“Eu li e ouvi toneladas de pregações sobre a realidade de que ‘a vida como um todo é adoração’. Ela é, e eu não quero discutir esse ponto. Mas e quando o povo da aliança se reúne? Não há alguns modos como Deus deseja que adoremos congregacionalmente que diferem de como nós adoramos na ‘vida como um todo’? Mike Cosper fez um bom serviço à igreja em Ritmos da Graça. Eu fui convencido e constrangido ao lê-lo.” Matt Chandler, Pastor titular, The Village Church; Presidente, Acts 29 Church Planting Network “Mike Cosper é singularmente dotado tanto como músico quanto como pastor para falar a uma cultura em que arte e igreja se encontram e se misturam. Este é um livro importante para quem está pensando sobre o que é ser um músico, um líder de adoração, e tudo mais relacionado a isso. É importante que continuemos levantando a questão histórica de como nós adoramos no domingo e com as nossas vidas, porque os cânticos que cantamos têm o poder de moldar quem nós somos e quem nos tornaremos como indivíduos e como comunidade.” Sandra McCracken, cantora e compositora “Anos atrás, A. W. Tozer observou que a adoração era a joia perdida da igreja evangélica. Desde então, evangélicos têm se engajado em uma luta urgente e às vezes frenética para determinar a natureza da verdadeira adoração bíblica. Em Ritmos da Graça, Mike Cosper nos leva de volta aos primeiros princípios e enraíza profundamente sua compreensão da adoração dentro do contexto do evangelho cristão. Este é um livro que oferecerá muito aos cristãos e líderes de igreja que estão buscando compreender a adoração. Ele é tanto bíblico como profundamente prático e foi escrito por um autor que tem uma experiência profunda na vida de adoração de uma congregação vibrante e fiel.” R. Albert Mohler Jr., Presidente, The Southern Baptist Theological Seminary “Ler Ritmos da Graça foi como sentar do outro lado da mesa de alguém que você precisa ouvir. Neste período da igreja há uma certa confusão a respeito do que um líder de adoração é e faz, e o porquê disso. Este livro traz grande clareza a essas questões. Como alguém que almeja ver líderes de música se tornarem líderes de adoração e líderes de adoração se tornarem pastores de adoração, eu creio que este seja um recurso-chave. Este será um texto importante no treinamento de novos líderes e um grande lembrete aos líderes mais experientes para cantar o evangelho e, acima de tudo, enfatizar Jesus.” Charlie Hall, Diretor de Adoração e Artes, Frontline Church, Oklahoma City
“Eu não sei de ninguém mais entendido de questões de adoração do que Mike Cosper, e não sei de ninguém mais apto para articular um senso focado em Cristo, centrado no reino e guiado pelo Espírito, em relação ao que significa adorar na presença do Deus trino. Leia este livro e veja se ele não o leva a criar novos padrões em sua adoração, nos quais se encaixe toda a alegre, triste e intensa força da adoração bíblica a Deus. Russell D. Moore, Deão, The Southern Baptist Theological Seminary “Quando Mike Cosper escreve, eu leio. E mesmo eu não sendo pastor e nem tocando violão, eu aprendi muito com ele sobre como o evangelho da graça molda nossos ritmos da adoração congregacional. Pegue este livro e beneficie-se de sua sabedoria bíblica e experiência pastoral.” Collin Hansen, Diretor Editorial, The Gospel Coalition; coautor, A God-Sized Vision: Revival Stories That Stretch and Stir “Este livro desafia os líderes de adoração a não meramente anunciar o evangelho da graça em Jesus Cristo, mas também a começar a descobrir como esse evangelho molda cada dimensão e elemento da adoração. Ele convida os leitores a um mundo onde teologia e prática, crença e ação, estão intimamente interconectadas – onde cada prática reflete e então reforça uma visão teológica, e cada doutrina tanto baseia quanto afia as práticas. Quem seria melhor para oferecer este desafio e convite do que um praticante consciente que considera uma alegria discernir as implicações desse evangelho da graça para um monte de preocupações práticas, semana após semana, ano após ano?” John D. Witvliet, Diretor, Calvin Institute of Christian Worship; Professor de Adoração, Teologia e Estudos Congregacionais e Ministeriais, Calvin College e Calvin Theological Seminary “Nós não precisamos de outro livro dizendo como fazer a adoração para nossa igreja crescer ou para nos conectarmos com a cultura. Nós precisamos de raízes históricas, não de tendências contemporâneas. Nós precisamos ser ensinados para que possamos ensinar a igreja a adorar junto com a história do evangelho.” Darrin Patrick, Pastor titular, The Journey, St. Louis; autor, For the City e Church Planter: The Man, The Message, The Mission
“Não dá para expor exageradamente meu entusiasmo sobre o novo livro de Mike Cosper, Ritmos da Graça. Este volume prático representa os muitos anos que meu bom amigo passou em séria reflexão teológica, engajamento doxológico e serviço fiel ao corpo de Cristo – na Sojourn Church e muito além dela. A paixão de Mike pela glória de Deus e pela sua adoração estão evidentes em cada página. Em particular, eu sou grato por como Mike nos ajuda a planejar nossos cultos de adoração à luz da história da redenção e das riquezas da graça de Deus. Liturgia não é um palavrão; é o roteiro que nos ajuda a nos conectarmos com o compromisso de Deus de salvar pessoas, lugares e coisas através da pessoa e da obra de Jesus. Eu vou usar este extraordinário livro do Mike nas aulas que dou no seminário sobre adoração; mas também vou colocá-lo nas mãos de líderes de adoração experientes e de jovens membros. Obrigado, querido irmão, pelo seu coração e arte!” Scotty Smith, Pastor fundador, Christ Community Church, Franklin, Tennessee “Os maiores compositores são sintetizadores talentosos. Eles têm a habilidade de tecer o que ouviram, aprenderam e experienciaram no passado em suas próprias histórias musicais. Se Ritmos da Graça fosse uma sinfonia, os críticos iriam aclamá-lo como uma obra de síntese magistral – uma fusão de elementos bíblicos, históricos, culturais e filosóficos em um tratamento engajado, desafiador e refletido da adoração. Ao final desta obra, você também será capaz de cantar o tema principal: o evangelho de Jesus Cristo.” Joseph Crider, Deão Sênior Associado, School of Church Ministries, The Southern Baptist Theological Seminary “Pela glória e o gozo de Deus, pela saúde da igreja, e pela propagação do evangelho – estas são as razões pelas quais você deveria ler Ritmos da Graça de Mike Cosper. Neste livro Mike prova ser um bom pastor dando-nos uma prática teologia da adoração que nos acautela contra o erro e o corrige, ao mesmo tempo em que nos pastoreia em direção a um entendimento e uma experiência de adoração mais fiéis à Bíblia, seja na igreja reunida ou espalhada pelo mundo.” Joe Thorn, autor, Note to Self: The Discipline of Preaching to Yourself; Pastor titular, Redeemer Fellowship, St. Charles, Illinois
“Uma importante contribuição para a discussão sobre adoração e liturgia entre muitos evangélicos mais novos. Mike escreve com graça e com sabedoria além de sua idade. Francamente, eu estou admirado pela quantidade de conteúdo que ele consegue cobrir! Mike nos introduz a ideias e pensadores que todos nós no mundo evangélico deveríamos conhecer. Ele estabeleceu um objetivo elevado, pintando um quadro da liturgia como um caminho belo, e eu creio que ele teve sucesso. Para qualquer um que esteja nervoso ao explorar o mundo da liturgia, Mike é um companheiro gentil e sábio.” Kevin Twit, Ministro de Campus, RUF; Fundador, Indelible Grace Music “Mike Cosper escreveu um livro que é tanto facilmente acessível quanto profundamente desafiador para todos que queiram ver a adoração florescer em suas congregações. Ritmos da Graça precisa ser lido – especialmente por músicos de igreja e pastores que desejam aprofundar seu entendimento de como a adoração molda e forma indivíduos e comunidades.” Isaac Wardell, Fundador, Bifrost Arts “Para muitas igrejas, uma abordagem bem pensada de como liderar a música está lamentavelmente faltando. Isso precisa mudar, e este livro certamente ajudará. Ritmos da Graça é um livro com o qual vou contar no futuro para desenvolver líderes de música para nossa igreja e para as igrejas que plantamos. Claro, belamente escrito, teologicamente embasado, e ainda muito útil na prática e completamente centrado no evangelho – este é um livro tanto para pastores quanto para líderes de música. Na verdade, eu arrumaria duas cópias para que os pastores e músicos possam lê-lo juntos!” Zach Nielson, Pastor, The Vine Church, Madison, Wisconsin
FOLHA DE ROSTO
Copyright © 2013 por Mike Cosper Traduzido do original em inglês: Rhythms of Grace Publicado por Crossway a publishing ministry of Good News Publishers Wheaton, Illinois 60187, U.S.A. As citações bíblicas foram retiradas da Almeida Revista e Atualizada (ARA), da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação contrária. É proibida a reprodução deste livro sem prévia autorização da editora, salvo em breve citação. 1a edição: novembro de 2019 Edição Yuri Freire Tradução Jemima Schützer Lasso Santos Revisão Daniel Vieira Capa, projeto gráfico e diagramação Argemiro Neto
Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477 C835r
Cosper, Mike, 1980Ritmos da graça : como a adoração da igreja conta a história do evangelho / Mike Cosper ; prefácio por Bob Kauflin ; [tradução: Jemima Schützer Lasso Santos]. – Niterói, RJ: Concílio, 2019. 213 p. Tradução de: Rhythms of grace : how the church’s worship tells the story of the Gospel. Inclui bibliografia: p. 209-213 e referências bibliográficas. ISBN 9788593125140 1. Adoração (Religião). 2. Culto público. 3. Liturgia. I. Título. CDD: 264
Publicado no Brasil por Editora Concílio Copyright © 2019 Editora Concílio www.editoraconcilio.com.br contato@editoraconcilio.com.br
ร memรณria de Chip Stam, que tanto na vida quanto na morte mostrou as glรณrias de Jesus, e quem me ensinou quase tudo o que eu sei que vale a pena ser dito.
SUMÁRIO Prefácio ................................................................................................................ 11 Introdução ......................................................................................................... 15 1. A canção do Éden .............................................................................. 25 2. A adoração no ermo .......................................................................... 35 3. A canção de Israel ............................................................................. 43 4. A canção de Jesus .............................................................................. 59 5. Culto um, dois, três ........................................................................... 71 6. A adoração como formação espiritual ......................................... 89 7. A adoração e a história da igreja ................................................. 103 8. A liturgia e os ritmos da graça ..................................................... 115 9. Cantem, cantem, cantem .............................................................. 149 10. O líder pastoral de adoração ......................................................... 167 Apêndice A: Amostras de ordens de culto .............................................. 187 Apêndice B: Recursos recomendados ....................................................... 199 Apêndice C: O som da música (moderna) .............................................. 203 Referências bibliográficas .......................................................................... 209
PREFÁCIO Neu fiquei imaginando se ele não poderia ter inventado alguma a primeira vez em que eu ouvi o título do livro de Mike Cosper,
coisa melhor. Ritmos da Graça. Mas o que é que quer dizer isso? Um manual sobre como usar percussão para a glória de Deus? Talvez uma versão cristã de Dança dos famosos? Na verdade, eu iria gostar de ler os pensamentos de Mike sobre qualquer um desses assuntos, porque ele é um magnífico escritor. Mas o subtítulo esclarece qualquer confusão. Como a Adoração da Igreja Conta a História do Evangelho. Eu conheço Mike Cosper há mais ou menos dez anos, e de todas as coisas que aprecio nele e no seu trabalho com a música na Sojourn esta aqui está no topo da lista: Mike Cosper é um homem saturado do evangelho. Esse é o motivo porque mesmo tendo histórias e experiências muito diferentes e eu sendo velho o suficiente para ser pai dele, comecei a contá-lo como um querido amigo. Mike não usa a palavra evangelho meramente como um adjetivo adicional para impressionar as pessoas. Ele o expõe, explica, ensaia, celebra. Ele aborda sua vida, seu casamento, sua família, sua igreja e seu mundo com uma visão do evangelho: a vida perfeita de Jesus, sua morte expiatória e sua ressurreição vitoriosa. E ele carrega um profundo e incansável desejo de que outros façam o mesmo. E esse é o porquê de ele ter escrito Ritmos da Graça. Ele explica desta maneira: A adoração [congregacional] é um convite para entrarmos nos ritmos da graça. Nós lembramos nossa identidade como pessoas formadas pelo evangelho caminhando juntos através da história que nos deu nossa identidade e estando dispostos a viver vidas moldadas pelo evangelho. Tendo prática nesses ritmos, nós aprendemos a pensar através deles, da mesma forma que aprendemos a improvisar com um instrumento. 11
RITMOS DA GRAÇA
Se você é um músico como eu, você tem a necessidade de repetição. Eu passei quatro anos buscando um diploma de piano, praticando às vezes até dez horas por dia. Meu objetivo era saber o bastante ao final da faculdade para tocar qualquer coisa que eu quisesse. Não era exatamente um objetivo que glorificava a Deus, mas era claro e simples. Eu mergulhava todos os dias nas mecânicas de técnica, escalas, arpejos. Obstinadamente dei atenção aos detalhes de dinâmica, velocidade, uso dos pedais e estilo. No final, isso me deu liberdade para efetivamente fazer música. E não era sempre a simples reprodução de notas numa página. Minha prática me ajudou a ir além da música impressa para criar por mim mesmo melodias, harmonias e ritmos, e eles estavam todos enraizados no conhecimento musical que eu adquiri na sala de ensaio. Ritmos da Graça é em grande parte uma apologética da repetição, mas seus efeitos e fins são muito mais transcendentes do que aprender a improvisar no piano. O livro nos ensina como viver diante de um Deus santo e gracioso à luz do evangelho e como nossas reuniões podem servir para esse fim. De um jeito engajado, atraente e criativo, Mike traça a história da graça que Deus vem tecendo desde antes da aurora do tempo. Essa é uma história recheada de esperança, tragédia, vitória, derrota, desespero, beleza, dor e glória inexprimível. É a história mais importante que já foi e será contada, e é uma história que nós estamos propensos a esquecer fácil e rapidamente. Mike nos pega pela mão e de modo habilidoso nos guia através da história, começando no jardim do Éden, atravessando o ermo1, passando pela história de Israel, cheia de altos e baixos, até que finalmente chegamos ao clímax da história, Jesus. Inúmeras vezes eu fui pego envolvido no absoluto brilho e na pura beleza do soberano plano de redenção de Deus.
1. Em inglês, wilderness, é geralmente usado para se referir ao lugar onde o povo de Israel passou os 40 anos até chegar à terra prometida e também ao lugar onde Jesus foi tentado, que no português geralmente é chamado deserto. Porém, aqui o autor usa wilderness para falar do lugar para onde Adão e Eva vão quando saem do Éden, e usa desert para o lugar da peregrinação do povo. Assim, usaremos desert como “deserto” e wilderness como “ermo”, para haver uma diferenciação dos termos no português. (N. da T.)
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PREFÁCIO
Mike passa a analisar o sucesso relativo da igreja em continuar a história do evangelho. Os capítulos finais são dedicados a desenvolver as implicações práticas de tudo isso para a nossa participação e liderança na igreja hoje. Ao longo do caminho, Mike aborda, de forma elegante, mas firme, coisas como: de que forma evitar erros comuns, a escolha de estilos musicais e o desenvolvimento de uma liturgia fundamentada no evangelho. Embora você possa não concordar com todas as conclusões a que ele chega (eu não concordei!), não tenho dúvida de que, como eu, você se beneficiará imensamente do modo zeloso como ele trata cada questão. Ainda mais importante, você sairá com um entendimento mais claro da razão pela qual as boas novas de Jesus Cristo devem moldar, fundamentar, governar, inspirar e preencher nossas reuniões semanais. Existe a chance de que alguns de vocês fiquem desencorajados pelas referências de Mike a liturgia, isto é, a sequência de eventos nos encontros públicos da igreja. Talvez você se lembre de quando era criança ter tido que aguentar anos de cultos semanais que pareciam enfadonhos, frios e sem vida, e você não esteja disposto a passar por isso novamente. Não se preocupe. Em seu jeito gracioso e pastoral típico, Mike nos ajuda a entender a diferença entre práticas litúrgicas que buscam ganhar a aceitação de Deus e liturgias que são respostas de um coração sincero à graça de Deus em Cristo. Ele nos recorda do efeito humilde e enobrecedor de nos identificarmos com os cristãos que fielmente vieram antes de nós. Além do conteúdo de Ritmos da Graça, que eu não sou capaz de recomendar o bastante, o estilo de escrita de Mike é eminentemente agradável. Ele não só nos ajuda a enxergar o que é mais importante, mas o faz de maneira acessível, imaginativa e bela. Estou contente porque você vai ler este livro. Se o ler com cuidado, eu acho que não verá mais os domingos da mesma forma. Como Mike diz: Reuniões para o culto são momentos que moldam a vida na semana de uma congregação, e nossa tarefa como pastores é aproveitar essas oportunidades para um ataque completo em seus corações. Como servos de Deus, nós preparamos as pessoas para a morte e para a eternidade, mas a maioria delas pensa que está só “indo à igreja”.
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RITMOS DA GRAÇA
Que nenhum de nós jamais pense que está só “indo à igreja”. Minha oração é que Deus use este livro para abrir ainda mais os seus olhos para as glórias do evangelho e para a oportunidade que nós temos toda semana, como Igreja de Jesus Cristo, para crescer mais profundamente na graça e no conhecimento de Jesus Cristo. Bob Kauflin Louisville, Kentucky
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INTRODUÇÃO Elíderes de adoração que eu conheço, esse foi um tipo de acidente feliz.
u não planejei ser um pastor de adoração. Como muitos pastores e
No outono de 1999, eu tinha grandes sonhos de estrelato. Eu queria ser produtor musical ou uma estrela do rock. Além disso, eu era um cristão sério, estava me preparando para casar, e me reunia regularmente com um pequeno grupo de cristãos errantes num apartamento em Louisville. Nós estávamos todos nos sentindo desajustados em nossas igrejas locais e orando sobre o que Deus teria preparado para fazermos em seguida. Um amigo em comum conectou nosso grupo de oração com Daniel Montgomery, um estudante de seminário que queria plantar uma igreja em nosso bairro, e assim foi formada uma parceria. Uma grande parte de nosso grupo juntou-se à igreja, e em setembro de 2000 a Sojourn Community Church nasceu. Nos anos anteriores, eu tinha liderado bandas para uma variedade de ministérios de jovens e ministérios de adoração, e então fui convidado para servir como coordenador do ministério de música da Sojourn. Logo esse papel me trouxe um sentimento de chamado, e mais ou menos um ano depois eu entrei na equipe.1 Eu comecei aprendendo a pastorear, a preparar as celebrações e a trabalhar com artistas. Adiante a história alguns anos, e eu me tornei pastor. Ninguém ficou mais surpreso do que eu.
1. Nas igrejas dos Estados Unidos, é muito comum que para funções de liderança ou que exigem maior responsabilidade pessoas sejam contratadas e recebam salários. Provavelmente é disso que o autor está falando aqui. Ele começou a servir de forma voluntária como coordenador do ministério de música, e um tempo depois, ao entrar na equipe pastoral, ele foi contratado e passou a receber um salário, ao mesmo tempo em que suas responsabilidades aumentaram. Pode haver um nível maior ou menor de formalidade nessas contratações, e geralmente as pessoas que são contratadas já são membros da igreja, ou tornam-se membros pouco tempo depois de serem contratadas, embora possa haver exceções. (N. da T.)
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RITMOS DA GRAÇA
UMA TENDÊNCIA CRESCENTE
Eu acho que a minha história não é tão incomum, especialmente entre as muitas igrejas novas e plantações de igrejas por todo o país. Músicos talentosos, ansiosos para servir, veem a si mesmos tropeçando em papéis de liderança. Cantores, compositores e aspirantes a estrelas do rock se encaixam no molde para líderes de adoração que se tornou uma norma cultural e acabam moldando as práticas de culto das congregações. Por um lado, isso tem o potencial de ser algo bom. É uma liderança de pessoas comuns emergindo de um contexto local e moldando a cultura da igreja. Por outro, é uma situação carregada de desafios. Pastores de adoração com pouco ou nenhum treinamento formal são como barcos à deriva tentando descobrir o que realmente é o culto, qual é a melhor forma de liderá-lo e cultivá-lo e como ele se conecta com as Escrituras, a história e a cultura à nossa volta. Eu fui abençoado com mentores e conselheiros sábios que me guiaram na direção de bons recursos, bom pensamento e bom pastoreio. Muitos outros não têm essa sorte. Ao contrário, eles se veem moldados por uma cultura de adoração que está enredada com uma cultura de celebridades e consumismo. Crê-se que líderes de adoração devem ser artistas e animadores, músicos com cortes de cabelo descolados e canções com arranjos selvagens que deslumbram e emocionam. A tarefa de se preparar para se reunir com o povo de Deus é moldada por uma necessidade insaciável e consumista do novo e do inovador. O curto ciclo de vida dos cânticos hoje em dia – hoje na moda, amanhã no baú – é um claro sintoma de uma sociedade consumista exercendo influência na igreja. Eu não culpo os líderes de adoração. É difícil culpar a qualquer um, na verdade. Essas realidades estão completamente disseminadas, e o impacto delas acontece sem que ninguém tenha essa intenção. Ninguém decide ser consumista. Ninguém decide adotar uma cultura de celebridades ou uma atitude consumista, mas a cultura de massas tem o seu jeito de engolir as pessoas e instituições como um todo, e um dia você acorda se perguntando: “Como chegamos a esse ponto?” PERGUNTANDO POR QUÊ?
Eu me lembro de um momento em particular, no primeiro ou no segundo ano da igreja, quando me vi sentindo-me particularmente perdido. 16
INTRODUÇÃO
Eu não estava no palco liderando a adoração naquela semana; estava controlando o som na parte de trás da antiga igreja de paredes de pedra onde a Sojourn se reunia. Era o começo da vida da nossa igreja e a música era geralmente um arranjo indie-rock barulhento, soando para fora das pedras calcárias e dos vitrais e envolvendo a jovem congregação de 150 ou mais pessoas que salpicavam os bancos. Embora nós não fôssemos a igreja mais expressiva na época (tímida para cantar alto e erguer as mãos), esse culto em particular estava indo bem, e as pessoas estavam mais entusiasmadas do que jamais estiveram em uma reunião. De repente eu pensei: “Como é que chegamos aqui?” Eu não estava pensando no prédio que nós alugamos ou na igreja que estava reunida. Eu estava pensando em algo muito mais amplo. Essa jovem igreja não tinha bateria e violões, e provavelmente nunca tinha visto nada como os “líderes de adoração” que eram uma presença padrão nas igrejas que eu frequentei desde criança. De onde é que tudo isso tinha vindo? Não era um pressentimento. Não achava que estávamos brincando com “fogo estranho” e destinados à condenação, mas de repente me dei conta de que eu não tinha ideia do porquê de tudo aquilo. Por que nos reuníamos? Por que cantávamos? Por que fazíamos isso do jeito que fazíamos? O por que começou a me assombrar. Talvez existisse um jeito melhor. Nosso culto tinha uma ordem geral, como o de muitas igrejas. Nós tocávamos músicas rápidas para começar, músicas mais lentas logo antes do sermão, e invertíamos a ordem no final – músicas lentas e depois músicas rápidas para despedir as pessoas. Eu nunca tinha pensado no porquê de fazermos dessa forma. Uma celebração, eu presumia, era adoração (o que significava música) e pregação. Perguntar o porquê da adoração levou-me a uma longa jornada. É tentador – quando você começa a questionar por que a igreja se reúne – ficar muito desencorajado por tudo que é problemático na cultura da adoração. Pastores-celebridade e líderes de adoração-celebridade estão em todo lugar, liderando cultos que mais parecem espetáculos do que substância. Alguns reagem a isso moralizando o valor do pequeno, do local, do “orgânico”. Quando você está enojado das celebridades, a igreja no lar parece muito fascinante. 17
RITMOS DA GRAÇA
Junto com alguns dos outros pastores da Sojourn, eu procurei de todos os lados, sentando aos pés de gurus da formação espiritual, aprendendo com movimentos de igrejas nos lares, vasculhando livros e livros sobre a igreja “emergente” e lendo críticas e respostas a esse movimento. As modas e novidades empilhavam-se ao nosso redor e nosso desespero crescia. A busca por clareza em relação ao significado de ser igreja e pelos motivos por que nos reuníamos apenas fizeram as respostas mais nebulosas. De alguma forma, a história do evangelho surgiu no meio dessa confusão.2 Nas igrejas onde cresci, o evangelho era muitas vezes tratado como periférico – o portão de entrada para o cristianismo, mas não central para a vida cristã comum. Você lida com o evangelho quando se torna um cristão, e então segue para coisas maiores à medida que amadurece. Como os cristãos através dos séculos, os outros pastores e eu descobrimos que o evangelho é muito mais do que um exame de admissão ou um portão de entrada; ele é o ponto central de toda a vida cristã. Essa história é o fato que define todo o nosso passado, presente e futuro, e nós precisamos viver e adorar com isso em mente. “Quer saber”, eu pensei, “se o evangelho deve ser central na vida cristã, nós deveríamos fazer os nossos cultos de um modo que eles ensaiem essa história. Toda semana, nós deveríamos nos reunir e lembrar que Deus é santo, nós somos pecadores, e Jesus nos salva de nossos pecados. Nós poderíamos fazer isso com leituras das Escrituras, e cânticos, e sermões, e a Ceia do Senhor. Toda semana é uma oportunidade para nos reorientarmos em torno da grande história da criação, queda, redenção e consumação.” Eu pensei que estava sendo brilhante e inovador, mas na verdade eu estava apenas redescobrindo o que muitas gerações de cristãos tinham descoberto muito, muito antes. ADORAÇÃO COMO RECORDAÇÃO DO EVANGELHO
Se você olhar para praticamente qualquer celebração ou ordem de culto histórica, você verá que basicamente todas empregam o mesmo diálogo; elas todas ensaiam a história do evangelho. Há muitas variações nos 2. Eu falo muito mais sobre essa jornada e “descoberta” do evangelho em Faithmapping, que eu escrevi junto com Daniel Montgomery, nosso pastor titular.
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INTRODUÇÃO
detalhes e no nível de clareza, mas o diálogo é em geral o mesmo. Deus é santo. Nós somos pecadores. Jesus salva-nos de nossos pecados. Nós nos reunimos, nos lembramos da história que molda nossas identidades e nos enviamos uns aos outros de volta ao mundo lá fora, permitindo que essa história nos molde enquanto prosseguimos. É um ritmo de vida, formando nossa identidade como um povo moldado pelo evangelho. É um ritmo do evangelho, lembrando-nos de nossa dependência e da suficiência de Cristo. É um ritmo da graça, incentivando-nos a viver no derramamento de amor e misericórdia doadores de vida do Deus do universo. Logo depois de redescobrir o evangelho, meus colegas e eu redescobrimos esses ritmos da graça. Nós começamos a ver como a história molda a comunidade e como os movimentos de reunir e enviar continuam a contar a história à medida que a igreja realiza sua missão no mundo lá fora. Reconhecer isso revolucionou a igreja, a adoração e a missão para nós, porque vimos o evangelho claramente no centro. Isso também mudou o modo como nós víamos o culto. O evangelho é, na verdade, todo relacionado ao culto: outrora quebrada pelo pecado, agora restaurada em Jesus. Da mesma forma, o culto é todo relacionado ao evangelho, ensaiando a história e permitindo que ela molde as vidas da igreja adoradora. Nas páginas que seguem, eu quero recontar essa história em linhas gerais. Nos capítulos 1–4, quero revisitar a criação, a queda e a redenção tendo em vista como a adoração muda do Éden (cap. 1), para o ermo (cap. 2), para Israel (cap. 3), para Jesus (cap. 4). Partindo daí, quero olhar para onde estamos agora (cap. 5, “Adoração Um, Dois, Três”) e para o objetivo de nos reunirmos (cap. 6, “Adoração e Formação Espiritual”). O capítulo 7, sobre os ritmos da graça, é uma caminhada através das práticas nas quais a igreja se engajou em suas reuniões ao longo da história; esse capítulo explora tanto como podemos nos engajar nessas práticas quando nos reunimos quanto como elas moldam nossas vidas quando nos espalhamos pelo mundo afora. O capítulo 8, “Liturgia e os Ritmos da Graça”, é sobre as partes de um culto e como elas funcionam juntas. O capítulo 9 lida com a importância do canto e com alguns dos desafios que vêm com a música contemporânea na igreja reunida. 19
RITMOS DA GRAÇA
Finalmente, o capítulo 10, “O Líder Pastoral de Adoração”, olha para a condução do culto como um chamado pastoral, explorando-a através da vida e da obra de Isaac Watts. Minha esperança é que este livro beneficie vários tipos de pessoas. Escrevi-o com o desejo de ajudar pastores, líderes de adoração, voluntários em ministérios de adoração e adoradores frequentadores de igreja comuns a participar do culto com mais clareza e intencionalidade. Muito se fala hoje em dia sobre ministérios centrados no evangelho, e às vezes isso pode soar como um carimbo de aprovação. Eu espero efetivamente mostrar em algum detalhe a conexão entre o evangelho e o culto e falar de forma muito prática sobre como essa conexão pode ser trabalhada nas reuniões da igreja. O QUE EU ESTOU DEIXANDO DE FORA
Existem algumas questões às quais eu decidi dar pouca atenção ou deixar de lado completamente. Minha intenção aqui é introduzir algumas ideias sobre a história do culto e a igreja. Na maioria das vezes, eu estou contando essa história de uma altitude de uns 15.000 metros, e minha esperança é que, se algo lhe interessar, você procurará aprofundar-se mais nisso. Pregação, Santa Ceia e batismo, por exemplo, poderiam ter consumido o livro todo. Eu não tenho dúvidas de que essas questões são cruciais para o culto na igreja local, mas aqui eu quero gastar mais energia enfatizando a história do culto e os propósitos mais amplos da reunião. No quadro geral que vou delinear, a pregação, a Santa Ceia e o batismo têm seu lugar, e eu acho que isso vai ficar claro. Eu também não lido muito com eclesiologia e governo da igreja. Várias tradições têm várias regras determinando como adorar e como planejar o culto, e eu não pretendo tratar de nenhuma dessas estruturas neste livro. Em vez disso, quero apontar para as práticas que a maioria das tradições compartilham, em um nível ou outro, e ver como o evangelho as fundamenta, assim como as práticas nos formam e nos moldam.3 3. Só para constar, eu sou um protestante, batista reformado, em uma forte tradição de Igreja Livre, e eu escrevo deste ponto de vista. No entanto, eu acho que há muita coisa em
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INTRODUÇÃO
Eu também não estou entrando nos debates sobre o princípio regulador e o princípio normativo. Se você não está familiarizado com esses termos, eles envolvem um longo debate sobre o que a igreja deve e o que ela não deve fazer quando se reúne, de acordo com as Escrituras. Embora eu, a princípio (trocadilho não intencional), simpatize com o princípio regulador, concordo com Mark Driscoll, que disse que a expressão “foi tão abusada, mal utilizada e mal representada que não é mais um termo útil”.4 Os debates em torno disso são complexos e cansativos e eu não quis mergulhar nos detalhes aqui.5 D. A. Carson, teólogo do Novo Testamento, disse que “apesar de todas as suas diferenças, cultos teologicamente ricos e sérios, de ambos os campos, geralmente têm um conteúdo mais comum do que qualquer dos lados geralmente reconhece”.6 Com isso em mente, eu penso que a maior parte do que tenho a dizer aqui pode ser aplicada aos dois grupos. UMA NOTA SOBRE A LINGUAGEM
Uma ressalva final sobre a palavra adoração. Eu faço algum esforço aqui para deixar claro que a adoração é tanto uma realidade “espalhada” – da vida como um todo – quanto uma realidade “reunida” – singularmente comunitária. Eu também faço um esforço significativo para esclarecer que Jesus é o nosso único e verdadeiro líder de adoração. Assim sendo, eu penso que não há problemas em usar as palavras adoração e líder de adoração quando falamos sobre uma liturgia para a igreja reunida e sobre as pessoas que lideram essa liturgia. Embora isso possa deixar alguns de vocês bravos, essa certamente não é minha intenção.
comum entre os evangélicos porque a maioria das práticas de culto das igrejas é centrada na história do evangelho. 4. Driscoll, Religion Saves, p. 256. 5. A discussão de D. A. Carson sobre isso em “Adoração por meio da Palavra”, capítulo 1 de Louvor: análise teológica e prática (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017), é muito útil, assim como o capítulo de Driscoll sobre o assunto em Religion Saves. 6. Carson, Louvor, p. 52.
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ISBN 978-85-93125-14-0
9 788593 125140