Com Qual Penteado Eu Vou?

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é preciso conhecer de onde viemos pra entender quem somos e traçar ocaminho que seguiremos.

São muitas histórias dentro da história de Com Qual Penteado Eu Vou? Poderia ser um livro sobre penteados e formas de usar cabelos crespos, e só por isso já valeria ler, já que cabelo e a forma como os nossos são vistos na sociedade são fontes de muitas questões e dores; mas vai além disso, muito além! Fala de ancestralidade, de família, de respeito e de valorização dos mais velhos, respeito e valorização das diferenças, da importância da humanização e das qualidades de cada indivíduo, e o que eu achei mais lindo de tudo: o melhor que podemos dar ao outro é o melhor que temos em nós.

Viva o amor! Viva os afetos! Viva os mais velhos, suas histórias e seus ensinamentos!

Taís Araujo

A festa de 100 anos do Seu Benedito vai animar toda a família, afinal, agora ele é um cen-te-ná-rio.

Para homenagear seu bisavô nessa data tão importante, suas bisnetas e seus bisnetos irão escolher penteados lindos para participarem da comemoração. E cada uma e cada um irá presentear seu bisa com a virtude mais poderosa que tem.

Atriz, jornalista, apresentadora, mãe do João Vicente e da Maria Antônia, duas crianças criativas que amam penteados e seus avós, tios e primos, iguais às crianças deste livro. ISBN

Com qual virtude você presentearia alguém tão especial?

uadoro os livros da Kiusam, sou leitora de suas obras desde que tive meu primeiro filho. João Vicente me abriu um universo! Depois de um tempo, percebi que os livros infantis não só serviam para a educação, a formação e o fortalecimento dos meus filhos enquanto cidadãos, como também pra lacuna existente na minha alma, por não ter tido acesso a livros como esses durante a minha infância e adolescência.

KIUSAM DE OLIVEIRA

Com Qual Penteado Eu Vou? foi um gatilho, e eu vou explicar o porquê: a família da minha mãe morria muito cedo, minha avó materna morreu aos 37 anos, e não a conheci. Mas ela vive dentro de mim e, como homenagem, dei a minha filha mais nova seu nome: Maria Antônia! Minha avó paterna morreu quando eu era criança, e nunca foi muito próxima da gente. Meu avô paterno era massa demais, mas morava longe, mesmo assim, quando nos víamos, era uma alegria; morreu quando eu tinha 18 anos.

Minha mãe não foi registrada pelo pai. Contei isso pra dizer que essa é outra lacuna que tenho em minha alma: a falta dos mais velhos em minha vida; sinto falta do que não tive ou tive muito pouco... Sinto saudade do colo de uma avó, das piadas de um avô, dos fins de semana ou férias na casa dos avós. Sinto falta do que não tive, porque considero essa convivência especial e essencial, porque conviver com quem viveu antes da gente nos ensina a nossa história de forma orgânica, e porque eu acredito demais no ditado que diz que

RODRIGO
978-65-5539-299-9 ISBN 978-65-5539-299-9
ANDRADE ILUSTRAÇÕES DE

KIUSAM DE OLIVEIRA

RODRIGO ANDRADE ILUSTRAÇÕES DE

Aos seres amados que tudo me ensinam sobre virtudes: meu Ori, minhas mães Erdi Pereira de Oliveira (in memoriam) e Oxum, meus pais Genarino de Oliveira (Ciciá) e Oxóssi. Celebro os oris de Aísha de Souza Melo (Omo-Oba do Ilé Alákétú Àsé OyaN’jebe) e da bebê Aísha Freitas Lopes, recém-nascida, filha da amada Valéria Freitas: eu já as amo desde a eternidade. E assim, caminho, vendo sementes brotarem num jardim chamado HUMANIDADE.

Kiusam

À minha irmã Luciana, uma das mulheres mais extraordinárias que conheço e tenho a honra de partilhar essa vida, e aos meus avós Sebastiana, Cláudio, Alexandrina e Sebastião, pois sem eles não estaria aqui.

Rodrigo

Prefácio

Este livro é uma dessas pinturas estonteantes. Cenas plásticas que nos prendem a atenção. Falando de nomes, a autora Kiusam de Oliveira nos pega pelas mãos e nos guia a uma festa especial: a do centenário de Seu Benedito, que é pai, avô e bisavô de gente idosa, adulta, jovem e criança. O casamento entre as palavras escolhidas pela referida autora e as ilustrações oníricas de Rodrigo Andrade resultam num encantamento. Como se isso já não bastasse, Kiusam destaca os nomes africanos com seus significados e locais de origens de forma a nos lembrar de um costume que atravessa muitos povos do continente: quando uma criança nasce, além do nome, ela traz uma canção que vai segui-la por toda a vida.

Um nome é um presente porque o seu significado é mais do que uma descrição: o ato de nomear é fazer um convite à vida, e o momento de receber o nome é um festejar. Nesse sentido, os nomes não deixam de ser matéria-prima dos penteados, que são maneiras de enfileirar os fios, ajuntar os crespos de um lado para o outro, seja entrelaçando, trançando, escovando ou alinhando com o pente-garfo. Além disso, é uma forma encontrada pelas mãos adultas de conversarem com a cabeça de uma criança.

Com Qual Penteado Eu Vou? é um livro que já inicia instigando a criança com uma pergunta e, para mim, essa é uma das melhores maneiras de começar uma história. Um título que pergunta é ideal para a criança, pois a infância é, justamente, a fase de perguntar. Esta história tem o ritmo bom para dormir na cadência do pentear os cabelos crespos de uma criança. O ato de penteá-los é uma forma de narrar histórias exatamente no tempo em que se dá o encontro das mãos adultas com os fios de cabelo da filha, do filho, da neta, do neto, da sobrinha ou do sobrinho.

O livro é um convite para aproximar idosos, adultos e crianças celebrando o ato de contar uma história fazendo um belo penteado, com muito cuidado, afinal, contar uma história não deixa de ser uma maneira de escovar o coração da criança que conta e daquela que ouve. As virtudes de ouvir e contar histórias se transformam em hábitos como escovar os dentes antes de dormir.

Hoje, o telefone por aqui começou a tocar cedo, já que é um dia muito especial: o aniversário de 100 anos do meu bisavô, Seu Benedito.

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A grande festa acontecerá no quintal de casa, e tudo está sendo preparado com muita animação: bandeirolas coloridas se agitam com o vento, e as borboletas querem competir com elas; o partido alto já toca cadenciado na vitrola antiga do bisa, e os cheirinhos de glacê, chantili e brigadeiro se espalham docemente pelo ar.

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Posso ver a emoção de vovó ao dizer:

– Papai se tornou hoje um centenário. Um cen-te-ná-rio!!!

E posso também ver a admiração de minha mãe ao dizer:

– Vovô se tornou hoje um centenário. Um cen-te-ná-rio!!!

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Do jeito que a mamãe fala, ser centenário é uma coisa extraordinária. E eu não duvido.

Você consegue imaginar uma pessoa vivendo cem anos? Um século?

Mas, hoje, eu preciso ser prática para resolver um grande desafio: decidir com qual penteado eu vou participar da festa.

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A dúvida foi tanta, que pedi permissão à mamãe para telefonar para as minhas primas e meus primos, a fim de saber com quais penteados pretendiam vir à festa.

Conforme foram me contando, eu fui ficando confusa, até porque eram diversos os tipos de penteados. Resolvi não perguntar mais nada: fui até a minha mãe e pedi para que ela fizesse em mim um penteado capaz de deixar meu bisavô muito feliz.

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