Prepare seus filhos contra os perigos do mundo - Julie Lowe
“Julie faz um excelente trabalho ao lançar luz sobre as questões de segurança que nossos filhos enfrentam hoje. Sua visão sobre segurança infantil começa com uma cosmovisão cristã, é cheia de sabedoria bíblica e incentiva os pais a confiar seus filhos a Deus. Este é um ótimo recurso para os pais que buscam preparar seus filhos para seguir a Cristo em um mundo caído”.
Jeff Dalrymple, diretor executivo, Evangelical Council for Abuse Prevention (ECAP)
“Prepare seus filhos contra os perigos do mundo, de Julie Lowe, é uma leitura obrigatória para os pais. Cheio de sabedoria prática e fundamentado em princípios bíblicos, este livro treina os pais a identificar perigos potenciais e a proativamente preparar seus filhos. Esperamos retomar esses princípios repetidas vezes em nossa própria casa. Recomendo fortemente”.
Deepak e Sara Reju, Capitol Hill Baptist Church, Washington, DC; autores de Ministério infantil (Deepak) e Jesus Saves (Sara)
“Quando surge uma questão de criação de filhos com a qual meu marido e eu temos dificuldade, ele diz: ‘Você pode perguntar a Julie?’. Sendo colega de Julie, eu vou e pergunto a ela! Com este livro, agora todos os pais têm acesso a Julie — acesso à sua sabedoria, suas décadas de experiência e seu coração profundamente dedicado ao bem-estar das crianças. Pais, este livro irá prepará-los para serem proativos e eficientemente responsivos a muitos dos desafios que surgem na criação de filhos. Eu preciso deste livro, e sei que você também perceberá que precisa dele enquanto se aprofunda na leitura!”
Lauren Whitman, acadêmica e conselheira, CCEF; editora de desenvolvimento, Journal of Biblical Counseling
“Este é um livro muito importante e oportuno. Embora voltado para os pais, este livro também é importante para conselheiros, pastores, professores e líderes de jovens. Julie não tem medo de tratar de tópicos que muitos hesitam em abordar, como abuso sexual, pornografia, sexting e saúde mental, e o
faz com uma forte base bíblica. Ela não apenas incentiva o envolvimento dos pais, como também dá passos práticos para o envolvimento sem ser simplista ou estereotipada”.
David e Krista Dunham, conselheiros bíblicos, Cornerstone Community Soul Care, Detroit; autores de Table for Two: Biblical Counsel for Eating Disorders
“Crianças e adolescentes enfrentam muitas situações em que precisam de discernimento para fazer escolhas sábias e permanecer seguros. A vasta experiência de Julie Lowe brilha em Prepare seus filhos contra os perigos do mundo. Ela fornece princípios bíblicos e diretrizes práticas que ajudam você a transmitir sabedoria inestimável aos seus filhos. Todos os pais que enfrentam os desafios do nosso mundo moderno precisam deste livro!”
Darby Strickland, acadêmica e conselheira, CCEF; autora de Desmascarando o abuso
“Prepare seus filhos contra os perigos do mundo não poderia ser mais prático. Cada página está repleta de sabedoria aplicada para manter as crianças seguras. Eu constantemente me pegava dizendo: ‘Nossa família precisa fazer isso!’ Fundamentado em um chamado para confiar no Senhor em vez de fomentar o medo, Prepare seus filhos contra os perigos do mundo capacita crianças e pais a discernir o mal e o perigo e a preparar respostas sábias e protetoras”.
Alasdair Groves, diretor executivo, CCEF
“Neste mais recente livro de Julie Lowe, os leitores mais uma vez se beneficiarão de sua sólida teologia bíblica, de seu coração de conselheira e de anos de experiência caminhando ao lado de pais e filhos em um mundo corrompido e inseguro. Este livro não é para produzir medo e ansiedade nos pais (já temos o suficiente), mas para fornecer orientação sábia, cativante e prática, a fim de ajudar seu filho, através da esperança de Jesus Cristo, a lidar com este mundo corrompido”.
Jonathan D. Holmes, diretor executivo, Fieldstone Counseling
“Ler este livro é como ganhar um mentor sábio que caminha ao seu lado em sua jornada parental. Julie Lowe aborda habilmente os principais desafios que os pais enfrentam e fornece roteiros, cenários, princípios e diretrizes repletos de sabedoria bíblica. Se você está buscando preparar seus filhos para os potenciais perigos e dificuldades que eles podem enfrentar na vida, considere este livro seu manual”.
Eliza Huie, conselheira bíblica licenciada; diretora de aconselhamento, McLean Bible Church, Vienna, Virginia; coautora de The Whole Life
“A resposta mais comum dos pais que lerem Prepare seus filhos contra os perigos do mundo será: ‘Finalmente! Um livro para pais que não discute apenas estratégias de disciplina.’ Julie fornece princípios bíblicos e exemplos de conversas sobre tudo, incluindo tecnologia, namoro, saúde mental, prevenção de abusos e dormir fora. Adquira-o, leia-o, e você o consultará diversas vezes ao longo dos anos à medida que esses tópicos surgirem em sua casa”.
Brad Hambrick, pastor de aconselhamento, The Summit Church, Durham, Carolina do Norte; autor de Making Sense of Forgiveness
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Lowe, Julie
Prepare seus filhos contra os perigos do mundo / Julie Lowe ; tradução
João Paulo Aragão. -- 1. ed. -- São José dos Campos, SP : Editora Fiel, 2024.
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária.
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR QUAISQUER MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed. (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
São José dos Campos-SP PABX.: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
SUMÁRIO
Parte 1: Sabedoria: o fundamento para preparar nossos filhos com habilidades de segurança
1. Perigos específicos de nosso mundo moderno ........................................
2. Preocupação e negação não são habilidades de segurança
3.
Parte 2: Preparando nossos filhos com habilidades de segurança
4. Ajudando os pais a reconhecer e proteger as crianças contra o abuso sexual ....................................................
5. Ensinando as crianças a avaliar comportamentos ...................................
6. A prática leva à permanência: usando a encenação para discipular crianças
7. Tópicos principais para discutir com as crianças
9. Quando as crianças praticam ou sofrem bullying
10. Preparando as crianças para o caso de se perderem .............................
11. Questões de sabedoria: dormir
12. Questões de sabedoria: Diretrizes
13. Questões de sabedoria: Palavras de segurança e planos de segurança familiar
14. Como responder quando a violência toca a vida de seu filho
Parte 3: Preparando adolescentes e jovens com habilidades de segurança
15. Adolescentes precisam de relacionamentos genuínos com Deus e seus pais ................................................................. 171
16. Comparação, pressão dos colegas e tratar outros com respeito ........ 177
17. Sexo e namoro .............................................................................................. 185
18. Segurança nas redes sociais e na tecnologia .......................................... 197
19. Pornografia e sexting................................................................................... 203
20. Abuso de álcool, drogas e cigarro/vape .................................................. 213
21. Lidando com questões de saúde mental ................................................ 219
22. Habilidades de segurança para maior independência .......................... 227
23. Questões de segurança para jovens adultos: namoro online, consentimento e vida na faculdade ............................. 241
24. Deus — Nosso refúgio, fortaleza e socorro bem presente na tribulação ......................................................... 249
PREFÁCIO
Não foi o meu melhor momento, nem o mais brilhante. Luella, minha querida esposa, era a encarregada da segurança da família. Uma noite, enquanto terminávamos o jantar, ela disse: “Gostaria de falar sobre o que faríamos se nossa casa pegasse fogo. Paul, você começa.” Sem pestanejar, respondi: “Eu pegaria meu violão e o tiraria da casa!” Luella olhou para mim bastante chocada e disse: “E nós?” Eu fiquei ali, mortificado com a revelação do meu materialismo egoísta, enquanto meus filhos riam e diziam: “Isso mesmo, papai, tem que salvar o violão.”
Luella estava certa: habilidades de segurança são essenciais deste lado da eternidade e, como demonstrei, nem sempre estamos preparados para fazer escolhas sábias. E este é o fardo que todo pai e mãe carrega: você foi encarregado por Deus de ser a principal ferramenta dele para a formação das almas que ele colocou sob seus cuidados. Essas almas têm um corpo físico que também deve ser nutrido e protegido.
A melhor palavra para o papel de um pai ou uma mãe é embaixador. Um embaixador representa aquele que o enviou. Criar filhos não tem a ver primeiramente com o que queremos deles ou para eles, mas com o que Deus tem
para eles e exige deles. Em tudo que você faz, em todos os pequenos momentos como responsável, está representando aquele que enviou você. Deus faz com que sua autoridade invisível se torne visível ao enviar pais para supervisionar seus filhos. Deus faz com que sua sabedoria invisível seja visível na vida dos filhos ao enviar os pais para transmitir sua sabedoria a eles. Deus faz com que sua proteção invisível seja visível ao enviar pais para filhos que precisam ser guardados e protegidos. Nenhuma conquista, nenhuma busca por sucesso, nenhuma ocupação na vida, nenhuma esperança ou sonho, nenhum desejo do coração deve ser um obstáculo ao nosso chamado diário para sermos embaixadores de Deus na vida daqueles que ele colocou sob nossos cuidados. Ser um embaixador significa que há algumas crenças estabelecidas que devem motivá-lo diariamente. Essas crenças são confiáveis porque estão enraizadas nas verdades da Palavra de Deus e são vitais porque fornecem direções práticas para seguir. Em primeiro lugar, os pais devem estar profundamente convictos de que Deus é sábio e bom. Deus é a definição final e gloriosa de tudo o que é sábio e bom. Isso significa que é impossível ele nos direcionar a fazer qualquer coisa que seja ruim para nós. E, por ser glorioso em graça, ele dispensa sua sabedoria, bondade, soberania e poder para o bem final de seus filhos.
Em segundo lugar, é vital não menosprezar o fato de que você cria seus filhos em um mundo profundamente corrompido, que não funciona conforme o plano original de Deus. Para a glória dele e para nosso bem, Deus escolheu este mundo sofrido e disfuncional para ser nosso endereço atual. É bíblico dizer que este mundo não é seguro, mas também devemos dizer que estamos sendo guardados e protegidos por nosso Pai celestial para um mundo que um dia estará livre do mal, do perigo, do pecado e do sofrimento para todo o sempre. Ser embaixador de Deus na vida de seus filhos significa nunca minimizar os perigos da vida neste mundo corrompido pelo pecado.
Em terceiro lugar, é importante que os pais entendam: uma vez que os caminhos de Deus são sempre corretos e há mal por toda parte neste mundo caído, a sabedoria do discernimento é um compromisso e uma habilidade vitais.
O discernimento é a capacidade de aplicar a sabedoria de Deus às escolhas
introdução: A necessidAde de PrePArAr
específicas que você enfrenta neste mundo caído. É a habilidade de distinguir entre o certo e o errado, a segurança e o perigo, o bem e o mal. As crianças não conseguem discernir naturalmente; na verdade, a Bíblia nos diz que elas nascem com a tolice no coração. Portanto, é essencial um compromisso prático de ensinar discernimento conceitual e funcional aos nossos filhos.
Por causa de tudo que escrevi até agora é que amo Prepare seus filhos contra os perigos do mundo. Não conheço nenhum outro livro que faça o que este aqui faz. Aqui há uma ajuda prática para todos os pais que estão preparando seus filhos para viver com discernimento em nosso mundo tristemente corrompido. Leia e absorva sua sabedoria — você adquirirá aqui muita percepção e diversas habilidades práticas para transmitir aos seus filhos. Mas talvez o que eu mais ame neste livro é que seu foco prático não está separado da beleza e do conforto do Evangelho de Jesus Cristo. Julie nos lembra repetidamente da presença, da bondade e da graça de Deus. Ela nos conforta com a verdade de que ele se importa com nossos filhos mais do que nós mesmos. E ela nos assegura que não há sabedoria tão sábia quanto a sabedoria do Senhor. O que você está prestes a ler mudará sua vida como pai ou mãe e ajudará você a preparar seus filhos para viverem com discernimento, agora e também quando eles não estiverem mais sob seus cuidados.
Paul David Tripp
INTRODUÇÃO: A NECESSIDADE DE PREPARAR NOSSOS FILHOS
Por mais de 20 anos, tenho trabalhado com inúmeras igrejas, ministérios e famílias quando as crianças sob seus cuidados sofrem abusos e maus-tratos. Estive com muitos pais que fizeram perguntas de partir o coração. Eles se perguntavam como seu filho pôde ter se envolvido em bullying online, sexting, pornografia ou ter sido aliciado por um pedófilo.
Pais e cuidadores cujos filhos foram vitimados ou feridos de alguma forma têm dificuldade para entender como males tão graves ocorreram. Eles poderiam ter feito algo para evitar isso? Ignoraram os sinais de alerta? Eles são responsáveis pelas dificuldades de seus filhos? É angustiante avaliar em retrospectiva. A essas perguntas, logo se seguem: o que podemos fazer agora? Como podemos ajudar nosso filho agora? Como podemos evitar isso no futuro? As estatísticas alarmantes relacionadas a abuso sexual infantil, predadores online e bullying severo por colegas, entre outros, levam os pais a se perguntarem: como proteger crianças e jovens para que tais coisas não aconteçam? Como
proativamente implementamos proteções para defender nossos filhos dos perigos deste mundo?
Eu não escrevi este livro para assustar você. Como conselheira, acompanho muitas famílias em alguns dos piores casos, e espero que você nunca tenha de enfrentá-los. Ao mesmo tempo, Deus convoca os pais a proteger e preparar seus filhos, que nascem fracos e vulneráveis. Escrevi este livro para ajudar você nessa tarefa, aplicando princípios bíblicos que resultam em bom senso e estratégias práticas que ajudarão a proteger seus filhos, para que eles possam prosperar.
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS PARA COMPREENDER ESTE LIVRO
Há uma base tríplice para tudo o que está escrito neste livro. Primeiro, vivemos em um mundo corrompido, caído. Há perigos e males, doenças e enfermidades, corrupção, engano e tentação. Não podemos viver neste mundo sem ver os efeitos disso em nossa vida e na vida de nossos filhos.
Considere estas passagens das Escrituras:
Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno. (1Jo 5.19)
Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados. (2Tm 3.13)
O homem de Belial, o homem vil, é o que anda com a perversidade na boca, acena com os olhos, arranha com os pés e faz sinais com os dedos. No seu coração há perversidade; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas. (Pv 6.12-14)
O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. (Jo 3.19)
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. (Rm 5.12)
Pessoas perigosas rondam os fracos e ingênuos. O mal é astuto; ele engana e seduz. Promete prazer, mas entrega destruição. O mal é feito contra nós, mas também nos seduz por dentro. Aceitar essa realidade significa que devemos criar filhos que possam lidar com potenciais perigos e responder a esses. As Escrituras estão cheias de sabedoria sobre como responder a isso. Mateus 10.16 nos diz: “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas”. Provérbios 27.12 aconselha: “O prudente vê o mal e esconde-se; mas os simples passam adiante e sofrem a pena”. Provérbios ainda reitera: “O sábio é cauteloso e desvia-se do mal, mas o insensato encoleriza-se e dá-se por seguro” (Pv 14.16).
A Bíblia nos ensina que o sábio vê o potencial de perigo e toma medidas para se proteger. Os sábios têm cautela e discernimento; desviam-se do mal.
Aqueles que não agem com tal sabedoria são chamados de ingênuos, simples e tolos, e sofrem por isso. Claramente, não há nenhum benefício em estar alheio ao perigo que existe em nosso mundo. Muitas vezes, os pais não estão dispostos a enfrentar a realidade dos riscos que existem no mundo ao nosso redor e, assim, escondem essa realidade de seus filhos. Porém, se apenas protegermos nossos filhos e não os prepararmos para agir com sabedoria, inadvertidamente criaremos filhos ingênuos e simples, que não sabem como perceber o mal e lidar com ele com sabedoria.
Em segundo lugar, ensinamos nossos filhos a lidarem com este mundo dando-lhes a capacidade de discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado. Nossa cultura pressiona nossos filhos, doutrinando-os com visões falsas sobre romance e amor, moralidade e verdade, sexualidade e identidade. Nosso mundo chama de intolerante aquilo que é bom e santo, e chama de bom aquilo que Deus chama de perverso. Isaías 5.20 diz: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao
bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo!”.
Manter nossos filhos seguros significa ensinar-lhes os caminhos de Deus — o fato de que ele nos criou para viver seguindo-o. A segurança é construída sobre o fundamento do discernimento entre o certo e o errado. Nossos filhos não podem lidar com este mundo de forma segura sem a capacidade de distinguir entre o bem e o mal. Como pai ou mãe, meu objetivo final para meus filhos não é mantê-los seguros (embora esse seja um objetivo); antes, é que meus filhos conheçam o caminho de Deus e andem na verdade. Andar pela fé e distinguir o bem do mal será um escudo para eles, e acredito que as habilidades de segurança serão o fruto de ensinar os caminhos do Senhor aos nossos filhos.
Ensinar aos nossos filhos o bem e o mal produzirá neles sabedoria e discernimento. Como espero que você veja ao longo deste livro, sabedoria e discernimento são a substância do que desejo que você aprenda neste recurso (e seus filhos também). Considere este versículo: “Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal” (Hb 5.14). Observe que os adultos têm suas faculdades exercitadas pela prática, para discernir não somente o bem, mas também o mal.
Discutir os perigos que nossos filhos podem encontrar nos ajuda a entender como podemos começar o processo de preparar a nós mesmos e a eles para estabelecer medidas protetivas adequadas. Este livro é sobre chamar a escuridão existente neste mundo pelo nome e preparar nossos filhos para saberem como evitá-la e como responder a ela, se ela os encontrar. Ao fazer isso, também protegemos nossos jovens das tentações ao seu redor e das armadilhas de escolhas destrutivas.
Ao longo do livro, enfatizo a interpretação de papéis e a discussão para praticar o discernimento, avaliando o certo e o errado. Às vezes, quando falo sobre habilidades de segurança, os objetivos de discernimento e sabedoria estarão explícitos, e outras vezes, implícitos; mas sempre serão a substância do que espero alcançar.
introdução: A necessidAde de
Filipenses 1.9-10 afirma este objetivo: “E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo”. Devemos nos comprometer a treinar, discipular, educar e preparar nossos filhos para que eles recebam a variedade de ferramentas de que precisam para navegar sabiamente neste mundo, caminhando em comunhão com o Senhor. Distinguir entre o bem e o mal, o certo e o errado é fundamental; as habilidades de segurança são secundárias. Elas são fruto da maneira como cuidamos de nossos filhos. É importante enfatizar isso; pois, se criarmos filhos que de alguma forma foram protegidos dos piores perigos deste mundo, mas não andam com o Senhor, não sabem o que é certo e o que é errado ou não estão atentos aos perigos que vêm de dentro, teremos falhado miseravelmente com eles.
O terceiro fundamento para este livro é a compreensão de que nossa segurança, em última análise, está nas mãos de nosso Deus. O Salmo 37.39-40 nos lembra: “Vem do Senhor a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza no dia da tribulação. O Senhor os ajuda e os livra; livra-os dos ímpios e os salva, porque nele buscam refúgio”. Nossa esperança final está em um Deus soberano que é nossa torre forte, nosso socorro bem presente nas tribulações (Sl 46.1; Pv 18.10). Considere as passagens a seguir:
Se ando em meio à tribulação, tu me refazes a vida; estendes a mão contra a ira dos meus inimigos; a tua destra me salva. (Sl 138.7)
Todavia, o Senhor é fiel; ele vos confirmará e guardará do Maligno. (2Ts 3.3)
Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no Senhor está seguro. (Pv 29.25)
O Salmo 23 é um lembrete profundo de que andaremos por vales escuros, enfrentaremos inimigos, ficaremos cara a cara com o mal, e o Senhor será nosso
pastor, guiando-nos e andando conosco nos lugares difíceis. Sua presença é nosso conforto, nossa esperança e nosso socorro bem presente. Escrevi um livro inteiro sobre como ensinar nossos filhos a estarem seguros, mas, no fim das contas, Deus é quem cuida de nós. Em última análise, este é um livro sobre ensinar nossos filhos a viverem na luz e lidar com as trevas deste mundo enquanto nutrem um relacionamento de confiança com seu amoroso Pai celestial. À medida que explorarmos as Escrituras, entenderemos mais profundamente o chamado para sermos sábios, ver o perigo e fugir dele (Pv 27.12), ter coragem (2Cr 32.79; Pv 28.1) e defender os indefesos (Pv 31.8-9; Is 1.17). Não devemos ser passivos em nosso envolvimento com a injustiça, o perigo, os maus-tratos e o mal. Devemos responder a eles e, ao mesmo tempo, descansar em nosso Protetor supremo.
POR QUE “PROTEGER”?
O que quero dizer quando uso o termo “proteger”? Significa trabalhar com você para estabelecer um lar e uma cosmovisão que preservem seus filhos. Os pais são a primeira linha de defesa. Somos responsáveis por cuidar, proteger e discipular nossos filhos. Devemos discernir perigos imediatos e futuros, e ter um plano de como combatê-los. Somos os principais educadores de nossos filhos. Nosso trabalho é dar a eles o conhecimento e as habilidades para navegar pelo mundo ao seu redor. No entanto, quando se trata de predadores sexuais, perigos online, bullying e outros perigos comuns, os pais muitas vezes ficam em silêncio porque não sabem o que fazer ou por onde começar.
Nossos filhos serão confrontados com riscos e perigos, e ensiná-los e prepará-los é nossa tarefa. Eles também se verão (como nós) tentados por coisas que ameaçam arruiná-los. Uma cosmovisão bíblica entende que não devemos apenas nos proteger contra os perigos e ameaças ao nosso redor; devemos proteger nosso próprio coração da corrupção.
Para alguns de vocês, este livro será um recurso muito bem-vindo. Você já está ciente há muito tempo dos perigos que existem. Você está plenamente ciente da necessidade tanto de proteger como de preparar os jovens. Talvez você
introdução: A necessidAde de PrePArAr
tenha experimentado alguns desses perigos em sua própria vida e deseje salvar seus filhos de um sofrimento semelhante. Talvez tenha visto em primeira mão, na vida de seu filho, parente ou amigo, como essas coisas prejudiciais podem acontecer. Você está ciente e na ativa. Agora pode fazer parte da prevenção, preparando-se e ajudando a preparar as pessoas ao seu redor. Para alguns outros, isso pode parecer um choque em seu sistema. Talvez você pense: “Certamente não é tão ruim assim”, ou “Ela está exagerando e semeando medo em nós”. Garanto que não estou. Como mãe e conselheira, vi e ouvi mais histórias do que conseguiria contar. Histórias de crianças e adolescentes, de famílias como a minha e a sua, sendo expostos aos males deste mundo e vendo o rastro de destruição deixado. Aceitar isso nos ajuda a nos tornarmos mais sábios em nossa resposta.
Posso garantir que não desejo que você viva com medo ou ansiedade. A porta do perigo não se abriu de repente diante de você; ela sempre esteve aberta. Seus filhos são vulneráveis. A dificuldade é que muitos pais acreditam que a ignorância é uma bênção. Os pais me dizem: “Quanto menos eu souber, melhor. Acho que não quero saber o que meus filhos estão fazendo nas redes sociais”. Realmente acreditamos que é melhor não estarmos cientes, enquanto nossos filhos abrem a porta e enfrentam ameaças com frequência? Devemos escolher viver com os olhos bem abertos.
Meu objetivo é preparar você e seus filhos. Este livro trata da segurança como fruto da distinção entre o bem e o mal, do desenvolvimento do discernimento e da sabedoria. O Senhor diz que ele a dá generosamente àqueles que pedem (Tg 1.5). Somos alertados a não sermos pegos desprevenidos pelas armadilhas e perigos deste mundo. Devemos ter sabedoria e discernimento. Devemos proteger nossos lares, preparar nossos filhos e confiar naquele que é nosso refúgio. Quando o fazemos, somos capazes de repousar a cabeça à noite, porque o Senhor é e será nossa segurança. Quando tivermos feito tudo o que pudermos para proteger nossos lares, então poderemos ser como Davi e, mesmo diante do perigo, dizer: “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor , só tu me fazes repousar seguro” (Sl 4.8). Nosso Pai celestial é nossa verdadeira proteção e podemos confiar nele.
PARTE 1:
abedoria,
o fundamento para preparar nossos filhos com habilidades de segurança
Capítulo 1: PERIGOS ESPECÍFICOS DE NOSSO MUNDO MODERNO
Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. (Jo 17.15)
Não é preciso nem uma hora assistindo ao noticiário local para percebermos os perigos que nossos filhos enfrentam todos os dias ao saírem para o mundo. Considere alguns destes riscos comuns para os jovens:
• Relatos crescentes de depressão, suicídio e ansiedade entre os jovens;1
• O uso de maconha e outras drogas tornando-se mais comum;
• O bullying e o cyberbullying aumentando com a tecnologia;2
1 Matt Richtel, “’It’s Life or Death:’ The Mental Health Crisis Among U.S. Teens”, The New York Times, 23/4/2022. Disponível em: https://www.nytimes.com/2022/04/23/health/mental-health-crisis-teens.html (acessado em 17/2/2024).
2 Sameer Hinduja e Justin W. Patchin, “Cyberbullying: Identification, Prevention, and Response”, Cyberbullying Research Center, 2021. Disponível em: https://cyberbullying.org/Cyberbullying-Identification-Prevention-Response-2021.pdf (acessado em 17/2/2024).
• Crianças cada vez mais jovens sendo expostas a pornografia, sexting e prostituição;3
• Questões de atividade, orientação e identidade sexual em ascensão;
• Internet e dependência digital;
• Uma cultura crescente de violência, objetificação e dessensibilização dos maus-tratos a outras pessoas;
• Abuso físico, abuso sexual, estupro e tráfico de jovens;
• Tiroteios escolares, adolescentes incentivando uns aos outros a cometerem automutilação e perigosos desafios virais nas mídias sociais.
Este capítulo lhe dará uma visão geral de alguns dos perigos específicos que as crianças enfrentam hoje. Como afirma o ditado, “é melhor prevenir do que remediar”. Antes de discutirmos como preparar nossos filhos com as habilidades de segurança necessárias para prosperar em nosso mundo, temos de enfrentar diretamente as ameaças que eles podem encontrar.
TECNOLOGIA
Com o advento das mídias sociais e dos aparelhos eletrônicos pessoais, um mundo de novas possibilidades — trazendo consigo bênçãos e perigos — invadiu a vida de nossos filhos. Crianças e adolescentes estão ganhando dispositivos sem estarem preparados para administrá-los. Esses objetos brilhantes (smartphones, tablets, relógios inteligentes, entre outros) são dados ao seu filho ou filha, abrindo um mundo de entretenimento e conectividade. A menos que controles parentais precisos tenham sido ativados, crianças e adolescentes têm acesso a uma infinidade de jogos e aplicativos online, podem trocar mensagens de texto e vídeos com quem quiserem, têm acesso a serviços de streaming de
3 Kimberly J. Mitchell, Lisa Jones, David Finkelhor, e Janis Wolak, “Trends in Unwanted Sexual Solicitations: Findings from the Youth Internet Safety Studies”, Crimes Against Children Research Center, University of New Hampshire, fev. 2014. Disponível em: https://www.unh.edu/ccrc/sites/default/files/ media/2022-02/trends-in-unwanted-sexual-solicitations.pdf (acessado em 17/2/2024).
vídeo, mídias sociais e uma vastidão de informações por meio de navegadores da internet, e tudo isso prontamente disponível na ponta dos dedos.
Do lado positivo, as crianças podem obter ajuda com seus deveres de casa, descobrir como construir qualquer coisa, desde um forte até um galinheiro, aprender uma segunda língua e ouvir podcasts, sermões, música e histórias. Elas podem se conectar com outras pessoas que compartilham seus passatempos e interesses, ou com crianças com quem se identificam, que se sentem diferentes ou têm deficiências.
Mas muitos perigos também estão presentes. Os sites pornográficos têm como alvo os jovens, pesquisando palavras frequentemente digitadas errado e redirecionando os jovens para sites pornográficos e imagens em que eles serão tentados a clicar. Nos jogos online, há pessoas enganando e se conectando com crianças, na esperança de coletar informações pessoais, obter acesso ao mundo da criança ou atrair jovens para longe de casa e para todo tipo de estilos de vida terríveis. Romanos 16.17-18 nos adverte que “esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos”. Nossos jovens estão sendo ativamente perseguidos por influências malignas. Vídeos, salas de bate-papo e influenciadores culturais adquirem uma voz na vida do seu filho que muitas vezes é mais alta, mais constante e mais acessível do que a nossa.
Como conselheira, ouço jovens relatarem regularmente solicitações sexuais indesejadas, provocação online, exposição não solicitada a sexting e materiais sexuais. Entregamos um pequeno aparelho com um mundo de bem e mal. Como pais e cuidadores, precisamos considerar os perigos e nos perguntar se nossos filhos são maduros e responsáveis o suficiente para lidar com eles. Se a resposta for “sim”, então precisamos ensiná-los a administrar tais privilégios e pastoreá-los por meio de prestação de contas.
A INFLUÊNCIA DOS COLEGAS
A pressão e influência dos colegas não é algo novo. Ela remonta a Adão e Eva, os quais ouviram a voz do mal induzindo-os a não acreditar que Deus é bom e quer o seu bem. Como o apóstolo Paulo disse: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15.33). É fácil entender que todos nós somos moldados por aqueles que nos rodeiam. Mas nossos filhos são especialmente suscetíveis a serem influenciados pelas opiniões de seus colegas. Suas vozes são altas, convincentes e prometem afirmação, liberdade e aceitação. Essas vozes seduzem as crianças a acreditar que algo de bom está sendo negado a elas e que elas devem buscar isso por conta própria. No mundo moderno, à medida que as crianças crescem, elas começam a fazer perguntas relacionadas à sua cosmovisão e identidade, e querem saber se o que lhes foi ensinado é verdade. Pré-adolescentes e adolescentes muitas vezes têm dificuldade em aceitar que seus pais têm as melhores respostas sobre relacionamentos, identidade, atividades e até mesmo em questões de significado e propósito. Eles são atraídos pelas vozes mais persistentes em sua vida (seus colegas) para ajudá-los a responder a essas perguntas. O desejo de se encaixar e agradar se torna perigosamente forte. Isso significa que importa quem fala ao coração deles. Que tipo de amigos eles estão escolhendo? Com quem estão gastando mais tempo? Provérbios diz: “Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau” (Pv 13.20).
Igualmente preocupante é a progressiva erradicação de influências adultas positivas e maduras na vida de crianças maiores e adolescentes. Os jovens estão criando e moldando uns aos outros. Eles estão na escola juntos, estão em atividades extracurriculares juntos, estão online juntos, nas redes sociais juntos, jogam juntos, trocam mensagens juntos. Raramente estão desconectados de seu grupo. Como resultado, estão se tornando sua própria fonte de sabedoria. O acesso a smartphones, mídias sociais e internet significa que a influência dos colegas exerce cada vez mais pressão; isso também significa que é cada vez mais difícil para os pais terem voz na vida de seus filhos. A maioria dos pais
quer influenciar e moldar intencionalmente o caráter de seus filhos, mas isso requer um investimento significativo de tempo e pensamento. Se os pais não construírem relacionamentos ativamente e educarem seus filhos, alguém (ou alguma outra coisa) os moldará. Quando influências maduras e piedosas são removidas, ou mesmo diminuídas, os jovens são guiados por seus amigos e pela cultura. Se deixarmos nossos jovens por conta própria, eles procurarão orientação em seus colegas e “discipularão” uns aos outros das seguintes maneiras:
• Um falso senso de maturidade/confiança em seu autoconhecimento
• Incapacidade de se ocuparem ou ficarem sozinhos
• Propensão a se alienarem da influência de adultos
• Tolerância ao mau comportamento e a demandas inadequadas dos colegas
• Intolerância à sabedoria e deboche do que é bom e saudável
• Leniência com comportamento imoral e arriscado
• Desprezo de autoridades, como se fossem irrelevantes
De fato, o companheiro dos insensatos acabará mal, mas, quando nossos filhos andarem com os sábios, eles se tornarão sábios (Pv 13.20). Amar a influência dos adultos ajudará as crianças das seguintes maneiras:
• Construindo respeito e cooperação
• Criando uma atmosfera de honra e admiração
• Fornecendo segurança para as crianças
• Encorajando a dependência saudável de uma criança aos pais e adultos para nutrição espiritual e emocional
• Construindo uma confiança em conselhos sábios, especialmente do Senhor
• Mostrando um respeito adequado pela liderança e autoridade
Paulo, em sua carta a Tito, fala longamente sobre a necessidade de os cristãos influenciarem uma geração mais jovem no que é certo e bom. Somos chamados a ser exemplos dizendo não à impiedade e às paixões mundanas, e a viver vidas sensatas, justas e piedosas neste presente século (Tt 2.12). Vivemos em um mundo que pode inverter tudo o que é certo e bom para as crianças. O que
é bom é chamado de mau, e o que é mau é chamado de bom. Se não conversarmos, ouvirmos, nutrirmos e caminharmos ao lado de nossos filhos, eles serão atraídos pelo sistema de valores que os rodeia.
CULTURA
Vivemos em um mundo que é distintamente autocentrado. Considere estes clichês culturais: “Seja você mesmo”; “Ouça seu coração”; “O maior amor de todos é o amor-próprio”; “Faça o que é certo para você”; “Viva a sua verdade”; a lista poderia continuar. Nossos filhos são inundados com uma versão de relativismo moral que busca arrebatá-los na correnteza de seus colegas. É o ar cultural que respiram. É o ambiente onde são educados e é a batida constante do ritmo da mídia.
Essas mensagens levam nossos filhos a questionar o que é certo e bom.
A cultura ao redor deles pode facilmente moldar seus valores e ideias quanto a absolutos morais, relacionamentos, romance, sexualidade, identidade e o que influencia sua tomada de decisão. Uma cultura secular influenciará seus filhos a abraçarem uma cosmovisão desprovida de Deus, e eles podem ser rapidamente arrebatados pela ideologia e pelos comportamentos que a acompanham.
Quando essas mensagens são internalizadas, os jovens muitas vezes decidem que o bem maior é o que eles pessoalmente escolhem como bem. Isso os leva a cuidar de si mesmos, às vezes às custas de pisar nos outros. Ou eles passam para a falta de sentido, desespero, falta de motivação e uma espiral descendente até a depressão ou o suicídio.
Além de ostentar aos nossos filhos o valor do amor a si mesmo e de ser autocentrado, o mundo coloca dúvidas em sua mente sobre a Palavra de Deus. As Escrituras e sua autoridade estão sob ataque. Também nós podemos até mesmo tentar reinterpretar a Palavra de Deus de acordo com nossas crenças e escolhas. Quando nossos filhos começam a duvidar do que Deus diz e a questionar seu cuidado por nós, eles começam a se mover em direção ao que lhes
parece certo. Seu desejo de autonomia se torna mais poderoso e decisivo do que a Palavra de Deus.
A verdade se tornou subjetiva — é por isso que as pessoas falam tão facilmente sobre “a minha verdade”. Isso leva ao colapso de quaisquer absolutos morais e à ascensão da soberania individual. Nossos filhos aprendem a buscar coisas que prometem proporcionar alegria, prazer, realização, conexão e identidade, mas que levam à morte. Em última análise, há uma batalha no coração e na mente de nossos filhos entre a verdade revelada e a verdade subjetiva. É grave perceber como em apenas uma geração é possível perder de vista os caminhos de Deus. Mais do que nunca, é preciso que os pais protejam seus filhos de filosofias vazias. Juízes 2.10 diz: “Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor , nem tampouco as obras que fizera a Israel”.
“A mudança está sempre a uma geração de distância”, disse o ateu Bill Hallowell. “Então, se pudermos plantar sementes de dúvida em nossos filhos, a religião desaparecerá em uma geração, pelo menos em grande parte — é isso, penso eu, que temos a obrigação de fazer.”4 Não se engane quanto a isto: nossa geração e as gerações seguintes estão sendo ativamente proselitizadas, persuadidas e convertidas a uma nova verdade relativa.
O pensamento secular diz que somos mais humanos quando comandamos a nós mesmos. O pensamento cristão diz o contrário: somos mais humanos quando abrimos mão do controle e nos entregamos a um Deus soberano. A forma de pensar do mundo ao nosso redor pode ser convincente, mas Paulo nos lembra: “Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Cl 2.8).
4 Billy Hallowell, “Prominent Scientist Says ‘Religion Will Go Away in a Generation’ if Atheists Use This Tactic to Teach Children”, The Blaze, 6/11/2014. Disponível em: https://www.theblaze.com/ news/2014/11/06/prominent-atheist-scientist-cites-slavery-and-gay-marriage-in-this-dire-prediction-religion-will-go-away-in-a-generation.
O PERIGO TAMBÉM VEM DE DENTRO
“O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45).
Você pode e deve vigiar seus filhos de perto. Você pode e deve monitorar suas atividades e tentar protegê-los de danos. Mas você descobrirá que o perigo que seus filhos enfrentam nem sempre pode ser mantido distante. Devemos prepará-los para atuar com sabedoria no mundo e distinguir o bem do mal. Uma boa criação não é simplesmente colocar limites e muros altos — proteger nossos filhos dos perigos externos deste mundo. A criação sábia também ajuda as crianças a entender que também há perigo por dentro. O pecado reside no coração e não é facilmente visível. Cada pessoa — entes queridos, amigos de confiança e conhecidos, indivíduos respeitáveis com quem vivemos e trabalhamos — é capaz de se desviar em escolhas destrutivas. Isso inclui seus próprios filhos.
Em 2004, M. Night Shyamalan produziu o filme A vila. É a história de um grupo de adultos que, depois de experimentarem vitimação e sofrimento, decidiram se retirar do mundo exterior para protegerem a si e a suas famílias de danos futuros. Foi criada uma vila, propositadamente cercada por uma floresta cheia de criaturas malignas, que mantinham seus aldeões detidos e “seguros” do mundo exterior.
Em um desejo de escapar da tragédia e dos males do mundo exterior, eles criaram seu próprio ambiente protegido, acreditando na mentira de que o mal existe “lá fora”, além de si mesmos. Eles rapidamente descobrem que o mal que procuravam evitar existe dentro das próprias muralhas que construíram. Na verdade, existia dentro deles. Estar despreparado para essa realidade levou a consequências devastadoras.
Aleksandr Soljenítsin, em Arquipélago Gulag, diz: “A linha que separa o bem e o mal não passa entre estados, nem entre classes, nem entre partidos
políticos; mas através de cada coração humano — e através de todos os corações humanos.”5
Jesus nos diz: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura” (Mc 7.21-22). Sim, cada um de nós é vulnerável ao mal que nos acontece, mas também somos capazes de permitir que ele crie raízes dentro de nós. Nossos filhos precisam ser ensinados a guardar o próprio coração, pois este é a fonte da vida (Pv 4.23). Tiago nos lembra da ladeira escorregadia de ceder aos desejos pecaminosos: “Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tg 1.15). Falharemos com nossos filhos se apenas os abrigarmos dos perigos externos deste mundo e não despertarmos neles a decisão de se guardarem da corrupção. Podemos tentar manter o mal longe de nós, mas falharemos por causa da natureza abrangente do pecado e do mal. Seus filhos serão tentados por seus próprios desejos errados. Assim como você, eles cairão às vezes. Às vezes, irão na direção errada. Mas esta é exatamente a questão que o Evangelho de Jesus Cristo aborda. Jesus morreu em uma cruz cruel porque somos todos pecadores. Naquela cruz, todos os nossos pecados foram perdoados — os pecados dos pais e dos filhos. Isaías 53.6 diz: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos.” Fomos resgatados de nós mesmos — e continuamos sendo. Nós e nossas famílias recebemos um Ajudador e Consolador que transforma corações e mentes — lugares que ninguém mais consegue alcançar. Nossa segurança final e a segurança de nossos filhos são encontradas ao confiarmos em um Pai fiel que nos resgatou e continua a nos resgatar. Enquanto passamos o resto do livro discutindo como proteger nossos filhos dos perigos deste mundo, lembre-se das Boas-Novas que você tem de compartilhar com
5 Aleksandr Soljenítsin, Arquipélago Gulag (São Paulo: Carambaia, 2023).
seus filhos — que Jesus Cristo veio para salvar os pecadores (1Tm 1.15). Então, juntos, vocês podem se lembrar de que “maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1Jo 4.4).
O DESAFIO: COMO SER SAL E LUZ
Saber que Jesus é mais poderoso do que a enxurrada de pressões e riscos que nossos filhos enfrentam é um ótimo ponto de partida, mas ainda pode ser difícil saber como seria uma resposta especificamente cristã aos perigos aos quais nossos filhos estão expostos. Devemos remover nossos filhos da sociedade e privá-los de todos os aparelhos tecnológicos, buscando ter controle total sobre todas as influências que possam surgir em seu caminho? É isso que significa proteger nossos filhos?
Jesus nos indica o caminho a seguir usando as metáforas do sal e da luz para ilustrar como seus seguidores devem viver no mundo (Mt 5.13-16). Devemos preservar e iluminar o que é bom, tanto para nossos filhos quanto para nossas comunidades. Devemos melhorar o mundo caído ao nosso redor. Nossa vida como filhos redimidos de Deus deve ter um efeito obviamente encorajador para aqueles com quem trabalhamos e vivemos. Esta é a postura que queremos transmitir aos nossos filhos. Em vez de ficarmos aterrorizados com os perigos que nossos filhos enfrentam, ou escondermos a cabeça em um buraco proverbial e fingir que eles não existem, podemos recorrer a Cristo para nos ajudar com aquilo de que precisamos para ensinar e preparar nossos filhos para serem sal e luz.
Porém é preciso pensar cuidadosamente para descobrir o que significa estar no mundo, mas não ser do mundo (Jo 17.14-19). A Escritura manda não nos conformarmos com este século (Rm 12.2) e termos nosso espírito renovado (Ef 4.23), mas também nos ensina que Jesus não orou para que fôssemos tirados deste mundo, e sim para que fôssemos guardados do mal (Jo 17.15).
Quando fielmente representamos Cristo ao mundo ao nosso redor, iluminamos o caminho deles até seu Criador. Queremos criar nossos filhos e
prepará-los de tal forma que, quando o mundo olhar para a vida deles, seja atraído para Cristo e seus caminhos.
Nossa fidelidade deve ser evidente para todos. O comportamento do povo de Deus deve ser uma luz que atraia outros para si. Precisamos lembrar que o sal não deve perder seu sabor e a luz não deve ser escondida ou diminuída. É tentador olhar para todos os temas difíceis que discutiremos e acreditar que a escuridão é grande demais; contudo, não devemos ser vencidos pelo mal, mas vencer o mal com o bem (Rm 12.21).
Como preparamos nossos filhos para viver em seu mundo sendo sal e luz? Seu caráter deve ser moldado e transformado por um relacionamento pessoal com Cristo. Incutimos um amor pelo Senhor e por tudo o que é correto, bom e santo. Nós os direcionamos para o que a Escritura nos diz: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Os jovens se tornarão sal e luz quando aprenderem a andar com o Senhor.
A maior defesa de nossos filhos contra o mal deste mundo será conhecer a Deus e seus caminhos. Então, eles saberão o caminho reto a seguir e serão capazes de reconhecer o caminho tortuoso e evitá-lo. Não deve haver maior alegria para nós do que saber que nossos filhos andam na verdade (3Jo 4). Como pai ou mãe, não se canse de discipular seus filhos; o Senhor e seu Espírito serão sua ajuda. Encoraje-se para sua jornada com 2 Coríntios 9.8: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra”.