Coleção 10V - 2º Ano - Sociologia - Aluno

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Gabriela Junqueira


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SOCIOLOGIA Por falar nisso Quando se pensa numa linguagem política associada à modernidade, é comum se ter uma dicotomia: sociedade civil e Estado. A primeira pode ser definida, de maneira geral, como um âmbito de relações sociais que se estabelecem fora do poder do Estado. Já o Estado, pode ser visto como a instituição em si que exerce uma espécie de poder em suas diversas responsabilidades, poder esse muito associado às coerções sociais, entendidas como tipos de coibição que pairam em seus vários aspectos.

A01 A02 A03 A04

Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura .................................. 8 Socialização e controle social ......................................................................................16 Cidadania e direitos humanos ....................................................................................23 A produção sociológica contemporânea: Zygmunt Bauman e a sociedade líquida....30


FRENTE

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SOCIOLOGIA

MÓDULO A01

ASSUNTOS ABORDADOS n Teoria democrática e regimes

políticos: democracia e ditadura n Ditadura no Brasil

TEORIA DEMOCRÁTICA E REGIMES POLÍTICOS: DEMOCRACIA E DITADURA Ao falar de regimes políticos no cenário moderno, fundamentalmente, podemos pensar em democracia e ditadura. Democracia é uma palavra de origem grega que significa poder do povo- um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, sendo considerado “governo do povo para o povo”, e se opõe às formas de ditadura e totalitarismo. Em um país democrático, os representantes são eleitos pelo voto popular, diferente de um Estado absolutista que, como já vimos, centraliza todas as decisões políticas, o que faz sua força e suas decisões alcançarem âmbitos que antes só obedeciam aos senhores feudais. O rei reunia em sua imagem as decisões e delegações quanto à administração econômica, à justiça e ao poder militar, o que não colocava limites para a ação do Estado. O Estado absolutista teve como representante teórico Thomas Hobbes. Este defendia que o Estado deveria ser a instituição fundamental para regular as relações humanas, dado o caráter da condição natural dos homens que os impele à busca do atendimento de seus desejos a qualquer preço, movida por paixões, pois os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito, de onde surge sua mais conhecida expressão: “O homem é o lobo do homem”. Na democracia, contudo, a figura do povo deve ser central. Os cidadãos têm agora direitos e deveres dentro da sociedade. É importante destacar que esse sistema político pode ser direto, indireto ou semidireto, conforme vemos a seguir. Direto: quando o povo promulga a ele mesmo as leis, tomando as decisões importantes e escolhendo inclusive os agentes de execução. Indireto: quando a população elege representantes, eleitos por meio do voto, por um mandato de duração limitada, e que devem representar os interesses da maioria. A democracia indireta pode também ser chamada de democracia representativa. Semidireto: ocorre quando, no caso das democracias indiretas, o povo é chamado a estabelecer algumas leis por meio de referendos ou mesmo impor vetos a um projeto de lei, ou ainda propor, ele mesmo, tais projetos. Esse modelo recebe o nome também de democracia participativa, que garante, portanto, a participação popular na esfera pública.

Figura 01 - Voto como uma representação da Democracia.

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O Brasil adotou o regime da democracia semidireta, uma vez que as Assembleias Legislativas, o Congresso Nacional, as Câmaras de Vereadores e os membros do Executivo são eleitos representantes do povo e, assim, exercem o poder popular indiretamente. Entretanto, a população também decide e manifesta seu poder de forma direta no caso dos plebiscitos, referendos e projetos de lei de iniciativa popular. Plebiscito e referendo são consultas ao povo para decidir sobre matérias de relevância para a nação em questões de natureza constitucional, legislativa ou administrativa. O que os difere é que o primeiro é convocado previamente à criação do ato legislativo ou administrativo e o segundo é constituído posteriormente, cabendo ao povo ratificar ou rejeitar a proposta. Como exemplos, temos o plebiscito realizado em 1993, cujo objetivo era escolher entre manter a República ou restaurar o governo monárquico, e o referendo, promovido em 2005, a fim de discutir sobre o desarmamento em nosso país, assim essa forma de Democracia permite a intervenção direta e não apenas a fiscalização dos representantes eleitos.

A01  Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura

Quanto às eleições, elas podem ser majoritárias e proporcionais. O primeiro sistema é utilizado nas votações para os cargos de Presidente da República, governador de Estado e do Distrito Federal, senador e prefeito, em que será eleito o candidato que obtiver a maioria dos votos- simples ou relativa – em que será eleito aquele que obtiver o maior número dos votos apurados. Ou absoluta - quando é eleito aquele que obtiver mais da metade dos votos apurados, excluídos os votos em branco e os nulos. Nos casos das eleições para municípios com mais de 200 000 eleitores, se o candidato com maior número de votos não obtiver a maioria absoluta, deverá ser realizado o segundo turno entre os dois candidatos mais votados, em razão do disposto nos Artigos 29, inciso II, e 77 da Constituição Federal. Já o segundo sistema é utilizado nas eleições para os cargos de deputado federal, deputado estadual, deputado distrital (DF) e vereador. Esse sistema foi instituído por considerar que a representatividade da população deve estar de acordo com a ideologia que determinados partidos ou coligações representam. Assim, ao votar, o eleitor escolherá o partido e o político que o representará. Mas é importante observar que, caso o candidato não seja eleito, o voto será somado aos demais da legenda, compondo a votação do partido ou coligação. Portanto, no sistema proporcional, aplica-se o cálculo do quociente eleitoral, obtido pela divisão da quantidade de votos válidos pela quantidade de vagas a serem preenchidas. Em resumo, o voto do eleitor, nesse caso, indicará quantas vagas determinado partido/coligação terá direito. Cabe ressaltar que, mesmo que um candidato tenha votação expressiva, se o partido/coligação não ganhar vaga, ele poderá não ser eleito. Assim, os candidatos mais votados podem preencher as cadeiras recebidas pelos partidos/coligações, conforme a sua colocação. Esse aspecto é o que diferencia o sistema eleitoral proporcional brasileiro do adotado em outros países. No Brasil, quem faz a lista de classificação dos candidatos (ordem de colocação) é o eleitor, por meio do seu voto. Isto é, o candidato que obtiver o maior número de votos dentro de determinado partido/ coligação ficará em primeiro lugar na lista. É o que chamamos de lista aberta. A Ditadura, por sua vez, pode ser definida, segundo Maurice Duverger, como um regime político autoritário, mantido pela violência, de caráter excepcional e ilegítimo. Geralmente, os ditadores chegam ao poder por meio de um golpe de Estado (BLUME, 2017), em que um governo legítimo é derrubado com o apoio de forças de segurança. Algumas ditaduras militares que não conseguem apoio popular são marcadas pela crueldade, perseguições e torturas aos defensores da oposição. É uma forma de governo em que o governante exerce seu poder sem respeitar a democracia, liderando de acordo com suas vontades ou com as do grupo político ao qual pertence, não havendo sequer respeito à divisão dos poderes- executivo, legislativo e judiciário-, já que o ditador é quem costuma exercê-los. Como uma alternativa aos opositores, além de utilizar da crueldade e torturas, como vimos, há também proibição ou controle dos partidos políticos, censura aos meios de comunicação, controle dos sindicatos, proibição de manifestações públicas de oposição e supressão dos direitos civis etc. 9


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Contudo, Bobbio (2007) afirma que a ditadura moderna é marcada pela concentração absoluta do poder e pela subversão da ordem política anterior. Uma característica é clara, na ditadura, há um poder centralizador que força consensos e implementa suas políticas com pouca ou nenhuma consulta à sociedade. É importante destacar o caráter dessas ditaduras. Geralmente, elas entram no que chamamos de regimes de exceção, surgindo assim a partir de golpes de Estado, como já vimos.

Figura 02 - A disputa de poder entre Sila e Mario indicou a crise política do regime republicano de Roma.

À guisa de curiosidade e complemento, devemos destacar a diferença entre as ditaduras modernas e as da Roma antiga, por exemplo. Os ditadores romanos eram investidos pelo senado para atuar em situações de emergência e para tal tinham prazos rígidos que não se prolongavam mais de seis meses. Era assim um mecanismo previsto nas leis. Se pensarmos nos dias de hoje, é singular qualquer previsão legal de instauração de ditaduras dentro de regimes democráticos.

Podemos ter variações de ditaduras, como a militar, fascista e a do proletariado. A mais comum é a militar. Ela ocorre quando as forças militares tomam o poder e, como tem muita força, é muito difícil ser contra-atacada. A ditadura fascista pode ser considerada assim, na medida em que envolve a presença de um líder autoritário, que utiliza da censura e violência, tendo como característica também uma tendência bélica. Por fim, a ditadura do proletariado, que nunca se realizou de fato. Seria exercida pela classe proletária, realizando-se como um estado de transição anterior ao comunismo, em que essa classe teria o controle da sociedade e da política. Contudo, teorias marxistas acreditam que o regime político possuiria bases democráticas, uma vez que as autoridades públicas seriam eleitas e destituídas pelo sufrágio universal.

A01  Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura

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Figura 03 - Benito Mussolini, político italiano creditado como uma das figuras-chave na criação do fascismo.

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Entretanto, vale destacar a diferença entre ditadura e totalitarismo, já que este, além da figura autoritária, sofre também o controle de todos os âmbitos da vida pública e privada, além de utilizar da propaganda política para conquistar e controlar o pensamento da população. Por outro lado, uma ditadura nem sempre é totalitária, já que pode haver alguma pluralidade de pensamento. Mas apesar disso, muitas são de fato totalitárias, como por exemplo o nazismo de Hitler, na Alemanha, e o fascismo de Mussolini, na Itália. O que ambas têm em comum é o fato de serem antidemocráticas por excelência. Portanto, são marcadas pela ausência de democracia.

Figura 04 - Nazismo de Hitler na Alemanha.

Em uma conversa sobre o cenário político nacional, a ditadura sempre aparece como uma das problemáticas principais, pois nosso país possui contato intenso com esse tipo de experiência. Para se ter ideia, o regime ditatorial-militar no Brasil durou 25 anos (de 1964 a 1989) e teve seis governos – incluindo um governo civil – e sua história pode ser dividida em cinco grandes fases. Assim, do ponto de vista cronológico, de acordo com Codato (2005), a história política do regime ditatorial e da transição brasileira da ditadura militar para a democracia liberal pode ser assim descrita:

Figura 05 - Passeata dos Cem Mil: manifestação popular contra a Ditadura Militar no Brasil, que ocorreu em 1968.

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A01  Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura

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Ditadura no Brasil


Sociologia

- Fase 1: –

Etapa 1: março de 1964 (golpe de Estado) – outubro de 1965 (extinção dos partidos políticos)

Etapa 2: outubro de 1965 (tornada indireta a eleição de Presidente da República) – janeiro de 1967 (nova Constituição)

Etapa 3: março de 1967 (posse de Costa e Silva) – novembro de 1967 (início da luta armada)

Etapa 4: março de 1968 (início dos protestos estudantis) – dezembro de 1968 (aumento da repressão política)

- Fase 2:

Consolidação do regime ditatorial-militar (governos Costa e Silva e Médici)

Etapa 5: agosto de 1969 (Costa e Silva adoece; Junta Militar assume o governo) – setembro de 1969 (Médici é escolhido Presidente da República)

Etapa 6: outubro de 1969 (nova Constituição) – janeiro de 1973 (refluxo da luta armada)

Etapa 7: junho de 1973 (Médici anuncia seu sucessor) – janeiro de 1974 (eleição congressual - indireta - de Geisel)

- Fase 3:

Transformação do regime ditatorial-militar (governo Geisel)

Etapa 8: março de 1974 (posse de Geisel) – agosto de 1974 (anunciada a política de modificação do regime)

Etapa 9: novembro de 1974 (vitória do MDB nas eleições senatoriais) – abril de 1977 (Geisel fecha o Congresso Nacional)

Etapa 10: outubro de 1977 (demissão do Ministro do Exército) – janeiro de 1979 (revogação do Ato Institucional nº 5)

- Fase 4:

A01  Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura

Constituição do regime político ditatorial-militar (governos Castello Branco e Costa e Silva)

Desagregação do regime ditatorial-militar (governo Figueiredo)

Etapa 11: março de 1979 (posse de Figueiredo) – novembro de 1979 (extinção dos partidos políticos Arena e MDB)

Etapa 12: abril de 1980 (greves operárias em São Paulo) – agosto de 1981 (Golbery pede demissão do governo)

Etapa 13: novembro de 1982 (eleições diretas para governadores dos estados; maioria oposicionista na Câmara dos Deputados) – abril de 1984 (derrotada a emenda das eleições diretas)

Etapa 14: janeiro de 1985 (vitória da oposição na eleição para Presidente da República) – março de 1985 (posse de José Sarney)

- Fase 5:

Transição, sob tutela militar, para o regime liberal-democrático (governo Sarney)

Etapa 15: abril-maio de 1985 (falece Tancredo Neves; emenda constitucional restabelece eleições diretas para Presidente da República) – fevereiro de 1986 (anunciado o Plano Cruzado contra a inflação)

Etapa 16: novembro de 1986 (vitória do PMDB nas eleições gerais) – outubro de 1988 (promulgada nova Constituição)

Etapa 17: março de 1989 (início da campanha para as eleições presidenciais) – dezembro de 1989 (Collor de Mello vence as eleições presidenciais)

- Fase 6:

Consolidação do regime liberal-democrático (governos Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso)

Etapa 18: março de 1990 (posse do Presidente eleito, Fernando Collor de Mello; anunciado o Plano Collor I) – janeiro de 1991 (anunciado o Plano Collor II)

Etapa 19: dezembro de 1992 (impedimento do Presidente Collor; o vice-Presidente Itamar Franco assume a Presidência da República) – julho de 1994 (lançado o Plano Real)

Etapa 20: janeiro de 1995 (posse do Presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso) – junho de 1997 (aprovada a emenda que permite a reeleição do Presidente da República e dos titulares dos poderes Executivos municipais e estaduais)

Etapa 21: janeiro de 1999 (posse do Presidente reeleito, Fernando Henrique Cardoso) – outubro-novembro de 2000 (vitória dos partidos de oposição nas eleições municipais)

Etapa 22: julho de 2002 (início da campanha para as eleições presidenciais) – janeiro de 2003 (posse do Presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva)

Referências bibliográficas BLUME, Bruno Andre. Afinal, o que é uma ditadura? http://www.politize.com.br/ditadura-o-que-e/ Acesso em: 08 nov de 2017. BOBBIO, N. et al. (Org.) Dicionário de política. Brasília: Editora UnB, 2007. 2v. CODATO, Adriano Nervo. Uma história política da transição brasileira: da ditadura militar à democracia. Rev. Sociol. Polit. [online], n.25, pp.83-106. ISSN 1678-9873. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-44782005000200008, 2005. 12


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 04. 01 + 02 + 04 + 08 = 15. A afirmativa 16 é a única incorreta. A corrupção também afeta leis e instituições, na medida em que interesses particulares são colocados acima dos interesses públicos.

Exercícios de Fixação

“O poder é crescentemente exercido pela maioria. Não veja nessas palavras uma ingênua crença na democracia política. O povo decide, o povo elege... belas expressões das quais é fácil ressaltar o vazio. A democracia política e as liberdades burguesas devem ser defendidas e não se tem o direito de criticar seu caráter burguês, a não ser que se prove ser capaz de realmente defender liberdades mais amplas, compreendendo a liberdade de expressão, de reunião, de organização. Mas os avanços da democracia política e as medidas de proteção e defesa social não impedem o reforçamento do Estado central e da concentração do poder econômico. Digo que o poder está do lado da maioria porque ele tem objetivos vastos demais para poder se apoiar na opressão.” TOURAINE, A. Cartas a uma jovem socióloga. In: COSTA, C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 3ª. Ed São Paulo: Moderna, 2005, p.187 e 188.

A partir da citação acima, é correto afirmar que Alain Touraine 01. reconhece a autoridade da maioria como forma de superação de interesses individuais e arbitrários. 02. critica a ideologia burguesa, a concentração de renda e o status quo. 04. é contrário à liberdade de expressão, pois ela não está salva dos contextos ideológico e partidário. 08. critica a ideia subentendida pela máxima popular segundo a qual “a vontade do povo é a vontade de Deus”. 16. defende o despotismo esclarecido como forma legítima de poder. 02. (Enem MEC) A grande maioria dos países ocidentais democráticos adotou o Tribunal Constitucional como mecanismo de controle dos demais poderes. A inclusão dos Tribunais no cenário político implicou alterações no cálculo para a implementação de políticas públicas. O governo, além de negociar seu plano político com o Parlamento, teve que se preocupar em não infringir a Constituição. Essa nova arquitetura institucional propiciou o desenvolvimento de um ambiente político que viabilizou a participação do Judiciário nos processos decisórios. CARVALHO, E. R. Revista de Sociologia e Política, nº 23. nov. 2004 (adaptado).

O texto faz referência a uma importante mudança na dinâmica de funcionamento dos Estados contemporâneos que, no caso brasileiro, teve como consequência a a) adoção de eleições para a alta magistratura. b) diminuição das tensões entre os entes federativos. Questão 02. D - Se acompanharmos o contexto político e jurídico atual, verificaremos que o Poder Judiciário tem sido constantemente chamado a decidir questão de natureza legislativa. Essa tendência de judicialização é própria da democracia brasileira, que não somente em âmbito político tem apelado cada vez mais para soluções de natureza jurídica em seus conflitos.

c) suspensão do princípio geral dos freios e contrapesos. d) judicialização de questões próprias da esfera legislativa. e) profissionalização do quadro de funcionários da Justiça. 03. (Uema) Até meados de 1970, mais de dois terços de todas as sociedades do mundo poderiam ser consideradas autoritárias. Atualmente menos de um terço das sociedades é de natureza autoritária. A democracia não está mais concentrada nos países ocidentais, ela agora é defendida, ao menos em princípio, em muitas regiões do mundo. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Um exemplo de situação vivenciada em países democráticos é a) a disseminação das expressões artísticas, literárias e musicais, para que a população se adeque às estratificações sociais. b) a possibilidade de consulta popular, em forma de plebiscito, para que o povo expresse suas opiniões a respeito de uma questão específica. c) a redução de oportunidades, para que o cidadão possa intervir em aspectos da vida pública, junto com o Governo. d) a concentração de riquezas nas mãos do Estado, para que o governo possa aumentar as igualdades sociais. e) o grande número de partidos políticos, para que os políticos usem, de forma ilimitada, o poder. 04. (Uem) As assim chamadas “democracias modernas” dependem fortemente do funcionamento de três fatores: as instituições políticas, os partidos políticos e o modo como a competição eleitoral se desenvolve. Considerando essas dimensões e conhecimentos sociológicos sobre o assunto, assinale o que for correto. 01. O surgimento de vários partidos chamados “pequenos”, que recebem essa denominação por terem poucos filiados ou reduzido número de parlamentares, afeta e modifica as relações de força no campo político. 02. O financiamento privado e não declarado das campanhas eleitorais reforça a constituição de alianças entre setores da sociedade baseados em interesses particulares. 04. A propaganda eleitoral gratuita é um direito de todos os partidos políticos no Brasil, independentemente de suas dimensões. 08. A Constituição é o conjunto de leis mais importante de um país. 16. A corrupção afeta o uso de recursos públicos de um país, mas não corrompe suas leis e instituições. Questão 03. B - A democracia corresponde ao governo do povo. Ele pode participar do processo decisório tanto na eleição de seus representantes, quanto de forma direta, em referendos ou plebiscitos.

A01  Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura

01. (Uem) Afirma Alain Touraine sobre a democracia:

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Sociologia Questão 02. Gab. A Resposta do ponto de vista da disciplina de História - A questão remete aos conflitos agrários ocorridos no Brasil, entre o MST e os latifundiários vinculados à UDR, União

Democrática Ruralista. As assertivas [I], [IV] e [V] estão incorretas. Não há igualdade de forças entre MST e UDR, basta observar a enxada contra uma poderosa arma de fogo. A balança nas mãos da UDR deixa claro de que lado a justiça está. O chapéu representa o latifúndio, o fazendeiro e a UDR. Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia - As únicas alternativas corretas são a II e a III. A charge faz uma crítica à forma como a justiça é utilizada no Brasil para defender os interesses dos grandes latifundiários em detrimento dos movimentos sociais rurais, em especial o MST.

Exercícios Complementares 01. (If Sul)

As manifestações públicas que vêm ocorrendo no Brasil nos últimos meses levaram às ruas grupos que defendem a volta do regime militar. Provavelmente, eles não têm conhecimento do Ato Institucional nº 5 (AI 5), instituído nesse período, o qual alterou a vida de milhões de brasileiros ao a) radicalizar o poder gerado pelo golpe político-militar de abril de 1964, com a anuência e o fortalecimento do Congresso Nacional. b) aumentar o volume de impostos e a consequente falência de um grande número de pequenas e médias empresas. c) produzir um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros, dando poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime. d) obrigar a transmissão, por todas as emissoras de rádio, do programa “A Voz do Brasil” e do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV.

A01  Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura

02. (Udesc SC) Visualize com atenção a imagem do chargista Latuff e analise as proposições.

III.

A presença feminina, na charge, faz jus à histórica participação das mulheres nos movimentos sociais de ocupação pela terra. IV. A justiça está representada com uma venda no olho, indicando sua imparcialidade diante dos problemas de disputas de terra no Brasil; ela atua sempre do lado da legalidade, nesse caso, a favor da concentração de riqueza e de propriedade nas mãos de uns poucos. V. O chapéu representando o latifúndio simboliza os movimentos sociais que incluíram a questão da terra como pauta de luta. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras. b) Todas as afirmativas são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras. d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras. e) Somente as afirmativas I, II e V são verdadeiras. 03. (Interbits) Brasil vive momento de ‘anomia’, diz FHC O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita que o Brasil vive um “momento de anomia” - estado que se caracteriza pela ausência de regras- e que é preciso “botar ordem na casa”. “Há falta de sentido de organização e autoridade. Em toda a parte”. Questionado sobre o que faria se estivesse no lugar do presidente Michel Temer, FHC disse que “a essa altura, estaria considerando o futuro do Brasil e pensando bem: será que eu tenho condições de governar?”. Na sequência, o tucano foi perguntado quanto tempo levaria para fazer essa reflexão. “Não muito. As coisas vão variar com muita velocidade, vão se mover com muita rapidez, eu acho. Sem julgar, mas em termos das condições do Brasil, estamos passando por um momento de... Vou falar em sociologuês, mas é simples... De anomia.” NUCCI, João Paulo. Brasil vive momento de ‘anomia’, diz FHC. O Estado de S.Paulo. 22 mai. 2017. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/ noticias/geral,brasil-vive-momento-de-anomia-diz-fhc,70001804232> Acesso em 25 mai. 2017.

I.

II.

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A igualdade de forças entre os dois personagens da imagem está bem demarcada pela enxada na mão da mulher e a arma de fogo apontada pelo jagunço. A presença da balança na mão do atirador representa de que lado a justiça pende diante dos confrontos entre latifundiários e movimentos sociais de luta pela terra.

Questão 03. Gab. B - Anomia é um conceito durkheimiano e significa “ausência de normas, desordem”. Sabendo que Durkheim se inspirou no positivismo, podemos inferir que a alternativa B é a correta. Vale ressaltar que outras alternativas também possuem conteúdo plausível, mas nenhuma outra apresenta conteúdo sociológico.

Considerando o contexto político apresentado na notícia acima, assinale a alternativa que apresenta, de forma correta, uma interpretação sociológica do contexto brasileiro. a) O Brasil vive em uma anomia pela pobreza e desnutrição de sua população. b) Ao utilizar o conceito de anomia, Fernando Henrique Cardoso faz referência a uma corrente de pensamento sociológico que tem origem no positivismo de Auguste Comte, que valoriza ideais como a ordem e o progresso. c) Fernando Henrique Cardoso é um ex-presidente do Brasil, do PSDB. Sua análise da política tem como objetivo evitar que Lula chegue ao poder nas próximas eleições.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 04. Gab. B. A existência de populações multiétnicas depende do reconhecimento das diversas etnias no território nacional. Isso somente pode se dar através da universalização de direitos e de um amplo respeito jurídico e social à diversidade.

d) Há uma clara intenção do ex-presidente de criticar o atual presidente, Michel Temer. Assim, Fernando Henrique demonstra que seu objeto é assumir o país através de eleições indiretas.

Questão 05. A democracia brasileira é relativamente recente. Assim sendo, é compreensível que ainda não esteja consolidada. A figura da questão apresenta a fraqueza dessa democracia em garantir a estabilidade política e os interesses da maioria da população, uma vez que as pessoas estão descontentes. Por outro lado, o fato de as pessoas poderem se manifestar livremente e interferir nas atitudes dos governantes é uma das forças de nossa democracia.

a) estabelece o direito ao voto como única forma de participação política.

b) controla e limita a participação política de determinados grupos da sociedade civil.

o sentido de organização e autoridade, FHC demonstra que tem uma visão política baseada nas ideias de John Locke, ou seja, de que o homem é naturalmente livre.

c) garante apenas aos cidadãos letrados o acesso aos debates no espaço público. d) permite a elaboração de direitos políticos universalizáveis. 07. (Enem PPL) A teoria da democracia participativa é construída

04. (Enem MEC) Muitos países se caracterizam por terem popula-

em torno da afirmação central de que os indivíduos e suas ins-

ções multiétnicas. Com frequência, evoluíram desse modo ao

tituições não podem ser considerados isoladamente. A existên-

longo de séculos. Outras sociedades se tornaram multiétnicas

cia de instituições representativas em nível nacional não basta

mais rapidamente, como resultado de políticas incentivando a

para a democracia; pois o máximo de participação de todas as

migração, ou por conta de legados coloniais e imperiais.

pessoas, a socialização ou “treinamento social” precisa ocorrer

GIDDENS. A. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012 (adaptado).

em outras esferas, de modo que as atitudes e as qualidades

Do ponto de vista do funcionamento das democracias contem-

vimento ocorre por meio do próprio processo de participação.

porâneas, o modelo de sociedade descrito demanda, simulta-

A principal função da participação na teoria democrática parti-

neamente,

cipativa é, portanto, educativa.

psicológicas necessárias possam se desenvolver. Esse desenvol-

a) defesa do patriotismo e rejeição ao hibridismo.

PATEMAN, C. Participação e teoria democrática. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

b) universalização de direitos e respeito à diversidade. c) segregação do território e estímulo ao autogoverno.

Nessa teoria, a associação entre participação e educação tem

d) políticas de compensação e homogeneização do idioma.

como fundamento a

e) padronização da cultura e repressão aos particularismos.

a) ascensão das camadas populares.

05. (Ufjf-pism) O exercício do governo envolve sempre relações de poder entre governantes e governados. A democracia, com o ideal do autogoverno, oferece uma base de legitimação para o exercício do poder político, fundamentada em princípios de

b) organização do sistema partidário. c) eficiência da gestão pública. d) ampliação da cidadania ativa. e) legitimidade do processo legislativo.

que todo o poder emana do povo e todos são iguais politica-

08. (Uem) O Brasil, como define a Constituição de 1988, é uma

mente. Porém, em várias partes do mundo, há descontenta-

República Federativa. Em relação ao republicanismo, é correto

mento popular com os governantes. Esse descontentamento,

afirmar:

muitas vezes, assume a forma de protestos e manifestações. A

01. A tradição republicana é proveniente da Roma Antiga e

imagem abaixo retrata um momento das manifestações ocorri-

seus fundamentos foram retomados, no Renascimento,

das no Brasil no ano de 2013.

por Maquiavel, na formulação filosófica dos princípios políticos modernos. 02. Um dos princípios do pensamento republicano é o de que a boa ordem política consiste na liberdade dos cidadãos. 04. As leis do Estado republicano criam os mecanismos de controle dos governantes para que estes não exerçam de forma arbitrária a dominação sobre os governados. 08. A Constituição Brasileira estabelece um republicanismo que garante a defesa do poder decisório do Estado organizado por meio da ação institucionalizada de diversos agen-

EXPLIQUE como essa imagem exibe, ao mesmo tempo, as forças e as fraquezas da democracia em nosso país. 06. (UFU MG) Um sistema político democrático contemporâneo é aquele que Questão 06. Gab. D. A democracia corresponde ao governo do povo. Na contemporaneidade, ela existe tendo em consideração sua capacidade de universalizar o acesso à participação no processo decisório. Em outras palavras, a democracia é o regime em que todos podem exercer seus direitos políticos de forma plena.

tes e grupos sociais. 16. Em defesa dos princípios de ordem e progresso, é permitido ao poder Executivo brasileiro dissolver a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, suspender os direitos individuais e decretar a extinção do voto direto e universal. Questão 07. Gab. D - A participação na democracia está intimamente vinculada

ao exercício da cidadania. Nesse sentido, é que a democracia participativa tende a garantir uma cidadania mais ativa do que outras formas de organização, como a democracia representativa.

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A01  Teoria democrática e regimes políticos: democracia e ditadura

e) Ao criticar a governabilidade de Michel Temer e defender


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A02

ASSUNTOS ABORDADOS n Socialização e controle social n Tipos de controle social

SOCIALIZAÇÃO E CONTROLE SOCIAL A sociabilidade é desenvolvida por meio do processo de socialização, pelo qual o indivíduo integra-se no grupo em que nasceu. Assim, você e a maioria dos que habitam a sua rede de convivência direta e indireta, compartilhando um conjunto de normas e valores específicos atuam no processo de socialização. E seria errôneo afirmar que uma sociedade constitui-se apenas por indivíduos sem qualquer tipo de ligação pessoal, pois todos nós acabamos por nos tornar parte de grupos que possuem contato mais próximo à nossa realidade diária, com os quais dividimos interesses, objetivos e similaridades de ideias e condições, sejam econômicas ou de posição social. Assim, a sociedade como um todo é um conjunto de pessoas, indivíduos, que ligadas pela necessidade de auxílio mútuo, buscam garantir as condições de vida e a satisfação dos seus interesses. No mundo moderno, contudo, as relações sociais são construídas pela interdependência, constituindo-se em uma relação de dependência recíproca que é responsável pela coesão entre as pessoas. Mesmo em uma realidade em que a grande maioria tem hábitos voltados para a vida urbana com muitos artifícios que as tornam autossuficientes, não há quem não necessite estabelecer essa relação de solidariedade. Entretanto, as necessidades não são somente no âmbito material. Os seres humanos não vivem em comunidade por escolha pessoal, mas porque a vida social impõe certos comportamentos padrões, caracterizando-se assim como um fenômeno sui generis (do latim, “de seu próprio gênero”). Isso nos faz pensar que o ser humano manifesta duas vontades concomitantemente: um desejo por independência, buscando cada vez mais recursos que os tornem autônomos em muitos âmbitos de suas vidas, e outra por fazer parte e pertencer a determinados grupos, como a família, a nação, a uma ideologia, algo que tenha um significado importante, pois é assim que ele além de satisfazer suas necessidades, desenvolve-se, indo além de sua individualidade e buscando frequentemente pela integração. Esta nem sempre acontece de forma pacífica, já que, muitas vezes, há embate de ideias e conflitos que estão presentes nas relações, porque elas são diferentes e/ ou porque têm objetivos e interesses distintos. Todo esse desenvolvimento se daria de forma mais prática e justa se houvesse equilíbrio, compreensão, autonomia, confiança, respeito, pois devemos entender que dependemos uns dos outros em vários sentidos.

Figura 01 - Somos parte de um todo

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Os conflitos podem ser então resultados do desrespeito às diferenças, da intolerância, da necessidade de pessoas ou grupos se sentirem superior aos outros. Da mesma forma, podemos interferir positivamente ou negativamente na vida do outro e vice-versa.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Quando nascemos, os traços culturais não estão incutidos em nosso inconsciente. Daí o fato do processo de socialização atuar enquanto aprendizagem de uma cultura, de determinadas normas e regras. Para a criança, por exemplo, o processo acontece no cotidiano, no contexto em que está inserida. Ela aprende determinadas formas de compreender sua realidade e de interagir com os outros. Esse processo garante ainda que, a criança, enquanto novo sujeito social, aprenda como guiar-se neste mundo cheio de símbolos e significados. E embora se inicie na infância, o processo de socialização não termina com a chegada da vida adulta, pois o comportamento e compreensão de mundo se altera a todo momento, e é esse contato que garante a continuidade do processo de socialização. É um processo em que os indivíduos entrarão em contato com um enorme número de contextos e grupos sociais que são dotados de diferentes visões de mundo. Quanto a esse processo de socialização, Anthony Giddens (2008) especifica duas etapas: a primeira fase se dá na infância e é o período de maior aprendizagem cultural da vida do ser humano, em que ele aprende sua primeira língua e começa a ter seu comportamento moldado pelo convívio social com sua família, pois a “descoberta” do mundo externo começa no seio familiar, o que pode ser chamado de socialização primária. Esse contato, portanto, caracteriza-se por ser pessoal, direto e com influência afetiva. Já o segundo período – socialização secundária - acontece na fase mais madura do ser humano. Ele representa todo e qualquer processo que introduz um indivíduo já socializado em novos setores no mundo objetivo da sociedade, em que vamos assumindo novos papéis em vários grupos a que vamos pertencendo, adquirindo papéis sociais determinados pelas relações sociais desenvolvidas. Pensemos agora nas ins�tuições sociais, que são instrumentos que regulam de alguma forma nossas ações, estabelecendo regras que são reconhecidas e reproduzidas socialmente. Sendo assim, essas instituições determinam os procedimentos dos grupos de acordo com padrões, valores e comportamentos, podendo agir como uma espécie de controladoras da sociedade.

Entender então o processo de socialização e o que são as instituições sociais é fundamental para darmos um passo adiante nessa discussão: pensar sobre o controle social. Este representa as formas pelas quais a sociedade impõe seus valores com o intuito de evitar que haja comportamentos contrários do que aceita. Por esse motivo, a socialização é vista como uma série de controles exercidos de fora e apoiada por algum sistema de recompensas e castigos, no caso das crianças, pois assim elas penetram nesse mundo e adquirem capacidade de participar dele (BERGER; BERGER, 1977).

Fonte: Wikimedia commons

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Tais entidades podem ser espontâneas ou criadas, com fins reguladores ou operacionais. As instituições espontâneas surgem a partir das relações estabelecidas entre os agentes sociais, como a família, por exemplo, enquanto que as criadas, servem para regular e organizar a sociedade e não surgiram espontaneamente, como as igrejas, por exemplo. Quanto a seus fins, uma vez sendo reguladoras, atuam regulando diversos aspectos da sociedade (igrejas, escolas etc.); e sendo operacionais, operam sobre diversos aspectos, como os órgãos públicos de operação, que podem ser vistos na figura do Departamento de finanças.

Figura 02 - Sociólogo Peter Berger.

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Sociologia

O controle social leva as pessoas a evitarem um determinado comportamento em determinada época e logo depois esse comportamento é socialmente aceito, como foi com o uso da minissaia e roupas de banho etc. A primeira agência de controle social é a família, pois no seu seio a criança é orientada e controlada. Desse modo, “uma instituição pode ser considerada como um padrão de controle, ou seja, uma programação da conduta individual imposta pela sociedade” (BERGER; BERGER 2004, p.163). De acordo com o referido autor, essas instituições, enquanto agente do controle social, carregam consigo algumas características comuns, a saber:

Exterioridade

As instituições são experimentadas como algo dotado de realidade exterior; é alguma coisa situada fora do indivíduo, algo que, de certa maneira, difere da realidade formada pelos pensamentos, sentimentos e fantasias da pessoa.

Objetividade

As instituições são experimentadas como possuidoras de objetividade.

Coercitividade

As instituições são dotadas de força coercitiva. Em certa medida, essa qualidade está implícita nas duas que já enumeramos: o poder essencial que a instituição exerce sobre o indivíduo consiste justamente no fato de que essa instituição tem existência objetiva e não pode ser afastada por ele.

Autonomia moral

As instituições têm uma autoridade moral. Invocam um direito à legitimidade, reservam-se o direito de não só ferirem o indivíduo que as viola, mas ainda o de repreendê-lo no terreno da moral.

Historicidade

As instituições têm a qualidade da historicidade. Não são apenas fatos, mas acontecimentos históricos, ou seja, têm uma história. Em praticamente todos os casos experimentados pelo indivíduo, a instituição existia antes que ele nascesse e continuará a existir depois de sua morte.

Tipos de controle social

Externas: seriam as intervenções diretas no meio social, coibindo os indivíduos que não seguem o padrão social estabelecido, sujeitos a sanções e punições que garantem o restabelecimento da ordem. Elas correspondem às leis e regras institucionalizadas. O controle social externo pode ser visto nas leis e na polícia, por exemplo, quando o indivíduo que não cumpre determinadas leis pode estar sujeito a pagar multas ou mesmo ser encarcerado. A instituição policial é dotada de um poder simbólico e físico que, legitimado pelo Estado, garante que as ações dos indivíduos não extrapolem as regras. Para Bayley (2001), a polícia tem como competência exclusiva o uso da força física real ou por ameaça, para afetar o comportamento da sociedade. “A polícia se distingue, não pelo uso real da força, mas por possuir autorização para usá-la” (BAYLEY, 2001, p. 20). Dessa forma, a ação policial gera debates e polêmicas, já que os policiais que cumprem sua função em determinadas ações, podem agir de modos diferenciados. Figura 03 - Polícia como instituição que representa uma forma de controle social externa.

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Alf Ribeiro / Shutterstock.com

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Sabendo então que controles sociais são mecanismos de intervenção utilizados para que os indivíduos se comportem de maneira desejável, falaremos sobre alguns tipos de controle. Bobbio faz a distinção de duas formas de controle social, denominadas abaixo.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Internas: são aquelas que fazem parte da consciência dos indivíduos, que estão interiorizadas, correspondendo às normas de conduta social que são reconhecidas e compartilhadas em uma sociedade, como costumes, por exemplo. Esse tipo de controle ocorre a partir do processo de socialização, em específico a primária, ou seja, são aqueles que não ameaçam uma pessoa externamente, mas agem por meio de sua própria consciência. Foucault (2010) também estudou as formas de controle social e segundo sua teoria, a construção de um indivíduo dócil, útil e submisso se dá por meio de processos e instituições disciplinadoras, como a escola, por exemplo, já que ela moldaria indivíduos dóceis e úteis ao meio social.

Figura 04 - Escola como instituição que representa uma forma de

Fonte: Wikimedia commons

Esse debate sobre controle social pode ser visto de duas controle social interno. maneiras. A primeira é positiva, pois quem o defende afirma que ele é necessário para que todos possam conviver em um mesmo espaço social, já que, como afirma Thomas Hobbes, a maior parte dos indivíduos são maus em sua essência e precisam de um certo controle para conviverem de forma harmônica. Contudo, há quem critique as formas de controle social e como eles são acionados, uma vez que podem ser vistos como tendo a função de domínio da classe dominante, ou seja, o Estado, que garantiria por meio de instituições, como a escola, que pensamentos da classe dominante continuem a dominar com o intuito de manter a estratificação social, que refere-se ao fato de que toda sociedade compõe-se de níveis inter-relacionados em termos de ascendência subordinação, seja em poder, privilégio ou prestígio. O tipo de estratificação mais importante na sociedade ocidental é o sistema de classes, que define a posição do indivíduo no contexto social por critérios econômicos.

Figura 05 - Charge sobre controle social, que chama atenção para o fato de que nem todos percebem como estão sendo monitorados e controlados a todo tempo.

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Referências bibliográficas BAYLEY, David. Padrões de Policiamento. São Paulo: EDUSP, 2001. BERGER, P; BERGER, B. Socialização: como ser um membro da sociedade; O que é uma instituição social?. In: FORACCHI, M.; MARTINS, J de S. In: Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 2004. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 38 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

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Sociologia Questão 01. Gab. D - É pelo processo de socialização que um indivíduo passa a tornar-se membro de uma sociedade, internalizando comportamentos, significados e valores. Esse processo é fundamental para a existência tanto do indivíduo como ser social, quanto para a reprodução da sociedade através das gerações.

Questão 02. Gab. A - Segundo a corrente interacionista da sociologia, no processo de socialização ocorre uma relação dialética entre a cultura e a personalidade. A sociedade (ou cultura), construída pelo sujeito, condiciona-o e determina qual a matriz sobre a qual o indivíduo pode construir sua personalidade pessoal. Nesse sentido, podemos dizer que a individualidade é socialmente condicionada e, por isso, somente a alternativa A é correta.

Exercícios de Fixação 01. (Unimontes) Socialização é um conceito-chave utilizado na Sociologia para reconhecer que identidades sociais, papéis e trajetórias de indivíduos e grupos sociais são construídos por meio de um processo contínuo de transmissão cultural. Portanto, é CORRETO afirmar: a) Os indivíduos são seres antissociais que somente pautam suas vidas influenciados pelo individualismo utilitário. b) A socialização não expressa a heterogeneidade das populações e seus modos de vida, mas somente a condição de nascimento das pessoas. c) A socialização desagrega os indivíduos numa comunidade, impossibilitando as relações sociais e a participação em decisões públicas. d) Socialização é o processo de aprender a tornar-se membro de uma sociedade, por meio do qual nos tornamos seres sociais. 02. (Uel) “Socialização significa o processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com seus folkways e mores [...]. Há pouca dúvida de que a sociedade, por suas exigências sobre os indivíduos, determina, em grande parte, o tipo de personalidade que predominará. Naturalmente, numa sociedade complexa como a nossa, com extrema heterogeneidade de padrões, haverá consideráveis variações. Seria, portanto, exagerado dizer que a cultura produz uma personalidade totalmente estereotipada. A sociedade proporciona, antes, os limites dentro dos quais a personalidade se desenvolverá”. Fonte: KOENIG, S. Elementos de Sociologia. Tradução de Vera Borda, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1967, p. 70-75.

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Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar: a) Existe uma interação entre a cultura e a personalidade, o que faz com que as individualidades sejam influenciadas de diferentes modos e graus pelo ambiente social. b) Apesar de os indivíduos se diferenciarem desde o nascimento por dotes físicos e mentais, desenvolvem personalidades praticamente idênticas por conta da influência da sociedade em que vivem. c) A sociedade impõe, por suas exigências, aprovações e desaprovações, o tipo de personalidade que o indivíduo terá. d) O indivíduo já nasce com uma personalidade que dificilmente mudará por influência da sociedade ou do meio ambiente. e) São as tendências hereditárias e não a sociedade que determinam a personalidade do indivíduo. 03. (Ufpr) A socialização da criança é fundamental para a construção do eu social. Em que consiste esse processo e por que a sociologia atribui-lhe tanta importância?

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Questão 03. Gab. A socialização primária da criança é realmente uma das funções primordiais para a família no seu modelo contemporâneo. Através da instituição familiar e mediante um processo de identificação afetiva, a criança aprende a língua e incorpora a cultura, os valores, os comportamentos aceitos e o seu papel dentro da sociedade. A socialização primária é a etapa mais importante para a constituição do indivíduo social.

04. (Ufpa) Pode-se dizer que as diferenças culturais existentes na humanidade são explicadas e compreendidas, entre outros fatores, por meio de seus processos de socialização. A escola é um importante espaço desse processo porque a) proporciona a educação formal, que é um instrumento relevante na manutenção das realidades socioculturais, uma vez que apenas os membros mais velhos de uma dada sociedade determinam o modo se ser, agir e pensar das novas gerações. b) é possível perceber, no universo da sala de aula, o caráter formal e informal da educação, pois alunos e professores trazem consigo uma bagagem cultural que se manifesta espontaneamente e em situações diversas. c) transmite modelos sociais de comportamento homogêneo, uma vez que as diferenças sociais e culturais entre as pessoas garantem o dinamismo neste processo educativo. d) busca ampliar ações afirmativas por meio do diálogo com outras identidades, ou seja, o interculturalismo, baseando-se na eliminação das diferenças socioculturais e reforçando conflitos e disputas pela manutenção ou ampliação de poder. e) aprender e ensinar aspectos culturais são processos que se manifestam em momentos e lugares específicos da educação formal, como é o caso do que se processa nas escolas e universidades. 05. (Uem) “O casamento é assim há cerca de três mil anos. A monogamia surgiu com a família, para garantir a manutenção da herança nas mesmas mãos. A relação fora do casamento era um crime inadmissível, o adultério. Mas só para as mulheres, pois o marido não podia correr o risco de ter um filho bastardo. Os homens não tinham esse problema. Sempre se sabe quem é a mãe de uma criança. Já o pai precisou esperar até a Ciência desenvolver os testes com base no DNA para ter certeza de que o filho é seu.” (OLIVEIRA, Malu. Homem e mulher a caminho do século XXI. São Paulo: Ática, 1997, p. 30).

Considerando o texto acima e seus conhecimentos sobre a instituição família, assinale o que for correto. 01. Os laços de parentesco são estabelecidos a partir da consanguinidade ou do casamento. 02. Em determinados contextos, o crime de adultério serviu para penalizar e expor as mulheres a severos julgamentos sociais sobre sua idoneidade moral. 04. Os modelos de família patriarcais não influenciaram a formação social e cultural das sociedades ocidentais. 08. A família é uma instituição social estática, e os exames de DNA são recursos modernos que dificilmente são utilizados para definir a paternidade. 16. Nas sociedades ocidentais, as uniões monogâmicas são instituições que auxiliam a perpetuação das heranças em uma mesma unidade familiar.

Questão 04. Gab. B - Somente a alternativa B é correta. As alternativas A e E são incorretas por considerarem a escola somente como um processo de educação formal. Já as alternativas C e D são contraditórias: a transmissão de modelos sociais de comportamento homogêneo contradiz a pretensão de dinamismo no processo educativo, assim como a afirmação do multiculturalismo contradiz a manutenção e ampliação do poder.

Questão 05. Gab. 01 + 02 + 16 = 19. A autora chama atenção para as alterações que a instituição família sofreu ao longo do tempo, dando aparato a questões históricas bem curiosas, sem deixar de lado a ênfase na importância desta relação.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. Gab. E - Ainda que a escola tenha como função desenvolver o senso crítico-reflexivo nos estudantes, ela também tem uma função de reprodução da sociedade: a de transmitir o legado cultural através das gerações. Assim sendo, ela não pode ser absolutamente revolucionária, pois isso faria com que ela deixasse de existir.

Questão 02. Gab. D - A alternativa D é a única que não está de acordo com o tipo de socialização familiar. Na família, as relações não são formais e hierárquicas como o Estado. Por acontecerem em ambiente privado, há diversas formas de organização dessas relações, dependendo da forma como a família é construída, exatamente como pondera a alternativa C.

Exercícios Complementares 01. (Upe ssa) A Escola é considerada pela Sociologia uma instituição, pois se trata de um conjunto de relações entre indivíduos mediadas por normas e procedimentos padronizados de comportamento, aceitos pela sociedade como importantes para a socialização dos sujeitos e para a transmissão de determinado conhecimento compartilhado pela cultura. Assinale a alternativa que NÃO indica uma das funções das instituições escolares. a) Preparar os sujeitos para os papéis profissionais e ocupacionais. b) Transmitir a herança cultural do grupo. c) Promover a mudança social por meio de pesquisas. d) Estimular a sociabilidade entre os sujeitos. e) Desenvolver o senso crítico-reflexivo para questionar a autoridade dos adultos e romper com as regras sociais. 02. (Upe ssa) Leia a tirinha de Mafalda a seguir:

d) As relações entre os membros desse grupo tendem a ser formais e hierárquicas, obedecendo a uma organização determinada pelas leis formais do Estado. e) A coesão das relações entre os indivíduos é constituída de objetivos mediados pelo trabalho e pelo uso de recursos materiais. 03. (Uema ) A Sociologia, tradicionalmente, é a ciência que estuda a sociedade. Expressão abstrata, visto que não há uma definição precisa. Mas, a literatura indica que toda sociedade deriva de grupos sociais, compreendidos como “um agregado de seres humanos no qual (1) existem relações específicas entre indivíduos que o compreendem e (2) cada indivíduo tem consciência do próprio grupo e de seus símbolos”. É necessário, portanto, que haja interação e identidade entre os membros do grupo. OUTHWAITE, William; BOTTOMORE, Tom (editores). Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2008.

Um exemplo de grupo social é (são) a) multidão em um domingo na praia. b) pessoas em uma fila de cinema. c) alunos em uma sala de aula. d) jovens em festival de música. e) indivíduos lendo jornal. 04. (Upe-ssa ) Observe a imagem a seguir:

Ela apresenta um grupo social responsável pela socialização dos mais jovens. Sobre esse assunto, assinale a alternativa que NÃO indica uma característica desse conceito sociológico. a) Os membros desse grupo se conhecem intimamente, possibilitando contatos sociais, pessoais e totais, ou seja, intensos. b) Os indivíduos pertencentes ao grupo são insubstituíveis por haver uma relação de dependência entre si. c) O tamanho do grupo varia bastante, sendo, atualmente, constituído por relações de parentesco diversificadas, baseadas em laços biológicos e, também, afetivos. Questão 03. Gab. C - O grupo social que melhor se insere nas duas características apresentadas no enunciado da questão é o de alunos em uma sala de aula. Ali, os indivíduos compartilham uma relação simbólica (aprendem e socializam entre si), além de terem uma identidade comum (são todos da mesma turma, o 3º A, por exemplo). Em todos os outros exemplos, não há pelo menos uma dessas duas características acima mencionadas.

A02  Socialização e controle social

Disponível em: <http://www.praquemgostadeler.com.br/2013/04>

Disponível em: <https://lucasarodrigues.wordpress.com/2013/11/28> Acesso em: junho 2015 Questão 04. Gab. A- A figura faz referência à interação social não recíproca. Uma vez que a criança sofre uma influência da mensagem televisiva e não pode interferir na televisão, não há reciprocidade e, portanto, a interação é unilateral.

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Sociologia Questão 05. Gab. 01 + 02 + 04 + 08 = 15. A alternativa 16 é a única incorreta. Ainda que a sociedade ocidental esteja vivendo uma alteração na concepção de família, o modelo tradicional (de pai, mãe e filhos) continua a existir, mesmo que eventualmente deixe de ser hegemônico.

Questão 06. Gab. B- Implicitamente, o texto faz referência à família como instituição social. Podendo variar historicamente e culturalmente, a família pode ter diversas configurações, tal como apresenta o texto da questão.

A relação social estabelecida ocorre entre dois agentes sociais.

constituída por um homem e uma mulher pode oferecer essa

Aparentemente um dos lados exerce influência significativa so-

estrutura, ganhou repercussão, nas redes sociais, o caso do ga-

bre o outro. A Sociologia classifica essa ação como

roto de quatro anos que foi adotado por um casal homossexual

a) Interação social não recíproca.

após ser rejeitado por três casais heterossexuais com as justifi-

b) Interação social bilateral.

cativas de ser “feio” e “negro demais”. (...)

c) Retardamento cultural.

Disponível em: <http://www.diariodepernambuco.com.br/ app/noticia/brasil/2015/02/27/> Adaptado. Acesso em: junho 2015

d) Assimilação direta. e) Aculturação. 05. (Uem) Sobre a instituição familiar é correto afirmar: 01. A palavra família é usada para designar grupos bastante

O tema apresentado no texto se refere ao conceito sociológico de a) Comunidade. b) Instituição social.

distintos, que vão além da estrutura nuclear composta pe-

c) Indicadores políticos.

las figuras paterna e materna, cuidadoras dos filhos biolo-

d) Igualdade de gênero.

gicamente gerados.

e) Democratização das classes trabalhadoras.

02. O reconhecimento da diversidade familiar pela lei e pelo Estado garante uma ampliação dos direitos de beneficiários de pensão, divisão de bens, adoção e herança. 04. A desvinculação da noção de família e de parentesco das determinações consanguíneas permite a formulação de pautas de reivindicação política associadas ao feminismo e à conquista de direitos dos homossexuais. 08. A definição de família se dá por meio de uma lógica de classificação social, dinâmica e variada, como já apontou o antropólogo Claude Lévi-Strauss. 16. O modelo hegemônico de família existente no mundo ocidental está prestes a desaparecer como instituição social, devido aos ataques morais sofridos nas últimas décadas. 06. (Upe ssa ) Leia o texto a seguir: Amor Menino rejeitado por casais heterossexuais por ser “feio e negro demais” é adotado por casal homossexual O garoto de quatro anos havia sido rejeitado por outros três casais heterossexuais.

07. (Ueg GO) Para as “boas” escolas vão sempre os professores mais competentes e experientes. Nelas, as condições de trabalho são melhores. Há um número menor de alunos por turma e o tempo de aula é maior. O material didático é abundante e de boa qualidade. Nas escolas “carentes” dá-se o contrário. Os professores estão sobrecarregados e insatisfeitos. Por causa disso, ficam pouco tempo na escola. O material didático (cartilhas, livros etc.) é inadequado e insuficiente. As turmas estão superlotadas e as crianças têm menos tempo de aula. Nessas escolas, os professores faltam com mais frequência às aulas, os alunos são rebeldes ou desinteressados e há mais problemas de disciplina. CECCON, C.; OLIVEIRA, M. D ; OLIVEIRA, R. D. A Vida na escola e a escola da vida. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1983. p. 52-53.

As afirmações acima, em nível geral, apresentam uma descrição do sistema escolar brasileiro em seu nível fundamental. Essa situação do sistema escolar pode ser melhor explicada a partir de qual teoria sociológica? a) A teoria das classes sociais, que apresenta a divisão social e seu processo de reprodução no âmbito escolar, tal como apresentado por várias pesquisas da sociologia da educação. b) A teoria da ação social, que diz que o sujeito atribui um sentido à sua ação voltado para a ação dos demais e, nesse sentido, a escola é produto da ação social de professores e

A02  Socialização e controle social

alunos e suas diferenças são o resultado delas. c) A teoria da modernização, segundo a qual os mais pobres vão sendo paulatinamente inseridos na modernidade, passando de condições precárias, inclusive escolares, para melhores condições de vida.

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Atualmente, um dos debates mais acirrados da sociedade bra-

d) A teoria da urbanização, que afirma que existem diferenças

sileira diz respeito à capacidade de casais homossexuais for-

espaciais nos grandes centros urbanos que tendem a ser su-

necerem estrutura familiar para o desenvolvimento de uma

peradas com o processo de desenvolvimento urbano, expli-

criança. Ao contrapor o senso comum de que apenas a família

cando as diferenças no sistema escolar e sua superação.

Questão 07. Gab: A - Somente a alternativa A está correta. O texto da questão apresenta um argumento inspirado nos trabalhos de Pierre Bourdieu, segundo o qual a escola reproduz as desigualdades sociais ao dividir os alunos em escolas de elite (no Brasil, escolas particulares) e escolas populares (no Brasil, as escolas públicas). Ainda que esse argumento apresente algumas simplificações do contexto escolar, ele se mostra bastante revelador das desigualdades em nossa sociedade.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A03

CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS Como já vimos e entendemos, o conceito de Democracia, que significa governo do povo, vem também (ou deveria vir) acompanhado dos gozos dos direitos de cidadania, já que o Art. 1º da Constituição do Brasil afirma a democracia formalmente, definindo como seus fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, da livre iniciativa e o pluralismo político. Sabendo disso, iremos discutir então o conceito de cidadania. Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais que estão previstos na Constituição, o que exige a consciência por parte dos cidadãos de seus direitos, obrigações, participação e contribuição para o bem-estar da sociedade. Podemos ressaltar ainda que esse processo não é fixo e estático, mas sim está em constante construção e desenvolvimento, o que envolve, portanto, a efetivação dos direitos humanos.

ASSUNTOS ABORDADOS n Cidadania e direitos humanos n Leitura

Vejamos abaixo alguns deveres dos cidadãos: n n n n n n n

Votar, a fim de escolher os governantes; Cumprir as leis impostas; Respeitar os direitos sociais do próximo; Educar e proteger nossos semelhantes, como as crianças, por exemplo; Cuidar da natureza; Proteger o patrimônio público e social da nação; Contribuir com as autoridades.

E dentre os direitos, podemos ressaltar: n

n n n n

Homens e mulheres têm direitos e obrigações iguais nos termos da Constituição; Acesso aos serviços básicos como saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados, segurança, lazer, vestuário, alimentação e transporte; Não há obrigação de se fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei; Ninguém deve ser submetido à tortura nem a algum tipo de tratamento desumano ou degradante; Manifestação do pensamento livre, sendo vedado o anonimato; Liberdade de consciência e de crença inviolável, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.

Figura 01 - Cidadania e direitos humanos

Fonte: Wikimedia Commons

n

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Sociologia

Entendido tais conceitos, podemos adentrar pela temática dos direitos humanos. Este termo engloba todo um conjunto de direitos fundamentais, os quais todos os seres humanos, de todos os povos e nações, devem usufruir pelo simples fato de existirem, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza. São direitos tidos como universais, ainda que cada nação ou grupo tenha seu próprio âmbito jurídico, bem como sua constituição. Os direitos humanos devem ser aplicáveis em todo e qualquer território. O respeito aos direitos humanos é considerado pré-requisito para o exercício pleno da democracia. Por isso são garantidos legalmente pela lei, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana (ONUBR). Segundo a ONUBR, algumas das características mais importantes dos direitos humanos são: n n n

n

n

São fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada indivíduo; São universais, isto é, são aplicados igualmente e sem discriminação a todos; São inalienáveis e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos. Em alguns casos, eles podem ser limitados, como, por exemplo; quando o direito à liberdade é restringido se uma pessoa for considerada culpada por um crime, julgada, condenada e receber o devido processo legal; São indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, pois é insuficiente respeitar apenas determinados direitos humanos. Em geral, a violação de um direito vai afetar o respeito por muitos outros; Todos os direitos humanos devem ser considerados como de igual importância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada indivíduo.

A03  Cidadania e direitos humanos

Somado a isso, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento de extrema relevância na

Figura 02 - Luta pelos direitos humanos

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história dos direitos humanos. Criada no dia 10 de dezembro de 1948 por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todo o mundo, a Declaração foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em Paris, na França, através da Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral como uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. O documento estabelece, pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos e, desde sua criação, foi traduzido em mais de 360 idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados e democracias recentes. Além disso, as diversas nações de todo o mundo contam com a Carta Internacional dos Direitos Humanos, formada pela DUDH, pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (que regem sobre procedimento de queixa e sobre pena de morte) e pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e seu Protocolo Opcional. Dessa maneira, uma série de tratados internacionais de direitos humanos e outros instrumentos adotados desde 1945 expandiram o corpo do direito internacional dos direitos humanos. Os principais acordos são: a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948), a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras. Apesar de não ter nenhuma conduta legal sobre os Estados, essas convenções representam um consenso amplo por parte da comunidade internacional. Assim, possuem força moral forte e inegável em termos na prática dos Estados, em relação a sua conduta das relações internacionais. Um exemplo prático é o fato da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas ter recebido o apoio dos Estados Unidos em 2010. Por meio da Declaração, os Estados comprometeram-se a reconhecer os direitos dos povos indígenas sob a lei internacional, considerando-se o direito de serem respeitados como povos distintos e o direito de determinar seu próprio desenvolvimento, tomando por base sua cultura, prioridades e leis consuetudinárias (costumes).

Fonte: Wikimedia Commons

Podemos destacar ainda que o conceito de cidadania está relacionado com o país onde a pessoa exerce seus direitos e deveres. Para ser cidadão brasileiro, a pessoa deve ter nascido em território nacional ou solicitar sua naturalização, em caso de estrangeiros, pois a cidadania brasileira, necessariamente está relacionada aos direitos e deveres que estão definidos na Constituição do Brasil.


Leitura Cidadania e Direitos Humanos Autora: Maria Victória de Mesquita Benevides Soares

“Mas, e em relação aos direitos humanos? Insisto que dificilmente um tema já venha carregado de tanta ambiguidade, por um lado, e deturpação voluntária, de outro. Provavelmente vocês já ouviram muitas vezes referência aos direitos humanos no sentido pejorativo ou excludente, no sentido de identificá-los com direitos dos bandidos. Quantas vezes vocês já ouviram - principalmente depois do noticiário sobre crimes de extrema violência: Ah! E os defensores dos direitos humanos, onde é que estão? Então, a nossa primeira tarefa é deixar claro do que nós estamos falando tanto quando nos referimos a direitos dos cidadãos, como quando nos referimos a direitos humanos, com a premissa de que associamos direitos humanos à ideia central de democracia e às ideias básicas envolvidas no tema mais amplo da educação. É bom lembrar também que, nas sociedades democráticas do chamado mundo desenvolvido, a ideia, a prática, a defesa e a promoção dos direitos humanos, de uma certa maneira, já estão incorporadas à vida política. Já se incorporaram no elenco de valores de um povo, de uma nação. Mas, pelo contrário, é justamente nos países que mais violam os direitos humanos, nas sociedades que são mais marcadas pela discriminação, pelo preconceito e pelas mais variadas formas de racismo e intolerância, que a ideia de direitos humanos permanece ambígua e deturpada. (...)” Portanto, no Brasil, hoje, é extremamente importante situar direitos humanos no seu lugar. A geração mais jovem, que não viveu os anos da ditadura militar certamente terá ouvido falar do movimento de defesa dos direitos humanos em benefício daqueles que estavam sendo perseguidos por suas convicções ou por sua militância política, daqueles que foram presos, torturados, assassinados, exilados, banidos. Mas talvez não saiba como cresceu, naquela época, o reconhecimento de que3 aquelas pessoas perseguidas tinham direitos invioláveis, mesmo que julgadas e apenadas, continuavam portadores de direitos e se evocava, para sua defesa e proteção, a garantia dos direitos humanos, o direito a ter direitos. Infelizmente, terminada a parte mais repressora do regime militar, a ideia de que todos, independentemente da posição social, são merecedores da preocupação com a garantia dos direitos fundamentais – e não mais apenas aqueles chamados de presos políticos, que não mais existiam – não prosperou como era de se esperar. A defesa dos direitos humanos (DH) passou a ser associada à defesa dos criminosos comuns que, quando são denunciados e apenados, pertencem, em sua esmagadora maioria, às classes populares. Então, a questão deixou de ter o mesmo interesse para segmentos da classe média

que incluía familiares e amigos daqueles presos do tempo da ditadura. E aí vemos como já se explica uma parte da ambiguidade que cerca a ideia de direitos humanos no Brasil, porque depois da defesa dos direitos daqueles perseguidos pelo regime militar se estabeleceria uma cunha, uma diferenciação profunda e cruel entre ricos e pobres, entre intelectuais e iletrados, entre a classe média e a classe alta, de um lado, e as classes populares de outro, incluindo-se aí, certamente, grande parte da população negra. É evidente que existem exceções, pessoas e grupos que continuaram a lutar pela defesa dos direitos de todos, do preso político ao delinquente comum. Mas também é evidente que, se até no meio mais “progressista” essa distinção vigorou, o que dizer da incompreensão ou hostilidade dos meios mais conservadores? Como esperar que eles percebam a necessidade de se reconhecer, defender e promover os direitos humanos em nosso país, sem uma vigorosa campanha de esclarecimento, sem um compromisso com a educação para a cidadania democrática, desde muito cedo? O tema dos DH, hoje, permanece prejudicado pela manipulação da opinião pública, no sentido de associar direitos humanos com a bandidagem, com a criminalidade. É uma deturpação. Portanto, é voluntária, ou seja, há interesses poderosos por trás dessa associação deturpadora. Somos uma sociedade profundamente marcada pelas desigualdades sociais de toda sorte, e além disso, somos a sociedade que tem a maior distância entre os extremos, a base e o topo da pirâmide sócioeconômica. Nosso país é campeão na desigualdade e distribuição de renda. As classes populares são geralmente vistas como “classes perigosas”. São ameaçadoras pela feiura da miséria, são ameaçadoras pelo grande número, pelo medo atávico das “massas”. Assim, de certa maneira, parece necessário às classes dominantes criminalizar as classes populares associando-as ao banditismo, à violência e à criminalidade; porque esta é uma maneira de circunscrever a4 violência, que existe em toda a sociedade, apenas aos “desclassificados”, que, portanto, mereceriam todo o rigor da polícia, da suspeita permanente, da indiferença diante de seus legítimos anseios. Então, é por isso que se dá, nos meios de comunicação de massa, ênfase especial à violência associada à pobreza, à ignorância e à miséria. É o medo dos de baixo- que, um dia, podem se revoltar - que motiva os de cima a manterem o estigma sobre a ideia de direitos humanos. Enfim, o que são direitos humanos e em que eles diferem dos direitos do cidadão e em que se aproximam? Cidadania e direitos da cidadania dizem respeito a uma determinada ordem jurídico-política de um país, de um Estado, no qual uma Constituição define e garante quem é cidadão, que direitos e deveres ele terá em função de uma série de variáveis tais como a idade, o estado civil, a condição de sanidade física e mental, o fato de estar ou não em dívida 25

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Ciências Humanas e suas Tecnologias


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Sociologia

com a justiça penal etc. Os direitos do cidadão e a própria ideia de cidadania não são universais no sentido de que eles estão fixos a uma específica e determinada ordem jurídico-política. Daí, identificamos cidadãos brasileiros, cidadãos norte-americanos e cidadãos argentinos, e sabemos que variam os direitos e deveres dos cidadãos de um país para outro. A ideia da cidadania é uma ideia eminentemente política que não está necessariamente ligada a valores universais, mas a decisões políticas. Um determinado governo, por exemplo, pode modificar radicalmente as prioridades no que diz respeito aos deveres e aos direitos do cidadão; pode modificar, por exemplo, o código penal no sentido de alterar sanções; pode modificar o código civil no sentido de equiparar direitos entre homens e mulheres, pode modificar o código de família no que diz respeito aos direitos e deveres dos cônjuges, na sociedade conjugal, em relação aos filhos, em relação um ao outro. Pode estabelecer deveres por um determinado período, por exemplo, àqueles relativos à prestação do serviço militar. Tudo isso diz respeito à cidadania. Mas, o mais importante é o dado a que me referi inicialmente: direitos de cidadania não são direitos universais, são direitos específicos dos membros de um determinado Estado, de uma determinada ordem jurídico-política. No entanto, em muitos casos, os direitos do cidadão coincidem com os direitos humanos, que são os mais amplos e abrangentes. Em sociedades democráticas é, geralmente, o que ocorre e, em nenhuma hipótese, direitos ou deveres do cidadão podem ser invocados para justificar violação de direitos humanos fundamentais.5 Os Direitos Humanos são universais e naturais. Os direitos do cidadão não são direitos naturais, são direitos criados e devem necessariamente estar especificados num determinado ordenamento jurídico. Já os Direitos Humanos são universais no sentido de que aquilo que é considerado um direito humano no Brasil, também deverá sê-lo com o mesmo nível de exigência, de respeitabilidade e de garantia em qualquer país do mundo, porque eles não se referem a um membro de uma sociedade política; a um membro de um Estado; eles se referem à pessoa humana na sua universalidade. Por isso são chamados de direitos naturais, porque dizem respeito à dignidade da natureza humana. São naturais, também, porque existem antes de qualquer lei, e não precisam estar especificados numa lei, para serem exigidos, reconhecidos, protegidos e promovidos. Evidentemente, é ótimo que eles estejam reconhecidos na legislação, é um avanço, mas se não estiverem, deverão ser reconhecidos assim mesmo. Poder-se-ia perguntar: mas por quê? Por que são universais e devem ser reconhecidos, se não existe nenhuma legislação superior que assim o obrigue? Essa é a grande questão da Idade Moderna. Porque é uma grande conquista da humanidade ter chegado a algumas conclusões 26

a respeito da dignidade e da universalidade da pessoa humana, e do conjunto de direitos associados à pessoa humana. É uma conquista universal que se exemplifica no fato de que hoje, pelo menos nos países filiados à tradição ocidental, não se aceita mais a prática da escravidão. A escravidão não apenas é proibida na legislação como ela repugna a consciência moral da humanidade. Não se aceita mais o trabalho infantil. Não se aceitam mais castigos cruéis e degradantes. Vejam bem como essa questão é complicada: há países no ocidente que aceitam a pena de morte, mas não aceitam o castigo cruel ou degradante; aceitam a pena de morte, mas não aceitam a tortura. É claro que a distância entre o valor e a prática concreta continua sendo muito grande. Não se aceita mais a escravidão, mas nós sabemos que existe trabalho escravo aqui pertinho de nós, no interior de São Paulo. Não se aceita mais o trabalho infantil, mas nós sabemos que se aceitam as crianças vivendo na rua e sendo exploradas no trabalho. Mas isso repugna à consciência universal, haja vista a exigência de certos organismos internacionais no sentido de se exigir cláusulas sociais nos contratos comerciais, para proteção da infância, contra a discriminação racial e contra o trabalho infantil. Assim, percebemos como direitos que são naturais e universais são diferentes de direitos que fazem parte de um conjunto de direitos e deveres ligados às ideias de cidadão e cidadania. Um pequeno exemplo esclarece, penso eu, essa questão: uma criança não é cidadã, no sentido de que ela não tem certos direitos do adulto, responsável pelos seus atos,6 nem tem deveres em relação ao Estado, nem em relação aos outros; no entanto, ela tem integralmente o conjunto dos Direitos Humanos. Um doente mental não é um cidadão pleno, no sentido de que ele não é responsável pelos seus atos, portanto ele não pode ter direitos, como, por ex., o direito ao voto, o direito plena à propriedade e muito menos os deveres, mas ele continua integralmente credor dos Direitos Humanos.” Texto disponível em www.iea.usp.br/artigos.

Referências bibliográficas SOARES, M. V. de M. B. Cidadania e Direitos Humanos. Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.iea.usp.br/publicacoes/ textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf. Acesso em: 18 nov. 2017. http://www.brasil.gov.br/governo/2009/11/direitos-e-deveres-do-cidadao-andam-juntos Acesso em: 13 nov. de 2017. https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/ Acesso em: 13 nov. de 2017.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. Gab. 01 + 04 = 05. Somente as afirmativas 01 e 04 estão corretas. A restrição ao trabalho infantil e a regulação da publicidade são formas de proteção às crianças, trazendo mais benefícios que prejuízos à sociedade. Nesse contexto, a redução da maioridade penal de forma nenhuma reduziria a quantidade de crianças que sofrem violência no Brasil.

Questão 02. Gab. B - A única alternativa possível de ser correta é a B. O estigma apresentado no texto, vinculado a uma visão negativa, preconceituosa e distorcida das favelas, faz com que seus habitantes tenham dificuldade no acesso a direitos fundamentais, como liberdade de ir e vir e acesso à justiça.

Exercícios de Fixação

Sol, bicicleta, skate, calção Esconderijo, avião, correria, tambor Gritaria, jardim, confusão (...) Criança não trabalha, criança dá trabalho Criança não trabalha.” (ANTUNES, Arnaldo; TATIT, Paulo. Criança não trabalha. Canção gravada pelo grupo Palavra Cantada).

Considerando o trecho transcrito e conhecimentos sobre os temas direito e cidadania, assinale o que for correto. 01. A existência de leis específicas de direitos das crianças e jovens expressa o reconhecimento da individualidade desses sujeitos sociais e, portanto, da sua liberdade. 02. A restrição e regulação da publicidade direcionada ao público infantil na televisão e o estabelecimento de indicações de programas apropriados a certas faixas etárias minimizam o direito assegurado às crianças de brincarem e se divertirem. 04. Ao afirmar que “criança não trabalha, criança dá trabalho”, a canção enfatiza a responsabilidade dos pais, da escola e da sociedade na garantia dos direitos básicos das crianças; por exemplo, o de combate ao trabalho infantil. 08. A restrição à contratação de crianças e jovens até 16 anos pelo mercado de trabalho afeta o desenvolvimento econômico do país e eleva os índices oficiais de desemprego. 16. As mortes violentas da população infantil no Brasil são provocadas, em grande parte, pelas próprias disputas e brigas entre crianças e jovens; daí a necessidade de redução da maioridade penal no País. 02. (Enem MEC) A favela é vista como um lugar sem ordem, capaz de ameaçar os que nela não se incluem. Atribuir-lhe a ideia de perigo é o mesmo que reafirmar os valores e estruturas da sociedade que busca viver diferentemente do que se considera viver na favela. Alguns oficiantes do direito, ao defenderem ou acusarem réus moradores de favelas, usam em seus discursos representações previamente formuladas pela sociedade e incorporadas nesse campo profissional. Suas falas se fundamentam nas representações inventadas a respeito da favela e que acabam por marcar a identidade dos indivíduos que nela residem. RINALDI, A. Marginais, delinquentes e vítimas: um estudo sobre a representação da categoria favelado no tribunal do júri da cidade do Rio de Janeiro. In: ZALUAR, A.; ALVITO, M. (Orgs.).Um século de favela. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998. Questão 03. Gab. E - Ainda que seja um importante instrumento de defesa dos direitos das mulheres, a lei Maria da Penha não é capaz de solucionar os casos de violência contra elas. Para isso acontecer, muitos outros fatores são necessários, e não somente a promulgação de uma lei.

O estigma apontado no texto tem como consequência o(a) a) aumento da impunidade criminal. b) enfraquecimento dos direitos civis. c) distorção na representação política. d) crescimento dos índices de criminalidade. e) ineficiência das medidas socioeducativas. 03. (Unioeste ) No Brasil, ainda são elevados os índices de violência e desigualdades de direitos entre homens e mulheres. Alguns estudos de gênero defendem a necessidade de analisarmos, com mais propriedade, a situação das mulheres e demais grupos subalternizados, social e cientificamente. Sobre os temas ligados aos estudos de gênero, assinale a afirmativa INCORRETA. a) Debater o tema da cidadania das mulheres é também analisar um processo que envolve a participação das mulheres na esfera pública e no mercado de trabalho, marcada por inclusões e exclusões que vêm desde o século XVIII. b) No âmbito teórico, os movimentos feministas, ao entrarem na academia e ao fazerem crítica às categorias de análise, produziram o conceito de gênero. c) Quando se fala em estudos de gênero, se pensa na igualdade de direitos entre mulheres e homens, e, em alguns casos, em reivindicações por atendimentos especiais às mulheres. d) As políticas públicas, consideradas em sua variedade e alcance, são um importante instrumento para a concretização dos objetivos das mulheres. e) O problema da violência contra a mulher no Brasil foi solucionado com a promulgação da Lei Maria da Penha. 04. (Enem MEC) O processo de justiça é um processo ora de diversificação do diverso, ora de unificação do idêntico. A igualdade entre todos os seres humanos em relação aos direitos fundamentais é o resultado de um processo de gradual eliminação de discriminações e, portanto, de unificação daquilo que ia sendo reconhecido como idêntico: uma natureza comum do homem acima de qualquer diferença de sexo, raça, religião etc. BOBBIO, N. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

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01. (Uem) “Lápis, caderno, chiclete, pião

De acordo com o texto, a construção de uma sociedade democrática fundamenta-se pela a) norma estabelecida pela disciplina social. b) pertença dos indivíduos à mesma categoria. c) ausência de constrangimentos de ordem pública. d) debilitação das esperanças na condição humana. e) garantia da segurança das pessoas e valores sociais. Questão 04. Gab. B - O ato de considerar a existência de uma natureza humana comum abre espaço para que todos os seres humanos sejam considerados portadores de uma mesma dignidade. É, nesse sentido, que pode-se criar uma sociedade democrática e que respeite a diversidade cultural.

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Sociologia Questão 01. Gab. B- O texto, ao defender a noção de Direitos Humanos, valoriza a igualdade de todos perante a lei, independentemente de sua condição ou posição social.

Questão 02. Gab: 02 + 04 + 08 + 16 = 30. Somente a afirmativa[01] está incorreta. A diferença de papéis sociais entre homens e mulheres não decorre de diferenças naturais, mas de processos sociais historicamente consolidados que acabam por criar e reforçar desigualdades de gênero.

Exercícios Complementares 01. (Uerj RJ) “Direitos Humanos” é uma daquelas expressões que, por sua amplitude, tem sido usada de várias maneiras e a serviço de diversas ideologias. Cada um que queira definir quais são os direitos, cada qual que queira estabelecer seu padrão do “humano”. No Brasil, por exemplo, a mídia relaciona a dita expressão quase sempre com a questão policial, atribuindo-lhe um sentido negativo de estímulo à impunidade. Essa imagem, além de reducionista, por desprezar outras dimensões como a dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESCs) e a dos Direitos de Solidariedade, é também falsa. No particular da luta contra a tortura, o que se defende não é o “criminoso”, mas a pessoa, independentemente de quem seja e de que título carregue: assassino, estuprador, menor infrator, policial, governador… Não se milita pela impunidade, mas pelo respeito às garantias mínimas estabelecidas em nossa Constituição, por um sistema prisional mais ressocializador, por uma polícia que transmita menos medo e mais segurança. Luta-se também contra a impunidade daqueles que se julgam acima da lei. Adaptado de fundacaomargaridaalves.org.br, 06/09/2006.

A expressão analisada no texto tem como fundamento o seguinte princípio iluminista: a) legítima defesa b) igualdade jurídica c) soberania popular d) liberdade individual

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02. (Uem) Sobre as relações entre diferenças e desigualdades sociais, assinale o que for correto. 01. A distribuição desigual do trabalho doméstico se dá em decorrência das diferenças naturais existentes entre homens e mulheres. As mulheres têm mais habilidades emocionais e psicológicas no trato de crianças e nos cuidados com a casa, enquanto os homens são, biologicamente, mais bem preparados para enfrentar a vida pública e as disputas políticas. 02. A desigualdade social é um tema clássico das Ciências Sociais. No âmbito deste tema se investigam as relações sociais assimétricas existentes entre diferentes indivíduos e grupos em uma sociedade. 04. A simples existência de diferenças entre grupos resulta em relações de desigualdade de condições e oportunidades. Pessoas de diferentes grupos religiosos ou diferentes origens étnicas tendem a se considerar superiores ou inferiores a outras. 08. A concepção de igualdade que estrutura nosso mundo social contemporâneo tem origem histórica no pensamento filosófico iluminista e se constitui num dos princípios fundamentais das nossas instituições jurídicas e políticas.

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16. O princípio da igualdade de oportunidades e condições orienta a maioria das políticas públicas tanto na redução das desigualdades sociais, tais como as políticas de combate à fome e à mortalidade infantil, quanto na defesa e garantia de direitos, tais como o combate à violência contra as mulheres e a expressão pública e civil da população LGBT. 03. (UFU MG) Em uma pesquisa acerca do déficit habitacional no Brasil, encontra-se a seguinte afirmação: No contexto da rápida urbanização nos países em desenvolvimento, o déficit habitacional se constitui no grande desafio para a gestão das cidades. [...] No Brasil, em 2008, o déficit habitacional foi estimado em mais de 5,5 milhões de unidades, do qual 83% é registrado em zonas urbanas, afetando, principalmente, as famílias com renda de até 3 salários mínimos, atingidas por 89,6% desse deficit. PASTERNAK, Suzanna; BÓGUS, Lucia Maria Machado. Habitação de aluguel no Brasil e em São Paulo. Caderno CRH, V.29, n.77, 2016.

Políticas públicas que visam atacar o problema do déficit habitacional poderiam ser descritas como políticas de garantia O direito à habitação é um direito social. Diferentede um direito mente do direito à propriedade, que é um direito civil, a) social. o direito à habitação pressupõe que todos têm direito, de antemão, a um lugar digno para viver e morar. b) político. c) civil. d) econômico. 04. (Uem) Uma parcela significativa das lutas políticas travadas nas sociedades modernas está relacionada com a construção da cidadania. Considerando as contribuições sociológicas para o estudo das relações entre cidadania, direitos sociais e participação política, assinale o que for correto. 01. A cidadania é um benefício social que o Estado concede às pessoas mais pobres para que elas consigam sustentar as suas famílias em períodos de crise econômica. 02. Um aspecto central para a caracterização das cidadanias modernas é o reconhecimento de que todas as pessoas que integram uma sociedade política, como um país, são iguais em relação aos seus direitos e às suas obrigações. 04. Como a cidadania depende da consciência individual de seguir as regras estabelecidas, as organizações coletivas são um empecilho para o seu desenvolvimento pleno, pois criam conflitos sociais e lutam por direitos particulares. 08. Os movimentos sociais representam formas coletivas de participação política que contribuem para a construção e o reconhecimento de direitos que compõem as formas de cidadania modernas. 16. A escravidão, o elitismo e o patrimonialismo são heranças coloniais que historicamente têm dificultado a consolidação da cidadania no Brasil.

Questão 04. Gab. 02 + 08 + 16 = 26. As afirmativas 01 e 04 estão incorretas. Os direitos de cidadania não são um benefício somente para quem é mais pobre, e sim para todos os cidadãos. Assim como está descrito na afirmativa 08, os movimentos sociais (que são um tipo de organização coletiva) são importantes para o reconhecimento dos direitos de cidadania de diversos grupos sociais, e não um empecilho.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 05. Gab. 01 + 02 + 04 = 07. A cidadania corresponde à participação na vida política de uma comunidade, tendo assim direitos e deveres para com todos. Nesse sentido, é errôneo considerar que práticas na vida pública (como os movimentos sociais) impedem ou não fazem parte do exercício de cidadania. Pelo contrário, essas são formas práticas de ação cidadã.

ARAÚJO, S. M.; BRIDI, M. A.; MOTIM, B. L. Sociologia. São Paulo: Scipione, 2013, p. 174.

Considerando o trecho acima e as relações entre cidadania e democracia, assinale o que for correto. 01. Nas sociedades democráticas, o voto é o meio legítimo de alcançar o poder, e o processo eleitoral é a forma racional-legal de disputa por representação. 02. A redução da miséria, a ampliação do acesso à educação, a garantia no fornecimento de infraestrutura básica, como moradia, eletricidade e água tratada, são ações políticas que ampliam os direitos de cidadania. 04. O reconhecimento dos direitos humanos, atribuídos aos indivíduos independentemente de sua etnia, de seu gênero ou de sua idade, é um dos princípios das atuais democracias. 08. A cidadania se refere a um ideal normativo de organização política, e não a práticas e a formas específicas de ação na vida pública. 16. Os movimentos sociais, os protestos nas ruas e outras formas de organização ou de manifestação da sociedade civil indicam a falência da vida democrática. 06. (Unicamp SP) A igualdade, a universalidade e o caráter natural dos direitos humanos ganharam uma expressão política direta pela primeira vez na Declaração da Independência americana de 1776 e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. Embora se referisse aos “antigos direitos e liberdades” estabelecidos pela lei inglesa e derivados da história inglesa, a Bill of Rights inglesa de 1689 não declarava a igualdade, a universalidade ou o caráter natural dos direitos. Os direitos são humanos não apenas por se oporem a direitos divinos ou de animais, mas por serem os direitos de humanos em relação uns aos outros. HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 19. (Adaptado)

Assinale a alternativa correta. a) A prática jurídica da igualdade foi expressa na Declaração de Independência dos EUA e assegurada nos países independentes do continente americano após 1776. b) A lei inglesa, ao referir-se aos antigos direitos, preservava a hierarquia, os privilégios exclusivos da nobreza sobre a propriedade e os castigos corporais como procedimento jurídico. c) No contexto da Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão significou o fim do Antigo Regime, ainda que tenham sido mantidos os direitos tradicionais da nobreza. d) Os direitos do homem, por serem direitos dos humanos em relação uns aos outros, significam que não pode haver privilégios, nem direitos divinos, mas devem prevalecer os princípios da igualdade e universalidade dos direitos entre os humanos. Questão 06. Gab. D - O surgimento da noção de direitos humanos corresponde a um marco no desenvolvimento da cidadania no mundo ocidental. Por não utilizar critérios de classe, nobreza ou divinos, os direitos humanos estabelecem a isonomia de todos os cidadãos. Ainda que não necessariamente todas as pessoas tenham acesso a eles, pela primeira vez na história ocidental as pessoas poderiam ser, legalmente, consideradas de forma igual.

07. (UFU MG) A Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi instituída em 16 de maio de 2012 com o objetivo de trazer à tona os crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre os anos 1946 e 1988, em especial durante a Ditadura Civil-Militar. Entre esses crimes, se destacam a detenção ilegal ou arbitrária, a tortura, a execução sumária, arbitrária ou extrajudicial e, por fim, o desaparecimento forçado e ocultação de cadáver. Tal como aponta seu relatório publicado em dezembro de 2014, a CNV situou o Brasil entre as dezenas de países que [...] criaram uma comissão da verdade para lidar com o legado de graves violações de direitos humanos. Com a significativa presença que detém no cenário internacional, o reconhecimento do Estado brasileiro de que o aperfeiçoamento da democracia não prescinde do tratamento do passado fortalece a percepção de que sobram no mundo cada vez menos espaços para a impunidade. Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Disponível em http://www.cnv.gov. br/images/pdf/relatorio/volume_1_digital.pdf. Acesso em: 22 fev. 2015.

O que justifica a criação de uma comissão com a natureza da CNV é a necessidade de a) reforçar o conteúdo da lei de anistia (nº 6683/1979), que traz o perdão aos crimes políticos e conexos, dispensando das obrigações legais os que resistiram e os que torturaram. b) combater a impunidade e revelar os crimes contra a humanidade para que deles não se esqueça e para que nunca mais se repitam. c) reestabelecer a harmonia social a partir do perdão bilateral entre os que combateram durante a Ditadura, sem atribuir culpa ou instigar o revanchismo. d) virar uma página da história brasileira, aproveitando as instituições que tiveram vigência no período da Ditadura, pois contribuíram decisivamente para aperfeiçoar nossa democracia. 08. (Enem PPL) A experiência do movimento organizado de mulheres no Brasil oferece excelente exemplo de como se pode utilizar a lei um favor da melhoria do status jurídico, da condição social, do avanço no sentido de uma presença mais efetiva no processo de decisão política. Ao longo de quase todo o século XX, com mais intensidade em algumas décadas do que em outras, as mulheres brasileiras conseguiram obter vitórias expressivas. Algumas vezes, abolindo dispositivos legais discriminatórios, outras conseguindo aprovar novas leis. TABAK, F. A lei como instrumento de mudança social. In: TABAK, F.; VERUCCI, F. A difícil igualdade: os direitos da mulher como direitos humanos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

A atuação do movimento social abordado no texto resultou, na As mulheres passaram a ter o direito ao voto década de 1930, em em 1932 no Brasil, como resultado de uma forte a) direito de voto. atuação política que elas tiveram no período, sobretudo desde a Proclamação da República. b) garantia de cotas. c) acesso ao trabalho. d) organização partidária. e) igualdade de oportunidades. Questão 07. Gab. B - A CNV tem como intenção superar a lei da anistia, uma vez que se considera que essa lei ignorou os crimes cometidos pelo Estado Brasileiro. Assim, ao apresentar todas as violações de direitos humanos, a Comissão pode abrir caminho para que tais violências institucionais não mais ocorram.

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05. (Uem) “Ao estudar essa nova configuração da cidadania, o sociólogo Thomas Humphrey Marshall (1893-1981) afirma que a cidadania não nasce acabada: trata-se de uma construção pela adição gradativa de novos direitos, conquistados por diferentes atores sociais, ao longo da formação da sociedade capitalista.”


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A04

ASSUNTOS ABORDADOS n A produção sociológica contem-

porânea: Zygmunt Bauman e a sociedade líquida

A PRODUÇÃO SOCIOLÓGICA CONTEMPORÂNEA: ZYGMUNT BAUMAN E A SOCIEDADE LÍQUIDA Zygmunt Bauman, falecido na Inglaterra, no dia 9 de janeiro de 2017, foi um dos principais críticos da sociedade atual. Para o autor, vivemos em uma era de total exclusão social e nos dedicamos a construir e desenvolver-nos dentro da superficialidade social, na qual relações virtuais são mais excitantes e importantes do que as relações físicas. Bauman entra no coro dos que criticam a pós-modernidade e dentro dessa discussão, criou o termo “modernidade líquida” (BAUMAN, 2001), foco do nosso estudo. O termo “modernidade líquida” foi cunhado na tentativa de definir as condições da “pós-modernidade” e discutir as transformações do mundo moderno. Dessa forma, primeiramente, é necessário entender o porquê da palavra “líquida” dentro da expressão. Bauman acreditava que todas as transformações pelas quais estaríamos passando eram encaradas de formas muito adaptáveis, ou seja, elas eram facilmente marcadas por um caráter fluido. As formas de vida moderna, marcada então por essa fluidez, ou liquidez nos seus termos, reforça assim o estado temporário das relações sociais. Com isso, os laços humanos são cada vez mais estabelecidos de maneira virtual, já que ali podemos viver e criar situações que o mundo real nem sempre permite ou aceita. A internet, portanto, marca notória desse momento, proporciona dissoluções instantâneas no que diz respeito às relações e laços, o que nos permite falar que nada, nem mesmo as relações sociais são sólidas. Logo, tudo é passível de diluir-se no ar. O que torna difícil, questões como segurança e estabilidade, haja vista que dificilmente se tem empregos fixos, sendo também a noção de pertencimento diluída no ar, já que hoje é complicado sentir-se identificado ou pertencido a determinadas identidades ou comunidades.

Figura 01 - Zygmund Bauman

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Fonte: Wikimedia Commons

É uma época assim, de liquidez, incertezas e inseguranças. Tudo que antes era sólido dá espaço agora à lógica do instantâneo, do consumo, da superficialidade, em que reina a primazia do querer. Segundo o autor, é difícil lutar pela libertação em um mundo que já parece livre e que permite uma movimentação tão fluida e rápida, pois quando não há mais referenciais, a vida passa a ser entendida como projeto individual.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Como já foi adiantado sobre as incertezas e inseguranças de um emprego fixo, ressalto que isso advém de relações de trabalho cada vez mais desregulamentadas, como sugere a reforma da previdência, por exemplo, em que um dos pontos é a permissão e legitimidade de negociação entre patrões e empregados. O que for acordado entre eles pode valer mais do que as leis trabalhistas, ou seja, em alguns pontos, a reforma trabalhista permite fazer acordos individuais, negociados diretamente entre o trabalhador e seu patrão, sem intermédio de um sindicato ou entidade de classe. Esse é somente um dos exemplos de situações que hoje são chanceladas e tornam-se fáceis de serem observadas.

Tal conexão é frágil porque a “modernidade líquida” promove um mundo de opções e consumos. Todavia, como podemos ver inclusive pela capa do livro, há essa contradição, entre a vontade de se relacionar, o desejo ao toque, mas permeado pelo medo e insegurança da liquidez. Como o próprio autor afirma “este livro é dedicado aos riscos e às ansiedades de se viver junto, e separado, em nosso líquido mundo moderno” (BAUMAN, 2004, p.8). Bauman faz, ainda, algumas analogias sobre o comportamento nas relações humanas com o consumismo, promovendo e fomentando a reflexão no sentindo que entendamos todos, que os bens de consumo já não são mais fabricados para que durem. O que vale é a rotatividade, é estar com os bens cada vez mais novos e atualizados, descartando-se assim os antigos, por uma mera possibilidade de abrir um catálogo físico ou on-line e poder escolher um melhor e mais atualizado dentro dos novos padrões.

Fonte: Wikimedia Commons

Assim são as relações e laços na “modernidade líquida”: descartáveis, utilizadas por meio de interesses e motivações enquanto não surgem novas opções dentro do catálogo de relações possíveis. Esse amor líquido, portanto, marcado por tais características não se sustenta, não é rígido, e por isso não dura, como afirma Bauman, demonstrando esse caráter frágil que ronda nossos laços e relações na “modernidade líquida”.

Referências bibliográficas BAUMAN, Zygmund. Modernidade Líquida. Ed. Zahar, 2001. BAUMAN, Zygmund. Amor Líquido: Sobre a fragilidade dos laços humanos. Ed. Zahar, 2004.

Figura 03 - Livro Amor Líquido, sobre a fragilidade dos laços humanos.

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Em uma de suas obras mais conhecidas - Amor Líquido, sobre a fragilidade dos laços humanos (2004) - Zygmunt Bauman discute como os relacionamentos de hoje em dia tendem a ser menos Figura 02 - Protesto contra a reforma trabalhista, que pode ser vista como uma das marcas dessa liquidez que vivemos, segundo Bauman. frequentes e duradouros, culminando assim na tendência fluida dessa época. Nas relações pessoais, as conexões predominam. Conexão é o termo que o autor usa para descrever as relações frágeis. O pulo do gato aqui é que o termo conexão envolve não só a pluralidade como a possível e consequente desconexão sem perdas. Dessa maneira, fica em voga a fragilidade dessas conexões, pois ao mesmo tempo em que se pode conectar a várias pessoas simultaneamente, por essa fluidez, é possível também desconectar-se sem nenhum custo, o que destaca a descartabilidade das relações, laços e pessoas nessa “modernidade líquida”.


Sociologia Questão 01. Gab. C- A internet proporciona às pessoas uma nova forma de sociabilidade, mais fluida e dinâmica. Em contrapartida, ela torna-se também mais superficial, na medida em que não favorece relações duradouras.

Questão 02. Gab. B - O primeiro texto trata da questão da normalidade, enquanto que o segundo, da felicidade. Em ambos há o argumento de que os critérios para se definir o que é normal ou feliz são dados por fatores superficiais à vida do indivíduo, podendo trazer grandes prejuízos à vida em sociedade.

Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC) Imagine uma festa. São centenas de pessoas aparentemente viajadas, inteligentes, abertas a novas amizades. Você seleciona uma delas e começa um diálogo. Apesar do assunto envolvente, você olha para o lado, perde o foco e dá início a um novo bate-papo. Trinta segundos depois, outra pessoa desperta a sua atenção. Você repete a mesma ação. Lá pelas tantas você se dá conta de que não lembra o nome de nenhuma das pessoas com quem conversou. A internet é mais ou menos assim, repleta de coisas legais, informações relevantes. São janelas e mais janelas abertas. Disponível em: http://revistagalileu.globo.com. Acesso em: 19 fev. 2013 (adaptado).

Refletindo sobre a correlação entre meios de comunicação e vida social, o texto associa a internet a um padrão de sociabilidade que se caracteriza pelo(a) a) isolamento das pessoas. b) intelectualização dos internautas. c) superficialidade das interações. d) mercantilização das relações. e) massificação dos gostos.

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02. (Unesp SP) Texto 1 O livro Cultura do narcisismo, escrito por Christopher Lasch em 1979, é um clássico. O texto de Lasch mostra como o que era diagnosticado como patologia narcísica ou limítrofe nos anos 50 torna-se uma espécie de “normalidade compulsória” depois de duas décadas. Para que alguém seja considerado “bem-sucedido”, é trivialmente esperado que manipule sua própria imagem como se fosse um personagem, com a consequente perda do sentimento de autenticidade. DUNKER, Christian. A cultura da indiferença. www.mentecerebro.com.br. Adaptado.

Texto 2 “Afastar-se da percepção de mundo consumista e do tipo de atitude individualista contra o mundo e as pessoas não é uma questão a ponderar, mas uma obrigação determinada pelos limites de sustentabilidade desse modelo da vida que pressupõe a infinidade de crescimento econômico. Segundo esse modelo, a felicidade está obrigatoriamente vinculada ao acesso a lojas e ao consumo exacerbado”. “Lojas são alívio a curto prazo”, diz o sociólogo Zigmunt Bauman. www. mentecerebro.com.br. Adaptado.

Considerando os textos, é correto afirmar que: a) Para Bauman, as diretrizes liberais de crescimento econômico ilimitado prescindem de reflexão ética. b) Ambos tratam do irracionalismo subjacente aos critérios de normalidade e de felicidade. c) A “cultura do narcisismo” apresenta um estilo de vida incompatível com a mentalidade consumista. d) A patologia narcísica analisada por Lasch é um fenômeno restrito ao domínio psiquiátrico.

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Questão 03. Gab. A - A experiência do autor revela o paradoxo de, ao mesmo tempo em que tem acesso a uma quantidade infinita de informações, ele perde a capacidade de concentração e contemplação. E, por consequência, acaba por ter uma experiência superficial das coisas.

e) Ambos abordam problemas historicamente superados pelas sociedades ocidentais modernas. 03. (Enem MEC) “Não estou mais pensando como costumava pensar. Percebo isso de modo mais acentuado quando estou lendo. Mergulhar num livro, ou num longo artigo, costumava ser fácil. Isso raramente ocorre atualmente. Agora minha atenção começa a divagar depois de duas ou três páginas. Creio que sei o que está acontecendo. Por mais de uma década venho passando mais tempo on-line, procurando e surfando e algumas vezes acrescentando informação à grande biblioteca da internet. A internet tem sido uma dádiva para um escritor como eu. Pesquisas que antes exigiam dias de procura em jornais ou na biblioteca agora podem ser feitas em minutos. Como disse o teórico da comunicação Marshall McLuhan nos anos 60, a mídia não é apenas um canal passivo para o tráfego de informação. Ela fornece a matéria, mas também molda o processo de pensamento. E o que a net parece fazer é pulverizar minha capacidade de concentração e contemplação”. CARR. N. Is Google making us stupid?. Disponível em: www.theatlantic.com. Acesso em: 17 fev. 2013 (adaptado).

Em relação à internet, a perspectiva defendida pelo autor ressalta um paradoxo que se caracteriza por a) associar uma experiência superficial à abundância de informações. b) condicionar uma capacidade individual à desorganização da rede. c) agregar uma tendência contemporânea à aceleração do tempo. d) aproximar uma mídia inovadora à passividade da recepção. e) equiparar uma ferramenta digital à tecnologia analógica. 04. (Enem MEC) Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade. BERMAN. M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Cia. das Letras. 1986 (adaptado).

O texto apresenta uma interpretação da modernidade que a caracteriza como um(a) a) Dinâmica social contraditória. b) Interação coletiva harmônica. c) Fenômeno econômico estável. d) Sistema internacional decadente. e) Processo histórico homogeneizador. Questão 04. Gab. A - A expectativa de experimentar a liberdade na vida moderna é contrastada pelos limites ambientais de nosso Planeta. Assim, aparece uma importante contradição: a de que, por mais que nos pretendamos altamente desenvolvidos, nunca os seres humanos criaram com tanta força as condições para a perda de sua própria possibilidade de existência.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. Gab. A - A internet cria novos ambientes de socialização e novas regras sociais que devem ser seguidas. Ainda que a música pareça uma simples paródia ou brincadeira, ela consegue evidenciar a importância da internet para as relações sociais contemporâneas.

Questão 02. Gab. A - A charge parte da ideia de que a comunicação por meio da internet tira das pessoas o tempo para se relacionarem no “mundo real”. Isso corresponde a uma crítica, expressa de forma correta somente na alternativa A.

Exercícios Complementares 01. (Interbits) Leia. Sei que os anos vão passando e eu amando mais você. Dedicando sempre um amor sem fim, bons momentos de paixão e de felicidade. E eu sempre acreditei que o seu amor era verdade. Você sempre jurou a mim eterno amor, que um dia casaria comigo e seria feliz. Mas você mentiu, e eu vi que estava errado. Um dia vi você sair com o ex-namorado.

b) considera as relações sociais como menos importantes que as virtuais. c) enaltece a pretensão do homem de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. d) descreve com precisão as sociedades humanas no mundo globalizado. e) concebe a rede de computadores como o espaço mais eficaz para a construção de relações sociais. 03. (Uel) Observe a charge a seguir.

Eu vou te deletar, te excluir do meu Orkut. Eu vou te bloquear no MSN. Não me mande mais scraps, nem e-mails, PowerPoint. Me exclua também e adicione ele. Ewerton Assunção. Eu vou te excluir do meu Orkut.

02. (Enem MEC)

Com base na charge e nos conhecimentos sobre as formas de comunicação na sociedade contemporânea, considere as afirmativas a seguir. I.

II.

III. IV.

A charge revela uma crítica aos meios de comunicação, em especial à internet, porque a) questiona a integração das pessoas nas redes virtuais de relacionamento. Questão 03. Gab. C - Somente as afirmativas III e IV estão corretas. A afirmativa I está incorreta porque a “sociedade da informação” não é capaz de, por si só, aumentar a igualdade social. Já a afirmativa II está incorreta porque não existe, para a sociologia, o conceito de modo de produção pós-moderno.

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A música, acima, acaba por apresentar um aspecto novo da socialização existente na sociedade contemporânea. Que aspecto é esse? a) O aumento da importância da internet como mediadora das relações sociais. b) A relevância sociológica do amor para as relações amorosas. c) A traição como fato social total. d) A persistência da traição nas relações sociais. e) O desejo pela posse de meios de comunicação.

A denominada “sociedade de informação” estreita os vínculos diretos entre os indivíduos e intensifica a coesão e a igualdade social. As novas tecnologias da informação são responsáveis pelo surgimento do modo de produção pós-moderno ou pós-industrial. As redes sociais contribuem para a redefinição das fronteiras entre os espaços público e privado. O Twitter e outras formas de comunicação on-line evidenciam determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas.

Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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Sociologia Questão 04. Gab. A- Esse “espelhamento” ao qual a questão faz referência é expressão de uma sociedade que possibilita e valoriza, no indivíduo, a prática de uma identidade autorreferente. Ainda que sempre em relação aos outros, essa identidade tem mais vínculo com uma afirmação do “eu” do que com alguma característica compartilhada coletivamente.

Questão 05. Gab. D - Dentre todas as alternativas, a única que não apresenta uma afirmação de ordem sociológica é a D. Isso porque não se pode afirmar, de forma categórica, que as modernas formas de comunicação deixarão de existir somente por causa das alterações climáticas no planeta. Há muitos outros fatores de ordem social que fazem com que uma forma de comunicação se mantenha ou não.

04. (Enem MEC) Na sociedade contemporânea, onde as relações sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, a imagem de um indivíduo, principalmente na indústria do espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de seu incremento técnico: amplitude do espelhamento e da atenção pública. Aparecer é então mais do que ser; o sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito, a lógica circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena democraticamente para as massas com os supostos “ganhos distributivos” (a informação ilimitada, a quebra das supostas hierarquias culturais), afeta a velha cultura disseminada na esfera pública. A participação nas redes sociais, a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado, quanto ser visto, são índices do desejo de “espelhamento”. SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br. Acesso em: 9 fev. 2015 (adaptado).

A crítica contida no texto sobre a sociedade contemporânea enfatiza a) a prática identitária autorreferente. b) a dinâmica política democratizante. c) a produção instantânea de notícias. d) os processos difusores de informações. e) os mecanismos de convergência tecnológica. 05. (Interbits) Veja a figura abaixo:

Analisando-se os quadrinhos, e partindo das leituras sociológicas e filosóficas, pode-se afirmar que a) na sociedade baseada no consumismo, a identidade social é construída de forma independente da posse ou do consumo de bens materiais. b) o carro é o maior símbolo de consumo na sociedade moderna e conduz o ser humano para a felicidade. c) o carro, no processo dialógico dos personagens, é um mero pretexto para demonstrar o valor da amizade. d) o consumo e o status são formas básicas de competição social em uma sociedade na qual o ter torna-se mais importante que o ser. 07. (Uel) Leia o texto a seguir. “O primeiro beijo é sempre o último”. Assim um informante define, com certa nostalgia, o surgimento de uma nova rotina na prática de “ficar” entre os jovens ao longo da night. “Ficar” é essencialmente beijar, beijar em série, beijar muito. O primeiro beijo, marcado por algo absolutamente fugaz, registro imediato do tátil, desliga-se do que outrora era ritual do enamoramento, prelúdio de uma trajetória sentimental. [...] No campo do afeto e do exercício da sociabilidade, essa mesma noite propicia comportamentos que revelam a transitoriedade, a seriação e o deslocamento afetivo como um novo mecanismo de agrupamento dos jovens.

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ALMEIDA, M. I. M. de. Guerreiros da noite - cultura jovem e nomadismo urbano. In: Ciência hoje, v. 34, n. 202, p. 28.

A partir dela, assinale a alternativa INCORRETA. a) A percepção das gerações está relacionada à idade social dos indivíduos. b) A charge demonstra como as formas de socialização mudam com o passar das gerações. c) Devido às transformações tecnológicas, as formas mais novas de comunicação podem se tornar obsoletas com o passar das décadas. d) As modernas formas de comunicação deixarão de existir por causa das alterações climáticas naturais do planeta. e) Uma das formas de definir o presente é através da noção de “modernidade líquida”. 06. (UEG GO) Analise a tira que segue.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre a sociabilidade moderna, considere as afirmativas a seguir. I. As práticas assinaladas entre os jovens identificam-se ao que se definiu como pós-modernidade, isto é, relações fluidas, marcadas pela instantaneidade e por rupturas contínuas com referenciais pré-estabelecidos. II. O comportamento dos jovens que optam pela prática do “ficar” é diferente do estado anômico, analisado por Durkheim, na medida em que as bases da existência social mantêm seu funcionamento normal. III. A vida social moderna, ao individualizar os sujeitos, eliminou a necessidade, entre os jovens, de participar de agrupamentos identitários e de estabelecer vínculos sociais com outras pessoas. IV. A adoção da prática antissocial do “ficar” é fruto de uma juventude sem valores morais, como família, tradição e propriedade privada, presentes desde os primórdios da humanidade. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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Questão 06. Gab: D- Em uma sociedade de consumo, o status dos indivíduos é regido segundo a posse de bens e a capacidade de acesso a eles. O carro torna-sr uma das mais importantes expressões de status social.

Questão 07. Gab. A - Durkheim ensina que o homem defronta-se com regras de conduta que não foram criadas por ele, mas que existem e são aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas por todos. Assim, sem essas regras, a sociedade não existiria e é por isso que os indivíduos devem obedecer a elas, o que os jovens do texto, na prática do “ficar”, não o fazem, porque tal prática é marcada por comportamentos que aceitam a transitoriedade e a mudança como regra de vida em sociedade.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

Questão 01. Gab. E - As regras definidas pelo Tribunal Superior Eleitoral têm como objetivo garantir eleições limpas, mesmo que isso, eventualmente, possa não ocorrer. Pelo fato de a eleição do presidente ser autônoma em relação às eleições para deputados e senadores, é possível que haja um presidente sem apoio da maioria do Congresso Nacional. O grande problema disso é a perda de governabilidade do chefe do Poder Executivo. Por fim, mesmo que o Poder Legislativo (Senado e Câmara dos Deputados) discorde do chefe do Poder Executivo, ele não pode destituí-lo de forma arbitrária. Isso só ocorre em caso de denúncias de crimes, e não por questão ideológica.

Exercícios de Aprofundamento 01. (Unioeste) Regime Político – de acordo com o Dicionário de Política organizado por Bobbio, Matteucci e Pasquino – pode ser definido como o conjunto de instituições, leis e valores que regulam a luta pelo poder em determinada sociedade. Considerando que o regime político adotado no Brasil atual é presidencialista e republicano, assinale qual das alternativas abaixo é INCORRETA. a) O chefe de governo do Poder Executivo brasileiro (presidente) é eleito pelo voto popular. b) Os membros do Poder Legislativo brasileiro (deputados e senadores) são eleitos pelo voto popular. c) Nossas eleições são livres (vários partidos concorrendo) e “limpas” (conforme as regras eleitorais). d) Um presidente (eleito pelo povo) pode governar sem o apoio da maioria do Congresso Nacional. e) O Poder Legislativo pode destituir um presidente (eleito pelo povo) por discordância ideológica. 02. (Uerj RJ)

No dia 15 de março de 1985, a presidência da República no Brasil foi assumida por um civil após 21 anos de governos militares. Nos 30 posteriores, houve um conjunto de mudanças destinadas a pôr fim às práticas autoritárias até então vigentes. A partir da análise do gráfico, a tendência observável na opinião pública resulta de uma nova conjuntura caracterizada por a) regularidade das eleições. b) extinção do unipartidarismo. c) fortalecimento do poder executivo. d) valorização da liberdade de expressão. 03. (Ufu MG) A Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi instituída em 16 de maio de 2012 com o objetivo de trazer à tona os crimes cometidos pelo Estado brasileiro entre os anos 1946 e Questão 02. Gab. D - O contexto apresentado pelo gráfico faz referência ao período de redemocratização no Brasil. Nesse momento, as pessoas puderam reaver seu direito de liberdade de expressão, intimamente relacionado ao exercício da democracia. A questão procura enfatizar exatamente esse aspecto, em detrimento de outros fatores políticos igualmente relevantes.

1988, em especial durante a Ditadura Civil-Militar. Entre esses crimes, destacam-se a detenção ilegal ou arbitrária, a tortura, a execução sumária, arbitrária ou extrajudicial e, por fim, o desaparecimento forçado e ocultação de cadáver. Tal como aponta seu relatório publicado em dezembro de 2014, a CNV situou o Brasil entre as dezenas de países que [...] criaram uma comissão da verdade para lidar com o legado de graves violações de direitos humanos. Com a significativa presença que detém no cenário internacional, o reconhecimento do Estado brasileiro de que o aperfeiçoamento da democracia não prescinde do tratamento do passado fortalece a percepção de que sobram no mundo cada vez menos espaços para a impunidade. Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Disponível em http://www.cnv.gov. br/images/pdf/relatorio/volume_1_digital.pdf. Acesso em: 22 fev. 2015.

O que justifica a criação de uma comissão com a natureza da CNV é a necessidade de a) reforçar o conteúdo da lei de anistia (nº 6683/1979), que traz o perdão aos crimes políticos e conexos, dispensando das obrigações legais os que resistiram e os que torturaram. b) combater a impunidade e revelar os crimes contra a humanidade para que deles não se esqueça e para que nunca mais se repitam. c) reestabelecer a harmonia social a partir do perdão bilateral entre os que combateram durante a Ditadura, sem atribuir culpa ou instigar o revanchismo. d) virar uma página da história brasileira, aproveitando as instituições que tiveram vigência no período da Ditadura, pois contribuíram decisivamente para aperfeiçoar nossa democracia. 04. (Uem) Sobre a relação indivíduo e sociedade, assinale o que for correto. 01. O individual e o coletivo não estão separados, formando uma relação que fundamenta o processo de construção da vida social. 02. Uma questão social é um problema compartilhado por uma coletividade, ou seja, que não diz respeito somente aos interesses da vida privada. 04. Quando um operário assina um contrato com uma empresa, a relação estabelecida nesse acordo não é apenas entre indivíduos, mas também entre classes sociais: a operária e a burguesa. 08. A sociologia defende que, para uma pessoa ter sucesso, ela deve se libertar dos limites impostos pela socialização. Questão 03. Gab. B - A CNV tem como intenção superar a lei da anistia, uma vez que se considera que essa lei ignorou os crimes cometidos pelo Estado Brasileiro. Assim, ao apresentar todas as violações de direitos humanos, a Comissão Nacional da Verdade pode abrir caminho para que tais violências institucionais não mais ocorram.

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Sociologia Questão 04. Gab: 01 + 02 + 04 = 07. Diferentemente do afirmado no item 08, não faz parte dos propósitos da sociologia a defesa de um modelo para o sucesso pessoal e muito menos ser contrária aos efeitos da socialização. Do mesmo modo, as pesquisas sociológicas não corroboram a afirmação feita pelo item 16, pois, mesmo levando em conta a agência dos indivíduos na sociedade, os estudos sociológicos preocupam-se justamente com os efeitos dos grupos sociais nos indivíduos. Desse modo, apenas os itens 01, 02 e 04 estão corretos.

16. As pesquisas sociológicas comprovam que um indivíduo isolado, concentrando-se no poder transformador do pensamento positivo, altera as condições objetivas de existência de todo um grupo. 05. (Uema) Assinale a alternativa que apresenta as características de instituições sociais. a) Estáveis, permanentes, desestruturadas, valorativas e coercitivas. b) Coercitivas, coativas, valorativas, objetividade e efêmeras. c) Estruturadas, finalidades, instáveis, coativas e coercitivas. d) Finalidade, estáveis, coercitivas, estruturadas e valorativas. e) Valorativas, permanentes, subjetivas, universais e desestruturadas. 06. (Enem MEC)

Questão 05. Gab. D - As instituições sociais, como padrão de controle de conduta individual imposto pela sociedade, apresentam justamente as características elencadas na alternativa D. Em contrapartida, essas instituições não são desestruturadas, efêmeras, instáveis ou subjetivas.

A imagem retrata a jovem paquistanesa Malala Yousafzai em discurso na ONU, em julho de 2013, trajando o véu e o xale da ex-premiê do Paquistão Benazir Bhutto, assassinada em 2007 em um atentado político. Leia trechos do discurso de Malala: Queridos amigos, em 09 de outubro de 2012, o Talibã atirou no lado esquerdo da minha testa. Atiraram nos meus amigos também. Eles acharam que aquelas balas nos silenciariam. Mas falharam e, então, do silêncio vieram milhares de vozes. (...) O sábio ditado que diz “A caneta é mais poderosa que a espada” é verdadeiro. Os extremistas têm medo dos livros e das canetas. O poder da educação os assusta e eles têm medo das mulheres. (...) É por isto que eles mataram 14 estudantes inocentes no recente ataque em Quetta. E é por isto que eles matam professoras. É por isto que eles atacam escolas todos os dias: porque tiveram e têm medo da mudança, da igualdade que vamos trazer para a nossa sociedade. (...) Deixem-nos pegar nossos livros e Canetas porque estas são as nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo.

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

http://www.ikmr.org.br/dia-malala-discurso-onu/

O cartum evidencia um desafio que o tema de inclusão social impõe às democracias contemporâneas. Esse desafio exige a combinação entre a) participação política e formação profissional diferenciada. b) exercício da cidadania e políticas de transferência de renda. c) modernização das leis e ampliação do mercado de trabalho. d) mniversalização de direitos e reconhecimento das diferenças. e) crescimento econômico e flexibilização dos processos seletivos. 07. (FGV SP)

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Questão 06. Gab. D- A democracia contemporânea vive o dilema da igualdade: como propiciar a igualdade de condições e, ao mesmo tempo, reconhecer a diversidade? Esse tipo de dilema está expresso na charge. Sendo assim, para que a pessoa com deficiência tenha seu direito ao trabalho garantido, ela precisa que sua diferença também seja reconhecida pela sociedade.

Com base no texto, o apelo lançado por Malala a) Simboliza a luta das meninas para frequentarem a escola em países com restrições religiosas, culturais e políticas à instrução feminina, como no caso do Paquistão, sob domínio Talibã, e da Índia, submetida à lei oficial da Sharia. b) Advoga o princípio da educação como arma contra a discriminação muçulmana das minorias étnico-religiosas curda e pachtun e como meio para pacificar a guerra civil em seu país. c) Apoia a formação militar feminina, inspirando-se no programa de Benazir Bhutto, a primeira mulher a ocupar um cargo de chefe de governo de um estado muçulmano moderno. d) Defende a educação como um dos direitos humanos básicos e como um meio para a libertação dos indivíduos de regimes e crenças excludentes e discriminatórios. e) Sustenta o protagonismo feminino de todas as mulheres e condena todas as religiões, em nome da adoção de um sistema de educação laico e igualitário no Paquistão. 08. (Unioeste) De acordo com o sociólogo inglês T. S. Marshall, a cidadania moderna define-se em um longo processo histórico que envolve o reconhecimento do cidadão como portador de Direitos Civis, Direitos Políticos e Direitos Sociais. Com base nas reflexões propostas por Marshall, é CORRETO afirmar que a) no Brasil, não existe cidadania porque o voto é obrigatório. b) cidadania é algo que só existe na Europa e nos Estados Unidos da América. c) a liberdade e a participação política dos cidadãos são fundamentais para a contínua geração de novos direitos. d) a conquista de direitos de cidadania no Brasil foi um processo que se encerrou com a promulgação da Constituição em 1988. e) a cidadania no Brasil foi imposta por Getúlio Vargas durante a vigência do Estado Novo. Questão 07. Gab. D- A fala de Malala não é somente uma crítica ao Talibã, mas a todas as formas de discriminação e controle sobre os indivíduos. Segundo ela, a educação tem o papel de funcionar como arma de resistência contra esse tipo de dominação, que não ocorre somente em países islâmicos, mas também em tantos outros contextos sociais.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 08. C - A alternativa C é a única correta. No Brasil os direitos de cidadania ainda não são plenamente garantidos, apesar dos esforços de alguns governos e de movimentos sociais para universalizá-los. Não por acaso, um dos livros mais famosos sobre a cidadania no Brasil chama-se Cidadania no Brasil: um Longo Caminho, de José Murilo de Carvalho.

Questão 09. Gab. D- Bauman define como modernidade líquida a sociedade em um contexto de constante transformação, na qual as relações humanas são mais fluidas e compulsivas.

09. (Interbits) A internet opera preferencialmente com a escrita, a escrita curta e imediata. A velocidade de escrita e de leitura está relacionada à agitação mais ou menos alucinada da vida cotidiana, estimulada pelas tecnologias comunicacionais. A sociedade mediatizada não é uma sociedade feliz; ao contrário, é uma sociedade da compulsão, da cobrança invisível, dos apelos permanentes de estar conectado, pois, caso contrário, a pessoa estará “morta”.

Assinale a alternativa em que o texto explica os sentidos das relações amorosas descritas acima. a) “Hoje as artes de expressão não são as únicas que se propõem às mulheres; muitas delas tentam atividades criadoras. A situação da mulher predispõe-na a procurar uma salvação na literatura e na arte. Vivendo à margem do mundo masculino, não o apreende em sua figura universal e sim através de uma visão singular; ele é para ela, não um conjunto de utensílios e conceitos e sim uma fonte de sensações e emoções; ela interessa-se pelas qualidades das coisas no que têm de gratuito e secreto [...]”.

Alguns sociólogos desenvolveram conceitos que nos ajudam a compreender o contexto apresentado no texto acima. Um desses pensadores, Zygmunt Bauman, define esse tipo de contexto como sendo uma a) sociedade do espetáculo, devido à falta de profundidade da vida humana. b) sociedade infeliz, devido à transformação do homem em coisa. c) sociedade do consumo, uma vez que as pessoas passam a ser definidas pelo que compram. d) modernidade líquida, devido às formas fluidas de existência humana. e) pós-modernidade, devido às transformações geradas pela internet. 10. (UFU MG) A sociedade em rede ou sociedade da informação introduziu nas Ciências Sociais a noção de Ciberespaço como um locus virtual criado pela conjunção de diferentes tecnologias de telecomunicação e telemática, ou seja, como um espaço criado pelas comunicações mediadas por computador, cujo principal veículo contemporâneo é, sem dúvida, a internet. Sua consequência mais imediata foi a criação de novas redes de sociabilidade e, por isso, o ciberespaço tem como característica essencial ser: a) um contínuo homogêneo e democrático, cuja participação, além de aberta a todos, implica uma linguagem e uma prática de sociabilidade comum. b) um espaço que cria uma cultura global comum por suprimir as distâncias geográficas e as diferenças culturais. c) um espaço heterogêneo e fragmentado em diferentes espaços simbólicos. d) um espaço simétrico de relações sociais, culturais e políticas entre sujeitos virtuais. 11. (Uel) As relações amorosas, após os anos de 1960/1980, tenderam a facilitar os contatos feitos e desfeitos imediatamente, gerando uma gama de possibilidades de parceiros e experimentos de prazer. Essa forma de contato amoroso tem sido denominada pelos jovens como “ficar”. Assim, em uma festa, pode-se “ficar” com vários parceiros ou durante um tempo “ir ficando” em diferentes situações, sem que isso configure-se em compromisso, namoro ou outra modalidade institucional de relação. Os processos sociais que provocaram as mudanças nas relações amorosas, bem como suas consequências para o indivíduo e para a sociedade, têm sido problematizados por vários cientistas sociais. Questão 10. Gab. C- Somente a alternativa C está correta. O espaço virtual pode ser caracterizado pela sua heterogeneidade e fragmentação. Vale ressaltar que esse tipo de espaço ainda não está disponível a todas as pessoas. Muitas continuam excluídas desse ambiente devido à grande desigualdade social mundial.

(BEAUVOIR, S. O segundo sexo. 5ª ed. São Paulo: Nova Fronteira, 1980. p. 473.)

b) “Hoje, no entanto, existe uma renovação, o que significa dizer que os cientistas, quando chegam através do seu conhecimento a esses problemas fundamentais, tentam por si próprios compreendê-los e fazem um apelo à sua própria reflexão. Nos próximos anos, por exemplo, após as experiências do Aspecto, a discussão sobre o espaço e sobre o tempo – problemas filosóficos – vai ser retomada”. (MORIN, E. A inteligência da complexidade. 2. ed. São Paulo: Peirópolis, 2000. p. 37.)

c) “Nova era demográfica de declínio populacional não catastrófico pode estar alvorecendo. Fome, epidemias, enchentes, vulcões e guerras cobraram seu preço no passado, mas que grandes populações não se reproduzam por escolha individual é uma mudança histórica notável. Na Europa Ocidental, esse padrão está se estabelecendo em tempos de paz, sob condições de grande prosperidade, embora sejam ainda visíveis oscilações conjunturais, significativas na depressão escandinava do início dos anos de 1990.” (THERBORN, G. Sexo e poder. São Paulo: Contexto, 2006. p. 446).

d) “É assim numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto para o uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a ’experiência amorosa’ à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço. (BAUMAN, Z. Amor líquido. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p.21-22).

e) “Viver na grande metrópole significa enfrentar a violência que ela produz, expande e exalta, no mesmo pacote em que gera e acalenta as criações mais sublimes da cultura. [...] Nesse sentido, talvez a primeira violência de que somos vítima, já no início do dia, é o jornalismo, sempre muito sequioso de retratar e reportar, nos mínimos detalhes, o que de mais contundente e chocante a humanidade produziu no dia anterior [...]”. (NAFFAH NETO, A. Violência e ressentimento. In: CARDOSO, I. et al (Orgs). Utopia e mal-estar na cultura. São Paulo: Hucitec, 1997. p. 99.) Questão 11. Gab. D - A alternativa D é a única correta. O próprio título do livro de Zigmunt Bauman - Amor Líquido - já mostra-se como indício da adequação da sua teoria para a interpretação das relações afetivas contemporâneas. É assim que as relações sociais podem ser interpretadas no sentido da sociedade do consumo: fluidas e descartáveis. Na própria terminologia do autor, uma afetividade líquida.

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FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Ciro Marcondes Filho. Entrevista. In: IHU On-line. 09 abr. 2011. Adaptado. Disponível em: <http://bit.ly/RGR7Xg>. Acesso em 06 nov. 2012.


FRENTE

A


SOCIOLOGIA Por falar nisso A Internet cada vez mais contribui com a proposta de integração que a globalização propõe, já que a globalização vai além das relações comerciais e financeiras. Por meio da Internet, as pessoas encontraram uma maneira rápida e eficiente para estar próximas de várias outras, em diferentes países simultaneamente, o que possibilita um intercâmbio de saberes culturais e sociais. Porém, mesmo com a rede, que pode ser vista como um catalizador desse processo, a integração proposta pela globalização não é efetiva, pois sabemos que o mundo continua marcado por fronteiras de diversos tipos. Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A05 A06 A07 A08

Teorias antropológicas da cultura................................................................................40 Indústria Cultural .........................................................................................................48 Multiculturalismo e ações afirmativas ........................................................................56 Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes........................61


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A05

ASSUNTOS ABORDADOS n Teorias antropológicas da cultura

TEORIAS ANTROPOLÓGICAS DA CULTURA O termo cultura pode ser considerado um dos conceitos mais amplos das Ciências Sociais e por isso abarca diferentes definições. Dentro desse campo, é sabido que a Antropologia é a ciência responsável por estudar e compreender as diversidades. Sendo assim, o conceito de cultura está vinculado às mais variadas discussões e teorias antropológicas. E para que possamos entender esse conceito, iremos fazer um apanhado histórico acerca de suas primeiras menções, bem como de suas modificações e transformações que passaram na visão de diferentes escolas antropológicas. Uma das primeiras definições de cultura apareceu na obra do antropólogo inglês Edward Tylor. O autor afirma que a cultura é o conjunto complexo de conhecimentos, crenças, arte, moral e direito, além de costumes e hábitos adquiridos pelos indivíduos em uma sociedade. Apesar de ser um dos primeiros responsáveis pela definição do termo, Tylor descrevia a cultura a partir de uma visão universal, vendo-a, portanto, como uma só, deixando de lado as diversidades e especificidades que ela abrange. Por isso, em Primitive Culture (1871), Tylor traz uma versão linear sobre a cultura. Baseado na ideia de uma unidade psíquica da humanidade, o autor fundamenta-se em torno de ideias de um darwinismo social, no qual a cultura evoluiria passando todas pelos mesmos estágios, rumo ao progresso. As ideias sobre o darwinismo social influenciam o pensamento de Tylor pelo contexto em que a Antropologia surge, aproximadamente, no início do século XIX. Com as reflexões de Darwin sobre a evolução das espécies, na qual o homem se transformaria ao longo dos séculos, o autor afirmava que as espécies evoluiriam e, consequentemente, a sociedade também. Enquanto isso, as ciências humanas buscariam então influências nas ciências biológicas para obter uma relevância científica.

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A Antropologia surge então, nesse contexto, com o olhar evolucionista dos europeus, que enxergavam em seus colonos uma representação de algo que eles já teriam sido um dia. Dessa forma, reina a ideia de que a evolução caminharia por fases até atingir um ápice - os europeus representariam o auge da civilização humana.

Figura 01 - Edward B. Tylor.

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Dessa forma, Tylor, influenciado por essa noção equivocada do conceito de cultura, em conjunto com Morgan e Frazer (2004), desenvolveram, de forma teórica, essa visão evolucionista. Ao supor que a história de todas as sociedades é uma única história, uma história universal, comum a toda humanidade, essa história seria precedida por três estágios de desenvolvimento da cultura humana. Tais estágios, que seriam as “fases” dessa história universal, explicariam o acontecimento de elementos semelhantes em diferentes lugares e também a diversidade cultural existente.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

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criação da cultura. Contudo, segundo Boas, o determinismo geográfico não explica a causa de grandes diferenças culturais entre sociedades que desenvolveram-se em regiões geográficas semelhantes. Já o determinismo biológico afirma que o agir humano é determinado por variáveis biológicas. Essas variáveis orientariam as vontades e comportamentos e as ações não seriam livres, mas sim resultado de mecanismos biológicos. Entretanto, sabemos que essas diferenças biológicas não são fatores determinantes das diferenças culturais e por isso Boas refuta ambas as concepções, mostrando que não só é possível, como também comum, o fato de existir diversidade cultural em grupos culturais que vivem em localidades geograficamente parecidas ou em grupos com similaridades biológicas.

Desse modo, as diferenças entre culturas não eram mais interpretadas por meio das fases propostas pelos evolucionistas, e sim passaram a ser compreendidas como algo único, sendo que os costumes e regras sociais de um determinado povo deveriam ser interpretados de acordo com as funções que desempenhavam em cada sociedade. Essa reflexão trouxe noções fundamentais para o debate acerca da diversidade cultural e o que chamamos de relativismo cultural, que vêm no sentido de se desnaturalizar visões etnocêntricas. A noção de relativismo cultural também rompe com alguns determinismos, como o geográfico e o biológico, por exemplo. O determinismo geográfico afirma que o ambiente físico e as características geográficas são o fator principal na

Figura 03 - Bronislaw Malinowski.

Uma outra forma de entender a cultura surge das discussões da Antropologia Funcionalista, que logo traz essa visão funcionalista sobre o termo. Malinowski discute que cada ideia, cada costume etc. exercem uma função no todo cultural. Esses elementos integrantes do todo teriam como função satisfazer as necessidades essenciais do homem e isso é possível com a criação de instituições sociais, que organizem e permitam que essas necessidades sejam atendidas. Outra contribuição do antropólogo ocorre no campo da observação participante, já que para ele não se pode estudar uma cultura à distância. Por isso institui o método que trata de participar e entender o ponto de vista do outro, estabelecendo um olhar de dentro, e não de fora, possível assim pelo que se chama de etnografia. 41

A05  Teorias antropológicas da cultura

Já o antropólogo alemão Franz Boas inaugura uma visão particularista acerca do termo. Ele pesquisou as diversas formas culturais e demonstrou que as diferenças entre os grupos e sociedades humanas eram realmente culturais, e não biológicas. Por isso, recusou qualquer generalização que não pudesse ser demonstrada por meio da pesquisa concreta. Aqui, cada cultura representava uma totalidade singular e todo seu esforço consistia em pesquisar o que fazia sua unidade. Para o autor, o curso das mudanças históricas na vida cultural da humanidade não seguiriam leis definidas, aplicáveis em toda parte. Isso faria com que os desenvolvimentos em linhas básicas fossem os mesmos, numa espécie de evolução uniforme. O autor via cada grupo cultural como único, tendo sua própria história (BOAS, 2009), identificando o que ele chama de particularismo histórico, dando um salto em vistas às teorias retrógradas dos evolucionistas.

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Figura 02 - Franz Boas.


Sociologia

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fato de se piscar pode representar um flerte, um sinal de mentira ou até mesmo um tique nervoso. E só poderemos compreender o que uma pessoa quer verdadeiramente nos comunicar com uma piscadela se pudermos interpretar esse gesto, que terá seu significado compartilhado, revelando assim o fundamento simbólico da cultura.

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A05  Teorias antropológicas da cultura

Contudo, se pensarmos a cultura por meio de um viés interpretativo, não podemos pensar em outro autor que não Clifford Geertz. O conceito de cultura defendido por ele baseia-se no semiótico. Geertz acredita que o homem é um animal amarrado às teias de significados que ele mesmo teceu. A cultura, portanto, seria essas teias e sua análise, agindo assim, seria como uma ciência interpretativa, à procura do significado, o que é possível por meio da etnografia - método utilizado pelo autor - que também recebe o nome de descrição densa.

Figura 05 - Ruth Benedict.

Para exemplificar, podemos usar o ato da piscadela. O 42

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Figura 04 - Clifford Geertz.

Figura 06 - Margareth Mead.

Ao fazer essa contextualização do termo, não podemos esquecer Ruth Benedict e Margareth Mead, antropólogas representantes da Escola de Cultura e Personalidade na Antropologia. Benedict desenvolveu o conceito de padrão cultural, pelo qual a autora destaca determinada homogeneidade e coerência em cada cultura. Em específico, ela destaca um ou dois tipos culturais opostos: o apolínico, representado por indivíduos tranquilos, equilibrados, solidários, respeitadores; e o dionisíaco, formado por pessoas ambiciosas, agressivas e individualistas. Mead, por outro lado, pesquisou a forma com que os cidadãos recebiam os elementos de sua cultura e a maneira como isso formava sua personalidade. A autora fez isso analisando três povos distintos da Nova Guiné: os Arapesh, os Mundugumor e os Chambuli. Por meio da análise, Mead pôde comprovar que entre os Arapesh, tanto homens quanto mulheres eram educados para ser dóceis e sensíveis; entre os Mundugumor ambos os sexos eram treinados para a agressividade; e por fim, entre os Chambuli, havia diferença entre homens e mulheres, mas de modo distinto do padrão que conhecemos. Aqui a mulher era educada para ser extrovertida e dinâmica, e os homens eram


Ciências Humanas e suas Tecnologias

educados para ser sensíveis. Com isso, Mead afirma que a diferença das personalidades nada tem a ver com as características biológicas, mas sim com a maneira com que cada sociedade define a educação das crianças.

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Temos ainda um olhar estruturalista acerca do termo cultura, trazido pelo antropólogo Lévi-Strauss, que o via como um conjunto de sistemas simbólicos – linguagens, regras matrimoniais, arte, religião- que atuam integrando e constituindo o todo. Contudo, assim como Boas estava interessado em identificar a unidade psíquica do homem, Lévi-Strauss também o pretendia, mas por meio das estruturas, e isso só poderia ser feito por meio do acesso ao inconsciente. Ressalto que é um desafio elaborar um histórico de como a Antropologia enxerga o conceito, pois há um amplo debate que renderia livros e mais livros. Entretanto, o que foi exposto, já é suficiente para se compreender os dilemas que o termo propõe e promover reflexões e debates que demonstrem o quão complexo é a temática. Figura 07 - Claude Lévi-Strauss.

SAIBA MAIS EVOLUCIONISMO, RELATIVISMO CULTURAL E TEORIAS DO CONTATO

A05  Teorias antropológicas da cultura

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Como já vimos, a escola evolucionista na Antropologia, representada por Tylor, foi responsável também pelos ideais sobre etnocentrismo. O termo é formado pelo prefixo “ethnos” que significa nação, tribo, raça ou povo, mais o sufixo “centrismo”, que sugere centro, ao qual esse tipo de fenômeno está relacionado a choques e embates culturais, mas também no interior da própria cultura, definindo ações nas quais consideramos nossos hábitos e condutas como superiores aos de outras pessoas. Assim, um indivíduo definido como etnocêntrico considera seus valores melhores do que os valores e normas das outras culturas. Isso pode ser um problema, pois esses pensamentos podem levar a ideias preconceituosas, por meio das quais a pessoa irá considerar sua cultura como natural em relação às outras, que seriam então inferiores e absurdas, inculcando ideias de superioridade cultural, colocando seu Figura 08 - Os Gamela são indígenas considerados como povos em grupo étnico como central e limitando ou impedindo qualquer outra processo de etnogênese, já que este é um modo de estabelecer e identificar possibilidade de existência. Essa visão pode ainda ser reforçada pelo teias de relações entre os povos emergentes e seus povos originários. fato de não se conhecer e reconhecer a cultura do outro, ou seus hábitos culturais, o que pode levar a atitudes preconceituosas, radicais, xenófobas e de espanto com gostos e escolhas individuais. Segundo a perspectiva de Boas, as diferenças entre culturas não são mais interpretadas pelas fases propostas pelos evolucionistas. Elas passam a ser compreendidas como algo único e os costumes e regras sociais de um determinado povo deveriam ser interpretados de acordo com as funções que desempenhavam em cada sociedade. Essa reflexão trouxe noções fundamentais para o debate acerca da diversidade cultural e o que chamamos de relativismo cultural, que vêm no sentido de se desnaturalizar visões etnocêntricas. Por fim proponho que alguns termos, trabalhados nas teorias do contato, possam aqui ser pincelados. O contato entre sociedades distintas, em específico, o contato entre sociedades indígenas e entre não indígenas passa a ser pensado então nos debates da etnologia indígena no Brasil. Os conceitos utilizados para se pensar esse contato se desdobram em: aculturação, transfiguração étnica e fricção interétnica. O termo aculturação, utilizado por Eduardo Galvão, foi bastante criticado porque leva consigo a ideia de assimilação, em que a cultura dominada seria assim descaracterizada de alguma forma. O segundo conceito, transfiguração étnica, utilizado por Darcy Ribeiro, foi uma alternativa ao uso sem reflexão do primeiro conceito. Nesse termo ainda, porém, vinha claro a ideia de assimilação, e até mesmo dos problemas que essa cultura dominada teria no que diz respeito aos preconceitos por parte da cultura dominante. Por fim, o conceito de fricção interétnica, cunhado por Roberto Cardoso de Oliveira, por sua vez, rompe com o conceito de aculturação, trazendo a noção de permanência cultural frente ao contato. Contudo, mesmo sendo um salto à frente, a ideia atrasada de aculturação já foi superada por um novo termo. Tudo isso porque com o aprofundamento dos estudos, novos conceitos foram lançados e, hoje, os antropólogos utilizam a noção de etnogênese, utilizada por João Pacheco de Oliveira, representando um conceito contemporâneo que retrata e define as comunidades indígenas emergentes e que buscam por reconhecimento étnico ou mesmo construção de novos grupos étnicos. O antropólogo, ao utilizar esse termo, enxerga positividade no contato, na medida em que os termos anteriores primavam sempre pela perda, pensando que o contato podia acarretar perdas e, nesse caso, perda por parte das comunidades indígenas. Assim, com o termo etnogênese, João Pacheco procurou enfatizar a positividade desses contatos. Antes do uso da expressão etnogênese foi utilizado de maneira frequente expressões como “resíduos de populações”, termo que trazia uma conotação negativa para se pensar os contatos, pois trazia consigo a noção do desparecimento de sociedades indígenas frente ao contato intenso com não indígenas.

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Sociologia

Referências bibliográficas BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada. São Paulo. Perspectiva, 1988. BENEDICT, Ruth. Patterns of culture. 8ª edição. New York: Mentors Books, 1960. BOAS, Franz. Antropologia cultural. Trad. Celso Castro – 5. Ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2009.

FRAZER, James George; MORGAN, Lewis Henry; TYLOR, Edward Burnett. Evolucionismo cultural. Org. Celso Castro – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2004. MEAD, M. Sexo e temperamento em três sociedades primitivas. São Paulo: Perspectiva, 1979. TYLOR, Edward Burnett. Primitive Culture: Researches into the Development of Mythology, Philosophy, Religion, Art, and Custom. London: John Murray, 1871.

Exercícios de Fixação 01. (Ufg GO) Leia a receita apresentada a seguir. TACACÁ 2 litros de tucupi temperado A alternativa [A] é a única plausível. Mui4 dentes de alho tos dos pratos típicos do Brasil foram feitos a partir da influência de diversas 4 pimentas de cheiro culturas, sofrendo influência indígena, 4 maços de jambu europeia e africana, por exemplo. A questão utilizou o exemplo do tacacá, 1 kg de camarão muito comum no norte do Brasil, e que 2 1

é um prato com fortes traços indígenas.

xícara de goma de mandioca 2 Sal a gosto

Modo de servir: muito quente, em cuias, temperado com pimenta. Disponível em: <www.receitastipicas.com/receita/tacaca.html>. Acesso em: 9 set. 2013.

A05  Teorias antropológicas da cultura

Comer é um ato social, histórico, geográfico, religioso, econômico e cultural. O preparo dos alimentos, a escolha dos ingredientes e a maneira de servir identificam um grupo social e ajudam a estabelecer uma identidade cultural. Essa receita, “Tacacá”, comida muito apreciada na culinária paraense, demonstra a) uma interação cultural, com a incorporação de ingredientes advindos de tradições culinárias distintas. b) um modo de preparo espontâneo, associado aos padrões culinários da colônia. c) um modelo ritualista de servir, vinculado ao formalismo religioso africano. d) um modo de utilizar os ingredientes provenientes do extrativismo, associado ao nomadismo dos quilombos. e) uma imposição de identidade cultural, pelo uso de produtos cultivados em áreas sertanejas.

Ao desprezarem a diversidade cultural indígena, os europeus

chegaram ao continente americano demonstram seu et02. (Enem MEC) que nocentrismo, que se manifesta tanto na linguagem que utilizam, quanto nas atitudes que tomam nesses novos territórios. Texto I Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao status econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os ter-

mos “negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro. SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).

Texto II Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas. SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período analisado, são reveladoras da a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado. b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias. c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados. d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval. e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza. 03. (Uem MA) “É fácil constatar que o homem se coloca face à natureza em função da sua cultura. No entanto, o universo da cultura é multifacetado. Não há uma única cultura, mas um conjunto delas. Dito de outro modo, os homens de diferentes culturas (por exemplo, o europeu moderno e o ameríndio) se afirmam frente à natureza segundo diferentes formas de vida.” FIGUEREIDO, V. de. (org.) Filosofia: temas e percursos. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2013. p. 28.

Com base no trecho citado e em estudos sobre cultura, assinale o que for correto. 01. Se existem diferentes culturas, não podemos julgá-las por uma única medida, que é a forma como elas compreendem a natureza. A afirmativa [08] é a única incorreta. A diversidade cultural existe, porque os seres humanos criam, em contextos diferentes, explicações diversas sobre o mundo e a natureza. Considerar como correta somente uma única visão de mundo corresponde ao etnocentrismo.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

02. Assumir a ideia de cultura única e universal implica também admitir uma posição etnocêntrica. 04. A diversidade de culturas expressa os diversos modos pelos quais a razão humana busca entender a si e seu entorno. 08. A compreensão dos fenômenos naturais resulta, em diferentes contextos culturais, nas mesmas explicações. 16. A ideia de natureza é culturalmente definida, logo é plausível afirmar que diferentes culturas produzem diferentes ideias de natureza. 01 + 02 + 04 + 16 = 23

04. (Uem MA) “Bárbaro [do grego: bárbaros, pelo latim barbaru] Adj.1. Entre os gregos e os romanos, dizia-se daquele que era estrangeiro. 2. Sem civilização, selvagem, rude, inculto. 3. Cruel, desumano: tirano bárbaro. 4 V. bacana (1). S. M. 5. Aquele que tem essas qualidades. 6. Hist. Indivíduo dos bárbaros (godos, vândalos, hunos, francos, álanos, suevos etc.) povos do N. invasores do Império Romano do Ocidente entre os séculos III e VI de nossa era. Interj. 7. Exprime espanto ou admiração.” FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. Coordenação Marina Baird Ferreira, Margarida dos Anjos. 5.ª ed., Curitiba: Positivo, 2010, p. 282.

A definição do termo bárbaro, presente no dicionário Aurélio, permite pensar em uma categoria bastante importante para as Ciências Sociais, o Etnocentrismo, pois a origem do termo está nas civilizações grega e romana, que definiram como bárbaro toda a pessoa que não compartilhasse da sua cultura. Sobre o Etnocentrismo é correto afirmar: 01 + 04 + 16 = 21. 01. O etnocentrismo contempla a crença de que uma sociedade é o centro da humanidade, a partir da qual as outras sociedades são julgadas inferiores. 02. Segundo a perspectiva etnocêntrica, as diferentes culturas são colocadas no mesmo patamar. 04. O etnocentrismo é uma forma de pensamento que pode colocar o grupo a que uma pessoa pertence como a única expressão da humanidade. 08. O etnocentrismo desconsidera as categorias e normas da sua própria sociedade ou cultura como parâmetro aplicável às demais. 16. Na perspectiva do etnocentrismo, o ponto de referência essencial não é a humanidade como um todo, mas o grupo particular ao qual se pertence.

Questão 06 As afirmativas [04] e [16] são claramente incorretas. O etnocentrismo corresponde à atitude de considerar a sua cultura como sendo a superior. Isso está diretamente relacionado com atitudes de intolerância religiosa e contra imigrantes, por exemplo.

02. O etnocentrismo é a propensão de os seres humanos enxergarem o mundo através de sua própria cultura considerando seu modo de vida como mais natural e mais correto do que os outros. 04. O conceito de cultura é um dos mais polêmicos nas ciências sociais, mas há consenso em relação à superioridade cultural do Ocidente em relação a culturas não ocidentais. 08. O relativismo cultural se opõe ao princípio de que valores, costumes ou ideias associados a determinada cultura são universalmente válidos. 16. A perspectiva que classifica populações indígenas como inferiores é uma expressão do etnocentrismo.

06. (Uem MA) A Globalização de fins do século XX e de início do século XXI anuncia a ideia de um mundo sem fronteiras e de cidadania mundial. Tais perspectivas remetem à diminuição do racismo, da xenofobia e da intolerância religiosa. Todavia, na segunda década do século XXI, é possível notar que alguns resultados esperados não foram alcançados. Por exemplo, as fronteiras se mantêm, existindo até mesmo a proposta de construção de muros entre países. Além disso, o racismo, a xenofobia e a intolerância religiosa aumentam, sobretudo em áreas com a presença de imigrantes e de refugiados de guerra. Essas situações podem ser estudadas a partir do conceito de etnocentrismo, sobre o qual é correto afirmar que 01 + 02 + 08 = 11 01. faz parte do comportamento etnocêntrico a compreensão de que a cultura a que a pessoa pertence é superior às demais. 02. xenofobia é a aversão e a intolerância a pessoas estrangeiras ou consideradas estrangeiras. 04. a perseguição e os ataques a imigrantes, por serem imigrantes, são ações desvinculadas da visão de mundo etnocêntrica. 08. o relativismo cultural pode ser interpretado como uma crítica ao etnocentrismo. Ele sustenta que cada cultura tem o seu valor e a sua legitimidade. 16. as posições etnocêntricas interferem pouco na vida cotidiana, pois elas estão desvinculadas da intolerância religiosa, por exemplo. 07. (Uerj RJ) O século XXI tem assistido à ampliação do debate acerca das uniões homoafetivas, o que possibilitou algumas mudanças, como a observada no quadro.

05. (Uem MA) Assinale a(s) alternativa(s) correta(s) acerca do que são etnocentrismo e relativismo. 01 + 02 + 08 + 16 = 27 01. Enquanto a Sociologia enfrenta a tarefa de pensar a sociedade, a Antropologia busca registrar e compreender os fenômenos humanos a partir do conhecimento do outro. Esse outro pode ser alguém pertencente a uma cultura distante e distinta da nossa, mas também pode ser alguém pertencente à nossa própria cultura, colocado em perspectiva e observado a partir de um ponto de vista distinto do que nos é habitual, familiar e cotidiano. A afirmativa [04] é a única incorreta. O conceito de cultura é, de fato, bastante polêmico, mas o consenso não está em afirmar a cultura do ocidente superior, mas o de considerar que não existem culturas superiores ou inferiores.

Essa mudança de costumes expressa principalmente o reconhecimento do seguinte princípio entre os direitos humanos: a) inclusão política b) diversidade cultural c) uniformidade jurídica d) igualdade econômica O reconhecimento das uniões homoafetivas corresponde a uma forma de reconhecimento 45 da diversidade das expressões afetivas e das construções de laços familiares.

A05  Teorias antropológicas da cultura

Gabarito 04 O etnocentrismo corresponde à atitude de utilizar a sua própria cultura como referência para julgar as demais. Assim, as outras culturas aparecem como sendo inferiores ou piores. As únicas alternativas que não estão de acordo com essa definição são a [02] e a [08], pois tratam do relativismo cultural, ou seja, do inverso do etnocentrismo.


Sociologia Gabarito questão 01 Somente as afirmativas [01] e [16] estão corretas. O etnocentrismo não é uma forma imparcial de se hierarquizar os grupos humanos. Além disso, não se pode considerar que caminhamos em direção a uma cultura única. Isso porque os processos de mudança cultural são dinâmicos e vinculados a relações de poder, muitas vezes conflituosas, como é o caso brasileiro.

Exercícios Complementares 01. (Uem MA) Considerando os estudos antropológicos modernos sobre o tema da cultura, assinale o que for correto. 01. Uma das atitudes que orientam o pensamento antropológico em relação ao entendimento das diferentes manifestações humanas existentes no mundo é a necessidade de se avaliar cada expressão cultural a partir dos seus próprios termos ou pontos de vista. 02. O etnocentrismo representa a principal contribuição da antropologia moderna para o estudo da cultura, uma vez que possibilita a criação de critérios justos e imparciais de classificação e de hierarquização dos grupos humanos. 04. Com o advento da globalização e das modernas tecnologias da informação e da comunicação, os estudos antropológicos demonstram que a diversidade cultural tende a desaparecer no futuro, dando lugar a uma cultura única. 08. Uma das marcas atuais dos estudos antropológicos sobre a cultura brasileira é a constatação de que o país superou o racismo e consolidou uma sociedade fundada na convivência cultural pacífica e colaborativa entre grupos brancos, negros e indígenas. 16. Ao estudar os processos históricos de trocas e de diálogos entre os diferentes grupos culturais, uma das contribuições da antropologia diz respeito ao reconhecimento da existência de diversas e desiguais formas de viver e perceber o mundo. 01 + 16 = 17

A05  Teorias antropológicas da cultura

02. (Interbits) (...) Como para mim é mais difícil vestir a pele de uma mulher negra, porque por ser branca eu tenho menos elementos que me permitem alcançá-la, eu preciso fazer mais esforço. Não porque sou bacana, mas por imperativo ético. E a melhor forma que conheço para alcançar um outro, especialmente quando por qualquer circunstância este outro é diferente de mim, é escutando-o. Assim, quando ouvi que não deveria usar turbante, entre outros símbolos culturais das mulheres negras, fui escutá-las. Acho que isso é algo que precisamos resgatar com urgência. Não responder a uma interdição com uma exclamação: “Sim, eu posso!”. Mas com uma interrogação: “Por que eu não deveria?”. As respostas categóricas, assim como as certezas, nos mantêm no mesmo lugar. As perguntas nos levam mais longe porque nos levam ao outro. (...) BRUM, Eliane. De uma branca para outra. El País. 20 de fevereiro de 2017. Adaptado. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/opinion/1487597060_574691.html>

Assinale a alternativa que apresenta o conceito sociológico que melhor representa o desejo de compreensão do outro apresentado pela autora: a) Etnocentrismo.

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b) Antropocentrismo. c) Relativismo Cultural. d) Fato Social. e) Relativismo Físico.

A dúvida gerada pela intenção de compreender a visão do outro é um resultado da prática do relativismo cultural, ou seja, do ato de considerar que a nossa cultura não é o centro, nem a única verdadeira.

03. (Ufu MG) A humanidade cessa nas fronteiras da tribo, do grupo linguístico, às vezes mesmo da aldeia; a tal ponto, que um grande número de populações ditas primitivas se autodesigna com um nome que significa ‘os homens’ (ou às vezes – digamo-lo com mais discrição? – os ‘bons’, os ‘excelentes’, ‘os completos’), implicando assim que as outras tribos, grupos ou aldeias não participam das virtudes ou mesmo da natureza humana, mas são, quando muito, compostos de ‘maus’, ‘malvados’, ‘macacos da terra’ ou de ‘ovos de piolho’. LÉVI-STRAUSS, C. Raça e História. Antropologia Estrutural Dois. São Paulo: Tempo Brasileiro, 1989: 334.

Nesse trecho, o antropólogo Claude Lévi-Strauss descreve a reação de estranhamento que é comum às das sociedades humanas quando defrontadas com a diversidade cultural. Tal reação pode ser definida como uma tendência: a) Etnocêntrica O texto faz clara referência ao conceito de etnocentrisb) Iluminista mo. Essa tendência de julgar os outros povos ou culturas a partir dos critérios da nossa própria cultura, considec) Relativista rando-os inferiores, é típica de toda sociedade humana. d) Ideológica 04. (Uem MA) “Afirmar que a evolução tecnológica é um parâmetro para avaliar a evolução das sociedades só poderia ocorrer em uma sociedade cuja evolução tecnológica é muito valorizada. Dificilmente uma sociedade organizada em outros termos escolheria esse critério.” (MACHADO, I. J. de R. et al. Sociologia hoje. São Paulo: Ática, 2013, p. 36).

Considerando o trecho citado e conhecimentos sobre diversidade cultural, assinale o que for correto. 02 + 16 = 18 01. A tecnologia é um dos principais critérios definidores do estágio de evolução de uma sociedade. 02. Ao analisarmos outras sociedades por meio de critérios próprios da nossa, como o desenvolvimento tecnológico, estamos sendo etnocêntricos. 04. O contato com a tecnologia ocidental avançada retirou as sociedades indígenas da América de seu primitivismo natural. 08. A incorporação de recursos tecnológicos de interação e comunicação, como a internet e as mídias sociais, é incompatível com os valores culturais de grupos indígenas ou de sociedades rurais tradicionais. 16. Diferentes grupos sociais utilizam diferentes critérios de organização social e simbólica para estruturar seu modo de vida. Esse tipo de perspectiva em relação às diferenças culturais é chamado de relativismo cultural.

Gabarito questão 04 As afirmativas [02] e [16] são as únicas corretas. A tecnologia pode ser um critério de diferenciação das sociedades, mas nunca o único, nem o mais importante. Por esse motivo, não podemos dizer que ela prejudica ou melhora as sociedades indígenas. Isso seria etnocêntrico, pois utiliza critérios da nossa própria cultura para julgar as demais.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

05. (Uerj RJ) As comunidades quilombolas, que são predominantemente constituídas por população negra, se autodefinem a partir das relações com a terra, do parentesco, do território, da ancestralidade, das tradições e das práticas culturais próprias. Estima-se que em todo o país existam mais de três mil comunidades quilombolas. O Decreto Federal nº 4.887, de 20 de novembro

Gabarito questão 06 ‘Os hábitos culturais, como revela o próprio conceito, não podem ser desvinculados da cultura a qual são inseridos. Como exemplo, podemos citar o hábito das mulheres muçulmanas de utilizarem o véu em ambientes públicos. Ainda que para a cultura ocidental isso não faça sentido, tal prática é coerente com a cultura de tais mulheres, não tendo qualquer conotação agressiva ou causadora de estigma para elas.

a) I e II estão corretas. b) Apenas I está correta. c) I e III estão corretas. d) I e IV estão corretas.

Somente a afirmativa I está correta. Todas as sociedades são capazes de produzir cultura, justamente por possuírem uma linguagem e um sistema de valores que é comum aos seus membros, coisa que é independente do fato de serem sociedades mais simples ou mais complexas. Vale ressaltar que instituições como o Estado e a escola são típicas da sociedade ocidental, não sendo necessárias em todas as sociedades humanas.

08. (Ufu) Um jornalista apresentava a seguinte análise da conjun-

de 2003, regulamenta o procedimento para identificação, reco-

tura da política brasileira ao fim do ano de 2016:

nhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocu-

Se compreendermos o fascismo como o culto a um Estado au-

padas por remanescentes das comunidades dos quilombos.

toritário, que prega a eliminação a qualquer custo dos adver-

Adaptado de incra.gov.br.

A demarcação de terras de comunidades quilombolas é fato recente nas práticas governamentais brasileiras. Um dos principais objetivos dessa política pública é viabilizar a promoção de: a) aceleração da reforma agrária b) reparação de grupos excluídos c) absorção de trabalhadores urbanos d) reconhecimento da diversidade étnica

sários e ignora os direitos individuais, então o Brasil vive um preocupante flerte com essa perigosa forma de governar. Os Três Poderes vêm dando mostras suficientes de rompimento com as regras básicas da democracia e, pouco a pouco, vai se instaurando um clima de violência política que nos empurra para um impasse somente visto nesse país quando estivemos sob o regime de exceção das ditaduras civis e militares. a) Indique três características de um sistema democrático representativo. b) Como a garantia dos direitos individuais (políticos e civis) di-

06. (Ufu MG) A coerência de um hábito cultural somente pode ser

ferencia os sistemas políticos democráticos contemporâne-

analisada a partir

os dos regimes autoritários? Comente ao menos dois pontos de diferenciação.

a) do sistema a que pertence. b) de um ponto de vista que seja exterior ao próprio hábito. c) de uma descoberta casual que o revele em sua essência. d) de uma inteligência superior. 07. (Ufu MG) “Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro.” LARAIA, Roque. Cultura, um conceito antropológico. 8ª ed., Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Considerando o texto acima, marque a alternativa correta acerca das afirmações abaixo. I.

As sociedades tribais são tão eficientes para produzir cultura quanto qualquer outra, mesmo quando não possuem certos recursos culturais presentes em outras culturas.

II.

As sociedades selvagens são capazes de produzir cultura, mas estão mal adaptadas ao meio ambiente e, por isso, algumas nem sequer possuem o Estado.

III.

IV.

As chamadas sociedades indígenas são dotadas de re-

09. (Fgv SP) Leia a estrofe e o refrão para responder às questões abaixo: (...) No Amazonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense No Mato Grosso, Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz Na morte eu descanso mas o sangue anda solto Manchando os papéis, documentos fiéis Ao descanso do patrão Que país é esse? Que país é esse? Que país é esse? Que país é esse? (...) ................ Que País é esse? Legião Urbana In: http://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/ que-pais-e-esse.html#ixzz3jYOfvAn4. Que país é esse? Gravação de 1987/ Grupo Legião Urbana

cursos materiais e simbólicos eficientes para produzir

a) Tendo como pressuposto que a composição foi escrita na

cultura como qualquer outra, faltando-lhes apenas uma

chave da ironia, explique a mensagem dos versos: No Ama-

linguagem própria.

zonas, no Araguaia, na Baixada Fluminense / No Mato Grosso, Minas Gerais e no Nordeste tudo em paz.

As chamadas sociedades primitivas conseguiram produzir cultura plenamente, ao longo do processo evolutivo,

b) Relacione o ritmo desta música com o sentimento que o

quando instituíram o Estado e as instituições escolares. Questão 08. a) Em um sistema democrático representativo há a existência de partidos políticos, eleições periódicas e alternância de poder. b) Os sistemas políticos democráticos garantem os direitos políticos de toda a população. Em contrapartida, os regimes autoritários não. Foi o que aconteceu no Brasil durante o Regime Militar, quando os presidentes eram eleitos por voto indireto. Além disso, as liberdades individuais são respeitadas no regime democrático. Isso é o inverso do que aconteceu também durante o Regime Militar, quando pessoas foram perseguidas por expressar suas opiniões e a censura governamental proibia manifestações contrárias ao regime.

compositor quis transmitir na letra. Questão 09. a) Em todos esses locais existem (ou existiram) conflitos extremamente violentos, contrariando a ideia de que “está tudo em paz”. b) A música tem um forte apelo de indignação e de não conformação com a situação violenta e de desigualdade social existente no país. O ritmo repetitivo denota uma tensão e uma pulsão resultante do contexto de embate social ao qual a música faz referência.

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A05  Teorias antropológicas da cultura

Gabarito questão 05 O reconhecimento das comunidades quilombolas lhes permite manter as suas tradições não obstante toda a exclusão e discriminação vivida por essas comunidades ao longo da história do Brasil.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A06

ASSUNTOS ABORDADOS n Indústria cultural

INDÚSTRIA CULTURAL Os avanços tecnológicos possibilitaram não só o surgimento de novas formas de produção, como o Fordismo, mas também novas formas de produção cultural, como o cinema, a arte etc. É claro que esses progressos proporcionaram um aumento significativo de público que teria alcance a esses novos métodos de produções que a tecnologia possibilitou. Mas, embora saibamos que houve avanços, temos de considerar também que surgiram as possibilidades de perdas. Ao observar esse cenário, os filósofos Max Horkheimer e Theodor Adorno, ambos intelectuais da Escola de Frankfurt na Alemanha, desenvolveram o termo indústria cultural.

Fonte: Wikimedia Commons

Dessa forma, o conceito de indústria cultural foi elaborado, primeiramente, na obra Dialética do esclarecimento (1985), de Theodor Adorno e de Max Horkheimer, que seria um termo para denominar o modo de produzir cultura no período industrial capitalista, principalmente com relação à situação da arte na sociedade capitalista industrial, marcada por modos de produção que visavam sobretudo ao lucro. Aqui há um grande dilema, pois para que haja lucro, é necessário, se pensarmos no caso específico do cinema, que se faça um filme que atinja de forma positiva o maior número de pessoas possíveis, ou no caso da música, que ela também apresente algo que as pessoas gostem de ouvir. O problema é que, ao se criar determinados padrões, isso faz com que não haja espaço para o novo, e que se caia constantemente em rotulações e padronizações.

Figura 01 - Max Horkheimer (à esquerda) e Theodor Adorno (à direita).

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Nesse sentido, em um exercício imaginativo, sugiro que escutem músicas sertanejas ou funks. As músicas sertanejas, no geral, sempre falam de situações semelhantes. Além disso, os cantores tendem a adotar um mesmo estilo de roupa, cabelo etc. A tendência é sempre passar a imagem que o público deseja, para assim garantir o lucro desejado.

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

O mesmo acontece com o funk. Neste estilo musical até as coreografias passam a ser bem parecidas e dotadas de um determinado padrão. Hoje, inclusive, tem-se o FitDance, uma empresa que cria coreografias e, segundo a própria empresa, seu “grande sucesso tem como pilar a UNIDADE DAS COREOGRAFIAS, que promove a integração e faz com que todos dancem juntos, utilizando a mesma linguagem, propiciando uma relação única entre instrutores, alunos, fãs e todos que trabalham para criar e manter sempre o padrão de qualidade da FitDance”. Portanto, a companhia utiliza movimentos muito semelhantes, em músicas diferentes, mas que estão no auge. Assim garante seu sucesso e, consequentemente, seu lucro.

Figura 02 - Instrutores do FitDance ensinando as coreografias criadas pela empresa.

Figura 03 - A dupla de MCs Zaac e Jerry, que compartilham o palco, a música e também o estilo.

Assim, a indústria cultural produziu o que pode ser chamado de cultura de massas, que consiste em todos os tipos de expressões culturais produzidos para atingir o maior número de pessoas possíveis. Isso porque como os processos de produção visavam principalmente ao lucro, todos os produtos culturais eram pensados para que houvesse um grande consumo por parte das massas.

A06  Indústria cultural

Contudo, mesmo com esse pessimismo que Adorno e Horkheimer enxergavam na indústria cultural, com seu forte poder de alienação e padronização de determinados processos, o filósofo Walter Benjamin destacava um ponto positivo desse cenário. O fato da arte alcançar cada vez mais um número maior de pessoas era, para Benjamin, uma democratização da arte. Mesmo não vendo o atual cenário que vivemos hoje, ele foi capaz de vislumbrar essa situação, sob a qual a possibilidade de copiar e reproduzir algo, independentemente da qualidade, é uma forma eficaz de fazer com que mais e mais pessoas tenham acesso a algo que antes era restrito, democratizando o acesso à cultura. Como falamos da cultura de massa, é necessário também pontuar sobre os meios de comunicação de massa. Eles caracterizam-se como ferramentas de propaganda dessa cultura, já que veiculam modismos e padrões assimilados por uma grande parcela de pessoas. Assim, o consumo é realizado em massa, o que garante um lucro cada vez maior aos grandes produtores.

49


Sociologia

Mesmo com esse lado negativo, apontado pelos frankfurtianos, podemos ressaltar que os meios de comunicação são também produtores culturais e, a depender de seu uso, podem ser fontes de mobilização em prol de causas pensadas justas pela sociedade civil organizada. Além desse viés da manipulação, portanto, é importante destacar que a indústria cultural também é responsável por um ideal de satisfação que impede determinadas mobilizações críticas, o que tende a deixar o indivíduo em uma situação de conformismo. Se uma pequena parcela da sociedade se levantar contra isso, provavelmente será sufocada pela grande massa

consumidora desses ideais que a indústria cultural promove.

Fonte: Wikimedia Commons

Esse processo, de acordo com os frankfurtianos, torna cada vez mais efetivo o ato de alienar e de ideologizar, que para eles são inerentes à indústria cultural. Os meios de comunicação de massa exercem o controle sobre seus receptores- mais um ponto negativo identificado por meio das reflexões sobre a indústria cultural, que força o poder de controle que a mídia toma para si.

Figura 04 - Os meios de comunicação de massa são responsáveis pela ideologização e manutenção do controle social.

SAIBA MAIS CULTURA DE MASSA, POPULAR E ERUDITA

A06  Indústria cultural

Fonte: Wikimedia Commons

Fonte: Wikimedia Commons

A cultura de massa, sendo produto da indústria cultural, é considerada, por uma maioria, sem valor cultural real. É preciso compreender que, quando se refere à massa, nada tem a ver com classe social, e sim é uma maneira de referir-se a uma grande parcela da população, que tem acesso a essa cultura por intermédio dos meios de comunicação de massa. A cultura erudita, por sua vez, é normalmente apreciada por um público com maior condição financeira e seu acesso é então restrito a quem possui a condição de dela desfrutar. Muitas vezes, essa cultura está ligada a visitas a museus, concertos de músicas clássicas e teatros com preços elevados, algo oposto ao que Benjamin propôs como democratização da arte. É claro que hoje há projetos que levam esse tipo de entretenimento a alguma parcela da sociedade que não tem acesso a esses eventos restritos, o que não impede que essas restrições continuem existindo. A cultura popular é ligada a qualquer dança, crença, literatura, costumes que são fundamentalmente transmitidos por gerações. É forte, resistente e sempre contemporânea, já que resiste ao tempo e está a todo momento se ressignificando. Essa cultura diferente das demais vem do povo, não sendo, portanto, imposta por uma indústria cultural ou por uma elite restrita.

Figura 05 - Literatura de cordel como representante da cultura popular.

Figura 06 - Concerto de música clássica como representante da cultura erudita.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. 50

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. 6 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 02 Somente a afirmativa [02] está incorreta. Os produtos da indústria cultural mistificam a consciência dos indivíduos e os impedem de compreender a realidade em que vivem.

Exercícios de Fixação O mamulengo é um teatro de fantoche tipicamente pernambucano. Retratando a vida cotidiana, sobretudo da zona rural, ele se tornou uma importante manifestação cultural brasileira.

As manifestações folclóricas existem por si e como expressão própria de cada comunidade, com razões e objetivos estabelecidos pela tradição e reinterpretados mediante sua dinâmica cultural própria. BENJAMIN, R. E. C. Folguedos e danças de Pernambuco. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1989, p. 33. (Adaptado).

Em Pernambuco, as manifestações folclóricas são diversificadas, atendendo às necessidades específicas e ao calendário da região. Sobre esse assunto, é CORRETO afirmar que a) os Maracatus de Baque Solto surgiram no Recife e foram levados para a Zona da Mata pernambucana e outras regiões do Nordeste. Seus personagens retratam a vida sofrida dos homens simples dessas regiões. b) a La Ursa é um folguedo típico do período carnavalesco, e seu cortejo sempre apresenta um enredo que está referenciado nas histórias infantis da Literatura Ocidental, como o Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. c) o frevo carrega a herança da capoeira africana. Nessa perspectiva, é considerado uma dança dramática por mostrar um enredo e um drama em suas apresentações. d) a quadrilha é uma manifestação folclórica do ciclo junino que guarda heranças culturais das cortes indígenas em seus ritmos, movimentos corporais e vestimentas. e) o mamulengo é uma manifestação popular de origem rural, principalmente das áreas da Zona da Mata, e as histórias contadas por esses personagens se referem ao dia a dia dos habitantes dessa região. 02. (Uem MA) Os filósofos Theodor W. Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973), no ensaio intitulado “A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas”, publicado em 1947, argumentaram que uma das características mais marcantes das sociedades capitalistas foi a transformação das manifestações culturais em mercadorias da indústria cultural, cujos conteúdos são padronizados com o intuito de valorizar o consumo passivo e prazeroso desses produtos culturais, ao

mesmo tempo em que atrofiam a imaginação, o pensamento crítico e reflexivo dos consumidores. 01 + 04 + 08 + 16 = 29 De acordo com o ponto de vista dos autores, é correto afirmar: 01. As manifestações culturais da indústria cultural não contribuem para a formação de consciências críticas quanto aos problemas das sociedades capitalistas. 02. A indústria cultural produz no consumidor uma percepção abrangente e crítica através dos bens culturais que lança no mercado. 04. Os produtos da indústria cultural, como o cinema, a música e a literatura de autoajuda, por exemplo, apresentam conteúdos com mensagens padronizadas. 08. Ao invés de contribuir para o esclarecimento, a indústria cultural gera uma consciência mistificadora nos indivíduos. 16. A produção cultural deixa de ser livremente produzida pelos criadores e passa a sujeitar-se aos interesses do mercado e ao controle dos proprietários da indústria de entretenimento e de seus representantes. Analise a charge a seguir e responda à(s) questão(ões).

(Disponível em: <https://sociologiareflexaoeacao.files.wordpress. com/2015/07/cena-cotidiana-autor-desconhecido-facebook.jpg>. Acesso em: 20 abr. 2016.

03. (Uel 2017) Leia o texto a seguir. As reações mais íntimas das pessoas estão tão completamente reificadas para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstração: personality significa para elas pouco mais que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar livres do suor nas axilas e das emoções. Eis aí o triunfo da publicidade na indústria cultural.

A06  Indústria cultural

01. (Upe ssa)

ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, p. 138.

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Sociologia A Indústria Cultural acaba por estimular uma experiência de personalidade superficial, na medida em que o indivíduo tem sua experiência coisificada. Tal crítica à sociedade contemporânea é muito presente nos trabalhos de autores como Adorno e Horkheimer.

A respeito da relação entre Indústria Cultural, esvaziamento do sentido da experiência e superficialização da personalidade, assinale a alternativa correta. a) A abstração a respeito da própria personalidade é uma capacidade por meio da qual o sentido da experiência, esvaziado pela Indústria Cultural, pode ser reconfigurado e ressignificado. b) A superficialização da personalidade e o esvaziamento do sentido da experiência são efeitos secundários da Indústria Cultural, decorrentes dos exageros da publicidade. c) A superficialização da personalidade resulta da ação por meio da qual a Indústria Cultural esvazia o sentido da experiência ao concebê-la como um sistema de coisas. d) O esvaziamento do sentido da experiência criado pela Indústria Cultural atesta a superficialidade inerente à personalidade na medida em que ela é uma abstração. e) O poder de reificação exercido pela Indústria Cultural sobre a personalidade consiste em criar um equilíbrio entre sensibilidade (emoções) e pensamento (máxima abstração).

Gabarito questão 06. Somente as afirmativas [01] e [16] estão incorretas. A imprensa possui grande poder no Brasil, podendo interferir e pautar questões de interesse público. Assim sendo, não podemos dizer que ela é imparcial, uma vez que toda forma de veicular uma notícia parte, necessariamente, de algum ponto de vista.

Provocando desejos inconscientes Nós estamos seguindo um rebanho Que representa o controle humano (...)” A partir dos versos e das estrofes dessa música, analise a atuação da indústria cultural na sociedade. 06. (Uem MA) “A imprensa pauta a agenda política, assassina reputação de agentes públicos, nomeia e demite ministros, eleva governantes aos picos do Olimpo quando atendem suas reivindicações, persegue homens públicos que enfrentam seus abusos e promove a instabilidade política e econômica do país. Tudo isso em nome da sagrada e inquestionável liberdade de expressão. Mesmo quando essa expressão serve para mentir e chantagear pessoas. Inexiste no Brasil direito de resposta.” 02 + 04 + 08 = 14 (JUNHO, Y. Tema espinhoso. In Sociologia 62, p. 53).

Considerando o trecho citado e análises da sociologia sobre os meios de comunicação, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 01. A imprensa brasileira opera a partir de princípios de neutralidade e de liberdade de expressão, sendo, portanto, isenta de interesses políticos ou de influências ideológicas. 02. A imprensa radiofônica e a televisiva, que, no Brasil, se valem da comunicação por canal aberto, ou seja, operam a partir de concessões públicas, devem, pelas normas da Constituição Federal, oferecer programas que beneficiem a sociedade. 04. O direito à liberdade de expressão para todo cidadão é uma herança social e política da Revolução Francesa e da Revolução Americana. 08. A imprensa é chamada por alguns autores de “quarto poder” porque participa diretamente do jogo político juntamente com os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. 16. A imprensa é um órgão voltado ao entretenimento e, por isso, não se dedica seriamente a assuntos políticos ou econômicos.

04. (Enem MEC)

A tirinha compara dois veículos de comunicação, atribuindo destaque à a) resistência do campo virtual à adulteração de dados. b) interatividade dos programas de entretenimento abertos. c) confiança do telespectador nas notícias veiculadas. d) credibilidade das fontes na esfera computacional. e) autonomia do internauta na busca de informações. 05. (Uem MA) Indústria cultural é um termo que designa um modo de fazer cultura baseado na lógica da produção industrial. Fragmentos da letra da música “Indústria Cultural”, de Chaves, expressam desencanto com as consequências dessa industrialização e critica a cultura do entretenimento. Indústria Cultural (Chaves)

A06  Indústria cultural

“Movimentos hippies tentando mostrar Que somos diferentes e podemos pensar Mas a sociedade os fagocita Transformando-os em roupas vendidas! Até a nossa cultura é mercadoria Desestimulando a arte e poesia Ideias impostas em nossas mentes 52

07. (Enem MEC) Hoje, a indústria cultural assumiu a herança civilizatória da democracia de pioneiros e empresários, que tampouco desenvolvera uma fineza de sentido para os desvios espirituais. Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.

Gabarito questão 04 A tirinha faz uma crítica aos canais de TV, ao afirmar que eles manipulam o telespectador. Nesse contexto, a internet aparece como uma alternativa, na medida em que dá autonomia ao internauta de escolher o conteúdo que quer consumir. No entanto, essa autonomia também é criticada no último quadrinho, que considera que independentemente disso, continua a haver manipulação.

Gabarito questão 05 A indústria cultural é caracterizada pelo processo de transformar todas as produções artísticas em mercadoria, massificando-as, uniformizando-as e produzindo um desejo por consumo. Em nossa sociedade, isso é perceptível, por exemplo, em

ADORNO, T HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

A liberdade de escolha na civilização ocidental, de acordo com a análise do texto, é um(a) Na contemporaneidade, a indústria cultural, ao padronizar a produção cultural, produz a ilusão a) legado social. de que os indivíduos estão escolhendo o que vão consumir. No entanto, isso é um efeito da ideolob) patrimônio político. gia, uma vez que todos os produtos são massific) produto da moralidade. cados e extremamente parecidos entre si. d) conquista da humanidade. e) ilusão da contemporaneidade. filmes que possuem mais ou menos a mesma estrutura narrativa e em novelas que têm como objetivo manter audiência e gerar receita para o canal de televisão. Como resultado, nós nos tornamos um rebanho, desejamos consumir mais e não refletimos acerca de nossa condição de vida.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Exercícios Complementares 01. (Ufsm) Leia o texto: Do mesmo modo que em outros ramos industriais, a indústria cultural transforma matéria-prima em mercadorias, criando novos padrões de consumo, voltados para atender às demandas de um determinado público-alvo.

b)

TERRA, Lygia; ARAUJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de geografia do Brasil. São Paulo: Moderna, 2009. p.134.

Em relação ao monopólio da informação no Brasil, assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afirmativa a seguir. ( ) Existe a concentração da veiculação dos produtos culturais nas mãos de poderosos grupos empresariais. ( ) As concessões de rádio e TV têm sido utilizadas como moeda de troca nas negociações que estabelecem alianças políticas. ( ) Os grandes grupos econômicos puderam, por meio de investimentos no controle das inovações tecnológicas em comunicações, ampliar espacialmente sua influência, ditando novos padrões de consumo. A sequência correta é a) V – V – V. Como mencionado corretamente nas três afirmativas, b) F – F – V. os meios de comunicação de maior alcance, como as concessões de TV e rádio ou jornais, pertencem a c) V – F – V. grandes grupos que, por meio da tecnologia, ampliam d) F – V – F. sua área de influência, estabelecendo relações de poder com grupos políticos e financeiros. e) V – F – F. Tiradentes esquartejado (1893) de Pedro Américo

02. (Enem MEC) Queijo de Minas vira patrimônio cultural brasileiro O modo artesanal da fabricação do queijo em Minas Gerais foi registrado nesta quinta-feira (15) como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O veredicto foi dado em reunião do conselho realizada no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte. O presidente do Iphan e do conselho ressaltou que a técnica de fabricação artesanal do queijo está “inserida na cultura do que é ser mineiro”.

c)

Patrimônio imaterial é aquele que corresponde às práticas artísticas ou culturais do povo, transmitidas por meio das gerações. No caso, a única alternativa que apresenta uma prática desse tipo é a [C].

Folha de S. Paulo, 15 maio 2008.

Mosteiro de São Bento (RJ)

A06  Indústria cultural

Entre os bens que compõem o patrimônio nacional, o que pertence à mesma categoria citada no texto está representado em: a)

Ofício de paneleiras de Goiabeiras (ES)

53


Sociologia A Estátua do Laçador apresenta a figura de um homem tipicamente gaúcho. Tal tipo de obra artística, ao ser integrada à cidade, assume uma função de memória de uma identidade reconhecida pela população. Por esse motivo, pode muito bem ser considerada uma manifestação histórico-cultural da população.

d)

O monumento identifica um(a) a) exemplo de bem imaterial.

b) forma de exposição da individualidade. c) modo de enaltecer os ideais de liberdade. d) manifestação histórico-cultural de uma população. e) maneira de propor mudanças nos costumes. 04. (Enem MEC) Seguiam-se vinte criados custosamente vestidos e montados em soberbos cavalos; depois destes, marchava o Embaixador do Rei do Congo magnificamente ornado de seda azul para anunciar ao Senado que a vinda do Rei estava destinada para o dia dezesseis. Em resposta obteve repetidas vivas do povo que concorreu alegre e admirado de tanta grandeza. Conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade de Ouro Preto (MG)

e)

“Coroação do Rei do Congo em Santo Amaro”, Bahia apud DEL PRIORE, M. Festas e utopias no Brasil colonial. In: CATELLI JR., R. Um olhar sobre as festas populares brasileiras. São Paulo: Brasiliense, 1994 (adaptado).

Originária dos tempos coloniais, a festa da Coroação do Rei do Congo evidencia um processo de a) exclusão social. b) imposição religiosa. c) acomodação política. d) supressão simbólica. e) ressignificação cultural.

A festa da Coroação do Rei do Congo, também chamada de Congado, é uma importante manifestação cultural brasileira. Ela surgiu durante o período colonial, a partir de um processo de ressignificação cultural de festas africanas. Desta maneira, somente a alternativa [E] pode ser considerada correta.

05. (Ufpr PR) Leia os fragmentos abaixo, reproduzidos de Theodor W. Adorno, do livro intitulado A indústria cultural: Tudo indica que o termo “indústria cultural” foi empregado pela primeira vez no livro Dialética do esclarecimento, que HorkheiSítio arqueológico e paisagístico da Ilha do Campeche (SC)

mer e eu publicamos em 1947, em Amsterdã. Em nossos esboços, tratava-se do problema da cultura de massa. Abando-

03. (Enem MEC)

namos essa última expressão para substituí-la por “indústria cultural”, a fim de excluir de antemão a interpretação que agrada aos advogados da coisa; estes pretendem, com efeito, que se trata de algo como uma cultura surgindo espontaneamente das próprias massas, em suma, da forma contemporânea da arte popular. Ora, desta arte a indústria cultural se distingue radicalmente. (ADORNO, 1986, p. 92). [...] As mercadorias culturais da indústria se orientam, como disseram Brecht e Suhrkamp há já trinta anos, segundo o princípio de sua comercialização e não segundo seu próprio conteúdo e sua figuração adequada. Toda a prática da indústria

A06  Indústria cultural

cultural transfere, sem mais, a motivação do lucro às criações espirituais. A partir do momento em que essas mercadorias asseguram a vida de seus produtores no mercado, elas já estão A Estátua do Laçador, tombada como patrimônio em 2001, é um monumento de Porto Alegre/RS, que representa o gaúcho (em trajes típicos). Disponível em: www.portoalegre.tur.br. Acessado em: 3 ago. 2012 (adaptado).

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contaminadas por essa motivação. (ADORNO, 1986, p. 92) [...] O que na indústria cultural se apresenta como um progresso, o insistentemente novo que ela oferece permanece, em todos os seus ramos, a mudança da indumentária de um sempre


Ciências Humanas e suas Tecnologias A alternativa [D] é a única correta. No sistema capitalista, inclusive a arte está submetida à lógica de mercado, servindo como uma mercadoria que deve gerar lucro.

semelhante; em toda parte a mudança encobre um esqueleto

d) A obra de arte se identifica com a lógica de reprodução cul-

no qual houve tão poucas mudanças como na própria motiva-

tural e econômica da sociedade.

ção do lucro desde que ela ganhou ascendência sobre a cultu-

e) Um pressuposto básico é que a arte nunca se transforma em

ra. (ADORNO, 1986, p. 94) […] A satisfação compensatória que a indústria cultural oferece às pessoas ao despertar nelas a sensação confortável de

artigo de consumo. 07. (Upe ssa) Leia a tirinha a seguir:

que o mundo está em ordem frustra-as na própria felicidade que ela ilusoriamente lhes propicia. O efeito do conjunto da indústria cultural é o de uma antidesmistificação, a de um anti-iluminismo; […] Ela impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente. Mas estes constituem, contudo, a condição prévia de uma sociedade democrática, que não poderia salvaguardar e desabrochar senão através de homens não tutelados. (ADORNO, 1986, p. 99) (ADORNO, Theodor W. A indústria cultural. In: COHN, Gabriel (org.). Adorno, Theodor W. São Paulo: Ática, 1986.)

Com base nesses fragmentos e nos conhecimentos sociológicos, discorra sobre a indústria cultural, abordando em seu texto os seguintes aspectos: n a razão pela qual Adorno substituiu a expressão “cultura

de massa” por “indústria cultural”; n de que forma a prática da indústria cultural transfere a n o que Adorno quer dizer com a metáfora sobre o progresso

da indústria cultural como uma indumentária que recobre um esqueleto. n a relação entre indústria cultural e democracia na pers-

pectiva de Adorno.

Disponível em: <http://blogdoenem.com.br/>

Ela apresenta o poder que a mídia exerce sobre as pessoas, criando a ideologia e a cultura de massa, valiosas para a organização da sociedade capitalista. Refletindo sobre a relação entre esses dois conceitos sociológicos, é CORRETO afirmar que a) a representação simbólica, que o homem constrói do mun-

06. (Unioeste PR) O ensaio “Indústria Cultural: o esclarecimento

do, e a produção e reprodução material da sociedade são

como mistificação das massas”, de Theodor W. Adorno e Max

elementos significativos para se entender a dinâmica da cul-

Horkheimer, publicado originalmente em 1947, é considerado

tura e da ideologia na vida social.

um dos textos essenciais do século XX que explicam o fenô-

b) a maneira como a vida se estrutura nas sociedades complexas

meno da cultura de massa e da indústria do entretenimento.

obedece, rigidamente, às ideias de homogeneidade e padroni-

É uma das várias contribuições para o pensamento contem-

zação, conforme se observa nas periferias das grandes cidades.

porâneo do Instituto de Pesquisa Social fundado na década de

c) a ideologia é importante para a formação cultural das socie-

1920, em Frankfurt, na Alemanha. Um ponto decisivo para a

dades, mas estas são categorias sociológicas independentes,

compreensão do conceito de “Indústria Cultural” é a questão

reforçando a ideia de que os grupos sociais são influencia-

da autonomia do artista em relação ao mercado. Assim, sobre o conceito de “Indústria Cultural” é CORRETO afirmar. a) A arte não se confunde com mercadoria, e não necessita da mídia e nem de campanhas publicitárias para ser divulgada para o público. b) Não há uniformização artística, pois, toda cultura de massa se caracteriza por criações complexas e diversidade cultural. c) A cultura é independente em relação aos mecanismos de reprodução material da sociedade. Gabarito questão 05 A indústria cultural é resultado da expansão do capitalismo. Diferentemente de qualquer expressão cultura espontânea (por isso os autores não utilizam o termo cultura de massa), essa indústria tem como objetivo extrair o lucro das produções culturais e criações espirituais. Assim, ao invés de valorizar a criatividade, essa indústria faz com que a arte esteja submetida à lógica capitalista de consumo. Como resultado dessas relações, o que surge é um indivíduo impedido de pensar autonomamente, pois está dependente do bem-estar efêmero que essa indústria o induz a consumir. Assim, ele se torna um indivíduo incapaz de exercer plenamente sua cidadania em uma sociedade democrática.

dos por fatores subjetivos. d) as pessoas possuem consciência da atuação da ideologia dominante sobre seu comportamento, razão por que, nos meios de comunicação, a cultura de massa é restrita, apenas, à elite social. e) os mecanismos de atuação da ideologia devem propor uma despolitização da cultura, pois esse processo tornará os indivíduos mais alienados da dominação de alguns grupos sociais. Gabarito questão 07 Todo ser humano e toda cultura criam representações simbólicas de como viver no mundo. Na sociedade capitalista, a ideologia cumpre esse papel de representação simbólica, mas com a característica de subverter a realidade, fazendo com que os indivíduos não percebam a estrutura desigual e injusta de nossas relações sociais.

55

A06  Indústria cultural

motivação do lucro para as criações espirituais.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A07

ASSUNTOS ABORDADOS n Multiculturalismo e ações afir-

mativas

n Multiculturalismo

MULTICULTURALISMO E AÇÕES AFIRMATIVAS Multiculturalismo Depois de toda essa discussão sobre antropologia, ficou entendido que a cultura é parte de um debate amplo e complexo. Mas algo ficou bem claro: o caráter multifacetado e dinâmico que a cultura carrega consigo. Com essa compreensão, podemos pensar, a partir de então, no conceito de multiculturalismo. O termo também gera dilemas, mas ronda, fundamentalmente, a convivência de várias culturas em um mesmo ambiente. Com a integração proposta pela globalização e pós-modernidade, podemos entender que o multiculturalismo, também chamado de multiculturalidade ou pluralismo cultural, é integrante dessas propostas. Essa noção relaciona-se de forma muito próxima com o conteúdo que acabamos de estudar no último módulo, que trouxe as diferentes visões que a Antropologia tem no debate sobre o contato de diferentes culturas. Isso porque o panorama de se pensar na multiculturalidade pressupõe que os grupos culturais estariam cada vez mais interligados, em função do crescente contato que as culturas têm entre si. Por se tratar de um tema caro às ciências sociais, o multiculturalismo gera um debate conflituoso, visto que alguns autores pensam o termo como uma grande ilusão, já que haverá sempre a imposição de uma cultura dominante. Por outro lado, outros estudiosos afirmam e defendem a multiplicidade de culturas em convivência intensa pelo cenário da globalização, ratificando assim a noção de que as culturas são diversas e devem ser respeitadas na sua essência.

56


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Sendo assim, algumas categorias como gênero, etnia, orientação sexual, religião sugerem a necessidade de intervenção do Estado por meio de reconhecimento e de políticas inclusivas. O termo abarca então as políticas institucionais que se desenvolvem em torno das questões trazidas por essa integração de convivência tão ampla e dinâmica. Portanto, o multiculturalismo tem seu surgimento relacionado às reivindicações de minorias étnicas como os negros e os indígenas.

tórico de injustiças e direitos que não foram assegurados. Para compreender a necessidade de uma ação afirmativa, é preciso, antes de tudo, compreender o contexto social vivido por um país, por isso o que gera preconceito por parte de setores da sociedade em muitos casos é analisar uma ação afirmativa sem antes entender o histórico que precedeu a política pública. Ao debater as cotas para negros nas universidades, por exemplo, é preciso retornar ao Brasil colonial e perceber como o processo de escravidão criou desigualdades sociais que são presentes até

Nesse sentido, o dilema multicultural é um problema político que diz respeito à própria forma de organização do Estado em prol do reconhecimento da diferença. Visa, sobretudo, a uma superação dos discursos pautados pela colonialidade do poder (QUIJANO, 2005), que por meio de uma visão etnocêntrica e de dualismos (superior/inferior; branco/negro etc.), segrega a sociedade. Por isso, hoje, o debate decolonial é visto como uma alternativa epistêmica de superar e sair desses discursos marcados por essa colonialidade do poder. No Brasil, o discurso sobre multiculturalismo é relativamente recente e, geralmente, é associado ao debate sobre as ações afirmativas. Segundo o Grupo de Estudos Multidisciplinar de Ações Afirmativas (GEMAA), sediado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), as ações afirmativas são [...] políticas focais que alocam recursos em benefício de pessoas pertencentes a grupos discriminados e vitimados pela exclusão socioeconômica no passado ou no presente. Trata-se de medidas que têm como objetivo combater discriminações étnicas, raciais, religiosas, de gênero ou de casta, aumentando a participação de minorias no processo político, no acesso à educação, saúde, emprego, bens materiais, redes de proteção social e/ou no reconhecimento cultural. (GEMAA, 2017)

Segundo o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (SINAPIR), em 2012 o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por unanimidade que as ações afirmativas são constitucionais e políticas essenciais para a redução de desigualdades e discriminações existentes no País. Ainda propõe que as ações afirmativas no Brasil partem do conceito de equidade expresso na Constituição, que significa tratar os desiguais de forma desigual, isto é, oferecer estímulos a todos aqueles que não tiveram igualdade de oportunidade devido à discriminação e ao racismo. Dessa forma, uma ação afirmativa não deve ser vista como um benefício, ou algo injusto, haja vista que ela só se faz necessária quando se percebe um his-

universidades comparados com o percentual dessa população no total de brasileiros, o governo comprova a necessidade de criar uma política para compensar séculos de desigualdades. É assim que nasce uma política de ação afirmativa. Após a leitura de um diagnóstico sóciocultural histórico, há a comprovação estatística das desigualdades existentes e da necessidade de reparos. Após o diagnóstico e o planejamento de uma política de ação afirmativa, os gestores governamentais encaminham a legislação, monitoram sua aprovação e implementação. (SINAPIR, 2017)

Ações afirmativas são medidas que têm, portanto, o objetivo de reverter a histórica situação de desigualdade e discriminação de grupos que foram, historicamente, privados de seus direitos, por meio de ações públicas ou privadas. Uma maneira clara de se perceber essa desigualdade pode ser vista, quando somente em 2007, com o Decreto Presidencial nº 6.040 de 2007, o governo brasileiro reconhece formalmente, pela primeira vez na História do País, a existência formal de todas as chamadas populações “tradicionais” do Brasil - uma vitória na luta por reconhecimento e igualdade. O decreto compreende a expressão Povos e Comunidades Tradicionais como grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. O referido decreto ainda faz menção ao que entende por Territórios Tradicionais. Segue conceituando-os como os espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas, respectivamente, o que dispõem os Arts. 231 da Constituição e 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regulamentações. Visto isso de maneira mais geral e com o intuito de aproximar o tema ao âmbito dos alunos, podemos ver que no Estado de Goiás, temos um exemplo pioneiro dessa política por meio da Universidade Federal de Goiás (UFG), que em 57

A07  Multiculturalismo e ações afirmativas

Fonte: Wikimedia Commons

hoje, mesmo após 127 anos da abolição da escravidão. A partir de dados estatísticos que demonstram a diferença entre negros nas


Sociologia

No Brasil, assim como em outros países das Américas, as minorias étnicas viveram importantes processos de luta política que levaram os Estados Nacionais ao reconhecimento de direitos relacionados à preservação de suas culturas. Como consequência deste fato, nos últimos anos, consolidou-se uma mudança profunda no campo da educação escolar. Essa mudança é respaldada por uma legislação que permite aos indígenas desenvolverem propostas educacionais que valorizem suas línguas, suas práticas culturais e seus lugares de pertencimento étnico, ao mesmo tempo em que lhes abrem as portas para novas formas de inserção na sociedade não-indígena brasileira com ênfase em uma cidadania que respeite e integre as diferenças, o “outro”. É nessa direção que vem sendo discutida a proposta da Licenciatura Intercultural em Goiás, uma proposta que se apresenta como um espaço político e de debate de questões relevantes para as comunidades indígenas. O Curso de Licenciatura será destinado aos povos indígenas que se situam na região Araguaia-Tocantins. Juntos, esses povos poderão definir ações de defesa de seus direitos, adotar políticas de manutenção de suas línguas e culturas maternas, de suas terras e traçarem políticas de desenvolvimento sustentável. (INTERCULTURAL, 2017)

Fonte: Wikimedia Commons

2015 foi a primeira universidade pública do país a adotar cotas para pretos, pardos e indígenas em todos os cursos de mestrado e doutorado, estabelecendo assim cotas raciais e ações afirmativas para todos os seus programas de pós-graduação ‘stricto sensu’. Inclusive, vale ressaltar que, desde 2006, a UFG promove, por meio de um projeto de inclusão social, em parceria com a Universidade Federal do Tocantins (UFT), Secretarias de Educação de Goiás, Tocantins e Mato Grosso, FUNAI, CTI (Centro de Estudo Indigenista) e Ministério da Educação a Licenciatura Intercultural Indígena, que tem como público-alvo povos indígenas situados na região Araguaia-Tocantins. Segundo o próprio programa,

Figura 01 - UFG comemora 10 anos do curso de Educação Intercultural.

Referências bibliográficas Apresentação do projeto de licenciatura intercultural indígena. Disponível em: http://intercultural.letras.ufg.br/ Acesso em: 15 dez 2017. GEMAA. Grupo de Estudos Multidisciplinar de Ações Afirmativas. O que são ações afirmativas? Disponível em: http:// gemaa.iesp.uerj.br/o-que-sao-acoes-afirmativas/ Acesso em: 15 dez 2017. MACAGNO, L. O Dilema Multicultural. Curitiba. Ed. UFPR. Rio de Janeiro, Graphia, 2014. QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires, Colección Sur Sur, pp.118-142, 2005. SEGATO, R. L. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. Epistemologias feministas: ao encontro da crítica radical, 2012. SINAPIR. Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial. O que são ações afirmativas? Disponível em: http:// www.seppir.gov.br/assuntos/o-que-sao-acoes-afirmativas. Acesso em: 15 dez 2017.

Exercícios de Fixação

A07  Multiculturalismo e ações afirmativas

01. (Enem MEC) Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: www.planalto.gov. br. Acesso em: 27 abr. 2017.

A persistência das reivindicações relativas à aplicação desse preceito normativo tem em vista a vinculação histórica fundamental entre a) etnia e miscigenação racial. b) sociedade e igualdade jurídica. c) espaço e sobrevivência cultural. d) progresso e educação ambiental. e) bem-estar e modernização econômica. 58

O artigo da Constituição é claro na relação entre os direitos dos povos indígenas de manterem suas tradições e a necessidade de deterem a posse de suas terras. De fato, a persistência de uma cultura está intimamente relacionada com o território que seus membros ocupam.

02. (Unioeste) Leia as indicações abaixo sobre as questões indígenas no Brasil: I “Logo que cheguei à província do Paraná, de que fui presidente pouco mais de sete mezes, de 28 de setembro de 1885 a 4 de maio de 1886, tive que me avir com os chamados índios de Guarapuava. Vagava pelas ruas de Curityba uma turma semi-nua dessa gente, reclamando ferramentas, roupas, dinheiro, etc., e lamentando-se de haverem sido maltratados por brasileiros e despojados de terras que lhe pertenciam”. TAUNAY, Visconde de. Entre os Nossos Índios. São Paulo: Melhoramentos. 1931, p. 84.

II “A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, argumenta que: essas A alternativa [A] contraria todas as outras. Os textos I e II apresentam situações em que os indígenas foram despojados de suas terras, tornando-os mais vulneráveis a situações que podem fazer com que suas culturas desapareçam.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

reservas superlotadas, cujos recursos naturais não permitem um modo de vida tradicional, são focos permanentes de conflitos, suicídios e miséria. Contrastam tristemente com as aldeias Kaiowá, as tekoha, cujo nome literalmente significa “o lugar onde vivemos segundo nossas regras morais” (Folha de S. Paulo, 19 de novembro de 2014). [...] Na década de 1970, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Rio Paraná, cobriu aproximadamente 60 aldeias Guarani em ambas as margens (do lado do Brasil e do Paraguai). Reconhecendo parcialmente sua responsabilidade, o empreendimento binacional devolveu aos Guarani menos de 1% das terras indígenas que foram alagadas. Essas comunidades seguem sem terra, sem o reconhecimento concreto de seus direitos e sem qualquer tipo de reparação. [...] Apenas 34% dos recursos destinados a ações, como a de demarcação dos territórios indígenas, foram liquidados até 2014”.

Gabarito questão 05 Fatores como cor de pele, gênero e renda são importantes diagnósticos da desigualdade social no Brasil. Os dados de diminui-

ção da taxa de desocupação, bem como de diminuição das diferenças de renda entre homens e mulheres e entre brancos e negros demonstram que entre 2003 e 2013 a

desigualdade social diminuiu no Brasil. Isso se deu por alguns motivos, dentre eles o desenvolvimento econômico do período e a criação de políticas afirmativas como cotas.

RANGEL, Lúcia H. (Coord.). Violência contra os povos indígenas. Relatório. Dados de 2014. Brasília: CIMI, 2015, p.18; 21, 36)

Sobre os indígenas no Brasil, é INCORRETO afirmar. a) A presença indígena na sociedade brasileira a partir do século XIX teve suas terras preservadas para que não ocorressem novas ações de dizimação como efetuadas no que se denominou de América Portuguesa. b) A demora no processo de demarcação de territórios indígenas faz com que atos de violência e sentimento de impunidade frente a essas ações sejam comuns em diferentes regiões do País, inclusive no estado do Paraná. c) A existência de reservas e aldeias indígenas não garante a manutenção dessas comunidades, ao contrário, muitas vezes expõe os limites de sua autopreservação. d) Atualmente, as diferentes versões e interesses expressos nas disputas territoriais e sobre as condições de vida dos indígenas ganham espaço nos meios de comunicação e nos debates acadêmicos e escolares. Contudo, essa é uma questão que não avançou muito na resolução dos conflitos e desigualdades desse processo. e) Devido à grande presença indígena na sociedade brasileira, as questões sobre violência e conflitos em áreas de disputa indígena não ganham notoriedade política e social como deveriam, uma vez que não se trata de um caso isolado e nem uma comunidade específica. 03. (Uepg) Casos de racismo têm chamado a atenção no futebol brasileiro e mundial. A respeito desse tema, assinale o que for correto. 01 + 02 + 08 = 11 01. Daniel Alves, jogador brasileiro que atua no futebol europeu, ironizou a provocação racista que sofreu comendo uma banana durante uma partida de futebol. 02. Ao ser hostilizado por torcedores durante um jogo, o goleiro Aranha tornou-se uma das mais recentes vítimas de racismo no futebol brasileiro. 04. O ex-jogador Pelé, conhecido por sua luta contra o racismo no esporte, propôs a criação de um movimento de jogadores brasileiros com objetivo de combater atos de natureza racista. [01] Correto. Ao receber uma provocação racista, Daniel Alves ironizou e comeu a banana durante uma partida de futebol. [02] Correto. O goleiro Aranha foi hosti-

lizado durante um jogo entre Grêmio e Santos pela Copa do Brasil. [04] Incorreto. Pelé não é reconhecido por sua luta contra o racismo.

demos dizer que ele questiona o mito da democracia racial ao apresentar diversos fatores que demonstram como, mesmo após a abolição da escravatura, o negro se manteve em uma situação de segregação, que também é muito bem expressa na tabela utilizada na questão acima.

08. Em razão de atos racistas promovidos por um grupo de torcedores, o Grêmio de Porto Alegre foi eliminado da edição 2014 da Copa do Brasil. 04. (Uel PR) Analise a tabela a seguir: Número e Percentual de Pobres - Indigentes por cor, 1992 e 1999 Número

Percentual

1992

1999

Variação %

1992

1999

Total

84 459 000

75 195 000

-11,00

100,0

100,0

Brancos

31 075 000

25 869 000

-16,75

37,0

34,4

Afrodescendentes

53 191 000

49 012 000

-7,85

63,0

65,6

(IPEA, 2001. OLIVEIRA, L. F.; COSTA, R.R. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007. p. 144.

Os dados sobre a pobreza e a indigência segundo a cor ilustram os argumentos dos estudos a) de Gilberto Freyre sobre a natural integração dos negros na sociedade brasileira, que desenvolveu a democracia racial. b) de Caio Prado Junior sobre a formação igualitária da sociedade brasileira, que desenvolveu o liberalismo racial. c) de Sérgio Buarque de Holanda sobre a cordialidade entre as raças que formam a nação brasileira: os negros, os índios e os brancos. d) de Euclides da Cunha sobre a passividade do povo brasileiro, ordeiro e disciplinado, que desenvolveu a igualdade de oportunidades para todas as raças. e) de Florestan Fernandes sobre a não integração dos negros no mercado de trabalho cem anos após a abolição da escravidão. 05. (Ufpr PR) Considere os seguintes dados da Retrospectiva da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, referente ao período de 2003 a 2013: A taxa de desocupação de 2013 (média de janeiro a dezembro) foi estimada em 5,4%. Esta taxa era de 12,4% em 2003. [...] A pesquisa apontou disparidade entre os rendimentos de homens e mulheres e, também, entre brancos e pretos ou pardos. Em 2013, em média, as mulheres ganhavam em torno de 73,6% do rendimento recebido pelos homens. A menor proporção foi a registrada em 2003, 70,8%. O rendimento dos trabalhadores de cor preta ou parda, entre 2003 e 2013, teve um acréscimo de 51,4%, enquanto o rendimento dos trabalhadores de cor branca cresceu 27,8%. A pesquisa registrou, também, que os trabalhadores de cor preta ou parda ganhavam, em média, em 2013, pouco mais da metade (57,4%) do rendimento recebido pelos trabalhadores de cor branca. [...] Destaca-se que, em 2003, não chegava à metade (48,4%). (BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Retrospectiva da Pesquisa Mensal de Emprego 2003 a 2013.

Escreva um texto apontando as conclusões a que se pode chegar com a interpretação dos dados apresentados. [08] Correto. O STJD, Supremo Tribunal de Justiça Desportiva, por unanimidade, eliminou o Grêmio da edição 2014 da Copa do Brasil.

59

A07  Multiculturalismo e ações afirmativas

Gabarito questão 04 Somente a alternativa [E] está correta. Florestan Fernandes fez uma análise sociológica bastante rica a respeito da questão racial em seu livro A Integração do Negro na Sociedade de Classes. De forma geral, po-


Sociologia Todas as afirmativas estão corretas, com exceção da IV. A herança escravista do Brasil pode ser percebida até hoje nas desigualdades sociais entre brancos e negros e no preconceito racial que é bastante presente. Não obstante essas características, é inegável que o escravo tenha sido importante culturalmente para a constituição da nação, como se observa na língua, na religião e na culinária brasileira.

Exercícios Complementares 01. (Ufu MG) “Calculo que o Brasil, no seu fazimento, gastou cerca de 12 milhões de negros, desgastados como a principal força de trabalho de tudo o que se produziu aqui e de tudo que aqui se edificou. Ao fim do período colonial, constituía uma das maiores massas negras do mundo moderno. Sua abolição, a mais tardia da história, foi a causa principal da queda do Império e da proclamação da República. Mas as classes dominantes reestruturaram eficazmente seu sistema de recrutamento da força de trabalho, substituindo a mão de obra escrava por imigrantes importados da Europa, cuja população se tornara excedente e exportável a baixo preço.” RIBEIRO, Darci. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p.220-221.

Considerando o texto acima, pode-se afirmar que I. a escravidão foi a base de desenvolvimento econômico do Brasil, ao longo da colônia e do Império. II. a escravidão teve papel importante na formação étnica do país. III. o escravo contribuiu para moldar o trabalho e a sociedade no Brasil através de técnicas próprias, pelo seu modo de ser e cultura, pela culinária, pela dimensão religiosa, linguística e artística. IV. do ponto de vista da diversidade étnico-cultural brasileira, o negro não sofre preconceito social. Selecione a alternativa correta. a) II, III e IV estão corretas. b) I e IV estão corretas. c) I, II e III estão corretas. d) III e IV estão corretas. 02. (Ufu MG) Nas sociedades contemporâneas, ganham cada vez mais visibilidade os movimentos das chamadas minorias, como as mulheres e os negros, entre outros. Analise o crescimento do movimento negro no Brasil relacionando-o com a desigualdade social e a tendência atual de reivindicação da cidadania.

A07  Multiculturalismo e ações afirmativas

03. (Ufu MG) Em anos recentes, no Brasil, os movimentos sociais de afrodescendentes têm defendido a definição de cotas de vagas nas universidades e nos postos de trabalho dos setores públicos, como forma de resgatar a dívida social contraída pela escravidão e discriminação racial ao longo de mais de quatrocentos anos. De acordo com o texto lido, considere as proposições a seguir, identificando as que têm pertinência sociológica. I. As reivindicações dos afrodescendentes fazem parte do conjunto de reivindicações de outros sujeitos sociais discriminados e pode-se aventar a hipótese que deverão reforçar o conjunto das lutas sociais por cidadania, incluindo as lutas das etnias indígenas e dos

60

Gabarito questão 02 O movimento negro brasileiro atual constitui uma pauta baseada em, basicamente, dois eixos: a extinção do preconceito, em uma luta contra as dominações simbólicas, e a luta contra a reprodução do racismo através da es-

desempregados, por exemplo. As reivindicações dos movimentos sociais de afrodescendentes reafirmam a existência de uma memória histórica dos africanos no Brasil inteiramente compartilhada por todos os brasileiros, sem distinção de origem étnica e de posição social. III. As reivindicações políticas dos afrodescendentes são improcedentes, porque, depois do fim da ditadura militar, em 1985, a democracia no Brasil foi definitivamente consolidada, basta ver que as universidades e o mercado de trabalho estão abertos e acessíveis a todos. IV. As reivindicações dos afrodescendentes são procedentes, como todas as que buscam garantir direitos de cidadania, mas a particularidade histórica da discriminação racial e a dificuldade de escolha da base de cálculo para o estabelecimento de cotas impedem medidas concretas, definitivamente. Assinale a alternativa correta. a) As alternativas II e III são pertinentes. b) Apenas a alternativa I é pertinente. c) As alternativas II, III e IV são pertinentes. d) As alternativas III e IV são pertinentes. II.

04. (Uema) Costumo dizer que nenhuma nação passa impunemente por quase quatro séculos de escravidão. E se o modo de produção escravista perdurou no Brasil até o final do século XIX, não há possibilidade de as marcas se apagarem com facilidade. As marcas materiais e as simbólicas. As duas imbricadas. A cultura da Casa Grande sobrevive solidamente na sociedade brasileira, por menos que o queiramos. O preconceito e a discriminação contra os negros são heranças presentes da escravidão. Claro que temos avançado. Há hoje um forte movimento negro no País. Há mais consciência da sociedade brasileira contra o racismo. Mas, ainda temos uma longa estrada pela frente. Carta Capital. Seção: Diálogos. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/app/coluna>. Acesso em: 08 maio 2008.

Indique a alternativa que interpreta corretamente o texto acima. a) A situação do(a) negro(a) no Brasil mudou radicalmente na atualidade pois não existe mais o racismo. b) As relações raciais no Brasil são fruto da situação histórica de formação desigual dessa sociedade. c) A desigualdade entre as classes sociais no Brasil se sobrepõe às diferenças raciais, pois o país é racionalmente democrático. d) A sociedade brasileira é exemplo de democracia racial, pois no Brasil o racismo é combatido. e) O movimento negro propõe a superação da desigualdade social em detrimento da igualdade racial.

trutura de desigualdades. É justamente nesse segundo eixo que a política de cotas, por exemplo, se insere. Na medida em que os negros nunca tiveram acesso aos melhores postos na sociedade, sempre houve uma associação entre negro, pobreza e violência. Esse estigma

é justamente uma das principais formas de violência que os negros sofrem na sociedade contemporânea. Nesse sentido, sua luta contra o racismo é também uma luta pelos direitos de cidadania que lhe são negados.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A08

PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO: GILBERTO FREYRE E FLORESTAN FERNANDES

ASSUNTOS ABORDADOS n Pensamento social brasileiro:

Fonte: Wikimedia Commons

Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

Figura 01 - Florestan Fernandes e Gilberto Freyre, durante encontro em universidade na Alemanha.

É impossível falar de pensamento social brasileiro sem cometer injustiças. Temos sociólogos e mais sociólogos no Brasil, responsáveis por debates das mais variadas temáticas. A escolha por Gilberto Freyre e Florestan Fernandes deu-se pelo fato deles serem dois pesquisadores dentre os mais citados por cientistas sociais no Brasil, e pelo fato de poder explorar o contraste que eles trazem sobre o debate da questão racial. Assim, continuamos nossa caminhada pensando sobre os contatos e as culturas. Gilberto Freyre foi acusado de cunhar o termo pelo qual tanto foi criticado por uma corrente de autores: democracia racial. Contudo, há um levantamento que afirma que Freyre não teria sido o primeiro autor a utilizar a expressão. Segundo Kern (2014), Antônio Sérgio Guimarães já teria chamado a atenção para o primeiro uso, que parece pertencer a Charles Wagley. Em 1952, ele teria afirmado que “O Brasil é renomado mundialmente por sua democracia racial”. Mesmo que Freyre possa, de fato, não ter sido o pioneiro no uso do termo, suas ideias eram uma síntese da conceituação da expressão que, logo mais tarde, começou a ser substituída por ele, em seus escritos, por um sinônimo: “democracia étnica”. Esse mito da democracia racial ou mito das três raças, como também ficou conhecido, consistia na noção de que, no Brasil, ocorria o encontro e mestiçagem das três raças: a europeia – portuguesa -, a africana e a indígena. É importante mencionar que esse mito é um termo utilizado para se pensar e descrever as relações raciais no País, trazendo consigo a ideia de que o Brasil, com essa mestiçagem sob uma ótica positiva, estaria a salvo do racismo e da discriminação racial. Tais relações foram apresentadas e discutidas por Gilberto Freyre em Casa-Gran61


Sociologia

de & Senzala, uma de suas obras mais conhecidas. Nela, Freyre trazia à tona um imaginário de que essa mestiçagem culminaria em uma metarraça, na qual não haveria comportamentos voltados para a discriminação, o que sabemos não ser verdade, já que há discriminação generalizada nos campos do emprego, educação etc. A mestiçagem era vista de maneira tão positiva por Freyre, que ele acabou criando a noção da boa escravidão, defendendo uma escravidão benigna, o que o faz esquecer as consequências de um sistema que levou à posse de um homem por outro. Isso é o que reforça a visão romantizada da modernidade brasileira, com a hipótese de que o negro teria chance de se destacar individualmente, o que leva a um ocultamento do racismo que existe até hoje no pensamento social brasileiro.

exemplo, afirmar que teriam existido situações de estupros na Casa Grande ou na Senzala, já que os negros estariam sempre dispostos a essas relações tensas de prazer e violência. Marcussi, historiador, chama atenção, porém, no sentido de que Freyre, focando nessa docilidade das relações, teria também revelado momentos de extrema violência no cotidiano da família patriarcal. Não são dois nem três, porém muitos os casos de crueldade de senhoras de engenho contra escravos inermes. Sinhás-moças que mandavam arrancar os olhos de mucamas bonitas e trazê-los à presença do marido, à hora da sobremesa, dentro da compoteira de doce e boiando em sangue ainda fresco. Baronesas já de idade que por ciúme ou despeito mandavam vender mulatinhas de quinze anos a velhos libertinos. Outras que espatifavam a salto de botina dentaduras de escravas; ou mandavam-lhes cortar os peitos, arrancar as unhas, queimar a cara ou as orelhas. Toda uma série de judiarias. (FREYRE, 1984, p. 337 apud MARCUSSI, 2013, p.280/81)

Fonte: Wikimedia Commons

A08  Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

Com isso, ainda vale destacar que Freyre, apesar de ter dado destaque a uma afetuosidade nessas relações de conflito, também se preocupou, em determinados momentos, em mostrar que nem todas as relações seriam tão dóceis assim, já que alguns escravos cometiam suicídios, por exemplo. Tal fato pode ser provocador para se pensar se esses escravos também não tinham atitudes de resistência frente a essas tensões cotidianas.

Figura 02 - A obra Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.

Nos seus escritos quase ensaísticos e hipnotizantes, Gilberto Freyre demonstra as relações doces e afetivas entre senhores e escravos, ou seja, ele deslocou o foco dos conflitos e jogou luzes nas relações aparentemente pacíficas entre esses dois mundos opostos. Ainda com um certo olhar nostálgico, ressalta as recordações que os homens brancos de sua época tinham de suas amas de leite, por exemplo, destacando mais uma vez essa relação de afeto e amorosidade existente. Com esses destaques, não podemos deixar de lado também a importância que Freyre deu à sexualidade. O autor revela uma espécie de sadismo do branco e de masoquismo do índio ou do negro. Isso é problemático na medida em que se afirma que os negros, por exemplo, gostassem de situações em que fossem expostos ao sofrimento e à dor. Os críticos de Freyre se questionam se dessa forma não seria possível, por 62

Com todo esse apanhado sobre a obra de Freyre, podemos então pensar o quão suas reflexões foram efervescentes no mundo sociológico. Suas discussões, dessa forma, possibilitaram um enorme debate no âmbito da Sociologia, em que autores como Sérgio Buarque de Holanda (1995), por exemplo, em Raízes do Brasil, não só rejeita o mito de que no Brasil ocorria o encontro e mestiçagem das três raças, como também recusa o conceito biológico de raças humanas, pois, onde não há raça, não poderia haver esse encontro para compor nosso país, e se nós nos atrelássemos a esse ideal, nos aprisionaríamos a uma condição biológica, que é de difícil libertação. Nós, enquanto indivíduos, somos frutos da condição humana pelas transições culturais de cada um, de cada povo, de uma determinada cultura. Somos, portanto, seres culturais, passíveis de transformação, e não biológicos, o que nos colocaria em uma posição fixa e estática. Assim, as noções abordadas por Freyre foram intensamente criticadas principalmente por esse falso equilíbrio de forças entre as três raças, o que, na verdade, não houve, pois sabemos que a todo instante os negros e índios estavam lançados a possibilidades de dominação e controle. Por isso, não há como minimizar toda prática de violência e abuso que os portugueses engendraram nesse processo nada romântico quando sugere o conceito de democracia racial, de que somos o resultado então de uma equilibrada mistura e de relações de afeto e docilidade.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Casa Grande & Senzala gerou debates muito polêmicos na Sociologia. Contudo, também houve críticas positivas, já que a obra seria inovadora ao refletir sobre a formação da sociedade brasileira, trazendo não só os aportes do branco, mas também as contribuições culturais do negro e do índio, a partir de elementos como a culinária e a sexualidade.

Florestan, que passou grande parte de sua caminhada lutando pelo combate sobre as desigualdades, afirma com clareza sobre a noção falha da democracia racial, que ela não passa de um mito, um mito que serve aos interesses dominantes em manterem sua posição social. Além disso, ela serve como uma máscara à realidade do racismo, preconceito e opressão e todo e qualquer tipo de desigualdade nesse âmbito. É somente quando os negros começam a adquirir recursos materiais e intelectuais que os movimentos de combate a um Estado - que servem aos interesses das classes dominantes - ganham forças.

Fonte: Wikimedia Commons

Diferente da perspectiva adotada por Gilberto Freyre a respeito do equilíbrio e da relação entre os três pilares – branco, negro e o índiono Brasil, Florestan Fernandes defende a noção de que o negro nunca teve as mesmas oportunidades e que por isso viveu um processo de marginalização. Assim, o ideal de democracia racial, defendido por Gilberto Freyre, cai por terra na medida em que para Florestan o negro sofreu e ainda sofre com a invisibilidade em vários âmbitos sociais.

A08  Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

Figura 03 - A obra O negro no mundo dos brancos, de Florestan Fernandes. A crítica à obra de Freyre está no sentido também de denunciar que houve um silenciamento das relações de dominação cruéis e violentas, na medida em que tenta camuflar essa realidade com a falsa noção do homem branco bondoso e amoroso no tratamento de seus escravos. O romântico e idílico mundo patriarcal ocultava, portanto, um mundo tenebroso e funesto, de violência e opressão, no qual, por interferência do homem branco, o negro estaria e ainda está sujeito a situações de desigualdade.

Após pesquisas no âmbito da questão racial, Florestan Fernandes afirmou que essas relações, em vez de democracia, culminaram em indícios de discriminação. O racismo, no Brasil, é um racismo velado, singular. A sociedade assume então que o país é racista, porém o racismo é sempre delegado a terceiros, porque ninguém se assume assim. As reflexões de Florestan, por meio de suas obras, foram um convite para toda a sociedade brasileira repensar esse racismo e a situação do negro, imposta por todos esses anos de opressão e desigualdades às quais foram expostos. A sugestão é que se inclua o negro e outras minorias étnicas na programação do desenvolvimento socioeconômico e nos projetos que visem aumentar a eficácia da integração nacional. Somado a isso, espera-se que o governo suscite alternativas, por meio de outras ações afirmativas, como as que foram implantadas recentemente, como vimos no módulo anterior. Por fim, cabe ressaltar que a crítica de Florestan não negava a possibilidade de construção de uma democracia racial por meio de transformações sociais. Mas enquanto isso, para ele, ela era somente um mito, ao passo que para Freyre ela constituía uma realidade política.

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Sociologia

#Curiosidades

A08  Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

Gilberto de Melo Freyre (1900-1987) nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 15 de março de 1900. Foi sociólogo, historiador, ensaísta brasileiro e autor de Casa Grande & Senzala - considerada uma das obras mais representativas sobre a formação da sociedade brasileira. Filho do professor Alfredo Freyre e de Francisca de Melo Freyre, o autor teve como professor particular o inglês Willians. Com o pai, aprendeu latim e português. Estudou no Colégio Americano Batista, no Recife, onde bacharelou-se em Letras, sendo o orador da turma. Aos 17 anos, foi para os Estados Unidos como bolsista, fixando-se no Texas, onde ingressou na Universidade de Baylor. Estudou artes liberais em nível de graduação e especializou-se em política e sociologia. Fez sua pós-graduação na Universidade de Colúmbia, Nova Iorque, obtendo o grau de mestre com o trabalho Vida Social no Brasil em Meados do século XIX, orientado pelo antropólogo Franz Boas, radicado nos Estados Unidos, de Figura 04 - Gilberto Freyre. quem recebeu grande influência intelectual. Viajou para a Europa e visitou vários países, completando sua formação acadêmica. No período em que ficou no exterior, escrevia artigos para o jornal Diário de Pernambuco, sobre livros e temas diversos. O hábito de escrever em jornais perdurou pela vida toda. De volta ao Recife, integrou-se à sociedade local, despertando grande interesse pelos problemas regionais. Organizou para o Diário de Pernambuco o Livro do Nordeste, com a colaboração de diversas personalidades, com textos de história, literatura, artes e tradições regionais. Em 1926, no governo de Estácio Coimbra, foi nomeado secretário particular e encarregado do jornal oficioso A Província. Foi professor de Sociologia da Escola Normal. Pela primeira vez, se ministrava, regularmente, essa disciplina numa escola no Brasil. Com a Revolução de 30, acompanhou o governador ao exílio, em Portugal, e depois viajou pela Europa e Estados Unidos, ministrando aulas, como visitante, em diversas universidades. De volta ao Recife, foi convidado pelo reitor da Universidade do Distrito Federal, o educador baiano Anísio Teixeira, para lecionar Sociologia. Tornou-se também técnico do serviço do Patrimônio Histórico Nacional. Entre 1933 e 1937, escreveu três livros voltados para o problema da formação da sociedade patriarcal no Brasil: Casa Grande & Senzala, Sobrados e Mucambos e Nordeste. Na última obra, desenvolveu teses geográficas, e foi considerado o pioneiro da ecologia. Na década de 40, Gilberto entrou em confronto com o Governador Agamenon Magalhães, chegando a ser preso pela polícia da ditadura. Nas eleições de 2 de dezembro de 1945, foi eleito à Assembleia Constituinte, participando da elaboração da Constituição de 1946. Nela atuou nos setores ligados à ordem social e à cultura, tendo depois reunido seus discursos no livro Quase Política. Gilberto Freire permaneceu na Câmara e apresentou seu projeto para criação do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, órgão que deveria se dedicar ao estudo e à realização de pesquisas sobre as condições de vida do trabalhador rural do Nordeste. Esse Instituto foi transformado depois na “Fundação Joaquim Nabuco”. Em 1949 voltou ao Recife e, em sua casa no bairro de Apipucos, hoje Fundação Gilberto Freire, continuou a pesquisar, escrever e participar de seminários. Realizou frequentes viagens a convite de diversas instituições. Sua viagem à Índia e à África Portuguesa resultou no livro Aventura e Rotina. Gilberto Freyre ganhou diversos prêmios e condecorações no Brasil e exterior. O Prêmio Anisfield-Wolf, USA, (1957), Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (conjunto de obras, em 1962), Prêmio Internacional La Madonnina, Itália (1969), “Sir - Cavaleiro Comandante do Império Britânico”, distinção conferida pela Rainha da Inglaterra (1971), Grã-cruz de D. Alfonso, El Sábio, Espanha, (1983). Gilberto Freyre faleceu no Recife, Pernambuco, no dia 18 de julho de 1987. 1

Biografia retirada e adaptada do site https://www.ebiografia.com/gilberto_freyre/.

BIOGRAFIA DE FLORESTAN FERNANDES2 Florestan Fernandes (1920-1995) nasceu em São Paulo, no dia 22 de julho de 1920. Foi político, sociólogo e ensaísta brasileiro, considerado fundador da Sociologia Crítica, no Brasil. Consagrou-se também como deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. De origem humilde, teve dificuldades em seus estudos iniciais. Filho de mãe solteira, foi criado por sua madrinha Hermíria Bresser de Lima. Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, concluindo o curso de Ciências Sociais. Em 1945, trabalhou como assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia II. Na Escola Livre de Sociologia e Política, com a dissertação “A Organização Social dos Tupinambá” (1949), obtendo o título de mestre. Figura 05 - Florestan Fernandes.

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Fonte: Wikimedia Commons

http://www.vermelho.org.br/noticia/289286-1

Fonte: Wikimedia Commons

BIOGRAFIA DE GILBERTO FREYRE1


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Em 1951, defendeu, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento A Função Social da Guerra na Sociedade Tupinambá, posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira. Em 1964, foi afastado das atividades acadêmicas quando foi perseguido pela ditadura militar brasileira. Nesse mesmo ano, escreveu A Integração do Negro nas Sociedades de Classe. Com relação ao processo de dependência da América Latina com os Estados Unidos, escreveu o livro Capitalismo Dependente e Classes Sociais na América Latina (1973). Outro livro importante foi A Revolução Burguesa no Brasil (1975), que aborda questões sobre a resistência que a classe dominante brasileira tinha às mudanças sociais. Florestan Fernandes é considerado o fundador da sociologia crítica no Brasil. Destacou-se pela militância no PT, pelo qual foi eleito deputado Federal em 1986. Ele faleceu em São Paulo, no dia 10 de agosto de 1995, vítima de problemas do fígado depois de um transplante malsucedido. 2 Biografia retirada e adaptada do site https://www.ebiografia.com/florestan_fernandes/

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERNANDES, F. O Negro no Mundo dos Brancos. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972. FERNANDES, F. A Integração do Negro na Sociedade de Classes. vol. 1 e 2. São Paulo: Ática, 1978. FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 2005. FREYRE, Gilberto. Sobrados & mucambos: decadência do patriarcado e desenvolvimento do urbano. Global: São Paulo, 2006. KERN, Gustavo da Silva. GILBERTO FREYRE E FLORESTAN FERNANDES: O DEBATE EM TORNO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL. Revista Historiador Número 06. Ano 06. Janeiro de 2014. MARCUSSI, Alexandre Almeida. Mestiçagem e perversão sexual em Gilberto Freyre e Arthur de Gobineau. Estud. hist. (Rio J.) [online]. 2013, vol.26, n.52, pp.275-293.

Exercícios de Fixação 01. (Enem MEC)

A fotografia, datada de 1860, é um indício da cultura escravista no Brasil, ao expressar a a) ambiguidade do trabalho doméstico exercido pela ama de leite, desenvolvendo uma relação de proximidade e subordinação em relação aos senhores. b) integração dos escravos aos valores das classes médias, cultivando a família como pilar da sociedade imperial. c) melhoria das condições de vida dos escravos observada pela roupa luxuosa, associando o trabalho doméstico a

para afirmar o trabalho da mulher na educação letrada dos infantes. e) distinção étnica entre senhores e escravos, demarcando a convivência entre estratos sociais como meio para superar a mestiçagem. 02. (Uem pas) A nação, a nacionalidade e a identidade nacional são construções sócio-históricas, portanto são resultado da ação de vários agentes sociais. O intelectual é um dos agentes sociais envolvidos na construção das ideias de nação, de nacionalidade e de identidade nacional. Para o caso brasileiro, no que diz respeito à criação da Fotografia de Augusto Gomes Leal e da ama de leite Mônica, cartão de visita de 1860.

identidade nacional, um intelectual central foi Gilberto

KOUTSOUKOS, S.S.M. Amas mercenárias: o discurso de doutores em medicina e os retratos de amas – Brasil, segunda metade do século XIX. História, Ciência, Saúde-Manguinhos, 2009. Disponível em: http:// dx.doi.org. Acesso em: 8 maio 2013.

divulgou e ajudou a sedimentar a ideia do Brasil como

Freyre (1900-1987). Em suas obras, Freyre sistematizou, país mestiço, atrelando a identidade nacional brasileira à miscigenação, à mestiçagem.

Gabarito questão 01 Muitos são os estudos que demonstram que nossas relações de raça na sociedade atual foram forjadas no período escravista. O destaque da questão está na ama de leite, mulher negra, mas que ocupava um papel importante no espaço privado, ao ter forte contato com as crianças de seus senhores. Atualmente, muito dessa relação ambígua existe com empregadas domésticas ou babás de crianças das classes mais altas de nossa sociedade.

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A08  Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

privilégios para os cativos. d) esfera da vida privada, centralizando a figura feminina


Sociologia Somente a alternativa [E] está correta. Florestan Fernandes fez uma análise sociológica bastante rica a respeito da questão racial em seu livro A Integração do Negro na Sociedade de Classes. De forma geral, podemos dizer que ele questiona o mito da democracia racial ao apresentar diversos fatores que demonstram como, mesmo após a abolição da escravatura, o negro se manteve em uma situação de segregação, que também é muito bem expressa na tabela utilizada na questão 02.

Sobre a identidade nacional brasileira assentada na miscigena-

comuns do seu cotidiano, nas suas expressões e valorações

ção e na mestiçagem, é correto afirmar: 01 + 02 + 04 + 08 = 15

presentes na linguagem. No Brasil, vários pensadores sociais

01. A identidade nacional brasileira assentada nos ideais da

tentaram interpretar a sociedade brasileira. Sobre os Intérpre-

mestiçagem e da miscigenação busca conciliar discursiva-

tes do Brasil, entre eles Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de

mente uma sociedade altamente estratificada onde o ra-

Holanda, Roberto Da Matta, Gilberto Freire e Raymundo Faoro,

cismo é um operador social importante.

é INCORRETO afirmar.

02. A construção da identidade nacional brasileira favoreceu a ex-

a) Para Euclides da Cunha, é possível entender o Brasil a partir

propriação do patrimônio cultural da população negra, uma

das categorias de litoral e de sertão. As organizações sociais

vez que elementos da cultura negra foram transformados em

do tipo que se encontrava no litoral limitavam-se a copiar as

cultura nacional, situação que colaborou para fortalecer a ideia

formas europeias, destinando o País à submissão permanente.

da ausência de uma cultura da população negra no Brasil.

Por outro lado, Euclides afirma que uma nação efetivamente

04. A identidade nacional alicerçada nos ideais da miscigena-

brasileira e capaz de realizar um projeto nacional autônomo

ção e da mestiçagem é algo que foi e ainda é utilizado para

teria que originar-se na população sertaneja. Em seu trabalho,

encobrir o racismo existente no Brasil.

o autor destaca o sertanejo como o personagem histórico ca-

08. A construção da identidade nacional em torno do ideal da

b) Para Sérgio Buarque de Holanda, o Brasil pode ser compre-

mento do mito da democracia racial e da ausência de racis-

endido a partir do estudo das suas raízes socioculturais. Ele

mo no Brasil.

constrói um panorama histórico de nossa estrutura política,

16. A identidade nacional calcada nos ideais da miscigenação

econômica e social influenciada pelo modelo português.

e da mestiçagem favoreceu o surgimento de conflito racial

O Brasil de Sérgio Buarque de Holanda é um território de

explícito no Brasil.

desterro do europeu que aqui se constitui enquanto homem

A afirmativa [16] é a única incorreta. As ideias de miscigenação acabaram por ocultar os conflitos raciais que já existiam no Brasil e que perduram até hoje.

03. (Uem) “(...) o que fica no centro das preocupações, das apreensões e, mesmo, das obsessões é o ‘preconceito de não ter precon-

ceitos’. Através de processos de mudanças psicossocial e sociocultural reais sob certos aspectos profundos e irreversíveis, subsiste uma larga herança cultural, como se o brasileiro se condenasse, na esfera das relações raciais, a repetir o passado no presente.” FERNANDES, F. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Global, 2007, p. 42.

A08  Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

Com base na citação acima e em estudos realizados acerca das relações raciais no Brasil, assinale o que for correto. 01 + 08 + 16 = 25 01. A sociedade brasileira tende a condenar publicamente o racismo, todavia ele é considerado relativamente aceito em diversos espaços, momentos e relações sociais de caráter privado ou coletivo. 02. No Brasil, a democracia racial é uma realidade. O racismo, portanto, não existe. 04. A herança cultural da escravidão foi irrelevante para a sociedade brasileira após a abolição. 08. O mito da democracia racial foi e é uma construção que colabora para a dissimulação do racismo no Brasil. 16. Dentre as marcas culturais da escravidão no Brasil está a tendência a associar pessoas negras a profissões de menor status social. 04. (Unioeste) As sociedades humanas podem ser compreendidas com base no exame de suas representações coletivas, suas categorias de classificação que podem ser percebidas nas maneiras de se comportar dos seus membros, nos hábitos mais 66

paz de impulsionar a formação da nação autônoma.

miscigenação e da mestiçagem favoreceu o desenvolvi-

cordial e organiza-se pelo personalismo, patriarcalismo e autoritarismo, porém que precisa se tornar uma democracia. c) Para Roberto Da Matta, os vários paradoxos e tensões que constituem nossa maneira de ser são um caminho possível para entender o Brasil. Tais paradoxos e tensões podem ser vistos no fato do brasileiro acreditar ser importante respeitar a lei, por outro lado, esse mesmo brasileiro acha lícito recorrer ao famoso “jeitinho”. d) Para Gilberto Freire, o Brasil pode ser compreendido a partir de uma interpretação histórica da realidade econômica e, em especial, do seu subdesenvolvimento, entendidos como fruto de relações internacionais. e) Para Raymundo Faoro, o Brasil pode ser compreendido a partir da formação do patronato político e do patrimonialismo do Estado brasileiro, levando-se em consideração as características da colonização portuguesa. 05. (Unimontes) No Brasil, o problema das desigualdades sociais ocupa a agenda de pesquisa e reflexão dos principais cientistas sociais do país. Jessé Souza, um dos mais destacados sociólogos da atualidade, enxerga, na fragmentação do conhecimento e na fragmentação da percepção da realidade, os principais obstáculos para o enfrentamento do problema. Considerando esse ponto de vista do sociólogo, pode-se afirmar: a) Desigualdade social é um problema exclusivamente de conjuntura econômica, podendo ser superado com o crescimento econômico.

Gabarito questão 04 A sociedade brasileira até hoje sofre a influência de seu período escravocrata. Assim sendo, o racismo persiste e os negros não têm acesso pleno a bens materiais e simbólicos que o colocariam no mesmo status que os brancos. Nesse contexto, afirmar que a democracia racial é uma realidade significa não querer ver esse tipo de desigualdade em nosso país.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Gabarito questão 05 A questão aparenta ser de uma dificuldade alta. No entanto, ela é mais simples do que parece devido à alternativa [D], que é claramente incorreta. Gilberto Freyre pensou o Brasil não a partir da realidade econômica, mas sociocultural. Não por acaso, sua principal ideia de democracia racial se dá justamente nesse nível. Vale ressaltar que quem analisou o Brasil a partir de uma lógica econômica de subdesenvolvimento foi Celso Furtado.

b) O aumento da renda e o acesso ao emprego resolvem o problema das desigualdades sociais no Brasil.

c) No Brasil, com o surgimento de “uma nova classe média” (como se difunde em jornais e televisão), o problema das desigualdades sociais desaparece por causa, principalmente, do acesso generalizado aos bens de consumo. d) A reprodução de classes marginalizadas envolve a produção e a reprodução das condições morais, culturais e políticas da marginalidade, que vão para além do problema da renda per capita. 06. (Uem pas) De acordo com a professora Petronilha Beatriz Gon-

(SILVA, P. B. G. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: CNE/MEC, 10/03/2003, p. 13).

Segundo a argumentação apresentada acima é correto afirmar: 01. O conceito de “raça” utilizado pela autora se baseia na definição biológica de raça elaborada no século XVIII. 02. Segundo o enunciado da questão, o conceito de “raça” não é baseado em uma definição biológica dos seres humanos, e sim em uma construção social criada nas relações tensas entre indivíduos e grupos classificados como brancos e negros na sociedade brasileira.

çalves e Silva, “é importante destacar que se entende por raça

04. Para a autora do texto acima, a aparência dos indivíduos pode

a construção social forjada nas tensas relações entre brancos e

influenciar ou mesmo determinar suas oportunidades de vi-

negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas, nada ten-

ver, trabalhar, estudar e participar da sociedade brasileira.

do a ver com o conceito biológico de raça cunhado no século

08. Com base na leitura do texto acima, podemos afirmar que

XVIII e hoje sobejamente superado. Cabe esclarecer que o ter-

os indivíduos classificados como negros não sofrem pre-

mo raça é utilizado com frequência nas relações sociais brasi-

conceito e discriminação na sociedade brasileira atual.

leiras para informar como determinadas características físicas,

16. Para a autora do texto, as formas de preconceito e discri-

como cor de pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam,

minação existentes entre brancos e negros no Brasil muitas

interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social

vezes são dissimuladas. 02 + 04 + 16 = 22 As afirmativas [01] e [08] contradizem claramente o argumento do texto. A noção de raça é um critério ideológico de diferenciação social, que produziu exclusões sociais graves ao longo da história brasileira.

dos sujeitos no interior da sociedade brasileira”.

Exercícios Complementares

RIBEIRO, Darci. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p.220-221.

Considerando o texto acima, pode-se afirmar que I. a escravidão foi a base de desenvolvimento econômico do Brasil, ao longo da colônia e do Império. II. a escravidão teve papel importante na formação étnica do país. III. o escravo contribuiu para moldar o trabalho e a sociedade no Brasil através de técnicas próprias, pelo seu modo de ser e cultura, pela culinária, pela dimensão religiosa, linguística e artística. IV. do ponto de vista da diversidade étnico-cultural brasileira, o negro não sofre preconceito social. Gabarito questão 06 A desigualdade social não é um fenômeno puramente econômico, devendo ser compreendida também a partir de outros fatores, como aspectos morais, culturais e políticos. Assim, somente a alternativa [D] está correta.

Selecione a alternativa correta. as afirmativas estão corretas, com exceção a) II, III e IV estão corretas.Todas da IV. E herança escravista do Brasil pode ser percebida até hoje nas desigualdades sociais entre branb) I e IV estão corretas. cos e negros e no preconceito racial que é bastante c) I, II e III estão corretas. presente. Não obstante essas características é ined) III e IV estão corretas. gável que o escravo tenha sido importante culturalmente para a constituição da nação, como se observa na língua, na religião e na culinária brasileira.

02. (Ufu MG) Interprete as assertivas abaixo, sobre o mito da democracia racial no Brasil. I. O mito da democracia racial no Brasil é um fenômeno relativamente recente, mais notado a partir dos anos 30 do século XX, quando se acentuou a incorporação de valores e símbolos culturais afrodescendentes à representação dominante da identidade nacional brasileira. II. O mito da democracia racial tem sido uma forma de etnocentrismo das mais notáveis no Brasil, a despeito de ser, ao mesmo tempo, das mais dissimuladas, procedendo a máxima do sociólogo Florestan Fernandes de que o brasileiro tem preconceito de ter preconceito. III. O mito da democracia racial foi forjado nos anos 30 do século XX, unicamente por intelectuais envolvidos na produção simbólica da indústria cultural, principalmente da televisão. Esses intelectuais visavam atingir um público consumidor de afrodescendentes, até então totalmente excluído do consumo de produtos simbólicos.

A08  Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

01. (Ufu MG) “Calculo que o Brasil, no seu fazimento, gastou cerca de 12 milhões de negros, desgastados como a principal força de trabalho de tudo o que se produziu aqui e de tudo que aqui se edificou. Ao fim do período colonial, constituía uma das maiores massas negras do mundo moderno. Sua abolição, a mais tardia da história, foi a causa principal da queda do Império e da proclamação da República. Mas as classes dominantes reestruturaram eficazmente seu sistema de recrutamento da força de trabalho, substituindo a mão de obra escrava por imigrantes importados da Europa, cuja população se tornara excedente e exportável a baixo preço.”

67


Sociologia Gabarito questão 02 O mito da democracia racial foi criado na década de 1930 a partir, principalmente, dos escritos de Gilberto Freyre. Nesse período, começaram as interpretações sociológicas acerca da importância do negro para a constituição da cultura brasileira. Mais tarde, Florestan Fernandes defendeu a tese de que a democracia racial é uma farsa e que serve para ocultar o racismo que existe veladamente no Brasil.

IV.

O mito da democracia racial sempre existiu no Brasil, conforme se pode observar nas literaturas de José de Alencar, Machado de Assis, Euclides da Cunha, Lima Barreto, bem como na produção sociológica do século XIX, cujo compromisso era demonstrar o valor das culturas africanas para a civilização brasileira. Marque a alternativa que apresenta os enunciados teoricamente plausíveis. a) Os enunciados I, III e IV, são teoricamente plausíveis. b) Os enunciados I e II são teoricamente plausíveis. c) Os enunciados II, III e IV são teoricamente plausíveis. d) Apenas o enunciado I é teoricamente plausível.

03. (Uel PR) “A falta de coesão em nossa vida social não representa, assim, um fenômeno moderno. E é por isso que erram profundamente aqueles que imaginam na volta à tradição, a certa tradição, a única defesa possível contra nossa desordem. Os mandamentos e as ordenações que elaboraram esses eruditos são, em verdade, criações engenhosas de espírito, destacadas do mundo e contrárias a ele. Nossa anarquia, nossa incapacidade de organização sólida não representam, a seu ver, mais do que uma ausência da única ordem que lhes parece necessária e eficaz. Se a considerarmos bem, a hierarquia que exaltam é que precisa de tal anarquia para se justificar e ganhar prestígio”.

A08  Pensamento social brasileiro: Gilberto Freyre e Florestan Fernandes

(HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 33.)

Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda são intelectuais da chamada “Geração de 30”, primeiro momento da sociologia no Brasil como atividade autônoma, voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade. Sobre as preocupações características dessa geração, considere as afirmativas a seguir. I. Critica o processo de modernização e defende a preservação das raízes rurais como o caminho mais desejável para a ordem e o progresso da sociedade brasileira. II. Promove a desmistificação da retórica liberal vigente e a denúncia da visão hierárquica e autoritária das elites brasileiras. III. Exalta a produção intelectual erudita e escolástica dos bacharéis como instrumento de transformação social. IV. Faz a defesa do cientificismo como instrumento de compreensão e explicação da sociedade brasileira. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e III. b) I e IV. c) II e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV. 04. (Uel PR) “No passado, quando se falava em redistribuição de renda, sempre se argumentava que os pobres, com o crescimento de sua renda, tenderiam a consumir mais e, portanto, a taxa de poupança cairia. Hoje, o paradoxo é que os ricos brasileiros é que têm uma altíssima propensão a consumir. A renda não se

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concentra para aumentar a taxa de poupança, e sim para aumentar o consumo dos mais ricos. É escandalosa a distância, no Brasil, entre o consumidor popular e o consumidor médio e rico. Sem lugar a dúvida, essa defasagem é das maiores do mundo. Na Índia, os 20% mais ricos têm em média uma renda quatro vezes maior que a dos 20% mais pobres; no Brasil essa relação é de um para trinta e três vezes. Por outro lado, o abuso do consumo contamina as classes mais pobres, que gastam em produtos nem sempre necessários.”

Fonte: FURTADO, C. Em Busca de Novo Modelo – reflexões sobre a crise contemporânea. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 2ª edição, p. 20.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre desigualdade social no Brasil, é correto afirmar que: a) Na última década, o índice de desigualdade vem crescendo constantemente no Brasil. b) Na última década observa-se, no Brasil, um aumento constante da taxa de crescimento econômico impulsionado pelo aumento do índice de desigualdade. c) Apesar de permanecer entre os mais altos do mundo, nos últimos 15 anos observa-se, no Brasil, uma queda do índice de desigualdade. d) Nas duas últimas décadas o índice de desigualdade no Brasil permanece rigorosamente igual. e) Existe uma correlação estreita entre taxa de crescimento econômico e distribuição de riqueza. 05. (Uel PR) Em relação ao processo de formação social no Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes escreveu: “Lembremo-nos de que da vinda da Família Real, em 1808, da abertura dos portos e da Independência, à Abolição em 1888, à Proclamação da República e à “revolução liberal”, em 1930, decorrem 122 anos, um processo de longa duração, que atesta claramente como as coisas se passaram. Esse quadro sugere, desde logo, a resposta à pergunta: a quem beneficia a mudança social?” Fonte: FERNANDES, F. As Mudanças Sociais no Brasil. In IANNI, Octavio (org) Florestan Fernandes: coleção grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática, 1986, p. 155-156.

De acordo com o texto e os conhecimentos sobre o tema, em relação à indagação feita pelo autor, é correto afirmar que a mudança social beneficiou: a) Fundamentalmente os trabalhadores, uma vez que as liberdades políticas e as novas formas de trabalho aumentaram a renda. b) Os grupos sociais que dispunham de capacidade econômica e poder político para absorver os efeitos construtivos das alterações ocorridas na estrutura social. c) A elite monárquica, pois ao monopolizar o poder político impediu que outros grupos sociais pudessem surgir e ter acesso aos efeitos construtivos das alterações na estrutura social. d) Os grupos sociais marginalizados ou excluídos, pois, em decorrência deste processo, passaram a fazer parte do processo produtivo. e) A população negra, uma vez que a alteração na estrutura da sociedade criou novas oportunidades de inserção social.

Gabarito questão 03 Todos os três autores (Caio Prado Junior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda) fazem análises do Brasil tendo em conta o seu processo de modernização. É possível identificar em todos uma crítica à retórica liberal e a defesa de instrumentos mais científicos para interpretar a sociedade brasileira. Não é por acaso que eles são considerados justamente os autores de transição de uma sociologia ensaísta para a sociologia científica no Brasil.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

Gabarito questão 01. a) O racismo constitui-se no preconceito que existe mediante o conceito de raça. Assim, existe uma classificação entre raças superiores e inferiores. O etnocentrismo, em contrapartida, tem como base o conceito de cultura. Assim, a diferença é entre culturas superiores e culturas inferiores. b) Ambas as atitudes são preconceituosas. No caso do racismo, a própria noção de raça é imprópria para “classificar” a diversidade entre os homens. Os estudos de genética e de biologia demonstram que qualquer classificação humana a partir da ideia de raça é imprópria cientificamente. Já o etnocentrismo é também inaceitável porque parte de outro pressuposto errôneo: o de que existem culturas superiores e inferiores. Vale ressaltar que ambas as atitudes (racista e etnocêntrica) geram intolerância e violência.

Exercícios de Aprofundamento 01. (Ufu MG) O respeito à diversidade cultural tornou-se consenso entre os cientistas sociais a partir dos estudos realizados em diferentes sociedades. Posteriormente tal atitude foi incorporada como um princípio por órgãos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas). Porém, os mesmos pesquisadores concluíram também que o respeito à diferença cultural não é a forma comum de os indivíduos atuarem no cotidiano. O etnocentrismo e o racismo são atitudes recorrentes em muitas sociedades.

03. (Uel PR) A categoria que comanda as relações entre o homem e a natureza é, para a modernidade ocidental, a da produção, concebida como ato de subordinação da matéria ao desígnio humano. A reprodução das sociedades indígenas é, ao contrário, concebida e vivida sob o signo de uma troca de propriedades simbólicas entre os humanos e os demais habitantes do cosmos (troca que pode ser violenta e mortal, sem deixar de ser social), não de uma produção de bens sociais a partir de uma matéria informe.

a) Qual a diferença conceitual entre racismo e etnocentrismo? b) Por que os cientistas sociais e órgãos internacionais entendem que tais práticas são inaceitáveis?

(Adaptado de: CASTRO, Eduardo V. Sociedades indígenas e natureza na Amazônia. In: SILVA, A. L; GRUPIONI, L. D. B. (Orgs.) A temática Indígena na Escola. Brasília: MEC, 1995. p. 117-118.)

02. (Ufu MG) Leia o texto e o comentário apresentados a seguir. Apesar da existência de tendências gerais constatáveis nas histórias das sociedades, não é possível estabelecer sequências fixas capazes de detalhar as fases por que passou cada realidade cultural. Cada cultura é o resultado de uma história particular, e isso inclui também suas relações com outras culturas, as quais podem ter características bem diferentes. SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1983, p.12.

Santos argumenta, ainda, que não se pode relacionar e comparar sociedades e culturas segundo critérios vigentes apenas em uma delas, quando investigamos suas realizações culturais. Com base nesses argumentos, assinale a alternativa correta quanto às seguintes afirmações: I. O conceito de evolução nas ciências sociais é relativo a experiências históricas diversas e não deve servir à hierarquização das sociedades por fases sucessivas de desenvolvimento a partir de critérios e sequências etnocêntricas. II. O desenvolvimento das forças produtivas é o critério de evolução mais aceito em todas as teorias das ciências sociais e, por isso, tem validade científica irrefutável como bem o demonstra Max Weber. III. As fases de desenvolvimento cultural de cada sociedade particular podem ser percebidas, comparadas e avaliadas quando vemos os processos de imitação e reprodução cultural, que levam as culturas subdesenvolvidas ao desenvolvimento. IV. Sem afrontar os argumentos do texto podemos aceitar pelo menos que o sedentarismo e o nomadismo são experiências sequenciais do desenvolvimento de todas as sociedades e culturas do planeta, tal como provam os historiadores. a) Apenas I é correta. Gabarito questão 03 O texto do pesquisador Eduardo Viveiros de Castro b) II, III e IV são corretas. afirma: “A reprodução das sociedades indígenas é, ao c) I, II e III são corretas. contrário, concebida e vivida sob o signo de uma troca de propriedades simbólicas entre os humanos e os d) Apenas III é correta. demais habitantes do cosmos”. A única alternativa que

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar: a) A produção de bens sociais a partir de uma matéria uniforme é o que caracteriza as sociedades indígenas. b) Os povos indígenas objetivam a natureza por meio de relações estritamente violentas e mortais. c) A reprodução das sociedades indígenas funda-se na irrestrita subordinação da matéria aos desígnios humanos. d) As relações entre os indígenas e a natureza estão fundadas em uma história de adaptação passiva ao cosmos. e) A troca de propriedades simbólicas caracteriza as sociedades indígenas em sua relação com a natureza. 04. (Ueg GO) Para alguns sociólogos e filósofos, a cultura possuiria um valor intrínseco e poderia nos ajudar não apenas na fruição de nossa sensibilidade, mas nos levar a uma nova compreensão da realidade e de nosso ser e estar no mundo. Com a indústria cultural verifica-se que a cultura a) recupera seu valor simbólico, contribuindo para uma nova compreensão da realidade e para a emancipação humana. b) perde sua força simbólica e crítica, transformando-se em mero entretenimento que elimina a reflexão crítica. c) perde seu valor de mercado para tornar-se, graças à tecnologia, um entretenimento acessível a toda a população. d) deixa de ser um produto de elite e passa a ser acessível a todos os cidadãos, contribuindo com sua autonomia. e) torna-se mais sofisticada, na medida em que os meios de criação cultural passam a ser submetidos ao desenvolvimento tecSegundo os pensadores da Teoria Crítica, a indústria cultural nológico. massifica os produtos da cultura e os torna mera mercadoria, sem qualquer função crítica ou transformadora da sociedade.

05. (Uem PR) No trecho abaixo o sociólogo norte-americano Charles Wright-Mills propõe uma definição para o fenômeno social denominado massa: “No extremo oposto, em uma massa, as pessoas expressam muito menos opiniões do que as recebem; pois a comunidade de públicos torna-se uma coletividade abstrata de

está de acordo com essa concepção é a alternativa [E].

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Sociologia Gabarito questão 05 As afirmativas [01] e [16] são as únicas incorretas. A mídia e os meios de comunicação influenciam, de forma marcante, a opinião das massas. Casos como os escândalos de corrupção tendem a criar na população um certo mal-estar em relação a determinadas figuras públicas. Assim, a Sociologia se interessa pelos fenômenos de massa justamente para criar aberturas de compreensão, ou seja, por permitir ao estudante uma reflexão crítica que vá além da indústria cultural e do consumo em massa.

indivíduos que recebem ideias dos meios de comunicação em massa. As comunicações prevalecentes organizam-se de uma tal forma que é difícil, ou até impossível, ao indivíduo, replicar imediatamente, ou com qualquer efeito. A concretização da opinião em ação é controlada pelas autoridades que organizam canais para esse tipo de ação. A massa não tem autonomia frente às instituições; ao contrário, agentes de instituições autorizadas se infiltram nessa massa, reduzindo qualquer autonomia que ela possa ter na formação de opinião através da discussão.”

(WRIGHT-MILLS, C. Sociedade de massa. In FERNANDES, H. R. Wright-Mills. Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo: Ática, 1985, p.136).

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Considere o texto acima e as teorias sociológicas sobre indústria cultural e consumo em massa e assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 02 + 04 + 08 = 14 01. O controle dos meios de comunicação de massa no Brasil, particularmente das emissoras de rádio e de TV, é obtido por meio de concessões públicas. Contudo, esse processo diz respeito apenas a um mecanismo burocrático, não havendo necessidade de reflexão sociológica sobre as relações entre mídia, sociedade e poder público. 02. Os fenômenos típicos das chamadas sociedades de massa têm nos meios de comunicação um de seus principais protagonistas. 04. Nas sociedades contemporâneas, a opinião generalizada de que um determinado político é honesto ou corrupto ou, ainda, um bom ou mal governante, é fortemente influenciada pelos meios de comunicação de massa. 08. Os intensos conflitos entre opinião pública e meios de comunicação de massa são objeto de discussão de várias correntes da sociologia. 16. As opiniões independentes em relação aos pontos de vista dominantes têm, sobre as massas, a mesma influência que aquelas veiculadas pelos grandes meios de comunicação. 06. (Enem MEC) Falava-se, antes, de autonomia da produção significar que uma empresa, ao assegurar uma produção, buscava também manipular a opinião pela via da publicidade. Nesse caso, o fato gerador do consumo seria a produção. Mas, atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzirem os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produção do consumidor, hoje, precede a produção dos bens e dos serviços. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000 (adaptado).

07. (Ufu MG) Leia as afirmativas a seguir. I.

europeia para branquear o país. Entretanto, os discursos oficiais dos intelectuais pretendiam sustentar que aqui não havia racismo ou qualquer tipo de discriminação. II.

a) aumento do poder aquisitivo.

como grupos religiosos, o Estado e os movimentos sociais que debatem essa questão. III.

d) formação de grandes estoques. e) implantação de linhas de montagem. 70

Há muitas empresas que vendem antivírus, telefonia por celular, TV a cabo, entre outros. Todos esses produtos possuem um mercado consumidor garantido: são pessoas que, buscando uma vida mais confortável, consomem produtos que satisfazem necessidades que antes não existiam.

A partir dos anos 1970, a América do Norte vivenciou um forte movimento de direitos civis contra a discriminação racial nas escolas, nos transportes públicos, bares, restaurantes, etc., enquanto no Brasil, lutava-se contra uma discriminação “velada”: salários mais baixos, empregos piores, etc.

Em relação ao preconceito e ao mito da democracia racial no Brasil, marque a alternativa correta.

O que se observa na questão é a problemática do racismo e que, qualquer que seja a tônica das reivindicações, percebemos Apenas I e II são corretas. não só a crítica ao Estado burocrático, aue segregacionista, mas também a Apenas I e III são corretas. toritário denúncia contra a incompatibilidade das Apenas II e III são corretas.formas de organização de poder em uma sociedade mais complexa e em intenso processo de transformações sociais.

a) Todas são corretas. b) c) d)

08. (Uenp PR) “No Censo de 1980, por exemplo, os não brancos brasileiros, a serem inquiridos pelos pesquisadores do IBGE so-

bre sua cor, responderam que ela era acastanhada, agalegada, alva, alva escura, alvarenta, alva rosada [....] amorenada, avermelhada, azul, azul marinho, baiano, bem branca, bem clara, bem morena [....], branca morena [....].” MOURA, Clóvis. A herança do cativeiro, In Retrato do Brasil – da Monarquia ao Estado Militar, v.1, p. 112.Panorama Geográfico do Brasil. ADAS, Melhen. Ed. Moderna, 3.ª edição, p. 463.

“O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Vou na estrada. Há muitos anos sou um artista brasileiro.” HOLANDA F. B. In: CD Para Todos. BMG Ariola Discos Ltda., 1993.

A partir dos fragmentos assinale a alternativa correta: I.

A autodefinição étnica evidenciada pelo texto, do povo brasileiro constitui ao mesmo tempo, afirmação e negação da miscigenação.

II.

A discriminação racial do Brasil, atualmente está circunscrita a duas cidadanias: a do branco e a do negro.

III.

Ao prescrever o racismo como crime inafiançável e imprescritível, a Constituição de 1988 reconheceu essa prática na sociedade brasileira.

IV.

As estruturas jurídicas, que outrora deram legitimidade à discriminação racial no Brasil, atualmente legislam pelos

b) estímulo à livre concorrência. c) criação de novas necessidades.

A noção de ação afirmativa é reinterpretada de acordo com o contexto e utilizada por diferentes agentes sociais,

O tipo de relação entre produção e consumo discutido no texto pressupõe o(a)

No início do século XX, ocorreu, no Brasil, a imigração

direitos e garantias dos negros e mestiços. V.

Uma das razões da mobilidade populacional está na diferença de desenvolvimento econômico existente entre as várias regiões do país.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

a) V – F – V – F – V. b) V – V – F – F – F. c) F – F – V – V – V. d) V – V – V – V – V. e) F – F – F – F – F. 09. (Unioeste PR) “Por motivos históricos vinculados aos ciclos econômicos do sistema escravista e às migrações internacionais das décadas posteriores à abolição da escravidão, os grupos de cor da população apresentam até hoje uma distribuição geográfica muito desigual. Três quartos da população branca estão concentrados nas regiões Sudeste e Sul, as mais desenvolvidas do país, ao passo que quase 3/5 do grupo não branco reside nas regiões Nordeste, Norte e Centro-oeste, menos desenvolvidas. Esta desvantagem locacional dos não brancos, mais acentuada no grupo pardo, significa menores oportunidades educacionais e econômicas. Diferenças na distribuição geográfica e discriminação racial constituem os dois fatores explicativos para as desigualdades raciais no Brasil. Em termos de realização educacional a taxa de analfabetismo dos não brancos (36,3%) ainda é duas vezes superior à dos brancos (18%). A proporção de brancos que completaram os oito anos de estudo do ciclo obrigatório do primeiro grau, 29, 5%, e mais de duas vezes maior que os 13, 6% de pretos e pardos. Por último, os brancos têm uma probabilidade 4,4 vezes maior que os não brancos de completar o ensino superior.” (HASENBALG, Carlos; SILVA, Nelson do Valle; LIMA, Marcia (orgs). Cor e Estratificação Social. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 1999).

Baseado no texto e em seus conhecimentos, assinale a alternativa incorreta. a) Na média o rendimento mensal dos não brancos tende a corresponder ao dos brancos. b) As desigualdades raciais nas oportunidades educacionais e de emprego têm fortes efeitos na distribuição de renda. c) Pretos e pardos tendem a participar desproporcionalmente nos piores empregos do setor informal. d) Estar concentrado nas regiões mais desenvolvidas do país aumenta as chances dos indivíduos do segmento branco de obter ocupação/emprego bem remunerado. e) As barreiras discriminatórias de acesso tendem a ocorrer nos níveis mais elevados da estrutura ocupacional. 10. (Unioeste PR) Em Casa Grande & Senzala, primeira obra da trilogia em que Gilberto Freyre analisa a formação da família patriarcal brasileira, não é possível observar a) o elogio da colonização portuguesa no Brasil. b) a defesa da ideia de que a interação entre os grupos étnicos teria ocorrido em relativa harmonia, a despeito das relações de poder. c) a presença da influência culturalista de uma perspectiva que valoriza traços e práticas culturais dos diferentes grupos que constituem o povo brasileiro. Gabarito questão 10 Somente a alternativa [D] é incorreta. A mestiçagem não constitui, para Gilberto Freyre, um problema social. Pelo contrário, ela está relacionada inclusive com o fato de o Bra-

ocasionada por “motivos históricos vinculados aos ciclos econômicos do sistema escravista e às migrações internacionais das décadas posteriores à abolição da escravidão”.

d) a noção de que a origem do “atraso” da sociedade brasileira seria a mestiçagem. e) a ideia de que os altos “índices” de miscigenação observados na sociedade brasileira estariam associados à capacidade de adaptação do empreendedor português, quando comparado a outros povos colonizadores. 11. (Unioeste 2009) Desde o surgimento das Ciências Sociais (antropologia, política e sociologia) no Brasil, autores como: Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala), Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil), Florestan Fernandes (A organização social dos Tupinambá), Darcy Ribeiro (O povo brasileiro), e vários outros, pensaram e estudaram o Brasil e o ser brasileiro. Os principais temas abordados até os anos 1960 nestes estudos foram: I. II. III. IV. V.

Mundo rural brasileiro e transformação do rural para urbano Povos indígenas; população negra Movimentos sociais e partidos políticos Migração; identidade nacional e religião Participação popular e organizações não governamentais.

Assinale a alternativa que contém todas as alternativas corretas. a) I, II e III. b) IV e V. c) I, II e IV. d) I, II, III e IV. e) III e V.

A questão faz uma abordagem geral a respeito da bibliografia produzida pelos autores apresentados na questão. Buscando compreender problemas enfrentados pela sociedade brasileira em geral e procurando definir no que consistia essa “brasilidade”, esses autores trabalharam com a transição do mundo rural para o urbano, com povos indígenas e população negra, com questões relacionadas à imigração, identidade nacional e religião. Somente as alternativas III e V não correspondem a temas abordados pelas Ciências Sociais no Brasil até 1960. Esses são temas mais recentes, que exigiram um desenvolvimento maior dessas para se tornarem objeto de estudo.

12. (Uenp PR) No Brasil, podemos distinguir nitidamente, na evolução da Sociologia, dois períodos bem configurados (1880-1930 e depois de 1940), com uma importante fase intermédia de transição (1930-1940). Fragmento do texto A sociologia no Brasil de Antonio Cândido. Enciclopédia Delta-Larousse, 1959.

Sobre o pensamento sociológico brasileiro, analise as afirmações abaixo. I. A sociologia, no Brasil, se desenvolve a partir do pensamento de juristas que ocuparam um papel fundamental no século XVIII, principalmente o de definir um modelo de Estado e interpretar as relações entre vida econômica e estrutura política. II. A sociologia brasileira recebeu influências da biologia, principalmente do evolucionismo, desenvolvendo uma espécie de obsessão por fatores naturais e uma preocupação com as fases históricas. III. Diferente da sociologia europeia, a brasileira não se interessou pelos estudos raciais. São corretas as afirmativas: a) apenas I e II A sociologia brasileira carrega a herança tanto do positivismo quanto do evolucionismo. Além disso, sofreu grande inb) apenas I e III fluência do pensamento jurídico do início do século XX, uma vez que muitos dos primeiros sociólogos se formaram em c) apenas II e III Direito. Essas influências contribuíram, entre outras coisas, para que a questão racial tenha sido analisada como probled) Todas ma sociológico de relevância científica e social. e) Nenhuma sil constituir-se em um exemplo de colonização bem-sucedida, sendo manifestação do caráter adaptativo do povo português e a expressão do amortecimento das relações de poder existentes no sistema patriarcal que opunha a casa-grande à senzala.

71

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Gabarito questão 09 A alternativa [A] é a única incorreta e contraria tanto a alternativa [B] quanto o argumento do texto de que as desigualdades educacionais e geográficas entre brancos e não brancos é


FRENTE

A Émile Durkheim


Fonte: Wikimedia Commons

SOCIOLOGIA Por falar nisso “É tão pouco habitual tratar os fatos sociais cientificamente que algumas das proposições contidas nesta obra correm o risco de surpreender o leitor. Entretanto, se existe uma ciência das sociedades, cabe esperar que ela não consista em uma simples paráfrase dos preconceitos tradicionais, mas nos mostre as coisas diferentemente de como as vê o vulgo; pois o objeto de toda ciência é fazer descobertas, e toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões aceitas. Portanto, a menos que se atribua ao senso comum, em sociologia, uma autoridade que há muito ele não possui nas outras ciências - e não se percebe de onde lhe poderia advir essa autoridade -, cumpre que o sociólogo tome decididamente o partido de não se intimidar com os resultados de suas pesquisas, se estas foram metodicamente conduzidas. Se buscar o paradoxo é próprio de um sofista, fugir dele, quando imposto pelos fatos, denota um espírito sem coragem ou sem fé na ciência.” (DURKHEIM, 2007, p. XI) Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A09 A10 A11 A12

A Sociologia Positivista: Émile Durkheim................................................... 74 Fato Social .................................................................................................. 80 Solidariedades, Consciências e Direitos .................................................... 85 Anomia Social, Suicídio, distinção entre Normal e Patológico e Educação..... 91


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A09

ASSUNTOS ABORDADOS n A Sociologia Positivista: Émile

Durkheim

A SOCIOLOGIA POSITIVISTA: ÉMILE DURKHEIM A sociologia é uma ciência moderna e, nesse sentido, as mudanças que ocorreram no mundo e que culminaram com o início da modernidade são centrais para o entendimento histórico dessa área das ciências humanas. A sociedade medieval, por suas características e condições sociais pautadas na tradição, no conhecimento religioso e na subsistência, não garantia um ambiente favorável ao desenvolvimento do conhecimento científico. A historiografia referiu-se, ao longo de décadas, à Idade Média como tempos sombrios, de escuridão, numa alusão à ausência do estímulo ao saber crítico da ciência e ao poderio do conhecimento religioso. O primeiro passo para a vida moderna então seria a desestruturação dessa sociedade, que já não permitia determinados desenvolvimentos. Com o Iluminismo, houve uma grande mudança intelectual que abriu as portas para uma reflexão sobre o mundo social e o comportamento humano. Até então, não existia propriamente um pensamento autônomo sobre o que chamamos hoje de “social”, pois a religião produzia uma visão dominadora e cosmológica do mundo e de seus processos. De certo modo, não se concebia que as relações entre os homens pudessem ser decalcadas como objeto de conhecimento científico. Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar. De maneira geral, foi uma consequência da “revolução científica” desenhada desde o final do século XVI. O avanço das ciências naturais e o destacamento do homem como ser racional e capaz de desvendar os processos que orientam a existência física, química e biológica foram fundamentais para a consolidação do olhar científico na modernidade. A origem da Sociologia está ligada ao processo de instalação definitiva da Modernidade, ou seja, a Sociologia nasce como reflexo das condições sócio-históricas implantadas pela modernidade burguesa. A implantação de um novo modelo de produção impactou profundamente as formas de convivência social, tendo como expressão desse momento, a constituição dos grandes aglomerados urbanos. É justamente em meio a essa sociedade moderna e a esse cenário em que as condições de vida se diferenciam e as desigualdades se evidenciam, que a Sociologia surge, isto é, ela nasce da necessidade de dar sentido às mudanças sociais que comentamos nesta aula. Dar sentido aqui significa explicar e, para além disso, orientar o sentido dessa nova realidade. Dessa forma, a origem da Sociologia só pode ser concebida dentro desses fatores, uma vez que é impossível distanciar esse surgimento das condições históricas citadas e dos eventos apresentados. Sendo assim, é difícil determinar uma data de nascimento para a ciência da sociedade, mas é possível traçar um panorama histórico da sua origem, levando em conta as condições sociais que balizaram suas primeiras reflexões. Em relação à originalidade do seu nascimento, comenta Quintaneiro: Sua paternidade é incerta: uns a atribuem ao inquieto e revolucionário francês Saint-Simon (1760-1825), outros àquele que foi seu secretário, o conservador Auguste Comte (1798-1857) que a apadrinhou. Em todo caso, sua origem se mescla com os processos sociais e econômicos que há muito vinham se constituindo na Europa, nos campos da ciência e da tecnologia, da organização política, dos meios e processos de trabalho, das formas de propriedade da terra e dos instrumentos de produção, da distribuição do poder e da riqueza entre as classes, e das tendências à secularização e racionalização que se mostravam em todas as áreas da atividade humana. É desse torvelinho de transformações que brotará o manancial dos clássicos do pensamento sociológico: Marx, Durkheim eWeber. (QUINTANEIRO, 2005, p. 12)

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Aqueles que podemos chamar de pioneiros da Sociologia vão partir desse ambiente inquietante para delimitar essa ciência. Assim, tem-se um desafio: como compreender a nova sociedade moderna em que vivem, considerando que ainda não é possível ter uma clara dimensão se as transformações já acabaram ou quais são todas as suas consequências? Portanto, estudar um objeto em transformação - algo cotidiano para a Sociologia - já se coloca como algo inquietante e desafiador. Vale destacar ainda que não seja possível atribuir a um único indivíduo a criação de um campo de estudos. Com frequência, Auguste Comte recebe o destaque no surgimento da Sociologia. Originalmente ele se referia à ciência como física social, em uma alusão à ciência natural (física) como forma de puxar credibilidade para sua nova empreitada. O próprio Comte muda o nome em função de conflitos intelectuais, fazendo com que ele adotasse a Sociologia como nome da sua ciência social. Sua contribuição se dá então, no sentido em que ele, por vivenciar o turbilhão que atravessa a França no pós-Revolução Francesa e ele vê as primeiras consequências da industrialização, busca criar uma forma verdadeira de explicar as normas do mundo. O entendimento de sua época era que a ciência - normalmente associada às ciências naturais- apresentava-se como principal expressão da análise objetiva do mundo natural. Comte corrobora com essa compreensão da ciência ao entender que o que dá qualidade ao pensamento científico não é seu objeto de estudo, mas sim seu método, isto é, a forma como o estudo se organiza para alcançar seu objetivo. Para ele, isso significou que se pegasse o método científico apropriado das ciências naturais e o usasse para compreender as leis do mundo social, poderia entender e orientar o desenvolvimento social. Assim, ele formulou a “lei dos três estados” da evolução humana: estado teológico (explicações sobrenaturais - a humanidade vê o mundo e se organiza a partir dos mitos e das crenças religiosas); estado metafísico (os fenômenos são explicados por meio de abstrações, sem crença nem em aspectos sobrenaturais, nem em fundamentos científicos) e estado positivo (triunfo da ciência - buscam-se leis, segundo as quais os fenômenos encadeiam-se uns nos outros para compreender manifestações naturais e humanas).

#Curiosidades

Fonte: Wikimedia commons

Obras Da Divisão do Trabalho Social, 1893 As Regras do Método Sociológico, 1895 O Suicídio, 1897 As Formas Elementares da Vida Religiosa, 1912 A Educação e a Sociologia, 1922 (obra póstuma) Sociologia e Filosofia, 1924 (obra póstuma) A Educação Moral, 1925 (obra póstuma) Biografia retirada e adaptada do site https://www.ebiografia.com/emile_durkheim/

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A09  A Sociologia Positivista: Émile Durkheim

BIOGRAFIA DE ÉMILE DURKHEIM Émile Durkheim (1858-1917) foi um sociólogo francês, considerado o pai da Sociologia Moderna e chefe da Escola Sociológica Francesa. Foi também o criador da teoria da coesão social e, juntamente com Karl Marx e Max Weber, formou um dos pilares dos estudos sociológicos. Descendente de judeus, nascido em Epinal, região de Lorena, na França, em 15 de abril de 1858, Durkheim foi preparado para seguir o caminho de sua família, mas rejeitou sua herança judaica. Iniciou seus estudos no Colégio d’Epinal e no Liceu, em Paris, matriculando-se, posteriormente, no curso de Filosofia da Escola Normal Superior de Paris. Estudou as teorias de Auguste Comte e Herbert Spencer, o que proporcionou uma matriz científica às suas teorias. Em 1887, Durkheim foi nomeado professor de Pedagogia e de Ciência Social na Faculdade de Bordeaux, no sul da França. Dez anos depois, fundou a revista L’Année Sociologique. Em 1902, foi designado para ocupar a primeira cadeira de Sociologia no país e a cadeira de Pedagogia, ambas na Sorbonne. Sua teoria dos fatos sociais influenciou, diretamente, o desenvolvimento da Sociologia Científica do século XX.


cado não tido, plina pela

Sociologia

Com isso, o Positivismo começou a atribuir fatores humanos nas explicações dos diversos assuntos, aproximando do estudo da observação de coisas mais práticas e presentes no cotidiano. Portanto, há uma subordinação da imaginação à observação, sendo necessário observar os conjuntos de ações que envolvem cada indivíduo.

entre o dos

ades

Consideradas essas influências, podemos nos aproximar do nosso objeto de estudo neste livro - o autor Émile Durkheim e suas contribuições para a Sociologia. Pensador francês, como seu antecessor, Durkheim parte do pensamento de Comte, de que a Sociologia deve ser vista como uma ciência. O autor percebia na Sociologia o potencial de ela ser uma ciência empírica que elucidasse questões filosóficas e, para tal, ela deveria pautar-se em fenômenos objetivos - os chamados fatos sociais.

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Com uma obra vasta sobre metodologia, formação da ordem social e chegando até a estudos sobre origem moral da sociedade, Durkheim possui contribuições mais atemporais ao pensamento sociológico. Ao buscar uma dimensão mais rigorosa que Comte, ele dá novo sentido ao Positivismo científico e tenta enxergá-lo nos aspectos da vida social que determinam nossa ação enquanto indivíduos. Para ele, a sociedade prevalece sobre o indivíduo, sendo um conjunto de normas de ação e pensamentos que são construídos exteriormente, fora das consciências individuais. Sem essas regras, a sociedade não existiria, e é por isso que os indivíduos

moral

devem obedecer a elas. A sociologia positivista de Durkheim se preocupa, fundamentalmente, com as instituições sociais, apresentando a noção de que a vida coletiva então não é a soma dos indivíduos. Vale ressaltar que Durkheim buscava um método científico que fosse objetivo, mesmo que utilizasse de critérios das ciências naturais. Ele reconhecia que os objetos sociais distinguiam-se dos naturais. Com isso, desenvolve toda uma teoria sobre seu objeto de estudo- os fatos sociais, que estudaremos com mais detalhes no próximo módulo. Com essas apresentações iniciais, podemos perceber como Émile Durkheim foi um dos pensadores que mais contribuiu para a consolidação da Sociologia como ciência empírica e para sua instauração no meio acadêmico, como nos chama atenção Quintaneiro, que foi o primeiro professor universitário dessa disciplina. Referências bibliográficas DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução Paulo Neves; revisão da tradução Eduardo Brandão. - 3ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2007. QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. rev. amp. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

Exercícios de Fixação 01. (Uem PR) As origens históricas da Sociologia, como área específica de conhecimento, estão associadas ao período histórico que é frequentemente denominado de Moderni-

A09  A Sociologia Positivista: Émile Durkheim

dade. Sobre esse período é correto afirmar que: 01. O Positivismo é uma corrente de pensamento importante no período. Sua influência pode ser observada na constituição de várias áreas de conhecimento científico consolidadas entre a segunda metade do século XIX e o início do século XX. 02. Na Europa, as transformações relacionadas às migrações do campo para a cidade, à expansão das cidades e à industrialização não geraram impacto significativo sobre a Sociologia, uma vez que as preocupações centrais da disciplina dizem respeito à humanidade e não a grupos humanos específicos. 04. A consolidação da propriedade privada como um aspecto dominante das relações de trabalho nos centros urbanos assim como a expansão da racionalidade, mesmo em termos de interpretação da fé religiosa monoteísta, são aspectos relevantes para o surgimento da Sociologia como uma área de conhecimento específico.

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08. O otimismo generalizado em relação ao conhecimento científico e a suas aplicações tecnológicas (a eletricidade, o cinema, os carros de passeio, o telefone etc.) não possui relações com as origens históricas da Sociologia. 16. O fortalecimento dos Estados modernos, a diluição de laços comunitários tradicionais, o fortalecimento dos processos de individualização e a expansão do capitalismo são fatores importantes para a emergência de categorias sociais como o eleitor, o indivíduo e o consumidor, as quais, por sua vez, tornaram-se objetos de reflexão da Sociologia. 02. (Uem PR) “De maneira geral, é fácil compreender que os indivíduos só podem ser submetidos a um despotismo coletivo, pois os membros de uma sociedade só podem ser dominados por uma força superior, e só tem essa qualidade a do grupo. Uma personalidade qualquer, por mais forte que seja, nada poderia sozinha contra uma sociedade inteira; esta, portanto, não pode ser subjugada contra a sua vontade”. DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social. 2.ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 179 e 180.

Questão 01 As afirmativas [02] e [08] são as únicas incorretas. [02] Incorreta: A sociologia esteve, particularmente, interessada na sociedade urbana nascente após a Revolução Industrial. [08] Incorreta: Nesse contexto, vigorou um grande otimismo, sintetizado na corrente teórica positivista, que tanto influenciou o surgimento da Sociologia.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 02. Diferentemente de Max Weber, Émile Durkheim considerava sempre que a sociedade tem uma primazia sobre os indivíduos. Assim, a dominação política é um fato social, e deve ser explicada segundo suas características sociais, e não individuais

Questão 03. [E] A alternativa [E] está incorreta por um detalhe: ainda que tenha sofrido influência das ciências biológicas, a Sociologia nunca viu a sociedade como um conjunto de ações individuais independentes. Pelo contrário, toda ação social é sempre uma ação que leva em conta os outros indivíduos.

Com base nessa citação e em conhecimentos acerca da obra de Émile Durkheim, assinale o que for correto. 01. Para Émile Durkheim, os sistemas de dominação e de coerção são produzidos coletivamente. 02. Segundo Émile Durkheim, as formas de controle social se originam nas ações individuais. 04. Émile Durkheim admite que a formação de um governo autoritário é resultado de uma dominação afetiva e carismática. 08. Um governo autoritário, segundo as considerações de Émile Durkheim, é uma obra coletiva. 16. Conforme Émile Durkheim, um governo despótico só se mantém com o aval da sociedade que ele domina.

todo. A ‘liga’ que une esses diferentes componentes, tornando

DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010, p. 19. (Adaptado).

Sobre o assunto tratado no texto, é INCORRETO afirmar que a) a Sociologia buscou explicar os problemas sociais decorrentes da rápida urbanização, provocada pelas novas tecnologias de produção em massa. b) a divisão do trabalho industrial se tornou um importante tema de estudo da Sociologia, pois as tarefas repetitivas e altamente especializadas tiveram como consequência o aumento da desigualdade social. c) os primeiros pensadores da ciência sociológica tinham a tarefa de racionalizar a nova ordem social, encontrando soluções para a “desorganização” por meio do conhecimento das leis que regem as relações entre os indivíduos. d) os novos papéis sociais, que surgem nesse período, marcam a interdependência entre operários e empresário. Isso será um fator fundamental para se compreenderem as desigualdades produzidas pela relação entre instrumentos de produção (do empresário) e a força de trabalho (do operário), a qual fundamentou a organização social da época. e) as novas formas de pensar a sociedade sofreram influência das ciências biológicas. Estas explicavam a sociedade como um conjunto de ações individuais independentes, sendo esses estudos considerados uma referência teórica importante para a Sociologia. 04. (Uem PR) “Durkheim concebe a sociedade como um corpo vivo, um organismo cujas partes – cada instituição e cada indivíduo – cumprem papéis determinados e existem em função do Questão 04. A partir das incorretas: [04] está incorreta, porque Durkheim extrai a vida moral da vida social. [08] desconsidera a diferenciação feita por Durkheim entre solidariedade mecânica e orgânica. [16] não reflete a importância que Durkheim dava ao processo educativo para a manutenção da sociedade.

sociedades mais simples e mais homogêneas há uma integração equilibrada entre as partes porque elas diferem muito pouco entre si (...). Esse tipo de arranjo social, característico das sociedades pré-capitalistas, sofreu uma mudança importante quando, paralelamente ao aumento populacional, ocorreu um incremento das comunicações e das trocas de mercadorias e ideias entre as pessoas (...)”. (BOMENY, Helena et al. Tempos modernos, tempos de sociologia. São Paulo: Editora do Brasil, 2013, p. 77 e 78).

Considerando o texto e conhecimentos sobre o tema citado, assinale o que for correto. 01. Durkheim se preocupa com o tema da divisão do trabalho social, processo presente em todas as sociedades humanas. 02. A noção de integração é central no pensamento de Durkheim. Ela se faz presente no ambiente de trabalho, nas relações familiares ou no próprio Estado. 04. Para Durkheim, a vida social não gera uma vida moral. Esta seria expressão de fenômenos puramente psicológicos; portanto, não seria objeto de estudos da sociologia. 08. Durkheim define que os agrupamentos humanos, independentemente de sua variedade populacional, cultural ou social, são regidos por semelhantes formas de solidariedade. 16. Os processos educativos estão ausentes do pensamento de Durkheim. Para ele, os modos de aprendizagem são uma extensão da vida biológica. 05. (Enem MEC) A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova. DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com base na a) vinculação com a filosofia como saber unificado. b) reunião de percepções intuitivas para demonstração. c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social. d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais. e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político. Questão 05. [D] A sociologia durkheimiana pega emprestado das ciências naturais seu modelo de análise científica. Assim é que Durkheim procura tornar a sociologia uma ciência objetiva, com um objeto de análise (fato social) e um método (método sociológico).

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A09  A Sociologia Positivista: Émile Durkheim

03. (Upe-ssa) Leia o texto a seguir: A Sociologia surgiu como decorrência de um processo histórico, que culminou com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, e a Revolução Francesa de 1789. Esses dois acontecimentos geraram problemas sociais que os pensadores da época não conseguiram explicar (...). Assim, com o social tornando-se um problema de dimensões nunca vistas, estavam dadas as condições que geraram a necessidade de criar uma nova disciplina científica.

a sociedade possível, é o que ele chama de solidariedade. Nas


Sociologia Questão 01. A chave para responder de forma correta à questão está na última frase do texto. A burocratização do trabalho intelectual está relacionada com a consolidação da sociologia como ciência. Isto só ocorreu devido aos trabalhos de Émile Durkheim, que se tornaram referência do que significa fazer sociologia. Isso aconteceu inclusive no Brasil, quando chegaram sociólogos franceses a partir da década de 1930.

Questão 02. Somente a alternativa [02] está incorreta. Inspirada no Positivismo de Augusto Comte, a sociologia era científica, não teológica.

Exercícios Complementares 01. (Upe-ssa) Leia o texto a seguir: Nas três primeiras décadas do século XX, embora a burguesia já mostrasse sem disfarces a sua faceta conservadora e belicista, defrontando-se com um movimento operário organizado, e testemunhasse também um acontecimento como a instalação do poder soviético na Rússia, conseguia, não obstante, controlar, até certo ponto, as ameaças dos movimentos e dos grupos revolucionários. Além disso, deve-se mencionar que a existência da monopolização das empresas e dos capitais daquelas décadas, embora consideráveis, evidentemente eram menos acentuadas do que são em nossos dias. Dessa forma, a burocratização do trabalho intelectual não era ainda uma realidade viva e concreta que aprisionava e inibia a imaginação dos sociólogos. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia? São Paulo: Brasiliense, 2006, pp. 76-77.

O texto faz referência a um período da história da Sociologia. Sobre esse período, é CORRETO afirmar que a) o conhecimento sociológico foi organizado com base no pensamento iluminista de Descartes. b) a escola sociológica francesa se tornou uma referência para os estudos da realidade social com base no pensamento de Durkheim. c) a visão sociológica ofereceria um conhecimento útil para consolidar a desorganização social após a Revolução Francesa e Industrial. d) a pesquisa de campo ganhou destaque com o pensamento positivista, orientando o caminho metodológico que o sociológico deveria seguir. e) o pensamento de Augusto Comte representou um importante papel na elaboração do conhecimento sociológico, fundamentado na valorização da economia e dos mitos como instrumento intelectual para compreender as relações sociais. A09  A Sociologia Positivista: Émile Durkheim

02. (Uem PR) Sobre as condições de surgimento do pensamento sociológico, assinale o que for correto. 01. O desenvolvimento de um pensamento científico sobre a sociedade surge em fins do século XVIII, na Europa, como resposta às questões sociais que surgiram em decorrência dos processos de revolução burguesa. 02. Uma das principais ambições da sociologia, em seus primórdios, foi criar uma concepção teológica da história humana, encontrando argumentos lógicos e racionais que comprovassem os efeitos da ação divina sobre a vida social.

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04. O encontro com as populações ameríndias, os relatos que os viajantes europeus fizeram sobre a América e os conflitos originários desse encontro foram elementos centrais para o desenvolvimento de um pensamento específico sobre o “outro”, o não europeu, que se tornou posteriormente alguns dos fundamentos da antropologia social. 08. O fenômeno da desigualdade social, discutido na sociologia por meio do conceito de estratificação social, é um tema presente no pensamento clássico e permanece como um dos principais problemas que desafiam as concepções contemporâneas das ciências sociais. 16. Marx jamais reivindicou o reconhecimento como sociólogo. No entanto, seus escritos, produzidos em meados do século XIX, tornaram-se textos centrais dos pensamentos político e social elaborados pela sociologia nos séculos XX e XXI. 03. (Uema) A Sociologia como ciência foi criada no século XIX em um contexto marcado por “mudanças sociais” que demandavam explicações para a intervenção nos problemas detectados. O tipo de sociedade que propiciou o surgimento da sociologia e a indicação de suas características são, respectivamente,

a)

b)

c)

d)

e)

Tipo de sociedade

Características

Capitalista

Inchaço populacional na zona urbana, crescimento da criminalidade, aparecimento do proletariado e crise das instituições sociais.

Escravocrata

Aumento da urbanização, desindustrialização, aumento da taxa de emprego, aparecimento da burguesia e enfraquecimento dos laços sociais.

Socialista

Aumento da migração para a zona rural, valorização do salário dos trabalhadores, redução do desemprego e fortalecimento da igreja enquanto instituição social.

Comunista

Crescimento da população urbana e rural, redução da pobreza, aparecimento do proletariado, fortalecimento da família enquanto instituição social.

Feudal

Estabilidade econômica, valorização da mulher no mercado de trabalho, fortalecimento do casamento como instituição social.

Questão 03. A sociologia corresponde ao estudo da sociedade capitalista moderna, caracterizada pelo intenso processo de urbanização, pela consolidação da burguesia e do proletariado, pelo desencantamento do mundo e pelo surgimento dos problemas sociais inerentes a esse processo.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 04. As afirmativas [04] e [08] estão incorretas. A sociologia continua a ser importante, mesmo nesse contexto de pós-modernidade. Além disso, vale ressaltar que desde os estudos de Émile Durkheim sobre o suicídio, a estatística e a matemática continuam sendo importantes para as pesquisas sociológicas.

Questão 05. [D] A alternativa [D] é a única correta. O surgimento da sociologia esteve relacionado ao desenvolvimento de uma física social de ordem positivista, calcada em ideais como o cientificismo, a ordem e o progresso.

04. (Uem PR) “Mas a vocação da sociologia é fornecer orientação em um mundo reconhecidamente em mudança. E essa vocação só pode ser realizada delineando-se as mudanças e suas consequências, assim como investigando as estratégias de vida adequadas para lidar com suas exigências. Creio que um mundo que exige uma reorientação contínua é o hábitat natural da pesquisa sociológica e dos serviços que a sociologia pode e deve oferecer”.

c) a elaboração de um conceito de sociologia incluindo os fe-

Considerando o texto citado e conhecimentos sobre o surgimento e a institucionalização das Ciências Sociais, assinale o que for correto. 01. Uma das tarefas da sociologia é mostrar como os problemas pessoais estão interligados a questões de ordem pública e coletiva. 02. A sociologia se constitui num tipo de conhecimento relevante tanto para os cientistas e especialistas quanto para todos aqueles afetados pelos resultados de suas pesquisas, ou seja, o grande público. 04. A sociologia é um conhecimento originário do mundo moderno e, como tal, se mostra superada pelas novas formas de interação e comunicação da pós-modernidade, não tendo mais lugar na sociedade contemporânea. 08. O pensamento sociológico e as metodologias por ele empregadas não utilizam recursos matemáticos ou estatísticos na constituição de análises sobre a história e a estrutura social de grupos ou nações. 16. A sociologia é uma ciência, portanto estabelece problemas, dúvidas e questionamentos sobre a realidade. Por isso, ela é também uma forma de consciência, na medida em que permite desenvolver uma nova perspectiva sobre o próprio mundo em que vivemos. 05. (Upe PE) Leia o texto a seguir: Enquanto resposta intelectual à “crise social” de seu tempo, os primeiros sociólogos irão revalorizar determinadas instituições que, segundo eles, desempenham papéis fundamentais na integração e na coesão da vida social. A jovem ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social e destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006, p. 30.

Com base nele, o surgimento da Sociologia foi motivado pelas transformações das relações sociais ocorridas na sociedade europeia, nos séculos XVIII e XIX, contribuindo para a) o aumento da desorganização social estabelecida pela Revolução Industrial. b) a organização de vários movimentos sociais controlados por pensadores como Saint-Simon e Comte. Questão 06. Não. Atualmente, a sociologia serve como uma abordagem crítica da sociedade. Sua intenção não é mais dar aos indivíduos subsídios para o progresso da sociedade, mas questioná-la e, a partir disso, abrir novas possibilidades de intervenção social. Assim, seus estudos não proporcionam uma situação de progresso e ordem, mas de constante transformação da realidade.

mação da sociedade com base na reforma intelectual plena do ser humano. e) o surgimento de uma “física social” preocupada com a construção de uma teoria social, separada das ideias de ordem e desenvolvimento como chave para o conhecimento da realidade. 06. (Interbits)

A bandeira do Brasil é mundialmente famosa pela sua frase: Ordem e Progresso. Sabemos que essa frase tem sua origem na concepção positivista de ciência e que o Positivismo inspirou o surgimento da sociologia. Atualmente, é possível dizer que a sociologia é capaz de ajudar a criar uma sociedade de ordem e progresso? Justifique sua resposta. 07. (Unimontes MG) A Sociologia, como disciplina acadêmica, surgiu em um contexto positivista, influenciada pela física de Auguste Comte (1791-1857) e sistematizada cientificamente por Émile Durkheim (1858-1917), na França. Na fase inicial de sua institucionalização, a Sociologia concentrou suas análises principalmente nos seguintes estudos, EXCETO. a) Em sua fase inicial, a Sociologia recusou-se a se constituir como uma nova ciência, dando ênfase ao estudo metafísico e especulativo, objetivando o aprimoramento da filosofia escolástica. b) A Sociologia se debruçou nas análises dos conflitos e desordem social na Europa. c) Como uma das ciências sociais, a Sociologia surgiu inspirada nos conceitos fundamentais das ciências naturais, como os da Física, da Biologia e da Química, por exemplo. d) No contexto do capitalismo industrial, a Sociologia ocupou-se principalmente dos estudos das instituições (família, igreja, Estado, escola, etc.), da ação e das relações sociais e do problema da divisão de classes sociais. Questão 07. [A] A alternativa [A] é claramente a incorreta. Em seu início, a sociologia se interessava exatamente em se constituir como uma ciência do social. Émile Durkheim, por exemplo, estabeleceu o fato social como o objeto de estudo dessa nova ciência nascente.

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A09  A Sociologia Positivista: Émile Durkheim

(BAUMAN, Z. Para que serve a sociologia? Rio de Janeiro: Zahar, 2015, p. 59).

nômenos mentais como tema de reflexão e investigação. d) a criação da corrente positivista, que propôs uma transfor-


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A10

ASSUNTOS ABORDADOS n Fato Social n Características do Fato Social

FATO SOCIAL Émile Durkheim preocupado em conferir um status científico à Sociologia, chama atenção para o método. Porém, era necessário, primordialmente, definir o objeto dessa ciência que nascia. Dessa forma, Durkheim institui o fato social como o objeto de estudo da Sociologia. Cabe destacar que os fatos sociais são produtos da vida em sociedade e sua manifestação é o que desperta o interesse de estudo da Sociologia. Para entender o conceito, é necessário primeiro compreender o que significa a consciência coletiva, visto que o fato social advém dali. Para Durkheim, consciência coletiva pode ser vista como um conjunto de características comuns aos membros de uma sociedade, que faz com que haja uma certa uniformidade no comportamento dos indivíduos. Como já vimos sobre o processo de socialização, para ficar claro e objetivo, podemos imaginar que essa consciência coletiva está a todo instante presente no processo de socialização. Seja na socialização primária ou secundária, a consciência coletiva está a todo momento presente na construção de condutas e comportamentos. Corresponde a normas, códigos culturais, moral, enfim, a um conjunto de ideias morais e normativas. É claro que ele não nega que exista uma consciência individual, que estaria ligada a fenômenos psíquicos, relacionados ao indivíduo, e não à sociedade como um todo. Com isso, Durkheim ressalta que a sociedade não é um somatório de indivíduos ou das consciências individuais, já que o indivíduo e suas ações sofrem influências da sociedade ou dessa consciência coletiva.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Fonte: Wikimedia Commons

Entendidos esses conceitos, podemos passar para a compreensão do que são os fatos sociais, assunto abordado em sua obra As Regras do Método Sociológico. Fato social é algo que pode ser encontrado no âmbito da sociedade, independente da vontade do indivíduo. Durkheim, na busca por um método sociológico, indica que esses fatos sociais, objeto da Sociologia, devem ser observados enquanto coisas. Essa indicação remete, assim, à objetividade e à neutralidade. Isso quer dizer que nós, enquanto pesquisadores, devemos nos afastar dos nossos pré-conceitos. Devemos, portanto, eliminar o véu que cobre os objetos, nos livrando de nossos fantasmas e de nossas paixões. Deve-se ficar atento, na busca pela objetividade, para se enxergar e analisar os fatos sociais como uma realidade externa às nossas consciências individuais. Como indica Durkheim No momento em que uma nova ordem de fenômenos torna-se objeto de ciência, eles já se acham representados no espírito, não apenas por imagens sensíveis, mas por espécies de conceitos grosseiramente formados. Antes dos primeiros rudimentos da física e da química, os homens já possuíam sobre os fenômenos físico-químicos noções que ultrapassavam a pura percepção, como aquelas, por exemplo, que encontramos mescladas a todas as religiões. É que, de fato, a reflexão é anterior à ciência, que apenas se serve dela com mais método. O homem não pode viver em meio às coisas sem formar a respeito delas ideias; de acordo com as quais regula sua conduta. Acontece que, como essas noções estão mais próximas de nós e mais ao nosso alcance do que as realidades a que correspondem, tendemos naturalmente a substituir estas últimas por elas e a fazer delas a matéria mesma de nossas especulações. Em vez de observar as coisas, de descrevê-las, de compará-las, contentamo-nos então em tomar consciência de nossas ideias, em analisá-las, em combiná-las. Em vez de uma ciência de realidades, não fazemos mais do que uma análise ideológica. Por certo, essa análise não exclui necessariamente toda observação. Pode-se recorrer aos fatos para confirmar as noções ou as conclusões que se tiram. Mas os fatos só intervêm então secundariamente, a título de exemplos ou de provas confirmatórias; eles não são o objeto da ciência. Esta vai das ideias às coisas, não das coisas às ideias. (DURKHEIM, 2007, p.15/16)

Figura 01 - As Regras do Método Sociológico, de Émile Durkheim

Com essas indicações, quanto às regras relativas à observação dos fatos sociais, vamos à formulação do que é fato social. É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais. (DURKHEIM, 2007, p.14)

Características do Fato Social Definido o termo, é importante destacar as três características que Durkheim atribui ao fato social.

A10  Fato Social

A primeira delas é seu caráter coercitivo, ou seja, os fatos sociais exercem uma determinada força ou uma pressão sobre os indivíduos. Com isso, os indivíduos são forçados a adquirir e executar determinados comportamentos ou condutas. Isso pode ser visto, como já dito acima, no processo de socialização, em que instituições como a família, por exemplo, atuam como agenciadoras do processo. Na socialização primária, os contatos caracterizam-se por serem pessoais, diretos e com influência afetiva. São os primeiros tipos de contatos que as pessoas estabelecem, pois a criança tem contato com a linguagem, por exemplo, e vai compreendendo as relações sociais primárias e os seres sociais que a compõem, interiorizando nesse momento normas e valores, bem como regras básicas da sociedade, a moral e os modelos de comportamento do grupo a que pertence. 81


Sociologia

Essa coerção que os indivíduos sofrem pelos fatos sociais, ganha destaque pelas penalidades a que estão sujeitos. Para ficar claro, podemos pensar em dois exemplos. A criança, desde pequena, vê os responsáveis respeitando filas em bancos, supermercados etc. Com isso, aprende que se deve respeitar filas, já que, se um dia ela se revoltar contra esse hábito, poderá sofrer sanções, desde as mais brandas, até as mais severas. O idioma é outro exemplo claro, pois se na tentativa de se rebelar contra um idioma natural de determinado país falarmos outra língua, sofreremos com a penalidade de não conseguir a comunicação por meio da linguagem. A segunda característica do fato social é que ele é exterior aos indivíduos. Além de exercer uma coerção, ele atua independentemente das vontades individuais. A consciência coletiva, por meio das regras sociais, costumes, hábitos, parecem ser algo que sempre existiu, e assim são impostas ao indivíduo. Aqui podemos pensar na educação. Antes mesmo do nosso nascimento, há determinadas regras e condutas ligadas à nossa educação e, independente de nossa vontade, seremos sujeitados a elas, já que se assim não for, não conseguiremos uma formação, desde o ensino básico até o superior. Com isso, sofreremos sanções como o desemprego, por exemplo, haja vista que o mercado de trabalho exige cada vez mais qualificação dos indivíduos. A terceira característica é a generalidade. O fato social é, portanto, geral. Não acontece com indivíduos aleatoriamente. Ele se repete senão em todos os indivíduos, em sua maioria. Todos os exemplos dados acima, elucidam também essa característica, visto que atingem a todos nós. Assim, tais situações deixam claro o que caracteriza um fato social, fazendo com que ele seja visto como um objeto de estudo da Sociologia. As filas em determinados estabelecimentos, por exemplo, podem ser observadas e analisadas em vários aspectos, já que nelas dão-se uma multiplicidade de relações e benefícios que despertam o interesse da Sociologia e dos sociólogos. https://idec.org.br/dicas-e-direitos/fila-de-banco-demorada-saiba-seus-direitos

Características do Fato Social Geral

Coercitivo

Exterior

Referências bibliográficas DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução Paulo Neves; revisão da tradução Eduardo Brandão. - 3ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2007.

A10  Fato Social

Figura 02 - Desde pequenos, os indivíduos adquirem determinados hábitos, como por exemplo, o de enfrentar filas em estabelecimentos.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. A afirmativa [08] é claramente incorreta, pois se opõe à ideia durkheimiana de que os fatos sociais são gerais e exteriores aos indivíduos. De fato, Durkheim se interessa somente por fatos que sejam coletivos, e não individuais.

Questão 02. [B] A afirmativa IV é a única incorreta. O ideal moral não é imutável. Se assim fosse, as sociedades não passariam por qualquer mudança ao longo da história. Por fim, vale reiterar que a consciência coletiva não corresponde à mera soma de consciências individuais, mas sim a algo com realidade própria.

Exercícios de Fixação PAS

PR)

Émile

Durkheim

(1858-1917)

é

IV.

Na sociedade complexa, o ideal moral é imutável, e

considerado, conjuntamente com Auguste Comte (1798-

uma vez que ele surge, impossibilita a sua modificação

1857), Karl Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-1920), um dos fundadores da Sociologia. Em 1895, Durkheim

e evolução, por mais que se modifiquem as condições de vida social.

publicou As regras do método sociológico, onde apresen-

Estão CORRETAS as afirmativas

ta o conceito de fato social. Este conceito é central na

a) I, II e IV, apenas.

sociologia durkheiminiana.

b) I, II e III, apenas.

Sobre o fato social é correto afirmar. 01. Émile Durkheim afirma em As regras do método sociológico que o fato social é exterior às pessoas.

c) II, III e IV, apenas. d) I, III e IV, apenas. 03. (Uema) Émile Durkheim (1858-1917) é considerado um dos

02. O fato social, segundo Émile Durkheim, possui uma exis-

teóricos fundadores da Sociologia e definiu como objeto de

tência própria, para além das manifestações individuais.

estudo dessa nova ciência os fatos sociais, compreendidos como “coisa”. O texto adaptado retrata as características

04. Em As regras do método sociológico, Émile Durkheim propõe que o fato social é geral, ocorrendo no conjunto

dos fatos sociais.

de uma sociedade.

Não somos obrigados a falar a língua do nosso país, usar

08. Para Émile Durkheim, o fato social é particular e individual.

a moeda vigente ou adaptar-nos à tecnologia moderna;

16. Uma das características definidoras do fato social, se-

mas se assim não o fizermos, nossas vidas serão um fra-

gundo Émile Durkheim, é a sua capacidade de coerção

casso, portanto, não temos escolha, todos nós somos co-

sobre as pessoas.

agidos a acatá-las. Estas decisões não são determinadas

02. (Unimontes MG) Segundo o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a consciência coletiva corresponde ao conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um

individualmente, são exteriores à nossa vontade, elas já estão prontas na sociedade. BOELTER, C.; PLUMER, E. Sobre o pensamento de Durkheim e Weber. In: TESKE, Ottmar (coord.), Sociologia: textos e contextos. Canoas: Ed. ULBRA, 1999, p. 41. Adaptado.

sistema determinado que possui dinâmica própria. Ou seja,

Explique as características dos fatos sociais, na visão de Émi-

existem certos padrões morais estabelecidos pela socieda-

le Durkheim, contidas no texto acima.

de aos quais as pessoas devem obedecer, como deveres por ela impostos, cuja natureza obrigatória da moral caminha conjuntamente à manifestação voluntária da vontade de segui-la. Considerando as reflexões do autor sobre esse tema, analise as afirmativas a seguir: I.

A consciência coletiva produz um mundo de sentimentos, de ideias, de imagens e independe da maneira pela qual cada um dos membros dessa sociedade venha a manifestá-la, porque tem uma realidade própria.

II.

tanha, Margaret Thatcher, deu uma declaração durante uma entrevista que resumia, em parte, o seu ideário político liberal: “A sociedade não existe. Existem homens, existem mulheres e existem famílias”. O governo de Thatcher ficaria conhecido como um dos precursores do chamado Estado neoliberal, que enfatizava, entre outros ideais, o individualismo. Assim, esta concepção de governo contradiz os fundamentos da Sociologia de Durkheim, segundo o qual a sociedade pode-

A consciência coletiva recobre todas as áreas de dis-

ria ser identificada

tintas dimensões na consciência das pessoas, inde-

a) como a soma de indivíduos que definem seus valores em

pendentemente de que esteja inserido numa socieda-

comum, unindo-se por laços de solidariedade voluntária.

de simples ou mesmo numa sociedade complexa. III.

04. (UFU MG) Em 1987, a então Primeira-Ministra da Grã-Bre-

Quanto mais simples é a sociedade, mais extensa é a consciência coletiva, maior é a coesão entre os participantes da sociedade, o que faz com que todos se assemelhem e, por isso, os membros do grupo sintam-se atraídos pelas similitudes uns com os outros.

Questão 03. Os fatos sociais possuem três características: são gerais, exteriores aos indivíduos e coercivos. Falar a língua de um país, por exemplo, é um fato social porque todos ali fazem isso (é geral), é independente da vontade dos indivíduos e existe mesmo que alguém não queira falar essa língua (é exterior) e todos são obrigados a dominá-la para poderem se comunicar de forma plena (é coercivo).

b) a partir da existência de um contrato social que dá origem ao Estado e à sociedade civil. c) como o resultado da ação da classe dominante, capaz de

A10  Fato Social

01. (Uem

reunir e controlar as massas. d) pela síntese de ações e sentimentos individuais que originam uma vida psíquica sui generis. Questão 04. [D] Segundo Durkheim, os indivíduos constituem seus laços de solidariedade a partir da consciência coletiva que possuem em comum uns com os outros. Longe de ser uma mera soma de formas de pensamento, essa consciência coletiva possui características próprias, sendo, por isso, compreensível somente pela esfera social.

83


Sociologia

lveu varia ança, tália, tiça,

Questão 01. a) Fato social corresponde a todo evento eminentemente social, sendo maneiras de pensar agir e sentir, exteriores e anteriores aos indivíduos, e que exercem coerção sobre eles. O fato social corresponde ao objeto de estudo da sociologia durkheimiana. b) Generalidade: Os fatos sociais são gerais e coletivos, ou seja, eles existem para todos os membros da sociedade. Exterioridade: Os fatos sociais são exteriores e independentes dos indivíduos, ou seja, existem fora deles. Coercitividade: Os fatos sociais exercem coerção sobre os indivíduos, ou seja, existem e condicionam a forma de agir dos próprios indivíduos

Exercícios Complementares 01. (UFU MG) Durkheim acreditava que os acontecimentos sociais poderiam ser observados como coisas, isto é, como objetos, assim poderiam ser estudados e analisados. Para isso, ele desenvolveu o conceito de fato social e uma metodologia de análise. a) O que é fato social para Durkheim? b) Cite e explique três características do fato social para Durkheim.

adao. cesso 2014.

poncial?

ocial, que uma a sosição rem, ente dos

02. (Uel PR) Émile Durkheim considera o fato social o objeto de estudo da Sociologia e propõe regras para explicá-lo. Duas dessas regras são formuladas da seguinte maneira: I. A causa determinante de um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais anteriores, e não entre os estados de consciência individual. II. A função de um fato social deve ser sempre buscada na relação que mantém com algum fim social. DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 5.ed. São Paulo: Editora Nacional, 1968. p.102.

Com base nas regras I e II e nos conhecimentos sobre o fato social, explique como se dá a relação entre indivíduo e sociedade para Durkheim. Exemplifique essa relação.

c) A ação individual é importante para a formação da coletividade, mas a vontade individual é fundamental para a constituição da solidariedade. Sem esta não existe sociedade. d) A generalidade é um aspecto importante nas ações coletivas, pois as regras e normas sociais são comuns a todos os membros de uma sociedade. e) As instituições sociais são responsáveis pela socialização e pelo controle das ações individuais. Elas ensinam os indivíduos a seguirem as regras sociais que lhes são exteriores. 06. (Uem PR) “O devoto, ao nascer, encontra as crenças e as práticas da vida religiosa; existindo antes dele, é porque existem fora dele. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir meus pensamentos, o sistema de moedas que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na profissão etc. funcionam independentemente do uso que delas faço”

04. (Interbits) No ano de 2014, o Brasil sediou a Copa do Mundo de Futebol, evento que movimentou bilhões de dólares e milhões de pessoas. Tento em vista esse evento, responda: A Copa do Mundo pode ser considerada um fato social? Justifique sua resposta.

Considerando a citação e a teoria sociológica de Durkheim, assinale o que for correto. 01. Conforme Durkheim, a Sociologia pode ser definida como uma ciência que estuda a gênese, a duração e o funcionamento dos comportamentos coletivos instituídos pela sociedade. 02. Segundo Durkheim, os “fatos sociais” são fenômenos coletivos que exercem sobre o indivíduo uma coerção exterior que influencia suas maneiras de agir, de pensar e de sentir. 04. Da perspectiva durkheimiana, os “fatos sociais” são fenômenos subjetivos ou psicológicos que dependem da vontade e do desejo individual das pessoas para que possam aparecer na sociedade. 08. De acordo com Durkheim, as “representações coletivas” constituem uma das expressões dos fatos sociais, pois compreendem os modos como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a envolve. 16. Para Durkheim, a educação escolar é um momento importante de socialização, no qual as novas gerações são levadas a internalizar regras, valores e maneiras de ser que são exigidas pela sociedade.

Acordei pensando... Que não agimos apenas por nosso desejo Que sempre fazemos as coisas pensando em outros... Que nossas ações só existem em relação a nossa família, vizinhança, cidade Que essas ações, de espírito coletivo, geram solidariedade Que quanto mais amor e relações existirem, mais coletivas serão nossas ações Que os desejos ocultos e egoístas camuflam a infelicidade de quem é incapaz de pensar no coletivo. Disponível em: http://manguevirtual.blogspot.com.br/search/label/POESIA

Acerca dos aspectos que definem o objeto de estudo sociológico contido no texto, assinale a alternativa INCORRETA. a) A coerção é uma característica importante para adaptar os indivíduos às regras da sociedade em que vivem.

A10  Fato Social

sociedade para internalizar, nas pessoas, hábitos e costumes do grupo social.

03. (UFPR) Durkheim afirma que a educação tem por função ‘constituir o ser social’. Explique e exemplifique essa afirmação.

05. (UPE) Leia o texto a seguir:

84

b) A educação dos indivíduos é uma forma utilizada pela

Questão 02. Para Durkheim, a sociedade é que influencia o indivíduo, exercendo coerção sobre ele. Isso pode ser percebido quando Durkheim analisa fatos sociais, como o suicídio, por exemplo. Para ele, o suicídio não pode ser compreendido como uma mera escolha individual, mas há correntes suicidógenas, ou seja, contextos que levam determinados indivíduos ao suicídio. Assim, seria errado, para Durkheim, considerar que os atos individuais se sobrepõem e possuem autonomia em relação aos fatos sociais.

(DURKHEIM, E. As regras do método. São Paulo: Editora Nacional, 1974, p. 2).

Questão 03. Segundo Durkheim, a educação tem a função de reproduzir a sociedade através das gerações. É através dela que os indivíduos aprendem as regrar morais e sociais e se tornam úteis à sociedade. Por exemplo, um bebê aprende, através da educação, quais são os comportamentos que deve ter socialmente. Caso ele não seja educado de forma correta, não reproduzirá a sociedade, podendo gerar estados de anomia. Ou seja, a educação é uma das atividades mais importantes para a existência da sociedade.

Questão 04. Sim. Os fatos sociais apresentam três características: são exteriores aos indivíduos, exercem coerção sobre eles e são gerais. A Copa do Mundo, ao mobilizar todo seu aparato, faz com que a rotina das pessoas mude independentemente da sua vontade (elas são dispensadas do trabalho para assistirem aos jogos da seleção, por exemplo) e se torna um momento de comoção e unidade de toda a população, independentemente dos desejos e rejeições individuais. Esse é claramente um exemplo de fato social da sociedade contemporânea.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A11

SOLIDARIEDADES, CONSCIÊNCIAS E DIREITOS A Sociologia dedicou-se a analisar o trabalho como elemento central das sociedades modernas. Para o sociólogo francês Émile Durkheim, o trabalho modificou completamente as sociedades industrializadas, por meio de sua complexa divisão social que gerou uma forma específica de união entre os indivíduos. Compreendendo-se isso, é importante atentar para a relação que Durkheim propõe entre os tipos de consciência, de solidariedade e de direito.

ASSUNTOS ABORDADOS n Solidariedades, Consciências e

Direitos

n Solidariedade mecânica n Solidariedade orgânica n Direito

Já sabemos que, para Durkheim, a sociedade poderia ser comparada a um organismo, no qual cada indivíduo deveria cumprir um papel para o bem social, e é por isso que a solidariedade deveria ser algo intrínseco a cada membro de uma sociedade. A divisão do trabalho, então, é encarada como fator de integração, como unidade do corpo social. Os princípios da divisão do trabalho são, portanto, mais morais do que econômicos, pois geram um sentimento de solidariedade entre aqueles que realizam as mesmas funções, agindo assim como integrador. Dessa forma, podemos compreender que o que diferencia a sociedade de uma somatória de indivíduos é a solidariedade, já que ela tem o papel de manter o equilíbrio e a coesão social. A divisão do trabalho social originou o que Durkheim chamou de solidariedade orgânica e solidariedade mecânica, agindo nos indivíduos por meio de relações que não o façam independentes, mas que, ao contrário, fazem-nos solidários. Trata-se de uma solidariedade que não age somente nos momentos de serviços, mas que vai muito além. Ao invés de desarmonia e desagregação, o trabalho nas sociedades capitalistas originou o que Durkheim chamou de solidariedade orgânica – nos locais de trabalho, em que as pessoas passam a maior parte de seu tempo, os indivíduos aprenderiam a conviver uns com os outros. Esse tipo se oporia à solidariedade mecânica, típica de sociedades ditas tradicionais, em que o fator que une os indivíduos não são as relações de trabalho, mas o fato de terem em comum tradições, traços culturais, visões de mundo etc.

85


Sociologia

O autor preocupa-se com a questão moral e social, o que impede a instauração do caos. Nesse caso, é exatamente a solidariedade que permite que os indivíduos integrem-se por meio do conjunto de redes e preceitos determinados pela moral de uma dada sociedade e que têm como principal função manter o equilíbrio e a coesão social. A divisão do trabalho social não se refere, portanto, somente às atividades econômicas mesmo que o autor tenha afirmado que Por aumentar ao mesmo tempo a força produtiva e a habilidade do trabalhador, ela é condição necessária do desenvolvimento intelectual e material das sociedades; e a fonte da civilização. (DURKHEIM, 1999, p. 14)

Ela tem também uma função social, que é o que permite estreitar a interdependência entre os elementos que compõem a sociedade, possibilitando, assim, a criação da solidariedade social, de modo que a divisão do trabalho torna-se, cada vez mais, uma das bases fundamentais da ordem social (Durkheim, 1999). Essa divisão do trabalho social, mesmo com sua função social e sendo uma das bases da ordem, provoca consequências positivas e negativas, pois, podendo ser entendida como progresso, permite uma maior especialização e qualificação dos indivíduos no trabalho. O que possibilita que essa divisão do trabalho seja também uma via de realização pessoal. Além disso, ainda contribui para o aumento da força produtiva e para a habilidade no trabalho, permitindo um ágil e rápido desenvolvimento intelectual e material das sociedades, o que mantém o equilíbrio social. Contudo, pode levar também a uma diminuição da consciência coletiva, ou seja, uma excessiva especialização, o que poderia culminar em uma desagregação por meio do afrouxamento dos laços sociais.

Solidariedade mecânica A solidariedade mecânica estava presente nas sociedades ditas tradicionais, como as sociedades indígenas. Naquele cenário, a consciência coletiva reduzia as ações do indivíduo, que ajustava suas decisões em favor dos preceitos comuns, o que permitia uma coesão social mais forte e, ao mesmo tempo, uma vigia mais rigorosa quanto ao comportamento do indivíduo.

A11  Sociedade, consciências e direitos

Fonte: Wikimedia Commons

As sociedades embasadas na solidariedade mecânica não possuem significativa divisão do trabalho social, atribuindo, assim, um valor supremo à sociedade e aos seus interesses como um todo, tendo por base a indistinção e a indiferenciação dos indivíduos. Por isso, nessas sociedades, a solidariedade mecânica pode não conduzir à realização pessoal do indivíduo, devido à forte consciência coletiva.

Figura 01 - Sociedades indígenas, que segundo Durkheim são embasadas na solidariedade mecânica.

86


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Solidariedade orgânica

Fonte: Wikimedia Commons

Nas sociedades baseadas na solidariedade orgânica, há uma divisão do trabalho social que é marcada pela presença de uma forte consciência individual, ou seja, uma preocupação com os interesses dos indivíduos. Aqui, diferentemente das sociedades que têm uma solidariedade mecânica, vê-se um grande número de indivíduos, uma elevada densidade material e moral, sendo que a distinção entre os indivíduos se faz de acordo com os diferentes papéis desempenhados. A solidariedade orgânica pode surgir devido ao aumento demográfico, ao desenvolvimento tecnológico, à maior disponibilidade de mão de obra etc., o que pode levar ao enfraquecimento e até mesmo ao desaparecimento do coletivo e à fragmentação da sociedade. O que pode ser visto em nossas sociedades, em que a solidariedade orgânica está cada vez mais demarcada, é a diminuição significativa da consciência coletiva, como consequência da divisão do trabalho social. Cabe ainda ressaltar que os indivíduos, devido à especialização de suas habilidades, tornam-se mais interdependentes uns dos outros, já que cada um fornece serviços diferentes.

Os tipos de normas do direito indicam, para Durkheim, o tipo de solidariedade que predomina em uma sociedade, visto que o autor estabelecia correlações entre esses conceitos. Há dois tipos de direitos, um repressivo ou punitivo e outro chamado de restitutivo. O Direito repressivo ou punitivo tem a preocupação de punir aquele que não cumpre determinada norma social por meio da imposição de dor, humilhação ou privação de liberdade. Nessas sociedades, há a predominância da consciência coletiva. Como o criminoso descumpre alguma regra social importante, deve ser exposto a uma punição também severa. Esse direito é relacionado a sociedades de solidariedade do tipo mecânica. O Direito restitutivo, ao contrário, tem a preocupação de fazer com que as situações perturbadas sejam restabelecidas. Aqui, o criminoso deve reparar o dano com o intuito de reestabelecer a ordem. Nesse caso, como a consciência individual é predominante, acredita-se que o criminoso pode então restituir-se de suas infrações, já que não atingira um grande número de pessoas, como no caso da consciência coletiva que predomina nas sociedades de solidariedade do tipo mecânica. Com isso, podemos afirmar que se há a predominância do direito repressivo, uma maior quantidade de normas é mantida pela consciência coletiva, e se predomina o direito restitutivo, uma menor quantidade de normas diz respeito à sociedade em geral, prevalecendo, assim, a consciência individual. Referências bibliográficas DURKHEIM, Emile. Da divisão do trabalho social. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Figura 02 - Da Divisão Do Trabalho Social, de Émile Durkheim

Figura 03 - Exemplos de atividades, que, segundo Durkheim, são relacionadas com a solidariedade orgânica.

A11  Sociedade, consciências e direitos

Direito

87


para

Sociologia Questão 01. [C] A alternativa [C] contraria todas as outras. Consciência coletiva é um conceito criado por Durkheim para designar o conjunto de crenças e sentimentos de toda uma sociedade, estando presente, ao mesmo tempo, nos indivíduos singulares (ainda que não seja produto das consciências individuais) e no conjunto da sociedade.

que

ação

Questão 02. [A] A alternativa [A] é a única incorreta. Em uma sociedade baseada na solidariedade orgânica, os indivíduos são muito diferenciados entre si, o que significa que a consciência coletiva perde espaço para a consciência individual. Isso é o inverso do que ocorre em uma sociedade de solidariedade mecânica.

Exercícios de Fixação

ons-

01. (UFU MG) Assinale a alternativa incorreta. Sobre o conceito de consciência coletiva em Durkheim, podemos afirmar que

nizavisão à so-

a) é o conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, que formam um sistema determinado e com vida própria. b) no interior de qualquer grupo ou sociedade, são observadas formas padronizadas de conduta e de pensamento. c) essa se baseia na consciência dos indivíduos singulares e de grupos específicos e não está espalhada por toda a sociedade. d) essa constitui “o tipo psíquico da sociedade”, não sendo o produto das consciências individuais, mas algo diferente, que se impõe aos indivíduos, perdurando através das gerações. 02. (UFU MG) Uma das maiores contribuições de Émile Durkheim é o estudo teórico das formas de solidariedade que distinguem as coletividades, numa visão evolutiva do seu desenvolvimento. Analise as alternativas abaixo e marque a única que descreve adequadamente a relação entre consciência individual e consciência coletiva, em uma situação de solidariedade orgânica. a) A consciência coletiva reduz sua abrangência, deixando descoberta parte da consciência individual, em que se desenvolvem as funções distintas e especializadas, que constituem a base da solidariedade. b) A consciência individual é recoberta em sua totalidade pela consciência coletiva, o que assegura o atendimento das necessidades comuns da vida social e a permanência dos laços que unem todos os indivíduos. c) A consciência coletiva desaparece totalmente e a consciência individual se impõe como uma realidade geral; a solidariedade torna-se apenas uma pausa nas relações de competição individualista e desenfreada. A11  Sociedade, consciências e direitos

d) A consciência individual torna-se mais dependente da consciência coletiva e é esta dependência que dá conformação à solidariedade, em todas as esferas da vida em sociedade e em todas as épocas. 03. (UFU MG) Com relação aos conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, na obra de Ëmile Durkheim, assinale a alternativa incorreta. a) A solidariedade orgânica é própria dos ‘organismos’ sociais pós-capitalistas.

88

Questão 03. [A] A alternativa [A] é a única incorreta. A solidariedade orgânica já está presente na sociedade capitalista do tempo de Durkheim, na passagem do século XIX para o século XX.

b) A solidariedade mecânica é a forma de coesão própria das sociedades pré-capitalistas. c) A solidariedade orgânica define-se como aquela em que a coesão se dá pela diferenciação das funções. d) A solidariedade mecânica está assentada na semelhança de funções. 04. (UFU MG) Com relação ao conceito de solidariedade social, de acordo com a sociologia de Durkheim marque a alternativa incorreta. a) A solidariedade social, por meio da instrução pública, substitui a piedade religiosa por uma espécie de piedade social. b) A solidariedade social é a responsável pela coesão entre os membros de um grupo e varia segundo o modelo de organização social. c) A solidariedade social relaciona-se ao sistema de ideias, sentimentos e hábitos produzido pelos grupos de que participam os indivíduos. d) A solidariedade social depende da maneira pela qual cada um dos membros de um grupo venha a manifestá-la. 05. (UEL PR) Segundo Émile Durkheim “[...] constitui uma lei da história que a solidariedade mecânica, a qual a princípio é quase única, perca terreno progressivamente e que a solidariedade orgânica, pouco a pouco, se torne preponderante”. Fonte: DURKHEIM, É. A Divisão Social do Trabalho, In Os Pensadores. Tradução de Carlos A. B. de Moura. São Paulo: Abril Cultural, 1977, p. 67.

Por esta lei, segundo o autor, nas sociedades simples, organizadas em hordas e clãs, prevalece a solidariedade por semelhança, também chamada de solidariedade mecânica. Nas organizações sociais mais complexas, prevalece a solidariedade orgânica, que é aquela que resulta do aprofundamento da especialização profissional. De acordo com a teoria de Durkheim, é correto afirmar que: a) As sociedades tendem a evoluir da solidariedade orgânica para a solidariedade mecânica, em função da multiplicação dos clãs. b) Na situação em que prevalece a solidariedade mecânica, as sociedades não evoluem para a solidariedade orgânica. c) As sociedades tendem a evoluir da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica, em função da intensificação da divisão do trabalho. d) Na situação em que prevalece a divisão social do trabalho, as sociedades não desenvolvem formas de solidariedade. e) Na situação em que prevalecem clãs e hordas, as sociedades não desenvolvem formas de solidariedade e, por isso, tendem a desaparecer progressivamente. Questão 04. [D] O conceito durkheimiano de solidariedade social está relacionado com o tipo de divisão do trabalho respectivo da sociedade. A solidariedade pode ser mecânica (em sociedades de baixa divisão do trabalho) ou orgânica (em sociedades de alta complexidade da divisão do trabalho) e é sempre responsável pela coesão do grupo social.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. As afirmativas [08] e [16] estão incorretas. Foi Max Weber que analisou o pensamento de Benjamin Franklin, em seu livro A Ética protestante e o espírito do capitalismo. Para Durkheim, o trabalho é um fato social em todas as sociedades, desde as “primitivas” até as complexas.

Questão 02. [B] Para Durkheim, a coesão da sociedade complexa é garantida pelo tipo de solidariedade nela existente: a solidariedade orgânica. Nela, há uma complexa divisão do trabalho, que garante que cada indivíduo ocupe um local importante na vida social. Assim, segundo o autor, as classes sociais não se tornam um problema a priori.

Exercícios Complementares

Trecho do último discurso de Charlie Chaplin no final do fil-

e) O equilíbrio e a coesão social produzidos pela crescente divisão do trabalho decorrem das vontades e das consciências individuais.

me O grande ditador, 1940. www.culturabrasil.org/discurso _grande_ditador_chaplin.htm.

03. (Unioeste PR) Émile Durkheim é considerado um dos

A partir da afirmação acima e de conhecimentos em socio-

fundadores das Ciências Sociais e entre as suas diversas

logia, assinale o que for correto: 01. Em sociedades como a nossa, organizadas a partir de

obras se destacam As Regras do Método Sociológico, O

relações produtivas nas quais os trabalhadores detêm apenas sua força de trabalho e os empresários capitalistas são donos dos recursos produtivos, Karl Marx identificou um fenômeno chamado exploração de mais valia. 02. Sociedades organizadas a partir de divisão social do trabalho, nas quais há especialização de atividades e funções, expressam um tipo de vínculo que Émile Durkheim chamou de solidariedade orgânica. 04. Max Weber defendeu que as ações sociais nas sociedades industrializadas são predominantemente orientadas em relação a seus fins, fato que denominou racionalidade. 08. O bordão “tempo é dinheiro”, cunhado por Benjamin Franklin, é recuperado por Émile Durkheim em seus trabalhos e se refere aos bons princípios de organização social da sociedade moderna. 16. Segundo Émile Durkheim, o trabalho não pode ser um fato social enquanto a sociedade não alcançar o pleno emprego. 02. (Uel PR) A cidade desempenha papel fundamental no pensamento de Émile Durkheim, tanto por exprimir o desenvolvimento das formas de integração quanto por intensificar a divisão do trabalho social a ela ligada. Com base nos conhecimentos acerca da divisão de trabalho social nesse autor, assinale a alternativa correta. a) A crescente divisão do trabalho com o intercâmbio livre de funções no espaço urbano torna obsoleta a presença de instituições. b) A solidariedade orgânica é compatível com a sociedade de classes, pois a vida social necessita de trabalhos diferenciados. c) Ao criar seres indiferenciados socialmente, o “homem massa”, as cidades recriam a solidariedade mecânica em detrimento da solidariedade orgânica. d) O efeito principal da divisão do trabalho é o aumento da desintegração social em razão de trabalhos parcelares e independentes.

Suicídio e Da Divisão do Trabalho Social. Sobre este último estudo, é correto afirmar que a) a divisão do trabalho possui um importante papel social. Muito além do aumento da produtividade econômica, a divisão garante a coesão social ao possibilitar o surgimento de um tipo específico de solidariedade. b) a solidariedade mecânica é o resultado do desenvolvimento da industrialização, que garantiu uma robotização dos comportamentos humanos. c) a solidariedade orgânica refere-se às relações sociais estabelecidas nas sociedades mais tradicionais. O nome remete ao entendimento da harmonia existentes nas comunidades de menor taxa demográfica. d) indiferente dos tipos de solidariedade predominantes, o crime necessita ser punido por representar uma ofensa às liberdades e à consciência individual existente em cada ser humano. e) a consciência coletiva está vinculada exclusivamente às ações sociais filantrópicas estabelecidas pelos indivíduos na contemporaneidade, não tendo nenhuma relação com tradições e valores morais comuns. 04. (Unicentro PR) Um dos livros muito conhecidos do sociólogo Emile Durkheim é o Da divisão do trabalho social, obra publicada em 1893. Nesse livro, o autor identifica o surgimento de um novo método de trabalho que conduzia a uma nova fonte de interação social. Sobre a função da divisão do trabalho em Durkheim, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F, para as falsas. A11  Sociedade, consciências e direitos

01. (Uem PR) “Não sois máquinas! Homens é que sois!”

( ) A especialização das profissões e a divisão do trabalho baseiam-se em uma ética asceta que leva os indivíduos a buscarem acumulação e eficiência e a evitarem o desperdício e a preguiça. ( ) Os resultados econômicos da divisão do trabalho são de menor importância, pois o efeito moral, o sentimento de solidariedade que essa produz é a sua verdadeira função.

Questão 03. [A] A divisão do trabalho é importante por favorecer a coesão social e a solidariedade. Em sociedades tradicionais, a solidariedade é do tipo mecânico, enquanto que em sociedades modernas o que existe é a solidariedade de tipo orgânico. Vale ressaltar que as alternativas [D] e [E] explicam, de forma incorreta, a função do crime e o conceito de consciência coletiva.

89


Sociologia Questão 06. Pensar historicamente a questão do trabalho, devemos pensar como essa atividade humana desenvolveu-se e organizou-se nas diferentes sociedades, como bem demonstra Aristóteles, a Antiguidade Clássica e Durkheim. Para melhor entender, ainda, que muitas são as perspectivas, o trabalho existe para satisfazer as necessidades humanas, desde as mais simples, como garantir o alimento e a moradia ou as mais complexas, como o lazer e a parte espiritual. A divisão social do trabalho nos ajuda a entender como os seres humanos se organizam em sociedade e de seus valores em relação a isto.

( ) Um arranjo social com classes dominantes e classes domi-

uma solidariedade mecânica, fundamentada na consciên-

nadas em constante conflito entre si é uma das principais

cia coletiva, para uma solidariedade orgânica, fundamenta-

implicações da divisão social do trabalho. ( ) A divisão do trabalho possibilita a coesão social, garantindo o funcionamento harmônico do organismo social. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a

[D] A alternativa [D] é a única correta. A primeira afirmação é falsa porque se refere à visão de Max Weber em seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Já a terceira afirmação corresponde ao pensamento marxista a respeito da divisão do trabalho na sociedade moderna.

a) V V V F b) F V V V c) F V F F d) F V F V

da na divisão social do trabalho. 02. Na Antiguidade Clássica, o trabalho manual era desvalorizado, porque era representativo das classes inferiores, enquanto que a elite social, desobrigada de garantir a própria sobrevivência, dedicava-se ao “ócio digno” e desenvolvimento do intelecto. 04. Para Karl Marx, a sociedade comunista deverá instaurar uma nova divisão social do trabalho, capaz de incrementar a produção, tornando mais eficiente o trabalho social. 08. O fordismo e o taylorismo extraíram da sociologia de Émile

e) V F F F

Durkheim os princípios teóricos e metodológicos que fun-

05. (Unicentro PR) “Durkheim presenciou algumas das mais importantes criações da sociedade moderna, como a invenção da

damentaram a organização de um processo de trabalho, cuja divisão chega ao máximo de fragmentação.

eletricidade, do cinema, dos carros de passeio, entre outros.

16. Para Aristóteles, a divisão social do trabalho é organiza-

No seu tempo, havia um certo otimismo causado por essas in-

da pela escolha de um regime político que fundamenta

venções, mas Durkheim também percebia entraves nessa so-

o ideal de justiça na honra do rei (monarquia), na virtu-

ciedade moderna: eram os problemas de ordem social.”

de dos melhores (aristocracia) ou na igualdade entre os

(Sociologia / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006, p. 33).

Considerando a teoria sociológica elaborada por esse autor e seu estudo sobre a divisão do trabalho social, assinale qual al-

livres (democracia). 07. (Uel PR) “Três grandes dimensões fundamentam o vínculo social. Primeiro, a complementaridade e a troca: a divisão

ternativa está correta.

do trabalho social cria diferenças com base na complemen-

a) Para Durkheim a divisão do trabalho é antes de tudo um

taridade, o que permite aumentar as trocas. Em segundo lu-

conceito que explica as desigualdades na moderna socieda-

gar, o sentimento de pertença à humanidade que nos leva a

de capitalista.

reforçar nossos vínculos com os outros seres humanos: força

b) A divisão do trabalho social para Durkheim expressa a con-

da linhagem, do vínculo sexual e familiar; afirmação de um

tradição existente entre as diferentes funções da sociedade

destino comum da humanidade por grandes sistemas reli-

como um todo.

giosos e metafísicos. Por fim, o fato de viver junto, de parti-

c) Para Durkheim a divisão do trabalho social resulta das re-

lhar uma mesma cotidianidade; a proximidade surge então

lações de cooperação entre as diferentes atividades sociais

como produtora do vínculo social e o camponês sedentário

que integram a sociedade.

como o ser social por excelência.”

d) Para Durkheim a divisão do trabalho permite perceber como

(BOURDIN, Alain. A questão local. Rio de Janeiro: DP&A, 2001 p. 28.)

cada função social só se realiza na sua relação de conflito com uma outra função social. e) Para Durkheim só podemos entender a divisão do trabalho social se buscamos entender como são regulamentadas as A11  Sociedade, consciências e direitos

classes produtivas. 06. (Uem PR) A divisão social do trabalho é um fator importante para a concepção e análise da ordem social, tanto do ponto de vista sociológico, com o estudo das relações sociais do trabalho, quanto do ponto de vista filosófico, a partir do conceito de justiça e a finalidade da práxis política. Sobre a divisão social do trabalho, assinale o que for correto.

reto afirmar. a) A divisão do trabalho social na sociedade contemporânea desagrega os vínculos sociais. b) Os sistemas religiosos e metafísicos são fatores de isolamento social, por resultarem de criações subjetivas dos indivíduos. c) O cotidiano das pequenas cidades e do mundo campesino favorece a criação de vínculos sociais. d) Pela ausência da cotidianidade, as grandes metrópoles deixaram de ser lugares de complementaridade e de trocas.

01. Para Émile Durkheim, o crescimento do volume populacio-

e) O forte sentimento de pertencer à humanidade desmantela

nal e a intensificação da densidade demográfica provocam

a noção de comunidade e minimiza o papel da afetividade

mudanças no caráter da solidariedade social, que passa de 90

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é cor-

Questão 05. [C] Da divisão do trabalho social é uma das importantes obras de Émile Durkheim. A divisão do trabalho está relacionada com o tipo de solidariedade sobre a qual a sociedade se constitui. Nas sociedades de solidariedade orgânica, há uma grande divisão do trabalho, enquanto que nas sociedades de solidariedade mecânica, a divisão do trabalho é baixa.

nas relações sociais.

Questão 07. [C] Os vínculos sociais são criados mediante a complementaridade e a troca, mediante o sentimento de pertença à humanidade e a partilha da cotidianidade. Segundo o texto, isso se observa de forma bastante evidente na vida do camponês, sendo justamente por isso que a alternativa [C] está correta.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A12

ANOMIA SOCIAL, SUICÍDIO, DISTINÇÃO ENTRE NORMAL E PATOLÓGICO E EDUCAÇÃO Anomia Social O conceito de anomia social, segundo Durkheim, quer dizer ausência, quebra ou desintegração das normas sociais. Como já vimos a definição de solidariedade, que é responsável pela integração e equilíbrio social, a anomia é definida justamente pela ausência dessa solidariedade. Vale ressaltar, que o autor cunha o termo com o intuito de descrever as patologias sociais da sociedade moderna.

ASSUNTOS ABORDADOS n Anomia Social, Suicídio, distin-

ção entre Normal e Patológico e Educação n Anomia Social n Suicídio

n Distinção entre Normal e Patológico n Educação

Com a solidariedade em crise, o corpo social também adoece. Há conflitos de normas, valores e, assim, uma desintegração da sociedade. No cenário de uma situação anômica, os limites encontram-se fragilizados, quando existem. As referências e a forte consciência coletiva entram em declínio. Os indivíduos, frente a essa situação, perdem as referências e, com isso, não há mais o equilíbrio que a solidariedade impõe. Contudo, Durkheim destaca que a anomia social é um estado temporário. Serve como intermédio para transformações sociais. O enfraquecimento dos vínculos que uma situação anômica impõe pode gerar fenômenos trágicos, como o suicídio, por exemplo. A partir disso, em sua obra, O Suicídio, Durkheim analisou o suicídio enquanto fato social, demonstrando como a variação das taxas de suicídio dependem de fatores estritamente sociais.

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Sociologia

Fonte: Wikimedia Commons

Suicídio Ao fazer uma busca sobre o tema, há uma predominância no caráter e motivação individual e psicologizante do suicídio. É óbvio que não podemos negar que há uma motivação individual no ato, porém, ao demonstrar que o suicídio é um fato social, o autor recorre aos fatores sociais responsáveis pelo fenômeno. Para ele, há uma tendência suicidógena nas sociedades. Os indivíduos que se matam, apenas estão se rendendo a algo que está posto ali à espera de despertar. Segundo Durkheim, cada sociedade está predisposta a fornecer um número determinado de mortes voluntárias. O interesse da sociologia nesse fato social é, portanto, a análise dos fatores sociais que agem na sociedade. É a relação entre o indivíduo e a sociedade que determina as correntes suicidógenas. Com isso, o autor estabelece três tipos de suicídio. Para tal, ele voltou o olhar para o grau em que as pessoas se sentem integradas na estrutura da sociedade e em seu meio social como fatores sociais produtores do fenômeno, argumentando que as taxas de suicídio são afetadas pelos diferentes contextos sociais nos quais eles emergem.

Figura 01 - O Suicídio: estudo de sociologia, obra de Émile Durkheim

n

n

n

Suicídio egoísta: é um ato que reveste-se de individualismo extremo. Há uma individualização excessiva. Geralmente, é praticado por aqueles indivíduos que não se sentem integrados à sociedade ou/e às instituições sociais, como a família, por exemplo. Suicídio altruísta: é um ato em que o indivíduo está tomado pela obediência e força coercitiva do coletivo. Aqui, diferente do suicida egoísta, há a predominância do coletivo. Uma espécie de dever para com o outro. Temos os kamikazes japoneses, como exemplo desse suicídio. Suicídio anômico: é aquele que ocorre em uma situação de anomia social, como em um cenário de crise econômica, por exemplo. O desemprego pode ser uma das causas dessa crise, que faz o indivíduo cometer tal ato.

#DicaCine Sociologi A12  Anomia social, suicídio, distinção entre normal e patológico e educação

13 REASONS WHY Segundo a própria Ne�lix, na descrição da série, “Após o suicídio de uma colega, um colega de turma recebe fitas que revelam os motivos de sua decisão”. Na série, que se divide em 13 episódios, uma jovem que sofre problemas na escola vê no suicídio a única saída para o sofrimento pelo qual passa todos os dias, expressado tanto em agressões físicas, como verbais ou psíquicas. Um drama que envolve bullying, assédio sexual e estupro culminam no suicídio da adolescente, que corta os próprios pulsos e é encontrada sem vida na banheira de casa pelos pais. A série é clara para exemplificar as causas sociais do suicídio da adolescente. Uma delas, por exemplo, é o bullying. Muitas vezes, tratado como uma fraqueza de adolescentes que não suportam uma “zoação”, hoje é encarado como um exercício de poder que tem consequências negativas para quem observa, para quem sofre e para quem agride. No caso da personagem, há o que se chama de bullying direto, que é o ato de envolver apelidos, agressões, ameaças, podendo levar a vítima à difamação e à exclusão. Com isso, percebemos que no caso da personagem, por exemplo, podemos encaixá-la no tipo de suicídio egoísta, pois por mais que a personagem tente, ela não consegue se integrar no mundo escolar ao qual ela pertence. Pôster com os personagens principais da série. Ao centro, Hannah Baker.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Distinção entre Normal e Patológico Os fato sociais, caracterizados por serem coercitivos, gerais e exteriores ao indivíduo, após serem observados de forma objetiva e neutra, ou seja, enquanto coisas, demonstram ainda um caráter normal ou patológico. O normal seria caraterizado pela ocorrência em várias sociedades, pelo seu caráter geral. O patológico, por sua vez, é quando o número do fato vai além do frequente e desequilibra a ordem social. Durkheim (2007, p. 65) estabelece algumas regras para verificação do fenômeno: 1) Um fato social é normal para um tipo social determinado, considerado numa fase determinada de seu desenvolvimento, quando ele se produz na média das sociedades dessa espécie, consideradas na fase correspondente de sua evolução. 2) Os resultados do método precedente podem ser verificados, mostrando-se que a generalidade do fenômeno se deve às condições gerais da vida coletiva no tipo social considerado. 3) Essa verificação é necessária quando esse fato relaciona-se a uma espécie social que ainda não consumou sua evolução integral.

É claro que o crime pode ter características anormais, quando ele é caracterizado como patológico, mas isso só é possível se ele atinge um índice exagerado, por exemplo. O crime é, portanto, necessário, já que está relacionado a condições fundamentais de toda vida social, demonstrando, assim, sua utilidade. Algumas condições de evolução da moral e do direito só é possível porque o crime existe. Ele não apenas implica um caminho aberto às mudanças necessárias, mas também nos prepara para elas. “Quantas vezes, com efeito, o crime não é senão uma antecipação da moral por vir, um encaminhamento em direção ao que será!” (DURKHEIM, 2007, p. 72).

Figura 02 - O crime, segundo Durkheim, pode ser visto como um fato normal dentro das regras que ele estabelece.

Com isso, Durkheim ainda dá uma solução para quando os fatos sociais se tornarem patológicos. Segundo o autor, há que se trabalhar para manter o estado normal, para restabelecê-lo se for perturbado, para redescobrir suas condições se elas vierem a mudar. O dever do homem de Estado não é mais impelir violentamente as sociedades para um ideal que lhe parece sedutor, mas seu papel é o do médico: ele previne a eclosão das doenças mediante uma boa higiene e, quando estas se manifestam, procura curá-las. (DURKHEIM, 2007, p. 76).

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Fonte: Wikimedia Commons

A12  Anomia social, suicídio, distinção entre normal e patológico e educação

Assustaria dizer que o crime é um fato normal? Aparentemente sim, mas Durkheim, aplicando o crime às regras propostas, o situa como um fato normal. Para ele, o crime não só pode ser observado na maior parte das sociedades, como também em todas as sociedades de todos os tipos. Está aí um primeiro dado que mostra sua normalidade. Não há nenhuma sociedade onde não exista nenhum tipo de criminalidade. “Não há, portanto, fenômeno que apresente da maneira mais irrecusável todos os sintomas da normalidade, já que ele se mostra intimamente ligado às condições de toda vida coletiva.” (DURKHEIM, 2007, p. 67).


Sociologia

Em uma última tentativa para deixar essa distinção clara, como já vimos, Durkheim analisa o suicídio enquanto fato social. Para ele, tal ato também pode ser considerado normal, na medida em que, como já dito, cada sociedade está predisposta a fornecer um número determinado de mortes voluntárias. Depois dessas exposições, ficou visível que um fato social torna-se patológico quando atinge grandes dimensões e ameaça a ordem e o equilíbrio da sociedade. Do mesmo modo que o crime é normal, o suicídio também o é. Ele só se torna patológico se, por exemplo, começar a ter um número elevado de mortes voluntárias, que podem afetar, assim, a normalidade e a saúde da sociedade, trazendo o caos e o desequilíbrio social.

Educação Durkheim, a partir de sua obra Educação e Sociologia, tem influenciado de forma significativa as reflexões sobre a Sociologia da Educação. Primeiramente, podemos conceituar o que o autor entende por educação: A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre aquelas que não estão ainda maduras para a vida social. Tem por objeto suscitar e desenvolver na criança um certo Figura 03 - Obra Educação e Sociologia, de Émile Durkheim

número de estados físicos, intelectuais e morais, que requerem dela, tanto a sociedade política em seu conjunto, quanto o meio especial ao qual ela está destinada em particular. (DURKHEIM, 2011, p. 53/54)

Com isso, percebemos que Durkheim via na educação uma maneira de atender às necessidades sociais de cada época e de cada sociedade que a pratica, na medida em que a educação molda os seres humanos, ensinando-os a ser e agir para suprir a necessidade da sociedade em que estão inseridos. A educação é o meio pelo qual a sociedade prepara os indivíduos para a vida adulta. Dessa forma, Durkheim a vê como uma ação social que cumpre uma função social. Por isso, logo após o período do que chamamos de socialização primária, que acontece no seio familiar, a educação é pensada como algo que foi e está a todo instante sendo construído no espaço escolar. A12  Anomia social, suicídio, distinção entre normal e patológico e educação

O autor elabora sua teoria da educação a partir de uma socialização metódica das gerações novas. Essa socialização metódica corresponde à necessidade para toda sociedade de assegurar as bases de sua continuação. Sabendo-se que uma das funções sociais da educação é integrar o indivíduo à sociedade, vale destacar que ela possui um duplo caráter: é singular e múltipla simultaneamente. É singular no sentido de que deve orientar normas e ideias que fazem parte do meio social ao qual o indivíduo pertence, e que são gerais. Com isso, garante um equilíbrio e uma consciência coletiva que se torna perene por meio da transmissão desses costumes e da moral. É múltipla também, porque além de transmitir valores comuns, ela transmite uma somatória de conhecimentos específicos, que podem variar, por exemplo, de profissão para profissão. A educação, que opera desde o nascimento na criança, é sistematizada na escola por meio dessas características, a fim de integrar o indivíduo. A escola torna-se, portanto, o lugar central no que diz respeito à continuidade social. Durkheim também preocupa-se com a diferenciação entre educação e pedagogia. Se a educação é uma ação exercida por adultos, a pedagogia consiste na teorização. Assim, a prática fica por conta da educação e a teoria da pedagogia. Podemos pensar, dessa forma, que a pedagogia consiste em uma maneira de refletir sobre a educação. Com isso, Durkheim chama atenção para a articulação que deve existir entre a pedagogia e a educação. 94


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Vale destacar ainda, que Durkheim analisa também o papel social do Estado, enquanto um fato social. O Estado poderia aparecer como órgão responsável por manter o corpo social. Teria como função reestruturar e tutelar a moral social, que garante o equilíbrio. É tarefa do Estado organizar a sociedade por meio de interesses coletivos e sociais e não por meio de interesses individuais. A educação, já que cumpre um papel social, também deve ser livre das paixões individuais. São os valores morais da sociedade que devem ter uma função central no sistema de ensino. Podemos ver, portanto, a educação e a escola como reprodutores das vontades coletivas, reproduzindo, assim, a sociedade como um todo. Durkheim orienta que, por isso, a educação e o Estado devem trilhar caminhos bem próximos, pois tendo a educação essa função social, e sendo o Estado o único órgão livre dos interesses individuais – pelo menos na teoria, ele é o único capaz de organizar a educação com fins sociais. A exemplo disso, teríamos a Educação Pública. A escola, sendo um intermédio da educação, é o locus em que o Estado exerce esse controle por meio de supervisão que se dá por diversas formas, como por exemplo, no controle do que vai ou não escrito nos materiais didáticos distribuídos pelas instituições públicas. Isso assegura que a escola continue garantindo, assim, uma reprodução de normas e condutas chanceladas pelo Estado. Referências bibliográficas DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. DURKHEIM, Émile. O Suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Tradução Paulo Neves; revisão da tradução Eduardo Brandão. - 3ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2007.

A12  Anomia social, suicídio, distinção entre normal e patológico e educação

DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.

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Sociologia Questão 01. Émile Durkheim estabelece a existência de três tipos de suicídio: anômico, altruísta e egoísta. O anômico refere-se à ausência de regras que produzam a coesão social, o altruísta corresponde ao excesso de regulamentação, enquanto que o egoísta corresponde à falta de laços e integração social. É exatamente esse último tipo o que mais se aproxima ao caso da Baleia Azul.

Questão 02. As afirmativas [04] e [16] estão incorretas. A relação de dominação entre as classes sociais é tema da sociologia marxista. Já o estudo da finalidade da ação individual foi feito por Max Weber.

Exercícios de Fixação 01. (UFU MG) A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba alerta pais e responsáveis por crianças e adolescentes e os profissionais da educação e saúde em relação ao ‘jogo’ Baleia Azul, que propõe 50 desafios aos participantes e sugere o suicídio como última etapa. Disponível em: <http://www.tribunapr.com.br/noticias/curitiba-regiao/jogo-baleia-azul-deixa-curitiba-em-alerta/>. Acesso em: 22 abr. 2017.

Esse foi um dos alertas, nos últimos meses, relacionados ao “jogo Baleia Azul” e à possibilidade de suicídios de adolescentes (13 a 17 anos) ligadas a ele. Pode-se realizar uma relação desses possíveis suicídios com os tipos de suicídios de Durkheim, pois, para esse pensador, os indivíduos são determinados pela realidade coletiva. Assim, os suicídios gerados pelo “jogo” seriam classificados como: a) Suicídio egoísta. b) Suicídio anômico. c) Suicídio etnocêntrico. d) Suicídio cultural. 02. (Uem PR) “(...) Durkheim observa a coesão social, ou seja, o grau de integração de cada sociedade. Em sociedades que desenvolveram muito a divisão do trabalho predomina uma dinâmica dupla. Ao mesmo tempo em que ocorre uma diferenciação profissional, cria-se uma interdependência funcional entre os indivíduos.” (MACHADO, I. J. de R. et al. Sociologia hoje. São Paulo: Ática, 2013, p. 122).

A12  Anomia social, suicídio, distinção entre normal e patológico e educação

Considerando o trecho citado e conhecimentos sobre as perspectivas teórica e metodológica em Durkheim, assinale o que for correto. 01. A teoria de Durkheim destaca a regularidade e a funcionalidade dos fatos sociais. 02. Émile Durkheim estudou profundamente o suicídio e associou suas taxas de ocorrência aos graus de solidariedade social de diferentes grupos. 04. As relações entre classes sociais e processos de dominação na sociedade industrial são temas centrais na sociologia de Durkheim. 08. O método sociológico proposto por Durkheim pode ser aplicado ao estudo dos mais diversos fenômenos coletivos, tais como a moda, a religião e a educação. 16. O desenvolvimento de uma consciência individual e o problema da tomada de decisão subjetiva orientada por finalidades afetivas ou racionais são elementos que integram as teses sociológicas da análise de Durkheim. 03. (Unioeste PR) “Solidariedade orgânica” e “solidariedade mecânica” são conceitos propostos pelo sociólogo francês

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Questão 03. A alternativa [C] é a correta. A anomia corresponde a um desajuste dos indivíduos em relação à sociedade, não mais compartilhando formas de pensar, agir e sentir que lhe seriam próprias. Ainda que o consumismo exacerbado pudesse ser considerado anômico, a alternativa [D] não faz uma definição de anomia e, por isso, está incorreta.

Émile Durkheim (1858-1917) para explicar a ‘coesão social’ em diferentes tipos de sociedade. De acordo com as teses desse estudioso, nas sociedades ocidentais modernas, prevalece a ‘solidariedade orgânica’, onde os indivíduos se percebem diferentes embora dependentes uns dos outros. A lógica do mercado capitalista, entretanto, baseada na competição individualista em busca do lucro, pode corromper os vínculos de solidariedade que asseguram a coesão social e conduzir a uma situação de ‘anomia’. De acordo com os postulados de Durkheim, é CORRETO dizer que o conceito de “anomia” indica a) a necessidade de todos demonstrarem solidariedade com os mais necessitados. b) uma situação na qual aqueles indivíduos portadores de um senso moral superior devem se colocar como líderes dos grupos dos quais fazem parte. c) a condição na qual os indivíduos não se identificam como membros de um grupo que compartilha as mesmas regras e normas e têm dificuldades para distinguir, por exemplo, o certo do errado e o justo do injusto. d) o consumismo exacerbado das novas gerações, representado pelo aumento do número de shopping centers nas cidades. e) a solidariedade que as pessoas demonstram quando entoam cantos nacionalistas e patrióticos em manifestações públicas como os jogos das seleções nacionais de futebol. 04. (UFU MG) A concepção da Sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria do fato social. Seu objetivo é demonstrar que pode e deve existir uma Sociologia objetiva e científica, conforme o modelo das outras ciências, tendo por objeto o fato social. ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 336.

Em vista do exposto, assinale a alternativa correta. a) Durkheim demonstrou que o fato social está desconectado dos padrões de comportamento culturais do indivíduo em sociedade e, portanto, deve ser usado para explicar apenas alguns tipos de sociedade. b) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fundamental, é considerar os fatos sociais como coisas para serem analisadas. c) O estado normal da sociedade para Durkheim é o estado de anomia, quando todos os indivíduos exercem bem os fatos sociais. d) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui pequena divisão do trabalho social, como pode ser demonstrada pela análise dos fatos sociais da sociedade. Questão 04. [A] INCORRETA. O fato social corresponde a formas de pensar, agir e sentir, sendo assim, não está desconectado dos padrões de comportamento dos indivíduos. [B] CORRETA. O primeiro passo para se analisar os fatos sociais é considerá-los como coisas. [C] INCORRETA. O estado de anomia é o estado anormal da sociedade. [D] INCORRETA. A solidariedade orgânica é aquela própria de sociedades com grande divisão do trabalho social.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. A alternativa [B] é a única que está de acordo com o método durkheimiano de definição dos fatos sociais. O suicídio é um fato social porque se apresenta como tal, existindo em diversas sociedades de forma mais ou menos constante. Assim, ele existe tendo em si três características: coercitividade, exterioridade em relação aos indivíduos e generalidade.

Questão 02. A educação, segundo Durkheim, serve para que a sociedade desenvolva, nas gerações mais jovens, estados físicos, intelectuais e morais úteis e importantes para a manutenção da sociedade. Dessa maneira, faz-se com que tais valores e estados intelectuais sejam reproduzidos intergeracionalmente.

Exercícios Complementares

02. (Interbits) Uma das características da sociologia francesa é atentar para os processos de reprodução social. Ela pode se fazer presente tanto na reprodução das classes sociais, quanto na reprodução da forma de pensar da sociedade. A partir desse tipo de abordagem, explique o papel da educação para a reprodução da sociedade. 03. (Interbits) Leia o texto da música abaixo: Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do 8º andar. Onde a Dona Maria Mora, porque ela me adora e eu sempre posso entrar. Era bem o tempo de você chegar no T, olhar no espelho o seu cabelo, falar com o seu Zé. E me ver caindo em cima de você como uma bigorna cai em cima de um cartum qualquer. E aí, só nós dois no chão frio, De conchinha bem no meio fio, No asfalto, riscados de giz. Imagina que cena feliz. Quando os paramédicos chegassem e os bombeiros retirassem nossos corpos do Leblon, a gente ia para o necrotério, ficar brincando de sério, deitadinhos no bem-bom. Cada um feito um picolé, Com a mesma etiqueta no pé. Na autópsia daria pra ver Questão 03. Segundo Durkheim, a sociologia exerce uma coerção sobre os indivíduos. Ainda que os indivíduos possam imaginar várias atitudes, eles, em geral, acabam por não realizar aquelas que afrontam a sociedade. No caso da música, a pessoa em questão não realizou o suicídio justamente porque isso é um ato socialmente e moralmente reprovável.

Como eu só morri por você. Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do 8º andar, em vez disso eu dei meia volta e comi uma torta inteira de amora no jantar. Clarice Falcão – Oitavo Andar

Na música acima, a pessoa em questão imagina uma situação de suicídio. No entanto, ela não realiza esse suicídio e, no lugar, “come uma torta inteira de amora no jantar”. Segundo a sociologia de Durkheim a respeito das relações entre indivíduo e sociedade, explique por que as pessoas acabam por não realizar vários atos que imaginam. 04. (Interbits) Para que o caso Paulo Coelho revele o modo como cultura erudita e indústria cultural se relacionam no Brasil, é preciso articular dois movimentos. Em primeiro lugar, tentar uma explicação para o sucesso do escritor, centrando a análise no pacto ficcional que seus livros propõem aos leitores. Em seguida, tentar entender seu fracasso em encontrar assento no domínio culto da literatura brasileira, expresso sobretudo na reação da crítica. Parto de uma dupla recusa: a da atribuição mecânica do sucesso comercial ao propósito de autoajuda (gênero editorial, não literário) num contexto de ultra individualismo egoísta; e a do juízo de valor estético como critério absoluto do literário. PINHEIRO, F. A recusa acadêmica em entender Paulo Coelho. In: Folha de São Paulo, 20 jan. 2013. Adaptado. Disponível em: <http://folha.com/ no1217251> Acesso em 22 jan. 2013.

A12  Anomia social, suicídio, distinção entre normal e patológico e educação

01. (UFU MG) Durkheim caracteriza o suicídio – até então considerado objeto de estudo da epidemiologia, da psicologia e da psiquiatria – como fato social e, por isso, dotado das características da coercitividade, da exterioridade, da generalidade. É tomado, pois, como objeto de estudo sociológico, em virtude do fato de a) variar na razão inversa ao grau de integração dos grupos sociais de que faz parte o indivíduo, ou seja, quanto maior o grau de integração ao grupo social, mais elevada é a taxa de mortalidade-suicídio da sociedade. b) ser possível observar uma certa predisposição social para fornecer determinado número de suicidas, ou seja, uma tendência constante, marcada pela permanência, a despeito de variações circunstanciais. c) configurar-se como uma morte que resulta direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente de um ato executado pela própria vítima. d) depender, exclusivamente, do temperamento do suicida, de seu caráter, de seu histórico familiar, de sua biografia, uma vez que não deixa de ser um ato do próprio indivíduo.

A recusa evocada pelo autor do texto corresponde a uma importante consideração metodológica. Tomando como referência a metodologia proposta por Émile Durkheim, esse tipo de recusa está inserido na ideia de “tratar os fatos sociais como coisas” e corresponde a a) descartar sistematicamente todas as prenoções. b) distinguir os fatos sociais normais dos patológicos. c) dividir o fenômeno em quantas partes forem necessárias. d) cuidar para que os fenômenos se apresentem isolados de suas manifestações individuais. e) jamais tomar por objeto os fenômenos que não foram previamente definidos. 05. (UFU MG) Os crescentes casos de violência que, recorrentemente, têm ocorrido em nível nacional e internacional, diuturna e diariamente noticiados pela imprensa, convidam a pensar em uma situação de patologia social. No entanto, para Durkheim, o crime, ainda que fato lasQuestão 04. O sociólogo, quando rejeita certas explicações tradicionais para analisar um fenômeno, está justamente descartando as prenoções que podem interferir na sua abordagem sociológica. Sendo assim, somente a alternativa [A] está correta.

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Sociologia Questão 05. A alternativa [A] é a única correta. Para Durkheim, o crime pode ser compreendido de forma sociológica como um fato social. Além de trazer mudanças sociais, a sua existência ajuda a remodelar o ordenamento jurídico da sociedade, bem como esclarecer normas sociais.

timável, é normal, desde que não atinja taxas exageradas. É normal, porque existe em todas as sociedades; para o sociólogo, o crime seria, inclusive, necessário, útil. Sem pretender fazer apologia do crime, compara-o à dor, que não é desejável, mas pertence à fisiologia natural e pode sinalizar a presença de moléstias a serem tratadas. O crime seria, pois, para Durkheim, socialmente funcional, porque a) exerce um papel regulador, contribuindo para a evolução do ordenamento jurídico e possível advento de uma nova moral.

b) é fator de edificação e fortalecimento da solidariedade orgânica, que se estabelece nas sociedades complexas. c) legitima a ampliação do aparelho repressivo e classista do Estado burocrático nas sociedades baseadas no sistema capitalista. d) contribui para o crescimento de seitas e de religiões, nas quais as pessoas em situação de risco buscam proteção. 06. (Upe-ssa) Leia o texto a seguir: O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos especialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, em que ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de aplicação exclusiva.

A12  Anomia social, suicídio, distinção entre normal e patológico e educação

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 20.

O tema discutido no texto é uma preocupação nos estudos da Sociologia desde a sua consolidação como ciência. Nos trabalhos de Émile Durkheim, esse tema ganhou um destaque por considerar uma forma de integração dos indivíduos e de perpetuação dos hábitos e costumes do grupo, ou seja, dos fatos sociais. Sobre isso, assinale a alternativa que NÃO indica uma característica do tipo de transmissão do conhecimento. a) A aprendizagem acontece sem que haja um planejamento específico e, muitas vezes, sem que os sujeitos se deem conta. 98

Questão 06. A educação é, segundo Durkheim, a transmissão de formas de pensar, agir e sentir que as gerações mais velhas fazem em relação às mais novas. Ela não ocorre somente em ambientes formais, mas em diversas situações de socialização, exatamente como apresenta o texto da questão.

b) O processo de construção do conhecimento é permanente, contínuo e não previamente organizado, desenvolvendo-se ao longo da vida. c) O conhecimento transmitido permite ao sujeito resolver situações referentes aos processos de socialização e àqueles relacionados às imposições da natureza para sobrevivência do grupo. d) A percepção gestual, a moral e a comportamental, provenientes de meios familiares de amizade, de trabalho e de socialização midiática, fazem parte do rol de aprendizagens e conhecimentos. e) O conhecimento e a habilidade são transmitidos por meio de um currículo pré-definido em ambientes especializados, num processo conhecido como escolarização.

07. (Unimontes MG) Para o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917), a definição objetiva de suicídio diz respeito a “todo caso de morte que resulte direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, sabedora de que deveria produzir esse resultado”. Analisando o suicídio como um fenômeno coletivo, esse autor recorre a dados relativos ao número de suicídios de várias sociedades para encontrar regularidades e construir uma taxa específica para cada uma delas. Analisou variáveis que podem estar relacionadas ao suicídio, tais como sexo, crises políticas, crises econômicas, família, religião, escolaridade, entre outras. Com base no texto e nas proposições desse autor, analise as afirmativas a seguir: I. Esse autor estabeleceu a tipologia de suicídios como: egoísta, altruísta e anômico. O suicídio egoísta é característico nas sociedades tradicionais, enquanto o altruísta e o anômico são frequentes apenas nas sociedades modernas. II. Cada grupo social tem uma disposição coletiva para o suicídio, e desta derivam as inclinações individuais. O grau de coesão ou vitalidade das instituições às quais a pessoa está ligada pode preservá-la ou estimulá-la a cometer um ato dessa natureza. III. As sociedades religiosa, doméstica e política podem exercer sobre o suicídio uma influência moderadora. Ao se constituírem em sociedades integradas, elas protegem seus membros. A ultrapassagem, por parte de qualquer delas, de seu grau normal de intensidade pode expor alguns membros a formas de suicídio. IV. Certas condições de vida social revelam o estado moral da sociedade, podendo gerar correntes de egoísmo, de altruísmo ou de anomia que afligem a todos e, consequentemente, aumentam as taxas de suicídio. Estão CORRETAS as afirmativas a) II, III e IV, apenas. b) I, II e IV, apenas. c) I, II e III, apenas. d) I, III e IV, apenas. Questão 07. Somente a afirmativa [I] está incorreta. Qualquer um dos tipos de suicídios pode existir em uma sociedade moderna, dependendo das características sociais e do grau de coesão dessa mesma sociedade.


FRENTE

A

Questão 01. A alternativa [C] é a única correta. Mudanças como a Revolução Industrial criaram (ou intensificaram) problemas que foram estudados pela sociologia, como a desigualdade, a urbanização, a racionalização da sociedade e o individualismo.

SOCIOLOGIA Questão 02. Pode-se dizer que a Sociologia se constituiu como ciência a partir de correntes de pensamento que se propunham a conhecer o mundo social tendo como referência uma matriz científica de origem biológica. Dentre essas correntes, podemos destacar exatamente aquelas elencadas na alternativa [D].

Exercícios de Aprofundamento 01. (Unioeste PR) Os fenômenos sociais são objeto de investigação desde o surgimento da filosofia, na Grécia Antiga, por volta dos séculos VII e VI a.C.; mas a constituição de uma ciência específica da sociedade remonta apenas ao século XIX. Considerando-se o enunciado acima, assinale a alternativa que apresenta as principais causas que contribuíram para o nascimento da Sociologia na Europa do século XIX. a) As modificações no modo vigente de compreender os povos tribais na Europa do século XIX possibilitaram a constituição da Sociologia. b) As alterações na mentalidade religiosa na Europa do século XIX condicionaram o surgimento da Sociologia. c) As mudanças econômicas, políticas e sociais que moldaram as sociedades europeias do século XIX geraram perguntas (‘questão social’) que demandaram a constituição da Sociologia. d) As mutações ocorridas na filosofia e na moral das sociedades europeias do século XVI contribuíram para o surgimento da Sociologia. e) As transformações na sensibilidade estética das sociedades europeias do século XIX favoreceram o processo de formação da Sociologia.

03. (Interbits) A sociologia é uma ciência da modernidade. Assinale a alternativa que somente apresenta transformações que favoreceram o surgimento da sociologia. a) A Revolução Francesa, a Revolução Industrial, a Revolução Russa e a queda do muro de Berlim. b) O relativismo, o cientificismo e o crescimento das cidades. c) A Revolução Industrial, a Contrarreforma, a consolidação do capitalismo e o relativismo. d) O cientificismo, o crescimento das cidades, o expansionismo europeu e a Revolução Russa. e) A industrialização da Europa, consolidação do capitalismo, crescimento das cidades e o cientificismo. 04. (Interbits)

02. (Uema) A Sociologia como ciência da modernidade foi influenciada por várias mudanças decorrentes das revoluções burguesas, especialmente na Europa nos séculos XVIII e XIX. Para Bourdieu, a singularidade dos estudos sociológicos ocorre porque A sociologia descobre o arbitrário, a contingência, ali onde as pessoas gostam de ver a necessidade ou natureza. Descobre a necessidade, a coação social, ali onde se gostaria de ver a escolha, o livre arbítrio. Uma das características das realidades históricas é que sempre é possível estabelecer que as coisas poderiam ser diferentes, que são diferentes em outros lugares, em outras condições. O que se quer dizer é que, ao historicizar, a Sociologia desnaturaliza, desfataliza. BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica ao julgamento social. São Paulo: Edusp, 2007.

A partir das singularidades dos estudos sociológicos expressos na assertiva de Bourdieu, as correntes de pensamento que determinaram o aparecimento da Sociologia como ciência da modernidade são conhecidas como a) Nazismo, Criticismo, Anarquismo e Marxismo. b) Socialismo, Idealismo, Comunismo e Empirismo. c) Cristianismo, Naturalismo, Capitalismo e Fascismo. d) Iluminismo, Liberalismo, Racionalismo e Positivismo. e) Materialismo Histórico, Democracia, Feudalismo e Utilitarismo. Questão 03. A alternativa [E] é a única correta. Tanto a Revolução Russa quanto a queda do muro de Berlim e o relativismo são eventos que ocorreram após o surgimento da sociologia.

Na tirinha acima, quase todas as pessoas possuem um comportamento similar. Nesse caso específico, pode-se dizer que o consumo se tornou, segundo a abordagem durkheimiana, a) um fato social. b) uma anomia social. c) um erro social. d) uma morte social. e) uma modalidade social. 05. (UPE) A Sociologia nasce no século XIX com o objetivo de combater a visão de mundo predominante nesse período, defendendo o estudo da ação coletiva e social. Assim, o objeto de estudo da Sociologia é definido como um conjunto de relacionamentos, que os homens estabelecem entre si, na vida em Questão 04. O consumo universalizado pode ser considerado como um fato social, segundo a terminologia criada por Émile Durkheim.

99


Sociologia Questão 10. a) Sim. O uso de redes sociais como o Facebook tem-se mostrado geral, coercitivo e exterior aos indivíduos; uma vez que seu uso é cada vez mais intenso, as pessoas se sentem coagidas a participar dessas redes e isso independe do gosto delas por essa forma de comunicação. b) Ao caráter coercitivo. Uma vez fazendo parte dessa rede social, a pessoa encontra grandes dificuldades para deixar de utilizá-la. Isso está presente, na figura, pela ausência da porta de saída.

sociedade, num determinado contexto histórico. Na tirinha a seguir, percebe-se um objeto de estudo da Sociologia, que representa o modo de pensar, sentir e agir de um grupo social.

pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio espacial a que a criança, particularmente, se destine. DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1972, p.41.

Tomando em consideração a definição acima, é correto afirmar que, para Durkheim: a) a educação está relacionada ao processo de socialização. Através dela, as gerações mais novas internalizam as normas, valores e a moral da sociedade em que estão inseridas. Assinale a alternativa que contém a principal característica des-

Nesse sentido, é pela educação que a sociedade reproduz-se

se objeto de estudo. a) Igualdade

e se sustenta intergeracionalmente.

b) Individualismo c) Liberdade d) Coerção

b) a educação é essencialmente transformadora. A obra de Paulo Freire demonstra justamente como, através da educação, as gerações mais novas podem se emancipar e pensar autonomamente.

e) Solidariedade

c) a educação não ocorre somente nas escolas, dado que as

06. (UFU MG) Considere a maneira pela qual Émile Durkheim define os fatos sociais. ... consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõem. DURKHEIM Émile. As Regras do Método Sociológico. 9ª Ed. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1978. p. 3.

Marque a alternativa correta. a) De acordo com Durkheim, cabe apenas à consciência coletiva e às sanções repressivas garantirem a solidariedade das sociedades modernas. b) Segundo Durkheim, as sanções repressivas são as únicas compatíveis com o tipo de solidariedade característico das

escolas são uma invenção moderna. Antes dela, a educação ocorria, sobretudo, no ambiente do trabalho. d) toda forma de educação é contrária aos interesses da criança. A criança naturalmente quer brincar e se divertir. A escola acaba por tolher das crianças a sua pureza, obrigando-as a estudarem e assumirem responsabilidades que não são condizentes à sua faixa etária. e) a educação tende a fazer com que a sociedade se modifique, uma vez que os valores transmitidos às gerações mais novas são diferentes daqueles que as gerações mais antigas receberam. 10. (Interbits)

sociedades modernas. c) Para Émile Durkheim, as sanções restitutórias ganham importância crescente à medida que a divisão social do trabalho torna-se o fator por excelência da solidariedade social. d) Conforme Durkheim, é a divisão social do trabalho que garante a coesão social e moral das sociedades primitivas. 07. (UFU) Explique a função da divisão do trabalho social nas socieFRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

dades complexas, segundo a concepção durkheimiana. 08. (Interbits) Uma das principais indicações do método sociológico, segundo Émile Durkheim, é a de tratar os fatos sociais como coisas. O que significa esse tipo de indicação? Por que ela é tão importante para a sociologia durkheimiana? 09. (Interbits) Leia o texto a seguir. A educação é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados 100

Questão 07. A divisão do trabalho social em uma sociedade complexa está relacionada com a forma de solidariedade típica dessa sociedade: a solidariedade orgânica. Nesse tipo de sociedade, os indivíduos são altamente diferenciados entre si. Dessa forma, a divisão do trabalho serve para manter a coesão social, na medida em que coloca cada indivíduo em um papel em relação ao funcionamento da sociedade, da mesma forma como um membro possui uma função específica em um organismo.

A montagem acima faz uma sátira a respeito do uso do Facebook, uma das principais redes sociais da contemporaneidade. Tendo em conta essa crítica, responda: a) O uso de redes sociais na internet pode ser considerado um fato social? Justifique sua resposta. b) Qual dos três aspectos do fato social a figura faz referência de forma mais marcante? Por quê? Questão 08. Ao tratar os fatos sociais como coisas, Durkheim procura reivindicar à sociologia o status de ciência. Os fatos sociais como coisas são diferentes das ideias e das ideologias. Eles se tornam um fenômeno passível de compreensão racional e científica.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 11. [D] A questão permite ao aluno relacionar conceitos da sociologia durkheimiana com elementos constitutivos da sociedade contemporânea. Este é, portanto, um bom exercício sociológico e pedagógico. Dentre as afirmativas apresentadas, somente a III não pode ser interpretada mediante o conceito de solidariedade orgânica. Segundo esta concepção durkheimiana, a solidariedade numa sociedade moderna ocorre mediante uma complexa divisão do trabalho que valoriza a coesão social. De fato, na afirmativa I o que se observa é a exaltação das instituições e dos interesses da Nação, na afirmativa II existe uma preocupação com a colaboração com o Estado visando à divisão do trabalho e solução de problemas e, por fim, a afirmativa IV valoriza os vínculos sociais constituídos a partir da solidariedade de interesses econômicos. Portanto, somente a alternativa [D] está correta.

(Adaptado de: RODRIGUES, Alberto T. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p.27-28.)

Considere as afirmativas a seguir, que apresentam artigos e parágrafos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT- Edição de 1988) e da Constituição de 1988. I. “[São condições para o funcionamento do Sindicato:] a proibição de qualquer propaganda de doutrinas incompatíveis com as instituições e os interesses da Nação [...]”. II. “[São prerrogativas dos Sindicatos:] colaborar com o Estado, como órgãos técnicos e consultivos, no estudo e solução dos problemas que se relacionam com a respectiva categoria ou profissão liberal”. III. “[Dos direitos e deveres individuais e coletivos:] a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento”. IV. “[Da Organização Sindical:] A solidariedade de, interesses econômicos dos que empreendem atividades idênticas, similares ou conexas constitui o vínculo social básico que se denomina aqui categoria econômica”. Remetem ao conceito de solidariedade orgânica, apenas as afirmativas: a) I e III. b) I e IV. c) II e III. d) I, II e IV. e) II, III e IV. 12. (Uem PR) A sociologia surge, como disciplina, no período compreendido entre o final do século XIX e o início do século XX. Esse processo está relacionado a revoluções sociais, políticas, culturais e econômicas que afetaram profundamente as sociedades influenciadas pelas ideias ocidentais, mas também está fortemente associado a transformações ocorridas na produção de conhecimento sobre o humano. Nesse sentido, é correto afirmar que: 01. A compreensão dos fenômenos sociais levou ao entendimento de que a sociologia é capaz de explicar qualquer fenômeno relacionado aos seres humanos a partir de causas Questão 12. A sociologia, atualmente, é considerada como uma disciplina artesanal. No entanto, em seu início, se acreditava que ela seria mais tecnicista, opinião que já foi descartada. Com relação ao seu objeto de estudo, vale ressaltar que ela pode procurar compreender tudo o que é resultado da ação humana, inclusive valores.

02.

04.

08. 16.

que emanam do mundo social e do mundo natural nos aspectos em que tal fenômeno é afetado pela ação humana. Crença religiosa, pobreza, justificativa para existência de elites e privilegiados, submissão dócil de alguns grupos sociais a outros, machismo, preconceito e xenofobia são temas da sociologia. No futuro, a sociologia, como disciplina de caráter fortemente artesanal, será substituída por abordagens mais tecnicistas, tais como a engenharia social, a econometria e a sociobiologia. Estrutura, função, valores e classes sociais são categorias utilizadas pela sociologia para elaborar suas análises. Valores religiosos, afetivos, estéticos e morais dizem respeito a escolhas individuais e, portanto, não são analisados pela sociologia.

13. (Uem PR) Ao estudar as estatísticas de suicídio do final do século XIX, Émile Durkheim propõe uma análise sociológica desse fenômeno enquanto fato social. Sobre esse assunto, assinale o que for correto: 01. Para Durkheim, os casos de suicídio indicam a existência de estados mentais de tormento e confusão que podem ser estudados pela Sociologia quando se analisa cada situação individualmente. 02. De acordo com Durkheim, quando se observa o suicídio em sua regularidade e em sua periodicidade é possível perceber que suas causas são sociais e, portanto, exteriores aos indivíduos. 04. Segundo Durkheim, o interesse da Sociologia na análise do suicídio não está nos motivos pessoais que levam alguém a praticar tal ato, mas no modo como a sociedade produz e se relaciona com tal fenômeno. 08. Durkheim observa que a anomia social – um estado gerado pela ausência de regras na sociedade – pode produzir nos indivíduos condições sociais que potencializam a prática do suicídio. 16. Conforme Durkheim, os fatos sociais podem ser tratados como coisas que ficam no inconsciente das pessoas e distorcem o senso subjetivo da realidade, levando até mesmo ao suicídio. 14. (Interbits) Émile Durkheim pode ser considerado como um dos fundadores da sociologia. Ele desenvolveu não somente estudos sociológicos, como conseguiu criar uma metodologia e também uma disciplina universitária responsável por desenvolver suas linhas de pesquisa. Para provar a relevância da sociologia, ele resolveu estudar questões que tradicionalmente seriam relegadas a outras áreas do conhecimento, entre elas o suicídio. Explique por que, para Durkheim, é possível se fazer uma análise sociológica do suicídio.

Questão 14. Segundo Durkheim, todo objeto de estudo da sociologia deve ser um fato social. Para ele, os fatos sociais devem ser exteriores aos indivíduos, exercerem coerção sobre eles e serem gerais. O suicídio é o fato individual por excelência. Durkheim se preocupou em estudá-lo justamente para demonstrar que até mesmo esse tipo de fato também tem uma componente social (e não somente psicológica). Assim, Durkheim encontrou aquilo que chamou de correntes suicidógenas, que demonstram que o suicídio varia conforme fatores sociais. Ou seja, é um fato social e pode ser compreendido a partir da sociologia.

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FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

11. (UEL PR) Emile Durkheim observa que uma condição fundamental para que a sociedade possa existir é a presença de um consenso social. Pois sem consenso não há cooperação entre os indivíduos e, portanto, não há vida social. Este consenso é garantido pelo meio moral que compartilhamos, o qual, por sua vez, é produzido pela cooperação entre os indivíduos através de um processo de interação que Durkheim chamou de divisão do trabalho social. Desse modo, conforme o tipo de divisão do trabalho social que predomina na vida coletiva numa determinada época, tem-se um tipo diferente de solidariedade entre os indivíduos. Durkheim destaca dois tipos de solidariedade: a mecânica e a orgânica. No Brasil, por exemplo, nota-se a influência das ideias positivistas em boa parte de sua legislação.


FRENTE

A Karl Marx e Friedrich Engels na gráfica da “Gazeta Renana”, em Colônia, Alemanha - por E. Chapiro


Fonte: Wikimedia Commons

SOCIOLOGIA Por falar nisso “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que culminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira ou pela destruição das duas classes em conflito. Nas mais remotas épocas da história, verificamos, quase por toda parte, uma completa estruturação da sociedade em classes distintas, uma escala graduada das posições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma dessas classes, outras gradações particulares. A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez mais do que estabelecer novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das que existiram no passado.” (MARX; ENGELS, 2007, p. 40) Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A13 A14 A15 A16

Karl Marx e a crítica da sociedade capitalista.......................................104 Os diferentes modos de produção e formas organizacionais ..............109 A produção social em função da lógica do Capital...............................115 Negociação e conflito: a produção social como produção de valor.....121


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A13

ASSUNTOS ABORDADOS n Karl Marx e a crítica da sociedade

capitalista

KARL MARX E A CRÍTICA DA SOCIEDADE CAPITALISTA Marx se diferencia dos clássicos da Sociologia – Durkheim e Weber – tanto no objeto como na metodologia. Ainda jovem, Marx sai da Prússia, seu país de origem, devido aos conflitos políticos e fica a maior parte de sua vida na Inglaterra, onde amplia seus estudos e sua atuação política. O fato de ter vivido no país em que se inicia a revolução industrial influencia a percepção do filósofo, pois coloca as crescentes desigualdades sociais à sua frente. Ver a exploração da classe operária escancarada o estimula a tentar entender o funcionamento desse modelo econômico e como ele é organizado para que as pessoas, em geral, o aceitem enquanto realidade absoluta. Ao falarmos de Karl Marx, é inegável refutar a influência da filosofia hegeliana em seus escritos. Para Hegel, a dialética é o princípio motor da filosofia. Marx, se apropriando da dialética de Hegel, a utiliza para desenvolver sua metodologia, mas a reformula. Contudo, Hegel, sendo um idealista, vê nas ideias o agente transformador e criador da realidade, por isso ele precede o mundo material. Marx vira de cabeça para baixo essa visão idealista hegeliana e afirma que é o mundo material que precede o mundo das ideias; é ele o ponto de partida que cria a realidade. Vale destacar que a dialética é composta por três desdobramentos: tese, antítese e síntese. A tese é uma afirmação, a antítese uma afirmação contrária ou oposição e a síntese é o resultado entre as duas primeiras afirmações, ou seja, uma conclusão.

TESE Proposição

Pensamento DIALÉTICO ANTÍTESE Oposição

SÍNTESE Conclusão

Figura 01 - Representação do pensamento dialético.

Marx acredita que não se pode pensar a relação indivíduo/sociedade sem considerar condições materiais em que essas relações se apoiam, porque são essas condições materiais que condicionam as outras relações sociais. Para ele, então, o estudo de qualquer sociedade deveria partir justamente das relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza, já que essas relações sociais de produção são a base que condiciona todo o resto da sociedade, ou seja, é o ser social que determina a consciência humana. Pode-se distinguir o homem dos animais pela consciência, pela religião e por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se distinguir dos animais logo que começam a produzir seus meios de existência e esse passo à frente é a própria consequência de sua organização corporal. Ao produzirem os seus meios de existência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida material. (MARX, 1998, p. 10)

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Karl Marx, porém, reformula o conceito de dialética em Hegel, como dito, no sentido em que ele parte do mundo material e não das ideias como Hegel. Por isso, a vincula à luta de classes, seu objeto de estudo, o que inaugura seu método: materialismo histórico dialético. Essa dialética materialista, para Marx, é falada sempre em contexto de luta de classes. Com isso, podemos ver que a produção das ideias e consciência se dá pelo meio material de maneira contínua. Marx, preocupado em entender o modo de produção capitalista, distingue duas classes que vivem em conflito e que se configuram como motor das desigualdades no mundo capitalista: proletariado e burguesia. Marx não criticou totalmente a burguesia em suas obras, até mesmo ressalta sua importância para a superação do feudalismo. No entanto, com seu surgimento, há também uma transformação nas relações de produção, e a crítica de Marx se dá justamente para as decorrências dessas novas relações de produção, já que a burguesia, sendo detentora dos meios de produção, monopoliza as riquezas que são produzidas pelo proletário, que sofre exclusão dos benefícios de tais produções, o que geraria várias consequências. Para Marx, o proletariado, devido ao caráter revolucionário, é a classe revolucionária por

excelência, e ela deveria suprir a burguesia, assim como a burguesia o fez com os senhores feudais, a fim de atingir uma sociedade em que a propriedade privada não exista e o indivíduo trabalhe segundo suas habilidades, recebendo conforme suas necessidades. Vale ressaltar que quando falamos de modos de produção – modos como a sociedade produz seus bens e serviços, e os meios pelos quais os utiliza e distribui –, eles se configuram como a somatória das forças produtivas e das relações de produção existentes. São divididos em: comunismo primitivo; modo de produção asiático; escravidão clássica; feudalismo e capitalismo (que estudaremos mais detalhadamente na próxima aula). Por fim, deixemos claro que, para Marx, a superação do capitalismo pelo proletariado intitula-se ditadura do proletariado, e seu intuito seria atingir o comunismo - que para ele é o modo de produção que promoveria uma sociedade sem classes e, consequentemente, sem desigualdades e opressões. O capitalismo é um modo de produção que amplia a acumulação de riquezas nos detentores dos meios de produção – burguesia – e, por isso, para o autor, a história se baseia na luta de classes, pois é ela que impulsiona o avanço a uma sociedade mais igualitária, com a implantação do comunismo.

#Curiosidades

Biografia retirada do site https://www.ebiografia.com/karl_marx/

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Fonte: Wikimedia commons

Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo e revolucionário socialista alemão. Criou as bases da doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito, Teologia, Filosofia, Economia, entre outras. Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trèves, cidade ao sul da Prússia- um dos muitos reinos em que a Alemanha estava fragmentada, no dia 5 de maio de 1818. Filho de Herschel Marx, advogado e conselheiro da justiça, descendente de judeu, era perseguido pelo governo absolutista de Frederico Guilherme III. Em 1835 concluiu o curso ginasial no Liceu Friedrich Wilhelm. Ainda nesse ano e boa parte de 1836, Karl estudou Direito, História, Filosofia, Arte e Literatura na Universidade de Bonn. No final de 1836, vai para Berlim, onde se propagam as ideias de Hegel, destacado filósofo e idealista alemão. Marx se alinha com os “hegelianos de esquerda”, que procuram analisar as questões sociais, fundamentados na necessidade de transformações na burguesia da Alemanha. Entre 1838 e 1840, dedica-se a elaboração de sua tese. Doutorou-se em Filosofia em 1841, na Universidade de Iena, com a tese A Diferença Entre a Filosofia da Natureza de Demócrito e a de Epicuro. Por motivos políticos, Karl não é nomeado professor, as universidades não aceitam mestres que seguem as ideias de Hegel. Desiludido, dedica-se ao jornalismo. Escreve artigos para os Anais Alemães, de seu amigo Arnold Ruge, mas a censura impede sua publicação. Em outubro de 1842, muda-se para Colônia, e assume a direção do jornal Gazeta Renana, mas logo após a publicação do artigo sobre o absolutismo russo, o governo fecha o jornal. Em julho de 1843, casa-se com Jenne, irmã de seu amigo Edgard von Westphalen. O casal muda-se para Paris, onde Marx junto com Ruge funda a revista Anais Franco Alemães, e publica os artigos de Fredrich Engels. Publica também Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel e Sobre a Questão Judaica. Ingressa numa sociedade secreta, mas é expulso da cidade. Em fins de 1844, Marx começa a escrever para o Vornaerts, em Paris. As opiniões desagradam o governo de Frederico Guilherme V, imperador da Prússia, que pressiona o governo francês a expulsar os colaboradores da publicação, entre eles Marx e Engels. Em fevereiro é obrigado a sair da França e vai para a Bélgica. Dedica-se a escrever teses sobre o socialismo e mantém contato com o movimento operário europeu. Funda a “Sociedade dos Trabalhadores Alemães”. Junta-se com Engels e ambos adquirem um semanário e se integram à “Liga dos Justos”, entidade secreta de operários alemães, com filiais por toda a Europa. No Segundo Congresso da Liga, são solicitados para redigir um manifesto. No dia 21 de fevereiro de 1848, com base no trabalho de Engels, Os Princípios do Comunismo, Marx escreve o Manifesto Comunista, em que esboça suas principais ideias com a luta de classe e o materialismo histórico. Critica o capitalismo, expõe a história do movimento operário, e termina com um apelo pela união dos operários no mundo todo. Pouco tempo depois, Karl e sua mulher são presos e expulsos da Bélgica. Depois de vários exílios e privações, Max finalmente se instala em Londres. Apesar da crise, em 1864 funda a “Associação Internacional dos Trabalhadores”, que fica conhecida como “Primeira Internacional”. Com a ajuda de Engels, publica em 1867, o primeiro volume de sua mais importante obra, O Capital, em que sintetiza suas críticas à economia capitalista. Karl Heinrich Marx morreu em Londres, Inglaterra, no dia 14 de março de 1883.

A13  Karl Marx e a crítica da sociedade capitalista

BIOGRAFIA DE KARL MARX


que rida, estumensua cem árias, reladem nvolmates de

Sociologia Questão 03. [B] O pensamento marxista é também chamado de materialista. Isso porque ele analisa a sociedade a partir de relações materiais de produção, ou seja, ele considera que as relações sociais estão sempre baseadas nas relações de trabalho que produzem coisas materiais, exatamente como a alternativa [B] estabelece.

Referências bibliográficas MARX, K.; ENGELS. F. A ideologia alemã. São Paulo, Martins Fontes, 1998. MARX, K.; ENGELS. F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Boitempo, 5ª reimpressão, 2007. Exercícios de Fixação

A13  Karl Marx e a crítica da sociedade capitalista

01. (UEG GO) A reflexão sobre o poder político acompanhou a história da filosofia desde a antiguidade e o pensamento sociológico desde seu surgimento na sociedade moderna. Nos últimos anos, vêm ocorrendo diversas manifestações, protestos e revoltas em todo mundo. A esse respeito, com base no pensamento filosófico e sociológico, verifica-se que a) esses processos revelam a incompetência do Estado em ser o “cérebro da sociedade”, o que confirma as teses de Durkheim. b) essas ações coletivas podem ser interpretadas como processos derivados da expansão de uma ética protestante, confirmando as análises de Weber. c) os movimentos contestadores atuais expressam um processo de vontade de potência que é corroborado pela filosofia kantiana. d) as lutas sociais contemporâneas revelam as contradições da sociedade capitalista, o que estaria de acordo com a teoria de Marx. 02. (Uem-pas) Uma das principais contribuições de Karl Marx para o pensamento sociológico está relacionada com a análise do papel que o trabalho assalariado desempenhou na organização das sociedades modernas. Considerando a perspectiva marxista a respeito das relações de produção e da divisão social em classes no sistema capitalista, assinale o que for correto. 01. Segundo Marx, o trabalho assalariado é a manifestação histórica do modo como o sistema capitalista de produção se organizou socialmente com base na exploração das classes trabalhadoras por parte das classes detentoras dos meios de produção. 02. Para Marx, as relações de trabalho nas sociedades capitalistas geram solidariedade entre trabalhadores e empregadores, pois elas se caracterizam pela troca igualitária do tempo trabalhado por um salário justo. 04. De acordo com Marx, as desigualdades sociais geradas pelo capitalismo não têm efeitos unicamente econômicos, pois a divisão das sociedades em classes sociais impõe formas de vida específicas e desiguais. 08. Como afirma Marx, o capitalismo impõe às classes trabalhadoras um processo de alienação ao retirar das pessoas o controle sobre os produtos obtidos através do seu próprio trabalho e ao possibilitar que as classes dominantes se apropriem desses mesmos produtos na forma de propriedade privada.

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Questão 02. As afirmativas [02] e [16] estão incorretas. Para Marx, a relação entre patrão e empregado é de conflito, e não de solidariedade. Esse conflito é resultado da exploração que a burguesia impõe sobre o proletariado. Assim sendo, não existe, para ele, possibilidade de harmonia e bem-estar no capitalismo.

16. Conforme Marx, o papel desempenhado pelos sindicatos e pelos partidos de esquerda na ideologização das classes trabalhadoras produz instabilidade e insegurança nas economias modernas, comprometendo a harmonia e o bem-estar social. 03. (UFU MG) Conforme Marx e Engels: “O modo pelo qual os homens produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da própria constituição dos meios de vida já encontrados e que eles têm de reproduzir. Esse modo de produção não deve ser considerado meramente sob o aspecto de ser a reprodução da existência física dos indivíduos. Ele é, muito mais, uma forma determinada de sua atividade, uma forma determinada de exteriorizar sua vida, um determinado modo de vida desses indivíduos”. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Huitec, 1999, p. 27.

Da leitura do trecho, conclui-se que a) As ideologias políticas possuem autonomia em relação ao desenvolvimento das forças produtivas. b) A base da estrutura social reside no seu modo de produção material. c) O modo de produção é determinado pela ideologia dominante. d) Toda atividade produtiva é uma forma desumanização. 04. (Unioeste PR) “I. Burgueses e proletários. A história de todas as sociedades até hoje existente é a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em resumo, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das classes em conflito” (MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 40).

Assinale a alternativa CORRETA: para Karl Marx (1818-1883) como se originam as classes sociais? a) As classes sociais se originam da divisão entre governantes e governados. b) As classes sociais se originam da divisão entre os sexos. c) As classes sociais se originam da divisão entre as gerações. d) As classes sociais se originam da divisão do trabalho. e) As classes sociais se originam da divisão das riquezas. Questão 04. Para Marx, as classes sociais se originam na divisão do trabalho. Na sociedade capitalista, a divisão está entre proletários (que vendem a sua mão de obra) e burgueses (donos de empresas e fábricas, que lucram com o trabalho dos proletários).


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. A presente questão é claramente marxista. Assim, ela extrai as relações de classe das relações sociais de produção, que seriam mais precisas que ideias como pobreza, riqueza, raça ou etnia.

Questão 02. Em um sistema capitalista, à medida que o trabalhador produz mais, sua exploração também aumenta. Isso porque cresce a distância entre a riqueza que ele produz e aquilo que recebe pelo que trabalhou.

Exercícios Complementares

(LORENSETTI, E. Sociologia – Ensino Médio, Curitiba, SEED-PR, 2006, p. 44).

De acordo com o texto acima, é correto afirmar: 01. As classes sociais são grupos humanos formados por pessoas pobres ou por pessoas ricas. A existência dessas classes na história é determinada pela vontade divina. 02. O conceito científico de “classes sociais” se refere à existência de grupos humanos compostos por raças e etnias diferentes e que competem entre si pelo domínio da sociedade. 04. O conceito de “classes sociais” utilizado por Karl Marx se baseia no estudo das relações sociais entre proprietários dos meios de produção e trabalhadores assalariados sem a propriedade dos mesmos meios. 08. Segundo o enunciado da questão (caput), a classe assalariada ou proletariado pode economizar o salário que recebe no final do mês e também se tornar proprietária dos meios de produção, encerrando assim a luta entre as classes sociais. 16. Segundo o enunciado da questão (caput), a classe assalariada é a responsável pelo enriquecimento da burguesia, pois é ela que fornece a mão de obra que realiza o trabalho nas fábricas. 02. (Enem MEC) Texto I Cidadão Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz desconfiado “Tu tá aí admirado

Ou tá querendo roubar?” Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer. BARBOSA, L. In: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999 (fragmento).

Texto II O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor. MARX, K. Manuscritos econômicos-filosóficos (Primeiro manuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 2004 (adaptado).

Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no aumento da demanda social por novos postos de emprego. b) fundada no crescimento proporcional entre o número de trabalhadores e o aumento da produção de bens e serviços. c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata. d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da economia solidária. e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da exploração do trabalhador. 03. (Uem-pas) Sucesso no atual mercado editorial, o livro Capital no século XXI, do francês Thomas Piketty, ficou conhecido por defender a tese de que a desigualdade aumentou nas últimas décadas, produzindo números próximos aos verificados no século XIX. Embora Thomas Piketty não se considere marxista e não extraia de sua análise consequências políticas comparáveis, o debate que propôs enseja interlocução com a obra de Karl Marx (1818-1883) e com a época em que foi produzida. A esse respeito, assinale o que for correto: 01. Karl Marx conseguiu editar apenas o primeiro dos três volumes que compõem sua obra magna, O capital. Os demais foram editados, postumamente, por seus seguidores. 02. Embora tenha sido influenciado pela dialética de Hegel, Marx rompe com seu antecessor ao afirmar que não são as ideias que constituem o real, mas a práxis humana, na produção e reprodução da vida social. Questão 03. As afirmativas [04] e [08] estão incorretas. Marx não somente foi um intelectual, como também teve uma importante ação política. Sua principal obra, O Capital, faz uma análise do capitalismo moderno tendo como ponto de partida as relações sociais de produção.

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A13  Karl Marx e a crítica da sociedade capitalista

01. (Uem-pas) Para entender os conflitos sociais nas sociedades modernas, Karl Marx (1818-1883) defendeu a importância de estudar como ocorrem as relações entre as diferentes classes sociais de uma determinada sociedade. De acordo com o professor Everaldo Lorensetti, “Segundo Marx, a burguesia tomou posse dos meios de produção, enriqueceu e também obteve o controle do Estado [...] criando leis para proteger a propriedade privada (particular) e manter-se no poder; [...] Enquanto isso, a classe assalariada (os proletários), sem os meios de produção e voz política na sociedade, transformava-se em parte fundamental no enriquecimento da burguesia, pois ofereciam mão de obra para as fábricas”.


Sociologia Questão 04. Somente a alternativa [C] apresenta uma interpretação marxista a respeito da noção de meritocracia. Segundo Marx, a sociedade burguesa cria mecanismos ideológicos que fazem as pessoas não perceberem o estado de exploração e dominação em que vivem. A ideia de meritocracia pode ser enquadrada dentro dessa lógica, pois afirma que, pelo mérito, as pessoas podem alcançar seus objetivos, desconsiderando as desigualdades de classe social.

04. Embora preconizasse o princípio de que o papel da filoso-

e os meios de produção. Na perspectiva teórica de Marx, é

fia não era apenas interpretar o mundo, mas transformá-

INCORRETO afirmar que

-lo, Karl Marx absteve-se de envolvimento na ação política

a) a sociedade capitalista é a fase final da história da huma-

prática, temeroso de que tal atividade pudesse influenciar

nidade, em que as classes sociais - especialmente o prole-

negativamente sua reflexão sobre a sociedade.

tariado - desenvolvem toda sua potencialidade por meio da

08. Em O capital, consolidando análises esboçadas em outras obras, Karl Marx descreveu a forma de funcionamento econômico e político da sociedade que deveria suceder historicamente o capitalismo: a sociedade comunista. 16. De acordo com Marx e Engels, o que distingue os seres humanos dos animais é sua capacidade de produzir as condições materiais e intelectuais de sua existência. 04. (Interbits)

revolução tecnológica, assegurando mais liberdade aos indivíduos modernos. b) o postulado básico do marxismo é o determinismo econômico, segundo o qual as condições econômicas são fundamentais no desenvolvimento da sociedade. c) a divisão social do trabalho reproduz modos de segmentação da sociedade, resultando em desigualdades e exploração de uma classe social sobre a outra. d) a procura do lucro é intrínseca ao capitalismo, cujo objetivo do capital não é apenas satisfazer determinadas necessidades, mas produzir mais-valia. 06. (UFU MG) Quando aborda o carnaval de Salvador/BA, Fátima Teles afirma que este festejo Foi incorporado à onda neoliberal do capital fetiche e ficou restrito às classes privilegiadas que abandonaram os cordões e fecharam-se nos luxos dos camarotes ou nos blocos, cordões fechados por compra de abadás. Portanto hoje, atrás do trio elétrico só não vai a classe menos favorecida, a classe que vive de salário suado e só vai atrás do trio elétrico quem pode pagar caro, uma minoria que concentra renda de alguma forma. (...) A festa já não é mais popular, mas é a festa de uma minoria privilegiada. Olhando para o carnaval de Salvador lembramos do compositor baiano Gilberto Gil quando ele canta “ó mundo

A13  Karl Marx e a crítica da sociedade capitalista

tão desigual, tudo é tão desigual, de um lado esse carnaval, de A figura acima, claramente marxista, faz uma crítica à ideia de meritocracia. Assinale a alternativa que apresenta uma interpretação marxista desse conceito. a) Meritocracia corresponde ao modelo de gestão que tem como princípio básico o mérito e as capacidades que cada uma das pessoas possui. b) Meritocracia é uma noção bastante atual, que tem como objetivo valorizar a livre iniciativa e a inovação nas relações de trabalho. c) Meritocracia corresponde a um mecanismo ideológico, que oculta a relação de exploração e de desigualdade entre as classes sociais. d) Meritocracia diz respeito à reformulação da ética protestante que deu origem ao capitalismo moderno. e) A meritocracia é um fato social, pois corresponde à representação coletiva da sociedade capitalista contemporânea. 05. (Unimontes MG) Fundador do materialismo histórico, Karl Marx (1818-1883) defendia que a tendência do modo capitalista de produção é separar cada vez mais o trabalhador 108

Questão 05. [A] A sociedade capitalista não é a fase final da história da humanidade. Pelo contrário, na visão marxista, ela apresenta contradições que, cedo ou tarde, poderão levá-la ao declínio.

outro a fome total...” Fátima Teles. A mercantilização do carnaval soteropolitano. Disponível em: <http://www.vermelho.org.br/noticia/258814-11>. Acesso em: 22 fev. 2015.

Implícitas no fragmento acima estão várias categorias marxianas utilizadas, nesse caso, para a interpretação das transformações ocorridas em umas das mais importantes festas populares do país. Assim, é correto afirmar que: a) Abadás e camarotes, exclusividades de uma elite, são portadores de uma aura mágica a quem se confere poderes especiais e destacada como desencantamento do mundo. b) O carnaval foi mergulhado nas águas gélidas do cálculo egoísta, vendo extraídos seus conteúdos e naturezas mais autênticos, mas sendo finalmente democratizado. c) Quando mercantilizado, o carnaval perde seu caráter público e se privatiza, produzindo um acesso seletivo e dependente mais do marcador racial do que classista. d) Tal como revelara Marx, o capitalismo traz consigo a tendência de mercantilizar as relações sociais. Ao que tudo indica, o carnaval também se transformou numa mercadoria. Questão 06. A alternativa [D] é a única correta e de acordo com a abordagem marxista. O carnaval, ainda que seja uma festa popular, foi apropriado pelo capitalismo e foi tornado mercadoria. A existência de abadás e camarotes exemplifica essa apropriação: somente quem pode pagar tem acesso ao setor central dessa festa.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A14

OS DIFERENTES MODOS DE PRODUÇÃO E FORMAS ORGANIZACIONAIS Como já sabemos, os modos de produção consistem no modo como a sociedade produz seus bens e serviços, e os meios pelos quais os utiliza e distribui. Pode ser entendido, de maneira bem didática, como a somatória das forças produtivas e das relações de produção, como podemos ver no quadro abaixo.

ASSUNTOS ABORDADOS n Os diferentes modos de produção

e formas organizacionais n Fordismo n Taylorismo n Toyotismo

MODO DE PRODUÇÃO = FORÇAS PRODUTIVAS + RELAÇÕES DE PRODUÇÃO

Nossa história pode ser dividida em algumas classificações de acordo com o modo de produção vigente. Aqui iremos analisar algumas, como: comunismo primitivo; modo de produção asiático; escravidão clássica; feudalismo e capitalismo. Vale destacar que, para Marx, o comunismo, que vimos na aula passada, deverá substituir o capitalismo por meio do socialismo e da ditadura do proletariado. Comunismo primitivo: pode ser considerado um dos modos de produção que teve a maior duração de tempo. Nas sociedades praticantes do comunismo primitivo, os meios de produção e os produtos gerados por ele pertenciam ao todo. Assim, não existia a noção de propriedade privada e nem de antagonismo de classes. Portanto, todos viviam em cooperação nas relações de produção. Como é nomeado por comunismo, não havia uma figura estatal, já que o Estado surge em meio a relações de dominação, que não é o caso. Figura 01 - Representação do comunismo primitivo.

Fonte: Wikimedia Commons

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Sociologia

sem nenhum direito, o que gerou relações de produção baseadas na dominação e submissão. Fonte: Wikimedia Commons

Modo de produção asiático: esse modo de produção pode ser encontrado em sociedades como as do Antigo Oriente Próximo, como Egito, China, Índia, entre outras. A parte produtiva da sociedade era mantida principalmente pelos camponeses, que eram obrigados a entregar ao Estado o excedente de sua produção. Como vimos, aqui, a figura do Estado já existe e é ele o proprietário de todas as terras, sobre as quais os camponeses pagavam taxas e impostos para uso. Além disso, os trabalhadores, servindo ao Estado, deveriam, quando chamados, trabalhar para o Estado, numa espécie de servidão coletiva, para construção de grandes obras públicas, por exemplo.

Fonte: Wikimedia Commons

Figura 03 - Representação do escravismo clássico.

A14  Os diferentes modos de produção eFonte: formas organizacionais Wikimedia Commons

Figura 02 - Representação do modo de produção asiático.

Escravismo clássico: esse modo de produção ocorreu em sociedades como a Grécia e Roma antiga. Foi o primeiro em que havia a propriedade privada de maneira muito bem delimitada, o que culminou na exploração das classes que não eram detentoras dessas propriedades. Assim, a divisão era entre os donos dos escravos, donos da terra, e os escravos, os quais trabalhavam nas produções. Aqui, tanto a terra como o escravo eram propriedades do senhor, além dos produtos gerados por eles. O escravo era equiparado a um animal, uma ferramenta de trabalho,

Feudalismo: esse modo de produção foi predominante na Europa Ocidental medieval. As relações eram entre senhores e servos. Diferente do escravismo clássico, os servos não eram propriedades dos senhores. Eles serviam aos seus senhores em troca da ocupação de pequena parcela da grande propriedade do senhor. Além disso, trocavam seus serviços basicamente por abrigo e alimentação. Seu trabalho se baseava em agricultura de subsistência. Essa troca gerava uma intensa gama de obrigações do servo para com o senhor, bem como o trabalho forçado em determinados dias diretamente nas terras do senhor feudal, a entrega de excedente da produção agrícola e até mesmo pagamento de taxas e impostos obtidos por meio do comércio dos bens produzidos pelos camponeses. Vale ressaltar que o senhor utilizava de aparatos não somente econômicos para exploração dos camponeses, mas também de força de armas e de aparatos ideológicos e religiosos. Figura 04 - Representação do feudalismo.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Fonte: Wikimedia Commons

Capitalismo: nesse tipo de modo de produção, que surge com a decadência do feudalismo, uma minoria é detentora dos meios de produção. O trabalhador, tendo somente sua força de trabalho, oferece-a em troca de um salário, o que gera o trabalho assalariado. Essa relação de produção gerada pelo trabalho assalariado é basicamente entre duas classes: a burguesia - detentora dos meios de produção, e o proletariado detentor de sua força de trabalho. Nesse caso, as produções são direcionadas à acumulação e à obtenção de lucros, com base na exploração dos trabalhadores. Vale destacar que o desenvolvimento do capitalismo se deu em quatro etapas: 1ª: Pré-capitalismo - o modo de produção feudalista ainda predomina, mas com relações capitalistas. 2ª: Capitalismo comercial - a maior parte dos lucros está centralizada nas mãos dos comerciantes, tornando-se mais comum o trabalho assalariado.

Figura 05 - Representação do capitalismo.

3ª: Capitalismo industrial - o capital passa a ser investido nas indústrias, tornando-as a atividade econômica mais importante e fundamentando, assim, o trabalho assalariado. 4ª: Capitalismo financeiro - bancos e outras instituições financeiras passam a controlar as outras atividades econômicas por meio de financiamentos. Esse modo de produção gerou um grande desenvolvimento das forças produtivas e a crescente competitividade entre as empresas, que se viam pressionadas a um constante investimento em produtividade e de se aperfeiçoar novas formas de dominação sobre os trabalhadores. Isso culminou em alguns importantes novos sistemas de organização, como o Fordismo, o Taylorismo e o Toyotismo.

Fordismo

A14  Os diferentes modos de produção e formas organizacionais

O Fordismo tem como característica a introdução do novo processo de fabricação, criado por Henry Ford e conhecido como “linha de montagem”. Em meados de 1908, a principiante indústria automobilística enfrentava dois grandes problemas: o da mão de obra especializada e o do alto custo da produção, que era quase artesanal. Henry Ford inova e apresenta, portanto, um sistema revolucionário, embasado na correia transportadora e na linha de montagem, trazendo a especialização para a linha de produção, já que cada trabalhador executa apenas uma operação altamente padronizada ocasionada pela extrema divisão do trabalho. Essa divisão do trabalho soluciona os dois problemas, pois com a especialização, em uma única operação resolve-se o problema da mão de obra. Além disso, com o sistema de linha de montagem, o que possibilitou a fabricação de um automóvel Ford modelo T em uma hora e trinta e três minutos, soluciona-se também o problema do alto custo de produção. Assim, a indústria automobilística e todas as outras adotaram o Fordismo e passaram a produzir em grandes quantidades a preços satisfatórios. Apesar de ser uma opção satisfatória, o sistema de Henry Ford era viável somente para a grande produção em série e implicava a criação de grandes unidades industriais, que só poderiam existir com grandes concentrações financeiras. Como seria quase impossível alguém, por si só, disponibilizar de tamanho investimento, surgem as sociedades anônimas, que deram lugar à formação de grandes bancos de investimento, que permitiram às instituições financeiras o controle efetivo das unidades industriais. Mesmo com o avanço, na década de 1970, o Fordismo enfrenta o declínio pela rigidez de seu modelo de gestão, como a produção de carros de uma só cor (preta, por exemplo). Com isso, a General Motors começa a fabricar diferentes modelos de carros e em diversas cores, ultrapassando a Ford como a maior montadora do mundo. 111


Sociologia

Taylorismo O Taylorismo, criado pelo engenheiro mecânico Frederick Winslow Taylor, é um sistema que consiste na divisão do trabalho e na especialização do operário em uma só tarefa. Assim, o trabalhador não teria mais a necessidade de conhecer todo o processo de produção (devendo conhecer apenas um), procurando um aperfeiçoamento constante de sua parte. O conhecimento de todo processo, portanto, ficava a cargo apenas do gerente, que trabalhava como um fiscal. Tudo isso, simultaneamente, aumentava a produção, barateava o preço dos produtos e especializava o funcionário, o que criava a alienação do trabalhador, que veremos mais adiante. Esse sistema buscou aumentar a eficiência do resultado operacionalmente para potencializar a produção. Com isso, o Taylorismo aperfeiçoou o processo de divisão técnica do trabalho, ocasionando a padronização e a realização de atividades simples e repetitivas.

A14  Os diferentes modos de produção e formas organizacionais

Toyotismo O Toyotismo, por sua vez, criado depois da Segunda Guerra Mundial pelo japonês Taiichi Ohno, foi implementado primeiramente na fábrica da Toyota. Seu surgimento se deu em um cenário em que o Japão tinha uma economia pequena, o que impedia a estocagem de produtos. Assim, o Toyotismo, também conhecido como just-in-time, agia de forma que fosse produzido apenas o necessário. Nesse sentido, a produção era de acordo com a entrada de matéria-prima e com o mercado consumidor. Portanto, quando a procura era alta, eram produzidos mais produtos; quando ela diminuía, a produção caía. O sistema também permitia a constante atualização da produção, sendo que a cada tecnologia lançada, ele era atualizado, algo que se tornaria impossível com os sistemas anteriores. Diferente também dos outros sistemas, o trabalhador assumia outras funções, precisando conhecer amplamente o processo produtivo e as novas tecnologias. Isso demandava uma mão de obra mais qualificada e reduzia

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a quantidade de trabalhadores, o que provocou, entre outros problemas, o aumento do desemprego. Além desse problema, o padrão culminou na transferência da mão de obra para o setor terciário, cujos empregos se concentram mais na distribuição de mercadorias do que propriamente em sua produção. O Toyotismo, portanto, pode ser considerado como o sistema responsável pela terceirização da economia. Atualmente, vale dizer que o desenvolvimento tecnológico leva a uma exclusão da mão de obra humana, gerando um processo de desemprego estrutural, marcado pela forte automatização da produção. Para Ricardo Antunes (2011), quando o trabalho vivo é eliminado, o trabalhador se precariza, o que significa dizer que há também um desmonte dos direitos trabalhistas. É fato que as condições de trabalho e os direitos trabalhistas, de certo modo, avançaram como resultado da luta de movimentos sindicais, operários. Contudo, a despeito dos avanços no tocante ao trabalho e à resolução de alguns conflitos, não se pode esquecer a lógica da exploração inerente ao capitalismo, que é tão presente no cotidiano do trabalhador. Referências bibliográficas ANTUNES, Ricardo. O Continente do Labor. São Paulo, SP: Boitempo, 1ª ed., 2011. MARX, K.; ENGELS. F. A ideologia alemã. São Paulo, Martins Fontes, 1998. MARX, K.; ENGELS. F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Boitempo, 5ª reimpressão, 2007. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Tradução por Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, Livro 1, v.1, tomo 1. 1985a. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Tradução por Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, Livro 1, v. 1, tomo 2. 1985b. MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1974.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 05. A alternativa [C] é a incorreta. Segundo a teoria marxista, no sistema capitalista, a produção é organizada segundo os interesses da burguesia, e não de todos os trabalhadores.

Questão 03. A globalização pode ser entendida como o processo de desenvolvimento do capitalismo em âmbito mundial. Pode-se dizer que não, se considerarmos a tendência “natural” do capitalismo de revolucionar seus métodos produtivos e estimular o consumo. No entanto, pode-se dizer que sim, caso os proletários resolvam se apropriar dos meios de produção e colocar fim à exploração de classe.

Exercícios de Fixação

02. (Uern) Assim como no Egito, na Mesopotâmia, a agricultura foi a principal atividade econômica praticada pela população. O Estado era responsável pelas obras hidráulicas necessárias para a sobrevivência da população, bem como pela administração de estoques de alimentação e pela cobrança de impostos (...). (Vicentino, Claudio. História Geral e do Brasil / Claudio Vicentino, Gianpaolo Dorigo. 1a Ed. São Paulo: Scipione. 2010. p. 60-455.)

... a base da economia Inca estava nos Ayllu, espécie de comunidade agrária. Todas as terras do império pertenciam ao Inca, logo, ao Estado. Através da vasta rede de funcionários, essas terras eram doadas aos camponeses para sua sobrevivência. Os membros de cada Ayllu deveriam, em troca, trabalhar nas terras do Estado e dos funcionários, nas obras públicas e pagar impostos. (Moraes, Jose Geraldo Vinci de. 1960. Caminhos das Civilizações – história integrada: Geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 1998.)

De acordo com o materialismo histórico preconizado por Marx e Engels, o modo de produção que aparece descrito parcialmente nos trechos anteriores, é o a) feudal. b) asiático. c) primitivo. d) escravista.

Questão 01. A alternativa [A] está incorreta, pois a burguesia capitalista é conservadora e não revolucionária. A proposição [B] é falsa. Embora parte da classe média apoiasse o nazismo na Alemanha, não há a defesa da socialização dos meios de produção. A alternativa [C] também é falsa, pois a pequena burguesia não é a camada lúmpen, constituída pelos miseráveis. A proposição [E] é falsa. O proletariado é, por excelência, a classe revolucionária dentro da doutrina marxista. Apenas a alternativa [D] está de acordo com a teoria marxista considerando que a característica da classe média é aliar-se à alta burguesia, uma vez que se identifica com ela, sem reconhecer a distância econômica que as separa.

03. (Interbits)

Tomando como referência seus estudos de sociologia, explique se Karl Marx concordaria ou discordaria do argumento da tirinha acima, de que é impossível parar o crescimento da globalização. 04. (Unioeste PR) A teoria do Materialismo Histórico, desenvolvida por Karl Marx, engloba um conjunto de conceitos que perpassam um novo entendimento do sistema capitalista, das classes sociais e do Estado. Sobre os principais conceitos que compõem a teoria do Materialismo Histórico, é CORRETO afirmar que a) não há na teoria do Materialismo Histórico uma preocupação sobre o processo de circulação de mercadorias no capitalismo. b) no processo de formação do capital, o prejuízo nasce no momento em que o produtor fabrica sua mercadoria. c) Marx define a mais-valia como o excedente do valor produzido pelo empresário que é apropriado pelo trabalhador. d) segundo Marx, as mercadorias nada mais são do que a materialização do trabalho que foi pago ao empregado. e) o empresário, ao pagar o salário aos trabalhadores, nunca paga a esses o que eles realmente produziram. 05. (Unimontes MG) O trabalho é considerado, em Sociologia, como uma atividade produtiva exercida pelo homem, a partir da transformação da natureza, para assegurar sua sobrevivência e desenvolvimento. Karl Marx (1818-1883) afirma que o trabalho pode emancipar os indivíduos, mas, no capitalismo, de modo geral, resulta em alienação dos trabalhadores. Sobre esse assunto, marque a alternativa INCORRETA. a) O trabalho não deve ser visto exclusivamente como emprego remunerado. b) O trabalho é a produção dos indivíduos vivendo em sociedade. c) No sistema capitalista, a produção coletiva passou a ser organizada e dirigida segundo os interesses de todos os trabalhadores, sem distinção. d) A divisão social do trabalho expressa modos de segmentação e estratificação da sociedade.

Questão 02. Somente a alternativa [B] está correta. Karl Marx e F. Engels elaboraram o Materialismo Histórico e Dialético e desenvolveram o conceito de “modos de produção” afirmando que a história da humanidade é a história dos modos de produção. Os modos de produção são o comunismo primitivo, o asiático ou hidráulico, escravista, germânico, feudal, capitalista e o comunismo. O socialismo consiste na transição do capitalismo para o comunismo. O modo de produção asiático ou hidráulico se caracteriza pelo Estado Despótico, Monarquia Teocrática, servidão coletiva, sociedade estratificada e agricultura de regadio. Assim o Ayllu, comunidade agrícola inca, pode ser concebido como modo de produção asiático.

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A14  Os diferentes modos de produção e formas organizacionais

01. (Uel) A ópera-balé Os Sete Pecados Capitais da Pequena Burguesia, de Kurt Weill e Bertold Brecht, composta em 1933, retrata as condições dessa classe social na derrocada da ordem democrática com a ascensão do nazismo na Alemanha, por meio da personagem Anna, que em sete anos vê todos os seus sonhos de ascensão social ruírem. A obra expressa a visão marxista na chamada doutrina das classes. Em relação à doutrina social marxista, assinale a alternativa correta. a) A alta burguesia é uma classe considerada revolucionária, pois foi capaz de resistir à ideologia totalitária através do controle dos meios de comunicação. b) A classe média, integrante da camada burguesa, foi identificada com os ideais do nacional-socialismo por defender a socialização dos meios de produção. c) A pequena burguesia ou camada lúmpen é revolucionária, identificando a alta burguesia como sua inimiga natural a ser destruída pela revolução. d) A pequena burguesia ou classe média é uma classe antirrevolucionária, pois, embora esteja mais próxima das condições materiais do proletariado, apoia a alta burguesia. e) O proletariado e a classe média formam as classes revolucionárias, cuja missão é a derrubada da aristocracia e a instauração do comunismo.


ocuressível ocieume este otor fator ada” o às ocie-

Sociologia Questão 01. A palavra “empregado” revela a divisão de classes entre aquele que é o dono da empresa e aquele que é o empregado. Já a palavra “demissão” denota uma situação claramente prejudicial ao trabalhador: a perda do seu emprego e de seu sustento. Assim, tentar modificar e atenuar essas palavras corresponde a um mecanismo ideológico, que tenta esconder as contradições inerentes ao sistema produtivo capitalista.

Questão 05. Para Marx, somente as teorias sociais “em nome do proletariado” deveriam ser consideradas verdadeiras porque são elas as responsáveis por fazer aparecer as relações de dominação existentes na sociedade capitalista. Todo outro tipo de teoria social seria uma forma ideológica de esconder essas desigualdades resultantes da luta de classes.

Exercícios Complementares 01. (Interbits) A partir de uma abordagem marxista, explique por que as empresas têm interesse em modificar e atenuar palavras como “demissão” ou “empregado”. 02. (Interbits) Leia: Entenda como funciona um supermercado colaborativo, que não visa ao “lucro pelo lucro” Quando o assunto é supermercado, as coisas funcionam mais ou menos assim: existe um dono. Este dono paga funcionários que mantêm os processos em funcionamento (limpeza, estoque, logística, caixa…). O espaço fica aberto para receber clientes, que escolhem os produtos dispostos em prateleiras, pagam por eles e vão embora. Em Londres, um grupo de pessoas decidiu fazer diferente e romper com este roteiro pré-determinado. A primeira explicação está no nome: The People’s Supermarket, ou O Supermercado das Pessoas. A ideia foi desenvolvida no começo de 2009 por Arthur Potts-Dawson, Kate Bull e David Barrie, inspirado no exemplo do Park Slope Food Co-operative, da cidade de Nova York, EUA. Neste novo modelo, as pessoas tornam-se membros do negócio (e cada membro é também dono) e oferecem horas de trabalho voluntário. Assim, ganham, entre outras coisas, o direito a descontos nas compras. Além do preço menor para os membros, os produtos já têm o valor reduzido, uma vez que o quadro de funcionários fixos é bem pequeno em relação a um supermercado comum.

A14  Os diferentes modos de produção e formas organizacionais

CINTRA, Lydia. Entenda como funciona um supermercado colaborativo, que não visa ao “lucro pelo lucro”. Superinteressante. 24 jan. 2012. Adaptado. Disponível em: <http://super.abril.com.br> Acesso em 28 ago. 2013.

A partir do caso acima, responda: a) Segundo a concepção marxista, em geral qual é a classe social dos donos de supermercado? Em relação à produção, o que ele possui a mais que os seus funcionários? b) Do ponto de vista econômico, o modelo proposto pelo The People’s Supermarket está mais próximo de um modelo capitalista ou socialista? Justifique sua resposta. 03. (Interbits) - Esteve preocupado com as transformações do capitalismo na sociedade. - Pensava a história como resultado da luta de classes. - Foi inspirador de diversos movimentos operários e revolucionários. As afirmativas acima se referem a qual desses cientistas sociais? a) Karl Marx. d) Augusto Comte. b) Max Weber. e) Pierre Bourdieu. c) Émile Durkheim.

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04. (Unimontes MG) Para Karl Marx, sociólogo alemão (18181883), as crises no sistema capitalista devem-se à expansão da produção para além daquilo que o mercado pode absorver dentro de uma taxa de lucro considerada satisfatória. Havendo uma descida da taxa de lucro, o investimento diminui, parte da força de trabalho fica desempregada, o que, por sua vez, irá diminuir o poder de compra do consumidor, produzindo nova descida na taxa de lucro etc. A retomada da expansão e o início de um novo ciclo ocorrem quando empresas sobreviventes conquistam as seções do mercado que ficaram livres. São proposições relativas à teoria desse autor, EXCETO a) A crise tem o efeito de restabelecer o equilíbrio de rendimentos e de recompensas entre o trabalho assalariado e o proprietário de capital, consolidando o sistema de produção capitalista. b) As crises não equivalem a uma quebra do sistema capitalista, mas fazem parte de um mecanismo regulador que permite ao sistema dominar as flutuações periódicas a que está sujeito. c) As crises são soluções momentâneas e necessárias das contradições existentes, que promovem e restabelecem, durante certo tempo, o equilíbrio perturbado. d) O capitalismo organiza-se unicamente em função da expansão do capital, o que requer o desenvolvimento das forças produtivas e busca competitiva do lucro e, por isso, está sujeito a crises endêmicas. 05. (Interbits) Em Marx, a noção de ideologia designa a “falsa consciência” que resulta da posição de classe dos sujeitos sociais: eles veem a realidade das relações sociais deformada por seus interesses e, mais geralmente, pela visão parcial a que os condena sua posição no sistema de produção. [...] Para Marx, as teorias sociais desenvolvidas pelo proletariado – dever-se-ia dizer, em nome do proletariado - podiam ser marcadas com o cunho da verdade, em oposição às teorias burguesas, tidas por ele como do domínio da ideologia e da falsa consciência. BOUDON, R.; BORRRICAUD, F. Dicionário crítico de Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1993, p. 275.

Segundo Marx, por que somente as teorias sociais “em nome do proletariado” deveriam ser consideradas como verdadeiras? 06. (Interbits) Um dos principais conceitos marxistas é o de luta de classes. Esse conceito é apresentado em qual dos textos abaixo? a) A Fenomenologia do Espírito, de 1806. b) Manifesto do Partido Comunista, de 1848. c) O Suicídio, de 1897. d) A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de 1905. e) Mein Kampf, de 1925.

Questão 02. a) Os donos de supermercado são burgueses, segundo a concepção marxista. Eles possuem os meios de produção, por isso obtêm o lucro a partir da produção feita por seus funcionários. b) Socialista. Ao pressupor uma participação de todos os membros como dono, estes também deverão trabalhar no supermercado. Assim, o objeto não é trabalhar para dar lucro para outra pessoa, mas para garantir um ganho coletivo.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A15

A PRODUÇÃO SOCIAL EM FUNÇÃO DA LÓGICA DO CAPITAL: A MERCANTILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS O módulo anterior possibilitou a compreensão dos diversos modos de produção analisados por Marx. Com eles também começamos a enxergar as transformações pelas quais o mundo do trabalho vem passando e que são fundamentais para que se compreenda a organização atual dessas relações que se tornaram mercantilizadas. O impacto de novas tecnologias, novas formas organizacionais e a crescente exigência pela qualificação são alguns dos fatores que mostram o quanto essas transformações estão em processo constante, o que estimula a Sociologia do Trabalho a diálogos e reflexões cada vez mais presentes.

ASSUNTOS ABORDADOS n A produção social em função da

lógica do Capital: a mercantilização das relações sociais

Agora vamos entender também alguns conceitos importantes na construção da teoria marxista, como: ideologia, Estado, infra e superestrutura e socialismo utópico e científico. A compreensão desses conceitos é fundamental para que se possa compreender de maneira mais fidedigna a crítica de Marx à sociedade capitalista e trazer isso para a contemporaneidade. Para Karl Marx, a sociedade é estruturada em dois níveis: a infraestrutura e superestrutura. Como já sabemos que Marx “vira de cabeça para baixo” a visão idealista hegeliana, afirmando que o mundo material precede o mundo das ideias, sendo o ponto de partida que cria a realidade, ficará mais fácil a apreensão desses dois conceitos.

Fonte: Wikimedia commons

Enquanto, para Émile Durkheim, o trabalho trouxe para as sociedades industrializadas a complexa divisão social do trabalho e uma solidariedade entre os indivíduos, para Karl Marx, a divisão do trabalho gerava um conflito entre indivíduos e classes sociais, o que ele chamou de luta de classes. Como vimos, essa luta é o motor da história.

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Fonte: Wikimedia commons

Sociologia

A infraestrutura compõe a base material e econômica constituída pelas forças produtivas e as relações de produção. Para Marx, é a infraestrutura que determina a superestrutura que, por sua vez, é composta pela estrutura do Estado e do direito e por formas de consciência social como a religião, por exemplo. Isto é, ela compreende a produção ideológica. O fundamental é entender, portanto, que a maneira como a economia e as relações de produção – infraestrutura – são organizadas dentro da sociedade influenciarão as ideologias que a dominam. A ideologia é, dessa forma, chamada de superestrutura ideológica e quando falamos de Estado, ele é chamado de superestrutura legal ou política, e assim por diante, ficando tudo que não pertence à base material, como constituinte da superestrutura. Por isso, para Marx, as relações de produção capitalistas produzem ideologias que correspondem ao interesse de quem as domina, no caso, a burguesia.

SUPERESTRUTURA Estado, polí ca, direito + Ideologia

SUPERESTRUTURA

Maneiras de ser, pensar e agir Ins tuições Mundo polí co-jurídico-cultural

(Topo ideológico)

INFRAESTRUTURA Forças produ vas + Relações de produção (modo de produção)

INFRAESTRUTURA (Base material)

Forças produ vas Relações sociais de produção

Luta de Classes

A15  A produção social em função da lógica do Capital: a mercantilização das relações sociais

Como composição da superestrutura, é necessário entender o conceito de ideologia. A ideologia, para Marx, soa como uma “falsa consciência”, já que são um conjunto de ideias que procuram tornar latente o domínio por parte de uma determinada classe, no caso, a burguesa. Assim, são noções que representam o interesse privado da burguesia, mas com a aparência de um interesse coletivo, o que auxilia na hegemonia e dominação da classe dominante. Portanto, a ideologia pode ser vista como uma ferramenta de reprodução do status e da própria organização social. O Estado, como vimos, constitui a superestrutura, podendo ser chamado de superestrutura legal ou política. Para Marx, o Estado, sendo parte da superestrutura, é condicionado pelas forças produtivas e relações sociais de produção. Portanto, é um instrumento de dominação de classes. Assim como a ideologia não produz ideias que visem ao interesse coletivo, a fim de manter a dominação das classes dominadas, o Estado também o faz. Para o filósofo, o Estado não visa em nenhum momento ao interesse comum, ao contrário, ele pode ser visto como uma ferramenta que chancela a dominação por parte da classe dominante. Assim, o Estado, em meio à luta de classes, garante os interesses da classe capitalista ou burguesa contra os interesses do proletariado ou trabalhadores assalariados. Com isso, as noções de que o Estado deveria representar a todos, e de que somos iguais perante a lei, é desmistificada. O Estado age como instrumento da classe dominante com todos seus aparatos, por meio de suas leis e forças militares, haja vista o exemplo de policiais, que em meio às reivindicações de trabalhadores, reprime de maneira violenta os manifestantes, visando aos interesses dos detentores dos meios de produção, ou seja, dos capitalistas. Figura 02 - A Polícia Militar reprimiu de forma violenta a marcha que reuniu centrais sindicais, como a CUT - Central Única dos Trabalhadores, uma entidade de representação sindical brasileira - e movimentos sociais em 2017.

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O conceito de classe social é visto de maneira bem ampla e complexa nas Ciências Sociais. Enquanto para Marx as classes sociais surgem por meio da divisão do trabalho, que divide a sociedade em detentores ou não dos meios de produção, Max Weber afirma que não se pode definir a classe de um indivíduo com base em uma característica única. Para Weber, a estratificação social pode ser dividida em classe, status e poder. A classe estaria relacionada ao âmbito econômico, constituindo-se de agrupamento de indivíduos que apresentem características similares no que tange à posse de patrimônio ou à possibilidade de tê-la. Dessa forma, esse agrupamento pode ocorrer por meio de mudança social ou sucessão de gerações, como heranças. Quando se fala da estratificação por status, ou estamentos, ele se refere ao âmbito social. Se o agrupamento antes era por quesito econômico, aqui se dá por prestígio, em que o sujeito pode ganhar status adquirindo um emprego como o de juiz, por exemplo. Por fim, o agrupamento no âmbito político, se dá por poder ou partidos, como afirma Weber. Poder, como veremos mais adiante em seu livro, é a probabilidade de impor a própria vontade em uma determinada relação social mesmo contra resistências. Assim, os partidos são um conjunto de indivíduos que se organizam de forma voluntária, a fim de atingir o poder e, com isso, adquirir status e uma condição econômica maior. Podemos dizer que partidos vivem sob a égide do poder. Essas diferenciações nas estratificações sociais que Weber faz, mostram que tanto a classe, como o status e o poder servem como instrumento de desigualFigura 03 - A imagem representa um Estado “burguês”, na medida em que ele dade social. Mesmo com esses detalhes, Weber pouco deu reproduz o interesse das classes dominantes. importância de maneira teórica à luta de classes, em comparação a Marx, que teve a antagonia como seu objeto de estudo para fazer a crítica à sociedade capitalista. O principal a se compreender com essa explanação é que, para Marx, o indivíduo não poderia alterar sua classe sendo proletário, por exemplo, na medida em que sempre viveria sob dominação da classe dominante e sob os mesmos meios de produção. Por outro lado, Weber vê a mudança na estratificação social como algo possível e flexível, podendo ser alterada não só por meio da economia, mas também do status e do poder. Uma última definição, mas não menos importante, é essencial, já que estamos pensando nessas desigualdades. Marx via no comunismo a maneira de superação efetiva do sistema capitalista e assim o vislumbre de uma sociedade igualitária sem a existência da propriedade privada e da propriedade dos meios de produção. O comunismo seria atingido por meio do socialismo e da ditadura do proletariado - a classe revolucionária por excelência -, já que a classe média (ou pequena burguesia) se identifica, apesar de não ter a mesmas condições econômicas, com a burguesia. Contudo, Marx diferencia o socialismo utópico do científico. O socialismo utópico, representado por autores como Robert Owen, Saint-Simon e Charles Fourier, apesar de buscar pela igualdade de direito ao trabalho e ao lucro, é indicado como uma conquista pacífica, de forma gradual. Portanto, esses teóricos não indicam a maneira pela qual se consegue atingir essa sociedade. Para Marx, é impossível pensar chegar ao socialismo de maneira pacífica. Como afirmamos, isso só e possível com a revolução por parte do proletariado. Esse socialismo, atingido com a luta do proletariado e a luta armada, foi chamado de socialismo científico, fundado por Karl Marx e Friedrich Engels, constituindo-se, assim, com uma visão menos idealizada e mais ativa dos seus ideais e conquistas e da maneira pelo qual se proceder. 117

A15  A produção social em função da lógica do Capital: a mercantilização das relações sociais

Ciências Humanas e suas Tecnologias


Fonte: Wikimedia commons

Sociologia

Figura 04 - Karl Marx e Friedrich Engels, criadores do socialismo científico.

Referências bibliográficas MARX, K.; ENGELS. F. A ideologia alemã. São Paulo, Martins Fontes, 1998. MARX, K.; ENGELS. F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Boitempo, 5ª reimpressão, 2007.

A15  A produção social em função da lógica do Capital: a mercantilização das relações sociais

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Tradução por Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, Livro 1, v.1, tomo 1. 1985a. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Tradução por Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, Livro 1, v. 1, tomo 2. 1985b. MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1974.

Exercícios de Fixação 01. (UEG GO)

Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas sociedades – mais dinheiro, mais prestígio, mais poder, mais vida, e tudo aquilo que os homens valorizam. Tais desigualdades criam divisões na sociedade – divisões com respeito a idade, sexo, riqueza, poder e outros recursos. Aqueles no topo dessas divisões querem manter sua vantagem e seu privilégio; aqueles no nível inferior querem mais e devem viver em um estado constante de raiva e frustração [...]. Assim, a desigualdade é uma máquina que produz tensão nas sociedades humanas. É a fonte de energia por trás dos movimentos sociais, protestos, tumultos e revoluções. As sociedades podem, por um período de tempo, abafar essas forças separatistas, mas, se as severas desigualdades persistem, a tensão e o conflito pontuarão e, às vezes, dominarão a vida social. TURNER, Jonathan H. Sociologia: Conceitos e aplicações. São Paulo: Pearson, 2000. p. 111. (Adaptado).

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 04. a) Apesar de o gabarito oficial apontar o conceito de alienação, consideramos que o conceito de ideologia está mais de acordo com essa inversão da realidade citada no enunciado da questão. b) Inverter essa relação significa considerar o ser humano produto de algo que ele mesmo criou. Por exemplo, seria considerar que o ser humano é produto da religião (como um ser criado por Deus, por exemplo), quando, segundo a ótica marxista, ele é que inventa a religião (Deus é uma invenção do homem) para esconder a real opressão de uma classe social sobre outra.

02. (UECE) O século XIX foi marcado pelo surgimento de correntes de pensamento que contestavam o modelo capitalista de produção e propunham novas formas de organizar os meios de produção e a distribuição de bens e riquezas, buscando uma sociedade que se caracterizasse pela igualdade de oportunidades. No que diz respeito a essas correntes, assinale a afirmação verdadeira. a) O socialismo cristão buscava aplicar os ensinamentos de Cristo sobre amor e respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização, mas apesar de vários teóricos importantes o defenderem, a Igreja o rejeitou através da Encíclica Rerum Novarum, lançada pelo Papa Leão XIII. b) No socialismo utópico, a doutrina defendida por Robert Owen e Charles Fourrier, prevaleciam as ideias de transformar a realidade por meio da luta de classes, da superação da mais valia e da revolução socialista. c) O socialismo científico proposto por Karl Marx e Friedrich Engels, através do manifesto Comunista de 1848, defendia uma interpretação socioeconômica da história dos povos, denominada materialismo histórico. d) O anarquismo do russo Mikhail Bakunin defendia a formação de cooperativas, mas não negava a importância e a necessidade do Estado para a eliminação das desigualdades. 03. (Fatec SP) Em 2012, o Brasil comemorou os 100 anos de nascimento do escritor baiano Jorge Amado. Uma das características de seus livros é a defesa de suas ideias políticas. Leia atentamente o trecho do romance Jubiabá, publicado em 1937. “Quando eu saio de casa, digo a meus filhos: vocês são irmãos de todas as crianças operárias do Brasil. Digo isso porque posso morrer e quero que meus filhos continuem a lutar pela redenção do proletariado. O proletariado é uma força e se souber se conduzir, se souber dirigir a sua luta, conseguirá o que quiser...” (AMADO, Jorge. Jubiabá. São Paulo: Martins Fontes, s/d, p. 286. Adaptado)

Considerando que o trecho expressa o ponto de vista do escritor, conclui-se que Jorge Amado defendia uma posição política

a) integralista. b) socialista.

c) neoliberal. d) absolutista.

e) nazifascista.

04. (Uel PR) Leia o texto a seguir. O homem faz a religião, a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ou voltou a se perder. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. (MARX, K. Crítica à Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005. p.145.)

Na teoria do pensador Karl Marx, há um conceito que explica essa inversão da realidade (por conseguinte, da consciência) e, em razão dela, da relação do sujeito (seres humanos) com aquilo que, objetiva e subjetivamente, ele produz. Com referência às ideias de Marx, responda aos itens a seguir. a) Qual é esse conceito? b) O que significa inverter a relação sujeito-objeto? Explique como isso se manifesta na religião. 05. (Uema) A história da cultura brasileira é pontuada pelo “jeitinho brasileiro” e pela cordialidade, frutos da colonização portuguesa. Sérgio Buarque sugere que nossa cultura tem algumas singularidades, tais como: aversão à impessoalidade, forte simpatia e rejeição ao formalismo nas relações sociais. Tais singularidades se refletem no ordenamento da sociedade expresso no fragmento da música Minha história de João do Vale e Raimundo Evangelista, que trata da educação como base da estratificação social na sociedade burguesa. E quando era noitinha, a meninada ia brincar. Vige como eu tinha inveja de ver Zezinho contar: “o professor ralhou comigo, porque eu não quis estudar” (bis) Hoje todos são doutor, E eu continuo um João Ninguém Mas, quem nasce pra pataca nunca pode ser vintém. Ver meus amigos doutor basta pra mim sentir bem (bis)... João do vale; Chico Evangelista. “Minha história”. In: álbum, João do Vale. Rio de Janeiro: Sony, 1981.

Conforme a contribuição de Karl Marx sobre a análise da sociedade capitalista, os conceitos sociológicos expressos nessa música são a) superestrutura, anomia social, racionalidade, alienação. b) ação social, infraestrutura, solidariedade orgânica, coesão social. c) divisão do trabalho, mais valia, solidariedade mecânica, burocracia. d) sansão social, relações de produção, organicismo, forças produtivas. e) ideologia, classe social, desigualdade social, relações sociais de trabalho.

Questão 03. O Socialismo é, prioritariamente, um movimento de defesa do proletariado (trabalhador). Segundo Karl Marx, seu criador, apenas quando o proletariado percebesse sua situação injusta no mundo ele poderia lutar – através da “revolução do proletariado” – para modificar o mundo a seu favor. O estágio final dessa modificação seria a adoção do socialismo como regime político. Daí, a partir do texto, a afirmação de que Jorge Amado era socialista.

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A15  A produção social em função da lógica do Capital: a mercantilização das relações sociais

A observação da figura e a leitura do texto permitem inferir: a) no plano social, a igualdade humana está explícita em dois setores bem definidos: na Justiça, segundo a qual todos são iguais perante a lei, e na educação, em que todos devem ter oportunidades iguais; essas práticas são vivenciadas pela sociedade brasileira. b) segundo Karl Marx, aqueles que possuem ou controlam os meios de produção têm poder, sendo capazes de manipular os símbolos culturais através da criação de ideologias que justifiquem seu poder e seus privilégios. c) a estratificação de classes existe quando renda, poder e prestígio são dados igualmente aos membros de uma sociedade, gerando, portanto, grupos culturais, comportamentais e organizacionais semelhantes. d) a estratificação, na visão de Karl Marx, mostra que a luta de classes não se polariza entre o ter e o não ter e envolve mais do que a ordem econômica.


a se-

Sociologia

ssara de onar

Questão 01. Para Marx, o sistema político é uma espécie de reflexo do sistema econômico. No caso do sistema político moderno, a democracia que surge é, na verdade, uma expressão burguesa, servindo somente para manter os trabalhadores pacificados e maximizar o lucro da classe burguesa.

Questão 05. Materialismo corresponde à noção epistemológica que afirma que a sociedade existe somente a partir das relações materiais. Marx é materialista porque extrai das relações de trabalho a existência do social. Segundo ele, a sociedade só existe a partir das relações materiais de produção.

Exercícios Complementares

ução. .399.)

01. (Interbits) Cada um desses estágios do desenvolvimento da burguesia se fez acompanhar do correspondente progresso político. Estamento oprimido sob a dominação dos senhores feudais, associação armada e autogovernante na comuna, ora república municipal independente, ora terceiro estamento tributável da monarquia; depois, à época da manufatura, contrapeso para a nobreza na monarquia estamental ou na absoluta, fundamento central de todas as grandes monarquias – a burguesia por fim conquistou para si, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, a exclusiva dominação política no moderno Estado representativo. O moderno poder estatal é apenas uma comissão que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa.

rico, o do

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto do partido comunista. São Paulo: Penguin Classics/ Companhia das Letras, 2012, p. 46.

A15  A produção social em função da lógica do Capital: a mercantilização das relações sociais

A partir do texto acima, responda: para Marx, qual a relação entre sistema político e sistema econômico? 02. (Unioeste) O Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels no ponto de inflexão entre as reflexões de juventude e a obra de maturidade, sintetiza os resultados da concepção materialista da história alcançados pelos dois autores até 1848. A dinâmica do desenvolvimento histórico é então concebida como resultante do aprofundamento da tensão entre forças produtivas e relações de produção, que se expressaria através da luta política aberta. Com base na concepção materialista da história defendida por Marx e Engels no Manifesto, selecione a alternativa correta. a) A história das sociedades humanas até agora existentes tem sido o resultado do agravamento das contradições sociais que, uma vez maturadas, explode através da luta de classes. b) A história das sociedades humanas é o resultado dos desígnios da providência que atuam sobre a consciência dos homens e forjam os rumos do desenvolvimento social. c) A história das sociedades humanas é o resultado de acontecimentos fortuitos e casuais, independentes da vontade dos homens, que acabam moldando os rumos do desenvolvimento social. d) A história das sociedades humanas é o resultado inevitável do desenvolvimento tecnológico, que não só aumenta a produtividade do trabalho, como elimina o antagonismo entre as classes sociais. e) A história das sociedades humanas é o resultado da ação desempenhada pelos grandes personagens que, através de sua emulação moral, guiam as massas no sentido das transformações sociais pacíficas.

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03. (UFU MG) Temos um trabalhador numa determinada indústria. Suponhamos que ele conheça o dono da pequena indústria em que trabalha e que tenha até uma boa amizade com ele. Em determinado momento, porém, acontece uma greve. Apesar da amizade entre o trabalhador e seu patrão, provavelmente durante a greve ambos estarão colocados em lados opostos. TOMAZI, Nelson. Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 1993. p. 13-14.

Esse exemplo, tomado para introduzir uma reflexão sobre conceitos elaborados por Marx, em sua crítica à sociedade capitalista, remete, claramente, à noção de “classes sociais”, entendida no marxismo como a) grupos de indivíduos que compartilham os mesmos motivos para realizarem ações sociais. b) grupos de indivíduos que agem de forma semelhante em face de um mesmo fato social. c) grupos de indivíduos que possuem a mesma crença com relação aos valores que precedem suas ações. d) grupos de indivíduos que ocupam uma mesma posição nas relações sociais de produção. 04. (Ufpr) Explique a relação entre Estado e classes sociais para Karl Marx, tomando como referência o livro Os clássicos da política (WEFFORT, F. (org.). vol. 2. São Paulo: Ática, 2006). 05. (Interbits) Frequentemente se diz que a teoria marxista corresponde a um materialismo histórico. O que significa afirmar que Marx era um materialista? Justifique sua resposta. 06. (Uem PR) Sobre as teorias clássicas da estratificação social, assinale o que for correto. 01. Segundo a sociologia marxista, a diferenciação entre os indivíduos na sociedade capitalista se dá pela posição que eles ocupam na estrutura produtiva. 02. Apesar de reconhecer a existência da pequena burguesia, Marx defendia que, com o desenvolvimento do capitalismo, haveria a redução da sociedade a apenas duas classes fundamentais: burguesia e proletariado. 04. A sociologia weberiana desenvolve uma teoria da estratificação social que inclui, além das posses materiais, o nível de educação e o conjunto das habilidades técnicas individuais na definição das classes. 08. Para Max Weber, os grupos de status são unidades de estratificação tão importantes quanto a classe social. 16. Os grupos de status distinguem e agrupam os indivíduos em termos do prestígio, honra social ou estilo de vida que possuem.

Questão 04. Para Marx, o Estado é fruto das relações de produção. Em um contexto capitalista, ele serve aos interesses da burguesia, servindo para a manutenção da dominação. Para que o proletariado consiga se emancipar, deve se tornar a classe dominante e se apropriar do Estado, centralizar os instrumentos de produção e estimular o desaparecimento das diferenças de classe. Assim, com o fim da apropriação privada da produção social, o Estado se tornaria desnecessário.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A16

NEGOCIAÇÃO E CONFLITO: A PRODUÇÃO SOCIAL COMO PRODUÇÃO DE VALOR Como vimos durante todas as aulas destinadas a compreender a teoria marxista, o ponto de partida são os indivíduos concretos e as relações que eles estabelecem entre si e com a natureza para a produção de sua existência. O que caracteriza e diferencia o ser humano de outras espécies é sua relação com a natureza, a fim de produzir as condições materiais de sua existência. O homem se distingue dos animais, por exemplo, logo que começam a produzir seus meios de existência (MARX e ENGELS, 1998). Com isso, o autor começa a definir o conceito de trabalho.

ASSUNTOS ABORDADOS n Negociação e conflito: a produção

social como produção de valor

n O marxismo clássico e a prática sindical

É pelo trabalho que a natureza é transformada. Para Marx, o trabalho é uma condição de existência do homem “independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana” (MARX, 1985a, p. 50). Ou seja, do ponto de vista ontológico, o trabalho é uma condição de existência humana. Nesse sentido, uma das grandes críticas que a Sociologia do Trabalho faz a esse mundo moderno regido pelo modo e pelas relações capitalistas de produção é sobre a alienação. A alienação é um processo de exteriorização, isto é, de estranhamento que o trabalhador tinha com o produto que produzia. Com isso, podemos ver que o trabalhador está presente nas relações de produção somente como vendedor de sua força de trabalho, sendo sua remuneração inferior à necessária para se ter acesso àquilo que produziu. O trabalhador não se reconhece no produto final. Diferente dos artesãos, que tinham acesso a todas as etapas de produção dos seus produtos, o trabalhador no modo de produção capitalista vê o produto final como algo exterior a ele, ao qual ele não pode ter acesso.

Figura 01 - A comunicação sempre foi encarada como uma arma para a luta ideológica e, consequentemente, para ampliar as fileiras do partido da classe operária.

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Sociologia

Figura 02 - Charge que ironiza o modelo de trabalho gerado pelo modo de produção capitalista, culminando no que Marx denominou de alienação.

A alienação, sendo, portanto, um processo de exteriorização de uma essência humana e do não reconhecimento do seu próprio trabalho, é descrita por Marx sob quatro aspectos: em relação ao produto do trabalho; no processo de produção; em relação à existência do indivíduo enquanto membro do gênero humano e em relação aos outros indivíduos. O trabalhador é estranho ao produto de sua atividade, que pertence ao outro. Isso faz com que o produto seja dotado de um poder independente, no qual quanto mais o trabalhador se esgota no trabalho, tanto mais poderoso e exterior se torna o produto de seu trabalho. A alienação do trabalhador ao produto surge também como alienação da atividade produtiva, que passa a ser um trabalho forçado, determinado pela necessidade externa. Assim, o trabalho deixa de ser uma satisfação de uma necessidade e passa a ser um meio para satisfazer necessidades externas a ele; uma espécie de sacrifício. Com a alienação da atividade produtiva, o trabalhador se aliena também do gênero humano, o que culmina na perda completa da humanidade. A decorrência dessa alienação do trabalhador é a alienação do homem pelo homem, que pode ser vista pela alienação na relação trabalhador X capitalismo.

A16  Negociação e conflito: a produção social como produção de valor

Esse processo de alienação ocorre também porque o sistema de produção é fragmentado e o trabalhador se encontra distante do produto final do seu trabalho. Por outro lado, os artesãos, como já vimos, se reconheciam nos seus produtos finais, além de terem controle sobre seu trabalho. Isso porque a atividade é cada vez mais especializada e repetitiva e também porque hoje os trabalhadores se encontram sob domínio do patrão, com relação aos horários e às condições de trabalho, por exemplo. Assim, as transformações no mundo do trabalho podem ter nos levado a uma condição de luta de classes, foco principal de estudo de Marx, em que uns são tão poderosos e detêm tanto capital que podem comprar os outros que estão submetidos a condições humilhantes de trabalho. Sabendo então dessas condições, para o autor, é importante refletir sobre o movimento que o trabalho e o capital apresentam sob três vieses fundamentais: n

n

n

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A unidade imediata e mediata de ambos: o que significa que em um primeiro momento eles estão unidos, depois se separam e se tornam estranhos um ao outro, havendo, entretanto, uma sustentação recíproca entre eles; A oposição de ambos: trabalho e capital se excluem e tanto o trabalhador conhece o capitalista como a negação da sua existência, quanto o capitalista conhece o trabalhador como a negação da sua existência; A oposição de cada um contra si mesmo: o capital é, ao mesmo tempo, ele próprio e o trabalho; e o trabalho, também é, simultaneamente, ele próprio e a mercadoria, isto é, o capital.


Ciências Humanas e suas Tecnologias

$ $$ $$

Figura 04 - A imagem representa a produção da mais-valia.

Esses valores não são concretos e absolutos. São alterados de uma sociedade para a outra. Mas o fato é que os valores atribuídos ao trabalho e mesmo a todo processo de produção eram inferiores ao valor cobrado pelo produto final, gerando, dessa forma, lucros elevados para o capitalista e possibilitando cada vez menos o acesso do trabalhador ao produto que produz, gerando cada vez mais desigualdades e opressões. Por meio do conceito de mais-valia, Marx fez distinção de duas formas dessa extorsão da força de trabalho: a mais-valia absoluta e a mais-valia relativa. A mais-valia absoluta ocorre pelo aumento do ritmo de trabalho, da vigilância sobre o processo de produção ou mesmo da ameaça da perda do trabalho. O empregador exige maior empenho na produção sem oferecer nenhum tipo de compensação em troca e recolhe o aumento da produção de excedentes em forma de lucro, ou seja, o trabalhador é obrigado, por meio de jornadas de trabalho extensivas, a produzir cada vez mais, a fim de produzir mais lucro para o capitalista. Por sua vez, a mais-valia relativa está relacionada ao processo de avanço científico e do progresso tecnológico, em que o capitalista 123

A16  Negociação e conflito: a produção social como produção de valor

Figura 03 - A charge representa o mundo de fantasia que o consumidor vive ao imaginar as mercadorias como figuras de vida própria, sendo capazes de estabelecer até mesmo conversas com o indivíduo.

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$ $$

Antes de voltarmos à definição de mais-valia, vale ressaltar outro conceito importante: o de fetichismo da mercadoria. O conceito de fetiche, para Marx, é um dos elementos fundamentais na manutenção do modo de produção capitalista. Consiste em uma oposição ao valor de uso, que acabamos de ver, pois a mercadoria não é comprada pela sua utilidade (há toda uma gama de ilusões que ronda a mercadoria nesse processo). Projeta-se na mercadoria, portanto, uma relação que deveria ser estabelecida entre os homens. É o clássico caso de propagandas de cervejas, que muitas vezes criava um cenário idealista para induzir o consumidor à compra, vendendo a ideia de que se o indivíduo comprasse o produto, ele, de fato, viveria naquele ambiente que a propaganda vende. É como se a mercadoria fosse dotada de realidade, ou seja, como se ela tivesse vida própria e, assim, pudesse estabelecer determinados tipos de relações com os homens, passando do status de coisas a um status de quase “pessoas”.

Voltemos então ao conceito de mais-valia, que consiste no processo de exploração da mão de obra assalariada, utilizada na produção de mercadorias. Como vimos, trata-se de um processo de extorsão por meio da apropriação do trabalho excedente na produção de produtos com valor de troca. Façamos um trabalho imaginativo para compreender o conceito. O salário que o trabalhador ganha no final do mês corresponde à produção de uma mesa por dia, durante os 30 dias. Uma mesa, no entanto, é produzida em 2 horas de trabalho. Sabendo que, normalmente, um trabalhador tem uma carga horária de trabalho de 8 horas por dia, tudo que ele produz (no caso, 4 mesas) no restante de sua jornada de trabalho é o que chamamos de mais-valia - conceito apropriado pelo capitalista, apresentando-se, assim, a base de lucro no sistema capitalista. $

Nesse cenário, há outro conceito fundamental para se compreender a produção social como produção de valor. O conceito de mais-valia, que para Marx é um processo de extorsão por meio da apropriação do trabalho excedente na produção de produtos com valor de troca. Para que se compreenda esse conceito é necessário antes entender que um bem possui dois tipos de valores: valor de uso e valor de troca. O valor de uso é medido pelo trabalho concreto, tem relação com a utilidade e qualidade que possui um objeto para satisfazer uma necessidade, determinado por suas condições naturais. Já o valor de troca é medido pelo tempo de trabalho socialmente necessário e tem relação com um trabalho abstrato. É o que permite se trocar um colchão por um aparador, por exemplo, pois os dois não têm o mesmo valor de uso (utilidade), mas possuem o mesmo valor de troca, já que foram produzidos no mesmo tempo padrão – o que permite que ambos possam ser trocados mesmo sendo mercadorias distintas.


Sociologia

Fonte: Wikimedia commons

lança mão de melhorias tecnológicas para acelerar o processo de produção e aumentar a quantidade de mercadoria produzida. Contudo, nesse processo, não é oferecida qualquer gratificação ao trabalhador, que tem sua mão de obra substituída pelo maquinário tecnológico. Com essa mecanização dos modos de produção, ampliam-se os números e os lucros, sem aumentar os gastos com a força de trabalho.

A16  Negociação e conflito: a produção social como produção de valor

Figura 05 - A imagem representa, de maneira forte e fidedigna, como os capitalistas agem com os trabalhadores em suas relações de produção no modo de produção capitalista.

Fonte: Wikimedia commons

É importante destacar, ainda, a diferença entre dinheiro e salário. O desenvolvimento lógico e histórico da troca mercantil gera um equivalente geral que se concretiza na forma de dinheiro, como o ouro o foi, por um tempo, ou seja, o dinheiro é o mediador das trocas mercantis. Por outro lado, o salário, em meio a esse processo de produção da mais-valia, não equivale ao valor da força de trabalho do trabalhador, já que se o capitalista pagasse de forma real e concreta por isso, a fonte de lucros deixaria de existir. A força de trabalho - o dispêndio de energia muscular, nervosa e cerebral do operário – que o operário vende é sempre menor do que o valor que ele produz. O salário é, portanto, o pagamento de apenas uma parte do dia de trabalho, ou seja, somente daquelas 2 horas, em que o operário produziu a mesa usada no exemplo acima, sendo, assim, uma forma disfarçada do valor da força de trabalho.

O marxismo clássico e a prática sindical Com essas desigualdades e explorações escancaradas, pretende-se fazer uma reflexão acerca dos sindicatos e de como eles eram encarados por Marx. Engels já chamava a atenção no sentindo de que os sindicatos podiam ser um instrumento fundamental para conter a gana dos capitalistas. Marx, entretanto, via no sindicato uma maneira intermediária de luta dos trabalhadores. Como sa-

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Além das manifestações sindicais, a greve também representa a luta de classes. Isso porque os trabalhadores enxergam que, por meio dela, podem conseguir grandes conquistas e ter cada vez mais sua consciência de classe forte e unificada, escancarando, assim, toda a exploração e opressão existentes na sociedade capitalista. Podemos evocar aqui o papel do Estado nessas situações. Como percebemos, para Marx, o Estado é um instrumento de reprodução dos interesses dos capitalistas. Isso pode ser notado, além das repressões violentas em greves, como estudamos no módulo anterior, na defasagem quanto aos direitos trabalhistas, que deveriam ser papel do Estado. Como já visto no módulo 04, “A produção sociológica contemporânea: Zygmunt Bauman e a sociedade líquida”, há cada vez mais incertezas e inseguranças de um emprego fixo. Isso advém de relações de trabalho constantemente desregulamentadas, como sugere a reforma da previdência, por exemplo, em que um dos pontos é a permissão e legitimidade de negociação entre patrões e empregados, ou seja, o que for acordado entre eles pode valer mais do que as leis trabalhistas. Em alguns pontos, a reforma trabalhista permite fazer acordos individuais, negociados diretamente entre o trabalhador e seu patrão, sem intermédio de um sindicato ou entidade de classe. Esse é somente um dos exemplos de situações que hoje são chanceladas e se tornam fáceis de observar, deixando claro o desinteresse e a negligência do Estado, frente aos interesses coletivos das classes trabalhadoras. Nesse âmbito, vale ressaltar uma categoria que Marx define como exército de reserva, o desemprego estrutural das economias capitalistas. Para ele, o capitalismo necessita do desemprego. Assim, o desemprego não é algo temporário, gerado por determinadas ações, mas é uma das condições fundamentais da existência do capitalismo. Esse exército de reserva acontece quando há um desemprego em massa. Isso é positivo para o capitalista na medida em que, caso haja greve, use esse desemprego como desculpa para não atender às reivindicações e, assim, manter os salários baixos. O capitalismo o utiliza como uma ameaça às reivindicações sindicais. É como se dissesse: “se vocês não querem o trabalho sob minhas condições, há uma grande massa desempregada que quer”.

Com isso, podemos ver que a desigualdade, a opressão e a exploração são condições que permitem que o modo de produção capitalista se solidifique cada vez mais. Além disso, a tomada de consciência de classe e a revolução são as únicas formas para a transformação social e para a saída desse mundo coisificado em que o trabalhador e todo o proletariado se encontra. Enquanto isso não acontece, haverá um permanente e constante conflito entre capitalistas e trabalhadores, que não é possível resolver dentro da sociedade capitalista. Por isso, para Marx, a História era sempre a história da luta de classes.

Figura 06 - A charge demonstra justamente o quanto o capitalista só está interessado na produção do lucro, não se preocupando, em momento algum, por empenhar o trabalhador a jornadas de trabalho exaustivas, sabendo que o exército de reserva substituirá qualquer um de seus trabalhadores de maneira instantânea.

Referências bibliográficas MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1974. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Tradução por Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, Livro 1, v.1, tomo 1. 1985a. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Tradução por Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, Livro 1, v. 1, tomo 2. 1985b. MARX, K.; ENGELS. F. A ideologia alemã. São Paulo, Martins Fontes, 1998. MARX, K.; ENGELS. F. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo, Boitempo, 5ª reimpressão, 2007. MARX, K. Crítica do Programa de Gotha. São Paulo, Boitempo, 2012.

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A16  Negociação e conflito: a produção social como produção de valor

bemos, para Marx, o caminho para se atingir o comunismo seria o socialismo, via ditadura do proletariado. Por isso, a luta sindical, por ser vista como uma escola para essa revolução atingir seu intuito, na medida em que já servia como um despertar da consciência de classe dos operários.


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Sociologia Questão 02. a) O conceito em questão é o de mais-valia. Ele corresponde à sobra de valor que o proletário produz em seu trabalho de produção da mercadoria e que será apropriada pelo capitalista. b) A mais-valia absoluta corresponde à ampliação do tempo de trabalho do trabalhador. Sendo obrigado a trabalhar por mais tempo, ele produz mais para o burguês. Já a mais-valia relativa corresponde ao incremento da produtividade do trabalhador. Se, em menos tempo, ele produzir mais, a mais-valia também aumentará para o burguês, mesmo que este não tenha que ampliar a jornada de trabalho de seus empregados. Tanto uma forma como a outra intensificam a exploração do trabalhador.

Exercícios de Fixação

sécu300).

01. (UEG GO) Para Marx, diante da tentativa humana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso considerar as formas de conhecimento ilusório que mascaram os conflitos sociais. Nesse sentido, a ideologia adquire um caráter negativo, torna-se um instrumento de dominação na medida em que naturaliza o que deveria ser explicado como resultado da ação histórico-social dos homens, e universaliza os interesses de uma classe como interesse de todos. A partir de tal concepção de ideologia, constata-se que a) a sociedade capitalista transforma todas as formas de consciência em representações ilusórias da realidade conforme os interesses da classe dominante. b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a considera um elemento fundamental no processo de emancipação da classe trabalhadora. c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ideologia é um produto do esforço individual principalmente dos indivíduos da classe dominante. d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de uma noção genérica e abstrata de trabalho, mascarando as reais condições do trabalho alienado no modo de produção capitalista. 02. (UFU MG) Segundo Aron, para Marx, “o tempo de trabalho necessário para o operário produzir um valor igual ao que recebe sob forma de salário é inferior à duração efetiva do seu salário”.

A16  Negociação e conflito: a produção social como produção de valor

(ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 148).

Com base no trecho, faça o que se pede. a) A proposição apresentada por Aron está ligada a qual conceito dentro da teoria marxista? Explique esse conceito. b) Como este conceito, dentro da teoria marxista, pode ser desdobrado como absoluto e relativo? Explique esses desdobramentos, caracterizando-os e definindo-os. 03. (Uel PR) O dinheiro alterou enormemente as relações sociais e, no desenvolvimento da história econômica da sociedade, atingiu o seu ápice com o modo de produção capitalista. Com base nos conhecimentos sobre os estudos de Karl Marx, assinale a alternativa que apresenta, corretamente, as explicações sobre a produção da riqueza na sociedade capitalista. a) A mercantilização das relações de produção e de reprodução, por intermédio do dinheiro, possibilita a desmistificação do fetichismo da mercadoria. b) Enquanto mediação da relação social, o dinheiro demonstra as particularidades das relações entre indivíduos, como as políticas e as familiares.

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c) O dinheiro tem a função de revelar o valor de uso das mercadorias, ao destacar a valorização diferenciada entre os diversos trabalhos. d) O dinheiro é um instrumento técnico que facilita as relações de troca e evidencia a exploração contida no trabalho assalariado. e) O dinheiro caracteriza-se por sua capacidade de expressar um valor genérico equivalente, intercambiável por qualquer outro valor. 04. (Upe-ssa) Leia o texto a seguir: A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho consome-a, fazendo o vendedor dela trabalhar. Este, ao trabalhar, torna-se realmente no que antes era apenas potencialmente: força de trabalho em ação, trabalhador. Para o trabalho reaparecer em mercadorias, tem de ser empregado em valores de uso, em coisas que sirvam para satisfazer necessidades de qualquer natureza. O que o capitalista determina ao trabalhador produzir é, portanto, um valor de uso particular, um artigo especificado. A produção de valores de uso muda sua natureza geral por ser levada a cabo em benefício do capitalista ou estar sob seu controle. Por isso, temos inicialmente de considerar o processo de trabalho à parte de qualquer estrutura social determinada. MARX, Karl. O capital, v. 1, parte III, capítulo VII. Disponível em: <https:// www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapitalv1/vol1cap07.htm>

Os três principais elementos que constituem o processo apresentado no texto são a) trabalho, vendedor e material. b) matéria-prima, trabalho e capitalista. c) estrutura social, capitalista e trabalho. d) consumo, vendedor, instrumentos de produção. e) trabalho, matéria-prima e instrumentos de produção. 05. (Unimontes MG) Para Karl Marx (1818-1883), no processo produtivo, o trabalhador gera o valor equivalente a seu salário, que é o tempo de trabalho necessário, mas também cria valor com o tempo de trabalho excedente, que é apropriado pelo proprietário do capital. Embora o processo de venda da força de trabalho por um salário apareça como um intercâmbio entre equivalentes, o valor que o trabalhador pode produzir durante o tempo em que trabalha para aquele que o contrata é um valor superior àquele pelo qual vende suas capacidades. Assinale a alternativa que define essa proposição. a) Mais-valia. b) Modo de produção. c) Materialismo histórico. d) Trabalho concreto. Questão05. [A] A diferença entre o que foi produzido pelo trabalhador e os custos de produção corresponde à mais-valia. Compreendê-la consiste em um passo fundamental para perceber o processo de exploração do trabalhador.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 02. a) A greve corresponde à paralisação das atividades produtivas por parte dos trabalhadores. Eles, no intuito de reivindicar aumento de salários, algum direito não assegurado ou algum outro interesse, resolvem paralisar suas atividades para pressionar os empregadores a atenderem suas reivindicações. b) Sim. Uma vez que há um conflito de interesses entre a classe trabalhadora e a classe empregadora, a greve expressa exatamente a luta de classes evocada por Karl Marx.

Exercícios Complementares

02. (Interbits) O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. LEI Nº 7.783, DE 28 DE JUNHO DE 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.htm> Acesso em 22 mai. 2013.

A partir do documento acima e dos seus estudos de sociologia, responda: a) O que é uma greve? b) Existe alguma relação entre ela e a luta de classes evocada por Karl Marx? Por quê? 03. (Enem MEC) Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade — fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. MARX, K. “Prefácio à Crítica da economia política.” In: MARX, K.; ENGELS, F. Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado). Questão 04. O exército industrial de reserva é um termo utilizado por Karl Marx para caracterizar a massa de desempregados em um sistema capitalista. A sua existência faz com que os donos do capital não se interessem em modificar e melhorar as condições de trabalho de determinado setor produtivo. Caso algum trabalhador se recuse a trabalhar, ele pode ser demitido e facilmente substituído por qualquer desempregado, que estará disposto a trabalhar em condições precárias em troca de receber um salário de subsistência.

Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe. 04. (Interbits) Conforme noticiado em muitos jornais, em maio de 2013, o governo brasileiro esteve negociando com Cuba a entrada de cerca de seis mil médicos cubanos para trabalhar em lugares onde essa oferta de vagas não é preenchida por profissionais brasileiros. Em geral, são regiões pobres e de difícil acesso. Em artigo na Folha de S. Paulo de 15 de maio de 2013, Hélio Schwartsman chamou essa iniciativa de “substituição de mão de obra local por um exército de reserva”

Segundo a sociologia, o que é um exército industrial de reserva? Quais são os efeitos de sua existência? 05. (Interbits) PROCURAM-SE DOMÉSTICAS. PAGA-SE BEM. Depois de seis meses procurando uma empregada doméstica, a advogada Andrea teve de abrir mão de várias exigências para conseguir contratar uma profissional. “Tive de dar folga aos sábados, flexibilizar o horário de trabalho e ampliar o salário oferecido”, conta. Pressionado pela escassez de profissionais no mercado e pelo aumento do salário mínimo de 14% em 2012, o gasto com empregada doméstica foi o que mais pesou na inflação no ano passado. Com a abertura de vagas em outros setores de prestadores de serviços, como comércio e empresas de telemarketing, por exemplo, está ocorrendo uma migração de profissionais entre os segmentos. Além disso, os níveis de desemprego hoje são os menores da história econômica recente, o que pressiona ainda mais os salários. “Hoje a taxa de desemprego está em 5,5%, que é um nível inferior à taxa de desemprego tida como natural”, observa a economista do Banco Santander, Tatiana Pinheiro. Fonte: Estadão. 14 jan. 2013. Adaptado. Disponível em <http://www.estadao.com.br/noticias/...,0.htm> Acesso em 16 jan. 2013.

Karl Marx criou um em conceito para explica a necessidade do sistema capitalista de manter uma taxa de desemprego relativamente alta. Segundo ele, esse desemprego gera que tipo de massa trabalhadora? Qual a função dessa massa? Questão 05. Para Marx, o desemprego cria o chamado “exército industrial de reserva”. Esse tipo de massa trabalhadora desempregada tem a função de fazer com que os contratos de trabalho sejam mais precários, uma vez que um trabalhador insatisfeito pode facilmente ser substituído por outro desempregado. No caso do ramo de empregadas domésticas, está acontecendo o inverso: como a quantidade de trabalhadores diminuiu muito, os profissionais passaram a reivindicar melhores condições de trabalho.

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A16  Negociação e conflito: a produção social como produção de valor

01. (Unisc SC) Karl Marx se notabilizou como o cientista social que fundou as bases epistemológicas do Materialismo Histórico a partir das categorias Capital e Trabalho e do método dialético. Segundo o pensador, a história da humanidade se desenvolve a partir da tensão entre essas duas categorias e todas as formas históricas de sociedade, a partir do comunismo primitivo, expressam em si mesmas uma organização específica do trabalho com vistas à produção de bens e acúmulo de riquezas. Nesse sentido, o capitalismo seria uma das formas sociais que se caracteriza pela organização da produção a partir da relação entre capital e trabalho, de tal modo que os donos dos meios de produção (a burguesia) exploram o trabalho objetivando a obtenção do lucro. A categoria econômica que denota o lucro obtido a partir desse processo de exploração do trabalho é denominada por Karl Marx de a) expropriação. b) exploração. c) capitalismo. d) mais-valia. e) comunismo.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

Questão 02. a) Chama de luta de classes. b) No sistema capitalista, há basicamente duas classes sociais, segundo Marx: a burguesia e o proletariado. Por ser a detentora dos meios de produção, a burguesia oprime o proletariado, que, por sua vez, se vê obrigado a trabalhar para a burguesia na medida em que somente possui sua força de trabalho para garantir sua sobrevivência.

Exercícios de Aprofundamento 01. (Uem PR) Considerando as contribuições de Karl Marx e da teoria marxista para a compreensão da economia política capitalista, assinale o que for correto: 01. Marx afirma que a moderna economia política capitalista foi instituída na Europa do século XIX por meio da aceitação generalizada de sua ideologia. 02. A teoria marxista contribui para o entendimento de que os modernos processos de exploração e alienação das forças de trabalho são o resultado de um sistema social de produção que pode ser transformado. 04. Segundo Marx, as empresas passaram a respeitar e a valorizar seus empregados a partir do momento em que se conscientizaram do papel central que eles ocupam no processo produtivo. 08. A teoria marxista explica que o sistema capitalista de produção se tornou a forma mais justa e democrática de combater as desigualdades nas sociedades modernas. 16. A obra de Marx contribuiu para o reconhecimento das leis de mercado enquanto fatos sociais independentes da ação humana, e que devem ser obedecidas para se manter a coesão social. 02. (Interbits) Até hoje, como vimos, todas as sociedades sempre se assentaram na oposição entre as classes opressoras e oprimidas. MARX, Karl. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Penguin Classicis/Companhia das Letras, 2012, p. 57.

a) Como Marx chama a oposição entre classes opressora e oprimida? b) Quais são as classes sociais no sistema capitalista? Qual delas é a opressora e qual é a oprimida? O que diferencia uma da outra? 03. (Unimontes MG) Desde suas primeiras publicações, as formulações teóricas de Karl Marx (1818-1883) provocam fortes impactos na ação política e debates nos meios acadêmicos, em variados períodos da história moderna. Sobre a importância intelectual de Marx, assinale a opção INCORRETA. a) O pensamento de Karl Marx continua a ser debatido nos meios intelectuais, inclusive no século XXI. b) Karl Marx é um pensador que não tem mais importância teórica para a análise da complexidade capitalista no mundo contemporâneo. c) Entre outros autores clássicos, Karl Marx é considerado um dos principais fundadores da Sociologia. d) As teorias de Karl Marx são fundamentais para a análise contemporânea dos problemas de desigualdades e conflitos de classe. 128

Questão 03.[B] É evidente que Marx continua sendo um autor importante. E isso não somente para a sociologia, mas também para a economia, para a história e para a filosofia.

04. (Interbits) Segundo Karl Marx, a sociedade capitalista conhece basicamente duas classes: a burguesia e o proletariado. Na abordagem marxista, como se dá a relação entre elas? a) As duas classes estão em harmonia. Ambas se complementam em um processo produtivo: os burgueses oferecem empregos, enquanto os proletários trabalham contribuindo para o progresso da civilização. b) Elas estão em constantes disputas políticas. Tais disputas aparecem, no Brasil, na polarização entre PT e PSDB, sendo o PT o partido dos trabalhadores (proletários) e o PSDB o partido dos empresários (burgueses). A alternância entre esses dois partidos no poder é o que definirá o modelo econômico da nação. c) Essas duas classes estão em luta. Enquanto os burgueses tentam exercer sua dominação sobre o proletariado, estes procuram resistir e fugir dessa relação de opressão. d) As duas classes estão em relação de solidariedade orgânica. O capitalismo surge em uma sociedade moderna, marcada por uma complexa divisão do trabalho. Longe de produzir desagregações, essa complexidade favorece a coesão social devido à dependência mútua de todos os indivíduos. e) As classes sociais estão em processo de fusão. Devido à mundialização do capital, não haverá mais classes sociais. Todos serão híbridos de empreendedores e trabalhadores, em uma sociedade regulada pelo mercado. 05. (Unicentro PR) De acordo com as análises de Karl Marx, a divisão social do trabalho revela duas classes que se contrapõem. Na produção capitalista, as duas classes antagônicas são as indicadas em a) senhor e escravo. b) clero e burguesia. c) servos e senhores. d) nobreza e burguesia. e) burguesia e proletariado. 06. (Uncisal AL) A Escola Marxista tem na teoria do conflito um dos seus fundamentos mais importantes em termos sociológicos. Tal teoria, pela óptica marxista, defende que a) os conflitos sociais são culturais, sendo expressões do embate entre a tradição e a inovação. b) os conflitos nascem das contradições, sendo estas resultantes do acesso desigual aos meios de produção. c) as sociedades mais avançadas são aquelas que melhor se adaptaram ao longo do processo histórico, sendo as menos aptas extintas. d) os conflitos sociais são observados apenas nas sociedades anteriores à Revolução Industrial. Questão 04. [C] Somente a alternativa [C] apresenta a relação entre burguesia e proletariado na concepção marxista. Segundo Marx, o motor da história é a luta de classes que, no sistema capitalista, ocorre entre a burguesia e o proletariado.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 09. Para Marx, ideologia corresponde a uma visão equivocada e invertida da realidade, que oculta a exploração do homem pelo homem e os conflitos de classe, além de legitimar o modo de pensar burguês. Sim, podemos dizer que o autor usa o conceito de ideologia no sentido marxista. Isso porque, segundo ele, a meritocracia, juntamente com o racismo, cria ideias que condenam determinada parcela da população à subordinação e ao fracasso, ainda que essas pessoas não se deem conta dessa situação de submissão.

e) todas as relações sociais estão desvinculadas da esfera econômica, sendo os conflitos políticos o alicerce da vida em sociedade. 07. (Interbits) Max Weber e Karl Marx foram sociólogos que procuraram compreender as transformações na sociedade moderna. Entretanto, em muitos pontos, eles apresentam ideias bastante divergentes. Assinale se as frases a seguir dizem respeito à sociologia de Marx ou à sociologia de Weber. Marx 1. As transformações na sociedade são decorrentes, principalmente, das alterações no modo de produção da vida material.

Weber

X

2. As transformações na sociedade possuem diversas causas.

X

3. A estratificação social é influenciada por diferenças de classe, status e partido.

X

4. As classes sociais decorrem das relações de produção e da divisão do trabalho.

X

5. O Estado é definido pela posse do monopólio do uso legítimo da força.

X

6. O Estado está relacionado com a superestrutura da sociedade.

X

7. A luta de classes é o motor da história.

X

08. (Uem PR) A sociologia marxista propõe uma interpretação da sociedade que toma as condições materiais de existência dos homens como fator determinante dos fenômenos sociais. Sobre essa concepção, assinale o que for correto. 01. Forças produtivas e relações sociais de produção são os dois componentes básicos da infraestrutura que determinam em última instância as demais dimensões da vida social. 02. Instituições como a Escola, o Estado e a Igreja fazem parte da superestrutura social, dotada de autonomia frente às determinações econômicas de cada momento histórico. 04. Mudanças na estrutura social são desencadeadas quando se desenvolvem incongruências entre a infraestrutura produtiva e a superestrutura, com predomínio da primeira sobre a última. 08. As instituições que compõem a superestrutura desempenham importantes funções de controle social e ideológico que contribuem para a manutenção das relações produtivas vigentes. 16. As classes sociais são definidas segundo a posição que ocupam nas instituições que compõem a dimensão superestrutural das sociedades. 09. (Interbits) A ideologia da meritocracia não subsiste no Brasil sem o racismo. Porque para acreditar que o patrão é aquele que estudou e se esforçou mais e o empregado é aquele que estudou Questão 10. O sistema capitalista acaba por inverter a relação das pessoas com as máquinas. Desta maneira, são as pessoas que têm de se adaptar ao ritmo das máquinas, e não o inverso. Isso é determinado, sobretudo, pelo tempo da produção. Sendo assim, no interior de uma fábrica, por exemplo, os trabalhadores devem acompanhar a velocidade da esteira e da produção, e, fora dela, acompanham o tempo do trânsito e do transporte. Na esfera privada, podemos citar o celular e o computador como máquinas que modificam o comportamento das pessoas.

e se esforçou menos, é necessário acreditar que, de modo geral, brancos estudam e se esforçam mais do que negros. As duas crenças pré-conscientes — da meritocracia e da superioridade intelectual intrínseca dos brancos — jamais entram em choque. Isso é ideologia. A ideologia é continuar acreditando na meritocracia, mesmo quando a realidade dá incontáveis exemplos de gente que foi mal na escola e nem por isso virou gari — gente de uma cor e de uma classe social bem específicas. Vale repetir que estou falando neste texto de crenças pré-conscientes — coisas nas quais acreditamos sem nem saber que acreditamos. É claro que todos sabemos que a capacidade intelectual nada tem a ver com a cor da pele ou quaisquer outras características físicas. Jamais afirmaríamos o contrário. Estamos perfeitamente cientes de que não faz sentido associar inteligência e raça. Mas estou falando aqui justamente de coisas das quais não estamos cientes. De dados e informações que contextualizam nossa visão de mundo sem nos darmos conta. Dados, sensações, percepções que compõem o pano de fundo sobre o qual o mundo se destaca. Já imaginou a bagunça que nossa vida seria, pergunta Merleau-Ponty, se conseguíssemos ver, como coisas, os intervalos entre as coisas? PAVANELLI, C. L. Garis que escrevem bem. Confeitaria. 8 mar. 2014. Adaptado. Disponível em: <http://confeitariamag.com/convidado/garis-que-escrevem-bem/> Acesso em 05 mai. 2014.

Segundo Karl Marx, o que é a ideologia? O autor do texto utiliza o conceito de ideologia de forma similar à Marx? Justifique sua resposta. 10. (Interbits) Esse controle tecnológico pleno do ambiente em que vivem as pessoas acaba, por consequência, alterando seus comportamentos. Nessa sociedade altamente mecanizada, são os homens e mulheres que devem se adaptar ao ritmo e à aceleração das máquinas, e não o contrário. SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: No loop da Montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 62.

A partir do texto acima e dos seus conhecimentos sobre a abordagem marxista, responda: de que forma o sistema capitalista de produção acaba por modificar a forma como as pessoas se relacionam com a máquina? 11. (Interbits)

A figura acima explicita uma diferença clara entre o empregado e o patrão. Segundo a teoria marxista, o que causa essa diferença? Questão 11. A diferença entre o empregado e o patrão advém das relações de produção. O patrão possui a posse dos meios de produção da vida material, enquanto o empregado possui somente a posse de sua força de trabalho. Com isso, estabelece-se um contrato entre as partes no qual o empregado vende essa força de trabalho (em troca de um salário de subsistência) e produz mercadorias que irão gerar o lucro do patrão.

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FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Questão 07. As frases 1, 4, 6 e 7 fazem referência ao marxismo, dizendo respeito à noção de luta de classes, ao materialismo histórico e à concepção de Marx a respeito do Estado. Já as frases 2, 3 e 5 dizem respeito à sociologia weberiana e à concepção desse autor a respeito da estratificação social, mudança social e sociologia política.


FRENTE

A


SOCIOLOGIA Por falar nisso “No título deste estudo emprega-se o conceito de “espírito do capitalismo”, que soa um pouco pretensioso. O que se deve entender por isso? [Na tentativa de lhe dar uma “definição” ou algo assim, logo se apresentam certas dificuldades que pertencem à natureza do próprio objetivo da pesquisa.] Se é que é possível encontrar um objeto que dê algum sentido ao emprego dessa designação, ele só pode ser uma “individualidade histórica”, isto é, um complexo de conexões que se dão na realidade histórica e que nós encadeamos conceitualmente em um todo, do ponto de vista de sua significação cultural. Tal conceito histórico, entretanto, na medida em que por seu conteúdo está relacionado a um fenômeno significativo em sua peculiaridade individual, não pode ser definido (vale dizer: “delimitado”) segundo o esquema genusproximum, differentia specifica, devendo antes ser gradualmente composto a partir de cada um de seus elementos, extraídos da realidade histórica.” (WEBER, 2004, p. 41) Nas próximas aulas, estudaremos os seguintes temas

A17 A18 A19 A20

Max Weber: a Sociologia compreensiva e seus conceitos fundamentais ......................................................................132 A Ética Protestante, o “espírito” do capitalismo e o processo de racionalização e desencantamento do mundo..........137 A concepção weberiana de Estado Moderno e seus desdobramentos...........................................................................142 Clientelismo, coronelismo, patrimonialismo e nepotismo: a realidade brasileira sob a ótica da teoria weberiana.......147


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A17

ASSUNTOS ABORDADOS n Max Weber: a Sociologia com-

preensiva e seus conceitos fundamentais

MAX WEBER: A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA E SEUS CONCEITOS FUNDAMENTAIS Max Weber foi influenciado pelos estudos positivistas construídos por Auguste Comte e Émile Durkheim. Além disso, é inegável a influência teórico-metodológica do materialismo dialético de Karl Marx. Assim como Durkheim e Marx, Weber buscava entender as modificações sociais resultantes da Revolução Industrial. No entanto, diferentemente de Durkheim, Weber não só dava importância para o social, como também dava enfoque no aspecto individual, pois, para ele, as motivações individuais tinham forte influência nas transformações sociais. Para que, então, se possa compreender o porquê de sua sociologia ter sido nomeada de compreensiva, é necessário que haja a definição do que Weber entende por Sociologia. Assim, é preciso entender que a Sociologia é uma ciência que se propõe compreender e interpretar para explicar a ação social. Para Weber, o social não estaria acima dos indivíduos, como nas teorias dukheimianas. O que interessa aqui são as ações nas relações sociais. A Sociologia é, portanto, uma ciência que pretende entender e interpretar a ação social. Para seguir com os conceitos usados por Weber em sua teoria, é necessário que comecemos entendendo o que é uma relação social. Para o autor, uma relação social acontece quando os indivíduos levam em consideração a conduta dos outros em suas ações. Por “relação” social entendemos o comportamento reciprocamente referido quanto ao seu conteúdo de sentido por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa referência. A relação social consiste, completa e exclusivamente, na probabilidade de que se aja socialmente de uma forma indicável (pelo sentido), não importando, por enquanto, em que se baseia essa probabilidade. (WEBER, 2012, p. 16) As relações sociais compreendem, portanto, um conjunto de ações sociais entre os indivíduos. Tem que haver, assim, um mínimo de relacionamento recíproco entre as ações de ambas as partes. Há que existir uma resposta mútua às expectativas do outro, para se estabelecer assim uma relação social. Para Weber, são as relações sociais que integram a sociedade e podem se desmanchar ao mínimo sinal de que o outro não mais corresponde de maneira recíproca à minha expectativa. Weber ressalta que há dois tipos de relações sociais: relações sociais comunitárias e relações sociais associativas. As relações comunitárias se dão quando a ação social carrega consigo um sentimento de pertencimento a um determinado grupo. Pode-se afirmar que elas são baseadas nos sentimentos e nas subjetividades. As relações associativas, por sua vez, têm um caráter mais objetivo. As ações são baseadas na razão e no interesse. Explicado isso, vamos então ao conceito de ação social de que tanto falamos e que é central na sociologia weberiana, assim como o fato social o era para Durkheim. A ação social é qualquer ação realizada por um indivíduo que seja dotada de sentido, ou seja, é uma ação que tenha um sentido visado pelo agente ou pelos agentes. Ela se refere ao comportamento de outros. A ação social é, portanto, uma ação que tenha sentido para o sujeito, sendo orientada para o outro, isto é, ela só é possível se estiver em contato com o outro. Contudo, aqui, diferentemente da relação social, não há que ter, necessariamente, uma reciprocidade entre os atores.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Com base nisso, Weber caracterizou quatro tipos de ações sociais: a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação afetiva e a ação tradicional. Ação social racional com relação a fins: neste tipo de ação, o sujeito teria uma meta. Com esse fim racionalmente definido, por meio de planejamento, ele buscaria métodos para atingir suas metas. O importante é conseguir, de modo racional, um fim. Um exemplo, seria uma pessoa que planeja passar no vestibular. Com essa meta clara em sua mente, o sujeito planeja os meios necessários para atingir esse objetivo. Ação social racional com relação a valores: o sujeito orienta suas ações por princípios, por determinados valores ou normas, que podem ser individuais ou coletivas. É o caso de um cristão que orienta sua ação de acordo com os mandamentos da Bíblia, por exemplo, ou mesmo de uma equipe médica, que segue determinados padrões de ética e conduta. Ação social afetiva: as ações são motivadas pelos sentimentos dos sujeitos em relação aos outros, como, por exemplo, medo, raiva, amor, paixão etc. Para ficar claro, pensemos nas torcidas de times rivais no futebol. Os torcedores, movidos pelo sentimento de raiva e ódio, promovem brigas e conflitos. Ação social tradicional: as ações deste tipo são orientadas por hábitos e costumes. Nesse caso, elas podem ser geradas por influência do coletivo como, por exemplo, pais que batizam seus filhos por simples influência do social, já que muitas vezes não frequentam a igreja ou não se declaram cristãos.

#Curiosidades

Biografia retirada e adaptada do site https://www.ebiografia.com/max_weber/

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A17  Max Weber: a Sociologia compreensiva e seus conceitos fundamentais

Max Weber (1864-1920) foi um importante sociólogo e destacado economista alemão. Suas grandes obras são, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e Economia e Sociedade. Dedicou sua vida ao trabalho acadêmico, escrevendo sobres assuntos variados como o espírito do capitalismo e as religiões chinesas. Max Weber (18641920) nasceu em Erfurt, Turíngia, Alemanha, no dia 21 de abril de 1864. Formou-se em Direito e doutorou-se em Economia. Foi nomeado professor de economia da Universidade de Heidelberg. Entre 1900 e 1918, ficou afastado do magistério em consequência de um colapso nervoso. No período que ficou afastado, colaborou em diversos jornais alemães e realizou diversas pesquisas. Desenvolveu importantes trabalhos na Sociologia, foi considerado um dos fundadores da Sociologia Moderna, ao lado de Comte, Marx e Durkheim. Sua grade obra chama-se Economia e Sociedade, onde traça um quadro do poder e da política, ou seja, das relações de dominação. Defendia a tese de que a forma de legitimação de um poder é decisiva para se compreender que tipo de poder é aquele. Em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, o sociólogo realizou importante estudo sobre como a religião, especialmente o protestantismo nos EUA, foi um fator importante para a consolidação do capitalismo. Em contrapartida, Weber achava que o catolicismo tradicional poderia ser um fator impeditivo para o desenvolvimento e prosperidade econômica de países que praticavam aquela religião. Isso se devia ao fato do ideário católico pregar a condenação do lucro. Já a religião protestante possuía maior identificação com a produção de riquezas, justamente, por valorizar o mérito pessoal e o trabalho como meios de valorização espiritual. A influência de Weber nas ciências sociais é imensa, só comparável a do francês Emile Durkheim e Karl Marx. No Brasil, uma boa parte dos sociólogos, cientistas, políticos e historiadores se inspiraram em Weber para entender o país. Max Weber morreu em Munique, Alemanha, vítima de pneumonia, no dia 14 de junho de 1920.

Fonte: Wikimedia Commons

BIOGRAFIA DE MAX WEBER


Sociologia

Podemos destacar, ainda, que os dois primeiros tipos de ações são racionais e os dois últimos são “não racionais”, já que os sentimentos, ou até mesmo os instintos individuais ou coletivos são que orientam a ação, sem uma devida racionalidade, como uma resposta automática às motivações. Dessa forma, tem-se que a ação social só existe quando o indivíduo estabelece uma comunicação com os outros. Consideremos outro exemplo para que não haja dúvidas quanto a essas distinções. Vamos pensar em um consumidor que vá comprar sapatos. O ato em si já é uma ação social, porque o ato de comprar já é significativo e dotado de algum sentido. O importante a ser destacado é como o consumidor orienta sua ação na compra dos sapatos. Assim, ele pode comprar uma peça que goste mais, ou que tenha uma afeição maior, caracterizando uma ação afetiva; pode comprar ainda as peças que sempre compra, fazendo com que sua ação seja tradicional; pode também comprar pela marca, o que agrega valores e sua ação será racional com relação a esses valores; e, por fim, pode comprar as peças que estiverem mais de acordo com a finalidade, para festas, por exemplo. Assim, sua ação será racionalmente com respeito a fins. Ressalte-se que uma ação não, necessariamente, pode estar relacionada a um só tipo de ação, podendo, o consumidor escolher os sapatos por afeição e pela marca, o que caracterizaria sua ação como afetiva, mas também, como racional, com relação a valores. Outro conceito fundamental para Weber diz respeito ao tipo ideal, que é um instrumento da análise sociológica. Weber então elabora um modelo metodológico para que se possa fazer a análise das ações sociais, objeto da Sociologia. O tipo ideal é uma construção, algo que vem do pensamento, ideia e reflexão do pesquisador, para que aja como um guia, uma referência no momento das análises sociológicas. São parâmetros que irão orientar a investigação e a ação do ator. Como exemplo, consideremos o conceito de democracia, cuja definição nem sempre é encontrada na realidade. Está aí mais um fato sobre o tipo ideal; ele quase nunca, ou nunca, será encontrado na realidade. Contudo, quando vamos analisar se um estado é ou não democrático, iremos recorrer rapidamente a essa definição do tipo ideal ou tipo puro do que é democracia para fazer o contraste com a realidade.

A17  Max Weber: a Sociologia compreensiva e seus conceitos fundamentais

Por fim, outro conceito fundamental para Weber é o sujeito. Ele é livre para agir e influenciar o campo social. Nesse sentido, a Sociologia demonstra um interesse para apreender e compreender as motivações que orientam essas ações. Por isso, a Sociologia de Weber é intitulada como compreensiva. Referências bibliográficas WEBER, Max. A objetividade do conhecimento nas Ciências Sociais. In: COHN, Gabriel (Org.). Max Weber: Sociologia. Tradução de Amélia Cohn e Gabriel Cohn. 2. ed. São Paulo: Ática, 1982. p. 79-127. WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia. Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.2, 1999. WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. WEBER, Max. Metodologia das ciências sociais. São Paulo, Campinas: Cortez: Universidade Estadual de Campinas, 1999. WEBER, Max. Conceitos básicos de sociologia. São Paulo: Centauro, 2002. WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora UnB: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.1, 2012.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 03. a) O ato de se vestir bem para uma festa. b) Quando o indivíduo vai a uma festa, ele sabe que ali encontrará novas pessoas, e que suas ações devem estar de acordo com a situação. Assim, racionalmente, ele decide se vestir com um traje socialmente reconhecido como adequado para aparentar uma posição social que lhe renda prestígio diante dos demais indivíduos.

Questão 04. Resposta.[B] Todos os exemplos elencados na questão dizem respeito a ações que têm um objetivo político claro. Assim, pode-se dizer que sejam ações racionais em relação a fins.

Exercícios de Fixação

Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/o-carater-pedagogico-da-ocupacao-das-escolas-4qd45ib0p7hy6mli685kqzsxg>. Acesso em: 22 abr. 2017.

Avaliando o movimento das ocupações a partir do conceito de ação social em Weber, pode-se afirmar que o tipo de ação social prevalecente é a) Ação afetiva. b) Ação racional em relação a fins. c) Ação tradicional. d) Ação altruísta em relação a valores. 02. (Interbits) Segundo Max Weber, podem existir 4 tipos puros de ação social. Relacione a primeira coluna com a segunda, de acordo com o tipo de ação social mais adequado a cada uma das situações: ( 1 ) Homem que uma vez por semana vai à missa.

( ) Ação racional com relação a valores.

( 2 ) Mulher que deixa o marido por ele tê-la traído.

( ) Ação racional com relação a fins.

( 3 ) Mulher correndo por 2 horas para poder emagrecer.

(

) Ação tradicional.

( 4 ) Homem comendo comida vegetariana por respeito aos animais.

(

) Ação afetiva.

03. (Uema) As revoluções burguesas influenciaram na cientificidade do pensamento sociológico, no final do século XVIII, apresentando várias interpretações dos problemas sociopolíticos da época. Destaca-se Max Weber (1864-1920) como importante sociólogo alemão, que indicou a ação social como objeto de estudo da Sociologia, partindo do princípio de que o indivíduo é o núcleo da análise histórico-comparativa dessa ciência. Somente ao indivíduo cabe definir as intenções e as finalidades de seus atos. a) Diante dessa constatação, apresente uma situação que caracterize o conceito de ação social em Weber. b) Explique-a. 04. (Interbits) A sociologia desenvolvida por Max Weber é tradicionalmente conhecida como sociologia compreensiva.

Assinale a alternativa correta a respeito da sociologia weberiana a) Para Max Weber, os fatos sociais devem ser tratados como coisas. b) Para Weber, a ação compreensiva é a ação com sentido, sendo analisada mediante tipos puros ou ideais. c) Segundo Weber, a sociologia deve estar comprometida com a transformação social resultante da luta de classes. d) Weber está interessado em compreender o desenvolvimento do capitalismo moderno. Por isso ele desenvolve a noção de solidariedade orgânica e mecânica. e) Weber pouco se interessou pelo fenômeno da Religião. Segundo ele, a religião é o ópio do povo e, por isso, deve ser substituída pela razão como forma de compreender o mundo. 05. (Unioeste) A Sociologia de Max Weber é considerada uma ciência compreensiva e explicativa. Na sua concepção, compete ao sociólogo compreender e interpretar a ação dos indivíduos, assim como os valores pelos quais os indivíduos compreendem suas próprias intenções pela introspecção ou pela interpretação da conduta de outros indivíduos. Sobre a sociologia compreensiva de Max Weber, é correto afirmar que a) segundo o método da sociologia compreensiva de Max Weber, há uma ênfase metodológica sobre a sociedade como a unidade inicial da explicação para se chegar a significados objetivos de ação social. b) na sociologia compreensiva de Max Weber, a primeira tarefa da sociologia é reformar a sociedade ou gerar algum tipo de teoria revolucionária. Weber herda efetivamente um ponto de vista sociológico compreensivo imputado à escola marxista. c) para Max Weber, a sociologia está voltada unicamente para a compreensão dos fenômenos sociais. Na sociologia compreensiva, o homem não consegue compreender as intenções dos outros em termos de suas intenções professadas. d) no método compreensivo de Weber, os fenômenos sociais são considerados como a simples expressão de causas exteriores que se impõem aos indivíduos. Weber define a sociologia compreensiva em termos de fatos sociais e não em termos de atividade ou ação. e) Max Weber entende por sociologia compreensiva uma ciência que se propõe a compreender a atividade social e, deste modo, explicar causalmente seu desenrolar e seus efeitos. Para explicar o mundo social, importa compreender também a ação dos seres humanos do ponto de vista do sentido e dos valores.

Questão 02. ( 1 ) Ação tradicional. Ir à missa corresponde, de forma geral, a uma ação ancorada na tradição religiosa. ( 2 ) Ação afetiva. São as emoções que levam a mulher a ter esse tipo de ação. ( 3 ) Ação racional com relação a fins. A corrida está relacionada a um objetivo: o emagrecimento. ( 4 ) Ação racional com relação a valores. A decisão de não comer animais é racional, e tem como princípio o respeito a um valor moral.

Questão 05. Resposta. [E] A alternativa [E] é a única correta. Weber se interessa por compreender o sentido e os valores também das ações individuais, em um contexto social. Vale ressaltar que foi Durkheim quem se preocupou em estudar os fatos sociais e sua influência sobre indivíduos, e que foi Marx quem procurou desenvolver uma teoria essencialmente relacionada com a transformação social.

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A17  Max Weber: a Sociologia compreensiva e seus conceitos fundamentais

01. (UFU MG) Para Fernando José Martins, no “fenômeno contemporâneo das ocupações das escolas: os estudantes de São Paulo lutaram para que sua escola não feche, ou por melhores condições nas escolas do Rio de Janeiro, ou contra a gestão privada das escolas em Goiás, o passe livre e aumento da merenda no Ceará, ou, no caso paranaense, sobre a reforma do Ensino Médio, que subtrai a obrigatoriedade de elementos curriculares fundamentais.”


Sociologia Questão 02. Resposta: 02 + 04 + 16 = 22. Somente as afirmativas [01] e [08] são falsas. Essa ideia de que a ordem social impõe-se aos indivíduos coercitivamente é durkheimiana, e não weberiana. Max Weber é conhecido por ter desenvolvido a noção de ação social e de tipos ideais. Esses são conceitos abstratos que auxiliam o sociólogo na busca pela objetividade, uma vez que ele nunca pode acessar os fatos de maneira pura.

Questão 05. Resposta. [D] Pode-se dizer que a mulher em questão age segundo a ação racional referente a fins. Esse é o tipo de ação orientado para um objetivo previamente definido, que é no caso, o sucesso profissional.

Exercícios Complementares 01. (UFU MG) Ao contrário de outros pensadores sociológicos anteriores, Weber acreditava que a Sociologia deveria se concentrar na ação social e não nas estruturas. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 33.

A17  Max Weber: a Sociologia compreensiva e seus conceitos fundamentais

De acordo com esta assertiva, Weber considera que a) as ideias, os valores e as crenças têm o poder de ocasionar transformações. b) o conflito de classes é o fator mais relevante para a mudança social. c) as estruturas existem externamente ou independentemente dos indivíduos. d) os fatores econômicos são os mais importantes para as transformações sociais. 02. (UEM PR) Sobre a sociologia compreensiva de Max Weber, assinale o que for correto. 01. Segundo essa perspectiva sociológica, a ordem social impõe-se aos indivíduos como força exterior e coercitiva, submetendo, assim, as vontades desses indivíduos aos padrões sociais estabelecidos. 02. A ação social é entendida como um comportamento dotado de sentido subjetivamente visado e orientado para o comportamento de outros atores. 04. O sociólogo tem como tarefa fundamental a identificação e a compreensão causal dos sentidos e das motivações que orientam os indivíduos em suas ações sociais. 08. O que garante a cientificidade da análise sociológica é o recurso à objetividade pura dos fatos. 16. As instituições sociais são definidas como resultados de relações sociais estáveis e duráveis, passíveis de serem alteradas a partir de transformações nos sentidos atribuídos pelos indivíduos às suas ações. 03. (Interbits) Sendo uma ciência generalizadora, a Sociologia constrói conceitos-tipo, ‘vazios frente à realidade concreta do histórico’ e distanciados desta, mas unívocos porque pretendem ser fórmulas interpretativas através das quais se apresenta uma explicação racional para a realidade empírica que organiza. [...] Um conceito típico-ideal é um modelo simplificado do real, elaborado com base em traços considerados essenciais para a determinação da causalidade, segundo os critérios de quem pretende explicar um fenômeno. QUITANEIRO, T. Um toque de clássicos: Marx, Weber e Durkheim. 2.ed. rev. amp. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 112-113.

Uma das formas de interpretação sociológica é por meio de conceitos ideais-típicos, que servem ao sociólogo como forma de objetivar a realidade e compreendê-la de forma rigorosa. Quem foi o autor que desenvolveu esse tipo de compreensão sociológica?

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Questão 03. Resposta. [B] Foi Max Weber quem desenvolveu a noção de “tipos ideais” no intuito de conferir objetividade à análise sociológica. Segundo ele, é o próprio investigador que atribui significado à realidade e o faz mediante conceitos que lhe permitam compreendê-la racionalmente. É importante considerar que os tipos ideais não correspondem a um reflexo da realidade, mas a uma forma de abstração interpretativa.

a) Karl Marx. b) Max Weber. c) Émile Durkheim. d) Augusto Comte. e) Marcel Mauss. 04. (Unicentro) Do ponto de vista do agente, o motivo é o fundamento da ação; para o sociólogo, cuja tarefa é compreender essa ação, a reconstrução do motivo é fundamental, porque, da sua perspectiva, ele figura como a causa da ação. Numerosas distinções podem ser estabelecidas e Weber realmente o faz. No entanto, apenas interessa assinalar que, quando se fala de sentido na sua acepção mais importante para a análise, não se está cogitando da gênese da ação, mas sim daquilo para o que ela aponta, para o objetivo visado nela; para o seu fim, em suma. COHN, Gabriel (Org.). Max Weber: sociologia. São Paulo: Ática, 1979.

A categoria weberiana que melhor explica o texto em evidência está explicitada em a) A ação social possui um sentido que orienta a conduta dos atores sociais. b) A luta de classes tem sentido porque é o que move a história dos homens. c) Os fatos sociais não são coisas, e sim acontecimentos que precisam ser analisados. d) O tipo ideal é uma construção teórica abstrata que permite a análise de casos particulares. e) O sociólogo deve investigar o sentido das ações que não são orientadas pelas ações de outros. 05. (Interbits) Eu não sou uma pessoa rica por enquanto, mas, se a gente aparenta pobreza, aí é que o dinheiro não entra mesmo. Mas eu já posso dizer que tenho uma carreira, que tenho objetivos a serem alcançados. E quando você tem uma carreira profissional pela frente, metas a serem atingidas, você tem que exibir para o mundo o seu sucesso, mostrar para o mundo que você é capaz de vencer. Para ser vitoriosa, você tem que parecer vitoriosa. E o sucesso sempre vai estar refletido na sua beleza. A roupa que se usa é o retrato de quem se é. SANT’ANNA, André. Questão Estética. Disponível em: <http://www.sescsp. org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?edicao_id=269&Artigo_ID=4218&IDCategoria=4785&reftype=2>. Acesso em 25/05/2012.

A mulher que escolhe a sua roupa segundo o sucesso que pretende alcançar está de acordo, predominantemente, com qual dos tipos de ação social? a) Ação tradicional. b) Ação afetiva. c) Ação racional referente a valores. d) Ação racional referente a fins. Questão 04. Resposta. [A] Max Weber desenvolve a teoria da ação social tendo como referência o fim, o objetivo que os agentes dão às suas ações. É a partir disso que ele estabelece diferença entre as ações racionais dos agentes: elas podem ser em relação a valores ou em relação a fins. De fato, na análise weberiana, a ação racional em relação a fins é a ação típica da racionalidade moderna e se apresenta de forma mais marcante na ética do trabalho político.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A18

A ÉTICA PROTESTANTE, O “ESPÍRITO” DO CAPITALISMO E O PROCESSO DE RACIONALIZAÇÃO E DESENCANTAMENTO DO MUNDO

ASSUNTOS ABORDADOS n A Ética protestante, o “espírito”

do capitalismo e o processo de racionalização e desencantamento do mundo

n A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo

A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo Max Weber, em uma de suas obras mais célebres, A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, faz uma reflexão sobre como o protestantismo impulsionou o desenvolvimento do capitalismo. Cabe ressaltar que Weber não institui o protestantismo como único e exclusivo responsável pelo capitalismo tal como é, mas com seus ideais foi um de seus grandes precursores. Vamos entender, portanto, como se deu essa análise de Weber.

n Racionalização e desencantamento do mundo

Fonte: Wikimedia commons

O mundo, antes dominado pelo catolicismo, influenciava a vida dos indivíduos como um todo. A religião condenava a usura e enxergava no trabalho somente um meio de sobrevivência. O dinheiro ganhado por meio dele poderia ser usado em vários âmbitos da vida pessoal. A salvação se dava por meio de confissões. Assim, o sujeito estava livre do pecado e perdoado por Deus. Posteriormente, teve início a reforma protestante, pois, reformadores, como Martinho Lutero, se indignou com as indulgências que estariam sendo vendidas pela Igreja católica. Por isso, a reforma protestante significou revolta e insatisfação a determinadas ações do catolicismo.

Figura 01 - A imagem ironiza as indulgências que seriam vendidas pela Igreja, um dos motivos que fizeram com que Lutero liderasse a Reforma Protestante.

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Sociologia

Fonte: Wikimedia commons

A18  A Ética protestante, o “espírito” do capitalismo e o processo de racionalização e desencantamento do mundo

O protestantismo, enquanto religião e cultura, via a salvação não mais por meio de confissões. Ela era vista como uma determinação divina, cujo trabalho era aquilo em que o indivíduo poderia se glorificar. O trabalho, portanto, antes visto como um meio de sobrevivência, aqui se torna o meio pelo qual o homem se enobrece e torna-se digno de Deus. Isso se dá, porque acredita-se que, enquanto trabalhava, o sujeito não teria mais tempo de pecar e por isso estaria a salvo. Ele não teria preguiça, não teria tempo para luxúria, gula, ira e nenhum outro pecado condenado por Deus. O lazer, que outrora não era condenado pelo catolicismo, podendo o dinheiro conquistado no trabalho ser usado para tal, agora é visto como um modo de estar aberto ao pecado e à vida mundana. Por isso, trabalhando mais, o indivíduo ganharia mais dinheiro. Já que não se pode gasta-lo com o lazer e a socialização, o que aconteceria com essa renda extra promovida por meio do trabalho intenso? Aqui está a grande sacada de Weber. O dinheiro deveria ser acumulado, gerando assim o lucro, peça fundamental do capitalismo. Dessa forma, se antes o trabalho era visto como um meio de sobrevivência, sem o aspecto da acumulação, agora ele é visto como um fim, ou seja, a finalidade do homem seria então o trabalho; ele viveria para tal. Assim, se o protestantismo surgia como uma maneira de transformar a religião e a moral, ele acaba influenciado de maneira efetiva o âmbito econômico, porque o lucro gerado pelo trabalho acaba sendo empregado em poupanças, por exemplo. O trabalho é visto como um salvador de si mesmo, mas também dos outros. Com isso, acreditava-se que empregando um outro sujeito, você estaria auxiliando a salvação e, com isso, estaria cada vez mais próximo da salvação divina. Weber identifica então que o protestante, por meio de todo esse processo, acaba sendo o dono dos meios de produção, inaugurando assim um mercado de trabalho intensivo, gerando cada vez mais lucro. Assim, Weber afirma que estaria efetivado o início do capitalismo moderno tal como conhecemos.

“Lembra-te que crédito é dinheiro. Se alguém me deixa ficar com seu dinheiro depois da data do vencimento, está me entregando os juros ou tudo quanto nesse intervalo de tempo ele tiver rendido para mim. Isso atinge uma soma considerável se a pessoa tem bom crédito e dele faz bom uso. Lembra-te que o dinheiro procriador por natureza é fértil. O dinheiro pode gerar dinheiro, e seus rebentos podem gerar ainda mais, e assim por diante. Cinco xelins investidos são seis, reinvestidos, são sete xelins e três pence, e assim por diante, até se tornarem cem libras esterlinas. Quanto mais dinheiro houver, mais produzirá ao ser investido, de sorte que os lucros crescem cada vez mais rápido. Quem mata uma porca prenhe destrói sua prole até a milésima geração. Quem estraga uma moeda de cinco xelins, assassina (!) tudo o que com ela poderia ser produzido: pilhas inteiras de libras esterlinas”. (WEBER, 2004, p. 43) O capitalismo, portanto, foi moldado pelo protestantismo e seus ideais. Todo esse lucro que ele influencia, o catolicismo antes renegava. É o protestantismo que constrói essa ética que envolve o labor e que favorece a prosperidade econômica. É essa ética protestante, portanto, que propicia o desenvolvimento do capitalismo e seu “espírito”. O protestantismo, incluindo aqui sociedades luteranas e calvinistas como exemplo, chancelou o indivíduo para essa prosperidade econômica sem culpa. Isso era possível não só porque o protestantismo propiciava e favorecia um trabalho árduo e intensificado. Além disso, favorecia também o lucro, o que influenciava os homens a se qualificarem mais e gerar cada vez mais lucro em um pequeno espaço de tempo. Com isso, o homem se enobrecia e dava as costas aos pecados, ficando mais próximo assim da salvação e atento aos sinais de que eram predestinados a ela.

Figura 02 - Martinho Lutero, um dos ícones da Reforma Protestante, que comemorou 500 anos em 2017, e Max Weber, que relacionou o desenvolvimento do Capitalismo ao Protestantismo.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Como vimos, em A Ética Protestante e o “espírito” do Capitalismo, Weber relaciona a ética protestante ao “espírito” do capitalismo”, na medida em que a primeira favorece o desenvolvimento desse último. O surgimento dessa prática promove uma racionalização chamada pelo autor de desencantamento do mundo. Para Weber, é um momento marcado pelo afastamento da magia, dos sacramentos. O sujeito sai de um mundo sagrado e habita agora um cenário material regido pela razão, pela ciência. “O destino de nosso tempo, que se caracteriza pela racionalização, pela intelectualização e, sobretudo, pelo “desencantamento do mundo”, levou os homens a banirem da vida pública os valores supremos e mais sublimes. Tais valores encontraram refúgio na transcendência da vida mística ou na fraternidade das relações diretas e recíprocas entre indivíduos isolados. Nada há de fortuito no fato de que a arte mais eminente de nosso tempo é íntima e não monumental, nem no fato de que, hoje em dia, só nos pequenos círculos comunitários, no contato de homem a homem, em pianíssimo, se encontra algo que poderia corresponder ao pneuma profético que abrasava comunidades antigas e as mantinha solidárias”. (WEBER, 2007, p. 51)

É justamente esse afastamento da magia que causa o desencantamento. O domínio da objetividade científica gera um mundo muitas vezes sem sentido, em que o sujeito não vê a quem clamar, já que vive em um mundo imperado pela intelectualizacão, que nasce simultaneamente ao desenvolvimento do que ele chama “espírito” do capitalismo. Com o surgimento da ciência e sua função central, a religião é deslocada do cenário principal da vida pública. Isso faz com que a religião agora pertença a um âmbito íntimo e pessoal, e a ciência adquire, portanto, a grande chancela da verdade. Como a ciência é dotada de tecnicidade e objetividade, ela tira do homem o sentido de seu cotidiano social, e faz com que ele viva então no que Weber denomina de um mundo desencantado. Referências bibliográficas WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia. Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.2, 1999. WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. WEBER, Max. Metodologia das ciências sociais. São Paulo, Campinas: Cortez: Universidade Estadual de Campinas, 1999. WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora UnB: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.1, 2012. WEBER, Max. A Ciência como vocação. In: Ciência e política. Duas vocações. 14ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2007.

Fonte: Wikimedia commons

Vale ressaltar que, para Weber, religião é um sistema estruturado de símbolos, podendo ser vista como uma compreensão da realidade na distinção entre o natural e o sobrenatural. O mundo encantando (ponto de partida) e o mundo desencantado (ponto de chegada) podem ocorrer concomitantemente ou intermitentes, não necessariamente sucessivamente. Nesse mundo desencantando, a ciência é vista agora como vocação e não por acaso, Weber escreveu um

de seus textos que se intitula A ciência como vocação. Nesse texto, Weber demonstra que o misticismo cede lugar à racionalidade, às técnicas e à intelectualização, que coloca o conhecimento acima da fé. Enfim, as explicações religiosas dão lugar a explicações e comprovações científicas e racionais.

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A18  A Ética protestante, o “espírito” do capitalismo e o processo de racionalização e desencantamento do mundo

Racionalização e desencantamento do mundo


o luciais 864nder erno. 006), que a de otesstas, volmuito

Sociologia Questão 02. Resposta. [A] Pelo texto, podemos dizer que há uma relação entre confissão religiosa e estratificação social. Mais especificamente, o fato de protestantes (confissão religiosa) serem os proprietários de capital (estratificação social).

Questão 03. Resposta: [B] A análise werberiana tem preocupação especial com a racionalidade ocidental. No caso expresso pela afirmação de Benjamin Franklin, observamos como a ação racional se materializa nas relações mercantis e de trabalho.

Exercícios de Fixação

A18  A Ética protestante, o “espírito” do capitalismo e o processo de racionalização e desencantamento do mundo

01. (UEM PR) Considerando as contribuições de Max Weber ao pensamento sociológico, assinale o que for correto. 01. Ao estudar o protestantismo nos Estados Unidos, Weber observou o desenvolvimento de uma forma ideal de sociedade que soube valorizar o trabalho e criar um país perfeito para se viver. 02. Segundo Weber, o papel da Sociologia não é o de compreender e explicar a ação social, mas o de interferir politicamente na sociedade para reduzir a violência e a pobreza. 04. A Sociologia de Weber procura incluir o papel do indivíduo e a importância da ação social na compreensão da sociedade. 08. Conforme Weber, as sociedades modernas vivenciaram processos de desencantamento e processos de racionalização do mundo, que modificaram a organização das relações de poder. 16. Para Weber, o fim da religiosidade nas sociedades modernas é o resultado da degeneração moral das pessoas, que só pensam no lucro e deixam de se preocupar com causas sociais. 02. (Interbits) Basta uma vista de olhos pelas estatísticas ocupacionais de um país pluriconfessional para constatar a notável frequência de um fenômeno por diversas vezes vivamente discutido na imprensa e na literatura católicas bem como nos congressos católicos da Alemanha: o caráter predominantemente protestante dos proprietários do capital e empresários, assim como das camadas superiores da mão de obra qualificada, notadamente do pessoal de mais alta qualificação técnica ou comercial das empresas modernas. WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 29.

O livro A ética protestante e o “espírito” do capitalismo começa com a constatação de uma relação entre dois fenômenos. Que fenômenos são esses, expressos no texto acima? a) Confissão religiosa e estratificação social. b) Confissão religiosa e preferência sexual. c) Estratificação social e desenvolvimento social. d) Formação universitária e desenvolvimento econômico. e) Estatística e literatura. 03. (UEL PR) Leia o texto a seguir. Lembra-te de que tempo é dinheiro; aquele que pode ganhar dez xelins por dia por seu trabalho e vai passear, ou fica vadiando metade do dia, embora não despenda mais do que seis pence durante seu divertimento ou vadiação, não deve computar apenas essa despesa; gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais. WEBER, M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Pioneira; Brasília: UNB, 1981, p.29.

O conselho de Benjamin Franklin é analisado por Max Weber (1864-1920) na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

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Questão 04. Resposta: [D] A possibilidade de conhecimento racional da realidade revela que a modernidade pode questionar forças que, anteriormente, poderiam ser consideradas misteriosas. Tais forças correspondem a crenças tradicionais que, com o processo de desencantamento do mundo, deixaram de funcionar como baliza para a compreensão da realidade.

Com base nessa obra, assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a compreensão weberiana sobre o sentido da conduta do indivíduo na formação do capitalismo moderno ocidental. a) Tradicionalidade. b) Racionalidade. c) Funcionalidade. d) Utilitariedade. e) Organicidade. 04. (Enem MEC) A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecimento maior e geral das condições sob as quais vivemos. Significa a crença em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as coisas pelo cálculo. WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H., MILLS, W. (Org.). Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).

Tal como apresentada no texto, a proposição de Max Weber a respeito do processo de desencantamento do mundo evidencia o(a) a) progresso civilizatório como decorrência da expansão do industrialismo. b) extinção do pensamento mítico como um desdobramento do capitalismo. c) emancipação como consequência do processo de racionalização da vida. d) afastamento de crenças tradicionais como uma característica da modernidade. e) fim do monoteísmo como condição para a consolidação da ciência. 05. (Enem MEC) O impulso para o ganho, a perseguição do lucro, do dinheiro, da maior quantidade possível de dinheiro não tem, em si mesma, nada que ver com o capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu. Pode-se dizer que tem sido comum a toda sorte e condição humanas em todos os tempos e em todos os países, sempre que se tenha apresentada a possibilidade objetiva para tanto. O capitalismo, porém, identifica-se com a busca do lucro, do lucro sempre renovado por meio da empresa permanente, capitalista e racional. Pois assim deve ser: numa ordem completamente capitalista da sociedade, uma empresa individual que não tirasse vantagem das oportunidades de obter lucros estaria condenada à extinção. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2001 (adaptado).

O capitalismo moderno, segundo Max Weber, apresenta como característica fundamental a a) competitividade decorrente da acumulação de capital. b) implementação da flexibilidade produtiva e comercial. c) ação calculada e planejada para obter rentabilidade. d) socialização das condições de produção. e) mercantilização da força de trabalho. Questão 05. Resposta. [C] Quase todas as alternativas dizem respeito ao capitalismo moderno, mas somente a alternativa [C] apresenta um argumento weberiano. Max Weber estudou o capitalismo e sua relação com a ideia de racionalidade. No capitalismo impera uma racionalidade utilitária orientada para o lucro, tal como podemos perceber no texto.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. Resposta. [A] A incompreensão de Manolito em relação ao cultivo de plantas pode ser interpretada como manifestação da ética do trabalho burguesa. Segundo esse conceito, a burguesia moderna entende que o mais racional é adquirir o lucro por meio do trabalho, e não “perder tempo” com outras tarefas.

Questão 02. Resposta. [B] O interesse de Max Weber na ética protestante é o de compreender a forma como esta contribuiu para o surgimento e consolidação do capitalismo na Europa. Esse processo é acompanhado por uma racionalização e por um desencantamento do mundo.

Exercícios Complementares 01. (Interbits)

02. (Interbits) No livro A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, Max Weber procura compreender, sobretudo: a) O processo de surgimento do capitalismo na Antiguidade Clássica. b) A correlação entre a ascese protestante e o surgimento do capitalismo na Europa. c) O modelo ético da religião protestante do século XIX. d) A razão do espírito empreendedor dos protestantes americanos. e) Nenhuma das alternativas anteriores. 03. (Interbits) Max Weber foi um dos autores que procurou compreender a origem do capitalismo. Segundo sua análise, havia, na Europa moderna, uma ética de valorização do trabalho que ajudou a sustentar o capitalismo enquanto modelo econômico. Dado que a sociedade contemporânea continua vivendo em um sistema capitalista, quais das frases a seguir estão diretamente relacionadas a essa ética de valorização do trabalho? I. “Quem não trabalha também não deve comer”. II. “Tempo é dinheiro”. III. “Antes tarde do que nunca”. IV. “O trabalho dignifica o homem”. V. “A democracia é um trabalho árduo”.

05. (Unicentro) Max Weber, um dos fundadores da Sociologia, tinha amplo conhecimento em muitas áreas afins a essa ciência, tais como economia, direito e filosofia. Assim, ao analisar o desenvolvimento do capitalismo moderno, buscou entender a natureza e as causas da mudança social. Em sua obra, existem dois conceitos fundamentais, ou seja, a) cultura e tipo Ideal. b) classe e proletariado. c) anomia e solidariedade. d) fato social e burocracia. e) ação social e racionalidade. 06. (UEL PR) Leia o texto a seguir. Antigamente nem em sonho existia tantas pontes sobre os rios, nem asfalto nas estradas. Mas hoje em dia tudo é muito diferente com o progresso nossa gente nem sequer faz uma ideia. Tenho saudade de rever nas corruptela as mocinhas nas janelas acenando uma flor. Por tudo isso eu lamento e confesso que a marcha do progresso é a minha grande dor. Cada jamanta que eu vejo carregada transportando uma boiada me aperta o coração. E quando olho minha traia pendurada de tristeza dou risada pra não chorar de paixão.

a) Somente I e IV. b) Somente II e III. c) Somente I, II, IV e V. d) Somente I, II e IV. e) Somente I e V. 04. (Interbits) Cada um dos grandes teóricos da sociologia contribuiu com um ponto específico de sua teoria para a compreensão do mundo presente. Entre esses teóricos, está Max Questão 03. Resposta. [D] Somente as frases I, II e IV estão relacionadas a essa ética de valorização do trabalho. No caso da frase II, essa valorização do trabalho se transforma também na opção por otimizar o tempo individual, que se torna o tempo da produção. Vale ressaltar que a afirmativa V não se encaixa nessa definição, porque ali não há uma valorização do trabalho propriamente dito, mas a constatação de que construir a democracia é algo que demanda trabalho. Ou seja, o que possui mais valor, nessa frase, é a ideia de democracia, e não de trabalho.

(Adaptado de: Nonô Basílio e Índio Vago. Mágoa de Boiadeiro.)

O texto aproxima-se sociologicamente da leitura teórica de a) Comte, que defende a necessidade de formas tradicionais de vida em detrimento da desilusão do progresso. b) Durkheim, que analisa o progresso como elemento desagregador da vida social ao provocar o enfraquecimento das instituições. c) Marx, que condena o desenvolvimento das forças produtivas por seus efeitos alienantes sobre o homem. d) Spencer, que tem uma leitura romântica da sociedade e vê o passado como mais rico culturalmente. e) Weber, para quem a modernização e a racionalização é acompanhada pelo desencantamento do mundo. Questão 04. Resposta. [B] Somente a alternativa [B] diz respeito à teoria weberiana. A racionalização do mundo está vinculada à forma como o homem passa a guiar suas ações por um cálculo racional. Esse cálculo está particularmente presente na ação dos burgueses e dos políticos, por exemplo.

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A18  A Ética protestante, o “espírito” do capitalismo e o processo de racionalização e desencantamento do mundo

A partir da Sociologia, que interpretação pode ser feita da situação apresentada na charge acima? a) Manolito incorpora a ética do trabalho, apresentada por Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo. b) Mafalda corresponde a um conceito ideal típico. c) O ato de cultivar plantas é um fato social total, conforme indica Durkheim em As regras do método sociológico. d) Há uma luta de classes entre Mafalda e Manolito. e) Manolito está preocupado com a alienação proletária nos termos marxistas.

Weber. Podemos afirmar que a grande questão teórica de Weber era o processo de racionalização do mundo durante a modernidade. Esse processo pode ser definido como: a) A forma como a sociedade ocidental encontrou meios para desenvolver seus valores religiosos. b) O processo pelo qual a natureza, a sociedade e a ação individual são crescentemente enquadradas por uma orientação voltada para a ação racional. c) O desenvolvimento das forças produtivas resultantes da luta de classes entre burgueses e proletários. d) O processo de acomodação dos anseios individuais em uma lógica de acumulação e produção de mercadorias. e) A utilização da teologia como principal explicação dos anseios humanos.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A19

ASSUNTOS ABORDADOS n A concepção weberiana de Es-

tado Moderno e seus desdobramentos n Burocracia

A CONCEPÇÃO WEBERIANA DE ESTADO MODERNO E SEUS DESDOBRAMENTOS O processo pelo qual Weber intitulou de desencantamento do mundo, marcado pela racionalização e intelectualização, propiciou o desenvolvimento de determinadas instituições nas sociedades ocidentais modernas. Dentre essas formações, destaca-se a formação do Estado moderno, como uma organização institucional. Para Weber, o Estado é a forma moderna do agrupamento político que tem como principal característica o monopólio da violência. O uso da força e da violência é algo que mantém o Estado “vivo”; sem elas, o Estado não poderia existir. Se só existissem estruturas sociais de que a violência estivesse ausente, o conceito de Estado teria também desaparecido e apenas subsistiria o que, no sentido próprio da palavra, se denomina “anarquia”. A violência não é, evidentemente, o único instrumento de que se vale o Estado — não haja respeito qualquer dúvida —, mas é seu instrumento específico. Em nossos dias, a relação entre o Estado e a violência é particularmente íntima. Em todos os tempos, os agrupamentos políticos mais diversos — a começar pela família — recorreram à violência física, tendo-a como instrumento normal do poder. Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território — a noção de território corresponde a um dos elementos essenciais do Estado — reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. (WEBER, 2007, p. 56) Vê-se com a citação acima que o Estado seria a única instituição com “direito” à violência. Dentro desse panorama, é importante destacar um outro conceito que nomeia um de seus textos (“A política como vocação”): política. Weber (2007, p.56) a entende como “o conjunto de esforços feitos com vistas a participar do poder ou a influenciar a divisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um único Estado”. Por isso, quando uma pessoa se diz um político, ele indiretamente está afirmando que detém algum tipo de poder frente aos outros. Destaca-se o fato de que o Estado, sendo esse detentor autorizado do uso da violência, conta com a ajuda de instrumentos que o auxiliem no processo, como as forças militares e policiais. Essas forças protegem o território, no caso do exército, e propiciam, ou ao menos deveriam propiciar, um ambiente de segurança, como no caso da polícia.

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A definição weberiana de política nos auxilia a compreender de fato o que significa o Estado. O Estado, sendo o detentor legítimo da violência, estabelece uma relação de dominação do homem sobre o homem, o que causa uma relação de autoridade e submissão. Essa autoridade é exercida então por meio de dominação. Com isso, Weber estabelece três formas de dominação política: tradicionalista, legalista ou carismática. Vale ressaltar que o sociólogo determina esses três tipos ideais de dominação seguindo sua orientação metodológica, ou seja, os três tipos seguirão como uma referência ao pesquisador para analisar a realidade, o que não quer dizer que esses tipos serão, necessariamente, encontrados na realidade de maneira pura e ideal. 142


Ciências Humanas e suas Tecnologias

Dominação tradicional: nesse tipo de dominação, a figura de autoridade consegue exercer a dominação porque representa o tradicional, por meio de valores e normas. A submissão se dá por respeito a virtudes do governante. Para Weber, nesse caso, há um impacto de leis e moral tradicionais, com foco no coletivo. Por isso, um exemplo pode ser o coronelismo, pois a figura do coronel, representada como uma encarnação desses valores tradicionais, no geral, não tinha sequer sua conduta questionada. Vale ressaltar que esse tipo de dominação poderia ser passível de privilégios, já que não se trata de uma dominação objetiva e impessoal, como no exemplo que foi dado acima. Dominação legal: para Weber, o tipo ideal dessa dominação seria a burocracia. O conjunto de normas e sua aplicação é fundamental. Aqui, diferentemente da dominação anterior, não se respeitava a figura de um sujeito específico, mas as regras e as leis, que são impessoais. Sendo objetivas, elas seriam, portanto, aplicadas a todos. Por isso, traz consigo a noção de competência imbricada. Dominação carismática: a autoridade é exercida por uma figura dotada não mais de valores e normas sociais, como na dominação tradicional. O líder aqui é respeitado pelo seu carisma e suas qualidades individuais. É conhecido muitas vezes como a figura do herói, do profeta. Como exemplo, se pensarmos no cenário político brasileiro, temos líderes dotados de carisma, como Luiz Inácio Lula da Silva e Getúlio Vargas, que inclusive ficou conhecido como o “pai dos pobres”.

Burocracia Como vimos, a burocracia faz parte de seus estudos. Weber a institui como o tipo mais puro de dominação legal, já que é impessoal e objetiva. A burocracia, se desenvolvendo em toda sua potencialidade em conjunto com a instauração do Estado Moderno, se dá com a racionalização das tarefas administrativas que o Estado exige. Por isso a existência de um Estado altamente burocrático, já que essa impessoalidade soa muito bem como parceira das organizações e tarefas administrativas.

A19  A concepção weberiana de Estado Moderno e seus desdobramentos

Certamente, a burocracia não é, de modo algum, a única forma moderna de organização, do mesmo modo que a fábrica não é, nem de longe, a única forma de empresa industrial. Mas ambas são aquelas que imprimem seu timbre na era atual e no futuro previsível. À burocratização pertence o futuro. (WEBER, 1999, p. 540) A burocracia é a forma organizacional por excelência, primando sempre pela competência e agilidade no quadro administrativo, já que é envolto por normas, qualificações específicas e quadros de funcionários muito bem delimitados, o que se relaciona com o processo de racionalização que o “espírito” do capitalismo propiciou. Se pensarmos no cenário atual, a burocracia que era vista como a forma máxima de organização, com seus servidores públicos cumprindo funções muito especializadas, com um quadro muito bem delimitado de funções e normas racionalizadas, hoje é vista de forma não tão positiva e, muitas vezes, não é associada à competência a que Weber deu enfoque. A burocracia se tornou um âmbito de extrema formalidade e rigidez. Por isso, seu desenvolvimento hoje pode ser associado à morosidade e ineficácia. Podemos ver isso nas charges abaixo, que ironizam o cenário rígido e dotado de múltiplas normas e leis em que a burocracia se transformou que, muitas vezes, acaba denotando a ela um aspecto negativo.

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A19  A concepção weberiana de Estado Moderno e seus desdobramentos

Fonte: Wikimedia Commons

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Sociologia

Referências bibliográficas WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia. Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.2, 1999. WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. WEBER, Max. Metodologia das ciências sociais. São Paulo, Campinas: Cortez: Universidade Estadual de Campinas, 1999. WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora UnB: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.1, 2012. WEBER, Max. A política como vocação. In: Ciência e política. Duas vocações. 14ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2007.

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Ciências Humanas e suas Tecnologias

Questão 02. a) Significa que somente a violência do Estado é reconhecida como sendo legítima pelos seus cidadãos. Assim, somente ele pode impor sanções, que são reconhecidas como sendo legais pela população. b) As forças policiais e militares são os principais instrumentos do Estado no monopólio da violência física. No caso do exército (forças militares), eles são responsáveis por defender o território de inimigos externos (como invasão de outros países, por exemplo). Já a polícia é responsável por garantir a segurança interna (como proteger a população da ação de organizações criminosas).

Exercícios de Fixação 01. (UEM PR) Max Weber é um dos autores centrais para a constituição da Sociologia. Um de seus principais temas de investigação foi o da dominação. Para ele, os sistemas de dominação se vinculariam a processos de legitimação. No intuito de compreender tal situação, o autor desenvolveu um modelo de análise com base naquilo que denominou de três tipos ideais de dominação: o racional, o tradicional e o carismático.

Nesse sentido, as ações de Mahatma Gandhi, líder no movi-

Assinale o que for correto a respeito desses três tipos weberianos de dominação. 01. Os tipos de dominação propostos por Max Weber não são encontrados de forma pura na realidade. 02. Para que exista dominação, é necessário que os dominados obedeçam à autoridade dos que detêm o poder. 04. Para Max Weber, a dominação carismática é baseada na veneração do poder heroico, na santidade e no caráter exemplar de uma pessoa. 08. A dominação tradicional, segundo Max Weber, consiste no desenvolvimento do aparato burocrático. 16. Max Weber define a dominação racional como aquela que não necessita dos aparatos legislativo e burocrático.

04. (UEM PR) “Obedece-se não à pessoa em virtude de seu

(Adaptado de: WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. v.2. Brasília: Editora da UnB, 1999. p.529.)

No texto, o sociólogo Max Weber explica que um dos principais traços distintivos do Estado moderno em relação às instituições políticas que o antecederam é o do monopólio da violência física legítima que este deve deter. Com base nisso, responda aos itens a seguir. a) O que significa monopólio da violência física legítima e quem o exerce? b) Cite e explique duas atribuições legais de quem exerce o monopólio da violência física. 03. (UFU MG) Para Weber, “A dominação, ou seja, a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato, pode fundar-se em diversos motivos de submissão.” (COHN, 1991. p. 128). Questão 01. Resposta:01 + 02 + 04 = 07. A dominação, segundo Weber, depende da livre submissão do indivíduo a quem tem o poder. A dominação tradicional ocorre por uma questão histórica e de tradição intergeracional. A dominação carismática ocorre pela identificação com as características pessoais de uma pessoa. Por fim, a racional-legal é aquele que ocorre por conta das relações civis, legais e burocráticas.

dominação na análise weberiana? a) Dominação Legal b) Dominação Anômica c) Dominação Carismática d) Dominação Altruísta

Gandhi foi um dos líderes do movimento de independência da Índia. Sua forma de liderança e atitudes serviram de inspiração tanto para indianos daquele tempo, quanto para pessoas da contemporaneidade. Desta maneira, o tipo de dominação que melhor explica essa figura política é a dominação carismática.

próprio direito, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. Também quem ordena obedece, ao emitir uma ordem, a uma regra: à ‘lei’ ou ‘regulamento’ de uma norma formalmente abstrata”. (WEBER, M. Os três tipos puros de dominação legítima. In: CASTRO, C. (org). Textos básicos de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2014, p. 59).

Considerando o texto citado e conhecimentos sobre a perspectiva teórica de Max Weber, assinale o que for correto. 01. O trecho acima destacado apresenta a descrição de um tipo de dominação política que se dá em virtude das qualidades carismáticas, afetivas e intelectuais de líderes comunitários. 02. A obediência às regras e aos estatutos legais encontra na burocracia sua principal expressão histórica. 04. A dominação exercida pelo sistema jurídico legal é constituída por dois processos distintos. Do lado de quem exerce o poder, vigora a dominação constituída pela força, pela vontade e pela virtude. Do lado de quem se submete à lei, vigora o medo, o dever e a fidelidade. 08. A profissionalização, a valorização de competências técnicas e o direito de ascensão e negociação no trabalho são características que compõem o tipo ideal de dominação descrita no trecho citado. 16. Os Estados modernos, por princípio, organizam-se por meio de processos racionais de controle da violência, como os aparatos policiais e jurídicos. 05. (Interbits) O monopólio da violência legítima é, ainda, o que se encontrou de melhor para limitar a violência, deixando à razão os asilos, em que ela pode se exercer mais livremente. RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015, p. 130-131.

O trecho acima foi inspirado na sociologia de um determinado sociólogo famoso. Comente quem foi ele e a relevância da sua noção de Estado para entender o mundo contemporâneo. Questão 05. O trecho da questão foi inspirado na sociologia de Max Weber. Segundo ele, o Estado é aquele que possui o monopólio da violência legítima em um determinado território. Assim, para poder existir, o Estado depende que as pessoas reconheçam que aquilo que ele faz é justo. Essa definição é importante porque nos ajuda a compreender a violência contemporânea quando o Estado não consegue assumir essa função. Isso ocorre em contextos como as periferias de muitas cidades brasileiras (nas quais o crime organizado é mais forte e legítimo) e em países em guerra civil, como a Síria.

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A19  A concepção weberiana de Estado Moderno e seus desdobramentos

02. (UEL PR) Leia o texto a seguir. O Estado moderno é uma associação de dominação institucional que, dentro de determinado território, pretendeu com êxito dominar os meios de coação física legítima como meio de dominação e reuniu para este fim, nas mãos de seus dirigentes, os meios materiais de organização, depois de desapropriar todos os funcionários estamentais autônomos que antes dispunham, por direito próprio, destes meios e de colocar-se, ele próprio, em seu lugar, representado por seus dirigentes supremos.

mento de independência da Índia, representam qual tipo de


Sociologia Questão 01. Resposta. [B] Os três tipos de dominação weberianos servem como guias para se compreender as relações sociais no mundo moderno. Assim, o modelo de dominação que deveria perdurar na sociedade contemporânea seria a dominação legal, baseada em regras racionalmente constituídas e legitimadas pelos indivíduos. Isso ainda não exclui a existência de dominação do tipo tradicional, que ocorre pela manutenção de valores e hábitos há muito consolidados, nem a existência da dominação carismática, existente graças às características pessoais de um determinado indivíduo.

Questão 03. Resposta.[A] Para Weber, o Estado moderno é exatamente aquele que detém o monopólio do uso legítimo da força em determinado território. Essa definição serve como princípio para diversas análises políticas, tanto nas ciências sociais, como em outros campos do saber.

Exercícios Complementares 01. (Unimontes MG) De acordo com Max Weber (1964-1920), poder é a capacidade verificada dentro de uma relação social que permite a alguém impor a sua própria vontade, mas que, para se tornar uma forma de dominação, precisa ser legitimada pelos indivíduos que lidam com esse poder. Para compreensão da ação humana, Weber propõe tipos de dominação. Relacione as colunas, estabelecendo as correspondências indicadas pelo sociólogo alemão. 1. Dominação legal 2. Dominação carismática 3. Dominação tradicional ( ) Um tipo de dominação é aquele baseado no dom da graça ou na qualidade pessoal, determinando relação de afetividade. ( ) Dominação em valores e hábitos. ( ) Dominação baseada em regras instituídas. A sequência CORRETA é a) 3 - 1 - 2. b) 2 - 3 - 1.

c) 1 - 2 - 3. d) 1 - 3 - 2.

A19  A concepção weberiana de Estado Moderno e seus desdobramentos

02. (Unisc SC) Max Weber estuda a sociedade de seu tempo, buscando entender os mecanismos e processos relevantes da vida social; ele conclui que a sociedade contemporânea, tomada pela burocracia, substituiu as antigas formas de dominação por uma nova, cuja eficácia supera os controles das sociedades anteriores. Alguns dos enunciados abaixo poderão estar relacionados ao texto acima. 1. Regulação do trabalho industrial em seus processos de produção. 2. O auge do espírito racional é o Romantismo do século XIX. 3. A burocracia está presente na indústria, na educação e na guerra. 4. O avanço crescente da formação técnica e exigência profissional no trabalho. 5. Regulação pública das profissões. Assinale a alternativa correta. a) Todos os enunciados estão corretos. b) Todos os enunciados estão incorretos. c) Somente os enunciados 1 e 2 estão corretos. d) Somente os enunciados 3 e 5 estão corretos. e) O único enunciado incorreto é o 2. 03. (Unioeste) Assinale a alternativa CORRETA. Segundo a definição de Estado proposta pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), o que caracteriza e diferencia o Estado Moderno de outras associações no interior das sociedades é

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Questão 04. Resposta. [A] Ainda que não somente os agentes do Estado pratiquem violência, para Weber, somente eles é que devem deter o monopólio da violência legítima. Ou seja, somente a violência em nome do Estado seria considerada legítima pelos cidadãos.

a) o exercício do monopólio do uso da violência legítima em um território. b) a racionalidade dos processos de produção. c) a presença de um grande corpo de burocratas no exercício das funções. d) um sistema legislativo composto por deputados e senadores eleitos pelo voto popular. e) o patrimonialismo das elites dominantes. 04. (Unioeste) Max Weber (1864-1920) afirma que “devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território […], reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física” (Weber, Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 56).

Assinale a alternativa CORRETA, a respeito do significado da afirmação de Weber. a) Para Weber, no caso do Estado contemporâneo, apenas seus agentes podem utilizar a violência de modo legítimo dentro dos limites do seu território. b) O Estado foi sempre o único agente que pode utilizar legalmente a violência com o consentimento dos cidadãos – a violência dos pais contra os filhos, por exemplo, sempre foi ilegal. c) Atualmente, o Estado é o único agente que utiliza a violência (ameaças, armas de fogo, coação física) como meio de atingir seus fins – assim a segurança de todos os cidadãos está garantida. d) Outros grupos também podem utilizar a violência como recurso – por exemplo, as empresas privadas de vigilância – independente da autorização legal do Estado. e) Todos os cidadãos reconhecem como legítima qualquer violência praticada pelos agentes do Estado contemporâneo – por exemplo, quando a polícia usa balas de borracha contra grevistas. 05. (UFU MG) Uma vez que Weber entende que o social constrói-se a partir das ações individuais, cria-se um problema teórico: como é possível a continuidade da vida social? A resposta para tais questões encontra-se no fundamento da organização social, chave do verdadeiro problema sociológico: a dominação ou a produção da legitimidade, da submissão de um grupo a um mandato. QUINTANEIRO, Tânia, BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira e OLIVEIRA, Márcia Gardênia. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2.ed. Belo Horizonte: EdUFMG, 2003. p. 119.

Com base no texto, faça o que se pede. a) Defina o conceito de dominação e a sua função para Weber. b) Weber conceitua três formas de dominação legítima: a tradicional, a legal e a carismática. Explique e comente essas formas.

Questão 05. a) Segundo Weber, a dominação corresponde à capacidade de alguém exercer poder sobre outra pessoa, de forma que essa segunda se submeta de forma voluntária. A função da dominação, de acordo com o texto, é garantir a continuidade da vida social. b) A dominação tradicional é aquela que ocorre por meio da tradição, de um costume historicamente consolidado. A dominação carismática corresponde àquela que acontece devido ao carisma, às características pessoais e virtudes da pessoa que exerce o poder. Por fim, a dominação racional-legal é aquela em que a pessoa se submete a uma lei, instituição ou conjunto de normas racionalmente estabelecidas. No mundo moderno, segundo Weber, a dominação racional seria aquela preponderante, diferentemente da tradicional (que ainda existe em certos ambientes, como nas famílias) e a carismática, própria da política ou de artistas atuais.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

MÓDULO A20

CLIENTELISMO, CORONELISMO, PATRIMONIALISMO E NEPOTISMO: A REALIDADE BRASILEIRA SOB A ÓTICA DA TEORIA WEBERIANA

ASSUNTOS ABORDADOS n Clientelismo, coronelismo, pa-

trimonialismo e nepotismo: a realidade brasileira sob a ótica da teoria weberiana

Nesta aula, discutiremos os conceitos de clientelismo, coronelismo, patrimonialismo e nepotismo na construção da política brasileira, relacionando a análise que Weber fez sobre a construção do Estado Moderno tal como é. Para isso, é importante deixar claro o conceito de patrimonialismo que foi desenvolvido por Weber. Ao falar de dominação – como vimos na aula anterior – o autor faz uma reflexão que imbrica também a questão do poder e que culmina no conceito de patrimonialismo. A definição consiste na confusão entre o patrimônio público e privado propiciado pelo poder do governante. Dessa forma, o governante é chamado de patrimonialista quando, movido pelo poder e pela dominação que exerce, confunde as necessidades privadas com a pública, no quesito patrimônio. O patrimonialista toma o Estado como seu, como algo particular. Isso é problemático, pois a burocracia, ferramenta organizacional do Estado moderno, deve ser impessoal. Quando se toma algo público como privado, o resultado é embaraçoso e a burocracia torna-se falha em sua função.

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Sociologia

A20  Clientelismo, coronelismo, patrimonialismo e nepotismo: a realidade brasileira sob a ótica da teoria weberiana

Fonte: Wikimedia Commons

No patrimonialismo, ainda, pode haver o aparecimento de fenômenos como o nepotismo e o clientelismo. O nepotismo consiste no emprego de familiares em cargos públicos – por nomeação ou elevação de cargos – a fim de conseguir benefícios próprios, o que descaracteriza a burocracia nos princípios de Weber, já que há a influência da pessoalidade nas tomadas de decisões que deveriam ser objetivas. O fenômeno ainda gera essa confusão do âmbito público que é constantemente confundido com o âmbito privado. Esse fato lembra a reflexão de Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil sobre o “homem cordial”. Para Sérgio Buarque, o brasileiro teria uma predisposição para sobrepor as relações familiares e pessoais às relações públicas, ou seja, há uma enorme propensão em se rejeitar o caráter impessoal e objetivo que a burocracia inicialmente propõe, o que gera essa confusão entre o âmbito público e privado. O problema é que o governante, tendo relações familiares com o empregado, não avaliaria de forma neutra e imparcial seus serviços. O Estado, portanto, tem seu funcionamento como uma extensão da vida pessoal do governante, como pode ser conferido nas charges abaixo.

Figura 01 - Charges que ilustram o nepotismo.

Hoje podemos falar que o nepotismo é proibido por algumas indicações constitucionais, como: o artigo 37 da Constituição Federal, que orienta que as contratações de funcionários para cargos públicos devem cumprir os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência; a 13ª Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal, aprovada em 21 de agosto de 2008, em que o nepotismo é proibido nos Três Poderes, em nível da União, dos estados e municípios; e o decreto federal nº 7.203, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 4 de junho de 2010, que revela o impedimento do nepotismo no âmbito da administração pública federal. É importante ressaltar que ainda hoje podem ser encontrados rastros desse fenômeno nas administrações públicas país afora, sobretudo em nível municipal. O clientelismo, por sua vez, é a conhecida prática política de troca de favores, em que os eleitores são vistos como “clientes” pelo candidato. Há uma negociação do voto, que é trocado por tratamentos dentários ou ações sociais, como a doação de cestas básicas, por exemplo. Aqui, como no nepotismo, vê-se uma confusão entre os âmbitos público e privado, pois se utiliza de troca individuais e pessoais para se conseguir cargos públicos. Atualmente, não se vê o clientelismo somente na compra de votos, ele pode ser visto também por meio de concessões de benefícios, de empregos, “quebra” na burocracia para se conseguir determinados benefícios individuais, sendo claramente instaurado em uma relação de dominação, nos moldes weberianos. Alguns autores veem no clientelismo e no nepotismo a porta para a corrupção, já que por meio dessas práticas se beneficia determinadas pessoas por interesses próprios, prejudicando, assim, a grande maioria dos cidadãos que vivem, muitas vezes, alheios a essa prática danosa ao progresso de qualquer sociedade. Cabe lembrar que as práticas vão contra o 148


Ciências Humanas e suas Tecnologias

ideal de burocracia que, inicialmente, surge como um instrumento de barrar esses privilégios causados pelo patrimonialismo, ou seja, pela confusão entre o âmbito público e privado. Entretanto, no Brasil tais atos são encontrados atualmente mesmo com impedimentos, o que gera essa infinidade de corrupções cada vez mais trágicas para o futuro da nação. É importante ressaltar que o conceito de patrimonialismo foi e continua sendo amplamente discutido por autores, como Raymundo Faoro e Simon Schwartzman. Em sua obra Os Donos do Poder, Faoro justifica o que o Brasil é hoje devido à colonização portuguesa. Segundo o autor, a política brasileira reproduz a de Portugal. Para ele, o rei, simultaneamente, realizava suas atividades administrativas e governava por meio de medidas e decisões individuais e pessoais. Na visão de Faoro, o Brasil reproduziu justamente esse cenário, já que centraliza o poder na figura de um governante que não sabe sequer distinguir o âmbito público do privado e segue governando por meio de medidas subjetivas. Por isso o autor vê o Brasil como um herdeiro das problemáticas administrativas de Portugal e das relações baseadas na dominação e na hierarquia.

O coronelismo é caracterizado pelo controle político de um pequeno grupo de privilegiados, como grandes proprietários rurais que acreditavam deter poderes absolutos. Os coronéis, muito ricos, utilizavam de seu poder econômico para garantir a eleição de seus “escolhidos” ou a de si mesmos. Há relatos de extrema violência nesse regime e também de negociação de votos ou troca de favores como no clientelismo. Os eleitores agiam muitas vezes sob pressão e ameaça, já que os coronéis detinham muita influência econômica, política e social. O voto de cabresto, conhecido como uma forma eleitoral impositiva e autoritária por parte dos coronéis, é uma representação dessa prática. É importante destacar que, assim como o patrimonialismo, o nepotismo e o clientelismo, o coronelismo denota uma relação de dominação que utiliza do aparato público e da burocracia como um meio de servir aos seus próprios interesses e, assim, como já foi dito, abrir as portas à corrupção. Isso é o que vemos de maneira corriqueira nos telejornais, na internet e na mídia como um todo em relação ao Brasil. Além da dominação, vê-se presente o conceito de poder definido por Weber nessas práticas, sendo o poder uma probabilidade de impor a própria vontade em uma determinada relação social mesmo contra resistências. A teoria de Weber, que envolve esses conceitos fundamentais - dominação, poder, Estado e burocracia- serve, portanto, como um instrumento de análise desse cenário, como pudemos ver, tornando-se atual e necessária para se repensar determinadas realidades. Referências bibliográficas FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro. Porto Alegre, Globo, 1958. HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Homem Cordial. In: Raízes do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

Fonte: Wikimedia Commons

SCHWARTZMAN, Simon. Representação e Cooptação Política no Brasil. Dados, nº 7, pp. 9-41, 1970. WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia. Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.2, 1999. WEBER, Max. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora UnB: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, v.1, 2012. WEBER, Max. A política como vocação. In: Ciência e política. Duas vocações. 14ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2007.

Figura 02 - A imagem representa o chamado voto de cabresto.

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Em As bases do autoritarismo, Schwartzman coloca os problemas de um Estado patrimonialista que já conhecemos, mas faz uma ressalva ao estado de São Paulo, que para ele teria saído intacto desse cenário em comparação aos demais estados. Para Schwartzman, uma das manifestações desse poder centralizado que resulta na cooptação de votos pode ser visto na figura do coronelismo.


Sociologia Questão 02. Resposta. [A] Todas as alternativas apresentam características da dominação legal-racional, típica da sociedade moderna e capitalista. Como somente a alternativa [A] relaciona essas características à dominação legal-racional, somente ela é correta.

Questão 05. Resposta. [A] Somente a alternativa [A] é correta. Na sua análise sobre o poder, Max Weber diferencia poder de dominação. A dominação se dá quando o poder é legitimado por aqueles que se submetem a ele. Segundo o autor, existem três tipos puros de dominação: dominação racional-legal (típica das sociedades modernas), tradicional (típica das sociedades tradicionais) e carismática.

Exercícios de Fixação

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01. (UFU MG) Sobre os conceitos de poder e dominação, tal como elaborados por Max Weber, é correto afirmar que a) a dominação prescinde do poder, uma vez que os indivíduos que se submetem a uma ordem de dominação não levam em conta os recursos que possuem aqueles que exercem a dominação. b) são equivalentes, pois tanto um quanto outro são relações sociais às quais os indivíduos atribuem sentido, compartilhando, portanto, motivações. c) toda relação de poder implica uma relação de dominação, já que a força sem uma base de legitimação não pode ser exercida. d) não são equivalentes, pois a dominação supõe a presença do consentimento na relação entre “X” e “Y”, o que, necessariamente, não se dá com o poder. 02. (UFU MG) Assinale a alternativa que corresponde à formulação de Max Weber acerca dos chamados tipos puros de dominação legítima. a) A dominação legal-racional fundamenta-se na crença dos indivíduos acerca da validade de um dado instrumento normativo. b) A dominação carismática articula-se à motivação que os indivíduos têm com vistas à obtenção de determinados fins para suas ações sociais. c) A dominação tradicional é a mais apropriada à sociedade capitalista e está presente nas empresas e nos órgãos governamentais. d) A dominação carismática realiza, em patamar superior, o espírito do capitalismo, uma vez que assegura aos investimentos privados um ambiente mais propício ao lucro desejado. 03. (UFU MG) Max Weber estudou a conexão de sentidos que existia entre o desenvolvimento do capitalismo e a valorização do trabalho como eixo significativo da ética protestante instalada de forma notável entre os empresários e os trabalhadores na história dos EUA. Weber lembra que, para os puritanos, face à necessidade ética do trabalho a perda de tempo (...) é o primeiro e o principal de todos os pecados. A perda de tempo, através da vida social, conversas ociosas, do luxo e mesmo do sono além do necessário para a saúde – seis, no máximo oito horas por dia – é absolutamente dispensável do ponto de vista moral. (WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira/UNB, p. 112).

O autor cita, ainda, uma das máximas de Benjamin Franklin, em meados do século XVIII, que expressa o chamado “espírito do capitalismo”: Tempo é dinheiro (p. 29).

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Questão 03. O argumento de Max Weber se mantém válido para algumas manifestações religiosas contemporâneas. O critério de eficiência e de produtividade ainda continua sendo uma das principais características da sociedade, bem como o desejo de ascensão social. Sociologicamente, pode-se dizer que o crescimento das igrejas evangélicas no Brasil está relacionado com o desejo de prosperidade dos fiéis. Tal prosperidade se faz presente e se efetiva na medida em que os fiéis são capazes de internalizar certas condutas que são eficientes também do ponto de vista econômico. Isso inclui até o não fazerem jogos de azar e a recusa de muitos em consumir bebidas alcoólicas.

Disserte sobre a validade ou não desses argumentos para a compreensão da conduta dos empresários e dos trabalhadores da sociedade brasileira contemporânea, tendo em vista a considerável expansão das igrejas evangélicas no País. 04. (UFU MG) Acerca das formulações de Weber sobre poder e dominação, assinale a alternativa incorreta. a) A dominação exercida pelos dominantes somente é legítima quando assume um caráter do tipo burocrático-legal. b) O poder está fundamentado na desigualdade de oportunidades que afeta cada indivíduo em dado contexto social. c) Faz parte de uma relação de dominação estatal o uso da força física para assegurar a obediência. d) Os tipos puros de dominação − tradicional, legal e carismático − constituem uma tipologia construída por Weber a partir da realidade histórica. 05. (UFU MG) Sobre o legado do pensamento científico de Max Weber, Carlos B. Martins afirma que: “A obra de Weber representou uma inegável contribuição à pesquisa sociológica, abrangendo os mais variados temas, como o direito, a economia, a história, a religião, a política, a arte, de modo destacado, a música. Seus trabalhos sobre a burocracia tornaram-no um dos grandes analistas deste fenômeno.” MARTINS, Carlos B. O Que é Sociologia? São Paulo: Editora Brasiliense, 1991, 28 ed., p. 66.

A respeito das contribuições de Weber acerca dos conceitos de poder e dominação, assinale a alternativa correta. a) Ao passo que poder é toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de determinado conteúdo, considerada legítima. b) Há, para Weber, não mais que dois tipos puros de dominação, quais sejam, a carismática (típica das sociedades tradicionais) e a legal-racional (típica das sociedades modernas). c) A transição de uma ordem política patrimonial-tradicional para uma ordem burocrática legal é acompanhada por uma consolidação do tipo de dominação carismática. d) A dominação legal-racional dá-se por meio da obediência do quadro administrativo à pessoa do senhor, em detrimento de estatutos impessoalmente estabelecidos. Questão 01. Resposta.[D] A questão faz referência a uma diferenciação importante na sociologia de Max Weber e que é, muitas vezes, incompreendida. Segundo o autor alemão, o poder pressupõe a capacidade de alguém exercer a sua própria vontade sobre outros indivíduos dentro de uma relação social, mesmo que se utilize da violência para isso. Já a dominação pressupõe uma submissão com livre consentimento, que pode ocorrer por diversos motivos, sejam eles racionais ou irracionais.


Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 01. Resposta.[D] Questão bastante didática. A única alternativa correta é a [D]. As ações sociais variam conforme a intencionalidade do ator social. Vale ressaltar que no mundo moderno as relações sociais são, majoritariamente, do tipo racional em relação a fins.

Questão 05. Resposta.[E] Max Weber afirma o inverso daquilo que está apresentado na alternativa [E]. De maneira simples, pode-se dizer que a ética protestante refere-se a um ideal ascético que incorporou o espírito do capitalismo. É esse mesmo ideal que está apresentado nas sentenças de Benjamin.

Exercícios Complementares

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Ação social racional em relação a fins Ação social racional com relação a valores Ação social tradicional Ação social afetiva

( ) O agente tem motivações e inspirações imediatas como, por exemplo, de medo, de ódio ou entusiasmo. ( ) São modos de condutas que obedecem a estímulos habituais, de modo que ocorrem e são praticadas por vários agentes como um costume. ( ) O agente possui um comportamento fiel às suas convicções como, por exemplo, na política ou no exercício da liberdade religiosa. ( ) O agente disporá de todos os meios necessários para atingir um fim preestabelecido como, por exemplo, quando ele está praticando uma ação no mercado. A sequência correta é a) 3, 2, 4, 1. b) 2, 1, 4, 3. c) 4, 1, 2, 3. d) 4, 3, 2, 1. 02. (Interbits) Leia o texto abaixo e responda o que se segue. Comecemos nossa curta análise pela autoridade: o Estado detém, em nossa sociedade, a prerrogativa do uso da força (eu até diria monopólio, mas acho que isso não se aplica ao Rio de Janeiro, com seu tráfico e suas milícias). A Polícia Militar, um de seus braços armados, é responsável por “manter a ordem”, ou seja, deixar as coisas tal como elas estão, sem qualquer perturbação aos governantes e aos de cima. KUBIK, Maíra. Polícia carioca, autoritária e machista. Carta Capital. 08 out. 2013. Adaptado. Disponível em: <http://mairakubik.cartacapital.com. br/2013/10/08/820/> Acesso em 28 out. 2013.

A noção de Estado como aquele que detém o monopólio do uso legítimo da força foi criada por qual sociólogo? Por que a autora duvida de que essa seja uma noção válida para a realidade carioca? Justifique sua resposta. 03. (UFU MG) Weber, em sua obra A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, investiga as razões de o Capitalismo ter-se desenvolvido de forma peculiar no ocidente. De acordo com essa informação, explique qual a relação que Weber estabelece entre a ética protestante e o desenvolvimento do capitalismo ocidental moderno.

Questão 02. Foi Max Weber quem criou a noção de Estado como aquele ente que detém o monopólio do uso legítimo da força em um determinado território. No entanto, no Brasil (e especificamente no Rio de Janeiro), isso parece não se aplicar de forma integral. Isso porque em determinados contextos, grupos armados também possuem, perante a população, a prerrogativa de uso legítimo da força. É o caso de “organizações criminosas” como o Comando Vermelho, que possuem respeito em determinados contextos sociais.

04. (Interbits) Leia. – Escreveu A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. – Nasceu em 1864 e morreu em 1920. – Desenvolveu a noção de conceitos ideais típicos. – Desenvolveu a chamada sociologia compreensiva. As informações acima dizem respeito a qual cientista social? a) Max Weber b) Émile Durkheim c) Karl Marx d) Friedrich Hegel e) Friedrich Nietzsche 05. (Uenp) As sentenças de Benjamin (que embora fosse teísta, sempre se lembrara de uma citação da bíblia que seu pai calvinista lhe dissera: “Se vires um homem diligente em seu trabalho, ele estará acima dos reis” – Prov. XXII, 9) foram extraídas do Retrato da Cultura Americana. Lembra-te de que tempo é dinheiro... Lembra-te de que o crédito é dinheiro... Lembra-te de que o dinheiro é de natureza prolífera, procriativa... Lembra-te deste refrão: “O bom pagador é dono da bolsa alheia”... As mais insignificantes ações que afetem o crédito de um homem devem ser consideradas... Guarda-te de pensar que tens tudo o que possuis e de viver de acordo com isto... Analise as sentenças de Benjamin e, relacionando-as com o pensamento de Max Weber, assinale a alternativa incorreta: a) As sentenças de Benjamin Franklin são a profissão de fé do yankee. b) A peculiaridade dessa filosofia da avareza, tal como apregoada por Benjamin, parece ser o ideal de homens honestos, de crédito reconhecido e acima de tudo a ideia de dever que o indivíduo tem no sentido de aumentar o próprio capital, assumindo-o como um fim em si mesmo. c) As sentenças de Benjamim não retratam a mera astúcia no negócio o que seria comum, mas traduzem verdadeiros ideais éticos. d) As virtudes descritas por Benjamin nas sentenças guardam estrita relação com o utilitarismo, na medida em que só interessam se forem úteis aos homens. e) Max Weber afirmou em A ética protestante e o espírito do capitalismo, a exemplo das sentenças de Benjamim, que o protestantismo foi um dos mais importantes críticos do capitalismo, principalmente por seus ideais de fraternidade.

Questão 03. De acordo com Weber, foram consideradas as seguintes características definidoras: Ética Protestante 1- Ética fundada no trabalho como vocação 2- Disciplina 3- Austeridade 4- Poupança

Espírito Capitalista 1- Racionalismo Econômico 2- Opção pela formação/trabalho técnico 3- Qualificação profissional 4- Novo Ethos / Nova mentalidade

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01. (Unimontes MG) A perspectiva weberiana de estudos sociológicos fundamenta-se na possibilidade de o cientista compreender a ação social do indivíduo, ou seja, em atores sociais capazes de conduzir suas próprias ações, que têm motivações e sentidos. Para ele, a ação social e suas diferentes motivações levam a quatro categorias ou tipologias. Assinale as colunas correspondentes às características de cada uma.


FRENTE

A

SOCIOLOGIA

Questão 02. Resposta:01 + 02 + 04 = 07. As afirmativas [08] e [16] estão incorretas. Foi Max Weber quem analisou o pensamento de Benjamin Franklin, em seu livro A Ética protestante e o espírito do capitalismo. Para Durkheim, o trabalho é um fato social em todas as sociedades, desde as “primitivas” até as complexas.

Exercícios de Aprofundamento 01. (UEG GO) A reflexão sobre o poder político acompanhou a his-

03. (Upe-ssa) Observe a imagem a seguir:

tória da filosofia desde a antiguidade e o pensamento sociológico desde seu surgimento na sociedade moderna. Nos últimos anos vêm ocorrendo diversas manifestações, protestos e revoltas em todo mundo. A esse respeito, com base no pensamento filosófico e sociológico, verifica-se que a) esses processos revelam a incompetência do Estado em ser o “cérebro da sociedade”, o que confirma as teses de Durkheim. b) essas ações coletivas podem ser interpretadas como processos derivados da expansão de uma ética protestante, confirmando as análises de Weber. c) os movimentos contestadores atuais expressam um processo de vontade de potência que é corroborado pela filosofia kantiana. d) as lutas sociais contemporâneas revelam as contradições da sociedade capitalista, o que estaria de acordo com a teoria de Marx. 02. (UEM PR) “Não sois máquinas! Homens é que sois!” Trecho do último discurso de Charlie Chaplin no final do filme O grande ditador, 1940. www.culturabrasil.org/discurso_grande_ditador_chaplin.htm.

A partir da afirmação acima e de conhecimentos em sociologia, assinale o que for correto: 01. Em sociedades como a nossa, organizadas a partir de relações produtivas nas quais os trabalhadores detêm apenas sua força de trabalho e os empresários capitalistas são donos dos recursos produtivos, Karl Marx identificou um fenômeno chamado exploração de mais valia. 02. Sociedades organizadas a partir de divisão social do trabalho, nas quais há especialização de atividades e funções, expressam um tipo de vínculo que Émile Durkheim chamou de solidariedade orgânica. 04. Max Weber defendeu que as ações sociais nas sociedades industrializadas são predominantemente orientadas em relação a seus fins, fato que denominou racionalidade. 08. O bordão “tempo é dinheiro”, cunhado por Benjamin Franklin, é recuperado por Émile Durkheim em seus trabalhos e se refere aos bons princípios de organização social da sociedade moderna. 16. Segundo Émile Durkheim, o trabalho não pode ser um fato social enquanto a sociedade não alcançar o pleno emprego. 152

Percebe-se nela que a sociedade prevalece sobre as ações dos indivíduos, aprisionando-os. Dessa forma, o conteúdo da imagem representa um objeto de estudo da Sociologia, constituído historicamente como um conjunto de relações entre os homens na vida em sociedade. Sobre as características do objeto de estudo apresentado, é CORRETO afirmar que a) Karl Marx elaborou o que considerava a relação indivíduo-sociedade como um conjunto de condições materiais manipuladas pelos indivíduos, objetivando organizar e manter as relações sociais de produção. b) a ação individual é o principal conceito desse objeto e só faz sentido na consciência de classe, possibilitando aos grupos mais ricos atuarem sobre os grupos mais pobres, aumentando a desigualdade social. c) as normas, os comportamentos e as regras são os aspectos fundantes do objeto em destaque. Seguidos pelos indivíduos, esses aspectos da vida social são construídos fora das consciências individuais para manter a sociedade coesa. d) a conduta dos indivíduos é valorizada, pois a ação individual tem mais importância que a imposição coercitiva das normas sociais. e) Max Weber criou o que denominou a “ação do indivíduo”, orientada pela ação de outros e estabelecida por uma relação significativa. 04. (UEM PR) Karl Marx e Max Weber figuram entre os autores considerados fundadores da Sociologia. Cada um a seu modo investigou o funcionamento das sociedades. Ambos se preocuparam, sobretudo, com o funcionamento das sociedades capitalistas modernas. Assinale o que for correto a respeito de estudos realizados por esses dois autores.

Questão 03. Resposta: [C] [A] INCORRETA. As condições materiais não são manipuladas pelos indivíduos, mas determinantes sobre eles. [B] INCORRETA. A consciência de classe é coletiva e transformadora, e não individual e conservadora. [C] CORRETA. Essa análise, tipicamente durkheimiana, é correta e está adequada à charge da questão. [D] INCORRETA. Não se pode dizer que a ação individual é mais importante que as normas sociais. [E] INCORRETA. O nome correto do conceito sociológico criado por Weber é “ação social”.


01. Para Max Weber, as ações sociais dependem das decisões, das escolhas e das orientações individuais, portanto tais ações interferem diretamente na realidade. 02. Karl Marx indica, em seus escritos, que a forma como as sociedades produzem e reproduzem a sua vida material não interfere nos demais campos da vida. 04. Max Weber considera que o protestantismo foi central para o desenvolvimento da sociedade capitalista moderna, uma vez que essa doutrina religiosa inseriu uma ética de valorização do trabalho e de seus frutos, inclusa a riqueza. 08. Ao contrário de Karl Marx, Max Weber considera os fenômenos culturais desencadeadores de transformações históricas e sociais. 16. Os estudos de Karl Marx indicam que a produção e a reprodução da vida material, aquilo denominado de economia, conformam a infraestrutura das sociedades.

05. (UEL PR) No pensamento sociológico clássico e contemporâneo, as dimensões igualdade, diferença e diversidade assumem importância para estudos relacionados à questão das desigualdades sociais. Com base nos conhecimentos sobre as perspectivas sociológicas que explicam a desigualdade social, no cotidiano das sociedades capitalistas, assinale a alternativa correta. a) A sociologia weberiana, quando analisa as modernas sociedades ocidentais, demonstra que os fatores econômicos e os antagonismos entre as classes determinam as hierarquias de poder e os tipos de dominação. b) As análises de Marx defendem a ideia de que as mudanças mais recentes na ordem mundial capitalista alteraram a preeminência das classes na explicação das assimetrias sociais e diversidades culturais. c) Na sociologia de Bourdieu, os fatores econômicos, simbólicos e culturais, a exemplo da renda, do prestígio e dos saberes, incorporados pelos agentes em seu cotidiano e em sua trajetória de vida, são responsáveis pela diferenciação de posições nos campos sociais. d) No pensamento funcionalista, a origem da desigualdade social encontra-se nas contradições econômicas e políticas entre os agrupamentos, que mantêm relações uns com os outros para produzir e reproduzir a estrutura social. e) Para os pensadores críticos do neoliberalismo, a mobilidade dos indivíduos de um estrato social para outro, no Brasil, é acompanhada igualmente por mudanças na estrutura de classes sociais, na medida em que pobres e ricos se aproximam. 06. (UEM PR) Em termos sociológicos, é correto afirmar sobre o trabalho: 01. Segundo Karl Marx, o tempo de trabalho desempenha um duplo papel: de um lado, a divisão social planifica e regula as relações entre atividades produtivas e necessidades, e, de outro, o tempo de trabalho representa a cota individual dos trabalhadores na participação do produto total. Além disso, a parcela do trabalho não pago, que é a maior porção das riquezas produzidas pelos trabalhadores, é apropriada e vendida pelo empregador. É chamada de mais-valia. Questão 04. Resposta: 01 + 04 + 08 + 16 = 29. A alternativa [02] contraria a alternativa [16] e, por isso, está incorreta. Enquanto Karl Marx analisava a sociedade a partir dos conflitos de classe social, Max Weber se preocupava em compreender a influência das ações individuais, levando em consideração variáveis não somente econômicas, mas também culturais, em seus estudos.

Ciências Humanas e suas Tecnologias Questão 06. Resposta. 01 + 04 + 08 + 16 = 29. A alternativa [02] é a única incorreta. A respeito da sociologia do trabalho, Marx e Engels acreditavam que o proletariado era essencialmente político e que cabia a ele o papel de superação da sociedade capitalista.

02. Segundo Karl Marx e Friedrich Engels, os trabalhadores não devem participar da política porque não têm formação escolar adequada para isso. Desse modo, devem deixar o exercício das funções no legislativo, no executivo e no judiciário para jornalistas, médicos, advogados, engenheiros, delegados e militares. 04. Segundo Émile Durkheim, as relações de parentesco, o crime e a educação são definidos no direito e no costume por forças externas à vontade individual. Durkheim chamou isso de “fato social”. 08. Segundo Max Weber, o moderno capitalismo desencadeia processos de secularização e de desencantamento do mundo social. 16. Segundo Max Weber, os valores forjados no interior da ética protestante, combinados com práticas econômicas específicas, geraram condições objetivas para o surgimento do moderno capitalismo. 07. (Unimontes MG) A Sociologia Clássica tem, entre os seus principais pilares teóricos, as formulações de Karl Marx (18181883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (18641920). Esses três grandes pensadores europeus estudaram o avanço do capitalismo, com perspectivas distintas. Em relação às concepções de sociedade de cada um deles, é correto afirmar, EXCETO a) A sociedade, na visão de Durkheim, deve ser compreendida a partir das instituições sociais que a compõem, como, por exemplo, o Estado, a Igreja, a Família etc, bem como os diversos grupos sociais. b) Para Weber, a ação – ou a atividade social – deve ser compreendida pelo sentido que lhe atribuem os indivíduos, o que torna a Sociologia uma disciplina interpretativa. c) Na ótica de análise de Marx, não há como compreender a sociedade se não se compreender as relações das classes sociais que a compõem e seus modos de produção. d) Os três autores clássicos da Sociologia perderam importância na atualidade das ciências sociais, pois deixaram de ser referência de estudo com a reestruturação do sistema capitalista mundial. 08. (UPE SSA) O objeto de estudo da Sociologia é caracterizado como a compreensão do ser humano nas suas relações sociais. No entanto, na história da sociologia, cada pensador elaborou uma maneira particular de investigar os fenômenos sociais. A seguir, encontram-se imagens dos principais teóricos da Sociologia.

Questão 07. Resposta.[D] A alternativa [D] é claramente incorreta. Todos esses autores continuam possuindo enorme importância para o pensamento sociológico contemporâneo, por terem embasado a grande maioria dos trabalhos sociológicos, inclusive os atuais. Autores como Giddens, Bourdieu e Bauman, todos eles fazem referências aos estudos clássicos de sociologia.

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FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

Questão 05. Resposta.[C] Existem várias teorias que explicam a desigualdade social. No caso da presente questão, a única que apresenta uma explicação correta é a [C]. A teoria de Bourdieu explica a desigualdade relacionando estrutura social e simbólica com os comportamentos individuais, que sempre ocorrem em determinado campo social.


Sociologia Questão 09. Resposta:[D] A sequência correta está expressa na alternativa [D]. Marx considera que a luta de classes é o motor da história, Durkheim vê classes sociais associadas à divisão do trabalho social e Weber as relaciona com a posse de certos atributos.

Sobre o objeto de estudo elaborado por esses teóricos, é CORRETO afirmar que a) o primeiro teórico entende a sociedade como um conjunto de relações de poder, controladas por luta entre classes sociais diferentes, caracterizando o objeto de estudo da Sociologia como fatos sociais. b) o sociólogo da imagem 2 entende a Sociologia como uma ciência preocupada em entender as relações humanas significativas, ou seja, algum tipo de sentido entre as várias ações sociais. c) as classes sociais são o objeto de estudo do sociólogo apresentado na imagem 2 que entende a sociedade como um grupo de indivíduos, ocupando uma mesma posição nas relações de produção. d) o terceiro teórico elaborou o objeto de estudo da Sociologia, visando compreender as relações sociais com base no modo de agir, pensar e sentir, exterior ao indivíduo e dotado de um poder coercitivo. e) a ação social é um conceito-chave utilizado pelo teórico apresentado na imagem 3. Esse conceito se refere à ação que, quanto ao sentido visado pelo indivíduo, tem como referência o comportamento de outros, orientando-se por estes em seu curso. 09. (Unimontes MG) A Sociologia é uma ciência moderna que prioriza estudos sobre a divisão social do trabalho, em suas diversas concepções teóricas e empíricas. Entre os estudiosos clássicos, Karl Marx (1818-1883), Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-1920) são apontados como grandes referências neste campo de análise na teoria social. Considerando as teses desses autores, associe a 2ª coluna com a 1ª. 1. Pessoas que têm a mesma posição no que se refere à propriedade de bens, serviços e habilidades encontram-se numa determinada situação de classe. 2. A história de toda sociedade tem sido a história da luta de classes. 3. A divisão do trabalho supõe uma interdependência entre grupos sociais baseada na especialização de tarefas.

FRENTE A  Exercícios de Aprofundamento

( ) Karl Marx ( ) Émile Durkheim ( ) Max Weber A sequência CORRETA é a) 1 - 3 - 2. b) 3 - 2 - 1. c) 3 - 1 - 2. d) 2 - 3 - 1. 10. (UPE) Leia os textos a seguir: TEXTO 1 Toda maneira de agir, fixa ou não; suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então, ainda que seja geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma exis154

Questão 11. Resposta. 01 + 04 + 08 = 13. Somente as afirmativas [02] e [16] estão incorretas. Para Comte, a sociologia seria a forma mais evoluída de explicação das sociedades. Além disso, vale ressaltar que a sociologia de forma alguma naturaliza a vida social por meio de explicações ambientais, como demonstrado na afirmativa [08].

tência própria, independentemente das manifestações individuais que possa ter.

SILVA, José Otacílio da. Elementos da Sociologia Geral. 2. ed. Cascavel: Edunioeste, 2006, p. 102.

TEXTO 2 A interação entre torcedor e jogador constitui-se em um fenômeno social, pois seus agentes têm um ao outro como referência para seus atos. Do mesmo modo, podem ser tratadas todas as interações existentes no âmbito do esporte, que, no geral, tomam o comportamento do jogador como referência, orientando seus atos a partir desse parâmetro. DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010, p. 15.

Os estudos sociológicos se baseiam em vários objetos que são temas específicos de investigação. Os objetos de estudos descritos nos textos 1 e 2 são, respectivamente, a) dialética e materialismo. b) fato social e ação social. c) fato social e materialismo. d) positivismo e funcionalismo. e) funcionalismo e sociologia compreensiva. 11. (UEM PR) “A história da sociologia caracteriza-se pelo relacionamento ambivalente com a biologia e outras disciplinas que dizem respeito ao meio ambiente natural (...) De um lado, o pensamento sociológico é fortemente influenciado pelas imagens de desenvolvimento, evolução e adaptação de organismos (...) Paralelamente, o desenvolvimento da teoria sociológica segue um modelo principalmente moldado pelas reações contra o simplismo biológico de vários tipos (especialmente o darwinismo social e o determinismo ambiental).” (BUTTEL, F. A sociologia e o meio ambiente: um caminho tortuoso rumo à ecologia humana, In Perspectivas. V.15, 1992. p. 69).

Considerando o trecho citado e os estudos sociológicos sobre natureza e cultura, assinale o que for correto. 01. Para a sociologia, as culturas humanas são transmitidas por meio de processos de socialização e não por heranças genéticas. 02. Segundo Comte, a biologia é a forma mais evoluída de explicação das sociedades por causa da maior precisão de suas pesquisas. 04. Ao comparar a sociedade com um organismo, Durkheim propôs modelos de explicação das relações de solidariedade que contribuem para compreender os processos de coesão e de desagregação social. 08. Do ponto de vista da sociologia, diferenças entre grupos humanos são o resultado de valores e de práticas culturais sobre o mundo social. 16. Ao opor cultura e natureza, a sociologia contemporânea propõe a naturalização da vida social por meio de explicações que determinem a influência do meio ambiente no comportamento dos indivíduos.

Questão 08. Resposta:[E] Marx compreendeu a sociedade como resultado das relações materiais de produção. Na sociedade capitalista, duas classes estariam em constante conflito: a burguesia e o proletariado. Durkheim desenvolveu a ideia de fato social e procurou dar cientificidade ao estudo sociológico. Por fim, foi Weber quem desenvolveu a ideia de ação social dotada de sentido. Seu grande objetivo era compreender o processo de racionalização da modernidade. Sendo assim, a única alternativa que associa, de forma correta, as ideias com o autor é a [E].

Questão 10. Resposta. [B] O primeiro texto, ao fazer referência à coerção da sociedade sobre o indivíduo, retoma, de forma clara, a noção durkheimiana de fato social. Em contrapartida, o segundo texto, por pensar a interação de um indivíduo tomando em consideração a ação dos demais, faz referência clara à noção weberiana de ação social.


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