Coleção 10V - 1º Ano - Filosofia - Aluno

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FRENTE

A

FILOSOFIA

MÓDULO A02

ASSUNTOS ABORDADOS nn Do mito ao Logos

DO MITO AO LOGOS Não é possível compreender o surgimento da Filosofia na Grécia antiga sem antes examinar o processo de ressignificação intelectual que o povo helênico passou, sobretudo, na transição para o Período Arcaico. Durante as épocas anteriores, a cultura grega foi profundamente marcada por uma estrutura explicativa da realidade fundamentada no Mito. O que não significa, a seu turno, que nos períodos subsequentes o mito desaparecerá cedendo lugar absoluto à razão. Ao contrário, o Logos (λόγος, razão) e o Mythós (μυθος, mito) permanecem enquanto estruturas explicativas paralelas, conquanto obedecendo cada vez mais um caráter religioso.

#Curiosidades Será que os gregos acreditavam realmente em seus mitos? Essa é a indagação que permeia a obra de dois grandes influentes pensadores do mundo antigo: Paul-Marie Veyne e Bruno Snell. O entendimento é que hoje se sabe que boa parte dos gregos tomavam os mitos apenas em seu caráter pedagógico, isto é, portador de moralidades caras à formação do espírito helênico. Embora houvesse a atividade sacerdotal e muitos mitos se configurassem como expressões de narrativas religiosas, não era todo o grego que assumia o seu caráter pretensamente explicativo. Essa razão, seguramente, contribuiu para a constituição de uma mentalidade crítica entre os helênicos, e, que, certamente ajudou a moldar o pensamento filosófico que colocava em xeque a autoridade das

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 01 - A Fúria de Aquiles, de Tiepolo (1757, afresco, Villa Valmarana, Vicenza)

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A palavra Mito deriva de dois termos gregos: Mythoi e Mytheo. Ambos indicam o conceito de “narrativa”. Trata-se, portanto, de uma forma de explicar um dado evento por meio de uma estrutura de narração. No entanto, não pode ser confundido com outras formas de “contar uma história”, como a fábula, a parábola, etc. Tais se orientam no sentido explícito de serem recursos textuais que, por analogia ou expressões fantasiosas e lúdicas, buscam introduzir um tipo de moralidade no receptor. Não possuem compromisso tácito com a literalidade de suas narrativas. Em outras palavras, não são traduções da verdade e do real, em seu sentido descritivo. Antes, meramente metafórico. Já o Mito, a seu turno, tem a pretensão de ser uma narrativa – ainda que contendo elementos sobrenaturais (ou justamente por isso) – que transcreve e explica o real. Literalmente. É, portanto, uma expressão da verdade. Os elementos que configuram o Mito podem ser descritas em três características fundamentais. A atemporalidade, isto é, uma não cronologia rigorosa. Em diversos mitos, como exemplo na teogonia de Hércules, o tempo (passado, presente e futuro) é confundido em uma narrativa assimétrica. O recurso à autoridade - uma vez que o processo de transmissão (predominantemente oral) se dava por aqueles que supostamente serviam de intermediário entre os deuses e os homens, isto é, os poetas, magos, adivinhos e toda uma classe sacerdotal – se colocava como segunda característica. Dessa forma, o critério de verdade não estava posto no conteúdo da narrativa, mas na autoridade institucional de quem a proferia. Dessa forma, o critério de veracidade da narrativa era conferido não por sua estrutura explicativa, em si, mas pela “condição de ser” do canal transmissor. Por fim, a impossibilidade de aferição empírica, isto é, os mitos não eram passíveis de ser provados cientificamente. De outra maneira, perderiam a sua condição de mito, conferindo a si a conceituação de “fatos” ou “eventos” comprováveis. Eis a razão pela qual o mito faz parte de um


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