Escravo - Redescobrindo Nossa Identidade Escondida em Cristo

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A Verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo

John MacArthur

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) MacArthur, John, 1939 Escravo : a verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo / John MacArthur ; [tradução Valdir Pereira dos Santos]. -- São José dos Campos, SP : Editora Fiel, 2012. Título original: Slave : the hidden truth about your identity in Christ ISBN 978-85-8132-027-4 1. Cristianismo 2. Identificação (Religião) 3. Vida cristã I. Título. 12-10427

CDD-255.78

Índices para catálogo sistemático: 1. Identificação : Cristianismo : Religião 255.78

Escravo A Verdade Escondida sobre nossa Identidade em Cristo Traduzido do original em inglês Slave – The hidden truth about your identity in Christ Copyright ©2010 by John McArthur

Publicado originalmente em inglês por Thomas Nelson, Nashville, TN, USA Copyright © 2011 Editora Fiel 1ª Edição em Português: 2012 Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Presidente: James Richard Denham III Presidente Emérito: James Richard Denham Jr. Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Valdir Pereira dos Santos Revisão: Elaine Regina Oliveira dos Santos Diagramação: Rubner Durais Capa: Rubner Durais ISBN: 978-85-8132-027-4

Caixa Postal 1601 CEP: 12230-971 São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br




Sumário Prefácio........................................................................................................................................................................................................... 9 1. Uma Palavra Oculta....................................................................................................................................................................13 2. História Antiga, Verdade Eterna ....................................................................................................................................31 3. O Escravo Bom e Fiel .............................................................................................................................................................47 4. O Senhor e Mestre (Parte 1).............................................................................................................................................. 63 5. O Senhor e Mestre (Parte 2)............................................................................................................................................. 77 6. Nosso Senhor e Nosso Deus..............................................................................................................................................91 7. O Mercado Escravo do Pecado......................................................................................................................................107 8. Preso, Cego e Morto................................................................................................................................................................123 9. Salvo do Pecado, Escravizado Pela Graça...........................................................................................................137 10. De Escravos a Filhos (Parte 1).......................................................................................................................................153 11 . De Escravos a Filhos (Parte 2)......................................................................................................................................169 12. Pronto a Encontrar-se com o Mestre.....................................................................................................................185 13. As Riquezas do Paradoxo................................................................................................................................................. 203 Apêndice: Vozes da História da Igreja.............................................................................................................................221



Prefácio

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epois de mais de cinquenta anos traduzindo, estudando, ensinando, pregando e escrevendo sobre o Novo Testamento, pensei ter suas verdades muito bem identificadas e compreendidas – especialmente no escopo da Teologia do Evangelho do Novo Testamento. De fato, clarificar o evangelho sempre foi a mais importante e constante ênfase dos meus escritos – desde “O Evangelho Segundo Jesus, Com Vergonha do Evangelho, Guerra Pela Verdade, Crer é Difícil, até os incontáveis sermões e artigos, nestes anos todos. Apesar de todo este esforço, uma perspectiva profunda e abrangente, a mesma que prevalece e é crucial em todo o evangelho, escapou de mim e de quase todos. Somente após a primavera de abril de 2007, em um voo noturno para Londres, enquanto lia Escravo de Cristo, de Murray J. Harris, foi que compreendi que havia uma tradução encoberta, realizada por tradutores do Novo Testamento em inglês, a qual obscureceu uma preciosa, poderosa e esclarecedora revelação do Espírito Santo. Não há dúvida de que este encobrimento não foi intencional – pelo menos inicialmente. Ainda assim, seus resultados têm sido dramaticamente sérios. Uma ocultação na tradução em inglês do Novo Testamento? Seria verdade? Quais as consequências disto? Ninguém descobriu isto antes de Harris, em 1999?


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Não demorou muito para encontrar alguém que já havia notado isto - Edward Yamauchi, em seu artigo intitulado “Escravos de Deus”, publicado em 1966 no Boletim da Sociedade Teológica Evangélica. Por que não houve resposta ao seu artigo? Como pôde uma verdade tão essencialmente relacionada, não somente à integridade da tradução, mas também ao ensino do Novo Testamento e sobre nosso relacionamento com Cristo, ter sido propositalmente encoberta e ignorada? Também, tenho descoberto, em minhas viagens ao redor do mundo, que há muitos outros tradutores importantes que seguiram o exemplo da tradução em inglês e mantiveram esse acobertamento. Contudo, há alguns que traduzem a palavra corretamente. Sendo assim, esta revelação não está oculta aos meus irmãos em Cristo em lugares como a Rússia, Romênia, Indonésia e nas Filipinas. Mas, por que está oculta em inglês? Não tenho dúvida de que esta ocultação permanente de um elemento essencial da revelação do Novo Testamento tem contribuído muito para a confusão que há no ensino e prática do evangelho. Na verdade, eu me pergunto se esta não foi a razão de sentir a necessidade de escrever tantos livros para clarificar o evangelho. Se esta realidade fosse conhecida, teria sido necessário qualquer um daqueles livros? Conforme comecei a cavar com profundidade nesta jóia enterrada do evangelho, seu esplendor penetrante começou a dominar meu pensamento e minha pregação. Toda vez e em todo lugar em que eu abordava este assunto, a reação era a mesma – espanto e deslumbre. Durante esse mesmo período, fui solicitado a escrever um livro sobre as “doutrinas da graça” que fosse fiel aos Reformadores. Seria realmente necessário mais um livro? Quem poderia melhorar o que escreveram Calvino, Lutero, os Puritanos Ingleses, Edwards ou Spurgeon? Eu, certamente que não! Não teria esperança em acrescentar algo às obras claras, completas e duradouras, já escritas nos temas do evangelho por teólogos do passado e do presente. Então, lutei para encontrar uma razão para escrever algo novo, considerando o que já tem sido escrito - Até que encontrei esta ocultação.


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Embora todos aqueles nobres teólogos da rica tradição Reformada da verdade do evangelho tenham tocado este assunto, nenhum deles trouxe plenamente à luz do sol esta jóia oculta. Esta é a razão deste livro. Conforme você o lê, oro para que enxergue as riquezas de sua salvação sobre um prisma radicalmente novo. John MacArthur


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u sou Cristão” O jovem rapaz não disse nada mais, perante o governador Romano, mesmo tendo sua vida em jogo. Seus acusadores o pressionavam novamente, buscando fazê-lo tropeçar ou forçá-lo a negar a fé. Porém, mais uma vez ele respondeu com a mesma sentença curta: “Eu sou Cristão”. Era a metade do Século Segundo, durante o reinado do Imperador Marco Aurélio.1 O cristianismo era ilegal, e em todo o Império Romano os crentes enfrentavam ameaças de prisão, tortura ou morte. A perseguição era intensa, especialmente no sudeste da Europa, onde Sanctus, um diácono de Viena, havia sido preso e levado a julgamento. O jovem foi repetidamente ordenado a renunciar a fé que professava. Mas ele não se deixava dissuadir. “Eu sou Cristão” Não importava o que lhe era perguntado, sua resposta era sempre a mesma. De acordo com Eusébio, o historiador da igreja primitiva, Sanctus “se cingiu contra (seus acusadores), com tal firmeza, de forma a nem mesmo dizer o seu nome, nação ou cidade a qual pertencia, nem se era escravo 1  Marco Aurélio reinou de 161 dC. a 180 dC. A intensa perseguição aqui descrita ocorreu por volta do ano de 177 dC.


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ou livre, mas dava a mesma resposta a todas as questões, na língua romana: Eu sou Cristão.”2 Quando finalmente ficou óbvio que não diria nada mais que isto, foi condenado a severa tortura e à morte pública, no anfiteatro. No dia de sua execução, foi forçado a passar por duas fileiras de homens munidos de açoites, foi submetido a feras selvagens e atado a uma cadeira de ferro em brasa. Com estas coisas, seus acusadores intentavam fazê-lo desistir, convencidos de que sua resistência sucumbiria ante a dor do tormento. Mas, como Eusébio relata, “Mesmo assim, eles não ouviram uma só palavra de Sanctus, exceto a confissão que ele balbuciara desde o começo”.3 Suas palavras na hora da morte manifestavam um compromisso imortal. Sua contínua expressão se repetiu durante todo o julgamento: “Eu sou Cristão.” Para Sanctus, toda a sua identidade – incluindo seu nome, cidadania e estatus social – estava em Jesus Cristo. Assim, melhor resposta não poderia ser dada às questões que lhe faziam. Ele era um cristão, e esta designação definia tudo a seu respeito. Esta mesma perspectiva foi compartilhada por muitos outros, na igreja primitiva. Alimentou os seus testemunhos, fortaleceu suas resoluções e confundiu seus opositores. Quando eram presos, estes corajosos crentes confiantemente respondiam assim como Sanctus, com uma afirmação sucinta de sua lealdade a Cristo. Como um historiador explicou sobre os primeiros mártires: Eles (respondiam) a todos os questionamentos (com) a curta, mas abrangente resposta – “Eu sou Cristão”. Vez após outra, eles causavam não pouca perplexidade em seus julgadores, pela obstinação com que aderiram à breve profissão de fé. A questão era repetida – “Quem és?” e eles respondiam: 2  Eusebius, Church History, 5.1.20, citado em Philip Schaff, Nicene and Post-Nicene Fathers, 2nd ser. (Grand Rapids: Eerdmans, 1971), I:214. (Daqui para frente, Nicene and Post-Nicene Fathers será citado como NPNF.) 3  Ibidem.


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“Eu já disse que sou cristão; e, aquele que assim afirma, já deu nome a seu país, sua família, sua fé e tudo o mais.”4

Seguir a Jesus Cristo era a suma de sua inteira existência.5 No momento em que a própria vida estava em grande risco, nada mais importava, além de identificarem a si mesmos com Ele. Para estes crentes fiéis, o nome “cristão” significava muito mais do que apenas uma designação religiosa. Antes, definia tudo a respeito deles, inclusive como viam a si mesmos e o mundo ao seu redor. Este selo ressaltava seu amor pelo Messias crucificado, juntamente com sua prontidão em segui-Lo, não importando o quanto custasse. Demonstrava, também, a transformação integral que Deus produzira em seus corações e testemunhava que foram feitos completamente novos em Cristo. Eles morreram para seu antigo modo de vida e nasceram de novo na família de Deus. Ser cristão não era simplesmente um título, mas, sim, ter um modo de pensar inteiramente novo – de modo a haver sérias implicações na forma com que viviam, e, em última análise, na forma com que morriam.

O que significa ser um cristão? Para os primeiros mártires era bem obvio o real significado de ser um cristão. No entanto, pergunte hoje o que isto significa e obterá uma variedade de respostas, mesmo daqueles que identificam a si mesmos com este selo. 4  J. Spencer Northcote, Epitáfios das Catacumbas ou Inscrições Cristãs em Roma, durante os Quatro Primeiros Séculos (London: Longman, Green & Co., 1878; repr., Whitefish, MT: Kessinger Publishing, 2007), 139. 5  Tal era a atitude de Inácio, um pastor da Antioquia e discípulo do Apóstolo João. Ao ser condenado à morte em Roma (por volta do ano 110 dC), Ignácio escreveu: “Não que eu queira meramente ser chamado de cristão, mas de fato o quero ser. Sim, se eu provar que o sou (sendo fiel até o fim), então poderei receber esse nome. . . . Vem, fogo; atravesse, lutando com feras, torcendo os ossos, mutilando os membros, esmagando meu corpo todo, torturas cruéis do demônio – tão somente me deixe ir para Jesus Cristo!” (Ignatius, Epistle to the Romans, 3, 5, 6, citado por Cyril C. Richardson, Early Church Fathers [Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1953], 104–5).


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Para alguns, ser “cristão” é primariamente algo cultural e tradicional, um título nominal, herdado da geração anterior, um efeito final de algo que envolve evitar certos comportamentos e, ocasionalmente, frequentar uma igreja. Para outros, ser cristão é em grande parte uma questão política, um dever de defender os valores morais em praça pública ou, talvez, preservar tais valores, retirando-se completamente de certo local público. Ainda outros definem cristianismo em termos de experiência com uma religião do passado, uma crença geral em Jesus, ou um desejo de ser uma boa pessoa. No entanto, todos estes conceitos estão tristemente aquém do que de fato significa ser um cristão, na perspectiva bíblica. Curiosamente, os seguidores de Jesus Cristo não foram chamados de “cristãos” antes de dez a quinze anos, após o início da igreja. Antes disso, eram simplesmente conhecidos como discípulos, irmãos, crentes, santos, e seguidores do Caminho (um título derivado da referência que Cristo fez de si mesmo, em João 14.6, como “o caminho, a verdade e a vida”). De acordo com Atos 11.26, foi em Antioquia da Síria que “foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” e, desde este tempo, o selo se fixou. O nome foi inicialmente cunhado por descrentes, como uma tentativa de zombar daqueles que seguiam o Cristo crucificado.6 Mas, o que começou como algo ridículo, logo se tornou um emblema de honra. Ser chamado “cristãos” (em grego – Cristianoi), era ser identificado como discípulo de Jesus e ser associado com Ele, como leal seguidor. De modo semelhante, os da casa de Cesar referiam a si mesmos como Kaisarianoi (os de Cesar), a fim de mostrar sua profunda lealdade ao Imperador Romano. Diferentemente dos Kaisarianoi, contudo, os cristãos não prestavam sua lealdade final a Roma ou a qualquer outro poder; sua dedicação total e adoração eram reservadas a Jesus Cristo apenas. 6  Como o apóstolo explica, em 1 Coríntios 1.23, a ideia de um Cristo crucificado era “escândalo para os judeus, loucura para os gentios.” Os que seguiam a Jesus (tendo sido rotulados de cristãos) eram denunciados como hereges, pelos Judeus incrédulos e ridicularizados como tolos pelos Gentios ascéticos.


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Assim, ser um cristão, no verdadeiro sentido da palavra, significa ser um seguidor incondicional de Jesus Cristo. Como o próprio Senhor disse em João 10.27: “As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz; eu as conheço, e elas Me seguem” (ênfases acrescentadas). O nome sugere muito mais que uma associação superficial com Cristo. Antes, requer uma profunda afeição por Ele, fidelidade a Ele e submissão à sua Palavra. “Vós sois Meus amigos, se fazeis o que eu vos mando” – Disse Jesus aos seus discípulos no cenáculo (João 15.14). Anteriormente, Ele já havia dito à multidão que se reunia para ouvi-Lo: “Se vós permanecerdes na Minha palavra, sois verdadeiramente Meus discípulos” (João 8.31); e disse em outro lugar: “ Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-Me” (Lc. 9.23; cf João 12.26). Quando nos designamos como cristãos, proclamamos ao mundo que tudo a nosso respeito, inclusive nossa própria identidade, encontra-se em Jesus Cristo, porque temos negado a nós mesmos, para segui-Lo e obedecê-Lo. Ele é o nosso Salvador e Soberano, e nossas vidas se centralizam em agradá-Lo. Reivindicar este título significa dizer como o Apóstolo Paulo: “O viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp. 1.21).

Uma palavra que muda tudo Desde a primeira menção em Antioquia, o termo “Cristão” se tornou o selo predominante para aqueles que seguem a Jesus. É uma designação apropriada, porque foca corretamente no ponto central da nossa fé: Jesus Cristo. No entanto, ironicamente, a palavra aparece apenas três vezes no Novo Testamento – duas vezes no livro de Atos e uma vez em 1 Pedro 4.16. Além do nome cristão, a Bíblia usa uma série de outros termos para identificar os seguidores de Jesus. As Escrituras nos descrevem como estrangeiros e forasteiros, cidadãos do céu e luzeiros para o mundo. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, membros de seu corpo, ove-


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lhas de seu rebanho, embaixadores em seu serviço, e amigos ao redor da sua mesa. Somos chamados a competir como atletas, a lutar como soldados, a permanecer como ramos na videira, e mesmo a desejar a sua Palavra, como os bebês recém-nascidos anseiam por leite. Todas estas descrições, cada uma em sua forma singular, nos ajudam a entender o que significa ser um cristão. Entretanto, a Bíblia usa uma metáfora com mais frequência que qualquer uma destas. É uma figura de linguagem que você pode não esperar, mas é absolutamente crítica para a compreensão do que significa seguir a Jesus. É a figura de um escravo. Vezes seguidas, nas páginas das Escrituras, os crentes são referidos como escravos de Deus e escravos de Cristo.7 De fato, enquanto o mundo exterior os chamava de “Cristãos”, os crentes primitivos repetidamente referiam a si mesmos, no Novo Testamento, como escravos do Senhor.8 Para eles, as duas ideias eram sinônimas. Ser cristão era ser escravo de Cristo.9 A história dos mártires confirma que isto era precisamente o que eles queriam dizer, quando declaravam aos seus perseguidores: “Eu sou Cristão”. Um jovem chamado Apphianus, por exemplo, foi aprisionado e torturado pelas autoridades romanas. Durante todo o seu julgamento, ele apenas respondia que era um escravo de Cristo.10 Embora tenha sido fi7  A palavra Hebraica para escravo, ‘ebed’ pode se referir a uma escravidão literal a uma pessoa (um mestre). Mas também é usada de forma metafórica, para descrever os crentes (mais de 250 vezes), denotando seus deveres e privilégio em obedecer o Senhor celestial. O uso da palavra grega “doulos”, no Novo Testamento, é semelhante. Ela pode igualmente se referir à escravidão física. Contudo, também é aplicada aos crentes, denotando seu relacionamento com o Mestre divino – pelo menos 40 vezes (cf. Murray J. Harris, Slave of Christ [Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1999], 20–24). Um adicional de mais de 30 passagens no N.T, usando a expressão ‘doulos’ para ensinar verdades sobre a vida cristã. 8  Veja, por exemplo, Romanos 1.1; 1 Coríntios 7.22; Gálatas 1.10; Efésios 6.6; Filipenses 1.1; Colossenses 4.12; Tito 1.1; Tiago 1.1; 1 Pedro 2.16; 2 Pedro 1.1; Judas 1; e Apocalipse 1.1. 9  De acordo com a International Standard Bible Encyclopedia (daqui para frente chamada de ISBE), alguns comentaristas têm proposto que o termo “cristão” significa, literalmente, “escravo de Cristo.” Por exemplo, “Deissmann (Lict vom Osten, 286) sugere que Cristão significa escravo de Cristo, assim como Cesariano significa escravo de Cesar” (John Dickie, “Christian,” em James Orr, ed., ISBE [Chicago: Howard-Severance Company, 1915], I:622). 10  Stringfellow Barr, The Mask of Jove (Philadelphia: Lippincott, 1966), 483.


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nalmente sentenciado à morte e afogado no mar, sua fidelidade ao Senhor nunca vacilou. Outros mártires da igreja primitiva responderam de forma similar: “Se eles consentissem em ampliar sua resposta, a perplexidade dos magistrados apenas aumentaria, pois pareciam falar enigmas insolúveis. ‘Eu sou um escravo de Cesar’ eles diziam, ‘mas sou um cristão que recebeu sua liberdade do próprio Cristo’; ou, de forma antagônica: ‘Eu sou um homem livre e escravo de Cristo’; de modo que, por vezes, era necessário chamar o oficial apropriado (o curador civitatis) para apurar a verdade sobre sua condição civil.”11 Todavia, o que provou ser confuso às autoridades romanas, fazia perfeito sentido aos mártires da igreja primitiva.12 Sua identidade pessoal havia sido radicalmente redefinida pelo evangelho. Tenham eles sido escravos ou livres nesta vida, todos foram libertos do pecado; e, ainda que comprados por um preço, todos se tornaram escravos de Cristo. Isto é o que significava ser um cristão.13 O Novo Testamento reflete esta perspectiva, ordenando os crentes a se submeterem a Cristo completamente, não apenas como servos contratados ou empregados espirituais – mas como quem pertence inteiramente a Ele. Somos ordenados a obedecê-Lo sem questionar, e a segui-Lo sem reclamar. Jesus Cristo é o nosso Mestre – um fato que reconhecemos, toda vez que o chamamos de “Senhor”. Somos seus escravos, chamados a obedecê-Lo e honrá-Lo, com humildade e de todo o coração. Hoje em dia, não ouvimos muito nas igrejas este conceito. Para o cristianismo contemporâneo, esse linguajar não passa de uma terminologia da 11  Northcote, Epitaphs of the Catacombs, 140. 12  Karl Heinrich Rengstorf, under “δοῦλος,” por Gerhard Kittel, ed.; Geoffrey Bromiley, trad., Theological Dictionary of the New Testament, vol. 2, observa que, “Na Igreja primitiva, a formula [escravo de Deus ou escravo de Cristo] assumiu um novo fôlego de vida, sendo usada cada vez mais por Cristãos que assim se auto designavam (cf. 2 Clem. 20,1; Herm. m. 5, 2, 1; 6, 2, 4; 8, 10, etc.)” (Grand Rapids: Eerdmans, 1964, 274). 13  Em carta do Segundo século, das igrejas de Lyons e Viena às igrejas da Ásia e Frígia, os autores anônimos começaram a designar a si mesmos como “escravos de Cristo” (Eusebius, Ecclesiastical History, 5.1–4). Eles continuaram a descrever a perseguição generalizada que suportaram, incluindo o martírio que muitos dentre eles experimentaram.


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escravidão.14 O que se fala hoje é de sucesso, saúde, riqueza, prosperidade e a busca da felicidade. Geralmente ouvimos que Deus ama as pessoas incondicionalmente e deseja que eles sejam tudo aquilo que eles querem ser. Ele deseja cumprir suas vontades, esperanças e sonhos. Ambição pessoal, auto-satisfação, auto-gratificação – tudo isto se tornou parte do linguajar do cristianismo evangélico – e parte do significado de ter um “relacionamento pessoal com Jesus Cristo”. Ao invés de ensinar o evangelho do Novo Testamento, no qual os pecadores são chamados a se submeterem a Cristo, a mensagem contemporânea é exatamente oposta: Jesus está aqui para cumprir todos os seus desejos. Comparando-O a um assistente pessoal ou “personal trainer”, muitos frequentadores de igreja falam de um Salvador pessoal, que está ansioso para realizar suas propostas e ajudá-los em suas necessidades de auto-satisfação ou realização pessoal. O entendimento do Novo Testamento sobre o relacionamento com Cristo não poderia ser mais oposto. Ele é o Mestre e o Dono. Nós somos sua possessão. Ele é Rei, o Senhor e o Filho de Deus. Nós somos seus súditos e subordinados. Em uma palavra, somos seus escravos.

Perdida na Tradução Nas Escrituras, a descrição que prevalece sobre o relacionamento dos cristãos com Jesus Cristo é a relação escravo/mestre.15 No entanto, faça uma leitura ocasional no Novo Testamento em inglês, e você não encontrará tal relacionamento. 14  Conforme Janet Martin Soskice esclarece, “Termos referentes aos cristãos como ‘escravos de Cristo’, ou ‘escravos de Deus’, que gozavam de certa popularidade nas Epístolas Paulinas e na igreja primitiva, agora são raramente usados, apesar de sua base bíblica, pelos cristãos contemporâneos, que têm pouca compreensão ou simpatia para com a instituição da escravidão e as figuras de linguagem que ela gera.” (The Kindness of God: Metaphor, Gender, and Religious Language [New York: Oxford University Press, 2007], 68). 15  Por exemplo, Rengstorf nota a preeminência “no NT da ideia que os cristãs pertencem a Jesus como seus δοῦλοι [escravos], e que suas vidas são, assim, oferecidas a Ele, como o “Senhor ressurreto e exaltado” (Theological Dictionary of the New Testament, s .v. “δοῦλος” 2:274).


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A razão para isto é simples e também chocante: a palavra grega para escravo foi encobertada por uma má tradução em quase todas as versões em inglês, seja retrocedendo para a versão King James ou para a Bíblia de Genebra, que a antecedeu.16 Embora a palavra escravo (doulos no grego) apareça 124 vezes no texto original17, é traduzida corretamente apenas uma vez, na versão King James. A maioria das nossas traduções modernas faz apenas um pouco melhor que isso.18 O fato quase parece uma conspiração. Em vez de traduzir doulos como “escravo”, estas traduções consistentemente a substituem pela palavra servo. Ironicamente, a língua grega possui pelo menos meia dúzia de palavras que podem significar servo. A palavra doulos não é uma delas.19 Toda vez que ela é usada, tanto no Novo Testamento quanto na literatura grega secular, o seu significado é sempre e apenas “escravo”. De acordo com o Dicionário Teológico do Novo Testamento, que é a maior autoridade sobre os significados dos termos gregos na Escritura, a palavra doulos é usada exclusivamente “para descrever o status de um escravo ou uma atitude correspondente a de um escravo”.20 O dicionário observa ainda que: O significado é tão inequívoco e completo em si mesmo, que é desnecessário dar exemplos dos termos individuais ou traçar a história do grupo... A ênfase aqui é sempre em “servir como escravo”. Daí, temos um serviço que não é uma questão de escolha para quem o presta, o qual ele tem que prestá-lo, quer goste quer não goste, visto que está sujeito, como escravo, a uma vontade 16  Mesmo antes, John Wycliffe e William Tyndale traduziram a palavra doulos no Grego com a palavra “servo.” 17  De acordo com Harris, “esta palavra [doulos] ocorre 124 vezes no Novo Testamento, e sua forma composta syndoulos (‘co-escravo’) dez vezes” (Slave of Christ, 183). A forma verbal também ocorre outras oito vezes. 18  Duas exceções a isto são The New Testament: An American Translation (1923), de J. Goodspeed’s, e a versão Holman Christian Standard (2004), as quais consistentemente traduzem doulos como “escravo.” 19  Cf. Harris, Slave of Christ, 183. 20  Rengstorf, Theological Dictionary of the New Testament, s .v. “δοῦλος,” 2:261.


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alheia, à vontade de seu dono. [O termo enfatiza] a dependência do escravo ao seu senhor.

Embora seja verdade que os deveres de um escravo e os de um servo possam ter coisas em comum, até certo ponto, há uma distinção chave entre os dois: os servos são contratados; escravos são propriedade de alguém.21 Os servos têm a liberdade de escolher para quem trabalhar e o que realizar. A ideia de servidão preserva certo nível de autonomia e direitos pessoais. Escravos, por outro lado, não têm liberdade, autonomia nem direitos. No mundo Greco-Romano, os escravos eram considerados como propriedade, ao ponto que, perante a lei, eram vistos como objetos, não como pessoas.22 Ser escravo de alguém, significava ser sua possessão, sujeito a obedecer suas vontades, sem hesitação ou questionamentos.23 Qual a razão para que as traduções inglesas modernas consistentemente errassem na tradução da palavra doulos, quando o seu significado é inconfundível em grego? Há, pelo menos, duas respostas para esta questão. Primeiro, devido aos estigmas ligados à escravidão na sociedade ocidental, é compreensível que os tradutores quisessem evitar qualquer associação entre o ensino bíblico e o tráfico de escravos do Império Britânico e da era Colonial Americana.24 Para o leitor mediano de hoje, a palavra 21  Como Walter S. Wurzburger explica, “Ser um escravo de Deus . . . envolve mais que apenas ser seu servo. Os servos conservam seu status de independência. Eles têm somente tarefas específicas e responsabilidades limitadas. Os escravos, por outro lado, não têm direitos para com seus donos, porque são considerados sua propriedade.” (God Is Proof Enough [New York: Devora Publishing, 2000], 37). 22  Considerando a escravidão Romana, em particular, Yvon Thébert observou que o escravo “era igualado com sua função e era, para o seu mestre, o que o boi era para o homem pobre: um objeto animado que ele possuía. A mesma ideia é uma constante na lei Romana, na qual o escravo é frequentemente associado a outras partes do patrimônio e vendido pelas mesmas regras que regulavam uma transferência de uma porção de terra; ou, então, eram incluídos com as ferramentas ou animais em uma herança. Acima de tudo ele era um objeto, algo sem valor. Ao contrário do trabalhador assalariado, não era feita qualquer distinção entre sua pessoa e seu trabalho” (“The Slave,” 138–74 em Andrea Giardina, ed., The Romans [Chicago: University of Chicago, 1993], 139). 23  John J. Pilch, no título: “Slave, Slavery, Bond, Bondage, Oppression,” em Donald E. Gowan, ed., Westminster Theological Wordbook of the Bible (Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 2003), 472, observa que “o substantivo Grego doulos é um subdomínio do campo semantico ‘controle, regra’ e descreve alguém que é completamente controlado por algo ou alguém.” 24  Ibidem, 474. O autor aponta que “a escravidão no mundo antigo não tinha praticamente nada em comum com a escravidão experimentada e praticada no Novo Mundo dos séculos 17 e 18. Seria distorcer a interpretação da Bíblia, a tentativa de impor o entendimento da escravidão recente para compreender o ensino de seus livros.”


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escravo não evoca imagens da sociedade Greco-Romana, mas sim descreve um sistema injusto de opressão, o qual foi finalmente encerrado pelo governo parlamentar, na Inglaterra, e pela guerra civil, nos Estados Unidos. Com a finalidade de evitar uma confusão potencial e uma imagem negativa, os tradutores modernos substituíram a palavra escravo pela palavra servo. Segundo, de uma perspectiva histórica, no final dos tempos medievais era comum traduzir doulos pela palavra servus,25 do latim. Algumas das primeiras traduções em inglês, influenciadas pela tradução latina da Bíblia, traduziram doulos por “servo”, por ser esta uma tradução mais natural de servus. Somando-se a isto, na Inglaterra do século XVI, o termo escravo era geralmente usado para descrever alguém acorrentado ou encarcerado. Sendo esta uma ideia bastante diferente da Greco-Romana sobre a escravidão, os tradutores das primeiras versões em inglês (como a Bíblia de Genebra e King James) optaram por uma palavra que entendiam melhor representar a escravidão Greco-Romana em sua cultura. E essa palavra era servo. Estas primeiras traduções continuam a exercer significativo impacto nas versões modernas em inglês.26 Entretanto, qualquer que seja a razão por trás da mudança, algo significativo se perdeu na tradução, quando doulos foi traduzido por “servo”, em vez de “escravo”. O evangelho não é apenas um convite para que alguém se torne um associado de Cristo; antes, é uma ordenança para que se torne seu escravo. 25  Cf. Harris, Slave of Christ, 184. 26  Para um olhar intrigante sobre a relutância dos primeiros tradutores de inglês da Bíblia em traduzir doulos como “escravo”, veja o que escreveu Edwin Yamauchi, no “Slaves of God,” Boletim da Sociedade Teológica Evangélica 9/1 (inverno de 1966): 31-49. Yamauchi mostra que, ao final do século 13, “a escravidão desapareceu do noroeste da Europa. . . A escravidão, portanto, era conhecida pelos ingleses do século 17, pelo menos no início desse século, não como uma instituição conhecida e aceita, mas sim como um fenômeno remoto” (p. 41). O conceito que tinham de “servo” fora moldado por seu conhecimento de servidão, pela qual o trabalhador estava vinculado à terra em que lavrava. Embora o escravo tivesse obrigações para com seu proprietário, seus serviços só poderiam ser vendidos quando a própria terra fosse vendida. Como contraste, a “escravidão” em suas mentes evocava “o caso extremo de um cativeiro em grilhões” (p. 41), uma imagem de crueldade que, compreensivelmente, queriam evitar. Mas, assim fazendo, diminuiram involuntariamente a força da expressão bíblica real. Nas palavras de Yamauchi, “Se tivermos em mente o que a escravidão significava para os antigos, e não o que significa para nós ou para os teóricos do século 17, vamos obter uma compreensão mais elevada de muitas passagens no Novo Testamento” (43) . Veja também Harris, Slave of Christ, 184


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Redescobrindo Esta Palavra Oculta A ênfase bíblica sobre a escravidão a Deus está ausente na maioria das páginas das traduções em inglês. Mas, esta verdade, que está oculta em nossas versões modernas, era central para os apóstolos e para a geração de crentes que os sucederam. Os líderes primitivos, como Inácio (que morreu cerca do ano 110 d.C) e seus cooperadores, viam a si mesmos como “companheiros escravos” de Cristo.27 Policarpo (69-155) instruiu os Filipenses: “Atai as vossas vestes e servi como escravos de Deus, em reverente temor e verdade”.28 O livro “O Pastor de Hermas” (escrito no século segundo) alerta os seus leitores que “ há muitos [atos perversos] dos quais os escravos de Deus devem se abster”.29 O escritor do quarto século, conhecido como Ambrosiaster, explicou que “aquele que é liberado da [Lei Mosaica] ‘morre’ e vive para Deus, tornando-se seu escravo, comprado por Cristo.”30 Agostinho (354-430) simplesmente fez à sua congregação esta pergunta retórica: “O vosso Senhor não vos merece ter como seus escravos confiáveis?”31 Em outro momento, repreendeu os que exibiam orgulho tolo: “Vós sois criaturas, reconhecei o Criador; sois escravos, não desdenheis de vosso Mestre”.32 O antigo expositor bíblico João Crisóstomo (347-407) consolou os que se encontravam em cativeiro físico, com estas palavras: “ nas coisas relacionadas a Cristo, tanto [os escravos quanto os mestres] são iguais: e assim como és escravo de Cristo, também é o teu mestre.”33 27  Cf. Epístola aos Filadelfos, 3; Epístola aos Magnésios, 2; Epístola à Esmirna, 12. 28  Policarpo, Carta aos Filipenses, 2,em Bart D. Ehrman, trad. The Apostolic Fathers (Harvard, 2003), 1:335. 29  Shepherd of Hermas, Exposition on the Eighth Commandment, 38.3–6, em ibidem., II:270. Este é apenas um dos inúmeros exemplos em que Hermas usou a frase “escravo de Deus.” 30  Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum, 81.3: 28.21–23, citado nas notas críticas sobre o Comentário de Agostinho aos Gálatas, por Eric Plumer (New York: Oxford University Press, 2003), 30n153. 31  Agostinho, “Sermon 159,” em John E. Rottelle, trad., Sermons (Hyde Park, NY: New City Press, 1992), 124. 32  Agostinho, Homilies on the Gospel of John 1–40, Homily 29, trad. por Edmund Hill (Hyde Park, NY: New City Press, 2009), 495. 33  João Crisóstomo, Homilies on First Corinthians, Homily 19.5–6 (on 1 Cor. 7:22–23), citado em Schaff, NPNF, 12:108–9.


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Mesmo na história mais recente, e, apesar da confusão causada pelas traduções em inglês, eruditos de renome e pastores têm reconhecido a realidade deste conceito vital.34 Ouça as palavras de Charles Spurgeon – o grande pregador britânico do século XIX: Onde a nossa Versão Autorizada [King James] suaviza como “servo”, a palavra é na verdade “escravo”. Os primeiros santos se deliciavam em considerar a si mesmos como absoluta propriedade de Cristo, comprados por Ele, possuídos por Ele, e estando totalmente ao seu dispor. Paulo foi além, ao se regozijar por ter em si as marcas de seu Mestre, e proclama: “Ninguém me moleste; porque eu trago no meu corpo as marcas de Jesus”. Aí estava o fim de todo o debate: Ele pertencia ao Senhor, e as marcas dos flagelos, das varas e das pedras eram o grande sinal do Rei, o qual marcava o corpo de Paulo como propriedade de Jesus, o Senhor. Agora, se os santos do passado se gloriavam em obedecer a Cristo, eu oro para que você e eu...possamos perceber que nosso primeiro objetivo na vida é obedecer ao nosso Senhor.35

O pastor Escocês Alexander Maclaren, um contemporâneo de Spurgeon, repetiu estas mesmas verdades: A verdadeira posição para o homem, então, é a de ser escravo de Deus . . . .Submissão absoluta, obediência incondicional, da parte do escravo; e, da parte do Mestre, possessão absoluta, o direito sobre a vida ou a morte, o direito de utilizar-se de todas as suas posses. . . . o direito de emitir ordenanças sem uma razão, o direito de esperar que estas ordenanças sejam 34  Ver apêndice para citações adicionais da história recente da igreja. 35  Charles Spurgeon, “Eyes Right,” sermão no. 2058, no Metropolitan Tabernacle Pulpit (Pasadena, TX: Pilgrim Publications, 1974), 34:689.


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realizadas prontamente, sem hesitação, meticulosa e completamente – estas coisas são inerentes à nossa relação com Deus. Bem-aventurado é o homem que tem aprendido que tais coisas assim o são, e que as aceitaram como sua glória maior e como segurança para uma vida mais abençoada! Pois, irmãos, tal submissão, absoluta e incondicional, a fusão e absorção da minha vontade na Sua vontade é o segredo de tudo aquilo que torna o ser humano magnífico, nobre e feliz . . . . No Novo Testamento, estas posições de escravo e mestre são transferidas aos cristãos e a Jesus Cristo.36

Ao passo que estas vozes da história da igreja tornam o assunto bastante claro, nossa escravidão a Cristo tem implicações radicais, quanto ao modo que pensamos e vivemos. Fomos comprados por um preço. Pertencemos a Cristo. Somos parte de um povo de sua própria possessão. E a compreensão destas coisas muda tudo a nosso respeito, a começar por nossas perspectivas e nossas prioridades. O verdadeiro Cristianismo não se trata de acrescentar Jesus à minha vida. Em vez disto, trata-se de devotar-me completamente a Ele, submetendo-me inteiramente à sua vontade e procurando agradá-Lo, acima de todas as coisas. Isto demanda morrer para mim mesmo e seguir ao Mestre, não importando o custo. Em outras palavras, ser um cristão é ser um escravo de Cristo. Nas páginas a seguir, examinaremos a grande profundidade desta palavra oculta, e no processo descobriremos a diferença de transformação de vida que ela produz.

36  Alexander Maclaren, Expositions of Holy Scripture, the Acts, comentando sobre Atos 4.26, 27, 29 (n.p.: BiblioLife, 2007), 148–49.


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