“Piper o fez novamente. Este seu livro notável promete pastorear uma geração ao compromisso cristão com a vida da mente. Profundamente bíblico e singularmente equilibrado, Pense pratica o que prega: é um estudo fácil e intelectualmente rico que convida o leitor a um amor renovado a Deus e aos outros.” J. P. Moreland, Professor de Filosofia, Talbot School of Theology; autor de Kingdom Triangle
“John Piper nos oferece muito conselho sábio a respeito da importância do pensar cristão como uma maneira de amar a Deus com a mente e como parte de deleitar-nos em Deus acima de todas as coisas.” George Marsden, Professor de História, University of Notre Dame; autor de Jonathan Edwards: A Life
“Você já desejou sentir mais profundamente as coisas que sabe que são verdadeiras? Já se passou algum tempo desde que você foi às lagrimas por causa do pensamento da morte de Cristo em favor de seus pecados? Isso não é misterioso: aqueles que têm sentimentos profundos a respeito do evangelho são aqueles que pensam profundamente no evangelho. Nestas páginas, John Piper o convencerá de que pensar é o alicerce firme para as nossas afeições facilmente desorientadas. Se você quer sentir profundamente, aprenda a pensar com cuidado. E comece por ler este livro! C. J. Mahaney, Sovereign Grace Ministries
“Uma dimensão essencial do discipulado cristão é a vida da mente; e essa talvez seja a responsabilidade mais negligenciada de nossa época. Deus nos fez criaturas inteligentes e nos deu a mordomia de nossas faculdades intelectuais que devem nos impelir a pensar de maneiras que lhe tragam maior glória. Neste novo livro, John Piper nos oferece uma análise brilhante, encorajamento caloroso e um modelo fiel de pensar cristão. Este livro é uma cartilha para o pensar cristão que é tão necessário em nossos dias.” R. Albert Mohler Jr., Presidente, The Southern Baptist Theological Seminary
Pense – A Vida da Mente e o Amor de Deus Traduzido do original em inglês Think – the Life of the mind and the love of God por John Piper Copyright © 2010 by Desiring God Foundation
Publicado por Crossway Books, Um ministério de publicações de Good News Publishers 1300 Crescent Street Wheaton, Illinois 60187, U.S.A
Copyright © 2010 Editora Fiel Primeira Edição em Português: 2011 Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Caixa Postal 1601 CEP: 12230-971 São José dos Campos, SP PABX: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
Presidente: James Richard Denham III Presidente Emérito: James Richard Denham Jr. Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Francisco Wellington Ferreira Revisão: Tiago J. Santos Filho Diagramação: Layout Produção Gráfica Capa: Rubner Durais ISBN: 978-85-8132-000-7
Para Mark Noll e Nathan Hatch Classe de 1968
Sumário Apresentação................................................................15 Introdução....................................................................23 Esclarecendo o Objetivo do Livro................................35 1 - Minha Peregrinação................................................37 2 - Ajuda Profunda de um Amigo Falecido..................49 Esclarecendo o Significado de Pensar 3 - Ler é Pensar.............................................................59 Vindo à fé por Meio do Pensar 4 - Adultério Mental Não é um Escape........................85 5 - Evangelho Racional Luz Espiritual........................99 Esclarecendo o Significado de Amar a Deus 6 - Amor a Deus: Valorizando a Deus com Toda a Mente......................................................119 Enfrentando o Desafio do Relativismo 7 - Jesus Confronta os Relativistas...........................135
8 - Jesus Confronta os Relativistas...........................149 Enfrentando o Desafio do Anti-Intelectualismo 9 - Impulsos Anti-Intelectuais Inúteis em Nossa História......................................................169 10 - Ocultaste estas coisas aos Sábios e Instruídos......187 11 - Na Sabedoria de Deus, o Mundo não O Conheceu por sua própria Sabedoria..........................................203 Achando Uma Maneira Humilde de Conhecer 12 - O Conhecimento que Ama.................................223 13 - Toda Erudição Existe Para o Amor a Deus e ao Homem..............................237 Incentivando os Pensadores e os Não-Pensadores Conclusão: um Apelo Final........................................253 Apêndice 1..................................................................263 Apêndice 2..................................................................291 Agradecimentos.........................................................299
Apresentação
Entre os muitos benefícios importantes de ouvir ou ler bons sermões, há o estímulo de pensar mais claramente sobre Deus e seus caminhos. Quando os sermões tratam do próprio pensar, o estímulo é ainda maior. Este livro de John Piper, sobre o pensar, tem a semelhança de sermão, mas não é exatamente um sermão. Contudo, por causa do modo como ele envolve as Escrituras e procura aplicá-las a questões da vida real, o livro funciona como um bom sermão. Seus principais textos são extraídos de Provérbios 2 e 2 Timóteo 2, uma passagem do Antigo Testamento e uma do Novo Testamento que instam os seguidores de Deus a pensarem cuidadosamente. Discernimento e entendimento são os alvos em Provérbios 2; pensar sobre o que Paulo disse a Timó-
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teo é o propósito em vista na outra passagem. Como nos bons sermões, Piper quer expor essas passagens em seus próprios contextos, e nisto temos a recompensa. Paulo exorta Timóteo a pensar cuidadosamente, “porque o Senhor te dará compreensão em todas as coisas” (2 Tm 2.7). O autor de Provérbios insiste no pensamento diligente a fim de acharmos “prata” e “tesouros escondidos”, que são definidos como “o temor do Senhor” e o “conhecimento de Deus”. Com essa relação assegurada – entre o pensar e o achar o conhecimento de Deus – Piper pode, então, desenvolver seus argumentos que se movem das Escrituras para os problemas da vida real. Os problemas da vida real são os dois lados da mesma moeda. Por um lado, pessoas de propensão espiritual podem concluir que, se o Espírito Santo é a fonte de toda a vida e verdade, não é importante nos dedicarmos a pensar, ler e aprender. Por outro lado, pessoas de propensão intelectual podem concluir que, se Deus quer que pensemos, leiamos e aprendamos, essas atividades são supremamente importantes, em e por si mesmas. Piper contesta ambas as conclusões. E sustenta os resultados da exposição bíblica paciente, explorando as Escrituras para ressaltar duas verdades alternativas que falam diretamente à situação contemporânea. Primeiramente, contra as tendências anti-intelectuais, Piper argumenta que o pensar cuidadoso é parte integrante de uma compreensão plena do evangelho. Em segundo, contra o uso orgulhoso do intelecto, Piper argumen-
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ta que o pensar claro que segue padrões bíblicos nos afastará do “eu” e nos levará a um deleite completo na graça de Deus como a chave para cada aspecto de nossa existência. Sem dúvida, leitores diferentes acharão mais cativantes aspectos diferentes da exposição de Piper. Eu fui especialmente provocado a meditar pelos esforços de Piper em perscrutar duas passagens, sobre as quais eu também tenho ponderado. Uma delas é Lucas 10.21, na qual Jesus diz que Deus ocultou “estas coisas aos sábios e instruídos” e as revelou “aos pequeninos”. A exegese cuidadosa de Piper nos mostra convincentemente que as palavras de Jesus tinham o propósito de promover a humildade no uso de todos os dons, incluindo a inteligência, e não o de negar o intelecto. A outra passagem é 1 Coríntios 1.20, em que o apóstolo Paulo diz que Deus “tornou... louca a sabedoria do mundo”. Outra vez, a exegese cuidadosa mostra que a intenção da passagem é estabelecer a diferença entre a sabedoria usada para exaltar a criatura e a sabedoria empregada para honrar o Criador. Essa conclusão é resumida em uma das muitas frases impressionantes de Piper: “A cruz é o divisor supremo entre a sabedoria humana e a sabedoria divina”. A compensação para a vida real proveniente de examinar cuidadosamente essas passagens não poderia ser mais oportuna. Muito na vida contemporânea promove o pensar leviano ou o pensar diligente que visa à autopromoção humana. Muito nas igrejas cristãs conservadoras promove a suspeita do aprendizado moderno ou o uso
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de emoção reacionária para substituir o pensar. Piper apresenta a alternativa bíblica: pensar (tão claramente quanto possível) vinculado às afeições (valorizando a Deus como o bem mais elevado); respeito pelo intelecto com cautela contra o orgulho intelectual e comprometimento com o estudo diligente em total dependência da graça de Deus. Para os crentes, esse é o caminho a tomar; para os incrédulos, esse é o caminho para a vida. Quando recebi o pedido de preparar uma breve apresentação para este livro, tive de sorrir da maneira propícia como o Senhor dispõe o tempo. Era apenas uma coincidência, me perguntei, o fato de que me pediram que lesse o livro de John Piper sobre o imperativo do pensar centrado em Cristo, nos mesmos dias em que estava terminando os manuscritos de meu livro que seria uma seqüência de The Scandal of the Evangelical Mind (O Escândalo da Mente Evangélica), publicado alguns anos atrás? O sorriso veio porque, como este livro de John, meu livro considera João 1, Hebreus 1 e, em especial, Colossenses 1, para definir o que essas passagens dizem sobre “todas as coisas” sendo criadas em, por e para Jesus Cristo. Também estou tentando mostrar que o estudo cuidadoso é uma necessidade ordenada por Deus, mas uma necessidade que jamais deve substituir a total dependência do crente para com a graça de Deus. Como John, estou incentivando os crentes a serem implacavelmente sérios quanto a estudar o mundo, mas não sérios quanto a confiar em si mesmos. Minha esposa, Maggie, perguntou se meu livro,
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que será intitulado Jesus Christ and the Life of the Mind (Jesus Cristo e a Vida da Mente), não competiria com o livro de John. Eu lhe respondi que há muitas diferenças a distingui-los. A exposição bíblica de John é muito mais ampla, e sua exposição enfatiza mais poderosamente o papel apropriado do pensar humano sério no gozo de Cristo. Meu livro diz algumas poucas coisas sobre a ciência (especialmente, a evolução) que muito dos leitores de John, e talvez o próprio John, talvez não aprovem. E, quanto ao meu esforço de promover o pensar centrado em Cristo, faço muito mais uso de pensadores católicos e das grandes declarações antigas da fé cristã ortodoxa (O Credo dos Apóstolos, O Credo Niceno e a definição do Concílio de Calcedônia quanto à pessoa de Cristo). No entanto, visto que a mensagem básica que estou procurando dizer é exatamente a mesma que você lerá em Pense: A Vida da Mente e o Amor a Deus, tenho prazer em recomendar este livro e ficarei plenamente tranqüilo se ele for o único livro que você ler sobre esse assunto vital! Tenho desfrutado do privilégio de conhecer John Piper desde que fazíamos especialização em literatura e residíamos no mesmo quarto no Wheaton College, há muito tempo. Tenho o privilégio ainda maior de agradecer a Deus pelo fato de que, apesar dos diferentes caminhos pelos quais o Senhor nos conduziu nestas últimas décadas, andamos na mesma direção quanto aos interesses cruciais deste livro. O objetivo do aprendizado cristão é entendermos
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os dois livros de Deus – a Escritura e o mundo – e, com esse entendimento, glorificarmos a Deus. As páginas que você tem diante de si comunicam muito bem essa verdade. Leia-as, prove-as pelas Escrituras, medite no quadro que apresentam do Deus de amor. Em poucas palavras, pense nelas.
Mark A. Noll Professor de História Universidade de Notre Dame
Se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus. Provérbios 2.3-5
Introdução
Este livro é um apelo a adotarmos o pensar sério como um meio de amar a Deus e as pessoas. É um apelo a rejeitar o pensar do tipo “ou-ou” no que diz respeito à mente e ao coração, a pensar e a sentir, à razão e à fé, à teologia e à doxologia, ao esforço mental e ao ministério de amor. É um apelo a que vejamos o pensar como um meio que Deus ordenou para o conhecermos. Pensar é um dos meios mais importantes de colocarmos o combustível do conhecimento no fogo da adoração a Deus e do serviço ao mundo.
Conhecendo, valorizando e vivendo – para a glória de Cristo O alvo crucial da vida é que Deus seja manifestado
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como glorioso por causa de tudo que ele é e tudo que ele fez e faz – em especial, a graça que ele mostrou na obra de Cristo. A maneira como o glorificamos é por conhecê-lo verdadeiramente, por valorizá-lo acima de todas as coisas e por vivermos de um modo que revela ser ele o nosso tesouro supremo. Minha ardente expectativa e esperança de que... será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro... tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor... considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Fp 1.20-21, 23; 3.8
Portanto, a principal razão por que Deus nos deu mentes é que procuremos e encontremos todas as razões que existem para valorizarmos a ele em todas as coisas e acima de todas as coisas. Deus criou o mundo para que por meio dele e acima dele valorizemos a Deus. Quanto mais vemos a sua superabundante grandeza, conhecimento, sabedoria, poder, justiça, ira, misericórdia, graça e amor, tanto mais nós o valorizamos. E, quanto mais o valorizamos, tanto mais ele é consciente e alegremente glorificado. O argumento deste livro é que pensar é um meio dado por Deus para atingirmos esse fim.
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Como este livro é diferente? Há outros livros a respeito de pensar. Bons livros. Eis alguns exemplos de como este livro é diferente. Ele é menos histórico do que The Scandal of the Evangelical Mind (O Escândalo da Mente Evangélica),1 escrito por Mark Noll; menos robusto do que Fit Bodies Fat Minds (Corpos Sadios, Mentes Doentes),2 por Os Guinness; menos filosófico do que Love Your God with All Your Mind (Ame Seu Deus com Toda a Sua Mente),3 por J. P. Moreland; menos vocacional do que Hábitos da Mente,4 por James Sire; e menos cultural do que Loving God with All Your Mind (Amando a Deus com Toda a Sua Mente),5 por Gene Veith. Portanto, este livro é menos em muitos aspectos. O que há mais é exposição bíblica. Isso não é uma crítica aos outros livros. Em muitos aspectos, eles são melhores do que este. São o que tencionavam ser e são bons. Mas eu sou um pregador – um expositor da Bíblia. Gasto a maior parte de meu tempo tentando descobrir o que a Bíblia significa e como ela se aplica à vida. Esse é o tom deste livro. 1 Mark Noll. The scandal of the evangelical mind. Grand Rapids: Eerdmans, 1994. 2 Os Guinnes. Fit bodies fat minds: why evangelicals don’t think and what to do about it. Grand Rapids: Baker, 1994. 3 J. P Moreland. Love your God with all your mind: the role of reason in the life of the soul. Colorado Springs: NavPress, 1997. 4 James W. Sire. Hábitos da mente. São Paulo: Hagnos, 2005. 5 Gene Vieth Jr. E. Loving God with all your mind: thinking as a christian in the postmodern world. Ed. rev. Wheaton, Il: Crossway, 2003. Ver também: Richard Hughes. How christian faith can sustain the life of the mind. Grand Rapids: Eerdmans, 2001. Clifford Williams. The life of the mind: a Christian perspective. Grand Rapids: Baker Academic, 2002.
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Para quem é o livro? É para estudantes? Sim, se você concorda comigo quanto ao fato de que todos devem ser estudantes. Este é um dos significados de estudante no dicionário: “qualquer pessoa que estuda, investiga ou examina atentamente”. É muito difícil passar toda a vida sem examinar alguma coisa atentamente. Mas este livro é, acima de tudo, para o cristão – em ou fora da escola – que deseja conhecer melhor a Deus, amá-lo mais e se preocupar com pessoas. Sim, tenho interesses. Por exemplo, espero que este livro ajude a resgatar vítimas do pragmatismo evangélico, dos atalhos pentecostais, do anti-intelectualismo pietista, da aversão à convicção pluralista, da astúcia acadêmica, da evasão terapêutica da Bíblia, do encantamento musical, do anseio por YouTube e da manipulação fútil do pós-modernismo. Em outras palavras, creio que pensar é bom para a igreja em todos os aspectos.
Não devemos exagerar o caso Detesto parecer pretensioso – que é algo que normalmente caracteriza livros sobre pensar. Então, veja se isto o ajuda. Procede de um filósofo, Nicholas Wolterstorff, e torna a impolidez da afirmação mais convincente. Ele admite que o super-intelectualismo é uma praga, assim como o anti-intelectualismo. O super-intelectualismo se mostra assim:
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Se você usa as suas mãos ou ensina aqueles que usam as próprias mãos... você é inferior àqueles que usam apenas a cabeça: os músicos instrumentistas são inferiores aos musicólogos; os pintores são inferiores aos historiadores de arte; os professores de economia são inferiores aos economistas; os professores de pregação são inferiores aos teólogos. A atitude básica foi afirmada claramente por Aristóteles...: “Achamos os mestres de obra em cada profissão mais honráveis... do que os trabalhadores manuais”.6
Isso não é verdade, diz Wolterstorff. Ele acrescenta: “Essa é uma atitude estranha para o cristão sustentar, visto que Jesus foi o filho de um carpinteiro e Deus é apresentado nas primeiras páginas da Escritura como alguém que ‘faz’, e não como um pensador”.7 Portanto, não quero exagerar o caso. A questão não é ir à escola, ou obter graduação, ou ter prestígio. Não é ter superioridade intelectual. É usar os meios que Deus nos deu para que o conheçamos, o amemos e sirvamos às pessoas. Pensar é um dos meios. Gostaria de estimulá-lo a pensar, mas não para ficar impressionado consigo mesmo quando o fizer. 6 Nicholas Wolterstorff. Thinking with your hands. Books and Culture, Carol Stream, p. 30, March/April 2009. 7 Ibid. É claro que, quando Deus fala e traz as coisas à existência, sua palavra é quase o mesmo que seu pensamento.
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A Bíblia diz: “Se... por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata... então... acharás o conhecimento de Deus” (Pv 2.3-6). Preciso de toda ajuda que eu puder conseguir para amar o conhecimento de Deus mais do que os lucros da prata. Imagino que você também. Por isso, escrevi este livro para relembrar a mim mesmo o lugar do pensar na busca de Deus. Como um pequeno eco de Calvino e Agostinho, eu digo, com eles: “Considero a mim mesmo como um daqueles que escrevem enquanto aprendem e aprendem enquanto escrevem”.8 Se você se une a mim nessa consideração, espero que ache este livro proveitoso.
Mapeando o restante do livro Se você é aquele tipo de pessoa que procura a ajuda de um mapa antes de viajar, leia o restante desta introdução. Se você prefere mais surpresas enquanto prossegue, pule-a. Eis um esboço do que veremos. Narro minha história no capítulo 1. Uma das razões é que parece honesto expor meu contexto, influências e lutas. Isso lhe dá a chance de colocar meus pensamentos em um contexto e compreender algumas de minhas limitações. Outra razão é que minha própria experiência é, conforme penso, característica de muitos evangélicos no que diz respeito às tensões que experimentei no 8 Essa foi a maneira como Calvino terminou seu texto “João Calvino ao Leitor”, no começo de suas Institutas. A citação se acha também nas Cartas de Agostinho (cxliii 2).
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despertamento da vida da mente. Você pode achar encorajador seguir um colega de lutas. Em terceiro, a maioria das questões que o livro suscita emergem de minha própria interação com o mundo de Deus e com a Palavra de Deus. Portanto, a minha jornada serve como um portal adequado para o panorama que estudaremos. O capítulo 2 nos conta a história de como Jonathan Edwards causou um grande impacto em minha experiência da vida da mente. Embora ele tenha morrido há mais de 250 anos, seu impacto ainda é enorme em muitos filósofos hoje. Minha história de deparar-me com ele forma a base para o restante do livro. O que obtive dele foi o alicerce mais profundo a respeito de como o pensar e o sentir se relacionam um com o outro. Ele fez isso por meio de sua visão da natureza trinitária de Deus. No capítulo 3, saímos do foco mais ou menos biográfico (capítulos 1 e 2), que esclarece o objetivo do livro, para o que eu realmente tenciono dizer com a tarefa de pensar. O que tenho em mente, acima de tudo, é o maravilhoso ato de ler. A melhor leitura da literatura mais perceptiva (especialmente, a Bíblia) envolve pensar sério. Isso é o assunto do capítulo 3. Os capítulos 4 e 5 tentam mostrar que o pensar age (capítulo 4) e como o pensar age (capítulo 5) no processo de vir à fé em Jesus. Alguém pode inferir, com base nos efeitos abrangentes do pecado em inutilizar nossa mente, que o pensar não tem papel importante em como Deus cria a fé salvadora. Mas, de fato, veremos o papel crucial do pensar tanto no vir à fé como no manter a fé.
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Havendo esclarecido o papel do pensar em como chegamos à fé em Cristo (Capítulos 4 e 5), nos voltaremos, no capítulo 6, ao papel do pensar em como cumprimos o Grande Mandamento – amar a Deus. Jesus disse que devemos amar a Deus com toda a nossa mente (Mt 22.37). Alguns têm tratado isso como que significando: “Pense firme, pense com exatidão, e esse ato de pensar é amar a Deus”. Mas duvido disso. Farei a sugestão de que o amar a Deus com a mente significa que nosso pensar é totalmente engajado em fazer tudo que pode para despertar e expressar a profunda plenitude de valorizar a Deus acima de todas as coisas. Valorizar a Deus é a essência de amá-lo, e a mente serve a este amor por compreender (imperfeita ou parcial, mas verdadeiramente) a verdade, a beleza e a dignidade do Tesouro. Qual é a base bíblica para esse entendimento de amar a Deus com a nossa mente? Isso é o assunto do capítulo 6. Mas tudo que está contido nos capítulos 1 a 6 seria inútil, se o conhecimento genuíno fosse impossível ou se nada houvesse para conhecermos. Uma noção comum nestes dias é que o conhecimento das coisas fora de nossa mente é impossível. Um dos nomes para essa atitude é relativismo. Nos capítulos 7 e 8, tento explicar o que é isso e o que Jesus pensava sobre isso. Argumento, no capítulo 7, que o relativismo não é nem intelectualmente convincente, nem moralmente reto. Em seguida, no capítulo 8, tento fortalecer seu sistema de imunidade contra o vírus intelectual do relativismo por vacinar
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você, se estiver disposto, com sete aspectos prejudicais e imorais dessa doença. Meu alvo é confiança e liberdade profundamente tranqüilas que nos capacitem a ver, experimentar e falar a verdade cujos tesouros estão escondidos em Cristo. Essa atitude cheia de esperança para com a busca da verdade que exalta a Cristo, por meio do uso da mente, não tem sido uma característica da história cristã recente – pelo menos, não nos Estados Unidos. Um anti-intelectualismo abrangente paira no ar. No capítulo 9, tento lhe apresentar um senso dessa atmosfera. Uma maneira de olharmos os capítulos 9 a 11 é vê-los como meu esforço de mostrar que os supostos pilares bíblicos para o anti-intelectualismo são muito instáveis. Mas os alicerces bíblicos para um uso firme da mente para o propósito de amar a Deus e o homem são profundos e fortes. Duas passagens das Escrituras parecem promover o anti-intelectualismo. Uma delas é Lucas 10.21, em que Jesus diz: “Ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”. Nós a abordaremos no capítulo 10. A outra é 1 Coríntios 1.20, que diz: “Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?” Nós a focalizaremos no capítulo 11. Essas duas passagens se tornaram pilares na casa do anti-intelectualismo. É impressionante o fato de que essas passagens são semelhantes no que ensinam. Mas elas provam que tais pilares são realmente instáveis. A conclusão de nosso estudo sobre esses “pilares”
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é que eles não são advertências contra o pensar cuidadoso, fiel, sério e coerente na busca de Deus. De fato, a maneira como Jesus e Paulo proferiram essas palavras nos compelem a engajar-nos no pensar sério até para entendê-las. E o que descobrimos é que o orgulho não respeita pessoas – os pensadores sérios podem ser humildes. E os místicos negligentes podem ser arrogantes. O alvo deste livro é estimular o pensar sério, fiel e humilde que leva ao verdadeiro conhecimento de Deus, que, por sua vez, nos leva a amá-lo, o que transborda em amor aos outros. Há uma maneira de pensar que evita as armadilhas do orgulho, tanto entre os homens comuns como entre os mais instruídos. No capítulo 12, temos um vislumbre disso na impressionante advertência de Paulo contra o conhecimento que ensoberbece. O foco neste capítulo está em 1 Coríntios 8.1-3 e Romanos 10.1-4. A lição do capítulo 12 é que pensar é perigoso e indispensável. Sem uma obra profunda da graça no coração, o pensar ensoberbece. Mas, com essa graça, o pensar abre a porta do conhecimento humilde. E esse conhecimento é o combustível do fogo do amor a Deus e aos homens. Mas, se nos afastarmos do pensar sério em nossa busca de Deus, esse fogo se apagará. Por fim, no capítulo 13, expandimos a implicação do capítulo 12: todo pensar – todo aprendizado, toda educação, toda erudição, formal ou informal, simples ou sofisticada – existe para o amor a Deus e o amor ao homem. Tomamos a verdade de 1 Coríntios 8.1-3 e a aplicamos ao conhecimento de Deus por meio de seu outro
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“livro”, o mundo criado da natureza e da vida humana. A conclusão é que a tarefa de toda erudição cristã – não apenas de estudos bíblicos – é estudar a realidade como uma manifestação da glória de Deus, falar e escrever com exatidão sobre essa realidade, provar a beleza de Deus nela e torná-la serva do bem do homem. Uma abdicação da erudição acontece quando os cristãos fazem trabalho acadêmico com pouca referência a Deus. Se todo o universo e tudo que há nele existem pelo desígnio de um Deus infinito e pessoal, para tornar conhecida e amada a sua glória multiforme, tratar qualquer assunto sem referência a Deus não é erudição, é insurreição. Em resumo, todos os ramos de aprendizado – e este livro sobre pensar – existem, em última análise, para o propósito de conhecermos a Deus, amarmos a Deus e amarmos os homens por meio de Jesus Cristo. E, visto que amar o homem significa, em essência, ajudá-lo a ver e a provar a Deus, em Cristo, para sempre, é profundamente correto dizer que todas as coisas, todo aprendizado, toda educação e toda pesquisa existem para o propósito de conhecermos a Deus, amarmos a Deus e mostrarmos a Deus. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36).
Esclarecendo o Objetivo do Livro
De fato, pensamentos e afeições são sibi mutuo causae – as causas mútuas um do outro: “Enquanto eu meditava, ateou-se o fogo” (Sl 39.3). Os pensamentos são as chamas que acendem e inflamam as afeições; e, se estas são inflamadas, fazem os pensamentos ferver. Portanto, os recém-convertidos a Deus, tendo novas e fortes afeições, podem pensar em Deus com maior prazer do que os outros. Thomas Goodwin
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Minha Peregrinação
Em toda a minha vida, tive a tensão entre pensar, sentir e fazer.
A mudança de 1979 Depois de vinte e dois anos de educação formal, sem parar, e seis anos de ensino na faculdade, deixei a vida acadêmica para assumir o pastorado quando estava com trinta e quatro anos de idade. Isso foi há quase trinta anos. Lembro a noite de 14 de outubro de 1979, quando escrevi, em meu diário, sete páginas sobre a crise que havia em minha alma concernente ao ensino na faculdade versus o ministério pastoral. Foi um dos dias mais importantes de minha vida – posso ver isso agora.
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Na época, pareceu-me que estas coisas – pensar, sentir e fazer – talvez achariam um equilíbrio melhor na igreja do que na faculdade. Por “melhor”, neste caso, quero dizer um equilíbrio que harmonizaria os meus dons, o chamado de Deus, as necessidades das pessoas e os propósitos de Deus para este mundo. Penso que fiz a coisa certa. Mas não estou dizendo que isso seria certo para todos. De fato, um dos propósitos deste livro é celebrar o lugar indispensável da educação na causa de Cristo. Se todo membro de corpo docente na universidade ou no seminário fizesse o que eu fiz, isso seria trágico. Amo o que Deus fez por mim na educação durante vinte e oito anos, desde os seis aos trinta e quatro anos. Não estou entre os muitos que olham para trás com desânimo em relação ao que fui, ou não fui, ensinado. Se eu tivesse de fazer tudo de novo, teria quase todas as mesmas aulas, com os mesmos professores, e ensinaria quase todas as mesmas matérias. Não esperava que a faculdade, o seminário e a pós-graduação me ensinassem coisas que tinham de ser aprendidas no trabalho. Se eu tivesse fracassado, não seria culpa deles.
A dolorosa alegria da erudição Também não deixei o mundo acadêmico porque ele sufocava minha vida espiritual. Pelo contrário. Durante todos os anos na faculdade, no seminário e, depois, nos meus seis anos de ensino na faculdade, o ler, o pensar e
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o escrever fizeram meu coração arder de zelo por Deus. Nunca fui um daqueles cujo coração perde o interesse quando conhece melhor a Deus e sua Palavra. Colocar mais conhecimento sobre Deus e seus caminhos em minha mente foi como colocar lenha na fornalha da adoração. Para mim, ver significa saborear. E, quanto mais claro o ver, tanto mais doce o saborear. Isso não significa que não houve lágrimas. Algumas de minhas noções sobre Deus foram consumidas pelas chamas da verdade bíblica. Isso machucou. Em algumas tardes, coloquei a face nas mãos e chorei sentindo a dor da confusão. Mas, como diz um provérbio americano, a alma não terá arco-íris se os olhos não tiverem lágrimas. Algumas alegrias são possíveis apenas no outro lado da tristeza. É verdade o que o Pregador diz: “Na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza” (Ec 1.18). Mas vale a pena. E não estou dizendo que o ver que leva ao saborear foi algo fácil. A obra envolvida em descobrir o que a Bíblia significa, quando fala sobre Deus, é freqüentemente muito difícil. Entendo um pouco desta afirmação agonizante de Lutero: “Importunei persistentemente a Paulo quanto àquela passagem, desejando com muito ardor saber o que ele queria dizer”.1 Estou dizendo apenas que, ao ser tudo dito e feito, a obra de pensar me levou repetidas vezes à adoração. A vida acadêmica era estimulante para mim. 1 John Dillienberger (Ed.). Martin Luther: selections from his writings. Garden City, NY: Doubleday, 1961. p. 12.
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Romanos 9 me inflamou a pregar Deixei o mundo acadêmico em busca de uma nova vida de exultação quanto à verdade. Há uma ironia no fato de que o que me levou a deixar a erudição foi um período de descanso no qual escrevi um livro sobre Romanos 9.2 The Justification of God (A Justificação de Deus) é o livro mais complicado e mais intelectualmente exigente que já escrevi. Aborda questões teológicas complicadas e um dos textos mais difíceis da Bíblia. Entretanto, ironicamente, a pesquisa e a escrita desse livro foi o que Deus usou para inflamar meu coração para o ministério pastoral e de pregação. Escrever esse livro muito difícil a respeito da soberania de Deus não foi desanimador: foi inflamador. Este era o Deus que eu queria proclamar, mais do que tudo – e não apenas explicar. No entanto, foi o explicar que incendiou o proclamar. Nunca esqueci isso. Esse é o principal ensino deste livro. Nunca o esqueci porque ainda é verdadeiro. O salmista disse: “Enquanto eu meditava, ateou-se o fogo; então, disse eu com a própria língua” (Sl 39.3). Considerar. Meditar. Ponderar. Pensar. Quanto a mim, esse tem sido o caminho para ver, experimentar, cantar e proclamar – e permanecer. Ano após ano, este tem sido o meu trabalho – pensar, saturado de oração, em dependência 2 John Piper. The justification of God: a theological and exegetical study of Romans 9.123. Grand Rapids: Baker, 1993.
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do Espírito, sobre o que Deus tem revelado de si mesmo, para prover o combustível para o amor e a pregação. Pensar é indispensável no caminho do amor a Deus. Pensar não é um fim em si mesmo. Nada, exceto Deus mesmo, é um fim em si mesmo. Pensar não é o alvo da vida. Pensar, como o não pensar, pode ser o alicerce para a vanglória. Pensar, sem oração, sem o Espírito Santo, sem obediência e sem amor ensoberbecerá e destruirá (1 Co 8.1). Mas o pensar em submissão à poderosa mão de Deus, o pensar saturado de oração, o pensar guiado pelo Espírito Santo, o pensar vinculado à Bíblia, o pensar em busca de mais razões para louvar e proclamar as glórias de Deus, o pensar a serviço do amor – esse pensar é indispensável em uma vida de pleno louvor a Deus.
A tensão Mas a tensão ainda permanece. Pensar, sentir e fazer empurram um ao outro em minha vida, procurando obter mais espaço. Parece que nunca houve uma proporção satisfatória. Eu deveria estar fazendo mais, pensando mais, sentindo mais, expressando mais afeições? Sem dúvida, este desconforto se deve, em parte, a peculiaridades de minha personalidade, fatores em meu contexto cultural e à corrupção remanescente em meu coração. Mas essa tensão se deve também à história do super-intelectualismo e do anti-intelectualismo na igreja. E se deve, em parte, à complexidade na própria Bíblia.
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Muito freqüentemente, a igreja tem sido ambivalente quanto à “vida da mente”. Os Estados Unidos, em particular, têm uma longa história de suspeita da educação e do labor intelectual. A narrativa mais notável dessa história para os evangélicos é o livro The Scandal of the Evangelical Mind (O Escândalo da Mente Evangélica), escrito por Mark Noll. A primeira sentença dessa obra diz: “O escândalo da mente evangélica é que não existe muito dessa mente evangélica”.3
O lamento dos pensadores Trinta anos antes da acusação de Noll, Harry Blamires escreveu: “Em distinção da mente secular, nenhuma mente cristã vital exerce frutiferamente uma influência coerente e reconhecível sobre nossa vida cultural, política ou social... Não há uma mente cristã”.4 E, desde Noll, outros têm se unido no lamento. J. P. Moreland tem um capítulo intitulado “Como Perdemos a Mente Cristã e Por Que Temos de Resgatá-la”.5 E Os Guinness escreveu Fit Bodies Fat Minds: Why Evangelicals Don’t Think and What to Do About It (Corpos em Forma, Mentes Obesas: Por que os Evangélicos Não Pensam e o que Fazer Sobre Isso).6 3 Mark Noll. The scandal of the evangelical mind. Grand Rapids: Eerdmans, 1994. p. 3. 4 Harry Blamires. The christian mind: how should a christian think? London: SPCK, 1963. p. 6. 5 J. P. Moreland Love your God with all your mind: the role of reason in the life of the soul. Colorado Springs: NavPress, 1997. p. 19-40. 6 Os Guiness. Fit bodies fat minds: why evangelicals don’t think and what to do about it. Grand Rapids: Baker, 1994. “O anti-intelectualismo evangélico é tanto um escândalo
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Esses amigos estão descrevendo não somente o mundo, mas também o lar em que cresci. No que diz respeito ao mundo, R. C. Sproul escreveu: “Vivemos no que pode ser a época mais anti-intelectual na história da civilização ocidental”.7 Quanto à minha educação fundamentalista, Noll diz que, para o tipo de pensar que envolve a sociedade, as artes, a pessoa humana e a natureza – “para esse tipo de pensar, os hábitos mentais fomentados pelo fundamentalismo só podem ser chamados de desastre”.8 Talvez não seja surpreendente que eu me veja impelido a diferentes direções. Pois até Noll admite que ações maravilhosas para o bem do mundo foram realizadas pelos próprios impulsos que, em parte, arruinaram a vida mais profunda da mente.9
Conhecimento: perigoso e libertador Mas, não importando o que herdei na atmosfera de meu mundo e meu lar, a tensão que experimento entre o pensar, o sentir e o fazer se deve, em grande parte, à como um pecado. É um escândalo no sentido de ser uma ofensa e uma pedra de tropeço que impede desnecessariamente pessoas sérias de considerarem a fé cristã e virem a Cristo. É um pecado porque é uma recusa contrária ao primeiro dos dois grandes mandamentos de Jesus: amar o Senhor, nosso Deus, com nossa mente” (p. 10-11). 7 R. C. Sproul. Burning hearts are not nourished by empty heads. Christianity Today, Carol Stream, p. 100, Sept. 3, 1982. 8 Mark Noll. The scandal of the evangelical mind. Grand Rapids: Eerdmans, 1994. p. 132. 9 Ibid., p. 3. “Uma extraordinária gama de virtudes se acha entre as dispersas multidões de protestantes evangélicos na América do Norte, incluindo grande sacrifício em propagar a mensagem de salvação em Jesus Cristo, generosidade sincera para com os necessitados, esforço pessoal heróico em favor dos atribulados e o sustento inesperado de inúmeras igrejas e comunidades para-eclesiásticas”.
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própria Bíblia. Há algumas sentenças na Palavra de Deus que fazem o conhecimento parecer perigoso e outras que o fazem parecer glorioso. Por exemplo, a Bíblia diz: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica” (1 Co 8.1). Mas ela também diz: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32). O conhecer é perigoso. O conhecer é libertador. E esse não é um paradoxo isolado. Portanto, o que desejo fazer neste livro é levar você comigo à própria Bíblia, para entendermos como Deus ordenou o ato de pensar em relação a outros atos cruciais da vida. Como ele se relaciona com o nosso crer, adorar e viver neste mundo? Por que há tantas advertências sobre o “saber” (1 Tm 6.20), a “sabedoria deste mundo” (1 Co 3.19), a “filosofia” (Cl 2.8), a “disposição mental reprovável” (Rm 1.28), os “sábios e instruídos” que não podem ver (Lc 10.21) e aqueles cujo entendimento está obscurecido (Ef 4.18)?
“Pondera o que acabo de dizer” Apesar de todas essas advertências, a mensagem impressionante da Bíblia é que conhecer a verdade é crucial. E pensar – usar com zelo e humildade a mente que Deus nos Deus e usá-la bem – é essencial para conhecermos a verdade. Duas passagens das Escrituras formam o principal ensino deste livro. A primeira é 2 Timóteo 2.7, na qual Paulo disse a Timóteo: “Pondera o que acabo de dizer, porque o Senhor te dará compreensão em todas as
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coisas” (2 Tm 2.7). A ordem era que ele pensasse, considerasse, usasse a mente para tentar entender o que Paulo estava dizendo. E a razão que Paulo apresenta para a ordem de pensar é esta: “Porque o Senhor te dará compreensão”. Paulo não coloca essas coisas em tensão: pensar, por um lado, e receber de Deus o dom de entendimento, por outro lado. Essas duas coisas andam juntas. Pensar é essencial para chegarmos ao entendimento. Mas o entendimento é um dom de Deus. Esse é o argumento deste livro.
“Se buscares a sabedoria como a prata” A outra passagem é Provérbios 2.1-6. Eu a condensarei em dois versículos, para tornar fácil que você veja como ela é semelhante a 2 Timóteo 2.7. “Se... por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata... então... acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento”. O ensino é que devemos buscar o entendimento como um avarento busca a prata. Devemos engajar nossa mente nessa tarefa com diligência e habilidade. Qual é a razão apresentada? “Porque o Senhor dá a sabedoria.” Eles andam juntos – o nosso buscar o entendimento e o dar da parte do Senhor. Buscar o entendimento como quem busca a prata é essencial para o acharmos. Mas o achar é um dom de Deus. Esse é o argumento deste livro.
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Uma história sobre Benjamim Warfield esclarecerá isso. Warfield ensinou no Seminário de Princeton durante 34 anos, até sua morte em 1921. Ele reagia com desânimo àqueles que viam oposição entre a oração por iluminação divina e o pensar rigoroso sobre a Palavra de Deus escrita. Em 1911, ele deu uma palestra aos alunos com esta exortação: “Às vezes, ouvimos alguns dizerem que dez minutos em seus joelhos lhe dará um conhecimento de Deus mais verdadeiro, mais profundo, mais eficaz do que dez horas em seus livros. ‘O quê?’, é a resposta apropriada, ‘mais do que dez horas tanto em seus livros como em seus joelhos?’”10 Tanto-como. Não ou-ou. Essa é a visão que estou tentando encorajar neste livro.
Agora, apresentando um amigo e lançando um alicerce Em um sentido, o próximo capítulo é uma extensão deste porque conta a história de como um homem causou um grande impacto em minha experiência desta vida tanto-como. Você pode dizer que é um tributo a um amigo que nunca conheci pessoalmente. De fato, ele morreu há mais de 250 anos. Quanto a mim, ele se tornou uma inspiração para eu ser este tipo de pessoa tanto-como. 10 Benjamim Warfield. The religious life of theological students. In: Noll, Mark (Ed.). The Princeton Theology. Grand Rapids: Baker, 1983. p. 263.
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Mas, em outro sentido, o próximo capítulo é a base para o resto do livro. O que esse amigo me deu foi o mais profundo fundamento a respeito de como o pensar e o sentir se relacionam um com o outro. Ele fez isso por meio de sua visão da natureza trinitária de Deus. Espero que você se beneficie da visão desse amigo, tanto como eu me tenho beneficiado.
A piedade de Edwards continuou na tradição avivalista, a sua teologia continuou no calvinismo acadêmico, mas não há sucessores para sua cosmovisão centrada em Deus ou sua filosofia profundamente teológica. O desaparecimento da perspectiva de Edwards na história cristã americana tem sido uma tragédia. Mark Noll
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Ajuda Profunda de um Amigo Falecido
No que diz respeito à interconexão entre pensar e sentir, poucas pessoas têm me ajudado mais do que Jonathan Edwards, pastor e teólogo norte americano de New England, que viveu no século XVIII. Contei a história de sua influência sobre minha vida no livro God’s Passion for His Glory: Living the Vision of Jonathan Edwards (A Paixão de Deus por Sua Glória: A Visão de Jonathan Edwards).1 Aqui pagarei outra dívida.
Edwards sem um sucessor Edwards, como quase todo historiador afirma, está 1 John Piper. God’s passion for his glory: living the vision of Jonathan Edwards. Wheaton, Il: Crossway, 1998.
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entre os maiores pensadores que os Estados Unidos já produziram, se não é o maior.2 Ele incorporou o tanto-como que é o assunto deste livro. De fato, o historiador Mark Noll argumenta que ninguém, desde Edwards, tem incorporado essa união de mente e coração como ele o fez. A piedade de Edwards continuou na tradição avivalista, a sua teologia continuou no calvinismo acadêmico, mas não há sucessores para sua cosmovisão centrada em Deus ou sua filosofia profundamente teológica. O desaparecimento da perspectiva de Edwards na história cristã americana tem sido uma tragédia.3
Em outras palavras, teologia e piedade acharam em Edwards uma união que desapareceu ou é muito rara. Espero que este livro encoraje alguns a buscarem essa união.
Pensar e sentir trinitário Uma das dádivas que Edwards me deu e que não achei em nenhuma outra pessoa foi um fundamento para o pensar e o sentir humanos na natureza trinitária de Deus. Não estou dizendo que outros não têm visto a natureza huma-
2 Mark Noll. The scandal of the evangelical mind. Grand Rapids: Eerdmans, 1994. p. 24. “… a mente evangélica americana mais importante da história dos Estados Unidos e um dos pensadores verdadeiramente originais e influentes na história cristã.” 3 Jonathan Edwards’s moral philosophy, and the secularization of american christian thought. Reformed Journal, p. 26, Feb. 1983.
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na arraigada na natureza divina. Estou dizendo apenas que a maneira como Edwards viu isso foi extraordinária. Ele me mostrou que o pensar e o sentir humanos não existem arbitrariamente; existem porque somos criados à imagem de Deus, e o “pensar” e o “sentir” de Deus são a parte mais profunda de seu ser trinitário que já compreendi. Prepare-se para ficar extasiado. Esta é a notável descrição de Edwards a respeito de como as pessoas da Trindade se relacionam mutuamente. Observe que Deus, o Filho, permanece eternamente como uma obra do pensamento de Deus. E Deus, o Espírito, procede do Pai e do Filho como o ato do gozo deles. Suponho que esta é a bendita Trindade sobre a qual lemos nas Escrituras Sagradas. O Pai é a deidade que subsiste de modo primordial, não-originado e mais absoluto, ou seja, a deidade em sua existência direta. O Filho é a deidade gerada pelo entendimento de Deus ou idéia que Ele tem de si mesmo e a subsistência nessa idéia. O Espírito Santo é a deidade subsistindo em ato, ou seja, a essência divina fluindo e manifestada no amor infinito de Deus para si mesmo e no deleite de Deus em si mesmo. Creio que toda a essência divina subsiste verdadeira e distintamente tanto na Idéia Divina como no Amor Divino e que cada um deles é propriamente pessoa distinta.4
4 Jonathan Edwards. An essay on the Trinity. In: Helm, Paul (Ed.). Treatise on grace and a other posthumously published writings. Cambridge, UK: Clarke, 1971. p. 118.
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Em outras palavras, Deus, o Pai, tem uma imagem e idéia eterna de si mesmo que é tão plena, que é outra Pessoa se apresentando – distinta como a idéia do Pai, mas um em essência divina. Deus, o Pai, e Deus, o Filho, têm um gozo eterno na excelência um do outro, um gozo que carrega tão plenamente o que eles são, que se manifesta em outra Pessoa, o Espírito Santo – distinto como o deleite Pai e do Filho um no outro, mas um em essência divina. Nunca houve um tempo em que Deus não experimentou a si mesmo dessa maneira. As três Pessoas são co-eternas. São igualmente divinas.
Glorificado por ser conhecido e desfrutado Mas a maravilhosa realidade para o nosso propósito neste livro é que a existência de Deus como uma Trindade de Pessoas é o fundamento da natureza humana como mente e coração, pensar e sentir, conhecer e amar. Podemos notar isso mais admiravelmente quando vemos Jonathan Edwards delinear a conexão entre a natureza de Deus e o modo como ele nos designou para glorificá-lo. Observe como Edwards se move da glória intra-trinitária de Deus para a glória que ele almeja obter na criação. Deus é glorificado consigo mesmo destas duas maneiras: (1) por aparecer... para si mesmo em sua própria idéia perfeita [de si mesmo], ou seja, em seu Filho, que é o esplendor da glória de Deus. (2)
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Por ter gozo e deleitar-se em si mesmo, por manifestar-se em infinito... deleite para consigo mesmo, ou seja, em seu Espírito Santo. ...Portanto, Deus glorifica-se a si mesmo para com suas criaturas também de duas maneiras: (1) por aparecer... ao entendimento delas. (2) Em comunicar-se aos corações delas, bem como no regozijarem-se e deleitarem-se em e no desfrutarem das manifestações que ele faz de si mesmo... Deus é glorificado não somente por sua glória ser vista, mas também por suas criaturas se regozijarem em sua glória. Quando aqueles que vêem a glória de Deus se deleitam nela, Deus é mais glorificado do que se elas apenas vissem a sua glória. A glória de Deus é, então, recebida por toda a alma, tanto pelo entendimento como pelo coração. Deus fez o mundo para que possa comunicar sua glória, e a criatura, recebê-la; e para que a sua glória possa ser recebida tanto pela mente como pelo coração. Aquele que testifica sua idéia da glória de Deus [não] o glorifica tanto quanto aquele que também testifica sua aprovação da glória de Deus e seu deleite nela.5
As implicações desta verdade para este livro são enormes. Ela implica, por exemplo, que, se vivemos de acordo
5 Thomas Schafer (Ed.). The works of Jonathan Edwards, v. 13. New Haven, CT: Yale University Press, 1994. p. 495. Miscelânia 448.
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com nossa natureza, como seres humanos feitos à imagem de Deus, e se devemos glorificar a Deus plenamente, temos de engajar nossa mente em conhecê-lo e nosso coração, em amá-lo apropriadamente. O apelo tanto-como deste livro não é mera preferência pessoal minha. Está fundamentado na natureza da existência trinitária de Deus e em como ele nos criou para glorificá-lo com a mente e o coração.
Verdade clara em benefício de afeições fortes Edwards estabeleceu para nós o padrão em procurarmos despertar as afeições, não com entretenimento ou excitação exagerada, mas com visões claras da verdade. Em outras palavras, ele colocou a obra de pensar a serviço da experiência de adoração e amor: Em meu dever de despertar as afeições de meus ouvintes, eu mesmo deveria pensar em fazê-lo de modo tão elevado quanto eu talvez possa fazê-lo, contanto que eles sejam afetados com nada menos do que a verdade e com afeições que não discordam da natureza das coisas com as quais eles são afetados.6
Jonathan Edwards foi um admirável exemplo do tanto-como – emoções fortes para a glória de Deus se ba6 Jonathan Edwards. Some thoughts on revival. In: Goen, C. C. (Ed.). The works of Jonathan Edwards, v. 4. New Haven, CT: Yale University Press, 1972. p. 387.
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seiam em visões bíblicas inconfundíveis da verdade de Deus. Portanto, você sabe que ele não estava usando qualquer artifício acadêmico quando disse: “Obtenha aquele conhecimento das coisas divinas que está em seu poder, inclusive um conhecimento doutrinário dos princípios da religião cristã”.7 Isso não era exibição. Era a obra da mente em benefício do maravilhar-se em Deus e do ministrar em amor. Espero que esteja claro agora que a ênfase deste livro sobre o pensar não repudia o sentir, o deleitar-se, o amar. Todas essas ações são essenciais aos seres humanos e são essenciais para glorificarmos a Deus. E, embora seja verdade que a mente e o coração animem-se um ao outro,8 a mente é, principalmente, serva do coração. Ou seja, a mente serve para conhecer a verdade que inflama as afeições do coração. O clímax de glorificar a Deus é gozá-lo com a mente e o coração. Mas há um emocionalismo vazio quando o coração não é despertado e sustentado por opiniões verdadeiras sobre Deus como ele realmente é. A mente existe para isso.
Da autobiografia para a explicação No próximo capitulo, deixamos o foco mais ou menos biográfico em esclarecer o objetivo do livro 7 A spiritual understanding of divine things denied to the unregenerate. In: Kenneth P. Minkema (Ed.). The works of Jonathan Edwards, sermons and discourse 1723-1729. New Haven: Yale University Press, 1997. p. 92. 8 Ver, no capítulo 6, a explicação de Thomas Goodwin sobre esta mutualidade.
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(capítulos 1 e 2) e passamos ao que realmente significa a tarefa de pensar. Talvez isso surpreenda algumas pessoas, mas o que tenho em mente é, antes de tudo, mas não exclusivamente, o maravilhoso privilégio de ler. A melhor leitura da literatura mais perspicaz (em especial, a Bíblia) envolve o pensar sério. Isso é o que desejo demonstrar em seguida.
Esclarecendo o Significado de Pensar
Quando algum fato novo entra na mente humana, ele deve agir de modo a sentir-se em casa; deve apresentar-se aos residentes anteriores da casa. Esse processo de apresentação de novos fatos é chamado de pensar. E, em contrário ao que parece ser pressuposto muito comumente, pensar não pode ser evitado pelo cristão.1 J. Gresham Machen
1 J. Gresham Machen. What is faith? Edinburgh: Banner of Truth, 1991. p. 242.
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