Eu Sou - Volume 2 - Heber Carlos de Campos

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EU SOU Os Modos da Revelação Verbal



EU SOU Os Modos da Revelação Verbal VOLUME II

HEBER CA MPOS


C198e

Campos, Heber Carlos de Eu sou : os modos da revelação verbal / Heber Campos. – São José dos Campos, SP: Fiel, 2017. 377 p. – v. 2 Inclui referências bibliográficas. ISBN 9788581324340 1. Palavra de Deus (Teologia cristã). 2. Bíblia. I. Título.

CDD: 238.51 Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477

EU SOU: Os Modos da Revelação Verbal (Vol 2) por Heber Carlos de Campos Copyright © Heber Carlos de Campos 2017

Copyright © Fiel 2017 Primeira Edição em Português: 2017 Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária

Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

Diretor: James Richard Denham III Editor: Tiago J. Santos Filho Revisão: Shirley Lima – Papiro Soluções Textuais Diagramação: Rubner Durais Capa: Rubner Durais ISBN: 978-85-8132-434-0

Caixa Postal 1601 CEP: 12230-971 São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br


DEDICATÓRIA Dedico este livro à minha amada e risonha neta Nicole, filha caçula de meus filhos Heber Jr. e Natalie, também herdeira do pacto, como os outros. É desejo da minha alma que ela venha a conhecer as verdades divinas reveladas nas Escrituras e, assim, no tempo devido, creia de todo o coração nelas e experimente pessoalmente a redenção que há em Cristo Jesus, o mesmo que tem redimido seus antepassados.



SUMÁRIO

Prefácio.....................................................................................................................9 Introdução............................................................................................................. 13

PARTE 1 REVELAÇÃO VERBAL PELO MODO DA TEOFANIA Capítulo 1: Manifestação teofânica................................................................. 19 Capítulo 2: Teofania no paraíso original........................................................ 27 Capítulo 3: Teofania no período patriarcal.................................................... 39 Capítulo 4: Teofania no período mosaico...................................................... 55 Capítulo 5: Teofania no período pós-mosaico.............................................. 73 Capítulo 6: Teofania na glória celeste e na Nova Terra............................... 77

PARTE 2 REVELAÇÃO VERBAL PELO MODO DA PROFECIA Capítulo 7: Mudança do modo de revelação................................................. 91 Capítulo 8: Recepção da mensagem profética.............................................109 Capítulo 9: Entrega da mensagem profética................................................129 Capítulo 10: Propósitos da revelação verbal através da profecia.............147 Capítulo 11: Vocação dos profetas................................................................209 Capítulo 12: A vocação de Moisés.................................................................223 Capítulo 13: A vocação de Isaías....................................................................237 Capítulo 14: A vocação de Jeremias..............................................................263 Capítulo 15: Chamamento do profeta como um ato soberano de Deus......283


PARTE 3 REVELAÇÃO VERBAL PELO MODO DE OPERAÇÃO CONCURSIVA Capítulo 16: Verdades sobre a revelação por operação concursiva........307

PARTE 4 REVELAÇÃO VERBAL SINGULAR PELO FILHO ENCARNADO Capítulo 17: Superioridade da revelação de Jesus Cristo..........................345 Capítulo 18: Características da revelação que Jesus Cristo faz do Pai........363 Considerações finais................................................................................................375


PREFÁCIO

É

uma honra e um grande privilégio apresentar esta nova obra de Heber Campos. Os modos da revelação verbal é mais um fruto do esforço de nosso amado e respeitado mestre em abordar temas pouco explorados na enciclopédia teológica. E esse esforço não é realizado de modo especulativo, mas por meio de uma reflexão minuciosa e corajosa sobre o texto bíblico. Seu modo de pensar, ensinar e escrever parte de um profundo temor e respeito pelas Escrituras. É a atitude de um homem que verdadeiramente crê na inspiração plenária da Bíblia e que considera cada palavra ou expressão um sólido alicerce para o conhecimento de Deus e de sua vontade. Daí o cuidadoso trabalho de reunir, apresentar e analisar cada passagem bíblica sobre o tema estudado e refletir sobre ela de modo a não deixar passar despercebido, na medida do possível, nenhum de seus ensinamentos. Como professor de coração que é, seu estilo de escrever privilegia a clareza e a acessibilidade, convidando o mais simples dos leitores a se debruçar sem receio sobre temas que desafiam


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os teólogos mais preparados. Lê-lo é como ter uma conversa descontraída sobre as grandezas do Criador. Uma conversa que nos encanta e nos prende justamente porque nos permite contemplar as maravilhas da lei do Senhor. Em Os modos da revelação verbal, Heber nos conduz pela reflexão sobre a maravilhosa verdade de que Deus se comunicou diretamente com os homens, concedendo não apenas sinais e demonstrações de seu ser, como também sua própria Palavra. A Palavra de Deus é o mais extraordinário dos poderes. Por meio dela, o mundo foi criado e um relacionamento foi estabelecido entre Deus e o homem. É a Palavra de Deus que denuncia o pecado e pune o pecador. É ela também que proclama a misericórdia, traz a redenção e conduz os filhos de Deus nos caminhos da justiça. É muito justo, portanto, perguntar como essa Palavra chegou até nós. Nada é mais importante do que saber por quais caminhos a sabedoria eterna de Deus alcançou a humanidade. Tal conhecimento se torna extremamente importante quando se lançam visões sobre o texto bíblico que querem fazer dele o produto mais ou menos glorificado do esforço humano. Mais uma das muitas vozes religiosas de maior ou menor valor. Essas visões precisam ser contestadas pelo apego às palavras do apóstolo: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (Hb 1.1-2). É disso que trata a presente obra. Dr. Heber nos mostra que essa não é uma generalização trivial. Ao ler as páginas deste livro, ficamos impressionados com a quantidade de registros sobre as maneiras e as ocasiões em que Deus falou conosco. 10


PREFÁCIO

No curso da leitura, haverá momentos em que você dirá: “Isso é óbvio, o texto claramente diz isso”. Perceberá que o autor não se importa em registrar obviedades. Seu compromisso é com a exposição e a proclamação da verdade. Outras vezes, você encontrará dificuldade em acreditar no que está lendo. Nesses momentos, convido-o a olhar o texto bíblico com maior atenção e, mesmo discordando, perceber ao menos a possibilidade daquilo que o autor apresenta. Esse será um exercício teológico bastante saudável. Lembre-se de que você não está diante de um pensador em busca de notoriedade, mas de um pastor em luta para alimentar espiritualmente suas ovelhas. Convido-o, você que compartilha comigo o intenso desejo de conhecer seu Criador e todas as suas obras, a caminhar pelas Escrituras tendo como guia a sabedoria e o conhecimento que o Espírito Santo concedeu ao Dr. Heber e a aprender, em cada parada, as implicações das formas que Deus usou para se revelar verbalmente a nós. Dario de Araujo Cardoso Professor de Teologia Pastoral do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper Professor de Teologia Exegética do Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição

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INTRODUÇÃO

E

ste é o segundo livro da série sobre a Revelação Verbal de Deus. Existem vários livros que dedicam alguns poucos capítulos sobre a revelação divina, mas praticamente não há nada escrito sobre os modos como Deus se revelou aos homens. Então, dediquei-me a escrever um livro que tratasse somente deles. Senti-me encorajado a escrever sobre esse assunto por causa das primeiras aulas de mestrado que tive com o Dr. Fred H. Klooster, então professor do Calvin Seminary, em Grand Rapids, Michigan, que me iniciou no estudo dessa matéria, a quem devo grande parte do pouco que hoje conheço. Posteriormente, comecei a ler as obras de B. B. Warfield, professor do Princeton Seminary, que foi praticamente pioneiro no assunto. Como já afirmei claramente em publicações prévias, meu objetivo é escrever em áreas que apresentam lacunas na literatura evangélica, especialmente em nosso país.


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Posso dizer que Deus foi muito criativo nos modos que escolheu para se dar a conhecer aos homens. Ele se serviu de vários modos por meio dos quais se revelou. Nesta obra, vamos estudar apenas os quatro modos mais importantes, por ordem cronológica: 1) Deus começou a mostrar sua revelação verbal por meio de encontros face a face com os homens naquilo que chamamos de teofania, ou manifestação externa. 2) Em seguida, mudou o modo de revelação e passou a revelar com mais frequência sua verdade por meio de profecia, que Warfield chama de sugestão interna. 3) Simultaneamente, Deus se serviu de outro modo que não é conhecido de modo geral pelos cristãos, aquilo que Warfield chama de operação concursiva. 4) Por fim, Deus se serviu do próprio Filho encarnado para nos revelar sua verdade pessoalmente. Espero que este livro ajude os leitores a ter uma boa visão sobre como a revelação divina chegou até nós e nos cativou para o amor e a fé naquele que se nos deu a conhecer.

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PARTE 1

REVELAÇÃO VERBAL PELO MODO DA TEOFANIA

PREÂMBULO

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e forma categórica, Deus é um ser eminentemente espiritual e que não possui forma ou corporeidade. Isso significa “que não há nele mistura alguma com o que é físico ou material... Deus é um espírito muito diferente dos outros seres espirituais, porque, juntamente com o fato de ser espírito puríssimo, é infinito, imensurável, onipresente, onipotente, reunindo todos os demais atributos incomunicáveis justamente porque é um ser eminentemente espiritual”.1 Além disso, “como um ser espiritual puríssimo, Deus é um ser incorpóreo. Esse é um dos conceitos mais óbvios do Deus da Escritura. Ele não tem forma, não é espacialmente mensurável, nem possui qualquer tipo de aparência. Essa verdade está subjacente no segundo mandamento. Por essa razão, ele abomina qualquer forma 1  Ver meu livro O ser de Deus e seus atributos (São Paulo: Cultura Cristã, 2012, 3ª edição), p. 172.


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que o ser humano possa lhe dar. Daí a proibição nos mandamentos de se fazerem imagens que o representem (ver Ex. 20)”.2 Portanto, essencialmente, Deus é um ser espiritual. Uma das características da espiritualidade é ser invisível. Um ser corpóreo não tem a propriedade da invisibilidade, embora existam coisas materiais que não são visíveis: o vento é material e, ao mesmo tempo, invisível. Todo corpo que tem membros é visível. Como Deus não tem corporeidade, é invisível. De maneira bem clara, Paulo diz, em 1 Timóteo 1.17: “Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém”. Mas Deus não somente é invisível, como também é imperceptível aos nossos sentidos, ao contrário do vento. Não vemos o vento, mas o sentimos, porque sua invisibilidade não impede que se choque com os seres corpóreos. Bem diferente desses seres, Deus não pode ser visto ou percebido pelos sentidos humanos, a menos que se comunique com os homens e se torne perceptível. Se ele é invisível, é porque é espiritual. Suas obras são visíveis, mas não o seu ser. Jesus nos mostra, em Lucas 24.39, o que sua natureza humana é, mas não é possível dizer o mesmo de sua natureza divina, que é eminentemente espiritual. Portanto, é uma impossibilidade para o homem ver Deus, porque ele não pode ser percebido por nossos sentidos visuais. Não é uma questão de falta de oportunidade, mas de incapacidade. É propriedade divina não poder ser contemplado pelos olhos humanos (1Tm 6.16). A razão disso é que se trata de um ser eminentemente espiritual, que não possui forma (Jo 5.37). “Se Deus tivesse uma substância corpórea, poderia ser medido pelos olhos físicos.”3 2  Ibid. 3  Ibid.

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Aliás, a preocupação teológica dos que nos precederam na fé a respeito da matéria nos mostra que essa é uma das primeiras coisas que o Catecismo dos pequeninos nos ensina: “Pergunta 9: O que é Deus? Deus é um Espírito, e não tem corpo como os homens”. Além disso, as Escrituras afirmam claramente: “Deus é espírito” (Jo 4.24) e, portanto, deve ser adorado de modo espiritual. No entanto, para que pudesse ser conhecido de maneira mais palpável por Adão e Eva, e também por outros personagens do Antigo Testamento, Deus resolveu revelar-se, assumindo algumas formas específicas que abordaremos nesta primeira parte do livro.

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CAPÍTULO 1

MANIFESTAÇÃO TEOFÂNICA

H

istoricamente, Deus se revelou ao homem de vários modos, e o primeiro deles foi por manifestação externa, o que se conhece em teologia como teofania. Segundo esse modo, Deus aparece ao homem comunicando-se com ele por meio de palavras, e quase sempre obtém boas respostas daqueles a quem aparece. A teofania é um modo bem pessoal e íntimo de Deus revelar-se ao homem. Especialmente depois da queda, o homem precisava sentir Deus bem próximo, a fim de que a criatura caída pudesse conhecer alguma coisa de seu santo Criador. Warfield descreve o primeiro modo de revelação especial que Deus empregou: A teofania pode ser entendida como uma forma de “manifestação externa”; por seu turno, deve-se pesquisar tudo acerca


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das poderosas obras de Deus por meio das quais ele se torna conhecido, incluindo, sem dúvida, os milagres expressos, mas, junto com eles, toda intervenção sobrenatural nos afazeres dos homens, por meio da qual a melhor compreensão é comunicada desse Deus, com seus propósitos de graça à raça pecadora.1

Essa definição de Warfield não clareia muito a ideia de teofania, mas ele é um dos poucos teólogos sistemáticos que se dedica, em sua obra, a abordar o fenômeno da revelação externa por meio de teofania. O que, então, é uma teofania? Entende-se que é o modo de revelação externa e imediata, por meio do qual Deus assume, temporariamente, uma forma física, a fim de comunicar aos homens alguma coisa de si mesmo ou deles, tanto em termos de redenção como de juízo, confrontando-se presencialmente com os recipientes de sua revelação. A TEOFANIA É UMA MANIFESTAÇÃO EXTERNA DE DEUS

Por “manifestação externa”, entenda-se que a manifestação divina é visível, palpável e audível, que Deus assume para se dar a conhecer aos recipientes de sua revelação. Nela, Deus assume uma forma física, sendo percebido pelos sentidos do homem. Por essa razão, a revelação teofânica é muito objetiva, pois é verificável, mensurável e histórica. Não há nada de subjetividade nessa revelação. De um modo diferente, a revelação por meio de sonhos ou visões é uma 1  B. B. Warfield. The Inspiration and Authority of the Bible, p. 83.

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MANIFESTAÇÃO TEOFÂNICA

manifestação interna, subjetiva, feita no interior do recipiente. Entretanto, na revelação teofânica, Deus se revela a todos os sentidos dos homens, podendo ser visto, ouvido e tocado pelos recipientes da revelação. Ainda que Deus venha na forma de homem, fogo, fumaça ou nuvem, nenhuma dessas formas é parte essencial de seu ser, porque Deus é eminentemente um ser incorpóreo. Além disso, Deus é um espírito puríssimo e infinito. A essencialidade de Deus consiste no fato de ele ser incorpóreo, muito diferente da maioria das criaturas humanas que ele criou à sua imagem e semelhança. A TEOFANIA É UMA MANIFESTAÇÃO EXTERNA EM QUE DEUS SE REVELA IMEDIATAMENTE

Pelo termo imediatamente, entenda-se que Deus não recorreu a nenhum meio para se revelar. Em outras palavras, revelou-se diretamente, sem usar nada nem ninguém para se dar a conhecer. Por exemplo, no modo de revelação que veremos em seguida, Deus se serviu de sonhos e visões para se revelar aos homens. No entanto, na teofania, não se serviu de nada. Ele mesmo assumiu a forma e, direta ou imediatamente, deu-se a conhecer aos homens. Ele se apresentou muito clara e visivelmente a Abraão, Isaque, Jacó, entre outros, de tal forma que eles reconheceram nele um ser divino. A TEOFANIA É UMA MANIFESTAÇÃO EXTERNA DE DEUS, MAS É TEMPORÁRIA

A revelação teofânica é temporária porque, tão logo a comunicação das verdades divinas se encerra, a manifestação externa de Deus 21


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também desaparece. A aparência visível é apenas um meio do qual Deus se serve para, numa época em que não se conhecia a respeito dele, comunicar-se com os homens. Lembre-se de que os homens (no caso, Moisés) nem sabiam qual era o nome desse Deus. Foi em teofania que Deus disse de si mesmo: “Eu Sou”. Não existe nenhuma manifestação teofânica de Deus que tenha durado muito tempo. Sua duração é até que a revelação em palavras termine. A teofania nunca é uma forma definitiva que Deus assume. Ela sempre foi usada com propósitos específicos e definidos. Quando esses propósitos são cumpridos, a manifestação teofânica deixa de existir. Considerando-se importante a ideia da teofania como uma forma temporária que Deus assume, é possível afirmar que Jesus Cristo não pode ser uma teofania, pelas seguintes razões: a) Sua “forma de homem” (morphe anthropou, Fp 2.7) não é temporária, mas definitiva. Ele não apareceu repentinamente como homem e, então, desapareceu em seguida. b) O Redentor, segundo sua humanidade, foi gerado de Maria, foi nascido dela, cresceu como qualquer menino, tornou-se homem, morreu, ressuscitou e ainda existe hoje com a mesma “forma de homem”. Na verdade, por ter sido nascido dos genes de Maria, tornou-se um membro da raça. Ele não tem simplesmente a aparência de um homem, ele é um homem! c) Nunca o Redentor deixará de existir como homem, apresentando definitivamente todas as formas físicas de um homem. Para sempre ele será um Redentor com a forma humana, porque é parte integrante da raça humana, um membro dessa raça, pois foi concebido e nascido de mulher, possuindo, portanto, a carga genética de seus ancestrais em sua humanidade. 22


MANIFESTAÇÃO TEOFÂNICA

A TEOFANIA É UMA MANIFESTAÇÃO EXTERNA EM QUE DEUS SE REVELA PRESENCIALMENTE

A manifestação externa de Deus é presencial e repentina, sem anúncio antecipado. Ele aparece de um modo inesperado, intervindo nos eventos da história humana. Essa revelação de presença é chamada por Brueggemann de “santa intrusão” ou “intrusão massiva de Jeová”.2 Como cristãos, temos de reconhecer que Deus não tem nenhum problema em ser visto como alguém que é imanente, ou seja, que interfere nos negócios dos homens, manifestando-se neste mundo. O fato é que a manifestação externa de intervenção de Deus no mundo foi uma tônica pontual no passado e será uma tônica constante depois de a redenção ocorrer por completo, com a vinda de Cristo. No passado, ele assumiu a forma física/presencial muitas vezes. No futuro, ele também o fará, e nós haveremos de “contemplar sua face”, como está prometido em Apocalipse 22.4.3 À exceção da manifestação do Verbo feito carne (que não é uma teofania!), nenhuma outra revelação divina tem a característica da presença direta e visível de Deus. Diferente da revelação por teofania, a revelação por profecia não é presencial. A TEOFANIA É UMA MANIFESTAÇÃO EXTERNA EM QUE DEUS REVELA SUA SALVAÇÃO OU SEUS JUÍZOS

a) A revelação de redenção A maior parte da revelação teofânica de Deus tem co2  Brueggemann, Walter (1997). Theology of the Old Testament. Augsburg: Fortress, 568. 3  Para mais detalhes sobre o assunto, ver meu livro O habitat humano: o paraíso restaurado, parte 1 (São Paulo: Hagnos, 2015), 207–232.

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notação redentora. Nela, ele se dá a conhecer aos homens, levando-os ao conhecimento de si mesmo. Esses aparecimentos divinos no Antigo Testamento tiveram uma conotação pactual, em que Deus diz aos seus que será o abençoador deles (Gn 26.24). Nessas relações pactuais, Deus anuncia promessas maravilhosas para seu povo (Gn 35.1, 9–12). Deus se manifestou a Abraão prometendo-lhe progênie e posse da terra (Gn 12.7). A mesma promessa foi feita a Jacó (Gn 48.3) quando sua esposa, Raquel, era estéril. b) A revelação de juízo A primeira manifestação presencial de Deus em juízo se deu já no Jardim do Éden, após o pecado de nossos primeiros pais (Gn 3.8), quando Deus assumiu a forma humana, de tal modo que era vista e ouvido. A última manifestação visível (ou externa) de Deus aos ímpios também será de Juízo. A essa altura, Deus mostrará quão grande e poderoso ele é, a ponto de os homens gritarem aos montes e aos outeiros: “Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Ap 6.16–17). Ninguém pode esconder-se daquele que não tem forma. Deus tomará, certamente, uma forma e imporá seu terror presencial aos desprezadores de sua Palavra. Talvez não haja modo mais duro de Deus tratar dos pecados dos homens “face a face”. Não é pouca coisa ser confrontado pelo Criador e Juiz de todos os homens! Assim, vamos analisar os tempos de predominância desse modo presencial de revelação divina, que têm a ver com as 24


MANIFESTAÇÃO TEOFÂNICA

teofanias. Em vários períodos do Antigo Testamento, vemos manifestações reveladoras divinas por meio de teofanias. No entanto, houve tempos em que essa manifestação externa foi mais evidente do que em outras.

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CAPÍTULO 2

TEOFANIA NO PARAÍSO ORIGINAL

O

Paraíso original apresenta a permanência (ou o domicílio) de Deus na terra. Ainda que Deus, antes de criar o universo, já existisse, não ocupava espaço da forma como os seres criados ocupam, pois o espaço faz parte da criação original. Quando ele criou o espaço, passou a se envolver com a sua criação desde o início. Assumindo formas que revelavam traços de seu caráter, Deus habitou inicialmente no Jardim, que ele havia plantado, e, ali, fez companhia aos nossos primeiros pais. No Jardim de Deus, Adão é abençoado com a presença física reveladora de seu Criador. Biblicamente falando, podemos falar de encontros face a face que Deus teve com Adão, o que chamamos teofanias. Aqui, defende-se a tese de que Deus assumiu a forma de homem no Paraíso por algumas razões muito simples, que o texto a seguir aponta:


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Gn 3.8 – “Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim.”

Seguem as qualidades de um ser com manifestação corpórea: ADÃO OUVIU DEUS FALAR Gn 3.8a – “Quando ouviram a voz do SENHOR Deus,”

Deus já havia falado anteriormente com Adão, tão logo o criou. Desde o princípio da criação do homem, Deus revelou-se verbalmente às suas criaturas racionais. Veja o que segue: Gn 2.15–17 – “Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”

Deus comunicou-se verbalmente com Adão. No entanto, nessa passagem não vemos ainda nenhum indício de que Deus havia assumido forma física ou forma visível. Simplesmente o texto diz que Deus lhe deu as devidas ordens, porque a revelação verbal aconteceu desde que o ser humano veio à existência. A fim de que Adão pudesse conhecer quem era seu Criador, Deus teve de tomar forma para se comunicar com a sua criatura, 28


TEOFANIA NO PARAÍSO ORIGINAL

dando-lhe as instruções para governar o jardim, cultivar a terra e dar nome aos animais, além de outras providências que se faziam necessárias. Seria muito estranho para a criatura ser colocada no Jardim sem qualquer comunicação verbal da parte de Deus que lhe transmitisse instruções. Afinal de contas, Adão era um estreante na terra. Ele não havia nascido e crescido ali; ele foi criado e colocado no Jardim para exercer várias funções. Então, Deus falou com ele, dando-lhe as devidas instruções. Entretanto, é preciso reconhecer que Deus não precisa necessariamente de pregas vocais para falar, como nós precisamos. Ele pode fazer-se ouvir audivelmente pelos homens sem que possua forma física, porque simplesmente ele é Deus. No entanto, por causa de suas criaturas, ou seja, para poder se comunicar com sua primeira criatura racional e para que ela tivesse um conhecimento mais pessoal dele, Deus não somente falou, como também falou assumindo a forma humana. Como se chega a essa conclusão? Existem alguns aspectos no texto em análise que nos levam a pensar dessa maneira. Se Deus tomou forma, que forma ele tomou para se comunicar pessoal e verbalmente com Adão? A resposta é: a mesma que ele dera à sua criatura humana, quando da feitura dela. Como já afirmado, pelo fato de ele ser Deus, não precisa de pregas vocais para falar, mas, quando ele tomou a forma humana, possuindo uma fisicalidade (ainda que temporária!), certamente tinha pregas vocais que vibravam, produzindo som como a voz de um homem, a fim de conversar com aquele que havia sido feito segundo “sua imagem e semelhança”. Portanto, o fenômeno de comunicação havido no Jardim não é simplesmente auditivo, mas também dictivo. Ou seja, não 29


EU SOU | OS MODOS DA REVELAÇÃO VERBAL

somente Adão ouviu a voz do Senhor, como também Deus falou, suas pregas vocais vibraram e o som se propagou pelo Jardim. A despeito de ser um Deus transcendente, que está além e sobre a sua criação, ele resolveu mostrar sua imanência de forma extraordinária! Ele se dignou a tomar forma para poder se comunicar e andar na sua criação, no jardim que havia feito especialmente para o homem, entrando em comunhão física com sua criatura racional. ADÃO VIU DEUS ANDAR Gn 3.8b – “Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia”

Além de falar, Deus se locomovia pelo jardim, porque o texto diz que Deus “andava no Jardim pela viração do dia”. Deus é um ser eminentemente espiritual e não tem corpo como os homens. Além disso, como ser onipresente, Deus não precisaria se locomover, porque ele preenche todo o espaço com a plenitude de seu ser. No entanto, quando Deus toma forma, locomove-se, porque a locomoção só é possível para seres com forma física. Somente seres com forma finita, que se encontram no espaço, precisam locomover-se. A teofania é uma forma finita que Deus assume, a fim de se comunicar com as suas criaturas e baixar ao nível delas. Portanto, a locomoção divina só é possível quando ele assume uma forma visível, porque, na teofania, Deus se torna envolvido com uma massa física que ocupa espaço. Tudo o que ocupa espaço pode locomover-se. 30


TEOFANIA NO PARAÍSO ORIGINAL

Assim, se a Escritura diz que Deus andava, quer dizer que ele tomou a forma física finita que precisava para se locomover no espaço que ele próprio criou. Todos os dias, pela viração do dia, Deus costumava andar pelo jardim e empreendia uma conversa com o homem. Os dois sempre andaram juntos até o pecado entrar no Jardim. ADÃO ESCONDEU-SE DE DEUS Gn 3.8c – “Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus”

Já vimos que, como resultado de sua teofania, Deus falava e andava pelo Jardim que ele criou para o deleite de sua criatura mais importante. No entanto, a comunhão relacional do homem com Deus não durou para sempre. Por causa do pecado, essa comunhão foi perdida no Jardim, mas Deus continuou a andar ali. Por causa da queda, agora o homem não mais queria vê-lo, nem andar com ele. A prova cabal de que Adão viu Deus andar é o fato de se ter escondido daquela figura que caminhava ao seu encontro. Se Deus não houvesse tomado forma, Adão não teria a capacidade de vê-lo e não faria sentido esconder-se de algo que não via. No entanto, pelo que seus olhos viam, Adão se escondeu de alguma coisa visível que se aproximava dele. Não precisamos espiritualizar o texto entendendo que Adão se escondeu moralmente de Deus porque estava com vergonha. O texto deve ser entendido em seu sentido natural, que é o literal – Adão se escondeu fisicamente daquele que havia tomado, temporariamente, a forma física, por causa de seu 31


EU SOU | OS MODOS DA REVELAÇÃO VERBAL

problema moral. Ele não queria mais estar frente a frente com aquele a quem havia desobedecido. Gênesis 3.8 é a primeira indicação de que Deus, inquestionavelmente, aparece depois de tomar uma forma. No entanto, a primeira vez que Deus o fez foi na criação do homem. ADÃO ESCONDEU-SE DO DEUS QUE HAVIA TOMADO A FORMA DE HOMEM

Ao estudarmos teofania, tentando relacioná-la com a doutrina da imagem de Deus, deparamos com a teologia evangélica afirmando que a imagem de Deus tem a ver unicamente com a parte imaterial do homem. Segundo esse tipo de teologia, é comum a ideia de que “a imagem de Deus no homem reside no elemento espiritual”,1 ou seja, na alma. Então, é necessário fazer uma pergunta crucial que exige uma resposta honesta: O corpo humano é parte da imagem de Deus ou não? Se o corpo humano não é parte da imagem de Deus, então não é possível afirmar que o homem, em sua totalidade, tenha sido feito à imagem de Deus. Grande parte dos cristãos admite que somente a alma reflete a imagem de Deus, e não o corpo, porque Deus é um ser espiritual puríssimo que não possui corporeidade. Somente a sua alma reflete o Criador. Digamos que, de acordo com essa opinião, o homem é apenas cinquenta por cento imagem de Deus, e não cem por cento. Entretanto, nenhum evangélico chegaria a desenvolver esse raciocínio lógico. Os evangélicos diriam que a imagem de Deus tem a ver apenas com a alma humana. Nada mais. Isso porque raras vezes os homens questionam a própria teologia. 1  W. Gary Crampton, “Man as Created in God’s Image”. Disponível em http://www.trinityfoundation.org/journal.php?id=183. Acesso em junho de 2015.

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TEOFANIA NO PARAÍSO ORIGINAL

Argumentando sobre o texto de João 4.24, de que “Deus é espírito”, Crampton diz que “isso somente deveria guardar-nos contra a crença de que o corpo do homem é, de alguma forma, o modo da imagem”.2 O próprio Calvino, um dos maiores expoentes da teologia cristã de todos os tempos, admite que a imagem de Deus é somente espiritual, afirmando que “os ‘poderes’ da imagem estão localizados na alma”.3 Logo, nesse caso, mais uma vez, não se pode dizer que o homem é completamente feito à imagem de Deus, mas tão somente que tem uma parte da imagem de Deus – em sua alma. Aqui, defende-se a tese de que o corpo também é parte integrante da imagem de Deus, mas é necessário justificar essa assertiva. Se o corpo é parte da imagem de Deus, importa explicar como isso é possível. DEUS TOMOU UMA FORMA FÍSICA PARA FAZER SUA CRIATURA MAIS IMPORTANTE

Com base no ensino geral das Escrituras, sustenta-se que Deus não possui um corpo que lhe seja próprio, ou que lhe seja essencial, mas que ele assumiu temporariamente uma forma física que viria a corresponder à forma da criatura que haveria de fazer. Deus estampou no homem sua imagem, de modo que tanto os aspectos da alma como os do corpo são parte essencial da constituição humana. Observe como Deus estabelece o processo da criação do homem: 2  W. Gary Crampton, Man as Created in God’s Image, artigo encontrado no site http://www.trinityfoundation.org/journal.php?id=183, acessado em junho de 2015. 3  Calvin, Institutes I:15:3.

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EU SOU | OS MODOS DA REVELAÇÃO VERBAL

DEUS RESOLVEU, INTRATRINITARIAMENTE, QUE FARIA O HOMEM PARA REFLETIR SUA IMAGEM Gn 1.26–27 – “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”

Parece-nos claramente que houve um conselho trinitário na decisão de criar o homem. A divindade em forma plural, mencionada no texto [“façamos”], tomou uma decisão importantíssima: o ser humano haveria de refletir a imagem de Deus, tanto em sua alma como em seu corpo. Mas como poderia ser assim se Deus é única e exclusivamente um ser espiritual? Então, a divindade triúna afirmou: “Façamos o homem (essa palavra indica a inteireza do homem) à nossa imagem e semelhança”. O texto não diz “façamos a alma do homem à nossa imagem e semelhança”. Como, então, fazer o homem por inteiro ser sua imagem e semelhança se Deus não possuía uma forma física? Portanto, a fim de fazer o homem todo à sua imagem e semelhança, Deus resolveu tomar uma forma. Não poderia haver outra maneira de explicar esses versos tão significativos da Escritura. Para dar uma forma ao homem, o próprio Deus teve de tomar uma forma. Qual forma? Exatamente aquela que ele viria dar à sua criatura, porque a forma dada ao homem era exatamente a que o Criador havia tomado, para pô-lo no Jardim que estava prestes a criar. Que imagem a criatura teria para refletir o Criador? A imagem que o Criador tomou para si ao criar a criatura. Adão haveria de 34


TEOFANIA NO PARAÍSO ORIGINAL

refletir não somente os aspectos imateriais de Deus (os aspectos da alma) que lhe são essenciais, mas também a forma física (os aspectos do corpo) que ele havia tomado, mas que não é essencial à existência divina. Ao mesmo tempo, podemos dizer que a imagem de Deus é composta do que é essencial em Deus (a parte imaterial) e do que não é essencial em Deus (a parte material). Para o homem poder refletir, em sua totalidade, a imagem de Deus, Deus teve de tomar a forma física que seria o molde para fazer a sua criatura mais importante a partir do pó da terra, de que trata o ponto seguinte. DEUS TOMOU UM ELEMENTO FÍSICO PARA FAZER A NATUREZA FÍSICA DO HOMEM Gn 2.7 – “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.”

O texto aponta que Deus tomou o barro com suas mãos e o manuseou a fim de formar sua criatura mais importante. Deus não disse: “Barro, apresente diante de mim uma forma que se pareça comigo”. Se Deus não tivesse tomado forma, não poderia dizer isso ao barro. Além disso, também não disse ao barro: “Produza a imagem de um homem”, como dissera à terra sobre a criação das árvores e dos animais (ver Gn 1.11–12, 24–25). No entanto, no verso 26, Deus disse para si mesmo: “Façamos o homem à nossa imagem”. Em vez de dar ordem à terra (barro), o próprio Deus trabalhou pessoalmente na criação do homem. Não houve nenhuma ordem. Apenas o trabalho de Deus em misturar, com suas mãos, barro com água, numa forma devida, para dar a própria forma à sua 35


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criatura. Com suas mãos, Deus tomou o barro e fez um “boneco”, no processo inicial de sua criatura mais importante, para depois criar sua parte imaterial com o sopro nas narinas. Se Deus fez o homem assim, é possível afirmar que Deus deu ao homem a forma que ele próprio havia tomado, a fim de que o homem refletisse sua corporeidade, e fosse feito à sua imagem e semelhança! DEUS DEU A FORMA QUE HAVIA ASSUMIDO À SUA CRIATURA MAIS IMPORTANTE

Onde está a base escriturística para afirmar que o corpo é parte da imagem de Deus? Deus assumiu a forma de homem porque a Escritura diz que este conversava face a face com Deus, de quem era a própria imagem e semelhança. O corpo do homem também é parte da imagem de Deus, não somente a alma (com seus atributos). Este é o ensino da Escritura: Gn 9.6 – “Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem.”

Tem-se, portanto, que: O TEXTO AFIRMA QUE UM ASSASSINO É RÉU DE PUNIÇÃO

Todo ser humano que mata outro deve ser morto. A ideia do Antigo Testamento, sancionada no Novo Testamento, é vida por vida. “Se um homem derramar o sangue do homem, pelo homem se derra36


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mará o seu”. Nenhum ser humano tem o direito de, pessoalmente, exercer vingança. A vingança é do Senhor, em geral por meio das autoridades constituídas. Quanto a esse ponto, parece não haver muita controvérsia. Entretanto, o ponto a seguir é desconhecido e ignorado por muitos, e guarda relação com o corpo como parte da imagem de Deus. O TEXTO AFIRMA QUE O CORPO É PARTE DA IMAGEM DE DEUS

Deus conecta o primeiro ponto com o segundo. O assassinato (derramar sangue – parte física do homem) é proibido porque o homem é a imagem de Deus. A única conclusão a que posso chegar é que o corpo humano é parte da imagem de Deus porque o texto diz que derramar o sangue do homem implica tocar na imagem de Deus. Se um homem mata outro, toca naquilo que é essencial ao homem – seu corpo, que é parte da imagem daquele que originalmente o criou. Logo, podemos deduzir, com boa dose de convicção, que Deus, ao formar sua criatura mais nobre, a fez de acordo com a forma que ele próprio tomou, dando-lhe um corpo. Então, pela ordem, podemos dizer que Deus assumiu uma forma física e deu sua forma àquele a quem chamou de homem. É nesse sentido que o corpo é parte da imagem de Deus. Foi desse Deus, que tomou a forma temporária de homem, que Adão tentou se esconder porque havia pecado. Você e eu fomos feitos à imagem de Deus em sua inteireza. Como portamos essa imagem, precisamos cuidar dela para que Deus não seja desonrado por pensamentos, afeições e volições de 37


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nossa alma e pelos atos expressos por nosso corpo. Temos de honrar essa imagem que nos honra tanto! Provavelmente, você nunca pensou na honra de ter sido feito à imagem de Deus. Portanto, honre a Deus com seu corpo e com sua alma, que são expressões daquele que, tomando forma, fez você e a mim à sua imagem!

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