Existe um crescimento mundial entre os cristãos no interesse pela pregação expositiva. A razão é simples: a pregação expositiva, mais do que qualquer outra, traz diante do mundo e da igreja as verdades reveladas na palavra de Deus. Ela se baseia e se fundamenta na autoridade das Escrituras para confrontar a todos com a verdade inspirada por Deus. Num mundo corroído pelo relativismo, pragmatismo e indiferença, esse tipo de pregação é a que melhor se adequa à tarefa da igreja de anunciar ao mundo todo o conselho de Deus de maneira relevante e clara. Como eficiente expositor das Escrituras, Sugel Michelén oferece nesta obra uma ajuda inestimável aos pastores que querem ser fiéis no ministério da pregação. Da parte de Deus e na presença de Deus chega em momento oportuno. Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, pastor presbiteriano, autor de Apóstolos
Esta obra de Sugel Michelén é uma sólida afirmação teológica da necessidade da pregação, assim como um ótimo guia passo a passo para a exposição da Escritura Sagrada centrada em Cristo Jesus crucificado. Todo aquele compromissado com a pregação será muito beneficiado se estudar esta obra clara, simples e direta sobre a arte de pregar. Será de ajuda não apenas para iniciantes, mas também para veteranos relembrarem princípios e direções para o anúncio do evangelho com fidelidade à Palavra de Deus. Franklin Ferreira, diretor e professor no Seminário Martin Bucer e pastor da Igreja da Trindade, em São José dos Campos-SP
Se há um tema sobre o qual sempre desejei que o pastor Sugel escrevesse, é a pregação. Durante quase 35 anos, escutei suas pregações, e sou testemunha da obra que o Senhor fez e continua a fazer por intermédio dele. Posso garantir que Sugel proclamou o evangelho “da parte de Deus e na presença de Deus”, como um obreiro diligente (2Tm 2.15). Acredito que este livro será referência obrigatória por muito tempo. Aqui está: agora mergulhe nele! Salvador Gómez-Dickson, pastor da Iglesia Bíblica del Señor Jesucristo em Santo Domingo
Nossos sermões pregados agradam a Deus ou estamos satisfeitos apenas com o fato de agradarem aos homens? Se queremos que nossos sermões agradem a Deus, a primeira providência é refletir neles aquilo que Deus diz. Como vamos agradar a Deus com o que pregamos se distorcemos sua Palavra, acrescentamos algo ou a interpretamos mal, se deixamos de lado aquilo de que não gostamos e chamamos a atenção para nós mesmos em vez de chamar a atenção para seu Filho? O conceito simples de que “a pregação que agrada a Deus é aquela que reflete com fidelidade o que Deus mesmo diz” é o cerne desta excelente introdução à pregação expositiva. O ensino com que Sugel nos brinda provém de seus muitos anos de serviço fiel e frutífero no ministério. D.A. Carson, escritor e diretor do ministério The Gospel Coalition
Este livro de Sugel Michelén, expõe os fundamentos de que precisamos hoje para uma verdadeira pregação bíblica, validada por uma compreensão do Evangelho que permeia toda a Escritura. Estou certo de que esta obra guiará toda uma geração a ser fiel ao Evangelho. Brian Chapell, pastor e escritor de Pregação Cristocêntrica
É uma grande condescendência que Deus mostre sua misericórdia ao dar à sua Igreja pastores e mestres que nos ensinem com ciência e inteligência. O pastor Sugel Michelén é um dom de Cristo para a Igreja. Por meio dele, muitos de nós temos sido auxiliados, edificados e abençoados, e agora ele nos torna participantes de seu trabalho, reunindo, neste livro, mais de três décadas de experiência pastoral. Tomando, em várias ocasiões, o exemplo do Príncipe dos Pastores, nosso Senhor Jesus Cristo, esta obra nos exorta a manter estrita fidelidade à Palavra de Deus — um princípio que deve reger, no ministério da Palavra, os pastores que foram chamados por ele, para que possam exercer com honestidade e integridade seu dever. Agradecemos a Deus por nos dar, em nossa época, o pastor Sugel Michelén, para o benefício de nossa geração e também para aquelas que virão depois de nós. Boni Lozano, pastor da Iglesia del Pacto de Gracia em Madri, Espanha
Se você já prega, ou se quer aprender a pregar, precisa ler este livro. Expor uma passagem bíblica é caminhar em terreno santo. Nesta obra, Sugel compartilha essa verdade conosco e nos lembra que nossa função como pregadores é servir o pão que Deus tem preparado para alimentar as almas famintas. O pastor Michelén guiará você não apenas para que entenda a importância da pregação, mas também para que possa praticá-la. Ele escreve porque conhece profundamente a Palavra e porque já viu os resultados do poder da Palavra em ação. Miguel Nuñez, pastor da Iglesia Bautista Internacional em Santo Domingo
A primeira vez que escutei o pastor Sugel Michelén pregando não foi diante de um grande auditório, mas para um pequeno grupo de pastores. Foi um sermão claro, poderoso e cheio do Espírito Santo. Agora, um dos pregadores mais claros, poderosos e cheios do Espírito Santo da América Latina escreve um livro sobre pregação. Em Da parte de Deus e na presença de Deus, Sugel estabelece a teologia da pregação, define a pregação expositiva e nos ensina como preparar um sermão do princípio ao fim. O que você tem em mãos é um curso completo sobre pregação. Leia e pratique o que ele diz. Que o Senhor te abençoe ao pregar a Palavra da parte de Deus e na presença de Deus! Juan Sánchez, pastor principal da High Pointe Baptist Church, Austin, TX
O leitor interessado em pregação expositiva encontrará diferentes opções que poderão orientá-lo, de maneira teórica e prática, em seu santo chamado, que é comunicar a Palavra de Deus. Porém, acredito que este valioso trabalho de Sugel Michelén é único por várias razões: em primeiro lugar, está escrito em uma perspectiva latino-americana; em segundo, ele é um exemplo de pastor que prega expositivamente; e, em terceiro, trata-se de um livro agradável, no qual o autor combina simplicidade com erudição. Esta obra é uma jóia para mim e eu sei que também será para todos os seus leitores. Otto Sanchez, pastor da Iglesia Bautista Ozama em Santo Domingo
SUGEL MICHELÉN
DA PARTE DE
E NA PRESENÇA DE
UM GUIA PARA A PREGAÇÃO EXPOSITIVA
M623p
Michelén, Sugel Da parte de Deus e na presença de Deus : um guia para a pregação expositiva / Sugel Michelén ; prólogo de Paul David Washer ; [tradução: Leonardo Gonçalves]. – São José dos Campos, SP : Fiel, 2018. 332 p. Tradução de: De parte de Dios y delante de Dios : una guía de predicación expositiva. Inclui notas bibliográficas: p. [309]-323 e bibliografia: p. [325]-332. ISBN 9788581324999 1. Pregação. I. Washer, Paul David, 1961-. II. Título. CDD: 251
Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477
Da parte de Deus e na presença de Deus: um guia para a pregação expositiva
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária
Traduzido do original em espanhol De Parte de Dios y Delante de Dios: Una Guía de Predicación Expositiva Por Sugel Michelén © Copyright 2016 por Sugel Michelén
Proibida a reprodução deste livro por quaisquer
Publicado por B&H Publishing Group, Nashville, TN 37234 Copyright © Editora Fiel 2018 Primeira Edição em Português: 2018
meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Leonardo Gonçálves Revisão: Shirley Lima - Papiro Soluções Textuais Diagramação: Rubner Durais Capa: Rubner Durais ISBN: 978-85-8132-499-9
Caixa Postal 1601 CEP: 12230-971 São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
A Gloria, por me dar 34 anos de sua vida para deleitar e abenรงoar abundantemente a minha.
Sumário Agradecimentos................................................................................. 13 Prólogo............................................................................................... 15 Introdução.......................................................................................... 21
Primeira parte: Âncora teológica Capítulo 1: Deus falou e atua falando............................................................... 29 Capítulo 2: Deus fala hoje por meio de sua Palavra escrita.......................... 43 Capítulo 3: Deus nos ordena pregar sua Palavra para que sua voz seja publicamente ouvida...................................................................... 49
Segunda parte: Natureza, forma e conteúdo do sermão expositivo Capítulo 4: O que é um sermão expositivo?................................................... 67 Capítulo 5: O que é pregar?................................................................................ 81 Capítulo 6: Pregando sob a dependência do Espírito Santo...................... 103 Capítulo 7: Cristo e este crucificado: o centro de nossa pregação........... 119
Terceira parte: A preparação de um sermão expositivo, passo a passo Capítulo 8: Escolha o texto............................................................................... 143 Capítulo 9: Estude o texto................................................................................ 159 Capítulo 10: Estruture o sermão........................................................................ 189 Capítulo 11: Prepare o sermão........................................................................... 207 Capítulo 12: Aplique o sermão.......................................................................... 229 Capítulo 13: Prepare a introdução e a conclusão........................................... 249 Capítulo 14: Pregue o sermão... da parte de Deus e na presença de Deus....259 Capítulo 15: Deus no banco dos réus............................................................... 285 Epílogo............................................................................................. 303 Livros recomendados...................................................................... 305 Notas................................................................................................ 311 Bibliografia...................................................................................... 327
Agradecimentos Escrever é um empreendimento solitário, mas, ao mesmo tempo, em muitos aspectos, depende de várias pessoas. Ninguém é completamente original e é difícil escrever um livro que valha a pena sem a ajuda de outras pessoas. Por isso, não seria justo da minha parte deixar de agradecer a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram para que este livro fosse escrito e publicado. A Cristopher Garrido, diretor editorial da B&H Publishing Group, por me apresentar a proposta de escrever este livro e por sua paciência comigo todas as vezes que tive de mudar a data de entrega. A Boni Lozano, José (Pepe) Mendoza, Giancarlo Montemayor e María Silvia Chozas, por suas correções e recomendações. É um privilégio poder contar com leitores tão diligentes e argutos. Estou convencido de que este livro será um recurso muito melhor por causa da ajuda que eles me deram. Acerca das debilidades e limitações desta obra, assumo total responsabilidade. Aos meus pastores: Eduardo Saladín, Lester Flaquer, Salvador Gómez, Marcos Peña, Miguel Linares, Leopoldo Espaillat, Rafael Alcántara e Eric Sigfrido Guillén, por me apoiar neste projeto, apesar do impacto causado em minha agenda nestes últimos meses, assim como pela fidelidade de cada um em avaliar, a cada semana, o sermão apresentado no púlpito de nossa igreja. Essa avaliação constante tem sido uma verdadeira
Da parte de Deus e na presença de Deus
escola para todos nós que temos a responsabilidade de “administrar os mistérios de Deus” em nossa congregação. Aos membros da Iglesia Bíblica del Señor Jesucristo, pela atenção que dão à exposição das Escrituras a cada domingo, pela notas constantes de alento e por orar regularmente por seus pastores. É um verdadeiro gozo pastorear uma congregação que tem em tão alta estima a pregação da Palavra. A Eduardo e Cisnely Álvares, bem como a José Ramón e Marisol Díaz, pela generosa disposição com que me emprestaram suas respectivas casas, para que eu pudesse escrever em um ambiente tranquilo. Essas oportunidades a sós com minha esposa na montanha foram os momentos mais produtivos em todo o processo de escrita deste livro. Obrigado, de todo o coração! A Paul Washer, por reservar um tempo de sua agenda para ler o manuscrito e por aceitar escrever o prólogo. De maneira muito especial, à minha esposa, Glória, por me apoiar integralmente durante todo o tempo que dediquei a essa tarefa, por ser a primeira a ler e avaliar cada capítulo, mas principalmente por ser um instrumento nas mãos de Deus para me ajudar a ser um crente melhor, um pastor melhor e um pregador melhor. Você é o presente mais lindo e valioso que o Senhor me concedeu, depois de conhecê-lo. Acima de tudo, ao único e sábio Deus, aquele que, desde antes da fundação do mundo, me escolheu por pura graça para ser salvo e para proclamar: “O evangelho da glória de Cristo”. A ele, e somente a ele, sejam toda a glória, todo o louvor e toda a honra pelos séculos dos séculos!
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Prólogo Nas últimas décadas, a Igreja se afastou gradativamente do ensino claro das Escrituras, deixando-se levar sem direção, sacudida “pelas ondas” e levada “ao redor por todo vento de doutrina” (Ef 4.14). Deus e sua glória foram removidos do centro do cenário, e a busca do homem por realização pessoal e autossatisfação se apoderou da cena. O evangelho e seu chamado ao arrependimento e a fé foram substituídos por uma frágil declaração de fé e por um convite para que o homem repita uma oração. A clara exposição das Escrituras tem sido silenciada por homilias astutas, histórias pitorescas e uma fervorosa súplica destituída de substância e que não contém nutrientes verdadeiros. A genuína obra do Espírito tem sido falsificada por emotividade e entusiasmo, fogo sem calor, espiritualidade sem piedade e supostas revelações que contradizem a infalível revelação das Escrituras inspiradas pelo Espírito (2Tm 3.16). Em consequência, a missão da Igreja no mundo tem sido frustrada. Seu testemunho ficou manchado pelo mundanismo e pela carnalidade; sua mensagem perdeu a unidade e se tornou até mesmo contraditória. Dessa forma, o mundo se encheu de opiniões contraditórias acerca da pessoa e da obra de Cristo, e do que significa segui-lo. A Igreja, cujo propósito é ser “o sal da terra”, “a luz do mundo” (Mt 5.13-16), além de “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15), transformou-se em uma coleção frágil, impotente e obscura de opiniões e condutas em conflito. Contudo, em meio a toda essa escuridão e confusão, a luz brilha. Em muitas
Da parte de Deus e na presença de Deus
partes do mundo, a Igreja parece estar retornando às doutrinas fundamentais sobre as quais foi estabelecida. Muitos estão começando a descobrir que não podemos curar a Igreja ou o mundo com estratégias e novas invenções dos homens; devemos nos voltar a Deus e nos submeter completamente à sua vontade do modo como é revelada nas Escrituras. Assim, muitos cristãos estão novamente prestando atenção à exortação que o Senhor nos deixou por meio do profeta Jeremias: Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos ( Jr 6.16).
O ano de 2017 marcou o 500º aniversário da Reforma Protestante, que arrebatou a Igreja das trevas mediante o redescobrimento do sola scriptura, a doutrina que afirma a inerrante e infalível Palavra de Deus como a única norma de fé e prática. Graças a essa doutrina fundamental e aos homens que sustentaram essa verdade, toda a Europa e, com o tempo, todo o mundo foi influenciado para melhor. O Renascimento e o Iluminismo não mudaram a conduta dos homens nem transformaram o mundo; o que mudou tudo foi a preciosa e clara exposição das Sagradas Escrituras de Deus. E, se a Igreja dos nossos dias vai ocupar novamente o lugar que lhe é de direito, como sal da terra, luz do mundo e coluna e baluarte da verdade, seus ministros devem, uma vez mais, deixar de lado aquilo que é trivial e dedicar-se à excelente tarefa de estudar, praticar e ensinar as Escrituras às igrejas que estão sob seus cuidados. Devemos ser como Esdras, que dispôs “o coração para buscar a Lei do 16
Prólogo
SENHOR, e para a cumprir, e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (Ed 7.10). Devemos obedecer às contínuas exortações de Paulo ao seu jovem discípulo Timóteo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15) e “prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2). Somente então, seremos como o fiel Levi no livro de Malaquias, de quem Deus diz: “A verdadeira instrução esteve na sua boca, e a injustiça não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em retidão e da iniquidade apartou a muitos” (Ml 2.6). É por tais razões que, com todo o meu coração, recomendo este livro aos ministros e às igrejas de Cristo. Todo aquele que se esforça para comunicar a verdade de Deus aos outros será muito abençoado pela simples e, ao mesmo tempo, profunda instrução que se encontra nestas páginas. Quer já tenha pregado por décadas, quer esteja ensinando à sua primeira turma infantil na escola dominical, este livro guiará você pelos elementos essenciais da preparação e da pregação da Palavra de Deus. Para concluir, considero apropriado que, nas proximidades do 500º Aniversário da Reforma, seja publicado um livro que estabelece e promove a mesma disciplina que tornou a Reforma uma realidade: a fiel exposição das Escrituras. É meu desejo e minha sincera oração a Deus que ele use esta obra para trazer aos nossos dias uma verdadeira reforma. Soli Deo Gloria, Paul David Washer 17
Este púlpito será recordado com sentimento de amargura pelos milhões de perdidos! Muitos pecadores empedernidos exclamarão na prisão do desespero: “Este santuário e este homem de Deus me advertiram desta espantosa eternidade, mas eu não prestei atenção na repreensão. Este púlpito sagrado me falou da redenção através do sangue de Cristo, mas eu desprezei a mensagem e pisoteei o sangue do Pacto com os meus pés... Agora estou perdido — perdido — perdido! Ó, que terrível é este inferno eterno! Ó, aquele púlpito! Quanto agrava a minha desgraça! Não me fala outra coisa, exceto aquilo que serve de combustível para estas chamas!”. Por outro lado, estarão aqueles — “uma grande multidão, que ninguém pode contar” — que se lembrarão da influência deste púlpito com um louvor grato e adoração àquele que se esforçou para “salvar os crentes pela loucura da pregação”. Dessa casa de Deus, quantos se lembrarão no céu! “Esse púlpito, que me buscou quando eu ainda era criança, me ensinou quando eu era ignorante e me encontrou quando eu estava perdido; que me lembrou da minha maldade e me disse tudo o que eu tinha feito; que me falou da imortalidade e me fez tremer e chorar, esse púlpito nunca poderá ser apagado da minha memória. Esse púlpito, que me falou do amor do Salvador e de como ele sangrou, morreu e esperou até o sofrimento para que eu pudesse aceitar sua misericórdia salvadora; que me confortou quando eu estava desanimado e me animou em meu cansaço; que dissipou meus erros e me ajudou a escapar da armadilha do caçador; que me deu o
pão da vida quando eu estava faminto e me deu as águas da salvação quando eu estava sedento; que me trouxe a mensagem da paz quando eu desfalecia no leito, aliviando minha cabeça dolorida; e, quando eu estava morrendo, me disse que não afligisse meu coração.” Esse púlpito, milhões na glória dizem: “me advertiu daquela terrível prisão e me dirigiu a estas mansões na casa de meu Pai!” (Gardiner Spring, 1785-1873; traduzido pelo autor).¹
Introdução Imagine a cena. Você está em um auditório e alguém está discursando sobre um tema que você conhece bem. O expositor não sabe que você está ali na última fileira e, de repente, menciona seu nome. Ele está citando algo que você disse em uma conferência apenas alguns dias antes! Se antes você estava um pouco distraído, agora concentra toda a sua atenção. É difícil reconhecer, mas a verdade é que você se sente importante. Mas a sua reação inicial começa a se desvanecer quando você percebe que essa pessoa está tirando uma frase de contexto aqui e distorcendo outras ali, de modo que, no final, ele parece dizer coisas que você não disse. Você não sabe se o orador está sendo mal-intencionado ao fazer isso ou se o faz por ignorância, mas, francamente, você fica irritado. Agora você tem de fazer um verdadeiro exercício de paciência e aguardar até o final da conferência para se aproximar dele, pedir-lhe uma explicação e, se possível, uma retratação. Agora, imagine outra cena. É você quem está diante do auditório pregando sobre uma passagem das Escrituras e o Senhor está sentado na primeira fileira escutando com atenção! De que forma essa realidade impactaria seu ministério de pregação? A verdade é que, exceto pelo fato de estar sentado na primeira fileira, essa não é uma mera ilustração: o Senhor está presente a cada domingo na igreja escutando a pregação. Paulo diz, em 2Coríntios 2.17, que os ministros do evangelho falam “da parte de Deus e na presença do próprio Deus” (grifo aposto). Que grande privilégio e responsabilidade!
Da parte de Deus e na presença de Deus
Mesmo pregando para a edificação dos crentes e a salvação dos perdidos, há uma só pessoa no auditório que deve concordar com a nossa pregação, apenas uma a quem devemos procurar agradar e cuja opinião vale mais que a do mundo todo. Em sua Primeira epístola aos Tessalonicenses, Paulo argumenta que sua “exortação não precede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo; pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração” (1Ts 2.3-4, grifo aposto). Foi Deus quem lhe deu o ministério de proclamar o evangelho; ele é quem prova ou pesa os corações; portanto, era somente a ele que o apóstolo queria agradar. Para Paulo, essa convicção foi uma muralha de proteção que o guardou do erro e das más motivações. Escrevi este livro com o propósito de promover a mesma convicção que dominava a consciência de Paulo: nós pregamos da parte de Deus e na presença de Deus. Mesmo quando eu procurar demonstrar que a pregação expositiva é o melhor alimento, no longo prazo, para edificar a Igreja de Cristo e o meio por excelência para a salvação das almas, ainda insistirei em que a pregação não é um fim em si mesmo. Devemos nos esforçar para expor fielmente as Escrituras porque Deus se glorifica na realização da obra através de sua Palavra. Essa perspectiva da pregação, ao mesmo tempo que coloca um grande peso de responsabilidade sobre os pregadores, também é muito libertadora, pois nos lembra que somos meros porta-vozes de Deus, que se agradou de usar instrumentos humanos para trabalhar no coração dos homens por meio de sua Palavra. Portanto, a obra de Deus não depende de nossa 22
Introdução
oratória, muito menos de nossa astúcia ministerial; depende inteiramente do poder de sua Palavra. Por outro lado, essa perspectiva da pregação nos conforta no desempenho de nosso labor, ao mostrar que os pregadores não falam em seu próprio nome, mas em nome daquele que nos deu a missão de ser seus embaixadores. É um solene e alegre privilégio pregar da parte de Deus e na presença de Deus! Este livro está organizado em três partes. Na primeira, estabelecemos o fundamento teológico que sustenta a pregação expositiva: Deus fala e leva a cabo sua obra falando (capítulo 1); Deus fala hoje por meio de sua Palavra escrita (capítulo 2); e Deus nos ordena a pregar sua Palavra para fazer ouvir publicamente sua voz (capítulo 3). Na segunda parte, definimos o que é um sermão expositivo (capítulo 4) e em que consiste o ato de pregar (capítulo 5); logo constatamos a importância de pregar dependendo do Espírito Santo (capítulo 6) e quão grande tema de pregação é Cristo, e este crucificado (capítulo 7). Os sete capítulos que compõem este livro tentam estabelecer a doutrina da pregação expositiva. Como eu sei que muitos não gostam de teorizar, espero que você não ceda à tentação de pular essa parte e ir diretamente para a parte prática. Lembre-se de que a prática deriva da doutrina, e que a doutrina será um grande incentivo para a tarefa de pregar fielmente as Escrituras, apesar do desafio que isso implica na prática. Na terceira parte, os capítulos 8 a 14, vemos como preparar um sermão expositivo passo a passo: a eleição de uma passagem (capítulo 8), o estudo da passagem (capítulo 9), a estruturação do sermão (capítulo 10), a preparação do sermão (capítu23
Da parte de Deus e na presença de Deus
lo 11), a aplicação do sermão (capítulo 12), a preparação da introdução e da conclusão (capítulo 13) e alguns conselhos relativos ao ato de pregar (capítulo 14). Ao finalizar os capítulos 8 a 13, acrescentei uma seção na qual podemos trabalhar juntos na elaboração de um sermão expositivo com base em Êxodo 17.1-7, que se encontra na parte final do livro, o capítulo 15. Desse modo, espero que você possa ver um exemplo concreto dos princípios práticos aqui enunciados. Alguns aspectos importantes relacionados à pregação não serão abordados em profundidade nesta obra, mas apenas de maneira incidental, como, por exemplo, o chamado de Deus ao ministério da pregação, o caráter e os dons do pregador, sua vida devocional, seus hábitos de leitura e outros temas semelhantes. Por isso, incluí, no final, uma lista de livros recomendados que complementam o que não conseguimos abordar aqui, devido ao enfoque particular deste livro. Embora eu tenha escrito visando principalmente aos pregadores, eles não serão os únicos que poderão beneficiar-se da leitura deste livro. Espero, portanto, que este guia seja útil para professores de escola dominical, líderes de pequenos grupos e para todos aqueles que têm a responsabilidade de ensinar a Escritura, independentemente do contexto em que trabalham. Por outro lado, fico animado em pensar que alguns membros de igrejas locais poderão ler este livro e crescer em seu apreço pela pregação expositiva; afinal, a pregação deficitária está por todo canto, entre outros motivos, porque muitas pessoas estão satisfeitas em escutá-la. Minha oração é para que Deus use esta obra para animar e ajudar muitos pregadores no árduo e extraordinário trabalho de 24
Introdução
expor as Escrituras, com o propósito de levar os homens a Cristo, que é o “poder de Deus e a sabedoria de Deus”, de maneira que possam conhecê-lo, amá-lo, adorá-lo e deleitar-se nele. Se, em sua bondade, nosso Deus atender a esse clamor, apesar das limitações e imperfeições deste livro, estarei profundamente agradecido ao meu Senhor e Salvador por, de alguma forma, haver contribuído para a disseminação da pregação expositiva no mundo hispano.1*
1 * O livro foi originalmente publicado em espanhol (Nota do Editor).
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PRIMEIRA PARTE ÂNCORA TEOLÓGICA
Capítulo 1
Deus falou e atua falando “O Deus que fala é o Deus que atua através da sua Palavra.” Peter Adam “A verdadeira pregação começa com esta confissão: pregamos porque Deus falou.” Albert Mohler
Há alguns meses, um casal de nossa igreja nos contou algo que aconteceu na escola com um de seus filhos. A professora perguntou o que eles queriam ser quando adultos, e um menino, de pronto, respondeu que queria ser pastor. “Por quê?”, indagou, emocionada, a professora. “Para ter mais tempo livre”, respondeu ele. Se algum dia esse menino chegar a ser pastor, espero que o faça com outra motivação, pois os pastores não costumam ter muito tempo livre, e um dos aspectos que mais pesam sobre nós é a preparação para pregar a Palavra de Deus. Pregar é uma tarefa que exige muito esforço e que pode chegar a ser esmagadora. Você dedica horas e horas ao estudo das Escrituras, a fim de entender o significado do texto bíblico, e depois passa horas orando e pensando na melhor maneira de comunicar aquela verdade de maneira eficaz. Depois de pregar no dia do Senhor, você fica física e emocionalmente exausto e talvez até mesmo um pouco frustrado porque o sermão não saiu
Da parte de Deus e na presença de Deus
conforme o esperado. Na segunda-feira, você deve começar do zero mais uma vez, preparando-se para o próximo domingo. É sempre a mesma rotina, semana após semana, mês após mês, ano após ano. Uma definição popular de loucura é que consiste em “fazer a mesma coisa sempre, porém esperando resultados diferentes”. Por isso, para pregar a Palavra fielmente durante anos a fio, você deve ter um chamado celestial ou estar um pouco maluco. E, com o passar do tempo, o trabalho não fica mais fácil, porque você vai adquirindo mais consciência do que significa a tarefa para a qual Deus chamou você. Penso que John Chapman, o famoso pregador australiano, tinha muita razão ao afirmar que a etapa mais difícil do ministério são os primeiros cinquenta anos! Acrescente a isso a hostilidade ou a indiferença que muitos sentem hoje no tocante à pregação, e a pressão que muitos pastores e líderes sofrem para se adaptar ao espírito da época e buscar formas “inovadoras” de atrair pessoas para a igreja, e você se dará conta de que permanecer em sua posição, fazendo o que Deus quer que você faça, exige ter fortes convicções enraizadas em uma correta teologia da pregação. Como bem disse John Stott: Em um mundo que, aparentemente, não está disposto a escutar ou não é capaz de fazê-lo, como poderemos estar certos de continuar pregando, e aprender a fazer isso de modo eficaz? O segredo essencial não é dominar certas técnicas, e sim estar dominado por certas convicções. Em outras palavras, a teologia é mais importante que a 30
Deus falou e atua falando metodologia (...) As técnicas podem nos converter em oradores; mas, se queremos ser pregadores, precisamos de teologia.²
Durante todo o tempo, surgem novas ideias sobre como atrair as pessoas à igreja e mantê-las lá. Tais ideias não são avaliadas com base na verdade de Deus revelada em sua Palavra, mas no resultado que produzem. Isso é pragmatismo. John MacArthur, conhecido expositor bíblico e pastor da Grace Community Church na Califórnia, aponta para o pragmatismo como uma das razões pelas quais a pregação “está sendo minimizada em favor das inovações, tais como teatro, dança, humor, variedade, atrações histriônicas, psicologia popular e outras formas de entretenimento. Os novos métodos supostamente são mais ‘efetivos’, ou seja, atraem um público maior”.³ Quando o principal critério para aferir o êxito de uma igreja é o número de membros, qualquer coisa que traga mais gente é aceita de braços abertos. Se a heresia matou milhares, o pragmatismo matou dez milhares. Nos próximos três capítulos, vamos examinar uma espécie de âncora teológica de três pontas que poderá manter o barco de nosso ministério no devido lugar, mesmo quando os ventos do pragmatismo, ou qualquer outro vendaval, soprem contra ele com o intuito de nos levar a praias mais populares.
“A força mais poderosa do universo” Por que insistir em pregar a Palavra de Deus, esforçando-nos para fazê-lo cada vez melhor, se o mundo não parece nem um pouco interessado em escutá-la? Poderíamos responder: “Por31
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que Deus nos deu uma ordem”. Essa é a resposta correta. Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, deu a Timóteo a ordem de pregar a Palavra (2Tm 4.2). No capítulo 3, vamos abordar esse tema de forma mais ampla. Mesmo assim, podemos insistir na pergunta: Por que Deus ordena que preguemos sua Palavra? Uma das melhores respostas que já li é a frase que encabeça esta seção: “Porque a Palavra de Deus é a força mais poderosa do Universo” (tradução do autor), como bem afirma Jonathan Leeman, editor do ministério 9Marcas.4 Olhe ao seu redor e observe tudo aquilo que não foi criado pelas mãos humanas. Então, você verá uma demonstração do que Deus é capaz de fazer por meio de sua Palavra. Ele age falando. “Disse Deus: Haja luz; e houve luz” (Gn 1.3, grifo aposto). Simples assim. Ele falou, e uma quantidade ilimitada de seres e coisas vieram à existência, de estrelas gigantescas a partículas minúsculas. Recentemente, li que, na selva tropical amazônica, há cerca de vinte milhões de espécies de insetos;5 e não de insetos individuais, mas de espécies! E toda essa variedade foi criada originalmente pela voz de Deus. “Os céus por sua palavra se fizeram — diz o salmista no Salmo 33.6 — e, pelo sopro de sua boca, o exército deles.” No extenso capítulo acerca da fé no Novo Testamento, Hebreus 11, o escritor afirma que “pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3; compare com Jo 1.1-3). O apóstolo Pedro acrescenta que os céus e a terra, que foram formados pela Palavra de Deus, também são preservados por essa Palavra (2Pe 3.6, 7). Dessa maneira, a pregação é uma prova contundente do imenso poder que emana da Palavra de Deus quando é pronun32
Deus falou e atua falando
ciada. E não deixe de considerar que o universo, tão grandioso quanto é, não é outra coisa senão uma pequena mostra do que ele é capaz de fazer ao falar. Depois de descrever alguns aspectos da incrível e incompreensível majestade da Criação, Jó declara: “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos! Que leve sussurro temos ouvido dele! Mas o trovão do seu poder, quem o entenderá?” ( Jó 26.14). Se a Criação é produto do sussurro de Deus, não podemos sequer imaginar o que ele teria produzido se tivesse gritado!
Deus se comunica com o homem por meio de palavras Mesmo revelando-se por meio de sua criação (Sl 19.1-6; Rm 1.18-21), ele não deixou Adão e Eva livres em sua própria lógica para interpretar o que foi criado, mas decidiu falar-lhes (Gn 2.15-17; 3.8). Adão e Eva escutavam a voz de Deus no jardim do Éden e tinham o dever de responder em adoração e obediência. Lamentavelmente, não passou muito tempo sem que outro intérprete da realidade entrasse em cena, e foi nesse momento que nossos primeiros pais tomaram a decisão de desobedecer à voz de Deus. Na mesma ocasião em que Adão e Eva comeram o fruto proibido, Deus fez com que sua voz fosse novamente ouvida no jardim, trazendo juízo sobre o pecado e prometendo a bênção de sua graça (Gn 3.9-19). Deus prometeu a Adão e Eva, em Gênesis 3.15, que lhes enviaria um Redentor, nascido de mulher, um ser humano que feriria mortalmente a cabeça daquele que um dia os tentara para se rebelar contra ele. Mais adiante, em cumprimento a essa promessa, Deus criou um povo e, mais uma vez, vemos Deus atuar por meio de sua Palavra. 33
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Deus cria seu povo por meio de sua Palavra Deus chamou Abraão para deixar sua terra e seus parentes e, assim, fazer dele uma grande nação, por meio da qual todas as famílias da terra seriam abençoadas (Gn 12.1-3). Esse chamado marcou o início da nação de Israel na história. Anos mais tarde, Deus fez um pacto com Abraão, prometendo-lhe uma descendência mais numerosa que as estrelas do céu (Gn 15.5). Abraão e Sara não podiam ter filhos, mas Deus falou, e isso foi suficiente para tornar realidade o nascimento da criança. Da mesma forma, o povo de Deus é criado pela Palavra de Deus. Ele cria e recria por meio de sua Palavra. “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (Tg 1.18). Foi por meio da semente incorruptível da Palavra de Deus que nós nascemos de novo (1Pe 1.22-23). Poucas passagens das Escrituras mostram essa realidade de uma forma tão memorável quanto o capítulo 37 do livro do profeta Ezequiel. Estando no exílio babilônico, Deus lhe mostrou, em uma visão, a terrível condição espiritual em que a nação se encontrava naquele momento de sua história. Veio sobre mim a mão do SENHOR; ele me levou pelo Espírito do SENHOR e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na superfície do vale e estavam sequíssimos (Ez 37.1-2)
Esse é um cenário de completa desolação. É como um grande campo de batalha cheio de cadáveres, sem nenhum 34
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sobrevivente que pudesse enterrar os ossos de seus companheiros.6 Se você já viu as imagens das valas comunitárias descobertas nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, então tem uma ideia aproximada do que Ezequiel viu naquele dia. Mas, nesse momento, Deus colocou à prova a fé do profeta. “Filho do homem, acaso poderão reviver estes ossos?” (Ez 37.3). Humanamente falando, só havia uma resposta possível: “Com certeza, não!”. Não havia esperança alguma de que os ossos voltassem à vida para se transformar novamente no esquadrão do exército do Deus vivo. Mas Ezequiel conhecia Deus e o que ele era capaz de fazer, então respondeu humildemente: “SENHOR Deus, tu o sabes” (Ez 37.3). Era impossível que esses ossos voltassem à vida, a menos que Deus interviesse com seu poder, e foi exatamente isso que Deus decidiu fazer. “Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR” (Ez 37.4). Deus mandou Ezequiel pregar aos ossos! Embora estivessem “sequíssimos”, esses ossos escutariam a voz de Deus se ele decidisse falar por intermédio do profeta. Assim diz o SENHOR Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o SENHOR (Ez 37.5-6).
A ordem de Deus parecia uma loucura. Qual é o sentido de pregar em um vale de ossos secos? Mas Ezequiel obede35
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ceu e o poder vivificante da Palavra de Deus entrou em ação imediatamente: Então, profetizei segundo me fora ordenado; enquanto eu profetizava, houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso. Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles; mas não havia neles o espírito. Então, ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso (Ez 37.7-10).
Ezequiel transmitiu a mensagem de Deus e os ossos começaram a se mover; ouviu-se um ruído estrondoso no vale enquanto milhares de ossos se moviam em busca de sua contraparte, até se juntar “cada osso ao seu osso”. Em seguida, cresceram sobre eles os tendões e, logo, a carne e a pele. Contudo, ainda eram cadáveres, porque não tinham vida, até que Ezequiel profetizou de novo e clamou ao Espírito que viesse dos quatro ventos para soprar sobre eles o fôlego de vida, assim como acontecera com o primeiro homem no Éden; “e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso” (Ez 37.10). Esse provavelmente é o quadro mais dramático que encontramos em toda a Escritura sobre a condição espiritual do 36
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homem e o poder da Palavra de Deus para trazê-lo de volta à vida. Talvez Ezequiel se sentisse desconsolado diante do pouco impacto visível de seu ministério: meses e meses chamando o povo ao arrependimento, sem nenhum resultado aparente. Mas, então, ele recebeu essa visão para renovar sua confiança no poder da Palavra de Deus. Quando ele fala, os mortos voltam à vida, como aconteceu com Lázaro quando Cristo ordenou que saísse da tumba ( Jo 11.42-43). Deus cria seu povo com sua Palavra.
Nossa relação com Deus se fundamenta em que respondamos à sua Palavra com fé e obediência Já vimos que Deus falava com Adão e Eva no jardim do Éden e que o homem deveria responder à voz de Deus em adoração e obediência. A relação de intimidade que tinham com Deus no jardim não estava fundamentada em alguma coisa que eles tivessem visto dele, mas em escutar o que ele dizia. Precisamente, esse foi o foco de Satanás, ou seja, levar nossos primeiros pais a ignorar a voz de Deus e desconfiar de sua Palavra: “Foi assim que Deus disse...?”. Satanás sabia que a relação deles dependia de que continuassem escutando e obedecendo à voz de Deus. Quando nossos primeiros pais decidiram escutar outra interpretação da realidade, precisamente aquela que a Serpente lhes ofereceu, quebrantaram a relação com Deus e se transformaram em traidores rebeldes. No restante da história bíblica, vemos esse padrão diversas vezes. Deus fala e o homem deve escutar e obedecer. Isso foi o que aconteceu com Abraão em Gênesis 12, como já vimos, e também o que aconteceu com o povo de Israel quando 37
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foi resgatado da escravidão no Egito. Eles se transformaram em povo de Deus quando receberam a Lei do Senhor pelas mãos de Moisés: Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outros coisa vã; antes, é a vossa vida; e, por esta mesma palavra, prolongareis os dias na terra à qual, passando o Jordão, ides para a possuir (Dt 32.46-47).
Em um dos sermões de Moisés, registrado no livro de Deuteronômio, é enfatizado o enorme privilégio que Deus lhes concedeu como nação ao lhes enviar sua Palavra: Algum povo ouviu falar a voz de algum deus do meio do fogo, como tu a ouviste, ficando vivo; ou se um deus intentou ir tomar para si um povo do meio de outro povo, com provas, e com sinais, e com milagres, e com peleja, e com mão poderosa, e com braço estendido, e com grandes espantos, segundo tudo quanto o SENHOR, vosso Deus, vos fez no Egito, aos vossos olhos. A ti te foi mostrado para que soubesses que o SENHOR é Deus; nenhum outro há, senão ele. Dos céus te fez ouvir a sua voz, para te ensinar, e sobre a terra te mostrou o seu grande fogo, e do meio do fogo ouviste as suas palavras (Dt 4.33-36).
Moisés havia guiado o povo pelo deserto durante quarenta anos e, agora, se encontrava do outro lado do Jordão, a ponto 38
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de entrar na terra prometida. Como líder da nação, qualquer pessoa esperaria que ele os tivesse treinado militarmente para empreender a conquista que eles teriam pela frente. Mas, em vez disso, Moisés lhes recordou que eles eram a única nação do planeta que havia escutado a voz de Deus. Isso, sem dúvida, era um grande privilégio, mas também uma grande responsabilidade. Deus se encarregaria de lhes entregar a terra como herança, conforme a sua promessa, mas eles deveriam responder a essa Palavra que haviam recebido com obediência e fé. Este é um dos temas centrais do livro de Deuteronômio: “Deus falou. Vocês devem escutar e obedecer”. Esse era um assunto de vital importância porque a sobrevivência da nação dependia de escutar e obedecer à voz de Deus.7 E isso não mudou. Se o Deus do universo falou, então suas criaturas devem escutar e obedecer; esse é o fundamento que sustenta nossa relação com ele. Essa realidade alcança o ponto máximo na história redentora na encarnação da Palavra de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo. Como bem demonstra Graeme Goldsworthy: “A Palavra de Deus, por meio da qual todas as coisas foram criadas, é a mesma que estabelece um pacto com um povo redimido e que finalmente entra em nosso mundo como o Deus Homem: Emanuel”.8 No capítulo 1 do Evangelho de João, Jesus não apenas é apresentado como o Verbo de Deus que encarnou ( Jo 1.1, 14), mas também como aquele que nos provê a mais completa revelação e interpretação de Deus: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” ( João 1.18; o verbo grego traduzido por “revelou” é exegéomai, de onde deriva a nossa palavra exegese, em português). 39
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É somente por meio dessa Palavra encarnada que Deus pode chegar a ser conhecido tal como é, e é apenas por meio dessa Palavra encarnada que podemos nos relacionar com ele ( Jo 14.6, 1Tm 2.5). Nestes últimos dias, Deus nos falou por intermédio do Filho, como diz o escritor aos Hebreus (Hb 1.12). Jesus provê, ao mesmo tempo, revelação e mediação porque ambos os conceitos se encontram intimamente relacionados entre si; não é possível ter uma coisa sem a outra.
Porque Deus falou, nós pregamos A pregação existe porque Deus falou e porque atua por meio de sua Palavra. Se fôssemos adoradores de um ídolo mudo, não teríamos nada do que falar, ou talvez pudéssemos dizer aquilo que bem entendêssemos. Mas, uma vez que somos tomados pela convicção de que Deus atua falando, não podemos fazer outra coisa senão também falar, mas apenas para que sua voz possa ser escutada ao expor a Palavra, como veremos adiante. “Rugiu o leão, quem não temerá? Falou o SENHOR Deus, quem não profetizará?” (Am 3.8). Como bem afirma Mark Dever, pastor da Igreja Batista Capitol Hill, em Washington, e Greg Gilbert, pastor da Terceira Igreja Batista em Louisville: ainda que muitos vejam a pregação como uma tirania que despersonaliza e desumaniza os ouvintes (um homem fala enquanto todos escutam), o sermão é, na verdade, um precioso e poderoso símbolo “do nosso estado espiritual e da graça de Deus. O fato de um homem falar a Palavra de Deus enquanto todos escutam é uma representação da bondosa autorrevelação de Deus e de nossa salvação como um presente. Sempre que Deus fala com amor aos seres humanos, 40
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trata-se de um ato de graça. Não merecemos nem contribuímos em nada para isso. O ato de pregar é um símbolo poderoso dessa realidade” (traduzido pelo autor).9 Você deseja ver Deus atuar, salvando os perdidos e edificando os crentes? Então deixe que sua voz seja ouvida por meio da pregação. É loucura tentar fazer a obra de Deus usando programas e atividades atraentes como substitutos para a Palavra, e muito mais absurdo usar o tempo da pregação para compartilhar nossas próprias opiniões, em vez de sermos instrumentos para que o texto tenha voz e fale por si. É por meio da Palavra que os pecadores são regenerados, trazidos à fé e acrescentados à Igreja (1Co 1.21; Tg 1.18; 1Pe 1.23); e é por meio dessa mesma Palavra que os crentes são santificados e levados à maturidade ( Jo 17.17; At 20.32; Ef 4.11ss; 5.25-26; 1Pe 2.1-3). Lembre-se de que a Palavra de Deus é a força mais poderosa do universo (tradução do autor).10 Se cremos verdadeiramente, então devemos deixar que ele fale, e não nós. E Deus continua falando através de sua Palavra escrita. Essa é a segunda ponta de nossa âncora teológica, que veremos no próximo capítulo.
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