O Que é uma Igreja Saudável?

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MARK DEVER

Editora Fiel


O que é uma Igreja Saudável? Traduzido do original em inglês What is a Healthy Church? por Mark Dever Copyright © 2007 by Mark E. Dever and 9Marks Publicado por Crossway Books, um ministério de publicações de Good News Publishers Wheaton, Illinois 60187, U.S.A Esta edição foi publicada através de um acordo com Good News Publishers

Primeira Edição em Português © Editora FIEL 2009.

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Presidente: Rick Denham Presidente emérito: James Richard Denham Jr. Editor: Tiago Santos Tradução: Francisco Wellington Ferreira Revisão: Franklin Ferreira e Tiago Santos Diagramação: Spress Capa: Diego Baptista Arte Final: Edvânio Silva ISBN: 978-85-99145-64-7


Em gratidão a Deus por pastores fiéis que conheci: Harold Purdy Wally Thomas Ed Henegar

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Sumário

Prefácio: Uma parábola ....................................................................... 9 Introdução: O que você procura em uma igreja? ............................ 13

parte 1: o que é uma igreja saudável? ................................... 17 1 Seu cristianismo e sua igreja ........................................................... 2 O que é uma igreja... e o que não é .................................................. 3 O que toda igreja deve almejar: ser saudável................................. 4 Um guia crucial: como manifestar o caráter de Deus...................

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parte 2: marcas essenciais de uma igreja saudável ........ 53 5 Pregação expositiva......................................................................... 57 6 Teologia bíblica................................................................................ 63 7 Um entendimento bíblico das boas-novas.................................... 69

parte 3: marcas importantes de uma igreja saudável ........ 73 8 Um entendimento bíblico da conversão ....................................... 77 9 Um entendimento bíblico da evangelização ................................. 81

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10 Um entendimento bíblico da membresia ................................... 85 11 Disciplina bíblica na Igreja ........................................................... 91 12 Crescimento e discipulado bíblico .............................................. 97 13 Liderança bíblica na Igreja ......................................................... 103 14 Conclusão: o ponto mais importante ........................................ 109 Apêndice: um pacto típico de uma igreja saudável ....................... 113 Agradecimentos especiais ............................................................... 115

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Prefácio: uma parábola

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eus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós” (1Co 12.18-21). Nariz e Mão estavam assentados e conversavam na igreja. O culto da manhã, conduzido por Ouvido e Boca, havia terminado, e Mão estava dizendo a Nariz que ele e sua família tinham decidido procurar uma igreja diferente. “Verdade?”, reagiu Nariz à notícia dada por Mão. “Por quê?” “Oh! Eu não sei!”, respondeu Mão, olhando para baixo. Ele costumava ser mais demorado a falar do que os outros membros da igreja. “Acho que isso se deve ao fato de que a igreja não tem o que minha esposa e eu desejamos”. “Então, o que vocês procuram em uma igreja?”, perguntou Nariz. Ele falou essas palavras com um tom de simpatia. Mas, ainda que falasse daquela maneira, sabia que rejeitaria a resposta que Mão lhe daria. Se ele e sua esposa não podiam ver que Nariz e os demais líderes estavam conduzindo a igreja na direção certa, a igreja poderia prosseguir sem eles.

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Mão tinha de pensar antes de responder. Ele e sua esposa gostavam do pastor Boca e de sua família. E o ministro de música, o Sr. Ouvido, trabalhava muito bem. “Ora, creio que estamos procurando uma igreja em que as pessoas são mais parecidas conosco”, ele declarou finalmente. “Tentamos gastar tempo com os Pernas, mas não nos saímos bem. Em seguida, nos unimos ao pequeno grupo para todos os Pés. Mas eles teimavam em conversar sobre meias, sapatos e odores. E isso não nos interessava.” Agora, Nariz olhou para ele com verdadeira surpresa: “Vocês não se alegram em que eles se interessem por odores?” “Claro, com certeza. Mas isso não é para nós. Depois, freqüentamos a Escola Dominical que atende a todos vocês, características faciais. Você se lembra? Viemos durante vários domingos, alguns meses atrás?” “Foi ótimo ter vocês conosco.” “Obrigado. Mas todos querem apenas conversar, ouvir, cheirar e saborear. Senti como se vocês nunca quisessem trabalhar e sujar as mãos. De qualquer modo, minha esposa e eu pensamos em examinar aquela igreja nova no lado oeste da cidade. Ouvimos que eles batem muitas palmas e levantam as mãos, e isso se aproxima do que necessitamos agora.” “Hum!”, respondeu Nariz. “Entendo o que você quer dizer. Não desejamos vê-los deixar a igreja. Mas acho que devem fazer o que será bom para vocês.” Naquele momento, a Sra. Mão, que estivera envolvida em outra conversa, se voltou para unir-se ao esposo e ao Sr. Nariz. O Sr. Mão explicou brevemente o que ele e Nariz conversavam; depois disso, Nariz reiterou seu tristeza ante a perspectiva da saída deles. Contudo, ele disse outra vez que entendia o desejo deles, visto parecer que suas necessidades não estavam sendo satisfeitas. A Sra. Mão balançou a cabeça em confirmação. Ela queria ser educada, mas, verdade seja dita, não estava triste por deixar a igreja. Durante os anos, seu esposo fizera tantas observações críticas a res-

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Prefácio: uma parábola

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peito da igreja, que seu coração começara a refletir tais criticas. De fato, ele costumava desculpar-se por “ser tão negativo”, conforme dizia. Contudo, as pequenas queixas que ele deixava escapar aqui e ali tiveram efeito. Os pequenos grupos eram de certo modo facciosos. A música era um pouco desatualizada. Os programas pareciam ingênuos. O ensino não se harmonizava com o gosto deles. Afinal de contas, era-lhes difícil identificar com exatidão todos os problemas, mas já haviam decidido que a igreja não lhes servia. Além de tudo isso, a Sra. Mão sabia que Dedo Mínimo, seu filho, não se sentia à vontade no grupo de jovens. Todos eram muitos diferentes dele; por isso, se sentia inconveniente ao grupo. A Sra. Mão disse algo a respeito de como apreciava o Sr. Nariz e os líderes da igreja. No entanto, a conversa já tinha ido longe demais para ele. E, ainda, o perfume da Sra. Mão fazia com que ele desejasse espirrar. Agradeceu à Sra. Mão o encorajamento, reafirmou sua tristeza por ouvir que deixariam a igreja, virou-se e se afastou. Quem tinha necessidade dos Mãos? Aparentemente, eles não precisavam do Sr. Nariz.

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Introdução O que você procura em uma igreja?

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que você procura em uma igreja? Talvez você não tenha pensado nesta questão recentemente. Separe um momento agora e pergunte a si mesmo: o que é uma igreja ideal? “A igreja ideal é um lugar que tem...” Música excelente — música que expressa treinamento e prática. Você não quer bateria e guitarras. Quer um coro e violinistas. A música excelente glorifica a Deus. Ou talvez você queira guitarras e baterias, algo contemporâneo e atualizado. Isso é o que as pessoas ouvem no rádio; então, você deve alcançá-las onde elas estão. Talvez a música não seja tão importante quanto a pregação. Você quer uma igreja que tenha bons sermões — significativos, mas não severos; bíblicos, mas não enfadonhos; práticos, mas não legalistas e exigentes. É claro que o caráter do ministro se expressa nos sermões que ele prega. E há muitos tipos de pregadores por aí: o erudito que ama a doutrina e nunca sorri, o homem engraçado que possui inúmeras histórias, o conselheiro familiar que tem “experiência”. Sim, estou apenas parodiando, porém muitos de nós temos algumas expectativas a respeito de como o pastor deve ser, não temos? Ou talvez você procure uma igreja em que as pessoas estejam no mesmo lugar por toda a vida, como você. Pode relacionar-se bem com elas, que entendem o que você está procurando, pois buscam a mesma coisa. Não estão mais na faculdade, como você. Têm filhos jovens e estão se aproximando da aposentadoria, como

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você. Sabem o que significa comprar em lojas mais simples ou em boutiques, como você. São do centro da cidade ou da zona rural, como você. Novamente, talvez a coisa mais importante na igreja, para você, seja o fato de que na igreja há oportunidades de envolvimento — ocasiões para servir ou fazer o bem. A igreja é forte na evangelização? É ativa em ajudar os pobres? Oferece oportunidades para você e seu filhos se reunirem com outros pais e outros filhos? Há possibilidade de você ajudar no ministério infantil? A igreja tem programas que cativam a atenção de suas crianças ou adolescentes? Espero que algumas pessoas estejam à procura de uma igreja que seja “com vida no Espírito”. O Espírito é Aquele que nos guia. Portanto, você quer uma igreja em que as pessoas estão prontas a ouvir a voz do Espírito, dispostas a atentar à sua obra e crer nas coisas admiráveis que Ele possa fazer. Você está cansado de pessoas que apagam o Espírito e amam as tradições. O Espírito está fazendo coisas novas! Está nos dando novas canções! Ou talvez esteja apenas procurando uma igreja que se vê de determinada maneira! Você nunca o disse nesses termos. Contudo, se está acostumado com uma igreja que, de certo modo, se vê como um shopping, ou uma velha capela, ou uma cafeteria, é razoável que a sua igreja ideal seja assim. Devemos esperar isso. Muitos de nós, quando mudamos da casa de nossos pais, às vezes não sentimos saudade de algumas cenas, sons e cheiros que acompanhavam a maneira como mamãe fazia as coisas? Algumas dessas coisas podem ser boas ou, pelo menos, neutras. Realmente, eu só desejo que você comece a pensar no que mais valoriza em uma igreja. O que você procura? Uma congregação acolhedora? Compassiva? Autêntica? Grande? Íntima? Estimulante? Moderna? Dedicada? O que deveria ser uma igreja?

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Introdução: O que você procura em uma igreja

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Um tema para todos os cristãos Antes de considerarmos o que a Bíblia diz sobre o que deveria ser uma igreja (e isso faremos no Capítulo 1), desejo que você considere por que lhe apresentei esta pergunta, especialmente se não é um pastor. Afinal de contas, um livro que fala sobre igrejas saudáveis não tem como alvo os pastores e os líderes de igrejas? Sim, este livro é para pastores, mas também para todo cristão. Lembre-se: os autores do Novo Testamento se dirigiram aos cristãos. Quando as igrejas da Galácia começaram a dar ouvidos aos falsos mestres, Paulo escreveu-lhes, dizendo: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho” (Gl 1.6). A quem se referia o pronome “vos”, dos quais Paulo pediu uma explicação quanto ao ensino errado em suas igrejas? Não somente aos pastores, mas também aos membros das igrejas. Vocês esperavam que ele escrevesse aos líderes das igrejas e dissesse: “Parem de ensinar essa heresia!” Mas Paulo não fez isso. Ele convocou toda a igreja a dar explicações. De modo semelhante, quando a igreja de Corinto permitiu que um relacionamento adúltero continuasse sem reprovação em seu meio, Paulo dirigiu-se à igreja (1Co 5). Ele não falou aos pastores e ao corpo de líderes que cuidassem do problema. Antes, disse à igreja que resolvesse aquele problema. Isso também acontece na maioria das epístolas do Novo Testamento. Creio que os pastores daquelas igrejas do século I ouviam enquanto Paulo, Pedro e Tiago se dirigiam às suas igrejas. Creio que os pastores iniciavam e conduziam a maneira de agir em resposta às instruções que os apóstolos ministravam em suas cartas. Por seguir o exemplo dos apóstolos e dirigir-me tanto aos pastores como aos membros de igrejas, acredito que estou colocando a responsabilidade onde, em última análise, ela deve estar. Você e todos os membros de sua igreja são responsáveis, diante de Deus, por

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aquilo em que ela se torna, e não os pastores e outros líderes. Sim, você. Os pastores das igrejas comparecerão diante de Deus e prestarão contas pela maneira como guiaram suas congregações (Hb 13.17). No entanto, cada um de nós que somos discípulos do Senhor Jesus Cristo prestará contas de havermos ou não congregado regularmente na igreja, estimulado a igreja ao amor e às boas obras e lutado para manter o ensino correto da esperança do evangelho (Hb 10.23-25). Querido leitor, se você confessa ser um cristão, mas acha que um livro sobre igrejas saudáveis é apenas para líderes de igrejas ou para teólogos, enquanto prefere ler livros que tratam da vida cristã, talvez seja tempo de parar e considerar o ensino da Bíblia sobre o que é um cristão. Pensaremos mais a respeito disso no Capítulo 1. Em seguida, consideraremos o que é uma igreja (Capítulo 2), o propósito de Deus para as igrejas (Capítulo 3) e por que a Bíblia tem de guiar nossas igrejas (Capítulo 4). Se você já concorda que a Bíblia deve guiar nossas igrejas, para a manifestação da glória de Deus, talvez queira pular para o Capítulo 5, no qual começo a alistar nove marcas de uma igreja saudável. Que o Senhor Jesus use nossas meditações, juntas, a fim de preparar sua noiva para o dia de sua vinda (Ef 5.25-32).

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parte 1:

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Capítulo 1 Seu cristianismo e sua igreja

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s vezes, ministérios em campus universitários pedemme que fale aos seus estudantes. Em diversas ocasiões, tenho começado assim minhas considerações: “Se você confessa ser um cristão e não é membro da igreja que freqüenta com regularidade, preocupa-me o fato de que você pode estar indo para o inferno”. Certamente, esse é o tipo de afirmação que atrai a atenção deles. Ora, estou procurando causar uma reação chocante? Acho que não. Estou tentando amedrontá-los para que se tornem membros da igreja? Não, de modo algum. Estou dizendo que unir-se a uma igreja faz de alguém um cristão? Certamente não. Jogue fora e despreze qualquer livro ou pregador que diz isso. Então, por que começo com esse tipo de advertência? Porque desejo que eles percebam a importância e a necessidade de uma igreja local saudável na vida cristã e comecem a compartilhar a paixão pela igreja que caracteriza tanto a Cristo como os seus seguidores. No ocidente (e outros lugares?), muitos cristãos tendem hoje a ver seu cristianismo como um relacionamento pessoal com Deus e não mais do que isso. Eles sabem que esse relacionamento pessoal tem implicações na maneira como devem viver. Contudo, inquieta-me o fato de que muitos cristãos não compreendem como esse relacionamento primordial com Deus necessita de inúmeros relacionamentos pessoais secundários — os relacionamentos que Cristo estabeleceu entre nós e seu corpo, a Igreja. Deus não deseja que esses relaciona-

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mentos sejam escolhidos de conformidade com nossos caprichos entre os muitos cristãos que estão “lá fora”. Ele quer estabelecer-nos em um relacionamento com um corpo de pessoas de carne e osso, que pisarão nos seus calos. Por que me preocupo com fato de que, se você confessa ser um cristão, mas não é um membro firme da igreja local que freqüenta, pode estar indo para o inferno? Por um momento, pense comigo no que significa ser um cristão.

O que é um cristão? Um cristão é alguém que, antes e acima de tudo, foi perdoado de seu pecado e reconciliado com Deus, o Pai, por meio de Jesus Cristo. Isso acontece quando a pessoa se arrepende de seus pecados e coloca sua fé na vida perfeita, na morte substitutiva e na ressurreição de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Em outras palavras, um cristão é alguém que se esgotou a si próprio e todos os seus recursos morais. Reconheceu que, em desafio à lei de Deus, havia dedicado sua vida à adoração e ao amor às coisas e não a Deus — coisas como a profissão, a família, aquilo que o dinheiro pode comprar, a opinião das pessoas, a honra de sua família e da comunidade, o favor dos falsos deuses de outras religiões, os espíritos deste mundo ou mesmo as coisas boas que uma pessoa pode fazer. Também reconheceu que esses ídolos são senhores duplamente condenatórios. Seus apetites nunca são satisfeitos nesta vida. E provocam a ira justa de Deus na vida por vir, uma morte e um julgamento, dos quais o cristão experimenta um pouco nas infelicidades deste mundo. Portanto, um cristão sabe que, se tivesse de morrer hoje à noite e comparecer diante de Deus, e Ele lhe dissesse: “Por que devo permitir que você entre na minha presença?” O cristão diria: “Senhor, não deves deixar-me entrar. Tenho pecado contra Ti e tenho para

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contigo uma dívida que sou incapaz de pagar”. No entanto, ele não pararia aí. Continuaria: “Mas, por causa de tuas grandes promessas e misericórdia, confio no sangue de Jesus Cristo que foi derramado como substituto por mim e pagou o meu débito moral, satisfazendo as tuas exigências santas e justas e removendo a tua ira contra o meu pecado!” Com base na garantia de ser declarado justo em Cristo, o cristão é alguém que descobriu o começo da liberdade da escravidão ao pecado. Os ídolos e outros deuses nunca podiam ser satisfeitos, e seus apetites, plenamente atendidos; mas a satisfação de Deus quanto à obra de Cristo implica que a pessoa comprada da condenação por meio da obra de Cristo agora é livre! Pela primeira vez, o cristão é livre para virar suas costas ao pecado, não para substituí-lo servilmente com outro pecado, e sim com o desejo pelo próprio Cristo e pela norma de Cristo para a sua vida; este desejo é outorgado pelo Espírito. Adão tentou remover Deus do trono e tornar-se divino. O cristão, porém, se regozija no fato de que Cristo está no trono. Medita na vida de perfeita submissão de Jesus à vontade e às palavras do Pai, procurando ser semelhante ao seu Salvador. O cristão é, primeiramente, alguém que em Cristo foi reconciliado com Deus. Cristo satisfez a ira de Deus, e o cristão é agora declarado justo diante dEle, chamado a uma vida de retidão, e vive na esperança de uma dia estar diante da majestade de Deus, no céu. E isso não é tudo! Em segundo lugar, o cristão é alguém que, pela virtude de sua reconciliação com Deus, foi reconciliado com o povo de Deus. Você lembra a primeira história narrada na Bíblia depois da queda de Adão e Eva e sua expulsão do jardim? É a história do primeiro ser humano sendo assassinado por outro — Caim matando Abel. Se o ato de tentar remover Deus do trono é, em si mesmo, uma tentativa de colocarmos a nós mesmos ali, então, certamente não deixaremos que outro ser humano ocupe esse lugar. Não lhe daremos nem uma chance. A atitude de Adão em quebrar a comunhão com

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Deus resultou num rompimento imediato da comunhão entre os seres humanos. Todo homem vive para si mesmo. Não deve nos surpreender o fato de que Jesus disse: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas”: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento e o teu próximo como a ti mesmo (cf. Mt 22.34-40). Os dois mandamentos andam juntos. O primeiro produz o segundo, e este comprova o primeiro. Ser reconciliado com Deus por meio de Cristo significa ser reconciliado com todos aqueles que estão reconciliados com Deus. Após descrever, na primeira metade de Efésios, a grande salvação que Deus nos deu em Cristo Jesus, Paulo passou a descrever, na segunda metade da epístola, o que essa grande salvação significa nos relacionamentos entre judeus e gentios e, por extensão, entre todos os que estão em Cristo. Ele escreveu: Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade... para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade (Ef 2.14-16).

Todos os que pertencem a Deus são “concidadãos” e membros da “família de Deus” (v.19). Estamos unidos com Cristo no “santuário dedicado ao Senhor” (v. 21). Essas são apenas algumas das analogias dentre as que podemos escolher. Talvez o meditar na analogia de uma família nos ajude a perceber que estar reconciliado com Deus também significa estar reconciliado com o seu povo. Se você é um órfão, não adota os pais; antes, são eles que o adotam. Se os seus pais adotivos se chamam Oliveira, agora, o seu jantar é sempre junto dos pais e irmãos da família Oliveira. À noite, você compartilha de uma cama com seus irmãos na família Oliveira. Quando, na escola, o professor faz a chamada, e diz: “Oliveira”,

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você levanta a mão, como o fazia o seu irmão mais velho e como o fará sua irmã mais nova. E faz isso não porque decidiu cumprir o papel de um Oliveira, e sim porque um dia alguém foi ao orfanato e disse: “Você será um Oliveira”. Naquele dia você se tornou filho de alguém e irmão de outros. Bem, o seu nome não é Oliveira, e sim Cristão, designado de acordo com o nome dAquele por meio de quem você foi adotado — Cristo (Ef 1.5). Agora você faz parte de toda a família de Deus. “Tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só” (Hb 2.11). Esta não é uma família disfuncional, cujos membros não conhecem um ao outro. É uma comunhão. Quando Deus o chamou à “comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.9), Ele também o chamou à “comunhão” com toda a família (1Co 5.2). E não é uma comunhão formal e requintada. É um corpo que se mantém unido por meio de nossas decisões individuais, mas também por algo que está muito além da decisão humana — a obra e a pessoa de Cristo. Se você dissesse: “Não faço parte da família”, isso seria tão insensato como se arrancasse a sua própria mão ou nariz. Conforme Paulo disse aos cristãos de Corinto: “Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós” (1Co 12.21). Em resumo, é impossível respondermos à pergunta “o que é um cristão?”, sem entrarmos numa conversa sobre a igreja. É impossível, pelo menos, de acordo com a Bíblia. E não somente isso; se não acabarmos falando sobre a igreja, é difícil nos mantermos fiéis a qualquer das metáforas referentes a ela, porque o Novo Testamento usa tantas: uma família, uma comunhão, um corpo, uma noiva, um povo, um templo, uma senhora e seus filhos. E o Novo Testamento nunca retrata o cristão como alguém que existe fora da comunhão da igreja por muito tempo. A igreja não é realmente um lugar. É um povo — o povo de Deus em Cristo. Quando alguém se torna um cristão, ele não se une a uma igreja local tão-somente porque isso é um hábito que contribui à maturi-

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dade espiritual. Ele se une a uma igreja local porque isso é a expressão daquilo em que Cristo o tornou — um membro de seu corpo. Estar unido a Cristo implica estar unido a todos os cristãos. Contudo, essa união universal precisa ter uma existência viva e atuante em uma igreja local. Às vezes, os teólogos se referem à distinção entre a igreja universal (todos os cristãos, de todos os lugares, em toda a história) e a igreja local (as pessoas que se reúnem em um lugar específico para ouvir a Palavra sendo pregada, praticar o batismo e celebrar a Ceia do Senhor). À exceção de algumas referências à igreja universal (tal como Mateus 16.18 e grande parte de Efésios), em sua maioria o Novo Testamento apresenta referências à igreja local, como nestas palavras de Paulo: “À igreja de Deus que está em Corinto”; “Às igrejas da Galácia”. O que afirmamos em seguida é menos intenso, mas importante. O relacionamento entre nossa membresia na igreja universal e nossa membresia na igreja local é um pouco semelhante ao relacionamento entre a justiça que Deus nos outorga mediante a fé e a prática da justiça em nossa vida diária. Quando, pela fé, nos tornamos cristãos, Deus nos declara justos. Mas também somos chamados a praticar a justiça. Uma pessoa que continua a viver alegremente na injustiça faz-nos duvidar se ela realmente possui a justiça de Cristo (cf. Rm 6.1-18; 8.5-14; Tg 2.14-15). Esse princípio também se aplica àqueles que se recusam a comprometer-se com uma igreja local. Comprometer-se com uma igreja local é o resultado natural — confirma aquilo que Cristo fez. Se você não tem qualquer interesse em se comprometer verdadeiramente com um grupo de cristãos que ensinam a Bíblia e crêem no evangelho, deve perguntar a si mesmo se, de fato, pertence ao corpo de Cristo! Ouça com atenção o escritor da Epístola aos Hebreus: “Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos

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admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima. Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários” (Hb 10.23-27).

Se a nossa condição diante de Deus é de fato autêntica, isto se transportará às nossas decisões diárias, ainda que o processo seja lento e cheio de passos errados. Deus realmente muda o seu povo. Isso não é maravilhoso? Portanto, amigo, não seja complacente com uma idéia vaga de que você possui a justiça de Cristo, se não está seguindo uma vida de retidão. De modo semelhante, por favor, não se deixe enganar por um conceito vago sobre a igreja universal, se você não está buscando esse tipo de vida em uma igreja local. Exceto em raras circunstâncias, um verdadeiro cristão edifica sua vida na vida de outros por meio da comunhão de uma igreja local. Ele sabe que ainda não “chegou lá”. Ainda é um ser caído e necessita da responsabilidade e da instrução daquele corpo de pessoas chamado igreja. E essas pessoas necessitam dele. Quando nos reunimos para adorar a Deus, exercitar o amor e praticar boas obras uns para com os outros, demonstramos na vida real, podemos assim dizer, o fato de que Deus nos reconciliou consigo mesmo e uns com os outros. Demonstramos ao mundo que fomos mudados, não primariamente porque memorizamos versículos bíblicos, oramos antes das refeições, damos o dízimo de nosso salário e ouvimos estações de rádio evangélicas, e sim porque mostramos de maneira crescente uma disposição de suportar, perdoar e amar um grupo de pecadores semelhantes a nós. Você e eu não podemos demonstrar amor, alegria, paz, paciência ou bondade vivendo isoladamente. Ora, demonstramos essas virtudes quando as pessoas com as quais nos comprometemos dão boas razões para que não as amemos e, apesar disso, nós as amamos.

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Você entende? É exatamente ali — no meio de um grupo de pecadores que se comprometeram a amar uns aos outros — que o evangelho é demonstrado. A igreja dá uma apresentação visual do evangelho quando perdoamos uns aos outros como Cristo nos perdoou; quando nos comprometemos uns com os outros como Cristo se comprometeu conosco e quando entregamos nossas vidas uns pelos outros como Cristo entregou sua vida por nós. Juntos podemos demonstrar o evangelho de um modo que não podemos fazê-lo sozinhos. Muitas vezes ouço cristãos falando a respeito de seus diferentes dons espirituais. Mas pergunto-me com que frequência eles consideram o fato de que Deus lhes deu tantos dons exatamente para serem usados em reações ao pecado de outros cristãos na igreja. O meu pecado dá-lhe oportunidade de exercer seus dons. Portanto, una um grupo de homens e de mulheres, jovens e idosos, negros e brancos, asiáticos e africanos, ricos e pobres, iletrados e instruídos, com todos os seus diversos talentos, dons e capacidades. Assegure-se de que todos eles reconhecem que são pecadores, fracos e salvos tão-somente pela graça. O que são essas coisas? Os ingredientes essenciais para formar uma igreja! Se o seu alvo é amar todos os cristãos, permita-me sugerir que você trabalhe para atingi-lo primeiramente por comprometer-se com um grupo concreto de verdadeiros cristãos, com todas as suas tolices e fraquezas. Comprometa-se com eles por oitenta anos, apesar de todas as dificuldades. Depois, procure-me, e conversaremos sobre o seu progresso no amar todos os cristãos, em todos os lugares. Então, quem é responsável por pensar sobre o que deveria ser aquele ajuntamento de pessoas chamado igreja? Os pastores e líderes da igreja? Com toda a certeza. Todos os outros cristãos? Sem dúvida alguma. Ser um verdadeiro cristão significa preocupar-se com a vida e saúde do corpo de Cristo, a igreja. Significa preocuparse com o que a igreja é o que ela deveria ser, porque você, cristão, pertence à igreja.

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Capítulo 1: Seu cristianismo e sua igreja

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De fato, nos interessamos pela igreja porque ela é o próprio corpo de nosso Salvador. Você já notou as palavras que Jesus usou para dirigir-se a Saulo (que em breve seria chamado Paulo), o perseguidor dos cristãos, quando o confrontou na estrada de Damasco? “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9.4). Jesus se identifica tão intimamente com sua igreja, que se refere a ela como a Si mesmo! Você se identifica com aqueles com os quais o Salvador se identifica? Seu coração compartilha das afeições do coração do Salvador? Há pouco tempo recebi uma carta de um pastor que expressou seu desejo de que os membros de sua igreja soubessem o que deve ser uma igreja. Esse homem humilde deseja uma igreja que o ajude a sentir-se responsável por ela, enquanto a lidera em direção à graça e à piedade. Esse pastor entende o padrão do Novo Testamento. Compreende que um dia Deus o chamará a prestar contas da maneira como pastoreou sua igreja. E, como um pastor fiel, ele deseja que todos os membros de seu rebanho saibam que, um dia, também serão chamados a prestar contas da maneira como amaram uns aos outros, bem como a ele. Deus perguntará a cada membro do corpo: “Você se alegrava com os outros membros do corpo, quando eles estavam alegres? Chorou com os que choravam? Tratou os fracos como membros indispensáveis e, com honra especial, aqueles que muitos achavam menos dignos de honra? Prestou honra dobrada àqueles que o lideravam e ensinavam?” (cf. 1Co 12.22-26; 1Tm 5.17.) Cristão, você está preparado para o dia em que Deus o chamará a prestar contas da maneira como amou e serviu a família da igreja, incluindo os seus líderes? Sabe o que Deus afirma a respeito da natureza da igreja? E pastor, você tem preparado o seu rebanho para a prestação de contas, ensinando-lhes o que a igreja deve ser? Você lhes tem ensinado que serão responsabilizados por afirmarem ou não o ensino do evangelho?

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Capítulo 2 O que é uma igreja... e o que não é

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a introdução, perguntei o que você procura em uma igreja e o que a Bíblia diz a respeito de como deve ser a igreja, mas não respondi essas perguntas. E os cristãos de hoje estão buscando todo tipo de coisas em uma igreja. Lembro-me de uma conversa que tive durante meus anos de estudo na faculdade. Conversei com um amigo que trabalhava para um ministério cristão que não era ligado a qualquer igreja. Ele e eu freqüentamos a mesma igreja durante alguns anos. No entanto, tornei-me membro da igreja, mas o meu amigo não. De fato, ele vinha somente aos cultos matinais de domingo e entrava quietamente na metade do culto, em tempo para ouvir o sermão. Um dia, resolvi questioná-lo a respeito de sua frequência parcial. Ele respondeu: “Não obtenho nada do restante do culto”. Perguntei-lhe: você já pensou em unir-se à igreja? Ele pareceu verdadeiramente surpreso com a pergunta. E respondeu: “Unir-me à igreja? Sinceramente, não sei por que eu faria isso. Sei por que estou aqui; e aquelas pessoas me tornariam menos ativo”. Até onde percebi, ele não falou essas palavras com desdém, e sim com um zelo autêntico de um evangelista talentoso que não desejava desperdiçar uma hora do tempo do Senhor. Expressou alguns de seus pensamentos sobre o que procurava em uma igreja. E, levando tudo em conta, não se envolveria com outros membros de igreja, pelo menos não daquela igreja. Ele queria um lugar em que poderia ouvir uma

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boa pregação da Palavra de Deus e obter seu estímulo espiritual para a semana. No entanto, suas palavras repercutiram em minha mente — “aquelas pessoas me tornariam menos ativo”. Havia muitas coisas que eu gostaria de ter dito, mas tudo que lhe respondi foi: você nunca pensou que, unindo-se àquelas pessoas, sim, elas poderão tornálo menos ativo, mas você pode ajudá-las a serem mais dinâmicas? Nunca considerou que isso poder ser parte do plano de Deus para você e para elas? Eu também queria uma igreja em que poderia ouvir uma boa pregação a cada domingo. Todavia, as palavras “corpo de Cristo” significam mais do que isso, não significam? Conforme mencionei no Capítulo 1, a igreja não é um lugar. Não é um prédio. Não é um ponto de pregação. Não é um provedor de serviços espirituais. É um povo — o povo da nova aliança, comprado por sangue, o povo de Deus. Essa foi a razão por que Paulo disse: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Ele não se entregou por um lugar, e sim por um povo. Essa é a razão por que a igreja em que ministro começa suas reuniões matinais de domingo dizendo: “Sejam bem-vindos a esta reunião da Igreja Batista de Capitol Hill”, e não: “Sejam bem-vindos à Igreja Batista de Capitol Hill”. Somos um povo que se reúne. Sim, isso é algo trivial, mas estamos tentando ressaltar uma realidade mais importante até mesmo nas palavras que usamos para dar boas-vindas às pessoas. Recordar que a igreja é um povo deve ajudar-nos a reconhecer o que é e o que não é importante. Sei que preciso de ajuda. Por exemplo, tenho a tentação de permitir que algo como o estilo de música determine o que eu penso a respeito de uma igreja. Afinal de contas, o estilo de música que uma igreja usa é uma das primeiras coisas que observaremos em qualquer congregação. E tendemos a reagir à música em um nível bastante emocional. A música faz com que nos sintamos de determinada maneira. Contudo, o que expressarei a respeito de meu amor por Cristo e seu povo, se eu deixar uma igreja por causa do seu

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Capítulo 2: O que é uma igreja... e o que não é

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estilo de música? Ou se, pastoreando uma igreja, eu marginalizar a maioria dos membros por pensar que seu estilo de música precisa ser atualizado? No mínimo, poderíamos dizer que esqueci o fato de que a igreja é, em essência, um povo e não um lugar. Ao mesmo tempo, a Bíblia ensina que os cristãos devem ser bastante cuidadosos quanto ao que acontece na igreja — o que ela faz. Na verdade, a última metade deste livro dedica-se a essa questão. Como mantemos essas duas coisas em equilíbrio — preocuparnos com as pessoas e preocupar-nos com o que elas fazem. Se este fosse um livro a respeito de criar famílias cristãs, falaríamos sobre fazer certas coisas: jantar juntos, ler as Escrituras juntos, rir juntos, orar uns pelos outros e assim por diante. Mas, durante a conversa sobre o assunto, todos lembrariam que os pais cometem erros e as crianças são crianças. A família não é apenas uma instituição; é um grupo de pessoas. Isso também é verdade a respeito da igreja. A sua igreja falha em atender suas expectativas em termos do que ela faz, bem como em seguir ou não o que a Bíblia diz sobre a liderança eclesiástica (um assunto que abordarei adiante)? Se isso está acontecendo, lembre-se de que ela é um grupo de pessoas que está crescendo na graça. Ame essas pessoas. Sirva-as. Tenha paciência para com elas. Pense novamente em uma família. Se seus pais, irmãos ou filhos fracassam em satisfazer suas expectativas, vocês os expulsa repentinamente da família? Espero que os perdoe e lhes demonstre paciência. Talvez pare e considere se as suas expectativas não devem ser ajustadas! Por isso mesmo, deveríamos perguntar-nos se sabemos como amar e perseverar com membros de igreja que têm opiniões diferentes, que falham em satisfazer as nossas expectativas ou pecam contra nós (Você e eu não temos pecados que necessitam ser perdoados?), É claro que existe um limite. Há algumas igrejas com as quais você não desejaria unir-se, pastorear ou permanecer como membro. Retornaremos a esse assunto na seção em que falaremos sobre as marcas essenciais de uma igreja. Por enquanto, o princípio permanece

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o mesmo: a igreja é um povo. E, independentemente do que procuramos ou digamos sobre o que deve ser uma igreja, tudo tem de ser guiado por esse princípio básico e bíblico. Quero dizer mais uma coisa que pode guardar-nos de uma maneira equivocada de pensar sobre a igreja, uma maneira de pensar especialmente comum entre os pastores. A igreja não é um lugar; tampouco, uma estatística. Quando eu estava na faculdade, depareime com uma carta importante escrita por John Brown, um pastor do século XIX, dirigida a um de seus alunos recém-ordenado em uma pequena igreja. Na carta, Brown escreveu: Eu conheço a vaidade do seu coração e uma das coisas que vai atingilo profundamente é que a congregação, que lhe foi confiada, é muito pequena, principalmente quando você a compara às congregações de seus irmãos ao seu redor. Mas sinta-se seguro em uma palavra vinda de um homem já idoso e experimentado. Quando estiver perante Cristo, prestando conta dessa congregação que recebeu, lá no trono de julgamento, você saberá que recebeu o suficiente.1

Enquanto pensava na igreja da qual o Senhor me encarregou, senti a solenidade desse dia de prestação de contas a Deus. Eu queria que a igreja por mim pastoreada se tornasse grande? Popular ou bastante comentada? Uma igreja que, de algum modo, parecesse impressionante? Estava motivado apenas a “suportar” e “tolerar” o grupo de pessoas que estava diante de mim, a comprometer meu tempo e a esperar por oportunidades para tornar a igreja naquilo que eu achava ela deveria ser? Ter desejos quanto ao futuro da igreja não é mau em si mesmo. No entanto, os meus desejos me levavam a ser indiferente ou inoportuno com os santos que me rodeavam naquele momento? 1. Hay, James; Belfrage, Henry. Memoir of the rev. Alexander Waugh. Edinburgh: William Oliphant and Son, 1839, p. 64-65.

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Capítulo 2: O que é uma igreja... e o que não é

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Ou eu lembrava o que estava em jogo para as muitas almas, a maioria delas bastante queridas, assentadas diante de mim todos os domingos de manhã, em um salão amplo, que cabia 800 pessoas? Eu as amava e servia, apesar de suas comissões não-bíblicas, suas tradições antiquadas e suas escolhas de músicas (que não eram as minhas favoritas) frustrarem minhas esperanças (que eu considerava legítimas) para a igreja? Sei que não são apenas os pastores que caem na atitude de “tolerar” as pessoas que os cercam, comprometendo seu tempo, até que a igreja se torne o que imaginavam o que ela deveria ser. A igreja é um povo, não um lugar, nem uma estatística. É um corpo, unido a Cristo, que é a cabeça. É uma família, unida por adoção por meio de Cristo. Rogo a Deus que nós, pastores, reconheçamos cada vez mais a nossa responsabilidade solene pelos rebanhos específicos sobre os quais Deus nos tornou co-pastores. Também peço a Deus que você, cristão, experiente ou novo na fé, reconheça cada vez mais seu dever de amar, servir, encorajar e ser responsável pelo resto da família de sua igreja. No que diz respeito aos seus irmãos naturais, creio que você já reconheceu onde Caim errou, quando disse sarcasticamente ao Senhor: “Acaso, sou eu tutor de meu irmão?” Contudo, espero muito mais que você reconheça, se ainda não a reconheceu, sua mais elevada responsabilidade para com os irmãos e irmãos da família de sua igreja. Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura. Então, ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe (Mc 3.32-35).

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Capítulo 3 O que toda igreja deve almejar: ser saudável

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e você é um pai cristão, o que deseja para seus filhos? Se você é um verdadeiro filho cristão, o que deseja para sua família? Talvez você deseje que diversas qualidades marquem constantemente a sua família: amor, alegria, santidade, unidade e reverência diante do Senhor. Você pode imaginar uma série de itens. Tentemos, porém, resumir todas essas qualidades em uma única palavra: saudável. Você deseja ter uma família saudável — uma família cujos membros trabalhem, amem e vivam juntos, conforme Deus planejou que a família o fizesse. Isso também é verdade no que diz respeito às nossas igrejas. Proponho que os cristãos, pastores e membros de igreja, deviam desejar igrejas saudáveis. Talvez haja uma palavra melhor do que “saudável” para descrever o que a igreja deve ser. Afinal de contas, estamos falando sobre as pessoas compradas pelo sangue do eterno Filho, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores — “saudável” é a melhor palavra que eu posso sugerir? Apesar disso, gosto da palavra saudável, porque ela comunica a idéia de um corpo que é vivo e cresce como deveria fazer. Esse corpo tem os seus problemas. Ainda não foi aperfeiçoado, mas está avançando. Está fazendo o que deveria porque a Palavra de Deus está guiando-o. Com freqüência, digo a minha congregação que, na luta contra o pecado em nossa vida, a diferença entre os não-cristãos e os cristãos não é o fato de que aqueles pecam, enquanto estes não pecam. A dife-

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rença é o lado em que cada um fica na luta. Os cristãos ficam ao lado de Deus contra o pecado, e os não-cristãos ficam ao lado do pecado contra Deus. Em outras palavras, o cristão pecará, mas se voltará para Deus e sua Palavra, dizendo: “Ajuda-me a lutar contra o pecado”. O não-cristão, embora reconheça o seu pecado, reage assim: “Eu quero o meu pecado, mais do que a Deus”. Uma igreja saudável não é uma igreja perfeita e impecável. Ela não resolveu todos os problemas. Pelo contrário, é uma igreja que se esforça continuamente para ficar ao lado de Deus na luta contra os desejos ímpios e os enganos do mundo, de nossa carne e do Diabo. É uma igreja que procura se conformar sempre à Palavra de Deus. Quero oferecer-lhe uma definição mais exata. Em seguida, consideraremos algumas passagens bíblicas que endossam esta definição. Uma igreja saudável é uma congregação que reflete crescentemente o caráter de Deus, conforme ele é revelado em sua Palavra. Então, se um pastor me pergunta que tipo de igreja eu o estimularia a desejar, eis a minha resposta: uma igreja saudável, uma igreja que reflete crescentemente o caráter de Deus, conforme ele é revelado em sua Palavra. E, cristão, a que tipo de igreja eu poderia incentivá-lo a unir-se, servir e trabalhar em favor? Uma igreja saudável, uma igreja que reflete crescentemente o caráter de Deus, conforme ele é revelado em sua Palavra. Se você leu com atenção, percebeu que eu disse “poderia”. Disse isso por duas razões. Primeira, não quero sugerir que esta é a única maneira de descrevermos o que as igrejas devem ser. Ocasiões e propósitos diferentes podem exigir descrições diferentes. Um autor pode querer combater o legalismo e a licenciosidade nas igrejas, começando a sua descrição nestes termos: “A coisa mais importante que uma igreja deve ser é centralizada na cruz”. Eu concordaria com essa descrição. Outro autor poderia querer lidar com a falta de fundamentação bíblica em nossas igrejas. Neste caso, ele poderia exortar-

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Capítulo 3: O que toda igreja deve almejar:

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nos a desenvolver igrejas centradas na Bíblia. Novamente, eu diria “amém”. A segunda razão é que não presumo que alguém não poderia expressar melhor o que estou tentando explicar. Ou seja, de modo simples, o melhor que posso dizer para explicar o que creio é também o alvo bíblico central que devemos aspirar para as nossas igrejas — refletir o caráter de Deus, conforme ele é revelado em sua Palavra.

Que cristão não deseja isso? Refletir o caráter de Deus conforme ele é revelado em sua Palavra implica, naturalmente, começarmos pela Palavra de Deus. Por que devemos recorrer à Bíblia, e não a quaisquer outras “obras”, para determinar o que as nossas igrejas devem ser e fazer? Escrevendo a Timóteo, o pastor da igreja em Éfeso, Paulo disse, em sua segunda epístola, que a Bíblia o tornaria “habilitado para toda boa obra”. Em outras palavras, não havia qualquer boa obra para a qual a Escritura não prepararia Timóteo — ou a nós. Se houvesse algo que nossas igrejas acham que deveriam ser ou fazer, e isso não estivesse nas Escrituras, o apóstolo Paulo estaria errado, porque, nesse caso, não poderia ter dito que as Escrituras nos preparam “para toda boa obra”. Estou dizendo que não devemos usar os bons cérebros que Deus nos deu? Não, estou dizendo apenas que vamos começar pelas Escrituras e observar o que encontramos. Consideraremos, de modo breve, seis momentos na linha histórica da Bíblia que nos ajudarão a perceber que desejamos igrejas que reflitam incessantemente o caráter de Deus, conforme ele é revelado em sua Palavra. Você sabe que a Bíblia conta realmente uma história. Essa história tem inúmeros enredos secundários, mas todos fazem parte de uma única e grande história. Nosso alvo é perceber se podemos discernir o que Deus pretende para a igreja nessa linha histórica.

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1) Criação Em Gênesis, Deus criou as plantas e os animais “segundo as suas espécies”. Cada macieira é formada segundo cada outra macieira; e cada zebra é formada de acordo com cada outra zebra. Quanto à raça humana, as Escrituras dizem: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). O homem não é formado segundo cada outro homem. Ele é formado segundo a imagem de Deus. Ele é o único que reflete a Deus ou se parece com Ele. Visto que fomos os únicos criados à imagem de Deus, os humanos devem ser os únicos que refletem a imagem e a glória de Deus para o restante da criação. À semelhança de um filho que age como seu pai e segue os passos profissionais de seu pai (Gn 5.1, seg.; Lc 3.38), o homem foi idealizado para ser um reflexo do caráter e do governo de Deus sobre a criação: “Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn 1.26).

2) Queda No entanto, o homem decidiu não refletir o governo de Deus. Ele se revoltou contra Deus e começou a trabalhar para manifestar seu próprio governo. Por isso, o Senhor deu ao homem aquilo que ele desejava e o baniu de sua presença. A culpa moral do homem implicou que ele não podia mais, por si mesmo, aproximar-se de Deus. Os homens ainda preservam a imagem de Deus, mesmo depois da Queda? Sim, Gênesis reafirma que o homem ainda é feito à “imagem” de Deus (Gn 5.1; 9.6). Contudo, tanto a imagem como o reflexo dessa imagem estão distorcidas. O espelho é curvo, você poderia dizer, e uma falsa imagem é refletida, como uma imagem grotesca, distorcida. Mesmo em nosso pecado, refletimos algo a respeito de Deus — coisas

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Capítulo 3: O que toda igreja deve almejar:

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verdadeiras e falsas misturadas. Na linguagem dos teólogos, o homem se tornou “culpado” e “corrupto”.

3) Israel Em sua misericórdia, Deus estabeleceu um plano para salvar e usar um grupo de pessoas a fim de cumprirem seus propósitos originais para a criação — a manifestação de sua glória. Ele prometeu a um homem chamado Abrão que o abençoaria, bem como os seus descendentes. Eles, por sua vez, seriam uma bênção para todas as nações (Gn 12.1-3). Deus os chamou de “nação santa” e “reino de sacerdotes” (Êx 19.5-7), significando que eles haviam sido separados especialmente para mediar ou refletir o caráter e a glória de Deus às nações, por obedecerem à lei que lhes fora dada (como Adão deveria ter feito). Mostrem ao mundo como Eu sou, Deus estava dizendo a Israel. “Santos sereis, porque eu... sou santo” (Lv 11.44; 19.2; 20.7). Ele até chamou esta nação de seu “filho”, pois se espera que os filhos sigam os passos de seus pais (Ex 4.22-23). E prometeu habitar com esse filho na terra que lhes estava dando, um cenário em que a nação poderia manifestar a glória de Deus (1Rs 8.41-43). No entanto, Deus advertiu esse filho de que, se ele falhasse em obedecer e demonstrar o seu caráter santo, Ele o lançaria fora da terra. Encurtando a história, o filho não obedeceu, e Deus o expulsou de sua presença e da terra.

4) Cristo Uma das principais lições que o antigo Israel nos ensina é que seres humanos caídos, entregues a si mesmos, não podem refletir a imagem de Deus — embora tivessem as vantagens da lei, da terra e da presença de Deus. Como deveríamos, todos nós, ser humilhados pela

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história de Israel! Somente Deus pode refletir a sua própria imagem, e somente Ele pode nos salvar do pecado e da morte. Por isso, Ele enviou seu Filho para nascer “em semelhança de homens” (Fp 2.7). Esse Filho amado, em quem o Pai teve prazer, submeteu-se completamente ao governo ou ao reino de Deus. Ele fez o que Adão não fez — resistiu à tentação de Satanás. “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4), disse Jesus ao tentador, quando jejuava no deserto. Jesus fez também o que Israel não fez. Ele viveu totalmente de acordo com a vontade e a lei do Pai: “Nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (Jo 8.28; ver também Jo 6.38; 12.49). Esse Filho que vivenciou plenamente a imagem de seu Pai podia dizer ao discípulo Filipe: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14.9). Tal Pai, tal Filho. Olhando para trás, os autores das cartas do Novo Testamento se referiram a Ele como “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15) e o “o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser” (Hb 1.3). Na qualidade de último Adão e o novo Israel, Jesus Cristo redimiu a imagem de Deus no homem. E Cristo não somente refletiu a gloriosa santidade de Deus, por meio da obediência à lei, mas também demonstrou a gloriosa misericórdia e amor de Deus, ao morrer na cruz em favor dos pecadores, sofrendo a penalidade da culpa que eles mereciam (Jo 17.1-3). Este sacrifício substitutivo de Cristo era algo para o qual o Antigo Testamento apontou durante toda sua história. Pense nos animais que foram mortos para cobrir a nudez de Adão e Eva, depois de haverem pecado. Pense na maneira como Deus providenciou um carneiro nos arbustos para Abraão e Isaque, salvando assim Isaque. Pense em José, o filho que foi sacrificado e mandado embora por seus irmãos, de modo que um dia se tornasse mediador para a nação. Pense nas pessoas de Israel passando o sangue de um cordeiro nas portas de suas casas, a fim de pouparem os filhos da morte. Pense nas famílias israelitas que traziam suas ofertas ao

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Capítulo 3: O que toda igreja deve almejar:

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átrio do templo, colocavam as mãos sobre a cabeça do animal e cortavam sua garganta — “O sangue derramado do animal é meu”. Pense no sumo sacerdote entrando no Santo dos Santos, uma vez por ano, para oferecer um sacrifício de expiação por todo o povo. Pense na promessa do profeta Isaías: “Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5). Tudo isso e muito mais apontava para Jesus, que foi à cruz como o cordeiro sacrificial de Deus. Conforme Jesus disse aos seus discípulos, no cenáculo, Ele foi à cruz para estabelecer uma “nova aliança” no seu sangue [Mt 26.28; Mc 14.24; Lc 22.20; 1Co 11.25], em favor de todos os que se arrependeriam e creriam.

5) A Igreja Nós, que estávamos mortos em nossos pecados, fomos vivificados quando fomos batizados na morte e na ressurreição de Cristo. Por isso, Paulo disse: “Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes” (Gl 3.26-27); e: “Porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gl 4.6-7). O que esses muitos filhos de Deus devem fazer? Manifestar o caráter, a semelhança, a imagem e a glória do Filho e do Pai, que está no céu! Jesus nos diz que sejamos “pacificadores”, visto que o Pai fez a paz entre Ele mesmo e nós por meio do sacrifício de seu Filho (Mt 5.9). Jesus nos diz que amemos os nossos inimigos, porque nosso Pai celeste nos amou embora fôssemos seus inimigos (Mt 5.44; Rm 5.8). Jesus nos diz que amemos uns aos outros, visto que Ele deu sua própria vida por amar-nos e, por amarmos uns aos outros, mostramos ao mundo como Ele é (Jo 13.34-35).

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Jesus orou pedindo que sejamos “um”, assim como Ele e o Pai são um (Jo 17.20-23). Jesus nos diz que sejamos “perfeitos”, como o é nosso Pai celestial (Mt 5.48). Jesus nos diz que sejamos “pescadores de homens” e façamos discípulos de todas as nações (Mt 4.19; 28.19). Ele nos envia assim como o Pai O enviou (Jo 20.21). Tal Pai, tal Filho, e tais filhos. Purificado de seu pecado mediante a obra de Cristo, tornado uma nova criação e possuidor de um coração nascido de novo, pela obra do Espírito, o povo de Deus começou a recuperar a perfeita imagem de Deus. Cristo é as nossas primícias (1Co 15.23). Ele retirou o véu e abriu o caminho para que a igreja contemple novamente a imagem do Pai (2Co 3.14, 16). Contemplamos a imagem dEle pela fé e “somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem” (2Co 3.18). Você quer ver o propósito de Deus para a Igreja resumido em apenas dois versículos? Paulo declarou: Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor (Ef 3.10-11).

Como a igreja torna conhecida a multiforme sabedoria de Deus? Somente um Deus onisciente poderia idealizar uma maneira de reconciliar seu amor com sua justiça e, ao mesmo tempo, salvar um povo pecaminoso, que estava alienado dEle e uns dos outros. E somente um Deus onisciente poderia criar uma maneira de tornar nosso coração de pedra em coração de carne, para amá-Lo e louvá-Lo. Que os poderes cósmicos, em todo o universo, vejam e se admirem.

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Capítulo 3: O que toda igreja deve almejar:

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6) Glória Refletiremos mais perfeitamente a imagem de Deus quando O contemplarmos com perfeição na glória — “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2). Santos como Ele é santo, amando como Ele ama. Unidos com Ele. Esse versículo não é uma promessa de que todos seremos deuses. É uma promessa de que nossa alma resplandecerá sobremaneira com o caráter e a glória dEle, como espelhos perfeitos cujas faces estão voltadas para o sol. Você acompanhou a história? Eis uma recapitulação. Deus criou o mundo e a humanidade para manifestarem a glória de seu Ser. Adão e Eva, que deviam refletir a imagem do caráter de Deus, não o fizeram. Nem o povo de Israel. Por isso, Deus enviou seu Filho para manifestar seu caráter santo e amável e remover a sua ira contra os pecados do mundo. Em Cristo, Deus veio ao mundo para revelar-se a Si mesmo. Em Cristo, Deus veio ao mundo para salvar-nos. Agora, a igreja, que recebeu a vida de Cristo e o poder do Espírito Santo, é chamada a manifestar o caráter e a glória de Deus a todo o universo, testemunhando em atos e palavras a grande sabedoria de Deus e a sua obra de salvação. O que você está procurando em uma igreja? Boa música? Um lugar onde as coisas acontecem? Uma ordem tradicional de culto? Que tal... Um grupo de rebeldes perdoados... Que Deus pretende usar para manifestar a sua glória... Diante de todas as hostes celestiais... Porque eles falam a verdade a respeito dEle... E se parecem cada vez mais com Ele — sendo santos, amáveis e unidos?

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Capítulo 4 Um guia crucial: como manifestar o caráter de Deus

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onfesso que não sou muito bom nas coisas práticas de minha casa — fazer prateleiras, conectar os fios do aparelho de som, descobrir o que fazem todos os botões de meu telefone. Nem mesmo acho os manuais proveitosos. Geralmente tenho de me entregar à bondade e ingenuidade dos amigos e da família. Sou grato pelo fato de que minha falta de habilidade em algumas dessas áreas práticas não é um impedimento para eu seguir o guia crucial — o que a Bíblia diz a respeito de como a igreja pode manifestar o glorioso caráter de Deus. O princípio básico é bem simples: temos de ouvir a Palavra de Deus e segui-la. Somente dois passos: ouvir e seguir. Ouvindo e seguindo a Palavra de Deus, refletimos a imagem e manifestamos o caráter e a glória de Deus, como embaixadores de um rei. Ou como um filho. Imagine um filho cujo pai viajou para um lugar distante e escreveu-lhe uma série de cartas, instruindo-o a respeito de como ele deveria manter o nome da família e conduzir os seus negócios. Mas suponha que o filho jamais tenha lido as cartas de seu pai. Como ele aprenderia a representar o pai e conduzir os seus negócios? Não aprenderia. Isso também acontece com uma igreja local que ignora a Palavra de Deus. Desde que Adão foi expulso do jardim, por não obedecer à Palavra de Deus, toda a humanidade tem estado dividida em dois grupos: os que obedecem à Palavra de Deus, e os que não lhe obedecem. Noé

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obedeceu. Os construtores da Torre de Babel não. Abraão obedeceu. Faraó não. Davi obedeceu. Muitos de seus filhos não. Zaqueu obedeceu. Pilatos não. Paulo obedeceu. Os falsos apóstolos não. E poderíamos continuar citando pessoas da história da igreja. Atanásio obedeceu à Palavra de Deus. Ário não. Lutero obedeceu. A Igreja de Roma não. Gresham Machen obedeceu. Emerson Fosdick não. Certamente não reivindico possuir discernimento infalível e divino quanto a esse último grupo. Contudo, a história bíblica nos ensina com segurança que a distinção entre o povo de Deus e os impostores está no fato de que o povo de Deus ouve a Palavra de Deus e leva-a em consideração. Os outros não. Foi isso que Moisés, com grande empenho, comunicou pela segunda vez, conforme diz o texto de Deuteronômio, enquanto estava às portas da Terra Prometida, com o povo de Israel. Ele começou recordando-lhes que permanecera com os seus pais quarenta anos e que estes não tinham ouvido a Palavra de Deus. Por isso, Deus os castigou com a morte no deserto. Os três discursos, que no relato seguem por quase trinta capítulos, podem ser resumidos de modo bem simples: “Ouçam. Atentem. Escrevam. Recordem o que Deus disse. Foi Ele quem os salvou da escravidão no Egito. Portanto, ouçam a Deus”. No capítulo 30, Moisés ressalta a importância de tudo que dissera, para incutir-lhes este único mandamento: “Escolhe, pois, a vida” (v. 19). O povo de Deus achará vida completa exclusivamente por ouvir a Palavra de Deus e prestar-lhe obediência. Isso é simples. A mensagem de Deus para a igreja do Novo Testamento não é diferente. Ele nos salvou da escravidão do pecado e da morte quando ouvimos a sua Palavra e cremos (Rm 10.17). Agora, ouvimos a sua Palavra e a seguimos. Por ouvirmos e seguirmos o que Ele disse, refletimos crescentemente o caráter e a glória de Deus. Alguém talvez se oponha, dizendo: “Isso parece mostrar a igreja focalizada em si mesma. A igreja não é chamada a focalizar-se nos outros — em missões e evangelização?” Certamente, a igreja é chamada

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a essas coisas. Isso faz parte da manifestação do caráter de Deus. Jesus disse: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (Mt 4.19). Ou, como Ele disse em outra ocasião: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21). Quando fazemos missões, evangelização e a obra do reino, fazemos isso de conformidade com a Palavra de Deus; e, nesse caso, em conformidade com Mateus 4.19, João 20.21 e várias outras passagens. Não fazemos essas coisas porque algum teólogo as imaginou e todos concordam que era uma boa idéia. Pregamos, evangelizamos e fazemos a obra do reino porque Deus diz, em sua Palavra, que devemos fazer essas coisas. Afinal de contas, a história não é dividida principalmente entre os que evangelizam e os que não evangelizam. Isso não é fundamentalmente o que define a igreja. A história está dividida entre os que ouvem a Deus e os que não O ouvem. Essa foi a razão por que Mateus narrou o que Jesus disse a Satanás quanto ao homem viver “de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4), bem como as palavras finais de Jesus aos seus discípulos — “Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os... ensinandoos a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19-20). Essa foi a razão por que Marcos relatou a parábola de Jesus sobre a semente plantada em diferentes solos, como uma parábola sobre a Palavra de Deus (Mc 4). Alguns a aceitarão; outros não. Essa foi a razão por que Lucas descreveu-se a si mesmo como testemunha ocular e ministro da Palavra (Lc 1.2) e registrou esta promessa de Jesus: “Bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” (Lc 11.28). Essa foi a razão por que João narrou as últimas palavras de Jesus dirigidas a Pedro como uma exortação repetida três vezes: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21.15-17). Apascentá-las com o quê? Com a Palavra de Deus. Essa foi a razão por que, quando a igreja primitiva se reunia, conforme o livro de Atos, eles se dedicavam à “doutrina dos apóstolos” (At 2.42).

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Essa foi a razão por que o apóstolo Paulo disse aos crentes de Roma: “A fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Essa foi a razão por que ele disse aos crentes de Corinto que “a mensagem da cruz” é o “poder de Deus” para a salvação (1Co 1.18), pois “aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação” (1Co 1.21). Também foi a razão por que, posteriormente, Paulo disse a essa mesma igreja que ele não mercadejava nem adulterava a Palavra de Deus, e sim manifestava a verdade, tendo em vista a felicidade eterna deles (2Co 2.17; 4.2). Essa foi a razão por que ele disse aos crentes da Galácia: “Se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema” (Gl 1.9). Essa foi a razão por que ele disse aos crentes de Éfeso que eles haviam sido unidos a Cristo depois que ouviram “a palavra da verdade, o evangelho da... salvação” (Ef 1.13). Também lhes disse que Deus “concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.11-13). Essa foi a razão por que ele disse aos crentes de Filipos que, por causa de suas cadeias, “a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” (Fp 1.14). Essa foi a razão por que ele disse aos crentes de Colossos: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Cl 3.16). Essa foi a razão por que ele disse aos crentes de Tessalônica: “Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus,

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acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1Ts 2.13). E, posteriormente, os instruiu: “Irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa” (2Ts 2.15). Essa foi a razão por que ele disse a seu discípulo Timóteo que os presbíteros que este escolheria para a igreja tinham de ser aptos “para ensinar”, enquanto os diáconos que serviam em sua igreja deviam conservar “o mistério da fé com a consciência limpa” (1Tm 3.2, 9). Em uma carta subseqüente, Paulo disse a Timóteo que seu trabalho se concentrava em coisa essencial: Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercarse-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas (2Tm 4.2-4).

Essa foi a razão por que ele se regozijou com Tito pelo fato de que Deus “manifestou a sua palavra mediante a pregação que me foi confiada por mandato de Deus, nosso Salvador’ (Tt 1.3). Essa foi a razão por que ele encorajou Filemom a ser ativo em compartilhar sua “fé”. Neste caso, a palavra fé não se refere a um estado emocionalmente subjetivo, e sim a um conjunto definido de crenças (Fm 6). Essa foi a razão por que o autor de Hebreus advertiu: “A palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). Essa foi a razão por que Tiago relembrou aos seus leitores que Deus, “segundo o seu querer... nos gerou pela palavra da verdade” e

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que não devemos ser somente ouvintes “da palavra”, enganando-nos a nós mesmos (Tg 1.18, 22). Essa foi a razão por que Pedro lembrou aos santos espalhados em diversas regiões que eles haviam sido “regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente”, e que “a palavra do Senhor... permanece eternamente” (1Pe 1.23, 25). Essa também foi a razão por que ele disse, em sua segunda epístola: “Nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20-21). Essa foi a razão por que João escreveu: “Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou” (1Jo 2.5-6). E por que ele disse: “E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos” (2 Jo 6) e declarou que não tinha “maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade” (3Jo 4). Essa foi a razão por que Judas gastou quase toda a sua epístola advertindo seus leitores quanto aos falsos mestres (Jd 4-16) e prometeu que o Senhor viria para “exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele” (Jd 15). Finalmente, essa foi a razão por que Jesus, no livro de Apocalipse, elogiou a igreja de Filadélfia: “Conheço as tuas obras... que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome” (Ap 3.8). A igreja acha sua vida à medida que ouve a Palavra de Deus. Acha seu propósito à medida que vive e manifesta a Palavra de Deus. A tarefa da igreja consiste em ouvir e, depois, ecoar. É isso mesmo. O primeiro desafio que as igrejas enfrentam em nossos dias não é descobrir

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como podem ser “relevantes”, “estratégicas”, “sensíveis” ou mesmo “ousadas”. O seu desafio primordial é descobrir como ser fiel — como ouvir, confiar e obedecer. Em última análise, somos semelhantes ao povo de Israel quando se preparava para entrar na Terra Prometida. Deus está nos dizendo: “Igreja, ouça, siga!” A boa notícia é que, diferentemente do Israel étnico, temos a completa revelação de Deus em Jesus Cristo. E temos o Espírito de seu Filho, o selo e a promessa de nossa redenção. Por todos esses motivos, desejo que continuemos ouvindo, enquanto avançamos para a segunda parte deste livro. O que mais Deus nos ensina, em sua Palavra, a respeito de uma igreja saudável? As nove marcas de uma igreja saudável, que discutiremos agora, não são, eu espero, apenas idéias minhas. São uma tentativa de impulsionar-nos, todos, a continuar ouvindo. Olhe novamente o sumário e perceberá o que pretendo dizer: pregação expositiva (ou bíblica), teologia bíblica, um entendimento bíblico das boas-novas, um entendimento bíblico da conversão, um entendimento bíblico da membresia, um entendimento bíblico da disciplina eclesiástica e assim por diante. Ainda que você não concorde com o que eu disser nos capítulos seguintes, espero que discorde por achar que a Bíblia afirma algo diferente do que eu acho que ela diz. Em outras palavras, espero que você também permita que o seu ouvir a Palavra de Deus guie os seus pensamentos sobre o que uma igreja local deve ser e fazer. Breves Conselhos Se você está pensando em deixar sua igreja... Antes da decisão final, 1. Ore. 2. Informe ao seu pastor o que você está pensando, antes de mudar para outra igreja ou tomar sua decisão de mudar-se para outra cidade. Peça-lhe conselhos.

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3. Analise seus motivos. Você deseja sair da igreja por causa de conflito pessoal e pecaminoso ou desapontamento? Se for por causa de razões doutrinárias, essas doutrinas são questões importantes? 4. Faça tudo que puder para restabelecer qualquer relacionamento rompido. 5. Assegure-se de levar em conta todas as “evidências da graça” que você tem visto na igreja — ocasiões em que a obra de Deus é evidente. Se você não pode observar qualquer evidência da graça de Deus, talvez deva examinar outra vez seu próprio coração (Mt 7.3-5). 6. Seja humilde. Reconheça que você não dispõe de todos os fatos e avalie amavelmente as pessoas e as circunstâncias (proporcionelhes o benefício da dúvida). 7. Não divida o corpo. 8. Tenha muito cuidado para não mostrar descontentamento mesmo entre seus amigos mais achegados. Lembre-se: você não quer nada que obstrua o crescimento espiritual deles na igreja. Rejeite qualquer desejo por fofoca (às vezes referida como “expressar seus pensamentos” ou “dizer como se sente”). 9. Ore em favor e abençoe a igreja e a sua liderança. Descubra maneiras de tornar isso prático. 10. Se você foi magoado, perdoe, assim como você foi perdoado.

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parte 2:

marcas essenciais de uma igreja saudรกvel

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Apêndice: Um pacto típico de uma igreja saudável

T

endo, como cremos, sido trazidos pela graça divina ao arrependimento e fé no Senhor Jesus Cristo para render nossa vida a ele, e tendo sido batizados sobre nossa profissão de fé, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, confiando na ajuda de sua graça, solene e alegremente renovamos agora nosso pacto uns com os outros. Trabalharemos e oraremos pela unidade do Espírito no vínculo da paz. Caminharemos juntos em amor fraternal, desde o momento em que nos tornamos membros de uma igreja cristã; exercitaremos o cuidado em amor, velaremos uns pelos outros e, fielmente, nos admoestaremos com súplicas uns aos outros conforme exija a ocasião. Não abandonaremos as reuniões de nossa congregação, nem negligenciaremos a oração por nós e pelos demais. Esforçar-nos-emos no educar tantos quantos possam estar sob o nosso cuidado, na disciplina e na admoestação do Senhor, e com um exemplo puro e amoroso buscaremos a salvação da nossa família e amigos. Alegrar-nos-emos com a felicidade dos outros, e nos esforçaremos em levar as cargas e tristezas uns dos outros, com ternura e compaixão. Buscaremos, com a ajuda divina, viver cuidadosamente no mundo, renunciando a impiedade e as paixões mundanas, e lembrando que, assim como fomos voluntariamente sepultados mediante o batismo

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e levantados de novo da sepultura simbólica, existe agora em nós uma obrigação especial que nos leva a uma vida nova e santa. Trabalharemos juntos para a continuidade de um ministério fiel de evangelização nesta igreja, bem como sustentaremos sua adoração, ordenanças, disciplina e doutrinas. Contribuiremos alegre e regularmente para o sustento do ministério, para as despesas da igreja, para o socorro aos pobres e a difusão do evangelho por todas as nações. Quando mudarmos deste local, tão logo quanto possível, nos uniremos a outra igreja onde possamos cumprir o espírito deste pacto e os princípios da Palavra de Deus. Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos nós. Amém.

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agradecimentos especiais

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uitas pessoas me ajudaram a entender e experimentar o que é uma igreja saudável, mas duas pessoas tiverem participação especial neste livro. Matt Schmucker sugeriu que eu transformasse uma série de artigos do boletim da igreja em um livreto, substituído por este livro. Schmucker tem sido um encorajamento permanente para que os pensamentos deste livro se tornem mais amplamente disponíveis. Sem ele, não tenho certeza se esta obra teria chegado à existência. Jonathan Leeman teve uma participação tão grande na elaboração deste livro que penso teria sido melhor incluir seu nome como autor: Mark Dever e Jonathan Leeman. Por fim, a quantidade de material que portava a minha autoria, a sua identificação com o livro anterior (Nove Marcas de Uma Igreja Saudável) e a maneira como foi escrito (com referências pessoais e ilustrações de minha própria vida) fez com que eu decidisse em favor da atribuição de meu nome somente. Apesar disso, cumpre dizer que Jonathan escreveu a parábola do Sr. Nariz e dos Mãos, a longa lista de expressões do Novo Testamento referentes ao uso da Palavra de Deus e outras partes da primeira metade do livro. Ele fez um trabalho extraordinário, reorganizando e transformando o antigo livreto neste novo formato, mais amplo — e, conforme espero, mais proveitoso. Ele é um irmão talentoso de quem novamente obtive muita ajuda. E você está obtendo dele mais do que imagina. Seremos mais semelhantes ao Senhor à medida que O ouvirmos.

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