Um Dia na Aldeia revela como um típico menino munduruku assimila naturalmente saberes diversos. Por meio de jogos e brincadeiras, o jovem Manhuari recebe os conhecimentos tradicionais, essenciais para crescer em sintonia com a cultura do seu povo e viver em harmonia com a natureza. Os Munduruku, conhecedores dos astros e das constelações, celebram o cotidiano, os animais, as frutas e outros temas em belas canções e poesias. Assim foi a infância do próprio autor, que hoje a todos encanta com suas memórias e belas histórias.
A toda nação Munduruku que reflete em cada coração munduruku.
Manhuari se espreguiçou, mas continuou deitado na uru. Olhou para o lado e viu que sua ixi já estava de pé no lado de fora da uk’a. Sabia que ela preparava a primeira refeição do dia, normalmente composta de mingau de akobá, musuktá e wixik’a. Também poderia ter melancia, abacaxi, manga –dependia da época do ano.
O céu ainda estava cheio de kasoptas. O kaxi ainda estava longe de aparecer. Fazia parte da tradição munduruku acompanhar o caminho do kaxi pelo céu.
Acordar muito cedo, tomar o primeiro banho no cabitutu e fazer a refeição matinal era uma sequência natural que se repetia todo dia. Manhuari perguntou para sua ixi qual o signif icado desse ritual.
– É assim mesmo, filho. Quando você crescer, vai entender: o banho matinal é para tirar da gente as coisas ruins que a noite pode trazer. Além disso, repetir as mesmas ações sempre nos ajuda a ficar atentos às coisas que podem nos surpreender – dizia ela com um riso nos lábios.
Manhuari sorria também, mas não entendia direito aquilo que sua ixi dizia. Acreditava nela e esperava crescer. Deixava as dúvidas para os oborés.
Pensando neles, correu até o cabitutu para tomar banho.