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Do mito ao Logos
FRENTE A
MÓDULO A02
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n Do mito ao Logos
Fonte: Wikimedia Commons
FILOSOFIA
DO MITO AO LOGOS
Não é possível compreender o surgimento da Filosofia na Grécia antiga sem antes examinar o processo de ressignificação intelectual que o povo helênico passou, sobretudo, na transição para o Período Arcaico. Durante as épocas anteriores, a cultura grega foi profundamente marcada por uma estrutura explicativa da realidade fundamentada no Mito. O que não significa, a seu turno, que nos períodos subsequentes o mito desaparecerá cedendo lugar absoluto à razão. Ao contrário, o Logos (λόγος, razão) e o Mythós (μυθος, mito) permanecem enquanto estruturas explicativas paralelas, conquanto obedecendo cada vez mais um caráter religioso. #Curiosidades
Será que os gregos acreditavam realmente em seus mitos? Essa é a indagação que permeia a obra de dois grandes influentes pensadores do mundo antigo: Paul-Marie Veyne e Bruno Snell. O entendimento é que hoje se sabe que boa parte dos gregos tomavam os mitos apenas em seu caráter pedagógico, isto é, portador de moralidades caras à formação do espírito helênico. Embora houvesse a atividade sacerdotal e muitos mitos se configurassem como expressões de narrativas religiosas, não era todo o grego que assumia o seu caráter pretensamente explicativo. Essa razão, seguramente, contribuiu para a constituição de uma mentalidade crítica entre os helênicos, e, que, certamente ajudou a moldar o pensamento filosófico que colocava em xeque a autoridade das
A palavra Mito deriva de dois termos gregos: Mythoi e Mytheo. Ambos indicam o conceito de “narrativa”. Trata-se, portanto, de uma forma de explicar um dado evento por meio de uma estrutura de narração. No entanto, não pode ser confundido com outras formas de “contar uma história”, como a fábula, a parábola, etc. Tais se orientam no sentido explícito de serem recursos textuais que, por analogia ou expressões fantasiosas e lúdicas, buscam introduzir um tipo de moralidade no receptor. Não possuem compromisso tácito com a literalidade de suas narrativas. Em outras palavras, não são traduções da verdade e do real, em seu sentido descritivo. Antes, meramente metafórico. Já o Mito, a seu turno, tem a pretensão de ser uma narrativa – ainda que contendo elementos sobrenaturais (ou justamente por isso) – que transcreve e explica o real. Literalmente. É, portanto, uma expressão da verdade.
Os elementos que configuram o Mito podem ser descritas em três características fundamentais. A atemporalidade, isto é, uma não cronologia rigorosa. Em diversos mitos, como exemplo na teogonia de Hércules, o tempo (passado, presente e futuro) é confundido em uma narrativa assimétrica. O recurso à autoridade - uma vez que o processo de transmissão (predominantemente oral) se dava por aqueles que supostamente serviam de intermediário entre os deuses e os homens, isto é, os poetas, magos, adivinhos e toda uma classe sacerdotal – se colocava como segunda característica. Dessa forma, o critério de verdade não estava posto no conteúdo da narrativa, mas na autoridade institucional de quem a proferia. Dessa forma, o critério de veracidade da narrativa era conferido não por sua estrutura explicativa, em si, mas pela “condição de ser” do canal transmissor. Por fim, a impossibilidade de aferição empírica, isto é, os mitos não eram passíveis de ser provados cientificamente. De outra maneira, perderiam a sua condição de mito, conferindo a si a conceituação de “fatos” ou “eventos” comprováveis. Eis a razão pela qual o mito faz parte de um
conjunto de narrativas presentes em estruturas religiosas – que se valem do elemento do “sobrenatural” para validar e conferir força ao seu conteúdo. De modo preciso, o filósofo cristão Tertuliano é assertivo ao dizer: “credo quia absurdum” (creio porque é absurdo). De outra forma, o objeto do creio seria fato – e para esse, não há a necessidade de crença, basta a observação.
Além dessas características, os mitos em geral comportam duas naturezas de narrativas: as cosmogonias e teogonias. A primeira diz respeito a explicações sobre a origem do mundo a partir de um agente criador (cosmo = ordem; universo + gonia = criação). A segunda visa também explicar a criação (em geral, o nascimento, a morte e o nascimento) dos deuses e semideuses. Em geral, são estruturas que se confluem em uma só narrativa. Novamente, o exemplo do nascimento do semideus Hércules - e uma das diversas cosmogonias sobre a criação da terra – é pontual.
SAIBA MAIS
Hércules é o semideus fruto do relacionamento entre Zeus e uma mortal. De acordo com inúmeras narrativas que compõem sua teogonia, a Terra teria sido criada a partir do leite materno de Hera – a deusa grega esposa de Zeus. Ao saber da traição de seu marido e de que estava a amamentar sua cria bastarda, e não de um lacaio como Zeus teria a feito acreditar, Hera projeta Hércules no espaço durante a própria amamentação. Daí que o leite sagrado de Hera – que conferia ao receptor a seiva da imortalidade – goticulou no espaço cósmico, gerando os corpos celestes, dentre eles a Terra. Curiosamente – e isto aponta a atemporalidade – a Terra já existia por força criadora dos Titãs, denotando uma contradição temporal na narrativa.
Fonte: Wikimedia Commons
De acordo com Mircea Elíade, na obra O sagrado e o Profano: a essência das religiões (1970, p.107), o mito:
(…) conta uma história sagrada, quer dizer, um acontecimento primordial que teve lugar no começo do tempo, ab initio (‘desde o início’). Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um mistério, porque as personagens do mito não são seres humanos: são deuses ou heróis civilizadores, e por esta razão sua gesta (‘ações memoráveis’) constituem mistérios: o homem não poderia conhecê-los se lhos revelassem. O mito é, pois, a história do que se passou in ilo tempore (‘naquele tempo’), a narração daquilo que os deuses ou os seres divinos fizeram no começo do tempo. ‘Dizer’ um mito é proclamar o que se passou ab origine (‘desde a origem’). Uma vez ‘dito’, quer dizer, revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta.
Entretanto, a que pese esse caráter fabuloso do Mito, uma questão sensível que aparece é acerca da especificidade das mitologias helênicas. Questionada de outra forma, o que nelas continham que pudesse ter sido decisivo para uma passagem ou ao menos aparecimento de outra forma explicativa no seio da sociedade grega, a filosofia? Por qual motivo a explicação filosófica ganha terreno em um lugar em que milenarmente os mitos serviram não somente como respostas para as questões da natureza, como também foram utilizados enquanto instrumentos pedagógicos por eras?
A resposta pode vir em duas direções.
A primeira é que as narrativas mitológicas aos poucos foram encontrando resistência de assimilação. A não unificação política e administrativa das cidades levava a um isolacionismo de consequências, também, culturais. Não era incomum cada lugar cultuar seus próprios deuses e admitirem apenas narrativas particulares. Dessa forma, nos múltiplos intercâmbios comerciais realizados entre as cidades gregas, o choque de interpretações – cada uma delas advogando para a si a posse da “verdade” - tornam-se cada vez mais comuns e acirrados. A partir do momento em que se dá início um amplo processo de intercâmbios marítimo-comerciais, as narrativas de outros povos também passam a se chocar (e de modo muito mais severo) com aquelas que já encontravam em seu interior problemas sensíveis. A pluralidade de ideias, visões e interpretações de mundo e natureza (física e “sobrenatural”) apareceram com força suficiente para que os helenos colocassem em xeque suas crenças e tradições como modos únicos e absolutos de explicações.
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A segunda é que na própria estrutura da mitologia grega já havia elementos Aquiles (Ἀχιλλεύς) é um de filosoficidade. A crítica, a contestação dos mais icônicos heróis da a regimes de governo, ao sentido da vida mitologia grega. Pontuando e das guerras, a motivação dos deuses, que o conceito de herói na etc., compunham a essência de diverliteratura grega não se reporta sas narrativas. O exemplo mais singular àquele que vence uma batalha, é justamente no poema épico Ilíada, de mas, sim, aquele que tem uma Homero. De início já temos uma expresvida (em feitos e palavras de são literária que visa descrever os motiefeito) gloriosa. Segundo sua vos/sentidos para uma guerra a partir de teogonia, sua mãe, Tétis, na tentativa de fazê-lo imortal, teplurivisões. Há uma multisubjetividade ria o mergulhado no rio Estige. aparente nas versões de diversos persoNo entanto, deixou-o vulnerá- nagens, a se destacar o herói Aquiles. A vel a parte do corpo pelo qual obra, mais do que buscar uma descrição ela o segurava, se calcanhar – dos supostos acontecimentos acerca da razão essa que levou, ao fim da guerra de Troia, a ter sido alvejado na região, levando Guerra de Troia, nos oferta um entena sua morte. Embora essa seja a narrativa mais popularizada, a importância de Aquiles dimento acerca do modus vivendi do no contexto da épica de Troia está mais relacionada ao arquétipo que ele representa, grego antigo, sobretudo em sua relação assim como sua visão subjetiva dos acontecimentos: sempre crítica e mordaz frente aos existencial com a guerra, com a noção destinos e motivações da guerra. de infinitude e (i)mortalidade, etc. Ainda posto, o aludido personagem Aquiles demonstra o arquétipo do homem grego que contrasta os interesses de lideranças políticas e militares, bem como a autoridade dos deuses, enfrentando a sua ira com destemor e bravura. De acordo com a filósofa brasileira Marilena Chauí (2008, p.31-2):
Fonte: Wikimedia Commons A Educação de Aquiles, James Barry, 1772
Gabarito exercícios de fixação
Questão 01: O mito é uma forma explicativa da realidade, do mundo e universo, e das motivações humanas (e supostamente divinas). Durante muito tempo, serviu como base exclusiva da cultura grega. Aos poucos, o grego desenvolve outras formas explicativas calcadas na razão. O mito, via de regra, sobrevive a partir de um “argumento de autoridade” - algo há muito questionado até mesmo no próprio interior do conteúdo narrativo dos mitos gregos
Questão 02: Teogonia: narrativa mitológica que busca explicar o nascimento dos deuses Cosmogonia: narrativa mítica que busca explicar o surgimento do universo a partir de uma perspectiva de criação (intervenção dos deuses, como exemplo) Questão 03: O mito é uma narrativa fabulada, pautada na autoridade de quem transmite, numa lógica estrutural atemporal e na impossibilidade de aferição empírica. A Filosofia trata-se de uma forma de indagar e sugerir hipóteses de respostas fundadas na razão, e que podem ser validadas cientificamente.
Questão 04:
1) Argumento de autoridade 2) Impossibilidade de aferição empírica 3) Argumento de autoridade expressa. Exemplo: narrativa bíblica Questão 05: porque na essência da mitologia grega já se operava elementos de filosoficidade. Não obstante, há uma ruptura sensível, uma vez que a Filosofia se desenvolve a partir de características predominantes, distintas do mito, como a racionalidade e a não evocação de autoridade pessoal.
(...) o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias (…) A pergunta dos estudiosos é a seguinte: ao surgir, a filosofia não é uma cosmogonia, e sim uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas; mas a cosmologia nasce de uma transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical dos mitos? A filosofia continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia? Os estudiosos chegaram a conclusão de que as contradições e limitações dos mitos para explicar a realidade natural e humana levaram a filosofia a retomá-los, porém reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as numa explicação nova e diferente.
Sintetizando, o Mito é uma narração fabulosa, de origem popular e não refletida, dotada de forte sentido simbólico e pedagógico, que tem por finalidade a explicação do mundo (cosmogonia), da realidade que nos circunscreve. Inventada pelos gregos, a Filosofia, enquanto pensamento lógico-racional, paulatinamente, substitui o modelo (absoluto) explicativo do mito, oferecendo uma explicação racional e crítica do mundo (cosmologia). Em certa medida, é correto afirmar que a Filosofia é uma continuidade natural das tentativas helênicas de circunscreverem a realidade através de uma cadeia discursiva, primariamente através do Mito. No entanto, Filosofia e Mito são formas humanas que visam responder – cada um a seu modo particular – os questionamentos levantados sobre questões de ordem natural (surgimento do universo) ou antropológica (sentido da vida, a existência em comunidade). Há, em ambos, um esforço humano em tentar compreender o que denomina por real, reorganizando sua cultura e seus modos de interagir em sociedade. Cada sociedade, a depender de seu contexto sócio-histórico e cultural, se orientam em primazia por um ou outro modo explicativo.
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O filme Troia (do inglês Troy) é uma obra estadunidense produzida em 2004, pelo diretor Wolfgang Petersen, roterizada por David Benioff. A película épica busca reproduzir a guerra narrada na obra Ilíada, célebre poeta grego, Homero. Mais do que uma pretensa narrativa do que foi a mítica guerra entre gregos e troianos, importa nessa obra a forma como a mesma é narrada pela visão subjetiva de Aquiles – o lendário herói grego. Importa ressaltar o conjunto de valores que a todo o momento são evocados no filme/livro e que leva-nos sempre à reflexão acerca do sentido da guerra, da vida e morte, do papel das divindades no transcurso das histórias humanas, etc. Trata-se de um interessante exercício para compreendermos as razões que nos permite afirmar, com propriedade, que as narrativas míticas helênicas já portavam, em si, elementos de filosoficidade.
Ficha técnica:
Título: Troy (Original) Ano de produção: 2004 Direção: Wolfgang Petersen Duração: 162 minutos Gênero: Aventura e Drama País de Origem: Estados Unidos, Malta, Reino Unido e Irlanda do Norte
Exercícios de Fixação
01. O que é o mito? Que razões supostas levaram os gregos a questionarem sua autoridade? 02. Defina os conceitos de Teogonia e Cosmogonia 03. Quais as principais diferenças entre Mito e Filosofia
04. Quais são as três principais características nas narrativas miGabarito na página anterior tológicas? Dê exemplos a partir de outros conteúdos que podem ser qualificadas como mitológicas. 05. Em que sentido a Filosofia aparece como continuidade e ruptura do Mito?
Exercícios Complementares
01. (Uel PR)
Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e casual o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.
(JAEGER, W. Paideia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, é correto afirmar: a) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. b) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma de pensamento plenamente racional desde as suas origens. c) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma gradual.
d) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até hoje são objeto da pesquisa filosófica.
02. (Uel PR) Ainda sobre o mesmo tema, é correto afirmar que a filosofia: a) Surgiu como um discurso teórico, sem embasamento na realidade sensível, e em oposição aos mitos gregos. b) Retomou os temas da mitologia grega, mas de forma racional, formulando hipóteses lógico-argumentativas. c) Reafirmou a aspiração ateísta dos gregos, vetando qualquer prova da existência de alguma força divina. d) Desprezou os conhecimentos produzidos por outros povos, graças à supremacia cultural dos gregos. e) Estabeleceu-se como um discurso acrítico e teve suas teses endossadas pela força da tradição.
03. As lendas sempre foram alicerces para os povos antigos. Os gregos, por exemplo, tributavam suas origens aos heróis que protagonizam a poesia de Homero, e os romanos, aos irmãos
Rômulo e Remo, filhos do deus Marte, eternizados no relato do historiador Tito Lívio.
Essas explicações lendárias: a) Alteram ou reinventaram fatos históricos, justificando alguma condição ou ação posterior dos homens. b) Sempre se basearam em acontecimentos reais, com o único propósito de explicar o passado. c) Confirmaram que as civilizações, em sua origem, não possuem vínculos com seu passado lendário, denominado idade das trevas. d) Afirmam uma reação inconsciente de todos os povos, que tem por fundamento o ideal religioso, desligado de qualquer interesse político. e) São apenas formas artísticas ou literárias independentes dos interesses políticos, por serem estéticas.
04. (Uel PR) Sobre a passagem do mito à filosofia, na Grécia Antiga, considere as afirmativas a seguir.
I. Os poemas homéricos, em razão de muitos de seus componentes, já contêm características essenciais da compreensão de mundo grega que, posteriormente, se revelaram importantes para o surgimento da filosofia.
II. O naturalismo, que se manifesta nas origens da filosofia, já se evidencia na própria religiosidade grega, na medida em que nem homens nem deuses são compreendidos como perfeitos. III. A humanização dos deuses na religião grega, que os entende movidos por sentimentos similares aos dos homens, contribuiu para o processo de racionalização da cultura grega, auxiliando o desenvolvimento do pensamento filosófico e científico. IV. O mito foi superado, cedendo lugar ao pensamento filosófico, devido à assimilação que os gregos fizeram da sabedoria dos povos orientais, sabedoria esta desvinculada de qualquer base religiosa.
Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, III e IV.
05. (Uel PR) Os poemas de Homero serviram de alimento espiritual aos gregos, contribuindo de forma essencial para aquilo que mais tarde se desenvolveria como filosofia. Em seus poemas, a harmonia, a proporção, o limite e a medida, assim como a presença de questionamentos acerca das causas, dos princípios e do porquê das coisas se faziam presentes, revelando depois uma constante na elaboração dos princípios metafísicos da filosofia grega.
(Adaptado de: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. v. I. Trad. Henrique C. Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994. p. 19. )
Com base no texto e nos conhecimentos acerca das características que marcaram o nascimento da filosofia na Grécia, considere as afirmativas a seguir. I. A política, enquanto forma de disputa oratória, contribuiu para formar um grupo de iguais, os cidadãos, que buscavam a verdade pela força da argumentação. II. O palácio real, que centralizava os poderes militar e religioso, foi substituído pela Ágora, espaço público onde os problemas da pólis eram debatidos. III. A palavra, utilizada na prática religiosa e nos ditos do rei, perdeu a função ritualista de fórmula justa, passando a ser veículo do debate e da discussão. IV. A expressão filosófica é tributária do caráter pragmático dos gregos, que substituíram a contemplação desinteressada dos mitos pela técnica utilitária do pensar racional.
Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e III. b) II e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) I, II e IV.
06. (Uel PR) Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.
(OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24.)
Assinale a alternativa que apresenta a “guinada de atitude” que o texto afirma ter sido promovida pelos primeiros filósofos. a) A aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais. b) A discussão crítica das ideias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas. c) A busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião. d) A confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o conhecimento. e) A desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas” conflitantes entre si.
07. (Uem PR) A tragédia grega teve seu auge entre os séculos VI e IV a.C. É a expressão de profundas mudanças ocorridas na ordem sociopolítica e cultural dessa época. A mitologia já não é a única forma de representação do mundo, mas rivaliza com a concepção filosófica fundamentada na razão (logos), e as leis de origem divina confrontam-se com as leis escritas. A tragédia expressa os conflitos e os impasses em que se encontram não apenas a pólis, mas também a alma (psyché) do homem grego.
Assinale o que for CORRETO. 02. A tragédia grega criticava o povo, era uma arte elitista à qual só a aristocracia podia assistir. 04. Ésquilo, ao escrever Prometeu Acorrentado, defende que todos os homens, inclusive os escravos, fossem libertados da obrigatoriedade do trabalho, de forma que pudessem gozar a vida no benefício do ócio e do prazer. 06. Aristóteles, na Poética, afirma que a tragédia nasceu de formas líricas como o ditirambo, isto é, um canto coral em louvor a Dionísio, o deus do vinho. 08. Sófocles escreveu uma tragédia intitulada Édipo Rei, que trata do patricídio e da prática do incesto, essa tragédia é utilizada por Sigmund Freud para elaborar a teoria do complexo de Édipo na psicanálise. 16. É uma das características da tragédia grega representar a vontade e as ações humanas tentando, em vão, escapar ao destino que impera sobre a vida do homem.
08. (Ufu MG) A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-racional. De fato, “[...] não é mais uma ativi-
04-08-16 dade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”.
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta. a) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. b) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia. c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana. d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos.
09. (UnB DF) No início do século XX, estudiosos esforçaram-se em mostrar a continuidade, na Grécia Antiga, entre mito e filosofia, opondo-se a teses anteriores, que advogavam a descontinuidade entre ambos. A continuidade entre mito e filosofia, no entanto, não foi entendida univocamente. Alguns estudiosos, como Cornford e Jaeger, consideraram que as perguntas acerca da origem do mundo e das coisas haviam sido respondidas pelos mitos e pela filosofia nascente, dado que os primeiros filósofos haviam suprimido os aspectos antropomórficos e fantásticos dos mitos. Ainda no século XX,
Vernant, mesmo aceitando certa continuidade entre mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada.
Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de forma mais adequada, essa relação na Grécia Antiga. a) O mito é a expressão mais acabada da religiosidade arcaica, e a filosofia corresponde ao advento da razão liberada da religiosidade. b) O mito é uma narrativa em que a origem do mundo é apresentada imaginativamente, e a filosofia caracteriza-se como explicação racional que retoma questões presentes no mito. c) O mito fundamenta-se no rito, é infantil, pré-lógico e irracional, e a filosofia, também fundamentada no rito, corresponde ao surgimento da razão na Grécia Antiga. d) O mito descreve nascimentos sucessivos, incluída a origem do ser, e a filosofia descreve a origem do ser a partir do dilema insuperável entre caos e medida.