É com grande alegria que celebro a publicação do livro Igreja Regenerada do dr. David Bledsoe. Como pastor e professor de eclesiologia, considero essa obra uma dádiva para os batistas, pois supre, com rigor acadêmico, teológico e histórico, uma lacuna na literatura sobre os conceitos essenciais da doutrina batista, cujo ensino têm sido negligenciado desde a segunda metade do século 20. Uma obra que, se não se tornar obrigatória nos seminários batistas, e mesmo nos de outras denominações, dificilmente poderá ser ignorada sem prejuízo, pois nos dá acesso a questionamentos bem fundamentados sobre a eclesiologia vigente, a qual tem causado muitos males à saúde espiritual das igrejas e de seus membros.
Abmael Araujo Dias Filho, pastor da Primeira Igreja Batista de Atibaia (PIBA) e professor de Eclesiologia da Escola de Pastores PIBA.
Nesta obra, que contém profundidade bíblica, histórica e teológica, bem como denso lastro bibliográfico, utilizando a perícia de um mestre acadêmico, o dr. Bledsoe apresenta inicialmente um retrato do que a igreja de Cristo deve ser. Com a coerência que lhe é própria, avança além da imagem ideal da igreja, chegando à diagnose dos problemas atuais que enfrentamos em nossa eclesiologia, com destaque para a “membresia regenerada” versus “corpus permixtum”, obediência contínua e aplicação correta da disciplina bíblica.
É digno de nota sua preocupação — ao dedicar o livro “à próxima geração” — com pastores e missionários, os quais certamente serão abençoados se observarem as orientações desse vade-mécum eclesiológico. Em contrapartida, todos os que lideram igrejas locais podem se utilizar desse conteúdo imediatamente para correção de
rota, com o objetivo de termos igrejas genuinamente bíblicas e saudáveis. Obrigado David!
Adilson Santos, pastor da Primeira Igreja Batista em São José do Rio Preto e ex-presidente da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil.
Baseado em princípios bíblicos, consciência histórica e sensibilidade cultural, David Bledsoe apresenta uma eclesiologia atenta às tendências e aos desafios da vida ministerial da igreja no contexto brasileiro, que, como missionário entre os batistas no país há décadas, ele conhece muito bem. Em tempos nos quais a experiência de fé em separado da igreja impacta cada vez mais o ambiente cristão evangélico, é fundamental repensarmos a natureza, a vida e a missão da igreja de modo crítico e bíblico. E o enfoque do autor no tema da membresia regenerada é um recurso interessante para essa tarefa. Recomendo a leitura!
Dr. Alcir Souza, missionário da Junta de Missões Mundiais da Convenção Batista Brasileira e vice-presidente e coordenador de pós-graduação do Seminário Teológico Baptista (Lisboa, Portugal).
Igreja regenerada , escrito habilmente pelo dr. David Bledsoe, representa uma reafirmação de valores bíblicos sólidos em eclesiologia e, ao mesmo tempo, um renovo com a conexão orgânica, vital, de elementos históricos e teológicos. Sua abordagem bíblica equilibrada e a apresentação de argumentos bastante compreensiva — e muitas vezes exaustiva — em relação aos temas trazem à tona uma obra bem pensada e estruturada. A clara influência das “marcas” de uma igreja saudável e um leve toque de teologia reformada reforçam a robustez teológica do livro. Enfim, creio que sua contribuição principal está na discussão
de temas importantes, por vezes negligenciados, como a disciplina na igreja e a membresia regenerada, bem como a excelente e prática discussão sobre as ordenanças da igreja. Recomendo sua leitura e uso em sala de aula!
Dr. Allan P. Amorim, pastor batista e professor de Estudos Bíblicos em faculdades teológicas.
Já temos dois mil anos de história eclesiástica para investigar e apreciar. É um bom tempo para percebermos erros e acertos, altos e baixos, sucessos e fracassos. Precisamos ter a coragem de olhar para essa história e de reconhecer quando acertamos, quando falhamos e quando ajustes foram necessários. Nesse sentido, como é bom quando podemos reafirmar as bases bíblicas daquilo que cremos em relação à igreja, seus fundamentos, sua missão e suas relações, do mesmo modo que olhamos para a história analisando criticamente sua trajetória. O dr. David Bledsoe, com sua obra Igreja regenerada, nos ajuda nessa análise. Ele desperta em nós a necessidade de repensar se estamos no caminho certo. Com ampla pesquisa bibliográfica, profundo conhecimento na área e ótima didática na exposição, o autor oferece aos leitores brasileiros este excelente material. Recomendo fortemente a todos os líderes eclesiásticos e estudantes de teologia.
Dr. Claiton Kunz, diretor da Faculdade Batista Pioneira, professor do mestrado em teologia da FABAPAR e presidente da Associação Brasileira de Instituições Batistas de Ensino Teológico.
A obra Igreja regenerada é um verdadeiro tratado eclesiológico! A igreja é analisada em suas diversas inter-relações com o reino de Deus, com Israel, com a missão de Deus, com o discipulado, com
o evangelho, com as alianças, com a conversão, com as crenças e os mandamentos fundamentais. Embora seletivo, o livro apresenta um robusto panorama histórico, abrangendo os períodos pós-apostólico, medievo e da reforma. Trata-se de um tremendo tour de force, especialmente na questão crucial da “membresia regenerada”, cujo estudo é amplo e exaustivo. Cada capítulo encerra com excelentes guias para reflexões e discussões, e esse fato faz desse manual um instrumento de interação para grupos como excelente aio de ensino. Que trabalho excepcional no que se refere à eclesiologia em língua portuguesa! Altamente recomendável.
Dr. David Bowman Riker, pastor-presidente da Primeira Igreja Batista do Pará (Belém, PA) e professor de História Eclesiástica.
Em nossa caminhada na obra missionária, encontramos muitas igrejas que precisam de revitalização. Algumas reconhecem suas necessidades; outras não sabem o motivo — nem sempre aparente — de suas mazelas, nomeadamente, a falta de reflexão sobre a eclesiologia bíblica e de sua aplicação.
O livro Igreja regenerada é essencial para suprir essa imensa necessidade da igreja, porque não só apresenta ferramentas de diagnóstico, mas também uma sã teologia da natureza, experiência e aplicação da eclesiologia na missão. E o autor o faz com precisão exegética, acompanhada de sua profícua experiência missionária. Portanto, recomendo essa obra, a qual contribuirá sobremaneira para saúde das igrejas no mundo lusófono.
Diego Lopes, missionário, coordenador executivo do Seminário Martin Bucer Portugal e pastor da Igreja Baptista na Margem Sul em Lisboa.
Igreja regenerada é uma obra grandiosa em seu conteúdo, profundidade e abrangência. O dr. Bledsoe presenteou igrejas, pastores e seminários de fala portuguesa com um vasto material, o qual aborda os diversos aspectos da eclesiologia levando em consideração seus leitores, tanto os pastores quanto a membresia. Cada capítulo traz, de forma muito bem elaborada, valioso material de reflexão e aplicação para que a igreja de Cristo possa ser uma comunidade bíblica. A amplitude de assuntos é tratada de forma significativa, sendo que a obra pode ser usada não somente na vida da igreja, mas também deve ser objeto de estudo e discussões acadêmicas nos seminários, como fonte de leitura e pesquisa para formação de novos obreiros. Portanto, a leitura dessa obra torna-se essencial para todos os que desejam agradar ao Senhor em seu ministério e para quem exerce o ministério de treinamento de novas gerações.
Dilean Melo, reitor do Seminário Teológico Batista do Litoral Paulista e pastor na Igreja Batista Nações Unidas (IBNU, SP).
Em tempos confusos como os atuais, é imprescindível ouvir quem tem autoridade para abordar assuntos essenciais, trazendo tranquilidade e clareza tão necessárias para a jornada cristã. O dr. David Bledsoe é uma autoridade no tema da Eclesiologia, e isto advém de sua capacidade intelectual, de sua vivência como docente e de sua experiência na contribuição à vida prática da igreja de Cristo. Portanto, a obra que você tem em mãos é fruto da providência divina, que, indubitavelmente, fornecerá a você elementos para uma reflexão profunda e atual acerca da verdadeira natureza da igreja, suas bases doutrinárias e os critérios a serem usados no cumprimento da missão de representar o Senhor Jesus no mundo. Essa é uma daquelas obras que serão conhecidas e reconhecidas
não somente pela atual geração, mas também pelas vindouras, em virtude de seu senso de urgência e sua inestimável profundidade a respeito desse tema vital à saúde espiritual da igreja.
Elias Torralbo, diretor executivo da Faculdade Evangélica de São Paulo e pastor da Assembleia de Deus.
Este livro cumpre, de forma muito competente, a importante tarefa de apresentar os princípios bíblicos que devem guiar a doutrina e a prática das igrejas de Cristo. Por meio de uma abordagem bíblica, teológica e histórica, assuntos cruciais como as marcas de uma igreja cristã verdadeira, as ordenanças do batismo e da Ceia, a disciplina eclesiástica, o culto público e o governo da igreja local são apresentados de forma didática e precisa. Em particular, o assunto que intitula o livro é tratado como um distintivo, muito importante e necessário, isto é, que a membresia de uma igreja deve ser composta apenas dos redimidos de Deus, discípulos verdadeiros de Cristo, que expressam e evidenciam uma profissão de fé plausível. Portanto, pastores, professores, membros de igrejas, bem como todos aqueles que têm interesse em aprender os fundamentos bíblicos sobre a igreja serão grandemente beneficiados com a leitura deste livro, recomendo com alegria.
Fernando Angelim, pastor da Igreja Batista Reformada de Belém e diretor do Seminário Batista Confessional do Brasil (Belém, PA).
Uma obra para a nossa geração refletir sobre os fundamentos bíblicos da igreja. A missão da igreja é insubstituível. O discipulado gera membros, líderes e igrejas saudáveis, relevantes e multiplicadores.
Vale a pena a leitura!
Fernando Brandão, diretor executivo da Junta de Missões Nacionais e diretor-geral do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil.
O livro de autoria do dr. David Allen Bledsoe, Igreja regenerada, vem preencher um vazio grande no estudo profundo da essência, história e realidade contemporânea da igreja cristã. O livro será de extrema relevância para as igrejas nos países de língua portuguesa que almejam uma membresia comprometida e regenerada.
Dr. Isaias Uaene, professor de Pragmática Eclesiástica, diretor fundador do Centro para o Desenvolvimento de Liderança (CDL) e pastor titular da Igreja Baptista da Malhagalene em Maputo, Moçambique.
Raramente encontro um livro que combina a necessidade de profundidade teológica com a urgência de esclarecimento na aplicação prática. Essa obra alcança tal fusão.
Com palavras claras, simples e exatas sobre várias áreas da eclesiologia, os leitores podem compreender os princípios bíblicos e as ferramentas práticas que podem aplicar a suas igrejas e seus ministérios. Na metade da leitura desse livro, achei graça de mim mesmo ao perceber o quanto eu precisava ter tido acesso a esse livro muitos anos atrás no campo e no treinamento de outras pessoas. De todo o meu coração, recomendo essa obra tanto aos
pastores quanto aos crentes que querem se aprofundar mais em teologia e no estudo da igreja de Cristo.
Dr. Jeff Brawner, treinador da Global Church Planting Partners e instrutor de Estudos Globais na Liberty University.
Como pastor de igrejas no Brasil há muitos anos, sempre procurei ajudar seguidores de Cristo a levarem a membresia da igreja a sério. Esse livro é um resumo excelente para entendermos melhor o papel da igreja na vida do cristão. O autor faz uma exposição não só bíblica, mas histórica. Todo o conteúdo é importante, e a terceira parte chamou muito a minha atenção. Poucos são tão objetivos como dr. Bledsoe no que diz respeito à questão da verdadeira regeneração dos cristãos e às responsabilidades dos membros da igreja. Parabenizo o autor também pela exposição da disciplina dentro da igreja, um assunto quase inexistente entre muitas congregações. Recomendo a leitura desse tratado.
Dr. Jerry Key, missionário da International Mission Board da Convenção Batista do Sul (1959–1997), professor do Seminário Teológico Batista do Brasil e pastor de igrejas batistas na cidade do Rio de Janeiro (Fundão, Boas Novas, Memorial da Tijuca e Primeira da Barra).
O mais notável aspecto desse livro de eclesiologia é sua abrangência. David Bledsoe cobre todos dos assuntos principais em eclesiologia, com um foco marcante na regeneração da membresia da igreja, a qual ele identifica, de modo acertado, como uma ocorrência historicamente frequente nas igrejas batistas. No entanto, além da eclesiologia, o autor aborda a teologia como um todo, em particular a soteriologia, e apresenta uma parte extensa dedicada a história da igreja. Ele escreve com o coração de um pastor. Esse livro é extremamente prático, concebido não somente para ajudar pastores a lidar com uma gama enorme
de questões que qualquer pessoa enfrenta na liderança da igreja, mas também para ajudar todos os cristãos a entenderem e cumprirem seu chamado como membros do corpo de Cristo.
Dr. John S. Hammett, professor sênior de Teologia Sistemática e titular da cátedra John L. Dagg do Southeastern Baptist Theological Seminary.
Conheço o autor e discuti com ele os ensinamentos bíblicos sobre igreja. Embora eu não saiba ler em português, sei que sua mensagem sobre a importância da igreja regenerada é clara, tanto pelo que pude perceber dele quanto de outros que leram este livro. Sou grato pelo fato de que tais verdades bíblicas e históricas estejam sendo repetidas por David Bledsoe.
Dr. Mark Dever, pastor sênior da igreja Capitol Hill Baptist Church (Washington, D.C.) e presidente do ministério 9Marks.
É uma alegria poder contar com a obra do dr. Bledsoe, que preenche uma lacuna no campo da eclesiologia batista brasileira. É uma escrita piedosa e com um alto teor acadêmico, como sempre se verifica nos escritos do autor. Trata-se de verdadeiro manual eclesiológico que contempla uma larga pesquisa, servindo de aporte para o ambiente da igreja e o acadêmico. As perspectivas bíblica, histórica e contemporânea, bem como uma atenção especial ao tema da membresia e à doutrina da regeneração, complementarão a pesquisa e suprirão o campo editorial da eclesiologia batista no Brasil. Recomendo com entusiasmo!
Dr. Michel Augusto, pastor sênior da Igreja Batista Reformada de Brasília e reitor da Faculdade Teológica Reformada de Brasília.
Essa é uma obra fantástica e desafiadora! Sua base sólida e bem fundamentada vem satisfazer uma grande necessidade da igreja de Cristo. O autor é bíblico, preocupado em sustentar de maneira adequada suas conclusões, sempre nos estimulando à reflexão. Ele apresenta os mais variados e importantes aspectos da eclesiologia bíblica para uma igreja saudável. É uma leitura empolgante!
Já faz tempo que precisávamos de uma obra focada na eclesiologia, com fundamentação histórico-bíblica adequada, que abordasse os mais distintos pontos possíveis da doutrina da igreja e apontasse para seus reflexos na vida comunitária sem perder de vista a objetividade e a clareza. Pastores e outros líderes da igreja deveriam fazer de Igreja regenerada um livro de consultas!
Riedson Filho, pastor da Igreja Batista Sião em Salvador e professor de Teologia Sistemática do Seminário Teológico Batista do Nordeste (extensão Salvador).
IGREJA REGENERADA
Uma eclesiologia bíblica, histórica e contemporânea
DAVID ALLEN BLEDSOE
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
l l e n B l e d s o e ; c o o r d e n a ç ã o M i
- - 2 e d -S ã o J o s é d o s C a m p o s , S P : E d i t o r a F i e l , 2 0 2 4
I S B N 9 7 8 - 6 5 - 5 7 2 3 - 3 3 9 - 9
1 B í b l i a - E s t u d o s 2 C r i s t i a n i sm o -
E s s ê n c i a , n a t u r e z a , e t c 3 C r i s t i a n i s m o - H i s t ó r i a
4 E c l e s i o l o g i a 5 T e o l o g i a c r i s t ã I A l m e i d a ,
M i c h e l l e I I T í t u l o
2 4 - 2 0 1 2 7 4
Índices para catálogo sistemático:
D D - 2 6 2
1 E c l e s i o l o g i a : T e o l o g i a : C r i s t i a n i s m o 2 6 2
A l i n e G r a z i e l e B e n i t e z - B i b l i o t e c á r i a - C R B - 1 / 3 1 2 9
IGREJA REGENERADA: Uma eclesiologia: bíblica, histórica e contemporânea
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária
Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Nova Versão Internacional (São Paulo: Sociedade Bíblica Internacional, 2011), salvo indicação específica. Os destaques em itálico são do autor.
Diretor: Tiago J. Santos Filho
Editor-chefe: Vinicius Musselman Pimentel
Editor: Vinicius Musselman Pimentel
Coordenação Editorial: Gisele Lemes
Preparação: Gustavo Bonifácio
Revisão: Paulo Valle
Diagramação: Rubner Durais
Capa: Rubner Durais
ISBN capa dura: 9786557233399
ISBN e-book: 9786557233382
Caixa Postal 1601
CEP: 12230-971
São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
À
próxima geração de pastores e missionários de língua portuguesa que almejam viver para seu Deus e liderar suas igrejas de acordo com a Palavra.
e símbolos ................................................................................................................. 41
1 | Uma introdução sobre o estudo da eclesiologia.................................................................. 43
PARTE 1: PERSPECTIVA BÍBLICA
2 | Vislumbres da igreja no Novo Testamento .......................................................................... 59
3 | Pistas sobre a igreja a partir da missão de Deus................................................................... 79
4 | Igreja: alicerçada no evangelho de Jesus ............................................................................ 101
5 | Igreja: uma comunidade da aliança .................................................................................... 117
6 | Igreja: edificando discípulos na fé e na vida 135
PARTE 2: PERSPECTIVA BÍBLICA NA HISTÓRIA
7 | As igrejas no período pós-apostólico ................................................................................. 161
8 | A situação cristã complexa do período medieval ............................................................. 181
9 | A Reforma Protestante: buscando resgatar o evangelho e a igreja 207
10 | Os efeitos do princípio sola Scriptura e uma síntese sobre as igrejas verdadeiras ....... 225
PARTE 3: IGREJA REGENERADA: SUA IMPORTÂNCIA E AS PREOCUPAÇÕES ATUAIS
11 | Regeneração: a chave para discernir igrejas verdadeiras e discípulos genuínos 253
12 | Sintomas preocupantes relacionados à membresia eclesiástica e suas causas ......... 273
13 | Argumentos em prol da membresia eclesiástica ............................................................ 299
PARTE 4: ELEMENTOS BÍBLICOS E DE PRUDÊNCIA QUE
APÊNDICES
ESBOÇO ANALÍTICO
Capítulo 1: Uma introdução sobre o estudo da eclesiologia
1.1 Alicerces e estruturas da igreja
1.2 A essencialidade da igreja na missão de Deus
1.3 Respostas a perguntas sobre este tratado
a. Que sinais revelam que uma igreja possui problemas preocupantes?
b. Como o tema do livro se relaciona ao crescimento de uma igreja?
c. Qual é a perspectiva da obra sobre estratégias e programas?
d. Como o tema será abordado?
e. Para onde o livro vai a partir de agora?
1.4 Dicas ao leitor em oração
1.5 Guia para reflexão e discussão
PARTE 1: PERSPECTIVA BÍBLICA
Capítulo 2: Vislumbres da igreja no Novo Testamento
2.1 Igreja: o seu significado
2.2 Igreja: o que ela não significa
a. Igreja universal e igreja local
b. Igreja e reino de Deus
c. Igreja e Israel
2.3 Metáforas bíblicas sobre a igreja
a. Povo de Deus
b. Família
c. Corpo de Cristo
d. Edifício espiritual, casa de Deus, templo do Espírito Santo
e. Lista de outras figuras
2.4 Destaques do capítulo
2.5 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 3: Pistas sobre a igreja a partir da missão de Deus
3.1 Missão de Deus em sua criação
3.2 Missão de Deus em sua redenção
a. Abraão
b. O povo de Israel
c. Jesus Cristo
d. Discípulos de Jesus
3.3 Missão de Deus por meio de alianças
3.4 Missão de Deus por meio de sua igreja
3.5 Destaques do capítulo
3.6 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 4: Igreja: alicerçada no evangelho de Jesus
4.1 Igreja e discípulos: suas identidades no evangelho
4.2 Conteúdo do evangelho
a. Evento histórico
b. Plano divino executado
c. Realização definitiva
d. Oferta estendida a todos
e. Inúmeros benefícios recebidos
f. Requer aplicação pessoal e correta
4.3 Destaques do capítulo
4.4 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 5: Igreja: uma comunidade da aliança
5.1 Relação entre aliança e conversão
5.2 Como participamos na nova aliança
a. Arrepender-se e crer no evangelho
1. Fé
2. Arrependimento
b. Obedecer ao evangelho
5.3 A parte de Deus na nova aliança
5.4 Destaques do capítulo
5.5 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 6: Igreja: edificando discípulos na fé e na vida
6.1 Crenças e práticas para as igrejas e os discípulos
6.2 Algumas crenças fundamentais
a. As Escrituras
b. Deus
c. Outras doutrinas essenciais
1. Homem
2. Salvação e seus desobramento correlacionados
3. Discípulo de Cristo
4. Sacerdócio de todos os crentes
5. Responsabilidades civis
6. Vocação
7. Casamento e família
8. Outros seres espirituais
9. Volta iminente de Cristo
10. Ressurreição dos mortos
6.3 Sumário de ordenanças cristãs
a. Grande mandamento
b. Dez Mandamentos
c. Sermão do Monte e suas diretrizes
d. Novo mandamento
e. Observância das duas ordenanças
f. Mutualidade
g. Submissão às autoridades
h. Piedade
i. Grande Comissão
6.4 Destaques do capítulo
6.5 Guia para reflexão e discussão
PARTE 2: PERSPECTIVA BÍBLICA NA HISTÓRIA
Capítulo 7: As igrejas no período pós-apostólico
7.1 Perseguidas, mas com repostas admiráveis
7.2 Lutas internas contra falsos mestres
7.3 Algumas contribuições notáveis
a. Cânon consolidado do Novo Testamento
b. Catequeses que enfatizam os ensinos principais
c. Credos que definem pontos críticos da fé
7.4 De seita para religião aceita
7.5 Falha gradativa em preservar os ensinos dos apóstolos
7.6 Destaques do capítulo
7.7 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 8: A situação cristã complexa do período
medieval
8.1 Igreja Católica Apostólica Romana: única referência cristã
8.2 Salvação pelo sistema sacramental
a. Quatro sacramentos dos ritos de passagem
b. Sacramento que provê poderes eclesiásticos
c. Sacramento da segunda conversão
d. O sacramento dos sacramentos
e. Breve análise bíblica e suas implicações
8.3 Fontes de autoridade divina além das Escrituras
a. Breve análise bíblica e suas implicações
8.4 Alguns enredamentos dessas alterações extrabíblicas
a. Analfabetismo bíblico
b. Misticismo fomentado
c. Liderança eclesiástica inacessível e imutável
8.5 Destaques do capítulo
Capítulo 9: A Reforma Protestante: buscando resgatar o evangelho e a igreja
9.1 Movimento restaurador marcante e necessário
a. Alguns lugares e personagens
b. Sua necessidade inevitável
9.2 As duas questões cruciais
9.3 Sola Scriptura: suprema proeminência das Escrituras
a. Advento dessa convicção
b. Significado e implicações
9.4 Destaques do capítulo
9.5 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 10: Os efeitos do princípio sola Scriptura e uma síntese sobre as igrejas verdadeiras
10.1 Repercussões intrínsecas do princípio sola Scriptura
a. Abolição de outras fontes reveladoras
b. Retorno ao entendimento correto do evangelho
c. Restabelecimento da doutrina do sacerdócio de todos os crentes
d. Primazia da pregação da Palavra
e. Recuperação do significado e da prática dos sacramentos
10.2 Marcas bíblicas das igrejas verdadeiras
a. A fiel pregação da Palavra e a correta celebração das ordenanças
b. Disciplina restauradora
c. Membresia regenerada
d. Outras marcas esclarecedoras
10.3 Destaques do capítulo
10.4 Guia para reflexão e discussão
PARTE 3: IGREJA REGENERADA, SUA IMPORTÂNCIA E AS PREOCUPAÇÕES ATUAIS
Capítulo 11: Regeneração: a chave para discernir igrejas verdadeiras e discípulos genuínos
11.1 Definição bíblica de igreja
a. Recapitulando o que já foi estudado
b. Definição concisa de uma igreja
c. Coesão = quatro marcas + definição
11.2 Pontos básicos da membresia regenerada
a. Seu significado e seus traços
b. Justificativas iniciais para a inclusão do batismo
c. Sua lógica bíblica
d. Respostas às resistências mais comuns
11.3 Destaques do capítulo
11.4 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 12: Sintomas preocupantes relacionados à membresia eclesiástica e suas causas
12.1 Sinais preocupantes: avaliação de sua igreja
a. Condição espiritual dos membros não tratados
b. Carência de vivência e mutualidade cristãs
c. Alguns pecados graves tolerados
d. Rol de membros desproporcional ou inexistente
e. Ser conhecida pelas divisões e pelos escândalos
f. Ausência de reuniões deliberativas expressivas
g. Ordenanças celebradas de forma individualista
h. Visitantes, porém, com status de membros
i. Afastamento dos filhos, durante sua juventude, da vivência cristã
j. Outras atividades no culto tomando o espaço da Palavra
12.2 Algumas causas desafiadoras
a. Inclinações individualistas e consumismo crescente
b. Enfraquecimento das alianças cíveis, e em especial da família
c. Igreja de seita para aceita aos olhos da sociedade
d. Redenção espiritual e ascensão social
e. Fator neopentecostal
f. Visão superficial da conversão
g. Disciplina em declínio
h. Deficiência na compreensão da igreja
i. Ministério pastoral fora dos critérios bíblicos
j. Pouca ênfase sobre a ressurreição dos mortos
12.3 Destaques do capítulo
12.4 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 13: Argumentos em prol da membresia eclesiástica
13.1 Razões para pertencer a uma igreja como membro
a. Vontade de Deus para todos os discípulos de Cristo
b. Contexto indispensável para expressar lealdade ao rei Jesus
c. Sociedade que representa o reino de Deus na terra
d. Âmbito ordenado para aprender e viver a Palavra de Deus
e. Promove relacionamentos saudáveis e edificantes
f. Vivencia a necessária submissão cristã
g. Oferece o apoio necessário para perseverar na fé cristã
h. Ambiente primário para cumprir a Grande Comissão
i. Prepara os discípulos, já nesta vida, para eternidade
j. O amor de Cristo merece e demanda esse compromisso
13.2 Fragilidade dos evangélicos sem vida eclesial
13.3 Benefícios da preservação da membresia regenerada
13.4 Destaques do capítulo
13.5 Guia para reflexão e discussão
PARTE 4: ELEMENTOS BÍBLICOS E DE PRUDÊNCIA QUE
ASSEGURAM A MEMBRESIA REGENERADA
Capítulo 14: A busca da pureza e o batismo
14.1 A pureza da igreja e sua prática apropriada
14.2 Batismo
a. Significado
b. Aspectos relacionados à sua prática apropriada
1. Candidato
2. Modo
3. Contexto eclesial
4. Administrador
5. Fórmula trinitária
6. Momento adequado
c. Dimensão das consequências para a membresia
d. Irregularidades contemporâneas a evitar
e. Síntese
14.3 Destaques do capítulo
14.4 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 15: A ceia do Senhor e seus aspectos riquíssimos
15.1 Significado
15.2 Presença de Cristo na ceia
15.3 Correlação da ceia com a igreja e o batismo
15.4 Quem pode participar
a. Comunhão aberta e suas versões
b. Comunhão consistente e suas versões
15.5 Aspectos relacionados à prática apropriada da ceia
a. Participantes
b. Contexto eclesial
c. Administrator
d. Frequência
e. Elementos
15.6 Irregularidades contemporâneas a evitar
15.7 Destaques do capítulo
15.8 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 16: Governo e disciplina congregacionais
16.1 Base bíblica para a visão congregacional de governo
16.2 Disciplina eclesiástica
a. Reconhecimento de suas duas naturezas
b. Explorando a natureza corretiva
1. Obrigação bíblica da igreja
2. Objetivos
i. Protege a membresia de seus males
ii. Restaura amorosamente o pecador
iii. Ensina santidade e expõe o pecado
iv. Preserva a integridade do evangelho e da igreja
3. Tratamento diferenciado para ofensas distintas
4. Critério para excomunhão
5. Outros conselhos
16.3 Destaques do capítulo
16.4 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 17: A liderança congregacional por meio de seus oficiais
17.1 Ofício do pastor
a. Seus requisitos básicos
b. Questão de um ou mais pastores
17.2 Ofício do diácono
a. Seus requisitos básicos, sua autoridade e suas funções
b. Outros conselhos
17.3 Destaques do capítulo
17.4 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 18: Alguns elementos na categoria de prudência cristã
18.1 Crenças, compromissos e protocolos expressados e unificados
a. Pacto de compromisso
1. Justificativas
2. Exemplos recentes na história e sua influência
3. Relevância na vida da igreja
b. Confissão doutrinária
1. Justificativas
2. Exemplos na história e sua influência
3. Relevância na vida da igreja
c. Outros documentos da igreja alinhados ao pacto e à confissão
18.2 Cooperação intereclesial e verificações internas criteriosas
a. Colaboração intereclesial e sua triagem
b. Avaliações internas e sua triagem
18.3 Destaques do capítulo
18.4 Guia para reflexão e discussão
Capítulo 19: Um convite final à prática
19.1 Breve revisão
19.2 Correções de curso
APRESENTAÇÃO
Amanhã do dia 12 de janeiro de 2007 parecia mais um dia comum na movimentada estação de metrô L’Enfant Plaza, em Washington, D.C. Um jovem vestindo calça jeans, camiseta e boné tira um violino do estojo e começa a tocar. Seria apenas mais um artista a se apresentar na estação do metrô? A pessoa era Joshua Bell, considerado por muitos um dos mais notáveis violinistas da atualidade. O instrumento que ele tocou era um raríssimo Gibson ex-Huberman, feito à mão em 1713 pelo renomado Antonio Stradivari, um dos violinos mais cobiçados do mundo, avaliado em 3,5 milhões de dólares. A música que Bell tocou naquela manhã foi Chaconne, Partita nº 2, em ré menor, aclamada como a peça musical mais extraordinária da história. Qual foi a reação do público? Das centenas de pessoas que estavam passando por ali, apenas sete pararam para ouvi-lo. Agitadas, apressadas, ensandecidas pela tirania da agenda, elas perderam aquele preciosíssimo e gratuito espetáculo de sons que tanto bem fazem ao coração. O jornal Washington Post, que havia patrocinado aquela apresentação anônima, noticiou, em matéria publicada no dia 8 de abril de 2007, que o objetivo era avaliar o gosto, as prioridades e a percepção do público. A maioria das pessoas perdeu a oportunidade singular de
ouvir a beleza da música tocada com tanta habilidade e tanta excelência por um dos maiores músicos contemporâneos.
A beleza da igreja tem sido ignorada por muitos que têm olhos, mas não enxergam. Os acordes da graça que o Espírito Santo tem produzido por meio da igreja de Cristo não estão encontrando ouvidos atentos. Um dos problemas mais graves no contexto da igreja evangélica brasileira, sem dúvida, é a falta de entendimento bíblico sobre a natureza da igreja, sua origem, sua missão e seu destino. Boa parte dos cristãos tem uma visão distorcida, limitada e caricata da igreja de Jesus Cristo. No ideário popular, a igreja é associada a um prédio e a uma estrutura com endereço. A igreja tem sido apequenada e reduzida a um lugar que o indivíduo frequenta, um point da religião dominical adequado aos rituais em busca de benefícios. Um entendimento errado sobre a igreja é uma tragédia.
O coração da pessoa vai sendo blindado, os olhos, embaçados e os ouvidos, ensurdecidos, até que a beleza não é mais vista e os sons da graça não são mais apreciados.
O processo pelo qual os cristãos perdem de vista o entendimento bíblico sobre a igreja pode ser comparado a uma erosão.
O dicionário Aurélio define erosão nos seguintes termos: “ato de um agente que erode, que corrói pouco a pouco; o resultado desse ato”.1 Portanto, esse processo é lento, silencioso e sutil. Lento, pois demanda muito tempo; silencioso e sutil, pois acontece sem alarde. No entanto, se não forem contidos, os resultados da erosão podem ser terríveis. Os cristãos precisam ter seus olhos abertos para enxergar a beleza da igreja de Cristo, a fim de glorificar o Senhor que a amou e a si mesmo se entregou por ela (Ef 5.25). “A igreja que
1 “Erosão”, in: Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo dicionário eletrônico Aurélio, versão 5.11a (Curitiba: Positivo, 2004).
amamos é tão falha e confusa como nós somos, mas ela é a noiva de Cristo. Seria mais fácil eu ter um alicerce sem casa ou uma cabeça sem corpo do que desprezar a esposa que o meu Salvador ama”.2
O livro do dr. Bledsoe é uma obra de Eclesiologia que busca corrigir perspectivas equivocadas. A doutrina da igreja é apresentada de forma clara e consistente, com o objetivo de ajudar os leitores a ampliar a visão e a aprofundar o entendimento bíblico sobre a igreja de Cristo. Em linhas gerais, o livro se propõe a responder a três importantes perguntas que fazem toda diferença para aqueles que buscam conhecer a verdade sobre a igreja de Jesus Cristo: O que a Bíblia ensina sobre a igreja? O que podemos aprender com a história da igreja? Como discernir uma igreja verdadeira?
Sob uma perspectiva bíblica, Bledsoe apresenta ao leitor uma ampla visão do que significa ser igreja no Novo Testamento. O livro não é um castelo de areia construído sobre lucubrações vazias e teses suspeitas. Bledsoe apresenta um panorama bíblico da igreja. O ensino das sagradas Escrituras é a base a partir da qual é traçada uma distinção necessária entre a verdade revelada e as caricaturas forjadas. Um mosaico de metáforas bíblicas é destacado para mostrar a beleza da igreja e sua riqueza espiritual. O resgate do conceito de missão, tão lamentavelmente distorcido em nossos dias, é outro ponto interessante neste livro. A missão é de Deus, e ele está operando por meio de sua igreja. O evangelho de Jesus Cristo é o alicerce da igreja, a pedra fundamental que a sustenta. Existe uma profunda conexão entre o evangelho e a igreja, que é a comunidade da aliança. Os discípulos de Jesus creem na Palavra e buscam viver de um modo que seja digno do evangelho.
2 Kevin DeYoung; Ted Kluck, Por que amamos a igreja (São Paulo: Cultura Cristã, 2018), p. 20.
Através de um estudo criterioso, o autor elabora um panorama histórico dos principais períodos da história da igreja, com o propósito de identificar suas fraquezas e virtudes, seus desvios e reformas ao longo dos séculos. Sua intenção é mostrar como esse olhar retrospectivo pode ajudar a igreja a enfrentar seus desafios, sem perder sua identidade e sua missão. A perseguição sofrida nos três primeiros séculos, a importante formação do cânon das Escrituras, o edito de tolerância e a subsequente oficialização do cristianismo como religião do Império tiveram muitas implicações que são adequadamente avaliadas pelo autor. A Idade Média foi um longo e complexo período da história. No que tange às doutrinas relacionadas à igreja e à salvação, houve desvios graves que distorceram o ensino e as práticas cristãs. O dr. Bledsoe faz uma análise teológica do conceito de sacramento, do modelo de liderança eclesiástica que se consolidou nesse período e de como tudo isso afetou a igreja. A Reforma Protestante, da qual somos herdeiros, também é objeto de considerações pertinentes. A autoridade das Escrituras, o resgate do evangelho, a suficiência da graça e a centralidade de Cristo na vida da igreja são temas expostos com muita consistência.
Bledsoe demonstra um cuidado pastoral com a definição de uma igreja verdadeira e saudável. Sua ênfase, em resposta aos dilemas da igreja contemporânea, é a membresia regenerada. Ele identifica sintomas que indicam que algo está errado e que precisa ser corrigido. Uma abordagem prática e muito instrutiva de como lidar com problemas reais que não podem ser tolerados, sob pena de adoecer a igreja ou de colocar sob suspeição a autenticidade da membresia regenerada. Batismo, ceia do Senhor, disciplina bíblica e governo da igreja são temas centrais, razão pela qual o autor
apresenta, com muita propriedade, a perspectiva bíblica. Os leitores são encorajados a refletir sobre verdades e práticas essenciais sem as quais uma igreja não pode ser reputada como verdadeira e saudável.
Sinto-me profundamente honrado pelo privilégio de escrever a apresentação deste precioso livro. O dr. David Allen Bledsoe tem sido uma bênção para a igrejas brasileiras. Há décadas, ele tem servido como missionário no Brasil, especialmente na docência teológica e na mentoria de pastores. Somos testemunhas de seu esforço exemplar para servir a igreja de Cristo com excelência, integridade e alegria. Vale a pena ouvi-lo — e aprender com ele.
Meu sincero desejo é que Deus seja glorificado, e sua igreja, edificada. Boa leitura!
Soli Deo Gloria Judiclay S. Santos
Pastor da Igreja Batista do Jardim Botânico
Diretor da Pro Nobis Editora
PREFÁCIO
Sempre que um irmão cristão descobria que eu estava escrevendo este livro, uma pergunta comum surgia: “Então, qual é o assunto?”. E eu respondia: “A igreja”, pois queria medir seu interesse e saber se a conversa continuaria. Quase todos, felizmente, manifestaram entusiasmo no tópico e compartilharam comigo seus próprios sentimentos e, às vezes, suas experiências frustrantes.
Depois de brevemente explicar as quatro divisões deste tratado, eu comumente ouvia também esta afirmativa: “Nós realmente precisamos desse tipo de livro. Quero lê-lo quando for publicado”. Alguns até deram sugestões a serem incluídas, aos quais escutei com atenção.
Essa declaração repetida me incentivou. Muitos crentes realmente têm interesse nos mesmos assuntos e ideias aqui abordados sobre a igreja. Isso significa que o empenho doloroso de pesquisa, escrita e revisões valeu a pena. Mais importante, talvez, foi a avaliação de que, em nossos dias, há necessidade de uma obra como esta.
Como sintetizo no último capítulo, quando falo sobre o porquê deste tratado, eu queria refletir com meus leitores, de forma profunda, acerca do que Deus revelou sobre o evangelho, da nossa obediência a Cristo e da igreja como uma comunidade de
discípulos em nova aliança com seu Deus. Parece que estamos meio perdidos sobre muitos desses rudimentos bíblicos e sua correlação. Para recuperá-los em nossas igrejas, precisamos primariamente entendê-los de acordo com as Escrituras, comunicá-los fiel e repetidamente e, então, aplicá-los de modo apropriado.
Eu tive o privilégio da vivência congregacional como membro da igreja desde minha mocidade. Além disso, fui abençoado ao estudar em um seminário teológico que afirmava a fé evangélica histórica. Mesmo com tais experiências, confesso que ainda faltavam algumas peças sobre a igreja em minha compreensão, as quais eu tive que ajuntar por causa de minha própria necessidade cristã e dos meus alunos. Por isso, talvez o melhor título para este livro seja: O que eu queria que alguém me ensinasse sobre a igreja 25 anos atrás, antes de entrar no ministério.
Meu público-alvo, portanto, consiste na próxima geração de pastores, missionários e outros crentes comprometidos com suas igrejas. Espero que eles possam assimilar muito mais cedo o que muitos de nós deveríamos ter assimilado. Meu anseio, em especial, é ajudar esse jovem pastor a entender melhor o seu papel, bem como ajudar a igreja que ele assumiu ou vai em breve assumir como o principal líder espiritual do rebanho. A fidelidade da membresia e o cumprimento de sua missão dependem muito desse homem.
Sem dúvida, incontáveis periódicos que falam direta ou indiretamente sobre eclesiologia têm me ajudado. Mesmo assim, muitas vezes me senti frustrado. A maioria deles descreve apenas “uma parte do elefante”, por assim dizer. Eu ansiava por encontrar uma publicação mais abrangente.
Por conseguinte, este texto oferece — na minha humilde opinião — algumas distinções, as quais espero que meus leitores
apreciem. Em primeiro lugar, várias disciplinas pertinentes à igreja são empregadas com uma abordagem integrada; essas áreas incluem teologia — soteriologia, eclesiologia (claro!), estudos bíblicos, teologia histórica, missiologia e ética cristã —, e também história e sociologia. Em segundo lugar, muitos capítulos se sobrepõem para reforçar os conceitos principais antes de dar ao conteúdo sua continuidade. Além disso, este trabalho se destina aos leitores lusófonos, à luz do meu convívio e ministério no Brasil na minha maior parte de minha vida adulta.
Por último, a terceira e quarta partes enfocam na membresia regenerada, ou seja, significativa. Seus capítulos destacam certos sinais preocupantes em relação a esse ideal e como congregações de discípulos cristãos podem manter, ou recuperar em muitos casos, sua vitalidade espiritual e obediência a Deus.
Embora meu nome esteja na capa deste livro e suas páginas contenham meus pensamentos, esta publicação é, em muitos sentidos, resultado de um trabalho em grupo. Por isso, reconheço as contribuições dos servos que Deus usou para moldar meu próprio entendimento, certificar esse conteúdo e me incentivar ao longo do caminho.
Agradeço ao Senhor por todas as igrejas pelas quais tenho passado ao longo de minha vida cristã. Por meio dessas comunidades da aliança, recebi instrução bíblica e encorajamento, aprendi a servir e ministrei de diferentes formas. Há muita graça divina a ser recebida que vem apenas por meio da comunhão com seu povo, e sou testemunha dessa afirmação.
Agradeço também a certos teólogos, alguns deles missionários, que impactaram profundamente meu pensamento por meio de conversas pessoais e dos insights em seus textos. Ainda que eu
falhe em mencionar todos, estes homens vieram à minha mente: Ken Keathley, John Hammett, John Ewart, Marcos Johnson e o saudoso Ronaldo Rogers.
Também fui abençoado pelos servos do ministério 9Marcas, que levantam a bandeira da eclesiologia bíblica. Já estava aprendendo de seus ensaios mesmo antes que eu soubesse que essa organização existia. Isso também me leva a agradecer aos pastores
Tiago Santos e Vinícius Musselman, da Editora Fiel, o principal braço do ministério 9Marcas no Brasil, pois me apoiaram neste projeto e me deram dicas ao longo do empreendimento.
Além dessas pessoas mencionadas, há inúmeros pastores brasileiros que compartilharam comigo suas experiências e preocupações. Em muitas ocasiões, por fornecer treinamento e meditar juntamente com eles em soluções necessárias, eu tive o privilégio de andar com alguns desses servos e de caminhar com suas respectivas igrejas bem de perto. Alguns pontos abordados nos capítulos vieram desses intercâmbios e das lições que me ensinaram.
Em se tratando da assistência textual que recebi, agradeço a Elaine Okasawara, que recebeu cada capítulo escrito em língua portuguesa, mas ainda parcialmente em inglês, e aplicou seus talentos para produzir um impressionante rascunho de trabalho.
Além dela, o pr. Odécio Pena Garcia se sentou ao meu lado quase a cada semana ao longo de dois anos para ler e reler cada palavra. O pr. Dilean Melo fez o segundo passo de revisão comigo e ofereceu algumas dicas criteriosas sobre o conteúdo. Esses três foram alguns dos meus maiores auxílios para tomar meus pensamentos e garantir que minhas palavras fossem claras em português, a língua que eu vim a admirar.
Minha oração é que, em sua graça, Deus use este livro para servir à igreja, que, por meio dele, congregações cristãs prosperem e levem o evangelho mais distante, de modo mais abrangente e também com mais responsabilidade. Além disso, oro para que esta obra ajude cada leitor a entender seus privilégios e os deveres divinos para consigo como um discípulo de Cristo e, também, membro de uma de suas igrejas.
Fraternalmente em Cristo Jesus, David Allen Bledsoe
ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
apud citado por A21 Almeida Século 21
a.C. antes de Cristo
CIC Catecismo da Igreja Católica [Romana]
d.C. depois de Cristo
c. cerca de, por volta de cf. confira, compare
ed. edição; editor
e.g. por exemplo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ibid. na mesma obra
ICAR Igreja Católica Apostólica Romana
JUREP Junta de Educacao Religiosa e Publicacoes; Casa Publicadora Batista
EUA Estados Unidos da América
in em
i.e. isto é
NVI Nova Versão Internacional
n.b. note bem obs. observação
org. organização de
op. cit. obra citada anteriormente
p. página
QCL Quarto Concílio Laterano [ou, de Latrão]
sic escrito na obra assim
s.d. sem data
SEBTS Southeastern Baptist Theological Seminary
s.l. sem identificação do local
s.p. sem paginação
vol. volume § seção, parágrafo, artigo
UMA INTRODUÇÃO
SOBRE O ESTUDO DA
ECLESIOLOGIA
[…] edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la (Mt 16.18).
Conforme a graça de Deus que me foi concedida, eu, como sábio construtor, lancei o alicerce, e outro está construindo sobre ele. Contudo, veja cada um como constrói (1Co 3.10).
Oque vem à nossa mente quando pensamos sobre a fundação estrutural dos edifícios que usamos no dia a dia? Provavelmente muito pouco, mas acho oportuno refletirmos sobre essa questão. Nossos olhos não veem nada, ou quase nada, das fundações e estruturas que sustentam as casas, os prédios, as estradas e pontes. Mesmo assim, dependemos todos os dias de sua estabilidade e integridade.
Para ilustrar, eu jamais poderia estar neste escritório escrevendo esta frase se não fosse o alicerce e o sistema estrutural que estão seis andares abaixo do meu apartamento e se estendem por mais onze andares acima de minha residência. Sou grato aos engenheiros civis e pedreiros e aos demais profissionais que produziram os materiais usados na construção de meu edifício.
Entretanto, quando existem problemas estruturais por causa de uma falha no planejamento, execução malfeita do projeto ou falta de inspeção preventiva rotineira, as consequências podem ser enormes e até trágicas. Ao ouvir sobre essas consequências, as pessoas afetadas entram em choque e desespero, e, não raro, a imprensa investiga o caso e divulga as notícias ao público.
“O que deu errado?” “De quem é a culpa?” “Como isso tudo vai se desenrolar?”, são perguntas recorrentes.
Então, as autoridades anunciam que os ocupantes precisam evacuar o edifício até que haja um laudo dos especialistas com a solução, a qual geralmente é muito cara. Nesses casos, pessoas podem perder seus empregos, seus bens e até suas vidas, caso um aviso seja ignorado, ocultado ou descoberto tarde demais.
Em contrapartida, quando um edifício é construído sobre uma fundação adequada, com uma estrutura que o sustente e a devida manutenção, todos se beneficiam de sua estabilidade e propósito. Voltando ao assunto da minha atual residência, se um pilar no segundo andar tiver um problema, tanto o meu andar quanto os superiores estarão comprometidos. Enfim, qualquer prédio ou casa depende de sua fundação e da integridade das estruturas sobre as quais estiver construído. Aplicaremos essa analogia agora no contexto da igreja à qual cada um de nós pertencemos.
1.1 ALICERCES E ESTRUTURAS DA IGREJA
Deus descreve a igreja como um edifício. Ele também a chama de templo — uma clara conexão com a metáfora do edifício (e.g., 1Co 3.10-17; Ef 2.19-22; 1Pe 2.5). Essas metáforas não se referem a tijolos e argamassas físicos. As duas imagens bíblicas, juntamente com outras que veremos adiante, ilustram aspectos
muito pertinentes sobre a experiência coletiva dos discípulos de Cristo. O tema igreja, portanto, não pode ser negligenciado, uma vez que ela é proveniente da sabedoria de Deus, bem como de sua missão e do evangelho em si.
O próprio Jesus prometeu confiadamente: “edificarei a minha igreja” (Mt 16.18). Entretanto, o Novo Testamento também revela que os discípulos de Cristo têm um papel integral em sua edificação. De maneira espantosa e maravilhosa, nosso Senhor usa crentes imperfeitos para que se cumpra sua missão de estabelecer e expandir a sua igreja (Mt 16.19; 1Co 3.10; 2Co 13.10). Tanto sua fundação quanto sua construção são de grande interesse para Deus e para a própria congregação. Assim, esse tópico não pode ser deixado de lado.
Todavia, em que medida nós reconhecemos a fundação espiritual de nossas respectivas igrejas e a maneira pela qual construímos sobre ela, refletindo criticamente a esse respeito e em constante oração? Receio que pensemos muito pouco sobre esse assunto. E aí reside um problema silencioso e muito perigoso que ameaça a fidelidade e a saúde de muitas igrejas. Deixe-me explicar.
Da mesma forma que ocorre com um edifício físico, um planejamento inadequado, trabalho descuidado e falta de avaliação periódica podem gerar uma igreja infiel e doente. Como consequência, a maturidade espiritual será inatingível e o crescimento numérico meramente ilusório. É possível dizer, sem exagero, que a forma como construímos e preservamos nossas igrejas é uma questão de vida ou morte.
Faço uma crítica pessoal a respeito das igrejas às quais já pertenci como líder e, às vezes, pastor, tendo inúmeras oportunidades de ajudar. Essas igrejas parecem possuir cada vez menos
o que podemos chamar de os elementos fundamentais e estruturais que proporcionariam uma comunhão cristã verdadeira, isto é, da maneira ordenada e ilustrada no Novo Testamento. Essa afirmação, entretanto, me condena. E se essa crítica descreve sua experiência, condena você também, pois, em parte, cada membro determina a fidelidade e a saúde da igreja à qual pertence.
O que deu errado? A depender da própria história de uma igreja, alguns fundamentos-chave ou não foram bem entendidos em sua plenitude, ou foram negligenciados por algum tempo, ou simplesmente foram sendo corroídos por gerações. Há crentes que se lembram da existência desses rudimentos no passado, enquanto outros, infelizmente, só os experimentaram parcialmente, e há até os que duvidam da sua necessidade hoje em dia.
Muitos, quando compreenderam o significado e os propósitos desses fundamentos-chave de que vamos tratar, testificaram que esses elementos foram deixados de lado ou não estão sendo aplicados como deveriam. Um pastor amigo chegou a confessar: “Nenhum desses elementos está presente em minha igreja dessa forma!”. Essa descoberta lhe causou uma crise existencial, pois ele reconheceu sua responsabilidade perante o Senhor de cuidar do bem-estar daqueles que o próprio Deus lhe havia confiado (1Pe 5.1-4; Hb 13.17).
Na terceira parte deste livro, exploraremos algumas razões para essa corrosão e como Deus pode nos usar para levar nossas igrejas a um retorno gradual a uma obediência fiel em nossa geração. Antes, porém, iremos estabelecer as perspectivas bíblica e histórica sobre a igreja.
1.2 A ESSENCIALIDADE DA IGREJA NA MISSÃO DE DEUS
Antes de seguir adiante, reafirmaremos o valor eterno da igreja, seu significado social e seu propósito divino. Nosso Senhor Jesus morreu pela igreja, a qual se manifesta em congregações locais visíveis desde o Novo Testamento até nossos dias (cf. At 20.28; Ef 5.25). Essas congregações de discípulos, portanto, são a missão espiritual mais valiosa da terra. Nossas famílias dependem da fidelidade e da saúde dessas igrejas, e este mundo precisa desesperadamente delas, pois são elas que espalham o reino de Deus na terra, a mensagem do evangelho e seus desdobramentos.
A maneira pela qual enxergamos e estruturamos nossas congregações hoje determinará o legado do evangelho para as próximas gerações. Assim, faz-se necessário retornarmos à dura necessidade de tratar dos fundamentos e das estruturas com respeito às nossas igrejas.
1.3 RESPOSTAS A PERGUNTAS SOBRE ESTE TRATADO
Este livro foi escrito pensando no bem das igrejas atuais e vindouras. Por esse motivo, respondo algumas das possíveis perguntas que o leitor provavelmente queira saber de antemão sobre este estudo eclesiológico. Meu objetivo é que estas breves explicações motivem você a se interessar pelo conteúdo integral desta obra.
A. QUE SINAIS REVELAM QUE UMA IGREJA POSSUI PROBLEMAS PREOCUPANTES?
Há alguns indicadores iniciais que podemos usar para avaliar a fidelidade e a saúde — ou sua falta — da igreja a que pertencemos.
Se uma ou mais destas situações descrevem sua congregação, elas deverão gerar um misto de preocupação, tristeza, compaixão e alarme:
• Percebe-se que muitos membros estão simplesmente cumprindo um ritual semanal, e não convivendo como um grupo de discípulos que se apoiam mutuamente.
• O rol de membros está repleto de almas que não mais se conectam com a vida de sua igreja. Muitos inclusive já se afastaram, e ninguém mais sabe a respeito deles.
• Muitos filhos de membros pararam de participar de sua igreja ao entrar na vida adulta.
• Para ser membro fiel de sua igreja basta estar nos cultos, dar seu dízimo e não criar problemas para a equipe pastoral.
• Sua igreja sofre de má reputação por causa de conflitos mal resolvidos e/ou dilemas éticos entre os membros.
• O bairro ou a cidade em que sua igreja está localizada não sentiria falta dela caso deixasse de existir.
Esses tipos de cenários serão revisitados na terceira parte do livro. Para melhor analisarmos reflexões contemporâneas como essas é necessário primeiro estabelecermos fundamentos-chave por meio das Escrituras, bem como por meio de relatos históricos.
B. COMO O TEMA DO LIVRO SE RELACIONA AO
CRESCIMENTO DE UMA IGREJA?
Todo membro espiritualmente sensível anseia ver sua igreja crescer, tanto em piedade quanto numericamente. Além disso, cada um espera que sua igreja sirva como um agente do reino, que faça diferença em seu bairro ou cidade e, de algum modo, no mundo. Este tratado, contudo, vai em outra direção, a qual esses aspectos correlacionados requerem.
Da mesma maneira que a fundação e aquilo que é construído sobre ela são aspectos indispensáveis a qualquer edifício, a mesma aplicação pode ser feita em relação a uma igreja. Por meio de sua Palavra, Deus tem revelado todas as suas instruções e mandamentos para que os líderes das igrejas sigam e guiem suas respectivas congregações de acordo com sua vontade. Deus Pai e Filho também enviaram seu Espírito, a fim de dar entendimento, poder e habilidades a suas igrejas. Esses recursos divinos já oferecem todo o necessário para que cada uma delas cumpra sua missão.
Ainda que crescimento numérico seja uma das bênçãos que um corpo de crentes pode desfrutar, as Escrituras apontam claramente que Deus se preocupa primordialmente com nossa fidelidade e nosso crescimento no Senhor Jesus como seus discípulos. Portanto, este livro se propõe a tratar do que o Senhor quer que sua igreja seja, em que quer que ela creia e o que quer que ela faça em cada geração, para que cresça em Cristo e o faça de modo saudável.
Nenhuma igreja deve ser contra crescimento numérico ou projetos sociais, ambos são legítimos. Porém, nossa abordagem nos levará a contemplar de que modo os membros obedecem ao evangelho juntos, como uma igreja composta de discípulos de Cristo, o que levará ao seu amadurecimento no evangelho e à disseminação das boas-novas tanto perto quanto longe, ou seja, em sua região tanto quanto no mundo. Esse entendimento, objetivo e empenho em relação ao “crescimento do evangelho” (termo, talvez, mais acertado)1 é central, não importando o contexto cultural de uma congregação e seu tamanho atual ou futuro.
1 Tony Payne; Colin Marshall, A treliça e a videira: a mentalidade de discipulado que muda tudo (São José dos Campos, SP: Fiel, 2015), p. 32, 33, 89-92.
C. QUAL É A PERSPECTIVA DA OBRA SOBRE ESTRATÉGIAS
E PROGRAMAS?
Nos últimos setenta anos, as igrejas têm vivido, como nunca, uma época de pesquisas, estratégias e programas. Muitos desses esforços têm abençoado inúmeras congregações e seus empreendimentos missionários. Alguns programas e métodos lançados no passado ainda estão presentes hoje, enquanto outros já caíram por falta de utilidade em sociedades em constantes mudanças; eles vêm e vão.
Metodologias e estratégias podem ser úteis, sem dúvida. Entretanto, a igreja é espiritual e comunitária em sua essência. Por isso, existem deveres de primeira ordem e crenças inegociáveis para os discípulos e as congregações que buscam viver sob a autoridade de Cristo.
À medida que uma igreja se esforça contínua e insistentemente para reafirmar suas crenças e seus deveres, ela poderá se beneficiar de métodos e programas que a liderança pastoral sabiamente examina em oração e introduz em seu meio. Este estudo eclesiológico, contudo, focará nas questões primárias, e não nas secundárias como programas e métodos.
Em suma, igrejas dependem primordialmente de seu alicerce e daquilo que cada membresia permite construir sobre ele. De outro modo, essas congregações verão pouca ou nenhuma transformação social e muito menos eterna. Como agravante, uma igreja pode até enganar seu povo e causar-lhe danos eternos.2 Estamos falando, mais uma vez, de uma questão de vida ou morte.
Este tratado sobre a igreja pode ser descrito como: biblicamente dirigido, historicamente observado e missionalmente aplicado. Espero que essa tríade possa ser percebida ao longo da leitura, cada um desses aspectos tem suas devidas justificativas. Primeiro, e acima de tudo, uma igreja precisa ser biblicamente dirigida. Isso quer dizer que os discípulos de Cristo deveriam centrar suas vidas, crenças e práticas na Palavra de Deus, tanto individualmente quanto coletivamente. Se a Bíblia é nossa regra de fé e prática, como nós evangélicos afirmamos, então aquilo que Deus ordenou merece nossa maior atenção e deve determinar nossos compromissos.
Segundo, historicamente observada significa que, através da história eclesial, seremos informados, inspirados e até advertidos, uma vez que as igrejas foram estabelecidas desde a época dos apóstolos. Esses cristãos nos servem de exemplo e de testemunho no que diz respeito ao seu entendimento e à sua aplicação da Palavra de Deus à vida e ao ministério, principalmente em suas igrejas e por meio delas. Aprenderemos deles e nos certificaremos de suas ideias e ênfases, e isso em comparação com nossos dias.
E, por último, a expressão missionalmente aplicada deriva intrinsecamente de ser biblicamente dirigida. As Escrituras claramente revelam que o Criador salva e preserva aqueles que ele redime para sua glória, para conformar à sua vontade e para espalhar suas boas-novas e os desdobramentos dela na terra. Esse cumprimento acontece principalmente no meio das igrejas, onde a Palavra de Deus é pregada e obedecida e seu Espírito Santo encoraja, edifica e guia os discípulos de Cristo. O cumprimento das ordenanças do Senhor Jesus, tais como o grande mandamento e a
Grande Comissão, manifestará a fidelidade e a vitalidade do discípulo e da congregação, bem como trará desdobramentos positivos à sociedade. Podemos dizer que essa experiência começa nas igrejas e, a partir delas, flui para fora “até os confins da terra” (Mt 28.20).
E. PARA ONDE O LIVRO VAI A PARTIR DE AGORA?
A primeira parte introduz o tema igreja de acordo com a perspectiva bíblica. Seu conteúdo nos dá a base para questões pertinentes como, por exemplo: Quem é a igreja? O que uma congregação deveria ser, em que deveria crer e o que deveria fazer? Como as igrejas se encaixam na missão de Deus? Desse modo, os capítulos 2 a 6 servirão como ponto de partida necessário para as demais partes.
A segunda parte apresenta uma seleção de eventos, ideias e pessoas que nos ajudarão a entender como os crentes professos entendiam a igreja em seus dias, como praticavam a fé cristã e o que deixaram como legado para as gerações posteriores. O capítulo 8 trata de um período sombrio, quando líderes do mundo ocidental praticamente deixaram de lado as Escrituras como sua suprema autoridade. Entretanto, vemos também o que aconteceu quando homens e mulheres voltaram a ler e a ouvir as Escrituras e se esforçaram para conformar seu viver e suas doutrinas à Bíblia. Essa análise histórica culmina no capítulo 10, ao esboçar alguns efeitos do sola Scriptura, conhecido como o princípio formal do movimento da Reforma, convicção básica das igrejas verdadeiras.
A terceira parte objetiva revisitar e resumir o que já foi aprendido. A definição de igreja é estabelecida e clarificada no capítulo 11, e a membresia regenerada recebe especial destaque ao longo dessa divisão, bem como da quarta parte. Veremos com mais precisão porque é essencial preservar esse ideal e o que levou ao seu
declínio em muitos contextos evangélicos contemporâneos. Além disso, o capítulo 13 oferece razões pertinentes para que cada discípulo de Cristo pertença a uma igreja de crentes comprometidos com o evangelho e uns com outros.
A quarta parte identifica os chamados fundamentos bíblicos, bem como outros princípios de prudência. Quando forem entendidos de acordo com o Novo Testamento e aplicados apropriadamente na igreja, esses elementos proveem, divinamente, o necessário para que a igreja seja fiel ao seu Deus e se aproxime cada vez mais do ideal da membresia regenerada. Em muitos sentidos, os capítulos 14 a 18, ao explorar esses elementos, se assemelham a um manual de igreja.
1.4 DICAS AO LEITOR EM ORAÇÃO
De modo intencional, escrevo contemplando as necessidades e os desafios da liderança de uma igreja local. Desejo que o texto seja benéfico especialmente àqueles que aspiram à nobre vocação de pastor, bem como àqueles que desejam servir nas igrejas de sua própria pátria ou em contextos transculturais. Por isso, questões implícitas relativas à igreja, as quais nem sempre recebem a devida atenção, são também trazidas neste tratado, e isso em virtude das dúvidas compartilhadas em sala de aula e das conversas pessoais com pastores e missionários ao longo dos anos. Tentei fazer com que o conteúdo fosse substancial, informativo, inspirador, desafiador e, ao mesmo tempo, de leitura acessível. Uma vez que mais informações poderiam ser facilmente acrescentadas, escolhi lançar mão das notas de rodapé com a finalidade de dar suporte às afirmações e fornecer explicações adicionais.
Cada capítulo, incluindo este, foi escrito de maneira que os líderes pudessem ler individualmente e, então, discutir coletivamente, em oração e dentro do espaço de uma semana. Oro para que os resultados a curto prazo gerem um santo descontentamento, isto é, sonhos de fidelidade para saúde de suas igrejas.
Além disso, suplico a Deus que, a longo prazo, o conteúdo resulte em uma busca por assegurar — e restaurar em alguns casos — as demandas bíblicas e em uma experiência comunitária que também proporcione a base para a igreja cumprir sua missão com maior eficácia.
Anseio, em especial, que a nova geração de pastores e membros se unam com o fim de levar as suas igrejas a um realinhamento bíblico, mantendo sempre em mente a paciência que Jó teve e a compaixão de Cristo. É um trabalho árduo, não obstante, que sejam dadas glórias a Deus, pois ele deu aos redimidos seu Espírito e sua Palavra para guiá-los neste nobre e eterno empreendimento (Mt 28.20; Ef 3.10, 11; 2Pe 1.3).
Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo sempre! Amém! (Ef 3.20, 21).
1.5 GUIA PARA REFLEXÃO E DISCUSSÃO
Para maior proveito, cada líder deve, antecipadamente, formular suas próprias respostas para as questões a seguir e, então, discuti-las com os membros do grupo quando estiverem refletindo sobre este capítulo.
1. A seção 1.1 diz que uma igreja precisa ter um sistema estrutural que ajude a promover e a manter sua fidelidade a Deus, bem como sua vitalidade e seu testemunho para o mundo. Jesus é quem edifica a igreja, mas os líderes são responsáveis pelo que constroem.
Em uma escala de 0 a 5 (sendo 0 = nenhum esforço; 5 = muito esforço), avalie a seguinte pergunta: O quanto a liderança de sua congregação tem refletido e trabalhado na construção e manutenção da estrutura eclesiástica necessária? O objetivo dessa questão não é gerar culpa em ninguém, mas discutir se a liderança tem dado a devida atenção a esse tema.
2. Na seção 1.3, foram dados cinco indicadores que normalmente revelam se há problemas elementares em uma igreja. Avalie se existem um ou mais em sua igreja. Recomenda-se que cada líder perceba os sinais por si mesmo e, então, os compartilhe com os membros do grupo para fazer um levantamento de suas opiniões. A confirmação coletiva comprovará que aquele desafio realmente existe, pois “na multidão de conselheiros, há segurança” (Pv 11.14b, ARA).
Terminem a discussão com um período de oração, pedindo a Deus que lhes dê sabedoria e unidade de convicção à medida que a leitura e a reflexão avançam.
O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus de fala portuguesa, fornecendo conteúdo bíblico, como literatura, conferências, cursos teológicos e recursos digitais.
Por meio do ministério Apoie um Pastor (MAP), a Fiel auxilia na capacitação de pastores e líderes com recursos, treinamento e acompanhamento que possibilitam o aprofundamento teológico e o desenvolvimento ministerial prático.
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