PASTOREANDO A IGREJA DE DEUS
PASTOREANDO A IGREJA DE DEUS REDESCOBRINDO O MODELO BÍBLICO D E P R E S B I T É R I O N A I G R E JA
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Editora Fiel
PASTOREANDO A IGREJA DE DEUS - Redescobrindo o modelo bíblico de liderança na Igreja. ©2005 by Phil A. Newton. Título do Original: Elders in Congregational Life Rediscovering the biblical model for Church Leadership Edição publicada nos Estados Unidos por © Kregel Publications, Grand Rapids, Michigan. s Traduzido e impresso com permissão de Kregel Publications, Grand Rapids, Michigan. Copyright © 2007 Editora Fiel Primeira Edição em Português - Novembro de 2007 s Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE. s
Editora Fiel Av. Cidade Jardim, 3978 Bosque dos Eucaliptos São José dos Campos-SP PABX.: (12) 3936-2529
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Editor: Pr. Ricardo Denham Coordenação Editorial: Tiago Santos Tradução: Pr. Wellington Ferreira Revisão: Laura Macal e Tiago Santos Capa e diagramação: Edvânio Silva Direção de arte: Rick Denham ISBN: 978-85-99145-33-3
P ARA K AREN , EM HONRA E CELEBRAÇÃO POR TRINTA ANOS JUNTOS !
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M Á R I O
Prefácio ............................................................................................................ 9 Agradecimentos .............................................................................................. 15 Introdução ....................................................................................................... 17 Parte 1: Por que Presbíteros? Capítulo 1. Por que presbíteros batistas não são um paradoxo? ............... 23 Capítulo 2. Presbíteros no Novo Testamento ............................................. 33 Capítulo 3. Caráter e congregacionalismo................................................... 49 Parte 2: Três passagens bíblicas cruciais Capítulo 4. Um modelo para os nossos dias: Atos 20.17-31 ..................... 73 Capítulo 5. Os Presbíteros e a Congregação em Aliança: Hebreus 13.17-19 .................................................... 89 Capítulo 6. Líderes Espirituais para o Rebanho de Deus: 1 Pedro 6.1-5 ................................................109 Parte 3: Da teoria à prática Capítulo 7. Considerando a transição para a liderança de presbíteros ................................................127 Capítulo 8. Podemos fazê-la? Realizando a transição ................................141 Capítulo 9. Unindo todas essas coisas .........................................................127 Notas ................................................................................................................177 Bibliografia Selecionada.................................................................................195
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E F Á C I O
A igreja é um reflexo do Filho de Deus. Essa é a razão porque a liderança da igreja é sobremodo importante. A igreja é o meio pelo qual a grande esperança — a eternidade com Deus, em Cristo — pode ser vista. No tempo entre a ascensão e o retorno de Cristo, os crentes, em aliança uns com os outros — amando, compartilhando, corrigindo e suportando uns aos outros, através dos anos — apresentam a mais vívida ilustração do amor de Deus que este mundo pode contemplar. A igreja do Senhor, sua noiva, não é constituída meramente de uma lista de indivíduos que são remidos e estão sendo santificados. Na comunhão dos santos, existe algo que parece mais humano do que na vida fora dessa comunhão. E seu esplendor deve emanar da vida que desfrutamos juntos. Esse foi o plano de Deus desde o começo. Desde a eternidade passada, Deus tem se regozijado na plena comunhão consigo mesmo — Pai, Filho e Espírito Santo. Na plenitude do seu amor, Ele criou este mundo e veio, pessoalmente, salvá-lo. No final, os remidos, dentre os bilhões de pessoas deste mundo caído, estarão com Deus para sempre.1 Naquela grande assembléia, nossa união com Cristo conhecerá uma nova profundidade, riqueza e permanência. Essa união brilhará e resplandecerá, irradiará e aquecerá, e produzirá uma paixão e entendimento com os quais jamais sonhamos. Quando falamos sobre o assunto de liderança da igreja — ou seja, a igreja local — devemos nos admirar de que o assunto a respeito de quem e como se deve liderar seja tão crucial? Phil Newton é o homem certo para escrever sobre este assunto. Ele é um crente humilde e feliz que sabe o que significa estar unido com Cristo. Além disso, tem décadas de prática na liderança, como esposo e pai, e como pastor de sua própria igreja local,
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em Memphis. Seu entendimento da Palavra de Deus é ainda mais profundo do que sua forte voz. Essa é uma declaração notável, especialmente se você já conversou com ele ou já o ouviu pregar! Ele viveu a experiência de liderar a igreja como único presbítero-pastor e de conduzi-la na transição para a liderança da pluralidade de presbíteros. Também sou um pastor que vivenciou e realizou essa transição na igreja. Por isso, me congratulo com Phil e recomendo o seu livro. Talvez você tenha dúvidas a respeito de liderança. Você é um diácono e está preocupado com as idéias que seu pastor tem compartilhado. É um membro da igreja há muitos anos e tem perguntas a respeito de como deveria pensar sobre a estrutura de sua igreja. É um pastor e, por meio do estudo das Escrituras, ou por experiência própria, ou com base no que tem visto em outras igrejas, questiona a maneira como a sua igreja é liderada. Achará ajuda neste livro, onde a sabedoria bíblica e o zelo pastoral se unem e lhe dão o auxílio necessário. As respostas e as sugestões apresentadas estão acompanhadas por abundância de exemplos bíblicos e pessoais. Embora possamos imaginar muitas objeções ao ministério de presbíteros no pastorado da igreja, este livro responde apropriadamente a três dessas objeções. 1. É uma prática batista? Você pode estar pensando que toda esta idéia de ter presbíteros não “é batista”. Quando nossa igreja considerava a mudança, um dos membros mais velhos me disse exatamente isso diante de uma enorme classe de Escola Dominical.2 Se você tem esse tipo de preocupação, o Capítulo 1 deste livro lhe será muito interessante. Pois considera a história dos batistas — na Inglaterra e nos Estados Unidos — e, em particular, a questão de haver diversos presbíteros em uma igreja local. Phil cita fontes primárias para demonstrar que os batistas, desde os seus primórdios, têm reconhecido que pastores são presbíteros (nesse sentido, os batistas sempre tiveram presbíteros) e que os batistas têm, freqüentemente, pregado, ensinado e escrito a favor de a igreja local possuir vários presbíteros. Por conseguinte, embora seja verdade que outras denominações — os presbiterianos, os reformados holandeses, igrejas bíblicas, Igreja de Cristo e outras — advogam a existência dos presbíte-
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ros, os batistas têm, igualmente, ensinado e crido nessa doutrina. Ainda que esta tenha sido uma posição minoritária entre os batistas — e Phil investiga esse fato interessante — ela sempre existiu e agora parece estar experimentando um ressurgimento. 2. É bíblico? Outros que lerem este livro se preocuparão muito pouco com o fato de que não é uma prática batista ter presbíteros. Talvez você pertença a uma igreja evangélica independente ou a outra denominação e esteja no processo de reconsiderar a estruturação de sua igreja. A sua preocupação não é a identidade denominacional, e sim a fidelidade às Escrituras. Esta é, de fato, a grande preocupação dos melhores batistas — dos melhores presbiterianos, metodistas, episcopais, congregacionalistas, os assembleianos e luteranos! Os crentes entendem que a Bíblia é a revelação do próprio Deus e de sua vontade para conosco. E, nesta qualidade, a Bíblia é o critério de nossa fé e prática; é o meio pelo qual aprendemos a nos aproximar de Deus, tanto na vida particular como na igreja. Ela nos ensina como direcionar nossa vida e como a igreja deve ser organizada. Por isso, se você está preocupado em saber se o ministério de presbíteros é bíblico, encontrará neste livro grande ajuda. Pastoreando a Igreja de Deus é um livro repleto de considerações bem fundamentadas, equilibradas e prudentes das Escrituras. O Capítulo 2 examina a evidência do Novo Testamento, considerando os vários títulos usados para designar os líderes da igreja e abordando a questão de múltiplos pastores em uma única igreja. O Capítulo 3 considera os exemplos do livro de Atos dos Apóstolos. Toda a Parte 2 se focaliza em três passagens bíblicas fundamentais — Atos 20, o relato do encontro de Paulo com os presbíteros de Éfeso; Hebreus 13, as palavras dirigidas aos líderes das igrejas; 1 Pedro 5, a mensagem de Pedro a respeito de ser ele um dos presbíteros do rebanho de Deus. Nestas três partes, Phil se reporta e se submete às Escrituras com regularidade. Ele conhece a Bíblia e almeja obedecê-la. Como pastor, Phil passou pelas dificuldades de conduzir uma igreja à mudança. E por que fez isso? Por causa de sua crença na suficiência da Escritura e do seu compromisso de ser governado por ela, na maneira como se relaciona com Deus e na maneira como lidera a sua igreja
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em relacionar-se com Ele. Depois de ler este livro, você concordará com Phil e verá que o ministério de presbíteros é, realmente, bíblico. 3. É melhor? Finalmente, talvez a sua preocupação seja bem prática. Você pode estar preocupado não tanto com a sua identidade denominacional ou com os debates profundos a respeito de textos bíblicos específicos. Você crê que ter uma pluralidade de presbíteros parece ser a maneira mais bíblica de liderar uma igreja, mas se questiona: é realmente melhor? É a melhor coisa para a sua igreja no momento? Como você encara este assunto? Talvez o seu pastor esteja promovendo essa idéia agora e lhe deu este livro para que o leia. Talvez você faça parte do grupo de líderes de uma igreja e estejam considerando juntos este assunto. Talvez seja um pastor convencido de ter presbíteros em sua igreja, mas não possui qualquer idéia a respeito de como realmente implementar isso. Tenha bom ânimo, meu irmão, você encontrou o livro certo! Não conheço nenhum outro livro que apresente considerações tão práticas e específicas a respeito da transição à pluralidade de presbíteros. Toda a Parte 3, “Da Teoria à Prática”, é um maravilhoso guia prático para avaliar presbíteros, apresentá-los e começar a tê-los em atividade na igreja. Pela riqueza de informação desses capítulos, torna-se óbvio que Phil vivenciou o processo e se mostra disposto a compartilhar conosco suas próprias experiências — boas ou más — a fim de ajudar-nos a desfrutar de experiências melhores em nossas igrejas. Se você ler este livro, perceberá que ter presbíteros é, sem dúvida, a melhor maneira de liderar uma igreja. Mais um testemunho: estou entusiasmado com este livro porque tenho sido estimulado pelo que significa para mim, como pastor, ter presbíteros na igreja. Desde 1994, tenho desfrutado do privilégio de servir na Igreja Batista Capitol Hill, em Washington, D.C. Esta igreja, fundada em 1878, cresceu muito na primeira metade século XX, mas decaiu em números durante a última metade do século. Nos primeiros anos de meu ministério nesta igreja batista tradicional, ensinei francamente a respeito da liderança de presbíteros — e não estava me referindo a mais pessoas na liderança da igreja. Minha intenção era transmitir o entendimento de que Cristo deu mestres à sua igreja — alguns dos quais podem ser mantidos
Prefácio
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financeiramente pela igreja; outros, não. Estava convencido de que isso era consistente com a história dos batistas, de que era bíblico e de que era melhor nos movermos em direção à pluralidade de presbíteros. Esses presbíteros, eu ensinei, deveriam ajudar-me a guiar o rebanho. Ensinei com base em 1 Timóteo, Tito, 1 Pedro, Atos 20, Hebreus 13 e Efésios 4. Quando tive oportunidade, instruí a igreja. Usei o livrete de John MacArthur a respeito de presbíteros3 e distribuí muitas cópias aos membros da igreja. Tivemos o privilégio da vinda de D. A. Carson à nossa igreja, para ensinar este assunto. Citei o exemplo de outros pastores batistas bem conhecidos — desde Spurgeon a John Piper — cujas igrejas tinham presbíteros. Finalmente, depois de dois anos de consideração atenciosa, supervisionada por um comitê, a igreja votou a adoção de um novo estatuto com uma pluralidade de presbíteros. Somente um dos membros votou contra; e até agora, enquanto escrevo estas palavras, seis anos depois, ele é um membro satisfeito da igreja, freqüentando-a com regularidade. Qual foi o resultado? Seis anos de cuidado pastoral aprimorado, de sabedoria nas decisões, de auxílio nas dificuldades e gozo para mim, quando vejo homens maduros e piedosos dedicando sacrificialmente seu tempo e sua vida, para liderar a igreja que Deus lhes confiou. Tem sido um tempo maravilhoso para mim. Enquanto você lê este livro, peço ao Senhor que o torne útil à sua vida e que você experimente, como o fizemos, a bondade e o cuidado de Deus por meio da ordem que Ele estabeleceu para a sua igreja. Se Deus nos instrui deliberadamente, dediquemo-nos a ouvir a sua Palavra e a atendê-la em cada assunto — incluindo o ter presbíteros reconhecidos na igreja. A autoridade é um excelente dom de Deus para nós. Tanto no exercê-la como em submetermo-nos a ela, podemos conhecê-Lo melhor. E, especialmente porque este dom de autoridade é tão pouco entendido e freqüentemente tão mal empregado em nossas igrejas, rogo a Deus que ajude a você e a sua igreja por meio deste livro. Mark Dever Igreja Batista Capitol Hill Washington, D.C.
AGRA
D E C I M E N T O S
O Senhor me tornou um devedor. Ao escrever Pastoreando a Igreja de Deus, me tornei devedor de muitas pessoas. Minha própria igreja, a Igreja Batista South Woods, em Memphis, acompanhou-me durante a longa jornada deste livro, estimulando-me e orando muito por mim. Os meus colegas presbíteros, Jim Carnes, Tommy Campbell e Tom Tollett, modelaram grande parte do conteúdo do livro por meio de seus exemplos fiéis e de suas criteriosas discussões. As extensas conversas deles quanto aos detalhes da pluralidade de presbíteros, aliadas à precisão editorial de Tom, contribuíram à utilidade do livro. Suzanne Buchanan, esposa de um dos nossos diáconos e ex-editora de um periódico jurídico, nos proveu ajuda notável — suas observações foram transformadas em mudanças proveitosas. Richard e Ginger Hamlet cederam-me um escritório tranqüilo, durante duas semanas, para que eu escrevesse sem interrupção. Vários amigos, incluindo Mark Dever, Ray Pritchard, Danny Akin, o falecido Stephen Olford, David Olford, Tom Ascol, Matt McCullough e Randy McCledon, leram com perspicácia os manuscritos e ofereceram sugestões preciosas. Além de redigir graciosamente o prefácio do livro, Mark Dever preparou o caminho para este livro, ao escrever e falar sobre o assunto de presbíteros. A amizade duradoura e o encorajamento de Ray me ajudaram mais vezes do que posso enumerar. Os Olfords iniciaram meu ensino neste tema, e isso proveu um laboratório internacional para discutir a pluralidade de presbíteros com líderes cristãos de todo o mundo. Todd Wilson, meu amigo e colega no ministério pastoral, segurou as rédeas do ministério enquanto eu escrevia e me ajudou em inúmeras ocasiões, tanto nas pesquisas como nas minhas dúvidas referentes ao uso do computador. Jim Weaver,
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Steve Barclift e os funcionários da Editora Kregel demonstraram muita paciência e habilidade no processo de preparação e edição do livro. Sou especialmente grato à minha esposa, Karen, por seu apoio, estímulo e ouvidos atenciosos, enquanto eu lhe transmitia algumas idéias, nestes últimos anos, a respeito de escrever e publicar este livro. Ela é uma companheira incomparável em minha vida e ministério. O demais membros da família — Kelly, Adam, Addie, Andrew, John, Lizzy, Stephen e minha mãe, Jane — também prestaram sua contribuição. Meu amor e afeição para com o Grande Pastor das ovelhas têm crescido, à medida que tenho estudado o seu propósito sábio para a igreja. Que Ele seja glorificado por meio desta contribuição ao seu rebanho!
INT
R O D U Ç Ã O
Por que presbíteros? Esta pergunta foi colocada diante de mim, quando nossa igreja passava pela transição à liderança de presbíteros. A igreja não os tinha, nem qualquer das três igrejas nas quais eu servira como pastor. Embora presbíteros fossem encontrados nas congregações da Igreja Presbiteriana e da Igreja de Cristo, em nossa cidade, os batistas não os tinham. Então, por que gastei tempo e energias, sem mencionar o despertamento de possíveis problemas, para levar a igreja a uma liderança de múltiplos presbíteros? Três elementos primários moveram-me em direção à pluralidade de presbíteros: as Escrituras, a história dos batistas e as questões práticas da vida eclesiástica. Enquanto pregava sermões sobre textos bíblicos que ensinam a pluralidade de presbíteros, experimentei inúmeros momentos de desconforto — desconforto porque abrandei ou ignorei este ensino, devido ao meu próprio contexto pastoral. Referências a presbíteros são abundantes em todo o Novo Testamento. Portanto, é impossível não encontrá-las, quando se prega seqüencialmente os livros das Escrituras. Adotei a explicação superficial que igualava os presbíteros da igreja primitiva à equipe de liderança eclesiástica em nossos dias. Isto satisfez meus ouvintes, mas ficou evidente para mim que impus uma perspectiva moderna a um texto antigo. Antes de continuar apresentando esta explicação à minha igreja, tive de certificar-me de que esta interpretação comum era fiel ao texto bíblico. Se eu mesmo não me convencia, por meio do estudo pessoal das Escrituras, de que essa interpretação era bíblica, como poderia convencer a igreja? Quanto mais estudava os textos bíblicos, tanto menos apoio encontrava para igualar os presbíteros à equipe de liderança na igre-
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ja moderna. A fidelidade à bíblia exigia uma mudança na maneira como eu abordava esses textos. A História também desempenhou um papel importante em afetar meus pensamentos. Quando eu era adolescente, descobri que minha própria igreja reconhecera os presbíteros em sua história antiga. Os primeiros pastores eram identificados pelos nomes de Presbítero Gibson, Presbítero Judson e Presbítero Jennings. Por que eram chamados de presbíteros, no século XIX, se, de fato, eram pastores? A resposta desta pergunta apareceu anos mais tarde, quando um amigo, Ph.D em História Eclesiástica, obtido no Seminário Teológico Batista Shouthwestern, enviou-me uma cópia do capítulo denominado The Rulers of a Church of Christ (Os Líderes de uma Igreja de Cristo), escrito por W. B. Johnson, em seu livro The Gospel Developed Through the Government and Order of the Churches of Jesus (O Evangelho Desenvolvido por meio do Governo e Ordem das Igrejas de Jesus). Johnson, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul, mostrou com clareza a necessidade bíblica e prática de uma pluralidade de presbíteros na vida dos batistas. A notoriedade de Johnson como líder entre os primeiros Batistas do Sul fez com que sua mensagem se tornasse um marco histórico em favor de presbíteros na vida congregacional. Na vida de algumas igrejas, se não de muitas, os batistas dos séculos XVIII e XIX incluíram a prática de liderança de presbíteros. Se era assim, por que os batistas do fim do século XIX e século XX mudaram a estrutura de liderança para a de um único pastor, alguns líderes (administrativos) e diáconos? Por último, as preocupações práticas forneceram-me muitas razões para questionar a estrutura de autoridade, comum em igrejas batistas. Experimentei meu próprio quinhão de conflitos na igreja, reuniões desanimadoras, diáconos desqualificados e lutas por poder na vida congregacional. Testemunhei, em primeira mão, a falta de coesão entre pastor e diáconos que afetou a unidade e as realizações da igreja. Era assim que as coisas deveriam ser, se você é um batista? Muitos pensavam que sim. Também li o artigo de outro pastor que comparava os batistas aos gatos briguentos de rua. Ele afirmou: “Portanto, não tente nos mudar”. Mas a Palavra de Deus não me permitia resignar-me a tais afirmações. Como eu
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prestaria contas ao Senhor da igreja, se eu aquiescesse aos conflitos e à confusão na liderança da igreja? Certo de minha responsabilidade para com o Senhor pela maneira como eu liderava a igreja e a servia, também sabia que tinha de percorrer um longo caminho — ainda que o custo fosse elevado. Existe uma maneira melhor — mais bíblica — de conduzir a vida da igreja? Enfrentei essa pergunta no início dos anos 1980. É uma pergunta que muitos enfrentam no presente. A necessidade de mudança não pode ser ignorada, mas a metodologia não precisa causar reações insensatas que transtornam o equilíbrio das congregações. Os líderes e as igrejas têm de se esforçar para descobrir, nas Escrituras, a vontade revelada de Deus e obedecer-lhe com fidelidade. Pastoreando a Igreja de Deus não esgota o assunto de liderança de presbíteros. Em vez disso, explora as Escrituras e a história da igreja, oferecendo algumas recomendações notáveis a pastores e líderes de igreja interessados na transição à liderança de presbíteros. A Parte 1 aborda a pergunta “Por que precisamos da pluralidade de presbíteros na vida da igreja?” Explora a história de presbíteros entre os batistas, considerando as implicações extraídas dos primeiros documentos confessionais dos batistas. Embora este livro seja escrito a partir da perspectiva de minha própria denominação, igrejas de estrutura congregacional também podem se identificar com o assunto. A familiaridade com a história da igreja nos ajuda a identificar as implicações das Escrituras em qualquer ministério. Depois do estudo histórico, uma investigação bíblica e teológica estabelece a estrutura para a liderança de presbíteros. A Parte 2 aborda o papel do pastor, expondo três passagens diferentes que tratam de presbíteros e de liderança espiritual. Em vez de considerar amplamente os assuntos teológicos, como na Parte 1, a Parte 2 isola textos particulares a fim de delinear a estrutura bíblica essencial à pluralidade de presbíteros, demonstrando que essa estrutura pode ser praticada em um ambiente congregacional. Assim, o propósito da Parte 2 é duplo: a) explorar melhor o significado de presbíteros no contexto do Novo Testamento; b) oferecer um modelo para exposições bíblicas que se comprovem proveitosas a pastores e líderes no ensino deste assunto a suas igrejas. É mais provável
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que os crentes seguirão as mudanças referentes aos líderes, quando convencidos de que as Escrituras exigem a mudança. Pregar várias passagens das Escrituras que falam sobre a liderança da igreja local provê o contexto para abandonar as tradições e seguir a vontade de Deus. A Parte 3 lida com algumas das questões e perplexidades relacionadas à transição para a liderança de presbíteros. Oferece recomendações a respeito de preparar o terreno para a eventual transição à liderança de presbíteros e de confiar no Grande Pastor para aplicar o que é necessário ao ambiente de cada igreja.
P ARTE 1
P OR
QUE
PRESBÍTEROS ?
C APÍTULO 1
P OR
QUE PRESBÍTEROS BATISTAS
NÃO SÃO UM PARADOXO ?
Fotos antigas de homens idosos podem despertar perguntas em
nossa mente. Como adolescente, minha curiosidade foi aguçada ao ver retratos de pastores que serviram em minha própria igreja durante o século XIX. Todos eles tinham o título Presbítero embaixo de seu nome. Eu sabia que presbíteros podiam ser encontrados nas congregações presbiterianas e na Igreja de Cristo, em nossa cidade. Contudo, eu jamais ouvira falar da existência de um só presbítero na centenária igreja batista. Mas, aqueles retratos antigos não estavam mentindo: a Primeira Igreja Batista de Russelville, no Estado do Alabama, havia reconhecido presbíteros. Parece que uma pluralidade de presbíteros de congregações das cidades vizinhas tinham a responsabilidade de estabelecer e manter novas igrejas na região. A Primeira Igreja Batista de Russelville foi fundada em 1867, com “R. J. Jennings e Mike Finney constituindo o seu presbitério”.1 É verdade que em alguns círculos o título Presbítero foi muito usado da ou Irmão são empregados hoje. No entanto, além mesma maneira que do título, a prática de pluralidade de presbíteros existia entre algumas igrejas. Greg Wills, historiador batista, ao falar sobre batistas e a sua distinção igualitária que funciona democraticamente, ressalta que nos séculos anteriores “o governo [distinto das questões de disciplina] estava vinculado à
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eleição dos oficiais da igreja — diáconos, presbíteros e pastores”. Posteriormente, ele explica: “Os batistas do Sul, que viveram antes da Guerra Civil, costumavam se referir aos pastores ordenados chamando-os de presbíteros. Algumas igrejas também indicavam os presbíteros como regentes, que não eram pastores ordenados”.2 Ao detalhar a história dos primeiros batistas de Tennessee, J. H. Grimes se refere com freqüência aos pastores, chamandoos de presbíteros. Identifica o Presbítero John Bond, em Statesville, “como um pastor agora aposentado, ordenado pela Igreja Union, em 1820, por um presbitério constituído por Joshua Lester e David Gordon”.3 John Bond serviu posteriormente como pastor, mas foi chamado presbítero antes mesmo de assumir o pastorado. Nas igrejas batistas do Tennessee, Grimes também identificou a pluralidade de presbíteros, homens envolvidos em liderança pastoral, mas que não recebiam salário, porque eram “presbíteros leigos”.4
PLURALIDADE DE PRESBÍTEROS ENTRE OS BATISTAS AMERICANOS David Tinsley — um batista proeminente que serviu na Geórgia, no século XVIII, ao lado de Silas Mercer, o pai de Jesse Mercer, foi ordenado quatro vezes: “A primeira vez, para o ofício de diácono; a segunda, para o cargo de presbítero regente; a terceira, para o ofício de pregador do evangelho; e, em quarto, ele foi ordenado como evangelista pelo Cel. Samuel Harris, enquanto este oficiava no digníssimo caráter de Apóstolo da Virgínia”.5 Os dois primeiros ofícios representavam uma posição que não incluía o recebimento de salário na igreja local, colocando Tinsley como parte do presbitério de sua igreja. O seu trabalho ao lado do notável Silas Mercer demonstra a proeminência dada à pluralidade de presbíteros entre os batistas.6 As Minutas da Associação Batista da Filadélfia — 1707 a 1807 — notavelmente, a principal associação batista do período colonial — dá ampla evidência da pluralidade de presbíteros. Em 1738, uma questão apresentada à associação procurava determinar se um presbítero regente, que havia sido separado pela imposição de mãos e, “depois, chamado pela igreja, por causa dos seus dons, ao ministério da Palavra e do ensino [isto é, como
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pastor] tinha de ser ordenado novamente, mediante a imposição de mãos”. A resposta foi simples: “Resolvido com a afirmativa”.7 Uma leitura superficial das minutas demonstra com clareza que a pluralidade de presbíteros era algo comum entre os batistas do Nordeste Americano, no século XVIII. Distinguir entre os presbíteros regentes e aqueles que ministravam a Palavra parece ter sido a norma na Associação da Filadélfia. A ordenação de presbíteros regentes foi deixada à discrição das igrejas locais.8 É claro que a pluralidade era uma prática deles. No Sul, algumas das igrejas batistas dos séculos XVIII e XIX praticavam a pluralidade de presbíteros. “Às vezes, havia o reconhecimento formal de ministros ordenados, os presbíteros de sua própria membresia” — escreveu Wills. “Estes presbíteros ajudavam o pastor na pregação, na realização de batismos e celebração da Ceia do Senhor. Eles eram líderes da congregação por sua piedade, sabedoria, conhecimento e experiência. Essas igrejas reconheciam os dons e o chamado de todos os presbíteros entre elas.”9 Nesta altura, percebemos que havia uma distinção entre “os presbíteros regentes” e “os presbíteros-docentes”. Os presbíteros regentes se focalizavam nas questões administrativas e organizacionais da vida da igreja, enquanto os presbíteros docentes exerciam as responsabilidades pastorais, inclusive a ministração das ordenanças. Por volta de 1820, o título presbíteros regentes havia desaparecido na vida da igreja batista, e a autoridade eclesiástica passou a residir na congregação. Então, alguns consideraram que o pastor e os diáconos constituíam o presbitério. Nem todos concordavam com isso, inclusive o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul, W. B. Johnson, o qual “ensinava que Cristo exigia estritamente que cada igreja tivesse uma pluralidade de presbíteros”; e isso implicava numa distinção entre pluralidade de presbíteros e pluralidade de diáconos.10
OS BATISTAS INGLESES A prática de incluir presbíteros na vida batista não começou nos Estados Unidos. Pluralidade de presbíteros era comum na Inglaterra durante
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os séculos XVI e XVII. A. C. Underwood oferece vários exemplos de presbíteros leigos11 que faziam parte da pluralidade de presbíteros em igrejas batistas locais na Inglaterra. Ele admite que os primeiros batistas não somente reconheciam a pluralidade de presbíteros, mas também distinguiam as funções deles, nas igrejas locais. Underwood menciona a Igreja Broadmead, em Bristol, que tinha um pastor, presbíteros regentes, diáconos e diaconisas (que eram provavelmente viúvas sustentadas pela generosidade de um presbítero regente).12 Na Inglaterra, o presbitério batista diferia do presbiteriano. Os primeiros batistas “recuavam ante à perspectiva” de presbíteros de uma igreja que atuasse como presbítero em outra igreja. Assim, a idéia de um sínodo ou presbitério fora da igreja local era desconhecida entre eles, devido ao ponto de vista congregacional a respeito da importância da autoridade atribuída à igreja local. Parece que a única exceção acontecia quando os presbíteros ajudavam na ordenação dos oficiais ou na ministração das ordenanças, sob a aprovação da igreja local. Estes agiam como ministros do evangelho, mas sem autoridade pastoral na igreja local.13 Diferentemente dos presbiterianos, muitos dos batistas ingleses dessa época rejeitavam a idéia de “presbíteros regentes”. A igreja Devonshire Square Church, em Londres, na qual William Kiffin era o pastor, reconhecia “uma igualdade entre os presbíteros”, ou seja, cada presbítero compartilhava responsabilidade e autoridade dentro da igreja local. Citando fontes primárias, James Renihan observa: “Em Kensworth, no Condado de Bedford, em 1688, três homens foram escolhidos juntos e igualmente para oficiar, no lugar do irmão Hayward [o pastor falecido], o partir do pão e a administração das ordenanças. E a igreja concordou, ao mesmo tempo, em prover as necessidades e manter os três em um único cargo”.14 O famoso Benjamim Keach rejeitava a idéia de presbíteros regentes como uma posição distinta, mas permitia que a igreja “escolhesse alguns irmãos capazes e modestos para serem Auxiliares no Governo”, talvez como uma aliança separada ou mais provavelmente como membros do presbitério.15 Reniham destaca “que, pelo menos, um pequeno número de igrejas fazia distinção entre presbíteros regentes e presbíteros-docentes”. Nesses casos, “o pastor era o principal dos
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presbíteros da igreja”, enquanto os presbíteros regentes compartilhavam com ele a supervisão da igreja.16 Certamente, nem todas as igrejas batistas da Inglaterra, nessa época, seguiam a pluralidade de presbíteros, porém “a maioria dos batistas particulares eram comprometidos com a pluralidade e igualdade dos presbíteros em suas igrejas”, crendo na pluralidade de presbíteros como algo “necessário a uma igreja completa”.17 Presbíteros nunca deviam impor sua posição sobre a sua igreja. Eles eram “mordomos responsáveis ao seu Senhor e servos das pessoas”. De acordo com Nehemiah Coxe, em uma mensagem de ordenação, em 1681, os deveres dos presbíteros consistiam em oração, pregação e exercício da disciplina; e seus deveres particulares eram visitar o rebanho, encorajar, exortar e repreender os crentes”.18 Hanserd Knollys, outro dos líderes notáveis entre os batistas ingleses do século XVII, descreveu os deveres do presbiterato: O ofício de um Pastor, Bispo e Presbítero, na Igreja de Deus, consiste em supervisionar, ser responsável e cuidar das almas que o Senhor Jesus lhe confiou; alimentar o rebanho de Deus; velar pela almas do rebanho, orientá-las, guiá-las e governá-las... de acordo com as leis, estatutos e ordenanças do evangelho.19
Os documentos confessionais e as afirmações sobre administração da igreja entre os primeiros batistas, na Inglaterra e nos Estados Unidos, confirmam a prática da pluralidade de presbíteros. A Confissão de Fé Londrina de 1644 dizia: Estando os crentes assim unidos, toda igreja tem o poder, dado por Cristo, visando ao seu melhor bem-estar, de escolher pessoas para ocuparem o ofício de pastores, ensinadores, presbíteros, diáconos, sendo estes qualificados, de acordo com a Palavra, como aqueles que Cristo designou, em seu Testamento, para a nutrição, o governo e a edificação de sua igreja. Ninguém tem o poder de se impor sobre os crentes, nem os escolhidos para esses ofícios, nem qualquer outra pessoa.20
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De modo semelhante à Confissão Londrina, a Declaração de Savoy de 1658 — confissão congregacionalista cujo conteúdo foi, em boa medida, aproveitado pelas confissões batistas posteriores — identifica “pastores, mestres, presbíteros e diáconos” como “os oficiais designados por Cristo a serem eleitos e separados pela igreja”.21 A Confissão Batista de 1688 (a Confissão da Filadélfia) segue a linguagem da Declaração de Savoy, apresentando apenas uma mudança nos ofícios que são identificados como “bispos, presbíteros e diáconos”.22 A Confissão de New Hampshire de 1833 — o documento fundamental para a confissão Baptist Faith and Message, (Fé e Mensagem Batista), dos batistas do Sul, em 1925 — identifica os únicos oficiais da igreja local, reconhecidos pelas Escrituras, como “bispos ou pastores e diáconos, cujas qualificações, direitos e deveres são definidos nas epístolas a Timóteo e Tito”.23 A confissão Abstract of Principles (1858) — ainda usada no seminários teológicos dos batistas do Sul e dos batistas do Sudeste — afirma: “Os oficiais regulares de uma igreja são os bispos ou presbíteros e os diáconos”. Embora a confissão Baptist Faith and Message dos batistas do Sul identifique o ofício dos presbíteros, tanto a revisão de 1963 como a do ano 2000 eliminam os títulos bispos e presbíteros, optando por “os oficiais bíblicos da igreja são os pastores e os diáconos”. A mudança demonstra como a pluralidade de presbíteros caiu em desuso na prática batista.24 É verdade que as afirmações das confissões de fé são um tanto vagas, permitindo que se encaixem em sua estrutura tanto aqueles que defendem a pluralidade de presbíteros como aqueles que se opõem a ela. Certamente, nem todas as igrejas batistas inglesas e coloniais praticavam a pluralidade de presbíteros. Por algumas razões, apenas a minoria fazia isso. Contudo, a presença da pluralidade de presbíteros entre líderes notáveis e igrejas fortes contradiz a noção de que o presbiterato é uma anomalia entre os batistas. Assim, os batistas modernos que procuram aceitar a pluralidade de presbíteros têm uma herança viável como fundamento.25 Esta herança transparece com clareza em alguns dos documentos sobre o sistema de governo dos primeiros batistas. Benjamim Griffith, no documento “A Short Treatise Concerning a True and Ordely Gospel Church” – 1743 (Um
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Breve Tratado Sobre uma Igreja Evangélica Ordeira e Verdadeira), ensinou claramente a pluralidade de presbíteros, destacando os presbíteros regentes como aqueles homens dotados “para auxiliar o pastor ou mestre no governo da igreja”.26 Ele acrescentou: “As obras de ensinar e de governar pertencem ambas ao pastor; mas, no caso de ser ele incapaz ou de ser a obra de governar muito ampla para ele, Deus providenciou esses para assisti-lhe. E eles são chamados presbíteros regentes”.27 O conceito de Griffith era que os presbíteros deveriam servir ao lado do pastor, que trabalha no ministério da Palavra, fortalecendo as mãos dele para as exigências do ministério cristão. Nesse sentido, Grifith insistia na praticidade de usar uma pluralidade de presbíteros, “para facilitar a obra do pastor ou mestre e manter a honra do ministério”.28
W. B. JOHNSON E OS BATISTAS DO SUL Na qualidade de um dos fundadores da Convenção Batista do Sul e primeiro presidente da denominação, W. B. Johnson deixou um legado de fidelidade bíblica e amor pelo evangelho. Sua obra sobre o sistema de governo da igreja — “The Gospel Developed through the Government and Order of the Churches of Jesus Christ”, 1846 (O Evangelho Desenvolvido através da Ordem e do Governo das Igrejas de Jesus Cristo), permanece digna de confiança ao encorajar as igrejas batistas a serem fiéis à Palavra de Deus. Depois de esboçar as evidências bíblicas da pluralidade de presbíteros nas igrejas do século I, Johnson explica que cada presbítero (ou “bispo” , como ele os chamava, embora preferisse o termo supervisor) trazia “um talento particular” às necessidade da igreja. Ele acrescentou: “A importância e a necessidade de um presbitério para cada igreja, incorporando dons para vários serviços, é muito óbvia para a realização de um dos maiores objetivos em favor dos quais Cristo veio ao mundo e, ascendendo às alturas, recebeu dons para os homens” (isto é, o propósito do ministério delineado em Efésios 4.12-16).29 Em uma pluralidade, cada presbítero traz um diferente conjunto de dons e habilidades, para que todo o corpo
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se beneficie deste compartilhar no ministério. Explicando o benefício de mais pessoas que pensam juntas sobre as complexidades do ministério, Johnson afirmou: “A pluralidade no presbitério é de grande importância para o conselho e ajuda mútuos, de modo que o governo e a edificação do rebanho sejam promovidos da melhor maneira”.30 Ao revisar os textos bíblicos que se referem aos presbíteros, ele explica: “Estes presbíteros eram todos iguais em classe e autoridade; nenhum tinha preeminência sobre os outros. Isto se torna evidente do fato de que as mesmas qualificações eram exigidas de todos, para que, embora alguns se afadigassem na Palavra e na doutrina, e outros não o fizessem, a distinção entre eles não fosse de classe, e sim de tipo de serviço”.31 Johnson era realista. Enquanto reconhecia que a pluralidade de presbíteros era uma exigência bíblica, observava que algumas igrejas não seriam capazes de estabelecer imediatamente essa pluralidade. “Em uma igreja em que não se puder obter mais do que um [presbítero], esse tem de ser constituído sob o princípio bíblico de que haverá uma pluralidade tão logo seja encontrado outro homem.”32 Johnson também fez uma clara distinção entre presbíteros e diáconos. O ofício do presbítero é espiritual, enquanto o ofício atribuído aos diáconos é material. “Quaisquer que sejam os interesses temporais da igreja, esses recaem sobre os diáconos, como os servos da igreja.”33 É claro que os diáconos também funcionavam em pluralidade. Podemos concluir que toda igreja batista do passado tinha pluralidade de presbíteros? É claro que não. À luz da ênfase histórica dos batistas na autonomia da igreja local, os batistas que consideramos acreditavam na pluralidade de presbíteros como o modelo do Novo Testamento. Depois de examinar as confissões de fé históricas dos batistas, John Piper concluiu: “Com base nesta investigação histórica das confissões batistas, podemos dizer: é falso afirmar que o presbiterato não é uma prática batista. Pelo contrário, o presbiterato é mais batista do que a sua ausência. Seu desaparecimento é um fenômeno moderno que se iguala a outros desenvolvimentos de doutrina que tornaram questionável esse desaparecimento”.34
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O FIM RECENTE DA PLURALIDADE DE PRESBÍTEROS Os duzentos anos passados testemunharam o fim da pluralidade de presbíteros entre os batistas. Espera-se que os pastores abandonem a função de pastorear, para se tornarem “rancheiros”, um termo empregado freqüentemente pelos líderes do Movimento de Crescimento de Igreja. Muitos pastores famosos assemelham-se a presidentes de grandes empresas, e não ao modelo de um pastor humilde apresentado no Novo Testamento. Os seus auxiliares também respiram o ar de diretores da empresa. As igrejas têm se tornado um grande negócio, exigindo estruturas empresariais que refletem muitas empresas bem-sucedidas. Alguns dos pastores de mega-igrejas têm obtido tanto sucesso, que agora dão conselhos a respeito de negócios. Uma consideração sincera a respeito do sistema de governo das igrejas suscita perguntas referentes à nossa diligência em conformar-nos às Escrituras. As nossas igrejas estão mais conformadas à imagem de Cristo? Somos transformados por santidade de vida, de modo que somos sal e luz em nossa comunidade, conforme o Senhor declarou que devemos ser? Os valores morais e familiares da igreja são apreciavelmente diferentes dos valores de um lar característico de nosso país? As igrejas locais são alimentadas e disciplinadas como o eram as igrejas do Novo Testamento? Igrejas cujo rol de membros cresceu rápida e exageradamente, fomentadas pelo modelo igreja-motivada-por-sucesso têm direito de vangloriar-se nos círculos denominacionais? Uma igreja normal revela o tipo de unidade que os apóstolos recomendaram e em favor da qual Cristo orou? A diretoria da igreja promove o melhor proveito dos líderes mais piedosos e capazes na congregação? Os pastores e os membros da diretoria são responsáveis por qualquer outra pessoa além deles mesmos? Será que a alarmante taxa de comportamento imoral entre os pastores não se deve à desconexão entre a diretoria da igreja e um presbitério constituído de homens leigos piedosos? Os antepassados batistas procuraram apoiar a organização e a prática de sua igreja no ensino das Escrituras Sagradas. Rejeitando a conformidade
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com os desígnios do mundo que eram prevalecentes em seus dias, esses homens corajosos usaram a verdade das Escrituras a fim de pavimentar um caminho para os seus herdeiros. No final, é secundário reconhecer se os batistas praticaram, historicamente, a pluralidade de presbíteros. Entender o ensino da Palavra de Deus e organizar a igreja local de acordo com esse entendimento tem de ser o foco primário para os líderes da igreja contemporânea. A História serve apenas para confirmar a veracidade das Escrituras.
REFLEXÕES s Que papel a História realiza no entendimento que alguém pode ter a respeito da vida da igreja moderna? s Todos os primeiros batistas praticavam a pluralidade de presbíteros? s Qual era a posição de W. B. Johnson concernente à pluralidade de presbíteros? s Por que houve um afastamento da pluralidade de presbíteros nos séculos XIX e XX?
Esta obra foi composta em Cheltenham, corpo 10,5 / 14,5 e impressa por Editora Parma Ltda. sobre o papel Chamois Bulk 70g/m2, para Editora Fiel, em novembro de 2007.