COmigo? Ilustracões susana Rodrigues , Lô CarvaLho LIVRO DO PROFESSOR MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR escrito por Lô Carvalho PDLP0002020126P220203000000
Curupira, brinca
Copyright © 2021
© Lô Carvalho
DIREÇÃO DE PROJETOS
Suria Scapin
REVISÃO E PREPARAÇÃO
Jessica Spilla
ILUSTRAÇÃO
Susana Rodrigues
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Bruna Parra
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
CARVALHO, L. Curupira, brinca comigo? – Livro do Professor / Material Digital do Professor. / texto: Lô Carvalho; ilustração: Susana Rodrigues. 1ª ed.
Atibaia/SP: Gavioli Edições, 2021.
45 p. : il. colorido, 20,5 x 27,5 cm
ISBN 978-65-99497-06-3 CDD 028.5
1. Literatura infantil. 2. Livro ilustrado. 3. Folclore: lendas. 4. Brincadeira. 5. Família. I. Título. II. Autor.
ISBN Livro do Aluno 978-65-99497-05-6
ISBN Livro do Professor 978-65-99497-06-3
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil: livro infantil – 028.5
2. Literatura infantil: educação infantil – 028.5
3. Literatura infantil: folclore/lendas – 028.5
4. Convívio social e brincadeira – 028.5
NOSSA MISSÃO
Publicar livros de qualidade que permaneçam na mente dos nossos leitores como fonte preciosa de conhecimento e de entretenimento.
2021 - Todos os direitos reservados.
Gavioli Edições é um nome fantasia da Cinthia Gavioli da Mota Edições ME
Rua José Amadeu Orestes - 320
Atibaia/SP - 12.941-260
www.editoragavioli.com.br
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CARA PROFESSORA, CARO PROFESSOR,
Obrigada pela oportunidade de apresentar o livro Curupira, brinca comigo? a você! Sempre tive o cuidado em publicar livros para a primeira infância que trouxessem a valorização da nossa cultura. Acredito que as obras voltadas para as crianças, ainda que aparentemente simples, devem trazer conteúdos que aproximem as crianças do universo dos livros e da literatura através de textos originais e divertidos e ilustrações vibrantes. Outra característica que aprecio é a valorização da cultura, fauna e flora brasileiras, algo que costumo apresentar em meus livros de modo a envolver toda a família.
Com o livro Curupira, brinca comigo? não é diferente. Esse livro representa muito aquilo que acredito: é uma obra que homenageia o nosso folclore, coloca a criança como protagonista, possui um texto simples, mas cheio de conteúdo e ilustrações que encantam aos leitores de todas as idades. Ele também parte de um princípio muito importante: a leitura junto à criança pequena que provoca uma interpretação lúdica e gestual, adequada à faixa etária. Vou apresentá-lo aqui de forma mais aprofundada, com informações sobre os conteúdos gráficos e textuais, referências pedagógicas, a importância da leitura na primeira infância, o folclore brasileiro e, também, sugerindo algumas propostas de atividade para serem realizadas na escola e em casa.
Espero que você goste do livro e deste complemento digital. Agradeço mais uma vez pela oportunidade de apresentar o meu trabalho como autora e pedagoga, seguimos juntos pela construção de uma educação de qualidade e a formação de leitores conscientes, sempre espalhando livros e leituras!
Lô Carvalho
Abraço,
SUMÁRIO S O bre a O bra 5 Público-alvo, categoria e temáticas 5 A história por detrás da história 8 Qual é mesmo a história? 8 Quem? Quando? Onde? 9 Virando a página 10 Sobre as autoras 12 a f O rmacã O d O leit O r na primeira infância 13 Os livros para a primeiríssima infância 13 A leitura para crianças pequenas 15 O livro Curupira, brinca comigo? e o desenvolvimento da criança 18 A importância da leitura e da brincadeira no cotidiano 20 O folclore como tema para a infância 21 O que as crianças podem aprender ao ler este livro? 23 a leitura d O livr O 24 Antes da leitura 25 Durante a leitura 26 Depois da leitura 27 O livro, página a página 28 S uge S tã O de atividade S c O mplementare S 37 Personagens na amarelinha 37 Brincadeira do Curupira 38 Dança do Saci 39 Cantando e dançando músicas folclóricas 39 O meu livro de folclore 40 r eferência S bibli O gráfica S 41
SOBRE A OBRA
PÚBLICO-ALVO, CATEGORIA E TEMÁTICAS
Título: Curupira, brinca comigo?
Autora: Lô Carvalho
Ilustradora: Susana Rodrigues
Objeto 2: Obra literária
Categoria: Pré-escola – crianças pequenas
Especificação de uso: Manuseio dos estudantes (estudantes entre 4 e 5 anos)
Temas:
1. Cotidiano, relacionamento pessoal e desenvolvimento de sentimentos de crianças nas escolas, nas famílias e nas comunidades (urbanas e rurais);
2. Jogos, brincadeiras e diversão; 3. Fábulas e lendas locais nacionais.
Gênero literário: Narrativo – história curta, texto com repetições.
Escrever livros que transmitam uma sensação de pertencimento ao leitor que está descobrindo a si mesmo, aos outros e o mundo que o cerca. Essa sempre foi uma meta enquanto escritora. Estudos apontam o quanto é importante, além de ser divertido e prazeroso, ter o momento diário de leitura em casa e na escola e o quanto os livros podem auxiliar no desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças pequenas. Por isso, costumo elaborar textos que ajudem a explorar os campos de experiência e os direitos de aprendizagens previstos na Base Nacional Comum Curricular. Afinal, toda criança tem o
direito de se expressar, de brincar, de conviver, de participar, de explorar e se conhecer. Associar a literatura e o livro para a infância a uma visão de educação é uma marca do meu trabalho e gosto de fazer isso por meio de livros bem ilustrados e que possuem um suporte de qualidade, sempre pensando no leitor final: a criança e os adultos que a acompanham na sua jornada inicial da leitura.
Com o livro Curupira, brinca comigo? não é diferente. Especialmente pensado para as crianças pequenas, esse é um livro que tenciona permanecer na memória dos nosso leitores como uma
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fonte agradável de leitura e de conhecimento! Em cada dupla de páginas, há uma cena que se repete: a partir do problema inicial, uma criança que está no interior de uma floresta e quer brincar, cada um dos seres fantásticos do folclore brasileiro responde ao convite para a brincadeira, mas ele também quer convidar outro personagem para a brincadeira. O texto curto e repetitivo, que sempre começa com a pergunta “brinca comigo?”, convida a criança pequena a interagir com o livro, a se concentrar na história e também a chama para conversar sobre o que está acontecendo na narrativa visual da obra, que de uma página para outra acumula mais e mais personagens, valendo-se do recurso da acumulação, tão preciso nas histórias para crianças, de uma forma divertida que desperta a imaginação dos leitores. A criança, nessa obra, é apresentada como protagonista – não apenas no livro em si, mas também na brincadeira que é o prin cipal elemento da trama e a respos ta que sucede à indagação inicial, que sempre se inicia com o convite, inspirando a criança também a brincar e a se sentir segura, como par te de uma experiência
do seu dia a dia que ela agora encontra retratada em um livro. As ilustrações são fortes, com cores marcantes. O cenário, ilustrado em tons de verde escuro, remete ao interior de uma mata. Que mata é essa? Onde ela fica? Esses questionamentos iniciais já despertam a curiosidade dos leitores. Os personagens, em contraste com os tons frios do verde, foram retratados em tons vermelhos e laranjas, remetendo a mais um elemento da natureza, a terra. Eles foram ilustrados de forma clara, sem margem a ambiguidades, elaborados a partir das características apresentadas pela literatura sobre o folclore brasileiro. As crianças terão facilidade em identificá-los, reconhecendo os principais elementos que lhes conferem identidade. Por outro lado, por se tratar de um livro destinado a crianças pequenas, esses personagens são apresentados de forma lúdica, divertida, de modo a despertar a empatia das crianças. As ilustrações estão altamente correlacionadas ao texto e ainda apresentam, de forma coerente e consistente ao texto, informações adicionais, conferindo ainda mais graça à narrativa
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Curupira, brinca comigo? é um livro concebido para o manuseio do estudante. A partir de uma primeira leitura do adulto, que dará o tom às questões e às respostas do jogo textual, a criança pequena rapidamente compreenderá como ler a obra, ou melhor, dominará o texto e poderá, assim, ler mesmo quando ainda não saiba ler convencionalmente. As ilustrações vivas, atrativas e adequadas à faixa etária também logo chamarão a sua atenção e logo ela se sentirá desafiada a descobrir quem são esses personagens, onde eles estão e o que acontecerá nessa história. O texto possui uma estrutura que se repete e é constituído de frases simples e previsíveis, atraindo as crianças que, rapidamente, vão perceber as intencionalidades comunicativas da obra e usá-las também para se comunicar no seu dia a dia. O vocabulário empregado é familiar à faixa etária e está apresentado em contextos que auxiliam na construção de significados pelas crianças. Um texto que elas facilmente se apropriarão e farão uso, espontaneamente, para “ler” e descobrir sobre a relação entre aquilo que expressam oralmente e o texto escrito, desenvolvendo uma importante estratégia acerca da relação entre fonemas e grafemas, ampliando a sua consciência fonológica. Ao longo da leitura do livro e a partir da proposta de trabalho descrita neste guia, as crianças também serão estimuladas a se apropriar desse vocabulário em situações de conversação, ampliando suas capacidades comunicativas. Quando o leitor é uma criança pequena, o seu desenvolvimento leitor depende do leitor mediador que lhe apresentará não apenas o texto através da sua leitura em voz alta, mas também lhe servirá como modelo, mostrando-lhes os gestos e compartilhando com ela importantes estratégias de leitura. A obra colabora ainda para a difusão da cultura popular brasileira, fornecendo informações e imagens sobre o nosso folclore. A formação do cidadão começa pela
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A HISTÓRIA POR DETRÁS DA HISTÓRIA
Quer conhecer mais sobre as nossas figuras folclóricas e brincar com eles? É só pedir: Curupira, brinca comigo?. Um livro ilustrado com cores vibrantes que vai fazer todo mundo entrar na brincadeira! De forma lúdica, os personagens mais importantes do folclore brasileiro são apresentados para a criança. Tem o curupira, a cuca, o saci, a iara e muito mais. E no final, uma surpresa: vamos todos brincar juntos!
Quando a criança entra em contato com um livro que tem um personagem com o qual pode se identificar, com cenários em que pode reconhecer um espaço, uma brincadeira, uma forma ou um sentimento, a leitura pode causar uma sensação de pertencimento ainda maior. Essa é a proposta do livro Curupira, brinca comigo?, que traz uma criança que está se expressando, querendo conhecer aos outros e tudo ao seu redor e, principalmente, que quer brincar. As ilustrações, muito expressivas, revelam as características físicas das figuras mais conhecidas do folclore brasileiro, que aparecem a cada página entrando nessa brincadeira divertida. O texto, quando lido em voz alta, apresenta uma sonoridade interessante que igualmente prende a atenção do leitor: no livro, sempre há uma pergunta, um
convite, que se repete em todas as páginas: “brinca comi go?”. Esse texto repetitivo pode proporcionar uma identificação por parte do leitor, que estará atento à res posta e perceberá que ela também tem um elemento textual repetitivo: “eu brinco, mas e o...” e perguntará por outro personagem folclórico. Essa obra traz o desejo de apresentar não somente os personagens do folclo re brasileiro, mas também despertar o desejo pelo conhecimento, a admiração e a valorização da cultura nacional, fazendo com que a criança se sinta parte de um grupo social que se expressa e possui muitas riquezas imateriais.
QUAL É MESMO A HISTÓRIA?
Uma criança está no meio de uma mata fechada e quer brincar. Quem ela vai chamar para a brincadeira? Nessa obra, temos um texto repetitivo que mostra uma criança que convida os seres do folclore para brincar. Os personagens vão aparecendo um a um, formando um grande grupo, e sempre convidando mais alguém para se divertir. Aqui, a brincadeira e o folclore brasileiro são os grandes protagonistas, que certamente também estimularão a criança leitora a querer brincar e conhecer mais de sua própria cultura.
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Vale lembrar que o recurso linguístico da repetição e da acumulação faz parte das narrativas populares ao redor do mundo há centenas de anos. Desde o século VIII essa estrutura vem sendo utilizada, inicialmente, em situações de comunicação oral voltadas para os adultos. Mercadores viajavam de vila em vila anunciando suas mercadorias; contadores de histórias narravam aventuras e peripécias valendo-se desse mesmo recurso. Na medida em que foi sendo apropriada pelas narrativas escritas, essa estrutura passou a ser também utilizada nas narrativas voltadas para a infância. É fato que as crianças gostam de repetições e que a acumulação de personagens e de elementos do texto conferem certa graça e humor à narrativa. Reunir em um livro para criança pequena o recurso da repetição e da acumulação, associado a personagens do folclore brasileiro, representa um primeiro contato da criança com o universo das lendas da nossa tradição popular, estimulando-a a se interessar e a conhecer quem são eles e quais são as suas principais características.
Quem? Quando? Onde?
Há muitos personagens nessa história. O primeiro que as crianças conhecerão é uma criança brincante, que se comunica e se expressa ao convidar os seres folclóricos da mata a brincar com ela. O primeiro convidado é o curupira, que dá nome ao título do livro, que aceita a brincadeira, mas pergunta: “e o caipora?”. A partir dessa pergunta, as crianças perceberão o ritmo do livro, pois a cada dupla de páginas, um novo perso-
nagem será convidado a brincar, e se juntará ao grupo sempre perguntando por outrem. A estrutura e texto repetitivos chamam a atenção da criança e estimulam a sua concentração, já que ela saberá o que virá pela frente, mas terá de descobrir quem mais vai chegar para a brincadeira. O local da brincadeira é revelado já na primeira página de apresentação: a mata. Sabendo que a maioria das crianças do Brasil mora em contextos urbanos, o espaço da brincadeira por si só já lhes chama a atenção, com a exploração de um lugar desconhecido. As cores utilizadas para pintura do fundo das ilustrações já dão a sensação de uma mata fechada: os tons escuros de verde e azul refletem a imensidão da natureza no interior da floresta, com pontos de céu aqui e acolá.
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Sendo personagens de lendas antigas e passadas de geração em geração, o livro Curupira, brinca comigo? é atemporal, é uma história do passado e do presente. Há uma criança que quer brincar, conhecer a si e ao outro, expressar-se, divertir-se e explorar tudo o que tem direito. Essa é também a proposta do livro: convidar a criança leitora a conhecer melhor quem está perto dela e a cultura de seu país, sempre de modo lúdico e divertido através da brincadeira.
LER PARA BRINCAR
Curupira, brinca comigo? foi escrito a partir do princípio da interpretação lúdica e gestual. Esse princípio, definido pela autora com base em diversos teóricos da literatura e da educação, estabelece que o texto e a imagem do livro infantil devem ser elaborados de modo a convidar a criança pequena a simplesmente brincar, estabelecendo vínculos de afeto e atribuindo sentidos e significados à experiência leitora através da expressão livre, imagética e gestual da brincadeira. Como isso acontece na obra? Ora, ao final, a narrativa surpreende os leitores ao integrá-los como parte da história através do convite: “criançada, vamos brincar?”. Essa alteração no papel do leitor para personagem transforma a parte final da história em algo a ser concluído pelo próprio leitor que, então, assume a autoria da narrativa ao pular em um pé só como o saci-pererê, dançar como o boto e até andar com os pés virados para trás como o caipora... Um jogo de alteridade que não é apenas construído do ponto de vista linguístico, mas proposto na obra como uma experiência literária concreta.
Virando a página
A estrutura do livro foi planejada de modo que o próprio projeto gráfico fornecesse pistas que favorecessem a construção inicial de importantes procedimentos de leitura, como a antecipação e a localização – além das múltiplas inferências e extrapolações que podem ser elaboradas a partir da leitura da obra.
O leitor sempre encontrará na página par, a página da esquerda, o texto que se refere a pergunta da criança: “...brinca comigo?”. No decorrer do livro, nessa página, também será possível ver o grupo que se formará conforme os personagens toparem a brincadeira. Na página ímpar, da direita, o texto que trata do último personagem convidado, que sempre responderá da mesma forma: “eu brinco, mas e o...?”
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e perguntará por outro personagem. No livro para infância, é sempre importante apresentar marcas gráficas ou estruturais que favoreçam a apropriação não apenas dos gestos da leitura como também do seu conteúdo escrito. Para o leitor que ainda não domina o sistema de escrita plenamente, essas referências são um apoio fundamental para que ganhe confiança e autonomia para “ler” mesmo quando ainda não sabe ler convencionalmente, estreitando seus vínculos com o objeto livro e com o ato de ler.
A repetição do texto não é algo aleatório: sabemos que os elementos repetitivos em uma narrativa para a primeira infância servem como elementos conectivos entre as várias partes do texto, além de permitirem também uma apropriação oral (e por que não da escrita também) do texto. Servem como apoio para o avanço da leitura e conferem ainda uma maior graça à leitura.
A narrativa textual, toda ela registrada em letra bastão para garantir uma padronização do desenho das letras do alfabeto, recebeu uma tipologia branca e expressiva, que é coerente com a opção gráfica das ilustrações: o traço expressivo e cores fortes das imagens contrastam com as letras. Texto e imagem estão claramente dispostos em um fundo escuro no qual cada qual ganha o seu espaço, tornando ainda mais evidente para a criança o que é escrita e o que é desenho.
A REPETICÃO NO TEXTO PARA A INFÂNCIA
O texto apresenta uma frase que se repete ao longo da narrativa que certamente encantará as crianças, que perceberão o convite: “...brinca comigo?”. Como um bordão, ela poderá receber um destaque especial do leitor adulto durante a leitura em voz alta, permitindo que as crianças se apropriem dela tanto do ponto de vista literário (um texto escrito a ser reproduzido oralmente), como também do ponto de vista lúdico. Essa apropriação textual favorecerá uma multiplicidade de interpretações do texto e de correlações entre o ele e o dia a dia da criança. Essa pergunta vai levar a criançada bem longe, pois além de brincar com o livro e seus personagens, elas certamente irão querer brincar com quem mais estiver por perto!
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SOBRE AS AUTORAS
Lô Carvalho é o pseudônimo de Aloma Carvalho, pedagoga e professora de Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Já atuou em projetos educativos desenvolvidos pelo MEC e pela UNESCO voltados para formação de educadores da Educação Infantil e para a elaboração do currículo escolar nas áreas de Alfabetização, Ciências, História e Geografia, tanto para o segmento da Educação Infantil como para o Ensino Fundamental. Há mais de vinte anos escreve livros escolares e aproveitou o conhecimento adquirido nessa experiência para escrever também livros para a primeira infância que ajudem no desenvolvimento leitor e estimulem a leitura em família de forma prazerosa e ativa. É editora e curadora editorial e também influenciadora digital no blog Bebê Leitor, que trata de divulgar a literatura infantil nacional, escrita e ilustrada por profissionais brasileiros, e de difundir a leitura em família e a formação do leitor desde a primeira infância. Seu trabalho pode ser apreciado no site Bebê Leitor: www.bebeleitor.com.br (acesso em 19/abril/2021).
Susana Rodrigues é formada em artes plásticas e é ilustradora profissional. Atua no mercado editorial há mais de dez anos, sempre desenvolvendo personagens e cenários para livros infantis. Atualmente, além de ilustrar livros de outros autores, Susana tem o seu próprio trabalho autoral.
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A FORMACÃO DO LEITOR NA PRIMEIRA INFÂNCIA
A primeira infância, que compreende os primeiros seis anos da criança, é uma fase de descobertas infinitas, em que o cérebro cria milhares de conexões por segundo e se desenvolve como em nenhuma outra fase da vida. É o período inicial de identificação e pertencimento, de autoconhecimento, do conhecimento do outro e do mundo que o cerca. Aqui, as descobertas são ainda mais intensas, a criança passa de um período extremamente dependente do outro para os seus primeiros atos de autonomia, como falar, ir ao banheiro, dormir sozinha, aprender com autonomia e, sobretudo, ter maior consciência de si e do outro. E sobre os livros e a literatura para essa faixa etária, como tudo isso se reflete?
OS LIVROS PARA A PRIMEIRA INFÂNCIA
No mercado editorial, há uma variedade de livros para crianças pequenas, nomenclatura usada na Base Nacional Comum Curricular para classificar as crianças com idade de 4 a 5 anos. Dentro desse grupo, estão diversos livros-brinquedo, livros com suporte cartonado, de pano, de banho e com outras características específicas. Todos esses objetos são interessantes do ponto de vista lúdico e sensorial; contudo, os livros tradicionais, com capa e folhas de papel, também devem ser oferecidos às crianças desde a mais tenra idade, para que elas conheçam o objeto livro tal como ele se apresenta socialmente e se familiarize com ele, sem que haja a confusão de que tal objeto é um brinquedo (ainda que, entre outras características, o livro também é feito para divertir, e essa é uma de suas características principais).
Para melhor compreender a importância do contato da criança pequena com um livro de papel, é possível fazer um paralelo com a alimentação. Ninguém duvida da importância de deixar a criança, desde bebê, pegar a comida com as próprias mãos: trata-se de um estimulo para o desenvolvimento da autonomia e também do
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paladar. O bebê fica com o rosto todo sujo e as mãos enlambuzadas; suas roupas manchadas; a cadeira, a mesa, o chão... Tudo em volta parece ficar cheio de pedacinhos de comida. E a reação das pessoas? Pura alegria! Mas, quando se trata de deixar uma criança pequena pegar um livro de papel com as próprias mãos, muita gente ainda hesita. E se rasgar uma página? Cortar a mão? Comer o papel? Amassar o livro? Pois é, embora os livros sejam o alimento da alma, ainda existem aqueles que acreditam que livros e crianças pequenas não combinam. Afinal, elas nem conseguem ler o que está escrito, não é mesmo?! Não, não é.
No processo de literacia, é fundamental que as crianças pequenas sejam expostas a livros de papel, com todas as suas características reais.
Livros de plástico, de pano e até livros brinquedos podem fazer parte da biblioteca da criança. Mas é com o livro de papel que a criança terá as melhores oportunidades para perceber-se como um leitor ativo inserido em uma comu-
nidade leitora. Ao estimular o contato frequente com um objeto social real, tal como ele existe concretamente no dia a dia, a criança aprenderá, gradualmente, a manipulá-lo com segurança, reconhecendo desde o início os cuidados necessários para a sua conservação.
Mas o suporte do livro para a primeira infância não deve ser o único ponto a ser levado em conta: a ilustração e o texto, somados ao suporte, formam a tríade perfeita para um livro de qualidade. As cores, as formas representadas e as imagens que complementam o texto chamam a atenção das crianças pequenas que veem o adulto mediador segurando o livro, ou quando já possuem a independência de folhear os livros, por si sós. Da mesma forma o texto, quando lido em voz alta, convida às crianças a entrarem no universo apresentado pela história, auxilia na construção do vocabulário, estimula a capacidade de concentração e, mais importante do que tudo isso, diverte e forma futuros leitores, contemplando o conceito de literacia.
Inserir a leitura na rotina da criança, independentemente da idade, é um fator preponderante para que ela aprenda a reconhecer o valor da leitura e para que tenha a consciência de que esse é também um momento de diver-
são, mas também de aprendizado e até de reconhecimento. Por isso, é importante que sejam lidos livros de diversas temáticas, com características diferentes e que podem ora se focar em um objeto, ora na rotina, ora em um lugar, ora em uma pessoa ou um animal, ter um texto mais complexo ou mais simples... as possibilidades são muitas. Com o passar do tempo, as crianças perceberão qual tipo de história e de temas preferem e passarão a eleger seus livros favoritos a partir de seus gostos pessoais.
LÊ DE NOVO?!
Durante a primeira infância, as crianças gostam da repetição. Para elas, repetir um mesmo passeio, comer uma mesma comida, ouvir várias vezes uma mesma história e ler e reler o mesmo livro é uma estratégia de aprendizagem emocional e cognitiva. Por isso, é muito importante reler o mesmo livro várias vezes. As crianças sempre poderão fazer uma interpretação diferente do que foi lido, observar um novo detalhe na ilustração e se sentir mais segura ao saber que já conhece o texto. Esses são pontos que podem estimular a sua concentração e compreensão, fazendo toda a diferença em suas vidas como leitoras.
A LEITURA PARA CRIANCAS PEQUENAS
A leitura para crianças pequenas é necessariamente uma leitura em voz alta realizada por um leitor mais experiente. A leitura não apenas traduz oralmente aquilo que está escrito no livro ou representado em suas imagens, mas o mediador também se torna um modelo de leitor. Os gestos ao segurar o livro e ao virar as páginas; a direção do olhar pelo livro; a entonação da voz... Tudo isso serve como pista para a criança que observa o mediador (ora de forma mais atenta, ora de forma mais dispersa, mas sempre observando) e, logo, se sente estimulada a imitá-lo. A criança que participa de situações de leitura quando, diante de um livro, começa a mexer os lábios como se estivesse ela também lendo em voz alta; percebe que é preciso olhar para as páginas do livro; aprende a apontar com o dedinho para algum conteúdo específico.
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A leitura para a criança pequena deve ser sempre uma situação de cuidado e afeto, proporcionando um intenso momento de convívio entre as crianças e o(a) educador(a) e entre ela e seus familiares. A seguir, há algumas dicas que podem ajudar a colocar em prática procedimentos que estimulam o desenvolvimento da comunicação oral e o conhecimento linguístico das crianças pequenas de uma forma geral.
1. Explorar o livro antes de ler. É importante que o adulto mediador conheça o livro antes de ler para que possa estar inteirado de seu conteúdo e melhor explorá-lo durante a leitura.
2. Preparar a leitura.
A leitura se torna mais estimulante para a criança pequena se o livro render conversas, muitas conversas. Tecnicamente, essas conversas são situações de interpretação do texto (e da ilustração) e o adulto servirá como um modelo para os jovens leitores. O ideal é ler o livro para planejar aquilo que será comentado sobre cada página. Os comentários podem ser sobre o texto ou sobre as ilustrações. Recorrer a eventos vivenciados pela criança, fatos da rotina, outras histórias, livros e até mesmo às suas memórias de infância é sempre interessante, “caldo” para uma boa conversa.
3. Desenvolver um estilo próprio. Criar um estilo próprio para ler em voz alta. Não existem regras. Algumas pessoas preferem uma leitura mais teatral. Outras preferem ler com a voz séria e baixa. Algumas pessoas preferem ler e contar; outras apenas ler. Mas jamais deixe de efetivamente ler o livro. Muitos adultos acabam apenas contando a história, o que não é interessante para a formação do leitor. Ler é sempre essencial.
4. Variar a posição do livro durante a leitura.
A criança pode estar ao lado do adulto, os dois observando o livro do mesmo ângulo. O adulto pode ler de frente para a criança, com o livro aberto voltado para ela. Assim, ela não apenas enxergará o livro como também poderá visualizar as expressões do rosto do adulto durante a leitura. A leitura pode acontecer ainda em lugares abertos ou fechados. Essa variação é muito importante, pois permite que a criança pequena tenha diferentes interações com o objeto livro. Também é importante deixá-la manipular o livro livremente, mesmo ele sendo de papel. Assim, ela atuará plenamente como leitora, folheando o livro e atribuindo sentidos ao texto e às ilustrações de forma espontânea.
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5. Ler e reler o mesmo livro.
As crianças pequenas adoram quando os adultos repetem a leitura de um mesmo livro. Essa diversão acaba virando uma necessidade e elas chegam a pedir para repetir eternamente as histórias, os livros, os filmes, as canções. Esta repetição é fundamental para o seu desenvolvimento, pois permite que elas lembrem, relacionem e compreendam cada vez mais e melhor um mesmo fato ou sentimento.
6. Criar uma rotina de leitura e relativizar as expectativas.
Criar uma rotina agradável e prazerosa de leitura para as crianças pequenas, de preferência envolvendo mais de um adulto. Na instituição escolar, esse adulto será, sobretudo, o(a) educador(a) que cuida delas; em casa serão seus familiares. É importante determinar um horário fixo na rotina para a leitura no qual as crianças já estejam alimentadas e com suas necessidades de sono já resolvidas. Assim, elas se sentirão mais confortáveis para aderir a alguns procedimentos que, pouco a pouco, devem aprender: como escutar, esperar a sua vez para falar, olhar o livro. A atenção, principalmente quando a criança é recém ingressa na escola, porém, pode ser fragmentada e de curta duração. Mesmo que ela pareça desinteressada ou muito agitada, é possível prosseguir com a leitura, pois de alguma forma ela estará prestando atenção - salvo, é claro, naquelas ocasiões nas quais ela manifestar claro descontentamento com a situação.
A LEITURA EM FAMÍLIA
As indicações feitas aqui podem ser sugeridas aos familiares. A leitura fora do contexto da escola é similar àquela realizada na escola: o adulto leitor precisa estar preparado, o local e a hora da leitura devem estar previamente planejados. Como o livro Curupira, brinca comigo? aborda uma temática do cotidiano das famílias, a sua leitura será carregada de significados para todos, facilitando a formação de uma comunidade de leitores também em casa.
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O LIVRO CURUPIRA, BRINCA COMIGO? E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANCA
Curupira, brinca comigo? é uma narrativa divertida que agrada a criança e o adulto leitor, tanto pelo texto quanto pelas imagens. A proposta dessa obra é apresentar um conteúdo de qualidade que estimule uma leitura prazerosa em família e na escola. A narrativa, quando trabalhada no contexto escolar, pode promover os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento previstos para a educação infantil na Base Nacional Comum Curricular. Esse documento apresenta cinco campos de experiência, que trazem as situações e experiências da vida cotidiana, e essas definições também estão presentes no livro:
• O eu, o outro e o nós
A descoberta de si e do outro é uma temática muito presente nesse livro. Uma criança quer brincar e convida os outros para brincar com ela, mas esses outros são seres muito especiais, representantes do folclore brasileiro. Aqui, há o olhar para o outro, para o conhecimento e para a construção de novas relações. No fim do livro, o convite: o leitor também é convidado a entrar na brincadeira. Esse convite faz com que a criança leitora não somente se sinta parte do livro e da brincadeira, mas também a convida a partilhar esse momento de diversão com o adulto mediador e com quem tiver contato, sejam as outras crianças da escola, sejam seus familiares e amigos fora da escola. É a valorização das relações e do convívio social, respeitando as diferenças.
• Corpo, gestos e movimentos
O mote principal do livro é a brincadeira, o livre brincar. Aqui, a criança é convidada a inventar as suas próprias brincadeiras e seus próprios movimentos com os amigos próximos, extrapolando a narrativa e o próprio livro. Da mesma forma, ela também percebe que cada personagem do livro é diferente, alguns possuem corpos mais humanizados, outros se assemelham mais a diferentes espécies de animais. A criança terá maior consciência de seu próprio corpo, as semelhanças e diferenças entre os personagens e também perceberá que cada ser é único.
• Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
O início do livro já conta à criança onde a narrativa se passará: na mata. Sobretudo para as crianças que vivem em contextos urbanos, essa noção es-
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pacial já traz a novidade e a convida a adentrar em um lugar diferente de sua realidade. A partir de uma simples pergunta, a criança protagonista do livro conhece seres diferentes e cria novas relações. Conforme a narrativa se desenvolve e novos personagens entram na história, a ilustração vai oferecendo também a imagem de todos os personagens se juntando, o que permite à criança conferir visualmente a quantidade de participantes da grande brincadeira. As cenas se transformam conforme a leitura avança, a quantidade de personagens varia e a transformação que acontece conforme a narrativa avança pode ser percebida pelo texto visual, as ilustrações.
• Escuta, fala, pensamento e imaginação
As figuras dos seres folclóricos, por si só, já estimulam o imaginário infantil, que trazem a fantasia e o elemento lúdico para a história. Sendo esse um livro que traz um texto repetitivo e convidativo, o leitor já sabe o que poderá encontrar nas próximas páginas, chamando a atenção para a escuta. Da mesma forma, também estimula a criança a falar e convidar as pessoas do seu entorno a também
brincar, a demonstrar o seu desejo e se expressar, refletindo sobre as suas preferências. O cuidado com a apresentação dos personagens também instiga as crianças que serão envoltas em meio a personagens que andam com os pés para trás, que cantam muito bem, que gargalham de um modo espalhafatoso, que pisam firme quando andam...
• Traços, sons, cores e formas
Curupira, brinca comigo? é um livro ricamente ilustrado e colorido, que propõe despertar os sentidos das crianças ao conhecer cada ser fantástico que aparece na história. Cada personagem possui traços, cores e formas características diferentes, estimulando o contato da criança com a arte visual e também com a cultura popular, tão valorizada no livro e que pode oferecer diferentes propostas de trabalhos pedagógicos com as crianças em sala de aula, virtualmente e também com as famílias, especialmente na área das artes.
Todos os pontos presentes na Base Nacional Comum Curricular exploram questões importantes para o desenvolvimento das crianças e, por isso, são também abordadas no decorrer do livro Curupira, brinca comigo?, que tenciona abranger de maneira completa muitas possibilidades de trabalho e interação.
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A importância da leitura e da brincadeira no cotidiano
Estudos apontam para a importância da rotina no dia a dia das crianças, sobretudo na primeira infância. Saber que há a hora de se alimentar, de descansar, de tomar banho e fazer a higiene bucal e também, é claro, de ler, brincar e aprender ajuda as crianças a terem mais consciência do tempo, do espaço em que habita e de suas atividades individuais e coletivas, colocando-as como protagonistas no aprendizado e de seu próprio desenvolvimento. A rotina deve ser respeitada em casa e no ambiente escolar, oferecendo tempo e liberdade para que as crianças tornem-se cada vez mais independentes e autônomas. Como citam Barbosa e Horn no artigo “Organização do tempo e espaço na educação infantil”,
“A ideia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participação ativa das crianças, garantindo às mesmas a construção das noções de tempo e de espaço, possibilitando-lhes a compreensão do modo como as situações sociais são organizadas e, sobretudo, permitindo ricas e variadas interações sociais”. (BARBOSA; HORN, 1998, p. 67-69)
É importante que as crianças percebam a brincadeira como uma atividade de sua rotina, com a qual ela pode não apenas se divertir, mas também se desenvolver e expressar as suas vontades e opiniões, sempre respeitando também a opinião do outro.
“É na situação de brincar que as crianças se podem colocar desafios e questões além de seu comportamento diário, levantando hipóteses na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos pelas pessoas e pela realidade com a qual interagem. Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras de organização e convivência. Concomitantemente a esse processo, ao reiterarem situações de sua realidade, modificam-nas de acordo com suas necessidades. Ao brincarem, as crianças vão construindo a consciência da realidade, ao mesmo tempo em que já vivem uma possibilidade de modificá-la”. (WAJSKOP, 1995, p. 33)
Mas esse não é apenas um livro divertido. Em cada dupla de páginas, há uma figura importante do folclore brasileiro – cujas informações como nome, habitat e características constam no paratexto ao final do livro –, que mostra como as lendas e a cultura brasileira de modo geral é plural. Curupira, brinca comigo? tem a proposta de explorar o folclore brasileiro de modo lúdico e convidativo, prendendo a
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atenção das crianças a partir de um texto repetitivo e que estará sempre chamando alguém para a brincadeira, além de possuir ilustrações coloridas que expressam a força e as características desses seres tão especiais.
O folclore como tema para a infância
Logo na introdução da Base Nacional Comum Curricular, o texto traz as competências gerais da educação básica, ou seja, que devem ser observadas na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. A terceira competência traz que é necessário
“Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural”. (BRASIL, 2018, pg. 9).
O folclore é um conjunto de manifestações culturais, que traz lendas, brincadeiras e expressões artísticas de um povo. Sendo o Brasil um país tão plural e multicultural, as expressões culturais são muito vastas e diferentes até entre os próprios estados, devido, também, ao grande tamanho territorial do país. Apresentar às crianças a representatividade do folclore já na Educação Infantil é oferecê-las a oportunidade de crescer conhecendo a sua própria cultura, dando-lhes identidade e também a possibilidade de se tornarem parte de uma sociedade que ensina, respeita e admira a sua história, cultura e produção nacional.
O livro Curupira, brinca comigo? é uma obra que mostra essa valorização cultural de maneira lúdica e inclusiva. Mais do que um livro, é também um convite para que a criança se torne uma figura ativa de sua comunidade, que conhece a si, aos outros, expressa a sua vontade, preferências e aprende e valoriza a sua cultura.
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O folclore, que em tradução literal significa “saber do povo” – a palavra vem do termo inglês folklore – e é justamente o reconhecimento do conhecimento do povo, que foi passado de geração em geração, sobretudo oralmente, e que foi ganhando ainda mais representatividade em vários tipos de arte:
• Na música, com ritmos e músicas. Para as crianças, há diversas cantigas de roda, que por vezes possuem letras que não fazem sentido, mas que são experenciadas pela inclusão na sociedade, pelo ritmo, pela coreografia e pela brincadeira coletiva.
• Nas festas, de diferentes temas. Festividades que exaltam um período importante para a população, como colheitas; eventos culturais, como as festas do Boi Bumbá; entre outras. As crianças podem conhecer e fazer parte da produção desses eventos ou de suas representações, seja na escola, em atividades coletivas, seja em casa, com a família.
• Nas brincadeiras. Quem não se recorda das brincadeiras favoritas da infância?
Amarelinha, Passa anel, Cabra cega e Dança das cadeiras são apenas alguns exemplos de brincadeiras atemporais e conhecidas por todo o Brasil. Elas também são representantes do folclore nacional e ensiná-las às crianças é interessante, não só para que elas conheçam como as crianças de outros tempos brincavam, mas para criarem as suas próprias memórias a partir de momentos de diversão com os amigos.
• Na literatura. A quantidade de personagens e histórias que compõem o folclore brasileiro são imensuráveis. Antigamente transmitidas oralmente, em nossos tempos elas já figuram em livros, especialmente os infantis. Monteiro Lobato foi pioneiro em retratar esses personagens na literatura para as crianças, e desde então, muitas obras de relevância foram produzidas para apresentar essas figuras e histórias tão importantes aos pequenos leitores. Aqui, enquadra-se Curupira, brinca comigo?, que tem como proposta participar de dois momentos importantes do dia das crianças: da leitura e da brincadeira.
O QUE AS CRIANCAS PODEM APRENDER AO LER ESTE LIVRO?
Mesmo a criança pequena pode aprender muitas coisas durante a leitura de um texto literário. Com a leitura desse livro, ela pode começar a aprender a...
• Ouvir a leitura de um texto em voz alta realizada por um leitor mais experiente – no caso, o(a) educador(a).
• Desfrutar da leitura de um texto literário e, neste caso, do jogo poético das adivinhas.
• Compartilhar a sua opinião e a sua interpretação de um texto com os colegas, com o(a) educador(a) e com seus familiares.
• Distinguir letras de desenhos e reconhecer no livro os trechos correspondentes à parte textual (texto central, títulos, subtítulos etc.).
• Localizar, identificar e descrever elementos das ilustrações.
• Relacionar o conteúdo do texto com o conteúdo das imagens, começando a perceber o papel complementar que existe entre a informação textual e a informação visual no livro infantil.
• Começar a reconhecer os elementos que caracterizam o texto escrito – como a presença de letras para formar as palavras e os sinais de pontuação (a interrogação, por exemplo, para indicar perguntas). Interessar-se por palavras pouco comuns em seu vocabulário cotidiano.
• Interessar-se em descobrir o significado de palavras que desconhece.
• Valorizar o modo de se expressar de pessoas pertencentes a outras gerações, a outros espaços e tempos.
• Incorporar o vocabulário do livro em seu dia a dia e empregá-lo com gradual eficiência.
• Valer-se da memorização do texto para realizar leituras memorizadas (pseudoleituras), procurando relacionar aquilo que lê com aquilo que está escrito no texto.
• Reconhecer a grafia de letras e o registro escrito de sílabas e palavras, demonstrando interesse na apropriação do sistema de escrita.
• Reconhecer as partes de um livro: capa e parte central, localizando informações como título, nome do autor e da editora.
• Participar ativamente da leitura de um livro por prazer e, ao mesmo tempo, desfrutar das informações que ele traz e que complementam a leitura.
• Conhecer alguns dos seres fantásticos do nosso folclore e apreciar algumas de suas características centrais.
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A LEITURA DO LIVRO
A leitura do livro infantil para crianças pequenas possui, em nossa experiência didática, três eixos fundamentais: a leitura do texto escrito, a leitura da narrativa visual (as ilustrações) e o momento de conversação. É muito importante levar em conta esses três eixos no planejamento da leitura, considerando o que se pode fazer antes, durante e após a sua realização. Decidir se o livro será trabalhado apenas no momento de leitura (as rodas de leitura) ou se será o ponto de partida para o desenvolvimento de uma ação maior (seja ela um projeto ou uma sequência de atividades) é outro fator importante a ser considerado. Curupira, brinca comigo? é um livro que permite inúmeras possibilidades, além da leitura literária. Por tratar de um tema tão importante para a primeira infância, a brincadeira, a sua leitura pode se desdobrar em ações mais amplas, envolvendo inclusive toda a família na reflexão sobre o brincar na primeira infância, além, é claro, de muitos trabalhos que envolvam o folclore brasileiro.
As atividades apresentadas nesse tópico são sugestões sobre como a leitura de Curupira, brinca comigo? pode ser realizada em meio a contextos mais amplos, com atividades a serem realizadas antes, durante e depois envolvendo educadores e familiares. Vale destacar, porém, que mesmo o trabalho com o livro apenas no momento da roda de leitura já representará uma experiência literária intensa para as crianças pequenas, que se encantarão em descobrir os mais famosos personagens do folclore nacional, além de se sentirem estimuladas a expressarem a sua vontade, a criar novas relações sociais e, principalmente, a brincar.
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ANTES DA LEITURA
O ideal é que o momento da leitura ocorra em lugar calmo, arejado e iluminado, tornando a leitura ainda mais prazerosa. E que as crianças estejam confortáveis. A escolha de quando e onde a leitura será realizada pode ser parte do planejamento do/da educador/educadora, antes que a leitura do livro ocorra.
Outro ponto interessante é ler o livro antes de apresentá-lo às crianças, preparar a leitura em voz alta, decidir o que e quando será destacado. A entonação, o ritmo e a velocidade podem ser ensaiados pelo leitor mediador que, assim, imprimirá a sua marca, o seu modo de ler, à leitura do livro.
Com relação às crianças, é importante que elas saibam que existe um momento de leitura na rotina da escola e que agora, pouco a pouco, elas já sabem o que acontecerá e o que se espera que elas façam. Para aquelas que recém ingressam na escola, será todo um aprendizado inicial. Por isso mesmo é importante que, antes da leitura, o leitor mediador antecipe o que acontecerá: “agora vou ler um livro; é importante prestar atenção, ouvir o que eu estou lendo, esperar a vez para falar”. Essas são pistas que orientam a criança pequena que, sem dúvida, com o passar do tempo compreenderá o que fazer nos momentos de leitura.
A organização do espaço e do tempo para a atividade que ocorrerão na sequência da leitura do livro também é muito importante. Assim, leitura e ação ocorrerão com maior fluidez e as crianças se sentirão bem orientadas. Importante ainda planejar como será a interação do livro Curupira, brinca comigo? com as famílias, envolvendo-as na leitura da obra e também na reflexão do tema que ela apresenta.
LENDO COM O CORPO
Por vezes, as crianças podem interromper a leitura, apontar ou comentar sobre uma ilustração que gostam e interagir com a narrativa ao oferecer exemplos e comparações com as suas próprias vivências. Isso é ótimo! Ainda que essas ações possam interromper o andamento da leitura, tais atitudes por parte das crianças significam que elas estão interessadas e se sentindo estimuladas a participar. Vale lembrar que as crianças pequenas praticamente “leem com o corpo”, ou seja, expressam suas reações à leitura não apenas por meio de palavras, mas também de movimentos. É interessante acolher essa movimentação, compreendendo que ela faz parte do desenvolvimento infantil.
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DURANTE A LEITURA
A leitura começa pela capa. Se possível, comece mostrando às crianças onde, na capa do livro, encontram-se as informações sobre o nome dos autores, o título da obra e o nome da editora. É interessante que as crianças saibam o que faz o autor do livro e também o ilustrador. Informe-lhes sobre o trabalho deles na produção de um livro e quem participa dessa produção:
• o autor é quem teve a ideia do texto e depois o escreveu;
• o ilustrador é quem desenhou os personagens, elementos e cenários do livro –muitas vezes é o autor do texto quem dá as dicas sobre o que desenhar para o ilustrador;
• a editora é a empresa que faz o livro chegar até o leitor.
A sonoridade do título também é um assunto interessante para abordagem, já que é uma pergunta: “Curupira, brinca comigo?”. Será que as crianças sabem quem é o curupira? Será que esse título já deixa as crianças com vontade de brincar também?
As crianças gostam da ilustração? Instigue a curiosidade delas, perguntando sobre o que esses personagens farão no decorrer do livro, será que eles estarão sozinhos ou outros personagens aparecerão?
Faça a leitura da história em voz alta e com clareza, em uma velocidade que as crianças acompanhem confortavelmente e mostre as páginas com calma para que elas possam observar todas as ilustrações. Não há problema caso a criança interrompa a leitura para fazer uma pergunta ou apontar algo na imagem, pelo contrário, é sinal que ela está interessada e que há interação com o momento.
DEPOIS DA LEITURA
É interessante que as crianças manuseiem o livro, folheiem as páginas e, após a leitura, revejam os pontos que mais gostaram.
Finalizar a leitura perguntando qual foi a parte favorita na história e o porquê também inclui a criança e faz com que ela se sinta parte do momento de leitura. É importante que ela compartilhe o seu gosto pessoal e seja estimulada a argumentar sobre as suas escolhas e percepções, pois além de reforçar a atividade e memória do que lhe foi apresentado, ela também sente que a sua opinião é importante e relevante, que é ouvida e respeitada. Algumas perguntas também podem ser feitas nesse momento após a leitura, questões simples que façam as crianças relembrarem as ilustrações e o texto. A seguir, estão listados alguns exemplos de questões abertas, que convidam as crianças a exercerem a argumentação e elaborarem interpretações próprias do livro lido:
• Você já conhecia algum personagem do livro? Qual é o seu favorito?
• Qual brincadeira você acha que os personagem vão escolher, agora que estão todos juntos?
• E você, do que gosta de brincar?
• Qual é o nome do primeiro personagem do livro, você se lembra?
Lemos o nome dele no título...
• Quantos personagens há no livro?
• Quantos anos você acha que a criança que faz amigos no livro tem?
Quantos anos você tem? Será que ela é parecida com você? Ou não?
• Onde os personagens estão, você se lembra de ter ouvido essa informação durante a história? Era dia ou noite? Por que você acha isso?
Caso o livro seja lido em casa, juntamente com a família, as perguntas podem ser encaminhadas para os responsáveis, para que eles possam conversar com as crianças após a leitura e assim, também, criar o hábito de falar sobre as leituras compartilhadas.
Depois da leitura do livro, é interessante conversar com as crianças sobre o que elas mais gostaram nas ilustrações e na história. Se possível, comente que é possível serem feitas algumas atividades para explorar melhor o que foi visto e estimule-as a relembrar as passagens, permitindo que as crianças folheiem o livro novamente.
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LER PARA FALAR
Após a leitura de um livro, é sempre interessante garantir que as crianças se apropriem do vocabulário do texto (ou pelo menos de uma parte dele). No livro Curupira, brinca comigo? há dois pontos linguísticos que se destacam de forma muito adequada à fase da criança neste momento: duas perguntas, que possuem palavras que vão sempre se repetir – “... brinca comigo?” e “eu brinco, mas e...?”. Além dessas marcas textuais, há também a ampliação do repertório cultural da criança, que saberá o nome de diversos personagens do folclore brasileiro e conhecerá algumas de suas características. Para garantir essa apropriação, o mais importante é que o educador e a educadora repitam as expressões do livro em diferentes momentos da rotina na escola e que introduzam outras novas conforme acharem adequado.
O LIVRO, PÁGINA A PÁGINA
A leitura de um livro começa pela capa. Ou melhor, pela 1ª capa. Importantes informações textuais como o título da obra, o nome dos autores e da editora estão ali presentes e podem ser compartilhadas com as crianças. No caso do livro ilustrado, é a arte da capa que já começa a contar a história. Quem ali aparece? Quem eles parecem ser? Uma criança? Duas crianças? O que eles estão fazendo? Essas questões são muito importantes nessa primeira exploração, que já fornecerá pistas sobre o texto que será lido na sequência. Vale destacar que o peque-
Curupira, brinca COmigo?
no desenho ao pé da página é o logo da editora, um elemento gráfico que traz imagem e texto que se repete em outras passagens da obra: na 4ª capa e na página 2, no expediente.
A capa é formada pela 1ª capa e também pela 4ª capa, o verso do livro. Geralmente, ali se encontra a sinopse da obra, uma breve resenha que pode e deve ser lida para as crianças. A ilustração também deve ser observada: o que aparece ali? Interessante destacar que quando as capas estão abertas, é possível perceber que o
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No meio da mata, estão todos reunidos: Curupira, Caipora, Mula sem cabeca, Saci-pererê, Cuca, Boitatá, Pisadeira, Capelobo, Cobra-grande, Matinta perera, Lobisomem, Mapinguari, Boto e até a Iara. O que eles estão fazendo? O que eles querem? O que será que vai acontecer? Entre um personagem e outro do folclore brasileiro, as criancas vão se divertir com o final desta história escrita especialmente para tornar a leitura um grande prazer.
susana Rodrigues
CarvaLho
Ilustracões
Lô
No meio da mata, estão todos reunidos: Curupira, Caipora, Mula sem cabeca, Saci-pererê, Cuca, Boitatá, Pisadeira, Capelobo, Cobra-grande, Matinta
Lobisomem, Mapinguari, Boto e até a Iara. O que eles estão fazendo? O que eles querem? O que será que vai acontecer? Entre um personagem
outro
perera,
e
do
folclore
brasileiro, as
criancas
vão se divertir com o final desta história escrita especialmente para tornar a leitura um grande prazer.
personagem em destaque tem uma característica diferente da humana, será que as crianças conseguem perceber? A orelha dele é pontuda.
A primeira página do livro, chamada de “rosto’ ou “front”, geralmente repete o conteúdo da capa, mas sem o mesmo trabalho gráfico. Essa é uma informação importante para o(a) educador(a), que poderá compartilhá-la com as crianças se julgar adequado. Que novidades essa página apresenta com relação à capa? Mostre às crianças o que se repete e o que muda entre uma e outra.
Esta página é chamada de expediente. É nela que a editora informa os dados da empresa, tais como o endereço e as redes sociais.
Curupira, brinca COmigo?
ISBN, que é a identificação da obra. Trata-se de um número internacional, válido no mundo todo, como se fosse o número da carteira de identidade de uma pessoa. Vale lembrar que mostrar a estrutura de um livro para uma criança tem como principal objetivo aproximá-la desse objeto cultural e suas características. Não é necessário de modo algum que ela “decore” ou entenda as informações sobre a obra.
Neste livro, a página 3 traz uma apresentação à leitura, algumas frases de motivação para despertar a curiosidade das crianças pelo texto. Trata-se de um momento de pré-leitura, no qual as crianças podem ser convidadas para falar sobre o que sabem sobre os seus conhecimentos prévios:
O texto fala de monstros e assombrações do folclore, será que as crianças já ouviram a palavra folclore antes?
É no expediente que também estão os dados do livro, a sua ficha de identificação, informações sobre o nome dos autores e o ano de publicação, tamanho do livro e o número de páginas. Nela, também consta o número do
Conhecem algum personagem folclórico? O texto também oferece uma informação espacial, pois já informa que a história se passará na mata. O que é mata, as crianças sabem? Principalmente, a apresentação também informa que uma criança quer brincar e convida os leitores a conhecerem mais sobre essa brincadeira.
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Ilustracões susana Rodrigues
Lô CarvaLho
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Curupira, brinca comigo?. texto: Lô Carvalho; ilustração: Susana Rodrigues. 1ª ed. Atibaia/SP: Gavioli Rua José Amadeu Orestes Pergola 320 Atibaia/SP 12.941-260 Copyright © 2021 Direção de Projeto Revisão e Preparação Ilustração Daniela Fujiwara
E
Vire as páginas para descobrir como essa brincadeira é divertida.
se, no meio da mata, você tivesse vontade de brincar? Com quem você brincaria? Nesta história, uma crianCa como você decide brincar com os monstros e as assombraCões do nosso folclore. Mas, do que será que eles vão brincar?
Desde essa primeira página, já é possível perceber que as ilustrações possuem cores fortes, contrastantes e traços muito expressivos para a construção dos personagens. A paleta de cores não foi escolhida por acaso: os tons escuros de verde e de azul representam a mata fechada, onde, segundo as lendas, os personagens que aparecerão no decorrer da narrativa moram.
do livro: a repetição do nome da criatura folclórica e o convite “brinca comigo?” na página esquerda. Na página direita, haverá sempre uma resposta afirmativa do personagem convidado, que responderá “Eu brinco, mas e...” e questionará sobre outro personagem. A ilustração também seguirá um padrão no decorrer do livro, cores escuras ao fundo, em tons de verde e azul, que contrastam com os personagens.
A história começa com uma criança convidando o curupira a brincar. Note que a criança protagonista é indígena, para valorizar ainda mais esse morador e defensor tão importante da natureza e tradições brasileiras. Apesar disso, a informação deve ser transmitida com naturalidade, pois não é a intenção que as crianças reparem nesse personagem como uma figura diferente, mas sim um brasileiro como elas, que possui história e que pertence a essa grande sociedade chamada Brasil. No que tange a parte pessoal, a narrativa será a mesma de todo o decorrer
Agora, o convidado é o caipora, que aparece ao lado de um animal. A ilustração do animal traz uma informação importante – que não aparece no texto –, pois o Caipora é o protetor dos animais e da mata. A criança brincante aparece ao lado do curupira, e os leitores perceberão que ela e todos os convidados vão se juntando no decorrer do livro, criando um grande grupo. O Caipora pergunta pela Mula-sem-cabeça, próximo personagem que as crianças conhecerão.
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Curupira, curupira, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e o caipora?
Caipora, caipora, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e a mula sem cabeca?
Nessa dupla de páginas, há a Mula-sem-cabeça. Na ilustração, é possível ver que a Mula possui uma grande chama no lugar da cabeça, que pode abrir margem para uma pequena conversa com as crianças sobre os perigos do fogo. Afinal, o livro, seja pelo texto, seja pela ilustração, também tem o poder de despertar assuntos que conscientizem o leitor, sempre de modo lúdico e acessível. Os leitores repararão que o grupo na página esquerda está maior, já que a criança está em companhia do curupira, do caipora e do animal que o acompanha. A Mula-sem-cabeça pergunta pelo Saci-pererê, que aparecerá na próxima página.
montada na Mula-sem-cabeça e segue ao lado do Curupira, do Caipora e seu animal. O Saci aceita a brincadeira e pergunta pela Cuca. Um ponto que pode ser abordado para que as crianças reparem é na cor das letras do texto, que são sempre brancas, para contrastar com as páginas cada vez mais coloridas.
Agora, a criança demonstra ainda mais interação com os personagens, pois está
Todos os personagens do grupo destas páginas estão sorrindo, o que denota que eles estão gostando da brincadeira. Agora, a Cuca é a convidada que aceita a brincadeira, e pergunta pelo Boitatá. As crianças, a essa altura, já devem ter percebido a repetição do texto e memorizado as palavras. É interessante convidá-las a também participarem da narrativa, imitando a criança do livro. Se possível leia o nome do convidado, que sempre se repete duas vezes, e estimule as crianças a fazerem o convite, todos bem alto e ao mesmo tempo: “...brinca comigo?”. Dessa forma, elas também participarão da leitura e ficarão ainda mais concentradas para descobrir os próximos personagens.
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mula sem cabeca, mula sem cabeca, brinca comigo?
, eu brinco. mas, e o saci-pererê?
saci-pererê, saci-pererê, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e a cuca?
cuca, cuca, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e o Boitatá?
Nessa dupla de páginas, as crianças já poderão perceber que o grupo está cada vez maior, há vários personagens na página da esquerda. Na página da direita, há o Boitatá ilustrado em tamanho grande e em amarelo e vermelho, cores primárias e quentes que passam a impressão de que a criatura realmente está pegando fogo. O Boitatá pergunta pela Pisadeira, que aparecerá nas próximas páginas.
rais, perguntando a elas próprias se estão confortáveis na posição que estão ao ouvir a história. A figura da Pisadeira, assim como o boitatá, aparece em muito destaque na página. Ela aceita a brincadeira e pergunta pela Matinta Perera.
Pisadeira, brinca comigo?
Agora, todo o grupo observa a Pisadeira e a criança parece muito concentrada, ao olhar a criatura enquanto está sentada. É interessante comentar com as crianças sobre essas expressões corpo-
O grupo está tão grande que o grupo de amigos brincantes, que até então ficava apenas na página da esquerda, invade também a página da direita. Com isso, a ilustração da dupla de páginas fica ainda mais colorida. Alguns personagens acenam para a Matinta Perera. Se possível, comente com as crianças sobre essa sensação de movimento que essa página apresenta. Que tal, assim como os personagens, as crianças se cumprimentarem também? É um momento divertido de interação e mostra o quanto a expressão corporal também comunica.
A Matinta Perera aceita brincar pergunta pela Cobra-grande.
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Boitatá, Boitatá, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e a pisadeira?
pisadeira, pisadeira, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e a matinta perera?
matinta perera, matinta perera, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e a cobra-grande?
As crianças poderão perceber que o nome da criatura a representa literalmente, pois há na ilustração uma grande cobra que toma boa parte da dupla de páginas. Todos os personagens estão em volta dela. A Cobra-grande também quer brincar e pergunta pelo Capelobo.
nome dos personagens já vistos e também tenham mais consciência espacial, apontando e comentando sobre onde cada personagem está.
Nessa dupla de páginas, os personagens estão em diferentes posições. A criança parece estar se divertindo muito, assim como todos os outros, que estão aproveitando a brincadeira. Se possível, pergunte para as crianças: onde está a Cobra-grande? E o Curupira? Sabe onde está o Boitatá? E a Matinta Perera? É interessante fazer essas perguntas para que as crianças registrem e relembrem o
Nessas páginas, o convidado é o lobisomem, que parece muito feliz com o convite para brincar. Esse personagem usa roupas azuis, reforçando uma característica humanizada. O coro da brincadeira está ainda mais forte, já que há muitos participantes fazendo a pergunta: brinca comigo?
Será que as crianças se lembram o nome da personagem que está logo atrás do arbusto, no canto inferior da página direita? E daquele que está espreitando no canto superior da página direita?
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cobra-grande, cobra-grande, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e o capelobo?
capelobo, capelobo, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e o lobisomem?
lobisomem, lobisomem, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e o mapinguari?
Agora, quem chegou para brincar foi o Mapinguari, que também está muito animado para brincar com os amigos. Há um personagem que está novamente atrás do arbusto, que fica no canto inferior da página direita, mas não vemos a sua cabeça. Será que as crianças sabem quem é? Essa pergunta é interessante para reforçar a concentração das crianças, para que elas percebam que há a representação do animal, mas de outra forma.
nagem: quem é ele? Ele está com uma expressão muito curiosa...
O Boto também aparece vestido com roupas humanas, em referência à sua lenda. O menino brincante está ao seu lado, enquanto a maioria dos personagens está no canto esquerdo. Escondido atrás do arbusto, está outro perso-
Nessa dupla de páginas, quem aparece é a Iara. Há tantos personagens que já quase não vemos o verde da mata e o azul do fundo, apenas as imagens das criaturas da mata. A criança e a iara estão em cima da cobra-grande, e a sereia aceita brincar. Aqui, ela pergunta por alguém especial: e a criançada?
criancada, criancada, vamos brincar? , ,
Criançada, criançada, vamos brincar? Essa dupla de páginas trás um grande convite de todos os personagens do livro para as crianças leitoras. A criança brincante parece convidar aos amigos
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mapinguari, mapinguari, brinca comigo?
Eu brinco. Mas, e o boto?
boto, boto, brinca comigo? Eu brinco. Mas, e a Iara?
Iara, Iara, brinca comigo? Eu brinco. Mas, e a criancada?
que estão lendo o livro com um grande abraço! Esse recurso textual e visual tem a proposta de extrapolar a obra e interagir diretamente com a criança que está acompanhando a leitura, fazendo com que ela se sinta parte dessa grande brincadeira, não somente com as crianças que estão acompanhando a narrativa, mas também estimulando-as a se sentirem amigas dos personagens apresentados no decorrer do livro.
capelobo Quem passeia pela mata distraído, pode levar um susto com o Capelobo. Metade homem e metade anta, a assombração tem um grito assustador. Quem vê Capelobo, sai correndo. E não é para menos, trata-se de um vampiro que gosta de sangue de gente.
na cidade, o lobisomem ataca aqueles que encontra em seu caminho.
mapinguari De longe já se sente o cheiro do Mapinguari em meio aos galhos e cipós da densa floresta. Enorme, com passadas largas e garras afiadas, esse protetor da floresta nada teme diante dos destruidores da natureza.
Boto Jovem e bonito, o Boto encanta as mulheres nas festas e nos bailes com seu jeito charmoso de dançar. Mas elas que tomem cuidado, pois podem se apaixonar por uma criatura que, na realidade, não é gente e mora no fundo do rio. Com o coração partido elas vão ficar.
iara Com longos cabelos sedosos e beleza inconfundível, não há quem não se apaixone pela Iara. Rainha das águas dos rios, ela entoa o seu canto mata adentro. Caçador, pescador ou viajante que passa desavisado se encanta e é fisgado pela mulher-peixe. No fundo do rio, para todo sempre irá ficar.
vamos brincar de…
• ANDAR COM OS PÉS PARA TRÁS COMO O
UM ARCO-ÍRIS COMO A COBRA-GRANDE.
• DAR UM GRITO ASSUSTADOR COMO O CAPELOBO.
• UIVAR PARA A LUA COMO O LOBISOMEM.
• TER GARRAS AFIADAS COMO O MAPINGUaRI.
• DANcAR COMO O BOTO.
• CANTAR COMO A IARA.
Como as crianças foram convidadas a brincar nas páginas anteriores, agora há algumas propostas rápidas de brincadeiras que destacam características de cada personagem do livro. As ilustrações trazem de modo lúdico a imitação de crianças brincando, mostrando que não há necessidade de qualquer adereço para cumprir os pequenos “desafios” propostos na página, mas que apenas com os seus próprios corpos elas poderão brincar e se divertir muito!
Sobre os monstros e as assombracões
, Os monstros e as assombrações deste livro fazem parte do folclore brasileiro. Conheça um pouco mais sobre cada um deles.
Curupira Na mata, quem corta uma árvore já sabe: o Curupira logo aparece e BUUU!, dá um susto na pessoa que foge correndo sem olhar para trás. Ele é o guardião das matas e das florestas do Brasil. Quem desrespeita a natureza, cuidado! Se tiver Curupira por perto, é melhor deixar as plantas em paz!
caipora Caçador não tem vez nas florestas brasileiras. Montado em um porco-do-mato e sempre com uma vara nas mãos, o Caipora persegue e afugenta quem entra na mata para caçar. Também, pudera, o Caipora é guardião dos animais. Como o Curupira, o Caipora também é protetor da natureza. mula sem cabeca Parece uma mula, mas é uma mulher. Nas noites de quinta-feira, a mulher se transforma: corpo de mula, cabeça de fogo. A Mula sem Cabeça galopa sem parar e corre atrás de quem cruza o seu caminho. Assim, cuidado! Nas noites de quinta-feira, nunca saia de casa desacompanhado.
saci-pererê Moleque levado, o Saci-Pererê se diverte assustando as pessoas. Queima a comida, acorda o bebê, irrita o cachorro, apaga o fogo, esconde as coisas da gente... Com seus poderes mágicos, aparece e desaparece dos lugares. Quem tenta agarrá-lo, logo desiste. O moleque é travesso e não para quieto.
Sobre
os monstros e as assombracões Os monstros e as assombrações deste livro fazem parte do folclore brasileiro. Conheça um pouco mais sobre cada um deles.
Nessas três páginas, há a reprodução visual de cada personagem que apareceu no livro, os seus nomes e uma breve explicação sobre seus habitats e lendas. Essas explicações são, na realidade, pequenos verbetes sobre cada um dos personagens, especialmente elaboradas para garantir o pleno entendimento sobre os seres fantásticos em uma primeira aproximação. O fato é que as lendas geralmente trazem narrativas complexas e intricadas, muitas delas despertando medo e preocupação nos leitores – algo que não necessariamente é adequado à criança dessa faixa etária. Cada verbete, assim, destaca uma importante qualidade do ser fantástico de forma positiva para que a criança comece a entendê-lo. O Caipora é um bom exemplo: para enganar os caçadores, anda com os pés para trás para despistá-los de suas presas. A Pisadeira é outro: costuma incomodar pisando forte na barriga daqueles que comem muito antes de dormir. Esse trecho poderá ser lido pelo adulto mediador para as crianças que, certamen-
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Boitatá Vive nos rios e nos lagos. Mas quando as pessoas resolvem tocar fogo na floresta, o Boitatá corre em defesa da natureza. As árvores e os animais agradecem: longe das queimadas, podem viver em paz. Curupira, Caipora e Boitatá são todos protetores da natureza. Pisadeira Quem come muito no jantar, precisa tomar cuidado na hora de dormir. É que a Pisadeira gosta de incomodar os gulosos: durante a noite, pisoteia com as pontas dos pés a barriga do dorminhoco que, incomodado, não dorme sossegado. Matinta perera Se você ouvir um assobio longo e estridente, não se preocupe, é a Matinta Perera que nas noites sem lua gosta de atazanar as pessoas. Para que ela vá embora, é fácil: pergunte o que ela quer e peça para que volte na noite seguinte para pegar. Mas, atenção: cumpra a sua promessa, senão... cobra-grande Moradora dos fundos dos rios, a Cobra-grande assusta pescadores e viajantes virando suas canoas e embarcações. Mas em dia de dilúvio, transforma-se em arco-íris, enfeitando o céu com suas sete cores maravilhosas. CUCA A menina não obedece? A Cuca logo aparece. O menino não quer dormir? Cuidado, a Cuca está por aí. Corpo de mulher e cara de jacaré, Cuca persegue as crianças choronas e mimadas, assustando-as com a sua gargalhada estridente. Lobisomem Durante o dia é gente, mas nas noites de lua cheia transforma-se em lobo. No campo, nas matas ou
CURUPIRA. • MONTAR UM PORCO-DO-MATO COMO O CAIPORA. • GALOPAR COMO A MULA SEM CABEcA. • PULAR EM UM PÉ SÓ COMO O SACI-PERERÊ. • GARGALHAR COMO A CUCA. • BRILHAR COMO O BOITATÁ. • PISAR COMO A PISADEIRA. • ASSOBIAR ALTO COMO A MATINTA PERERA. • FAZER
te, gostarão de aprender mais sobre o assunto. Em casa, junto aos familiares, este trecho da obra também despertará a curiosidade dos familiares, que se sentirão curiosos em descobrir sobre o folclore em um livro infantil.
Lô Carvalho
– divertido e bem-humorado... Um livro para ler e conversar, ler e olhar, ler e brincar, ler e reler. Um livro para imaginar e ir além. Sou mãe, pedagoga, professora, escritora, mas, principalmente, uma leitora... Conheça o meu trabalho no site www. bebeleitor.com.br.
Sobre a ILUSTRADORA SUsana Rodrigues
Desenhar, desenhar, desenhar. Desenho desde que me entendo por gente e já juntei pilhas de papéis de todo tipo com rabiscos e desenhos, alguns melhores, alguns nem tanto, mas treino é treino. Este é o primeiro livro infantil que eu ilustro. Espero que vocês gostem dele tanto quanto eu.
Nas páginas finais do livro, encontra-se um pequeno texto sobre a autora, Lô Carvalho, que comenta sobre a inspiração para escrever esse livro. Também há um comentário escrito pela ilustradora Susana Rodrigues, que fala sobre o seu gosto pelo desenho. Essas informações também podem ser transmitidas às crianças, se o(a) educador(a) julgar pertinente.
Aqui há informações interessantes e orientações para pais e educadores.
1. Leia para a criança todos os dias, de preferência em um mesmo momento da rotina. Assim, ela começa a perceber que o livro é um objeto importante no seu dia a dia.
2. Comente sobre a leitura, compartilhando suas impressões sobre o texto e as ilustrações. Assim, ela aprende que ler é construir significados próprios.
3. Comente sobre o conteúdo do livro em outros momentos do dia. Assim, ela começa a relacionar a leitura com suas próprias vivências.
4. Faça da leitura uma atividade comum a todos na família: ler uma receita para cozinhar, as regras de um jogo, a lista de compras, um folheto, uma revista um livro. Assim, ela se percebe em uma comunidade de leitores ativa e solidária!
No meio da mata, estão todos reunidos: Curupira, Caipora, Mula sem cabeca, Saci-pererê, Cuca, Boitatá, Pisadeira, Capelobo, Cobra-grande, Matinta perera, Lobisomem, Mapinguari, Boto e até a Iara.
O que eles estão fazendo? O que eles querem? O que será que vai acontecer?
Entre um personagem e outro do folclore brasileiro, as criancas vão se divertir com o final desta história escrita especialmente para tornar a leitura um grande prazer.
Lô CarvaLho
Curupira, brinca COmigo?
Ilustracões susana Rodrigues
Quando abrimos o livro e podemos visualizar a 1ª e 4ª capas juntas, surge a surpresa de enxergar a ilustração da capa de maneira completa. Para encerrar a exploração do livro, é interessante observar a ilustração de modo completo, que retrata o rosto do curupira de modo bem destacado e a criança ao seu lado, em uma imagem um pouco menor. O verde do fundo representa a natureza da mata que, agora, as crianças já sabem ser o espaço onde a história se passa. Novamente, é interessante comentar sobre cada elemento que aparece nas capas do livro: o título da obra, o nome da autora e da ilustradora, um pequeno elemento gráfico – o logo da editora, o código de barras do livro, além da sinopse do livro que fica na quarta capa e que apresenta brevemente o conteúdo do livro.
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Sobre a autora
O livro Curupira, brinca comigo? surgiu do desejo de valorizar a nossa cultura e fazer a criançada conhecer mais o Brasil. Também surgiu da vontade de encorajar a turminha que está se alfabetizando a gostar de ler e querer mais e mais livros para “devorar”. Nasceu também da intenção de fazer um livro para toda a família
DICAS PARA FORMAR UMA CRIANc A LEITORA
SUGESTÃO DE ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Apresentamos na sequência um conjunto de atividades que podem ser realizadas antes, durante ou após a leitura do livro, de forma pontual ou em contextos mais amplos, como projetos maiores que envolvam também os familiares. São atividades lúdicas, relacionadas aos campos de experiência da BNCC, e que visam potencializar as aprendizagens das crianças e seu desenvolvimento cognitivo, motor e emocional por meio da leitura do livro Curupira, brinca comigo?. Em todas elas as crianças são convidadas a produzir pequenos textos, a organizar as suas ideias para falar publicamente, a se expressar através da arte e do movimento. As famílias também podem ser envolvidas e, assim, perceber como a leitura de um livro infantil pode gerar conhecimentos e vivências ricas e plenas de significado para todos, adultos e crianças.
PERSONAGENS NA AMARELINHA
Há inúmeras brincadeiras representantes do folclore brasileiro e que foram passando de geração em geração. São brincadeiras simples e que requerem poucos recursos ou elementos, pois o foco é o movimento, a expressão corporal e o coletivo. Agora, a ideia é incrementar essas brincadeiras com as características dos personagens que as crianças viram no livro.
A amarelinha é uma das brincadeiras favoritas das crianças. Com as marcações no chão feitas (pode ser riscos com giz, linhas feitas com fita adesiva colo-
rida etc), convide as crianças a brincar. Entretanto, as crianças deverão explorar as características dos personagens do livro durante a brincadeira:
• Quem quer pular amarelinha cantando como a iara?
• O saci pula com um pé só, vamos pular todos os números em um só pé?
• Quem consegue pular dançando com o boto?
A atividade pode ter um nível maior de dificuldade se as crianças pularem cada número imitando uma característica de um personagem diferente. Exemplo:
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• Pulo com um grito do capelobo!
• Pulo com um assovio da matinta perera!
• Pulo com a risada da cuca! Com essa atividade, as crianças estimularão a expressão corporal, a memória, o equilíbrio e a concentração, tudo isso em uma atividade divertida e coletiva.
BRINCADEIRA DO CURUPIRA
Há uma brincadeira típica do Amazonas que possui o nome de uma figura folclórica muito querida e explorada aqui no livro: o curupira. A brincadeira curupira também é uma atividade coletiva, que explora a audição, a imaginação e também a atividade física:
• Uma criança será o curupira. Ela deverá ter os olhos vendados e deverá ficar no meio de uma roda formada pelas outras crianças.
• Começa a brincadeira. Cada criança da roda deverá perguntar: “curupira, o que você perdeu?” e então o curupira poderá responder qualquer objeto que lhe vier à mente.
• A mesma pergunta deverá ser feita por todas as crianças e cada vez o curupira responderá algo diferente, até que a última criança da roda deverá perguntar: “curupira, o que você quer comer?”. O curupira responderá algum alimento e então poderá tirar a venda. Ao ver que não há o alimento que pediu, o curupira deverá correr atrás dos participantes da brincadeira por não ter o seu pedido atendido. A primeira criança que for pega será o novo curupira.
Essa é uma excelente dica de brincadeira para ser feita ao ar livre, com bastante espaço para a corrida, mas também pode ser realizada dentro de uma sala, sendo também uma dica de diversão para os dias de chuva.
DANCA DO SACI
Um dos personagens mais famosos do folclore brasileiro é o saci. Nessa brincadeira, todas as crianças pularão como ele, em um pé só, em uma dança muito divertida!
• Coloque algumas cadeiras no centro da sala (o número de cadeiras será o número de crianças menos uma);
• Agora, é hora de colocar uma música bem animada, e então as crianças deverão dançar sempre em um pé só em volta das cadeiras;
• Na hora que a música parar, elas deverão correr e se sentar. A criança que ficar sem cadeira está fora da brincadeira;
• A brincadeira deverá ser repetida até que fique apenas uma criança consiga se sentar.
Essa atividade é muito conhecida e possui diferentes versões, mas ao brincar como o saci, as crianças estarão explorando mais a identidade do personagem folclórico e a cultura do país, além de trabalhar a musicalidade, a audição, a concentração, a expressão corporal e a competitividade de modo saudável.
CANTANDO E DANCANDO MÚSICAS FOLCLÓRICAS
Existem muitas cantigas de roda que são conhecidas pelas crianças e as famílias. Que tal convidar os familiares a entrarem na brincadeira e conversarem com as crianças sobre as músicas que mais gostavam quando eram crianças? Será uma conversa interessante, em que a criança saberá mais sobre a infância das pessoas que moram com ela e também poderá conhecer mais da cultura do seu país a partir das preferências da família.
A criança e os familiares poderão cantar e dançar juntos, ouvindo a música na internet ou apenas ensinando a criança a cantar como fazia quando era criança. Essa atividade poderá ser filmada, para que a criança tenha um registro desse momento de interação e brincadeira. No YouTube, também existem muitos canais que exploram as músicas e cantigas de roda que fazem parte do folclore brasileiro. O canal da Turma do Folclore possui músicas animadas e vídeos coloridos que contam as histórias dos grandes personagens folclóricos brasileiros, que poderão interessar as crianças a conhecerem mais sobre as lendas, dessa vez, musicadas. Uma coletânea de vídeos está nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=x__ DLXgqm90 (acesso em 10/05/2021).
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O MEU LIVRO DE FOLCLORE
Depois de ler o livro e explorar brincadeiras coletivas que exigem movimentos físicos, é hora de colocar a criatividade artística-visual e literária em ação! Agora que as crianças já conhecem os principais representantes do folclore brasileiro, será que elas já têm o seu favorito? Essa produção será um projeto no qual a leitura, a escrita, as artes e a expressão oral estarão envolvidos. Se possível, peça para as crianças desenharem o personagem que mais lhes chamou a atenção. Depois que elas terminarem o desenho, convide-as para registrar o nome dele e até mesmo uma de suas características. Não deixe de estimulá-las a comentar sobre o seu registro gráfico. Estimule-as a falar sobre eles, com perguntas como:
• Quem é esse personagem que você desenhou?
• Por que você gostou dele?
• Onde ele está agora?
• O que você sabe sobre ele?
• Você consegue imitá-lo?
As produções de texto e desenho poderão ser reunidas em um livro coletivo que poderá ser compartilhado com as famílias das crianças, uma por vez e, no final do ano, ser doado à biblioteca da escola. Nessa produção, caberá aos educadores a decisão se o texto contemplará apenas o registro escrito espontâneo da criança ou se serão produzidos textos coletivamente, com o professor sendo aquele que escreve enquanto as crianças lhe ditam o texto. Com essas questões, a criança será incentivada a argumentar sobre as suas escolhas e refletir sobre as histórias que aprendeu a partir da leitura, explorando a sua criatividade artística. Ler para escrever e participar da produção coletiva de um livro favorece o desenvolvimento não apenas de conhecimentos sobre o funcionamento da escrita como também ajuda a desenvolver o sentimento de confiança e de reconhecimento. O lançamento do livro poderá envolver toda a família a na ocasião as crianças poderão fazer pequenas apresentações orais sobre os personagens ou ainda dramatizando a história.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O Curupira, brinca comigo? é um livro que estimula a leitura, a descoberta de si e do outro, o aprendizado do folclore brasileiro e, principalmente, a brincadeira. Para abordar todas essas questões, a seguir serão apresentadas algumas referências e sugestões de leituras para os educadores e também para os mediadores de leitura.
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Alfabetização. Conta PraMim: Guia de Literacia Familiar. Brasília:
MEC, SEALF, 2019. Um guia sobre a importância da leitura em família com sugestões práticas para que os educadores possam apresentar roteiros e sugestões de atividades a serem realizadas em casa, no âmbito familiar. A valorização de livros infantis que estimulem a construção de uma comunidade leitora na família, baseada em momentos de convívio, diálogo e interações através de situações simples como conversar, passear, cozinhar, desenhar ou, simplesmente, ler. Disponível em: http://alfabetizacao.mec.gov. br/images/pdf/conta-pra-mim-literacia.pdf (acesso em 14/02/2021).
Brasil. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Brasília, 2018.
A BNCC foi amplamente utilizada para a construção desse manual e é
um rico material de consulta para os educadores. Para a organização do planejamento das atividades de leitura, é interessante consultar a BNCC para identificação de conteúdos e objetivos de aprendizagem. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ abase/#infantil (acesso 14/04/2021).
BAJOUR, C.Ouvir nas entrelinhas: o valor da escuta nas práticas de leitura. 1ª edição. São Paulo: Pulo do Gato, 2013.
Os quatro textos que compõem a obra discorrem sobre a importância da “escuta”, da “conversação literária” e do “registro” para o êxito no trabalho com a leitura literária. Chamam a atenção para a importância da formação do mediador, responsável, em grande parte, pelo sucesso ou pelo fracasso das ações promotoras da formação do leitor nas instituições escolares.
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BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S. “Organização do espaço e do tempo na escola infantil”. In: CRAIDY, C.; KAERCHER, G. E. (Orgs.). Educação Infantil: pra que te quero?. Porto Alegre: ArtMed, 2001. p. 67-79. O dia a dia das escolas e pré-escolas é repleto de atividades organizadas por educadores que, de uma maneira ou de outra, lidam com o espaço e o tempo a todo o momento. Como organizar tempos de brincar, de tomar banho, de se alimentar, de repousar de crianças de diferentes idades nos espaços das salas de atividades, do parque, do refeitório, do banheiro, do pátio? É tarefa dos educadores organizar o espaço e o tempo das escolas infantis, sempre levando em conta o objetivo de proporcionar o desenvolvimento das crianças.
BRANDÃO, C.R. O que é folclore?. 1ª edição. São Paulo: Brasiliense, 2003. O que estuda e a que se liga o folclore? Maneiras curiosas e pitorescas de o povo ser, criar, cantar e dançar? Ou o próprio significado da cultura, através do trabalho criativo dos muitos tipos de povos de cada era da história, de cada sociedade? Quais as diferenças entre o folclórico e o popular? O que uma cultura diz através do folclore? A função do pesquisador do fato folclórico é justamente buscar compreender o próprio sentido dos significados da cultura. Do homem e seu mundo, portanto.
BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. 2ª edição. São Paulo: Editora 34, 2009. Estes ensaios apresentam a suma do pensamento de Benjamin sobre a educação. O autor discorre sobre aspectos da vida universitária, o aprendizado da leitura, a prática do teatro, brinquedos, jogos, livros infantis e, ainda, os contrastes entre a educação burguesa e os desafios de uma pedagogia revolucionária. Um livro clássico sobre a infância, que nos ajuda a compreender melhor as crianças e a sociedade.
DEBUS, E. Festaria de brincança: a leitura literária na educação infantil.
1ª edição. São Paulo: Paulus, 2006. Obra interessante para educadores da Educação Infantil, pois fala da leitura literária para crianças pequenas. O livro explana sobre o contato das crianças pequenas com vários tipos de livros (livros tradicionais, livros-brinquedo etc) e trata da importância da leitura no ambiente escolar.
JUNQUEIRA, R (org). Ler e Ensinar: gestos de leitura na educação infantil.
1ª edição. Presidente Prudente: Educação Literária, 2019.
Nesse pequeno livro é ampliada a discussão e a teorização sobre literatura, mediação de leitura e livros para bebês e crianças pequenas. Ficamos no desejo de que o livro atraia a todos os leitores,
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como o tema tem seduzido centenas de professores e pais por muitos anos. Também, esperamos que filhos, netos e alunos tenham oportunidade de desenvolver esses gestos embrionários de leitura, que os colocarão frente ao ato de ser leitor.
JUNQUEIRA, R (org). Literatura e Educação Infantil: Livros, imagens e práticas deleitura (1). 1ª edição. Campinas: Mercado de Letras, 2016. Devemos aproximar livros infantis de crianças bem pequenininhas? Podemos provocar ações de leitura nos bebês? Sim, sim se entendermos os espaços da educação infantil como um ambiente que pode e deve impulsionar a humanização através da educação literária. Assim, nessa obra o leitor conhecerá um pouco mais sobre livros infantis, imagens e práticas de leitura para a primeiríssima e a primeira infância.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2002. Nessa obra, Marisa Lajolo trata sobre a leitura dentro do ambiente escolar, a sua importância e consequência. Um livro interessante para educadores da educação infantil e também para o Ensino Fundamental, pois traz, de maneira acessível, a discussão acerca do contato com os livros e como a leitura influencia diretamente o aprendizado dos alunos.
MCGUINNESS, Diane. Cultivando um leitor desde o berço. Editora Record, 2006.
Repleto de comentários fascinantes a respeito do comportamento infantil, este livro não apenas torna mais simples a compreensão sobre os estágios de aquisição da linguagem como também orienta sobre como aumentar a interação de pais e filhos. A autora apresenta seu programa inovador que facilita o domínio da leitura e revela o quanto bebês e crianças que ainda estão aprendendo a andar e aquelas em fase pré-escolar sabem e podem expressar desde os primeiros meses de vida.
NINFAS, P. Do ventre ao colo do som a literatura – livros para bebês e crianças. 1ª edição. Rio de Janeiro: RHJ Livros, 2012. Qual a diferença entre livros e literatura para as crianças pequenas? Essas e outras questões são discutidas nessa obra, com exemplos comentados de livros destinados às crianças. Obra recomendada aos pais, educadores, professores, pedagogos, psicopedagogos, psicólogos e psicanalistas e aos cuidadores das crianças.
REYES, Y. Ler e brincar, tecer e cantar: literatura, escrita e educação. 1ª edição. São Paulo: Pulo do Gato, 2012. O título já anuncia como a autora está comprometida com a linguagem, a
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educação, a formação de leitores e a literatura, que “embora não transforme o mundo, pode fazê-lo ao menos mais habitável, pois o fato de nos vermos em perspectiva e de olharmos para dentro contribui para que se abram novas portas para a sensibilidade e para o entendimento de nós mesmos e dos outros”. Uma obra de referência para educadores.
REYES, Y. A casa imaginária. 1ª edição. São Paulo: Global, 2010. Resultado de 15 anos de pesquisa da autora, este livro reúne as mais recentes descobertas das ciências que valorizam as etapas iniciais do desenvolvimento infantil. Sua missão é convencer o público tanto sobre a necessidade de se começar já a tarefa de formar leitores quanto do imenso prazer de ler com as crianças pequenas.
WAJSKOP, Gisela. Brincar na Pré-Escola. 1ª edição. São Paulo: Cortez, 1995.
O texto apresenta uma abordagem sócio-histórica sobre o brincar e faz um panorama sobre a evolução nas teorias e práticas pedagógicas na educação infantil ocidental. Como o livro Curupira, brinca comigo? também propõe a brincadeira e a imaginação a partir do livro, a obra torna-se uma boa sugestão de leitura para os educadores.
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LER É IMAGINAR!
LIVROS QUE CRESCEM COM NOSSOS LEITORES!