Diรกlogos das C armelitas
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Impresso no Brasil, novembro de 2013 Título original: Dialogues des Carmélites Copyright © Éditions du Seuil, 1949 e 1995 Todos os direitos reservados. Os direitos desta edição pertencem a É Realizações Editora, Livraria e Distribuidora Ltda. Caixa Postal: 45321 · 04010 970 · São Paulo SP Telefax: (5511) 5572 5363 e@erealizacoes.com.br · www.erealizacoes.com.br Editor Edson Manoel de Oliveira Filho Produção editorial Liliana Cruz Preparação de texto Juliana Ferreira da Costa Revisão Danielle Mendes Sales Capa e projeto gráfico Mauricio Nisi Gonçalves / Estúdio É Diagramação e editoração André Cavalcante Gimenez / Estúdio É Pré-impressão e impressão Edições Loyola Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer outro meio de reprodução, sem permissão expressa do editor.
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Diálogos das C armelitas Segundo a novela de Gertrud von le Fort e o roteiro de R. P. Bruckberger e Philippe Agostini
GEORGES BER NANOS
Tradução de Roberto Mallet
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A Christiane Manificat
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Veja, em certo sentido o Medo é também filho de Deus, resgatado na noite de Sexta-Feira Santa. Não é belo de se ver – não! – ora escarnecido, ora amaldiçoado, renegado por todos... E, entretanto, não se iluda: ele está à cabeceira de cada agonia, ele intercede pelo homem. A Alegria
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Pr贸logo.......................................................................................... 13 Primeiro Quadro............................................................................ 15 Segundo Quadro............................................................................ 27 Terceiro Quadro............................................................................. 57 Quarto Quadro.............................................................................. 95 Quinto Quadro............................................................................ 133
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Personagens
• Marquês de la Force • Marquesa de la Force • O Cavalheiro, seu filho • Branca, sua filha (Irmã Branca da Agonia de Cristo) • Senhora de Croissy (Madre Henriqueta de Jesus), Priora do Carmelo • Senhora Lidoine (Madre Maria de Santo Agostinho), nova Priora • Madre Maria da Encarnação, Subpriora • Madre Joana do Menino Jesus, decana anciã • Madre Geraldo, Irmã Clara, Irmã Antônio, porteira, freiras idosas • Irmã Catarina • Irmã Felicidade • Irmã Gertrudes • Irmã Alice • Irmã Valentina da Cruz • Irmã Matilde • Irmã Ana • Irmã Marta • Irmã São Carlos, Irmã Constância de São Denis, freiras muito jovens • O Capelão do Carmelo • Senhor Javelinot, médico • Marquês de Guiches • Gontran • Heloísa • Rosa Ducor, atriz • O Notário do convento • Thierry, lacaio • Antônio, cocheiro • Delegados da municipalidade, comissários, oficiais civis • Prisioneiros, guardas, homens e mulheres do povo
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Cena I 1774. Praça Luís XV, em Paris. Noite de festejos pelo casamento do Delfim, futuro Luís XVI, com a arquiduquesa Maria Antonieta. Carruagens de aristocratas passam entre a alegre multidão, contida pela guarda. Numa das carruagens, vemos um jovem casal, o Marquês de la Force e sua esposa grávida. O Marquês desce do carro e vai até as tribunas. A queima de fogos de artifício começa e, de repente, as caixas de foguetes incendeiam e explosões se sucedem. Embora não haja nenhum grave perigo, o pânico toma conta da multidão. Atropelos, gritos de medo, pessoas caem no chão e são pisoteadas. A jovem Marquesa, apavorada, fecha o ferrolho da porta. O cocheiro açoita os cavalos que disparam e lançam-se numa louca corrida. Brusca cólera da multidão, os cavalos são detidos, uma vidraça voa em estilhaços. Uma voz de homem grita: “Tudo vai mudar daqui a pouco, vocês é que serão massacrados e nós andaremos nas suas carruagens!”. Os soldados chegam a tempo de resgatar a Marquesa, que está a ponto de ser agredida.
Cena II Algumas horas mais tarde. Um médico sai do quarto da Marquesa, no Palácio de la Force. Anuncia ao Marquês que acaba de nascer uma menina, mas que a jovem mãe está morta.
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Primeiro Quadro
Cena I Palácio de la Force. Abril de 1789. O Marquês e o Cavalheiro. Este, visivelmente surpreso com a presença do pai, não consegue conter a pergunta que lhe queima os lábios: Cavalheiro Onde está Branca? Marquês Não estou sabendo de nada, por que diabos não pergunta às suas mulheres em vez de entrar aqui sem avisar, como um turco? Cavalheiro Peço-lhe mil perdões. Marquês Na sua idade não faz muito mal ser um pouco exaltado, como na minha é natural querer manter os velhos hábitos. A visita do senhor seu tio me fez perder a sesta, e há pouco eu estava quase cochilando, para dizer a verdade... Mas o que quer com Branca? Cavalheiro Rogério de Damas acabou de sair daqui e teve que retornar duas vezes para não ser atropelado por uma grande multidão.
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Corre o boato de que vão queimar o retrato de Réveillon na Praça de Grève. Marquês Pois que o queimem! Com o vinho ao preço que está, é natural que a primavera esquente um pouco as cabeças. Tudo isso vai passar. Cavalheiro Se ousasse fazer na sua presença uma brincadeira de mau gosto, diria que em relação à carruagem da minha irmã está se saindo muito mal como profeta. Damas viu a carruagem bloqueada pela multidão, na encruzilhada de Bucy. O Marquês de la Force, que tinha aberto a tabaqueira, fecha-a bruscamente sem pegar nada, e como o Cavalheiro se aproxima, detém-no suavemente com o braço estendido. Marquês A carruagem... a multidão... perdão, essas imagens têm muitas vezes assombrado minhas noites... Hoje falam bastante em rebelião ou mesmo em revolução, mas quem não viu a multidão em pânico não viu nada... Deus me livre! Todos aqueles rostos de bocas contorcidas, milhares e milhares de olhos... Misericórdia! De um lado a outro, de repente a praça começou a fervilhar, as bengalas e os chapéus voavam numa altura incrível, como se tivessem sido arremessados ao ar pela explosão de um grito imenso. Algumas testemunhas juraram depois que não viram esses chapéus e essas bengalas, mas eu vi, por todos os diabos! Cavalheiro Perdão, senhor, eu deveria ter imaginado... Mais uma vez falei sem pensar.
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O Marquês pega novamente a tabaqueira. Tamborila na tampa com a ponta dos dedos, pensativo. Marquês Ora! É esta velha cabeça também que esquenta muito rápido. Mas qual é a semelhança, pergunto eu, entre o que vi naquela vez e uma rebeliãozinha casual, um desfile de bêbados pelas ruas de Paris? Minha carruagem é resistente, os velhos cavalos não se assustam com nada, Antônio está a nosso serviço há vinte anos, e os dois lacaios são ex-soldados do Regimento de Navarra. Não pode acontecer nada de mau à sua irmã. Cavalheiro Oh! Não é pela segurança dela que eu temo, o senhor sabe, mas pela imaginação doentia. Marquês De fato, Branca é muito impressionável. Um bom casamento arranjará tudo. Vamos! Vamos! Uma jovem bonita tem o direito de ser um pouco medrosa. Paciência! Você ainda terá muitos sobrinhos fazendo mil diabruras por aí. Cavalheiro Acredite: o que ameaça a saúde de Branca, ou até sua vida, não pode ser somente o medo. Ou então é um medo recalcado até o fundo do ser, é o gelo na medula da árvore... É, meu senhor, acredite, há alguma coisa no caráter de Branca que ultrapassa o entendimento comum. E talvez em um século menos esclarecido que o nosso... Marquês O quê! Fala como um camponês supersticioso. A afeição que sempre teve por sua irmã está lhe perturbando o espírito. Branca me parece quase sempre natural e, às vezes, até radiante.
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Cavalheiro Oh! Sem dúvida, pode ser que eu esteja enganado e acreditaria mesmo num bom destino se não visse sempre a maldição no seu olhar. O que a voz pode ocultar, o olhar revela; é no olhar, não na voz, que o medo se trai, foi o que aprendi a serviço do Rei, embora ainda seja um novato... Mas de que serve dizer-lhe o que outras guerras mais terríveis já lhe ensinaram, bem antes que eu nascesse? O Marquês esboça um primeiro gesto de protesto, depois responde lentamente, com o aspecto de quem interroga as próprias lembranças. Marquês Meu Deus, é verdade, sabíamos essas coisas, eram úteis quando precisávamos delas, mas agora me parecem novidades em sua boca, pois não pensamos mais nelas, e esta é a diferença entre a nossa geração e a sua. Por que diabos teria a ideia de julgar sua irmã a partir da experiência que adquiri com os cabos e os sargentos do Real-Picardia?...1 Cuidado, pensando assim como faz hoje acabará não compreendendo a razão de mais nada! Quando Branca e sua governanta chegarem, daqui a pouco, rirá das suas angústias e ela esquecerá as dela. Cavalheiro O que está querendo dizer é que mais uma vez terá sido abandonada pelo medo... Abandonada pelo medo! Falando de Branca, a aproximação dessas duas palavras me faz tremer... Uma jovem tão nobre e tão altiva! O mal entrou nela como um verme num fruto... Oh, senhor, essas palavras devem parecer-lhe obscuras ou pedantes, especialmente na minha boca... Guarde apenas o suficiente para que decida enviar minha irmã 1
Regimento de infantaria da monarquia francesa. (N. T.)
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a Miromesnil, ou mesmo a Limeuil, respirar a primavera e beber o leite das nossas vacas. Marquês Sim, brincar de fazendeira, como está na moda hoje. Infelizmente não é assim que uma moça encontra casamento. Só se estivesse louco afastaria minha filha justamente quando começo a me entusiasmar com as visitas do seu amigo. Ah, o jovem Damas não é bem o que antigamente se chamava de um bom partido, mas eu ficaria contente se fosse meu genro. Por que não? Acho os jovens de hoje complicados demais para o meu gosto. Ele é um verdadeiro francês, é mesmo um francês de três séculos, com o cavalheirismo de um, a elegância do outro e a alegria do atual. É verdadeiramente o que eu chamo de um belo francês, um belo rapaz, um bravo rapaz, um homem de bom gosto da corte francesa. Este é Rogério de Damas. Com os diabos! E você também acha isso. Cavalheiro Basta dizer que é o meu melhor amigo... Mas não se iluda. No estado lastimável em que se encontra, minha irmã jamais casará com um homem conhecido pela valentia, em cuja presença teria medo até de corar. Marquês Criancices! Cavalheiro Está enganado. Não sei se o caráter bizarro de Branca pode levá-la a fazer alguma impropriedade, ao menos segundo a ideia que tem sobre os deveres de uma boa filha, mas acho que não conseguiria sobreviver. * * *
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Cena II Abre-se a porta e Branca surge de forma tão repentina que nos perguntamos se ouviu ou não essas últimas palavras. O Cavalheiro faz um gesto involuntário, mas o velho Marquês domina melhor os nervos e diz com naturalidade:
Marquês Branca, seu irmão estava ansioso para encontrá-la. Branca tem o aspecto profundamente alterado, mas vemos que teve tempo de se refazer e que se esforça para falar com jovialidade. Branca O Senhor Cavalheiro é tão bom para a sua coelhinha... Cavalheiro Não fique repetindo a toda hora uma brincadeira que só tem sentido para nós dois. Branca Os coelhos não costumam passar o dia fora da toca. É verdade que levei a minha comigo. Mas uma simples vidraça entre aquela multidão e a minha medrosa pessoa pareceu-me por um momento uma proteção bem irrisória. Devo ter feito um papel ridículo. O Marquês faz sinal para o filho calar-se. Marquês Está bem! Falaremos das suas aventuras ao jantar, quando já tiver repousado um pouco. É melhor esquecer por um tempo o que viu, e não devemos julgar essa canalha pela aparência... O povo de Paris não é mau, e aqui tudo acaba em canções.
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Cavalheiro O Senhor de Damas, que a viu na encruzilhada Bucy, disse-me há pouco que fazia uma bela figura por trás da vidraça... Ela cora de prazer e, para esconder a emoção, fala com uma jovialidade exagerada, que acaba criando certo mal-estar. O Marquês e seu filho trocam um olhar. Branca Oh! O Senhor de Damas na certa viu somente o que ele mesmo queria ver... É verdade, eu fazia uma bela figura? Meu Deus! Será que o perigo é como a água fria que primeiro nos tira o fôlego e depois fica agradável, quando nos cobre até o pescoço? Mas também quando é que temos a chance de enfrentar um desafio, nós, as jovens? Para valer alguma coisa é preciso conhecer o próprio valor... Meu Deus, meu Deus, imaginem que há pouco a Senhora Janin, descendo da carruagem, não acreditava nos próprios olhos, e eu me sentia tão leve... Este grande peso, desde sempre, no meu coração... (Leva a mão ao peito, olha em torno, estanca.) Mas o que estou dizendo? Não passo de uma tola, perdoem-me... (Antes que seu irmão tenha a oportunidade de abrir a boca, retoma com uma voz cuja alegria é totalmente fictícia:) Essa cerimônia nas Senhoras da Visitação foi muito longa e deixou-me muito cansada. Sem dúvida é por isso que devaneio. Com a sua permissão, meu pai, vou seguir seu conselho e repousar um pouco antes do jantar. Vejam! Como a noite vai chegando depressa... Marquês Se não estivéssemos no início da estação, eu diria que se prepara uma tempestade. O céu escureceu rapidamente, enquanto você falava. Ela se dirige para a escada, o irmão a acompanha.
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Cavalheiro Já que vai recolher-se em seu quarto, peça logo uma lâmpada e não fique sem companhia. Sei que o crepúsculo sempre a deixa melancólica. Dizia quando era pequena: “Morro toda noite para ressuscitar a cada manhã”. Branca É que somente houve uma única manhã, senhor Cavalheiro: a de Páscoa. Mas cada noite que começa é a da Santíssima Agonia... Ela sai. * * *
Cena III Marquês Sua imaginação vai sempre de um extremo a outro. Que diabos significa essa última frase? Cavalheiro Não entendi nada, e não importa muito! O seu olhar e a sua voz é que me ferem a alma. Os cavalos já estão desatrelados. Vou fazer algumas perguntas ao velho Antônio. Ele sai. Mal encosta a porta, ouve-se um grito de terror. O Marquês hesita um momento sobre que direção tomar, depois vai para a escada. Ouvem-se passos nos degraus. O Marquês parece reconhecer alguém na penumbra e grita: Marquês És tu, Thierry? Os passos se aproximam e aparece um jovem lacaio, muito pálido.
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O que aconteceu contigo, meu menino? Lacaio Estava acendendo a lâmpada quando a senhorita Branca entrou no quarto... Acho que viu primeiro minha sombra na parede. Tinha acabado de fechar as cortinas. * * *
Cena IV Quarto de Branca. Quando seu pai entra, Branca vai até ele. Sua voz, sua atitude, os traços de seu rosto traduzem uma espécie de resolução e de resignação desesperada. Marquês Subi até aqui num impulso, em vez de chamar a governanta, perdoe o mau jeito. Pelo que vejo, não houve nada de grave. Branca Oh, meu senhor, é o mais amoroso e o mais delicado dos pais... Marquês O senhor Rousseau, que não era muito bom com seus filhos, quer que sejamos amigos dos nossos. No fim das contas, temo que a amizade acabe diminuindo a clemência e a delicadeza, pois, em suma, ela beneficia mais a nós mesmos. É menos difícil ser amigo que ser pai... Mas não falemos mais nisso. Branca Meu pai, não há acontecimento tão insignificante que não tenha inscrita em si a vontade de Deus, como toda a imensidão do Céu em uma gota d’água. Sim, foi Deus que o trouxe aqui para ouvir o que meu coração tantas vezes não permitiu que eu dissesse. Com a sua permissão, decidi entrar no Carmelo.
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Marquês No Carmelo! Branca Acho que minha confissão surpreende-o menos do que está parecendo. Marquês Ah! É sempre perigoso quando uma jovem tão virtuosa quanto minha filha acaba ouvindo os conselhos de uma devoção exaltada. O fato é que algumas circunstâncias infelizes do seu nascimento criaram em mim uma relação de muita ternura com você, e eu não gostaria de contrariá-la em nada. Depois falamos disso com mais calma, mas desde já eu lhe digo que confia demais, não na sua coragem, mas nas suas forças e na sua saúde... Branca Minha coragem... Marquês Uma jovem menos orgulhosa não se atormentaria por causa de um simples grito. Branca Minha coragem... Ela se decide bruscamente, como se, tentando convencer o pai, aumentasse pouco a pouco a esperança de persuadir-se a si mesma. Meu Deus, é verdade, acho mesmo que há várias coisas em mim de que não se envergonharia. Fazendo-me do jeito que sou, por que Deus quereria apenas me aviltar? A fragilidade da minha natureza não é uma simples humilhação que me foi imposta, mas um sinal da sua vontade para sua pobre serva. Em vez de sentir vergonha, eu deveria me gloriar com tal predestinação. Oh! Sem
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dúvida, sei que não é conveniente, mesmo na sua presença, tirar vantagem do sangue que tenho nas veias, e da importância da nossa casa. Não importa! Por que milagre eu teria nascido totalmente indigna de tantos homens de bem, com justiça famosos por seu valor? Há vários tipos de coragem, é o que penso agora. Uma certamente é a de enfrentar os mosquetes. Há outra, a de sacrificar as vantagens de uma posição invejável para viver entre companheiras e sob a autoridade de superiores com nascimento e educação muitas vezes inferiores aos nossos. Para, um pouco envergonhada. O velho Marquês escuta em silêncio, a cabeça baixa. Depois diz com certo esforço, mas com o tom de um homem que fala para cumprir um dever: Marquês Minha menina, há mais soberba na sua resolução do que pode imaginar. Não sou propriamente um devoto, mas sempre acreditei que as pessoas de nosso estado devem agir honestamente diante de Deus. Não se abandona o mundo por desgosto, como um novato que se deixa matar na primeira batalha mais violenta por medo de perder a coragem, privando assim de seus serviços, inutilmente, o Rei e seu país. Ela vacila sob esse golpe, mas não se entrega. Branca Eu não desprezo o mundo, e não é bem medo que sinto dele; o mundo para mim é como um elemento em que não consigo viver. É, meu pai, não posso suportar fisicamente o seu ruído, a sua agitação; as melhores companhias me esgotam, qualquer movimento na rua me atordoa, e quando acordo de noite, espio com desagrado através das cortinas o rumor dessa grande cidade incansável, que
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só adormece quando raia o dia. Poupem-me os nervos dessa provação e verão do que sou capaz. Condenaria um jovem oficial que renunciasse a servir na armada do Rei porque não suporta o mar? Marquês Minha querida filha, que a sua consciência decida se a provação está acima das suas forças ou não... Branca Oh, meu pai! Vamos parar com isso, por piedade. Oh, por piedade! Deixe-me crer que há um remédio para essa horrível fraqueza que me torna a vida tão infeliz! Ai, o Senhor de Damas tem que ser bem cego para ter visto em mim uma bela figura. Deus! Mal conseguia ficar em pé, estava gelada até o coração, ainda estou, toque minhas pobres mãos... Oh, meu pai, meu pai! Se não esperasse que o Céu tivesse algum desígnio para mim, morreria aqui de vergonha aos seus pés. Talvez tenha razão, talvez a provação não tenha chegado ao fim. Mas Deus não vai querer isso para mim. Eu lhe sacrifico tudo, abandono tudo, renuncio a tudo para que ele me devolva a honra.
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