Entendendo a liderança da igreja - Mark Dever

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ENTENDENDO A IGREJA

Entendendo a lideranรงa da igreja MARK DEVER


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Dever, Mark Entendendo a liderança da igreja / Mark Dever ; [tradução: Camila Teixeira e William Teixeira]. – São Paulo: Fiel, 2019. – (Entendendo a igreja). Tradução de: Understanding church leadership. ISBN 9788581326764 (brochura) 9788581326771 (epub) 9788581326603 (audiolivro) 1. Liderança cristã. I. Título. II. Série. CDD: 262.1

Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477 Entendendo a liderança da igreja – Entendendo a Igreja Traduzido do original em inglês Understanding Church Leadership – Church Basics por Mark Dever Copyright © 2016 por Mark Dever e 9Marks

Copyright © 2018 Editora Fiel Primeira edição em português: 2019 Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária

Originalmente publicado em inglêspor B&H Publishing Group, com todos os direitos internacionais pertencentes a 9Marks. 525 A Street NE, Washington DC 20002.

Diretor: James Richard Denham III Editor-chefe: Tiago J. Santos Filho Editor: Vinicius Musselman Pimentel Coordenação Editorial: Gisele Lemes Tradução: Camila Teixeira e William Teixeira Revisão: R&R Edições e Revisões Diagramação: Rubner Durais Capa: Rubner Durais E-book: Rubner Durais ISBN impresso: 978-85-8132-676-4 ISBN e-book: 978-85-8132-677-1 ISBN audiolivro: 978-85-8132-660-3

Esta edição publicada por acordo com 9Marks. Todos os direitos reservados. Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed. (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

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SUMÁRIO

Prefácio da Série Entendendo a igreja. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 Apresentação à edição em português. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1. Quem são os diáconos?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2. O que os diáconos fazem?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3. Quem são os presbíteros?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 4. O que os presbíteros fazem? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 5. Como os presbíteros se relacionam com a equipe, com os diáconos e com “o pastor”? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 6. Como os presbíteros se relacionam com a congregação? . . . . . . . 69 7. Quem são os membros?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Conclusão: Uma manifestação da glória de Deus. . . . . . . . . . . . . 93 Apêndice: Descrições do trabalho de diaconato . . . . . . . . . . . . . 103



PREFÁCIO DA SÉRIE ENTENDENDO A IGREJA

A vida cristã é vivida no contexto da igreja. Essa convicção bíblica fundamental caracteriza todos os livros da série Entendendo a igreja. Essa convicção, por sua vez, afeta a forma como cada autor trata o seu tópico. Por exemplo, Entendendo a ceia do Senhor afirma que a Santa Ceia não é um ato privado e místico entre você e Jesus. É uma refeição familiar em torno da mesa na qual você tem comunhão com Cristo e com o povo de Cristo. Entendendo a Grande Comissão afirma que a Grande Comissão não é uma licença para que alguém, de forma totalmente autônoma, se dirija às nações com o testemunho de Jesus. Trata-se de uma responsabilidade dada a toda a igreja para ser cumprida por toda a igreja. Entendendo a autoridade da congregação observa que a autoridade da igreja não repousa apenas sobre os líderes, mas sobre toda a congregação. Cada membro tem um trabalho a fazer, incluindo você.


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Cada livro foi escrito para o membro comum da igreja, e esse é um ponto crucial. Se a vida cristã é vivida no contexto da igreja, então você, crente batizado e membro de igreja, tem a responsabilidade de entender esses tópicos fundamentais. Assim como Jesus o responsabiliza pela promoção e proteção da mensagem do evangelho, ele também o responsabiliza pela promoção e proteção do povo do evangelho, a igreja. Estes livros explicarão como. Você é semelhante a um acionista na corporação do ministério do evangelho de Cristo. E o que os bons acionistas fazem? Estudam a sua empresa, o mercado e a concorrência. Eles querem tirar o máximo proveito de seu investimento. Você, cristão, investiu sua vida inteira no evangelho. O propósito desta série, então, é ajudá-lo a maximizar a saúde e a rentabilidade do Reino de sua congregação local para os fins gloriosos do evangelho de Deus. Você está pronto para começar a trabalhar? Jonathan Leeman Editor de Série


LIVROS DA SÉRIE ENTENDENDO A IGREJA

Entendendo a Grande Comissão, Mark Dever Entendendo o batismo, Bobby Jamieson Entendendo a ceia do Senhor, Bobby Jamieson Entendendo a autoridade da congregação, Jonathan Leeman Entendendo a disciplina na igreja, Jonathan Leeman Entendendo a liderança da igreja, Mark Dever



APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

Compreender o que a Bíblia fala sobre liderança é compreender o que ela chama de autoridade. E compreender esta autoridade só é possível desde que compreendamos a seriedade do servir ao próximo, do doar-se, do comprometer-se em servir com amor àqueles que convivem com você numa comunidade local. A igreja é um corpo guiado por sua cabeça, Cristo. E nosso Senhor Jesus nos deixou alguns líderes, os quais a Bíblia chama de dons de Deus para a igreja (Efésios 4.11-16). Presbíteros e diáconos são dons de Deus para a igreja local, dons que são dados com o objetivo de aperfeiçoar os santos em sua vida, quer ministerial, quer familiar. Um livro que trate deste tema não é importante apenas para aqueles que aspiram pelo oficialato na comunidade local, mas para todos que compreendam-se membros do Corpo de Cristo. Este livro é importante para todos que compreendem que estão ligados


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uns aos outros e que a liderança da igreja não é uma instituição separada e distante da vida da igreja ou que tem a sua vida distinta da comunidade. Não, ela vive pela comunidade. Ela é composta por pessoas da comunidade. Por muito tempo tem-se confundido na igreja os papeis dos diáconos e dos presbíteros, e sua relação com a membresia. Não é incomum encontrarmos em diversas tradições evangélicas diáconos exercendo papel de presbíteros e presbíteros não exercendo função nenhuma; membros que não sabem da importância da membresia na igreja local; e uma igreja que desconhece o valor de um relacionamento saudável com seus presbíteros. Estes fatores acabam por gerar problemas na saúde da igreja local. Diáconos que passam a exercer a função de disciplinadores, presbíteros que não pregam, mas passam a exercer a função de prestadores de serviços sociais na igreja e em comunidade locais. Estas são apenas algumas das distorções que ocorrem em nosso país por causa de uma má compreensão sobre o papel da liderança da igreja local. Este problema só tende a agravar o distanciamento da comunidade das Escrituras e o distanciamento da vida uns dos outros. A solução, obviamente, seria um retorno às Escrituras no que tange a este assunto, algo que este livro faz de forma brilhante.


Apresentação à edição em português

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Entendendo a liderança da igreja, de Mark Dever, bem como toda a séria editada por Jonathan Leeman, nos traz excelentes reflexões a respeito dos fundamentos da igreja que precisam ser novamente buscados. Sem estes fundamentos, corre-se o risco de estar-se construindo sobre um fundamento que não é o Cristo. As Escrituras possuem muitas instruções que servem para reformarmos nossas práticas ministeriais. Precisamos estar atentos a elas a fim de que fique-se cada vez mais clara as distinções entre os ofícios de presbíteros e diáconos e sua relação com uma membresia dentro de uma visão saudável e bíblica. Este livro nos ajudará a ter tudo isto em mente, a entender a liderança da igreja local de forma madura, inteligente, bíblica e saudável. Louvo a Deus e saúdo a chegada deste livro à comunidade de fala portuguesa com alegria no coração. Wilson Porte Jr., pastor da Igreja Batista Liberdade (Araraquara/SP)



INTRODUÇÃO

A questão da liderança na igreja local é um tópico crucial. Considere, sobretudo, o amor de Cristo pela igreja. Ele entregou a si mesmo pela igreja. Ele se identifica com a igreja como o seu próprio corpo. Ele continua cuidando da igreja e provendo para ela por meio da sua Palavra, de seu Espírito e de seus ministros. E ele promete apresentar a igreja no último dia como a sua noiva resplandecente. Se tudo isso é verdade, aqueles que lideram a igreja têm uma responsabilidade grande e santa. Pense em quão cuidadosas são as ajudantes de uma noiva enquanto a preparam para caminhar em direção ao seu noivo. Cristo deseja que seus líderes não sejam menos cuidadosos enquanto preparam a sua noiva. Por essa razão, vale a pena separar um tempo para estudar, refletir e orar a respeito do que a Palavra de Deus diz sobre a liderança da igreja. A PRÓXIMA GRANDE NOVIDADE Com certeza, a liderança da igreja pode ser uma questão que causa divisão. Você pode imaginar bem


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os tipos de reações que um jovem pastor de uma igreja antiga recebe quando ele recomenda mudar as estruturas da liderança. Há alguns anos, o pastor aposentado da Houston’s First Baptist Church, John Bisagno, observou que o tema do governo da igreja é uma das questões que mais causam divisões nas igrejas batistas atuais. Parte do problema é que, quase a cada ano, as conferências para pastores e as editoras deixam todos entusiasmados com a próxima grande novidade. E frequentemente a próxima grande novidade vem do mundo corporativo. Aqui está um pastor — da década de 1950 — descrevendo sua própria estrutura de liderança. Ele está descrevendo uma igreja ou um banco? O primeiro passo que realizei quando me tornei pastor da Igreja Druid Hills foi organizar o Gabinete do Pastor, composto pelos chefes de todos os departamentos da vida da igreja: presidente e vice-presidente do Conselho de Diáconos, presidente e vice-presidente da Comissão de Finanças, presidente do Conselho de Administradores, presidente do Conselho de Obreiros, secretário, tesoureiro, presidente do Comitê de Auxílio, superintendente da Escola Dominical, diretor da União de Treinamento, presidente da Sociedade Missionária da Mulher, presidente da Irmandade,


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ministro de louvor, presidente do Comitê de louvor, presidente do Comitê do Livro de Visitas, presidente do Conselho da Juventude, bibliotecário e equipe da igreja.1

Que confiança podemos ter em nossas estruturas organizacionais corporativas! Os cristãos de épocas anteriores aprovariam a multiplicidade de ofícios não-bíblicos em nossas igrejas? Bem, eles certamente reconheceram que alguns assuntos da liderança e da governança devem ser deixados à prudência. A Confissão Batista de Filadélfia de 1742 observa que as Escrituras “declaram expressamente” tudo o que é necessário para a fé e a vida, o que inclui o modo como as igrejas devem ser organizadas. Mas, em seguida, a Confissão continua a reconhecer que “há algumas circunstâncias, quanto ao culto a Deus e ao governo da igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que devem sempre ser observadas”. Em outras palavras, o governo da igreja é uma questão em que alguma liberdade é apropriada. Os cristãos sempre reconheceram isso. Ao mesmo tempo, os cristãos também reconheceram que a Escritura contém instruções específicas 1  Louie D. Newton, Why I Am a Baptist (Boston: Beacon Press, 1957), 202.


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sobre o governo da igreja local. E antes de gastarmos muito tempo pensando nas maneiras pelas quais a liderança muda entre um contexto e outro, devemos começar considerando o que a Bíblia diz para todos. O PROPÓSITO DESTE LIVRO Qual é o modelo de liderança que a Bíblia recomenda? Há alguns anos, fui convidado a contribuir para um livro de “múltiplas perspectivas” sobre o tema do governo da igreja. O propósito do livro de “múltiplas perspectivas” é solicitar a representantes de diferentes tradições que apresentem seus pontos de vista. Tais livros podem ser úteis, mas recusei. A dificuldade foi que o editor perguntou se eu ofereceria a visão de “pastor sênior”, ou a visão “congregacional”, ou a visão da “pluralidade de presbíteros”. Na verdade, eu creio que a Bíblia recomenda tudo isso! As congregações se beneficiam em ter um pastor sênior ou líder e uma pluralidade de presbíteros liderando no contexto do congregacionalismo. Precisamos de uma feliz ajuda de cada um, coexistindo e fortalecendo uns aos outros na vida da igreja local. Em seu livro Entendendo a autoridade da congregação, que pertence à esta mesma série, Jonathan Leeman dedica a maior parte do seu tempo discutindo a autoridade congregacional. Mas ele conclui colocando a discussão no contexto da liderança plural


Introdução

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de presbíteros. Neste livro, eu farei o oposto. Passarei a maior parte do meu tempo discutindo a liderança plural de presbíteros (juntamente com o serviço diaconal), mas concluirei colocando essa discussão no contexto do congregacionalismo. Quem são os diáconos e os presbíteros? O que eles fazem? Como eles se relacionam um com o outro, e como os presbíteros se relacionam com a congregação como um todo? No caso de você ter lido o meu livro anterior Refletindo a glória de Deus2, você encontrará muito desse material aqui, ainda que reformulado em torno do tema da liderança. Falando pessoalmente como um pastor batista por um momento, tenho visto que a pluralidade de presbíteros é imensamente útil em capacitar os membros da congregação para cumprirem a sua autoridade e a sua responsabilidade congregacional. Por que ter um mestre e pastor quando você pode ter muitos deles? Mais dons! Mais capacitação sendo feita! Mais santos sendo capacitados para cumprirem a obra do ministério! As contribuições da nossa igreja para a nossa denominação batista (a Convenção Batista do Sul) não diminuíram, elas aumentaram. Minha liderança pastoral não foi comprometida ao servir juntamente com aqueles outros homens, ela foi aprimorada. 2  Mark Dever, Refletindo a glória de Deus: Elementos Básicos da Estrutura da Igreja: Diáconos, presbíteros, congregacionalismo & membresia (São José dos Campos, SP: Fiel, 2008).


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Nunca fomos tentados a batizar bebês! E nossa congregação não se tornou mais passiva no ministério, porém mais ativa. Cada presbítero é um dom de Cristo para sua igreja. SOBRE O DOM DA AUTORIDADE Naturalmente, nem sempre é fácil ver aqueles que estão em posição de autoridade como um dom. Desde a Queda, os abusos de autoridade se tornaram frequentes, e é salutar reconhecer o quanto eles acontecem. O poder quando fora dos propósitos de Deus é sempre demoníaco. Ao mesmo tempo, não é bom suspeitar de toda autoridade. Se quisermos viver como Deus deseja que vivamos, devemos ser capazes de confiar nele, e isso inclui confiar nos que foram feitos à sua imagem, os quais ele colocou em posições de autoridade. Todos na Bíblia, de Adão e Eva até os falsos governantes no livro de Apocalipse, mostram sua maldade basicamente negando a autoridade de Deus e usurpando-a para si mesmos. É um grande privilégio ser servido por líderes piedosos. E a liderança piedosa é um dom. Rejeitar a autoridade, como muitos o fazem em nossos dias, é algo imprudente e autodestrutivo. Um mundo sem autoridade seria como desejos sem restrições, um carro sem controle, um cruzamento sem semáforos, um jogo


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sem regras, um lar sem pais, um mundo sem Deus. Poderia durar por pouco tempo, mas em breve pareceria sem sentido, depois cruel e, finalmente, trágico. Apesar da nossa tendência a ignorá-la, a liderança piedosa e bíblica é crucial para a construção de uma igreja que glorifique a Deus. Nosso exercício de liderança na igreja se relaciona com a natureza e com o caráter de Deus. Quando exercemos autoridade apropriada através da lei, em torno da mesa da família, em nossos empregos, no grupo de escoteiros, em nossas casas e, especialmente, na igreja, ajudamos a refletir a imagem de Deus para a criação. Esse é o chamado aos líderes de uma igreja. Que privilégio é liderar, e que privilégio é apoiar o trabalho dos líderes!



CAPÍTULO 1

QUEM SÃO OS DIÁCONOS?

Vamos começar com um dos ofícios mais familiares em muitas igrejas de hoje: o ofício de diácono. Dependendo do tipo de igreja a que você pertence, o “diácono” pode evocar imagens de banqueiros de cabelos grisalhos, sentados ao redor de longas mesas altamente envernizadas em salões de igreja opulentamente nomeados. Ou talvez a palavra traga à mente os servos sérios da igreja, coordenando os ministérios de acordo com as necessidades, com a evangelização ou com o cuidado pastoral. O que a Bíblia diz que os diáconos são? DEFINIÇÃO DE “DIÁCONO” Em nossas traduções modernas do Novo Testamento, a palavra grega diakonos é geralmente traduzida como “servo” e, às vezes, como “ministro”. Às vezes, é


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apenas transliterada como “diácono”. Pode se referir ao serviço em geral,3 aos governantes em particular4 ou ao ato de cuidar de necessidades físicas.5 É claro no Novo Testamento que as mulheres podem fazer, pelo menos, uma parte desse serviço.6 Os anjos servem dessa maneira.7 E esse termo, às vezes, faz referência àqueles que servem à mesa.8 O mundo do Novo Testamento era semelhante ao nosso na maneira como ele via a servidão. O serviço aos outros não era admirado pelos gregos. Em vez disso, eles admiravam desenvolver seu próprio caráter e sua própria personalidade, sempre visando manter o autorrespeito. O serviço diaconal a outros seria considerado pejorativamente como “servil”. A Bíblia e Jesus, porém, apresentam o serviço de maneira bastante diferente. Se fôssemos transliterar (e não traduzir) as palavras-chave em João 12.26, ouviríamos Jesus dizendo: “Se alguém me diaconiza, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu diácono. E, se alguém me diaconizar, o Pai o honrará”. Em Mateus 20.26, nós o ouviríamos dizendo: “Quem 3  Por exemplo, At 1.17, 25; 19.22; Rm 12.7; 1Co 12.5; 16.15; Ef 4.12; Cl 4.17; 2Tm 1.18; Fl 13; Hb 6.10; 1Pe 4.10–11; Ap 2.19. 4  Por exemplo, Rm 13.4. 5  Por exemplo, Mt 25.44; At 11.29; 12.25; Rm 15.25, 31; 2Co 8.4, 19–20; 9.1, 12–13; 11.8. 6  Por exemplo, Mt 8.15; Mc 1.31; Lc 4.39; Mt 27.55; Mc 15.41; cap. Lc 8.3; Lc 10.40; Jo 12.2; Rm 16.1. 7  Por exemplo, Mt 4.11; Mc 1.13. 8  Por exemplo, Mt 22.13; Lc 10.40; 17.8; Jo 2.5, 9; 12.2.


Quem são os diáconos?

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quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos diaconize”. E em Mateus 23.11: “Mas o maior dentre vós será vosso diácono”. De fato, Jesus se apresentou como um tipo de diácono.9 E a Bíblia apresenta os cristãos como diáconos de Cristo ou do seu evangelho. Assim, os apóstolos são representados como diáconos, e Paulo regularmente se refere a si mesmo e aos que trabalham com ele como diáconos.10 Ele se refere a si mesmo como um diácono entre os gentios.11 Paulo chama Timóteo de diácono de Cristo,12 e Pedro diz que os profetas do Antigo Testamento eram diáconos para nós, cristãos.13 A Bíblia também chama os anjos de diáconos. Satanás também tem seus diáconos.14 Devemos sempre ter cuidado em manter uma distinção entre o ministério dos diáconos e o ministério dos presbíteros. Em um sentido, tanto os presbíteros quanto os diáconos estão envolvidos no “diaconato”, mas esse serviço assume duas formas muito diferentes, as quais vemos em Atos 6. Lá, os apóstolos dizem que não devem “servir às mesas” porque são responsáveis​​ pelo “ministério da palavra” (vv. 2–4). As palavras 9  Por exemplo, Mt 20.28; Mc 10.45; Lc 22.26–27; cap. Jo 13; Lc 12.37; Rm 15.8. 10  Por exemplo, At 6.1–7; At 20.24; 1Co 3.5; 2Co 3.3, 6–9; 4.1; 5.18; 6.3–4; 11.23; Ef 3.7; Cl 1.23; 1Tm 1.12; 2Tm 4.11. 11  At 21.19; Rm 11.13. 12  Por exemplo, 1Tm 4.6; 2Tm 4.5. 13  1Pe 1.12. 14  Hb 1.14; 2Co 3.6–9; 11.15; Gl 2.17.


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traduzidas como “servir” e “ministério” são formas diferentes da mesma raiz grega. Você consegue adivinhar qual é? Diácono! Assim, você tem o tradicional diaconato (servir à mesa, serviço físico), e você tem o tipo de “diaconato” da Palavra para o qual Deus chamou os apóstolos (e, mais tarde, os presbíteros). Vamos tratar mais cuidadosamente dessa passagem no próximo capítulo. Mas os homens descritos em Atos 6 são muito semelhantes aos servos da igreja, pelo menos em um sentido administrativo. Eles devem cuidar das necessidades físicas da igreja. E uma igreja precisa de ambos os tipos de diaconato — da Palavra (presbíteros) e das mesas (diáconos) — para que um não se confunda com o outro e para que nenhum dos dois seja esquecido. As igrejas não devem negligenciar nem a pregação da Palavra nem o cuidado prático com os membros, pois isso ajuda a promover a unidade. Ambos os aspectos da vida de uma igreja e do ministério são importantes. A fim de assegurar que ambos os tipos de diaconato ocorram em nossas igrejas, devemos distinguir o ministério dos diáconos do ministério dos presbíteros. QUALIFICAÇÕES DOS DIÁCONOS A partir de Atos 6, podemos dizer que aqueles que servem como diáconos devem ser conhecidos por serem “cheios do Espírito e de sabedoria” (v. 3).


Quem são os diáconos?

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Eles podem estar ocupados com questões físicas, mas o seu ministério é espiritual. Tal sabedoria espiritual os capacita a supervisionarem os recursos da igreja de uma maneira que serve a unidade do rebanho. Eles devem ser escolhidos pela congregação e devem possuir a confiança da mesma. E eles devem assumir, voluntária e diligentemente, a responsabilidade pelas necessidades particulares de seu ministério. Em 1Timóteo 3.8–13, Paulo explica mais detalhadamente o que os diáconos devem ser. Eles devem ser respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando as verdades da fé com a consciência limpa. Servos experimentados; e que se mostrem irrepreensíveis, maridos de uma só mulher e que governem bem seus filhos e a própria casa. O mandamento para ser o “marido de uma só mulher” não impede que as mulheres sirvam em posições diaconais. O exemplo de Febe, a “diaconisa” em Romanos 16.1, o uso da palavra “diácono” para se referir a mulheres nas Escrituras e, em menor grau, a longa história das diaconisas nas igrejas batistas levaram minha própria igreja a abraçar o ministério de mulheres como diaconisas. Dito isso, 1Timóteo 2 proíbe as mulheres de servirem como presbíteros. Então, se uma igreja confunde o papel de presbíteros com o de diáconos (como acontece em muitas igrejas


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batistas hoje), nós a desencorajaríamos a reconhecer mulheres como diaconisas. Podemos encorajar livremente nossas irmãs a serem reconhecidas como diaconisas quando a distinção entre os ofícios de presbítero e de diácono é clara. CONTEXTO HISTÓRICO Os eruditos discordam sobre como as estruturas das igrejas foram formadas nas primeiras décadas após o Pentecostes. Mas igrejas muito antigas possuíam uma pluralidade de presbíteros e uma pluralidade de diáconos. Pense em como Paulo cumprimenta a igreja em Filipos: “A todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos [ou presbíteros] e diáconos que vivem em Filipos” (Fp 1.1). Imediatamente após os tempos do Novo Testamento, esses ofícios distintos de presbíteros e diáconos continuaram. O papel dos presbíteros começou a ser distinguido do papel de bispos e sacerdotes, mas os diáconos continuaram a ser listados em documentos primitivos após os bispos e os sacerdotes. Geralmente, eram encarregados de ajudar os bispos ou presbíteros. Na igreja primitiva, o ofício geralmente parece ter sido mantido durante toda a vida. As funções do ofício, entretanto, variavam de um lugar para outro. Os deveres diaconais podem incluir:


Quem são os diáconos?

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• ler ou cantar as Escrituras na igreja; • receber as ofertas e manter registros de quem ofertou; • distribuir as ofertas aos bispos, presbíteros e a si mesmos; às mulheres que não se casaram e às viúvas; e aos pobres; • distribuir os elementos da ceia do Senhor; • liderar orações durante as reuniões e sinalizar aos que não irão participar da ceia do Senhor para que eles saiam antes da ordenança ser administrada. Isso resume os deveres dos diáconos do segundo ao sexto séculos. À medida que o episcopado monárquico se desenvolveu, o mesmo ocorreu com uma espécie de diaconato monárquico. À medida que o papel de bispo se desenvolveu, o mesmo aconteceu com o papel de arquidiácono. O arquidiácono era o principal diácono de um lugar particular e poderia ser descrito como alguém que é delegado para se preocupar com assuntos materiais. Não surpreende que o arquidiácono de Roma se tornasse particularmente importante. Os abusos eventualmente se introduziram no ofício de diácono, e os diáconos — especialmente os arquidiáconos — tornaram-se muito ricos. Quão irônico é que aqueles que foram designados para servir os outros tenham, em vez disso, usado os outros para servirem os seus próprios desejos!


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Por uma série de razões, a influência dos diáconos diminuiu na Idade Média. Cuidar dos pobres tornou-se mais um meio para aqueles que contribuíam ganharem crédito com Deus, a fim de diminuírem o seu tempo no purgatório. A Igreja Ortodoxa Oriental sempre manteve diáconos separados — leigos que serviam nessa qualidade. No Ocidente, porém, no final da Idade Média, ser diácono havia se tornado um passo no caminho para ser ordenado sacerdote. Os diáconos nas igrejas Católica e Episcopal ainda são apenas os ministros que trabalham como diáconos por um ano antes de se tornarem sacerdotes de pleno direito. No entanto, o Concílio Vaticano II reabriu a possibilidade de um tipo diferente, permanente e mais bíblico, de diácono na Igreja Católica Romana. Martinho Lutero recuperou a responsabilidade da igreja de cuidar fisicamente de seus membros, especialmente dos seus membros pobres; contudo, as igrejas luteranas não recuperaram a ideia do diácono do Novo Testamento. Nas igrejas luteranas de hoje, a prática varia. Em alguns lugares, os diáconos não são ordenados, mas, em outros lugares, qualquer ministro auxiliar ordenado seria chamado de diácono, particularmente aqueles que possuem responsabilidades de cuidado pastoral e de evangelismo.


Quem são os diáconos?

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Em muitas das mais evangélicas igrejas protestantes durante a Reforma, a prática bíblica de distinguir diáconos de presbíteros ou pastores cresceu. Alguns protestantes, como Martin Bucer em Cambridge, pediram que os deveres dos diáconos fossem restabelecidos. Os diáconos, alguns disseram, deveriam trabalhar para distinguir entre os pobres que mereciam ajuda e os que não mereciam. Eles devem investigar prudentemente e cuidar discretamente das necessidades de um, enquanto recusam fazê-lo ao outro. Eles também devem manter registros escritos, de acordo com sua capacidade, dos recursos doados pelos membros da igreja. Nas igrejas presbiterianas, os diáconos administram as esmolas e cuidam dos pobres e dos doentes (embora recentemente possamos argumentar que essas funções foram, em grande parte, assumidas pelo estado secular). Os diáconos são um corpo separado dos presbíteros e são responsáveis perante eles. Muitas igrejas batistas e congregacionais também fizeram distinção entre os dois ofícios de presbíteros e diáconos, e, cada vez mais, estão recuperando essa visão bíblica. Mas em algumas outras igrejas, o trabalho dos presbíteros é atribuído aos diáconos. Eles ajudam o pastor de várias maneiras, especialmente na distribuição dos elementos na ceia do Senhor, e evoluíram para uma espécie de conselho executivo e financeiro


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para a igreja, particularmente em congregações que não têm conselhos de presbíteros. Os diáconos geralmente servem ativamente por períodos limitados de tempo, embora seu reconhecimento como um “diácono” seja geralmente considerado permanente. É assim que algumas igrejas o fizeram. As Escrituras têm algumas instruções que sirvam para reformarmos as nossas práticas?


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