Arco43 em Revista - 1ª edição

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Maio de 2019 | nº 1

OS NOVOS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO Confira como as diretrizes da BNCC e a necessidade de novas metodologias estão trazendo à tona a importância do investimento tecnológico nas escolas e na formação de professores e mudando o papel do aluno para protagonista em sala de aula.

A BNCC nos anos finais do Ensino Fundamental.

pág. 4

O uso das metodologias ativas no processo de pág. 32 aprendizagem.

TICs na educação: como tornar o ensino pág. 34 tecnológico?


COLEÇÃO

REFORMULADA DE ACORDO COM A BNCC

Apoema é uma palavra da língua tupi que significa "aquele que vê mais longe". É essa visão mais ampla e abrangente que buscamos proporcionar aos professores e alunos que adotam a coleção. Ao integrar materiais impressos com recursos digitais, o projeto Apoema apresenta um conteúdo completo e soluções didáticas que transformam o modo de ensinar e aprender. O novo projeto traz a reformulação dos livros de Português, Matemática, História, Geografia, Ciências e Inglês, em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Além das obras, professores e alunos podem usufruir do LEB – Laboratório Educacional Brasil, que oferece centenas de recursos digitais, tornando mais prático o ensino e mais prazerosa a aprendizagem. Conheça mais em: www.editoradobrasil.com.br/apoema



Presidente: Aurea Regina Costa Diretor Geral: Vicente Tortamano Avanso Diretor Comercial: Bernardo Musumeci Diretor Editorial: Felipe Ramos Poletti Gerente de Marketing e Inteligência de Mercado: Helena Poças Leitão Gerente de PCP e Logística: Nemezio Genova Filho Supervisor de CPE: Marta Dias Portero Coordenador de Marketing: Léo Harrison Analistas de Marketing: Lívia Garcia, Miki Tanaka e Rodrigo A. Grola

Realização Coordenação: Helena Poças Leitão Colunistas: Francisca Paris, Maria José Vasconcellos, Maria Cecília Condeixa Conteúdo: Agência Bowie Colaboradoras: Lívia Garcia e Miki Tanaka Revisão: Balão Editorial Direção de Arte: Rodrigo A. Grola Projeto Gráfico e Diagramação: Rodrigo A. Grola Produção Editorial: Léo Harrison

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SUMÁRIO

Edição nº 1 | 2019

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A BNCC nos anos finais do Ensino Fundamental Matemática: unidades temáticas na BNCC EAD: um excelente caminho para formação de professores Campos de atuação e práticas de linguagem: alterações e permanências

22 A importância da leitura em família 26 Formação de professores e

projetos integradores: desafio e qualidade na educação

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A realidade da educação inclusiva no Brasil

32 O uso das metodologias ativas no processo de aprendizagem

34 TICs na educação: como tornar o ensino tecnológico?

40 Como o movimento maker pode ser um grande aliado dos educadores?


[ CARTA DE APRESENTAÇÃO ]

Caros educadores, Vivemos um momento de muitas mudanças no cenário educacional brasileiro. Gestores e professores estão buscando o melhor caminho para enfrentar os desafios e as dúvidas suscitadas por essas mudanças. Mas como saber o que é melhor para sua instituição? Não há uma regra ou uma fórmula para descobrir isso. Afinal de contas, cada escola adota a metodologia que melhor se adéqua à sua realidade e às necessidades específicas de seus alunos. Com o intuito de apoiar a tomada de decisão dos educadores, a Editora do Brasil criou o selo Arco43, que desenvolve conteúdos de apoio para a formação de docentes, oferecendo informações e discutindo os temas mais relevantes da educação na atualidade. Entre os projetos do selo está o Arco43 Podcast, um programa de conteúdo educacional elaborado pela Editora do Brasil que esclarece as dúvidas e comenta os desafios do mundo escolar em um bate-papo com especialistas. Outro projeto é o Arco43 em Revista, que traz artigos, notícias, entrevistas e novidades para o profissional de educação ler, refletir e discutir com a comunidade escolar. Na primeira edição, trouxemos temas polêmicos comentados por diversos especialistas, como Luís Carlos de Menezes, José Moran, Francisca Paris, entre outros. Além disso, falaremos, claro, da BNCC, com um olhar para os anos finais do Ensino Fundamental e suas principais mudanças, como a definição de dez competências gerais e a organização em grandes áreas do conhecimento e seus respectivos componentes curriculares (conhecidos anteriormente como matérias ou disciplinas). Abordaremos ainda as diversas tendências da educação, por exemplo, o movimento maker, projetos integradores, formações em EAD, metodologias ativas, ferramentas tecnológicas, entre outras. Esperamos que o Arco43 em Revista contribua significativamente para sua rotina escolar. Helena Poças Leitão Gerente de Marketing e Inteligência de Mercado da Editora do Brasil

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[ POR DENTRO DA BNCC]

A BNCC nos anos finais do Ensino Fundamental A BNCC é um dos temas mais debatidos no momento no universo escolar. Mas você sabe como aplicá-la na prática? O que é educação integral? Qual o papel do professor com essas novas diretrizes? O especialista Luís Carlos de Menezes esclarece esses e outros pontos polêmicos sobre a Base.

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1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente

construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abor-

dagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital —, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

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ocumento homologado pelo Ministério da Educação (MEC), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem causado muitas dúvidas nos ambientes de ensino brasileiros. Discutida desde 1988 e definida, de fato, em 1996, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), apenas em 2018 ela começou a ser colocada em prática, com sua homologação em dezembro do ano anterior. Por ter a função de orientar, não apenas o desenvolvimento de currículos de ensino, mas também “princípios éticos, políticos e estéticos que visam a formação humana integral”, segundo o documento, de toda a rede pública e privada do Brasil — desde o Ensino Infantil, até o Ensino Médio, apesar do último ter sido discutido separadamente —, a BNCC não é pautada somente nas diferentes áreas de conhecimento e leva em conta dez competências. Confira um trecho da introdução da BNCC que versa sobre as dez competências definidas:


[ POR DENTRO DA BNCC] 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências cultu-

rais e apropriar-se de conhecimentos e ­experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar da saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e ­promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus

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saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Grandes mudanças Entre as principais mudanças estabelecidas pela BNCC no fim de 2018, pelo governo do então presidente Michel Temer, está a alteração das áreas de conhecimento. As competências educacionais, sociais e pessoais propostas devem ser trabalhadas no Ensino Fundamental através de cinco áreas de conhecimentos, que se dividem em nove componentes: • Linguagens: Língua Portuguesa, Arte, Educação

Física, Língua Inglesa;

• Matemática; • Ciências da Natureza; • Ciências Humanas: Geografia, História, Ensino

Religioso.


Apesar do acalorado debate social acerca da laicidade do ensino, Luis Carlos de Menezes, professor sênior do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, membro do Conselho Estadual de Educação em São Paulo, consultor da unesco e ex-assessor do MEC para a elaboração da BNCC, garante que na declaração nenhuma religião específica é citada. “A religião expressa na Base é laica. Não há menção de qualquer religião no documento”, afirma. No entanto, Menezes não identifica as ramificações dessa determinação como acerto: “O Supremo Tribunal autorizou o Ensino Religioso confessional, o que, na minha opinião, foi um equívoco”. O consultor da Unesco ainda aponta complicações práticas para colocar o Ensino Religioso laico em prática: “Digamos que você tenha alunos de diferentes religiões dentro de uma sala de aula. Não acho que a escola seja o espaço para o debate de diferentes convicções. E, sim, o lugar de aceitação das diferentes convicções. Há uma diferença enorme entre a aceitação e o debate”, ressalta.

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Ensino integral Com a nova proposta da BNCC, uma das prioridades educacionais brasileiras passa a ser a aplicação de um ensino integral. Mas o que de fato isso quer dizer já que, teoricamente, as áreas e componentes se completam? Para Menezes, “o que se chama de educação integral consiste em não separar os elementos cognitivos e práticos dos elementos

“Digamos que você tenha alunos de diferentes religiões dentro de uma sala de aula. Não acho que a escola seja o espaço para o debate de diferentes convicções. E, sim, o lugar de aceitação das diferentes convicções. Há uma diferença enorme entre a aceitação e o debate.”

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[ POR DENTRO DA BNCC] socioafetivos ou socioemocionais. Ou seja, a escola passa a ser um lugar de aprendizado onde a convivência e o respeito ao próximo estejam entre os principais objetivos”, comenta. Em sua visão, as competências a serem ­trabalhadas são flexíveis e podem ser aplicadas a qualquer um dos componentes da BNCC: “Se você atentar para as dez competências da Base, elas envolvem elementos de convívio e respeito à diversidade. Esses elementos socioemocionais estão presentes nas competências da Base. Quando você tem uma tarefa e precisa discutir com o colega e fazer um trabalho conjunto, você está aprendendo a conviver. E isso pode ser trabalhado em qualquer disciplina”. E ele ainda conta que para acertar nesse quesito, não tem segredo, basta “cumprir a BNCC”, pois isso “já é estabelecer uma educação integral”. No entanto, alguns pontos das competências trazem de forma mais clara a necessidade de trabalhar habilidades mais amplas e dar espaço à subjetividade de cada aluno.

Mas e na prática? A ideia de ensino integral traz o corpo discente para o centro do aprendizado. Ao conferir protagonismo aos jovens durante o desenvolvimento de práticas educativas e pedagógicas, é inevitável que o modelo de aula seja modificado. Para que as habilidades idealizadas sejam plenamente desenvolvidas por meio desse protagonismo, “o modelo de aula não pode ser o de pessoas perfiladas assistindo ao discurso de alguém. Deve haver um momento de exposição do professor? Sim, porém deve ser minoritário”. Mas é preciso reconhecer que há limitações, especialmente se analisarmos as instituições separadamente. “Muitas vezes as escolas e os professores não têm esse preparo e fazer essa mudança implica em uma formação continuada. (...) Em uma aula de 50 minutos, você pode ter de dez a vinte minutos de exposição, mas pelo menos meia hora de práticas, em que os estudantes vão fazer sugestões, criar hipóteses e discutir o assunto entre si”, indica Menezes. Agregar valor do ponto de vista de jovens do Ensino Fundamental II é um desafio que também exige mudanças que vão além da estrutura de interação com alunos: “Também é necessário que os materiais escolares não sejam meramente informativos”, pontua. É aí que entra a necessidade de usar a tecnologia

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a favor do aprendizado e não vê-la como competição pela atenção de estudantes. “Hoje em dia, qualquer telefone celular informa mais do que aulas expositivas, em qualquer nível de ensino. Escola não é mais lugar de apenas ‘passar informação’. Tudo que envolve a escola deve ser direcionado à orientação e prática dos estudantes, e as informações passadas devem ser utilizadas para enfrentar problemas reais”, aconselha o consultor da Unesco. Dessa forma, segundo as considerações do especialista, o ambiente escolar tende a ficar em maior sintonia com a vida como ela é. Isso deve impactar positivamente na vida dos estudantes para além da escola, já que “qualquer profissão que o estudante escolher vai exigir habilidades como a capacidade de dialogar e se informar, e não há melhor maneira de aprender do que na prática. E isso vale desde a Educação Infantil”. Outros pontos que precisam ser repensados pelas escolas para que consigam tirar o melhor proveito das propostas da BNCC são os métodos de avaliação e não centralizar o conhecimento: “Há alguns obstáculos que precisam ser superados. O primeiro é essa tradição de avaliação conteudista. Avaliar se o sujeito simplesmente reteve informações já é algo que viola a proposta da BNCC, que é desenvolver competências e habilidades. Outra dificuldade é o modelo de condução das aulas. Deve-se mudar o sistema tradicional que tem como figura o professor que promove ordem e silêncio nas salas de aula em vez de estimular atividades. O que vai acontecer daqui pra frente nós não sabemos direito, mas estamos vivendo um momento importante de mudanças.” E as mudanças na estruturação da experiência escolar, segundo o especialista, precisam ser concretas. Quando falamos concretas, não é exagero, pois para Menezes, “até a arquitetura da sala de aula que nós temos atualmente convida à passividade. Todos os alunos alinhados, olhando para o professor à frente do quadro-negro (...) é fundamental que essa mudança de metodologia aconteça com a criação de espaços para trabalhos em equipe, interação e uma participação muito maior do aluno no processo”. O especialista ainda aponta que, no caso de dúvidas sobre a profundidade dessas mudanças, vale se apegar, especialmente, a dois pontos das competências: o segundo e o terceiro. Na visão de Menezes, são esses tópicos que versam de forma clara sobre a amplitude dessa educação integral.


“Gosto muito de citar a segunda competência: ‘exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções, inclusive tecnológicas, com base nos conhecimentos das diferentes áreas’. Nessa competência fica clara a proposta do aluno fazer e não só ouvir falar. A terceira também é bem interessante: ‘valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural’. Isso significa cantar, compor poemas e escrever. Elas resumem de maneira completa o que se chama de educação integral, incentivando a criatividade, o desenvolvimento cognitivo e o convívio com colegas. Os elementos para uma educação ideal estão previstos dentro da Base. Se isso será colocado em prática, são outros quinhentos.”

Professor na condução É preciso ter uma coisa clara em mente: as definições trazidas pela BNCC de forma alguma determinam o conteúdo que será, de fato, abordado pelos professores em sala de aula. Isso porque o documento não pode ser confundido com o currículo escolar, que deve ser o meio para que os docentes consigam transmitir o conhecimento referente às competências da BNCC. “Currículo escolar deve ser considerado como percurso de atividade de quem aprende, e não lista no discurso de quem ensina. Isso tem que estar claro durante todo o processo de Educação Básica”, pontua Menezes. O especialista ainda sinaliza que é preciso ter cuidado no desenvolvimento desse material, uma vez que toda a vivência escolar precisa ser pensada “como uma linha de continuidade”. Para isso, ele indica que o corpo docente se questione: “o que é o elemento que amarra todas as fases?”. Falando especificamente sobre os desafios do Ensino Fundamental II, é preciso pensar também sobre as propostas feitas pela BNCC ao Ensino Médio brasileiro, discutido à parte, conforme falamos no começo da reportagem: “Pensando em Ensino Fundamental II, precisamos pensar na falta de sintonia entre essa etapa e o Ensino

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E afinal, como avaliar? Visando a tantas mudanças, é imprescindível que, mais cedo ou mais tarde, a forma de avaliar alunos também precise de adaptações. Com a aproximação de vivências mais cotidianas do convívio social em relação à sala de aula, Menezes indica o mesmo caminho para o processo de análise do aprendizado dos alunos. “A avaliação deve ser feita no contexto que a BNCC propõe por meio de suas competências. Como uma empresa avalia seus funcionários? Ela faz uma prova? Não, ela avalia o trabalho que estão realizando e os

resultados. A escola deve aprender a medir o grau de aprendizado dos alunos por esses métodos também. Se uma criança não interage e não participa, é preciso ver, de fato, qual é o problema que ela tem e isso faz parte do papel da escola.”

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[ POR DENTRO DA BNCC] Médio em termos de organização. O Fundamental II está dividido em nove componentes e o Ensino Médio está orientado por áreas. Então, é preciso olhar esse caráter de áreas do Fundamental II e integrá-las. Essa é a primeira coisa a se fazer. E fazer isso com cuidado e cautela”, orienta. Menezes também ressalta que, para que essa linha de continuidade no conteúdo apresentado realmente passe a existir, o desafio pode ser ainda maior para coordenar a transição entre o Ensino Fundamental I e o Ensino Fundamental II. “O Ensino Fundamental I tem um equívoco mais grave: divide-se em nove componentes e fica a cargo dos professores se organizarem da melhor maneira possível para criar o plano de aulas. Tem que ser algo muito bem feito, alinhado com o plano da orientação pedagógica”, comenta. Mas ele assegura que “não é tão difícil de fazer”. Porém, esse trabalho deve ficar um tanto mais simples com esclarecimentos sobre a nova proposta para o Ensino Médio, já que as definições que abarcam todo o processo de aprendizado na etapa ainda carecem de maiores orientações. A dificuldade em lidar com o último estágio escolar se dá pelo distanciamento entre a BNCC dessa fase e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB, Lei n° 9.394/1996). Segundo Menezes, esse conflito se deu durante toda essa seara para que a BNCC pudesse sair do

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papel, afinal, são trinta anos de debate acerca do documento. “Da Constituinte até hoje, [a BNCC] passa não só pela LDB, mas pelo que foram os parâmetros curriculares nacionais. Nós tínhamos, nessa linha, uma matriz de trabalho que correspondia à tradição disciplinar. A proposta da BNCC para os Ensinos Fundamentais I e II segue essa linha, já no Ensino Médio, há uma sinalização de áreas, não mais de componentes. Mais do que isso, deixa aberto os 40% dos trajetos formativos profissionalizantes sem explicitar o que de fato está previsto nesse espaço. (...) É um espaço em que se fala da educação à distância e outros temas, mas, acima de tudo, um espaço que carece de mais orientação. A consequência é que esse espaço acabou se tornando uma área de disputa entre grandes corporações.”

Versatilidade desde a formação Claro que uma mudança tão profunda, que propõe, basicamente, uma ressignificação sobre o que é aprender, também passaria por uma questão fundamental: o que é ensinar? Se aplicada corretamente, a BNCC deve impactar não só na formação de alunos, mas também na formação de novos professores. Com o conhecimento sendo protagonizado pelos alunos — já que os elementos da BNCC apontam para atividades que passam a exigir maior participação de


“Partimos de uma tradição lamentável. A educação brasileira sempre foi cartorial, burocrática e de transmissão de conhecimento, se é que isso existe.”

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alunos, individual ou coletivamente — “a ideia é ter o professor como o organizador dessas atividades e não como o discursador”, explica Menezes. Na avaliação do especialista, “estamos em um bom momento para rever” o formato educacional tradicional que se estabeleceu no Brasil. “É preciso que os materiais de ensino estejam alinhados à essa proposta [da BNCC] e estimulem essa ideia de que o protagonista é o aluno. Educar é permitir que os estudantes ouçam, falem, tentem, acertem, errem e não simplesmente criar um trajeto estável. A direção está clara. Partimos de uma tradição lamentável. A educação brasileira sempre foi cartorial, burocrática e de transmissão de conhecimento, se é que isso existe”. Apesar da necessidade de adotar os direcionamentos dados pela BNCC, é importante notar que é isso que o documento traz: apontamentos. Logo, “certamente não [deve ser considerada o alicerce da educação brasileira]. Alicerce é uma coisa concreta. Penso mais na Base como uma planta ou um roteiro. E um roteiro com problemas a serem resolvidos. Mas considero um bom começo no caminho de mudar o cenário da educação no Brasil, já que na teoria contém aspectos muito positivos, mesmo que com problemas que devem ser corrigidos ao longo do tempo”. De qualquer forma, Menezes enxerga que a necessidade de transformação na educação nacional é iminente e o documento é um bom ponto de partida: “Nós temos que mudar as metodologias atuais. E como faremos isso? Começando pela base escolar”. Claro que prever como isso vai se desenrolar dentro das escolas não é totalmente possível, mas o especialista enxerga um bom futuro: “Os elementos e competências que a Base fornece apontam para um caminho positivo, com boas perspectivas. (...) Há escolas muito boas, públicas e privadas. O que falta são políticas claras para colocar em prática as modificações necessárias.”

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Matemática: unidades temáticas na BNCC O ensino da Matemática tem passado por importantes transformações. Com a chegada da BNCC, o professor precisa se preparar para um novo jeito de ensinar. Colocar o aluno como protagonista e trabalhar o currículo em espiral são algumas das orientações da Base que precisam estar presentes no processo de ensino-aprendizagem. Maria José Vasconcellos

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as últimas décadas, mais precisamente a partir dos anos 1990, o ensino da Matemática nos anos fundamentais tem passado por transformações importantes. Primeiro vieram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), em 1998 e, recentemente, em dezembro de 2017, foi homologada a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que traz uma proposta de construção mais significativa do conhecimento matemático, dando ênfase ao protagonismo do aluno. A BNCC trabalha com a abordagem dos objetos de conhecimento em espiral, de modo que um tema não se esgota num único ano, sendo explorado, retomado e aprofundado a cada novo período de estudo. Cada vez que um tema é retomado, abrem-se novas possibilidades de aplicação, ficando mais claras as articulações entre assuntos da própria Matemática e entre assuntos de outras áreas do conhecimento. Para organizar e facilitar o progresso do aprendizado ao longo dos anos do Ensino Fundamental, a BNCC apresenta as habilidades e os objetos do conhecimento que possibilitarão desenvolvê-las, distribuídos em cinco unidades temáticas: Números, Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas e Probabilidade e Estatística. Vale ressaltar que essas unidades temáticas

não são estanques. Ao contrário, articulam-se e complementam-se. Todas têm como meta desenvolver e dar significado às ideias matemáticas fundamentais listadas pela BNCC: equivalência, ordem, proporcionalidade, interdependência, representação, variação e aproximação. Não há como negar a presença de todas essas ideias em cada uma das unidades temáticas. O professor que se habituou a tratar um tema e esgotá-lo em um único capítulo do livro didático, num mesmo ano letivo, terá de adaptar-se a este novo currículo em espiral crescente proposto pelo documento. Além desse aspecto, há também uma nova ordenação para alguns temas e mudança de foco na abordagem em vários deles. Comentaremos brevemente essas mudanças. O campo da Álgebra, por exemplo, foi estendido: tradicionalmente era introduzido no sétimo ano, e agora começa nos Anos Iniciais e percorre todo o Ensino Fundamental. O foco dessa unidade temática é estabelecer a ideia de interdependência entre grandezas e como se comportam essas relações em situações da Matemática, do cotidiano e das ciências. Não há mais tanta preocupação com o formalismo exagerado, como o aprofundamento do estudo de funções do 1º e do 2º graus no nono ano que acontecia

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Os números irracionais e a construção do conjunto dos números reais ficam para o nono ano. O aluno terá mais tempo para retomar várias vezes os números inteiros e os números racionais, consolidando conhecimentos, em especial para transitar entre a representação fracionária e a decimal dos números racionais, sendo capaz de localizar e ordenar esses números na reta numérica, bem como aplicar os significados de fração (parte-todo e quociente entre inteiros). A Matemática Financeira e as habilidades que este tema desenvolve estão incluídas na unidade temática Números. Embora o estudo de porcentagens, aumentos, acréscimos, descontos e problemas variados do cotidiano já fizessem parte do currículo do Ensino Fundamental, a BNCC considera a educação financeira essencial para a formação cidadã. Há novas propostas também para Grandezas e Medidas. Além do trabalho com a unidade de medida e seu conceito e o estudo das medidas de comprimento, superfície, volume, tempo etc., o documento propõe explorar unidades de medida astronômicas e também microscópicas, além das unidades de armazenamento próprias da Informática. A notação científica tem destaque, propondo, inclusive, operações com números neste tipo de registro. Nesta breve abordagem, percebe-se que a nova BNCC propõe muitas mudanças. Um estudo mais detalhado do documento oficial possibilitará ao professor compreendê-lo melhor e se preparar adequadamente para sua implementação. O importante é ter em mente que o ensino da Matemática deve evoluir e aprimorar-se sempre em prol de uma educação de qualidade para crianças e jovens. A Base Nacional Comum Curricular é o ponto de partida. Maria José Vasconcellos Licenciada em Matemática pela Universidade de São Paulo (USP); Coordenadora de Matemática EFII e EM do Colégio Rio Branco São Paulo e Granja Vianna por 22 anos; Professora de EFII e EM na ativa com 40 anos de sala de aula.

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anteriormente. Em contrapartida, explora-se muito a proporcionalidade entre grandezas usando a Álgebra e gráficos cartesianos para representar a relação entre elas. Ferramentas da Álgebra, como os produtos notáveis e os casos de fatoração, foram deslocadas para o nono ano, de modo que seu aprendizado coincida com o momento em que poderão ser aplicados na resolução de problemas e equações. O mesmo acontece com o campo de Probabilidade e Estatística, que, anteriormente à BNCC, se limitava ao estudo de tabelas e gráficos, cálculo de algumas medidas de tendência central e noções básicas de probabilidade. No novo currículo, problemas de contagem e de cálculo de probabilidades permeiam todos os anos, do sexto ao nono, com profundidade crescente. Propõem-se também, de maneira recorrente, que os alunos conheçam e entendam como se faz uma pesquisa estatística, sendo convidados ao longo do curso a elaborar, aplicar e analisar pesquisas usando, para isso, todo o conhecimento adquirido sobre gráficos, tabelas, medidas de tendência central e dispersão. A nova BNCC pretende construir conhecimentos sólidos neste campo tão importante para a vida pessoal e profissional. A proposta do documento para Geometria traz também novas perspectivas, pois temas quase ausentes nos currículos anteriores passam agora a ter relevância, entre eles as transformações no plano, ampliações e reduções de polígonos e sua relação com perímetro e área, vistas, coordenadas cartesianas – desde os Anos Iniciais do Ensino Fundamental – e conceitos básicos da Geometria Analítica. Na leitura dos objetos do conhecimento e das habilidades que se pretende desenvolver, percebe-se claramente a intenção de articular Geometria com Grandezas e Medidas, Números e Álgebra. É claro – e não é novo – que o trabalho com Números deve permear todas as unidades temáticas. No entanto, a nova Base retarda a apresentação da multiplicação e divisão com frações para o sétimo ano e a radiciação para o oitavo, embora já se trate no oitavo ano de potências com expoente fracionário.


[ ARTIGO ]

EAD: um excelente caminho para formação de professores ser utilizados em outras disciplinas. O mais interessante é que nem todas as atividades propostas são on-line. Ao percorrer as “Trilhas” disponibilizadas pela ferramenta, o educador tem diversas opções de atividades “off-line” para usar em suas aulas. O Escola Digital, parceria entre Instituto Lemann e Natura, é outro EAD que investe na formação continuada do professor com ­inúmeros cursos, ligados às secretarias de ensino da maioria dos estados e com certificação emitida pelo MEC. A plataforma oferece materiais on-line para as principais disciplinas e não só para professores, mas também para g­ estores escolares e alunos. O Educa Brasil, plataforma EAD da Editora do Brasil, é uma outra opção para formação continuada de p­ rofessores. O curso “Mudanças e continuidades à luz da BNCC” auxilia professores e gestores a compreender e implementar as mudanças sugeridas pela BNCC na escola e em sala de aula. Estes são apenas alguns bons exemplos de capacitação gratuita de educadores. A melhora na formação de professores, no entanto, é um esforço coletivo. Exige apoio da gestão das instituições, que não só deve avaliar suas propostas, mas também estimular que busquem se certificar e se atualizar, com os recursos que lhes sejam possíveis. Afinal, são eles, os professores, a base para a construção de um mundo melhor. Imagem: Shutterstock

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falta de investimento em formação de professores é pauta de discussão há muito tempo nas instituições de ensino. Para os professores que não querem aguardar apoio do governo ou das escolas particulares que atuam, podem contar com cursos gratuitos, no formato EAD (Ensino a Distância). Em 2018, o Brasil foi o último colocado em uma avaliação feita pelo Índice Global de Status de Professores, que mediu o prestígio da profissão em 35 países. Segundo a pesquisa, somos a nação em que os alunos apresentam menos respeito aos e­ ducadores e com pais menos dispostos a incentivar filhos que sigam essa carreira. Quem trabalha na área já conhece os desafios: salários pouco atrativos, trabalha-se com uma carga horária alta (estima-se que 48 horas semanais) – o que dificulta a atualização do profissional e sua participação em cursos – e a falta de um plano de carreira, como em qualquer outra profissão. Soma-se a isso a ­formação “básica” que as universidades oferecem aos futuros professores. Um grande ponto de apoio para estes profissionais têm sido os cursos em EAD, com foco na formação continuada, com diferentes propósitos e gratuitos. Esse é o caso do Programaê, iniciativa da Fundação Telefônica/Vivo e Instituto Lemann, que ensina ao professor como os princípios da programação podem

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Campos de atuação e práticas de linguagem: alterações e permanências Francisca Paris

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Entenda as diferenças e os pontos em comum entre os PCNs e a BNCC no ensino da Língua Portuguesa. Quais os campos de atuação trabalhados pela BNCC? Como trabalhar com gêneros digitais? Descubra neste artigo sobre essas e outras dúvidas frequentes dos professores.

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Base Nacional Comum Curricular (BNCC) dialoga explicitamente com documentos e orientações curriculares produzidos em nosso país nas últimas décadas. A BNCC, em especial, absorve muitas das diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Neste texto, objetiva-se fazer uma breve comparação entre as alterações e permanências dos dois documentos na área de Linguagens, especificamente no componente curricular de Língua Portuguesa. Tanto a BNCC quanto os PCNs partem do princípio de que a linguagem pressupõe a interação entre as pessoas. Assim, o ensino de Língua Portuguesa deve basear-se na reflexão sobre o uso social da língua, em práticas situadas e contextualizadas. Os dois documentos também assumem uma perspectiva enunciativo-discursiva, na qual os gêneros — tipos relativamente estáveis, segundo Bakhtin — constituem-se como ponto de partida para o estudo da linguagem em funcionamento. Essa perspectiva fundamenta a noção de que tudo que ouvimos, lemos, falamos e escrevemos organiza-se em função de um gênero e, por isso, o ensino deve se basear no estudo de diferentes gêneros em situação de uso. Além disso, tanto os PCNs quanto a BNCC recomendam que a área de Linguagens deve

organizar-se com base nas práticas de linguagem, que se constituem como produtos culturais que organizam e estruturam as relações humanas. Em outras palavras, as práticas de leitura, escrita, oralidade e análise linguística e semiótica devem ser consideradas em seu caráter histórico e contextual. Nesse sentido, a própria linguagem, em ambos os documentos, é entendida como objeto de compreensão e de análise. Outro fator em comum é a concepção de que o texto (tanto o verbal como o não verbal) é o centro das práticas de linguagem, sejam elas de leitura/escuta, sejam de produção. Ao se considerar as dimensões oral e escrita da língua, privilegia-se o trabalho com a leitura, escuta, produção oral e produção escrita dos gêneros discursivos. Assim como os PCNs, a BNCC dá continuidade à ideia de que o ensino da gramática, bem como as práticas de análise linguística e semiótica, devem ser feitos de modo contextualizado, considerando a língua em uso e o texto como objeto de análise. Entretanto, é nesse eixo que há uma grande diferença entre os documentos, já que a BNCC explicita alguns dos pontos que julga importantes. Nos PCNs, o eixo da análise gramatical não foi abordado de forma objetiva, havendo somente

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[ POR DENTRO DA BNCC] o direcionamento para que o ensino de gramática tivesse como pilar a língua em situações de uso. Já na BNCC há um avanço na medida em que a questão gramatical é apresentada em conjunto com a análise linguística e semiótica, ou seja, tem-se como ­principal fundamento a ideia da prática reflexiva, na qual os estudantes devem se basear na reflexão sobre a língua para compreender suas formas de uso e, como consequência, potencializar os usos que fazem dela em diferentes contextos. Assim, a prática de análise linguística e semiótica (inclusive de textos multimodais e multissemióticos) deve ser trabalhada como meio de leitura/escuta e de produção oral/escrita e em conjunto com essas práticas, como fica evidente no trecho a seguir: “Essa dimensão analítica é proposta não como fim, mas como meio para a compreensão dos modos de se expressar e de participar no mundo” (BRASIL, 2017, p. 62). De acordo com o documento, a análise linguística e semiótica abarca tanto os conhecimentos linguísticos (tais como o sistema de escrita, o sistema da língua, a norma-padrão) quanto os conhecimentos textuais e discursivos, além dos modos de organização e os elementos de outras semioses. Outra diferença fundamental entre a BNCC e os PCNs se relaciona ao trabalho com os gêneros digitais. Considerando que os PCNs foram publicados em 1998 e a BNCC – Ensino Fundamental foi homologada no fim de 2017, quase vinte anos se passaram entre um e outro. Nessas duas décadas, diferentes práticas surgiram com o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e de comunicação. Por isso, o texto da BNCC traz a ênfase no trabalho com os textos multimodais e multissemióticos, pois grande parte dos gêneros digitais atualmente é constituída com base em diferentes modalidades (verbal, visual, gestual, sonora), como é o caso dos memes, textos de vlogs, vídeo-minuto, entre outros exemplos citados no documento. Assim, é papel da escola: (…) contemplar de forma crítica essas novas práticas de linguagem e produções, não só na perspectiva de atender às muitas demandas sociais que convergem para um uso qualificado e ético das TDIC [tecnologias digitais de informação e da comunicação] – necessário para o mundo do trabalho, para estudar, para a vida cotidiana etc. –, mas de também

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fomentar o debate e outras demandas sociais que cercam essas práticas e usos (BRASIL, 2017, p. 67). Nesse sentido, na BNCC, as práticas de linguagem relacionadas ao surgimento das novas tecnologias perpassam todos os eixos da área, isto é, leitura, escrita, gramática, análise linguística e semiótica, e oralidade. Outro aspecto que é enfatizado na BNCC se comparado ao texto dos PCNs é a questão da multiculturalidade. Considerando a grande diversidade cultural do país e do mundo, a BNCC propõe que o ensino na área de Linguagens leve em conta outras manifestações culturais além da canônica: Sem aderir a um raciocínio classificatório reducionista, que desconsidera as hibridizações, apropriações e mesclas, é importante contemplar o cânone, o marginal, o culto, o popular, a cultura de massa, a cultura das mídias, a cultura digital, as culturas infantis e juvenis, de forma a garantir uma ampliação de repertório e uma interação e trato com o diferente (BRASIL, 2017, p. 68). Portanto, os alunos devem, na escola, ter acesso a diferentes realidades da diversidade linguística e cultural, com o intuito de conhecê-las e valorizá-las a fim de evitar, por exemplo, o preconceito linguístico. Por fim, a última grande diferença entre os PCNs e a BNCC é a organização das práticas de linguagem em campos de atividade humana. Isso ocorre porque a BNCC apresenta as habilidades por meio da leitura/ escuta, da análise linguística e semiótica e da produção oral/escrita de textos pertencentes a gêneros que circulam nos diversos campos, evitando que elas sejam contempladas de modo genérico e descontextualizado. A BNCC parte do pressuposto de que as práticas de linguagem se realizam em campos de atuação, já que são derivadas de situações da vida social. Nesse sentido, a ideia de inserir os campos de atuação no documento revela a importância da contextualização do conhecimento escolar. A BNCC elenca cinco campos de atuação: Campo da vida cotidiana (somente anos iniciais), Campo artístico-literário, Campo das práticas de estudo e pesquisa, Campo jornalístico/midiático e Campo de atuação na vida pública, sendo que os dois últimos aparecem juntos nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com a denominação Campo da vida pública.


certamente possibilitará a manifestação de outros olhares e fazeres. Portanto, a BNCC, em ação, certamente ganhará propósitos que serão reconfigurados no exercício da docência.

Referências BRASIL. MEC. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. 468 p. ______. BNCC: Estudo comparativo entre a Versão 2 e a Versão Final. Brasília, 2017. Disponível em: http://cnebncc.mec.gov.br/docs/BNCC_Estudo_ Comparativo.pdf. Acesso em: 19 fev. 2019. Francisca Paris Educadora formada em Pedagogia, especialista em Psicologia e mestre em Educação. Foi presidente do Conselho Municipal de Educação e secretária de Educação de Ribeirão Preto. É a coordenadora do Curso EAD “Educa Brasil 2019: MUDANÇAS E CONTINUIDADES À LUZ DA BNCC”, um curso para que você compreenda e implemente a lei em sua escola e em sua sala de aula. É organizado pela Editora do Brasil, e você pode fazê-lo a qualquer hora, em qualquer lugar e gratuitamente.

Compreender

Progressão das aprendizagens 8 22

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A seguir, apresentamos o gráfico com as categorias utilizadas (no caso, a taxonomia de Bloom) para analisar os níveis de aprendizagem expressos nas habilidades de cada ano escolar, de maneira a assegurar a progressão de aprendizagem ao longo do Ensino Fundamental, considerando as especificidades do componente curricular Língua Portuguesa. Em Língua Portuguesa, pode-se verificar que das 416 habilidades a serem desenvolvidas ao longo do Ensino Fundamental, as demandas cognitivas do nível compreender e aplicar ocupam quase 70% da totalidade. Esse percentual nos indica que a maioria das práticas didáticas deve se pautar no estabelecimento de conexão entre o novo e o conhecimento previamente adquirido, associado à compreensão de fatos e a ideias de organização, comparação, classificação, entre outras, à execução ou ao uso de procedimento em uma situação específica e à solução de problema, com base no conhecimento adquirido, estratégias, técnicas etc. Finalizamos esta breve análise afirmando que o contexto da prática educativa, que constitui outro lugar de interpretação e implementação da BNCC,


[ LITERATURA E FAMÍLIA ]

A importância da leitura em família Renata Nakano, diretora do Clube de Leitura Quindim, conta como a leitura compartilhada entre pais e filhos estimula o diálogo e estreita laços de afeto.

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esenvolvimento emocional e intelectual, enriquecimento do vocabulário e a possibilidade da criação e evolução notável do senso crítico. Esses são alguns dos benefícios provenientes da implantação do hábito da leitura no ambiente familiar. O incentivo para despertar encantamento pelos livros é um importante ponto de partida para conhecer culturas e novas histórias sem sair do lugar. Além de tudo, o livro pode ser elo de aproximação entre pais e filhos, servindo como ferramenta para o diálogo. Ler para os filhos traz ganhos importantes para o desenvolvimento das crianças que vão além dos intelectuais e afetivos. De acordo com pesquisa feita pela Universidade de Nova York (NYU), em parceria com o Instituto Alfa e Beto (IAB) e o IDados, o hábito resulta em 14% no aumento do vocabulário, 27% de crescimento na memória de trabalho e diminuição de problemas de mau comportamento. Renata Nakano, idealizadora e sócia-diretora do Clube de Leitura Quindim e professora de pós-graduação, conversou conosco sobre o hábito da leitura em família e sua importância para o desenvolvimento de crianças e adultos. Leia a seguir!


Qual é a relação entre o afeto e o hábito da leitura? Quando você pergunta a alguém sobre quem é o seu maior incentivador à leitura, normalmente a resposta está relacionada a uma figura de afeto. Alguém que transformou o momento da leitura em uma experiência marcante, de prazer e de lazer. Quais as dificuldades para se criar o hábito da leitura em família? Considerando que a mãe brasileira tem uma tripla jornada de trabalho, que consiste no próprio emprego, cuidar da casa e do filho, jogarmos mais uma culpa para essa família não é algo que me parece justo. A partir do momento que a gente “abraça” essa mãe e tenta mostrar a importância da leitura naquele período antes de dormir, isso parece algo mais fácil de lidar. Percebo que as escolas têm dificuldades em chamar os pais para essa atividade. Muitas vezes, os pais acabam vendo a escola como uma ferramenta de educação terceirizada. Tentar chamá-los para essa responsabilidade é um grande desafio para todos nós, principalmente considerando que o afeto é o maior formador de leitores. Quais os benefícios da parceria entre escola e pais na introdução/criação do hábito da leitura para as crianças? Quando pensamos em leitura em casa, relacionamos o hábito com a questão do afeto. Portanto, professores e pais, figuras que normalmente possuem laços afetivos com as crianças, além de serem referências, devem entender que o hábito na escola e em casa precisam ser complementares. O aumento do vocabulário, o desenvolvimento das capacidades cognitivas e a memória são potencializados quando a leitura é trabalhada com prazer, além de desenvolver a empatia do leitor. Outro grande benefício é no entendimento de questões sociais complexas, como conflitos religiosos, racismo e temas que exigem reflexão e profundidade na busca por informações e conhecimento. Daí, vem a importância da leitura compartilhada. Como a leitura compartilhada pode ajudar na aquisição e desenvolvimento do conhecimento? Aqui no Quindim falamos muito sobre leitura compartilhada, quando adultos e crianças leem lado a lado. A criança contribui com seu olhar menos experiente, não condicionado, que tende a ver naquela leitura

algo que um ponto de vista adulto, um pouco mais condicionado, já não consegue enxergar. Já o olhar do adulto vai trazer o repertório, a experiência e pontos de aprofundamento no tema. A partir do momento que você senta ao lado do seu filho e lê com ele, vocês estarão entrando em contato diretamente com diversas frentes temáticas, gerando uma troca entre vocês. A leitura compartilhada acaba por ampliar as visões e compreensões do adulto e da criança, fazendo com que enxerguem mundos completamente diferentes. Como convencer os pais sobre a importância da leitura em casa? O primeiro trabalho da escola, sendo uma figura de autoridade perante as famílias, é dialogar com os pais. A partir do momento que você leva esse conhecimento que a família não tem sobre os benefícios do hábito da leitura, ela tem mais possibilidades de compreender essa necessidade. Isso deve ser trabalhado como uma opção de lazer e não como uma obrigação. Nem todo mundo vai gostar de ler. Mas todas as pessoas têm o direito à oportunidade da leitura e é nisso que as escolas devem se basear. Quais os impactos que a tecnologia em casa pode causar na implantação do hábito da leitura? Tudo utilizado com parcimônia pode ser bom. Principalmente pensando no objetivo de não criar crianças alienadas. O grande problema é quando passam muito tempo na frente das telas. Esse tempo exagerado é um período em que a criança poderia estar praticando atividades mais enriquecedoras e saudáveis, como brincar na rua, que ajudam a desenvolver habilidades sociais. É importante que diferentes atividades sejam trabalhadas em equilíbrio e que os pais sejam administradores de tempo nessa divisão. O hábito da leitura é… É incrível. A leitura trabalha habilidades cognitivas, socioemocionais, questões éticas, morais e contribui com riqueza na construção do caráter das pessoas. Atualmente, parece que não dispomos de tempo para praticamente nada. E o tempo que conseguimos destinar ao hábito de ler e incentivar as crianças a lerem é fundamental para que cada vez menos esse processo de educação seja algo terceirizado pelos pais e responsáveis.

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e n i r t i V

a i r á r e Lit

A leitura é muito mais do que um hábito inteligente: ela nos ajuda a entender melhor o ser humano e suas relações, a história do mundo e, consequentemente, nos dá preparo para crescer e enfrentar o dia a dia com mais sabedoria. sabedoria Quando temos a oportunidade de conhecer bons textos, ampliamos o desejo de ler e conhecer mais. Uma boa leitura puxa outra... Conheça algumas obras de literatura da Editora do Brasil.

A GRANDE IDEIA A partir de

5 anos.

Coleção De Todo Mundo Raquel é a menina mais alta da classe e acha que pode fazer o que quiser, como escolher a carteira da frente para se sentar. Luísa, porém, é mais baixa, e não consegue enxergar nada atrás dela. Raquel não quer ceder, mas as garotas precisam bem-hu-resolver esse impasse. De forma bem-hu morada, este livro é ideal para abordar temas como teimosia, empatia e desenvol desenvol-vimento de pensamento crítico. Assuntos: Conflito; convivência; teimosia; comporta comporta-mento. Tema transversal: Ética.

A partir de

8 anos.

QUE CABELO É ESSE, BELA? MEU MUNDO NO MAPA DO MUNDO Coleção Trupe-trinques A protagonista deste livro é apaixonada pelo atlas que ganhou de seu avô e fissurada em imaginar como seriam os outros lugares do mundo. Ela gosta de brincar de se imaginar em um país diferente e adora pensar que, mesmo com essas diferenças, os sentimensentimen tos humanos ainda são os mesmos. Ao longo das páginas, ela vai se deslumbrando com a diversidade, a beleza e as infinitas possibilipossibili dades que existem por aí. Assuntos: Diversidade cultural; viagem; imaginação. Tema transversal: Pluralidade Cultural.

A partir de

6 anos.

Bela e seus amigos adoravam brincar com a água que caía do céu, principalmente depois de descobrirem que o cabelo dela brilhava. Era um poder mágico que só ela tinha – ela era a menina do cabelo de brilho da chuva! Só que algumas pessoas zombavam dela, e Bela acabou se entristecendo. Por que não podia ser quem era? Sua mãe então lhe conta a origem de seu poder mágico, que nasceu com sua tatara-vó, uma mulher escravizada. E agora Bela tem a escolha de renunciar ou não a esse poder. Esta é uma narrativa encantadora e potente que fala, de uma maneira singela, sobre quebrar preconceitos e padrões de beleza. Assuntos: Empoderamento; preconceito; autoestima; aceitação pessoal. Tema transversal: Pluralidade Cultural.


LAYLA, A MENINA SÍRIA Coleção Mundo sem Fronteiras Layla veio de Alepo, no norte da Síria. Ela e sua família tiveram que deixar o país por causa da guerra, assim como quase todos os seus amigos e familiares, obrigados a procurar um lugar seguro para viver. Neste emocionante livro, Layla conta histórias do período tão conturbado que viveu antes de finalmente chegar ao Brasil. Como será ficar longe de tudo e todos que conhecemos, viver com tantas lembranças tristes, ter que recomeçar do zero?

A partir de

11 anos.

Assuntos: Guerra; direitos humanos; justiça; superação; mudanças; diferenças; imigrantes; cultura estrangeira. Temas transversais: Ética; Pluralidade Cultural.

A partir de

10 anos.

MEU PLANETA, MINHA CASA Coleção Histórias da Geografia Na escola, todos concordam que uma empresa grande pode ajudar muito o desenvolvimento de uma pequena cidade, gerando empregos e benefícios. Mas também concordam que a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente não podem ficar para trás nessa corrida pela modernidade. As pessoas precisam de emprego, mas nosso planeta precisa ser defendido das agressões que vem sofrendo há séculos. É possível conciliar tudo isso?

A partir de

13 anos.

Assuntos: Sustentabilidade; desenvolvimento; amizade. Temas transversais: Meio Ambiente; Trabalho e Consumo.

MINHA VIDA NÃO É COR-DE-ROSA Série Toda Prosa Enquanto busca seu lugar no mundo, a sensível protagonista deste livro precisa lidar com as responsabilidades, namoros e amizades complicadas. Além disso, tenta superar dois casos de assédio conversando com as amigas e com os pais, mobilizando-se na escola, sendo uma boa aluna e fazendo a diferença no mundo. Este livro intenso aborda temas difíceis de maneira bastante delicada, retratando com doçura o despertar para questões importantes, como o feminismo, a desconstrução de estereótipos, a igualdade e os direitos humanos. Assuntos: Adolescência; amadurecimento; conscientização; assédio; feminismo. Tema transversal: Ética.

A partir de

13 anos.

A partir de

13 anos.

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

ROMEU E JULIETA

Coleção Biblioteca Shakespeare

Coleção Biblioteca Shakespeare

A obra relata três tramas: Hérmia, Lisandro, Demétrio e Helena e suas confusões amorosas, o rei dos elfos Oberon e a rainha das fadas Titânia e seus desentendi desentendimentos e magias, e Pedro Marmelo e sua trupe, que estão ensaiando uma peça. Com este delicioso texto, repleto de magia, confusões e humor, os leitores poderão ter um primeiro contato com esta divertida peça, uma das mais célebres obras de Shakespeare, em linguagem modernizada.

Este livro traz a clássica história de amor escrita por Shakespeare, a mais famosa de todos os tempos. Romeu e Julieta se consagraram como o casal apaixonado que vive um amor impossível, pois suas famílias são inimigas. O trágico final é conhecido por todos, mas a emoção de ler essa história em texto integral é única, e desfrutá-la em linguagem atualizada certamente encantará os jovens leitores.

Assuntos: Clássicos; amor; família; teatro; fantasia. Temas transversais: Ética; Pluralidade Cultural.

Assuntos: Clássicos; amor; família; teatro. Temas transversais: Ética; Pluralidade Cultural.


[ EM ALTA ]

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROJETOS INTEGRADORES: DESAFIO E QUALIDADE NA EDUCAÇÃO Saiba como os professores atuando em projetos levam os alunos a uma aprendizagem mais significativa e geram uma grande oportunidade de construção de saberes docentes e formação profissional.

Maria Cecilia Guedes Condeixa

N

este artigo, abordarei o trabalho com projetos integradores a partir da perspectiva da vivência escolar como um todo. Começo com memórias sobre escolas que conheci, ainda sem focar nas práticas com projetos. Desse modo, convido meu leitor a refletir sobre sua vivência escolar, como aluno, como professor ou como gestor, pensando sobre o que pode alavancar a qualidade da educação e se essa qualidade perpassa as relações entre os membros da comunidade escolar. Isso porque para pensar nos projetos

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Projetos integradores Projetos integradores trazem desafios para as equipes de professores e a promessa de tornar a escola mais dinâmica e interessante. Ao planejar projetos para diversos componentes curriculares, o coletivo de educadores — professores e gestores — promove estudos enriquecedores, conhece melhor os alunos e torna a escola um lugar que se abre para o mundo. Assim, criam-se oportunidades para a equipe agir coletivamente nos processos de aprendizagem e de interação social. Temas contemporâneos relacionados ao meio ambiente, à diversidade cultural ou às questões socioemocionais, por exemplo, são interessantes para diversos componentes curriculares. Esses tópicos podem e devem ser tratados a partir de diferentes pontos de vista específicos. Projetos integradores são interessantes para a abordagem dos temas. Se os alunos estudam um assunto específico com o apoio de diferentes professores, sua visão será ampliada. Poderão mais facilmente perceber as conexões entre fatos que pertencem a diferentes componentes e aperfeiçoar opiniões. Para os estudantes, a pesquisa individual orientada e socializada com colegas, a discussão e o registro em grupos, a troca de ideias e de opiniões, a tomada de decisões e a organização de conclusões estabelecem aprendizagens valiosas para a vida toda. Remetem para o “aprender a aprender”, essencial para a autonomia dos estudantes. Professores atuando em projetos necessitam delimitar as questões norteadoras ou a problematização que desencadeie as pesquisas sobre um tema concebido. Precisam oferecer aos alunos repertórios de pesquisas e modos de apresentar resultados. Trabalhar esses e outros tópicos dos projetos, coletivamente, é uma grande oportunidade de construção de saberes docentes e formação profissional. Por tudo isso, o projeto integrador é um desafio recompensador para a escola, para os alunos e para os educadores. Maria Cecilia Guedes Condeixa Licenciada e bacharel em Biociências. Docente em escolas públicas e privadas. Autora de materiais educativos, experiente em formação de professores e consultora em currículo e avaliação.

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integradores vale pensar primeiro na escola, em seu entorno, seu papel na comunidade e seus significados além dos muros. Há certo tempo, morava em um bairro na capital paulista que contava com três escolas públicas. Sabia que duas dessas escolas eram muito procuradas pelos pais, que faziam fila no começo do ano em busca de uma vaga para seus filhos. Mas não às portas da terceira escola, onde aparentemente “sobravam” vagas. Em conversas informais pelo bairro, e também com educadores de outros segmentos, soube que uma dessas escolas mais procuradas produzia anualmente uma animada festa junina e, durante o ano, costumava levar classes para visitas a museus e teatros. A outra escola, também procurada, mantinha um trabalho forte em Educação Física e convidava as crianças e jovens do bairro para jogos em finais de semana. A escola pouco requisitada não se sobressaía em atividades extraclasse. No entanto, isso ainda não explicava o sucesso das duas primeiras. Foi na qualidade de formadora de professores, durante uma ação da Secretaria de Estado de Educação, que estive com professores dessas escolas. É claro que todos conheciam por alto as unidades da região. Eu queria saber se as mais procuradas tinham algo em comum, mas não estava à vontade para perguntar diretamente sobre as propostas de cada uma. Haveria algo além de fazer atividades extraclasse e abrir portão para a comunidade em finais de semana? Descobri que sim. Ambas contavam com gestores dinâmicos, que incentivavam e orientavam a formação ­continuada ou em serviço de seus professores. A informação pode ser percebida pelos comentários dos professores e também por algumas posturas, indicativas de hábito de interação com os colegas. Não foi difícil perceber que a formação continuada e em serviço de professores espelha uma recomendação das teorias e pesquisas educacionais: trabalho em equipe constitui um dos pilares da qualidade da educação. Porque não basta a universalização da escola, ela precisa avançar em qualidade, com mais coesão e sentido nas ações de ensino e aprendizagem, bem como com a formação em serviço de seus educadores. Nesse intento, não bastam currículos, propostas e planejamentos — embora sejam essenciais. As relações estabelecidas têm papel fundamental entre os integrantes da comunidade escolar e as ações para seu aperfeiçoamento.


o v No

A coleção Tempo foi elaborada de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Seus principais objetivos são desenvolver as competências do aluno e valorizar o trabalho docente. Por meio de situações cotidianas de aprendizagem, possibilita a aquisição gradual do conhecimento e oferece grande variedade de recursos pedagógicos, combinando metodologias consagradas, como atividades de sistematização, com práticas inovadoras.

É uma coleção completa, que contribui para o desenvolvimento da autonomia e das competências socioemocionais do aluno!


Imagens meramente ilustrativas

Português

Matemática

Ciências História Geografia

Agende uma visita com o divulgador de sua região!


CHEGOU O LEB: A plataforma da Editora do Brasil que incentiva professores e alunos a irem além da sala de aula.

O Laboratório Educacional Brasil é um ambiente virtual especialmente elaborado para proporcionar uma experiência dinâmica com o conteúdo digital das coleções didáticas. A plataforma traz, para os alunos, recursos que complementam os assuntos estudados em sala de aula e, para os professores, ferramentas para a prática de um ensino atrativo e de qualidade.

Saiba mais: www.editoradobrasil.com.br/leb


[ INCLUSÃO ]

A realidade da educação inclusiva no Brasil

U

ma das questões atuais mais debatidas no cenário da educação é a importância de uma sala de aula composta por recursos destinados ao processo de inclusão no ambiente escolar. A grande maioria dos alunos que apresenta condições especiais e depende da rede de ensino regular pública acaba tendo de enfrentar diariamente diversos obstáculos. A inclusão de alunos com deficiência nas escolas regulares é algo que está garantido por lei. O Poder Público, segundo a LDB, Lei nº 9.394, de 1996, coloca como alternativa preferencial a ampliação do atendimento aos estudantes com deficiência na própria rede pública regular de ensino. No entanto, uma das barreiras no processo de educação de alunos com deficiência é a inevitabilidade de uma metodologia específica e idealizada exclusivamente de acordo com cada necessidade. Para que a inclusão dessas crianças ocorra de maneira adequada, é fundamental que as escolas passem pelas adaptações necessárias para a integração das pessoas com deficiências enquanto cidadãos, com direitos e deveres de participação e contribuição social. Porém, na rede pública de ensino regular a inadequação dos espaços é algo notável e comprovado. Isso se agrava ainda mais quando essas incompatibilidades e falta de preparo também se fazem presentes no corpo docente, causando confusão e insegurança entre professores e outros profissionais da área educacional. Apenas professores devidamente treinados são capazes de atender de maneira adequada os alunos com deficiência, considerando as dificuldades da complexa rotina de um estudante com deficiência nas escolas. A maior parte dos professores que trabalha em salas de aula regulares ainda não conta com uma instrução voltada à Educação Especial. Para auxiliar na inclusão dos alunos, é imprescindível que os docentes tenham acesso a materiais e cursos que possibilitem

o desenvolvimento das habilidades e sensibilidades necessárias, além da maior compreensão sobre como atender e lidar com alunos com deficiência. São fatores contraditórios que colocam a escola como uma instituição de papel ambíguo na educação inclusiva, uma vez que abre as portas aos alunos com deficiência, sem apresentar condições ideais para recebê-los, sendo que a Educação Especial deve ser parte integrante do Sistema Geral de Educação e não um sistema isolado.

Educação Especial no trabalho de inclusão A Educação Especial consiste no ramo da área educacional direcionado ao atendimento e à educação de pessoas com alguma deficiência em instituições de ensino regulares ou ambientes especializados para algum tipo de deficiência. No Brasil, em relação à Educação Especial, foi aprovado pela Lei nº 13.005, de junho de 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE), que traça estratégias e metas para a agenda de políticas educacionais do país até 2024. Dentre os objetivos do PNE está a universalização da educação para todas as pessoas de 4 a 17 anos de idade, sejam quais forem os tipos de transtornos globais de desenvolvimento, deficiência, altas habilidades ou superdotação. A meta é que tenham acesso à Educação Básica e, também, a um atendimento especializado dentro da rede regular de ensino. O desafio da reforma do ensino demanda conscientização e o preparo de professores, técnicos, auxiliares, famílias e comunidade sobre a integração dos alunos com deficiência. É importante que haja monitoramento contínuo para garantir o cumprimento das metas do PNE. A educação inclusiva no Brasil ainda está em estágio inicial, e há muito o que se desenvolver tendo em foco um sistema de ensino mais inclusivo e equitativo.

2019 | Arco43 em Revista nº1 | 31


[ METODOLOGIAS ATIVAS ]

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O uso das metodologias ativas no processo de aprendizagem 32 | Arco43 em Revista nÂş1 | 2019

JosĂŠ Moran conta um pouco sobre como escolas e professores encaram o desafio de transformar o aluno em protagonista dentro da sala de aula.


A

utilização das metodologias ativas na sala de aula propõe tirar o aluno do papel de ouvinte para colocá-lo numa posição em que ele participe e interaja mais no processo de aprendizagem. Essa mudança representa um choque com o sistema de ensino tradicional do país. A implantação de metodologias ativas é um processo que deve ser alinhado entre escolas, professores e alunos. Para esclarecer este cenário de transformação no ensino brasileiro, conversamos com José Moran, doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável por projetos inovadores de educação presencial e on-line, focados em metodologias ativas. Confira!

e assumir o papel de orientador, mentor. Isso significa uma mudança cultural gigante.

O que são as metodologias ativas de aprendizagem? São processos que trabalham todo o conhecimento já existente em um plano de ensino, transformando o aluno em protagonista. Neste cenário, ele ganha autonomia para planejar, refletir e tomar decisões nas atividades propostas segundo suas características e pensamentos próprios, sem pressão.

Como conscientizar e convencer os pais sobre a importância das metodologias ativas? É necessário que as escolas expliquem claramente a proposta, mesmo que muitos não concordem com ela. É preciso detalhar seus benefícios com casos de instituições que adotaram o modelo e o implementaram com êxito. Tudo isso para mostrar aos pais que há um planejamento estratégico e para acabar com o medo de que seus filhos não estejam sendo devidamente preparados para enfrentar vestibulares e demais testes importantes no futuro.

Quais os benefícios das metodologias ativas? Sem dúvida, é a maior efetividade na difusão de conhecimento. O aluno presente em uma aula expositiva acaba retendo informações, porém, de forma superficial. Ao participar e interagir, esse processo torna-se mais eficaz. Fica mais fácil enxergar um sentido naquilo que é passado pelo professor, além de gerar impactos maiores, emocionais e intelectuais. Qual é o maior desafio dos professores no trabalho com essas metodologias? O professor precisa entender e aceitar que há um caminho que facilita e potencializa o aprendizado do aluno, mas que é necessário abandonar o protagonismo

E para escolas e gestores? O desafio da escola é mostrar o caminho para os professores que lá trabalham. O mais importante é sinalizar para toda a comunidade escolar, incluindo alunos, professores, coordenadores e pais, que o caminho será a implementação progressiva dessas novas técnicas. O processo passa pela capacitação dos professores em trabalhar com as metodologias ativas e pelo estabelecimento de metas para que haja o avanço e a evolução dessa implantação. A ciência nos diz que aprendemos mais em situações desafiadoras que nas previsíveis. O modelo de escola tradicional é previsível demais.

Quais técnicas das metodologias ativas você destaca? Gosto muito da chamada “sala de aula invertida”. Essa técnica faz com que o professor tenha que explicar menos e o aluno estude por conta própria, que elabore projetos especiais, com o apoio de materiais indicados pelos educadores. Outra alternativa interessante são as atividades em grupo. Traz desafios fantásticos no desenvolvimento de papéis, aprender a negociar, em lidar com culturas e visões diferentes e saber trabalhar com os tempos e ritmos de cada um.

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[ TECNOLOGIA EDUCACIONAL ]

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TICs na educação: como tornar o ensino tecnológico? 34 | Arco43 em Revista nº1 | 2019


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oje em dia, talvez seja ­impossível encontrar professores que não tenham sentido na pele o impacto do desenvolvimento tecnológico que presenciamos nos últimos anos. Com essa evolução, “prática” e “vivência” tornaram-se as palavras da vez. Tendo isso em vista, a aproximação do cotidiano de alunos é primordial para a criação de um bom processo de aprendizado. É aí que entra um dos mais importantes papéis das TICs, as Tecnologias da Informação e Comunicação. Como os processos de digitalização ganham cada dia mais espaço em amplos setores da sociedade, experiências digitais tornaram-se um dos principais caminhos de interação social. Dessa forma, sua chegada às salas de aula sempre foi esperada e hoje se faz mais necessária do que nunca.

O que são TICs? O termo TICs abarca tecnologias de hardware, software e telecomunicações. O nome parece complexo, mas o conceito pode ser exemplificado pelas mais básicas ferramentas que utilizamos para interações. Desde computadores pessoais até redes sociais de vídeo como YouTube e Vimeo estão dentro da sigla.

Essa facilidade de acesso a dispositivos tecnológicos altera muitas coisas. Além de possibilitar novas experiências dentro do ambiente escolar, também transforma os assuntos abordados e as habilidades de interesse dos alunos. E, por isso, a boa utilização de tecnologia é uma forma de as escolas se conectarem de fato aos educandos.

Mais que importante, fundamental A aplicação das TICs na educação é muito mais que um desejo por uma escola moderna. Com a utilização desses recursos, alguns benefícios indispensáveis ao crescimento intelectual, social e cultural são desenvolvidos. A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconhece a importância de incorporar essas tecnologias nos processos de aprendizagem. Segundo a organização, dar esse passo coloca a sociedade mais próxima de um ensino que, além de ter qualidade, dialoga com o conceito de equidade. Mas como ter maior facilidade ao incorporar as TICs? Como equilibrar o uso de novas tecnologias com recursos consolidados? Qual o caminho para as aulas seguirem alinhadas às inovações? Para responder essas e outras dúvidas que cercam a adoção de novos recursos educativos, conversamos com

A busca por ferramentas tecnológicas nas escolas cresce em todo o país. Claudio Sassaki, cofundador da Geekie, aborda o tema e explica como as TICs podem impactar positivamente tanto nos professores como nos alunos.

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[ TECNOLOGIA EDUCACIONAL ] Claudio Sassaki, mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie. Você acha que as escolas conseguem incorporar as TICs com facilidade? Essa questão me remete à crença comum da resistência de professores a inovações educacionais tecnológicas, porque um tema educacional recorrente é que os millennials, também conhecidos como geração Y, têm demandado mais tecnologia dentro da sala de aula. Ouso discordar. Em sete anos de atuação da Geekie — que alia tecnologia de ponta às metodologias pedagógicas inovadoras que potencializam o aprendizado —, comprovamos com mais de 12 milhões de alunos e 5 mil escolas que o entusiasmo com a tecnologia é compartilhado por alunos e docentes. Claro que por motivos distintos, mas igualmente relevantes no universo educacional. A Geekie atua para auxiliar professores e alunos no objetivo comum de ressignificar o processo de aprender com a união de tecnologia e metodologia. Pessoalmente, vejo com muita tranquilidade esse processo de incorporar as TICs nas salas de aulas.

Mas gostaria de fazer uma ressalva — um contraponto, inclusive. Na Geekie, acreditamos em um modelo híbrido com uso de tecnologia, lousa, caderno, conteúdo significativo e a mediação do professor; um modelo que representa inovação ao colocar o humano, professor e aluno, no centro do processo educacional. Com a experiência de ter atendido mais de 12 milhões de alunos brasileiros nos últimos sete anos, criamos o Geekie One, plataforma de educação personalizada que conta com conteúdo integrado a dinâmicas inovadoras, conteúdo alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), canais multimídia e metodologias que potencializam a aprendizagem. A Geek One atua com a captura de dados para individualização do aprendizado, recursos mais dinâmicos como GIFs, vídeos etc., mobilidade e recursos que extrapolam a interação entre dispositivo e aluno e também possibilitam metodologias mais ativas. Imagem: Shutterstock

Acredito que devemos — toda a comunidade escolar — apoiar o desenvolvimento de habilidades para que os jovens tenham sucesso no aprendizado, no trabalho e na vida; jovens capazes de não somente enfrentar os

desafios do futuro, mas transformá-lo com o exercício pleno da cidadania. E a internet e os dispositivos tecnológicos são parte importante dessa equação. Mais do que atrair interesse, a tecnologia deve estar próxima da linguagem do estudante, gerando identificação e motivação. Na prática, a tecnologia não é mais um diferencial para os jovens; diferente é o fato de a escola ser o único lugar onde a tecnologia fica de lado na vida deles.

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Como manter o ambiente de ensino sempre em sintonia com as TICs aderidas por alunos em suas rotinas quando o desenvolvimento é tão rápido? A principal dica é incluir o professor nesse processo. Ou seja, questionar como a tecnologia impacta a vida do educador. Em uma sociedade de múltiplas exigências simultâneas, caracterizada pelo avanço tecnológico e o amplo acesso à informação, o professor está diante de novos desafios para atender à demanda de pais e estudantes. Entre os desafios mais presentes está a gestão do tempo. No Brasil, os docentes utilizam 12% do tempo administrando tarefas, 20% mantendo a ordem na sala de aula e 67% dedicando-se ao ensino e aprendizagem de acordo com pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando lançamos uma lupa nesses dados, vemos que grande parte do tempo é dedicado às atividades operacionais como corrigir exercícios e provas; preencher listas e tabelas; elaborar e revisar planejamento; calcular notas; e uma infinidade de ações que, embora importantes, podem ser revistas com apoio da tecnologia. Um computador nas mãos dos professores, por exemplo, elevou a nota no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) em 2,7 pontos. Usar tecnologia em sala extrapola a visão sobre a capacitação de professores para o uso da ferramenta. Estamos falando de como os recursos tecnológicos ajudam a tornar a aula uma experiência mais dinâmica e completa. Algo almejado por alunos, professores, pais e toda a comunidade educacional. O Geekie One é um exemplo de que, quando acolhida com intencionalidade pedagógica, a tecnologia possibilita que os professores tenham mais tempo para interações pessoais e de aprendizagem significativa com os alunos. A personalização trazida pela tecnologia representa um ganho para professores e alunos; ambos recebem feedback constantemente por meio do uso de plataformas tecnológicas. Os alunos têm, individualmente, mais tempo com os professores — o que resulta em muito mais protagonismo, entusiasmo e orgulho dos próprios resultados. O professor, por sua vez, associa o feedback que recebe sobre o próprio trabalho como algo extremamente produtivo. Na prática, essa atualização tecnológica é parte de um cenário com o qual temos que aprender a lidar. E há muitos mecanismos que ajudam as escolas nesse processo.

Como estabelecer uma boa relação entre recursos já consolidados e novas TICs? É uma excelente questão e remeto, aqui, à resposta da primeira questão. Acredito em um modelo híbrido com uso de tecnologia, lousa, caderno, c­ onteúdo significativo e a mediação do professor; um modelo que representa inovação ao colocar o humano — professor e aluno — no centro do processo educacional. Na prática, abrir mão de um pensamento único; não apostar em um só modelo, mas integrar diferentes recursos em prol de uma educação conectada às demandas do século XXI. Quando pensamos no desafio da motivação do aluno, por exemplo, também enxergo a tecnologia como aliada de recursos já estabelecidos. No Brasil, de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), 50% dos jovens brasileiros não conseguem concluir o Ensino Médio até os 19 anos. A necessidade de trabalhar, que pode vir à mente como principal fator da evasão escolar, não é o primeiro motivo: 40% dos jovens que abandonaram os estudos apontam o desinteresse, de acordo com a pesquisa da Fundação Getulio Vargas. Então, como tornar a escola mais interessante e relevante? Na minha opinião, fazendo com que recursos diferentes dialoguem. Vejo que a tecnologia na educação não se limita a deixar o conteúdo mais atrativo: ela permite que os professores conheçam necessidades de cada aluno em tempo real, de forma personalizada, e possam ajudá-los antes que travem, fiquem desmotivados e desistam por não estarem aprendendo. Qual a importância das TICs na inclusão de pessoas com necessidades especiais? Quais as ferramentas mais essenciais para escolas adotarem? Oferecer amplas possibilidades é um meio de contemplar estudantes com diferentes necessidades e preferências. Com isso, entendemos que o Geekie One — falando da nossa solução que usa tecnologia com intencionalidade pedagógica — guarda algumas características que podem ajudar o aluno. Por exemplo, os capítulos são desenvolvidos de modo a intercalar textos, imagens e exercícios. Com isso, os estudantes podem se apoiar no recurso com que tiverem mais afinidade. Além disso, como é recomendado para alunos hiperativos a não permanência em uma única tarefa, pode-se optar por mesclar teoria e prática.

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[ TECNOLOGIA EDUCACIONAL ] Outra característica do material desenvolvido pela Geekie refere-se à linguagem. Ela é direcionada para o aluno, sendo assim, direta e simples. O objetivo é permitir uma compreensão mais fácil, bem como maior engajamento. Adicionalmente, a parte de gerenciamento de atividades ajuda famílias e estudantes a priorizar os estudos e tarefas de casa. Por fim, pode ser utilizado em três tipos de dispositivos (celular, tablet e chromebook), que possibilita a diversificação da forma de estudar e facilita o uso de recursos complementares. Geralmente, recomendamos o uso do chromebook, porque permite um estudo mais focado, com menor probabilidade de intercorrências. Por outro lado, o tablet pode ser mais recomendado se ele usa lâminas coloridas para leitura, por exemplo. Quais as maiores barreiras para que a tecnologia faça parte do ensino? Acredito que uma das principais barreiras seja reconhecermos que a escola também sofre o peso do tempo. Em um panorama mais amplo, como especialista em educação e empreendedor, tenho rodado o mundo palestrando sobre o tema com um olhar muito voltado à escola brasileira e às referências educacionais no exterior. Na edição de 2018 do Fórum Econômico Mundial para América Latina, cujo tema transversal foi a Quarta Revolução Industrial — um momento no qual o mundo está interconectado, mas a organização geopolítica e os problemas globais não correspondem à forma como estamos organizados —, a minha colaboração foi levar o olhar da tecnologia e inovação, dentro de um contexto educacional real e prático. Quando se pensa que a escola atua com o desafio de preparar o aluno para competências do século XXI — mas que ainda perpetua um modelo de trabalho ­baseado nas habilidades necessárias na época da Revolução Industrial —, percebe-se que a proposta educacional adotada por grande parte das escolas está distante de um modelo de trabalho e de vida em sociedade com pensamento crítico, autonomia e visão de futuro. Por isso, a principal barreira é reinventar a escola. No cerne do desafio de preparar jovens para o mercado de trabalho do futuro, está a necessidade de questionar um sistema educacional no qual as habilidades que ele se propõe a desenvolver — basicamente, memorização e preparação para um exame vestibular

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— não têm nada a ver com habilidades e competências que o mercado de trabalho exige (criatividade, pensamento crítico, trabalho em equipe e comunicação). Ou seja, o oposto do que o modelo tradicional executa ao manter o aluno sentado em uma carteira, em postura passiva, copiando textos e estudando sozinho para a prova. Essa falta de sintonia entre escola e educar para o futuro está custando caro, e nossos filhos estão abandonando a sala de aula. O problema do acesso universal à uma educação de qualidade não é só social, mas também uma questão de competitividade! Se o país não garantir que todas as pessoas que passam pelo sistema educacional tenham capacidade de desenvolver plenamente o próprio potencial, corremos o risco de deixar vários “Stephens Hawkings” pelo caminho. Se o Brasil ­quiser ser um país competitivo, precisamos que todas as crianças tenham uma educação de qualidade. Temos que mudar, no mínimo, o Ensino Médio para aproximar essas duas pontas; para que o dia a dia do aluno na escola seja conectado com o que vai ser demandado no mercado de trabalho. O primeiro passo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é direcionar o ensino para habilidades e competências, mas para que isso aconteça há um longo caminho. E esse caminho tem muito a ver com levar inovação, tecnologia, empreendedorismo e noção de cooperação para dentro da sala. Muitas vezes, a escola ainda está distante de ser um ambiente de colaboração; o estudante por vezes está sozinho, o pai tem que contratar professor particular para esclarecer dúvidas adicionais. O professor também está em uma jornada solitária, dando aulas em várias escolas, sem tempo de estabelecer vínculos; o coordenador vive uma rotina sobrecarregada de cobranças. Ou seja, cada um está imerso no próprio cotidiano, sendo que a escola deveria ser um lugar de colaboração e corresponsabilidade em prol de um objetivo maior. Um lugar de encontro para alunos, pais, professores e coordenadores; todos unidos em uma comunidade escolar de fato. Esse desafio de criar uma “nova edição crítica da escola” passa por toda a comunidade escolar, mas acredito que passa necessariamente pela coragem das famílias de exigir a transformação; passa por não ter


medo da mudança e de lançar um olhar crítico para esse modelo escolar que tem origem no século XII. E não se trata de jogar tudo fora, como se nada fosse bom ou passível de edição. Estou falando de reconhecer conteúdos relevantes e transformar o que não dialoga com o mundo atual. Essa é uma decisão urgente, pessoal e intransferível. As famílias também precisam assumir o protagonismo na transformação da escola. A educação brasileira está conseguindo aderir às novas TICs?

Então defendo firmemente a educação digital. Devemos preparar nossos filhos para lidar com a complexidade da vida digital e as consequências fora dela. O aluno tem que ser preparado para ver e compreender a relevância desse conhecimento, entender como pegadas digitais influenciam na forma como ele será visto na internet; como a reputação on-line pode influenciar a busca de um emprego ou vaga acadêmica, no futuro. Esse aprendizado envolve disponibilizar insumos para o alcance da cidadania, ou seja, uma aprendizagem significativa, muito relevante para o cotidiano desse estudante.

Imagem: Shutterstock

A questão é complexa. Mais do que aderir às novas TICs está no centro da questão o desafio de incluir a educação digital nesse contexto. O primeiro ponto é de que nada adianta ter um hardware (computador, celular, tablet), sem um software (plataforma digital, programa, aplicativo) propício para complementá-lo. Esse erro é muito comum, mas dispositivos por si só não trarão benefícios ao aprendizado, eles são apenas canais que dão suporte a iniciativas desenvolvidas para isso. Acesso à tecnologia, o aluno já tem — e não é simplesmente isso que o fará se desenvolver. Outra atenção relevante é a inclusão da gestão e docentes no planejamento tecnológico. Não faz sentido um equipamento por aluno sem a integração desse projeto com a própria escola.

Sobre a educação digital, outro ponto que acho muito relevante nesse contexto, é que precisamos lidar — dentro e fora da escola — com questões como assédio on-line, cyberbullying, fake news, entre outros. Educar jovens para os desafios e ­oportunidades das redes sociais é um tema de especial relevância diante do aumento de intolerância nas redes, por exemplo. Uma pesquisa sobre cyberbullying, conduzida pelo Ipsos com 20,8 mil pessoas em 28 países, aponta o Brasil como segundo no número de agressões on-line. A cada dez pais entrevistados, três disseram que os filhos sofreram violência na internet; 53% afirmaram que o ataque partiu de colegas de classe por meio de redes sociais.

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[ MOVIMENTO MAKER ]

Como o movimento maker pode ser um grande aliado dos educadores? Entenda como o movimento maker pode ser aplicado na escola com praticidade e baixo custo.

Q

uem nunca ouviu um “se vira” ou “dá seus pulos”? Esses singelos conselhos que muitos já ouviram na vida, encontram sentido no movimento maker, cultura que vai fundo no conceito DIY, abreviação para do it yourself, em tradução literal do inglês: “faça você mesmo”. Apesar de uma ascensão impulsionada pelo avanço tecnológico, o “faça você mesmo” não é recente na linha do tempo da história humana. Afinal, quantas pessoas já não construíram, por exemplo, as próprias casas? A verdade é que a cultura maker pode ser vista nas mais diversas áreas, da agricultura ao audiovisual, e, claro, passando também pela educação. Por impulsionar o desenvolvimento da criatividade tanto em atividades manuais, como em outras atividades digitais, a cultura maker tem potencial para transformar a relação de alunos com o aprendizado.

Imagem: Shutterstock

História do movimento maker As iniciativas aos moldes “faça você mesmo” não são recentes, mas a consolidação e conceituação do movimento, sim. Em 2005, Dale Dougherty, empreendedor e escritor, fundou a revista Make:, primeira publicação focada nessa cultura. Esse momento é considerado a fundação do movimento retratado pela revista. Além do material escrito — que chegou a ter uma tiragem de cem mil unidades por mês —, a Make: também foi responsável pela organização da Maker Faire,

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feira de inventores que reunia criações artísticas, de engenharia, científicas, entre outras, em vários lugares do mundo. Só na primeira edição, a feira recebeu cerca de 250 mil visitantes. Tamanha relevância chegou a ser decisiva para que alguns empreendimentos começassem a se envolver na expansão dessa cultura. Daí pra frente, a internet cumpriu bem seu papel e popularizou a tendência em diversos cenários sociais.

Desafios das escolas e profissionais Mesmo com potencial para otimizar o aprendizado de alunos das mais diferentes faixas etárias e contextos sociais, ainda há muito o que ser feito para que escolas consigam reproduzir um ambiente maker em suas dependências. E esse desafio vai desde a estrutura das aulas até a arquitetura das instituições. Em entrevista ao Estadão, Dougherty reafirmou essa necessidade. O fundador da revista Make: destacou que hoje temos escolas que geralmente centralizam o conteúdo nos professores, o que ele alega desencadear um sentimento de não pertencimento no corpo discente. Essa sensação é um dos principais quesitos nos quais a presença da cultura maker nas salas de aula pode auxiliar — e não é só Dougherty quem identifica isso. Em entrevista para o Arco43 Podcast, Vinícius de Oliveira, editor do Porvir, iniciativa de comunicação e mobilização social para difundir inovações na educação, destaca que num momento em que tanto alunos quanto professores estão insatisfeitos com a educação, levar o ensino e a aprendizagem para um lado mais prático faz todo o sentido. “Quantas vezes ao longo de nossa vida escolar não nos perguntamos ‘por que estamos aprendendo isto?’. Mentalmente, respondíamos: ‘porque cai na prova de amanhã ou da semana seguinte’. Nesse modelo de educação, o aluno era colocado em um papel passivo, em que somente absorvia conteúdo. Para isso, basta memorizar as ­mesmas perguntas que quase sempre demandam as mesmas respostas”, constata Vinícius. Mas atenção: inserir qualquer aparelho tecnológico na rotina dos alunos não é, necessariamente, trabalhar cultura maker: “Não se pode achar que comprar impressoras e kits de robótica caros são suficientes para que professores utilizem o espaço. O risco de subutilização é grande, caso não seja feito um trabalho de capacitação de todos”, alerta Vinícius. Essa diferenciação é importante, pois, muitas vezes, as ferramentas para implementação da cultura maker

já estão à disposição dos educadores. Para Vinícius, o caso da professora Débora Garofalo mostra que a necessidade de usar os aparelhos mais avançados não é verdadeira. Finalista do prêmio Global Teacher Prize, o “Nobel da Educação”, ela faz uma aula diferente, em que os alunos ocupam um papel ativo, mesmo usando tecnologias bastantes simples. Ele ainda destaca que o segredo para dar esse passo está mais em “uma mudança de comportamento do que na compra de tecnologia de ponta. Lógico que grandes máquinas vão trazer agilidade ao processo, mas isso não é o essencial para começar”. Mas se o “faça você mesmo” não está diretamente ligado ao uso de avançadas inovações, por que está tão atrelado à tecnologia? Com todo o crescimento das ferramentas que utilizamos cotidianamente e os processos de digitalização em áreas que vão desde espaços de lazer a supermercados, é inevitável que ideias frequentemente precisem de alguma forma de recursos digitais para serem concluídas. Antes mesmo da entrada da digitalização em nosso modo de viver e pensar, a eletricidade, por exemplo, já estava arraigada no dia a dia. Logo, na necessidade de gerar energia também acaba sendo inerente a realização de muitas ideias.

Conhecimento livre Uma característica que liga a cultura maker diretamente aos ambientes de estudo é que a divisão de conhecimento é inerente ao movimento. Trata-se do conceito open source (código aberto, em tradução livre). Um dos, digamos, princípios maker é a reprodutibilidade de uma criação. Ou seja, o potencial que o projeto inventado tem de ser replicado. Para isso, criar pontes diretas com o livre acesso à informação se faz fundamental. Nesse contexto, onde há o anseio de tirar ideias avançadas do papel e proporcionar a receita de como é feito, surge a importância de ferramentas básicas da cultura maker, como o Arduino. Criado na Itália pelas mentes dos pesquisadores Massimo Banzi, David Cuartielles, Tom Igoe, Gianluca Martino e David Mellis, o Arduino é uma placa com um microcontrolador que pode ser criado, modificado, melhorado e personalizado de várias formas a partir de seu desenvolvimento. Como para programá-lo basta qualquer computador com conexão USB, é uma das ferramentas mais

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[ MOVIMENTO MAKER ] acessíveis. Sua utilização pode ir desde a robótica até melhorias e criação de sistemas de luzes. Essa retroalimentação da cultura maker, uma vez que incentiva as pessoas a criarem de forma a possibilitar que outras aprendam a transformar ideias em realidade, vai ao encontro da busca por uma formação mais completa. Ao permitir que alunos coloquem de fato a mão na massa, o aprendizado tem maiores chances de ser utilizado posteriormente para resolver problemas reais, agregando valor ao desenvolvimento, que não acaba nas atividades vistas nos ambientes de ensino. “Com a aprendizagem maker, retoma-se a abordagem dos primeiros anos de escola, em que brincar e aprender caminham juntos. Aqui, não é só uma questão de ir bem na prova. É um processo de aprendizagem que importa e o professor tem a chance de corrigir eventuais erros, ou até mesmo o aluno pode descobrir sozinho porque errou”, explica Vinícius.

A curiosidade como condutora Ao criar caminhos para que alunos identifiquem eventuais erros, o movimento agrega autonomia e

protagonismo dos estudantes em relação ao processo de aprendizagem. Esse é um dos grandes benefícios da implementação de práticas da cultura maker na sala de aula, uma vez que “ajuda a combater a falta de engajamento atual, seja em escolas públicas ou privadas, nas mais diferentes etapas”, como ressalta Vinícius. Em sua visão, essa melhoria se instaura pela inevitável modificação nas estruturas das aulas: “O aprendizado deixa de ser linear, com começo, meio e fim já conhecidos de antemão e passa a depender mais dos interesses dos alunos, o que ajuda [na diminuição da falta de engajamento]”. E para saciar de forma completa a curiosidade de alunos, é preciso saber integrar conhecimentos. “Também é importante mencionar o caráter colaborativo dos projetos, que buscam reunir conteúdos de áreas diferentes do conhecimento a partir do interesse dos próprios alunos. (...) Cada vez mais escolas estão percebendo isso e integrando disciplinas por meio de aulas nesses espaços de criatividade, porque assim conseguem dar sentido ao aprendizado”, aponta Vinícius. Essa reestruturação de como passamos e absorvemos conhecimentos, impreterivelmente muda o papel

Comparativo dos aspectos pedagógicos Aspectos

Espaço Maker

Laboratório de Informática

Postura do aluno

Protagonista de sua aprendizagem tomando Executor das atividades, usuários das aplidecisões e conduzindo a escolha dos cações que forem sugeridas pelo professor projetos

Postura do professor

Facilitador das trajetórias dos alunos, Supervisão, mediação e acompanhamento mediador e coautor das atividades

Papel da tecnologia

Prover condições para construção de objeProver informações e atividades tos e artefato

Trabalho em grupo

Favorecido pelo espaço com mesas-redondas e projetos em grupo

Restrito a duplas ou trios. Espaço para discussão é limitado

Potencial criativo

Praticamente irrestrito

Restrito ao que os softwares usados permitirem criar

Aprendizagens

Diversificadas e não necessariamente ligadas ao currículo. Decorrentes de criar Geralmente curriculares, ligadas a algum e socializar considerando restrições de conteúdo definido pelo professor recursos

Significado do erro

O erro é parte do processo. É um problema É evitado. Corresponde a uma falha do a ser solucionado na próxima versão aluno. Algo a ser eliminado

Fonte: Reprodução Porvir/Creative Commons

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de educadores. Vinícius enfatiza que “o professor pre- informática. Como os espaços makers abarcam a cisa ocupar um papel de facilitador do conhecimento informática, mas não se limitam a ela, a aplicação de que ao final de todo o processo consegue dizer para ambientes destinados a idealização e criação impaco aluno em que ele errou, porque errou e em que se tam positivamente no desenvolvimento e proporcionam aprendizados empíricos. destacou positivamente”. Mas o corpo docente não é o único que passa por “O Porvir criou um simulador que mostra como adaptações. Ao trazer o aluno para começar com pouco”, indica o centro de seu desenvolvimento Vinícius. Lá, os corpos docente e por meio da realização de suas administrativo das escolas podem “Não se pode achar que ideias de forma a saciar necessiencontrar uma lista dos itens comprar impressoras e dades sociais e curiosidades pesrequisitados para materializar soais, “cada vez mais será cobrado um espaço maker. kits de robótica caros dos alunos um papel de produAlém de ser uma proposta são suficientes para que tor de tecnologia — e não apeque está dentro das possibilidaprofessores utilizem nas de consumidor como estamos des do ambiente escolar, a indiacostumados”. cação também é pautada na anáo espaço. O risco de lise de todos os resultados que subutilização é grande, E por onde começar? podem ser melhorados dentro Bom, aqui temos uma ótima do ensino (confira o quadro na caso não seja feito um notícia: começar com pouco é página anterior). trabalho de capacitação completamente possível! Por Assim, é possível enxergar de todos.” mais que os elementos eletrôque o espírito maker pode ser nicos façam muita gente brilhar usado a favor de uma educação os olhos ao conhecer a iniciativas integral. A proposta de aprenmaker, para inseri-las na rotina escolar há a possibi- dizados completos e abrangentes e a migração do lidade de começar com recursos mais simples como aluno da posição de ouvinte para protagonista do “material de papelaria, sucata e itens de eletrônica próprio conhecimento, inclusive, vão ao encontro bem baratos”. Segundo Vinícius, “são suficientes para das propostas vistas recentemente na Base Nacional começar a criar alguns projetos e materializar ideias”. Curricular Comum (BNCC), mostrando que o Outra possibilidade é criar um espaço maker em movimento pode ser um grande aliado dos educalocais que atualmente sejam destinados às salas de dores brasileiros.

ASSISTA À SEGUNDA TEMPORADA!. TEMPORADA A série Desabafo de um professor, professor criada e desenvolvida pela Editora do Brasil, está de volta, em novo formato! Os episódios são inspirados em histórias reais ou sentimentos relatados por professores de todo o país. Fábio de Luca canal Porta dos Fundos

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Todas as terças-feiras 2019 | Arco43 em Revista nº1 | 43

/editoradobrasil


Mais do que nunca, o educador precisa estar atualizado e informado. Com esse pensamento, a Editora do Brasil lança o selo Arco43, uma linha editorial com conteúdos destinados aos educadores. As publicações do selo Arco43 têm foco na formação continuada de gestores e professores, deixando-os sempre bem informados e atualizados sobre as novas tendências educacionais.

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O Arco43 Podcast é um programa de conteúdo educacional produzido pela Editora do Brasil. Voltado para professores e gestores da educação brasileira, procura esclarecer as dúvidas e desafios do dia a dia de quem tem por vocação fazer do Brasil uma verdadeira pátria educadora.

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