Revista Digital Passear Nº46 Versão Gratuita

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passear Nº. 46 . Ano IV . 2015 . PVP: 2 € (IVA incluído)

sente a natureza

Crónica

SEARCHING FOR LOTUS

Caminhada

7 VALES SUSPENSOS

EQUIPAMENTOS

Nova bolsa da AQUAPAC GARMIN atualiza linha Montana

ENTREVISTA

C.M. DE VILA DE REI

GR ZÊZERE

UNIR E POTENCIAR


Correspondência - P. O. Box 24 2656-909 Ericeira - Portugal Tel. +351 261 867 063 www.lobodomar.net

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Zêzere, unir e potenciar A recente inauguração da Grande Rota do Zêzere veio demonstrar como um rio, uma ideia, podem ser elementos potenciadores de desenvolvimento para as regiões interiores do nosso país. Estive, durante três dias, no concelho de Vila de Rei e tive a oportunidade de constatar a importância que o Turismo de Natureza tem no desenvolvimento económico da região. Com este novo produto GR do Zêzere, o interior valoriza-se e apresenta uma oferta mais abrangente em que todos os concelhos por onde passa o traçado ganham. O trabalho em rede é essencial para o sucesso! Gostaria de lembrar que, nos próximos dias 10 e 11 de Outubro, a Herdade da Mourisca (Faralhão, Setúbal) volta a receber uma edição da Observanatura. É uma iniciativa importante para todos aqueles que gostam da Natureza, com um especial destaque para a observação de aves. Bons passeios e boas leituras. Diretor vascogoncalves@lobodomar.net

Veja os eventos sempre actualizados em www.passear.com Capa Fotografia

Caminhada GR Zêzere (pág.10)


3 Edição Nº.46

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Sumário 04 Atualidades 10

Caminhada: GR Zêzere

26 Entrevista:

Versão completa paga

gratuita

Câmara de Vila de Rei

30 Destino:

Searching for Lotus

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BTT: Crónica

A caminho de Santiago

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Apresentação de artigos

do Passear (versão paga)

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ASSINATURA Passear

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64 Equipamentos 68 Destino:

O Castelo do Lindoso

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Destino: Algarve

O Percurso dos Sete

Vales Suspensos

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DO PARQUE À TAPADA: DUAS FLORESTAS, UMA EXPERIÊNCIA ÚNICA A Parques de Sintra – Monte da Lua (PSML) e a Tapada Nacional de Mafra (TNM) acabam de lançar um programa conjunto de visita a Sintra e a Mafra, que dá a conhecer a diversidade de ecossistemas do Parque Natural de Sintra - Cascais (área protegida à qual pertence o Parque e a Tapada de Monserrate), e a magnífica floresta antiga e autóctone que caracteriza a TNM. Este projeto foi cofinanciado pelo POR Lisboa. Em dois cenários distintos mas ambos majestosos, encontram-se centenas de ani-mais e plantas. Os percursos tiram partido dos pontos comuns e das complementaridades das duas regiões, permitindo, num só dia, reconhecer in loco a importância dos valores naturais (fauna e flora) que as duas instituições gerem, contribuindo para a sensibilização e educação ambiental dos visitantes.

Em Monserrate o visitante explora a história natural da serra de Sintra, o microclima peculiar que a caracteriza e a torna tão mística, conceitos como a forest food, a sucessão ecológica, as espécies invasoras, entre outros. Ao longo do percurso os visitantes serão ainda surpreendidos pela presença de esculturas em madeira de mamíferos de médio e grande porte, atualmente inexistente na serra de Sintra mas que, num passado recente, habitaram esta paisagem. Em Mafra, por um trilho menos explorado, os visitantes descobrirão uma floresta que atingiu o seu ponto de maturidade e que, ao estar protegida por um muro, consegue garantir condições de excelência para espécies vulneráveis e mesmo em perigo de extinção que aqui se alimentam, reproduzem e se abrigam. Segundo Susana Morais, coordenadora


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do Núcleo de Programação e Ambiente da PSML, “É nossa ambição reforçar este projeto conjunto como único e inovador tanto a nível nacional como internacional. Este projeto permitirá a partilha de experiências entre as instituições, bem como do público que as visita. Queremos aumentar a perceção dos nossos visitantes para a riqueza do património natural do Parque Natural Sintra-Cascais, no qual se inclui a Tapada de Monserrate”. De acordo com Alda Mesquita, Presidente da Direção da TNM, “Estamos permanentemente a diversificar e a inovar a nossa oferta, designadamente, os nossos percursos, facultando novas experiências e informação, recorrendo ao apoio de ferramentas inovadoras para que os visitantes possam percecionar as muitas espécies que coexistem neste cenário florestal invulgarmente rico e diversificado. O percurso nos dois locais tem uma duração total de cerca de 3h30 (1h30 em

Sintra e 2h30 na Tapada de Mafra). A duração média da deslocação de Sintra a Mafra é de cerca de 45 minutos. Os horários e os preços da visita podem ser consultados nos sites oficiais das duas entidades. Aconselham-se as escolas e grupos a agendarem previamente as suas visitas. MAIS INFORMAÇÕES: www.desintraamafra.pt www.parquesdesintra.pt www.tapadademafra.pt Parques de Sintra: info@parquesdesintra.pt +351 21 923 73 00 Tapada Nacional de Mafra: geral@tapadademafra.pt +351 261 817 050

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7ª EDIÇÃO DA OBSERVANATURA No dias 10 e 11 de outubro, a Herdade da Mourisca (Setúbal), recebe pela sétima vez, a Observanatura, uma feira dedicada ao Turismo de Natureza realizada ao ar livre em plena área protegida da Reserva Natural do Estuário do Sado, cuja organização está a cargo do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e Toianatura.

ALGARVE EM DESTAQUE NA BTL 2016

O Algarve é o destino convidado nacional da BTL 2016, o maior evento de Turismo realizado em Portugal, dirigido a profissionais e ao público final, e que irá decorrer de 2 a 6 de Março, na FIL – Parque das Nações. O anúncio foi feito na cerimónia de entrega de prémios Publituris Portugal Travel Awards, a qual decorreu na sexta-feira, dia 11, no Pine Cliffs Resort em Albufeira. Durante os cinco dias da Bolsa de Turismo de Lisboa, o Algarve irá estar em destaque no Pavilhão 1 e apresentar aos visitantes a sua vasta oferta turística. O Presidente da Região de Turismo do Algarve, Desidério Silva, acrescenta: “Para nós é uma excelente notícia sermos o destino convidado da próxima BTL e para o público e o trade vai ser a ocasião perfeita para se familiarizarem com a imensa oferta turística do Algarve, que hoje vai muito além do Sol e Praia. O maior destino de férias nacional aposta também na Natureza, na Gastronomia e Vinhos, no Golfe e no Turismo Residencial, e todos os anos tem experiencias únicas que

fazem do Algarve o destino turístico preferido dos portugueses. É a cereja em cima do bolo num momento em que o Turismo algarvio tem vindo a bater recordes e a somar distinções internacionais, como a recente eleição como Melhor Destino de Praia da Europa nos World Travel Awards, os Óscares do turismo”. Para Fátima Vila Maior, directora de área de feiras da FIL responsável pela BTL: “Sendo o Algarve a região turística mais importante a nível nacional, que em 2014 registou cerca de 16,4 milhões de dormidas, é natural que na próxima edição da BTL este importante destino seja valorizado e promovido junto dos mais de 72 mil visitantes que esta Feira recebe”. A responsável adianta: “Não podemos esquecer que o Algarve tem uma importância relevante e estratégica junto do mercado interno e externo e é, assim, a escolha certa para a edição deste ano. Iremos, com certeza, ficar a conhecer melhor os seus diferentes produtos, desde os tradicionais sol e mar, golfe e turismo residencial passando pelos que estão em expansão como a gastronomia e vinhos, touring, turismo de saúde, de negócios, de natureza e náutico”. O Algarve segue-se ao Alentejo e aos Açores, destinos convidados nacionais em 2015 e 2014, respectivamente.


SECRETARIA DE ESTADO DO AMBIENTE DÁ PARECER DESFAVORÁVEL AO APROVEITAMENTO HIDROELÉTRICO DE SISTELO “De uma maneira geral, é considerado que os impactes negativos decorrentes da implantação do projeto ultrapassam em muito os impactes positivos” –

Agência Portuguesa do Ambiente Fruto das diligências da Câmara Municipal, movimentação da população do concelho e outras entidades ligadas ao processo, a Agência Portuguesa do Ambiente deu parecer desfavorável à construção de uma mini hídrica na freguesia de Sistelo, parecer que foi ratificado pela Secretaria de Estado do Ambiente. A Câmara Municipal congratula-se com esta decisão pois sempre considerou que o Aproveitamento Hidroelétrico de Sistelo no Rio Vez provocaria inúmeros e significativos impactes negativos, não sendo compatível com os objetivos de Conservação da Natureza, nomeadamente os que levaram à classificação do Rio Vez como Sítio de Interesse Comunitário da Rede Natura 2000. De igual modo não tinha sido considerado o facto de a mini-hídrica estar localizada na Reserva da Biosfera Transfronteiriça do Gerês-Xurés, declarada pela UNESCO em 2009, sabendo-se que em termos mundiais esta é uma das 17 reservas da biosfera transfronteiriças. A mini-hídrica provocaria uma alteração no regime hidrológico do Rio Vez e nas tradições seculares de rega das explorações agrícolas, pondo em causa a subsistência do ecossistema e das explorações agrícolas. O PDM de Arcos de Valdevez também não permitia a construção da central, nem de parte da conduta em área de Espaço Natural. De referir que a Câmara Municipal de Arcos de Valdevez sempre esteve empenhada em fomentar e apoiar as políticas de energia

sustentável e eficiência energética, consciente do papel que a sua utilização tem no contexto social e económico do País e da Europa. No entanto, neste projeto não se identificavam mais-valias significativas que justificassem o impacte negativo relevante e irreversível nos recursos e nos projetos elencados. A APA justifica a sua decisão dizendo que: “ Uma forte contestação à implantação do Aproveitamento Hidroelétrico de Sistelo é o que emerge da análise dos pareceres recebidos (…) esta posição, unanimemente defendida por cidadãos, autarquias, organizações não-governamentais de ambiente, associações e outros representantes da sociedade civil é corroborada pelo facto de não terem sido identificadas (…) mais-valias significativas que justificassem os impactes negativos relevantes, significativos e irreversíveis decorrentes da implantação do projeto”.

Diz ainda que: “ O Aproveitamento Hidroelétrico de Sistelo situa-se na Reserva da Biosfera Transfronteiriça do Gerês-Xurês, na zona de Proteção Especial (ZPE) da Serra do Gerês e no sítio de Importância Comunitária (SIC) do Peneda Gerês, onde estão presentes espécies protegidas prioritárias (…) Sistelo é dos poucos locais onde ainda é possível observar a sociedade em diálogo com a natureza, a serra e o rio. O Vez (…) tem sido um atrativo turístico de enorme valor e tem mobilizado a economia local em torno de valores como as praias fluviais, ecovias e trilhos (…) é um curso de água bastante preservado, ainda sem intervenções antrópicas, o que lhe confere um estatuto ecológico de enorme importância (…) possui uma grande atratividade turística fazendo dele e da sua envolvente um sítio único. A sua biodiversidade (…) ficará ameaçada com a construção do projeto”. Fonte: C.M. de Arcos de Valdevez


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SEIÇA, O VALE ENCANTADO LOCALIZADA NA FREGUESIA DO PAIÃO E A ESCASSOS QUINZE QUILÓMETROS DA CIDADE DA FIGUEIRA DA FOZ SEDE DE CONCELHO, E OUTROS TANTOS DA CIDADE DE POMBAL, A PEQUENA LOCALIDADE DE SEIÇA, ESCONDE EM SI UMA HISTÓRIA DE SÉCULOS. PARA NO TEMPO, SEIÇA GANHA MAIS VIDA DURANTE O MÊS DE AGOSTO, COM A VISITA DE MUITOS EMIGRANTES, À FEIRA ANUAL. TEXTO E FOTOGRAFIA: FRANCISCO CORDEIRO / TÉCNICO DE ECOTURISMO FREELANCER

Reza a história que o abade João, monge no Mosteiro de Lorvão, acompanhado de um exército de cristãos perseguiu os mouros até esta pequena localidade, onde os derrotou. Durante a noite, após a vitória, recebe a notícia que todos os seus homens mortos em combate, milagrosamente tinham ressuscitado. Em reconhecimento a este milagre e pela graça concedida, o monge decidiu ficar para sempre em Seiça, onde mandou construir um con-

vento e uma capela, que dedicou a Santa Maria de Seiça. O convento de Santa Maria de Seiça e a capela em formato ortogonal, são os ex libris deste harmonioso local. Para partilhar a história, o município da Figueira da Foz, apresenta-nos um percurso pedestre circular, designado Rota de Seiça, com uma extensão aproximada de 13km, o percurso dura sensivelmente 4 horas a realizar.


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Numa região de campos férteis e de linhas de água, outrora navegáveis, rodeada por florestas, arrozais e pauis, podemos observar fauna e flora características destas zonas. Onde outrora existiram dezenas de moinhos de água, hoje subsistem apenas vestígios de alguns desses engenhos. Desde Seiça até ao Casenho ainda é possível encontrar edificações de seis moinhos, todos de rodízio horizontal, em relativo estado de conservação. PERCURSO PEDESTRE ROTA DE SEIÇA O percurso inicia-se junto ao Convento de Santa Maria de Seiça, atravessando uma vasta área de campos de arroz. Aqui pode-se observar uma enorme diversidade de

espécies, nomeadamente rã-comum, Rana ridibunda, mas também cegonhas, Ciconia ciconia, espécie que se pode considerar residente, já que utilizam as torres do convento como local de nidificação. As Garças-boieiras, Bulbucus íbis, encontram também,aqui, o alimento e o seu habitat perfeito. A vegetação é variada, podemos encontrar nos arredores do Convento, um amplo espaço coberto de choupos, populus s.p, freixos, Fraxinus s.p, salgueiros Salix s.p, enquanto no restante percurso há a predominância de eucaliptos, Eucalyptos globulus, pinheiros-bravos, pinus-pinaster, carvalhosroble, Quercus robur, sobreiros, Quercus suber, entre outras espécies vegetais.


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GR ZÊZERE

VILA DE REI APOSTA FORTE NO PEDESTRIANISMO

Ponte da Atalaia na ribeira da Isna


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A entrada da GRZ em Vila de Rei

A AUTARQUIA DE VILA DE REI, DANDO CONTINUIDADE À SUA DINÂMICA DE DESENVOLVIMENTO DE UMA REDE DE PERCURSOS PEDESTRES, INAUGUROU NO PASSADO DIA 12 DE SETEMBRO O SEU TROÇO DA GRANDE ROTA DO ZÊZERE COM UMA EXTENSÃO DE 47,2 KM. Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

Vila de Rei tem vindo, ao longo dos últimos anos, a afirmar-se como um destino para todos aqueles que gostam de pedestrianismo. Com um conjunto de cinco Pequenas Rotas devidamente sinalizadas, o concelho reforça a sua oferta com um troço de 47,2 km de extensão, que faz parte da Grande Rota do Zêzere. Estive em Vila de Rei, durante três dias, a conhecer de perto esta nova realidade. Estamos perante um percurso que deverá ser percorrido em dois dias e que dá a conhecer o magnífico rio Zêzere e estreita relação com as povoações ribeirinhas. O troço não possui uma dificuldade técnica e física elevada, o que permite que nos concentremos na riqueza paisagística, onde os recantos mais intimistas e ricos ao nível da flora alternam com cenários mais agrestes e de grande dimensão.

Estou convicto que a estação mais interessante para percorrer estes 47,2 km é, sem dúvida, a Primavera. Mas fiquemos com algumas imagens que estou certo lhe irão despertar o interesse pela GRZ em Vila de Rei. O PROJETO Este projeto promovido pela ADXTUR Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, pretende unir a nascente à foz do Rio Zêzere através de um percurso pedestre de Grande Rota (358,5 Km) devidamente sinalizado o qual terá ainda estações intermodais que permitem alternar entre locomoção pedestre, BTT e canoagem, tendo como fim a sua utilização em termos de desenvolvimento turístico. Este percurso atravessa os concelhos Manteigas, Covilhã, Guarda, Fundão, Pampi-


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Ribeira da Isna

lhosa da Serra, Vila de Rei, Oleiros, Sertã, Pedrogão Grande, Figueiró dos Vinhos, Ferreira do Zêzere, Abrantes e Constância. A ORIGEM Este projeto nasceu de uma ideia da Associação Cultural Amigos da Serra da Estrela (ASE), “...A ideia de conceber um percurso que ligasse a nascente do rio Zêzere à sua foz, em Constância, iniciou-se em 2006. Na altura não se tinha conhecimento de exemplos idênticos, quer em Portugal quer

no Estrangeiro. Tendo presente o número impressionante de cidadãos europeus que têm como rotina andar muito a pé e fazer desta prática um modo de vida; as condições climáticas do nosso país; a natureza do rio Zêzere e o conjunto de aldeias que o banham foram predicados que nos impeliram ao estudo do traçado. Por outro lado, a desertificação a que o interior do país tem vindo a ser sujeito foi fundamental para se acreditar na importância que uma estrutura como uma rota com tais características po-


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Paisagem grandiosa


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Ribeira da Isna


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Praia fluvial de Fernandaire

dia influenciar novas dinâmicas e ser um fator dissuasor do êxodo humano.” A ideia inicial da ASE era a de que “...a construção do percurso, poderia ser realizado sem o recurso aos fundos comunitários porque se admitia que, se todas as Juntas de Freguesia se empenhassem caberia a cada uma escassos quilómetros para construir. Por outro lado ninguém melhor que os habitantes de cada aldeia para a identificação dos trilhos mais antigos porque a comunicação entre povoações se fazia a pé logo, através de traçados menos

declivosos, mais curtos e quase sempre ao longo das margens dos rios”. A ASE, consciente que este projeto teria de passar pelas autarquias convidou as Câmaras Municipais que integram a bacia hidrográfica do rio Zêzere para desenvolverem o projeto, pedindo apenas que se desse o devido destaque em toda o tipo de publicidade e na sinalética da própria Rota, ao seu contributo no processo. A condição foi aceite, na altura mas, nos painéis e na sinalética não vi qualquer referência à ASE!


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Ao fundo, o Centro Nรกutico do Trisio


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Vegetação mais densa Contacto permanente com o elemento água


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Alcamim

Entrada em Alcamim


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Aproximação à povoação da Zaboeira

Estação intermodal da Zaboeira


21 Ribeira do Braรงal

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Zaboeira

Alcamim

Cabeรงa Gorda


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Na zona de Trutas

Cabeรงa Gorda Na zona de Trutas

Na zona de Trutas


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O posto de descanso e de observação da Macieira

Macieira


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Cabecinha

Penedo Furado


O final ĂŠ comum com o projeto de Sardoal

Saida da GRZ do concelho de Vila de Rei

CONTACTOS: C. M. de Vila de Rei Tel. +351 274 890 010 / turismo@cm-viladerei.pt / www.cm.viladerei.pt

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entrevista

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O ZÊZERE COMO POTENCIADOR DO CONCELHO DE VILA DE REI Texto e Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves

AQUANDO DA INAUGURAÇÃO DO TROÇO DO CONCELHO DE VILA DE REI DA GRANDE ROTA DO ZÊZERE TIVEMOS A OPORTUNIDADE DE CONVERSAR COM PAULO CÉSAR, VICE-PRESIDENTE DA AUTARQUIA E RESPONSÁVEL PELO PELOURO DO TURISMO.

Passear (PAS) – O que representa a Grande Rota do Zêzere (GRZ) para o município de Vila de Rei? Câmara de Vila de Rei (CVR) – A Grande Rota do Zêzere significa, no meu ponto de vista, uma aproximação clara entre aquilo que é o município, o concelho e uma das suas principais valências turísticas que é o rio Zêzere. De facto, o rio quando “nasceu” constituiu, antes de qualquer outra coisa, um entrave ao desenvolvimento porque nos isolou de todos os concelhos e de todos os territórios que faziam fronteira

connosco. Ao longo dos tempos nós temo-nos vindo a aproximar cada vez mais das comunidades que estão do outro lado do rio. Primeiramente com Ferreira do Zêzere, depois com todos os outros concelhos levando ao expoente máximo com a integração na Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo. Acima de tudo, o aproveitamento turístico massivo do rio Tejo. Um aproveitamento que passa por atrair pessoas não só para fruírem das praias fluviais (o nosso cartão de visita) mas para conhecerem muito mais


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do que isso! Numa extensão de 47 km de percurso pedestre é possível aproveitar todas as valências do rio, seja através da visualização da paisagem quando caminhamos ou andamos de bicicleta ou através da canoagem. Neste troço o visitante fica a conhecer um pouco do “sabor” de Vila de Rei. Nesse sentido, existe um aproximar do concelho de Vila de Rei ao rio aproveitando tudo aquilo que ele pode proporcionar. PAS – O rio deixou de funcionar como algo que divide ou afasta mas aquilo que une? CVR – Une e potencia! O rio, ao ser elevado à sua cota devido à construção da Barragem de Castelo do Bode, eliminou sete aglomerados populacionais. As populações foram obrigadas a deslocarem-se para outras aldeias e, na altura, o rio era visto como algo necessário ao desenvolvimento mas que beneficiava mais

os outros do que as populações locais. Ao longo dos tempos esta estranheza foi sendo eliminada e, importa cada vez mais aproveitar e potenciar o rio. Seja através dos desportos de natureza, da implementação de infraestruturas turísticas mas, o que é importante é atrair visitantes para dinamizar a economia local. PAS – Como foi o processo de evolução da GRZ? CVR – A nosso ver, a GRZ não é uma ideia megalómana! Nós já tínhamos a ideia de criar percursos ao longo das margens da albufeira. Quando surgiu o projeto de criação de percursos pedestres, com a marca das Aldeias de Xisto, da nascente do rio Zêzere até à foz foi um projeto que acolhemos com muito agrado. Empenhámo-nos desde a primeira hora! Em suma, os 47 km de extensão do nosso troço, a possibilidade de ser percorrido a


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pé, de bicicleta e de kayak, a chancela de qualidade Aldeias de Xisto permite-nos ter uma oferta de um produto turístico de grande qualidade. PAS – A autarquia de Vila de Rei foi a primeira a inaugurar o seu troço da GRZ. A que se deve esta atitude? CVR – Nós percebemos que há uma lógica supra municipal daquilo que é a vontade das Aldeias de Xisto (ADXTUR) de dar a conhecer a rota na sua totalidade. Nós já tínhamos tudo pronto e achámos que seria pouco benéfico para a autarquia adiar a inauguração. PAS – Quais são as expectativas da autarquia em relação a esta Grande Rota? CVR – Esperamos que ela dê a conhecer o rio e, desta forma, cativar as pessoas para se inteirarem do interior do concelho. Nós somos muito mais do que o rio! Temos outras valências e um grande potencial

turístico. Apesar de um território pequeno (193 km²) possuímos uma diversidade de fatores atrativos que passam pela fauna, arqueologia, mitologia, entre outros. Costumo afirmar que quem visita Vila de Rei fica mais exigente! PAS – Quais foram os montantes envolvidos neste projeto? CVR – A candidatura foi feita através de consórcios de municípios ou seja, operacionalizámos a candidatura através da subdivisão da empreitada global, que vai de Manteigas a Constância, em lotes. Esses lotes foram geridos por uma autarquia do conjunto de municípios que compunham o lote. No nosso caso, o município cabeça do projeto foi Figueiró dos Vinhos. O projeto foi financiado e cada município entrou com a parte que lhe correspondia em função do número de quilómetros, da existência de Estações Intermodais ou não, assim como das características morfológicas de


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“ABRIRAM NOVAS UNIDADES DE ALOJAMENTO E, AO LONGO DE TODO O PERCURSO, OS PAINÉIS INFORMATIVOS OFERECEM INDICAÇÕES DE ONDE FICAR E ONDE COMER.”

cada território (existência de passadiço, pontes, etc.). O investimento de Vila de Rei foi de cerca de 50 mil euros sendo que a candidatura foi feita ao abrigo do PRODER. 85 % da verba veio desse fundo comunitário e os restantes 15% da responsabilidade da autarquia. PAS – Como vai ser feita a promoção da GRZ? CVR – A promoção, em grande escala, vai ser da responsabilidade da ADXTUR. Mas, cada município tem o dever e a obrigação de promover localmente a sua rota. Nós temos um vasto leque de percursos pedestres que já os promovemos e, estes novos 47 km serão integrados nessa estratégia. PAS – Tem noção se a promoção geral irá ser mais direcionada para o mercado estrangeiro ou para o mercado nacional? CVR – Temos consciência que é necessário

apostar no mercado nacional mas, o nosso grande enfoque será no mercado externo pois, é ele que trará mais valias tanto para a rede das Aldeias de Xisto como para as economias dos concelhos. PAS – A meu ver, o troço da GRZ de Vila de Rei deverá ser feito em dois dias. Na última vez que conversámos havia, na região, um problema com a oferta de alojamento. Essa situação teve alguma evolução? CVR – Sim. Evoluímos bastante e, em dois anos, aumentámos a nossa capacidade de oferta de camas em cerca de 50%. Abriram novas unidades de alojamento e, ao longo de todo o percurso, os painéis informativos oferecem indicações de onde ficar e onde comer. Temos a capacidade para receber as pessoas por mais de dois dias não só a percorrer a GRZ como a conhecer os outros pontos de atração do concelho de Vila de Rei.


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SEARCHING FOR LOTUS:

2 JOVENS. 3 MESES. 8 PAÍSES. SEM MAPAS. À DESCOBERTA. Texto e Fotografia: João Fernandes e Rui Ferreira (Searching for Lotus) | searchingforlotus@gmail.com

Cambodja - Siem Reap


A DECISÃO Nascidos e criados em Braga, estamos na casa dos 20. Um director de Marketing da EDIGMA - João Fernandes - e o outro director de Operações da Ferro & Aço - Rui Ferreira. Fizemos as malas e despedimo-nos. Para viajar. A decisão foi plantada nas nossas mentes um pouco por acaso. “Adoramos viajar, adoramos sair com os amigos, por que não fazemos uma viagem de 3 meses de mochila às costas?”. Foi este o mote que precisávamos para tomar o passo final rumo à aventura das nossas vidas. Claro que a consciencialização de que a viagem poderia ultrapassar o diletantismo de uma conversa de amigos não se deu de imediato. Primeiro, sonhámos sobre o que seria explorar o continente sul-americano durante 1 mês e a ideia não roçou a descabida. Mas, ainda nos pareceu que podíamos ir mais longe. Por volta do final de Setembro, o Rui colocou a questão: “E SE FOSSEMOS PARA A ÁSIA? MAIS EXÓTICA, MAIS BARATA, MAIS SEGURA!” Há momentos em que a tua felicidade não pode esperar. E a nossa não podia esperar. Esta viagem foi a resposta ao chamamento interior para deixar tudo para trás, não apenas para explorar o mundo mas, principalmente, para nos testarmos e evoluirmos como seres multiculturais. É claro que não foi tudo um mar de rosas. Estamos a abdicar de empregos fantásticos, dos nossos passatempos, de uma vida confortável e da proximidade daqueles que mais gostamos para enfrentar o absoluto desconhecido. De qualquer modo, as verdadeiras aventuras são mesmo assim. Temos que correr riscos para, possivelmente, conseguirmos algo que parecia impossível. E, se acreditarmos que “a vida é uma

aventura ousada ou não é nada” (Helen Keller), apenas temos que ir em frente. Não quando os planetas se alinharem, não um dia, não no próximo ano... AGORA! CHINA Depois de 5 dias em Pequim, onde pudemos contactar com um misto de uma China imperial, comunista e, em certo ponto, contemporânea, deslocámo-nos para Xangai, o modelo oriental de uma metrópole cosmopolita e extravagante. Hong Kong, com uma passagem por Macau pelo meio, serviram para culminar o périplo pelo país mais populoso do mundo. Em Pequim, talvez a cidade mais idiossincrática de todas as que visitámos, pudemos encontrar, de braço dado, a China ancestral, na forma dos Hutongs (moradias típicas chinesas, conhecidas pelo seu espaço diminuto e pisos térreos), a China comunista (reflectida nos edifícios oficiais do estado), assim como, a China moderna (expressa na zona financeira da cidade e no Distrito de Arte 798). Uns dias depois, numa viagem curta geograficamente, mas longínqua culturalmente, chegámos a Xangai. Ao contrário de Pequim, marcadamente histórica, Xangai representa a imagem que a China pretende projectar para o futuro, com uma toada comercial e financeira assinalável. O facto de 2 dos edifícios mais altos do mundo estarem em Xangai, atesta a ambição desta cidade. Relativamente a Hong Kong, onde dizem que o Este encontra o Oeste, é uma metrópole plenamente consolidada e ocidentalizada. A multiculturalidade existente, não tem comparação com os locais por onde passámos, e, de repente, deixámos de ser turistas, para nos sentirmos apenas estrangeiros.

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China - Pequim

Macau foi o materializar da Portugalidade de que tanto ouvimos falar durante os anos de escola. Pela primeira vez, víamos reflectido o impacto dos Descobrimentos Portugueses no Mundo. Ruas em Português, calçada Portuguesa, gastronomia e outros elementos identitários, fizeram-nos sentir em casa. Em termos gerais, parece-nos que não visitámos a China. Pelo menos, aquela que estaríamos à espera. Uma China rígida, fechada, caótica e pouco sofisticada. Na verdade, encontrámos militares sorridentes, pessoas a dançar na rua, manifestações artísticas frequentes, pessoas afáveis e uma organização latente, contrariando os estereótipos que tínhamos sobre este País. Posto isto, a etapa chinesa, mais do que ter sublinhado a importância da tolerância em relação a outros povos, despertou-nos um interesse genuíno sobre esta história e cultura milenar. Pela primeira vez, os nossos

“Óculos Eurocêntricos” caíram, fazendo-nos ver que, da mesma forma que o Sol não gira à volta da Terra, o Mundo não gira à volta do Ocidente. VIETNAME O Vietname foi o segundo país da nossa aventura. Encontrámos uma nação que faz do turismo um foco importante do seu desenvolvimento e isso nota-se e é sublinhado pelo seu povo. Mesmo em destinos onde a exploração turística seria menos expectável, há um aproveitamento e potencialização da sua identidade. No entanto, isso não é feito com uma roupagem tipicamente turística. Por exemplo, em Sapa, no Noroeste do país, é possível, além das típicas caminhadas pelas aldeias, dormir em casas de locais. Como tal, temos, por um lado, um país onde mesmo as pessoas mais velhas respiram com naturalidade o turismo, mas, por outro, essa inclinação


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China - Xangai

Vietname - Halong Bay


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Vietname - Hanoi

vincada não se verte nos estereótipos dos “resorts, sightseeing, souvenirs”. Além do referido, encontrámos um país agitado e com o que acreditamos ser uma “desorganização organizada”. As motas na rua acavalam-se, mas parecem sempre escapar de qualquer toque. A vida corre depressa e atravessar a rua, sob os “óculos ocidentais”, seria um acto arriscado. No Vietname, é apenas normal e, quando se normaliza esse risco como um dado adquirido, o medo dá lugar à acção. Na verdade, enquanto viajamos, estamos mais predispostos ao risco e à experimentação. Por essa razão, quando nos falaram de um magnífico trajecto entre Hue e Hoi An, cidades distantes 150km uma da outra, decidimos fazê-lo de mota, ainda que a nossa experiência nessas lides fosse nenhuma. Uma das questões que mais interesse nos suscitava, era a forma como os vietnamitas

encaram a guerra contra os Estados Unidos. Em primeiro lugar, descobrimos que a Guerra do Vietname não é, na verdade, apelidada dessa forma, mas como “Segunda Guerra da Indochina”. Em segundo lugar, se há algum tipo de sentimento recalcado ou qualquer aversão aos americanos, nós não o notámos. Parecem lidar bem com a situação, ainda que não tenha passado assim tanto tempo. Por fim, um dos aspectos mais curiosos foi o tamanho das cadeiras dos restaurantes. Essas cadeiras, que encontrámos em todo o lado, são do tamanho das cadeiras de crianças de infantário. Algo completamente fora do normal, pensámos nós, antes de nos determos sobre a questão sobre o que é (ou não é) normal. Afinal, que pensarão eles das nossas cadeiras “gigantes”? LAOS Quase duas semanas depois, era altura


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Laos - Luang Prabang - casamento

de partir para Laos. A viagem foi feita de autocarro e, pela primeira vez, sentimos que as condições mínimas de conforto são construídas pelo contexto e hábitos. Viajámos 23 horas seguidas num autocarro com o dobro da lotação, com pessoas a dormirem nos corredores entre sacos de arroz e caixas de refrigerantes. Nós dormimos na parte de trás do autocarro, numa cama comum de 5 pessoas. Ainda que os 50cm que tínhamos de altura entre a nossa cama e a cama de cima, fossem em certas alturas desesperantes, olhávamos para a frente e suportávamo-nos na relativização do conforto. Chegados a Laos, deparámo-nos com um paradoxo com o qual nunca tínhamos dedicado grande atenção. Embora toda a realidade Budista e, concretamente, a vida dos monges fosse algo distante para nós, havia um conjunto de concepções prévias que nós interiorizávamos, fruto da imagem

veiculada no Ocidente. No entanto, a imagem mística e metafísica foi-se esbatendo à medida que nos deparávamos com Monges a fumar ou a utilizarem com naturalidade os seus smartphones. Ao contrário do Vietname, a vida em Laos parece correr mais devagar. O trânsito é reduzido, o barulho é menor e as pessoas são mais calmas. Decorrente desse facto, mesmo a forma como abordam os turistas é menos intensa. A vida parece ser mais simples. As Guesthouses, onde uma fatia importante de turistas fica alojada, são na verdade parte da casa do dono. Diríamos, em substituição da expressão “Um Amor e Uma Cabana”, que em Laos se assume o mote “Turistas e Uma Cabana”. Todavia, calma e diversão podem coexistir, como pudemos constatar no casamento em que comparecemos por acaso. O facto de não termos sido convidados, não nos coibiu de tentar participar. Como tal,


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Laos - Luang Prabang

“DIRÍAMOS, EM SUBSTITUIÇÃO DA EXPRESSÃO “UM AMOR E UMA CABANA”, QUE EM LAOS SE ASSUME O MOTE “TURISTAS E UMA CABANA”. “


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Laos - Luang Prabang

Tailandia - ilhas Phi Phi


gostamos de pensar que darmos mais espaço à acção, mesmo nas situações mais simples e vulgares, permite-nos, por vezes, ter momentos inesperados de enorme satisfação. CAMBODJA Continuando para sul do continente Asiático, seguimos até ao Cambodja. Como primeiro destino a capital do país, ficámos a conhecer um pouco da sua história recente. Pela primeira vez na viagem, éramos agredidos violentamente com vários murros no estômago. No espaço de 4 anos, de 1975 a 1979, cerca de 3 em 8 milhões de cambodjanos morreram devido às acções do regime vigente, perante a passividade da comunidade internacional. Esta realidade, por si só aterradora, foi apenas reconhecida internacionalmente quase 20 anos depois. Esse facto, faz-nos reflectir até que ponto as informações que dispomos actualmente, relativamente a outras realidades, serão as mais correctas e, mais ainda, que a disponibilização de informação sobre acontecimentos longínquos, tem a sua importância mitigada pela distância. Não obstante, e apesar da temporalidade muito curta deste trauma colectivo, o povo local apresenta uma boa-disposição, e, de certo modo, um sentido de humor, assinaláveis. Não guardam ressentimentos e, não fosse a preservação da memória desses tempos em locais próprios, não diríamos que o povo cambodjano teria enfrentado acontecimentos tão dolorosos. Porém, nem só de história contemporânea se faz o passado deste país. Perto de Siem Reap, encontra-se Angkor Wat, actualmente uma cidade em ruínas que, há cerca de 1000 anos atrás, albergava 2 milhões de pessoas. O sistema de gestão hídrica, único e completamente inovador à data, serviu de exemplo para vários sistemas subsequentes. Como tal, mais que

um conjunto de ruínas impressionantes, Angkor Wat constitui um testemunho físico de uma grande civilização ancestral. Aproveitando as características apelativas desse local, Siem Reap é também um foco de atracção em termos de diversão, conseguindo conjugar a dimensão cultural com a componente recreativa. Essa sinergia bem conseguida, torna a cidade numa referência incontornável do Sudeste Asiático. TAILÂNDIA I Depois do Cambodja, o próximo destino era aquele que se apresentava como o mais turístico da jornada. Com a ilha de Koh Phangan, no sul da Tailândia, em vista, parámos um dia em Banguecoque e, por breves momentos, pudemos sentir um pouco da vibração das ruas mais marcantes da cidade. Posteriormente, e com 800km para percorrer, apanhámos um comboio, um mini-bus, uma camioneta e um ferry para chegarmos à referida ilha. Embora cansativo, fizemo-lo comprando apenas um bilhete, o que facilitou imenso a nossa vida. Este é um dos pontos em que o turismo Tailandês demonstra que está bem desenvolvido, maduro e que trabalha integrada e cooperativamente. Esse facto conduziu-nos numa reflexão sobre a forma como a oferta turística em Portugal é estruturada. Será que conseguíamos, estando no Algarve, comprar um único bilhete que nos colocasse à porta do Bom Jesus de Braga ou do Castelo de Guimarães? Na chegada à ilha, presenciámos a flutuação populacional fruto da Full Moon Party, a festa da lua cheia que ocorre uma vez por mês. Com 11.000 habitantes, a ilha quadruplica a sua população nesse período. A festa é amplamente conhecida internacionalmente pela sua liberdade, por ser dada a excessos e por ocorrer

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Myanmar - Bagan

num cenário idílico. A Full Moon Party, apesar de ser “o” grande aglutinador de pessoas, é aproveitada como grande tónico para outras festas que ocorrem nos dias anteriores e, ainda, como mobilizador de pessoas para as outras ilhas circundantes, nos dias seguintes. Alguns dias depois deste período festivo, rumámos em direcção ao norte do país. Não estando nos planos iniciais, decidimos adiar a nossa ida a Koh Tao. Essa decisão deveu-se a uma queimadura do João num “anel de fogo”, uma das manifestações de loucura da Full Moon Party. Face à nossa flexibilidade em termos de planeamento, não perdemos qualquer reserva de hostel ou actividade. Em Chiang Mai, encontrámos uma cidade carismática e acolhedora. Além destas características, esta cidade é, ao mesmo tempo, sofisticada e tradicional, tornando-a num dos locais mais aconselhados por

outros viajantes. Como corolário, fomos surpreendidos pelas jam sessions num bar de Jazz, uma barbearia vintage que nos transportou para os anos 50 e ainda pelas várias pequenas lojas com artigos feitos à mão por artesãos locais. Entre estas considerações e surpresas, deslocámo-nos até Pai, a 3 horas de distância. Esta vila é uma pequena e encantadora versão de Chiang Mai, com as mesmas lojas artesanais e bares com música ao vivo, concentrados numa única rua ritmada e cativante. MYANMAR Depois do norte da Tailândia, o destino seguinte estava traçado: Myanmar, anteriormente denominado de Birmânia. Este país, conhecido por conservar uma ampla distância relativamente ao Ocidente (as fronteiras abriram há menos de 5 anos e as caixas multibanco chegaram em 2013),


foi uma bela surpresa. Chegámos a 11 de Abril e apanhámos o país na maior época festiva do ano. A dias de celebrarem o novo ano, o país pára durante uma semana. As embaixadas fecham (como tivemos oportunidade de constatar quando quisemos pedir o visto para a Índia), encontrar restaurantes abertos é um desafio e conseguir transportes entre cidades é ser bafejado pela sorte. No entanto, apesar dos constrangimentos referidos, ter viajado no país nessa altura foi, provavelmente, o melhor que nos poderia ter acontecido. Ao abrigo do festejo do ano novo, o país celebra o “Water Festival”. Nessa semana, pessoas de todas as idades atiram água umas às outras, de todas as formas possíveis: “mangueiradas”, bacias ou pistolas de água; turistas ou locais; a pé, de mota ou até de comboio; ninguém escapa ao ritual. A tradição é de tal forma levada a sério que são montadas bancadas de madeira na face das estradas, com várias mangueiras, para ser possível molhar mais pessoas que atravessam as ruas. Quanto ao povo, a curiosidade relativamente a nós era imensa. Todos nos perguntavam de onde éramos e se estávamos felizes. Notava-se nesse acto um sentimento de euforia, por um lado, por estarem a viver o momento mais feliz do ano e, por outro, por estarem provavelmente a contactar directamente com um estrangeiro pela primeira vez. Essa manifestação de boas vindas foi transversal a Rangum, Mandalay e Bagan, as cidades que atravessámos. Além da manifestação de carinho dos locais, experienciámos em Bagan aquele que, porventura, foi o nascer do sol mais bonito das nossas vidas, com o astro rei a erguer-se no horizonte e iluminar mais de 4000 templos ancestrais ao nosso redor. Contudo, não fomos os únicos a ficar deslumbrados. Também uns monges adolescentes

manifestaram o seu encantamento com este local, imortalizando o momento com várias “selfies” para a posterioridade. TAILÂNDIA II Depois de uma temporada marcante em Myanmar fomos, mais uma vez, para a Tailândia. Novamente com as ilhas do sul no nosso roteiro, deslocámo-nos até à conhecida ilha do mergulho, Koh Tao, o segundo local no mundo onde mais pessoas obtêm o respectivo certificado. Embora não tivéssemos em perspectiva fazer algo do género, tínhamos ouvido vários comentários de viajantes a aconselharem vivamente a experiência e, como tal, decidimos aproveitar essa oportunidade. Mais uma vez, e no que toca à validade dos comentários recebidos, são os dos viajantes “mochileiros” aqueles que mais valiosos se têm revelado. A experiência foi absolutamente deslumbrante e sentimonos quase como bebés a descobrirem um mundo novo. Estar entre os mais variados peixes e conviver de forma natural com eles é algo surpreendente para quem se tinha habituado a observá-los à distância. Depois deste período de maior aventura, as ilhas Phi Phi receberam-nos com um tempo “envergonhado”. Após uma noite passada num barco, entre trovoada severa, procurámos um hostel à chegada. Como normalmente não reservamos alojamento, só à terceira tentativa conseguimos instalarnos. Depois das malas pousadas, e já em companhia de um casal de Portugueses que também se encontrava a viajar pela Ásia, caminhámos pela ilha, enquanto conversávamos sobre as experiências acumuladas. À noite, começámos a perceber a razão pela qual os primeiros hostels se encontravam esgotados. Várias eram as pessoas que deambulavam pelas ruas estreitas e

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42 labirínticas e, outras ainda, paravam nos vários bares a conversar e beber, conferindo uma vibração muito característica à ilha. No dia seguinte, fomos num pequeno barco à ilha mais emblemática do conjunto que constitui as Phi Phi. Num curto espaço, admirámo-nos com uma diversidade natural fascinante e muito bela. No entanto, tudo isso tem um preço e, a quantidade de turistas que invade esses espaços, deixa um certo sabor amargo, pois é quase impossível não pensar na magnitude desses lugares se os “tivéssemos só para nós”. Outro dos efeitos secundários da imensidão de turistas foi a indisponibilidade que encontrámos por parte dos comerciantes em negociarem, rompendo com um hábito frequente nesta parte do mundo e interrompendo a nossa evolução nesta arte. NEPAL 3 dias depois do terramoto, aterrámos no Nepal. No dia anterior, tínhamos tentado fazê-lo por 2 vezes mas, em ambas as tentativas, o avião teve de voltar para trás, face ao congestionamento do aeroporto. Após aterrarmos, fomos para um hostel recomendado por um amigo português que tínhamos conhecido na Tailândia. Depois de instalados, demos uma volta pela cidade e verificámos alguns dos estragos provocados pelo tremor de terra. A cidade estava ainda um pouco sombria, quase nenhuma loja aberta e o perigo da falta de alimentos e água pairava no ar. Apesar da situação verificada, e exceptuando o centro histórico que se encontrava completamente destruído, a maioria dos edifícios não apresentava danos evidentes. Todavia, e assistindo às notícias veiculadas pela comunicação social, não era essa a sensação que tínhamos. Isso fez-nos sentir, in loco, o poder, importância e responsabilidade que a comunicação social tem.

Com efeito, e em pequena escala, também nós sentimos um pouco desse poder e responsabilidade, com as mensagens onde relatávamos, através das redes sociais, a situação aos nossos familiares e amigos. Qualquer cenário, desde o mais catastrófico, ao mais brando, estava ao abrigo do nosso julgamento e critério. No dia seguinte, por intermédio de 2 hóspedes do nosso hostel, conhecemos uma associação nepalesa que se encontrava a recolher bens (sacos cama, tendas, medicamentos, água e dinheiro) para ajudar as vítimas do terramoto. Interessados, fomos colaborar com eles, ajudando na recolha. Todavia, após 15 minutos a ajudar, fomos interpelados pela polícia local, pedindo-nos uma eventual licença que teria de ser emitida pelo ministro da administração interna. Como ninguém que se encontrava a ajudar possuía essa licença, fomos expulsos do aeroporto, mesmo com a nossa intenção pronta de fazer o que fosse preciso para obter essa licença. Infelizmente, também no Nepal, a corrupção é um cancro que assola o país e, neste caso concreto, impediu que a ajuda internacional chegasse de forma mais fluída e rápida. Por último, e mesmo considerando o descrito, as pessoas não se resignaram na face da desgraça. Algumas das pessoas que conhecemos perderam casas e planos de uma vida, mas voltar para a rotina anterior ao desastre, procurando esquecer o que aconteceu, era a forma que encontravam de voltarem a ter uma vida normal. ÍNDIA Depois do Nepal, seguimos rumo ao último país da aventura, a Índia, onde ficaríamos 3 semanas. Aterrámos em Nova Deli, e por lá começámos a entender que, dentro do conceito de confusão, existem diferentes tipos. Tínhamos experienciado a confusão


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Nepal - Catmandu

vietnamita, tailandesa ou chinesa; agora, enfrentávamos a confusão indiana. Carros, motas, vacas, tuk-tuks e bicicletas com atrelado, todos se insurgiam pelas faixas de rodagem provocando o caos a cada metro. Estar em cidades como Nova Deli e Bombaim é aceitar isso mesmo, com os pontos positivos e negativos inerentes. Mas não só de cidades caóticas se faz a Índia. Em Rishikesh, o berço do yôga, vive-se um espírito mais tranquilo e “zen”. Embora já um pouco descaracterizada pela força do turismo, foi neste local onde vimos mais hippies durante toda a viagem. Esta região também se destaca pelos vários turistas indianos que se deslocam a este lugar para se purificarem nas margens do rio Ganges. Eles acreditam que tomando banho nessas águas libertam as impurezas e o “mau karma”. Também numa cidade banhada pelo rio Ganges, se verifica a

tradição mais importante na cultura Hindu. É em Varanasi, a cidade sagrada da Índia, que se cremam os corpos ao ar livre e se deitam, posteriormente, as cinzas à água. O ritual é dividido por castas e, como tal, alguém de uma casta inferior ou média, não é cremado no mesmo local que uma pessoa de uma casta superior. Esta tradição a que assistimos permite a quem é cremado ir directamente para o céu, interrompendo, dessa forma, o processo de reencarnações. À semelhança da China, também na Índia o turismo é muito virado para o mercado interno. Isso verifica-se, nomeadamente, nos preços praticados em certos monumentos (os bilhetes são 25 vezes mais caros para turistas estrangeiros) e na dificuldade que o governo impõe na obtenção do visto. Mesmo no Taj Mahal, uma das 7 maravilhas do mundo moderno, o número de turistas estrangeiros contava-se pelos dedos das mãos.


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India - Bombaim - casamento

Para terminar, e como corolário da imprevisibilidade, fortuna e intensidade da aventura que foram estes 3 meses, fomos convidados, no último dia da viagem, para um casamento. Os noivos, como em 90% dos casos na Índia, tiveram o acaso do “seu Amor” arranjado pelos pais. Igual acaso, embora desta vez não determinado por ninguém, foi conhecermos, no nosso último dia, um casal Inglês no seu primeiro dia de viagem. Preparavam-se, como num perfeito passar de testemunho, para viajar durante os 3 meses seguintes. De repente, e num déjà vu repentino, deixámos a Índia e estávamos em Pequim. E outra vez na Índia. Tínhamos um avião para a apanhar.

“ (...)PARA SE PURIFICAREM NAS MARGENS DO RIO GANGES. ELES ACREDITAM QUE TOMANDO BANHO NESSAS ÁGUAS LIBERTAM AS IMPUREZAS E O “MAU KARMA”.“


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CRÓNICA

A CAMINHO DE SANTIAGO Texto e Fotografia: António José Soares / http://coimbrasantiago.blogspot.pt/

O CAMINHO DA GEIRA OU VIA NOVA. DOMINGO, 26 DE JULHO DE 2015. COM O DESPERTADOR APONTADO PARA AS 5.00 HORAS, NÃO PODIA, DE FORMA ALGUMA, PERDER O COMBOIO REGIONAL NA ESTAÇÃO VELHA, TAMBÉM BAPTIZADA DE “APEADEIRO VELHO”DE COIMBRA, UMA VEZ QUE HÁ MUITO TEMPO ESTÁ A PRECISAR DE REMODELAÇÃO.

Passadiços - Caminho da Costa


Dei assim inicio, pela quarta vez consecutiva, ao Caminho Português de Santiago de Compostela, desta vez a partir do Porto, procurando seguir o Caminho da Geira Romana ou Via Nova, que ligava Braga e Astorga, passando por Rendufe, Caldelas, Sta Cruz - Amares, Covide, Campo do Gerês e Portela do Homem. Na Galiza, depois de Lobios continuámos por uma variante complementar da via nova antoniana, marcada a partir de Porto Quintela e seguindo por Bande, Celanova e Ourense, entrando a partir daqui na Via da Prata, ou no Caminho Sanabrês. Embora no ano transacto tivesse feito o Caminho da Costa, apenas na companhia da bicicleta, este ano voltou a reeditar-se o trio, que para além do autor destas linhas é constituído pelos amigos Joaquim Tavares e José Botelho. Embora a CP assinalasse o transporte de bicicletas como possível entre Coimbra e o Porto, apenas conseguimos viajar atendendo à boa vontade do Revisor, ao qual estamos gratos, uma vez que permitiu que transportássemos as bicicletas numa composição sem estar preparada para o efeito. E assim continuam os Caminhos de Ferro de Portugal, com uma magnífica estratégia para atrair cada vez mais passageiros, por um lado convidando-os a transportar as bicicletas nas composições, depois, bem... depois apresentam carruagens que não estão preparadas para o efeito, vá-se lá saber porquê, convidando os passageiros a ficar em terra. Enfim, num serviço que se exige cada vez mais excelência, primam pela vulgaridade... Finalmente, depois de devidamente acomodados na composição, com invenção de espaço para as bicicletas, lá prosseguimos tranquilamente a viagem para o Porto. Na mesma carruagem, seguia uma senhora, ex: emigrante em França e uma jovem peregrina francesa, da região de Bordéus,

Habibe, de seu nome, que ao chegar a Burgos decidiu abandonar o Caminho Francês e viajou para Portugal, a fim de percorrer parte do Caminho Português, para fugir ao grande afluxo de peregrinos que invadem o Caminho Francês nos meses de Julho e Agosto. No decorrer da conversa, e à medida que escutou atentamente o relato que efectuei do Caminho, em Portugal, a jovem acabou por mudar de ideias e rumar a Fátima de comboio, para aí iniciar a sua peregrinação até Santiago, pelo Caminho Central. Porto, estação da Campanhã, o dia dava sinais de querer sorrir, com a manhã bastante agradável, o que fazia antever uma excelente jornada. E assim iniciámos o Caminho, descendo da Sé à Ribeira, seguindo pela margem direita do Douro, com uma paragem na rua do Passeio Alegre, no Paparoca da Foz, para beber um café e um bolo, convivendo com o despertar da “Invicta”. Prosseguimos pela Foz, até ao Castelo do Queijo, e tudo corria bem, mas... Ao chegar ao Senhor do Padrão, em Matosinhos, o primeiro percalço do dia, a roda de trás começava a apresentar sinais de alguns problemas, contudo deu para prosseguir. No Senhor do Padrão, cruzá-mo-nos com um numeroso grupo de ciclistas, continuá-mos a nossa viagem pela zona portuária e depois de passar a ponte seguimos novamente em direcção à orla costeira, com paragem obrigatória na “Casa Da Chá”, um dos primeiros projectos do grande arquitecto Siza Vieira, mesmo ao lado da Capela da Boa Nova. Ainda em Matosinhos, junto à praia do Aterro, o problema na roda agudizava-se, urgia efectuar uma observação mais atenta, uma vez que o aro não dava sinais de

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Porto - casario

estar empenado, foi assim que me deparei com uma enorme “borrega” no pneu, que tudo indicava ter as telas partidas. Fui andando, outra solução não havia, entretanto estávamos às portas de Vila do Conde, na Azurara, e pensei que aqui poderia resolver o problema. Engano o meu, a um Domingo é sempre difícil encontrar lojas de bicicletas abertas, a não ser nas grandes superfícies, e mesmo em Vila do Conde só encontrei lojas fechadas. Face à ausência de lojas abertas onde pudesse resolver o problema, valeu-me a atenção e curiosidade um ciclista local, que lastimo não me recordar do nome, que se dispôs a acompanhar-nos até encontrar uma via de resolução do empeno. E assim depois de tanto perguntar, a esperança era uma loja nas Caxinas estar aberta, o que felizmente sucedeu, e após a substituição do pneu, lá pudemos prosseguir. Obrigado

amigo. Das Caxinas à Póvoa do Varzim foi um salto, no entanto não podíamos rolar a mais que 10 km/h, face ao mar de gente que deambulava na zona das praias. A primeira parte da jornada terminaria na foz do Cávado, na vila de Fão, contudo antes de aqui chegar, aconteceu o segundo percalço, desta vez foi o José Botelho que teve de remendar um furo na roda de trás da sua bicicleta. O bar do quartel dos Bombeiros Voluntários de Fão, foi o local escolhido para almoçar, com o tempo a dar sinais de querer mudar, ameaçando mesmo chover. Após o repasto, seguiu-se uma pequena sessão de captação de imagens do estuário do Cávado, a partir da ponte do Fão. Daqui prosseguimos pela EN 13 e depois pela EN 103-1, em direcção à cidade de Barcelos, onde se torna impossível não ceder à tentação de fotografar a excelente


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Sinalização do Caminho

Casa Da Chá - Matosinhos

panorâmica sobre o Cávado e alguns do seu património mais emblemático. A cidade encontrava-se pejada de gente, neste último Domingo de Julho, pedalámos até ao largo, onde se situa a Igrejinha do Bom Jesus da Cruz e retrocedemos pela mesma rua, com paragem no mesmo local onde em 2013, aquando do Caminho Central Português tínhamos efectuado uma paragem para um café, acompanhado por uma deliciosa bola de Berlim. Desta vez só mesmo uma coca-cola. Ansiosos por chegar ao destino previsto para o final da primeira jornada, rapida-

mente voltámos à estrada chegando a Braga ainda cedo, ligeiramente fatigados, em parte pelo calor que se fazia sentir. Depois de procurar o albergue que fica junto à Sé, onde funciona uma associação com jovens voluntários que prestam apoio a pessoas carenciadas, e que também presta apoio aos peregrinos a Santiago, aos quais agradecemos o acolhimento, logo nos instalámos e preparámos para a agradável final de tarde/noite que desfrutá-mos, passeando pela ancestral Cidade dos Arcebispos.


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Senhor do Padr達o

Capelinha da Boa Nova - Matosinhos


52 Estuรกrio do Cรกvado

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Furo antes de chegar ao Fรฃo

A lenda do Galo

Braga - Arcadas

Barcelos


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Albergue de Braga

27 de Julho de 2015 - DE BRAGA A SANTA CRUZ-AMARES E A I PARTE DA GEIRA, ATÉ CAMPO DO GERÊS Depois de na véspera termos passeado tranquilamente pela cidade de Braga, seguiu-se uma noite de merecido repouso, recuperando do esforço da véspera, nada melhor que um reconfortante pequeno almoço, antes de iniciar a jornada mais aguardada, Braga - Buvaces, próximo de Lobios, já na Galiza. A intenção de passar pelo Mosteiro de São Martinho de Tibães ficou adiada para outra oportunidade, e assim do centro de Braga seguimos em direcção a Palmeira e à Ponte do Bico, sobre o rio Cávado, um local aprazível onde saltam à evidencia as ruínas de uma velha azenha, bem no meio do rio, o que adorna ainda mais este local de belo enquadramento paisagístico. Continuámos pela EN205, para Rendufe,

passando ao largo do Mosteiro beneditino de Santo André e prosseguindo em direcção à estância termal de Caldelas, para a primeira subida do dia, com algum grau de dificuldade até Paranhos, para atingir o lugar de Santa Cruz, onde se encontra sinalizado a Via Romana XVIII, a Geira, no seu traçado por Terras de Bouro. A milha XIV marca o início da Geira, em Santa Cruz, momento aproveitado para captar imagens, prosseguindo de seguida o caminho. Contudo algo de estranho se passava, uma vez que nunca mais alcançávamos a milha XV e em lugar de subir, des-cemos cerca de dois quilómetros e meio. Foi então que chegamos a uma povoação, onde nos informaram o que já tínhamos inferido, seguimos pelo caminho errado. Distracções que o corpo paga, uma vez que a solução mais aconselhável era voltar a subir o percurso que até a de-


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Azenha em ruínas - Rio Cávado

scer tinha sido árduo. Finalmente alinhados no caminho da Geira, após desfazer o engano, fomos obrigados a reparar na majestade da paisagem por terras do Gerês, onde os raios do sol dão cor à vertente, que alterna a vegetação rasteira com enormes pedras, verdadeiros blocos de granito que ponteiam a encosta de cinzento. As duas primeiras milhas foram dóceis, percorridas por estradão bem largo, aqui e ali com algumas pedras que ainda sobram da antiga estrada romana a oferecer dificuldade, por via da erosão. Contudo, passada esta fase inicial, o caminho cresceu em beleza da mesma forma aumentou em dificuldade. Não se pode dizer que a subida da Geira fosse muito acentuada, as dificuldades com que nos deparámos resultaram sobretudo da ausência de indicação em dois pontos

estratégicos, que dificultaram um pouco a progressão, uma vez que obrigaram a paragens desnecessárias, e, a partir da milha XVII, o corte de vegetação deixou um sem número de silvas e outros espinhos, que por quatro vezes originaram outros tantos furos nas rodas da bicicleta do Joaquim. A partir da milha XX, enquanto o José Botelho ajudava o Joaquim Tavares a substituir, pela segunda vez, a câmara da Cannondale, fui prosseguindo até à milha seguinte para saber se nos encontrávamos na rota certa, face à ausência de sinalética numa bifurcação, embora a intuição apontasse para que subíssemos a encosta, apesar do mau estado do caminho, muito estreito e pleno de vegetação silvestre. Fui prosseguindo até efectivamente verificar que me encontrava no caminho da Geira, no entanto as dificuldades foram crescendo, com muita pedra e água, tor-


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Caldelas

nando a via cada vez mais tortuosa. Por duas vezes tive que abrir cancelas que me barravam a progressão, tendo igualmente atolado a perna direita na terra, plena de água. E assim prosseguia, por um caminho com tanto de belo como de inóspito. Foi então que o telemóvel resolveu ajudar, ao permitir um tempo de descanso para atender o José Botelho, O Joaquim já não tinha mais câmaras de ar, assim iriam abandonar a Geira e fazer o caminho restante, até Covide, pela primeira estrada de asfalto que encontrassem. Atendendo à dureza da via, aconselhei que o fizessem, uma vez que haveria sempre o risco de novo furo. À medida que me aproximava de Covide, ficava para trás a vegetação mais baixa e agreste, com a Geira a ladear as encostas para penetrar por uma zona de frondosa vegetação, onde predominam, entre out-

ras espécies, carvalhos e castanheiros que filtram os fortes raios de sol, quando estes espreitam entre o arvoredo. Depois do enorme esforço despendido a vencer as dificuldades já narradas, finalmente entronquei na estrada em asfalto que me levaria a Covide, onde aproveitei para fazer uma pausa no primeiro café que encontrei, onde lanchei regaladamente, no terraço fronteiro da casa, coberto por uma parreira. Enquanto descansava, a curiosidade de alguns presentes e o meu à vontade habitual, promoveu um bom momento de conversa, sempre agradável, quando os convivas se mostram bons conversadores. Como a passagem pela Mata de Albergaria estava a ser aguardada com alguma expectativa, atendendo ao seu encanto natural, e, dado o adiantado da hora, previa-se que para chegar a Bubaces, na Galiza, seria ainda necessário percorrer mais 30 a 35 km, o


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56 que implicava passar pelo frondoso bosque quase de noite. Concordámos terminar a jornada no Campo do Gerês. Deste modo, embora a conversa estivesse a decorrer de forma agradável, urgia pôr-me a caminho da Pousada de Juventude de Vilarinho das Furnas para tentar garantir dormida, reiniciando no dia seguinte o Caminho pela Geira. De Covide a Campo do Gerês ainda faltava subir cerca de três quilómetros. Felizmente, quando cheguei, ainda havia alojamento disponível. A Pousada de Vilarinho, para além da excelente localização e condições que oferece, conta também com um grupo de funcionárias eficientes, prestáveis e sobretudo bastante simpáticas. Enquanto aguardava pelo meus amigos aproveitei para lavar a bicicleta e botas, que estavam pejadas da terra negra da Geira. Quando finalmente chegaram, providenciámos um duche prolongado, sucedendose uma caminhada pelo Campo do Gerês na procura do repasto. No final de um dia extenuante nada como um bom jantar, tendo este decorrido num simpático e acolhedor restaurante do Campo do Gerês, com dois elementos do grupo a contraírem um surpreendente namoro com duas garrafas de vinho verde, a acompanhar um suculento bife. Depois de cumpridos 62 km de Braga a Campo do Gerês, pelo magnífico e difícil percurso da Geira, nada melhor que terminar a jornada desta forma. A jornada seguinte prevê-se que se desenrole pelos frondosos bosques da Mata de Albergaria, continuando o Caminho da Geira, pela Portela do Homem até às Termas de Bubaces, para onde está previsto um momentos de relaxe nas quentes águas do Rio Caldo, continuando depois pelo Caminho Natural de São Rosendo.

Geira - Primeiro km em estradão

O esforço do Joaquim

Primeiro furo - Foto de J. Aguiar

Geira III


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Geira I - Foto de J. Aguiar

Milha XXI


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Campo do GerĂŞs

Pousada de Vilarinho das Furnas

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