@instaguto Augusto Alvarenga ISBN 978-85-8425-024-0
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Um amor, um café & Nova York Augusto Alvarenga
“Augusto Alvarenga é um garoto que escreve como um adulto, mas tem a alma de um menino. Menino cheio de amor e palavras para espalhar pelo mundo. Mais sinceras e íntimas que um diário, suas palavras são capazes de nos encher de esperança e sonhos e de nos paralisar de encantamento. Além de ter escrito o “Um Amor, Um Café & Nova York”, já escreveu uma grande quantidade de textos, contos e crônicas maravilhosas – e quer mudar o coração das pessoas através das palavras em páginas.” Ana Lígia Fernandes
Inúmeros beijos. Incontáveis abraços, infinitas ligações. Muitos “Eu te amo”. Duas pessoas, dois corações, um sentimento. Eu e você. Amor. Eu queria te encontrar todos os dias, te ligar todas as horas, te beijar a todo minuto e te abraçar o tempo todo. Mas você ia gostar de mim se eu fosse ainda mais grudento? Mais apaixonado? Se eu pudesse fazer isso, não desgrudar de você, você ainda ia gostar de mim? De nós? – Gui
Augusto Alvarenga
Um amor, um café & Nova York
Camila sempre teve um grande sonho: viver um grande romance de cinema, desses cheios de carinho e amor. Ela só não imaginava que, ao conhecer Guilherme, teria tudo isso e muito mais. Na véspera do aniversário de três anos de namoro do casal – e dos 19 anos de Camila –, Guilherme surge com uma surpresa que mudaria para sempre a vida do casal: uma viagem de um mês para Nova York. O que ele não sabia é que esse era outro grande sonho de Camila, que vai fazer de tudo para que essa seja a melhor viagem de todas. Mas Nova York possui brilhos demais... Poderia algum deles ofuscar o do casal?
01/10/14 20:18
Augusto Alvarenga
Um amor, um cafĂŠ & Nova York
– Para todas as pessoas que me ensinaram a sonhar.
Capítulo 1
O Telefonema “Você me pegou despreparada Você me causa visões de amor Você me pegou com as mãos para cima (...) Porque você é o meu milagre” Kimbra – Miracle
Já era noite de sábado e eu já não tinha mais o que fazer. Resolvi checar minhas redes sociais, pela milésima vez ou mais, só pra me certificar de que realmente eu não veria nada de útil. Eu já estava me convencendo a ir dormir quando meu celular tocou e eu tomei um susto. Quem estaria me ligando às onze da noite? Quando olhei para o número que estava tocando, era o Guilherme. Cheguei da porta pra ter certeza de que não tinha ninguém por perto e atendi. – Alô? – Oi, Camila... Tava dormindo? Era incrível como a voz dele sempre soava perfeita ao meu ouvido. Independente da hora ou da situação. Uma voz suave, acolhedora e, ao mesmo tempo, imponente. É difícil descrever, mas, desde que o conheci, a voz dele se tornou um dos meus sons favoritos. – Oi, fofo. Não, não. Mas quase. Estava só checando minhas redes sociais e já ia dormir. Pensei até que você estava online, mas não. Falando nisso, onde você está? Em casa? Por que não me ligou no telefone fixo? – Hmm... Eu acabei de chegar da rua, estava resolvendo umas coisas... Eu não liguei no fixo pelo horário. Achei melhor não acordar todo mundo aí, né? .7.
– É, todo mundo já dormiu mesmo... Mas o que você estava resolvendo na rua a uma hora dessas? Posso saber? – perguntei, tentando soar ciumenta – Está tudo bem? – Sim, tá tudo bem, sim. É que eu tava te preparando uma surpresa... – ele pareceu estar sorrindo do outro lado da linha, como se estivesse contente ou super empolgado com alguma coisa... – Surpresa? Que surpresa Gui? – retruquei, curiosa – Ainda faltam três meses pro nosso aniversário de namoro... E, se não for sobre isso, surpresa por que então? – Calma! – ele disse rindo – É sobre nosso aniversário de namoro, sim. Mas é uma coisa grande... É um passeio, na verdade. Mas, dessa vez, é maior do que todos os outros que nós já fizemos. E é bom que eu te fale um tempo antes, porque você vai precisar se programar direitinho e tudo mais... – Que coisa louca é essa, Guilherme? Você tá me deixando ainda mais ansiosa, até parece que não me conhece. Que história é essa de passeio grande? – sentei na beirada da cama, ansiosa – Maior que os outros? Nós já passeamos tanto, até viajamos às vezes... O que mais você tá aprontando pra mim? – É outra viagem, Camila. Você já vai completar 19 anos mês que vem, junto com o nosso aniversário de três anos de namoro. Você não acha que isso merece uma supercomemoração? – Acho, Gui. Mas não precisa de viagem... Quem dirá superviagem. Você sabe que eu amo programas simples... Passar o fim de semana com você pra mim já é um sonho. Só de irmos a algum lugar calmo, eu fico infinitamente feliz... Só de estar com você eu já estou feliz... – Escuta, linda. – ele me interrompeu – Eu também amo estar com você em qualquer lugar que seja... E, se você não quiser ir, tudo bem, eu posso cancelar tudo e... – Calma, calma! – berrei no telefone – Antes de qualquer
coisa, me conta a sua surpresa. Eu que sou mal educada. Você mal falou e eu já estou aqui, impaciente. É que fico sem jeito, você sabe... – Pois, então – ele tornou a falar – Desde que eu te conheço, você diz sonhar viajar pra um lugar, não é? Que lugar é esse? – Ah, sei lá Gui... – pensei – Eu falo tanta coisa. Viajar por aqui? Rio? São Paulo? Pra fora do país? Londres? Algum lugar da Europa? Estados Unidos? Eu poderia listar mais vários lugares. Desde criança, meus pais e eu sempre adoramos viajar e o fazíamos sempre que possível. O Nordeste, partes do Sul... Conhecíamos alguns lugares no Brasil, mas nunca havíamos saído do país e era para fora daqui que eu mais queria ir. – Camila... Para. Pensa. – ele tentou me guiar. – Fecha os olhos e imagina... Qual é o lugar do mundo que você mais quer ir? – Hm... Nova Yor... ESPERA! – aumentei o tom de voz e arregalei os olhos, espantada com a ideia que me veio à cabeça. Pulei da cama e fiquei parada em pé no meio do quarto – GUILHERME, VOCÊ NÃO FEZ ISSO, fez? Tentei me acalmar, organizar meus pensamentos e já ia começar a falar mais baixo para não acordar meus pais, quando percebi que ele parecia rir do outro lado da linha. – Guilherme, você tá rindo do quê? Não tem graça! – eu disse, nervosa com a ideia da tal surpresa – Que viagem é essa? – Estou rindo de você! Dando um ataque desses por nada... – Como “por nada”? – interrompi – Me fala logo! Pra onde é essa viagem que você tá programando? – Hmm... Acho melhor você abrir o portão do seu prédio para conversarmos melhor, antes que você enlouqueça por antecipação e eu congele aqui embaixo... Tá frio!
– Você tá no meu prédio? Você não disse que estava em casa? – Era tudo parte da surpresa... Agora abre, por favor? – Ai, desculpa. Espera um segundo... Olhei para a bagunça que estava o meu quarto, ajeitei meu pijama... Fui até o espelho e tentei arrumar o cabelo o melhor que eu podia. Corri para abrir o portão e a porta do apartamento. Quando ele chegou no meu andar, ainda estava com o celular nas mãos. Ele me viu e abriu um sorriso. Aquele era, sem dúvidas, o meu sorriso preferido. Eu o analisei de cima a baixo (como eu sempre fazia quando nós nos encontrávamos) em uma fração de segundos e o puxei pela mão para dentro. Fui com ele para o quarto, para conversarmos sobre a tal surpresa. Ele estava tão lindo – como de costume – que eu havia até me esquecido por que estava preocupada. O Guilherme adorava me encher de surpresas e presentes caros. Isso me deixava sem jeito porque eu tinha acabado de entrar na faculdade e eu tentava sobreviver de estágios da UFMG, não tendo dinheiro para presenteá-lo da mesma forma, já que ele tinha um excelente primeiro emprego como administrador da empresa do pai – que confiou na competência dele e paga até mais do que a média dos administradores recém-formados jamais sonharia em receber. Eu sempre deixava claro que eu não fazia a menor questão de nada daquilo, que tudo o que eu queria dele era todo o amor e carinho que ele podia me dar – e já dava –, e que ele continuasse com a dedicação ao nosso namoro que ele já tinha desde que nos conhecemos, quase três anos atrás. Ele era o namorado dos sonhos e eu só agradecia por ele transformar os meus sonhos em realidade. Os meus e os de mais ninguém.
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Capítulo 2
Explicações “Um ser humano é o meu amor De músculos, de carne e osso... Pele e cor.” Tribalistas - Carnalismo
– Pronto, Gui, senta aí e me conta essa história. Que viagem vai ser essa, e pra onde? – eu perguntei enquanto fechava a porta atrás de mim e apontava para a minha cama. Meus pais já estavam dormindo e nem imaginavam que o Guilherme estava ali, por isso me certifiquei de falarmos baixo. Meus pais gostavam dele, mas pediam prudência e cuidado. Não que eu ou o Guilherme já tivéssemos, algum dia, dado motivo pra isso. Acho que era só a preocupação comum de pais. Eles também não gostavam que nós dormíssemos juntos, o que, para mim, era uma bobagem. Eu já ia fazer 19 anos e o Gui faria 23 em alguns meses. Nós dormíamos juntos uma ou duas vezes por semana, mas sempre fomos muito respeitosos e, por isso, não fazemos nada ‘demais’ na casa um do outro. Só dormíamos. Abraçados, de conchinha, um do lado do outro. Eu adorava dormir com ele porque ele sempre acordava com os olhos meio cerrados, com preguiça de abrir pra ver o dia. Mas, quando ele me via, ele abria o maior sorriso. Nunca reclamou do meu cabelo bagunçado e nem quando eu puxava a coberta dele – o que eu, confesso, faço com certa frequência. Sem falar que ele sempre me acordava e me dava um beijo de bom dia, antes de me acertar com um . 11 .
travesseiro por eu tê-lo “chutado a noite inteira enquanto rolava pela cama”. – Então, é isso... – ele me encarou – Você adivinhou de primeira, no telefone. Nós vamos pra Nova York... – ele foi falando e tirando da mochila um envelope com o que pareciam ser instruções e formulários – Já está tudo aqui, é só você preencher. Precisamos tirar o passaporte e o visto, cada um demora mais ou menos um mês pra ficar pronto. Por isso os três meses de antecedência. Precisaremos ir ao Rio de Janeiro, mas não vai ser nada de tão complicado pra você, vai? Ele não parou de falar. Apontando para todos aqueles papéis, me dava algumas instruções e me explicava sobre o processo. Eu prestava atenção em cada palavra dele e não quis interromper. Ele começou a falar sobre hotéis, passeios, passagens de avião e tudo mais. Quando ele parou, me encarou e estalou os dedos à minha frente. – Oi?! Você está prestando atenção? – Estou, Guilherme. – e soltei o ar que eu nem percebi estar prendendo – Tanta atenção que mal estou respirando. Ele colocou os papéis de lado na cabeceira da minha cama e segurou minhas mãos. Me olhou. – Camila, você está com medo? Você não quer ir, é isso? Você tem alguma ideia melhor? Não quer ir pra Nova York? Ou não quer ir comigo? Está com medo dos seus pais não deixarem? O que foi que está com essa expressão? Eu fiz algo errado? – Não, Guilherme, não é nada disso! – eu peguei os papéis da cabeceira e folheei rapidamente, sentindo as páginas e tentando absorver tudo o que representavam – É... Nova York, Gui. São 19 anos! Três anos de namoro. Nova York com você, Guilherme. Eu estou feliz demais! – tentei sorrir de uma maneira convincente. – Não é o que parece – ele me analisou – Que cara é essa, então? – e me abraçou. . 12 .
– Ah, Gui... Entendo que você queira viajar agora que está de férias e sei que você já tem juntando dinheiro a um tempo... Além do mais, seu emprego é muito bom. Pena que eu não levo jeito para administração como você... E eu não trabalho. Como vou pagar isso? Você sabe que a remuneração do meu estágio é baixa e eu não acho justo você pagar tudo. Mesmo depois de formada, você sabe que o curso de Belas Artes, mesmo depois que eu formar, não vai me dar lá muito dinheiro... E meus pais também não têm dinheiro pra me bancar uma viagem dessa, você sabe... – Acontece... – ele sorriu como se tivesse descoberto algo muito importante – que já estou dois passos à sua frente... – ele me pegou pelas mãos e me sentou na cama novamente. – Como assim? – Eu já conversei com seus pais. – e sentou na cama, do meu lado. – E não me mate! – ele provavelmente viu minha reação antes de dizer essa frase – Eu disse a eles tudo o que estou te dizendo agora: você vai fazer 19 anos, nós faremos três de namoro. Merece uma boa comemoração! E isso é bom pra você também, do ponto de vista “acadêmico”. Você vai poder aprimorar seu inglês e eu prometi que te levaria a todos os museus. Eu disse isso tudo a eles e disse que pagaria as passagens, hotel, tudo. Que eles só precisavam deixar você ir. É claro que, assim como você, eles relutaram em me deixar te bancar, e eu não vejo o porquê. Mas, já que eles insistiram, eu disse que, então, eles podiam te dar algum dinheiro e você juntava algum também para suas despesas lá. Sei que vai querer comprar um milhão de CDs, DVDs, livros e ver quantos shows você puder. Sem falar nas outras coisas que você vai ficar louca para trazer: roupas, perfumes, eletrônicos, presentes... E, adivinha? – ele tamborilou os dedos na minha coxa – Eles toparam. Já está tudo certo. Só falta você . 13 .
me dar um sorriso, um beijo e um abraço. Ahm... Nova York, – ele apontou para o enorme pôster preto e branco da Times Square que ficava na parede do meu quarto – lá vamos nós! Tudo bem, agora era oficial: o Guilherme é a “coisa” mais próxima da perfeição que eu conhecia. Eu nunca seria capaz de retribuir tudo o que ele fazia por mim, mas ele parecia saber disso e não se importava. E eu simplesmente não tinha como negar. Era Nova York. E ele. O que poderia ser melhor? Eu o encarei fixamente e ele me devolveu o olhar, curioso. Do turbilhão que passou pela minha cabeça, o que eu consegui dizer foi: – Quando temos que estar no Rio mesmo? Quanto tempo eu tenho pra arrumar as malas? – soltei um sorriso. Ele sorriu de volta mostrando as covinhas e me abraçou, aliviado – Gui, você sempre pensa em tudo. Você sempre faz tudo. E muito mais. Você existe mesmo? – Ahm, acho que sim, né? E deixe de ser boba, pois eu só faço o que você merece. Eu te amo muito, Camila. Muito! – suspirei e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me deu um beijo. A notícia, a viagem, o sonho, o beijo... Cada toque era especial. Acordei muitas horas mais tarde, abraçada com ele, debaixo do cobertor. E ele estava sem camisa. Ele nunca dormia sem camisa na minha casa, a não ser que... – GUILHERME, ACORDA! – ele deu um pulo e acordou confuso. Confesso que me arrependi de tê-lo acordado assim tão bruscamente. – O que nós... fizemos? Por que você está sem camisa? Ele olhou pra si mesmo, ainda com um olhar confuso. Depois se espreguiçou, preguiçoso – Ué, eu vim pra te falar sobre a surpresa, nós nos beijamos e muito. Quando notei já estávamos deitados. Você se acomodou em mim e eu te fiz um cafuné por um tempo, até você acabar ador. 14 .
mecendo comigo. Acho que você estava cansada e com sono, então te deixei dormir. Ahm... de madrugada fez calor, então acho que tirei a jaqueta e a camisa. Desculpe... Mas nós não fizemos nada demais, prometo! – Tudo bem, eu acredito em você. Acho também que eu me lembraria – levantei puxando a camisola pra baixo e tentando prender meu cabelo em um coque qualquer – Desculpe ter te acordado desse jeito. – e ri – Me assustei à toa. – O que você fez não tem perdão. – e riu. Ele levantou da cama e me deu um abraço – E, a propósito, bom dia! – Bom dia, lindo. Dormiu bem? – respondi passando meus braços ao redor dele e lhe dando um beijo na bochecha. – Dormi muito bem. Nunca pensei que eu dormiria tão bem numa cama de solteiro com outra pessoa. Mesmo que eu pensei estar em um ringue de luta... – e sorriu – Só espero não ficar todo roxo, né... – Que bom que dormiu bem. E para de tirar sarro com a minha cara, senão vou te deixar roxo de propósito. – e dei um soco no braço dele, de brincadeira. Eu me desvencilhei da tentativa dele de me imobilizar e fui abrir as cortinas. – Tudo bem... Pode deixar que eu aceito os roxos causados por seus chutes e socos involuntários pela madrugada. Agora volta pra cá, me dá um beijo direito! – e veio me puxando. Quando dei por mim, não disse mais nada, pois ele já estava me abraçando e me cobrindo de beijos. Só tive tempo de pensar que seria assim que eu iria querer acordar todos os dias da minha vida. E ir dormir também. Com ele e com seus beijos. Afastei meus pensamentos e ele. – É melhor sairmos desse quarto agora... Já deve estar tarde. Que horas são? Ainda dá tempo de fazer um lanche? Ou já está na hora do almoço? Ai, hoje é domingo. Eu quero dormir pra sempre... – eu disse, espreguiçando – Dormir com você pra sempre... – e dei uma piscadinha. . 15 .
– Hmm, ainda está cedo... Acho que seus pais saíram. Eu ouvi mais cedo um barulho de chaves... – ele procurou o celular na bagunça do meu quarto. – São onze horas. Será que eles não foram almoçar na casa da sua avó? – eles tinham mesmo esse costume. – Gui, eles sabem que você dormiu aqui? – perguntei. – Sei lá, acho que não. Por quê? – Porque... ESTAMOS SOZINHOS! – eu disse, pulando em cima dele, enquanto eu lhe fazia cócegas e ele tentava se defender – É melhor eu parar. Essa cama vai acabar quebrando com nós dois e, aí, sim, meus pais não me deixam ir pra Nova York com você. Na verdade, pra lugar nenhum... – e ri. – Está me chamando de gordo ou é impressão minha? – Claro que não, lindo. Essa cama que é velha mesmo. Vem, levanta. Hoje serei eu quem vou fazer o almoço! – e o tirei para fora da cama. Puxei-o pela mão pelo corredor, sala, cozinha. – Você? Vai fazer o almoço? Quero um banquete, hein! – Que banquete o quê, Guilherme... – eu ia dizendo enquanto tirava da geladeira e do armário os ingredientes que eu tinha em mente – Aqui em casa deve ter os ingredientes necessários para... uma lasanha! Bem melhor que qualquer banquete, não acha, não? – Opa, era disso que eu tava falando... Uma lasanha. A sua lasanha. – e me abraçou – Dessa vez, eu vou ver o preparo e vou saber se das últimas vezes foi mesmo você quem fez ou só comprou a lasanha pronta e me enganou. – Credo, Guilherme! Você acha que eu menti pra você? Ou, pior, você acha que não sei nem fazer uma lasanha? – eu disse, apontando pra ele, fingindo estar ofendida. – Claro que não, meu amor... – ele disse rindo, jogando as mãos para cima como se estivesse se rendendo – Sua lasanha estava maravilhosa, uma das melhores que eu já comi. Mas dessa vez vou poder te ajudar a fazer. Aposto que vai ficar ainda melhor. . 16 .
– Aposto nisso também – pisquei – Tudo o que você faz fica delicioso! Vem! Não me lembro quanto tempo se passou até a lasanha ficar pronta, mas ela ficou maravilhosa. Dizem que tudo feito com amor é mais gostoso e acho que é mesmo. Não me lembro de ter comido uma lasanha tão boa! Nós comemos tudo e ainda ficamos querendo mais. Depois do almoço, lavamos os pratos e talheres, enquanto ele me provocava daqui e eu revidava de lá, brincando. Mais tarde, meus pais chegaram e eu tive a impressão de que eles não viram que o Gui dormiu comigo. Ou, se viram, fizeram de conta que não. Não me preocupei muito com isso também... Eu tinha aproveitado muito aquele tempo que ficamos sozinhos, e isso, para mim, por hora, já estava de bom tamanho.
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Capítulo 3
O início de tudo “Porque temos muito para viver Você é o único que eu poderia ter do meu lado Temos muito amor para dar Podemos deixar o mundo do nosso lado Porque em toda a minha vida Eu estive sonhando com você” Boots & Beyoncé - Dreams
Os dois primeiros meses passaram voando, enquanto eu alternava meus dias entre faculdade, estágio, preparativos para a viagem e ele. Ele. Guilherme. Só aquele nome era o motivo da minha felicidade. Faltava um mês para que nós dois completássemos três anos de namoro e, a cada dia que passava, eu ficava mais ansiosa. Eu me lembrava como se fosse ontem do início do nosso namoro. Eu o conheci através da Marina, minha melhor amiga, em um festival de Jazz na Savassi. Na época, ele estava tendo um rolo com uma outra menina, mas aí ele descobriu que essa menina o traiu. Nós estávamos muito amigos e ele veio desabafar comigo. Com isso, nós ficamos ainda mais próximos e, pouco tempo depois, tivemos nosso ‘primeiro encontro’. Já tínhamos nos visto outras vezes, mas, com um envolvimento maior, aquele, sim, foi classificado como “o primeiro”. Nós fomos ao cinema, assistir um filme de romance. No meio do filme, uma cena em particular me chamou a atenção: a protagonista estava brigada com o amor de vida dela e viajou. Ele esperou por ela a noite toda e, quando ela chegou na manhã do outro dia, ele estava lá, dormindo no carro, todo amassado e desconfortável, só para recebê-la. Eles fizeram as pazes e tudo ficou bem, selado com um beijo. Eu comentei baixinho, no ouvido dele: “Eu queria tanto viver uma coisa . 18 .
dessas... Uma história dessas. Um beijo desses...”, e, no mesmo instante, ele se virou e me beijou. Assim. Um beijo longo e calmo. Elétrico e magnético. Ficou claro que ele era o único cara pra mim. Eu mal consegui prestar atenção ao restante do filme. Em certo momento, enquanto ele me dava mais um beijo, eu segurei o rosto dele delicadamente e o olhei fixamente. Ele me olhou de volta, com o olhar ainda mais fixo em mim, como se esperasse que eu dissesse algo. Ele deve ter lido nos meus olhos o quanto eu estava curtido aquele momento, pois ele fechou os olhos e começou a me beijar novamente. Nós saímos do cinema e fomos para a praça de alimentação e eu reparei como ele parecia mais feliz, agora que eu podia observá-lo e depois do beijo. Nós estávamos comendo e ele parou e começou a me olhar. Eu comecei a rir, sem graça, e perguntei o que estava acontecendo. Ele disse que não era nada e continuou comendo. Eu fiz o mesmo. Algum tempo depois, estávamos prestes a ir embora quando eu o puxei de volta e disse: – Guilherme, eu preciso falar com você. – Ele me olhou meio surpreso e perguntou o que era. Eu respirei fundo e comecei a falar: – Guilherme... Você brigou com aquela... menina há pouco tempo... E hoje a gente... Se beijou. Eu sei que não deve ter significado nada pra você, porque você é lindo – me senti corar – e sempre tem alguém querendo ficar com você. Ou até mesmo ficando... Mas eu não sou assim. Eu me apego fácil, me apaixono fácil e me iludo ainda mais facilmente. Não estou dizendo que te amo e tudo mais, mas... Sei lá. Eu só queria que você pensasse nisso. Tudo tem um significado pra mim, mesmo que para você possa não ter... Você está me entendendo? – ele estava sério, com um semblante diferente. Eu já ia perguntar se ele estava bem, quando ele disse: – Camila... Eu sei que você e mais meio mundo pensam isso de mim, mas eu não sou tão assim. Digo, eu costumo sair bastante e já fiquei com muita gente, mas chega, sabe? Já faz um bom tempo que eu estou querendo uma coisa mais séria, . 19 .
mas todo mundo tá querendo o que eu gostava de fazer: ficar por ficar e fim. Eu não quero mais isso. Eu quero acordar sabendo que tem alguém pensando em mim. Melhor ainda, eu quero dormir sonhando com alguém. Eu quero ter para quem me arrumar, para quem passar um perfume, para impressionar e cativar. Eu quero realmente ter alguém. Eu não estou insinuando nada pra você, ou talvez, eu esteja sim. – e pegou as minhas mãos – Mas o que eu quero por agora é isso: que você não fique pensando que não significou nada. Porque significou, sim! Não pense que eu não vou te ligar essa noite, porque eu vou! E não pense que eu estou falando isso da boca pra fora, porque eu não estou. Ok? Eu admito, ele tinha mexido comigo. E sabia muito bem como fazer isso. Primeiro o beijo, que me deixou sem ar. E depois esse ‘discurso’, que me deixou sem palavras. Eu me lembro de ter consentido e fui pra casa, ainda intrigada com tudo o que tinha acontecido. Eu peguei o telefone e liguei correndo para a Marina para contar tudo o que tinha acontecido. Ela me aconselhou, e, mais tarde, ele me ligou como prometido. Meu coração bateu ainda mais forte do que naquele beijo. Tudo parecia tão novo, tão real. Ele parecia tão... Meu? A partir daquele telefonema, vieram outros. Junto com aquele primeiro encontro, vieram muitos mais, junto com muitos beijos, abraços, carinhos e cumplicidade. Já estávamos saindo há oito meses quando começamos a namorar. Fomos a uma boate e, quando saímos de lá, já de madrugada, fomos ao McDonald’s da Savassi. Quando eu estava indo ao caixa para fazer o meu pedido, ele me mandou sentar. Disse que já sabia meu pedido de cor e salteado e que ia pedir para mim, enquanto eu guardava a mesa. Fiz o que ele pediu e fui para a mesa. Alguns minutos depois, ele chegou com o meu hambúrguer. Como de costume, a caixinha do sanduíche veio com um adesivo fixado que dizia “especial pra você”, já que o meu pedido sempre vinha sem a salada... Notei que tinha um coraçãozinho desenhado de caneta vermelha no adesivo, mas, quando abri a caixa... Meu coração parou. . 20 .
Lá dentro tinha algo muito melhor do que um hambúrguer, melhor do que as batatas, melhor do que tudo do cardápio. Era um porta-aliança. Com uma aliança dentro. E uma carta. Olhei para aquilo, olhei pra ele, que estava com o sorriso mais fofo do mundo, provavelmente ao ver minha reação. Os olhos dele brilhavam, mas não mais que os meus. Fui direto na carta, que dizia:
dias! Cerca de anas! 246 m se 5 s 3 ! es mes raços, infinita Cam ila... Oito Incontáveis ab s. ijo be um os o, er çã cora s. Inúm s pessoas, um 130 encontro te amo”. Dua u “E e, ao mesmo s s to ai ui m M de ligações. arece tempo P . or m ssar A . cê u e vo e eu quero pa sentimento. E do o tempo qu to das ra to pa ar o lig uc po dias, te tempo, parece ntrar todos os co as M en . te do ia to er qu r o tempo com você. Eu uto e te abraça s in ai m M do ? to to a en r ija a mais grud nd ai as horas, te be e ss fo eu r de você... de m im? Se não desgruda o, você ia gostar iss r ze fa e Se eu pudess apaixonado? ? De nós? a... Você disse gostar de mim ia a nd ai cê rás, no cinem Vo at es es m to dia, oi lembra? Acho Desde aquele daquele filme, a o m o co na r uma ce do. Está send que queria vive filme, um seria um e te qu s eu ai e m o qu virou Pior? Lembra que essa cena eria? Melhor? qu do com ela an cê nh vo so o m ir tudo co Pra dorm ? ém gu s eu al ia quer em m im? Poi disse? Q ue eu tava pensando es a que el m e ué qu lg o nd e você. A e acordar sabe guém melhor qu al se do es ra ub nt so co cê r en ia que vo não poderia te mais. Eu quer to ra an ei qu qu en eu e e rt qu mais fo eu ame mais, coração batia e eu rt m fo o s ai s, m rá z at ve teu cada ba e que, oito meses el E a. m nó nas que s naquele cine a daquelas ce um eu te be ijava a ad C . s. ijo queles be , cada cafuné em cada um da . Cada abraço os m ve ia vi er e . Eu qu ealizamos a trilha sonora assistimos, id que fez a noss D C o quando da rc ca pe e e a m é que eu Cada músic as M s. do to contar ser capaz de cê . cê vo o estar com vo m estou co mais. Eu quer a nd s. ai ai m er a rd nd pe de você ai Eu quero me mais. Preciso a nd ai cê vo uero ainda mais. Q .. o. iss or P igo? namorar com ...Você aceita
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Eu senti que meus olhos estavam cheios de lágrimas... Eu olhei de novo para ele e vi que ele mal respirava, ansiando uma resposta minha. Vi que algumas pessoas estavam nos olhando, inclusive a Marina, que ainda estava com a gente. Não sei quem estava mais feliz e eu sentia que havia fogos de artifícios, dos mais bonitos, explodindo dentro do meu peito. Eu tentei falar alguma coisa, mas comecei a gaguejar e eles riram. Quando eu peguei as alianças, arrepiei: estava gravado “White shirt*”, fazendo relação a uma música que nós dois adorávamos: “Blue Jeans”, da Lana Del Rey. Ele levantou a mão dele, que agora estava com uma aliança também, tirou-a do dedo e me mostrou: “Blue Jeans”**. Senti que eu ia chorar, e ele começou a cantarolar o trecho da música em que as frases estavam. Peguei a minha, coloquei-a no meu dedo, peguei a mão dele, o outro anel e coloquei no dedo dele e disse: – Se depender de mim, essa aliança de namoro só sai do meu dedo pra aliança de casamento entrar. É claro que eu aceito namorar com você, Guilherme. Eu quero passar cada segundo da minha vida com você. Eu preciso de você do meu lado, hoje e sempre! *Blusa branca, Jeans azul** Eu sorri, levantei e o puxei para perto, em um abraço apertado, bem apertado. Para que ele sentisse meu peito explodindo de tanta emoção, para que ele sentisse o quanto eu o amava. Quando vi que as pessoas estavam um pouco mais distraídas, dei um beijo dele. Leve e calmo. Um beijo calado que disse muito. E representou muito. Depois disso, ele trouxe o hambúrguer de verdade. Não que eu estivesse com fome, mas, mesmo assim, comi tudo. Quando terminei, chamei o Gui e fomos até a Praça da Liberdade. Assim que pisei do lado de fora do McDonald’s, procurei o braço dele e toquei sua mão... Era macia. E minha. Saímos de lá e não importava muito que horas eram... Fomos caminhando até a praça de mãos dadas... Chegando lá, a praça estava meio cheia como costumava estar, mas . 22 .
não cheia demais. Sentamos em um banco e eu encostei minha cabeça nos ombros dele. Uma corrente de ar gelado passou por nós e eu tremi da cabeça aos pés, já que só usava um vestidinho de alcinha branco. Ele me olhou, tirou a jaqueta de couro e me deu, mas eu não vesti: eu me aproximei ainda mais dele e joguei a jaqueta por cima das nossas costas. Aquilo não pareceu estar dando muito certo, então mudei de ideia. Levantei do banco e o puxei com a mão até uma parte gramada que tinha ali perto. Ele me olhou sem entender muita coisa e, apesar da placa de “Não pise na grama”, eu fui caminhando em cima dela. – Camila... “Não pise na grama”. – ele leu. – Não vamos pisar. Quer dizer, só um pouquinho. Vem! – O que é que você está fazendo aí? – ele perguntou e riu. Peguei novamente a jaqueta de couro e a estiquei na grama. Ele me olhou incrédulo. – Não vamos dançar sapateado na grama e tem mais um monte de pessoas também... Entra logo! – eu disse e sentei um pouco pra baixo da jaqueta. – Vai sujar seu vestido todo! – ele reclamou. – Não tem problema. Contanto que... – e eu não terminei de falar. Eu o peguei pela mão, que ainda estava acima da minha cabeça, puxei-o para baixo e me deitei com as costas sobre a jaqueta. Indiquei para que ele fizesse o mesmo. Ele parou e pensou por um segundo e deitou em seguida. Rolou pro meu lado, sujando a blusa preta que usava de grama e parou de frente com o rosto para o meu, que estava de lado, olhando para ele. Seus olhos refletiam as luzes dos postes antigos da praça e eu conseguia até ver o Edifício Niemeyer meio aceso no reflexo. Ele me olhava com aquele olhar-enigma, o qual eu nunca, ou quase nunca, conseguia decifrar. Os lábios dele se fechavam em algo que em segundos se tornou um sorriso tímido. Seja lá o que ele estivesse pensando, devia ser algo bom.
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Puxei-o mais pra perto ainda e eu agora sentia a respiração dele bater no meu nariz. Fechei meus olhos lentamente, como se o amanhã não fosse chegar nunca, como se aquilo – aquele momento – fosse o mais importante. E era. Deixei os segundos, os impulsos, o carinho me levarem lentamente até ele, e, mesmo de olhos fechados, meus lábios foram direto ao encontro dos lábios dele e eu os pressionei. Eu sempre gostei de quebra-cabeças, mas eu nunca tinha encaixado nada tão perfeitamente como ali. Eu senti os lábios dele nos meus e o puxei pra perto... Calmamente nós nos beijamos por alguns minutos e eu conseguia sentir o coração dele através do espaço entre nós, que, apesar de pouco, era muito. Me afastei o suficiente para conseguir encará-lo novamente e então eu me dei conta de que aquele jogo de adivinhações não era necessário: ele me amava, sim. Aquele beijo conseguiu me provar isso, mesmo que todo o resto já tivesse me provado também. Ele passou o braço atrás do meu pescoço e eu apoiei a cabeça sobre seu ombro, e ainda conseguia ouvir o coração dele batendo acelerado. Aos poucos, o coração dele foi se acalmando, como se dissesse a si mesmo: “tudo bem, ela está aqui e não vai a lugar nenhum”. Pois eu não iria a lugar algum mesmo. Não sei quanto tempo se passou porque, para nós, isso não importava... Ficamos ali, vendo as estrelas e fazendo cafuné um no outro em completo silêncio por tempo suficiente para vermos o céu mudar de preto para tons cada vez mais claros, e, então, o sol nasceu, deixando tudo laranja e azul claro, bem claro. Eu tive uma certeza naquela noite/dia: eu precisaria dele dali em diante. Daquele abraço, daquela companhia, daqueles braços, abraços, beijos e carinhos. Eu precisaria dele, e seria dele, cada vez mais, porque tínhamos um ao outro e nos bastávamos; era só disso que precisávamos. . 24 .
Capítulo 4
Ansiedade “Não temos todo o tempo A luz do dia está indo embora É melhor você me beijar, Antes que o nosso tempo se acabe.” Beyoncé – XO
– Alô? Quando atendi ao telefone, uma voz ecoou pelo meu quarto. Era aquela voz, aquele meu som favorito... Eu olhei ao meu redor como se estivesse observando o som se propagar pelo meu quarto. Ou pela bagunça que eu chamava de quarto... Naquele dia em particular, ele estava ainda mais bagunçado. Era roupa para todo lado, documentos espalhados, sapatos, tudo. Já era madrugada e eu estava ouvindo Florence + The Machine e arrumando minhas malas para a cidade dos sonhos, a cidade dos meus sonhos. Nova York. Eu estava tentando separar o que ia e o que não ia comigo para Nova York quando o telefone tocou... Quase não o encontrei no meio de tanta roupa, corri para pausar a música, e era ele: o menino dos sonhos. – Oi, lindo! – Como assim? Como sabe que sou eu? – Ué, esse seu “alô” é inconfundível... – Ah é? E qual a diferença desse ‘alô’ pro ‘alô’ dos outros? – e aqui estava a nossa mania de responder perguntas com outras perguntas. Perguntas que ele me fazia que eu não sabia nem como explicar. – Ah, não sei. É a sua voz... Acho que eu sinto quando é você que está ligando. E você acha que, com três anos de . 25 .
namoro, eu ainda não reconheceria sua voz quando você me liga? – Ainda não são três anos, mas tudo bem... E aí, tá animada? É amanhã!!! – SIM, É AMANHÃÃÃÃ! – eu disse quase gritando, enquanto ria e quase pulava de alegria. Eu já era uma mulher de praticamente 19 anos, mas às vezes eu ficava tão feliz quanto uma criança. Ou ainda mais. O voo para Nova York estava marcado para dali a algumas horas e eu ainda estava arrumando minhas malas... Eu queria me certificar de que não iria me esquecer de colocar nada na mala. Essa viagem seria perfeita. Nova York. Com ele. – E você, tá animado? – perguntei. – Se eu tô animado? Camila, é Nova York! Com você! – e ele pareceu ter lido meus pensamentos, enquanto disse com um ar de animação, empolgação e carinho. – Nossa Gui... Parece até que leu meus pensamentos! Nova York, com você! Sinceramente, não sei o que pode ser melhor... E nem quero saber, isso já está bom demais! Oh, espera só um minuto... Cadê meu perf... – Camila, você ainda está arrumando as malas? – ele me interrompeu, dando uma gargalhada – Estou, ué, por quê? – eu disse, rindo também. – Nada... As minhas já estão prontas. Só deixei de fora o pijama que eu estou vestindo e a roupa que vou usar amanhã... – O quê??? Você, de pijama??? Não acredito!!! – eu falei, quase gritando – Guilherme, eu só te vejo de pijama quando vamos dormir juntos. Só... Em noites... especiais. O que você tá fazendo de pijama? – A primeira vez em que ele havia usado pijama foi na nossa primeira vez, anos atrás, no nosso aniversário de um ano de namoro. E até onde eu sabia, ele só usava pijamas em ocasiões muito especiais.
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– Ué, não sei. – ele disse, invadindo meus pensamentos... – Acho que estou tão empolgado com essa viagem que estou até indo dormir bonitinho, arrumadinho... E uma surpresa: Em Nova York eu pretendo dormir só de pijama, viu? Não estou insinuando nada... Só dizendo que tudo lá vai ser mais especial do que aqui, no que depender de mim. – Hmm, então, tá... – e sorri ao imaginá-lo de pijama – Você deve estar uma fofura! Eu queria estar aí pra te ver assim – me joguei na cama. Eu realmente queria ver como ele devia estar naquele momento. Deitado na cama, com o telefone escorado no travesseiro, um sorriso lindo no rosto, mão no cabelo... E pijamas! Era a fofura ao extremo! – Eu disse pra você vir dormir aqui comigo, né? Daí poderíamos ir direto pro aeroporto... – ele disse, fazendo com que eu me sentisse culpada. – Mas Gui, eu ainda tinha que arrumar minhas malas e terminar uns trabalhos da faculdade. Senão eu teria ido! Você sabe como eu amo dormir com você, né? Se eu pudesse, eu pegava um táxi aqui agora mesmo e ia direto pra sua casa! – tamborilei com os dedos sobre a mala aberta – Acontece... que ainda não terminei de arrumar a mala... – disse com tom de desânimo. Eu realmente queria largar aquela bagunça, aquelas malas, sair correndo e ficar do lado dele agora, escutando uma música, vendo um filme... Ou fazendo qualquer outra coisa, desde que estivéssemos juntos. – É, eu sei... E é uma pena estarmos longe. Eu queria estar por aí pra te ajudar com essas malas também, imagino o quanto você deve estar desorientada e fazendo a maior bagunça... – e eu estava mesmo – Enfim, minha linda... Vou ter que desligar agora. Vou deixar você terminar de arrumar a sua mala enquanto organizo uns últimos detalhes aqui e pronto. Amanhã estarei aí na sua casa às onze. Não vá se atrasar, hein! . 27 .
– Ai, ai, como se fosse EU quem me atrasasse, né, Gui? – ele sabia muito bem que quem sempre ficava horas esperando era eu, enquanto ele me enrolava e demorava muito tempo – Pode deixar que vou estar prontinha te esperando. – respondi – Vê se não esquece os documentos, hein! – Eles já estão separadinhos em cima da mala... – Então, ótimo. Lindo, a Marina me ligou. Disse que ela e as meninas vão todas pro aeroporto pra se despedirem de nós dois. Até parece que vamos nos mudar pra lá... – eu disse, rindo. – Que ótimo que elas vão... Estou com saudade da Bia. Na verdade, estou com saudade de todas, mas ela é a que tem mais tempo que não vejo. A Ana eu vi no dia em que nós fomos para o pub, e a Marina... Eu acho que no cinema. Vai ser bom ver todas juntas. – A Alice disse que não poderia ir, mas me mandou um e-mail lindo desejando a melhor viagem do mundo pra nós... – Depois me encaminha esse e-mail! Vou ficar com saudade dela... Bom, então é isso. Vou mesmo ter que desligar... Queria levar todos pra ficar conosco em Nova York. Imagina? Um mês com todo mundo lá? Você ia amar, né? – Ia, sim, Gui, e como... Mas tenho que dizer que essa viagem vai ser a mais linda e romântica de todas que já fizemos. É bom que vamos estar só nós dois, por mais que eu morrerei de saudade delas... Acho que nunca nos afastamos por tanto tempo. Só de pensar, já estou com uma dor no peito... Vou chorar muito amanhã, aposto. – eu disse, rindo, mas sabia que eu iria chorar mesmo. Em toda despedida, eu me acabava. Sempre fui assim, dramática. Mas não era drama. Era saudade antecipada. Meus amigos sempre estavam do meu lado e agora eu estaria lá longe, em outro continente, sem eles. – Calma, Camila, não fica assim... Vai ser só um mês. E eu vou estar com você! Não tá bom? . 28 .
– Claro que tá, Gui! Mas você sabe como sou com minhas amigas, né? Enfim, deixa pra lá. Amanhã vamos ver como as coisas serão... – É, pois é. Bom, vou me despedir de novo. Viu que eu nunca consigo desligar quando estou no telefone com você? É a vontade de ficar juntinho pra sempre! – Ô, Gui... Não desliga então, eu consigo arrumar as malas falando com você no telefone. Quer? – no fundo, eu realmente queria ser capaz de fazer isso, mas eu só me atrapalharia mais. – Não, não, Mila. Eu tenho mesmo que ir dormir, hoje acordei muito cedo pra trabalhar e tudo mais, tô cansado... – Mila? Então quer dizer que você também vai aderir à moda de me chamar de Mila? – minhas amigas tinham inventado esse apelido pra mim poucas semanas atrás, dizendo que ‘Camila’ era fofo, porém eu precisava de um apelido. Daí surgiram com esse e essa provavelmente foi a primeira vez que o Gui me chamou assim – Então, tá. – continuei – Melhor se poupar mesmo... A viagem será cansativa e em Nova York o que menos vamos fazer vai ser dormir... – eu disse sorrindo só de pensar. – É, eu sei bem. Então tá, Mila. – ele disse, desta vez com um tom engraçado – Acho que vou aderir a esse apelido, sim. Por que não? Boa noite e até amanhã. Para a realização de mais um sonho... Juntos. – Sim, juntos! Obrigada por tudo, Guilherme. Você nem imagina o quanto eu te amo. Na verdade, nem eu consigo imaginar... – Eu te amo demais, demais, demais mesmo, Camila. Eu vou estar sempre aqui pra você. Prometo! – Esteja, sim... Eu só posso te dizer o mesmo. – sorri me sentindo acarinhada, mesmo com ele a quilômetros de distância de mim. – Te amo! Um beijo... E até amanhã! . 29 .
– Até amanhã, te amo também, muito! Um beijão. – e desliguei. Tentei terminar de arrumar as malas o mais rápido possível e buscando fazer o mínimo possível de bagunça – sem muito sucesso. Quando achei que já estava tudo suficientemente organizado, pensei em ir dormir. Passei a mão pelo cabelo enquanto observava a confusão que ainda existia. Me sentei na cama para recobrar o fôlego – nunca me haviam dito o quão difícil era fechar uma mala para uma viagem longa – e percebi que sentei em cima de alguma coisa. Não me preocupei, fechei os olhos e respirei por uns segundos. Levei a mão até a cama e puxei o que eu estava esmagando e fiquei surpresa: eram minhas antigas partituras. Fiquei surpresa ao vê-las depois de tanto tempo. Eu comecei a tocar piano com sete anos de idade e sempre tive uma paixão pelo instrumento. Comecei a rir pensando em como atormentei meus pais para que me deixassem fazer aulas e era engraçado ver como eles ficavam felizes quando eu aprendia alguma coisa nova. Folheei as páginas e lembrei as notas que eu tocava e tentava acompanhar com a voz, e fiquei triste em pensar em como tinha abandonado minha antiga vontade de cantar e tocar para, segundo meus pais, ser alguém, com uma profissão de verdade. Desde que entrei na faculdade, toquei raríssimas vezes, e essas foram apenas para o Gui, numa espécie de “show particular”. Era muito engraçado porque ele batia palmas no fim e eu ficava muito sem graça, apesar de que eu sempre o adorei como meu único espectador. Gostaria de tocar pra ele de novo algum dia e desenferrujar os dedos e os velhos sonhos. Olhei para o lado e entendi de onde vieram as partituras: eu tinha achado algumas apostilas velhas em um canto do armário e as coloquei na cama para poder doar para alguém, já que eu não iria mais usá-las. Levantei e guardei . 30 .
de volta as partituras em uma gaveta onde eu colocava as lembranças mais especiais: Eu não queria simplesmente me desfazer daquilo tudo. Elas me lembraram de quem eu tinha sido um dia. Terminei de tirar tudo de cima da cama – mesmo o chão continuando uma bagunça –, e me deitei para dormir, exausta, sem nem saber que horas eram. Acordei depois, por volta das nove da manhã, fui lanchar, tomei um banho e chamei meus pais. Chequei de novo se tudo estava pronto e o tempo passou rápido até o Guilherme chegar. Eu desci correndo com minhas malas em uma mão e meus pais na outra. Meu coração estava ainda mais acelerado do que meus passos. Quando eu cheguei à porta do meu prédio e o vi... Não sei se eu parei primeiro, ou meu coração. Ele estava lindo. Lindo não, radiante. Eu abri o maior sorriso, que só perdia para o sorriso dele naquele momento e corri para abraçá-lo. Ele estava com uns óculos escuros, uma camisa polo com listras grossas azuis escuras, uma calça branca e um sorriso, o que o deixava ainda mais lindo. Pedi meu pai para colocar minhas malas no carro, para que eu tivesse um tempinho a sós com o Gui. Meu pai e minha mãe foram, e eu fui logo dando um beijo no Gui. Eu tive a impressão de que meu pai estava olhando, mas naquele momento não importava. Eu o amava tanto, eu o queria tanto! Tentei ser breve e logo entramos no carro rumo ao Aeroporto. Eu mal podia suportar a ideia de que, em algumas horas, eu estaria vivendo os meus sonhos. Na cidade dos meus sonhos e com o menino dos meus sonhos.
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Capítulo 5
A Despedida “Pelo nosso amor em movimento; Pode ser... E é.” Tulipa Ruiz - É
Éramos quatro no carro: meu pai, o Guilherme, minha mãe e eu a caminho do aeroporto de Confins. Uma das minhas músicas favoritas saiu dos alto-falantes do carro e só então eu me toquei que o rádio estava ligado. Heartlines começou a tocar. Eu comecei a refletir sobre a letra daquela música e em como ela dizia muito sobre a minha vida, especialmente naquele momento: “Continue seguindo as linhas do coração na sua cabeça. Continue, eu sei que você consegue”. E, sim, era o que eu estava fazendo. Seguindo as linhas. Do coração. Seguindo meu coração. Eu olhei para o Guilherme e cantei “And your heart is the only place that I call home”*, ele olhou para mim de volta e apertou a minha mão. Então, eu olhei para a rodovia e vi o aeroporto. Alguns minutos depois, já tínhamos entrado e feito o check-in quando ouvi alguém me gritar. Era a Marina, claro. Olhei ao redor e vi todo mundo... A maioria dos meus amigos tinha ido se despedir. Além da Marina, a Ana, o João, o Pedro e a Isabela. Eu corri até eles e abracei todo mundo, já sentindo um pouco de saudades. Ainda faltava um tempinho para o embarque, então eu fui conversando um pouco com cada um enquanto o Guilherme falava algo com meus pais que eu até tentei ouvir, mas não consegui. . 32 .
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Um amor, um café & Nova York Augusto Alvarenga
“Augusto Alvarenga é um garoto que escreve como um adulto, mas tem a alma de um menino. Menino cheio de amor e palavras para espalhar pelo mundo. Mais sinceras e íntimas que um diário, suas palavras são capazes de nos encher de esperança e sonhos e de nos paralisar de encantamento. Além de ter escrito o “Um Amor, Um Café & Nova York”, já escreveu uma grande quantidade de textos, contos e crônicas maravilhosas – e quer mudar o coração das pessoas através das palavras em páginas.” Ana Lígia Fernandes
Inúmeros beijos. Incontáveis abraços, infinitas ligações. Muitos “Eu te amo”. Duas pessoas, dois corações, um sentimento. Eu e você. Amor. Eu queria te encontrar todos os dias, te ligar todas as horas, te beijar a todo minuto e te abraçar o tempo todo. Mas você ia gostar de mim se eu fosse ainda mais grudento? Mais apaixonado? Se eu pudesse fazer isso, não desgrudar de você, você ainda ia gostar de mim? De nós? – Gui
Augusto Alvarenga
Um amor, um café & Nova York
Camila sempre teve um grande sonho: viver um grande romance de cinema, desses cheios de carinho e amor. Ela só não imaginava que, ao conhecer Guilherme, teria tudo isso e muito mais. Na véspera do aniversário de três anos de namoro do casal – e dos 19 anos de Camila –, Guilherme surge com uma surpresa que mudaria para sempre a vida do casal: uma viagem de um mês para Nova York. O que ele não sabia é que esse era outro grande sonho de Camila, que vai fazer de tudo para que essa seja a melhor viagem de todas. Mas Nova York possui brilhos demais... Poderia algum deles ofuscar o do casal?
01/10/14 20:18