EDIÇÃO #6 ANA LUIZA CASTRO
ANO 1 EDIÇÃO #6 OUTUBRO 2011 R$ 14,90
SOLTEIRA, SOLTINHA E MUITO MAIS GATA DO QUE NA TV
ANA LUIZA CASTRO SEU JORGE
ENTRE AS ALTAS-RODAS DE HOLLYWOOD E O RACISMO NO BRASIL NAS MÃOS DO TALEBAN
O HOMEM QUE ESCAPOU DE TER A CABEÇA CORTADA NAS MONTANHAS DO AFEGANISTÃO
OUTUBRO 2011
UM TAPINHA NÃO DÓI O SECRETO MUNDO DE QUEM PAGA PARA APANHAR ÓRFÃOS DE CHARLIE SHEEN
VENDA
PROIBIDA
VIAGEM AO CENTRO DA TERRA OS EXPLORADORES QUE SE ARRISCAM EM CAVERNAS > ASSINANTE
CAMINHO DO GUERREIRO A HISTÓRIA DO MESTRE SAMURAI BRASILEIRO
EXEMPLAR DE
O ADEUS A CHARLIE HARPER, O MAIS QUERIDO CANALHA DA TV
E MAIS: ACESSÓRIOS ESSENCIAIS, AS BELAS DO POLE DANCE, O NOVO LAND ROVER E UM PAPO COM MARIO GARNERO
23 Editorial Conselho Colaboradores Soldado fashion Pole dancers Chave de cadeia Órfãos de Charlie Ícones de estilo Lá em casa Gastronomia Toys for boys Corpo e mente Ao ar livre Gatas na piscina Vivi Mascaro Pornopopeia Flashback
08 15 18 84 88 106 108 122 126 128 132 136 138 140 150 152 154
PERFIL 110
Quem é Rick Kowarick, o mais graduado samurai brasileiro FOTO FREDERIC JEAN
STATUS TAMBÉM NO IPAD, NO FACEBOOK E NO TWITTER WWW.REVISTASTATUS.COM.BR EDIÇÃO #6
ANO 1 EDIÇÃO #6 2011 OUTUBRO R$ 14,90
ANA LUIZA CASTRO
SOLTEIRA, SOLTINHA E MUITO MAIS GATA DO QUE NA TV
ANA LUIZA CASTRO SEU JORGE
ENTRE AS ALTAS-RODAS DE HOLLYWOOD E O RACISMO NO BRASIL NAS MÃOS DO TALEBAN
O HOMEM QUE ESCAPOU DE TER A CABEÇA CORTADA NAS MONTANHAS DO AFEGANISTÃO
OUTUBRO 2011
UM TAPINHA NÃO DÓI O SECRETO MUNDO DE QUEM PAGA PARA APANHAR ÓRFÃOS DE CHARLIE SHEEN
VENDA
PROIBIDA
VIAGEM AO CENTRO DA TERRA OS EXPLORADORES QUE SE ARRISCAM EM CAVERNAS > ASSINANTE
CAMINHO DO GUERREIRO A HISTÓRIA DO MESTRE SAMURAI BRASILEIRO
EXEMPLAR DE
O ADEUS A CHARLIE HARPER, O MAIS QUERIDO CANALHA DA TV
E MAIS: ACESSÓRIOS ESSENCIAIS, AS BELAS DO POLE DANCE, O NOVO LAND ROVER E UM PAPO COM MARIO GARNERO
60 66 74 92 114 146
APPROACH
Gastronomia, baladas, viagens, cinema, literatura, tecnologia, comportamento e os segredos do bem viver
ENTREVISTA
Seu Jorge revela que prefere a carreira de ator à de músico – e que está indo morar em Hollywood
TOP SECRET Os fiéis adeptos do masoquismo e suas irascíveis dominadoras
VAI ENCARAR ? O relato do jornalista sequestrado pelo Taleban nas montanhas do Afeganistão
ENSAIO CAPA Todas as curvas de Ana Luiza Castro, a musa do pôquer e dos esportes radicais
MODA
Os melhores acessórios para quebrar a formalidade do seu terno
SANGUE-FRIO Os exploradores que arriscam a vida nas cavernas mais profundas da terra
8
outubro 2011
Editorial
AT É Q U A N D O R E V I S TA S como Status continuarão sendo impressas no papel? Faz sentido, no meio da avalanche alucinada da informação digital e eletrônica, insistir num produto que prima pela beleza, pela elegância, que acredita no valor da leitura e busca com o leitor uma relação de intimidade sensorial, um deleite personalizado que nenhuma das new media ainda pode oferecer? Esta não é uma conversa de saudosista. É um jeito de dizer que nós, de Status, achamos que as ferramentas editoriais não se rejeitam, ao contrário, elas se complementam. Status é das raras publicações que já nasceram na plataforma iPad. Que fazem do Twitter, do Facebook, das redes sociais em geral um caminho de mão dupla de informação e de referência. O enorme clube de Status ajuda a fazer com a equipe de Status a mais contemporânea das revistas brasileiras. Quer ver? O retrato de alguém tão pop e tão requintado como a gente acha que o mundo merece ser: Seu Jorge. Passeie pelas revelações de um perfil/entrevista como você jamais leu. O excruciante relato de um documentarista norueguês que por muito pouco escapou de ser degolado no país dos talebans – reiterado compromisso de Status de produzir, in loco, jornalismo de coragem, de emoção e de profundidade. A força e o vigor – Status acredita – não rivalizam com a delicadeza. Confira a história do samurai brasileiro que, graduado em seis artes marciais, encontrou no Japão a energia que produziu em sua vida a repousante convergência de corpo e espírito. Nosso ensaio de capa revela a radiosa beleza de Ana Luiza Castro, a jornalista que de tanto apresentar programa esportivo a gente tem certeza que dá a maior sorte. Ana Luiza se entregou, com a espontaneidade vencedora de quem confia na magia de sua presença, à câmera de Maurício Nahas. Ensaios como o de Ana Luiza atestam – voltando ao tema inicial – o estrepitoso papel do papel: a delícia que é feita em um clique, a surpresa captada em um instante. É no papel também que cabe o humor feito a traço e aí está o marcianinho maroto – velho habitué de Status – reafirmando, mês após mês, o apelo de um invencível flashback.
EDITO-
NIRLANDO BEIRÃO
-RIAL
EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL DOMINGO ALZUGARAY EDITORA CÁTIA ALZUGARAY PRESIDENTE EXECUTIVO CACO ALZUGARAY diretor editorial CARLOS JOSÉ MARQUES diretor editorial-adjunto LUIZ FERNANDO SÁ
diretor de projeto Nirlando Beirão diretor de redação Carlos Sambrana editores Bruno Weis, Fabrícia Peixoto e Piti Vieira editora de imagem Ariani Carneiro diretora de arte Renata Zincone editores de arte Cinthia Behr e Pedro Matallo designer Evelyn Leine Gargiulo colaboradores
fotografia agência istoé
apoio administrativo projeto gráfico tratamento de imagens e pré-impressão copy desk e revisão operações
produção Michelle Kimura textos Andrea Dip, Giselle Paulino, Natália Mestre, Paul Refsdal, Priscilla Portugal, Rafael Freire, Reinaldo Moraes, Suzana Borin, Tom Cardoso, Vanessa Barone e Vivi Mascaro ilustrações Arthur Fajardo e Thais Ueda fotos Angelo Pastorello, Daniel Kfouri, Fernando Martinho, Frederic Jean, Maurício Nahas, Paul Refsdal, Pedro Manoel, Rogério Cassimiro e Vitor Shalon consultoria tipográfica Ariel Cepeda e Billy Bacon/Boldº_a design company fontes Dalton Maag e Yomar Augusto editor executivo Cesar Itiberê editor Max GPinto repórteres fotográficos Adriano Machado, João Castellano, Massao Goto Filho (Rio), Pedro Dias e Rafael Hupsel gerente Maria Amélia Scarcello secretária Terezinha Scarparo assistente Cláudio Monteiro auxiliar Lucio Fasan Renata Zincone (colaborou Sergio Cury) Retrato Falado Giacomo Leone, Lourdes Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e Regina Grossi diretor Gregorio França gerente Thomy Perroni assistentes André Barbosa, Fábio Rodrigo e Luiz Massa operações Lapa Paulo Paulino e Paulo Sérgio Duarte VENDA AVULSA coordenador Jorge Burgatti analista Cleiton Gonçalves assistente sênior Thiago Macedo assistentes Aline Lima e Bruna Pinheiro auxiliar Caio Carvalho atendimento ao leitor e vendas pela internet Dayane Aguiar LOGÍSTICA E DISTRIBUIÇÃO DE ASSINATURAS coordenadora Vanessa Mira coordenadora assistente Regina Maria assistentes Denys Ferreira, Karina Pereira e Ricardo Souza
marketing
diretor Rui Miguel gerentes Débora Huzian e Wanderley Klinger redator Thiago Zanetin diretor de arte Charly Silva assistentes de marketing Marciana Martins e Marina Bonaldo
assinaturas
diretor Edgardo A. Zabala diretor de vendas pessoais Wanderlei Quirino gerente de assinaturas Marcelo Varal supervisora de vendas Rosana Paal diretor de telemarketing Anderson Lima gerente de atendimento ao assinante Elaine Basílio gerente de trade marketing Jake Neto gerente geral de planejamento e operações Reginaldo Marques gerente de operações e assinaturas Carlos Eduardo Panhoni gerente de telemarketing Renata Andréa gerente de call center Ana Cristina Teen gerente de projetos especiais Patricia Santana CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: (11) 3618-4566. De 2ª a 6ª feira das 9h às 20h30 outras capitais 4002-7334 demais localidades 0800-7750098
publicidade
diretor nacional José Bello Souza Francisco diretor de publicidade Maurício Arbex secretária da diretoria de publicidade Regina Oliveira gerentes executivos Eduardo Nogueira, Erika Fonseca, Fabiana Fernandes, Katia Bertoli e Luiz Sergio Siqueira executivas de publicidade Priscila Brisquiliari e Rita Cintra assistente de publicidade Valéria Esbano coordenadora adm. Maria da Silva assistente adm. Daniela Sousa gerente de coordenação Alda Maria Reis coordenadores Gilberto Di Santo Filho e Rose Dias contato publicidade@editora3.com.br RIO DE JANEIRO/RJ: diretor de publicidade Expedito Grossi gerentes executivas Adriana Bouchardet, Arminda Barone e Silvia Maria Costa coordenadora de publicidade Dilse Dumar. Fones: (21) 2107-6667. Fax: (21) 2107-6669 BRASÍLIA/DF: gerente Marcelo Strufaldi. Fone: (61) 3223-1205/3223-1207. Fax: (61) 3223-7732. SP/Campinas: Mário Estellita - Lugino Assessoria de Mkt e Publicidade Ltda. Fone/Fax: (19) 3579-6800 SP/Ribeirão Preto: Andréa Gebin–Parlare Comunicação integrada Av Independência, 3201 -Piso Superior-Sala 8 Fone: (16) 3236-0016/8144-1155 MG/ BELO HORIZONTE: Célia Maria de Oliveira – 1ª Página Publicidade Ltda. Fone/Fax: (31) 3291-6751 PR/CURITIBA: Maria Marta Graco – M2C Representações Publicitárias. Fone/Fax: (41) 3223-0060 RS/PORTO ALEGRE: Roberto Gianoni – RR Gianoni Comércio & Representações Ltda. Fone/Fax: (51) 3388-7712 PE/RECIFE: Abérides Nicéias – Nova Representações Ltda. Fone/Fax: (81) 3227-3433 BA/SALVADOR: Ipojucã Cabral – Verbo Comunicação Empresarial & Marketing Ltda. Fone/Fax: (71) 3347-2032 SC/FLORIANÓPOLIS: Paulo Velloso – Comtato Negócios Ltda. Fone/Fax: (48) 3224-0044 ES/Vila Velha: Didimo Benedito – Dicape Representações e Serviços Ltda – Fone/Fax: (27) 3229-1986 SE/ ARACAJÚ: Pedro Amarante – Gabinete de Mídia – Fone/Fax: (79) 3246-4139/9978-8962
marketing publicitário diretora Isabel Povineli gerente Maria Bernadete Machado coordenadora Simone F. Gadini assistentes Ariadne Pereira, Laliane Barreto e Marília Trindade 3PRO diretor de arte Victor S. Forjaz redator Alessandro de Araújo
INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO
A Revista Status é uma publicação mensal da Três Editorial Ltda.. Redação e Administração: Rua William Speers, 1.088, São Paulo/SP, CEP: 05067-900. Fone: (11) 3618-4200 – Fax da Redação: (11) 3618-4324. São Paulo/SP. Sucursal no Rio de Janeiro: Av. Almirante Barroso, 63, sala 1510 Fone: (21) 2107-6650 – Fax (21) 2107-6661. Sucursal em Brasília: SCS, Quadra 2, Bloco D, Edifício Oscar Niemeyer, sala 201 a 203. Fones: (61) 3321-1212 – Fax (61) 3225-4062. 2016 não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. Comercialização: Três Comércio de Publicações Ltda. Rua William Speers, 1.212, São Paulo/SP Distribuição exclusiva em bancas para todo o Brasil: FC Comercial e Distribuidora S.A. Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678, Sala A, Osasco - SP. Fone: (11) 3789-1623 Impressão: Prol Editora Gráfica Ltda. Av. Luigi Papaiz, nº 581/ CEP 09931-610, Diadema/SP
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outubro 2011
Conselho
O TIME DA STATUS Todo mês, nossos conselheiros vão se reunir e discutir os assuntos mais relevantes para o nosso leitor e antecipar tendências ao redor do mundo
PAULO BORGES Empresário, diretor criativo do Fashion Rio e idealizador e diretor criativo do SPFW, semana de moda que conquistou o status de figurar entre as cinco mais importantes do mundo.
MARCUS ELIAS Dono da gestora Latin America Equity Partners, é especialista na recuperação de companhias em dificuldades. Adepto da meditação, faz duas horas de esporte por dia.
MARCOS CAMPOS Ele é sócio do club Disco e do bar Numero, ambos em São Paulo, e do Praia Cafe de la Musique, em Florianópolis. Também coordena a consultoria MC2 Managing Ideas.
MARIO BERNARDO GARNERO Arquiteto de negócios no mundo inteiro, traz o traquejo cosmopolita do pai, Mario Garnero, do Grupo Brasilinvest, e do avô Baby Monteiro de Carvalho.
VIVI MASCARO Colunista social do portal iG, circula nas mais disputadas festas. Adora reuniões informais com amigos e relaxa quando assiste a bons filmes ou pratica seu esporte preferido: pedalar.
FERNANDA BARBOSA Ex-modelo, é hoje uma das principais relações-públicas do Brasil quando o assunto é balada. Também é colunista da revista ISTOÉ Gente e tem paixão por viagens, cinema e vinhos.
JOÃO PAULO DINIZ O empresário investe em cultura, entretenimento, gastronomia e esporte. Compete em maratonas e triatlos ao redor do mundo, com mais de 50 provas no currículo.
PAULO KAKINOFF Presidente da Audi Brasil, é o mais jovem executivo a liderar uma das filiais da marca alemã. Adora escutar Rolling Stones e praticar snowboard.
ALBERTO HIAR Conhecido como Turco Loco, foi deputado estadual e vereador. Hoje comanda a grife de streetwear Cavalera e é sócio da V.Rom e da The Jeans Boutique.
ANUAR TACACH Ele é sócio da InvestPromo, empresa com participação nas agências Pepper, Led, Setter, Zicard e Retail. No tempo livre, corre maratonas e ainda toca guitarra.
ERNESTO SIMÕES O empresário é um dos donos da Ecman, companhia do setor de óleo e gás, e fundador da holding Petro Energy. Nas folgas, curte surfar ao redor do mundo.
Caco Alzugaray Carlos José Marques
Luiz Fernando Sá Nirlando Beirão
Carlos Sambrana José Bello
CONSELHO INTERNO
18
outubro 2011
Colaboradores
CO LA BO RA DO MAX WEBER
Max é o queridinho das famosas quando o assunto é cabelo e maquiagem. Profissional premiado e com mais de dez anos de estrada, foi dele a tarefa de deixar a belíssima Ana Luiza Castro ainda mais gata.
MAURÍCIO NAHAS
Ele chegou a cursar medicina até o terceiro ano, mas felizmente desistiu. Duas vezes premiado com um Leão de Prata em Cannes, esse fotógrafo paulistano é um dos grandes nomes da fotografia de publicidade no Brasil, mas também vem emprestando seu talento às principais revistas do País. É dele o ensaio com a estonteante Ana Luiza Castro, nossa capa.
PAUL REFSDAL
O documentarista norueguês é especialista na cobertura de conflitos em todo o planeta. Já registrou guerras no Iraque, Kosovo, na Chechênia e Líbia, entre outros países. No Afeganistão, esteve duas vezes, sendo que na última delas, em 2009, acabou sequestrado por um grupo taleban. Refsdal conta esse dramático episódio em livro ainda não lançado no Brasil, mas que Status adianta alguns trechos em primeira mão.
DANIEL KFOURY O fotógrafo tem trabalho autoral focado em temas sociais. Em 2010, foi o único brasileiro a ganhar o World Press Photo e em 2011 foi o segundo colocado no Picture of The Year Latin America com um ensaio sobre polo aquático na Chapada dos Veadeiros (algumas dessas fotos foram publicadas na Status #4). Nesta edição, Daniel é o responsável por revelar todos os ângulos do mundo sadomasoquista.
CO LA BO RA DO GISELLE PAULINO
Escrever sobre meio ambiente, histórias de viagens e tudo o que inspira as pessoas a levar uma vida mais bacana e saudável é o que motiva Giselle. A jornalista também é apaixonada por acrobacias aéreas e praticante de pole dance, dança de origem indiana que é o tema de sua reportagem nesta Status.
ANDREA DIP
A jornalista independente adora escrever sobre assuntos estranhos e acredita que reportagem boa é aquela que desbrava pequenos mundos. Tudo isso ela faz ao assinar o texto sobre o secreto e estranho universo das dominadoras e seus escravos masoquistas.
RES RES FOTOS PAULO BARBUTO | MARIA DO CARMO
APPRO CH
status global esquenta de bar em bar passaporte água na boca perigo ignição poder design
23
outubro 2011
v
APPRO CH AS COISAS BOAS DA VIDA
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24 status global 26 esquenta 28 de bar em bar 32 passaporte 34 água na boca 36 perigo 38 ignição 39 poder 40 design 42 o cara 43 lado B 44 play 46 projeção 47 entrelinhas 48 redenção 50 meninos e meninas 52 versus 54 brinquedos 56 desejo 58 caiu na rede foto Angelo Pastorello
APPRO CH
status global esquenta de bar em bar passaporte água na boca perigo ignição poder design
24
outubro 2011
global
Ideias, tendências e o que acontece de mais legal no mundo
Por Bruno Weis
Arusha •
Um hotel vulcânico
Chicago • Escambo moderno A vida é dura em tempos de crise. E também ressuscita práticas milenares, como o escambo. É o que vem adotando o restaurante Fireside, da cidade do presidente Obama, para não deixar o movimento cair. Quando o cliente está sem grana ou crédito no cartão, ele pode pagar com bens ou serviços. Assim, a cozinha foi equipada com freezers para sorvete e aquecedores para sopas e seus funcionários receberam ofertas de férias, dia de folga e cuidados para seus cães. Dinheiro ainda é aceito, claro, mas pelo menos cinco mesas a cada noite são pagas nesse sistema. www.firesidechicago.com
A maioria dos hotéis de luxo oferece lindas paisagens em praias ou montanhas. Mas poucos estão encravados numa cratera de vulcão, como o Ngorongoro Crater Lodge, perto da cidade de Arusha, na Tanzânia. O primeiro cinco-estrelas com preocupação ecológica em sua categoria, o hotel garante vistas espetaculares para a cratera e sua rica biodiversidade local – 25 mil animais vivem ali. Importante: o vulcão não está mais ativo. www.ngorongorocrater.com
Ushuaia • Acima das montanhas A Terra do Fogo, na Argentina, reserva algumas das paisagens mais imponentes de todo o continente. E é possível contemplar suas montanhas nevadas, encostas, lagos, penínsulas e ilhas de um ponto de vista diferente: em um helicóptero Robinson R44. A bordo dessas máquinas é possível desfrutar de passeios que, inclusive, preveem pousos no topo de montanhas. Os valores por pessoa vão de US$ 85 (o de menor duração, 40 minutos de voo) até US$ 630 (o passeio mais longo, com meio-dia de duração). www.heliushuaia.com.ar
São Paulo •
Pit stop para motos Os amantes das duas rodas têm uma nova parada obrigatória na capital paulista: a Rock’n Cycles, aberta em setembro no Itaim. O lugar, idealizado pelo empresário Fábio Diniz, é uma loja de customização de motos novas e clássicas e também oficina completa para todo tipo de serviço. Oferece ainda uma linha exclusiva de equipamentos e roupas para motociclistas. rockncycles.blogspot.com
Groningen • Montanha holandesa A maior montanha dos Países Baixos não é uma montanha, mas serve para saciar a sede dos alpinistas locais. Com o nome de Excalibur, a parede de escalada de 37 metros de altura – a mais alta do mundo – foi construída em 2009 e oferece 20 rotas diferentes para esportistas experientes. Além disso, garante uma boa dose de adrenalina e uma sensação rara para quem vive na Holanda: estar acima do nível do mar. www.bjoeks.nl
Viena • Casa de morcegos Passear por museus é ótimo, mas pode cansar. Na capital austríaca, porém, a fadiga vira deixa para conhecer um novo projeto de arquitetura que se destaca em uma praça arborizada próxima aos principais museus da cidade. Tratase da Flederhaus, ou Casa de Morcegos, um projeto dos arquitetos Heribert Wolfmayr e Josef Saller. Repleto de redes, o espaço de quatro andares é todo de madeira e aberto para locais e turistas poderem descansar e admirar a paisagem. www.heriundsalli.com
Noosa • surfando no passado O surf ancestral praticado no Havaí pode revolucionar o esporte hoje. É o que acredita Tom Wegener, surfista das antigas, baseado em Noosa, cidade na costa sudeste da Austrália. Após anos de estudo, Tom desenhou pranchas sem quilhas, como as originais, o que significa menos atrito e uma descida mais rápida. As novas pranchas, com design e material de ponta, são ágeis e perfeitas para pegar até pequenas ondas e, desde o final do ano passado, voltaram ao mar. http://tomwegenersurfboards.com
ilUstRAçãO ARtHUR FAjARdO | FOtOs GERRit stEl | divUlGAçãO
Cidade de Ho Chi Minh •
A dama do almoço
A antiga Saigon, maior cidade do Vietnã, guarda incontáveis segredos, muitos deles no campo da culinária, uma das grandes atrações nacionais. Um desses segredos é a senhora Nguyen Thi Thanh, conhecida como a “dama do almoço”. Todo dia ela prepara em uma praça da cidade um prato diferente, sempre com ingredientes frescos comprados cedinho no mercado. Suas sopas e noodles custam centavos de dólar e, claro, atraem multidões de comensais, felizes por comer na rua uma das melhores refeições do planeta.
APPRO CH
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26
outubro 2011
esquenta
Baladas, festas e clubs do mundo
FORA DO EIXO SELECIONAMOS TRÊS CLUBS DE CIDADES MÉDIAS DO SUL DO BRASIL QUE, COM CADA VEZ MAIS FREQUÊNCIA, FAZEM PARTE DAS AGENDAS DOS DJS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS
É difícil achar muitas semelhanças entre clubs de grandes centros urbanos e aqueles que ficam em cidades do interior. Mas elas existem e não ficam devendo nada em relação a bons line-ups, estrutura de som, iluminação, pista de dança de primeira linha e esmero no tratamento dos frequentadores. Com um público cada vez maior e mais empolgado, Passo Fundo, no Rio Grande do Sul; Cascavel, no Paraná; e Criciúma, em Santa Catarina, são exemplos fiéis de que não só nas capitais a qualidade importa.
Bielle
1051
Beehive
O conceito do club, partindo da capacidade, 650 pessoas aproximadamente, sempre primou pela exclusividade. O conceito da 1051 (pronuncia-se dez cinquenta e um) é receber poucos e exigentes clientes, oferecendo um clima de club fechado, mas com muito glamour e sofisticação. A temperatura em todos os ambientes está sempre precisamente nos 23ºC, independentemente do número de pessoas que estão dentro da casa. ONDE: rua Henrique Lage, 422, centro, Criciúma (SC) www.1051club.com.br
Os menos de duzentos mil habitantes de Passo Fundo podem escolher entre nada mais nada menos do que cinco clubs antes de colocar o pé fora de casa. O mais procurado atende pelo nome de Beehive. Inaugurado em 2006, é considerado por muitos o melhor club gaúcho. DJs como James Zabiela e Satoshi Tomiie já se apresentaram no local. O club se tornou uma espécie de febre no Estado, a ponto de atrair gente da capital Porto Alegre. ONDE: rua Sete de Setembro, 496, centro, Passo Fundo (RS) www.beehiveclub.com.br
Bielle Club é considerada umas das mais sofisticadas e agitadas casas do Paraná. Com uma decoração clean, o club conta com camarotes vip, uma supervaranda, som e iluminação de última geração. Também possui anexo, o bar Oficina Café. Os DJs tocam de tudo: do funk ao rock nacional. No Bielle Club, é possível tornar-se sócio e contar com algumas facilidades da casa, como entrada livre de ingresso e consumação mínima, não pegar fila na entrada, etc. ONDE: rua Paraná, 4.000, centro, Cascavel (PR) www.bielle.com.br
FOTOS DIVULGAÇÃO
APPRO CH
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28
outubro 2011
de bar em bar Os melhores ambientes e bebidas
Muito além da loira gelada Cervejas artesanais e importadas ganham cada vez mais espaço nos bares, mercados e paladares brasileiros
A L O I R A G E L A D A que consola brasileiros de norte a sul vai ter que suar muito para manter seu prestígio diante das ruivas, morenas, douradas, acobreadas e mulatas de infinitos tons que estão tomando conta do boteco Brasil. A diversidade de cervejas no mercado brasileiro, alimentada pela chegada em massa de rótulos importados e pelo aumento da produção artesanal em solo nacional, chegou neste ano a um patamar inédito. Qualquer gôndola de supermercado é prova disso, assim como a abertura, há alguns meses, da Cervejaria Nacional, em São Paulo, a primeira fábrica-bar do País que oferece cinco tipos da bebida. O crescimento da cultura cervejeira foi brindado ainda com a realização em agosto do Beer Experience, inédito festival de cervejas artesanais que reuniu a produção de países como Itália, Estados Unidos, Bélgica, República Tcheca e de cidades brasileiras como Belém, Ribeirão Preto, Curitiba e Porto Alegre. Centenas de marcas foram apresentadas ao público, incluindo sabores à base de bacuri (fruta amazônica), mirtilo, café, mandioca e chocolate, entre outros. “O mercado de cervejas gourmet cresceu muito, e o brasileiro está descobrindo o sabor das cervejas mais encorpadas, aromáticas, adquirindo paladar mais sofisticado”, explica André Cancegliero, sommelier de cervejas e um dos organizadores do evento. “O desafio agora é vencermos a resistência ao amargor das cervejas artesanais, além de conseguir preços mais em conta”, aponta. O especialista afirma que existem hoje, aproximadamente, 20 mil rótulos de cervejas no mundo, divididos em 180 estilos. Só no Brasil funcionariam cerca de 150 microcervejarias. Nos Estados Unidos, por exemplo, são mais de 1,7 mil. “O brasileiro bebe 12,8 bilhões de hectolitros de cerveja por ano – 95% desse volume é constituído pelas cervejas pilsen comuns e 5% pelas consideradas premium. Dentro desses 5%, menos da metade é cerveja importada ou artesanal.”
ALGUNS DOS NOVOS RÓTULOS QUE ESTÃO ENRIQUECENDO O PALADAR DO BRASILEIRO E, ACIMA, AS CHOPEIRAS DA CERVEJARIA NACIONAL, PRIMEIRA FÁBRICA-BAR DO PAÍS
DRINQUE STATUS
P O R R A FA E L “TCHÊ” C A R VA L H O INGREDIENTES: • 20 ml de licor de avelã • 20 ml de licor de café • 1 cerveja pilsen long neck 355 ml (estupidamente gelada) • 1 limão à francesa
“É UM DRINQUE QUE VAI AGRADAR A QUEM NÃO GOSTA MUITO DO AMARGOR DA BEBIDA”, DIZ RAFAEL, MIXOLOGISTA DA COMPANHIA DA CERVEJA.
MODO DE PREPARO Numa taça escandinava coloque o limão cortado em tiras, depois acrescente o licor de avelã e complete o copo com a cerveja gelada, deixando mais ou menos três dedos. Por último, coloque o licor de café. Dica: a cerveja tem que estar muito gelada para que a falta de gelo não seja notada.
Para fazer cerveja em casa:
BRASSAGEM
FILTRAGEM
Pré-aqueça a água a 42 graus, adicione o malte grossamente moído (proporção água e malte: 4 para 1) e mexa bem. Após 20 minutos, eleve a temperatura lentamente até 62 graus, e continue mexendo bem. Essa etapa dura aproximadamente uma hora. Nos 20 minutos finais, pare de mexer e deixe o mosto descansar para que se forme a “torta” que vai “filtrar” o líquido. Pegue um pouco de mosto do fundo da panela (pela válvula) e jogue por cima com cuidado. Após essa etapa, aqueça mais uma vez até 78 graus para inativar as enzimas.
Pré-aqueça a água em um caldeirão à parte para a lavagem do bagaço. Enquanto isso, transfira o mosto de uma panela com fundo falso (chapa furada) para a panela de fervura. Faça isso lentamente para que a filtragem seja boa. Após esgotar o primeiro caldeirão, encha com a água pré-aquecida (68 a 70 graus) e mexa por aproximadamente 20 minutos para uma completa lavagem dos grãos e repita o processo de recirculação e de repouso do mosto. Depois finalize a transferência para a panela de fervura.
FERVURA E RESFRIAMENTO
FERMENTAÇÃO E MATURAÇÃO
O mosto filtrado é fervido por 60 a 90 minutos. Durante esse tempo, os lúpulos são adicionados, primeiro (no início da fervura) os que conferem amargor, depois (no final da fervura) os que conferem aroma e sabor. O mosto deve ser resfriado o mais rápido possível com o chamado “chiller de imersão”, uma serpentina de cobre dentro da qual circula água fria.
Ao término do resfriamento, a levedura deve ser adicionada. O mosto resfriado é transferido para um tanque fermentador junto com o fermento para descansar em temperatura ambiente por sete dias. Depois, a cerveja é transferida para outro recipiente para maturar em geladeira por cerca de duas semanas para fixar o sabor. Se for engarrafada, a cerveja precisa receber antes uma mistura de açúcar chamada “priming”, que será consumida pelo fermento para aumentar o gás e gerar o famoso colarinho.
APRENDA MAIS AQUI: CERVEJAARTESANAL.WORDPRESS.COM OU WWW.ACERVAPAULISTA.COM.BR FOTOS RAFAEL HUPSEL | DIVULGAÇÃO | SHUTTERSTOCK
appRO ch
de bar em bar passaporte água na boca perigo ignição poder design o cara lado B play
32
outubro 2011
passaporte
Hotéis e viagens para seduzir
CASA nA ÁrVOrE
A belíssima floresta da cidade de Harads, no norte da Suécia, é o pano de fundo para o exótico Tree Hotel, que inova com a criação das suas “casas-ninhos”. Trata-se de casas flutuantes construídas nas copas das árvores. Cada acomodação possui sala, quarto, cozinha e banheiro, e pode ser acessada por meio de rampas e andaimes que ligam as instalações. Quem desejar uma experiência mais luxuosa pode se hospedar no Cubo Espelhado, que oferece a melhor vista da floresta. IMPERDÍVEL: os passeios radicais oferecidos pelo hotel, como trekking, ciclismo, safári fotográfico e passeio em caiaque ou em trenó (nos dias de inverno rigoroso). PREÇO: diárias a partir de US$ 600 www.treehotel.se
Mundo bolha
SEM LiMitES PArA ViAJAr inOvadOres, criativOs e lÚdicOs. seleciOnamOs Os melhOres hOtéis para Os amantes de aventura e exclusividade
na obra da empresa bubble tree, do designer francês pierre stéphane dumas, ganha vida o conceito da cristal bubble, uma tenda transparente em formato de bolha, feita com plástico reciclado. Ela é inflada com o auxílio de um ventilador silencioso e seu interior abriga um cômodo, com direito a deco-
ração e mobílias. A cidade francesa de Roubaix foi uma das pioneiras a abraçar essa diversão e instalou o seu “hotel bolha” ao ar livre, no parque da cidade. iMpeRdÍVeL: observar o céu estrelado de uma perspectiva pra lá de especial. pReçO: us$ 700 por noite www.bubbletree.fr
dESiGn GLACiAL
Projeto do estúdio de design RYRA, no Irã, o Barin Ski Resort veio para enganar os olhos e a mente dos aficionados por experiências inusitadas. O hotel localizado em Teerã, mais precisamente na região de Shemshak, segunda maior área de esqui do país, parece ser feito de gelo. Mas não. A arquitetura, com linhas ondulantes em camadas, é a responsável por essa ilusão, fortalecida pela decoração contemporânea, em que as paredes e os móveis se confundem numa imensa massa branca. Ideal para quem sonha em habitar o interior de um iglu, com direito a muito conforto e aquecedor. IMPERDÍVEL: oportunidade de habitar um projeto arquitetônico incrível, vencedor do Prêmio Arquitetura Internacional 2011. PREÇO: sob consulta www.ryrastudio.com
FOtOS diVULGAçÃO
Relax de estilo Como se não bastasse a badalada decoração de Philippe Starck, o serviço impecável e sua luxuosa piscina, o hotel Le Royal Monceau, em Paris, acaba de inaugurar o novo Spa My Blend, com produtos Clarins. O espaço de 1.500 metros quadrados, também decorado por Starck, oferece tratamentos masculinos e femininos, como massagens com pedras quentes e 200 tratamentos faciais diferentes. www.leroyalmonceau.com
EndErEçO CErtEirO Os hOtéis tradiciOnais sãO endereçO garantidO para quem nãO abre mãO de uma experiência refinada. mas eles nãO param nO tempO e dOis deles estãO cOm preciOsas nOvidades, cOnfira:
Itália no Copa Para quem não pretende sair do Brasil, o copacabana palace promete ser uma boa pedida, já que o seu restaurante italiano Cipriani, que teve suas portas fechadas por dois meses, acaba de ser reinaugurado. Uma chance de provar a cozinha do chef nicola Finamore em um ambiente redecorado, com luminárias de murano e espelhos e lustres venezianos. www.copacabanapalace.com.br
RuMO aO MéxicO
O MeLhOR de GuadaLajaRa paRa queM deseja estendeR a cuRtiçãO dOs jOGOs pan-aMeRicanOs, que acOnteceM entRe 13 e 30 de OutubRO paRa caiR na baLada O VanGo club é uma das boates mais concorridas da cidade. Seus três ambientes trazem uma decoração descolada que mistura aspectos modernos com tradições mexicanas. A trilha sonora é composta pelos mais diferentes estilos musicais e promete muita animação até o amanhecer. www.vango.com.mx
MOjitO ViRa MOxitO Os amantes da tradicional bebida mexicana já têm endereço certo na cidade. O La bodeguita del Medio, um bar bem bacana com música ao vivo, pretende representar um pouco da cultura cubana em Guadalajara. Até mesmo o Mojito foi adaptado. Aqui ele é chamado de Moxito e leva em sua receita sal e tequila, no lugar do tradicional rum. www.labodeguitadelmedio.com.mx
aLta GastROnOMia e cOnfORtO O quinta Real Guadalajara oferece luxo e conforto. O hotel lembra uma fazenda colonial e suas 76 suítes convivem em harmonia com um espaço bem arborizado, saguão repleto de obras de arte originais e restaurante de alta gastronomia. www.quintarealhotels.com
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água na boca
Só o cardápio não basta
Por Priscilla Portugal
Sobre o rio de Bangkok No 63o andar do hotel Lebua, a cerca de 200 metros de altitude, o Sirocco é um restaurante ao ar livre nas alturas. Essa característica especial faz dele o mais disputado de Bangkok, na Tailândia. O local oferece vistas da cidade de tirar o fôlego e, à noite, as luzes ao longo do rio Chao Phraya tornam a experiência inesquecível. No cardápio, refinados pratos da cozinha mediterrânea à base de ingredientes nobres, como trufas, vieiras, lagostas e foie gras. A TRILHA SONORA COMPLETA O CLIMA: bandas de jazz tocam ao vivo quase todas as noites. No deque que fica pendente sobre a cidade, equivalente ao 64o andar, a sensação é de flutuar sobre a cidade. No centro dessa plataforma fica o descolado Sky Bar, para continuar a noite em alto estilo. RIO REAL: o Chao Phraya, em thai, significa “grande duque”, mas em inglês costuma-se traduzir por “o rio dos reis”. Ele cobre 35% da Tailândia e banha uma área de 157 quilômetros quadrados. Além dele, é possível avistar os templos budistas que fizeram a fama de Bangkok e, iluminados, ficam ainda mais belos.
Cozinha de autor O Blú Bistrô, em São Paulo, ficou conhecido por seus jantares acompanhados de apresentações de jazz ao vivo. Agora, Gastón Damian, proprietário e chef, resolveu aproveitar os dias de sol típicos da primavera e, aos sábados, levar a banda para tocar na sacada do restaurante. À Status, Damian conta mais e passa a receita de seu ovo estrelado com aspargos: Como você criou o cardápio do Blú? Pensei em uma cozinha universal, com referências da culinária judaica, como os varenikes, massa típica à base de batata. Também temos clássicos franceses com toques da comida brasileira, como o confit de pato acompanhado de purê de cará. E a ideia de rolar jazz ao vivo? Os clientes adoram, e cuidamos para que o volume não atrapalhe as conversas e um romântico jantar à luz de velas. A ideia deu tão certo que agora resolvemos colocar a banda na sacada do restaurante nos almoços de sábado. Em vez de chorinho e feijoada, teremos aqui cassoulet e jazz.
Huevos rotos con espárragos (ovo estrelado com aspargos) Ingredientes para uma pessoa: • 2 batatas pequenas • 2 aspargos frescos importados • 3 ovos • azeite de oliva • sal e pimenta a gosto • pães Modo de preparo: lave, descasque e corte as batatas em cubos de aproximadamente 2 cm de espessura. Aqueça o azeite a 150ºC. Frite as batatas até estarem macias e douradas. Reserve. Em outra frigideira com azeite, frite os ovos ligeiramente para que as gemas se mantenham moles. Tempere com pimenta do reino e sal a gosto. Com uma escumadeira retire os ovos e coloque-os em uma tigela. Reserve. Grelhe à parte os aspargos com azeite, sal e pimenta. Montagem: em um prato monte as batatas fritas em formato de pirâmide. Quebre os ovos com um garfo para que fiquem em pedaços e em seguida despeje-os em cima das batatas. Finalize com os aspargos e coma com pães.
CHEGA DE SANDUBA NATURAL
COM OS DIAS QUENTES CHEGANDO, É HORA DE MATAR A FOME COM CRIATIVIDADE E ESTILO, INDO ALÉM DE SANDUÍCHES DE ATUM OU AÇAÍ COM GRANOLA. VALE PROVAR RECEITAS COM POUCAS CALORIAS, MAS BEM SABOROSAS
Unique Garden spa
Lapinha spa
Cozinha molecular e natural? Sim, é essa a proposta do chef Daniel Aquino, que acaba de chegar ao paradisíaco Unique Garden spa, em Mairiporã, a 26 quilômetros de São Paulo. A proposta de ingredientes frescos impera em pratos como o bacalhau com confit de alho-poró e a quinoa com frutas secas ao molho de framboesa.
Prestes a completar 40 anos, o spa mais antigo do Brasil fica em um oásis natural e defende, através de conceitos da medicina naturalista, que o bem à saúde se dá não só pela alimentação, mas também pelo contato com o verde. A gastronomia lá é ovolactovegetariana e orgânica.
ALGO A MAIS: a vista para os verdes jardins do restaurante é o cenário perfeito para degustar uma taça de champanhe – que combina perfeitamente com os pratos leves e as saladas preparadas na hora. Afinal, ninguém é de ferro.
Equilibrium, na academia BodyTech
Cereais integrais, ingredientes com menor teor de gordura e ausência de fritura. Parece simples, mas o cardápio desse restaurante – dentro da gigantesca e recém-inaugurada academia no shopping Eldorado, em São Paulo – é pra lá de refinado. O filé mignon grelhado ao molho de mostarda acompaNATUREBA: Os vegetais e as frutas são cultivados na horta do spa; e os pães, bis- nhado de arroz com brócolis e salada de coitos, geleias e queijos são de produção tomate-cereja com cogumelos é a opção própria. No cardápio, destacam-se a sopa perfeita para os não vegetarianos. indiana de couve-flor, a torta de pinhão e o calzone de palmito e cogumelos. De PRATICIDADE: se está com pressa, aposte nos bufês, como o de saladas, sobremesa, o cheesecake de limão é ou em lanches, smoothies e cupcakes. uma boa pedida. www.lapinha.com.br
VINHO NO IPAD As pomposas e tradicionais cartas de vinho dos restaurantes estão com os dias contados. Já tendência nos Estados Unidos, aos poucos, chega ao Brasil a moda de transferir as opções etílicas da casa para o iPad. O bistrô Le Vin (em São Paulo) e o restaurante do Casa Grande Hotel Resort & Spa, no Guarujá, aderiram à onda. A vantagem, além de mostrar que as duas casas são bem descoladas, é que nos programas – desenvolvidos especialmente para esses restaurantes – é possível acessar informações sobre os vinhos, dicas de harmonização e, assim que um rótulo acaba, ele é automaticamente eliminado do cardápio. As cartas virtuais contêm ainda o tipo de uva, preço, país, região e tipo de vinho (branco e tinto). O Le Vin oferece 400 opções da bebida e o Casa Grande, 150.
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perigo
Homem na cozinha
Por Bruno Weis
É BATATA, MAS NÃO SOMENTE PREPARAR UM NHOQUE CASEIRO É MUITO SIMPLES, DESDE QUE VOCÊ CONSIGA DEIXÁ-LO BEM LEVINHO
Um dos mais simpáticos restaurantes italianos de São Paulo, o Buttina, ocupa há 15 anos uma amplo sobrado com quintal recheado de jabuticabeiras. A maior fama do lugar, porém, é servir um dos melhores nhoques da cidade. O prato é uma tradição familiar da chef Filomena Chiarella, italiana legítima, nascida em uma aldeia na Basilicata, no Sul da bota,
MENOS ÁGUA
Passe no mercado ou na feira e compre meio quilo de batata. Dica: tem que ser batata asterix ou holandesa. Elas têm menos água e, portanto, vão pedir menos farinha na mistura, resultando em uma massa mais leve no final. Tenha à mão também um ovo, meia xícara de farinha de trigo e meia colher de sopa de manteiga sem sal.
FOTOS MARIANA CHIARELLA | SHUTTERSTOCK
e que chegou ao Brasil com 4 anos de idade. “O prato sempre fez parte da mesa de casa. Minha mãe e minha avó faziam também; é uma receita básica da região”, recorda Filomena. No Buttina, o nhoque é um dos carros-chefes da casa, e no dia 29 de cada mês ganha novas versões para agradar aos comensais que seguem a lenda do “nhoque da sorte”,
DA LATA
Para o molho, compre 400 gramas de tomate pelado (daqueles em lata) e pique bem picado dois dentes de alho. Separe 3 colheres de sopa de azeite virgem e meio maço de manjericão fresco. Doure o alho no azeite, coloque os tomates picados em pedaços grandes e tempere com um pouco de sal e o manjericão. Deixe levantar fervura e desligue o fogo.
servido sempre nessa data. “Acredito que a magia do nhoque é por se tratar de uma comida muito ligada às memórias familiares, às emoções e aos momentos marcantes da vida”, pontua a cozinheira. Para que seu nhoque também enseje um marcante momento a dois em casa, Filó indica uma das versões mais simples do prato, confira e buon appetito!
ENROLANDO
Cozinhe as batatas com casca e, depois de cozidas, descasque-as e passe no amassador de batatas. Misture à massa o ovo e a manteiga e só então incorpore a farinha, sem “trabalhar” demais a massa. Faça os rolinhos e os corte em pedaços de 3 a 4 centímetros. Se quiser alguma textura, passe os nhoques nas costas de um garfo.
DEIXA SUBIR
Coloque os nhoques em abundante água salgada fervendo. Ao mesmo tempo, volte o molho para o fogo. Quando os nhoques subirem, significa que estão cozidos. Tire-os com uma escumadeira e monte o prato com o molho e o queijo parmesão. Enfeite com um raminho de manjericão fresco e faça sua convidada sorrir com as lembranças da vovó.
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ignição
Os brinquedinhos dos sonhos
Por Natália Mestre
Feita para acelerar Com sede instalada em Mônaco, a Wally Yacht, famosa pelos seus barcos com design luxuoso e alta performance, inova com o lançamento da Wally One. A embarcacão de 43 pés (aproximadamente 13,1 metros), com linhas retas e desenho modernoso, não aparenta ser superconfortável, mas é. Em seu interior espaçoso cabem até três pessoas bem acomodadas, ideal para quem deseja passar a noite em alto-mar. Por ser feita com fibra de carbono, é mais leve e resistente, o que confere ganhos em termos de velocidade e potência. Aviso aos navegantes: esse brinquedinho é mesmo para adultos, uma vez que seu preço inicial é 580 mil euros. O valor pode aumentar de acordo com as desejadas customizações do barco.
LAYOUT PERSONALIZADO Como conforto é a palavra-chave do Wally One, o barco pode ser customizado de acordo com as necessidades do cliente. O espaço de 33 metros de deque total da lancha pode se tornar ainda mais atraente com a adição de bancos extras que se transformam em camas ou bancos em paralelo no deque traseiro. Já na proa, existe uma área para mesa e cadeiras.
CABINE TECNOLÓGICA A mais alta tecnologia foi usada para compor o painel da lancha, que permite ainda conexão com iPod, iPhone e iPad. Esses aparelhos, inclusive, conseguem controlar todo o sistema de entretenimento do barco, como televisão e DVD. Outro mimo a bordo: uma máquina de café Nespresso instalada na cabine.
DESIGN EM ALTO-MAR PERFORMANCE
Máximo três pessoas Dois motores Yanmar que entregam 630 cavalos de potência
VELOCIDADE DE CRUZEIRO
40 nós (aproximadamente 74 km/h)
CAPACIDADE
VELOCIDADE MÁXIMA
NAVEGAÇÃO CONFORTÁVEL A aconchegante área de dormir, com capacidade para até três pessoas, possui uma pequena cozinha, e não deixa a desejar em termos de comodidade em comparação a outras superlanchas. É garantia de diversão em alto-mar, com conforto.
50 nós (cerca de 92 km/h)
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poder
Quem tem, quem quer ter
AS AMÉLIAS E OS SEM LIMITE O biógrafo de Anne Sinclair diz dela: “É muito leal, honesta, faz o que diz, não trapaceia.” Não se pode dizer exatamente o mesmo do marido dela, o ex-diretor-geral do FMI Dominique Strauss-Kahn. DSK, que se meteu numa enrascada no Sofitel de Nova York, com uma camareira da Guiné, encontrou nela uma solidariedade irrestrita. Ms. Sinclair é americana, mas fez carreira na tevê francesa. Quando soube das acusações contra o marido, pegou imediatamente o avião e depositou a fiança de US$ 1 milhão. “Eu viverei talvez 20 anos. E quero vivê-los ao lado dele”, foi tudo o que comentou. No rastro da acusação da camareira, outras mulheres denunciaram o Casanova que há em DSK. Anne, silenciosa e digna, não deu a mínima para elas. A fama de sedutor já acompanhava Bill Clinton antes mesmo de ele se casar com Hillary, que conheceu como companheira de banca advocatícia. O caldo poderia ter entornado no episódio Monica Lewinski, quando se comprovou que o então presidente dos EUA tinha a mania de cercar mocinhas – e outras nem tão mocinhas assim – no seu gabinete. Hillary saiu do episódio ferida, mas calada. Consola-a com certeza o fato de ser hoje, como secretária de Estado, mais importante do que o parceiro travesso. John Kennedy, dizem línguas de serpente, nutria pelo sexo uma compulsão patológica. Colecionou affairs antes e durante a Presidência, sem nenhum pudor, e a melhor imagem de seu furor libidinal é aquele triste momento em que Marilyn Monroe, constrangida, canta publicamente Parabéns para JFK. Jacqueline tinha um pacto de silêncio com o marido garanhão. Descontou em cima da memória dele, casando-se depois com o esquisito, mas endinheirado Aristóteles Onassis. François Mitterrand e sua mulher, Danielle, compartilharam derrotas, vitórias, palácios, dois filhos homens, mas deixaram muito cedo de compartilhar o leito. Danielle, independente, viajada, nunca se queixou da dupla vida do marido, preservada pelo silêncio da imprensa francesa – que não gosta de chafurdar em histórias de alcova. Mas, na França, só os ingênuos e mal informados se surpreenderam com a meiga presença de Mazarine ao lado do caixão de Mitterrand – filha da relação dele com Anne Pingeot.
FOTOS KEVIN LAMARQUE/REUTERS | © ENRIQUE MARCARIAN/REUTERS | MANFRED KREINER/INTERFOTO
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Arte e decoração
Por Fabrícia Peixoto
Nada de tribal Cansada de ver sua filha colar no braço tatuagens temporárias com desenhos pra lá de sem graça, a designer americana Tina Roth Eisenberg resolveu criar sua própria linha de tattoos. Junto com alguns colegas, também designers, eles lançaram na internet o Tattly, site de vendas de tatuagens leves e divertidas. Os mais de mil acessos em uma semana mostraram que não são apenas as crianças que curtem uma tatuagem de mentirinha. www.tatt.ly
COISA DE GENTE GRANDE
Logo na entrada, Super-Homem e Lois Lane protagonizam uma picante cena de fetiche. Mais à frente está a inocente Branca de Neve, com um dos anões entre as pernas. Olívia Palito, Dick Tracy e Marge Simpson também aparecem em posições comprometedoras. As imagens estão no Museu do Sexo, em Nova York, como parte da exposição “Comics Stripped”, sobre a história dos quadrinhos eróticos. São 150 cenas tiradas de gibis, ilustrações e revistas, como esta abaixo, do cartunista americano Eric Stanton, além da impagável orgia com a turma Disney, de Wally Wood.
UM POUCO DEMAIS?
Pode parecer estranho, mas muitos restaurantes moderninhos da Europa aderiram à ideia. E agora os papéis higiênicos coloridos da portuguesa Renova já podem ser encontrados no Brasil. Roxo, verde e preto (sim, preto) são algumas das opções. Para quem acha a ideia um pouco demais, o site também vende lenço e papel-toalha. www.renovapaper.com.br
BRASILEIRINHA
A poltrona Pazetto, do badalado designer Wagner Archela, recebeu um tom bem brasileiro nesta nova versão. Criada em 2006, a peça é considerada uma das obras de maior sucesso desse paulistano de ascendência italiana e uma das criações brasileiras com lugar cativo na Cosmit, o Salão Internacional do Móvel, em Milão. Em verde-e-amarelo, a Pazetto fica ainda mais despojada. www.alotof.com.br
EFEITOS ESPECIAIS
Você já tem uma câmera de lomografia? Não? Então trate de entrar na moda. Lomografia é como se chama a fotografia analógica feita a partir de máquinas de plástico e, portanto, com poucos recursos. O resultado são imagens de alto contraste e muitas vezes distorcidas, com uma cara retrô. As próprias câmeras são estilosas, como a RipCurl Eyefish, que dá às fotos o efeito olho de peixe. www.lomography.com.br
DISFARCE PERFEITO
Quer uma churrasqueira na varanda, mas não tem onde guardar o trambolho? Uma solução é o Hot-Pot, da inglesa Black+Blum. O vaso de plantas esconde um recipiente que comporta o carvão e a grelha, tudo bem pequeno – o que faz da peça uma opção ideal para poucos convidados. www.black-blum.com
Paris X New York O mais novo projeto do designer gráfico Vahram Muratyan é do tipo simples e inteligente. Nascido em Paris, mas morando em Nova York, ele se inspirou nas diferenças e rivalidades entre as duas metrópoles para criar uma série de desenhos bemhumorados. Cada quadro é formado por um dueto de imagens, sempre usando símbolos conhecidos das duas cidades. Todas serão reunidas em um livro, que será lançado em março, mas algumas foram colocadas à venda na internet em formato de pôster. http://parisvsnyc.blogspot.com
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o cara
Por que ele é invejado
JAY-Z CASADO HÁ TRÊS ANOS COM A DEUSA DO R&B E DO POP BEYONCÉ KNOWLES, O RAPPER AMERICANO JAY-Z REÚNE PRESTÍGIO CULTURAL E PODER EMPRESARIAL Aos 41 anos, o rapper, produtor e executivo americano Jay-Z habita uma zona rara na indústria musical. Ele possui prestígio cultural e poder empresarial. Shawn Corey Carter-Knowles, seu nome verdadeiro, já fez parcerias com HewlettPackard, Coca-Cola, Budweiser, Reebok e Microsoft; a revista Forbes o colocou na capa da sua edição de 2010 sobre as 400 pessoas mais ricas dos Estados Unidos (seu saldo bancário é de US$ 450 milhões); e ele superou Elvis Presley como o artista solo com mais álbuns no topo das paradas, ganhou dez prêmios Grammy e vendeu 45 milhões de álbuns. Entre os empreendimentos do rapper estão uma participação no controle do time de basquete Nets, de Nova Jersey, uma cadeia de bares esportivos chamada 40/40 Club e um restaurante em Nova York, o Spotted Pig. Ele também tem o controle criativo e operacional da linha de roupas Rocawear, vendida por ele mesmo em 2007 por US$ 204 milhões, e da linha de beleza Carol’s Daughter, da qual é coproprietário. Em 2010, Jay-Z também viu o título de autor americano mais vendido ser adicionado ao seu currículo, com os mais de 50 milhões de cópias de sua autobiografia Decoded.
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BEYONCÉ KNOWLES A cantora americana de R&B e pop ficou famosa ao liderar o grupo Destiny’s Child, e depois, em sua carreira solo, com músicas como Baby boy e Single ladies. Ela também é atriz e trabalhou em A Pantera Cor-de-Rosa e Dreamgirls. Recentemente, foi convidada pelo diretor Clint Eastwood para protagonizar a refilmagem de Nasce Uma Estrela. A musa está grávida de seu primeiro filho.
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A outra versão da história
CAINDO DE BOCA UMA AGÊNCIA DE PUBLICIDADE DE MOSCOU CRIOU UMA LINHA DE SORVETES 3D, QUE IMITA A CABEÇA DE PERSONAGENS FAMOSOS Que tal meter a língua na Marilyn Monroe? Os russos, pelo menos, já podem brincar com o trocadilho. A atriz americana, assim como outras seis figuras mundiais, foi transformada em picolé por uma agência de publicidade russa, a Stoyn. Em parceria com a fabricante de sorvetes Dolce Baccio, eles criaram uma linha inspirada na cabeça de alguns personagens. Che Guevara, Pato Donald e Super Mario estão entre os homenageados – mas o melhor de todos é, sem dúvida, o picolé de Darth Vader. No sabor de mirtilo com licor, a escultura gelada do vilão intergaláctico tem até a cor do modelo original. Todos são feitos em edição limitada, em geral para eventos específicos, como exposições, concertos de música e festivais de comida. O picolé da Stoyn fez tanto sucesso entre o pessoal mais descolado que a agência vem recebendo pedidos de pontos de venda. Agora Darth Vader e companhia já podem ser encontrados em alguns cafés refinados de Moscou.
O PESSOAL MAIS DESCOLADO DE MOSCOU TEM ADORADO BRINCAR COM OS SORVETES 3D. ALÉM DE DARTH VADER, ELES ADORAM CHE GUEVARA, QUE PODE SER ENCONTRADO NO SABOR MATE
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Discos, shows e o que mais interessar no mundo da música
SEU DESEJO É UMA ORDEM
Alguns astros da música são excêntricos por natureza. Mas para muitos cantores e cantoras, falta um pouco de bom senso, principalmente em suas listas de exigência para fazer um show. Confira alguns pedidos assustadores e risíveis feitos por artistas que se apresentaram recentemente ou ainda vão se apresentar no Brasil este ano.
RIHANNA
A cantora, que fez dois shows no Brasil no mês passado, mandou avisar que queria em seus camarins decoração com rosas vermelhas, macarrão instantâneo sabor galinha, água vulcânica, azeitonas na conserva de alho, asas e coxinhas de frango com duas opções de arroz, integral e branco, e 12 ovos cozidos.
KE$HA
Humidificadores, chás com limão e mel, vinhos Louis Martini Cabernet, salada de algas, mostarda Dijon, Vinagre balsâmico Paul Newman, salmão cozido e muita água de côco foi o pedido da cantora americana Ke$ha, que se apresentou em São Paulo e no Rio em setembro.
ERIC CLAPTON
O guitarrista e cantor americano, que faz shows em Porto Alegre, Rio e São Paulo esse mês, sempre exige uma sala de jogos em seus camarins pelo mundo para instalar uma mesa de pebolim que ele e sua banda carregam com eles quando estão em turnê.
AEROSMITH
Atração que fecha o mês de outubro por aqui, a banda é razoavelmente simples em sua lista de exigências: não pode haver nenhuma bebida alcoólica no backstage, e bolinhos sem gordura e alimentos saudáveis, como couve, precisam estar à disposição.
JUSTIN BIEBER
Mais normal, o cantor teen, que passa por Rio, São Paulo e Porto Alegre este mês, pediu espelho de corpo inteiro e alimentos como batata frita, mel, refrigerante, chá de ervas, frutas e legumes frescos.
PEARL JAM
BRITNEY SPEARS
A cantora, que traz sua turnê ao País em novembro, adotou uma postura bem-estar nos pedidos: academia de ginástica e nada de álcool ou comidas pesadas.
Após um episódio traumático na Dinamarca, em que fãs morreram, a banda – que toca em novembro em SP, Rio, Curitiba e Porto Alegre – pede para não tocar para públicos muito grandes e que bebidas alcoólicas não sejam vendidas após o início da apresentação.
KATY PERRY
Outra popstar que passou por São Paulo e Rio em setembro, Katy não é básica nas exigências: o camarim precisa ser pintado em tons claros, ter abajures em estilo francês, uma geladeira com porta de vidro (para ela ver o conteúdo sem precisar abrir) e hortênsias lilases. Para comer, frutas orgânicas e vegetais frescos. E, por último, uma lista dos points da noite carioca. Mas nada de boates da moda, a cantora gosta mesmo é de inferninhos. RINGO STARR
O ex-Beatle, que passa por aqui em novembro, quer um personal trainer para acompanhá-lo 24 horas por dia, além de um guia que fale alemão (!?).
FOTOS: DIVULGAÇÃO | ILUSTRAÇÃO: PEDRO MATALLO
PALHINHA O líder da banda Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, revela algumas curiosidades sobre suas preferências musicais Música favorita do ano passado: “All Babes are Wolves”, do Spinarette. Três músicas antigas favoritas: “Time is Running Out”, do Muse, “Steady as she Goes”, do The Raconteurs e “Superunknown”, do Soundgarden. Artista novo favorito: Spinarette. Minha colaboração dos sonhos: Muse. Acho essa banda surpreeendente. E é um trio. Último grande show a que assisti: U2, no Morumbi, em SP. Equipamento musical ou instrumento favorito: Guitarras elétricas. Eu as coleciono, procuro raridades e tenho algumas pérolas. Disco preferido que comprei: Na minha vida? Pergunta impossível de responder, eu sou músico. Rs. Melhor cidade para se tocar: Por motivos emocionais, Brasília. Coisa mais estranha que já recebeu de um fã: Já recebi muita coisa. Desenhos, esculturas, joias, roupas, fotos. Mas a coisa mais estranha é impublicável. Meu toque de celular: É um zumbido tipo filme de ficção científica B. Algo a la Marte Ataca.
TE CUIDA, LADY GAGA Conhecida pelo seu guardaroupa extravagante e penteados exagerados, a rapper americana Nicki Minaj – que recentemente venceu o prêmio de melhor clipe de hip-hop no VMA 2011, pelo vídeo da música Super Bass – deve vir ao Brasil em novembro para abrir os shows da turnê do novo álbum de Britney Spears. Nicki garante não se importar com as roupas que veste, inspiradas na Barbie e nas Harajuku Girls, as japonesas famosas pelas roupas excêntricas que usam para circular no distrito de Harajuku, em Tóquio. Só falta agora ela resolver assumir um alterego para herdar o posto que atualmente é de Lady Gaga.
FOTOS: DIVULGAÇÃO (DINHO OURO PRETO) | MYPINKFRIDAY.COM (NICKI MINAJ)
agenda OS SHOWS IMPERDÍVEIS DE OUTUBRO > System of a Down Um dos principais expoentes da cena metal da última década, a banda faz única apresentação na capital paulista no dia 1 de outubro, na Chácara do Jockey. > Eric Clapton O guitarrista e cantor traz para Porto Alegre (dia 6, no estacionamento da FIERGS), Rio de Janeiro (dias 9 e 10, na HSBC Arena) e São Paulo (dia 12 no estádio do Morumbi) a turnê de seu último álbum, Clapton, lançado no ano passado. > Aerosmith Em sua quarta passagem por terras brasileiras, o quinteto faz show único no país, em São Paulo, na Arena Anhembi, dia 30 de outubro.
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Os bastidores da sétima arte
Por Tom Cardoso
OPERAÇÃO SATIAGRAHA NOS CINEMAS
O ex-delegado, hoje deputado federal, Protógenes Queiroz tem dois sonhos: transformar a Operação Satiagraha, a polêmica ação da Polícia Federal comandada por ele, em filme e se tornar prefeito de São Paulo. O primeiro sonho está menos distante. Com a ajuda de sua atual namorada, a banqueira Roberta Luchsinger, Protógenes conseguiu investidores para rodar o longa-metragem, que no início chegou a contar com a colaboração de Fernando Meirelles. Quem tem feito a ponte entre o empresariado e os produtores é o economista Sérgio Moreira Salles, amigo de Roberta.
DVD WALDICK – SEMPRE NO MEU CORAÇÃO COLEÇÃO CANAL BRASIL.
COM CUECA OU SEM CUECA? O novo Super-Homem não perde os poderes, mas tudo indica que perderá a clássica cueca vermelha que ostentava por cima de sua indumentária de herói. Cenas das filmagens, veiculadas na internet, mostram que o ator Henry Cavill dispensou a peça íntima. O diretor Zack Snyder ainda não confirmou se ela será abolida para sempre ou poderá voltar ao figurino.
LOBÃO, O PROFESSOR LOBÃO SERÁ TEMA DE FILME INSPIRADO EM SUA VIDA, DIRIGIDO POR JOSÉ EDUARDO BELMONTE. Por enquanto, ele vai se arriscando como ator. O roqueiro fará parte do elenco de A vida não é filme, longa-metragem de estreia da ex-VJ Marina Person. No filme, ambientado nos anos 80, ele interpretará um professor de história, engajado na luta pela redemocratização do País.
Patrícia Pillar Pillar, uma estrela Global, dirigindo um documentário sobre um ícone brega e suburbano como Waldick Soriano? Pois é justamente desse distanciamento que nasceu um grande filme. Patrícia não faz nenhum julgamento estético – observa atenta, curiosa, Waldick falar sobre solidão e saudade e, claro, cantar seus temas românticos. Todo mundo já foi um pouco o cachorro de Waldick.
CHEGA DE FAVELA MOVIE!!! Houve uma época em que ninguém mais aguentava assistir a filmes que retratavam a miséria do Nordeste brasileiro. Essa fase passou e o cinema nacional entrou com tudo no gênero “favela movie”, longas ambientados em favelas, com o tráfico de drogas como pano de frente. Cidade de Deus, Tropa de elite 1 e 2, Cidade dos homens, Antônia, etc. Chega? Chega. Pelo menos para o diretor Rodrigo Bittencourt, que decidiu fazer um filme parodiando o gênero favela movie. Totalmente inocentes, com estreia prevista para o começo de 2012, faz piadas com personagens como Zé Pequeno. E nem adianta chamar o Capitão Nascimento.
FOTOS RAIMUNDO PACCÓ/FOLHAPRESS | DIVULGAÇÃO
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entrelinhas
Tudo sobre o mundo da literatura
A Itália de Silvio Berlusconi e Melissa P. Melissa Panarello escreveu o livro 100 Escovadas antes de dormir, adaptado para o cinema pelo diretor italiano Luca Guadagnino. A escritora italiana já vendeu mais de três milhões de livros na Europa, e faz sexo compulsivamente. Melissa P., como é conhecida, teve sua primeira experiência com sadomasoquismo aos 16 anos e desde então (está com 25) transa e escreve sem parar. Seus livros de ficção erótica são um sucesso. O mais novo lançamento, Três, trata de um triângulo amoroso. Ela conversou com a coluna: Como é escrever livros eróticos em um país tradicionalmente machista como a Itália? Na realidade, paradoxalmente, a melhor literatura erótica e sentimental se desenvolve em todas aquelas culturas que renunciaram a
qualquer forma de liberdade, longe de uma ideia de revolução sexual. A Itália é um país que condena a libertinagem, mas é governada por um sujeito como Silvio Berlusconi. Contraditório, não? Berlusconi é o primeiro a impor leis e regras de comportamento que copiam o modelo da sacra família e é também o primeiro a transgredi-las. Para ele, assim, é mais divertido. Para ser uma escritora erótica é preciso, necessariamente, gostar muito de sexo? Não necessariamente. Historicamente, quem produz literatura erótica sempre teve muita dificuldade em administrar a própria sexualidade, e não são raros os casos de frigidez e impotência entre os escritores de literatura erótica.
O QUE ESTOU LENDO? ANDRUCHA WADDINGTON
Estou lendo o livro Adeus, Stalin!, escrito pela minha mãe, Irene Popow. Sei que sou suspeito, mas é uma obra espetacular, muito bem escrita, que narra a longa viagem de uma mulher em busca da sobrevivência – mamãe, nascida na Ucrânia, passou parte da infância em campos de concentração. Quem sabe um dia eu não transformo essa história em um documentário ou até mesmo num filme de ficção.
NÃO PERCA NELSON PIQUET CONTA TUDO Polêmico, bom de briga e de braço, Nelson Piquet colecionou títulos e desafetos ao longo da carreira. O tricampeão do mundo decidiu contar tudo, numa biografia bombástica. A missão de transformar em livro o testemunho de Piquet está nas mãos do jornalista Luis Ferrari, que negocia com editoras. FOTOS ROBERTO CASTRO | DIVULGAÇÃO
Se você se comoveu com A lista de Schindler, filme dirigido por Steven Spielberg que narra a história do empresário Oskar Schindler, que salvou a vida de mais de mil judeus durante o Holocausto, não deixe de ler Um homem bom (Editora Casa da Palavra, 400 páginas, preço médio R$ 42). Escrito por Rui Afonso, o livro conta a trajetória do cônsul português Aristides de Sousa Mendes, personagem pouco conhecido por aqui, mas tratado como herói em Portugal. Durante a Segunda Guerra, Sousa Mendes, contrariando as ordens do ditador português Antônio Oliveira Salazar, expediu visto a refugiados de todos os cantos da Europa, salvando milhares de vidas.
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redenção
Fotógrafos incríveis e suas mulheres maravilhosas
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Sem sombra de dúvida A relação deste paulistano com a fotografia começou ainda na adolescência, no escurinho do banheiro de casa, com a paixão pela revelação artesanal. O fascínio pelo processo químico continua, mas hoje Angelo Pastorello vai muito além do laboratório. Consagrado no campo da moda e da publicidade, uma de suas grandes especialidades é a facilidade no manejo da luz – uma virtude que vem muito bem a calhar na hora de clicar belíssimos corpos. Tanto é assim que Pastorello também anda se destacando como um dos principais fotógrafos de ensaios sensuais do País. “Penso sempre nos volumes”, diz. A linda foto da modelo Wanessa Martins está aí para confirmar.
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O que elas pensam de nós
POR VANESSA BARONE
O que elas pensam de nós 40 ANOS: OS NOVOS 20 U M H O M E M S O LT E I R O conhece uma mulher solteira. Ele “chega chegando”, atrás de uma massageada no ego e algumas noites ardentes. A mulher, achando que não tem nada a perder, topa a corte. Rapidamente, o clima esquenta. A “coisa de pele” rola divinamente, o papo flui, os gostos coincidem, enfim, tudo bate. Porém, repentinamente, o homem começa a ficar muito ocupado com o trabalho. Surgem reuniões de manhã cedo, parentes doentes, viagens inesperadas para Votuporanga. Encontros são desmarcados, torpedos e e-mails, enviados pela mulher, começam a ser ignorados. “Mas até ontem ele se mostrava apaixonado. Não houve briga, nem uma rusga sequer”, alarma-se a mulher. Para encurtar a história, depois de algumas semanas de desencontros, a mulher descobre, via Facebook, a razão do sumiço do rapaz: ele reencontrou uma “ex” e deci-
etária também significa engordar mais facilmente, encarar as primeiras rugas e sofrer com retoques nos cabelos brancos a cada 15 dias (ah, não me venha com esse papo de que os 40 são “os novos 30”. Nosso corpo não aprendeu a mentir). Isso sem falar nas noites solitárias, já que boa parte das amigas é mãe e quase não tem mais tempo para um cineminha ou happy hour. Para vocês, entrar nos 40 anos muda... Convenhamos: não muda nada. O bumbum continua no lugar, os amigos continuam a frequentar o mesmo boteco e ninguém insinua que vocês deveriam congelar seus espermatozoides (porque eles não envelhecem!). Percebe a injustiça? Sendo assim, se nós mulheres precisamos conviver com as traquinagens da natureza, vocês bem que poderiam aprender, de uma vez por todas, a verbalizar suas verdadeiras intenções. Não é tão difícil. Ninguém está
PARA VOCÊS, ENTRAR NOS CONVENHAMOS:
40 ANOS MUDA...
NÃO MUDA NADA.
O BUMBUM
CONTINUA NO LUGAR,
OS AMIGOS CONTINUAM A FREQUENTAR O MESMO BOTECO E NINGUÉM INSINUA QUE VOCÊS DEVERIAM
CONGELAR
SEUS ESPERMATOZOIDES
(PORQUE ELES NÃO ENVELHECEM!)
diu “tentar de novo”. Seu perfil passa de “solteiro” para “em um relacionamento sério”. Simples assim. Com algumas mudanças em pequenos detalhes, a história acima tem sido recorrente no universo das novas relações amorosas. E o que tem de novidade nisso?, você pode se perguntar. A idade dos protagonistas: esse homem e essa mulher já passaram dos 40 – aquela idade em que, teoricamente, alcançamos a sabedoria e serenidade, mas ainda não andamos curvados. Só que, para nós, essa faixa
imune a se apaixonar e se desapaixonar com a simples mudança do vento. Mas custa chamar a outra parte interessada para uma conversa franca e amigável? Deixar que a gente descubra o seu novo (ou velho) romance pelo Facebook só seria perdoável se vocês não tivessem passado dos 20, ainda morassem com seus pais e trocassem um ménage à trois por uma partida de Wii. Querem ser vistos como machos evoluídos? Então, comportem-se! Ou vamos começar a espalhar que, para vocês, os 40 são “os novos 20”. No mau sentido.
FOTO ANA VITALE
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Rivalidade saudável
DUELO DE BÁRBAROS Quase 30 anos separam as duas versões. Conan, o Bárbaro, de 1982, foi um daqueles filmes de pirar qualquer garoto de 13 anos – muitos deles fãs do anti-herói até hoje. A película também será sempre lembrada como o primeiro grande trabalho de Arnold Schwarzenegger, que deixou de ser apenas um fortão austríaco para se transformar numa das maiores estrelas de Hollywood. Em resumo: a tarefa do remake não vai ser fácil. O novo Conan, que estreia este mês nos cinemas, tem Jason Momoa como protagonista, já chega em 3D e promete ter o dobro de sangue. O ator insiste que as duas versões não podem ser comparadas. Impossível.
Conan de 1982
X
Conan de 2011
Até viver Conan, aos 35, Schwarzenegger já havia feito alguns filmes, mas era conhecido como um bruta-montes profissional: foi sete vezes campeão do Mr Olympia, competição mundial de fisioculturismo.
Antes de Conan
Schwarzenegger nem precisou de preparo especial para o filme. Na verdade, teve de reduzir a malhação – seus braços estavam grossos demais para o manejo da espada.
Preparo físico
Momoa pegou no pesado, treinando seis horas por dia durante quase dois meses, o que lhe rendeu um adicional de 9 quilos de puro músculo.
A guerreira Valéria (Sandahl Bergman), uma loira de 1,83 m e corpo atlético, é a parceira de Conan. A cena de sexo entre os dois já vale uma visita à locadora.
A gata do filme
No remake, Conan se apaixona por Tamara (Rachel Nichols), também loiraça. Apesar de gostosa, não convenceu os fãs com uma espada na mão.
A fabricante Mattel teria produzido miniaturas do Conan, desistindo do projeto ao ver cenas tão pesadas. A saída foi colocar cabelos loiros nos bonecos, dando origem ao He-Man. Na verdade, o desenho foi criado em 1980.
Lenda urbana
O Conan de 1982 custou o equivalente hoje a US$ 47 milhões e foi um sucesso de bilheteria no fim de semana de estreia nos EUA, arrecadando cerca de US$ 21 milhões*. *valores atualizados pela inflação do período
Bilheteria
Aos 32 anos, Jason Momoa conquistou Hollywood fazendo papel de bom-moço. Durante dois anos foi o principal salva-vidas na série praiana SOS Malibu Havaí. Também se destacou em Stargate Atlantis.
Muitos sites da internet, inclusive o Wikipedia, contam que Momoa começou a carreira como modelo da Louis Vuitton. A história é falsa e foi inventada pelo próprio Momoa, para conseguir um papel em SOS Malibu. O remake custou US$ 90 milhões, praticamente o dobro da primeira versão. Já a bilheteria no lançamento deixou a desejar, com US$ 10 milhões. FOTOS DIVULGAÇÃO
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brinquedos
Gadgets, games e inovações
Por Suzana Borin
O ASTRO Enquanto os rumores sobre a data de lançamento e quais seriam as novidades do iPhone 5 se espalham pela internet, novas notícias indicam que ele está sendo redesenhado. O smartphone pode ficar mais fino, e talvez a tela seja maior do que a do modelo atual. Um tamanho provável é de 3,7 polegadas, mas a resolução deverá ser mantida, já que mudá-la poderia trazer alguns problemas desnecessários de incompatibilidade com aplicativos. Perguntamos a duas pessoas que não são aficionadas por tecnologia, mas adoram o gadget da Apple, o que o novo iPhone poderia ter. Confira as opiniões:
EM ALTO ALTO E BOM E BOM SOM SOM A Nixon, marca californiana de relógios e acessórios, desenvolveu o headphone The RPM para acompanhar os amantes de um bom som nos palcos e nas ruas. Com design robusto e encaixes articulados, os alto-falantes são revestidos com espuma e preenchidos com gel que melhora a vedação. Além dos cabos interligáveis para conectividade profissional, o The RPM vem com botões compatíveis para conexão de iPhone e case de viagem personalizado. PREÇO: R$ 799 www.nixonnow.com
“Ainda não uso nem um terço do que o iPhone 4 oferece, mas algo que o iPhone 5 poderia ter é um GPS ativado pelo comando da voz, para quando estivesse dirigindo. Outra coisa perfeita para mim seria um aplicativo que emitisse um alarme avisando assim que uma onda gigante chegasse, sem a necessidade de ficar procurando. Aí era só arrumar as malas, comprar a passagem e fazer o check-in pelo iPhone. Ele podia ser um pouco mais resistente também.” É o que diz DANILO COUTO, o surfista brasileiro número 1 do mundo em surfar vagalhões que, inclusive, não arriscaria levar seu iPhone para pegar ondas, mesmo se fosse à prova d’água.
“Eu gostaria que ele tivesse um editor de vídeos mais fácil, daqueles que até as crianças soubessem usar. Para pessoas estabanadas como eu, ele poderia ser mais resistente. Mas, já que eu posso sonhar, a perfeição seria o teletransporte, para que eu pudesse ver meus filhos sempre”, brinca a jornalista e consultora de moda ERIKA PALOMINO que admite o vício pelo aparelho. “O iPhone hoje é a extensão da minha vida, quando fico desconectada me dá crise de ansiedade.”
Chegando do futuro A Nike lança um dos itens mais esperados para os admiradores da trilogia De volta para o futuro, que marcou a década de 1980: o Nike MAG. É o tênis ajustável automaticamente nos pés e com iluminação própria que Marty McFly usou no segundo filme da série. O lançamento do MAG estava previsto para 2015, o mesmo ano da viagem do personagem eternizado por Michael J. Fox, mas acabou sendo antecipado. Ainda não é possível dizer se o tênis vai se ajustar sozinho aos pés, mas ele tem, sim, iluminação interna em LED que funciona à bateria que chega a durar horas e horas. Foram feitos somente 1,5 mil exemplares e o lucro vai para a fundação de Michael J. Fox, que trabalha com o tratamento da doença de Parkinson. PREÇO: a partir de US$ 2.500 www.back4thefuture.com
Belas curvas Projetado para ser o carve com maior capacidade de manobra, o Slider Drop Boards mantém o mesmo sistema de molas nos eixos, mas com rodas de uretano e um shape menor com 89 cm. Tudo isso para uma melhor performance tanto no downhill (asfalto) quanto nas pistas de skate, banks e bowls. Um DVD com videoaula acompanha o Slider para servir de inspiração para as novas manobras. PREÇO: R$ 755 www.starpoint.com.br
VIDEOGAME DE BOLSO A novidade da Sony Ericsson para o Brasil é o Xperia Play. O terceiro modelo Xperia agora vai agradar aos fanáticos por videogames, isso porque é o único smartphone no mundo com o certificado Playstation. O novo aparelho traz todos os benefícios já encontrados nos outros dois Xperia, como câmera de 5 megapixels, tela multitouch de 4’, GPS, cartão de memória de 16 GB, Wi-Fi, videochamadas via Skype e sistema operacional Android. Porém, quando aberto, um console surge tornando a experiência de jogo possível em qualquer lugar. O smartphone ainda vem com sete jogos gratuitos em HD e mais de 100 títulos para download. Alguns deles podem ser jogados contra outra pessoa que também tenha o aparelho. PREÇO: R$ 1.900 www.sonyericsson.com.br
FOTOS DIVULGAÇÃO
Balada em casa As linhas ultramodernas das caixas de som Parrot são assinadas pelo designer francês Philippe Starck, que fez questão de refletir sua personalidade criativa nesse projeto. Além das curvas e opções de cinco cores, as caixas são poderosas no quesito potência e nitidez de som. Elas também são compatíveis com iPhone e a gama iPod e iPod Touch que, uma vez conectados, são comandados por controle remoto. PREÇO: 1.200 euros www.parrot.com
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desejo
o que dar para ela
uMa delÍcia eM QualQuer ocasiÃo SEJA ANTES OU DURANTE O JANTAR, NADA COMO UM CHAMPANHE PARA A GATA ENTRAR NO CLIMA. STATUS SUGERE O KRUG GRANDE CUVÉE Foto: Frederic Jean Por: ariani carneiro Produção: Michelle kimura
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Para as mulheres, ele é uma espécie de item obrigatório em qualquer cenário de sedução. especialmente se for um dos melhores do mundo, como o Krug Grande Cuvée. Feito à base de 100 vinhos diferentes, esse champanhe de sabor equilibrado e textura quase cremosa não tem receita fixa: sua fórmula é recriada a cada ano, partindo do sabor e da memória dos degustadores do pró-
prio krug. depois de engarrafada, a bebida ainda é amadurecida por até dez anos nos armazéns de reims, norte da França, até atingir um sabor equilibrado. Vai bem com praticamente todos os tipos de prato, mas seu forte mesmo é ser servido como aperitivo. uma forma de começar muito bem a noite. Preço sugerido: r$ 800. informações pelo telefone (11) 3062-8388.
Modelo: agatha ribeiro (elo ManageMent) | Make/hair: Paulo caMPos (caPa Mgt) | assistente de FotograFia: FeliPe gabriel
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caiu na rede
Escaneando sites de relacionamento, blogs e o melhor da internet
GAROTAS DE PROGRAMA ONLINE Dispensando as ruas, clubes de entretenimento para adultos e cafetões (que embolsam no mínimo 50% do cachê das meninas), cada vez mais garotas de programa usam as redes sociais para se autopromover. E um estudo americano tem um número aproximado para essa tendência. O professor de sociologia da Universidade Columbia Sudhir Venkatesh analisou durante dez anos a prostituição em Nova York. De acordo com a pesquisa, em 2003, 83% das profissionais encontravam clientes pessoalmente em bares de hotéis, clubes de strip-tease ou por meio de agências de prostituição. Em 2008, esse número havia caído para 57%. Hoje, Venkatesh calcula que 83% das moças do ramo consigam clientes pelo Facebook e que a rede social se transforme, ainda em 2011, no maior serviço de prostituição online do mundo. No Brasil, a presença de garotas de programa nas redes sociais começou a ficar mais expressiva de um ano para cá. Uma prova é o resultado do último Melhores da Twittosfera (prêmio criado pelo site youpix para que os próprios tuiteiros elejam quem mais se destacou no site ao longo do ano), em que a profissional Vivi Dantas (@vividantasgp) ganhou nas categorias Musa do Ano e Avatar do Ano. Ao mostrar a cara (e o corpão) e assumir publicamente o que faz, ela vem quebrando o preconceito contra garotas de programa na internet e conseguindo cada vez mais seguidores e clientes (atualmente são 55 mil). “Puta q está no twitter só pra fazer propaganda ganha BLOCK! Tem q dar a buceta a tapa! Seguidores ñ vão pagar por buceta, querem ver d graça”, diz ela em sua página no site de relacionamento, onde se exibe pelada ao vivo, por vídeo, todos os dias.
QUANTO VALE O CONTEÚDO QUE VOCÊ POSTA NAS REDES SOCIAIS? US$
1,860 BILHÃO
US$
945
MILHÕES
US$
288
MILHÕES
US$
243
MILHÕES
US$
45
MILHÕES
LINKEDIN FA C E B O O K
YOUTUBE
M Y S PAC E
Sites como Twitter, LinkedIn ou YouTube são de graça. Isso não significa que eles não ganhem dinheiro com você. Toda vez que seus amigos conferem as fotos, os vídeos e as informações que você posta, os donos da rede social estão faturando. Como? Anúncios. No seu perfil do Facebook, por exemplo, tem publicidade, já reparou? E a maior rede social do mundo lucrou nada menos que US$ 1,86 bilhão no ano passado com os posts que os usuários fizeram. É a líder do ranking. E o nosso salário, ó! Confira os outros sites que mais lucraram com os posts alheios.
FOTOS E ILUSTRAÇÕES SHUTTERSTOCK
ACIMA DE UMA HORA POR DIA DIARIAMENTE DE QUATRO A SEIS DIAS DA SEMANA DE DUAS A TRÊS VEZES POR SEMANA UMA VEZ POR SEMANA OU MENOS
SAMSUNG
NOKIA
MOTOROLA
FONTE: PESQUISA “CONSUMIDOR MÓVEL 2011” FEITA PELA AGÊNCIA W/MCCANN E PELO GRUPO .MOBI
LG
BLACKBERRY
APPLE
COM QUE FREQUÊNCIA VOCÊ ACESSA A INTERNET DO SEU CELULAR?
TOP TWEETS “Confesso que tenho saudade do tempo em que fumava maconha e ficava tirando música do João Gilberto de madrugada, voltando 100 vezes o disco...”(@sigapiovani), @nando_reis “Eu sempre tive a ‘vida glamorosa’, quando tudo o que queria era serenidade” @MikeTyson
CHEGA DE CARÊNCIA O LocalSin é uma rede social básica em que você faz um perfil, define suas preferências etc. A diferença é que o aplicativo da ferramenta, a partir do GPS do seu smartphone, mostra um mapa indicando a localização das moças desacompanhadas que estão por perto (e que também possuem o app). Assim, dá para acessar o perfil da pessoa e, se você gostar, entrar em contato. É possível também filtrar a busca de acordo com seus interesses, mudar sua localização e até se esconder, se for o caso. O aplicativo é gratuito e está disponível para iPhone, iPad, iPod Touch e Android.
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por Bruno Weis e Piti Vieira
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fotos Frederic Jean
Seu
Um dos mais bem-sUcedidos artistas brasileiros lança disco sobre a vida no sUbúrbio e fala com exclUsividade sobre o passado pobre, a paixão pelo cinema, sUas amizades em Hollywood e como foi ser vítima de racismo em Um sHopping de são paUlo
Seu Jorge chega do aeroporto ao volante de seu Porsche Panamera preto usando
óculos escuros e blusão preto. A casa que ele divide com seu braço direito, o francês Pierre Chene, em um
condomínio no bairro do Morumbi, em São Paulo, é repleta de instrumentos musicais.
É ali que ele cumpre a agenda profissional e preserva sua intimidade: a família mora em outra casa, no Pacaembu, também na capital paulista. Depois de guardar o carro ao lado de outro bólido, um Lamborghini Gallardo branco, que ele só gosta de exibir para os amigos, o cantor entra apressado na sala pedindo desculpas pelo atraso. Relaxa apenas quando, em seu escritório esfumaçado, convida Status para comungar de uma conversa franca por ocasião do lançamento de seu
mais novo disco “Músicas para churrasco vol. 1”. Mas não é de música apenas, ou especialmente, que um dos mais exitosos cantores e compositores da atual via láctea da MPB
demonstra ter gana de falar. Seu Jorge discorre sobre a crise global, a política internacional, o novo papel
Jorge do Brasil na cena mundial. Sobre racismo, sucesso, passado e futuro. E muito sobre cinema, sua segunda carreira que, tão bem-sucedida quanto aquela erigida junto ao microfone, o faz
famoso no Ex-
terior como o ator de filmes que marcam o renascimento da sétima arte brasileira nas telas do planeta,
como “Cidade de Deus” e “Tropa de elite 2”.
Aos 41 anos, casado e pai de três meninas, Jorge Mário da Silva deixou para trás a infância
pobre em São Gonçalo, na Baixada Fluminense, para viver em São Paulo. Agora planeja se mudar para Los Angeles. Sente-se ao mesmo tempo cidadão do mundo e representante de um Brasil que dá certo. Depois de ter um de seus irmãos assassinado em uma chacina na Baixada Fluminense e morar três anos nas ruas do Rio, Seu Jorge é hoje o cara que coloca o astro americano Akon para sambar em um programa de tevê na Inglaterra, faz parcerias com cantoras como Ana Carolina e Ivete Sangalo e é convidado
para tocar com
o U2 em um Morumbi lotado. É o cara que grava versões de David Bowie com
voz e violão – bastante criticadas, por sinal – e tem um projeto musical com integrantes da cultuada banda Nação Zumbi. É, também, o compositor e cantor que, entre o cool e o popular, agrada à crítica e ao público e, na história de sua família, foi o primeiro a falar outra língua que não o português.
carrega praticamente sozinho a herança musical do samba rock. É, ainda, o cara que tem na memória do celular os números
E que, segundo ele mesmo diz,
de telefone de estrelas do show biz como os atores Natalie Portman, Cate Blanchett e Bill Murray, seus colegas de set. Seu
Jorge, enfim, é “o cara” .
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tudo água filtrada O ator brasileiro e o elenco estrelado de A vida aquática de Steve Zissou (à esq.) e com os colegas de set do filme britânico The scapist, inédito no Brasil. Como o detento Beirada, em Tropa de elite 2, e, abaixo na página, contracenando com as Fernandas Montenegro e Torres em Casa de areia
média alta. Tudo água filtrada, tudo trabalhador. Não tem espaço para vaidade. Também fiquei amigo da Cate Blanchett, a Angelica Huston viu minha filha pequenininha, é quase madrinha nossa. Status – Se você tivesse que decidir entre cinema e música, qual escolha faria? Seu Jorge – Cinema. Me dá muito prazer e a certeza de que é importante. Eu amo a música e gostaria de conservá-la como uma celebração, sem me cobrar tanto. Cinema é demais, sou apenas um ator, tenho meu personagem, trabalho ele e, quando chega a hora, é quebrar tudo. Eu gosto do cotidiano do cinema, de acordar de madrugada, ir pro figurino, depois pro make-up. Entrar naquele universo. Aí, quando acaba o dia, você vai dormir igual criança que brincou o dia inteiro, sabe como é? O ator descansa dele mesmo, esquece dos próprios problemas. Para participar do Tropa de elite 2, por exemplo, encontrei o Marcos Prado (produtor do filme) na praia e ele falou: – Fala Jorge, que maneiro te encontrar, tá ligado que estamos fazendo o Tropa 2, né? – É, né? Ninguém me fala nada... – Pois é, mas tem um personagem lá, coisa pequena, entendeu? Você fica a fim? – Pô, como faz? Tem que pagar? Se precisar, eu pago. – Não precisa pagar nada, vamos lá que você vai gostar. Aí depois eu liguei pro (José) Padilha e falei: “Olha, tô nesse filme, preciso desse emprego.” Ele veio me contando qual era o papel, que tinha a ver com a história do (Fernandinho) Beira-Mar. E falou que tinha uma péssima notícia: a gente teria que gravar nos quatro dias de Carnaval. Eu respondi: “Tá lindo, bicho, não vou ter que tocar no Carnaval.” – É pelo cinema que você quer morar em Los Angeles? – Também por causa das minhas filhas, para elas poderem ter uma educação melhor, elas me pedem isso. E também porque quero investir na carreira de cinema, tenho muitos amigos na cidade. E quero manter esses relacionamentos. A convivência durante as filmagens é muito intensa. O convite para tocar com o U2, por exemplo, acho que é por eu ter um amigo em comum com o Bono, o ator Liam Cunningham, com quem fiz um filme em 2007 na Irlanda. Também morei seis meses na Itália com Bill Murray e outro ícone do cinema, William Dafoe. Os caras são muito gente boa, tudo classe
– Você se considera tão famoso no Exterior quanto no Brasil? – Acho que sou tão famoso aqui como em alguns outros países, como a França. Mas são públicos diferentes. Me sinto um cara de sorte por ter feito filmes como Cidade de Deus e Tropa de elite 2. Mas sempre digo que sou um brasileiro e terei minha carreira aqui. A França é minha segunda casa e é uma opção, lá falo a língua e gostam de mim, sou um artista dali. Em L.A. tenho vários amigos, Money Mark, Mario Caldato, Erykah Badu, Erik Bobo, Angelica Huston, Bill Murray, Natalie Portman. Essa é a minha turma na cidade, que me reconhece como brasileiro. Eles veem o Brasil através de mim. E não sou o único por lá, tem o Rodrigo Santoro, a Alice Braga... – Ao mesmo tempo que você vira cidadão do mundo, lança um disco bem popular... – Tentei reviver uma lembrança do subúrbio do Rio, daquele jeito de ser, daquela permissividade de poder colocar uma cadeira na calçada, de cumprimentar os mais velhos, aquele sentimento de comunidade, onde todo mundo se conhece. Tenho essa lembrança dentro de mim. E acho que estamos fazendo música popular sem baixar o nível, sem apelar, mas falando de um jeito que é legal lá. Porque comunidade, se não tem tráfico de droga e conflito com a polícia, é área de lazer, ninguém quer sair de lá.
– Falando em drogas, como você vê essa discussão da descriminalização da maconha, que vem ganhando força recentemente? – Acho que o assunto é polêmico e é um território minado. Falta uma reforma política e legislativa, sem ela não teríamos parâmetros para investigar como atender à demanda da descriminalização. Em certas situações as drogas receitadas por médicos e compradas em farmácias geram pessoas tão desajustadas quanto as drogas consideradas ilegais. A velocidade da vida moderna é muito grande, a pressão também. A integração do mundo via internet estimula ainda mais o consumo do aparelho humano, e esse estímulo, de estar sempre à frente, sabendo de tudo, avançando sempre, tende a pressionar as pessoas às drogas. E temos que ajustar a questão da saúde. Não acredito que funcionaria sem centros especializados que possam apoiar quem queira se livrar da dependência.
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BeM aCoMPaNHado O cantor tocando com o U2 em SP este ano. Seu Jorge diz que o convite para tocar com a banda se deu pela amizade em comum entre ele, Bono e o ator irlandês Liam Cunningham, seu parceiro no filme The scapist. Abaixo, o Lamborghini Gallardo e o Porsche Panamera que o artista guarda na garagem de casa. Além destes, ele tem um Mustang GT
– Por que você resolveu morar em São Paulo? – Porque aqui é a personificação do Brasil alavancado, um país que está fazendo grandes negócios. Gosto da qualidade dos serviços, a infraestrutura, o compromisso. Estou com essa ideia de Brasil grande, de crescer, um sonho meu que os mais velhos não tinham. Porque da minha árvore genealógica eu mudei toda a história. Desde os africanos escravos até eu, tudo mudou. Eu fui o primeiro a falar outra língua, a conhecer outros países. Então faço parte de uma geração nova de negros eloquentes, que não terão nenhum ranço do passado. Meu pai teve quatro filhos. Tudo o que queria é que não mexêssemos com a filha dos outros, que a gente não virasse bandido. Não fosse artista, seria eletricista, que foi a profissão que ele me ensinou, ou estaria consertando carro, tendo nossa vidinha no subúrbio. Não tinha rango, mas tinha abraço, tinha beijo, tinha papo. Eu era duro de grana, pude estudar muito pouco, mas tinha pai. Por isso que sou pai. Fui pai aos 32 anos e ser pai muda tudo. Antes era só eu e meu corpo, agora não. – E o racismo hoje? – O Brasil é um país racista, porém não muito. Acho que tem muito preconceito. Em determinadas áreas não sinto nada. Eu sou Seu Jorge. Quando o policial olha o negão no carro, fica tentando saber em que time eu jogo (risadas). E tem outra coisa: em relação à abordagem policial, São Paulo
e Rio são muito diferentes. A polícia aqui vem com mais educação, vem mais certa do que está fazendo. No Rio me sinto meio inseguro. Nem gosto de falar porque os caras já são bolados comigo, imagina se leem que eu estou falando bem de São Paulo e mal do Rio... Certa vez fui a um shopping aqui em São Paulo ver o filme Ratatouille com as crianças e minha mulher, Mariana (atualmente os dois estão separados). Era domingo cedo, o lugar estava bem vazio. Saí para fumar um cigarro. Já reparei que todos os seguranças ficavam me filmando e falando no rádio entre eles: “O cara tá passando, câmbio, tá chegando aí.” Estou acostumado com isso desde os 5 anos de idade. Fumei meu cigarro e voltei. Comentei com minha mulher que naquele lugar não tinha ninguém da minha galera e a gente acabou discutindo. Me levantei e fui indo na frente rumo ao estacionamento. Peguei o elevador, saí e fui ao caixa pagar. Fiquei de costas para o elevador, de onde em seguida surgem duas senhoras. Sem olhar, ouço um ruído vindo delas, de pânico, e elas não saem do elevador. A porta se fecha e elas voltam a subir. Achei a coisa entranha. – E aí? – Quando as tais senhoras chegam ao andar de cima, quem entra no elevador? Mariana e minhas filhas. Ao mesmo tempo, uma das senhorinhas aborda um segurança e clama: “Pelo amor de Deus, o senhor tem que me ajudar, tem um preto lá embaixo!” A senhorinha estava histérica: “Acho que ele vai assaltar a gente, acho que ele vai assaltar a gente!” Eles desceram no elevador, Mariana quieta. Quando a porta se abriu a mulher apontou para mim: “É ele, é ele.” Aí a Mariana deu um chilique: “Jorge, essa maluca aqui está falando que você vai assaltar ela! Ele é meu marido!” Aí a velha entrou de novo no elevador e subiu. E o segurança travado, sem saber o que fazer. Eu chego e pergunto para ele o que está acontecendo. Ele fala: “Não, é que a senhora...” Aí eu falei: “Certo. Então vamos todos subir porque isso é racismo, é crime inafiançável. Ela foi chamá-lo para me prender, achando que eu iria assaltála, sendo que nem olhando para elas eu estava. Então vamos agora buscá-las!” Quando a porta do elevador se abre, estão as duas lá, travadas. E eu: “Pode parar, pode parar, crime de racismo, estão as duas presas.” Minhas filhas, claro, vibrando com a cena. Aí eu desci o verbo: “A senhora é racista, tenho o direito de frequentar este lugar como qualquer pessoa. A senhora com seu preconceito me humilhou na frente das minhas filhas sem eu ter feito nada. A senhora vai ter que se acostumar FOTOS divULGAçãO
que pessoas como eu podem estar onde a gente quiser. E a senhora vai estar na cadeia. A senhora tem curso superior? Não tem? Então vai pra cela comum.” Mas, depois, eu percebi que a coisa ia acabar ficando o shopping versus o Seu Jorge e não quis continuar... – E essa paixão por carros, é recente? – Eu passei a curtir carros agora. Pensei: estou fazendo 40 anos, está tudo certo, meus filhos estão encaminhados, me apaixonei por essa “lambo” e vou me dar de presente de aniversário. Olho ela pela manhã e fico mais animado para encarar o dia. Eu estou bem, não tenho do que reclamar da vida. Mas não blindei meus carros, acho que não preciso disso. Eu acredito na proteção superior, acredito na relação entre as pessoas, na força de um olhar de respeito. E não sou tipo galã que fica desfilando com o carro. Sou totalmente fora dessa configuração. Até porque quando eu era um cara comum, alguns anos atrás, eu entrava em um ônibus e era o maior constrangimento, não dá para esquecer esse tipo de coisa. Minha mente tenta esquecer, mas fica gravado na alma.
TOP SECRET
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por Andrea Dip
outubro 2011
fotos Daniel Kfouri
PRAZER E CASTIGO
VOCÊ PAGARIA PARA SER ESCRAVO DE UMA MULHER E, EM TROCA, RECEBER MUITA PORRADA? CONHEÇA ALGUNS FIÉIS ADEPTOS DO MASOQUISMO NO BRASIL E SUAS IRASCÍVEIS DOMINADORAS
Q UA N D O D O M M E N I Q U E A B R E A P O R TA de seu flat, em uma região nobre de São Paulo, sua beleza perturbadora se apresenta envolvida por um minivestido colado de látex preto, corset, botas de salto alto e cabelos ruivos soltos sobre a borracha. Ao fundo, porém, a cena guarda um ruído, que compete com o jazz que sai pelo aparelho de som: no canto oposto da sala, um homem com uniforme de doméstica, meias finas, sapato estilo scarpin, camisa de força de couro preto e máscara cobrindo totalmente a cabeça permanece encolhido no chão. Em uma pequena mesa, chicotes de diferentes formatos, palmatórias, coleiras, algemas e máscaras deixam o ambiente mais surreal. A voz rouca de Billie Holiday é interrompida pela anfitriã: “Esta é Amanda, minha ‘sissy’. Ela vem para me servir, limpar e arrumar minha casa sempre que preciso. Ela cuida de mim. Diga oi, Amanda!” Mas “Amanda” não pode se mexer. Sob a mordaça, tampouco falar. “Ela estava um pouco agitada, ansiosa, então a deixei quietinha ali no canto” explica Dommenique, a dominatrix. A “sissy”, por sua vez, é Paulo, advogado de 38 anos, divorciado e pai de dois filhos, que, há três meses, é “escravo doméstico” de Dommenique. Suas atribuições: lavar a louça, arrumar a casa, limpar os saltos dos sapatos de sua “dona” com a língua, passar óleo nas roupas de borracha e “tudo mais que a minha rainha quiser”. Após libertar o escravo, a soberana ordena que ele lamba o salto de sua bota, sirva-lhe champanhe, ande de quatro e se posicione de pé, com os braços sobre o batente da porta, para um castigo com o chicote. Ao contrário de suas ações, as palavras de Dommenique são doces e animadoras. “Como ela é minha sissy, não uso humilhação verbal. Ela só é castigada quando merece. Mas quase sempre é uma boa menina” explica a moça, dando um tapinha na máscara de borracha de Amanda, ajoelhada a seus pés. Paulo e Dommenique são os dois lados de uma moeda que corre silenciosa no mundo dos fetiches sexuais menos ortodoxos: o BDSM (bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo, masoquismo), que se baseia na imposição do dominador (sádico) sobre o escravo (masoquista). O termo sadomasoquista nasceu da junção do nome de dois escritores do século 19: Marquês de Sade, francês cujo principal livro é Os cento e vinte dias de Sodoma, e Leopold von Sacher-Masoch, austríaco que escreveu A Vênus das peles, em 1870. Enquanto Sade fa-
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lava sobre os fetiches dominadores, Masoch pregava o amor submisso, sofredor e passivo. Há quem diga, porém, que o sadomasoquismo tem muito mais de 200 anos e seria parte da natureza humana. Citam o fato histórico de que, na Grécia antiga e em Roma, escravos sexuais eram objeto de livre comércio. Seja qual for seu berço, o sadomasoquismo é hoje uma prática estabelecida entre quatro paredes e inclusive conta com clubes e confrarias de seguidores. Também alimenta vasta literatura, principalmente na internet. Ainda assim, segue sendo tratado como comportamento complexo, misterioso e rodeado por tabus.
O emaranhado moral conta ainda com inúmeras vertentes e variações, fetiches e subfetiches, que vão desde os famosos spanking (surra), podolatria (adoração dos pés) e bondage (amarração) até os mais incomuns, como dogplay (fazer o escravo de cachorro com máscara e tudo), feminização (vestir o escravo de mulher com salto, roupa, peruca) e inversão de papéis. Isso sem falar nas práticas escatológicas (que envolvem fluidos corporais).
Mas, seja qual for a linha seguida, todas prezam pela sigla SSC: são, seguro e consensual. Em um dos sites mais completos a respeito do tema, o gasmask.wordpress, o autor, que tem fetiche por máscaras de gás, explica que tudo é possível no BDSM, desde que se siga a regra da sigla SSC. “Qualquer ação que não tenha
PAULO É ESCRAVO DOMÉSTICO DE DOMMENIQUE, PARA QUEM DEVE OBEDIÊNCIA E UMA SÉRIE DE OBRIGAÇÕES, COMO LIMPAR A CASA, LAVAR A LOUÇA E LHE SERVIR CHAMPANHE. DETALHE: ELE PAGA POR ISSO
esses três elementos não é BDSM, é violência doméstica.” Citando um praticante de nome Mestre Jot@SM, diz: “BDSM sem liturgia é somente sexo com porrada.” Para que os limites de cada um não sejam ultrapassados, dizem os iniciados, existe sempre uma palavra de segurança acordada entre as partes, que deve ser usada quando o escravo quer parar a brincadeira porque a dor está um tanto além do suportável. “Passei muito tempo procurando uma rainha com o conhecimento e a cultura dela. Quando sou chamado, paro na hora o que estou fazendo e venho. Tenho a sorte de ter flexibilidade no meu trabalho”, explica o advogado Paulo. Ele é um exemplar de homem adepto do BDSM que, ao encontrar sua rainha perfeita, paga tributos das mais variadas formas (em dinheiro, em recarga de celular, limpando e arrumando a casa, servindo de motorista) para ser dominado, amarrado, vestido de mulher e maltratado. Mas a regra é clara: na maioria das vezes não há sexo envolvido. “Dominadora não é garota de programa”, explica Dommenique. “Nós
fazemos dominação física e psicológica e, inclusive, existe uma liturgia de que, para a mulher dominar o homem, ela tem que denegrir seu pênis. Mas, para mim, isso não é regra. Vou de acordo com meu prazer do momento. Se eu quiser usar o escravo como objeto sexual, vou fazer.”
A mulher conta que faz dominação profissional há pouco mais de três anos, mas está envolvida com o assunto desde muito antes. “Já na adolescência eu comecei a testar meus namorados. Queria saber os limites, até onde me deixavam ir. Eu sou sádica e fetichista. Gosto de brinquedos, roupas de látex e também de ver as reações do corpo quando exposto à dor. Ver um homem se contorcer depois de uma chicotada me deixa extremamente excitada”, diz. O fetiche, também por razões financeiras, não é para qualquer um: a sessão de uma hora com uma verdadeira “domme” chega a custar R$ 1.500, dependendo das preferências do freguês. Nos sites das moças há tudo detalhado: as práticas que elas fazem ou não fazem, as preferidas – umas gostam mais de fetiches, como roupas de látex e máscaras, outras gostam mais de humilhação física e verbal, spanking, etc. –, como os novatos devem tratá-las, os presentes que mais gostam de ganhar e as condições para se tornar um escravo. “Não atendo homens com menos de 30 anos porque dificilmente eles têm padrão financeiro e cultural para manter um relacionamento com uma rainha”, diz Gold, gaúcha como Dommenique, que pratica dominação profissional há cerca de dois anos. E, continua ela, mesmo quem pode pagar tem de passar por uma peneira feita por meio de um questionário por e-mail e contatos telefônicos prévios. “Meu reino, minhas regras”, diz a dominadora. “Se o cara tem voz de taradão, nem continuo a conversa.” Seu escravo, José, um taxista de 40 anos, diz que exercita o fetiche há oito anos e nem pensa em ter um relacionamento “baunilha” – apelido dado pelos adeptos de BDSM para namoros e casamentos convencionais. De sunga e máscara de cachorro, José conta que usa cinto de castidade quando sua “dona” manda e jura que é escravo de uma rainha só: “Mas tem muito escravo por aí que serve a várias rainhas e elas nem sabem…”, fofoca ele, para valorizar sua fidelidade. José acredita que o mundo se divide em submissos e dominadores. Jura que pode classificar pessoas na rua apenas olhando o modo como andam, falam e se
GOLD E SEU ESCRAVO JOSÉ EM AÇÃO: FIDELIDADE A UM ESTILO DE VIDA QUE É O OPOSTO DO QUE CHAMAM DE “RELACIONAMENTOS BAUNILHAS”, COMO CASAMENTOS E NAMOROS CONVENCIONAIS
“NÃO ATENDO
HOMENS COM MENOS DE 30 ANOS.
MEU REINO,
MINHAS REGRAS”, DIZ GOLD, DOMINADORA HÁ DOIS ANOS
COLEIRA, JAULA, CERA QUENTE E PORRETE FAZEM PARTE DO ARSENAL DE NARCISA PARA REALIZAR UMA SESSÃO COM UM DE SEUS ESCRAVOS
comportam. “Adoro provocar mulheres dominadoras até tirá-las do sério, só para merecer castigo. Sou submisso masoquista.” Na sessão com Gold, o taxista foi amarrado dentro do armário, serviu de banco, capacho e apanhou a valer. Durante o processo, gemeu, pediu perdão e misericórdia, mas, brioso, não disse a palavra de segurança. “Não troco isso por nada”, disse ele, realizado depois da sessão. No BDSM, as rainhas podem ter quantos escravos pontuais ou fiéis quiserem. Podem, inclusive, ser casadas e viver uma “vida baunilha”, como é o caso da paulista Narcisa, 30 anos. Mãe de um menino de três anos, ela é casada com um homem que não gosta de ser dominado e não participa do “passatempo”. Por outro lado, ele diz não se incomodar com os escravos de sua esposa. “Eu conheço alguns deles, às vezes a gente sai para tomar uma cerveja, jogar futebol”, diz o marido. As dominatrix contam que o perfil dos homens que as procuram é quase sempre o mesmo: 40 anos de idade, casados e donos de cargos de chefia em empresas. “São homens poderosos, que mandam em muita gente, geralmente odiados por seus funcionários”, define Dommenique. “Eles sabem que são odiados e precisam externar a culpa, querem uma contrapartida física rápida e pragmática. Procuram uma psicóloga, uma mãe de santo ou uma dominadora”, filosofa. Para ela, os escravos não abrem os fetiches para as esposas porque precisam de um relacionamento novo e diferente para se soltar. Seu escravo, o advogado Paulo, diz que até tentou levar a ex-mulher para festas BDSM, mas ela não aceitou. “O preconceito ainda é muito grande. Ninguém sabe desse lado B da minha vida, nenhum amigo ou familiar. Mas acho que isso vai durar pouco. Os valores vão mudando ao longo dos anos”, aposta o advogado. Narcisa acompanha a evolução do BDSM no Brasil e jura que o movimento está crescendo. Mas ressalva que as práticas ainda são vistas como algo underground: “As pessoas associam BDSM à violência, obscuridade, obscenidade. Apesar de toda a preocupação dos adeptos mais engajados em tentar acabar com esse estereótipo, o que normalmente
Agradecimentos make Rita Fraga, Jacques Janine Juquehy. Av. Mãe Bernarda, 3.221. (12) 3863-1749 Motel Magnata: Av. Ricardo Jafet, no 2.526 . (11) 5574-0653
aparece é o lado “freak show”, vinculado à bizarrice, ao escatológico e à insanidade. E, por medo de serem estigmatizados, os sadomasoquistas se retraem e se escondem para vivenciar seus prazeres, aumentando ainda mais a noção pejorativa do submundo fetichista e, por tabela, alimentando o preconceito alheio. Para a terapeuta sexual Raquel Penteado, especialista em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, as práticas são saudáveis enquanto não se tornem fixação: “O que difere o normal de uma patologia é a fixação. Se a pessoa só tem prazer nas relações sadomasoquistas, algo pode estar errado.” A especialista concorda com Dommenique: “Quem gosta de ser humilhado quer se livrar de alguma culpa, a submissão está relacionada a isso. Já o sádico projeta a própria culpa no outro para puni-lo.” A internet, claro, é terreno fértil para centenas de blogs e sites brasileiros direcionados ao público BDSM. As páginas ensinam e discutem as práticas e esclarecem a chamada liturgia, que remete a antigos rituais religiosos. Os mais comuns são diários de escravos dedicados a suas donas e sites de dominadoras (e alguns poucos dominadores) profissionais. Para quem se animou, “Amanda”, a sissy de Dommenique, dá a dica: “Primeiro pesquise bastante a respeito, vi-
site sites europeus, descubra como uma rainha deve se portar e depois escolha a sua. Então se esforce para ser escolhido por ela. Cuidado com as falsárias. Se está procurando apenas sexo com tapinhas, sinto muito, mas este provavelmente não é seu mundo.”
VA I E N C A R A R ?
por Paul Refsdal
NAS MÃOS DO TALEBAN SEQUESTRADO POR GUERRILHEIROS MERCENÁRIOS, DOCUMENTARISTA NORUEGUÊS QUASE ACABA DEGOLADO PELA AL-QAEDA E TEVE DE SE CONVERTER AO ISLAMISMO PARA CONSEGUIR ESCAPAR COM VIDA DAS MONTANHAS DO AFEGANISTÃO
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militantes taleban entRinCheiRados nas montanhas do afeganistÃo
Trabalhar em zonas de conflito é a especialidade do documentarista Paul Refsdal, nascido há 48 anos na Noruega. Desde 1984 Refsdal cobre insurreições populares, revoluções e guerras em todos os cantos do mundo. Esteve no Afeganistão com os mujahedin durante o conflito com os soviéticos, passou por Birmânia, Filipinas, Nicarágua, Peru, diversos países do Oriente Médio e dos Bálcãs, Chechênia e Iraque, entre outras zonas deflagradas. Seus trabalhos vêm sendo veiculados nas principais mídias norueguesas e estrangeiras, como a rede CNN. É o caso de seu mais recente documentário “Taliban Behind the Masks”, lançado no ano passado. Foi durante as filmagens desse projeto, em novembro de 2009, que Refsdal se viu abruptamente transformado em refém de um grupo taleban entrincheirado nas montanhas do Afeganistão. O sequestro durou seis dias. As razões de sua libertação ainda não estão totalmente claras, mas Refsdal acredita que a pressão política sobre o Taleban por parte dos governos afegão e norueguês, seus contatos na rede de TV Al-Jazeera e sua conversão ao Islã durante o cativeiro tiveram papel fundamental no desfecho positivo. Refsdal afirma que hoje é um muçulmano praticante. O texto das páginas seguintes – que narra seu drama nas mãos do Taleban – resume alguns dos principais trechos do último capítulo de seu livro “The Guerilla Reporter”, lançado no final do ano passado. A maioria das imagens que o acompanham, por sua vez, foram capturadas do documentário e cedidas à STATUS com exclusividade por Refsdal. foto stRingeR/ReuteRs/latinstoCK
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foto stRingeR/ReuteRs/latinstoCK
os gueRRilheiRos que paul Refsdal enContRou nas montanhas afegÃs lutando ContRa o eXéRCito noRte-ameRiCano – o que Continuam faZendo até os dias de hoJe – ReVelaRam diVeRsas faCes: a de homens lutando poR sua teRRa, a de fundamentalistas obedientes aos mandamentos do islà e a de CRuéis meRCenÁRios desespeRados paRa fugiR da miséRia
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E m m E a d o s d o s a n o s 1 9 8 0 , no afeganistão, aprendi rapidamente que a guerrilha não era o grupo de heróis valentes e altruístas que a mídia ocidental retratava. Agora estou de volta nesta terra árida para filmar uma guerrilha que, de acordo com a mesma mídia, é um bando de fanáticos perversos. minha intuição e experiência indicam que tampouco o Taleban é da forma como o ocidente o retrata. mas não tenho ainda certeza. suspeito que não sou só eu que mudei nos últimos 25 anos. (...) o tempo passa devagar em Cabul e considero voltar para casa até ouvir notícias de dawran (nota da edição: comandante do grupo Taleban que havia hospedado Refsdal semanas antes. o trabalho tivera que ser interrompido por conta de combates com tropas americanas, mas dawran lhe prometera uma nova incursão no território Taleban). mas, apesar do tédio, devo reconhecer que foi mais fácil do que pensava lidar com o Taleban. dawran pertence a uma escola antiga que preza o código de honra acima de tudo. omar (ne: o segundo chefe do grupo liderado por dawran), por outro lado, parece mais impulsivo, mais jovial. Falo frequentemente com ele pelo telefone, e tudo parece sem problemas. Ele repete que posso viajar para a sua região quando eu quiser. decido aceitar sua proposta. depois de um mês inteiro esperando em um quarto de hotel em Cabul sem ouvir uma palavra de Dawran, finalmente terei a chance de conseguir as filmagens que ainda faltam. O plano agora é filmar
com Omar por duas semanas e pedir aos mujahedin que me escoltem pela estrada de asfalto até o vale de Pech, região onde mora Dawran. Uma semana com ele e provavelmente terei material suficiente para o documentário. (...)
o que me preocupa é que sheraz, meu novo intérprete, trabalhou há alguns anos nas tropas do governo afegão. Ligo para omar e digo que tenho cá minhas dúvidas sobre sheraz, mas ele diz para eu não me preocupar, apenas vir para o vale de Watapur com qualquer intérprete. assim que saímos da estrada de asfalto e entramos no vale de Watapur, entendo por que omar sugeriu que alugássemos uma picape. o carro anda primeiro por um leito de rio seco, e continua vale adentro por uma estrada que não é mais que uma trilha. Passamos por uma aldeia. sei mais ou menos onde estamos, graças à internet no hotel e várias horas sentado em frente ao Google Earth. assim que viramos uma esquina, vejo um jovem com barba e casaco camuflado limpo, quase branco. Reconheço-o da minha última estadia com dawran. o homem é guerrilheiro e quari, alguém que sabe o Alcorão de cor e salteado. Estamos dentro. Quando o homem vê o carro, ele se vira e caminha pela estrada. seguimos atrás. Fora da aldeia, encontramos omar com um grupo de mujahedin esperando. omar se senta na frente com sheraz e o motorista. Ele parece tenso. a picape arreia cada vez que um guerrilheiro sobe na caçamba com cartucheiras e armas. saindo da aldeia, depois de cruzar um pequeno rio no fundo do vale, começamos a subir do outro lado. A picape não aguenta, as rodas começam a girar em falso. O motorista tenta subir a ladeira, sem sucesso. Omar pede a todos que desçam. Duas meninas no alto da ladeira olham, curiosas. – Cubra o seu rosto – diz sheraz. – omar está mandando. (...) depois do café da manhã e do chá-verde, omar explica algo a sheraz. – Ele diz que devemos ir para uma outra casa porque eles terão shura, uma reunião de conselho. Você pode deixar suas coisas aqui. deixo a mochila e a bolsa com as câmeras em um canto para que ninguém a use como banco. – não se preocupe – diz sheraz. – suas coisas estão seguras aqui. Cem metros abaixo da encosta fica a casa onde Sheraz e eu devemos esperar durante a shura. (...) Pergunto a sheraz qual a impressão que ele tem de omar e seu grupo. – são bons homens – diz. – Eles dizem que jamais atacam as tropas afegãs, apenas os americanos. Continuamos conversando até que a porta se abre. o homem magro com apenas quatro dentes, que se chama spingar, entra com um mujahedin. ambos se sentam ao
fotos Paul Refsdal
“Começo a pensar nos meus
três filhos. Como eles vão superar o
trauma
se eu desapareCer no meio das montanhas do afeganistão?”
Refsdal no meio dos talebans, ainda sem sabeR que de hóspede passaRia a Refém dos gueRRilheiRos
diante da ameaÇa de seR entRegue À al-qaeda ou a outRo gRupo de meRCenÁRios, o doCumentaRista apelou a seus tRabalhos anteRioRes ao lado de gueRRilheiRos muÇulmanos em diVeRsos paÍses. nÃo adiantou. ele teVe de se ConVeRteR ao islamismo paRa nÃo teR a CabeÇa CoRtada
“ele diZ Que
odeia
estrangeiros. Cada veZ Que vê um, tem vontade de
foto ReuteRs/Wahdat
lado de sheraz. spingar começa a falar. Pelo rosto de sheraz vejo que são más notícias. – Ele diz que receberam informação do outro lado do vale de Pech de que você é um espião, e que você filmou as casas dos mujahedin para que os americanos depois viessem bombardeá-las. as palavras me soam como um murro na cara. Já vinha receando esse tipo de acusação a todo tempo, mas não aqui. não enquanto estou com os guerrilheiros de omar. meu amigo omar. Fico totalmente surpreendido por alguns segundos, sem dizer uma palavra. depois passo a repetir toda a ladainha novamente para mostrar as evidências de que não sou espião. sou um jornalista, um bom amigo dos mujahedin, e tenho grande respeito pelo Islã. Falo de todas as guerras que já cobri do lado dos muçulmanos, e mostro a carta de recomendação do Conselho Islâmico de oslo. Entrego a spingar uma lista com o nome de pessoas que podem dar boas referências sobre a minha pessoa, desde líderes guerrilheiros na Chechênia até correspondentes da TV al-Jazeera. (...)
Sou acusado de espionagem, e isso é coisa séria. O projeto de documentário em que tenho trabalhado tanto desmorona como um castelo de cartas. Mas tenho preocupações mais sérias. Sei como acabam os espiões no Taleban, apenas os sortudos são mortos a tiro. A maioria é filmada enquanto cortam suas gargantas. (...)
de repente, a porta se abre e spingar entra no quarto novamente. não da forma educada, com uma saudação a todos os presentes. Ele vai direto a sheraz, senta-se ao seu lado na cama e começa a falar. o rosto de sheraz se transforma em pequenas caretas. as notícias absolutamente não são boas. – Ele diz que pertence à al-Qaeda. Um mujahedin vai nos levar para a base deles, e lá seremos executados à faca. spingar faz caretas como um animal agressivo, e continua a falar. – Ele diz que, quando nos viu ontem, teve vontade de nos matar já dentro do carro – traduz sheraz. – Ele diz que odeia estrangeiros. Cada vez que vê um, tem vontade de comer a sua carne. Começo a pensar nos meus três filhos. Como eles vão superar o trauma se eu desaparecer no meio das montanhas do afeganistão? Enterrado em um buraco perto de uma base da al-Qaeda no meio do vale de Watapur. ninguém saberá se estou vivo ou não.
Comer a sua Carne” aprumo-me e tento partir para a ofensiva. se quiser sobreviver, não posso entrar em pânico. – o que diz as regras do Taleban sobre o tratamento de espiões? – pergunto, já sabendo a resposta certa. – Que serão mortos! – não; primeiro devem ser julgados por um juiz-sharia, por um quazi. E é preciso ter evidências. E os espiões serão mortos a tiro, não degolados; e é proibido filmar. Pela primeira vez Spingar fica quieto, por alguns segundos. Retomo a minha autoconfiança, sinto que estou prestes a tomar o controle da situação. Ele tem uma kalasjnikov, mas eu sou mais forte psiquicamente. É como uma partida de xadrez, digo para mim mesmo, e o mais forte de nós vencerá. depois de pensar, spingar diz algo a sheraz. – Ele diz que os americanos mantêm vários irmãos presos na base de Bagram. sei como isso vai terminar, e interrompo sheraz. – os americanos jamais farão algo para salvar um jornalista que anda com o Taleban. Você quer agradar aos americanos? – não – traduz sheraz a resposta de spingar. – se o Taleban matar um jornalista, os americanos ficarão felizes. Aí poderão dizer que ele veio ao Taleban como amigo e que eles o mataram. spingar muda de assunto de novo. – Ele pergunta se a noruega tem soldados no afeganistão. – Cerca de 500, em meymaneh. – Ele diz que apenas um soldado custa um bocado de dinheiro por ano. a noruega pode pagar o
foto ReuteRs/ReuteRs tV
equivalente ao que custa para manter um soldado no afeganistão por um ano, para liberar você. não sabia que eu tinha um trunfo tão bom nas mãos. agora o canalha se revelou. Toda essa conversa de espionagem e degolamento era apenas para me intimidar. É dinheiro que ele quer. ocorre-me um plano de imediato. – sou um jornalista que anda com os inimigos da noruega – digo de forma didática. – as autoridades norueguesas jamais pagarão por mim. as autoridades norueguesas me odeiam. – mas a faca gosta de você – responde spingar, com tom agressivo. sinto-me tão seguro que tenho vontade de responder na mesma moeda, mas seguro a minha onda. Estou prestes a vencer a partida de xadrez, seria pouco tático provocar agora. spingar e sheraz se levantam e discutem. Falam sobre dinheiro. – Ele diz que você deve ligar para a sua embaixada e dizer que eles devem pagar Us$ 500 mil. – Eles jamais vão pagar isso. – Ele diz que então você será executado. – Eles não vão pagar. E, se eles nos matarem, os americanos vão ficar felizes – repito. – Ele pergunta quanto eles podem pagar. Num primeiro momento tenho vontade de dizer US$ 100 mil, mas penso que é melhor ficar quieto. Não dê aos sequestradores uma quantia sobre a qual eles se fixem. Simplesmente continue se fazendo de bobo.(...) Ligo para Morten, o oficial de segurança da embaixada. Já havia estado em contato com ele antes da minha viagem. mantenho boa relação com a embaixada em Cabul, na verdade melhor do que qualquer outra autoridade norueguesa fora do país desde que comecei a andar com movimentos guerrilheiros há 25 anos. – alô. aqui é Paul Refsdal. – alô. Como vai? – responde morten normalmente. Reluto em responder, demoro um segundo a mais do que normalmente demoraria em uma conversa normal ao telefone. – Infelizmente, tenho más notícias – começo. – Fui sequestrado. Eles estão ameaçando cortar a minha cabeça e a de meu intérprete, se não receberem Us$ 500 mil. fotos Paul Refsdal
– Hã? morten se recupera do choque e pergunta onde eu estou. – no vale de Watapur. – E quem são os sequestradores? – o que me ameaça diz que é da al-Qaeda, mas é um tal comandante omar do Taleban que lidera o grupo. – Ele diz que você não deve mencionar nomes! – me diz sheraz. – mas eu preciso dizer o que está acontecendo e discutir com a embaixada como vou conseguir o dinheiro. spingar se acalma, e continuo explicando a morten quem são os sequestradores. Procuro dizer o nome de spingar mediante códigos, sem que ele entenda que é dele que falamos. não adianta muito, já que logo depois ele diz algo a sheraz e toma o telefone de minhas mãos. – Ele diz que é para desligar agora. (...) mais um homem entra no quarto. Ele tem roupas verdes, cartucheira e walkie-talkie. o cabelo e a barba são escuros e grossos. apesar de parecer um mujahedin, ele parece amigável. Talvez por causa do tom de voz quando ele começa a conversar com sheraz.
foto stRingeR/ReuteRs/latinstoCK
“a al-Qaeda
não preCisa de dinheiro, apenas de propaganda. na
prÁtiCa,
signifiCa montar uma CÂmera, ler uma deClaração e Cortar a garganta do refÉm”
a aCusaÇÃo de espionagem logo se ReVelou apenas um sequestRo motiVado pela ReCompensa finanCeiRa. a pRessÃo polÍtiCa paRa que Refsdal fosse libeRtado, entRetanto, aCabou leVando o plano taleban ao fRaCasso
Percebo que Sheraz fica ansioso. – Ele diz que o grupo de omar nos dá três alternativas. Troca por prisioneiros, resgate ou conversão – explica sheraz, antes de mencionar a quarta: degolamento. Fico surpreso. Conversão ao islamismo é um novo elemento. sheraz me explica todas as vantagens de se tornar muçulmano. – no céu as mulheres são tão bonitas que são transparentes – vangloria-se. – Lá, há grandes jardins, boa comida e vinho. – Vinho? – na terra é pecado, mas no céu é oK – explica. não aguento ouvir a ladainha sobre as vantages dos membros do clube, e me volto aos meus pensamentos. Se eu me converter, todos dirão que foi apenas para me livrar. Por outro lado, a história do Islã é cheia de exemplos de conversão literalmente bem antes de a espada cair sobre a cabeça. outro problema é que, se eu escolho me converter, os canalhas do omar e spingar ficarão com os louros de terem salvo mais uma alma. – shamsudin (ne: um dos vigias do cativeiro) diz que, se você se converter, eles nos libertam. – diga a ele que eu aceito – digo depois de pensar. – Ele pode dizer isso aos mujahedin. (...) a manhã seguinte é fria, típica de novembro. mas não é o inverno chegando que me preocupa, é a insegurança da situação. ontem omar disse que estávamos livres, mas continuamos sentados aqui na mesma casa, cercados de seus guerrilheiros. os sinais são tão ambíguos. ao mesmo tempo, não consigo ligar para a embaixada. omar planeja seu próximo passo, e eu não sei o que será. minhas suspeitas sobre omar se confirmam quando um mujahedin aparece e diz que devemos ir para a casa mais abaixo novamente. A mochila e a bolsa da câmera devem ficar. A ausência de Omar e spingar indica que eles planejam algo que não devemos ouvir. (...) spingar entra no quarto com um lenço na cabeça. senta-se no chão e conversa com sheraz como se fossem velhos amigos. o preço ainda é Us$ 20 mil. dawran está informado da situação, e o fato de ter me convertido ao islamismo não mudou nada. os bandidos ainda são bandidos. spingar me dá o telefone para que eu ligue para a embaixada. – alô. aqui é Paul Refsdal. – Um minuto, vou transferi-lo. meu nome já é conhecido na embaixada a esta altura. sou transferido a um homem, talvez o mesmo com quem tinha falado no dia anterior. Ele pergunta sobre meu estado psicológico, mas entende rapidamente que não é por isso que estou ligando. Falamos sobre onde estou exatamente. ouvindo a conversa dos guerrilheiros na noite anterior, sheraz descobrira que o nome da aldeia é Karong. sei que spingar está ouvindo, e tento dizer de uma forma que a pessoa do outro lado da linha entenda. (...) ao devolver o telefone a spingar, peço a sheraz que explique como é complicado enviar dinheiro da noruega para o afeganistão.
e ocupação. Não importa quem sou eu, nem o que estou fazendo aqui. Não importa que tenha me convertido. Sou alto e branco. É tudo que se precisa saber.
foto stRingeR/ReuteRs/latinstoCK
– minha velha mãe, de 73 anos, precisa ir até o banco pessoalmente para dar uma garantia pelo dinheiro – digo. na verdade, ela dirige um Toyota Rav4, mas spingar não precisa saber desse detalhe. Quando Spingar finalmente vai embora, Sheraz conta sobre o que eles dois falavam durante a última hora. – Ele e omar querem enganar seus próprios mujahedin. Eles querem o dinheiro em dois envelopes com Us$ 10 mil em cada. o primeiro envelope será dividido entre todo o grupo. o segundo apenas entre os dois. ninguém mais deve saber de nada – conta sheraz com um sorriso. – Conversei longamente com ele – continua. – Tentei convencê-lo a pegar todo o dinheiro para ele e cair fora. Perfeito. Colocar omar e spingar um contra o outro é uma ótima ideia. se spingar pega os 20 mil e foge para o Paquistão, Omar fica sentado chupando o dedo. Pagaria os 20 mil só para poder ver a sua cara quando ele provar do próprio veneno, canalha. mas ainda não perdi todas as esperanças de ser libertado sem precisar pagar o resgate. (...) nosso quinto dia em cativeiro começa como os dias anteriores. depois do café da manhã, spingar chega e nos saúda. senta-se no chão e conversa com sheraz. spingar continua a falar, embora sheraz se volte para mim. – Ele diz que omar recebeu uma proposta de Us$ 50 mil por nós, de um outro grupo. outra surpresa. da última vez que estive no Iraque, era comum que grupos amadores vendessem reféns para outros grupos. o preço era também algo em torno de Us$ 50 mil. os que compravam os reféns exigiam por sua vez milhões de dólares. se não fosse a própria al-Qaeda. a al-Qaeda não precisa de dinheiro, apenas de propaganda. na prática, significa montar uma câmera, ler uma declaração e cortar a garganta do refém. – spingar e omar discutiram – continua sheraz. – omar quer nos vender por Us$ 50 mil, enquanto spingar continua satisfeito com os Us$ 20 mil. (...) depois que spingar sai, shamsudin se aproxima de sheraz e fala com ele em voz baixa, quase sussurrando. Reconheço mais uma vez pela expressão de sheraz que são más notícias. – Ele está escutando tudo em seu walkie-talkie – começa sheraz. olho instintivamente para o walkie-talkie no bolso de shamsudin. o mesmo tipo que os mujahedin usam. – a al-Qaeda do outro lado do vale está nos procurando. Eles falam com outros grupos pelo walkie-talkie e estão perguntando quem está com o canadense e o intérprete. A voz de Sheraz se afina. – Eles dizem que quando eles pegarem o canadense e o intérprete, estes serão julgados e terão suas gargantas cortadas no id, você sabe, na noite de natal, dentro de duas semanas. E todo o povo de Kunar virá para assistir.
Sinto um aperto na barriga. A Al-Qaeda, fanáticos que odeiam todos do Ocidente, quer me pegar. Imagino como serei arrastado por uma horda de árabes triunfantes que finalmente terão sua vingança por anos de humilhação fotos Paul Refsdal
Sinto que fico realmente com medo. A situação está prestes a sair de controle. não há nada que eu possa fazer, e embora sinta que tenha uma certa influência psicológica sobre Omar e Spingar, isso não ajudará em nada quando a al-Qaeda chegar. de agora em diante são as coincidências que serão decisivas. se apenas uma das patrulhas da al-Qaeda ouvir uma única dica, estamos perdidos. (...) spingar parece tenso e diz que precisamos ir imediatamente. não entendo a pressa repentina, mas amarro minhas botas e visto minhas roupas com as únicas coisas que tenho agora: escova de dente, passaporte, cartão Visa, fotos das crianças, um chip e um caderno de notas. (...) Quando chegáramos havia seis dias, havíamos caminhado desde o fundo do vale montanha acima. agora seguimos a trilha ao longo do topo da montanha. spingar estanca e diz algo. – Cubra o seu rosto – traduz sheraz. Um mujahedin enrola a minha echarpe em volta da minha cabeça de forma que apenas os meus olhos aparecem. spingar me dá sua kalasjnikov. Fico um pouco surpreso, mas pego a arma e a penduro no meu ombro. (...) descendo a encosta em meio a blocos de pedra gigante, sinto que a exaustão dos primeiros dias está de volta. Começa a escurecer. spingar alterna freneticamente entre o walkie-talkie e o celular. Caminho exausto atrás de dois mujahedin que conversam. depois de uma curva avisto algo branco na estrada. Uma picape com as luzes apagadas. (...) sheraz e eu nos sentamos no banco de trás. Entre nós senta-se um homem grande de barba espessa. os dois outros homens se sentam no banco da frente. a serra termina, e a picape entra em uma região iluminada por fortes lâmpadas halógenas. Paramos. Um policial se aproxima. se os homens no carro fossem soldados do Taleban, o policial não levantaria um dedo. assim sobrevivem os policiais no vale de Pech. (...) no cruzamento seguinte a picape segue sentido asadabad. agora não tenho mais dúvidas. agora sei que estou livre. Estou totalmente esgotado e com sede, mas aliviado. o sequestro acabou. assim que chegarmos à cidade, primeiro vou beber água, muita água. depois vou achar um lugar para dormir. amanhã, já preciso começar a arrumar esta bagunça.
internacional
por Fabrícia Peixoto
estilo e tecnologia de ponta são as armas dos designers que criam os uniformes do exército americano O z u m - z u m d a s m á q u i n a s de costura, as linhas pelo chão, os rolos de tecido e os rabiscos sobre a mesa de madeira dão aquela impressão de se estar num ateliê de nova York ou milão. mas basta olhar uma segunda vez para ver que o cenário não é bem esse. alguns passos à frente, um manequim recebe jatos de fogo dentro de uma estrutura de vidro, e ainda assim sua roupa sai praticamente intacta. num canto estão armas pesadas, capacetes e coletes à prova de balas. Definitivamente, esse não é um estúdio de moda comum. Trata-se de uma das salas do Grupo de design, Padrões e Protótipos (dPPT, na sigla em inglês) do exército americano – a maior força militar do planeta, com mais de 500 mil homens em serviço mundo afora. Todo esse contingente, mais os 380 mil empregados na Guarda nacional dos Eua, veste o que sai das cabeças e mãos dos estilistas do dPPT. isso inclui desde a escolha da estampa do uniforme até, por exemplo, a definição do material mais indicado para uma roupa antibomba.
outubro 2011
85
Engana-se quem imagina um ambiente frio e hostil neste centro militar da cidade de natick, em massachusetts. apesar da sigla um tanto ameaçadora, o dPPT é um centro de criação tocado por um simpático time de jovens designers, que estão mais para Project Runway do que exatamente para um centro militar. a começar pela chefe do grupo: loira, cabelos quase na cintura e batom de cor forte, Annette LaFleur é uma figura que, a princípio, parece estar no lugar errado. Formada em moda, vem de uma família de artesãos: a bisavó desenhava corpetes nos anos 30, a tia de sua mãe era costureira de vestidos de noiva, enquanto outros da família trabalhavam em fábricas de tecido. Durante a faculdade, pensava em desenhar biquínis, não coturnos e capacetes. não que a loira tenha alguma frustração por conta disso. “amo este lugar”, diz ela à Status. “Se depender de mim, não saio daqui”, completa a líder do time, numa fala que mistura satisfação profissional e um certo orgulho nacionalista. Logo em seguida, annette passa a listar alguns dos modelitos desenvolvidos por sua equipe. um deles tem um nome de arrepiar qualquer estilista: colete tático externo aprimorado, uma vestimenta à prova de balas que chega a pesar 15 quilos. Outra peça é o capacete avançado de combate, bem mais fino que seus antecessores e, que protege inclusive contra balas de rifle. Em casos como esses, o processo começa com uma conversa com os próprios militares, que apontam o que precisa ser criado ou melhorado. depois de inúmeros rascunhos, os designers passam a discutir o tema com o pessoal de pesquisa de materiais e com fornecedores, até que um protótipo ganha vida. a partir daí uma primeira leva de 50 a 100 peças é entregue aos soldados, para teste. depois de idas e vindas para ajustes, voilà: surge um novo acessório militar. mas nem sempre a coisa é assim tão complexa. Existem inúmeros detalhes que um soldado no afeganistão jamais iria perceber – e que ainda assim consomem dias de discussão no dPPT. Como recentemente, quando a equipe de annette decidiu reduzir drasticamente o uso de velcro nos uniformes e substituí-los por botões. Questão de estilo? Nada. O velcro é simplesmente escandaloso demais para uma tropa que precisa trabalhar em silêncio. sem contar o fato de que o carrapicho tende a ficar muito sujo em ambientes empoeirados, como no deserto. “Foi melhor mesmo voltarmos ao bom e velho botão”, conta annette. num estúdio de moda militar, o utilitarismo é o que fala mais alto. Tudo é pensado para facilitar (e até salvar) a vida de um oficial. Mas isso também não quer dizer que o soldado precise ser um sujeito mulambento. ao contrário: existe uma carga de imponência em torno de uniformes militares que não é ignorada pelo dPPT. “sabemos quanto o visual é importante. as roupas e os acessórios têm de ser bacanas, algo meio cool”, diz a chefe do grupo. não que annette e seu time estejam exatamente preocupados com as passarelas, mas o fato é que muita coisa pensada naquela sala em natick também acaba exercendo certa influência na moda de rua. Não é de hoje que estampas camufladas e coturnos fazem a cabeça de muita gente descolada. “Adoro observar como as pessoas interpretam o visual militar com um tom atraente e até sexy”, conta magdalena mulherin, uma das designers. aliás, a equipe vem trabalhando em um novo uniforme feminino, um pouco mais afeito ao corpo delas, com cintura elástica e um ajuste extra na altura dos seios, respeitando a anatomia das mulheres. marc Jacobs deve estar de orelha em pé.
fotos shutterstock | divulgação
annette lafleur e sua equipe de designers no centro militar de natick: a moda no exército tem que ser funcional, mas o soldado também quer ficar com um visual bacana
c o m p o r ta m e n t o
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outubro 2011
por Giselle Paulino
fotos Vitor Shalom
O s O m b O m b a no último volume em uma balada da rua augusta, em são Paulo. Ela caminha devagar em direção ao mastro no meio da pista, jogando o quadril de um lado para o outro. Usa shortinho pink de lantejoulas e top preto de telinha, mostrando todas as tatuagens espalhadas pelas costas. seu 1,80 m se transforma em quase 2 m quando coloca o salto de plataforma de acrílico. maruska (na foto, fazendo manobra em poste no centro de são Paulo), seu nome artístico, é mulher que não dá para esquecer. Loira, com rosto de boneca, corpo escultural e pernas quilométricas. sobe na barra, vira de ponta-cabeça e deixa todo mundo hipnotizado. Entre um giro e outro, rebola para o público, joga o cabelo e faz passos sensuais pelo chão. sensualidade no último grau.
“o meu negócio é o pole dance sensual. adoro as meninas que fazem como esporte. dou a maior força para o pole se tornar olímpico, mas eu gosto de dançar na noite. Gosto da energia das pessoas na pista. É isso que me move”, diz ela, que aprendeu a dança sozinha, aos 18 anos, na clássica love Story, casa noturna do centro de São paulo. “Ia com os amigos só para dançar. Passava a noite rodando naquelas barras. Cansei de bater com o sapato na cabeça de caras que se aproximavam. mas nunca foi de propósito. É que sou muito alta mesmo”, diverte-se. Hoje sua agenda é cheia de shows. Durante as baladas, recebe todos os tipos de cantada, mas afirma não se importar. “As pessoas se confundem. Não faço programa, mas lido bem com esse tipo de pergunta. Faz parte do meu trabalho”, explica. “mas tem homens que se assustam comigo. até já me perguntaram se eu era homem. achei muito engraçado.” De fato, com maruska não tem tempo ruim. Tira foto com um, manda beijo para outro. Ela sabe que é poderosa. “Tenho total noção de que sou bonita. Que mulher não gosta de ser valorizada?” Quando não está na pista, maruska ensina outras mulheres a serem sensuais como ela em aulas de pole dance cheias de rebolados. Ela adora fazer a aluna se soltar e se achar bonita. “as mulheres estão muito enfiadas em suas rotinas, vivendo quase no automático”, acredita ela. “O meu trabalho é fazer com que elas redescubram o poder que têm. se precisar, tomamos até um vinho para relaxar.”
MarUSka, A SEDUTORA
EsportE, acrobacia, fitnEss ou sEdução: quatro lindas mulhErEs rEvElam por quE gostam tanto dE dançar ao rEdor do mastro
prazer, pole dancer
P o u c as P e s s oas i m ag i na m , mas o pole dance nasceu na Índia. com o nome de mallakhamb, era uma atividade praticada exclusivamente por homens. com o tempo, a dança chegou ao circo e às casas noturnas e, hoje, há quem a pratique como atividade física, esporte ou dança sensual, como a inesquecível stripper alice, vivida por Natalie Portman em “Closer”, filme de 2005. não importa. a verdade é que uma mulher dançando em volta de um mastro mexe, e muito, com a imaginação dos homens. Aqui, quatro mulheres de perfis diferentes contam por que gostam tanto dessa dança
confiou. Achava que poderia ser um curso de culinária exótica ou qualquer coisa do tipo, mas pole dance nunca lhe passou pela cabeça.” Um ano depois, umas amigas organizaram uma festa num local que tinha dois mastros de pole dance. Era a chance que Guta precisava para impressionar o namorado. Comprou num brechó uma roupa cheia de tiras de borracha de pneu, arrumou-se toda e foi para a festa com o namorado. Depois da apresentação de duas meninas, Guta subiu no palco e deu um show. “Fiquei imaginando o que ela iria fazer”, recorda simone. “Foi lindo, divertido, maravilhoso. senti todas as emoções juntas”, conta o felizardo. Tempos depois, em novas férias, os dois foram para a praia e encontraram outro cipó. “Dessa vez, consegui subir uns cinco metros”, comemora Guta.
D E s D E Q U E C H r I s Kopke abriu seu estúdio de pole dance, na vila madalena, em são Paulo, a região nunca mais foi a mesma. a morena de cabelos compridos e cacheados é charmosa e está sempre com aquele sorriso de mulher bem tratada. Quando passa, não tem quem não olhe. Esbanjando simpatia, antes de começar a primeira aula do dia, para quebrar o tabu, ela fala: “Gente, nunca fui stripper, nunca dancei em boate. Sou casada e tenho filha, mas sou apaixonada pelo pole dance.” Chris era do tipo que pagava a academia e nunca aparecia. Tentou de tudo: boxe, bicicleta, capoeira e dança de salão. “Quando vi o pole, fiquei maluca. saí da primeira aula completamente apaixonada e cheia de roxos na canela. Gostei tanto que na primeira semana comprei uma barra e instalei no meu apartamento.” hoje, ela tem quase 80 alunas
e divide seu tempo entre aulas e viagens ao exterior para aprender novas manobras e trazer novidades para o estúdio. a maioria das meninas, conta a instrutora, procura o pole dance pela ginástica e diversão. “a prática trabalha toda a musculatura do corpo, dá flexibilidade, além de ser um exercício aeróbico.” explica. “sem contar que mexe com a autoestima da mulher. Tenho alunas que sofrem grandes
Hair/Make Camila Adi | Produção executiva Michelle Kimura Assistentes de foto Pedro Roza e Natália Alana | Agradecimento Alê Toledo
GUTa, A NAMORADA
a F O T Ó G r a Fa G U Ta G a L L I , 28 anos, realizou várias tentativas frustradas de entrar numa academia de ginástica antes de descobrir o pole dance. seu interesse pela dança do postinho aumentou durante uma viagem com simone, seu namorado italiano. “Ele fez uma brincadeira comigo. subiu no cipó e depois perguntou se eu conseguiria fazer o mesmo. Tentei subir e não saí do lugar”, relembra. Então veio a revanche. Guta decidiu fazer pole dance escondida do namorado por um ano. a ideia era aprender tudo bem direitinho para lhe fazer uma surpresa. E assim foi. as aulas começaram na Itália. simone deixava a namorada na aula misteriosa, e ela o avisava para parar o carro sempre alguns quarteirões antes do endereço para manter o suspense. De volta ao brasil, continuou com o segredo. Duas vezes por semana, ela saía de casa sem dizer aonde ia. aprendeu a fazer os primeiros giros. Três meses depois, fazia inversões de pontacabeça. “Não tive tanta dificuldade em me soltar na dança. Pegar força é o mais difícil”, diz ela. “chegava em casa cheia de marcas roxas na perna, mas ele nunca des-
raFaela, A ATlETA chriS, A pROfESSORA
O Q U E vO C ê Fa r I a se sua filha de 24 anos lhe contasse que é pole dancer? Teria um ataque do coração? Não foi o que aconteceu quando rafaela montanaro avisou a família da sua nova carreira. “Meu namorado montou um
mastro no meio da sala do meu sítio no interior de São paulo”, conta rafaela. “Falei: ‘pai, vem ver o que eu sei fazer’. Subi no mastro e fiz várias manobras. Ele ficou abismado”, lembra. “Contei que ia competir.
transformações aqui. Emagrecem, começam a se arrumar e ficam mais bonitas.” O estúdio também atrai curiosos. No final do dia, quando o movimento das aulas aumenta, um grupinho de guardas de rua, flanelinhas e vigias da região se posiciona em um lugar estratégico da rua para ver pela janela o que acontece dentro do estúdio. Observam meninas de todas as idades e biótipos subindo, girando, dançando e até ficando de ponta-cabeça no mastro. Quando Chris sai na rua, geralmente ouve o galanteio “vem cá, mulher do mastro, eu te amo; meu amor por você é incondicional” da boca de algum desses engraçadinhos. Ela dá risada e segue seu caminho.
E ele falou que me dava todo o apoio!” Com a bênção dos pais e apenas quatro ou cinco meses de treino, rafaela se tornou uma das pole dancers mais conhecidas no mundo. Em 2009, levou o título de miss Pole Dance brasil. meses depois, conquistou o miss Pole Dance sulamericano, em buenos aires. No ano seguinte, foi a terceira colocada no campeonato mundial e conquistou o primeiro lugar no International Pole Fit Champion, em Tóquio. “O pole já é um esporte respeitado no mundo inteiro. Estamos lutando para que se torne uma modalidade olímpica”, explica. rafaela é do tipo que não para quieta. Já fez circo, jazz, balé e até salto com vara. Com 1,60 m, 60 quilos e apenas 16% de gordura, seu corpo é puro músculo. No mastro, a seis metros de altura, mostra que não está de brincadeira. a perfeição das manobras, a flexibilidade e a força impressionam. “As pessoas perguntam para o meu namorado se ele não sente ciúme. Ele responde que vive me acompanhando em campeonatos cheios de mulheres dançando só de shortinho. Diz que eu é que deveria ter ciúme dele.”
C A PA
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ANA LUIZA fotos
outubro 2011
Maurício Nahas
por Bruno Weis | edição Ariani Carneiro | styling Higor Vaz Alexandre | hair/make Max Weber/Maxweber tratamento de imagem Fujocka Photodesign
Jaqueta Angela Di Verbeno, biquĂni Blue Man, argolas Pedro Brando
O s O l h O s v e r d e s e a b O c a c a r n u d a de ana luiza castro são tão perigosos quanto os esportes que ela tantas vezes apresentou na tevê. ela é do tipo de dar vertigem. você se lembra dela na sporTv, na band, na MTv, no Multishow, na GnT – com seu jeitinho leve, sem freio, ana luiza percorreu esportes os mais radicais, navegou pela moda e pela música, soltou-se em temas de comportamento, enlouqueceu a rapaziada. sempre vencedora. vai muito além do rostinho bonito, quer dizer, lindo – ana luiza é jornalista de carteirinha e nunca deixa de fazer, o que nem sempre é de praxe da profissão, uma substanciosa lição de casa. É o caso agora do programa PokerStars, que ela apresenta no canal esPn, em sua segunda temporada. Antes, Ana Luiza não era aficionada, jamais chegou a ser, ela própria admite, uma jogadora de mão-cheia. agora conhece as regras do jogo e, mais do que as regras do jogo, as malícias dos jogadores. Podem apostar: ana luiza dá a maior sorte. Aos 32 anos, brasiliense de berço, a gata do pôquer não é de blefar. Curte sua atual fase solteira depois de muitos namoros e relacionamentos longos. “Resolvi ficar comigo mesma e estou superfeliz”, esbanja Ana. Afirma que não rola carência, mas que tampouco está completamente só. “É claro que posso me interessar por um cara. Se rolar, eu fico.” E, aos interessados, qual seria o segredo? “Não tem fórmula”, se esquiva. “Mas ele não pode ser ciumento, tem que ter leveza e ser divertido. Enfim, o cara tem que me emocionar!”
Biquini e short Blue Man, cinto acervo pessoal
cara de cigana, jeito de cigana. Mora em são Paulo, viaja pela américa latina e caribe a cada dois meses para gravar e, sempre que pode, visita o rio de Janeiro, onde cresceu e mantém grandes amizades. conta que o segredo de beleza é dormir bem e rir muito com as amigas. Tem praticado, mesmo em trânsito, sua vertente de ioga favorita, ashtanga. Gosta do resultado que o exercício intenso lhe dá: equilíbrio emocional e tônus muscular. Tem reparado que sua flexibilidade também vem aumentando. Mas quando está em casa, um loft no Paraíso, em são Paulo, onde voltou a morar este ano, gosta de ficar na dela, curtindo seu canto. Ali, sonha em segredo seus próximos passos de musa em constante movimento.
Top Calvin Klein, lingerie Rosa Chรก
Regata Mormaii, lingerie acervo pessoal, biquĂni Blue Man, botas Isabel Marant
Lingerie Forum Produção Executiva Michelle Kimura Cenografia Gueguela Baccari Assistente de Make/Hair Guilherme Casagrande Assistentes de Foto Rodrigo Westphal, Moreno Gonçalves e Daniel Omaki Agradecimentos Moto Harley Davidson Eduardo Veículos Antigos
C H AV E D E C A D E I A
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outubro 2011
ilustração Thais Ueda
A GATA (ME) COMEU
AS ARDIDAS LEMBRANÇAS DA TARDE EM QUE MARCOS* PENSARA QUE FINALMENTE IRIA PARA A CAMA COM A COLEGA DE FACULDADE DE SUA ESPOSA, UMA FRANCESA DE PRÁTICAS SEXUAIS NADA ORTODOXAS
Um dia Suzana, minha mulher, chega em casa e me apresenta Gisele, sua nova amiga francesa. Elas haviam se conhecido em uma aula de mestrado na faculdade. Gisele e seus longos cabelos negros, seu 1,83 m de altura e seu corpo de modelo faziam pós-doutorado em línguas latinas. E, como prova cabal de que Deus existe e vela por nós, mortais pecadores, escolheu Salvador para tanto e, louvado seja o senhor, se tornou a melhor amiga de Suzana. Mas não apenas isso: aquela
mulher transformou-se em um estorvo erótico em forma de fêmea que, desde aquele primeiro dia, tirou meu sono, minha paz, o apetite e a vontade de continuar a viver minha vida tal qual ela vinha sendo vivida até então.
ofensa para, em seguida, admitir que vinha tendo dificuldades no trabalho, que não, não havia nada de errado entre nós...Enfim, aquela ladainha covarde que nove em dez homens levam a cabo quando não conseguem simplesmente assumir a pura verdade. O fato é que a crise, a despeito das minhas negativas, se instalara no meu casamento. E eu só pensava em Gisele. Tanto pensava que, uma tarde na praia, Deus novamente foi misericordioso e me colocou diante daquela versão melhorada de Charlotte Gainsbourg. Ela estava deitada na areia, lendo algum livro do LéviStrauss. Eu cheguei, disse oi, e deitei a seu lado com uma cara meio blasé, dando a entender que encontrá-la ali de biquíni na praia não me causava efeito emocional algum. Por dentro, claro, eu sofria com convulsões e espasmos. A ereção era iminente. E aconteceu, vejam os senhores, quando Gisele aproveita meus olhos fechados e, sem aviso prévio, me beija na boca. Um beijo doce, com gosto de suco de laranja. Beijei de volta, e sorrimos, e voltamos a nos beijar. Poucas palavras. Eu disse, se bem me lembro: “Você é linda.” Ela colocou o dedo na boca, pedindo silêncio, como se qualquer frase pudesse destruir o momento sem moral, razão ou vergonha que estávamos ousando viver, ali, em uma praia urbana de Salvador, quase deserta naquela quintafeira à tarde. – Vamos para minha casa, ela falou. Entramos no apartamento aos trancos, esbarrando em todos os móveis da pequena sala, já tomando o rumo do quarto. Fui conduzindo-a à cama, mas em uma ginga marota Gisele se desvencilhou de mim e, afastando-se, me disse: – Já volto, vou me preparar. Espera um minuto na cama?
Sim, senhores, me apaixonei pela mulher. Simples assim. O golpe de misericórdia se deu quando, em uma bela e quente manhã de sábado, ela amanheceu em nossa casa – havido dormido no quarto de hóspedes na noite anterior, depois de um jantar a três em que eu não conseguira deglutir uma garfada sequer de tão pasmado –, senta-se à mesa do café da manhã e, com uma linda carinha de sono, toda despenteada, me diz: “Je veux jus d’orange.” Aquela frase ordinária, corriqueira, “eu quero suco de laranja”, porém dita por aquele biquinho, por aquela voz, atingiu em cheio meu corpo cansado de quem não pregara o olho um minuto ao longo da madrugada inteira e meu coração subiu à garganta, me atirando para trás, quase caindo no chão, tamanho o choque. Ferrou: aquela mulher tinha que ser minha. Fiz de tudo para esquecê-la, mas o efeito foi o inverso: cada dia mais a desejava. Um dia minha querida esposa Suzana, com quem eu vinha transando quase no Eu fiquei sem reação, com o piloto automático – e a ereção só vinha pra valer quando evocava mentalmente mastro na mão, mas segui as insas formas, cheiros e sorrisos franceses –, truções e tirei a roupa, deitando me diz que percebia que algo de errado na cama apenas de cueca. O pahavia entre nós. Que alguma coisa lhe di- raíso se avizinha, pensei. Mas o que surgiu diante de mim foi o zia que nossa fase não era das melhores e, surpresa, me perguntou se havia alguém inferno, sim, o inferno em forma de um “entre nós”. Eu balbuciei algumas frases monumental cacete de borracha acoplasem sentido, exprimindo um sentido de do a uma cinta que minha musa vestia na
cintura. Dei um pulo da cama e logo me aprumei, vexado: – Mas que porra é essa? Tá de palhaçada é? Aqui é espada, mulher, não sei na França, mas aqui homem gosta de comer, não de dar! Meus protestos, esporros e palavrões não acuaram a fanfarrona da gringa. Ela disse que não via problema, que podia ser gostoso, que eu ia gostar e, vejam vocês, que o amor é livre de preconceitos e tabus. Sei bem!
O fato é, caros senhores que me acompanham até estas linhas, o fato é que após mais alguns minutos de persuasão com legítimo sotaque francês eu amoleci e, mais que isso, baixei a guarda e a cueca. Sim, é isso mesmo. Dei para
a francesa. Se eu gostei? Posso dizer que não foi totalmente ruim (pasmem, mas sou um cara moderno), mas o fato é que não quero ou nem sequer sonho em repetir a dose. Fui ferido na minha masculinidade. Mais que isso, eu andei com dificuldade por alguns dias após a curra. Me senti ofendido e nunca mais pretendia sequer falar com Gisele, a musa que virara algoz ao me desvirginar assim, sem mais nem menos, em uma tarde que tinha tudo para ser gloriosa. Gisele, ao contrário, desde então não parava de me ligar. Dizia que o que eu havido feito era a maior prova de amor, e que agora ela estava totalmente apaixonada por este “macho dos trópicos nada tristes”, sim, acho que foi assim que ela me chamou. Não me comovi. Nem no dia em que, ao telefone, ela sussurrava, desesperada: Je veux jus d’orange, je veux jus d’orange... Suco de laranja é o cacete, pensei. Tomei uma dose de cachaça e tratei de recuperar terreno com minha doce esposa. Ela, pelo menos, ainda gostava da ideia de dar para mim, em vez de me comer. * Marcos, 36 anos, é empresário em Salvador
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c o m p o r ta m e n t o
por Fabrícia Peixoto
órfãos de charlie o canalha mais querido da tv deixa seu personagem na série “two and a half men” e uma legião de fãs inconsoláveis
E l E m o r ava d E f r E n t E para a praia e só vivia de bermuda. O trabalho, fácil, podia ser feito de casa, e o resultado ficava ainda melhor com uns goles de uísque. Ainda assim, ganhava uma bela grana, o suficiente para ter uma Mercedes praticamente parada na garagem. Aos 40 e poucos anos, solteiro convicto, perdeu a conta de quantas mulheres traçou na vida – muitas delas sem nem saber o nome. Politicamente incorreto, falava mal da própria mãe, do único irmão, do sobrinho. Charlie Harper – ou apenas “uncle” Charlie, vai deixar saudade.
charlie harper (ou charlie sheen, tanto faz): o canalha vai deixar saudade
Depois de sete anos como principal personagem da série americana “Two and a Half Men”, o ídolo de nove em cada dez homens foi sumariamente morto por um trem no início da nova temporada. O motivo não poderia ser melhor para
alimentar ainda mais o clima de adoração ao anti-herói. Charlie Sheen, o ator, foi demitido pela Warner Bros em março deste ano, depois de soltar
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herÓis Que nÃo valeM nada
o verbo na imprensa contra o criador da série, Chuck Lorre. Chamou-o de palhaço, de charlatão, de homenzinho ignorante, além de reclamar do baixo salário para alguém que “sempre carregou o programa nas costas” (vale lembrar que Sheen era, até então, o ator mais bem pago da tevê americana, com US$ 1 milhão por episódio). Isso tudo porque Lorre decidiu suspender a série, em fevereiro, devido aos recorrentes problemas de Sheen com álcool e drogas. Pura injustiça, segundo o ator. “Estou curado. E me curei não com esses arrogantes dos Alcoólicos Anônimos. Foi com o poder da minha mente.” E estamos combinados.
1 ferris Bueller Não adianta. Você já pode ter assistido a Curtindo a Vida Adoidado umas 25 vezes, mas até hoje tem ganas de cabular o trabalho para ficar em casa e assistir de novo. O personagem de Matthew Broderick (Ferris) é um mestre: num belo dia de primavera, ele acorda e decide não ir à aula para, simplesmente, curtir a vida. Com sua carinha de sonso, engana os pais, a escola, o gerente do restaurante e ainda convence o melhor amigo a pegar “emprestada” a Ferrari do pai. Depois de aprontar todas pela cidade de Chicago, o cara ainda sai como o queridinho injustiçado da mamãe. Para completar a obra-prima, o diretor John Hughes ainda teve a ideia genial de colocar Ferris explicando suas táticas diretamente para a câmera, como que já antevendo uma legião de seguidores. Não à toa o personagem tornou-se um ícone para os adolescentes na década de 80.
Enquanto os críticos de Hollywood e os tabloides só falam em Sheen como um sujeito perdido e decadente, entre o público a história é outra. Charlie Harper (ou Charlie Sheen,
afinal os dois são praticamente a mesma pessoa) é um daqueles personagens que conseguem sintetizar, com maestria, aquilo que muitos caras pensam, mas não ousam falar. E não precisa ser um calhorda para gostar de Charlie – mesmo o mais certinho dos maridos certamente já se pegou rindo sozinho com as máximas do personagem. Como no episódio em que ele convence o sobrinho de 13 anos a fazer aulas de balé apenas para convencer a professora gostosa de que ele é um bom tio. Ou, ainda, quando se apresenta completamente trêbado num teatro lotado de crianças de 4 anos, que vão ao delírio com sua fala enrolada. No fundo, Charlie Harper nada mais é do que um transgressor de uma onda um tanto sufocante do politicamente correto. Isso explica, em grande parte, o sucesso da série. Um cara que bebe, leva todas pra cama e não suporta crianças só pode chamar a atenção numa sociedade onde isso tudo pega muito mal. Reverter a ordem com bom humor também foi a receita para fazer de Ferris Bueller e Jeff Lebowski outros dois ícones masculinos (leia quadro). Não é à toa que a legião de fãs de Two and a Half Men estranhou a escolha de Ashton Kutcher para dar continuidade ao programa. Apesar de já ter provado ser um bom ator de comédia (fazia um bobão em That 70’s Show), Kutcher é, digamos, certinho demais para um lugar que um dia foi de Charlie Sheen. Tudo bem que ele não chega para ser Charlie Harper, mas sim Walden Schmidt, um bilionário da internet, recém-divorciado. Mas isso não é o suficiente para aliviar a tristeza com a morte do herói canalha. A rapaziada está mesmo é de luto.
FOTOS DIVULGAÇÃO
Jeff leBoWsKi, the dude Jeff Lebowski é o perfeito loser. Preguiçoso e desempregado, a única coisa que lhe desperta algum ânimo é o boliche. Interpretado por Jeff Bridges, o personagem de 1989 até hoje povoa o imaginário masculino como um anti-herói. A ponto de os fãs criarem o Festival Lebowski, um evento anual, nos Estados Unidos, que chega a reunir centenas de participantes – muitos deles vestidos a caráter, com um roupão e um copo de White Russian nas mãos. Também conhecido como The Dude, Lebowski personificou como ninguém aquele jeito niilista e bagunceiro que tanto atrai os homens. A cena em que ele aparece afundado na banheira de casa, com seu tipão meio gordo, ouvindo walkman e fumando um baseado, é de dar calafrios em qualquer mulher – enquanto os homens, claro, vão ao delírio. 2
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PERFIL
por Marcus Elias, do Conselho Editorial
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fotos Frederic Jean
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SAMURAI DE VERDADE FASCINADO PELA CULTURA ORIENTAL DESDE CRIANÇA, RICK KOWARICK ENCONTROU SUA VOCAÇÃO EM UMA ESCOLA DO JAPÃO, ONDE SE TORNOU O GUERREIRO MAIS GRADUADO DO BRASIL
M U I T O S E L E G E M como prioridade de vida ganhar dinheiro. Outros, ter e exercer o poder, a conquista da fama ou os prazeres sensoriais. A maioria diria que corre atrás de tudo isso ao mesmo tempo. Há, entretanto, uns tipos diferentes, que buscam uma conquista um tanto estranha. Querem vencer a si mesmos, objetivo que tem como pré-requisito obrigatório o autoconhecimento.
O caminho do samurai conduz a esse conhecimento especial, estreito e cortante como o fio da espada. A destreza e o autocontrole para
desembainhar a katana (espada japonesa) e cortar um pingo d’água, no exato e preciso momento. Nada a ver com exibicionismo, somente disciplina e concentração. Homens-guerreiros dedicados à superação de si mesmos. Como Rick Kowarick, professor e samurai de verdade. Rick nasceu nos Estados Unidos há 43 anos, filho de pai brasileiro e mãe americana, mas foi criado no Brasil. Aos 4 anos, começou a aprender judô e logo criou um interesse pela cultura oriental. Passava horas na biblioteca da escola lendo livros, enciclopédias e vendo ilustrações sobre os guerreiros da época do Japão feudal. “Meu interesse pelo assunto é algo difícil de explicar, é como se existisse uma força maior dentro de mim que me dava um senso de familiaridade e interesse sobre os samurais”, diz Rick.
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deus está nos detalhes Do relógio ao lenço, os acessórios que Dão à alfaiataria clássica uma elegância contemporânea
N ã o h á c o m o N e g a r o p o d e r d a q u e l e b e lo r e ló g i o tentando aparecer despretensiosamente por dentro do punho do paletó. ou, ainda, de um lenço perfeitamente encaixado no bolso, como feito sob medida para aquele pequeno refúgio. a boa notícia é que esse visual nem sempre precisa ser sisudo. a escolha certa do acessório e a forma com que será usado ajudam a conferir um tom bem mais contemporâneo aos ternos clássicos. Com um pouco de ousadia, o visual pode até ficar divertido, mas sem perder a elegância característica de uma boa alfaiataria.
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Terno de lã e gravata de seda Ralph Lauren, camisa Càrrel e relógio de ouro branco Cartier
Terno de l達 Paul Smith London, camisa Reporter, gravata de seda Paul Smith e cinto de couro Chopard
Terno de lã Giorgio Armani, camisa Ingram, gravata de seda Hermès e óculos Hogan Eyewear
Terno de lã Tommy Hilfiger, camisa Càrrel, gravata de seda Mauro Grifoni, abotoadura de ouro branco Chopard, relógio Rolex, óculos Paul Smith Spetacles
Terno de l찾 Canali, camisa Aglini, gravata de seda e algod찾o Altea, prendedor de gravata S.T. Dupont, rel처gio Cartier
MODA
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BLAZER PRA QUE TE QUERO por Priscilla Portugal
ELE PROMETE SER INDISPENSÁVEL NO PRÓXIMO VERÃO E APARECE EM NOVOS FORMATOS E CORES E N C E R R A D A A N Y FA S H I O N W E E K , é hora de fazer um balanço das novidades para o próximo verão e perceber que o blazer não é mais o mesmo. Ele ganha diferentes formatos, cores e – destaque da estação – estampas. A coleção da Nautica trouxe um ar de Malibu, e o azul-marinho e o branco deram o tom a looks que pareciam saídos de um passeio de lancha. E que poderiam perfeitamente frequentar um jantar pós-praia. Os blazers apareceram mais curtos, com apenas dois botões e vestidos de forma casual, por cima de moletons com capuz, por exemplo. O premiado Michael Bastian, mestre em trazer a inovação na medida certa, apostou em trajes bem usáveis com toques irreverentes. Em sua coleção, um blazer desestruturado dá um ar chique ao conjunto de camiseta listrada e bermuda, o xadrez escocês ganha padronagem grande e tira a sobriedade da dupla camisa branca
e gravata, enquanto um blazer trespassado e quadriculado azul-marinho traz todo o refinamento que a mais formal das ocasiões possa pedir, com direito a lenço no bolso e tudo. Já Richard Chai deixou seu lado boêmio aflorar e não teve medo de misturar tecidos, cores e sobreposições. O blazer desconstruído é a peça-chave da coleção. Oversized, ele aparece em estamparias divertidas e cores inusitadas, como o laranja cítrico. Enquanto isso, Tommy Hilfiger apresentou um dos desfiles mais fashion de sua história, com um grande mix de estampas: das camufladas de gosto duvidoso às acertadas listras em estilo marinheiro. Elas, claro, chegaram aos blazers, que também reproduziram a silhueta reta e ajustada predominante em toda a coleção.
FOTOS FRAZER HARRISON | DARIO CANTATORE | PETER MICHAEL DILLS/GETTY IMAGES/AFP
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IRREVERENTE MICHAEL BASTIAN
DESPOJADO NAUTICA
DESESTRUTURADO MICHAEL BASTIAN
REFINADO MICHAEL BASTIAN
CORTE RETO
TOMMY HILFIGER
BOÊMIO RICHARD CHAI
ÍCONES DE ESTILO
por Natália Mestre
ENQUANTO O ATOR BRASILEIRO RODRIGO HILBERT OPTA PELA INFORMALIDADE TOTAL, O JOGADOR INGLÊS DAVID BECKHAM NÃO TEM UM FIO DE CABELO FORA DO LUGAR
O inglês David Beckham construiu uma trajetória de sucesso nos gramados, mas foi do lado de fora dos campos que o marido de Victoria Beckham sempre deu o que falar. Metrossexual assumido, ele é conhecido por investir em produções audaciosas para os padrões masculinos e dedicar uma atenção extrema à sua aparência. “Beckham é detalhista e muito preciso quanto ao corte das roupas – a maioria ajustada ao corpo para realçar a silhueta –, à combinação das cores e aos acessórios usados”, explica Mariana Rocha, professora do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina.
JOGO DE CORES
O jogador monta seus looks pensando nas nuances. Por exemplo, a combinação de dois tons de jeans, como na foto ao lado. Para o visual não ficar pesado, ele usa uma camiseta branca por baixo. E atenta também para a simetria: um lado da camisa para fora da calça e o outro para dentro, para destacar o cinto. SOCIAL COM REQUINTE
DETALHES NÃO TÃO PEQUENOS
Beckham é conhecido por suas produções irreverentes, mas isso não significa que faça feio em ocasiões sociais. Ele sabe como poucos trajar um terno com extrema elegância. Em geral, aposta no modelo bem cortado, estreito e com apenas um botão. Sua preferência é o cinza-claro
Bons acessórios fazem a diferença na hora de montar o visual. Beckham aposta em óculos escuros, echarpes estampadas, chapéus e gorros para os dias mais frios. Seja em suas produções mais esportivas, seja nas mais clássicas, existe sempre um detalhe que chama a atenção.
VISUAL DE PERSONALIDADE
“O cabelo bem cortado e a barba com aspecto de dois dias sem fazer é uma marca registrada do jogador que adiciona personalidade às suas produções”, explica a professora Mariana Rocha. Ou seja, o conjunto final do inglês é meticulosamente montado, da cabeça aos pés.
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Modelo, ator, galã e marido da estonteante Fernanda Lima, Rodrigo Hilbert faz a linha low profile tanto em atitudes como no visual. Em linhas gerais, é um cara mais básico, despojado, que escolhe itens de personalidade para compor a sua produção. Surfista nas horas vagas, Hilbert é visto constantemente se exercitando e preocupado com a alimentação e saúde. “Ele tem estilo e boa fisionomia, a maioria das roupas tem bom caimento em seu corpo”, diz Luiz Aziz Neto, consultor de estilo e proprietário da Alfaiataria Persona.
ITEM FASHION
APARÊNCIA DE SUCESSO
Não só de roupas vive o estilo de Hilbert. O cabelo liso sempre penteado para trás e a barba mal-feita constantemente estampada em seu rosto são importantes componentes do visual. Passa aquele famoso ar despretensioso que faz sucesso com as moças.
ATITUDE RELAX
O moço é um grande defensor da linha calça jeans estonada, tênis moderninho e camisetas alternativas, com estampas bem-humoradas ou mais cults. Mas todo look de Hilbert vem acompanhado de um acessório descolado: seja um chapéu Panamá, seja um boné, uma boina ou um cachecol colorido.
Apesar de fazer a linha básica, o marido de Fernanda Lima demonstra que acompanha as tendências, já que investe em looks modernos. Ele não tem medo de usar uma camisa de cor cítrica, por exemplo. Usa e abusa de bermuda de alfaiataria e camisa xadrez, tendência atual, ou calça jeans, blazer de veludo e camiseta com estampa de caveira, também super “in”.
ILUSTRAÇÃO PEDRO MATALLO | FOTOS NEIL MOCKFORD/GETTY IMAGES | PAUL ARCHULETA/FILMMAGIC | DIVULGAÇÃO
TAPETE VERMELHO SEM REGRAS
O ator faz questão de imprimir o seu estilo mais relax até mesmo em eventos que exigem o figurino social. Ele usa, por exemplo, terno sem gravata e sem cinto, além de escolher camisas mais joviais para completar a produção. “É um social incompleto que remete à personalidade informal dele”, explica Luiz.
VA I D A D E
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por Natália Mestre
ELES ABREM O JOGO O EMPRESÁRIO SERGIO KAMALAKIAN E O PILOTO LUCIANO BURTI ADMITEM QUE BELEZA É, SIM, ASSUNTO DE HOMEM E REVELAM OS SEUS PRODUTOS INDISPENSÁVEIS PARA O DIA A DIA
E M B O R A P O S S U A M P E R F I S totalmente opostos – um faz parte do criativo universo da moda, enquanto o outro é devoto da adrenalina típica das pistas de automobilismo –, o empresário Sergio Kamalakian e o piloto Luciano Burti confessam ter algo em comum: são vaidosos. Em um papo com Status, os dois revelam o que pensam sobre beleza e dizem, inclusive, que usar os produtos certos pode fazer a diferença com a mulherada. Acompanhe:
SERGIO KAMALAKIAN
O empresário é uma referência na moda masculina brasileira. Criou a grife Sergio K, em 2004, comercializando sapatos feitos à mão. Um negócio tão certeiro que foi estendido para roupas e acessórios, sendo a camiseta polo o carro-chefe da marca. Com apenas 29 anos, ele faz parte da Associação Brasileira de Estilistas (Abest), possui cinco lojas e distribui seus produtos em 130 multimarcas pelo País. Você se acha um cara vaidoso? Eu gostaria de ser mais, mas não consigo ter muito tempo para isso. Agora, acredito que nos últimos cinco anos os homens estão se ligando mais nesse assunto e se cuidando mais. Quanto tempo leva para se arrumar? Uns 20 minutos. Sou um cara rápido e acho isso ótimo, já que odeio ter que ficar esperando os outros se arrumarem. Um cara vaidoso faz mais sucesso com as mulheres? Acho que as mulheres gostam de um cara vaidoso no limite.
LUCIANO BURTI
O piloto de 36 anos iniciou a sua carreira em 1991, no kart, e, em nove anos, chegou à Fórmula 1, correndo pelas equipes Jaguar e Prost GP. Devido a um grave acidente, encerrou sua carreira na maior categoria do automobilismo mundial para competir na Stock Car, onde está até hoje. Porém, nunca deixou a Fórmula 1 totalmente de lado. Foi piloto de testes da Ferrari durante um tempo e atualmente é comentarista da categoria. Você se acha um cara vaidoso? Sou vaidoso na média. Acredito que todo homem é, só muda o grau de vaidade de cada um. Sou cuidadoso, gosto de estar bem arrumado e me preocupo em estar bem. Estou longe de ser um cara relaxado, mas não sou nenhum metrossexual. Quanto tempo leva para se arrumar? Creio que meia hora, no mínimo. Admito que não sou um cara tão rápido assim... Um cara vaidoso faz mais sucesso com as mulheres? Acho que elas gostam de um cara que se cuida, mas não curtem um tipo metrossexual. Não quero parecer machista, mas acho que um cara muito vaidoso acaba até roubando a cena da mulher. Quais são seus cuidados com barba e cabelo? Uso dois xampus porque gosto de intercalá-los, o Tea Tree Oil, da Kiehl’s, e o xampu para cabelos normais da Kérastase. Jamais uso condicionador para não deixar os fios oleosos. Corto o cabelo uma vez por mês, o cabeleireiro vai até minha casa. Também não viajo sem a máquina de barbear da Philips porque estou adotando esse visual de barba por fazer. Tem cuidados com barba e cabelo? Não tenho muita frescura em relação a esse assunto. Para fazer a barba, uso gilete e o sabonete que tiver em mãos. Também não tenho xampu nem condicionador específico. Não sou frequentador assíduo dos salões, e só corto os cabelos quando começo a me sentir incomodado. O que não pode faltar na sua nécessaire? • Protetor solar manipulado pela dermatologista. “Uso todos os dias.” • Sabonete facial para pele oleosa da americana Kiehl’s. • Creme pós-sol da Lancaster. • Pomada para os cabelos da Fekkai. • Remédios, como o Rivotril. “Não consigo dormir sem ele.” • Perfumes. “Não sou fiel a uma única fragrância. Meus preferidos são Un Jardin en Méditerranée, da Hermés, Friends, da Moschino, e Egoiste, da Chanel.”
FOTOS PEDRO DIAS E FERNANDO MARTINHO
O que não pode faltar na sua nécessaire? - Creme para as mãos da Kiehl’s - Protetor solar Heliocare FPS 90 - Cera para cabelos da Bed Head - Complementos vitamínicos. “Tomo diariamente.” - Perfume Lanvin. “Uso há dez anos, sou superfiel.”
lá em casa
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KARMANNÍACO COM MAis de 200 MiNiAtuRAs de KARMANN GhiA, O eMpResáRiO KiKO pAReNte pAReCiA teR CheGAdO à RetA fiNAl COM suA COleçãO. felizMeNte ele estAvA eNGANAdO
N ã o h á N a d a p i o r N a v i d a de um colecionador do que ver sua coleção atingir o máximo a que pode chegar. dá coceira na mão, ansiedade e, em casos mais graves, o sujeito fica borocoxô, desanimado. O empresário Kiko parente chegou perto de padecer desse mal – mas encontrou a cura. aos 52 anos, o sócio do restaurante Spazio Gastronômico, em São Paulo, é provavelmente o maior colecionador de miniaturas de Karmann Ghia do país. São cerca de 200 carrinhos meticulosamente posicionados em uma estante montada para esse fim, na sala de seu apartamento, nos Jardins. Mas de tanto fuçar e comprar peças nos últimos 20 anos, a coleção começou a se estagnar. da praça Benedito Calixto à alemanha, as visitas já não rendiam mais tantas novidades. Se não tem, manda fazer. E foi assim, com uma solução caseira, que Kiko deu novo fôlego a sua coleção. Agora, os carrinhos originais, que chegam a valer até US$ 300, dividem o espaço com pequenos Karmann Ghias feitos de papel machê, de arame retorcido e de plástico. Mas o xodó mesmo é uma réplica em lata de seu próprio carro, um Karmann Ghia 1970, conversível, comprado há 23 anos e que acabou por inspirar toda a coleção. “Esse foi feito por um catador de lixo que virou artesão”, conta Kiko, olhando para a réplica com orgulho de criador. a paixão pelo carro extrapola a tal estante. Chega às paredes da sala, corredores e quartos, com dezenas de fotos de Karmann Ghias emolduradas, além de uma tela de tinta a óleo, que de tão grande está encostada no chão, aguardando por um espaço na parede. O telefone da casa é um
(adivinhem?) Karmann Ghia amarelo, estacionado num posto de gasolina. Kiko conta que a coleção poderia estar um pouco maior se ele “apelasse” para sites como eBay e Mercado Livre. “Mas isso não aceito”, diz. “Gosto de garimpar.” aliás, o apartamento do empresário reflete bem esse fascínio em juntar coisas, especialmente se forem velhas – ou melhor, antigas. Além de Karmann Ghias, Kiko coleciona bonecos do ratinho Topo Gigio, telefones modelo JK e pequenas estátuas de São Francisco. Alguma explicação? “Não. Apenas comecei”, diz. para um colecionador compulsivo, já é o suficiente.
sob encomenda: kiko com a réplica em lata do seu karmann Ghia 1970, feita por um ex-catador de lixo. abaixo, miniatura em arame, também de autoria de um artesão
o carro em papel machê faz parte da solução encontrada pelo empresário para ampliar sua coleção
o telefone fixo em forma de karmann Ghia não é enfeite. para falar, basta tirar o carro amarelo do Gancho
fotos roGério cassimiro
GASTRONOMIA
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A OUTRA FACE DE
DANIEL B O CHEF DO RENOMADO DANIEL, DE NOVA YORK, CONTA À STATUS COMO CRIOU UM IMPÉRIO DE RESTAURANTES AO REDOR DO MUNDO E QUAIS SÃO SEUS TRUQUES NA COZINHA por Danielle Sanches
FOTOS OWEN FRANKEN | DIVULGAÇÃO
A C L A M A D O C H E F D E C O Z I N H A e homem de negócios. Assim como suas caçarolas, Daniel Boulud é incrivelmente versátil. Nascido e criado na França, ele é hoje dono de um império que inclui 13 empreendimentos pelo mundo, seis livros e ainda um programa de televisão. Ambicioso, ele soube diversificar os negócios para agradar a todos os públicos e bolsos. “Ninguém come em restaurantes estrelados toda noite”, crava o chef, em entrevista exclusiva à Status. “Cada espaço que criei mostra um lado diferente da minha personalidade e é uma forma de trazer as pessoas para dentro do meu universo”, afirma. Nada mau para quem recebeu apenas duas estrelas – em uma escala que vai até cinco – da colunista Marion Burros, do respeitado jornal The New York Times, na noite de estreia do próprio restaurante, Daniel, em 1993. “Naquela noite disse à equipe que seríamos o melhor restaurante duas-estrelas dessa cidade”, recorda-se. Apesar da animação, permanecia uma aura de tensão no ar. Daniel havia recém-saído
BOULUD do local que tinha sido o trampolim para sua carreira: o restaurante Le Cirque, eleito diversas vezes como o melhor de Nova York – prêmio que recebeu sob o seu comando. A parceria com o proprietário, o empresário Sirio Maccioni, não acabou de forma tranquila. “Ele não ficou muito satisfeito”, disse o chef à época aos jornais. De certa forma, Daniel Boulud sabia que seu caminho acabaria se cruzando com o das animadas ruas da Big Apple. Nascido em 1955, o francês de traços fortes e fala fácil cresceu no campo, entre as paisagens da pequena vila de Saint Pierre de Chandieu, próxima a Lyon, região central da França. Ali, entre animais da fazenda e hortas orgânicas, Boulud aprendeu a comandar a cozinha com a avó e a mãe. “A cozinha era o centro de tudo em casa”, relembra. Quando não estava aprendendo as receitas das matriarcas, ele acompanhava o pai ao mercado local ou ia apanhar galinhas, ordenhar cabras e vacas, colher tomates e abobrinhas. Suas origens humildes em nada lembram o luxo e requinte que o cercam atualmente. Criado em uma das regiões que mais exportam gênios da culinária, era natural que Boulud seguisse carreira na gastronomia. Estudante, aos 14 anos já trabalhava em um pequeno restaurante no centro de Lyon. Tornou-se oficialmente um aprendiz em 1969 e, logo de cara, foi finalista do prêmio de Melhor Aprendiz de Chef na França. O troféu foi para outro, mas as portas estavam abertas. O jovem de 20 e poucos anos passou a atuar sob a tutela de grandes nomes da culinária francesa, como Michel Guérard, criador da “cuisine minceu”
A FACHADA DO BADALADO RESTAURANTE DANIEL, EM NOVA YORK. O LUGAR É PONTO DE ENCONTRO DE EXIGENTES GOURMETS
GASTRONOMIA
(que traz pratos saborosos, mas com pouca gordura) e atual proprietário do Les Prés d’Eugéne, restaurante dentro de um hotel-spa ao sul da França, com duas estrelas do Guia Michelin. Outros chefs que cativaram Boulud foram Georges Blanc, que divulgou o estilo da culinária francesa familiar e hoje comanda o Hotel Restaurant Georges Blanc Parc & Spa na região da Borgonha, e Roger Vergé, que contribuiu para o crescimento da culinária francesa contemporânea por meio de seu estilo mais leve com influência do Mediterrâneo. A seu modo, cada um deles lhe rendeu inspiração de sobra até os dias de hoje. “Ele nunca abandonou suas raízes e certamente é um dos maiores embaixadores da culinária francesa no mundo”, afirma o também francês Emmanuel Bassoleil, chef-executivo do restaurante Skye, do Hotel Unique, em São Paulo, e grande amigo de Boulud. A chegada a Nova York foi o momento em que tudo mudou na carreira do jovem chef. Quando desembarcou na cidade, na década de 1980, tinha apenas 25 anos. Na época, Manhattan já possuía milhares de restaurantes, mas nada que fizesse jus à alta gastronomia atual. Por isso, a atuação de Boulud em hotéis como The Westbury e Plaza Athenée lhe rendeu honrosas críticas, ressaltando o estilo inventivo e moderno de sua cozinha francesa. A grande chance chegou em 1986, quando Sirio Maccioni o chamou para comandar o restaurante Le Cirque, um dos mais sofisticados da cidade. Daniel tinha então 31 anos.
BOULUD COORDENA NADA MENOS QUE 13 RESTAURANTES MUNDO AFORA. E ISSO SEM ABANDONAR SUAS RAÍZES
A parceria, que duraria sete anos, conduziu o Le Cirque ao primeiro lugar repetidamente em diversas listas dos melhores restaurantes do país. Em 1992, Boulud foi eleito o melhor chef de Nova York. A influência cosmopolita da cidade que crescia a olhos vistos, como uma das mais empolgantes no cenário gastronômico mundial, transformou sua cozinha em algo ricamente elaborado. O legado continuou com o nascimento do próprio restaurante, Daniel, em 1993, que conta hoje com três estrelas do Guia Michelin.. Atualmente, o império é comandado pelo Dinex Group, que cuida da gestão das 13 casas – além de NY, o restauranteur possui unidades em Palm Beach, Miami, Londres, Cingapura e Beijing – e ainda um serviço de bufê para eventos sociais. Sem medo de ousar, Boulud usa desde alimentos conhecidos, como frutos do mar e molhos orientais, até delícias das mais exclusivas, como
DULUOB PARA FAZER BONITO
Daniel Boulud sugere uma sofisticada receita de ovos mexidos ideal para um brunch a dois regado a muito champanhe
OVOS MEXIDOS COM SALMÃO DEFUMADO, CAVIAR E BATATAS COZIDAS Ingredientes: • Uma dúzia de batatas tipo “bolinha” (daquelas para aperitivos) • 5 ovos • Sal e pimenta a gosto • Uma colher de sopa de manteiga sem sal • Duas colheres de chá de cebolinhas picadas • Uma colher de chá de raspas de limão siciliano fresco • 100 gramas de salmão defumado em fatias • 45 gramas de caviar de boa marca Preparo: Coloque as batatas em uma panela e cubra-as com água gelada e uma pitada de sal. Feche a tampa e cozinhe em fogo alto até que elas fiquem macias. Retire do fogo, escorra a água e reserve. Cubra o fundo de uma panela média com água e deixe ferver em fogo alto. Enquanto isso, quebre os ovos em uma tigela e bata-os. Tempere com sal e pimenta e coloque a FOTOS DIVULGAÇÃO | PETER DENCH | CRAIG LEE | CLAUDIO GATTI
tigela dentro da panela com a água fervente – ela não deve tocar o fundo da panela. Com uma colher de pau ou espátula de borracha, mexa os ovos em zigue-zague. Se começar a endurecer muito rápido, diminua o fogo. Quando o ovo começar a empelotar, use o batedor para agitar a mistura, raspando o fundo da tigela. Assim que a mistura ficar consistente, retire do calor e adicione a manteiga, a cebolinha e as raspas de limão. Ajuste o tempero se necessário. No prato, corte as batatas ao meio e cubra-as com manteiga e caviar. Disponha os ovos e as fatias de salmão ao lado e sirva a seguir. Dica do chef: cuide para que todos os ingredientes fiquem prontos ao mesmo tempo, pois o timing é essencial nesta receita simples, porém delicada.
NO RITMO DAS ESTAÇÕES trufas – um de seus ingredientes preferidos. Apesar de simples, suas receitas chegam à mesa recheadas da técnica francesa, em uma combinação despretensiosa e contagiante. Recentemente, por exemplo, reformou o DBGB Kitchen & Bar, na antes decadente Bowery Street, em Nova York, para servir diversos tipos de linguiças e hambúrgueres sofisticados. “Queremos ser os melhores no ramo dos sanduíches”, já chegou a bradar à imprensa americana. “Boulud levou o conceito de bistronomia (casamento de bistrô com alta gastronomia de preços acessíveis) à cidade”, aponta a especialista Lúcia Sequerra, coordenadora do curso de gastronomia da Universidade Estácio, em São Paulo. Se a vida profissional segue de vento em popa, o mesmo não pode ser dito do lado pessoal. Em julho de 2010, sua esposa Michelle “Micky” Boulud entrou com um pedido de divórcio imediato. Especulou-se que ambos já não moravam juntos havia um ano no apartamento da família, localizado no andar de cima do restaurante Daniel. Os dois têm uma filha, Alix, 21 anos, que fundou a Tufts Culinary Society. Reservado, Boulud diz pouco sobre a família, mas afirma gostar de viajar com a primogênita. “Isso quando tenho tempo, o que é muito raro”, ressalva. Ele prefere falar do quão afortunado é por estar rodeado de jovens talentos e como se esmera para incentivar a carreira deles. “Acredito que é minha missão ensinar os jovens. É como fechar um ciclo”, afirma.
DANIEL BOULUD FALA DE SUAS INSPIRAÇÕES
LEINAD
O LADO B DAS ESTRELAS
Assim como Daniel Boulud, outros renomados chefs de cozinha também diversificaram os negócios
Heston Blumenthal, dono do aclamado The Fat Duck, em Londres, o chef inglês recentemente abriu o Dinner, criado para reinventar a culinária inglesa e seus pratos mais tradicionais. A lista de espera pode passar de três meses
– Status Como você define o seu estilo de cozinhar? – Daniel Boulud Tenho raízes francesas, gosto de ingredientes regionais e minha inspiração é sazonal.
– Por que você quis ter mais do que um restaurante? – Porque ninguém come em um restaurante estrelado toda noite. Existem noites para os bistrôs, wine bars e lanchonetes, estilos em que investi. – O que a cozinha representa para você? – Cozinhar é minha vida, meu dever, é onde expresso minha criatividade e deixo minha marca no mundo.
Thomas Keller consagrou-se com a cozinha sazonal do The French Laundry, na Califórnia. Hoje, comanda também o estrelado Per Se, em Nova York, e mais sete casas, entre boulangeries e restaurantes
Alex Atala, nome forte da culinária brasileira no Exterior, ele comanda o sofisticado D.O.M., e o Dalva e Dito, restaurante que privilegia receitas e sabores regionais
– Qual é a sua receita favorita? – Faça essa pergunta a cada estação e eu te darei uma resposta diferente. Mas a receita perfeita tem apenas três ingredientes. Meu exemplo clássico é paupiette de robalo com batatas e alho-poró com um pouco de vinho tinto. – Qual seria o prato perfeito para um jantar romântico? – Serviria um velouté de ouriço-do-mar com caviar e capim-limão. É uma receita cremosa, sedutora, refrescante, com um toque de sabor do mar. Além de ser leve o suficiente para deixar o apetite livre para a sobremesa (risos). Para beber, o clássico champanhe Dom Pérignon 1990.
TOYS FO R BOYS
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outubro 2011
por Bruno Weis, de Liverpool
dOIs eM uM TESTAMOS NAS ESTRADAS E MONTANHAS DO PAÍS DE GALES O NOVO RANGE ROVER EVOQUE, A APOSTA URBANA DA MONTADORA BRITÂNICA D A B A S E M I L I TA R D E A N G L E S E Y, no País de Gales, recebi a missão de conduzir por quase duzentos quilômetros o novo Range Rover Evoque até a cidade inglesa de Liverpool, terra dos Beatles e sede da fábrica da companhia. O Evoque é a nova aposta da montadora britânica conhecida por seus imbatíveis modelos 4x4. Ainda que não negue seu DNA todo terreno – a tração nas quatro rodas é permanente e há um sistema computadorizado que altera as respostas do motor e câmbio de acordo com o tipo de terreno –, o Evoque é um carro inequivocamente urbano: é o menor, mais leve, ágil e econômico modelo fabricado pela Jaguar Land Rover. Tem tudo para agradar aos públicos jovem e feminino ligados em tecnologia e sofisticação. flavio Padovan, presidente da empresa na américa latina e Caribe, afirma que o carro não deve ultrapassar os R$ 180 mil, é confortável e luxuoso por dentro, todo revestido em couro. Tem design agressivo, computador de bordo e teto solar panorâmico.
RANGE ROVER EVOQUE MOtOr trAnsMIssÃO PesO veLOcIdAde MÁXIMA 0 - 100 KM/H PreÇO
turbo 2.0 com 240 cv, 16v e injeção direta Automática sequencial, seis marchas, tração integral 1.670 kg 217 km/h 7,6 segundos a partir de r$ 180 mil
De volta à estrada, o cuidado era redobrado por guiar com a direção do lado direito. Apesar disso, o carro se revelou perfeito em todas as diversas condições de terreno e topografia que tive de encarar: estradas sinuosas, subidas de serra, trilhas de terra, rodovias. Com câmbio automático, motor 2.0 com 240 cv, o Evoque é rápido e, ao mesmo tempo, forte para superar subidas enlameadas. Depois de mais de oito horas de viagem, aportei em Liverpool incrivelmente descansado e ainda com gás para conhecer a lendária The Cavern Club, berço do mais famoso conjunto musical da história. Em um carro comum, meu combustível estaria zerado.
Os cOncOrrentes dO evOque
BMW X1
customizado o Evoque oferece opções de 12 cores externas, três cores contrastantes para o teto, oito designs de rodas de liga leve, de 17 a 20 polegadas, 16 interiores personalizados de grife, quatro acabamentos metálicos e dois modernos revestimentos em madeira, três cores para o revestimento interno do teto, placas iluminadas nas soleiras em alumínio e cromo, teto solar panorâmico fixo de tamanho integral e trilhos no teto, pretos ou cromados.
Apesar do prestígio da marca alemã, é mais vendido em sua versão com preço na casa dos R$ 115 mil. Nessa configuração de entrada, ele tem um pacote de equipamentos bem mais modesto, tração apenas traseira e um motor menos potente, de 150 cv.
AUDI Q3
SEIS MARChAS nas versões com câmbio automático, no lugar da tradicional alavanca há um botão giratório, com design mais feminino, que pode desagradar aos motoristas mais tradicionais. de todo modo, a versão com câmbio manual também estará disponível no Brasil.
toDo tERREno o sistema terrain Response pode ser acionado por botões no console e ajusta o comportamento do motor, das suspensões e do câmbio para diversos terrenos com inclinação, neve, terra ou asfalto. E a divisão de torque entre os eixos varia continuamente, o que proporciona aderência e equilíbrio em diferentes condições. fotos divulgação
A novidade só deve chegar ao Brasil no início do ano que vem. será vendido apenas com motor 2.0 turbo de 211 cv e tração integral. Seus preços oficiais ainda não foram divulgados, mas devem começar na casa dos r$ 140 mil.
MERCEDES GLK
Por pouco mais de r$ 190 mil, tem tração 4X4 e apenas uma opção de motor: um seis cilindros com ótimos 231 cv, mas que consome bastante gasolina. seu design parece não ter agradado aos brasileiros, pois as vendas andam fracas.
CORPO E MENTE
DE OLHOS FECHADOS SÃO MUITOS OS BENEFÍCIOS QUE UMA NOITE BEM DORMIDA PODE TRAZER PARA A SAÚDE E PARA O RENDIMENTO DE QUEM PRATICA ATIVIDADES FÍSICAS COM FREQUÊNCIA O S E X E R C Í C I O S A E R Ó B I O S são conhecidos por promoverem diversas alterações no corpo humano. A lista é extensa e impressiona. Entre outros, nela aparecem os benefícios cardiorrespiratórios, o aumento da densidade óssea e a redução no risco de doenças degenerativas. Como se não bastasse, de uns anos para cá, as pesquisas científicas passaram a revelar um novo e interessante aspecto: a melhora da função cognitiva. Em outras palavras, correr estimula o cérebro e desenvolve a inteligência. Mas nada disso é possível sem uma boa noite de sono. Não é a quantidade de horas dormidas e sim a qualidade do sono obtido nestas horas, associada à necessidade individual, que irá fazer a diferença para a recuperação e o repouso de todo o corpo e a mente. Atletas de elite, por exemplo, muitas vezes podem se dar ao luxo de dormir oito ou mais horas por noite e ainda tirar uma soneca à tarde para ajudar o corpo cansado a se recuperar dos treinos. Já quem trabalha normalmente e pratica uma atividade física apenas sonha – acordado – com essa possibilidade. E o pior: a energia utilizada por todo o corpo durante o esporte é a mesma consumida durante as horas de trabalho. Ou seja, dupla jornada. Isso deveria fazer com que esportistas amadores considerassem o sono uma parte importante de seu regime de treinamento.
“Em geral, uma ou duas noites de sono de má qualidade não vai ter muito impacto sobre o desempenho, mas constantemente dormir pouco pode resultar em mudanças sutis nos níveis hormonais, particularmente aqueles relacionados ao estresse, à recuperação muscular e ao humor”, explica o dr. Marco Túlio de Mello, pro-
fessor do Departamento de Psicobiologia e Exercício e membro do Centro de Estudo Multidisciplinar em Sonolência e Acidentes, do Instituto do Sono, ambos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Embora ninguém ainda compreenda completamente as complexidades do sono, algumas pesquisas indicam que a privação deste pode levar ao aumento dos níveis de cortisol (um hormônio do estresse) e à diminuição da atividade do hormônio de crescimento humano, o HGH (que está ativo durante a reparação tecidual), e da síntese de glicogênio.
QUALIDADE O número ideal de horas de sono varia de acordo com o indivíduo. Algumas pessoas parecem se dar bem com menos, enquanto outras precisam de mais; 70% da população mundial dorme em média 7 horas e 35 minutos por noite. Os chamados “curto dormidores” (15% da população) se satisfazem com apenas 5 horas de sono, enquanto os “longo dormidores” (outros 15% da população) necessitam de 9 a 12 horas por noite. Associada a esse processo existe ainda a questão do cronótipo. Essa classificação é subdividida em dois grupos: as pessoas que dormem muito cedo e acordam muito cedo, consideradas matutinas (15% da população), e as pessoas que dormem muito tarde e acordam muito tarde, as consideradas vespertinas (também 15% da população). Os 70% restantes dormem e acordam em um horário intermediário. A melhor maneira de avaliar quanto de sono você precisa é ir para a cama na mesma hora todas as noites e depois acordar por conta própria, sem o auxílio de um despertador. Quando estamos dormindo passamos por diversas fases: o sono tipo 1 (sonolência), 2 (sono leve), Delta (sono profundo) e REM (quando começam os sonhos). Essas fases se repetem entre ciclos alternados de quatro a seis vezes por noite. É na fase de sono profundo que o hormônio de crescimento é liberado das glândulas pituitárias. Embora tenha ganhado notoriedade como uma droga para melhorar o desempenho, em sua forma natural o HGH tem um papel fundamental na construção e reparação de tecido muscular e ossos, além de atuar como um catalisador para o corpo ao usar a gordura como combustível. Sem a quantidade certa de HGH no sangue, a recuperação dos treinos é dificultada, prolongando o tempo que o organismo leva para construir um motor aeróbico forte. “É preciso
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BEM
DURMA BEM • Tome um banho quente, use
técnicas de relaxamento ou faça uma massagem antes de deitar; • Durma em um ambiente calmo,
bem ventilado e escuro. Se possível, mantenha a temperatura do quarto em torno de 21˚C; • Tente ir para a cama no
mesmo horário todas as noites. Se você está mais cansado que o normal, deite-se mais cedo para evitar acordar mais tarde que o habitual; • À noite, tente comer refeições
leves. Evite cafeína, devido às suas propriedades estimulantes; • Evite assistir à tevê e ler antes
de dormir ou quaisquer outras atividades que acabam estimulando a mente.
aumentar um pouco o tempo total de sono em função do aumento do sono Delta, responsável por recuperar o corpo do desgaste físico causado pelo exercício”, diz o professor Marco Túlio de Mello. Por outro lado, se uma boa noite de sono pode melhorar o desempenho nas provas e treinos, a prática do exercício físico pode fazer o contrário: melhorar o sono. Mas valem alguns cuidados. Depois da prova ou do treino longo, o corpo não está totalmente apto para muitas horas de sono logo em seguida, diz o médico. “Em geral, leva-se um
mínimo de três horas para relaxar e garantir ao metabolismo condições mais favoráveis para o sono, como a redução da curva da temperatura corporal. Isso é fundamental para que o atleta consiga dormir bem.”
FOTO RAYMOND GEHMAN/NATIONAL GEOGRAPHIC/GETTY IMAGES
CORPO E MENTE
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AO AR LIVRE
EQUIPAMENTOS E EVENTOS PARA MELHORAR SUA PERFORMANCE FÍSICA E MENTAL
FILTRO SOLAR Com o sol chegando ao pico de seu ciclo magnético de 11 anos, o interesse em ver as tempestades em sua superfície também aumentou. Para conseguir enxergar com segurança o fenômeno, é preciso um telescópio que filtre tudo ao redor, exceto a linha espectral de hidrogênio. O Lunt Solar System’s LS152 oferece a melhor resolução nesse tipo de equipamento, mas cobra caro pela tecnologia. PREÇO: US$ 7.500 luntsolarsystems.com
Agenda De 14 a 16 de outubro, acontece em Belo Horizonte o Iron Biker Brasil, uma das competições mais importantes do mountain bike brasileiro. Na sexta-feira 14, o trajeto é de 12 km. No sábado, passa para 70 km. E no domingo, os competidores enfrentarão mais 50 km. www.ironbiker.com.br A temporada pelos campos de gelo no norte da Patagônia chilena está aberta. A Motonave Skorpios II, com capacidade para 130 passageiros, zarpa todos os sábados de Puerto Montt. São seis dias e cinco noites de viagem. www.skorpios.cl A rede de academias Bodytech (na foto, a recém-inaugurada unidade do shopping Eldorado) traz ao Brasil a aula Pilates Allegro, com até 11 alunos, que possibilita o trabalho de todos os músculos de forma integrada. www.abodytech.com.br
VAI E VOLTA Essa é uma opção muito legal para substituir as garrafinhas que os ciclistas carregam nas bicicletas. Funciona assim: uma bolsa fica presa embaixo do selim e um tubo vai pelo quadro até o guidão. Basta o ciclista puxar a ponta para hidratar-se, sem se descuidar do caminho. Graças a um eficiente sistema de cabo retrátil e magnético, o bocal volta instantaneamente para a base. PREÇO: US$ 80 www.showerspass.com/ veleau
LIGADO Os carregadores solares vêm sendo usados há várias temporadas no Everest e em outras grandes montanhas pelo planeta. No entanto, o preço desse equipamento ainda é alto. Ou era. O Restore,, da marca americana Brunton, pesa apenas 243 gramas, possui dois painéis solares e não custa caro. PREÇO: US$ 120 www.bruntonoutdoor.com
FOTOS DIVULGAÇÃO
Depois dessa invenção, a desculpa de ter ficado para trás porque parou para tomar água não cola mais
DESCE MACIO O Gel-Nimbus 13, a versão mais leve da série Nimbus (o feminino pesa apenas 269,3 g e o masculino 326 g), oferece extremo amortecimento e performance para os amantes da corrida. Desenvolvido para quem prima por tecnologia e conforto, o tênis atende aos corredores neutros e supinadores. PREÇO SUGERIDO: R$ 600 www.asics.com.br
sereias
ensaio
Flavianne e Karine matam o tempo e a solidĂŁo em uma tarde de sol brincando juntas com movimentos sincronizados e sinuosos na piscina do condomĂnio fotos pedro manoel
solitĂĄrias
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s ereia
F l av i a n n e e K a r i n e moram sozinhas no rio de Janeiro, para onde se mudaram por conta da carreira de modelo. as moças estão sem namorado. a mineira Flavianne França diz que os homens estão “muito fanfarrões, não querem saber de nada sério”. O último relacionamento, porém, foi ela quem deu fim, pois “ele era muito ciumento, achava que era meu dono”. a alagoana Karine Barros conta que, se tivesse alguém, “o rapaz teria que se acostumar a me ver pouco e ser muito paciente, por causa da correria da minha vida”. a modelo se desdobra também nos palcos, atualmente ensaia uma peça de teatro. Sua amiga também não para: participou este ano do programa Casa bonita, do canal Multishow, e venceu pela votação do público. Dá para entender. O prêmio é uma viagem para o Caribe, para onde vai levando um amigo. É, um amigo. enquanto ninguém conquista a gata, que quase todo dia sai para dançar na boate Boox, em ipanema, ela se distrai com a amiga, na piscina. Karine anda pouco na balada, mas, quando vai, prefere um barzinho na lapa, ouvindo MPB e – fica a dica – curte homem que tem jogo de cintura para chegar nela na hora certa. “Mas para me amarrar tem que ter energia positiva, saber dar carinho sem grudar.” Karine esculpiu suas medidas (90 cm de busto, 94 cm de quadril e 65 cm de cintura) com muita dança, balé e ginástica. Até futebol ela já jogou. Hoje, se tem tempo, vai à academia praticar ioga. Flavianne (88 cm de busto, 97 cm de quadril e 61 de cintura) revela que, sim, já fez sexo em uma piscina. Diz que até gostou, mas que prefere mesmo transar em casa, “onde ninguém vai atrapalhar”. Karine ri e fala que não, que nunca fez esta modalidade de esporte aquático. e, antes de mergulhar com a amiga para esfriar a cabeça, conta que, para se entregar a um homem, prefere ambientes “menos molhados”.
sereias
Hair/make apoema Chiell | produção de moda alê Duprat | assistente de produção renato telles Assistente de fotografia Fernando antunes e Nina Franco | agradecimentos Costa Brava Clube/rio de Janeiro | tratamento de imagem edu loco e Denis lazaro
viagem sangue-frio
Entrada da cavErna krubEra. sua vErticalidadE obriga os ExploradorEs a Estar sEmprE dEpEndurados
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centro da ter-
O último grande explorador do planeta é ucraniano e se chama Alexander Klimchouk. Ele é o responsável pela exploração da mais profunda caverna do mundo, que atingiu a impressionante marca de 2.191 metros abaixo da superfície por Piti Vieira
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sangue-frio
acima, alExandEr klimchouk à frEntE dE sua EquipE na Entrada da krubEra. abaixo, Exploradora transporta EquipamEnto Embaixo dE água gElada. na outra foto, gEnnadiy samokhin prEpara-sE para mErgulhar no sifão quE lEva à partE mais funda da cavErna
Q u a n d o o c a l m o e f r a n z i n o alexander Klimchouk despediu-se de sua esposa na entrada da caverna Krubera, nos montes cáucasos da Geórgia – pequena república localizada na fronteira entre europa e Ásia –, ele prometeu a ela voltar no dia seguinte. mas depois que seu companheiro francês Bernard Tourte se machucou em uma passagem apertada, Klimchouk decidiu ficar com ele em um acampamento subterrâneo, perdendo a chance de retornar à superfície antes de ir mais fundo. demorou quatro semanas para Klimchouk voltar a ver sua mulher novamente. nascido em odessa e criado em Kiev, na ucrânia, o explorador de 57 anos é reconhecido como um dos dois maiores espeleólogos (especialistas em cavernas) da atualidade – o outro é o americano Bill Stone, seu desafeto. além de ser um cientista de renome internacional, Klimchouk é também um esportista de altíssimo nível. após ter estado em um número superior a duas mil cavernas em mais de 30 países, ele decidiu estabelecer o projeto The call of the abyss (o chamado do abismo), com o objetivo de descobrir a primeira caverna do mundo com profundidade superior a dois mil metros. Sob sua coordenação, 56 espeleólogos (45 homens e 11 mulheres) de sete países diferentes atingiram 2.191 m de profundidade numa expedição realizada em setembro de 2007, que se desdobra até hoje. “Quando se começa a explorar uma caverna, não há uma placa na porta dizendo a profundidade daquele lugar. Isso significa que a Krubera, que hoje é a mais profunda caverna do mundo, não estava lá uns anos atrás”, diz Klimchouk. “esta caverna foi ‘feita’ por muitas pessoas da minha organização, a ukranian Speleogical Society, durante muitos anos. O maior desafio é a perseverança para fazer dessa caverna a mais profunda do mundo.” a exploração de supercavernas é a última fronteira da humanidade no que diz respeito à investigação dos limites do planeta. existem imagens abundantes do fundo dos oceanos, já fomos à lua e nos preparamos para ir a marte, conquistamos o everest e os polos, mas ainda não sabemos qual é o ponto de maior profundidade da Terra. “mesmo antes de se chegar ao topo do everest já se sabia que ali era o local mais alto do mundo. em cavernas, é impossível, não é algo que pode ser medido por radar, apenas pela exploração humana”, afirma Klimchouk. Para ser um bom espeleólogo, é preciso saber geologia, ser mergulhador, alpinista e saber lidar com cordas. existem blocos desmoronados que precisam ser quebrados aos poucos, a temperatura é congelante; se começar a chover na superfície, um
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O FUNDO DO MUNDO ENTRADA
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riacho vira um rio caudaloso em uma ou duas horas; existem abismos enormes, partes das cavernas estão sempre inundadas e ficar preso ali é fácil. Na realidade, há mais de 50 formas – todas terríveis – de encontrar a morte numa expedição em uma supercaverna, desde infecções provocadas por micróbios com os quais normalmente teríamos pouco ou nenhum contato até o envenenamento por gases.
desce! -340m 500m
-490m
Krubera é como um poço de elevador gigante; 90% de seu terreno vertical é técnico, ou seja, os espeleólogos estão dependurados na corda quase todo o tempo.
-580m
■
1.000m
■ daria para empilhar sete edifícios empire state dentro da profundidade atual de Krubera (2.191 m).
-1.410m
dentro da caverna, é mortalmente frio. a temperatura da água é sempre por volta -1.710m de zero grau e a temperatura do ar, no verão, não ultrapassa os 2o c. mas as expedições ali são sempre feitas no inverno porque há menos chance de inundações. mas o vento frio deixa a temperatura sempre abaixo de -17o c. ■
1.500m
-2.000m
-2.191m
■ muitas passagens têm sido exploradas em diferentes níveis da caverna. hoje, a extensão total da Krubera é de 16.058 m.
fotos alexander KlimchouK | stephen alvareZ | national geographic | gettY images
2.000m
carregando aproximadamente cinco toneladas de equipamentos, a equipe de Klimchouk precisou enfrentar grandes trechos pendurados em cordas de alpinismo (praticamente 90% da Krubera é vertical), muitas vezes debaixo de cachoeiras torrenciais de água (con)gelada, e atravessar inúmeros sifões subaquáticos (trechos alagados, considerados as zonas da morte em cavernas, transpostos somente com equipamento de mergulho). eles montaram acampamentos nas profundidades, de -700 m, -1.215 m, -1.410 m e -1.640 m, para que pudessem se alimentar e descansar. o trabalho de exploração era realizado em turnos de 20 horas. os exploradores tinham contato com a equipe de superfície graças a um cabo telefônico, instalado por todo o abismo. mas essa linha se mostrou uma péssima ideia quando um raio atingiu o centro de comunicações na superfície e quase matou o russo ilya zharkov, que estava ao telefone na outra ponta. na terceira semana embaixo da terra, o progresso descendente da equipe foi bloqueado em um salão sem passagem a uma profundidade de 1.775 m. o ucrâniano Gennadiy Samokhin fez um mergulho para examinar uma passagem apertada no fundo de uma piscina de dez metros de profundidade e veia à tona com uma notícia desanimadora: “Sem chance de passar”, disse ele. Buscando uma rota, Klimchouk enfrentou uma cascata com água congelante, também sem sucesso. em um último esforço, os ucrânianos denis Kurta e dmitry fedotov se espremeram através de um estreito de 100 metros de comprimento, batizado de caminho para o sonho, que apontava para baixo e permitia a continuidade da exploração. a passagem recém-descoberta levava a outro sifão, a -1.840 m, onde Samokhin emergiu sorrindo de um breve mergulho-teste. Havia um túnel promissor para baixo. Sondando uma série de aberturas nas paredes da parte mais profunda da caverna, a equipe finalmente ultrapassou os dois mil metros de profundidade, um fato mais tarde confirmado por levantamento. Mais passagens trouxeram os exploradores a uma câmara de areia a -2.145 m, que levava a mais um sifão. “mergulhamos 46 metros nesse ponto, alcançando a marca de -2.191 m”, conta Klimchouk. “Só que a partir de 50 metros de profundidade embaixo d’água é necessário usar trimix (mistura gasosa composta de oxigênio, nitrogênio e hélio, adotada como ferramenta em mergulhos profundos, pois permite ao mergulhador reduzir o fator narcótico), que não havíamos levado. abaixo desse nível, não há mais nenhum lugar onde exista ar; atingimos o lençol freático. no momento, estamos reestudando como continuar a exploração subaquática.” depois de quatro semanas embaixo da terra, com os suprimentos e as forças quase no fim, era hora de voltar. Eles chamaram esse local de Game over, o novo fundo do mundo. mas o jogo ainda está longe de terminar.
CONFIDENCIAL
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POR VIVI MASCARO
O QUE UM EMPRESÁRIO DO PORTE DE MARIO GARNERO FAZIA ALMOÇANDO COM A MISS CHINA E SUA ENTOURAGE UM POUCO ANTES DO CONCURSO MISS UNIVERSO EM SP? M A R I O G A R N E R O , pai do Mario Bernardo, do Álvaro, do Fernando e do Pipo, faz negócios em 28 línguas. Compra, vende, incorpora, intermedeia sob o guardachuva do seu grupo Brasilinvest, que existe há 35 anos. Quem conhece MG sabe que ele está longe de ser um sujeito ganancioso. Ele gosta mesmo é de praticar a arte sutil da diplomacia empresarial. MG é uma miniONU em pessoa. Já teve inimigos impiedosos, de muito poder, mas não guarda mágoa de ninguém. Adora, isso sim, cultivar amigos influentes. Mas muito do que faz é por mera gentileza. Dias atrás recebeu para um almoço, em sua torre de vidro, lá do alto da avenida Faria Lima, em São Paulo, Miss China e sua entourage. Dá para acreditar que um empresário do porte de MG possa gastar o seu precioso tempo compartilhando um atum com ervas e um chazinho-verde com uma candidata a Miss Universo? Pois é; Mario Garnero gasta. Pergunto a ele por quê. Como as histórias que MG sempre conta, esta pode começar em Nova York, no jantar de gala da Fundação Cartier, passar por uma magnífica townhouse em Sutton Place, prosseguir em telefonemas para Xangai, Beijing e – logo vocês saberão a razão – Madri e convergir, enfim, para esse almoço em São Paulo, com ele de anfitrião. A Miss China, Luo Zilin, tem 1,82 m, sorriso rasgado, inglês perfeito, humor surpreendente e uma tutora, espertíssima, Yue-Sai Kan, meio chinesa, meio americana, empresária do mundo dos cosméticos, apresentadora de tevê e celebridade no circuito Nova York-Xangai. Ela deu a Luo Zilin o nome – Roseline – e ensinou hábitos do Ocidente. É de Yue-Sai o brownstone de Sutton
MARIO GARNERO
LULA
GIOVANNI AGNELLI
PAPA BENTO XVI
SANT CHATWAL E BILL CLINTON
BOB KENNEDY
NAOMI CAMPBELL E MARIO BERNARDO
ARNOLD SCHWARZENEGGER
PRÍNCIPE ANDREW
DILMA
RONALD REAGAN
“OS MELHORES NEGÓCIOS SURGEM POR ACASO”
Place, num dos endereços mais trendy de Nova York. O encontro de MG e Yue-Sai em Manhattan foi formal mas ela sacou do cartão de visitas dele, tempos depois, para pedir um amparo de mídia para a protegida, já que o concurso de Miss Universo este ano seria em São Paulo e Yue-Sai tinha um bilhão de motivos para sonhar com a vitória de Luo Zilin (vocês quando lerem isso já saberão se deu ou não certo). Garnero disponibilizou desinteressadamente tempo e agenda e os tapetes vermelhos se estenderam, de imediato, aos pés da Miss China. Foi tão bem tratada que a organização do concurso acabou por desconvidar Álvaro Garnero do júri – ele que, no entanto, nem sabia que seria jurado ao conhecer a chinesa. Ridículo o concurso. Desinteressado, sim, o cavalheirismo de Mario Garnero, mas acontece que ele é do tipo que fareja longe uma boa oportunidade e bastaram duas ou três dicas de Yue-Sai para começar a arquitetar um negócio do tamanho da China. Juntou-se à Wise Key, empresa mega de segurança e administração de informações via web, movimentou suas fontes financeiras na Suíça, pegou o telefone e FOTOS DIVULGAÇÃO
ligou para Florentino Peres, presidente do Real Madrid. “O Real Madrid tem 400 milhões de seguidores nos sites do clube só na China”, explica MG. “Só o Cristiano Ronaldo tem 80 milhões. Ali pode ser uma mina de recursos. Você clica, passa a pagar”. Yue-Sai aconselha cobrar um renminbi por assinatura-ano. Um renminbi corresponde a 60 centavos de real. “Com esse preço, vocês terão 500 milhões de acessos”, calcula ela. Aí, foi Yue-Sai quem deu conselhos de graça. O negócio está sendo fechado. Mario Garnero descobriu a China em 1981 quando o país ainda nem sabia se continuava sendo uma ditadura comunista ou um capitalismo bem temperado. Chegou à frente de uma delegação da Confederação Nacional da Indústria, da qual era presidente, 20 empresários e dois jornalistas (Miguel Jorge, à época no Estadão, chegou a ministro da Indústria e Comércio do governo Lula). Apresentou a China à Petrobras e à Vale. Fincou em Beijing um escritório do Brasilinvest que durou três anos. Embora esteja especialmente apaixonado pelo Oriente, o estilo pé no jato de Mario Garnero não cabe num só país, a pátria dele é o planeta, tanto que é capaz de decifrar pela body language, pelo gestual e até pelo silêncio o código do comportamento de cada povo numa mesa de negociações. “Americano é pão, pão; queijo, queijo”, começa ele. “Japonês traz para a reunião um time grande, discute, discute, mas é jogo de cena; tem um só que decide.” Italianos? “Têm a incrível capacidade de botar tudo a perder no último minuto, no último detalhe, no último centavo.” Já o francês “é um negociador difícil, gosta de uma fofoca, de botar um contra o outro”. Seja como for, com a experiência de quem tem quase três dezenas de sócios para administrar, Garnero acha que todos os povos se parecem quando passam a falar a linguagem universal dos negócios: a do lucro. Conversar com MG é estar preparado para ouvir coisas como: “Veio me visitar o presidente do Tastaristão, que tem a segunda maior reserva de petróleo da ex-União Soviética...” ou “Na palestra que vou fazer dia 19 em Harvard...” ou “Almoçou comigo na semana passada o CEO da Azul...” ou “Compro hoje um Rauschenberg pelo preço de uma Beatriz Milhazes” ou ainda “Prefiro o inverno aqui ao verão em Cap Ferrat”. Cap Ferrat, na Riviera francesa, é o lugar onde ele desmente, ou tenta desmentir, a impressão generalizada de que o trabalho é, para ele, o único e autêntico lazer. O fanático de aeroporto, que viaja 100 dias por ano, pode ali, na villa beijada pela brisa do Mediterrâneo, lembrar que a vida é feita não apenas de investimento, câmbio supervalorizado, impostos abusivos e custo Brasil. “Tenho a casa há 45 anos”, diz. Claro que o telefone não para. “Os melhores negócios surgem por acaso, quando a gente não procura por eles.”
PORNOPOPEIA
POR REINALDO MORAES
O pênis, esse glorioso factotum
Virilidade, prazer e procriação são algumas das bandeiras hasteadas no mastro
U M B E LO D I A , L Á P E LO F I N A L D A M E N I N I C E , você acorda de pau duro. Lá está o mandrová ereto a te dar as boasvindas ao admirável mundo da sexualidade. A primeira ereção, para o homem, é o ato fundante de sua identidade ontológica. O velho mote racionalista do dr. Decartes, Cogito ergo sum (“Penso, logo existo”), na era pós-freudiana virou “Pênis, logo existo.” E, acredite, digo isso sem a menor jactância machista. É só uma constatação quase banal. O assunto é antigo. Japoneses e hindus, por exemplo, idolatram há milênios esse ícone da fertilidade e do prazer que é o pirilau. Se você for a Kawasaki, província de Kanagawa, no Japão, no primeiro domingo de abril, vai topar com desfiles de alegres japas carregando andores em que repousam enormes estátuas de pênis eretos apontados pro céu. Trata-se do Kanamara Matsuri ou Festival do Falo de Aço, denominação que remonta a uma lenda segunda a qual um demônio sacana se escondia na vagina das jovens beldades do lugar para castrar às dentadas os incautos que se intrometiam por ali. Até que um ferreiro teve a brilhante ideia de forjar um falo de aço para trincar os dentes do demônio. Pelo sim, pelo não, se você for conferir in loco o Kanamara Matsuri e se engraçar por uma guria local a ponto de ser ver na cama com ela, convém fazer-se preceder por um dildo ou qualquer fruta bananiforme, antes de introduzir nela o seu ペニス,que é como se escreve pênis em japonês. (Como se pronuncia? Não sei. Que tal piroka?) Na pior das hipóteses, uma boa dedada já quebra um galho. Antes perder um dedo que o ペニス, né! Entre os hindus, é ainda hoje muito popular o culto ao lingam, ou falo, símbolo da potência criadora, da fertilidade e, cá entre nós, da velha e boa sacanagem. Existe até uma seita por lá, dos lingavantha, cujos membros trazem um ícone em forma de lingam pendurado no pescoço. Já ouvi em algum lugar a tese de que a gravata ocidental seria uma adaptação tardia desse lingam de pescoço. Não poria minha mão no fogo
outubro 2011
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pela veracidade dessa tese e muito menos meu ペニス na boca daquele demônio japonês, mas, de qualquer forma, é melhor não ter isso em mente na hora de dar o nó na gravata. Pode causar certa aflição nos temperamentos mais sugestionáveis. Não muito tempo atrás, a velhice, certas doenças cardiovasculares e a prostactomia radical arrolavam-se (ôps!) entre as grande inimigas do orgulho peniano. A farra acabava ali. Mas, hoje em dia, a desfrutável fase genital da sexualidade masculina só termina, a rigor, com a morte do cisne, ou melhor, do ganso – ou ainda, mais precisamente, de seu dono. Digo isso pensando não somente no livre acesso a substâncias já bem manjadas, como sildenafil, tadalafila e vardenafila, presentes nos remédios antidisfunção erétil à disposição dos lingans recalcitrantes e mesmo dos mais serelepes. Mas também na nova geração de drogas injetáveis que cumprem sua missão com incrível rapidez e eficiência, mesmo que o cidadão esteja fazendo seu imposto de renda ou assistindo a um vídeo sobre a vida dos pinguins imperadores na gelada Antártida. É o caso da papaverina, da fentolamina e da admirável prostaglandina. Aplicadas diretamente na base da glande, elas são capazes de fazer Tutankamon levantar do sacófago, ele e seu cetro real, mesmo que o faraó esteja envergando um empoeirado fraldão geriátrico. Um amigo meu, setentão, que teve de deixar a próstata no hospital e ainda pagar por isso, usa o bagulho regularmente e me mostrou a seringuinha com as ampolas, acondicionadas numa caixinha de isopor. Ele jura que a injenção, autoaplicável, não dói nada e funciona que é uma beleza. “É uma picada na pica e ripa na chulipa, velho,” afirma o trêfego geronte (tal podia ser, aliás, o slogan publicitário do prodígio injetável. Fica a sugestão). Você só precisa arranjar uma boa desculpa para se trancar por alguns minutos no banheiro antes de fazer sua gloriosa rentrée em cena, todo lépido, fagueiro e teso feito um pau-ferro.
ILUSTRAÇÕES PEDRO MATALLO
Enfim – e aqui chego ao ponto onde ele teria preferido ficar sem foder, com o imagino que queria chegar –, vamos perdão pelo meu francês. combinar que, com ou sem dro- E haja pílulas e seringas. E, sobretugas pró-priápicas, é verdadeira- do, tesão. A mulher pode até ter a tal da mente enorme, quase massacrante, “inveja do pênis”, diagnosticada pelo dr. a carga de responsabilidade depo- Freud, mas pelo menos não tem de carsitada nesse mítico apêndice mas- regar esse piano todo nem quando jovens culino. E com a agravante de que nem quando velhas. Como bem observou o homem tem de arcar com essa a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora responsa praticamente até o fim do Programa de Estudos em Sexualidade seus dias na Terra. Esse mesmo de (ProSex) do Instituto de Psiquiatria velho amigo meu, que tem um filho de do Hospital das Clínicas de São Paulo: 13 anos de seu último relacionamento “O pênis reúne os conceitos de procriacom uma mulher bem mais jovem que ção, prazer, virilidade e paternidade. Na a anterior, às vezes lamenta sua longevi- mulher, eles estão separados entre o clidade sexual. “Vou ter que pagar colégio tóris (prazer), útero (procriação), vagina pro Tiaguinho até os meus oitenta anos. (gênero) e seios (maternidade)”. Se não mais,” diz ele. Quer dizer, é muita responsa prum ペ Mas vai perguntar pro meu septuagé- ニス só. Não é à toa que o carregam em nio cumpadre se ele preferia ter passado triunfo pelas ruas de Kawasaki uma vez os últimos 10 ou 15 anos lendo Platão e por ano. fazendo tai chi chuan pra terceira idade. Hay! Não precisa perguntar, eu sei a resposta: “Nem fodendo!” Ou seja, nem fodendo