PITER



P VIAGEM

A R A Í S O E S T . B A R T S (vamos adotar logo o apelido carinhoso, meio pernóstico, e de nítido sotaque americano, com que o lugar é citado pelos poucos e felizes ricos e famosos), bem, paraíso e St. Barts seriam um sinônimo mais que óbvio se não fosse pelo fato de que o paraíso talvez não possua um elenco de beldades deliciosamente pecaminosas como as que frequentam as areias nuas – e que, nuas, frequentam as areias – de Grand Saline e de Gouverneur. Mais até do que sua beleza serena, é o dom da exclusividade que faz o charme de uma ilha de 25 quilômetros quadrados, com o pouco fotogênico formato de um feijão, uma ingrata vertigem de rochas vulcânicas perdidas na imensidão esmeralda do Caribe, onde, ao contrário de outros recantos abençoados por Deus e pela natureza, em se plantando nada dá – nem mesmo a água de beber de seus 8.700 habitantes e dos 4.000 turistas, não mais que isso, que aportam na alta temporada de verão do Hemisfério Norte. A água que serve aos banhos e enche as piscinas (até a Califórnia invejaria o número) é do mar, depois de dessalinizada. Exclusividade – aliás, privacidade. A seleção natural se dá pelo dinheiro, o maior gasto turístico per capita em todo o mundo, bastante compreensível se você levar em conta, por exemplo, que a diária de 800 euros em St. Barts (perto de R$ 2.100) é uma pechincha e o metro quadrado pago pelo eventual privilégio de virar um local, abrigado numa daquelas mansões de teto cor de hibisco suspensas nas escarpas, é mais caro do que o de St. Tropez e tão caro quanto o do South Central Park em Manhattan. No entanto, a magia de Saint Barthélemy é que o dinheiro, ali, obedece a uma etiqueta de elegância e discrição, o DNA francês de sofisticação zelando para que não triunfe a irrefreável vocação americana para o exibicionismo e a futilidade –

sendo dos americanos, sempre, o contingente mais robusto de visitantes. Ninguém está ali para se mostrar. Kate Moss, Madonna, Beyoncé, Cindy Crawford, Bono Vox, David Letterman, Naomi Campbell, Nicole Kidman, Mikhail Baryshnikov, Calvin Klein, nem mesmo o superexposto magnata russo Roman Abramovich buscam ali nada senão refúgio e tranquilidade. A propósito: jatos executivos não são bem-vindos na pista de 800 metros do aeroporto; ela só aceita helicópteros e aviõezinhos de hélices. Paparazzo em St. Barts morreria de fome ou de tédio – tantos são os recursos naturais e os truques arquitetônicos para manter os jet setters resguardados da curiosidade alheia, nos hotéis e nos cottages. Mikhail Baryshnikov, dono não de uma, mas de duas villas, nunca foi flagrado. Giorgio Armani pode saborear os frutos do mar regados a molho créole no seu favorito Maya’s sem que ninguém lhe vá pedir autógrafo. St. Barts é um lugar de naturalidade tão espontânea que nunca se ouve

JAY-Z E BEYONCÉ BRINCAM DE ESCONDE-ESCONDE COM OS RARÍSSIMOS PAPARAZZI

um oh! de espanto nem mesmo quando aporta na marina de Gustavia o formidável Octopus, iate de 416 pés do bilionário Paul Allen (leia-se Oracle). É por tudo isso que tem causado calafrios nos nativos mais conscientes e nos alienígenas mais sensíveis a decisão do mega-hoteleiro nova iorquino André Balazs de implantar um eco-resort de 40 bangalôs descortinando a mais protegida das praias de St. Barts. Numa ilha onde você tem de ter sempre seu Toyota à mão (não há táxi nem transporte coletivo), Saline é o último recanto onde só se chega a pé. Não por acaso, há quem se beneficie da favorável circunstância para exercer ali o direito ao top and bottomless, quer dizer, à nudez total e desinibida, ainda que ninguém chame aquilo lá, plebeiamente, de “praia de nudista”. É outra história. O abaixo-assinado encontrou em Saline garotas deslumbrantes, mas também casais de meia-idade que, peladinhos da silva, folheavam Le Monde e o Financial Times. A simples menção a um eco-resort apavora muita gente, recendendo um sinistro aroma de frango e farofa. Mas Bruno Magras, presidente do Conselho Territorial e prefeito de fato da ilha desde 2007, até ri de tanto pânico, lem-


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brando que, afinal, Balazs, proprietário do luxuoso Chateau Marmont, de Sunset Boulevard, em Los Angeles, e dos high tech The Standard de Nova York, Hollywood e Miami, seria a última pessoa do mundo a imprimir na delicada paisagem vegetal de St. Barts a cicatriz do mau gosto. Parece não ser, portanto, o caso de se recomendar o clássico visite-o-paraíso-antes-que-ele-acabe, se bem que a figura de um, digamos, especulador imobiliário nas redondezas cause um alarde ecológico até certo ponto fácil de entender – e olhem que Balazs está longe de ser um voraz Donald Trump. A situação está assim: o Conselho Territorial, monitorado por Magras (se a família Magras detém o poder na ilha com aquela perenidade dos ditadores árabes, ela exerce o mando com respeito democrático), botou na pauta a modificação da proteção ambiental que permitiria o projeto Balazs, mas a resistência, dois anos depois, continua. St. Barts, seja como for, é o caviar do Caribe e, como tal, não é para todo e qualquer paladar.

OUTRO DELICIOSO JEITO DE VIAJAR ATÉ SAINT BARTS, NAS LENTES DE JEAN-PHILIPPE PITER

Delícia de viagem

Se você ainda não amealhou o seu segundo milhão de dólares, há outro delicioso jeito de viajar até Saint Barthélemy sem arruinar suas finanças pessoais. Vale explicar: a foto que abre esta reportagem é de autoria de Jean-Philippe Piter. Ele nasceu no Senegal em 1968, foi fotógrafo de publicidade em Paris e, em 1997, sucumbiu a um saudável surto de savoir-faire e se mudou para a ilha. Especializou-se em clicar o melhor das belezas locais: as mulheres de St. Barts. Acesse este privilégio: www.lt2.fr/jean-philippe-piter/ beaute. Depois disso, St. Barts pode esperar.

FOTOS MICHAEL HASSON | INFDAILY | JEAN-PHILIPPE PITER

Tem pânico de multidão. O Taiwana, um dos hotéis mais bonitos do mundo, e tão esquisito que até recentemente não aceitava reserva por telefone nem cartão de crédito, é como se uma villa toscana em terracota tivesse sido reformada por um arquiteto pós-moderno. Diária? Começa em 1.000 euros e pode chegar a 4.000. E, para descer um champã de pedigree, tipo Krug, outros 1.000 euros irão desfalcar sua conta bancária. O Le Toiny, que Washington Olivetto, com honras de pioneiro, descobriu ainda nos anos 80, não fica por menos. De seu bangalô, você acessa uma praia exclusiva. É possível passar uma semana ali desfrutando de uma invisibilidade absoluta. Até o Olivetto gosta da ideia, embora hoje ele prefira o requinte clássico e menos reservado do Eden Rock, na baía de St. Jean. Existe desde 1946. Foi, ao pé da letra, o primeiro pouso de Saint Barts. Mesmo porque foi aberto por um aviador, Rémy de Haenen, que no pós-guerra saiu plantando aeroportos naquelas inviáveis ilhotas do Caribe francês. Até galeria de arte o Eden Rock tem. E é só atravessar a rua para você se encrencar de vez com seu cartão de crédito. Grifes como Cartier, Bulgari, Hermès, Louis Vuitton, Roberto Cavalli piscam sua tentação dia e noite. St. Barts é um free shop a céu aberto. É relaxar e gostar.


VA I E N C A R A R ? por Bruno Weis

VICIADOS NA MORTE O MÉXICO VIVE HOJE A MAIS SANGUINÁRIA ESCALADA DE VIOLÊNCIA DE SUA HISTÓRIA CAUSADA PELO NARCOTRÁFICO. UMA GUERRA NA QUAL ATÉ BRASILEIROS SÃO BRUTALMENTE ASSASSINADOS


junKies exibem suas tatuagens em tijuana, uma das cidades mexicanas na fronteira com os eua que concentram alto consumo de drogas e conflitos entre cartĂŠis


cadáveres em ciudad juárez, a cidade mais perigosa do méxico, onde mais de trÊs mil pessoas foram mortas apenas no ano passado e a imprensa local pediu trégua aos traficantes

U M A S E X TA - F E I R A Q U A L Q U E R deste começo de 2011. Ligo para a redação de El Diário, principal jornal de Ciudad Juárez, centro urbano com 1,3 milhão de habitantes localizado no Estado mexicano de Chihuahua, praticamente sobre a fronteira com o Texas, Estados Unidos. Do outro lado da linha atende Pedro Torres Estrada, subdiretor do periódico. – Bom dia, Pedro, como estão as coisas na cidade, hoje? – Nada bem. O dia mal começou e já contamos sete mortos. O jornalista fala no tom monocórdico de quem está cansando de contar a mesma triste história a cada dia. Literalmente. Juárez é a mais sangrenta cidade mexicana em um dos períodos mais sombrios da história recente deste país de mais de 111 milhões de habitantes que tem a 14a economia mundial, com PIB de US$ 874 bilhões (em 2009). Apenas no ano passado, mais de 15 mil pessoas foram mortas em conflitos entre cartéis de traficantes ou entre estas narcoquadrilhas e forças policiais. Esta guerra atinge até mesmo cidadãos brasileiros, como os quatro jovens imigrantes assassinados na chacina de agosto passado, quando 72 corpos foram encontrados em um galpão no meio do deserto. O consulado brasileiro no México relata outros casos de homicídio, sequestro e extorsão entre os milhares de brasileiros incluídos nos 400 mil imigrantes ilegais que, a cada ano, tentam cruzar a fronteira do país com os EUA. Desde 2006, quando os conflitos armados no México começaram a ganhar a força de um tsunami de sangue, estima-se que mais de 35 mil pessoas tenham sido exterminadas. Estamos falando, claro, de números subestimados. Nas crônicas desta tragédia – que mata mais do que a guerra do Afeganistão – há relatos de dezenas de corpos derretidos em ácido ou enterrados em minas que entram

nas estatísticas tardiamente, quando muito. Entre as vítimas oficiais no ano passado, três mil encontraram a morte em Ciudad Juárez. Uma delas era o fotógrafo Luís Santiago, baleado em seu carro em 16 de setembro. Santiago era parceiro de trabalho de Pedro Estrada. “Desde então pedimos trégua aos traficantes, porque se dependermos das autoridades nada vai acontecer”, explica o jornalista. A trégua proposta pelo jornal – e reforçada em março passado por 50 veículos de comunicação do país – visa estancar o risco de morte de seus funcionários. A contrapartida inclui não publicar “notícias que sejam arriscadas” para os interesses dos bandidos – e, por tabela, para quem as assina. Raramente reportagens policiais no México são assinadas, por sinal. “Também evitamos dirigir pelas mesmas rotas ou circular sozinhos na cidade. Escolhemos andar em grupo, inclusive com colegas de jornais concorrentes”, detalha Estrada. “Melhor perder um furo do que a vida.” Não tiveram esta opção os 14 jornalistas mortos no país em 2010 ou os 55 profissionais de imprensa assassinados desde 2006, quando Vicente Calderón foi eleito presidente do México por uma margem apertada, em um pleito marcado por suspeitas de fraude na votação. A


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uma operaÇão clássica dos matadores de aluguel em ciudad juárez envolve fechar o carro da potencial vítima e descarregar as armas até ter a certeza da morte

vitória sem legitimidade, explica Lorenzo Meyer, professor de relações internacionais do Colégio do México e um dos mais influentes intelectuais mexicanos, levou o recém-eleito mandatário a “vestir a farda” e colocar em prática uma política espetacular de combate aos cartéis de drogas para aumentar sua popularidade, em especial com a classe média das grandes cidades. “O presidente calculou que era a causa certa para mobilizar a sociedade, ainda mais com o US$ 1,4 bilhão aportado pelo governo norte-americano, o chamado Plano Mérida”, diz Meyer. el NaCHo, la BarBIe & CIa Mas, como diria Mané Garrincha, faltou combinar com os russos – no caso, os chefes dos principais cartéis que, sob maior perseguição, responderam com grau inédito de violência, e com as polícias do país, marcadamente corruptas e que drenam os investimentos para o próprio bolso. E, não menos importante, faltou também combinar com os traficantes de armas dos Estados Unidos, que abastecem as gangues mexicanas de maneira constante e pulverizada, através de uma fronteira na qual um dos lados compra armas como quem vai à farmácia. “As armas são adquiridas legalmente nos Estados Unidos por gente de ficha limpa que funciona como laranjas”, explica a consultora Sylvia Longmire, oficial aposentada da Força Aérea norte-americana e expert em contrainteligência. “Por meio de intermediários, pistolas e rifles AK-47 e AR-15 cruzam a fronteira em carros e caminhões em múltiplos carregamentos, no que chamamos de tráfico-formiga.” Devidamente municiados, os cartéis responderam à política de tolerância zero de Calderón com contundência. Abriram frentes de guerra com práticas até então inéditas no país, incluindo a explosão de carros-bomba e de granadas e a exibição

fotos shaul schWarz / reportage gettY images

de dezenas de corpos decapitados em praça pública. O fim do pacto informal entre o governo federal e os cartéis também levou à prisão ou à morte importantes líderes do narcotráfico, como Ignácio “El Nacho” Villareal (morto em julho passado durante tiroteio com militares) e Edgar “La Barbie” Valdez (preso em agosto de 2010), ambos de Los Zetas – uma dissidência do cartel do Golfo que hoje controla a maioria das comunidades pobres do nordeste mexicano. Los Zetas re-

alizam todo tipo de crime, como sequestros, extorsão, tráfico de órgãos, prostituição e assassinatos “à la Fernandinho Beira-Mar”, gerando por meio do extremo horror uma

mística que, paradoxalmente, empurra um número cada vez maior de jovens miseráveis para suas fileiras. Outras baixas recentes entre os traficantes incluíram o assassinato, em dezembro de 2009, de Arturo Beltrán Levya, um dos irmãos que controlam o cartel homônimo, e Ezequiel Cardenas Guillén, um dos capos do cartel do Golfo, morto em novembro passado. A captura e morte de alguns dos principais líderes acentuam um processo de divisão dos grupos de traficantes – e esse desequilíbrio aquece a disputa


no clube el centenario, perto de los angeles, os traficantes mexicanos que cruzam a fronteira se sentem tão à vontade que ditam as regras e o estilo da casa

impiedosa por um mercado que movimenta, anualmente, mais de US$ 60 bilhões e pelo controle de territórios de produção, transporte e entrada de drogas do lado americano da fronteira. Essa fragmentação dos cartéis já vinha acontecendo desde os anos 1990, afirma o escritor Diego Osório, autor do livro El cartel de Sinaloa – una história de uso político del narco (Grijalbo, 2009), que conta a trajetória da mais antiga organização criminal do México. Com mais de 80 anos de atividades na fronteira com os Estados Unidos, o cartel de Sinaloa manteve por décadas o monopólio do comércio de cocaína, maconha e papoula (matéria-prima da heroína) no país. guerra pelas drogas No começo dos anos 1990, contudo, duas dissidências do bando formaram os cartéis de Tijuana e de Juárez. Em 2003, surge o cartel do Golfo, que trava uma sangrenta disputa por territórios com o de Sinaloa. “O que está em jogo hoje não é a guerra contra as drogas, mas a guerra pelas drogas”, resume Osório, para afirmar que o objetivo da política de Calderón é reconstruir um cenário mais concentrado no narcotráfico, sem tantas disputas ou derramamento de sangue – como nos velhos tempos. O alvo principal seriam os pequenos cartéis que, menos poderosos, não dispõem de cacife para corromper policiais, promotores e juízes. Coincidência ou não, o mais famoso traficante do México e líder do cartel de Sinaloa, Joaquím “El Chapo” Guzmán – presente na lista da revista Forbes dos homens mais ricos do planeta, com fortuna estimada em US$ 1 bilhão –, segue em liberdade. O problema é que a tolerância da sociedade mexicana à rotina de uma morte violenta a cada 60 minutos, a despeito das vitórias pontuais das forças policiais e

militares, parece estar no limite. De acordo com Lorenzo Meyer, um terço do país está hoje em estado constante de tensão: dos pueblos do interior e sul do país, onde os camponeses vivem sob ameaça para produzir ou transportar drogas, até grandes cidades como Monterrey, centro econômico do México e morada de quatro milhões de pessoas, onde recentes tiroteios no centro da cidade e ondas de sequestros e chacinas geraram pânico e debandada dos mais ricos para subúrbios seguros. O Texas, a um dia de viagem, é outro destino para esses refugiados do medo. Os americanos também estão na mira: em 2010, 123 deles foram assassinados em território mexicano, um recorde histórico feito basicamente de vítimas civis, mas também de agentes federais. Em setembro passado, o pânico chegou ao ápice e todos os funcionários do corpo diplomático dos EUA em Monterrey foram orientados a retirar seus filhos da cidade. Em Acapulco, um dos mais famosos balneários turísticos do país, a mais de dois mil quilômetros da fronteira americana, dez corpos esquartejados foram encontrados com bilhetes ameaçando militares no final de fevereiro deste ano. Entre os novos alvos das


um devoto da santa muerte, figura pagã popularmente cultuada no méxico, agradece por sua vida de crimes ter ficado para trás

gangues na cidade estão os taxistas que se recusam a ser extorquidos – mais uma consequência da atual etapa da guerra: com a competição entre diferentes grupos de traficantes pelo mesmo mercado e o aumento da repressão, os cartéis passaram a buscar novas fontes de renda, sendo a extorsão de comerciantes e trabalhadores uma das prediletas. Os taxistas, assim como os jornalistas, são apenas mais uma categoria entre a população civil que vem sendo alvejada pelos cartéis. No ano passado, 14 prefeitos mexicanos foram assassinados. Em agosto de 2010, uma chacina

correu o mundo: 72 corpos de imigrantes latino-americanos foram encontrados em um galpão no

desértico interior do Estado de Tamaulipas, também na fronteira com os Estados Unidos. Entre eles, os de quatro cidadãos brasileiros – Juliard Fernandes e Hermínio dos Santos, de Sardoá e Santa Efigênia, em Minas Gerais, e Natane Faustino e Edilsimar Faustino da Silva, de Rondon do Pará, no Pará. Segundo a polícia, os imigrantes foram massacrados por não aceitar transportar droga para os EUA. “Além deste episódio tivemos conhecimento de outros brasileiros assassinados e sequestrados, aparentemente vítimas de ação relacionada com o narcotráfico, mas não temos como quantificar porque muitos casos são resolvidos entre os criminosos e as famílias”, afirma Márcio Lage, embaixador do Brasil no México. O país cuja tradição cultural celebra a morte como uma ponte entre os vivos e seus antepassados hoje enfrenta uma situação de insegurança e medo que não conhecia desde o fim da Revolução Mexicana, na década de 1920, compara o professor Lorenzo Meyer. “E diante de uma economia estagnada, ao contrário da brasileira, nossos jovens querem se tornar novos Chapos Guzmáns. Há uma

cultura da vida ilegal, da vida violenta, pois o futuro imediato é muito obscuro.” Uma reportagem publicada na edição de fevereiro da prestigiada revista Gatopardo revela outro sinistro personagem deste teatro de horrores. Assinada por Alejandro Almazán, “Chicas Kaláshnikov” investiga o mundo das chamadas “sicárias”, as matadoras de aluguel que prestam seus serviços aos cartéis em troca de dinheiro ou cocaína, e nos aproxima de um mundo onde a morte vale muito mais do que a vida: “Los narcos de esta última década han entendido que hay mucha gente por matar y necesitan manos que estén dispuesta. (…) Los Artistas Asesinos, los Aztecas, los Mexicles, la Güera y tantos más de sangre fría son parte de esa mano de obra barata. (…) Matar por capricho, pensaré cuando esta artista de la muerte se marche a su celda, se ha vuelto el verbo favorito del México contemporáneo y la vida únicamente es el complemento para conseguirlo.”


Números de uma guerra

O mercado da droga no México movimenta cerca de US$ 60 bilhões por ano

Joaquín “El Chapo” Guzmán, o mais famoso chefe de cartel do país, tem fortuna estimada em US$ 1 bilhão

Em 2010, mais de

15 mil pessoas

foram assassinadas, no México, em conflitos com o narcotráfico. é quase o dobro das baixas totais na guerra do Afeganistão no mesmo período (9.271). entre os mortos no méxico estão: 14 jornalistas 14 prefeitos 4 imigrantes brasileiros 123 cidadãos norte-americanos


a cultura “narco” seduz jovens pobres e produz ícones pop, como o cantor alfredo rios, el Kommander (aqui, caminhando em rua de burbanK, califórnia), famoso por tocar em festas privadas para os chefões do cartel de sinaloa.


FERNANDA fotos Jacques Dequeker














Ilustração Marcos Mello Styling Juliano Pessoa e Zuel Ferreira Make/hair Marcelo Gomes (Gloss) Produção de moda Ana Carolina Roquete, Tony Muller e Matheus Miranda Assistente de foto Fabiano Pedrollo e Tavinho Costa Assistente de maquiagem Ricardo Vieira (Gloss)

Agradecimentos Body Adriana Degreas, Body Ropahrara, Bota Ellus, Calcinha pequena Clube Bossa, Calcinha transparente NuLuxe, Capa Rober Dognani, Corselet Madame Cher, Havaianas, Hot pants Paola Robba, Jaqueta Letage, Maiô Rober Dognani, Máscara Crissu, Peep toe Alexandre Birman, Pulseiras Stone Bonker, Soutien NotNaive, Vestido Mabel Magalhães


F e r n a n d a Tava r e s está hoje onde sempre quis estar – e onde merece estar. Top das tops, ela traçou em 15 anos de moda e de passarela uma trajetória que tem tudo a ver com seu estilo único de beleza: ela é morena, tem cabelos castanhos e seu charme resulta de uma sensualidade explosiva misturada com a naturalidade tranquila que a gente só vê naquelas que conhecem a superioridade de seus dotes e não precisam fazer alarde deles. ela é, de certa forma, uma estrela relutante. “Tenho os pés no chão, comecei cedo, ralei, fiz carreira na base da humildade, não vivo a urgência da novidade, não sou baladeira, em nova York e Paris ando de metrô e não de limusine.” Tem mais: nunca bebeu, nunca fumou, não tem tatuagem nem piercing. “serei eu de fato uma modelo?” – ironiza Fernanda. Taí um low profile que parece não combinar com a morenaça de 1,80 m que já emprestou seu brilho e sua allure a grifes como valentino, dior, versace, Gaultier, ralph Lauren, armani, Galliano, Louis vuitton, saint Laurent e L’Oréal, só para citar algumas. esta Fernanda Tavares que Status escolheu para ser sua capa número 1 já foi também a número 1 entre as 100 mulheres mais bonitas do mundo no resplandecente ranking dos leitores da GQ Itália. deixou para trás Cameron dias, Jennifer Lopez, Julia roberts, Milla Jovovich e sua amiga Gisele (que ficou em 57º lugar), a quem ela chama, com camaradagem, de “a Bündchen” (as duas têm se visto pouco, ultimamente, mas Gisele veio visitar Lucas, o filho da Fernanda, e Fernanda visitou Benjamin, filho de Gisele).

Uma das dez mais belas do mundo (Cosmopolitan). Uma das dez mais bonitas do Brasil (Vogue Brasil). A preferida de dez entre dez celebridades da fotografia de moda – de Steven Meisel, Mario Testino, Patrick demarchelier, david LaChapelle, Michael Thompson, annie Leibowitz e steven Klein. aqui, Fernanda Tavares foi clicada, em ensaio que testemunha a refinada elegância tanto de um quanto de outro, pelo gaúcho cosmopolita Jacques dequeker, número 1 da nova geração das feras brasileiras da luz e câmera. “Um dia desses me perguntaram o que significa ter 30 anos”, diz ela. Custou a entender. “estou feliz, tenho uma carreira maravilhosa, moro no Rio, um filho de 3 anos, um marido lindo e de ótimo astral. O que mais posso querer?” aliás, para os homens que estão aqui se deliciando nestas páginas, Fernanda Tavares arrisca uma receita caseira de sucesso com as mulheres: bom humor e atitude. “O cara tem de ter pegada de homem. É muito mais importante do que corpo sarado e rosto bonitinho.” Nirlando Beirão







MODA

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por Mariana Sampaio e Natália Mestre

ÍCONES DE ESTILO

OS ATORES STEVE MCQUEEN E JOHNNY DEPP MARCARAM E AINDA MARCAM ÉPOCA. ENTENDA POR QUE ELES SÃO TÃO CULTUADOS

ÚNICO

Jaqueta mais curta com camisa por baixo, suéter com cores pastel ou fortes como o vermelho e o marinho, malharia, calças mais justas e óculos escuros são peças-chave do guarda roupa de McQueen. CLÁSSICO, MAS CONTEMPORÂNEO

O imortal Steve McQueen O ator Steve McQueen morreu em 1980, mas, para o mundo da moda masculina, parece imortal. Mais: ainda é uma estrela em ascensão. Suas atuações em filmes de ação, aventura e suspense, como “Inferno na Torre”, “Bullitt” e “Sete Homens e um Destino”, lhe proporcionaram uma imagem de rebeldia e classe que foi eternizada. Até hoje, as grifes buscam explorar sua imagem. A Dolce & Gabbana, por exemplo, lançou uma linha de camisetas, a Gucci desenvolveu um visual baseado no lado piloto de automóveis do ídolo e até a Hermés se rendeu aos encantos em uma coleção de malas e mochilas. A Rolex já teve um modelo chamado McQueen e a Tag Heuer ressuscitou um dos seus relógios e óculos escuros aviador. Saiba por que ele ainda é tão falado.

“Ele não criava moda, tinha estilo. Trabalhava além daquilo que vigorava no momento, por isso elaborava looks atemporais. A roupa dele caminha dentro de qualquer época sempre com cara atual”, diz Andréia Miron, professora e consultora da Faculdade Santa Marcelina. VERSÁTIL

De terno ele fica tão natural quanto numa jaqueta despojada. Sempre com modelos escuros, mais justos, com camisa branca, gravata padrão (qualquer cor sutil) e relógio Rolex.


ELE FAZ A CABEÇA

Os chapéus são a sua marca registrada, tanto para as ocasiões black tie como nas mais esportivas. Depp usa e abusa de texturas e modelos diferenciados. A grande sacada é ter uma habilidade enorme para criar looks em harmonia com o chapéu escolhido.

ACESSÓRIOS ALTERNATIVOS

O ator costuma usar vários anéis extravagantes na mesma mão, uma mescla de astro de rock com pirata. Já os óculos com armação arredondada e estilo vintage são os seus preferidos. Os óculos mais retrôs também ajudam a compor uma imagem mais enigmática. PEÇAS HISTÓRICAS

Ele não usa uma roupa apenas por usar. Investe em peças, formas e materiais que tragam uma história, como os blazers de veludo com golas largas que remetem aos anos 1970. Isso configura seu estilo retrô chique e aumenta mais a sua personalidade excêntrica.

Personagem da vida real “Johnny Depp não segue as tendências da moda. Ele mistura vários estilos, como o cigano punk, o pirata ou o astro de rock vampiro. É como se todos os seus personagens fizessem parte da sua vida real”, explica Luis Fiod, stylist e diretor da agência Mint. O resultado final é uma imagem carregada de personalidade, por isso seu estilo faz tanto sucesso. FOTOS CORBIS | JAMES DEVANEY/WIREIMAGE | JIM SPELLMAN | FLORIAN G SEEFRIED


MODA

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GRAVATAS COM PEDIGREE

A PEÇA MAIS TRADICIONAL DO VESTUÁRIO MASCULINO SE ADAPTA A TODO TIPO DE OCASIÃO, SEJA CLÁSSICA OU DESCONTRAÍDA fotos Angelo Pastorello

stylist Higor Alexandre


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abril 2011


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VA I D A D E

O NOVO PERFUME DA HERMÈS É UNISSEX. DÁ PARA USAR E EMPRESTAR PARA A GATA. DE BRINDE, CONTE PRA ELA COMO ELE É FEITO E GANHE PONTOS NA CONQUISTA. STATUS FALOU COM O PERFUMISTA JEAN-CLAUDE ELLENA E DESVENDOU, SEM FIRULAS, O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE VOYAGE D’HERMÈS por Priscilla Portugal

ilustração Luciana Bicalho

O perfumista

Frasco bem elaborado “Sou criador-desenhista, não me considero um criador de moda. Prefiro o objeto atemporal, que dura, que tem uma vida”, costuma dizer Philippe Mouquet, designer contratado pela Hermès em 1989 e que, desde então, já criou de cintos a estampas de gravatas para a grife. Inspirado por um frasco da coleção de Emile Hermès, que fazia parte de uma nécessaire de viagem do início do século 20, Mouquet criou o vidro de Terre d’Hermès, de 2006. Na embalagem de Voyage d’Hermès, o designer levou a sério a ideia de desenvolver algo atemporal e fez um perfume com refil renovável. O frasco, em alumínio e vidro, reproduz de forma estilizada uma lupa retrátil de bolso, objeto que o designer encontrou enquanto caminhava à noite buscando inspiração para dar vida e cara à primeira fragrância unissex da Hermès.

Jean-Claude Ellena nasceu em Grasse, sul da França, berço da perfumaria mundial, e já parecia predestinado à profissão, pois vem de uma família de perfumistas, entre eles, seu pai e seu irmão. Começou a trabalhar com perfumes aos 20 anos e, até hoje, já criou mais de 100 fragrâncias para marcas como Cartier, Yves Saint Laurent e Bulgari. Atualmente, Ellena é um dos 80 “narizes” da França. Costuma criar perfumes usando apenas de 10 a 20 componentes, enquanto normalmente são empregados de 150 a 300. Foi contratado pela Hermès em 2004 e sua primeira criação para a grife, Un jardin sur le nil, vendeu US$18 milhões no primeiro ano. Em 2008, Terre d’Hermès, também fruto de seu trabalho, foi o perfume masculino mais vendido da França. Sua mais recente inovação é Voyage d’ Hermès. “Criar é explorar um caminho sem conhecer seu fim. O importante é que o caminho seja belo”, diz.

FOTOS QUENTIN BERTOUX | DIVULGAÇÃO


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Os ingredientes e suas origens SÂNDALO – ÍNDIA

Madeira aromática da família Santalaceae, é altamente empregada na perfumaria, sob a forma de óleos, obtidos com a destilação da casca, do miolo e das raízes. Um tronco do sândalo demora 25 anos para adquirir uma espessura de seis centímetros e, na Índia, sua árvore é sagrada.

ALMÍSCAR – CHINA

Na natureza, o almíscar é retirado de uma madeira especial ou é extraído de uma glândula de alguns animais, como o cervo-almiscarado. Mas também pode ser criado em laboratório. É um elemento muito usado na perfumaria, pois tem propriedades fixadoras importantes e trazem elegância à essência.

ANGÉLICA – MÉXICO

Os antigos astecas usavam o óleo essencial dessa flor para aromatizar o chocolate. Atualmente, ela entra na formulação de perfumes e essências, mas também é conhecida por ser a flor que compõe os famosos colares havaianos, usados em festas e rituais locais.

A criação Ellena começou a conceber Voyage d’Hermès oito meses antes de ele ficar pronto. Com uma equipe de três pessoas, ele foi atrás das matériasprimas, fez testes em laboratório e chegou à fórmula final. Ao explicar de onde veio sua inspiração, Ellena responde de forma poética: “Duas ideias guiaram essa ‘viagem’. A noção de conforto e a de partida. Para a primeira pensei que, quando viajamos, nos sentimos desestabilizados e buscamos conforto. Expressei isso utilizando as essências de almíscar branco e sândalo”. A ideia de partida tem a ver com movimento. Para transmitir essa noção, ele usou aromas de especiarias frias e de bergamota.


CONFRARIA por Priscilla Portugal

O ILUSIONISTA DA COZINHA O CHEF ESPANHOL ANDONI ADURIZ ESTÁ À FRENTE DO RENOMADO MUGARITZ, O QUINTO MELHOR RESTAURANTE DO MUNDO. CONHEÇA SEU ESTILO, QUE COMBINA INGREDIENTES SIMPLES COM TÉCNICAS QUE PARECEM VINDAS DE UM LABORATÓRIO

N O I N Í C I O D E 1 9 9 8 , o currículo do chef espanhol Andoni Aduriz já era invejável: havia trabalhado com figuras de peso como Juan Mari Arzak, Fermín Arrambide e Pedro Subijana, também tinha feito parte da equipe do El Bulli entre 1993 e 1994 e chegou a dividir a cozinha com Martín Berasategui, chef e proprietário do restaurante que leva seu nome e hoje reúne três estrelas Michelin. Mas ele não se contentou. Naquele mesmo ano, abriu na cidade espanhola de San Sebastián o Mugaritz, que hoje tem duas estrelas no mesmo prestigiado guia e ocupa a quinta posição na lista dos 50 melhores do mundo publicada anualmente pela revista britânica Restaurant. Não é por acaso. O chef brasileiro Alex Atala já o definiu como “um pensador, alguém que faz uma cozinha de poesia e muita reflexão”. As definições para sua culinária variam entre tecnoemocional – herança dos tempos de El Bulli – e neonaturalista, graças à atenção que dedica à natureza e aos ingredientes locais (o que inclui flores e até cinzas de ramos de parreira). “Para mim a cozinha evidencia a forma de estar no mundo. E quero estar de uma forma criativa, aberta, construtiva e pessoal”, disse à Status.

BOM HUMOR Uma de suas criações se chama Pedras Comestíveis (foto) e nada mais é do que meia dúzia de batatas cozidas cobertas com uma argila cinzenta comestível. Outra invenção irreverente é a vitela, que vem envolta em uma camada negra e acompanhada de gravetos com aparência de queimados. Eles parecem ter ficado por horas em uma churrasqueira, mas não. É só o efeito visual. A carne e os grissinis (sim, não são gravetos) ganham a coloração, pois são tingidos com cinzas de ramos de parreira queimados.

FOTOS JOSÉ LUIS LÓPEZ DE ZUBIRÍA/MUGARITZ | PER-ANDERS JÖRGENSEN/MUGARITZ | ÓSCAR OLIVA/MUGARITZ


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ELEMENTOS LÚDICOS Ele é conhecido por utilizar ervas (colhidas na hora do quintal do Mugaritz) e, principalmente, flores em suas preparações. Há quem diga que lírios e maravilhas acrescentam doçura a suas receitas. Alguns exemplos imperdíveis de pratos são o caranguejo negro com flores, pistilos de açafrão e gel frio de camarão, o bowl de ervas com folhas de manjericão e pétalas de lírio e os cubos de lula em caldo com flores brancas.

REVOLUÇÃO NO PRATO A começar por suas pesquisas com a textura dos ingredientes, que transformam sua cozinha em um verdadeiro laboratório, pode-se dizer que Aduriz é um revolucionário. Ele se preocupa com a apresentação dos pratos, com a forma como são servidos. Em suas mãos, uma melancia pode, por exemplo, virar carpaccio.

“NOSSA COZINHA É SINGULAR” Em entrevista à Status, o chef basco falou sobre sua trajetória e de suas criações, sua técnica apurada e seus discípulos. Acompanhe: STATUS Como você se preparou para ser chef de cozinha? ADURIZ Estudei na Escola de Cozinha de San Sebastián e conheci o trabalho de alguns profissionais que projetavam, através de seu trabalho, suas preocupações, desejos e vivências. Desde então tratei de melhorar tecnicamente e me formar ao lado de profissionais que tivessem essa visão da cozinha. Quais são as principais características de seu trabalho? Busco construir um momento, gerar uma experiência. As pessoas que nos visitam nos pedem mais do que alimento. Desejam que lhes mostremos nossa maneira de entender a gastronomia, a forma como interagimos com as estações e os produtos. Por isso, tratamos de elaborar uma cozinha singular onde esteja muito presente o olhar criativo e

o imprevisível, mas também nossa cultura, a natureza, uma brincadeira… E tudo isso de uma forma poética, sincera e concreta. Qual foi sua maior contribuição para a gastronomia? É muito difícil, para mim, dizer isso. Porém, eu gostaria de deixar muito mais que técnicas e pratos. Desejaria que ficasse de nós o estilo de abordar os atos de comer, de cozinhar, de pensar e de fazer. Quem são seus discípulos? Pelo Mugaritz passaram quase mil cozinheiros de todo o mundo em nossos 13 anos de história. Entre estes, eu destacaria Roberto Guzmán (do Boragó), Paco Morales (do Ferrero), Dani Hunter (do The Royal Mail), James Parry (do RockPool), Sam Miller (do Noma) e Luke Powell (do Tetsuya).


CONFRARIA por Priscilla Portugal

O ILUSIONISTA DA COZINHA O CHEF ESPANHOL ANDONI ADURIZ ESTÁ À FRENTE DO RENOMADO MUGARITZ, O QUINTO MELHOR RESTAURANTE DO MUNDO. CONHEÇA SEU ESTILO, QUE COMBINA INGREDIENTES SIMPLES COM TÉCNICAS QUE PARECEM VINDAS DE UM LABORATÓRIO

N O I N Í C I O D E 1 9 9 8 , o currículo do chef espanhol Andoni Aduriz já era invejável: havia trabalhado com figuras de peso como Juan Mari Arzak, Fermín Arrambide e Pedro Subijana, também tinha feito parte da equipe do El Bulli entre 1993 e 1994 e chegou a dividir a cozinha com Martín Berasategui, chef e proprietário do restaurante que leva seu nome e hoje reúne três estrelas Michelin. Mas ele não se contentou. Naquele mesmo ano, abriu na cidade espanhola de San Sebastián o Mugaritz, que hoje tem duas estrelas no mesmo prestigiado guia e ocupa a quinta posição na lista dos 50 melhores do mundo publicada anualmente pela revista britânica Restaurant. Não é por acaso. O chef brasileiro Alex Atala já o definiu como “um pensador, alguém que faz uma cozinha de poesia e muita reflexão”. As definições para sua culinária variam entre tecnoemocional – herança dos tempos de El Bulli – e neonaturalista, graças à atenção que dedica à natureza e aos ingredientes locais (o que inclui flores e até cinzas de ramos de parreira). “Para mim a cozinha evidencia a forma de estar no mundo. E quero estar de uma forma criativa, aberta, construtiva e pessoal”, disse à Status.

BOM HUMOR Uma de suas criações se chama Pedras Comestíveis (foto) e nada mais é do que meia dúzia de batatas cozidas cobertas com uma argila cinzenta comestível. Outra invenção irreverente é a vitela, que vem envolta em uma camada negra e acompanhada de gravetos com aparência de queimados. Eles parecem ter ficado por horas em uma churrasqueira, mas não. É só o efeito visual. A carne e os grissinis (sim, não são gravetos) ganham a coloração, pois são tingidos com cinzas de ramos de parreira queimados.

FOTOS JOSÉ LUIS LÓPEZ DE ZUBIRÍA/MUGARITZ | PER-ANDERS JÖRGENSEN/MUGARITZ | ÓSCAR OLIVA/MUGARITZ


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ELEMENTOS LÚDICOS Ele é conhecido por utilizar ervas (colhidas na hora do quintal do Mugaritz) e, principalmente, flores em suas preparações. Há quem diga que lírios e maravilhas acrescentam doçura a suas receitas. Alguns exemplos imperdíveis de pratos são o caranguejo negro com flores, pistilos de açafrão e gel frio de camarão, o bowl de ervas com folhas de manjericão e pétalas de lírio e os cubos de lula em caldo com flores brancas.

REVOLUÇÃO NO PRATO A começar por suas pesquisas com a textura dos ingredientes, que transformam sua cozinha em um verdadeiro laboratório, pode-se dizer que Aduriz é um revolucionário. Ele se preocupa com a apresentação dos pratos, com a forma como são servidos. Em suas mãos, uma melancia pode, por exemplo, virar carpaccio.

“NOSSA COZINHA É SINGULAR” Em entrevista à Status, o chef basco falou sobre sua trajetória e de suas criações, sua técnica apurada e seus discípulos. Acompanhe: STATUS Como você se preparou para ser chef de cozinha? ADURIZ Estudei na Escola de Cozinha de San Sebastián e conheci o trabalho de alguns profissionais que projetavam, através de seu trabalho, suas preocupações, desejos e vivências. Desde então tratei de melhorar tecnicamente e me formar ao lado de profissionais que tivessem essa visão da cozinha. Quais são as principais características de seu trabalho? Busco construir um momento, gerar uma experiência. As pessoas que nos visitam nos pedem mais do que alimento. Desejam que lhes mostremos nossa maneira de entender a gastronomia, a forma como interagimos com as estações e os produtos. Por isso, tratamos de elaborar uma cozinha singular onde esteja muito presente o olhar criativo e

o imprevisível, mas também nossa cultura, a natureza, uma brincadeira… E tudo isso de uma forma poética, sincera e concreta. Qual foi sua maior contribuição para a gastronomia? É muito difícil, para mim, dizer isso. Porém, eu gostaria de deixar muito mais que técnicas e pratos. Desejaria que ficasse de nós o estilo de abordar os atos de comer, de cozinhar, de pensar e de fazer. Quem são seus discípulos? Pelo Mugaritz passaram quase mil cozinheiros de todo o mundo em nossos 13 anos de história. Entre estes, eu destacaria Roberto Guzmán (do Boragó), Paco Morales (do Ferrero), Dani Hunter (do The Royal Mail), James Parry (do RockPool), Sam Miller (do Noma) e Luke Powell (do Tetsuya).


TOYS FO R BOYS

por Mariana Sampaio

FERA URBANA

foto João Castellano

Thiago Camilo, piloto da Ipiranga RCM na Stock Car, é um dos mais rápidos do cenário nacional

UM SUPERESPORTIVO CONFORTÁVEL E PREPARADO PARA NOSSAS RUAS ESBURACADAS. QUEM DIZ ISSO É O PILOTO DE STOCK CAR THIAGO CAMILO, QUE TESTOU TODA A POTÊNCIA DO AUDI R8 V10

O volante em couro de três raios multifuncional tem base achatada, como nos carros de corrida. Os assentos são ajustáveis eletricamente e o couro tem pigmentos que refletem os raios UV, o que mantém a temperatura mais fria, em até 20 graus. No painel, o destaque vai para o sistema multimídia MMI Plus, com tela de 6,5 polegadas em alta resolução. Ele vem combinado com uma câmera na traseira para auxílio nas manobras de estacionamento e inclui um cronômetro para registrar o tempo gasto para completar uma volta em um circuito de corridas.

INTERIOR

MOTOR Como já é tradição da montadora nas pistas de corrida, o motor V10 tem um cárter de alumínio feito em grande parte à mão. O propulsor aspirado produz potência máxima de 525 cavalos.

FOTOS DIVULGAÇÃO


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COM MUITOS QUILÔMETROS RODADOS nos principais autódromos brasileiros, nove vitórias e dez pole positions no currículo, Thiago Camilo foi escalado para conduzir a Status num passeio a bordo do Audi R8 5.2 FSI V10. O piloto da Stock Car, maior categoria do automobilismo nacional, foi convidado para conferir o comportamento do superesportivo alemão entre as ruas da maior cidade da América Latina e as curvas da Estrada Velha de Santos. O circuito escolhido não foi por acaso. “Deu para sentir que é um carro bem rígido, que não transfere tanto peso. Para um esportivo, a estabilidade é muito boa”, diz Camilo. O cupê foi lançado para rivalizar com Ferrari, Porsche e Lamborghini e é inspirado no R12, modelo de competição que venceu cinco vezes a tradicional corrida 24 Horas de Le Mans. Seu motor V10 de 525 cavalos de potência alcança 100 km/h em apenas 3,9 segundos e, embora chegássemos com os ponteiros apenas aos 200 km/h, ele tem velocidade máxima de 316 km/h. Além do desempenho elogiado pelo piloto, o espaço interno e a confortável posição para dirigir também chamaram sua atenção. “Eu tenho 1,90 metro, uma altura complicada para esportivos. Com a regulagem do volante, consigo ficar numa posição de carro de corrida mesmo”, comenta. Outra vantagem do interior é seu isolamento acústico. Quem não for aficionado pelo ronco do motor pode fechar as janelas e conversar tranquilamente sem ruídos externos. Do lado de fora, o design elegante e a cor vermelha viva também chamam a atenção. “Não só a nossa como a de todos que passavam por nós.” Palavra de quem entende do assunto.

A faixa escura na parte inferior da traseira enfatiza a largura do carro, assim como o sistema de escape com duas grandes saídas ovais e o spoiler, que se estende automaticamente a velocidades mais elevadas. A tecnologia Audi Space Frame (ASF) de construção leve faz com que a carroceria pese apenas 210 quilos.

DESIGN

RODAS Nas quatro rodas, há braços duplos triangulares de alumínio como em carros de corrida. A tração permanente e integral Quattro e o bloqueio do diferencial do eixo traseiro fornecem força, estabilidade nas curvas e precisão na condução.

IMPRESSÕES Entre as principais qualidades do Audi R8 V10, Camilodestacou sua adaptação às imperfeições do asfalto dacidade. Com bastante naturalidade, o esportivo trafega sobre irregularidades. “É muito mais confortável que alguns de seus rivais. Este passa com facilidade nos buracos.” Graças a um sistema que utiliza campos magnéticos, os amortecedores se adaptam às condições da pista e ao estilo do motorista em milésimos de segundo. O R8, diz ele, se mostra companheiro na cidade, na estrada ou no autódromo.

PODER NA PISTA MOTOR POTÊNCIA CONSUMO ACELERAÇÃO PREÇO

V10 de 5,2 litros 525 cv 13,7 km/l 0 a 100 km/h em 3,9 segundos R$ 696,5 mil


PING PONG

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HOMEM DE VERDADE COMO AS MULHERES ESPIÃS USAM A SEDUÇÃO COMO ARMA DE ESPIONAGEM POR CARLOS SAMBRANA

M E D I TA Ç Ã O O ASHTANGA VINYASA QUALQUER PESSOA, MAS

EM YOGA EXIGE

M O V I M E N TO

PODE SER PRATICADO POR CONCENTRAÇÃO E DEDICAÇÃO.

OS BENEFÍCIOS JÁ APARECEM NO DIA SEGUINTE À PRIMEIRA AULA POR PITI VIEIRA FOTOS ROGÉRIO CASSIMIRO

ENTRAR PELA PRIMEIRA VEZ em uma aula de Ashtanga Vinyasa Yoga pode surpreender quem pensava em encontrar pessoas se exercitando calmamente em posições estranhas. Bem, a parte das posições estranhas é verdade, já a dinâmica é completamente diferente. A primeira surpresa é que cada um se movimenta em seu ritmo e, dependendo da temperatura do dia, as pessoas ficam ensopadas de suor, tamanho o vigor dos movimentos. Na sala, ouve-se apenas o som da respiração dos alunos e o movimento que eles fazem entre uma posição e outra – o professor fala apenas o essencial, ajustando os corpos corretamente,

no limite possível de cada pessoa. “A prática do Ashtanga alia a potência do corpo à tranquilidade da mente. Trata o físico, o emocional e o espiritual”, diz o professor paulistano Pedro Moreno, 34 anos de idade, dos quais doze de prática da centenária vertente do yoga. A Ashtanga Vinyasa Yoga foi desenvolvida no começo do século 20 pelo professor indiano Sri. K. Patthabhi Jois, que sistematizou o método a partir dos estudos que fez com seu mestre, o também indiano Sri Tirumalai Krishnamacharya (1888-1989). Pattabhi Jois, que praticou o Ashtanga até morrer, aos 93 anos, criou sequências fixas

de movimentos sincronizados com a respiração. Ele dedicou sua vida a transmissão desse método, que se tornou popular no mundo a partir dos anos 70, com a vinda dos primeiros ocidentais ao seu centro de ensino, o AYRI (Ashtanga Yoga Research Institute), em Mysore, sul da Índia. O método tem como guia três pilares de ação principais: asanas (posturas), vinyasa (sincronia entre movimento e respiração) e dristhis (pontos de olhar fixo durante a prática – nariz e dedos das mãos ou dos pés, de acordo com a postura). No total, o Ashtanga consiste em seis séries com números fixos de posturas.


O que é: Ashtanga consiste na prática de seis séries de posturas progressivamente mais exigentes, usando a técnica do vinyasa, ou seja, movimento sempre em sincronia com a respiração

Recomendado Pessoas hiperativas que buscam desafio. E sempre acima dos 13 anos

Benefícios Tônus muscular, flexibilidade e concentração. Traz sensação de fluidez e disciplina para a vida

Cuidados Não oferece riscos de lesões para quem respeita o seu limite e pratica no seu ritmo

O PROFESSOR DE O praticante flui de uma para outra em YOGA PEDRO MORENO movimento contínuo, permanecendo em DEMONSTRA AS POSTURAS (ACIMA, cada posição enquanto respira profundaDA ESQUERDA PARA A DIREITA): mente, só pelo nariz, cinco vezes. Cada DA CADEIRA OU movimento é combinado com a respiração, UTKATASANA; DO HERÓI OU e o aluno passa de uma postura a outra até VIRABHADRASANA; E VARIAÇÃO DE LÓTUS encerrar a série, decorando-a até entrar INVERTIDA OU URDHVA PADMASANA na série seguinte e assim por diante, o que pode levar uma vida inteira. A pressa não existe no Ashtanga. “As posturas são passa“A prática do Ashtanga alia a das gradativamente em cada aula e em três potência do corpo à tranquilidade meses um aluno com facilidade física pode da mente. Trata o físico, dominar todas as posturas da primeira séo emocional e o espiritual” rie”, explica Pedro. “O controle da mente é o objetivo principal e quem comanda a mente é a respiração. Trabalhar a respiração Quanto ao mito sobre as lesões ocorridas é uma excelente maneira de dominar o Eu cepções. “O efeito é sempre o mesmo: limfísico e mental”, completa ele. peza orgânica e bem-estar físico e mental. com essa modalidade, na maioria das veEnfim, uma sensação de satisfação plena”. zes tudo pode ser evitado se cada pessoa EM BUSCA DE DESAFIO O sistema de Pattabhi Jois preza por seis descobrir seu limite e ritmo. “Ao observar Esses elementos guiam a prática de todas aulas por semana, mas pode-se praticar uma uma aula, dá para ver que cada aluno tem as sequências que, inicialmente, têm como só vez, se for o caso. Mas é a frequência o que um estilo diferente. O tempo que cada um objetivo a limpeza dos órgãos internos e a faz do exercício algo muito mais poderoso leva para completar a sua série e o jeito tonificação e flexibilização do corpo. Atra- do que um corpo forte e flexível – é como como as posturas são feitas variam muito. vés do intenso calor interno produzido pela uma meditação em movimento, que muitas Essas diferenças acontecem por várias caurespiração, toxinas e demais impurezas fí- vezes se torna a âncora de seus adeptos. “É sas, como a assiduidade do praticante, as sicas e psíquicas são eliminadas. Como comum os alunos serem pessoas hiperativas, diversas atividades que cada um faz ou já consequência, a mente do praticante se mentalmente muito fortes, que chegam aqui fez na vida, do tempo de atividade, entre outras coisas”, diz o professor. torna mais calma e sensível às próprias per- em busca de desafio”, conta Pedro.


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AO AR LIVRE

EQUIPAMENTOS E EVENTOS PARA MELHORAR SUA PERFORMANCE FÍSICA E MENTAL 1. DURONA A Pentax Optio WG-1 resiste à pressão de até dez quilos, enfrenta temperaturas negativas sem congelar e chega a seis metros de profundidade – tudo isso tirando fotos com boa qualidade . Possui sensor de 14 megapixels e grava vídeo em HD (é possível instalar um GPS por um extra de US$ 50). Preço: US$ 350 www.pentaximaging.com

Agenda

1

O ALPINISTA brasileiro Rodrigo Raineri está agora tentando escalar o Monte Everest novamente. Só que desta quarta vez Rodrigo planeja decolar de parapente direto do topo da montanha, a 8.848 metros de altura. O voo deve durar 30 minutos e ele pretende percorrer parte do trajeto “encharutado” (com as velas fechadas) para pousar o mais rápido possível. DEPOIS DE receber os melhores surfistas do mundo durante os últimos oito anos, o litoral catarinense passa o bastão para o Rio de Janeiro – mais precisamente para a Barra da Tijuca – sediar a etapa brasileira do campeonato mundial de surf (WCT), que começa no dia 11 de maio e vai até o dia 22. A praia da Barra da Tijuca será o palco principal do Billabong Pro Rio 2011. A MARCA esportiva Asics divulgou os detalhes do Circuito Golden Four, composto por quatro meias maratonas a ser disputadas a partir de junho. Rio de Janeiro (26 de junho), Belo Horizonte (17 de julho), São Paulo (7 de agosto) e Brasília (6 de novembro) são as cidades escolhidas para sediar o circuito plano e rápido de 21 quilômetros. www.golden4asics.com.br

FOTOS DIVULGAÇÃO

2. LUVA PARA OS PÉS A linha 2011 Five Fingers, da marca italiana Vibram, chega às prateleiras das lojas Track & Field em maio. Essa “luva para os pés” tem revolucionado o mercado de corrida com a promessa de ser o primeiro calçado a oferecer a sensação de correr descalço com a proteção e segurança de uma sola de borracha. Preços ainda não definidos. www.tf.com.br 3. METEOROLOGISTA Quase uma estação meteorológica portátil, o Suunto Core possui barômetro que não só prevê tempestades como possui um alerta de mudanças bruscas de temperatura. Preço: R$ 1.299 www.suunto.com 4. INVOCADA A Matts TFS 500-D, da Merida, tem quadro em alumínio TFS Pro, grupo de 27 velocidades (XT/Deore), freio a disco hidráulico Shimano M445 e suspensão Rock Shox Dart 3 Poploc com trava no guidão e 100 mm de curso. Preço: R$ 3.650 www.merida.com.br

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PING PONG

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NOSSA SURFISTINHA UMA DAS PRINCIPAIS BODYBOARDERS DO PAÍS, NICOLLE CALHEIROS, 25 ANOS, APOSTA NO SUOR DO ESPORTE E NO OLHAR DE MENINA PARA CHEGAR AONDE QUER

por Bruno Weis

fotos Rogério Alonso


VA E N IS A E INOC A R A R ?

Nicolle Calheiros é uma loira bronzeada que vive na praia, mas não exatamente tomando sol, tipo mulher de surfista. No caso, ela é a surfista. Ou, mais precisamente, uma das principais bodyboarders do País que, desde 2002, frequenta as primeiras posições em campeonatos e etapas nacionais e internacionais da mais feminina versão do surf. A carioca de 25 anos foi campeã mundial amadora em 2004 e, atualmente, é a sétima melhor do ranking mundial. Ela começou a competir ainda adolescente, quando morava em Maceió, terra de seus familiares. Sim, Nicolle é prima distante do senador Renan Calheiros – mas diz que não tem relação nenhuma com o parente poderoso. Hoje vive em Copacabana, zona sul do Rio, entre longos treinos e sessões no mar e trabalhos como modelo,

graças a suas


“A correria entre viagens e trabalhos tem atrapalhado meus relacionamentos, mas bem que eu queria um namorado...”

medidas deliciosamente perfeitas (79 de busto, 63 de cintura e 88 de quadril) e sorriso de menina. A correria, diz ela, é tanta que impede que a moça engate qualquer relacionamento mais sério.

Solteira, a atleta aproveita

para sair para dançar com as amigas – o club Melt no Leblon é uma de

suas baladas preferidas na cidade – e pular Carnaval de rua. Este ano, saiu fantasiada de Alice, a do País das Maravilhas. Em 2011, Nicolle quer competir o máximo possível para aprimorar ainda mais sua técnica – de preferência participando de uma etapa nas Ilhas Canárias, na Espanha, seu destino de sonhos – e virar 100% vegetariana (hoje ainda se permite comer peixes e frutos do mar). Ela não se acha especialmente bela, mas dona de um olhar sedutor.

o que quero e quem eu sou.”

“É com ele que mostro


DOMADOR DE GIGANTES

ENCARAR UMA DAS MAIS MORTAIS FORÇAS DA NATUREZA É A PROFISSÃO DE DANILO COUTO, SURFISTA DE ONDAS GIGANTES QUE HÁ 16 ANOS SE MUDOU DE SALVADOR PARA A ILHA HAVAIANA DE MAUI. RECENTEMENTE, ELE PEGOU NA REMADA UMA ONDA COM CERCA DE 20 METROS DE ALTURA, QUE REDEFINIU SEU ESPORTE E PODE FINALMENTE LHE RENDER O OSCAR DA MODALIDADE SANGUE-FRIO por Piti Vieira

FOTO TRACY KRAFT LEBOE


20 M Nas alturas O surďŹ sta na onda de sua vida, do tamanho de um prĂŠdio de seis andares. O feito aconteceu em Jaws, na ilha de Maui, no HavaĂ­


SANGUE-FRIO

DANILO COUTO COM A PRANCHA USADA PARA SURFAR A ONDA QUE ESTÁ CONCORRENDO AO XXL, A PRINCIPAL PREMIAÇÃO DA MODALIDADE

O B A I A N O D A N I L O C O U T O , 36 anos, acordou às 3h30, meio na dúvida se saía de baixo do cobertor. Fazia frio e sua mulher e filha o aqueciam. Mas a missão traçada havia cinco anos era maior. Levantou, pegou a mochila, jogou umas bermudas, parafina e a cordinha dentro dela, colocou a gunzeira – prancha longa, grossa e estável, ideal para ondas rápidas e grandes – no topo do carro e se dirigiu ao aeroporto para pegar a primeira ponte aérea, que sai às 5h15 da ilha de Oahu, no Havaí, onde ele mora, e chega a Maui, outra ilha havaiana, antes das 6h. De lá, ele e o amigo brasileiro Yuri Soledade seguiram para Jaws (mandíbula, em inglês), um dos locais mais temidos do mundo para a prática do esporte, a 800 metros da costa. “Quando chegamos, o visual estava perfeito: poucos jet skis, com esquerdas lindas e perfeitas. Descemos a ribanceira (o costão, por onde entram os surfistas que não usam o jet ski) para cair na água por entre as pedras. A entrada é sinistra, porém esperamos uma calmaria e logo estávamos remando no canal.” Fazia um dia lindo, com muito sol, a água azul estava cristalina e o vento, forte. Na parte da manhã, Danilo surfava as esquerdas, mas percebeu outros surfistas pegando as direitas e resolveu experimentá-las. “Fui falar com o Greg Long (maior vencedor da história do Billabong XXL Global Big Wave Awards, o prêmio máximo da modalidade), que estava sentado em sua prancha, esperando a série de ondas chegar. Mas, quando ela veio, ele remou para fora da arrebentação e eu fiquei lá”, conta o baiano, no melhor estilo missão dada é missão cumprida. “Fui na primeira onda da série, mas não consegui pegá-la. Quando olhei para trás, a próxima já estava bem em cima de mim. Remei o mais forte que pude. O vento soprava com tanta força que quase não me deixou descer a parede de água. Só pensava e me concentrava em não cair. Completar a onda foi uma sensação maravilhosa, surf na remada, do jeito que os ancestrais inventaram”, diz ele. O feito mudou o rumo do surf em ondas gigantes. Danilo despencou por cerca de 20 metros, em uma das maiores ondas surfadas na remada em Jaws, equivalente à altura de um prédio de seis andares, provando que ondulações desse porte, apesar de serem rápidas, podem ser pegas sem a ajuda de um jet ski e de uma prancha para tow-in. “Foi uma situação crítica, resolvida da melhor maneira possível. Um atestado de que Danilo deve ser considerado mais do que um personagem periférico do esporte”, afirma Taylor Paul, editor associado da Surfing Magazine, uma das principais revistas especializadas em surf do mundo. “Estou concorrendo na categoria principal, Onda

do Ano”, orgulha-se o baiano. “Além disso, concorro também na categoria Maior Onda, com a mesma e mais duas outras ondas surfadas para a esquerda (em Jaws). E ao Maior Tubo, com uma onda surfada na Ilha Mãe, em Niterói (RJ), em uma das maiores ressacas do último inverno.” ESPORTE LETAL Danilo é atualmente um dos maiores nomes do Brasil quando o assunto é surf em condições extremas. O surfista, que vive do patrocínio de cinco marcas, já foi indicado ao XXL em 2004 por ter encarado uma onda com cerca de 20 metros de altura – pega em tow-in – e, em 2005, quando entrou novamente no páreo e concorreu pelo maior tubo. A vitória nesse concurso ainda não veio, mas participar da competição foi o suficiente para colocar seu nome na elite do esporte. Domar ondas gigantes tem sido o objetivo e o fim de muitos surfistas durante os últimos 30 anos. A evolução das pranchas fez com que a técnica aumentasse, até que lendas do esporte como os havaianos Laird Hamilton, Dave Kalama e Darrick Doerner descobriram Jaws e inventaram o tow-in. Esse tipo de surf extremo envolve duas a três pessoas trabalhando juntas e faz com que lugares onde uma queda seria fatal – pela força da onda e pouca profundidade – se tornem menos amedrontadores. Cair da prancha significa afundar na água à força e ter de segurar o fôlego por mais de um minuto até voltar à tona. O último a morrer surfando uma onda grande foi o big rider havaiano Sion Milosky, 35 anos, que detinha o recorde informal de maior onda já surfada na remada. Ele morreu em março quando surfava Mavericks, famoso pico na Califórnia. Considerada por muitos anos como a onda gigante mais longa e mais técnica do planeta, Jaws é cobiçada a cada temporada de inverno havaiano por centenas de surfistas. Ali, não basta apenas ter coragem, é preciso muita técnica para sobreviver. As ondas que quebram no local – com velocidade de até 60 km/h e volume de dez milhões de litros de água, equivalente ao de cinco


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piscinas olímpicas – se formam em tempestades no alto-mar do Pacífico Norte, nas costas do Japão, a milhares de quilômetros do Havaí. Empurradas pelo vento e sem uma massa de terra para barrar seu caminho, elas arrebentam na ilha com violência. Como o mar é raso na região, a propagação das ondas para baixo tromba com seu fundo. Assim, toda a sua energia é catapultada para cima, como num vulcão subaquático. COMEÇO Treinado nas pesadas e tubulares ondas da praia do Barravento, em Salvador (BA), Danilo começou a surfar cedo, aos 10 anos de idade. “O pessoal mais velho do meu prédio já pegava onda e, talvez por influência deles, dos 13 aos 17 anos participei de competições amadoras na região e até fora do País”, lembra ele, que mede 1,78 m e pesa 80 quilos. Aos 18 anos, o baiano passou na faculdade. Cursou três anos de economia até que surgiu a oportunidade de ir para o Havaí passar férias e estudar inglês. Em dezembro de 1996, Danilo partia da capital baiana, aos 20 anos, direto para a ilha de Maui para visitar um amigo conterrâneo, o também surfista Yuri Soledade. Acabou ficando por lá durante um ano, lavando prato em restaurante, fazendo bicos em jardinagem e na construção civil – e melhorando a base no surf. “Após esse período, voltei a cursar economia no Havaí”, conta ele. A partir daí, a rotina passou a ser estudar, trabalhar e surfar. Mas conciliar tudo ficou complicado. O surf ocupava sua mente e ele melhorava no esporte, surfando ondas em escala ascendente. “A faculdade ficava cada vez mais difícil e acabei trancando. Estava sentindo que tinha um espaço nesse esporte e dava para viver disso pelo meu nível. Um mês depois, consegui um patrocínio, que passou a bancar as minhas viagens como free-surfer (atletas que são pagos para viajar e surfar pelo mundo sem precisar competir). Isso foi o começo da minha carreira, em 1999.” Encantado com a qualidade de vida e as emoções de seu novo mundo, ele se mudou para a ilha de Oahu com o intuito de ficar mais perto das enormes ondas do North Shore, onde estão as famosas praias de Pipeline e Sunset – além da capital Honolulu. Foi ali que a viagem ao Havaí acabou tomando outro rumo e o fez encontrar sua outra paixão, a americana Laura, 28 anos, com quem está casado há quase uma década e tem uma filha, Tiare, 6 anos. Quanto ao perigo de sua profissão, a família não é um entrave e sim um incentivo. “Elas aceitam, gostam e sabem que eu preciso do apoio familiar para fazer aquilo. Mas as duas ficam com um pouco de frio na barriga”, diverte-se ele.

“REMEI O MAIS FORTE QUE PUDE. O VENTO SOPRAVA COM TANTA FORÇA QUE QUASE NÃO ME DEIXOU DESCER A PAREDE DE ÁGUA. SÓ PENSAVA E ME CONCENTRAVA EM NÃO CAIR. COMPLETAR A ONDA FOI UMA SENSAÇÃO MARAVILHOSA, SURF NA REMADA, DO JEITO QUE OS ANCESTRAIS INVENTARAM”

COMO UMA ONDA NO MAR Compare o tamanho das ondas havaianas com as brasileiras

JAWS (Havaí) 20 M PIPELINE (Havaí) 4,5 M SAQUAREMA (RJ) 2,5 M MARESIAS (SP) 1,5 M


PORNOPOPEIA

POR REINALDO MORAES

Retiro

criativo

do

carvalho

Nosso colunista imagina um spa literário regido por lindas M.O.s (musas operacionais)

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A & I

Reinaldo Moraes é autor dos romances “Tanto faz”, “Abacaxi” e “Órbita dos caracóis” e do livro de contos “Umidade”. É roteirista de cinema e de tevê. Inaugura esta coluna batizada com o nome de seu mais recente livro, “Pornopopeia” (Objetiva), cuja edição de bolso acaba de sair


““

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b M b L j

No final dos anos 80 do século 20 do segundo milênio, um grande amigo de uso diário, cansado de me ouvir reclamar de uma conjuntural falta de grana e de oportunidades de ganhá-la com relativa honestidade e regularidade dentro do meu métier, me disse: “Vou te levar pra conhecer o secretário.” Eu tinha tido uma ideia oportunista feito o diabo, cândida picaretagem, que poderia me tirar do sufoco financeiro, ou assim sonhava o pessimista atávico que, em mim, tenta se passar por canhestro otimista. Era mais

uma de minhas brilhantes ideias de merda – uma autêntica bim, como eu

dizia no meu jargão pessoal. Imagino que todo mundo seja acometido de uma boa bim, vez por outra, mais uns que outros. Normal. No meu famoso métier neguinho costuma ter uma bim atrás da outra. Faz parte. Não sou o único. Antes de esclarecer que ideia era aquela e quem era o secretário, e do quê, vale lembrar que o meu métier, assim como o desse meu amigo, e até mesmo o do secretário, era, basicamente, escrever, escrever seja lá o que for pra quem se dispuser a pagar, desde o cliente institucional – revista ou jornal, por exemplo – até o público leitor, lá onde ele se esconde. Só que o Prata – Mario Prata, esse amigo meu – era famoso por suas peças e novelas marcantes nos anos 70 e 80 (“Estúpido cupido”, na Globo, “Besame mucho”, no teatro), e eu, que só contava no cômputo geral das minhas obras completas com dois magros romancelhos que mal conseguiam se escorar um ao outro na prateleira, ostentava um rútilo anonimato. O secretário era Fernando Morais, já na época renomado jornalista e escritor de pelo menos dois livros que eu lera com grande admiração, “A ilha”, sobre a Cuba de meados dos anos 70, e “Olga”, publicado em 85, acho, abordando a vida da judia comunista entregue pela ditadura Vargas às câmaras de gás nazistas. Fernando Morais ocupava a secretaria com menor dotação orçamentária: a da cultura, como sempre. Abreviando a história, o Prata passou em casa pra me apanhar, na Vila Madalena, e alguns engarrafamentos depois estávamos

embicando o carro na garagem da Secretaria da Cultura, na rua da Consolação, ao lado da Casas Pernambucanas, loja, por sua vez, vizinha ao cine Belas Artes. Admitidos no gabinete, todas as dúvidas que eu tinha sobre como me comportar diante de um secretário de Estado dissiparam-se no ato diante da simpatia e afabilidade tipicamente mineiras do homem. Depois de nos cumprimentar efusivamente ao rés do chão, o secretário apoltronou-se atrás de sua escrivaninha senhorial, de alguma madeira de lei escura, com bandeirinhas do Brasil e de São Paulo, tudo assente num estrado monárquico que alçava a autoridade e seus móveis uns dois palmos acima do comum dos contribuintes. Depois de uma conversa genérica, meu diligente amigo tratou de sintetizar minha modesta biografia como escritor, tentando gabaritar-me a apresentar uma proposta cultural ao governo do Estado, nada menos. Era o momento de dar meu bote. O secretário, de camisa social e gravata – o paletó repousava num cabide ao nível do chão, como a indicar que, apesar do estrado autocrático, era dali mesmo, do chão comum dos mortais, que ele provinha –, o secretário, eu dizia, tirava roliças baforadas de um puro legítimo (presente pessoal do Fidel, segundo me contara antes o Prata) aguardando a exposição do meu projetinho oportunista, que outro não era senão uma espécie de “Embraletras” financiada pelo governo paulista. Se a curriola do cinema podia, se a turma do teatro podia, se até artistas plásticos e gente de circo podiam, por que escritores não poderiam também ser bancados pelas burras públicas? Afi-

tinha uma fazenda em Valinhos, a famo-

sa fazenda Capuava, cuja sede, de figurino modernista, tinha sido

projetada por ele em 1929 e concluída em 1938. A Capuava era dos poucos projetos arquitetônicos do Flávio de Carvalho a saírem de fato do papel e, sem dúvida, o mais importante. O casarão, com meia dúzia de quartos, ou mais, e um imenso salão, além de piscina, fora tombado em 1982 e estava em péssimas condições de conservação. A ideia do secretário era comprar a fazenda da família Carvalho, restaurar a sede e

transformar o lugar em uma espécie de centro de acolhimento de escritores mais ou menos desvalidos – poetas e dramaturgos inclusos – em busca de refúgio grátis para escrever, com direito a aposentos privativos, roupa lavada e rango de primeira. Cônjuges

e filhos, claro, não seriam bem-vindos, para garantia da paz e sossego do refúgio. E os agraciados com a estadia ainda perceberiam um auxílio em dinheiro, de modo

a abduzi-los temporariamente do mercado de trabalho. Putzgrila!, explodi em êxtase.

Que ideia del gran balaco! Sem dúvida, bem melhor que a minha, com a vantagem de oferecer o álibi perfeito para um escritor casado e com filhos, como eu, poder dar às de vila diogo no reduto familiar, por uns tempos,

para entregar-se de corpo e alma às musas num pequeno paraíso não muito

distante de São Paulo.

nal, estávamos no Brasil, a terra As musas, sim, as musas. Endo ameno e eterno compadrio. tusiasmado até a raiz dos peBom, depois de deixar minha proposta los púbicos pela magnífica ideia do

defumando por uns instantes no fumacê de seu charutão cubano, o secretário puxou um pigarrinho burocrático e nos contou que andava cozinhando uma ideia aparentada com a minha. Acontece, explicou o Fernando, que o falecido arquiteto, artista plástico, escritor e grande provocador Flávio de Carvalho, o mesmo que tinha saído de saiote plissado pelas ruas do centrão nos anos 50, para escândalo das virilidades auriverdes,

secretário, dei tratos à bola em voz alta para aprimorá-la. Para começar, eu disse, mister se faria liberar o uso de todo e qualquer tipo de substância controlada ou ilícita nas dependências da fazenda e da sede. Escritores sempre estiveram às voltas com paraísos artificiais, e a fazenda de Flávio de Carvalho deveria fazer as vezes de uma pequena Amsterdam evoluída para gáudio de seus hóspedes criativos.


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a A & as mocinhas funcionariam como sparrings Mulheres hétero e gays disporiam de um farto estoque de garanhões e efebos eruditos para trocar ideias e fluidos corporais

&A ...entre eventuais sussurros e carícias íntimas

m” Mais importante que isso, as longas horas de confinamento e solidão que os escritores e poetas iriam enfrentar na fazenda-modelo seriam em grande medida aliviadas pela presença de um contingente de gentis alunas de cursos de letras de todo o Estado, arregimentadas e selecionadas em rigoroso concurso público que trataria de mensurar-lhes o cabedal cultural em paralelo com seus atributos, digamos, paisagísticos. Devidamente familiarizadas com as obras dos autores abrigados na casa, ou pelo menos com o repertório básico da literatura nacional e mundial, as mocinhas

funcionariam como sparrings intelectuais, ou seja, musas operacionais

(M.O.s.), capazes de tecer doutos comentários sobre autores e obras, além de debater questões relacionadas a técnicas narrativas, processo criativo, novas mídias e sua influência nas artes, e mais qualquer outra questão ou tema de interesse para o nobre fazer literário. Ou seja, o bravo romancista, contista, poeta ou dramaturgo contaria com a delicada e dedicada presença ao seu lado de algum clone da Xuxa em seus verdes anos para discutir com ela, en privé, a crise da subjetividade na era pós-joyceana, ou ainda o erotismo em Bataille e Adelaide Carraro. Isso tudo tomando um bellini ou um kyr royal à beira da piscina, ou traçando um leitãozinho pururuca à mesa do jantar regado a vinhos e licores da mais fina procedência, ou mesmo no recôndito aconchegante da alcova, queimando um hash marroquino harmonizado com a melhor diamba da terra, entre even-

tuais sussurros e carícias íntimas

(“Puxa, baby, que lindas redondilhas você bas machos, devendo estender-se também às escondia aí debaixo da camiseta!” / “Obri- mulheres, gays e lésbicas que se dedicam às gada, benhê. Seu ponto de exclamação letras. Mulheres hétero e gays disporiam de um farto estoque de também é deveras apreciável!”).

As M.O.s (musas operacionais, só pra lembrar) estariam 24 horas por dia à disposição dos escritores, num esquema informal de rodízio, estando apenas vetados, tanto quanto possível, os arroubos de paixão e ciúmes de parte a parte. Era mais do que óbvio que um tal serviço de bordo contribuiria sobremaneira para o aumento das taxas de inspiração e testosterona dos afortunados escribas, com grande benefício para a literatura brasileira contemporânea como um todo, e paulista em particular. Seria, de todo jeito, uma experiência inovadora, estimulante para a criação literária e, por que não?, tesu-

da pra dedéu.

A essa altura da entusiástica exposição das ideias que me brotavam como jorros de gêiser, o secretário e o Prata também se sobrepujavam em contribuições para aperfeiçoar o projeto do retiro literário com M.O.s e baratos afins. Alguém sugeriu que a fazenda do inesquecível Flávio de Carvalho deveria ganhar o nome oficial de “Retiro Criativo do Carvalho”, ao que outro de nós, não lembro quem, obtemperava, às gargalhadas, que tal denominação logo ia virar, nas asas da galhofa, “Retiro procria-

tivo do caralho”.

O secretário, homem de firmes convicções democráticas, logo observou que tais privilégios não poderiam se restringir aos escri-

garanhões e efebos eruditos para trocar ideias e fluidos corporais, o

mesmo se aplicando às sapatas, que contariam com devotas sapatilhas conviviais, igualmente cultivadas e prontas pro que desse e viesse, e vice-versa. Depois de breve e animada discussão, todos concordamos com o titular da pasta, ressalvando, porém, que o melhor seria não misturar as enfermarias. Ou seja, cada grupo desses teria sua temporada particular a ser desfrutada nos verdes campos de Valinhos, ficando, destarte, atendidas as demandas de todos os segmentos da sociedade chegados a um teclado alfanumérico e a uma boa sacanagem. Nada disso, infelizmente, aconteceu. Não cheguei a conhecer a fazenda Capuava, com ou sem as musas operacionais em ação. Nem abocanhei bolsas ou empreguinhos públicos de ocasião, como pretendia. Fui me virar de outro jeito pra arranjar dinheiro, não lembro direito qual, mas com certeza deve ter sido alguma forma de frila ou bico com cachê merreca envolvendo escrever, sempre escrever e escrever, à máquina – ou direto na impressora, como diríamos hoje –, e sem M.O.s ou sincronadadoras ao alcance da mão e do desejo. Sei é que às vezes acordo de noite, pálido de espanto e teso de tesão, pondo-me a devanear com o natimorto Retiro Criativo do Carvalho, edênico devaneio paraestatal enterrado para sempre no futuro do pretérito. ILUSTRAÇÕES PEDRO MATALLO


NOSSA HISTÓRIA

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Por Gonçalo Junior

as HErOÍnas da rEsistÊncia

a primeira capa de status foi Às bancas quando o governo achava que sensualidade era coisa de comunista


como a status tornou-se a primeira publicação masculina do brasil e, junto com estrelas inesquecíveis, conseguiu driblar a censura em um dos períodos mais duros da ditadura militar. em um tempo em que mulher pelada era questão de segurança nacional, apresentamos ao brasil a nudez feminina como nunca antes vista em páginas de revista

a p r i m e i r a v e z q u e a r e v i s ta s tat u s chegou às bancas, em agosto de 1974, com o selo da editora três, o brasil estava em guerra. guerra contra o comunismo. guerra contra o sexo. de um lado, a ditadura militar. do outro, os últimos focos de guerrilha daqueles que pegaram em armas contra o regime. os generais estavam ganhando esse confronto. mas havia um tipo de subversão a mais a ser combatido que se mostraria duro de combater: as revistas e os filmes com sexo. Os livros de história ainda não contaram essa versão daqueles tempos, mas os militares consideravam publicações com mulheres seminuas – porque o nu frontal era totalmente proibido – nada menos que um esquema criado pelos comunistas para destruir a família por meio da pornografia e instaurar o regime de moscou no país. de nada adiantava dizer que em moscou se dizia o mesmo: a pornografia era um mecanismo dos capitalistas para destruir o socialismo. desde janeiro de 1970, os generais declararam a sensualidade como um dos principais inimigos da ditadura. no dia 26 daquele mês, foi imposto o decreto 1077, que estabeleceria censura prévia a qualquer revista ou livro que trouxesse fotos ou desenhos de mulheres nuas. ao mesmo tempo, mais de uma centena de títulos foi proibida de circular. a portaria 209, de 6 de fevereiro, ampliou a repressão e estabeleceu que nenhuma revista poderia ser distribuída e vendida no brasil se não tivesse sido registrada na polícia federal. as que traziam material “obsceno” ou “violento” – como algumas revistas em quadrinhos – deveriam mostrar na capa o número do registro, o nome e o endereço do editor e a frase em destaque “proibida para menores de 18 anos”. nada menos que 104 títulos foram imediatamente proibidos. até 1978, aproximadamente 500 livros e duas mil revistas tiveram sua circulação proibida. a partir de abril de 1973, com a portaria 219, qualquer publicação do gênero deveria ter seu registro aprovado pela censura. além de vendidas em sacos “hermeticamente fechados”, as revistas deveriam trazer na capa o número de registro, nome da portaria, da editora e o endereço, apenas para facilitar a fiscalização e prisão de alguém – o editor. antes de status estrear, josé madeira, chefe da censura em são paulo, mandou um ofício à editora três com uma lista de proibições quanto às fotos de mulheres com qualquer conotação sensual que já era aplicada em EleEla, revista da carioca bloch editores. o regulamento, dividido em quatro partes, determinava que só seria permitida foto com a exposição

a primeira nudez de sônia braga na imprensa brasileira foi um clique perfeito: a folha esconde parte do mamilo da atriz

de “um seio apenas”, “estando o outro não visível, mediante qualquer recurso técnico (tecido, espuma de sabão, flanco, corte, escurecimento etc.). a exposição de “ambos os seios está totalmente proibida pelo ministério da justiça, que já forneceu instruções ao diretor geral do dpf/ brasília (para fazer a censura prévia da revista)”. nas chamadas “partes genitais” das mulheres fotografadas ou desenhadas, era “totalmente proibida qualquer forma de exposição, mesmo em sombra”. e as nádegas? “a exposição deve ser diluída através dos recursos técnicos supracitados ou outros equivalentes.” o regulamento da censura também incluía o uso de palavrões nos textos, legendas e cartuns: “está merecendo atenção especial do ministério da justiça. portanto, deve ser eliminado, mesmo que, aparentemente, haja ‘encaixe’ dentro da situação focalizada.” esses fatos mostravam que, se em 1974 a censura afrouxaria o cerco à imprensa diária, ao suspender a “verificação” prévia nas redações – desde janeiro –, sua relação com qualquer aspecto ligado ao sexo ainda leva-


NOSSA HISTÓRIA

alguns dos macetes da revista para driblar os censores incluíam publicar sandra brÉa em decotes generosos (acima), roupas molhadas e semitransparentes, como neste roupÃo que veste susana vieira ou cobrir os mamilos de silvia krYstel, estrela do pioneiro primeiro ensaio, com frases da protagonista do filme EMMANUELLE

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ria muito tempo para ser amenizada. mais que nunca, mulher “pelada” era um problema de segurança nacional, um tema indissociável do comunismo. a partir do segundo semestre de 1975, tanto EleEla quanto status e Revista do Homem – as três maiores revistas dirigidas ao leitor masculino – se tornaram reféns da censura. com o passar dos meses, cada vez que um novo número chegava às bancas, os ofícios com restrições vindos de brasília mostravam a luta constante das editoras para até mesmo manter suas revistas em circulação. em 15 de setembro de 1977, o diretor do departamento de censura da polícia federal, rogério nunes, reforçou as restrições à nudez com mais um ofício às redações. Não seriam permitidas fotografias “fixando: a) atos sexuais; b) nádegas completamente nuas; c) seios totalmente à mostra; d) região púbica descoberta (sem sunga, tanga, biquíni ou qualquer peça de vestuário; e) modelos em poses lasciva (sic); f) relacionamento de homossexuais; g) indumentária transparente, permitindo visualizar partes íntimas do corpo”. na mesma mensagem, vinha uma ameaça do censor: “a falta de observância dessas recomendações é revelada pela persistência dessa empresa em apresentar fotografias nas indicadas condições, apesar de cientificada das restrições a elas impostas.” as restrições da censura levaram o editor de arte de status, marcel richar raillet, a desenvolver com sua equipe uma série de meios para fazer as fotos serem aprovadas – todo mês, um representante da editora ia a brasília negociar textos e imagens com rogério nunes. a mais comum era o retoque de fotolitos, que exigia a busca de uma cor próxima à da pele da modelo e permitisse apagar o mamilo sem parecer um retoque grosseiro. cada operação dessa tomava até três dias de trabalho. quando não havia tempo, se colava uma foto menor e mais comportada sobre a parte vetada. um recurso sempre usado nos três primeiros anos da revista foi a aplicação de frases entre aspas sobre o mamilo. JOrnalismO Status nasceu como uma publicação sofisticada, para um público de formação universitária e classes média e alta, que apreciavam literatura, gostavam de saber de temas atuais de cultura e política e ler longas entrevistas. como atrativo maior, óbvio, podia ver um pouco de sensualidade nas fotos rigorosamente censuradas de belas garotas. a publicação masculina que a editora três queria lançar seguia o modelo da Playboy, cujos direitos estavam sendo negociados com a editora abril. À frente estavam os editores domingo alzugaray e luis carta. status iria longe e se tornaria uma das mais importantes revistas masculinas e de jornalismo do brasil da década de 1970. no editorial de estreia, carta escreveu que pretendia levar ao público masculino toda a fantasia erótica que ele não encontrava no dia a dia. “Uma revista dedicada ao status. E muito mais ao seu significado. mostrar a vida como ela é, possivelmente os seus aspectos melhores e mais profundos, o que todos desejamos ter, conquistar, sem receios de frivolidades ou sofisticações que somente são mal interpretadas onde existem recalques. Com a firme intenção de fazer ver o que de bom, de inteligente, de certo, o homem deve conhecer”. o editor buscou qualidade com colaboradores conhecidos como ignácio de loyola brandão e paulo francis e importou artigos de nomes consagrados internacionalmente, como o italiano umberto eco. a publicação chegou com a ambição de ousar no jornalismo, com entrevistas e reportagens que buscavam sempre o furo jornalístico. foi nas páginas do primeiro número, por exemplo, que o leitor leu em primeira mão o capítulo de abertura do inédito livro Todos os homens do presidente, dos jornalistas norte-americanos carl bernstein e bob Woodward, sobre o es-


cândalo político que derrubou o presidente richard nixon (1913-1994). por causa dos vetos da censura, o número 1 trazia minguadas quatro páginas com fotos levemente sensuais da atriz silvia Krystel, protagonista do proibidíssimo (no brasil) e escandaloso Emmanuelle, que boa parte dos brasileiros sonhava ver nos cinemas – duas décadas depois, o filme seria classificado apenas de erótico “soft”. O material da atriz foi suficiente, porém, para esgotar a edição. A mesma atriz voltaria em dezembro de 1976 e ajudaria a consolidar status com mais uma tiragem esgotada em poucos dias. as fotos mereceram até um editorial. segundo o editor, foram tiradas exclusivamente para a revista pelo fotógrafo francis giacobetti e só saíram depois de uma longa negociação com a censura que se arrastou por meses, tratada pelos editores gilberto mansur e murcio borges da fonseca. as poucas imagens permitidas por nunes foram publicadas com um único mamilo à mostra e, mesmo assim, escondido por uma frase da atriz em letras grandes e impressa sobre cada foto. EstrElas nuas a edição com sylvia Kristel apontou o caminho para o sucesso editorial de status: tirar a roupa das maiores estrelas da televisão, do cinema e da música. brasileiras, principalmente. ou seja, as mulheres mais desejadas do país. por anos, status disputou a nudez de lindas mulheres com a Playboy brasileira (chamada de Revista do Homem até julho de 1978). em suas páginas, apareceram nuas pela primeira vez christiane torloni, angelina muniz, fafá de belém e muitas outras. inclusive Xuxa, antes de se transformar em apresentadora de programas para crianças. Mas Status não tinha só mulher bonita. E muitas vezes desafiou a censura. como, por exemplo, quando peitou os censores no segundo semestre de 1977 e publicou em capítulos, pela primeira vez sem cortes, o livro integral do Kama-Sutra, com suas posições sexuais. a repercussão na imprensa foi grande e levou à apreensão da primeira parte – editada com as páginas lacradas – em várias cidades do país. mesmo assim, a editora não recuou. política também era um tema importante e a revista se transformou numa tribuna para se pregar a abertura e a anistia dos presos políticos que tinham deixado o País. Por suas páginas, desfilaram com contos e novelas os maiores escritores brasileiros, como jorge amado, osman lins, joão ubaldo ribeiro e rubem fonseca. Fim da cEnsura um ofício enviado por rogério nunes, no dia 26 de fevereiro de 1980, às redações das principais editoras que publicavam revistas com nus finalmente acabou com a “censura moral e de costumes” na imprensa brasileira. num texto truncado, ele informava que, a partir daquela data, a verificação prévia das revistas de sexo estava suspensa por ordem do ministro da Justiça. Como acontecera em janeiro de 1975, ao pôr fim à censura nos jornais e revistas, nunes manteve a ameaça: “os possíveis abusos e a inobservância das normas censórias vigentes serão atribuídos à exclusiva responsabilidade do editor.” os editores, claro, entenderam que, a partir dali, o nu frontal estava liberado. e nunca se publicaram, imprimiram e consumiram tantas revistas de sexo com mulheres totalmente peladas como no decorrer dos anos 1980 e 1981. no mês seguinte, status saiu com uma edição especial “sem censura”, de 100 páginas, com as fotos que tinham sido censuradas. Até o fim da ditadura, em 1985, a revista amargou apreensões por todo o brasil por ordem de juízes de menores. status viveu para ver o país cair na democracia e provar que mulher linda e nua nada tinha a ver com comunismo. apenas com prazer.

a primeira revista masculina do brasil falava com um homem sofisticado, interessado em cultura, política e moda (acima, nuno leal maia em ensaio da status) e revelava em suas páginas a beleza de algumas das mais lindas atrizes e cantoras do país, como dina sfat e elke maravilha


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Flashback

O INSACIÁVEL MARCIANO OUTUBRO 1974 A P R E S E N TA D O P E L A P R I M E I R A V E Z N A S PÁ G I N A S D E S TAT U S em setembro de 1974, o Marcianinho, personagem do cartunista francês Pat Mallet, rapidamente conquistou os leitores da revista. Na edição seguinte, o homenzinho verde com adoração pelas mulheres terrestres surge multiplicado no quarto de uma voluptuosa loira. O marciano sabia o que era bom.

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