Depois da meia-noite
Aurélio Simões
Depois da meia-noite
São Paulo 2012
Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Marina Avila Diagramação Thaís Santos Revisão Bianca Briones
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ----------------------------------------------------------------------------------------S612d Simões, Aurélio Depois da meia-noite/ Aurélio Simões. - São Paulo: Baraúna, 2012. ISBN 978-85-7923-634-1 1. Romance brasileiro. I. Título. 12-8289.
CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3
12.11.12 21.11.12 040693 O-----------------------------------------------------------------------------------------
Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Glória, 246 — 3º andar CEP 01510-000 Liberdade — São Paulo — SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br
Este livro é dedicado à minha família e a todos os leitores do blog Depois da Meia-Noite que foram de suma importância para a realização do projeto.
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Prólogo
sala era sombria. O silêncio era quebrado apenas pelo som dos passos apavorados do jornalista Cláudio Matos. Suas mãos trêmulas procuravam tateando qualquer objeto que se parecesse com um livro. Encontrar tal objeto seria o maior furo de reportagem de toda a sua carreira. No entanto, sabia que estava arriscando a vida. A dificuldade era extrema. Além de possuir pouco tempo para encontrar o que almejava, tinha que em completa escuridão, ter todo o cuidado para não deixar nenhum vestígio de que estivera ali. Contudo, a sorte não estava a seu favor. Esbarrou em um objeto que, pelo tamanho, imaginou ser uma taça que se despedaçou em diversos cacos de vidro no chão. O som fino tinha ecoado não só pela sala, mas também pelas redondezas do lugar. Apesar de o mais sensato naquele momento fosse sair o mais rápido possível dali, Cláudio não moveu um só passo à saída. Suas mãos gananciosas continuaram a procurar o que desejavam quando enfim tocaram algo que se parecia com um livro. Agora, restava apenas saber se era o que ambicionava. Enfiou a mão no bolso e retirou um isqueiro. Acendeu-o por alguns segundos. Seu coração disparou. Na capa do livro, viu a sigla SD Depois da meia-noite
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escrita em vermelho. Deu o primeiro passo em direção à saída quando ouviu algo que fez com que seu corpo estremecesse de pavor. Eram passos. Esses estavam próximos. Cláudio só teve tempo de encostar-se à parede, atrás do que achava ser uma estante, quando a porta se abriu. O local iluminara-se parcialmente. Um homem alto usando uma roupa preta e uma máscara branca entrou segurando uma espada. Este deu alguns passos parando próximo a Cláudio. Permaneceu por alguns segundos parado tentando ouvir qualquer ruído ou som do intruso. Não ouviu. Fez um movimento brusco com a espada e Cláudio ao se assustar, deixou o livro cair no chão. Foi o suficiente para a espada atravessar o corpo do jornalista.
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revista Conta Mais era mais uma das inúmeras revistas pelo Brasil, destinada a cobrir o mundo de famosos e celebridades. Não era uma das mais vendidas, mas aos poucos, se consolidava no mercado. Seu foco principal era publicar fotos de flagras. Em função disso, o quadro de funcionários da revista, em sua maioria, era de paparazzi. Naquele dia, havia uma atividade intensa na agência. Todas as fotos, informações e notícias acerca da recente polêmica entre o ator Gabriel Lins e Eduardo Mendes, o prefeito do Rio de Janeiro, eram de suma importância para garantir um crescimento considerável nas vendas. A polêmica se iniciou quando Gabriel Lins começou a ser visto em diversas ocasiões ao lado do prefeito. Afinal, o que havia entre o respeitado político e um desconhecido ator? Era o que todos se perguntavam. Entretanto, de nada adiantava perguntar a eles. Ambos nada declaravam sobre o assunto, o que suscitava ainda mais a curiosidade. Desvendar o que havia por detrás dessa ligação não era a intenção de todos os funcionários da revista Conta Mais. Natasha era uma paparazza que não estava nem um pouco interessada pelo assunto. Ela estava ao compuDepois da meia-noite
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tador trabalhando nas fotos que conseguira tirar de um flagra extraconjugal de um deputado, quando uma funcionária se aproximou de sua mesa e disse: — Papai quer falar com você. Natasha olhou para a funcionária e respondeu: — Ah, obrigada. Já vou. Natasha chegou à sala do chefe e presenciou uma imagem nojenta. Ronaldo, que era um gordo careca e horrendo, estava comendo um hambúrguer como se fosse um porco. Ela se sentou em frente à mesa dele. Ele após comer, rapidamente limpou a boca toda suja e indagou: — O que está acontecendo, Natasha? Por que não está trabalhando na matéria do ator? — Porque já tem muita gente trabalhando nessa história e eu resolvi apostar na do deputado e... — Pois esqueça o que está fazendo! — disse o chefe interrompendo-a em um tom ríspido. — Eu quero todos os meus funcionários focados no mesmo assunto. E eu acho que eu não preciso dizer qual é. Fui claro? Natasha não respondeu controlando uma resposta malcriada e Ronaldo continuou: — Sabe, Natasha. Ultimamente não estou muito satisfeito com seu trabalho. Semana passada você esqueceu de entregar as fotos do artigo da funkeira... Assim não dá. Tem que melhorar, senão... Natasha recebeu aquela chamada do chefe com ira, mas se conteve em respondê-lo com cordialidade, embora a resposta soasse um pouco agressiva. — Desculpe. Eu vou fazer o que pediu. Mais alguma coisa? — perguntou já não demonstrando muita paciência.
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— Por enquanto é só — respondeu Ronaldo ignorando-a olhando para a tela do computador. Natasha se levantou, saiu da sala e se dirigiu novamente a sua mesa. Não é à toa o que dizem. Chefe bom é chefe morto. Nunca está satisfeito com nada — pensou Natasha a voltar a realizar a atividade no computador. O celular de Natasha tocou, ela olhou no identificador de chamadas e atendeu: — Oi, amor — disse em tom de desabafo. — Só você pra melhorar meu dia. — O que houve? — perguntou André. — A peste do meu chefe, como sempre. — Percebo que você está precisando dar uma relaxada. Que tal a gente jantar fora hoje? — Hoje não vai dar, amor. Tenho que cobrir uma matéria urgente, e se eu não conseguir nada, meu chefe vai infernizar minha vida. — Tudo bem. Então a gente marca pra outro dia. Só liguei mesmo para dar um alô. Vou deixar você trabalhar. Tchau, amor. — Tchau. Natasha mal conseguiu se concentrar no trabalho novamente. André era um homem que conseguia mexer com ela. Não por ser um belo moreno de corpo sarado, mas por saber realizar as suas fantasias. Quando a paparazza enfim conseguiu se concentrar no afazer que o chefe pedira, começou a pesquisar sobre o paradeiro do prefeito e do ator. Como o acesso ao político era muito mais restrito, resolveu se focar no Depois da meia-noite
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ator. Descobriu que ele, iria naquela noite, em um baile de carnaval. O que não sabia era que sua investida seria a primeira e última oportunidade em encontrá-lo. Ele, aproveitando que era carnaval, estava decidido a fugir do Brasil. Não por um motivo banal. Mas pelo medo. Gabriel Lins era mais um daqueles atores sem talento que conseguia fama e sucesso devido ao contato com alguém famoso, no caso dele, o prefeito do Rio de Janeiro. A consequência dessa união proporcionou uma ascensão admirável em sua carreira. Contudo, por trás de todo o sucesso alcançado, havia um preço que poderia custar-lhe a vida. Quando percebeu que estava correndo risco, decidiu fugir e tentar uma vida nova. Já era depois da meia-noite quando Natasha chegou ao baile usando uma máscara e fantasia de coelhinha. Os homens não deixaram de admirar a estonteante beleza daquela jovem morena, de olhos verdes, abençoada com um corpo fenomenal. Apesar de perceber que estava chamando atenção, Natasha era uma mulher que sabia contornar o momento e não deixar que o fato pudesse atrapalhar seu objetivo. Gabriel Lins dirigiu até chegar ao baile acompanhado de alguns amigos. Eles desceram do carro e entraram todos vestindo roupas comuns. Logo atrás, entrou Natasha. Gabriel disfarçou que estava se divertindo com os amigos por algum tempo, quando decidiu executar seu plano de fuga. Dirigiu-se ao banheiro. Entrou e percebeu que havia cinco homens urinando no mictório. Foi até o reservado e fechou a porta. Esperou alguns minutos e olhou pela fresta da porta. Os homens foram embora.
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Era hora de agir. Por debaixo do blusão e a calça que usava, escondia-se uma fantasia e uma máscara de palhaço. Rapidamente tirou o blusão e a calça e ficou pensando por alguns segundos onde pô-los. Decidiu jogá-los na cesta do lixo tomando o cuidado de pôr várias folhas de papel higiênico por cima. Após, vestiu a fantasia. Deu uma segunda olhada na fresta da porta e, não vendo ninguém, rapidamente saiu. Chegou à pista de dança e seus amigos que estavam próximos, nada desconfiaram. A imprensa que estava na espreita do ator, também não. Natasha foi a única que percebeu que o palhaço, que saíra do banheiro, estava usando o sapato de Gabriel. Era hora de fugir. Gabriel começou a se dirigir à saída. Natasha fez o mesmo. Lá fora, a imprensa, que entrevistava vários famosos e celebridades, também não o notaram. Ao chegar do outro lado da rua, o ator não seria tolo de fugir no seu carro. Seu plano era partir de táxi. Ficou esperando até que um passasse no local. Natasha ao perceber isso, foi correndo em direção ao estacionamento pegar o carro. Após alguns longos minutos de espera, Gabriel avistou um táxi se aproximar e fez sinal. O veículo parou, ele entrou e o motorista deu a partida. Natasha começou a segui-los por uma hora até que o ator desceu em frente a uma casa na qual havia um carro parado à frente. Natasha parou próximo e avistou Gabriel entrando na casa e, após algum tempo, saindo com uma mala de viagem. Ele se aproximou do veículo parado e entrou. Natasha Depois da meia-noite
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ia ligar o carro para voltar a segui-lo quando ouviu um som de um veículo em alta velocidade se aproximar. Era uma van que fechou o carro em que Gabriel estava. O sangue de Natasha quase congelou quando avistou dois homens saindo da van, armados. Rapidamente ela se agachou, próximo aos pedais do carro, e logo após começou a ouvir os disparos. Os homens não satisfeitos de terem assassinado Gabriel, ainda atearam fogo no veículo dele antes de irem embora. O corpo de Natasha estava trêmulo não só por ser testemunha de um assassinato violento, mas por achar que agora poderia ser a próxima vítima.
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ndré despertou com o som da campainha de seu apartamento tocar. Ele olhou para o relógio digital que ficava ao lado da cama, e se informou que eram quatro horas da madrugada. Levantou-se e caminhou até a entrada quando ouviu novamente o toque da campainha. Meu Deus, tudo me diz que é a Natasha. O que terá acontecido?— pensou preocupado. André abriu a porta e Natasha, em prantos, jogou-se nos braços dele. — O que foi, Natasha? O que foi? — Acon... Aconteceu uma coisa horrível. Natasha se afastou de André e continuou: — Eles o mataram, André. Eles o mataram. André percebendo que a namorada estava muito perturbada, pegou na mão dela e a dirigiu até a sala acomodando-a no sofá. Após, disse: — Tente se acalmar, Natasha. Eu vou preparar uma água com açúcar para você. Depois de André preparar o que havia prometido, entregou o copo à namorada que bebeu o conteúdo rapidamente. Ele se sentou ao lado dela no sofá e disse: — Calma. Primeiro se acalme e depois conte o que aconteceu. Depois da meia-noite
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