Quem é o Espírito Santo? - R. C. Sproul

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Quem é o Espírito Santo?



QUES T ÕES

CRUCIAIS N o.

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Quem é o Espírito Santo?

R .C. Sproul


Quem é o Espírito Santo? Traduzido do original em inglês Who is the Holy Spirit?, por R. C. Sproul Copyright © 2012 by R. C. Sproul

Publicado por Reformation Trust Publishing a division of Ligonier Ministries 400 Technology Park, Lake Mary, FL 32746 Copyright©2013 Editora FIEL. 1ª Edição em Português 2013

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária Proibida a reprodução deste livro por quaisquer meios, sem a permissão escrita dos editores, salvo em breves citações, com indicação da fonte.

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Diretor: James Richard Denham III. Presidente emérito: James Richard Denham Jr. Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Francisco Wellington Ferreira Revisão: Elaine Regina Oliveira dos Santos Diagramação: Rubner Durais Capa: Gearbox Studios ISBN: 978-85-8132-170-7


Sumário Um – A Terceira Pessoa.......................................................... 7 Dois – O Doador da Vida..................................................... 17 Três – O Advogado ............................................................. 31 Quatro – O Santificador..................................................... 41 Cinco – Aquele que Unge..................................................... 55 Seis – O Iluminador............................................................. 73



Capítulo Um

A Terceira Pessoa

C

omo cristãos, adotamos uma fórmula histórica a respeito de Deus. Dizemos: “Deus é um em essência, e três em pessoa”. Em outras palavras, Deus é trino. Ele é uma Trindade. Isto significa que há três pessoas na Divindade. Estas pessoas são entendidas na teologia como distintas. As diferenças entre os três – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – são diferenças reais, não são diferenças de essência. Em outras palavras, há uma única essência na Divindade, e não três. Em nossa experiência como seres humanos, cada pessoa que conhecemos é um


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ser separado. Uma pessoa significa um ser, e vice-versa. Mas, na Divindade, há um ser em três pessoas. Temos de manter esta distinção para não cairmos numa forma de politeísmo, vendo as três pessoas da Divindade como três seres, que são três deuses separados. Nenhum de nós pode sondar exaustivamente as profundezas da Trindade, mas podemos dar alguns passos para entendê-la melhor. As palavras existência e subsistência podem nos ajudar nisto. E X I S TÊ N CIA E SU B SIS T ÊNCIA Uma das brincadeiras que eu gostava de fazer com meus alunos de seminário era perguntar-lhes: Deus existe? Eles respondiam: “É claro que Deus existe”. Então, eu dizia: não, Deus não existe. E sempre era divertido ver a feição de horror que aparecia no rosto deles, quando começavam a se perguntar se o seu professor havia abandonado o cristianismo e renunciado a sua fé. Mas logo eu tinha misericórdia deles e explicava que estava fazendo uma pequena brincadeira filosófica, ao afirmar que Deus não existe. A palavra existir vem do latim existere, que significa “estar fora de”. Portanto, a palavra existir significa, lite8


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ralmente, “estar fora de”. A pergunta óbvia é: do que um ser existente está fora? A ideia de existência tem suas raízes na filosofia antiga, quando os filósofos se preocupavam muito com a questão do ser. Nós também nos preocupamos com esta questão. De fato, quando fazemos a distinção entre Deus e nós mesmos, nós o identificamos como o Ser Supremo, e a nós mesmos, como seres humanos. Entretanto, essa distinção é, de certo modo, enganadora. Ambas as descrições usam a palavra ser; por isso, buscamos adjetivos qualificadores para estabelecer a diferença entre Deus e nós mesmos: ele é Supremo, e nós somos humanos. Na realidade, a grande diferença entre Deus e o homem é o próprio ser. Deus é um ser puro, um ser que tem sua vida em e por si mesmo, eternamente. Um ser humano é uma criatura, um ser cuja própria existência depende, de momento a momento, do poder do Ser Supremo. O ser de Deus não depende de nada, nem se deriva de nada. Ele tem o poder de ser em e por si mesmo. Quando os filósofos antigos falavam sobre existência, usando a palavra latina que significa “estar fora de”, pretendiam dizer que existir significa estar fora do ser. O que isso significa? Imagine dois círculos que não se sobre9


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põem. O primeiro círculo é “ser”, e o segundo é “não ser”, um termo requintado que corresponde a “nada”. Agora imagine um boneco palito entre os dois círculos, com seus braços estendidos. Um braço se estende e penetra o círculo intitulado “ser”, e o outro braço chega até dentro do círculo intitulado “não ser”. Isto é uma figura da humanidade. Participamos do ser, mas, ao mesmo tempo, estamos sempre a um passo da aniquilação. A única maneira de podermos continuar existindo é mantermos nossa conexão com o círculo intitulado “ser”, porque esse círculo representa Aquele em quem, como o apóstolo Paulo disse, “vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28) – ou seja, Deus. Mas, embora participemos desse ser e sejamos sustentados por ele, estamos apenas a um passo do não ser. Nosso boneco palito imaginário é uma ilustração do que os filósofos tinham em mente, quando falavam sobre “estar fora” do ser. Podemos dizer que os humanos estão num estado de “tornar-se”. Passamos por mudança. O que somos hoje é diferente do que éramos ontem e do que seremos amanhã, se, ao passarmos de um dia para outro, envelhecemos 24 horas. É esta faceta do ser humano, a mudança, que define existência. Mudança, geração, decadência, crescimento e envelhecimento são todas ca10


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racterísticas de nossas vidas. Deus, porém, é eternamente constante. Ele é o mesmo ontem, hoje e para sempre. Em resumo, quando os filósofos falavam em existência, estavam definindo o que significa ser uma criatura. Portanto, quando fiz a brincadeira com meus alunos de seminário, quando afirmei que Deus não existe, não pretendia dizer que não há Deus. Queria dizer apenas que Deus não é uma criatura. Ele não está preso a espaço e tempo, sujeito a mudança, geração ou decadência. Deus é sempre e eternamente o que ele é. Deus é o “Eu Sou”. Quando falamos sobre as pessoas da Divindade, não usamos tipicamente a palavra existência, usamos a palavra subsistência. Qual é a diferença entre estas palavras? Usamos a palavra subsistência em nosso vocabulário, quando falamos sobre alguém que vive na pobreza. Falamos sobre uma renda de subsistência, que é um salário deficiente, ou uma dieta de subsistência, que provê somente os nutrientes básicos. Observe, porém, que esta palavra inclui o prefixo sub, que significa “sob”. Portanto, subsistência é existência que está sob alguma outra coisa. Esta ideia está implícita no conceito da Trindade. Deus é um ser com três subsistências, com três pessoas distintas. Elas subsistem dentro do ser de Deus. 11


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A N AT U R E Z A P E SSO AL DO ESPÍR IT O O fato de que o Espírito Santo é uma pessoa pode ser visto de muitas maneiras na Escritura. Uma das evidências básicas é que a Bíblia usa pronomes pessoais, repetida e consistentemente, para se referir ao Espírito Santo. Ele é referido frequentemente com o pronome masculino “ele”. Além disso, o Espírito Santo faz coisas que associamos com personalidade. Ele ensina, inspira, guia, conduz, se entristece, nos convence de pecado e outras coisas mais. Objetos impessoais não se comportam desta maneira. Somente uma pessoa pode fazer estas coisas. Mas o Espírito Santo é visto, na Escritura, não apenas como uma pessoa, mas também como plenamente divino. Vemos isto numa história interessante do livro de Atos dos Apóstolos: Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não 12


A Terceira Pessoa seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus (At 5.1-4).

O pecado de Ananias e Safira foi que eles fingiram que sua doação à igreja era maior do que realmente era. Mentiram sobre a natureza da dádiva que estavam ofertando para Deus. Acho que Pedro se preocupou mais com o estado da alma deles do que com a quantia de dinheiro que contribuíram. Observe, porém, as palavras de repreensão que Pedro dirigiu a Ananias e Safira. Ele começou perguntando: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo?” Mas concluiu dizendo: “Não mentiste aos homens, mas a Deus”. Portanto, a mentira que Ananias falou ao Espírito Santo, ele a falou realmente a Deus. A implicação clara é que o Espírito Santo é Deus. AT R IB U T O S E O BR A DE DEU S Além disso, o Novo Testamento descreve, muitas vezes, o Espírito Santo como possuindo atributos que são claramente divinos. Por exemplo, o Espírito Santo é eterno (Hb 9.14) e onisciente (1 Co 2.10-11). Estes são, 13


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ambos, atributos de Deus. Além disso, são atributos incomunicáveis de Deus, atributos de Deus que não podem ser compartilhados pelos homens. Vemos, na Escritura, que o Espírito participa das obras trinitárias de criação e redenção. Gênesis 1, mostra que o Pai ordenou que o mundo viesse à existência. O Novo Testamento nos diz que o agente por meio do qual o Pai trouxe o universo à existência foi o Logos, a segunda pessoa da Trindade, nosso Senhor Jesus Cristo. “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). No entanto, o Espírito estava envolvido na criação: “O Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1.2). Por meio da obra energizadora da parte do Espírito, a vida foi trazida à existência. E, muito especialmente, a redenção é uma obra trinitária. O Pai enviou o Filho ao mundo (1 Jo 4.14). O Filho realizou toda a obra que era necessária para a nossa salvação – vivendo uma vida de obediência perfeita, e morrendo para fazer uma santificação perfeita (Fp 3.9; 1 Co 15.3). Mas nenhuma destas coisas nos será benéfica, se não nos for aplicada de maneira pessoal. Por conseguinte, o Pai e o Filho enviam o Espírito Santo ao mundo para aplicar a salvação a nós (Jo 15.26; Gl 4.6). No Novo Testamento, 14


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o papel do Espírito Santo é, principal e fundamentalmente, aplicar a obra de Cristo aos crentes. Você sabe quem o Espírito Santo é? Entende o Espírito Santo, em termos de um relacionamento pessoal? Ou o Espírito Santo continua sendo, para você, um conceito vago, obscuro e abstrato ou uma força ilusória e amorfa? Forças são, em e por si mesmas, impessoais. Mas o Espírito Santo não é uma força abstrata. Ele é uma pessoa, que capacita o povo de Deus para viver a vida cristã. Nos capítulos seguintes, consideraremos algumas das maneiras como o Espírito Santo realiza esta missão.

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