FÉ HOJE
N0 37 - Jul/2012 - R$10
PA R A
Comprometida com a Fé que foi entregue aos santos
Jonathan Edwards Avivamento, Missões, Devoção, Filosofia, Teologia
Uma voz que ainda fala para nossas vidas!
Prezado leitor, Agradecemos por seu apoio e orações em favor do ministério da Editora Fiel. Para nós, é um enorme privilegio ser colaboradores com Cristo, servindo a Sua igreja.
Nosso desejo é ver o crescimento espiritual e o conhecimento da Palavra de
Deus nas vidas de nossos leitores. Cremos que esta simples revista pode se tornar um instrumento nas mãos de Deus para ministrar em sua vida e mi-
nistério, abordando assuntos e suprindo necessidades de direção da Palavra, as quais talvez somente Deus conheça.
Quando meu pai, o missionário Pr. Ricardo Denham, chegou ao Brasil em 1952, foi uma revista como esta, dada a ele de presente, que Deus usou para
moldar sua visão de vida e ministério, apresentando a ele as maravilhosas doutrinas da graça de Deus,
Esperamos que nossa revista seja, igualmente, um meio de bênção, instrução e edificação em sua vida e seu ministério.
J. Richard Denham III
Presidente, Editora Fiel
Faç a a as s inat ura an ual da r e v ista Fé para Ho j e p or ap enas R $ 1 5,00*
Ligue 12 3919.9999 ou acesse www.editorafiel.com.br/feparahoje * Assinatura anual inclui duas revistas por ano. Se você deseja receber a revista fora do Brasil, entre em contato conosco pelo e-mail: feparahoje@editorafiel.com.br
Sumário expediente EDITOR-CHEFE
Tiago J. Santos Filho TRADUÇÃO
Francisco Wellington Ferreira REVISÃO
Marilene Paschoal DIAGRAMAÇÃO
Editorial
Tiago J. Santos Filho ........................ 3
1. Pastorado, Erudição e Avivamento em Jonathan Edwards
Franklin Ferreira ............................. 5
2. Avivamento: As perspectivas de Jonathan Edwards e Charles Finney
Gilson Santos ................................. 13
3. Como Jonathan Edwards chegou a amar a Soberania de Deus
Joel Beeke ....................................... 25
Rubner Durais
4. A Devoção de Jonathan Edwards
PRESIDENTE
5. O Desconhecido Jonathan Edwards
James Richard Denham III PRESIDENTE EMÉRITO
James Richard Denham Jr. REALIZAÇÃO
Editora Fiel Julho de 2012 | no 37
Wilson Porte .................................. 31 Solano Portela ............................... 37
6. Pensamentos de Jonathan Edwards sobre Deus
Don Kistler .................................... 43
7. O ambiente teológico arminiano nos dias de Edwards
Heber Carlos Campos ...................... 51
Epílogo: À Jonathan Edwards ............ 61
Resvi nunc fazer qualquer coisa da qual u tivee med, caso steja vivend a ltima hora da inha vida”. Jonathan Edwards
Resoluções e diário pessoal de Jonathan Edwards © Yale University Beinecke Rare Book and Manuscript Library
O velho caminho da cruz Tiago J. Santos Filho
F
alar sobre a importância de se estudar biografias é quase o mesmo que falar sobre o valor da história. Segundo o historiador cristão Justo González, a história é uma forma de nos compreendermos a nós mesmos; uma necessidade de se entender o tempo presente através do tempo passado para que, assim, determinemos nosso caminho futuro. A história do povo de Deus é uma espécie de biografia dinâmica, que ainda está sendo escrita e caminhando para sua conclusão. Quando olhamos os capítulos anteriores desta história longa, bela e cheia de perigos, encontramos personagens fascinantes, homens e mulheres usados grandemente por Deus na edificação de sua igreja. E quando estudamos a vida desses cristãos notáveis, aprendemos com seus erros e acertos, derrotas e triunfos e, sobretudo, com sua fé, esperança e amor – marcas que, desde o apóstolo Paulo, caracterizaram a trajetória deste povo cujo Senhor chamou de noiva, de igreja. E a história do povo de Deus é iluminada pela Escritura e escrita pelo Autor que, por sua misteriosa providência a determina e a encaminha para um glorioso final.
Quando olhamos a história passada, todavia, a aparente vantagem da perspectiva pode, facilmente, fazer com que nos encantemos com os seus aspectos mais triunfantes, mais glamorosos sem, contudo, percebermos que o legado que recebemos de nossos pais na fé foi conquistado, muitas vezes, à custa de intenso sofrimento, lutas, e até da própria vida. A cada página da história do povo de Deus, vemos o estandarte da fé marcado com os sonhos, ideais, realizações, conquistas e com o sangue daqueles que palmilharam o velho, estreito e batido caminho da cruz. Aqui folheamos o livro da história que ainda está sendo escrito e paramos nos Estados Unidos colonial do século XVIII, no capítulo que conta a história de um dos mais eminentes cristãos que já entrou para a galeria dos heróis da fé: Jonathan Edwards. Edwards foi um farol cujo brilho guia, até os dias de hoje, a igreja de Jesus Cristo. Deus o utilizou como um instrumento para feitos extraordinários. Ele foi um homem de aguda inteligência, disciplina rigorosa, humildade intencional, fé resoluta, piedade deliberada e profunda, mas, se há algo
que possa sumariar a intensa vida deste gigante, é o seu profundo anelo pela glória de Deus. Sendo um pecador redimido pela graça de Deus, Edwards foi alguém que se viu muito consciente de seus limites, suas lutas e pecados – ele as relatou de forma direta e indireta em suas famosas Resoluções, que começou a escrever quando contava apenas 18 anos de idade. Em um jornal local, à época da morte de Edwards, foi registrado o epitáfio que o descreveu como “um grande mestre da divindade. A divindade era seu estudo favorito e o ministério, seu maior deleite”. Como bem apontou James Boice, “Edwards defendeu cuidadosa e logicamente de que o propósito supremo de Deus é glorificar a si mesmo em tudo o que faz”. O próprio Edwards faz esta afirmação em uma de suas obras, quando diz que o fim para o qual Deus fez todas as coisas é a sua própria glória. Ele afirma que “tudo que é dito nas Escrituras como o propósito final de todas as obras de Deus pode ser resumido na seguinte frase: a glória de Deus”. Esta é, afinal, a pedra de toque de tudo quanto Edwards empreendeu em sua vida: fazer tudo para a glória de Deus. Preparamos esta edição especial da Revista Fé para Hoje na esteira
4 | Revista f é pa r a h o j e
da inauguração do Jonathan Edwards Center, que foi estabelecido em São Paulo, em parceria com o Centro de Pós Graduação Andrew Jumper, da Universidade Presbiteriana Mackenzie e a Universidade de Yale, e que é coordenado pelo Dr. Heber Carlos de Campos. Queremos oferecer ao leitor um pequeno vislumbre da história, vida, escritos e ministério do notável Jonathan Edwards. Os artigos aqui são demonstrativos e representam alguns aspectos importantes da trajetória de Edwards. Queremos incentivar o leitor a aprofundar sua pesquisa sobre este personagem e sua vasta produção teológica e a construir, a partir do legado deixado por Edwards, um entendimento sólido, maduro e atual da teologia, que aponte para o povo de Deus de nossos dias o mesmo bom, velho e batido caminho da cruz de Cristo.
Tiago José dos Santos Filho: Bacharel em Direito, é o Editor-Chefe da Editora Fiel, autor, professor e Deão do Seminário Martin Bucer em São José dos Campos, SP. É fellow do Jonathan Edwards Center no Brasil.
Pastorado, Erudição e Avivamento em
Jonathan Edwards
Franklin Ferreira | Revista fé par a h oje
5
N
o começo do século dezoito, era visível nas treze colônias – que em breve seriam conhecidas como Estados Unidos – o declínio da fé evangélica, provocado pela influência do processo colonizador, com seu subseqüente aumento populacional, sucessão de guerras brutais e declínio da espiritualidade dos ministros. Em 1726, um avivamento começou a irromper nas congregações reformadas holandesas em New Jersey, com as pregações de Theodore Frelinghuysen. Pouco depois, este avivamento alcançou os presbiterianos escoceses, por meio das pregações de William Tennant, Gilbert Tennant e Samuel Davies.
A vinda do avivamento Jonathan Edwards nasceu em 1703, único filho homem de Timothy Edwards, que era pastor congregacional em East Windsor, Connecticut. Pouco antes de completar 13 anos entrou no Yale College, em New Haven, Connecticut. Em 1720, recebeu o grau de bacharel, e aos 20 anos recebeu o grau de mestre em Artes. Em abril ou maio de 1721 experimentou a conversão: “A partir daque6 | Revista f é pa r a h o j e
le tempo, comecei a ter um novo tipo de compreensão e ideias a respeito de Cristo, e da obra da redenção e do glorioso caminho da salvação através dele. Eu tinha um doce senso interior destas coisas, que às vezes vinham ao meu coração; e a minha alma era conduzida em agradáveis vistas e contemplações delas. E a minha mente estava grandemente engajada em gastar meu tempo em ler e meditar sobre Cristo; e a beleza e a excelência de Sua pessoa, e o amável caminho da salvação, pela livre graça nEle... Este senso que eu tinha das coisas divinas frequentemente e repentinamente se inflamava, como uma doce chama em meu coração; um ardor da alma, que eu não sei expressar”. Após servir numa pequena igreja presbiteriana em New York, voltou a Yale como tutor. E, em 1727, foi ordenado ao pastorado, servindo como auxiliar na congregação pastoreada por seu avô, Solomon Stoddart, no ministério de uma igreja congregacional em Northampton, Massachusetts. Ele diz de sua consagração: “Dediquei-me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo que me pertencia ao Senhor, para não ser mais meu em
qualquer sentido, para não me comportar como quem tivesse direitos de forma alguma... travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e Satanás até o fim da vida”. Ele se casou aos 24 anos, em 1728, com Sarah Pierrepont, filha de um pastor. Ela era uma mulher de rara intelectualidade, porém, como seu marido, totalmente devota à gloria de Deus, e a uma experiência de oração que a levava algumas vezes a quase falência física. Sempre acompanhava seu marido nos momentos de oração. Em seu momento devocional diário, ele ia de cavalo para um bosque, e caminhava sozinho, meditando. Ele anotava suas ideias em pedaços de papel e, para não perdê-los, os pendurava em seu casaco. Ao voltar para casa, era recebido por sua esposa, Sarah, que o ajudava a tirar suas notas. Eles tiveram onze filhos, todos cristãos, e sua vida familiar feliz foi um modelo para todos os que o visitaram. Após a morte do avô, cujo pastorado durou sessenta anos, ele assumiu a igreja, em 1729. No período de 1734-1737, durante uma série de pregações sobre a justificação pela graça por meio da fé, começou um avivamento em sua congregação, que rapidamente se espalhou por Connecticut e New Jersey. Seus ouvintes sentiram as grandes verdades das Escrituras de que toda boca ficará fechada no dia do juízo e que “não há coisa alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no inferno, senão o bel prazer de Deus”. Em suas palavras, “o Espírito de Deus começou a trabalhar de maneira extraordinária. Muita gente estava correndo para receber Jesus. Esta cidade estava
cheia de amor, cheia de alegria, e cheia de temor. Havia sinais notáveis da presença de Deus em quase cada casa”. Edwards reconheceu que “mais de 300 almas foram salvas, trazidas para Cristo” em Northampton. Nesta época sua cidade tinha cerca de dois mil habitantes. “Não havia sequer uma pessoa na cidade, velha ou jovem que não estivesse interessada nas grandiosas coisas do mundo eterno (...). O trabalho de conversão era levado adiante da maneira mais surpreendente; as almas vinham, multidões delas, a Jesus Cristo”. Nessa época ele escreveu uma obra intitulada Uma fiel narrativa da surpreendente obra de Deus, onde detalha como a conversão cristã ocorre.
Refletindo sobre o avivamento
Ao considerarmos seus escritos, temos um vislumbre de seus interesses e aptidões. Ele escreveu cerca de mil sermões, e seu alvo era levar os homens a entenderem, sentirem e responderem à verdade do evangelho. Seus sermões eram esboçados segundo o método puritano, que incluía a exposição do texto bíblico escolhido, apresentação da doutrina (que era apoiada por outros textos bíblicos) e aplicação às questões do dia-a-dia. Ele colocava sua erudição a serviço de uma clareza deliberadamente simples. Pecadores nas mãos de um Deus irado, pregado em Einfield, Connecticut, em 1741, baseado em Deuteronômio 32.35, é seu sermão mais famoso. Antes desse sermão, por três dias não se alimentara nem dormira; rogara a Deus sem cessar: Revista fé par a h oje | 7
gum motivo religioso, e todos os dias pa“Dá-me a Nova Inglaterra!” O povo, ao reciam em muitos sentidos, como o dia entrar para o culto, se mostrava indifede domingo. Segundo, eles começavam rente e mesmo desrespeitoso. Edwards a aplicar os meios de salvação; leitura, iria pregar, e ao dirigir-se para o púlpito, oração, meditação, as ordenanças pessoalguém disse que tinha o semblante de ais; seu clamor era, ‘o que devo fazer para quem estivera, por algum tempo, diante ser salvo?’” Na mesma época, entre 1739 de Deus. Sem quaisquer gestos, encostae 1741, George Whitefield pregou em do num braço sobre o púlpito, segurava o doze das treze colônias, e teve um papel manuscrito numa mão, e o lia numa voz central na continuação deste avivamento. calma e penetrante. O resultado do serEm 1740, chegou a pregar para multimão foi como se Deus arrancasse um véu dões de até oito mil pessoas durante um dos olhos da multidão para contemplar mês, em quase todos os dias. Durante a realidade e o horror em que estavam. estes avivamentos entre 25.000 a 50.000 Em certa altura do sermão, um homem pessoas se converteram, entrando para as correu para frente suplicando por oraigrejas, sem contar os convertidos que já ção, sendo interrompido pelos gemieram membros das dos dos homens igrejas – nessa époe mulheres; quase ca a população das todos ficaram de não há coisa alguma que, treze colônias era pé ou prostrados por um momento, evite que o de pouco mais de no chão, alguns se pecador caia no inferno, senão um milhão de pesagarrando às coluo bel prazer de Deus” soas. E Edwards nas da igreja, pense tornou um dos sando que o juízo mais capazes insfinal havia chegatrumentos e defensores do avivamento. do. Durante a noite inteira ouviu-se na Um sermão magistral é a exposição cidade, em quase todas as casas, o clamor verso por verso de 1João 4, A verdadeira daqueles que, até àquela hora, confiavam obra do Espírito, que ele pregou no Yale em sua própria justiça. College em 1741. Edwards sabia que O efeito foi duplo: “Primeiro,... eles problemas acompanham o avivamento, abandonavam as suas práticas pecamipois Satanás, o qual, segundo ele obsernosas... Depois que o Espírito de Deus vou, foi “treinado no melhor seminário começou a ser derramado tão maraviteológico do universo”, segue a um passo lhosamente de uma maneira geral sobre de Deus, pervertendo ativamente e caa vila, pessoas logo deixaram as suas vericaturando tudo quanto o Criador está lhas brigas, discussões, e interferências fazendo. Então, na primeira parte de seu nos assuntos dos outros. A taverna logo sermão, ele passa a mostrar quais são os foi deixada vazia, e as pessoas ficavam em sinais que supostamente negam uma casa; ninguém se afastava a não ser para obra espiritual. Na segunda parte, então, negócios necessários ou por causa de al8 | Revista f é pa r a h o j e
ele demonstra os sinais bíblicos de uma obra do Espírito Santo. São elas: “Amor por Jesus, Filho de Deus e Salvador dos homens”, “agir contra os interesses do reino de Satanás, que busca encorajar e firmar o pecado e fomentar as paixões mundanas nos homens”, “profunda consideração pelas Sagradas Escrituras”, revelação dos “caráteres opostos do Espírito de Deus e dos outros espíritos que falsificam suas obras” e “se o espírito que está em ação em meio a um povo opera como espírito de amor a Deus e ao homem, temos aí um sinal seguro de que este é o Espírito de Deus”. Seu interesse por temas teológicos se evidencia pela amplidão das suas obras, abordando quase todos os temas doutrinários, legando à cristandade um imenso acervo de livros. Às vezes ele tem sido considerado um teólogo-filósofo, por causa de alguns de seus escritos, mas jamais deixou que a filosofia lhe ensinasse a sua fé ou que o desviasse da Palavra de Deus. Ele extraía das Escrituras as suas convicções, e a verdadeira estatura dele deve ser aquilatada como um teólogo bíblico. Como disse J. I. Packer: “Por toda a sua vida, alimentou sua alma com a Bíblia; por toda a sua vida, alimentou seu rebanho com a Bíblia”. Edwards é mais frequentemente estudado por causa da sua descrição agostiniana do pecado humano e da total suficiência da graça de Deus em Cristo por meio do Espírito. Mark Noll diz: “[Para Edwards,] a raiz da pecaminosidade humana era o antagonismo contra Deus; Deus era justificado ao condenar os pecadores que menospre-
zavam a obra de Cristo em favor deles; a conversão importava numa mudança radical do coração; o cristianismo verdadeiro envolvia não somente compreender algo de Deus e dos fatos das Escrituras, como também um novo ‘senso’ da beleza, santidade e verdade divinas. (...) Na mente de Edwards, as implicações para a conversão, que este conceito da natureza humana subentendia, ocupavam o lugar principal. Dizia que um pecador, por natureza, nunca escolheria glorificar a Deus, a não ser que o próprio Deus mudasse o caráter daquela pessoa ou – segundo a expressão do próprio Edwards – implantasse um novo ‘senso do coração’ para amar e servir a Deus. A regeneração, ato de Deus, era a base para o arrependimento e a conversão, que eram ações humanas”. Ele cria que o Deus onipotente exigia arrependimento e fé das suas criaturas, então ele proclamava tanto a absoluta soberania de Deus quanto a responsabilidade dos homens em responder ao chamado evangelístico. Ele também escreveu um livro clássico de psicologia da religião, o Tratado das Afeições Religiosas, de 1746, baseado em uma série de sermões em 1Pedro 1.8. Apesar de ter sido educado para ser lógico e racional, ele argumentava que a religião verdadeira reside no coração, no centro das afeições, emoções e inclinações. Ele detalhava de forma minuciosa os tipos de emoções religiosas que, em grande medida, são irrelevantes à espiritualidade verdadeira, terminando com uma descrição de doze marcas que indicam a presença da verdadeira espiritualidade cristã. Estas Revista fé par a h oje | 9
provêm de uma fonte divina e sobrenatural, o Espírito Santo, que irá gerar no fiel atração a Deus e seus caminhos por amor a ele, paixão pela beleza da santidade divina, novo conhecimento, convicção de que as verdades proclamadas pela fé cristã são concretas, humildade, regeneração, um espírito semelhante ao de Cristo, temor a Deus, equilíbrio entre as várias virtudes cristãs, anseio por Deus e comportamento guiado pela Escritura, em cumprimento à prática cristã. A análise cuidadosa de Edwards sobre a fé genuína enfatizava que não era a quantidade de emoções que indicava a presença da verdadeira espiritualidade, mas as origens de tais afeições em Deus, e a sua manifestação em obras que o glorifiquem. Como Beeke & Pederson escrevem, “esta tem sido, há muito, considerada por muitos historiadores como sua obra mais influente”. Em 1749 ele publicou um livro de memórias intitulado A vida de David Brainerd, um evangelista que viveu durante um tempo com sua família e morreu em Northampton, em 1747. Ao elaborar seu ensino sobre a conversão, Edwards usou-o como um estudo de caso, pontuando extensas reflexões sobre a vida e o ministério de Brainerd. Por causa da influência de seus escritos, ele é considerado o maior teólogo e filósofo surgido nos Estados Unidos. Lloyd-Jones, que devia muito aos escritos de Edwards, disse: “Eu sou tentado, talvez tolamente, a comparar os puritanos aos Alpes, Lutero e Calvino ao Himalaia e Jonathan Edwards ao Monte Everest”. Ele dependia totalmente da graça de Deus, que dominava comple10 | Revista f é pa r a h o j e
tamente sua peregrinação intelectual, sempre mantendo seu intelecto e estudos subordinados à Escritura.
O avivamento e as missões cristãs
Edwards também escreveu um livro intitulado Uma humilde tentativa de promover uma clara concordância e união visível do povo de Deus em extraordinária oração, pelo reavivamento da religião e o avanço do Reino de Cristo na terra (1748). Nesta obra ele faz um apelo: “muitas pessoas, em diferentes partes do mundo, por expressa concordância para se chegar a uma união visível em extraordinária,... fervente e constante oração, por aquelas grandes efusões do Espírito Santo, o qual trará o avanço da Igreja e do Reino de Cristo”. Sua convicção era que “quando Deus tem algo muito grande a realizar por sua igreja, é de sua vontade que seja precedido pelas extraordinárias orações do seu povo”. Neste tempo, a condição espiritual das igrejas batistas na Inglaterra era deplorável. John Sutcliff, pastor da igreja batista de Olney, Buckinghamshire, leu este livro, e propôs aos seus companheiros pastores na Associação Northampshire que separassem uma hora na primeira segunda-feira à noite de cada mês para orar para que “o Espírito Santo possa ser derramado em nossos ministérios e igrejas, para que os pecadores possam ser convertidos, os santos edificados, o interesse da religião revificado, e o nome de Deus glorificado”. Um grande avivamento se seguiu a estas reuniões. A influência de Edwards sobre Sutcliff e seus amigos,
acontecer com vocês em suas igrejas”. que incluíam William Carey e Andrew Então, ele foi ser missionário aos índios Fuller, foi tal que este escreveu: “Alguns Mohawk e Housatonic, num posto na dizem que, ‘se Sutcliff e alguns outros tifronteira, em Stockbridge, Massachuvessem pregado mais de Cristo, e menos setts. Foi lá que ele escreveu alguns de de Jonathan Edwards, eles teriam sido seus tratados teológicos mais importanmais úteis’”, replicando em seguida: “Se tes, tais como A liaqueles que falam berdade da vontade, assim, pregassem O pecado original, Cristo metade do a religião verdadeira O fim da criação e A que Edwards fazia, reside no coração, no centro das verdadeira virtude. e fossem metade afeições, emoções e inclinações” Em 1757 aceitou tão úteis como ele a presidência do foi, sua utilidade College of New seria o dobro do Jersey, que atualmente é a Universidade que ela é”. Por causa da profunda impresde Princeton, em New Jersey, e, em 1758, são do livro de Edwards, estes homens ao receber uma vacina contra varíola, que fundaram a Sociedade Batista Particular estava sendo testada, ele morreu. Sua úlpara Propagação do Evangelho entre os tima obra, inacabada, foi Uma história da Pagãos (que veio se tornar a Baptist Misobra da redenção, uma obra ambiciosa, sionary Society), em 1792, sendo Fuller onde ele argumenta que toda a história, seu primeiro secretário. desde a criação até a consumação, é subserviente à obra de redenção de Cristo. Uma rica herança Edwards e Sarah eram profundamente dedicados um ao outro, e entre suas últiEra costume de sua igreja conceder o mas palavras, estavam algumas para sua privilégio a qualquer pessoa, mesmo sem esposa, que ainda estava em Stockbridser membro da igreja, para participar da ge. Ele disse: “Dê o meu mais bondoso Ceia do Senhor. Por requerer uma base amor para minha esposa, e diga a ela, que estrita para participar da Ceia foi demia excepcional união, que tem subsistido tido de sua igreja em 1750. Como Lloydentre nós por tanto tempo, tem sido de -Jones disse: “Essa foi uma das coisas tal natureza, que eu creio ser espiritual, e, mais espantosas que já aconteceu, e deve portanto, continuará para sempre”. Pouservir como uma palavra de encorajaco antes de falecer, ele disse: “Confiai em mento para os ministros e pregadores. Deus, e não precisareis temer”. Lá estava esse altaneiro gênio, esse podeHá pelo menos duas aplicações que roso pregador, esse homem que estava no podemos destacar. Uma diz respeito à centro do grande avivamento – e, todanecessidade de avivamento, em nossa via, foi derrotado na votação da sua igreja época. Nós devemos temer e combater os por 230 votos a 23. Não se surpreendam, excessos que ocorrem nestes avivamentos portanto, irmãos, quanto ao que possa Revista fé par a h oje | 11
(que mesmo em Atos aconteceram), mas não eles. Como Edwards disse: “Pode-se observar que, desde a queda do homem até os nossos dias, a obra de redenção, em seus feitos, tem sido realizada principalmente por extraordinárias comunicações do Espírito Santo”. As Escrituras nos exortam a ser cheios do Espírito (Ef 5.18), a provar os espíritos (1Jo 4.1) e a não extinguir o Espírito (1Ts 5.19). Edwards nos ensina que avivamentos, à semelhança dos dons, são dádivas de Deus (1Co 12.11), que não podem ser fabricadas ou manipuladas pelo homem, mas esperadas na misericórdia e soberania de Deus. A pobreza da reflexão moderna sobre Deus é evidente. Somos uma geração que perdeu a consciência da beleza da glória do Senhor, quando comparada com aquilo que podemos aprender daquilo que Edwards compartilha conosco: “Deus é um Deus glorioso. Não há ninguém como Ele, que é infinito em glória e excelência. Ele é o Altíssimo Deus, glorioso em santidade, temível em louvores, que faz maravilhas. Seu nome é excelente em toda a terra, e sua glória está acima dos céus. Entre todos os deuses não há nenhum como Ele... Deus é a fonte de todo o bem e uma fonte inextinguível; ele é um Deus todo suficiente, capaz de proteger e defender... e fazer todas as coisas... Ele é o Rei da glória, o Senhor poderoso na batalha: uma rocha forte, e uma torre alta. Não há nenhum como o Deus ... que cavalga no céu...: o eterno Deus é um refúgio, e sob Ele estão braços eternos. Ele é um Deus que tem todas as coisas em suas mãos, e faz tudo aquilo que Lhe agrada: ele mata e faz viver; ele leva ao túmulo e ergue de lá; 12 | Revista f é pa r a h o j e
ele faz o pobre e o rico: os pilares da terra são do Senhor... Deus é um Deus infinitamente santo; não há nenhum santo como o Senhor. E Ele é infinitamente bom e misericordioso. Muitos outros adoram e servem como deuses, são seres cruéis, espíritos que procuram a ruína das almas; mas este é um Deus que se deleita na misericórdia; Sua graça é infinita, e permanece para sempre. Ele é o próprio amor, uma infinita fonte e um oceano dele”.
Bibliografia: Jonathan Edwards, A verdadeira obra do Espírito: sinais de autenticidade. São Paulo: Vida Nova, 1992. Gerald R. McDermott, O Deus visível; doze sinais da verdadeira espiritualidade. São Paulo: Vida Nova, 1997. D.M. Lloyd-Jones, Os puritanos; suas origens e sucessores. São Paulo: PES, 1993. Michael A. G. Haykin, “Jonathan Edwards: seu legado” em Jornal Os Puritanos Ano 1, nº 3 (Agosto 1992), p. 11-14. Michael A. G. Haykin, “Jonathan Edwards: seu legado (continuação)” em Jornal Os Puritanos Ano 1, nº 4 (Outubro 1992), p. 18-20. George M. Mardsen, “Edwards e a revolução científico-tecnológica” em Jornal Os Puritanos Ano 1, nº 3 (Agosto 1992), p. 17-18. Mark A. Noll, “Edwards, Jonathan” em Walter A. Elwell (ed.), Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã [vol. 2]. São Paulo: Nova Vida, 2009, p. 7-11. J. I. Packer, Entre os gigantes de Deus; uma visão puritana da vida cristã. São José dos Campos: Fiel, 1996. Joel R. Beeke & Randall J. Pederson, Paixão pela pureza; conheça os puritanos. São Paulo: PES, 2010. John Piper, Supremacia de Deus na pregação; teologia, estratégia e espiritualidade do ministério de púlpito. São Paulo: Shedd, 2003.
Franklin Ferreira: É mestre em teologia, pastor batista, autor, preletor, diretor do Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos, SP. É fellow do Jonathan Edwards Center no Brasil.
AV I VA M EN TO
Jonathan Edwards as perspectivas de
�arles Finney e
Gilson Santos
E
m muitos círculos evangélicos atuais, quando se fala em “avivamento”, pensa-se em uma grande campanha evangelística, com várias reuniões especiais, com um convidado especial e com uma música especial. Este é o sentido que se associou a este vocábulo no século XIX. As grandes campanhas evangelísticas de Charles G. Finney (1792-1875), Dwight L. Moody (1837-1899) e Reuben A. Torrey (1856-1928), bem como as de outros evangelistas do gênero, exerceram papel decisivo na sedimentação deste modo de pensar. Para outros, “avivamento” seria um “borbulhar de entusiasmo na igreja”, um excitamento, um cantar empolgante, um louvor diferente e, até mesmo, um tipo de histeria emocional seguida de sinais incomuns. No século XX, a idéia de “sinais e maravilhas” passou a integrar substancialmente o cerne do conceito de avivamento. A palavra “avivamento” (ou reavivamento, do inglês revival) surge desde o século XVII e afirma-se no século XVIII, quando se começava a falar sobre o reavivamento da religião. Embora o vocábulo fosse novo, aqueles que o
14 | Revista f é pa r a h o j e
endossavam entendiam claramente que a doutrina era amplamente encontrada nas Escrituras e na história da Igreja. Por “avivamento” pensava-se num “derramar incomum do Espírito Santo”.
Jonathan Edwards e a soberania de Deus no avivamento
Jonathan Edwards (1703-1758) foi um dos grandes líderes do avivamento do século XVIII, que tem sido chamado pelos norte-americanos de “Grande Despertamento”. Um estudo sério acerca deste assunto terá de levar em conta o que ele fez e escreveu. D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) e J. I. Packer, ao escreverem sobre Edwards, entendem que é na questão do avivamento que ele é preeminentemente o mestre. Avivamento é um derramamento do Espírito, e “se vocês quiserem saber algo sobre o avivamento verdadeiro, Edwards é o homem que se deve consultar”, arremata Lloyd-Jones.1 Em sua clássica obra A Treatise Concerning Religious Affections (Tratado sobre Afeições Religiosas), Edwards
nos fala sobre a atuação do Espírito Santo, dando grande atenção à experiência pessoal.2 O anseio de Edwards em diferenciar a experiência religiosa verdadeira da falsa resultou de sua preocupação pastoral no contexto do avivamento. Ele pregou uma série de sermões sobre 1 Pedro 1.8 tratando do assunto, em 1742-1743. O Tratado resultou da revisão do texto desses sermões para publicação em 1746. Nesta obra, Edwards argumentou que o cristianismo verdadeiro não se evidencia pela quantidade ou intensidade das emoções religiosas, mas por um coração transformado que ama a Deus e busca o seu prazer. Ele faz uma análise rigorosa das diferenças entre a religiosidade carnal e a verdadeira espiritualidade, que toca o coração com a visão da excelência de Deus e liberta o homem do egocentrismo. Edwards lutou em duas frentes: contra os adversários do avivamento e contra os extremistas; contra o perigo de extinguir o Espírito e contra o perigo de deixar-se levar pela carne e ser iludido por Satanás. Por um lado, tinha que argumentar contra aqueles que descartavam todo o avivamento como histeria irracional; por outro, tinha que argumentar contra aqueles que pareciam pensar que tudo o que aconteceu no avivamento era “de Deus”, não importa quão estranho, extremista ou desequilibrado isso fosse (...). Em sua tentativa de traçar um caminho intermediário entre esses
extremos, a um tempo similares e opostos, Edwards confrontou-se com uma série de questões fundamentais.3 Nos seus escritos, Edwards avaliou a experiência religiosa à luz das Escrituras e das suas convicções reformadas. O ponto de partida da sua pregação e da sua teologia foi o Deus soberano, em sua majestade, graça e glória. Edwards incluía uma ênfase na obra soberana e graciosa de Deus, ao tratar do avivamento. Segundo ele, o avivamento é uma visitação divina. É Deus vindo e agindo de maneira poderosamente incomum entre o seu povo. Utilizando a analogia do mar, o avivamento seria como as ondas do mar, que vêm e quebram sobre a praia, e nós podemos visualizar a história constatando essas ondas vindo e quebrando. De fato, a história dos avivamentos seria a história do povo de Deus. Num avivamento, ou experiência religiosa genuína, o critério principal é este: se quem está no centro das atenções é Deus ou o ser humano. Para que Deus esteja no centro é necessário, em primeiro lugar, que haja nos corações um profundo senso de incapacidade, de dependência de Deus, e de convicção da nossa pecaminosidade. Além disso, é preciso que haja a consciência de que toda genuína experiência religiosa é fruto da atuação do Espírito de Deus, que transforma e santifica os pecadoRevista fé par a h oje | 15
res, capacitando-os a amar e honrar a Deus em suas vidas. Portanto, todas as teorias de salvação que dão ênfase às obras humanas ou à capacidade humana só desmerecem a grandeza do amor de Deus revelado a nós em Cristo Jesus e tornado real em nossos corações somente pela iluminação do Espírito Santo.4 The Distinguishing Marks of a Work of the Spirit of God (As Marcas Distintivas de uma Obra do Espírito de Deus) é um pequeno mas importante livro de Edwards baseado em um sermão que pregara em Boston, durante o Grande Despertamento.5 Depois do sermão, ele fez alguns acréscimos e publicou o livro em 1741. Trata-se de uma exposição do capítulo 4 da Primeira Epístola de João, texto que nos exorta a provarmos “os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora”. De fato, no argumento de Edwards, a palavra “evidência” seria preferível à palavra “marca”. Edwards extrai dos escritos do apóstolo João um total de quatorze sinais ou evidências que indicam a presença ou ausência do Espírito de Deus numa pessoa, movimento ou igreja. A seguir, ele oferece cinco conclusões práticas para a igreja, encerrando com sua ênfase característica na humildade em todas as coisas do Espírito. Esta questão lhe era crucial, pois sua igreja fora atingida pelo Grande Despertamento nas décadas 16 | Revista f é pa r a h o j e
de 30 e 40 do século XVIII, e aquele período foi de grande agitação e confusão, à medida que se faziam todos os tipos de reivindicação espiritual. Em seu livro Jonathan Edwards e o Avivamento Brasileiro, o qual recomendo ao leitor, Luiz Roberto França de Matos (1956-2004), ao analisar os escritos de Edwards, conclui sobre os “princípios úteis para julgar se uma obra espiritual ou movimento religioso efetivamente vem do Espírito”. Que princípios são esses? O autor resume-os como segue: 1. Quaisquer manifestações exteriores resultantes de experiências extraordinárias não são um sinal fidedigno de espiritualidade e não asseguram uma obra genuína do Espírito. 2. Uma obra verdadeira do Espírito de Deus produzirá uma mudança radical na natureza de uma alma individual, que irá expressar-se em um comportamento e prática completamente novos, revelando-se progressivamente a imagem de Jesus Cristo implantada no crente.6 Quanto ao avivamento, é ele um período marcante, quando Deus, de forma rápida e impressionante, expande o seu Reino através de um revitalizar da sua igreja; é obra poderosa do Espírito Santo no meio de muita gente ao mesmo tempo. O avivamento é uma intensificação do Cristianismo. Não é um outro tipo de Cristianismo, mas
uma intensificação do mesmo quando em tempos normais. Não é diferente em essência; a diferença é de grau e não de tipo. O Catecismo Maior de Westminster, na resposta à pergunta de número 182, diz que o Espírito Santo nos ajuda “operando em nossos corações, e despertando (embora não em todas as pessoas, nem em todos os tempos, na mesma medida) aquelas apreensões, afetos e graças que são necessários...”.7 Alguém recorreu à analogia entre uma “chuva normal” e uma “chuva forte”. Num contexto de avivamento, os crentes são mais zelosos, pecadores são atraídos, e mesmo os incrédulos que não se convertem, se vêem convencidos da verdade. J. I. Packer diz que a “Escritura aponta para um processo repetido muitas vezes, mediante o qual, seguindo-se à frieza, descuido e infidelidade existentes dentre o povo de Deus, o próprio Deus age soberanamente para restaurar o que estava prestes a perecer”. E acrescenta: “E através do transbordamento evangelístico consequente, [Deus] torna a estender ainda mais o reino de Cristo”.8 Uma observação importante, que deve novamente ser enfatizada, é que o avivamento vem exclusivamente de Deus. “Porventura, não tornarás a vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu povo?” (Sl 85.6). O desejo do salmista está voltado para Deus, pois o homem não pode operar esta façanha. É Deus quem pode vivificar. O avivamento é uma obra soberana de Deus, pois “o vento sopra onde quer” ( Jo 3.8). Nós não podemos dar uma ordem para que
haja um avivamento, e ele não segue um modelo previamente fixado por qualquer homem. Nós estamos amarrados à misericórdia de Deus. “Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer” ( Jo 5.21). Isto não deveria causar-nos desespero, mas fome, um apetite pela visitação de Deus. Deveria nos levar à humilhação. Na compreensão de Edwards, avivamento é algo que acontece, não é algo que se promove. O homem não é o agente; ele é objeto
O avivamento é uma intensificação do cristianismo” dessa obra do Espírito. Deus é absolutamente soberano em cada dádiva que concede. Isto é tão verdadeiro acerca do avivamento como é de qualquer grande obra redentora. J. I. Packer colocou isto nas seguintes palavras: O avivamento é Deus demonstrando a soberania de sua graça. Avivamento é inteiramente obra da graça, pois sobrevém a igrejas e cristãos que merecem apenas julgamento; e Deus o faz acontecer de maneira a mostrar que sua graça foi decisiva nele. Os homens podem organizar convenções e campanhas e buscar a bênção de Deus sobre elas, mas o único organizador Revista fé par a h oje | 17
dos avivamentos é Deus, o Espírito Santo. Repetidas vezes, o avivamento tem vindo de maneira súbita, irrompendo frequentemente em lugares obscuros, através do ministério de homens também obscuros. Na verdade, ele vem em resposta à oração, e onde ninguém orou é provável que também ninguém seja avivado; entretanto, a maneira pela qual a oração é respondida será de forma a enfatizar a soberania de Deus como a única fonte de avivamento, mostrando que todo o louvor e toda a glória precisam ser dados somente a ele.9 Iain Murray, em seu excelente livro Pentecost Today, chama a atenção para o fato de que a soberania de Deus no avivamento é revelada em que Ele é soberano nos instrumentos que se propõe utilizar neste sentido, em seus propósitos no avivamento, e com relação ao tempo quando o avivamento começa.10 Roberts & Gruffydd, em seu livreto Avivamento e seus Frutos, quando se referiram ao avivamento de 1762, no País de Gales, escreveram: Avivamento, por definição, é o próprio princípio de vida da igreja. O poder que produz a vida é o próprio princípio de sua vida. O poder que traz à vida é o poder que sustém a vida. A igreja como um corpo de crentes permanece numa contínua necessidade do vivificante Espírito de Deus.11 Evans observa que “um dos fatos 18 | Revista f é pa r a h o j e
mais coagentes e convincentes que serve para demonstrar a soberania do Espírito Santo em instaurar reavivamentos é a maneira simultânea de manifestar Sua operação em vários lugares e pessoas”.12 E o mesmo autor salienta o papel da oração. Não obstante ser obra graciosa e soberana, o avivamento sempre vem através da oração. Oração intensa e persistente. A correta compreensão da doutrina da soberania de Deus não implica em passividade da parte do povo de Deus. Edwards colocara isto da seguinte maneira: Quando Deus tem algo muito grande para realizar em favor da sua igreja, a vontade dele é que isso seja precedido pelas orações extraordinárias do seu povo, segundo manifestado por Ezequiel 36.37... E é revelado que, quando Deus está para realizar grandes coisas para a sua igreja, ele começará derramando de maneira notável o espírito de graça e de súplicas (Zc 12.10).13 “Aviva a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos anos, e, no decurso dos anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia” (Hc 3.2). Isaías 64 é uma oração muito própria em favor de um avivamento. Também o salmista ora: “Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome; por amor da tua justiça, tira da tribulação a minha alma” (Sl 143.11). Além disto, a pregação da Palavra de Deus é instrumento de Deus para reavivar seu povo. O SENHOR utiliza sua própria Palavra (Sl 119.25;
Ez 37.9). O Salmo 119 descreve a Palavra de Deus como o meio para o reavivamento do povo de Deus: “Estou aflitíssimo; vivifica-me, SENHOR, segundo a tua palavra” (Sl 119.107). O impulso do avivamento há de partir do Senhor, como também o poder que
nismo representado por este foi repudiado e relegado à condição de fantasma por aquele”.15 Finney argumentou que podemos alcançar o avivamento simplesmente utilizando adequadamente os meios corretos. No raciocínio de Finney, “orar pelo reavivamento religio-
Quando Deus tem algo muito grande para realizar em favor da sua igreja, a vontade dele é que isso seja precedido pelas orações extraordinárias de seu povo”
acompanha a Palavra deve ser atribuído a Ele. Enfim, se pudermos falar de uma metodologia em Edwards, esta era, basicamente, orar por avivamento e expor a palavra da Escritura.
Charles Finney e a “ciência do avivamento” A definição que Edwards ofereceu para avivamento sofreu grande revisão no século XIX. Um dos mais influentes líderes do chamado “Segundo Grande Despertamento” foi Charles Finney. Ele escreveu um livro em 1838 chamado Reavivamento da Religião.14 De forma contrária a Jonathan Edwards, Finney fez o avivamento repousar decisivamente sobre o homem. No livro Charles Finney e a Secularização da Igreja, Jadiel Martins Sousa (1964-2002) observa com muito acerto que “em algum sentido, pode-se dizer que Finney foi uma reação a Edwards, uma vez que o calvi-
so e deixar de empregar qualquer outro meio, é tentar a Deus”.16 E na sua argumentação subsequente, estes meios recebem grande ênfase. A analogia que ele utilizou foi a de um fazendeiro à espera de uma colheita. Ele ara, irriga e prepara o seu campo... E à medida que ele faz essa obra, a colheita inevitavelmente acontece. Assim, o avivamento é como uma ciência. Em sua biografia de Finney, V. Raymond Edman falou sobre “a ciência do avivamento” – de fato, o título da obra em português é Despertamento: A Ciência de um Milagre.17 Avivamento é tido comumente como um ato da soberania divina, outorgado pelo Deus todo-poderoso segundo sua vontade, sob sua direção. O homem, no caso, é considerado inteiramente incapaz de promover ou impedir semelhante manifestação do poder soberano. A evidência da experiência cristã não Revista fé par a h oje | 19
confirma a exatidão de tal conceito, e a verdade é que parece concludente haver muito que os crentes devem fazer na preparação e promoção do verdadeiro avivamento (...). Finney é explícito e exigente na sua explicação de que um avivamento espiritual, como ele o chamava, “não é milagre”, mas antes “o resultado do emprego acertado dos meios apropriados”.18 E o autor cita o próprio Finney: Avivamento não é milagre, nem depende de milagre, em nenhum sentido. É resultado puramente filosófico do emprego acertado dos meios comuns, tal como qualquer resultado que se obtenha empregando métodos apropriados. Pode haver um milagre entre suas causas antecedentes, ou pode não haver. Os apóstolos empregavam milagres simplesmente como meios de chamar a atenção para sua mensagem e de estabelecer a autoridade divina dessa mensagem. Mas o milagre não era o avivamento... Afirmei que o avivamento é o resultado do emprego acertado dos meios adequados. Os meios que Deus determinou para a operação de um avivamento, sem dúvida, possuem tendência natural para produzir um avivamento, senão Deus não os teria determinado. Mas, conforme todos sabemos, os meios não produzirão um avivamento sem a bênção de Deus. 20 | Revista f é pa r a h o j e
É-nos impossível dizer que não há a mesma influência ou ação direta da parte de Deus para produzir uma colheita de cereais ou para promover um avivamento... Suponhamos que um homem fosse pregar essa doutrina entre agricultores, com referência à plantação de cereais. Diga-lhes ele que Deus é soberano e lhes concederá uma colheita somente quando lhe aprouver; que arar a terra, semear e cultivar como quem espera uma colheita, está muito errado; é tirar a obra das mãos de Deus, é interferir na sua soberania, é labutar com suas próprias forças; que não existe, entre os meios e os resultados, nenhuma ligação de que possam depender. E suponhamos que os agricultores aceitassem tal doutrina. Ora, poriam o mundo a morrer de fome. Pois os mesmos resultados advirão se a Igreja se deixar convencer de que a expansão do evangelho é matéria misteriosamente sujeita à soberania divina, que não existe conexão entre os meios e o fim.... Creio firmemente que, caso pudéssemos saber todos os fatos, verificaríamos que, quando os meios determinados são usados acertadamente, as bênçãos espirituais são alcançadas com maior uniformidade que as temporais.19 Em resumo, este é o pensamento de Finney acerca do avivamento. E parece que não se alterou substancialmente,
uma enorme confiança no caráter naembora alguns autores identifiquem tural dos poderes da própria mente que alguma mudança em suas últimas corsão despertados e excitados pela palavra respondências. Pelo final da vida de dirigida de forma clara à consciência. Finney, os sinais do avivamento viEmbora houvesse dito que “os meios nham declinando. Ele concluía que, se não produzirão um avivamento sem a para trazer o avivamento bastava utilibênção de Deus”, de alguma maneira, zar os meios corretos, a mesma lógica em sua lógica matemática e forense, e deveria aplicar-se para manter o avivapromovendo alguma confusão entre mento. Entretanto, por alguma razão, causa e efeito, o avivamento ficou reduessa lógica não se verificava na realidade zido a uma ciência. Numa observação ao seu redor. Ele sentiu a impossibilidados escritos de Finney a este respeito, de de manter o avivamento pelo esforço uma leitura superficial dos títulos já é humano, e em suas cartas teria conclusuficiente para ído que atribuiu perceber sua tese: muito da obra ao homem. À luz Em todo avivamento nós somos os títulos sugerem ação excludisto, podemos distintamente conduzidos a siva do homem e compreender porreconhecer a soberania de Deus”. apontam para reque Iain Murray sultados seguros. conclui que a ineO avivamento é, vitável tendência pois, o resultado do despertamento dos da visão de Finney é que, embora espere poderes da consciência por meio das váencorajar a diligência e os sinceros esrias técnicas, que passaram a ser exausforços práticos, “ela irá, contudo, cedo tivamente empregadas. Assim nasceu ou tarde, produzir desencorajamento”. o “avivalismo”. A definição de Finney No final das contas, nesta visão, não há prevaleceu entre a maioria dos cristãos avivamento se a desobediência continua evangélicos desde então, e “avivamento” a prevalecer, pois é a obediência humae “metodologia” passaram a caminhar na que assegura o avivamento.20 juntos, e com grande detrimento da Efetivamente, Finney estava reateologia. Fato, porém, é que a metodogindo a uma situação que considerava logia de Finney era, clara e inescapavelgrave. Além disso, ele era alguém muito mente, uma expressão de sua teologia. interessado em resultados. Para ele, a Jadiel Martins Sousa resume bem única forma de afirmar a veracidade de tudo isto: um método era sua eficácia em atingir alvos propostos. O fato de ter experiAté os dias de Finney, a Igreja Cristã mentado avivamento e ter se concentraestava relativamente familiarizada do em seus efeitos visíveis deu a Finney com o fenômeno do avivamento. a oportunidade de desenvolver sua tese Vários períodos marcados por granda produção do avivamento. Nela há Revista fé par a h oje | 21
de despertamento espiritual, desde a Reforma do século dezesseis, já haviam ocorrido. Mas a partir do ano 1800, no período do chamado Segundo Grande Despertamento, algo novo começava a ser notado. As manifestações emocionais e as expressões corporais, que já eram conhecidas dos outros períodos de avivamento, ganharam uma nova dimensão. Passavam a ser não apenas sinais secundários ou adereços presentes, mas se tornavam praticamente a essência do avivamento. Se antes essas manifestações eram algo a ser administrado, filtrado e julgado à luz
biente meticulosamente preparado pelo homem. Esse era o novo perfil do avivamento do início do século XIX. O avivamento não era mais um fenômeno surpreendente, determinado pela soberania de Deus e executado livremente por ele. Já não era mais uma visitação especial na qual Deus restabelecia o vigor de seu povo trazendo nova disposição àqueles que estavam moribundos. O avivamento passava a ser um movimento terreno, um programa da igreja, algo planejado e executado pelos homens. Era um movimento ao qual as pessoas aderiam ou se
Precisamos ser conduzidos a um grande senso de nossa própria indignidade e insuficiência, e que seja criado dentro de nós um desejo pela manifestação da glória e do poder do Senhor”. da Palavra de Deus e de seus próprios frutos, agora elas eram buscadas, estimuladas e promovidas. Além disso, havia o pensamento de que todas as coisas relacionadas ao avivamento eram possíveis de serem promovidas pelo homem. Nesse contexto, o avivalista era tão importante quanto o avivamento, o evangelista tão importante quanto o evangelho. Uma série de adornos foram acrescentados ao fenômeno do avivamento, como, por exemplo, os acampamentos, de tal forma que se acreditava ser impossível que o avivamento ocorresse fora desse am22 | Revista f é pa r a h o j e
opunham. Surgia o reavivalismo, do qual Finney se tornou o principal representante.21 Alguns líderes cristãos piedosos e operosos, contemporâneos de Finney, e que também estavam sob o impacto de uma grande visitação de Deus, se opuseram ao seu novo conceito e às suas “novas medidas”. Tais homens não eram negligentes quanto aos deveres cristãos, mas entendiam que o avivamento dependia da soberania de Deus. Era ele quem determinava quando e onde ocorreria um derramamento especial do seu Espírito. Havia um ele-
mento de surpresa no avivamento. Não era possível nem mesmo estabelecer um modelo fixo de avivamento; Deus se reserva o direito de agir de formas variadas, embora algumas marcas estejam geralmente presentes. William Sprague (1795-1876) foi durante quarenta anos pastor da Igreja Presbiteriana em Albany, New York. Ele testemunhou um período em que milhares de homens e mulheres foram convertidos. Sendo contemporâneo de Charles G. Finney, Sprague escreveu em 1832 um livro chamado Lectures on Revivals of Religion (Conferências em Avivamento). De onde procedem tais avivamentos da religião? De onde eles vêm? Sprague põe isto da seguinte maneira: Em todo avivamento nós somos distintamente conduzidos a reconhecer a soberania de Deus. Assim como isto é verdade e pode ser percebido na influência pela qual uma única alma é convertida, certamente não é menos manifesto nessas copiosas chuvas de influência pela qual são convertidas centenas de pessoas. É Ele quem causa isto. É Ele quem faz chover em uma cidade e não em outra. É Ele quem dirige o movimento dessas nuvens no mundo espiritual, das quais descem as bênçãos de reavivar e acelerar a graça. “O vento sopra aonde quer; e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo que é nascido do Espírito». Assim, igualmente, é todo avivamento da religião.22
Uma grande necessidade A idéia completa de avivamento parece que se tornou estranha a muitos bons cristãos. Isto se deve a um sério equívoco na compreensão das Escrituras, e a uma lamentável ignorância da história da Igreja. Visto que em nosso tempo este termo é utilizado para uma cruzada evangelística ou para alguns eventos planejados, o significado original tornou-se quase inacessível para a maioria dos cristãos. Precisamos ser conduzidos a um grande senso de nossa própria indignidade e insuficiência, e que seja criado dentro de nós um correspondente desejo pela manifestação da glória e do poder do SENHOR. O “seu braço não está encolhido”. As épocas de avivamento trazem um profundo sentimento de que sempre se está diante dos olhos de Deus; as coisas espirituais tornam-se sobejamente reais, e a verdade de Deus se torna irresistivelmente poderosa, tanto para ferir quanto para curar; a convicção de pecado torna-se intolerável; o arrependimento é profundo; a fé desabrocha forte e firme; a compreensão espiritual cresce depressa e aguda; e os novos convertidos amadurecem em período de tempo bem curto. Os cristãos tornam-se destemidos no testemunho e incansáveis no serviço do seu Salvador. Eles reconhecem a sua nova experiência como um verdadeiro antegozo da Revista fé par a h oje | 23
vida do céu, onde Cristo se lhes revelará tão plenamente que jamais serão capazes de deixar, dia e noite, de cantar seus louvores e fazer sua vontade. A alegria transborda (Salmo 85.6; 2 Crônicas 30.26; Neemias 8.12, 17; Atos 2.46,47; 8.8), abundando uma generosidade cheia de amor (Atos 4.32).23 Em 1992, ao apresentar a tradução em português do livro Avivamento, de D. M. Lloyd-Jones, o editor expressou-se da seguinte maneira: Ao considerarmos a condição espiritual do mundo – e especialmente a do Brasil – nesta última década do século vinte, não hesitamos em afirmar que a profunda convicção dos responsáveis desta editora é que não há assunto de maior importância e urgência do que o deste livro. Não vemos nenhuma possibilidade de uma mudança radical, benéfica e duradoura neste grande país à parte de uma visitação poderosa do Espírito Santo.24 1 J. I. Packer., Entre os Gigantes de Deus; Uma Visão Puritana da Vida Cristã. São José dos Campos: Editora Fiel, 1996, 389pp. e D. M. Lloyd-Jones, Os Puritanos; suas origens e seus sucessores. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, 432pp. 2 Cf. Jonathan Edwards. A Genuína Experiência Espiritual. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, 116pp. 3 N. R. Needahm. Introdução ao livro A Genuína Experiência Espiritual, op. cit, p. 9. 4 Alderi de Souza Matos. Avivamento nos Dias de Jonathan Edwards; relevância atual. Online: h t t p : / / w w w. t h i r d m i l l . o r g / f i l e s / portuguese/75932~11_1_01_9-41-48_ A M ~ A V I VA M E N T O _ N O S _ D I A S _ D E _ J O N A T H A N _ E D WA R D S . h t m l
24 | Revista f é pa r a h o j e
5 Cf. Jonathan Edwards. A Verdadeira Obra do Espírito; sinais de autenticidade. São Paulo: Vida Nova, 1992, 94pp. 6 Luiz Roberto França de Mattos. Jonathan Edwards e o Avivamento Brasileiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 110. 7 Catecismo Maior de Westminster. Pergunta 182. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1987, p. 134. Itálicos meus. 8 J. I. Packer. Na Dinâmica do Espírito; Uma avaliação das Práticas e Doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 1991, pp. 238 e 240. 9 Idem, p. 250. 10 Iain H. Murray. Pentecost Today?; The Biblical Basis for Understanding Revival. Carlisle, Pensilvânia: Banner of Truth, 1998, pp. 70-74. 11 Emyr Roberts & R. Geraint Guffydd, apud John Armstrong. Avivamento. O quê e por quê? São Paulo: Editora Fiel, s.d., p. 3. Itálicos meus. 12 E. Evans. Reavivamentos; sua origem, progresso e realizações. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, s.d, p.8. 13 Jonathan Edwards. Works. Ed. W. Goold. London: Banner of Truth, 1967, 4:518. 14 Para uma leitura da obra de Finney acesse online: http://www.gospeltruth.net/Port/sermons_in_ portuguese.htm . Cf. Garth M. Rossel & Richard A. G. Dupuis. Memórias Originais de Charles Finney. São Paulo: Editora Vida, 1986, 512pp. 15 Jadiel Martins Sousa. Charles Finney e a Secularização da Igreja. São Paulo: Edições Parácletos, 2002, p. 68. Esta obra atualmente é publicada e distribuída por Editora Fiel. 16 Charles Finney. Uma vida Cheia do Espírito. Venda Nova (MG): Editora Betânia, 1980, p. 39. 17 V. Raymond Edman. Despertamento: A Ciência de um Milagre. Venda Nova (SP): Editora Betânia, 1976, 161pp. O título da obra em inglês é Finney Lives On (Finney Ainda Vive). 18 Idem, pp. 61-62. 19 Ibid,. pp. 63-64 20 Murray, op. cit., p. 29. 21 Sousa, op. cit., pp. 45-46. 22 William B. Sprague. Lectures on Revivals of Religion. London: The Banner of Truth Trust, 1959, 287pp, e Appendix 165 pp. Acesse online em: http://www.revival-library.org/catalogues/theology/sprague/title.htm 23 Packer, op. cit., p.250. 24 William Barkley. “Nota dos Editores”, in: D. Martyn Lloyd-Jones. Avivamento. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 7.
Gilson Carlos de Souza Santos: Bacharel em Teologia e História, pastor da Igreja Batista da Graça em São José dos Campos, SP, autor e preletor.
Jonathan Edwards chegou Como
a amar a Soberania de Deus
Joel R. Beeke Revista fĂŠ par a h oje | 25
P
resumimos muito facilmente que os grandes teólogos chegaram a amar as doutrinas da graça sem qualquer esforço. Isto não foi, de modo algum, o que aconteceu com todos eles. Talvez não aconteceu com nenhum deles. Pelo menos, isso não foi o que aconteceu com Jonathan Edwards, o eminente pregador da Nova Inglaterra no século XVIII. O seguinte relato mostra como Edwards chegou a amar a soberania de Deus somente depois de relutância inicial.
26 | Revista f é pa r a h o j e
J
onathan Edwards fez a seguinte confissão:
Desde a minha infância, a minha mente estava cheia de objeções contra a doutrina da soberania de Deus em escolher quem ele quisesse para a vida eterna e rejeitar a quem ele quisesse, deixando-os perecer eternamente e ser atormentados para sempre no inferno. Isso costumava parecer uma doutrina horrível para mim. Todavia, lembro-me muito bem do tempo em que eu parecia estar convencido e plenamente satisfeito quanto a esta soberania de Deus e sua justiça em dispor os homens eternamente assim, de acordo com seu prazer soberano. Mas nunca pude dar uma explicação de como ou por que meios fui convencido disso, nem sequer imaginar na época, nem mesmo muito depois, que houve uma influência extraordinária do Espírito de Deus neste convencimento; sei apenas que cheguei a ver melhor, e minha
razão assimilou a justiça e a racionabilidade disso. Entretanto, a minha mente descansou nisso e pôs um fim a todos aqueles sofismas e objeções. E houve uma mudança maravilhosa em minha mente no que diz respeito à doutrina da soberania de Deus, desde aquele dia até agora; por isso, eu dificilmente tenho levantado objeção, no sentido pleno, contra a soberania de Deus em mostrar misericórdia para quem ele quer e endurecer a quem ele quer. A absoluta soberania e justiça de Deus no que diz respeito à salvação e à condenação é aquilo de que minha mente parece descansar segura, muito mais do que qualquer coisa que eu vejo com os olhos. É assim, pelo menos, às vezes. Desde então, eu tenho não somente uma convicção, mas uma convicção prazerosa. Muitas vezes, esta doutrina tem-se mostrado excedentemente agradável, esplendorosa e doce. Soberania absoluta é o que eu gosto de atribuir a Deus. Revista fé par a h oje | 27
Mas a minha primeira convicção não era assim.1 Por graça soberana, conforme suas próprias palavras, Jonathan Edwards foi transformado de um “opositor” em um “apreciador” da soberania eterna de Deus. Depois de anos de luta intensa quanto ao estado de sua alma diante de Deus (em 1725, Edwards ainda estava incerto de sua conversão),2 a soberania de Deus se tornou para o pregador de Northampton, graduado em Yale, uma “doutrina agradável e gloriosa” a ser conhecida, experimentada e apreciada.3 De fato, a convicção pessoal da soberania de Deus como uma doutrina irrefutável e como um “senso”4 a ser experimentado por meio de “um ardor em meu coração”, “um fervor em minha alma” e uma “doçura extraordinária”5 permaneceu com Edwards durante toda a sua vida.6 A primeira instância de aquiescência genuína à soberania de Deus, acompanhada de “um agradável deleite íntimo em Deus”, aconteceu a Edwards enquanto ele lia 1 Timóteo 1.17: “Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!” Enquanto eu lia estas palavras, veio à minha alma, como algo que se propagou nela, um senso da glória do Ser divino; um novo senso, muito diferente de qualquer coisa que experi28 | Revista f é pa r a h o j e
mentei antes... Pensei comigo mesmo quão excelente Ser ele era e quão feliz eu deveria ser, se pudesse gozar este Deus e ser arrebatado para ele, no céu, e ser como que absorvido nele para sempre!7 Apesar dos impedimentos momentâneos, parece que este “novo senso” de Edwards de deleitar-se e ter prazer nas perfeições soberanas de Deus proliferou durante toda a sua vida, sempre conectado com uma apreensão crescente de indignidade e de fraqueza pessoal. Sob a orientação do Espírito, Edwards descobriu uma correlação entre a exaltação de Deus e a humilhação do “eu”, a combinação que produziu exercícios religiosos incomparáveis. Certa vez, em 1737, quando Edwards cavalgou até à floresta para meditar, ele foi tomado por uma revelação tão profunda e espiritual de Cristo em sua excelência e soberania transcendente, em contraste com a excessiva pecaminosidade pessoal dele, Edwards, que foi inundado por um dilúvio de lágrimas de alegria, por mais de uma hora. De novo, em 1739, ele foi tomado por uma incrível compreensão de quão “agradável” e “apropriado” era que Deus governasse o mundo, ordenando todas as coisas de acordo com seu prazer, ainda que isso significasse destruição eterna para ele próprio, Edwards. No verdadeiro padrão calvinista, Edwards experimentou um sempre
crescente aumento de conhecimento nas profundezas de Deus e, ao mesmo tempo, de si mesmo – de Deus, para sua exultação; de si mesmo, para humilhação pessoal.8 Nestes momentos, Edwards desejava que ele “fosse nada e Deus fosse tudo”;9 que ele fosse como uma pequena flor “baixa e humilde no chão, abrindo suas pétalas para receber os agradáveis raios da glória do sol”.10 Ele também falou sobre andar sozinho nos pastos de seu pai, contemplando com um senso de prazer “a
gozo e o alvo supremo de Edwards era ser levado, experimental e continuamente, da soberania divina à glória divina, a fim de gozar o próprio Deus como o Deus de graça evangélica indizível: Os deleites e gozos mais prazerosos que tenho experimentado não são aqueles que surgiram de uma esperança de meu bom estado, e sim aqueles que procederam de uma visão imediata das coisas
Edwards descobriu uma correlação entre a exaltação de Deus e a humilhação do ‘eu’” gloriosa majestade e graça de Deus... que eu parecia ver... em doce conjunção; majestade e submissão unidas, lado a lado”.11 Este gozo conjugado que Edwards achava em Cristo e desfrutava com um profundo senso de indignidade serviu para levá-lo, cada vez mais, a partir da soberania divina, a meditar na beleza e na glória de Deus. Para Edwards, soberania sugeria glória, e glória sugeria beleza. De fato, todo o ser e os atributos de Deus equivaliam a um todo unido na essência Trina. O
gloriosas de Deus e seu evangelho. Quando desfruto deste prazer, ele parece levar-me acima dos pensamentos de meu estado seguro. Em tais ocasiões, retirar meus olhos do glorioso e agradável objeto que estou contemplando, para volver meus olhos para mim mesmo e para meu próprio bom estado, parece uma perda que não posso suportar.12 Em resumo, para Edwards, a natureza de Deus “é infinitamente excelente; Revista fé par a h oje | 29
sim, é beleza infinita, brilhante e a própria glória”.13 A partir da graça pessoal, Edwards foi levado experimentalmente à glória divina, repetidas vezes. Foi este experimentar espiritual dos atributos de Deus que influenciou Edwards a colocar a soberania divina desde a eternidade como o principal princípio estrutural de sua teologia. Edwards não traiu sua herança calvinista nesta conjuntura, como Nagy sugere quando afirma que é “muito incomum um calvinista” ser levado da soberania de Deus para a sua beleza infinita.14 Antes, o contrário pode ser afirmado, ou seja, todo verdadeiro calvinista que experimenta, biblicamente, uma medida da soberania divina só pode terminar na glória e beleza de Deus, à maneira de Edwards, sim, de Paulo: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém” (Rm 11.36). Que o Deus de graça nos tome, igualmente, por mão e coração, e nos apresente, experimentalmente, à soberania divina e à glória divina.
1 Works, I, xii-xiii (edição da Banner of Truth Trust).
2 Cf. A. Allen, Jonathan Edwards (Boston: Houghton, Mifflin and Co., 1889), p. 36. Embora Allen fale de maneira definitiva, há muita dúvida ao redor desta afirmação; por exemplo, cf. Glenn Miller, “The Rise of Evangelical Calvinism: A Study in Jonathan Edwards and the Puritan Tradition” (Th.D. dissertation, Union Theological Seminary, 1971), p. 208, onde a conciliação de Edwards com
30 | Revista f é pa r a h o j e
a soberania e a segurança pessoal é colocada em 1720-21.
3 Works, I, xiii. 4 Ibid.
5 Ibid., p. xiv.
6 Cf. Harold Simonson, Jonathan Edwards: Theologian of the Heart (Grand Rapids: Eerdmans, 1974), p. 17, ss. 7 Works, I, xiii.
8 Allen resume habilmente a consequência de humilhação que seguia a exaltação divina da soberania na experiência de Edwards: “[Edwards] aprendera a deleitar-se na soberania de Deus, no mostrar Deus misericórdia para quem ele quer mostrar misericórdia. Era um prazer pedir a Deus esta misericórdia soberana. Mas estes enlevos religiosos foram também acompanhados de visões impactantes de sua própria pecaminosidade e vileza. O senso de sua impiedade e da maldade de seu coração era mais forte depois da sua conversão do que antes. Sua impiedade parecia exceder a de todos os outros. Nenhuma linguagem era suficientemente forte para os propósitos de autocondenação. O seu coração lhe parecia um abismo infinitamente mais profundo do que o inferno” (Edwards, p. 130-31). 9 Works, I, xiv. 10 Ibid.
11 Ibid., xv.
12 Ibid. Nessas ocasiões, Edwards via a glória de Deus em tudo: “Parecia haver, por assim dizer, uma tranquila e agradável marca ou aparência da glória de Deus em quase tudo... no sol, na lua, nas estrelas; nas nuvens, no céu azul; na grama, nas flores, nas árvores... Frequentemente, eu costumava sentar-me... para contemplar a glória de Deus nestas coisas, cantando com voz baixa, nesse ínterim, minhas contemplações do Criador e Redentor”. 13 Ramsey, Freedom of the Will, p. 243.
14 Paul and Joseph Nagy: ‘A The Doctrine of Experience in the Philosophy of Jonathan Edwards’ (Ph.D. dissertation, Fordham University, 1968), p. 67.
Joel Beeke: É presidente e professor de teologia sistemática no Puritan Reformed Teological Seminary. É pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation, autor de vários livros e conferencista. Obteve seu Ph.D. em teologia da reforma e pós-reforma no Westminster Theological Seminary.
Jonathan Edwards A Devoção de
Wilson Porte Revista fé par a h oje | 31
Capa do Novo Testamento de Jonathan Edwards © Yale University Beinecke Rare Book and Manuscript Library
E
ra o cair da tarde em Northampton. Enquanto alguns homens já desfrutavam do descanso de seu lar, outros ainda retornavam do campo anelando pelo descanso da noite. Enquanto isso, muitos acenavam para um casal bastante conhecido e amado na cidade. Eles passeavam em seus cavalos e conversavam. Sua amizade era como um alento. Ao retornarem ao lar, e aos onze filhos, Jonathan e Sarah Edwards tinham juntos seus momentos devocionais antes de dormirem. E, assim, terminava mais um dia. Dentro do pouco que conhecemos sobre a piedade de Edwards, encontra-se sua relação com Sarah, sua esposa. Segundo o Dr. Alderi Souza de Matos (CPAJ-Universidade Mackenzie), Edwards e Sarah possuíam grande harmonia, amor e companheirismo. Até o final de sua vida, eles mantiveram o hábito de andar a cavalo, ao cair da tarde, para poderem conversar. Antes de dormirem, sempre tinham juntos seus momentos devocionais. Jonathan Edwards viu a Bíblia, acima de tudo, como um livro de instruções, cujo objetivo é guiar os cris-
32 | Revista f é pa r a h o j e
tãos no caminho da obediência à vontade de Deus.
Influência puritana Edwards era um típico congregacional da Nova Inglaterra, conformando-se às formulações puritanas de devoção pública e particular. Em seu livro, Jonathan Edwards on Worship: Public and Private Devotion to God ( Jonathan Edwards sobre adoração: devoção pública e particular a Deus), Ted Rivera afirma que, embora os hábitos devocionais particulares de Edwards sejam quase totalmente desconhecidos, o pouco que sabemos é que Edwards herdou dos antigos puritanos sua ansiedade pela segurança da salvação, seu zelo em acabar com o pecado, e sua preocupação cuidadosa por um autoexame. Como os demais puritanos, Edwards estava muito preocupado em crescer firmemente em fé e boas obras. A santificação pessoal, que começa com a devoção particular diária, resulta em boas obras que devem ser ilimitadas. Para os puritanos, uma verdadeira confiança em Cristo nunca
é infundida sem outras graças com ela, graças estas que sempre resultam no bem do próximo.
Autoexame Em 1738, Jonathan Edwards pregou uma série de sermões intitulada Charity and Its Fruits (Caridade e seus frutos) onde tratou das práticas espirituais, do amor divino e dos hábitos dos crentes. Edwards, nestes sermões, demonstrou que gostaria que sua congregação observasse muitas destas práticas espirituais particulares: exame da consciência, constante avaliação espiritual, orações familiares matutinas e vespertinas, leitura particular das Escrituras, encontros com outros cristãos, e uma abrangente observância do Sabbath. William C. Spohn, em artigo publicado no Journal of Religious Ethics (Revista de Ética Religiosa), destaca que “de seus escassos escritos autobiográficos, parece que sua rotina diária era organizada em torno destes exercícios devocionais”. Estes sermões foram pregados após um avivamento na igreja local (Northampton), por volta de 1736-37, e pouco antes do Grande Despertamento, ocorrido entre 1740-43. Estes sermões esboçam algumas práticas específicas que foram vividas antes e durante o Grande Despertamento. Edwards sempre praticou e recomendou a prática do autoexame. Segundo ele, o autoexame é uma forma de manter a piedade diária que, por
sua vez, tem como objetivo neutralizar as tendências persistentes ao pecado. O autoexame serve também para trazer energia para a vida moral, que é o símbolo mais seguro de uma conversão religiosa. Como a maioria dos puritanos, Edwards praticava regularmente o autoexame. Seus diários, do período em que ele era bem jovem, nos mostram alguém buscando examinar cuidadosamente suas motivações, disposições e ações. Edwards recomendava seus paroquianos a, regularmente, praticarem o autoexame, não apenas uma vez ou duas, mas diária e continuamente, até que, por assim fazer, suas mentes iriam, degrau por degrau, crescer. Assim, conquistariam um hábito de consideração saudável de sua alma, além de uma vida e ação prudentes.
A devoção: uma busca pela santidade
John Gerstner, em seu livro Jonathan Edwards: a mini-theology ( Jonathan Edwards: uma mini-teologia), dedica o capítulo nove para tratar da busca pessoal de Edwards pela santidade. De seus sermões escritos, em mais de 1.200 o tema central é a santif icação. Além dos sermões, seus escritos também estão carregados deste tema. Em seu livro Religious Affections (Afeições Religiosas), ao tratar sobre justif icação, opondo-se ao antinomianismo e ao neonomianismo, Edwards insiste por uma pura douRevista fé par a h oje | 33
trina da santificação como um corolário da justificação. Em A Faithful Narrative of the Surprising Work of God (Uma narrativa fiel da surpreendente obra de Deus), bem como em Thoughts on Revival (Pensamentos sobre Reavivamento), Edwards perseguiu determinadamente o mesmo tema. Em Humble Attempt (Esforço Humilde), Edwards faz um chamado à oração, essencial para a santificação. Ao tratar da necessidade de santificação, Gerstner destaca que, nos sermões de Edwards, é contrário à razão um Deus santo abraçar criaturas imundas. É igualmente estranho imaginar um Deus que ama criaturas imundas, pois, tal amor, perverteria tanto Ele com o céu. Há uma razão inerente na natureza do pecado que torna necessário que o pecador seja infeliz e incapaz de ser feliz. Para Edwards, para que um cristão seja feliz, ele deve obedecer tanto às práticas espirituais diárias, quanto àquelas relacionadas ao 2º mandamento. Para ele, alguém não pode ser salvo sem obedecer ao 2º mandamento (amar ao próximo). Para Edwards, quando colocamos a santificação em prática, evidenciamos ao diabo o triunfo glorioso do Senhor sobre ele. Edwards não compreende um cristão que não se satisfaz com a santidade. O cristão não está satisfeito com nada menos do que ser perfeitamente santo. O cristão verdadeiro e sincero dá mais glória a Deus do que um mundo todo de homens maus. 34 | Revista f é pa r a h o j e
Em um de seus sermões, Edwards diz que uma pessoa dando um copo d’água em nome de Cristo significa muito mais para Deus do que um não convertido entregando seu corpo para ser queimado. Cristianismo consiste em prática. O homem natural não pode mortificar suas próprias concupiscências. A fé posta em ação é capaz de mortificar as concupiscências do coração humano; e é uma evidência de seu poder. Embora os cristãos possuam um princípio novo e poderoso que sobrepõe suas concupiscências, estas ainda permanecem presentes e, por isso, a devoção diária nunca deve ser negligenciada. Para Edwards, há no coração piedoso uma luta comparável àquela que aconteceu no ventre de Rebeca entre Jacó e Esaú. Guerra é outra analogia que Edwards usa para descrever a luta no coração da pessoa convertida.
Edwards e as manifestações extraordinárias
Segundo Spohn, Edwards não se prendeu às manifestações extraordinárias da graça em seus sermões no período do Grande Despertamento - muito menos após este período. À semelhança de João da Cruz, outro teólogo que experimentou momentos intensos de enlevo espiritual, Edwards sempre suspeitou de fenômenos místicos. Para Edwards, as manifestações extraordinárias não davam nenhu-
ma prova de conversão ou santidade. A autenticidade da experiência religiosa não era determinada por sua intensidade ou natureza incomum, mas pela qualidade de vida que emergia dela. Novos hábitos da vida cristã, manifestariam gradualmente que a pessoa era, de fato, “espiritual”, ou seja, que ela tinha parte na santidade de Deus através do Espírito Santo que vive nela.
Um exemplo final Fredrick Youngs, escrevendo para o Journal of the National Association of Baptist Professors of Religions (Revista
Pouco tempo depois que comecei a experimentar estas coisas, falei com meu pai sobre alguns pensamentos que passaram em minha mente. Fiquei muito afetado pela conversa que tivemos. E, quando a conversa terminou, caminhei sozinho para fora, num lugar solitário nos campos de pastagens de meu pai, para meditar. E, enquanto eu estava andando lá, e olhei para o céu e nuvens, veio à minha mente uma sensação doce da gloriosa majestade e graça de Deus, que não sei como expressar. Pareceu-me vê-las em uma terna conjunção: majestade e mansidão se juntaram: era uma majestade santa, doce e
quando colocamos a santificação em prática, evidenciamos ao diabo o triunfo glorioso do Senhor sobre ele” da Associação Nacional de Professores Batistas de Religião), disse que, uma vez que a ênfase de Edwards sobre religião experiencial surgiu de sua própria experiência, passagens autobiográficas serão as fontes primárias para quem deseja prosseguir na tarefa de entender a devoção e piedade de Jonathan Edwards. Em sua Personal Narrative (Narrativa Pessoal), Edwards traz dois parágrafos consecutivos descrevendo eventos de logo após sua conversão.
gentil, e também uma majestosa mansidão; uma ternura impressionante, uma ternura elevada, grande, e santa. Após isso, meu senso das coisas divinas gradualmente aumentaram, e se tornou mais e mais vivo, e eu sentia mais daquela ternura interior. A aparência de tudo mudou: parecia haver em quase tudo, por assim dizer, um molde ou aparência calma e terna da glória divina. A excelência de Deus, sua sabedoria, Revista fé par a h oje | 35
sua pureza e amor, pareciam aparecer em tudo; no sol, na lua e nas estrelas; nas nuvens e no céu azul; na grama, nas flores, nas árvores; na água e em toda a natureza; as quais ele usou grandemente para consertar minha mente... E, enquanto eu observava... como sempre parecia natural para mim, eu cantava todas as minhas meditações, falando os meus pensamentos em solilóquios, e falando-os com um canto. Edwards, desde muito cedo, provou a Deus. Desfrutou de sua comunhão e compartilhou isso com sua família em primeiro lugar. A exemplo dele, concluo refletindo sobre como seria saudável se voltássemos a praticar tais “antigos” hábitos devocionais. Como precisamos anelar mais a Deus do que qualquer bem que dele venha a nós! Ele é o mais precioso bem que podemos encontrar. Ele se oferece a nós e nos convida a irmos a ele, diariamente! Creio que, sem essa sede e fome pelo Senhor, jamais experimentaremos um gracioso despertamento do Senhor,
36 | Revista f é pa r a h o j e
como Jonathan e Sarah Edwards experimentaram. E, tenha certeza, um despertamento espiritual, sempre começará em sua casa!
Ted Rivera. Jonathan Edwards on worship: public and private devotion to God. Eugene: Pickwick, 2010.
Alderi Souza de Matos. Jonathan Edwards: teólogo do coração e do intelecto. Fides Reformata. v. 3, n. 1., 1998.
William C. Spohn. Spirituality and its Discontents: Jonathan Edwards’s Charity and Its Fruits. Journal of Religious Ethics. v. 31, n. 2, 2003. John Gerstner. Jonathan Edwards: a mini-theology. Morgan: Soli Deo Gloria, 1987. Sermões de Jonathan Edwards.
Jonathan Edwards. Original Sin. Cornwall: Diggory Press, 2007. Jonathan Edwards. Religious Affections. Grand Rapids: Sovereign Grace, 1971. Fredrick Youngs. Jonathan Edwards, A Mystic? Journal of NABPR. Jonathan Edwards. Letters and Personal Writings. New Haven: Yale University Press, 1998.
Wilson Porte: Mestre em Teologia pelo Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É pastor da Igreja Batista Liberdade em Araraquara-SP e professor no seminário Martin Bucer.
Jonathan Edwards O desconhecido
apreço pela natureza e ciência e pelo Deus Criador.
Francisco Solano Portela Neto
Revista fé par a h oje | 37
A
s raízes cristãs de Jonathan Edwards e o estímulo de sua mente prodigiosa começaram no seu lar. Timothy Edwards, seu pai, era pastor em uma vila na fronteira, em Connecticut, e foi o seu primeiro mentor. Aparentemente sua mãe era uma mulher de reconhecida inteligência e todos os seus dez irmãos (ele era o quinto) foram excelentemente educados no lar. Nascido em 1703, Edwards revela sua precocidade iniciando seus estudos no Yale College antes de completar 13 anos. O seu bacharelado foi outorgado quando ele tinha 17 anos e três anos mais tarde, em 1723, ele já completava o seu mestrado. Com 21 anos ele já assumia uma cátedra em Yale. Edwards já pregava desde os 19 anos, quando ficou em New York por seis meses, em uma igreja presbiteriana escocesa. As 24 anos foi ordenado pastor da igreja de Northampton, em Massachusetts, onde ficou por 23 anos. Aos 24 anos casou-se com Sarah Pierrepont e seus trinta anos de vida conjugal lhes legaram 12 filhos. Edwards
38 | Revista f é pa r a h o j e
foi um pensador precoce, acadêmico, pastor, poderoso pregador e missionário entre os índios. Além de seu relacionamento com Yale (professor e esposo da filha do fundador), Edwards, alguns meses antes de sua morte em 22 de março de 1758, foi convidado para presidir o College of New Jersey (atualmente, Universidade de Princeton), posição que ocupou por apenas um mês. Contraindo rapidamente varíola, veio a falecer, com apenas 54 anos de idade.1 Muito tem sido escrito sobre Jonathan Edwards, principalmente sobre sua teologia, suas atividades pastorais e seus sermões, todos na melhor tradição dos grandes puritanos. Mas ele é considerado por muitos historiadores de renome, como George Marsden, Perry Miller e Edmund Morgan, como sendo um dos maiores intelectuais norte-americanos.2 Marsden indica que na Europa muitos acadêmicos, tanto teólogos como cientistas, viam-se impelidos pela ciência à adoção do deismo, mas Jonathan Edwards via na natureza as
evidências do maravilhoso projeto de Deus e nela trafegava com muita competência. Com frequência, procurava refúgio na floresta para meditar e adorar. Chama atenção a forma como ele aborda com tanta tranquilidade a natureza e faz a transição da física para a metafísica, demonstrando em sua vida e escritos o entrelaçamento que existe entre todas as áreas do conhecimento, pois tudo flui do Deus Criador. Esse viés e interesse estão presentes, especialmente, nos seus escritos mais antigos. Em um desses, Edwards escreve sobre insetos.3 Ele indica que aborda o que chama de “maravilhas da natureza”, por orientação do
meio do texto temos percepções incomuns para um jovem de sua idade, com incrível precisão científica. Nesse texto, por exemplo, ele escreve: aquilo que sobe a ascende no ar é mais leve do que o ar, como aquilo que boia na água é mais leve do que a água. Ele continua, indicando que a teia que suporta a aranha “é mais do que suficiente para contrabalançar a [força de] gravidade da aranha”. No texto, Edwards descreve em detalhes como as teias são entrelaçadas, como se processa o movimento
Jonathan Edwards via na natureza as evidências do maravilhoso projeto de Deus” seu pai. O texto é em forma de uma carta a uma pessoa não identificada e o que espanta não é somente a precisão, ou visão analítica e perspícua das observações, mas a idade de Jonathan Edwards, nessa ocasião: 11 anos! Entremeado com desenhos e diagramas, Edwards realiza uma descrição do trabalho das aranhas e suas teias. No
das aranhas, desenhando e diagramando pontos “a”, “b”, “c”, etc, para ilustrar suas observações sobre o trabalho de tecelagem dos aracnídeos. Descrevendo uma situação específica da fauna e flora de sua região, nesse contexto, expressa admiração como as aranhas conseguem construir teias que se estendem conectando árvores Revista fé par a h oje | 39
que estão distanciadas, utilizando a força do vento e administrando a conjunção com o fio que emana delas. Concluindo sua descrição do processo, ao seu destinatário, Edwards escreve: “Esta é, Senhor, a maneira pela qual as aranhas vão de uma árvore à outra, a grande distância; e essa é a forma pela qual elas voam pelo ar”. Esse interesse pela natureza era, certamente, construído na crença e convicções sobre o Criador de todas as coisas e na sistematização do universo, registrada para nós no Salmo 19.2-4: “Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol”. É exatamente essa sistematização e repetibilidade dos processos (que chamamos de leis físicas, químicas, etc.) que possibilita o se “fazer ciência”, e Edwards trabalha em cima desses pressupostos. Alguns anos mais tarde, em detalhados quatro ensaios, nos quais ele faz observações sobre o arco-íris e as sobre cores (bem como sobre a alma e a essência do ser),4 Edwards, também complementa seu texto com elaborados desenhos e diagramas sobre reflexo e refração, revelando uma compreensão profunda e precisa dos princípios da física, no campo da óti40 | Revista f é pa r a h o j e
ca.5 É verdade que aqui já temos um Jonathan Edwards mais maduro e experiente, com 13 anos de idade! Tratando sobre o arco-íris, ele explica como a superfície convexa das gotículas produz a refração e variedade de cores, decompondo a luz “branca” dos raios solares. Falando sobre cores e a sua percepção na natureza, Edwards explica que “... o azul que vemos nas montanhas à distância não é gerado por algum raio de luz refletido nas montanhas, mas assim aparece em função do ar e do vapor de água que existe entre elas e nós”. Ainda nesses quatro ensaios, fazendo a transição para ontologia (a ciência do ser), Edwards traça um complexo argumento contra o nihilismo. Contra aqueles que afirmavam que não lidamos com realidades, mas apenas com aparências, mas também contra os que, afirmando a realidade do ser, negam a existência do Ser Soberano. Depois de desenvolver vários pontos fundamentais, demonstrando uma alta técnica apologética, ele escreve: Vemos que é necessário que algum ser deva ter existência eterna. É ainda muito contraditório afirmar que existem seres em alguns lugares [visíveis] (somewhere), mas não em outros lugares [invisíveis] (otherwhere), pois as palavras “nada” e “onde” contra-
dizem uma a outra; além disso, é extremamente chocante ao raciocínio pensar na existência do puro nada, em algum lugar... Assim, vemos a necessidade de que este necessário ser eterno seja infinito e onipresente. Mais adiante, ainda neste ensaio, Edwards fala do “globo da terra” como subsistindo “neste universo criado”. Certamente o seu conceito de Deus,
o segredo está aqui. Aquilo que é a substância de todos os corpos é a ideia perfeitamente estável, exatamente precisa e infinita, que está na mente de Deus, em conjunto com sua estável vontade; que é gradualmente comunicada a nós e a todas as demais mentes, de acordo com certas leis e métodos fixos, exatos e bem estabelecidos. Ou para utilizar uma linguagem diferente, a ideia
possuir a cosmovisão cristã é precisamente o objetivo da educação escolar cristã” como alicerce de todo o pensamento e sustentador da Criação, já era o mais alto possível, mesmo nessa idade em que adquiria maturidade e firmava seus pensamentos. Já formado, em meio à sua pós-graduação, mas ainda com meros 19 anos, Jonathan Edwards escreve textos sobre a mente.6 Escrito em forma de proposições ou silogismos, ele trata de “causas”, “existência”, “substância”, “espaço”, e outros temas semelhantes, que são filosoficamente abordados. Tratando de questões “espaciais”, ele diz:
divina infinitamente precisa e exata; conjuntamente com uma vontade que se relaciona e que é perfeitamente exata e estável em sua comunicação com as mentes criadas e com os efeitos que nelas são produzidos. Quando abordamos esses escritos e esse Jonathan Edwards quase desconhecido, em seus primeiros anos de produtividade intelectual, podemos apreciar pelo menos dois grandes aspectos sobre esse gigante de Deus: Primeiro, constatamos a mente e a Revista fé par a h oje | 41
produção precoce de Edwards, produzindo ensaios fenomenais sobre suas observações da natureza. Segundo, destacamos a forma natural com que ele aborda a criação e como entrelaça as diferentes áreas de conhecimento com os fundamentos da fé cristã e com a percepção de um universo que procede de um Deus soberano criador e redentor. Possuir e imprimir essa cosmovisão cristã é precisamente o objetivo da educação escolar cristã. Essa abordagem esteve tão presente nos primórdios da civilização norte-americana, inclusive nas instituições que Edwards atuou, e atualmente encontra um interesse renovado, não só naquele país, mas com grandes avanços que Deus tem permitido ocorrer em nosso Brasil. Que Ele produza muitos Jonathan Edwards em todos os campos de conhecimento, é a nossa oração e desejo.
42 | Revista f é pa r a h o j e
1 Ola Elizabeth Winslow, Ed. Jonathan Edwards Basic Writings (New York: New American Library – Signet, 1966), i.
2 George M. Marsden. Jonathan Edwards: A Life (New Have: Yale University Press, 2003), 498-505. 3 S. B. Dwight, Ed. The Works of President Edwards, Vol. I (New York: Converse, 1829), 23-28.
4 E. C. Smith. Ed. “Some Earlier Writings of Jonathan Edwards, A.D. 1714-1726”, in Proceedings of the American Antiquarian Society (1895), X, p. 237-247. 5 Acredita-se que Jonathan Edwards era familiarizado e já havia lido o tratado de Isaak Newton, Opticks, escrito em 1704. É importante frisar o entrelaçamento também de Newton com a fé cristã. Crente fiel na Igreja Anglicana, quase foi ordenado ao ministério, e sempre foi um defensor de um universo ordenado que procede do Soberano Deus Criador. Essa convicção foi a base do seu desenvolvimento científico e de suas importantíssimas contribuições para a ciência, principalmente no campo da física. Com toda probabilidade, Jonathan Edwards recebeu intensa influência positiva da parte dos escritos de Newton.
6 S. B. Dwight, Ed. The Works of President Edwards, Vol. I (New York: Converse, 1829), Apendix, 668676
Francisco Solano Portela Neto: Presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, graduado em Ciências Exatas, fez o mestrado no Biblical Theological Seminary, diretor de planejamento e finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie. É escritor, tradutor e conferencista.
Jonathan Edwards Pensamentos de
sobre Deus
Don Kistler Capa de um caderno de Jonathan Edwards contendo anotações sobre a História da Redenção © Yale University Beinecke Rare Book and Manuscript Library
Revista fé par a h oje | 43
J
onathan Edwards apresentou esta razão convincente quanto à existência de Deus: “Deus é um ser necessário porque é uma contradição supor que ele não existe. Deus é um ser necessário porque é impossível que ele não exista, pois não há outra alternativa. Não há nenhuma segunda [alternativa] para fazer a disjunção. Não há nada mais que possamos supor”. Este é um bom exemplo do método apologético de Edwards. Em sua obra clássica A Liberdade da Vontade, ele argumentou assim:
ele era um adolescente, Edwards disse: “É totalmente impossível que haja o nada absoluto”. Tem de haver um Ser eterno, porque negar isso envolve a impossível contradição de que o Nada existe. Em suas “Miscelâneas”, que lidam com os temas de Deus e seu Ser, as quais você pode achar em nosso novo livro Our Great and Glorious God (Nosso Grande e Glorioso Deus), Edwards argumenta sobre a existência e a necessidade da existência de Deus em termos do nada:
Primeiramente, ascendemos e provamos a posteriori, ou com base nos efeitos, que tem de haver uma causa eterna. Depois, em segundo lugar, provamos por argumentação, e não por intuição, que este ser tem de existir necessariamente. Depois, em terceiro lugar, com base na necessidade provada da existência deste ser, podemos descer e provar muitas de suas perfeições a priori.
A única razão por que estamos prontos a opor-nos contra a absoluta, indivisível e incondicional necessidade da existência de Deus é que estamos prontos a pensar como se houvesse alguma segunda [alternativa]... Mas é por causa da miserabilidade de nossas concepções que estamos prontos a imaginar tal suposição. Há apenas conversa vazia onde há tal suposição, a menos que soubéssemos que o nada existia. Mas não podemos ter esse conhecimento porque não existe tal coisa.
Em sua primeira obra filosófico-teológica, Do Ser, escrita enquanto 44 | Revista f é pa r a h o j e
Edwards colocou grande ênfase na lei da causalidade. Ele se referiu a Deus como “a Causa eterna”. Todos reconhecem que é autoevidente que nada pode começar a existir sem uma causa... Quando entendida, esta é uma verdade que terá, irresistivelmente, lugar na anuência. Portanto, se supomos um tempo no qual nada existia, um corpo não começaria a existir por iniciativa própria. Isto é o que o entendimento abomina: que alguma coisa veio a existir quando não havia nenhuma razão para ela existir. Edwards era um grande fã do empiricista inglês John Locke. Uma das obras famosas de John Locke foi A Racionabilidade do Cristianismo. Edwards concordava com o fato de que todo efeito pode ter sua origem estabelecida numa causa, o que nenhum cristão inteligente contestaria: É evidente que nenhuma das criaturas, nenhum dos seres que vemos é o princípio de sua própria ação, mas todas as alterações seguem uma cadeia procedente de outras alterações. Em outras palavras, nada tem o poder de autocriação. Cada ação envolve uma decisão ou escolha anterior para que tal ação aconteça. Contudo, para alguma coisa querer, de si mes-
ma, existir, ela tem primeiramente de existir para escolher, de si mesma, existir. Mas, se houve realmente o nada, quando nada existia, então, esse nada quis, ele mesmo, existir antes que existisse para fazer tal escolha. E essa possibilidade é uma impossibilidade! Todos reconhecem que é autoevidente que nada pode começar a existir sem uma causa. Também não podemos provar isso de qualquer outra maneira senão por explicá-lo. Quando entendida, esta é uma verdade que terá, irresistivelmente, lugar na anuência. Portanto, se supomos um tempo no qual nada existia, um corpo não começaria a existir por iniciativa própria. O entendimento abomina o fato de que alguma coisa veio a existir quando não havia nenhuma forma ou razão para ela existir. Portanto, é igualmente autoevidente que um ser não pode, quanto à maneira de seu ser, começar a existir sem uma causa, tal como a de que, quando um corpo está em descanso perfeito, ele começa a se mover sem uma razão dentro ou fora dele mesmo. Portanto, “porque apenas aconteceu” não satisfará a mente, de modo algum. A mente pergunta qual foi a razão. Assim, Edwards argumenta em favor da existência de Deus como sendo necessária, porque é impossível que o nada sempre existiu. Se há ser, esse Revista fé par a h oje | 45
porque não existe tal coisa como ser tem de ser um Ser eterno. Para fazer uma proposição a respeiEdwards, e creio que para todos os seto de qualquer não eternidade. res racionais, ou algo veio do nada (o Também não podemos, em nosque é impossível, porque o nada não sa mente, fazer uma suposição a pode produzir algo), ou o que existe respeito de uma não eternidade. veio de Deus, um Ser eternamente Talvez façamos tal suposição em existente. A escolha é entre Deus ou palavras, mas não é realmente o nada. uma suposição, porque as palaÉ muito mais autoevidente que, se vras não têm nenhum sentido no tudo veio de Deus ou do Nada, tudo pensamento que lhes correspondeve ter vindo de Deus. Se Deus não dam. São palavras tão sem sentitem outro competidor, exceto o Nada, do no pensamento que significam ele não tem realmente um compealgo como isto: tidor. “Deus ou uma linha reta nada” e “somente curvada, ou um Deus” são, porEdwards argumenta em favor círculo quadrado, tanto, expressões da existência de Deus como sendo ou um triângulo sinônimas. necessária, porque é impossível de seis ângulos. No v a m e n t e, que o nada sempre existiu” Se supomos que não existe tal coiexiste não etersa como o nada. nidade, isso é o Se pensamos que mesmo como se temos uma ideia pudéssemos dizer ou supor que a respeito do que é o nada, então, isso nunca houve tal coisa como dunão é mais o nada, e sim alguma coisa. ração, o que é uma contradição; O nada se torna uma entidade exisporque a palavra “nunca” implica tente. O nada se torna algo. Mostraneternidade, e isso é o mesmo que do o estridente senso de humor pelo dizer que nunca houve nenhuma qual ele é distinguido, Edwards desduração desde toda a eternidade. creveu o nada desta maneira enquanto Portanto, no próprio duvidar da ainda era adolescente: “Nada é aquilo coisa, nós a afirmamos. que as rochas dormentes sonham”. Para ilustrar isso com um dos atributos de Deus, considere a eternidade. É absolutamente necessário que a eternidade exista, e isso porque não há outra opção. Afirmar eternidade ou não eternidade não é uma disjunção, 46 | Revista f é pa r a h o j e
Para Edwards, não havia outra opção, exceto a existência de Deus. Essa tinha de ser a única opção, porque era impossível não ser. Há uma razão que pode ser apresentada para explicar por
que Deus devia ter existência. A razão é que não há outra alternativa. Não existe algo concebível que possa ser colocado em confrontação com a existência de Deus como a outra parte da disjunção. Se há, é o nada absoluto e universal. Uma suposição de algo é uma suposição da existência de Deus. A existência de Deus não somente pressupõe esse algo, mas também o infere. Ela o infere não somente de maneira consequente, mas também de maneira imediata. Deus é maior do que tudo que existe, e não há existência sem a existência de Deus. Todas as coisas estão nele, e ele está em tudo. Mas não há tal coisa imaginável como o nada absoluto. Falamos insensatez quando supomos que tal coisa existe. Enganamos a nós mesmos quando em nossa mente pensamos que supomos isso ou quando imaginamos que o supomos como algo que é possível. O que fazemos quando pensamos na absoluta niilidade (se posso falar assim) é apenas remover uma coisa para dar lugar a outra e supor esta outra. Neste caso, não há tal coisa como duas partes de uma disjunção. Quando falamos de existência em geral, falamos de um único ponto sem uma disjunção. Portanto, Deus existe porque não há outra alternativa. Deus existe porque não há nada mais que possamos supor.
A natureza de Deus Nesta altura, Edwards começa a definir a Deus baseado na própria noção de que Deus existe. Se existe um Ser eterno, a quem chamamos Deus, há coisas a respeito deste Ser que têm de ser necessariamente verdadeiras. Primeiramente, se alguma coisa sempre existiu, ela tem de ser eterna. Ela não tem começo e não tem fim. Se ela tem um começo, então, algo a causou antes, e esse algo é o ser Eterno. Todavia, qualquer que seja a origem de todo ser, este ser tem de ser eterno. Nada chega a acontecer sem uma causa. O que é autoexistente tem de existir desde a eternidade e tem de ser imutável; mas, no que diz respeito às coisas que começam a existir, elas não são autoexistentes e, portanto, precisam ter fora de si mesmas algum fundamento para a sua existência. O fato de que tudo aquilo que começou a existir, não havendo existido antes, precisa ter uma causa por que começou a existir – este fato parece ser o primeiro ditame do senso comum e natural que Deus implantou na mente de toda a humanidade e o principal fundamento de todas as nossas argumentações sobre a existência de coisas passadas, presente e por vir. Se algo é eterno, não deve ter defeito; pois, se tivesse defeitos, por fim decairia e perderia a existência. FicaRevista fé par a h oje | 47
ria velho, decairia e, por fim, deixaria de existir. Contudo, um ser eterno não pode ter nenhum defeito; tem de ser um ser perfeito e eterno. Se ele é um ser perfeito e eterno, sua eternidade e perfeição exigiriam que fosse incapaz de mudar, a menos que essa mudança fosse uma regressão e uma negação de seu caráter. Mas, se algo regressasse de um estado perfeito para um estado imperfeito, ele não permaneceria perfeito ou eterno. Se existe um ser eterno e perfeito, então, ele estabelece o padrão para todas as definições das coisas. Pois, em sua existência e antes de criar tudo mais, sua própria existência é o único padrão aplicável a qualquer coisa. Isto também seria verdadeiro porque não existe nada mais pelo que alguma coisa possa ser avaliada! Portanto, tudo que este ser escolhe fazer será necessariamente a coisa certa, pois não há ninguém mais que o possa criticar. E, para criticar alguma coisa, precisa haver algo superior a essa coisa que já existe, certo? E não há possibilidade racional de um ser eternamente existente ter um ser superior a si mesmo; pois isso significaria que o ser superior seria o ser eternamente existente. Isto nos leva à próxima conclusão necessária: tudo que existe deve sua existência à fonte original de existência. Esse primeiro ser, ou primeira causa, que, conforme vimos, tem de ser autoexistente, é, portanto, a fonte de tudo que existe. Isso obriga tudo que existe a total subserviência, porque, à medida que dependemos de 48 | Revista f é pa r a h o j e
algo para a nossa existência, somos obrigados a prestar honra a essa “coisa”, seja o que for. A Bíblia faz disso a razão por que os filhos devem honrar os pais, porque é de seus pais que eles têm sua existência. E, visto que os filhos dependem de seus pais para receberem todo tipo de sustento, eles são obrigados a honrar seus pais e a ser obedientes. Em um sermão intitulado “A Justiça de Deus na Condenação de Pecadores”, Edwards disse: “Nossa obrigação de amar, honrar e obedecer a qualquer ser é proporcional à amabilidade, honra e autoridade desse ser. Visto que Deus é infinitamente amável, possui honra infinita e autoridade infinita, nossa obrigação de amar, honrar e obedecer a Deus é infinita”. Continuemos nossas observações racionais sobre a natureza do ser eterno. Se tal ser existe, e vimos que ele tem de existir, então, sua única obrigação é para consigo mesmo, pois nada existe que possa obrigá-lo a qualquer coisa. Ele não violaria nenhuma lei, se fosse autocentrado. Além disso, se ele fosse o padrão de tudo que é certo, nada poderia criticar essa autocentralidade; pois um ser criado não teria a existência eterna e perfeita que lhe permitiria suscitar a questão de impropriedade. A próxima coisa que veríamos é que este ser eterno e perfeito teria todo o conhecimento. Mas esse conhecimento seria o conhecimento de si mesmo. Pois tudo que existe é e procede dele mesmo; portanto, conhecer
a si mesmo é conhecer todas as coisas. A maior coisa que este ser poderia fazer por qualquer coisa ou qualquer outro ser seria revelar a si mesmo e dar o conhecimento de si mesmo. Pois, se este ser original, que é eternamente perfeito, é a soma de todo conhecimento e de tudo que é bom e correto, expressar e revelar a si mesmo, para ser conhecido, é o maior dom que ele poderia dar. Este ser não somente seria a fonte de toda a existência, porque toda vida extrairia sua existência deste ser, mas também possuiria o único poder inerente que existe. Toda outra autorida-
Portanto, este ser seria plenamente feliz em e consigo mesmo. Nada poderia ser acrescentado a ou tirado de seu gozo em si mesmo. Poucos teriam ousado admitir esta doutrina que Edwards propagou! Deus é infinitamente feliz, porque ele é o Deus sempre “bendito”. E, argumentando com base na imutabilidade de Deus, se ele tem sido sempre feliz, ele tem de ser eternamente feliz. Edwards o expressou nestes termos: “Não há verdadeiramente em Deus qualquer coisa como dor, tristeza e inquietação”. Nesta altura, temos de admitir que alguma coisa que sempre existiu
A maior coisa que Deus poderia fazer por qualquer coisa ou qualquer outro ser seria revelar a si mesmo e dar o conhecimento de si mesmo” de seria delegada ou outorgada, mas a autoridade deste ser é inerente. Não poderia haver poder maior para dar ordens a este ser. Portanto, este ser seria soberano sobre toda coisa que não é semelhante a ele mesmo, ou seja, que não é autoexistente, perfeita e eterna. Este ser seria completo e não seria mudado, positiva ou negativamente, por qualquer coisa que ele criaria. Seria totalmente autossuficiente, porque é totalmente autoexistente.
é alguma coisa eterna, perfeita, justa, onipotente, onisciente, imutável, autossuficiente e jubilosamente feliz consigo mesma, à parte de qualquer outra pessoa ou qualquer outra coisa. Mais uma coisa que é uma consequência necessária da existência de Deus como este: ele tem de se opor e punir todos que o rejeitam; pois tolerar e aceitar aqueles que se opõem a ele e o rejeitam seria negar a si mesmo e negar aquilo que é o maior bem. Revista fé par a h oje | 49
Aquilo que é, em si mesmo, o padrão teria de denegrir o padrão que ele mesmo estabeleceu. Edwards conclui que todas as perfeições possíveis estão implícitas na própria existência deste Ser divino: “Ter [algumas] perfeições e não todas é o mesmo que ser finito. Isto é incoerente com existência independente e necessária”. Este tipo de argumentação deixa o homem não regenerado sem desculpa – exatamente o que o apóstolo Paulo disse. Edwards concordava com o fato de que há dois livros que obrigam os pecadores a se humilharem diante de Deus. Há o livro da Revelação Divina e o livro da revelação natural. A revelação natural é suficiente para condenar o homem, mas a Revelação Divina é necessária para salvar o homem. Por isso, Edwards era indisposto a abandonar a necessidade de provas da Escritura; mas um homem que rejeita a Escritura não tem lugar para se esconder. Edwards concordaria com o fato de que Deus nos deu a Bíblia, mas a Bíblia não nos dá Deus. Mas tudo que a Bíblia diz sobre o caráter e os atributos de Deus deve ficar bastante claro para o homem não regenerado somente pelo uso da razão. Edwards diria que o homem não regenerado pode chegar ao conhecimento da verdade, mas, visto que seu coração não é mudado, ele nunca pode responder de maneira salvadora à verdade. Por último, este Ser eterno que chamamos Deus tem de buscar sua própria glória em tudo que faz. Ele tem 50 | Revista f é pa r a h o j e
de ser o fim de todos os seus pensamentos, ações, decisões e alvos. Por isso, na mente de Edwards, tudo que Deus faz é para si mesmo e para sua glória. Deus tem sempre de fazer tudo para si mesmo, pois fazer isso por qualquer razão menor seria negar a si mesmo. E isso seria pecado contra ele mesmo, o que ele não pode fazer. A essência da verdadeira virtude é fazer o bem mais elevado possível tendo o motivo ou a razão mais elevada possível. Se pessoas fazem alguma coisa boa, e poderiam fazê-la movidas por um objetivo maior do que o objetivo pelo qual a fizeram, tal coisa boa não é a coisa mais virtuosa que elas poderiam fazer. Alguns argumentam que isto mostra a Deus como um ser egoísta. Mas o egoísmo é errado somente quando se manifesta às custas do bem de outros. Somos egoístas quando não nos importamos com o que acontece com os outros e fazemos o que nos traz prosperidade, não importando como isso prejudica o resto do mundo. No entanto, Deus não pode ser egoísta porque, quando ele busca sua própria glória, acima de todas as outras considerações, está também buscando o bem de suas criaturas, que só acharão sua realização plena na felicidade dele!
Don Kistler: Fundador das editoras Soli Deo Gloria e Northampton Press, nos EUA, Kistler é autor, editor e conferencista. É graduado em oratória pela universidade Azusa Pacific College e obteve os graus de mestre e doutor em ministério.
O ambiente teol贸gico arminiano nos dias de
Edwards
Heber Carlos de Campos
Imagem: Two Dissertations: Concerning the End for Which God Created the World and The Nature of True Virtue
Revista f茅 par a h oje | 51
E
m 1737, Jonathan Edwards escreveu que “neste tempo [referindo-se ao outono de 1737] começou um grande ruído, nesta parte do país, a respeito do Arminianismo, que se parecia com um aspecto muito ameaçador com respeito ao interesse da religião.”1 Geralmente, “Arminianismo” era um nome da Nova Inglaterra para uma espécie de religião que aparece em todos os tempos e lugares da igreja, e tem sido outras vezes conhecido como “semi-Pelagianismo”, “sinergismo” .2
Os arminianos lutam para sustentar uma espécie de liberdade humana que pode igualmente, e com o mesmo poder, rejeitar ou aceitar a misericórdia de Deus, oferecida em Jesus Cristo. A Nova Inglaterra, por muito tempo, ficou consistentemente calvinista devido à forte influência dos puritanos, ao menos até o tempo dos grandes reavivamentos no tempo de Jonathan Edwards (1734 e 1740). Todavia, a despeito da influência dos despertamentos espirituais, começou a existir 52 | Revista f é pa r a h o j e
uma ação penetrante do Iluminismo europeu em alguns setores religiosos da Nova Inglaterra. Smith escreve sobre o dilúvio de influência que haveria de mudar algumas coisas na igreja da Nova Inglaterra. Dentro da Inglaterra os elementos do Iluminismo tinham penetrado em ambos, no pensamento não-conformista e no anglicano, por todo o século dezessete. No começo do século dezoito, as tendências arianas, socinianas e pelagianas tinham todas ganho considerável raiz. Por causa do crescente contato comercial e cultural entre Boston e Londres, a parte oriental de Massachusetts foi diretamente exposta aos modos do pensamento liberal. Os dois ingleses liberais que se tornaram influentes naquela região foram Daniel Whitby (1638-1726) e John Taylor (1694-1761).3 Além deles, Thomas Chub, foi um terceiro nome importante nas controvérsias antropológicas com Edwards. Por volta de 1740 o Arminianismo tinha prevalecido tanto em Harvard como em Yale entre os professores.4 Vejamos alguns expoentes do Arminianismo no tempo de Edwards:
John Taylor (1694-1761) Taylor começou a rejeitar a idéia do pecado original e eventualmente escreveu seu tratado Scripture-doctrine of Original Sin.5 Taylor era contra a imputação do pecado Nesse tratado ele atacou bíblica e filosoficamente essa doutrina cardeal do pensamento calvinista. Suas palavras são muito fortes contra a imputação do pecado original. Ele escreve: Um representante de ação moral é o que eu não posso, de modo algum, digerir. Um representante, a culpa de quem a conduta será imputa a nós, e cujos pecados corromperão e perverterão a nossa natureza, é um dos maiores absurdos em todo o sistema para corromper a religião... Que qualquer homem sem meu conhecimento e consentimento, me represente, que quando ele é culpado eu devo ser reputado como culpado, e quando ele transgride eu sou responsável e punível por sua transgressão, e, por causa disso, sujeito à ira e maldição de Deus, não! Além disso, que por sua impiedade me seja dada uma natureza pecaminosa, e tudo antes de eu ser nascido, e consequentemente enquanto estou sem capacidade de conhecer, ajudar ou impedir o que ele fez; certamente qualquer um que se atreve a usar seu enten-
dimento, deve claramente ver isto como não-razoável, e totalmente inconsistente com a verdade e a bondade de Deus.6 Esse tratado contra o pecado original foi recebido muito calorosamente e a sua influência se espalhou na Nova Inglaterra e foi recebido calorosamente por muitas pessoas. David Weddle escreve: Muitos pregadores (de gerações mais jovens, e principalmente os graduados de Harvard) foram encorajados em sua apostasia do Calvinismo Puritano por esta expressão sofisticada do Arminianismo continental.7 Após a publicação do Scripture-doctrine of Original Sin, de Taylor, passou a existir um debate entre ele e Edwards. Edwards disparou o gatilho de sua obra The Great Christian Doctrine of Original Sin. Nessa obra, Edwards defendeu corajosa e veementemente a imputação do pecado de Adão à raça, usando a analogia da árvore e seus ramos.8 Taylor tinha uma visão superficial do pecado O debate entre Taylor e Edwards foi sobre a idéia da necessidade. Smith afirma que Edwards já havia tratado com a questão da necessidade em Freedom of the Will e em seus debates Revista fé par a h oje | 53
sar no presente. Nossas paixões e apetites são, em si mesmos, sabia e bondosamente implantados em nossa natureza. Eles são bons, e se tornam maus somente pelo excesso anatural, ou por abuso ímpio. A possibilidade desse excesso e abuso é também sabiamente permitido para nossa provação. Porque sem Taylor sustenta que o pecado de tais apetites, a nossa razão não teAdão resultava subjetivamente em ria nada contra o que lutar e, conculpa, vergonha e temor e que ele caía sequentemente, a numa sujeição à nossa virtude não tristeza, penoso Deus tem de buscar sua própria poderia ser devilabor e morte. Esta morte, con- glória em tudo que faz. Ele tem de ser damente exercida e provada a fim de tudo, deve ser o fim de todos os seus pensamentos, ser recompensaentendida simações, decisões e alvos” da. E os apetites plesmente como que temos, Deus morte física. A tem julgado muiruína do homem to próprios, tanto para o nosso uso não parecia para ele ser muito grande, como provação.10 como pode ser visto na seguinte afirmação: É muito estranha essa concepção Nós somos nascidos como esvade pecado produzida por Taylor. As ziados de real conhecimento como inclinações que temos para o pecado, os próprios animais. Somos nascino pensamento de Taylor, são dons dos com muitos apetites lascivos, divinos, produto de sua generosidade, e consequentemente, sujeitos à para nos provar e nos fazer melhores. tentação e pecado. Mas isto não é Deus nos deu essas inclinações para uma falha de nossa natureza, mas podermos exercitar os nossos poderes a vontade de Deus, sábia e boa. racionais. Do contrário, eles ficariam Porque cada uma de nossas paiinativos. Esses são os propósitos dos xões e apetites naturais são, em apetites sensuais. si mesmos, bons; de grande uso Era dessa maneira superficial e e vantagem em nossas presentes distorcida que Taylor via a doutrina circunstâncias; e nossa natureza do pecado original no arminianismo seria defeituosa, preguiçosa ou inde sua época. Edwards lutou contra defesa sem eles. Nem há qualquer Taylor para preservar a verdadeira um deles que possamos dispendoutrina calvinista sobre o pecado: (1) com Whitby, e, portanto, ele estava totalmente preparado para tratar com os argumentos de Taylor. Semelhantemente a Whitby, Taylor argumentou que o pecado necessário não é pecado digno de culpa.9
54 | Revista f é pa r a h o j e
Adão foi tornado o cabeça federal da raça; (2) seu pecado foi imputado à sua progênie; (3) a corrupção da natureza visitou a totalidade da raça; (4) o pecado atual é uma consequência. Esta era a doutrina da “imputação imediata” que teve muita importância na teologia Reformada subsequente.
Daniel Whitby (1638-1726)
Whitby, o principal objeto da crítica de Edwards, expressava grande insatisfação com a doutrina do pecado original e considerava inaceitável a idéia da imputação defendida por Agostinho.11 Juntamente com Taylor, Whitby “argumentava que as pessoas não mereciam corretamente o louvor ou a desaprovação, se as ações delas fossem desempenhadas por necessidade. Em outras palavras, se não fazemos livremente escolhas, como pode Deus corretamente recompensar ou punir-nos por nossas decisões?”12 A acusação dos arminianos da época (e de hoje também!) era de que os calvinistas acabam tornando Deus o autor do pecado, se é verdade que tudo o que acontece decorre de uma necessidade. Foi para responder aos livros de Whitby (e o de alguns outros) que Edwards compôs o seu livro The Freedom of the Will. Whitby tinha uma visão da vontade bem diferente da de Edwards: A vontade, de acordo com Whitby, é livre não somente no sentido de ser a faculdade de escolha, mas
como não tendo nenhuma determinação seja para o mal ou para o bem. Sua liberdade ele define assim: “um poder de agir a partir de nós próprios, ou de fazer o que queremos”. Assim, ela é livre, não somente de uma “coação”, mas daquilo que, em distinção disso, era chamado “necessidade”. Numa citação de um certo Mr. Thorndike a palavra “indiferença” é usada para descrever esta liberdade.13 No entendimento de Whitby os homens possuem motivos (como promessas e ameaças) que exercem influências, mas quando os motivos são apresentados, a decisão ainda repousa na vontade. Ela possui independência. Mesmo a despeito dos motivos, não existe determinação deles. A vontade escolhe como escolhe por “auto-determinação”. Embora Whitby não use a palavra “auto-determinação” esse é o seu conceito no coração de suas obras. A vontade determina-se a si mesma. A conclusão do pensamento de Whitby é a seguinte: Não há, evidentemente, nenhuma base racional para conhecer de antemão qual deverá ser a ação da vontade, mesmo quando todos os motivos operantes são supostamente conhecidos. A onisciência de Deus, que abarca sua presciência, é, portanto, um atributo inteiramente misterioso. Segue-se também que o homem na conversão não é passivo e que a graça de Deus não é irresistível.14 Revista fé par a h oje | 55
No pensamento de Whitby era essencial que a vontade devesse ser livre da “necessidade” assim como da “coação”, e então a vontade do homem, mesmo no estado de queda, não seria diferente da vontade no estado edênico. Nada teria qualquer determinação sobre a vontade. A resposta de Edwards a Whitby baseada em Locke Edwards tinha todas as respostas para combater Whitby com os argumentos já proporcionados por John Locke. A base filosófica e lógica da sua argumentação para refutar Whitby Locke já havia levantado antes dele. Edwards já tinha lido o Essay on Human Understanding, especialmente o da primeira edição, escrito por Locke. A impressão que essa obra lhe causou em sua adolescência foi muito marcante! O significado de Liberdade em Locke A idéia de liberdade é a “idéia de um poder em qualquer agente para fazer ou omitir qualquer ação específica de acordo com a determinação ou pensamento da mente pelo qual qualquer uma delas é preferida em relação à outra”.15 A liberdade é sempre uma liberdade externa, o poder de fazer como alguém deseja. A liberdade, que é apenas um poder, pertence somente a agentes, e não pode ser um atributo ou modificação da vontade que é também apenas um poder... Perguntar se a vontade tem liberdade é o mesmo 56 | Revista f é pa r a h o j e
que perguntar se um poder tem um outro poder, uma capacidade tem uma outra capacidade... Raramente podemos imaginar qualquer ser mais livre do que ser capaz de fazer o que ele deseja.16 Rebatendo à pergunta, “Se um homem está em liberdade para querer qual dos dois lhe agrada, movimento ou repouso?”, ele diz: Esta questão carrega consigo o absurdo dela tão manifestamente em si mesma que uma pessoa poderia, por meio disso, suficientemente ser convencido de que liberdade não diz respeito à vontade.” O ser humano faz somente o que lhe agrada ou convém. “O que determina a vontade?” Locke responde: Parece assim estabelecida uma máxima pelo consenso geral de toda a raça de que bem, o bem maior, determina a vontade, e de forma alguma eu me espanto que, quando eu publiquei meus pensamentos primeiros sobre este assunto, tomei como certo, e eu imagino que por muitos eu serei considerado como desculpado por ter, então, feito assim.... Mas todavia, .... sou forçado a concluir que o bem, o bem maior, embora apreendido e reconhecido ser assim, não determina a vontade até o nosso desejo, levantado proporcionalmente a ele, mas faz-nos apreensivos no querer dele.”17
ziam que a vontade é determinada pelo Em ambas as edições do Essay on motivo mais forte. the Human Understanding, Locke tem opiniões diferentes sobre a resposta à Aos motivos são atribuídos, enpergunta: “O que determina a vontade?” tretanto, um poder positivo. Eles Em ambas as edições ele responde: são causas, e, assim, enquanto “O motivo que está diante dela”. Mas uma tendência ao ocasionalisna primeira edição, onde a vontade mo de Malebranche, que é evinão tinha sido agudamente distinguidente em seus escritos seguintes, da do desejo, foi o motivo objetivo, o Edwards atribuiu a eles uma caubem, enquanto que agora é o motivo sação eficiente. Eles poderiam ser subjetivo, ou o desejo excitado pelo calculados, e sobre um perfeito bem apresentado na mente. Esta disconhecimento da tinção dependeu natureza e potênda nova concepcia deles, a ação ção que Locke Edwards defendeu corajosa e futura de um ser tinha adquirido veementemente a imputação do influenciado por da “perfeita distinção” da vonpecado de Adão à raça humana” eles poderia ser predita. Nisto, as tade do desejo, condições subjeque ele diz, “não tivas que deterdevem ser con18 minam a influência dos motivos fundidas”. não foram negligenciadas, mas “O que move o desejo?” Locke resainda o poder positivo foi deixado ponde: “A alegria”, “o que tem uma apao motivo objetivo.20 tidão de produzir prazer em nós, é o que chamamos bem”. Mas um bem deve ser colocado para excitar o desejo, ou ela Portanto, o motivo dominante, ou nunca influenciará a ação. Um bem auo motivo mais forte, é que determina sente, por exemplo, é menos eficaz do a ação da vontade. Esse motivo mais 19 que algum desconforto presente.” forte é determinante porque possui um certo poder de atração ou porque é um bem aparente. Os mandamentos Resumo da disputa entre Edwards e e as ameaças são motivos que podem Whitby ser empregados, mas o que quer que Cada ato da vontade é um ato de sejam os motivos, como um homem escolha e envolve alternativas. Entre escolhe, assim é ele. Na verdade, o poa escolha de duas alternativas, a perder de escolha está no homem e não gunta é a seguinte: O que determina a na sua vontade. A vontade não possui vontade a escolher um ao invés de outro? independência em relação aos fatores Os arminianos diziam que a vontade internos e externos que há no homem. determina a si mesma. Edwards diRevista fé par a h oje | 57
Thomas Chubb (1679-1747)
Em sua Freedom of the Will, Edwards atacou o conceito de Liberdade sustentado por Chubb, que afirmava que
Thomas Chubb, um deísta e ariano inglês, teve treinamento informal em todo ato de escolha é ordenado geografia, matemática e teologia, enpor um ato de escolha separado. quanto trabalhava como aprendiz na Assim, a liberdade de escolha, fabricação de luvas. Edwards concluiu, é somente uma Ele começou sua fé na fase primitiquimera, de acordo com o próprio va do Arminianismo, mas sempre tenraciocínio de Chubb – e é contratou reconciliar Jeová com o conceito ditado e, portanto, engolido pela racionalista de um Ser Supremo. No escolha necessária.22 entanto, ele se tornou e permaneceu um cristão deísta. Ele comparou aberEdwards disse que a “sua noção de ato tamente a propagação do cristianismo livre” era “uma pilha de contradições”.23 primitivo com a difusão do metodismo Edwards também atacou o seu deem sua época, e, por meio disso, rejeiísmo porque ele o considerava perigoso tou as alegações de poder sobrenatural para a fé cristã.24 Edwards estava muito associados com a igreja primitiva. Ele preocupado com o deísmo vigente na defendeu uma espécie de cristianismo Nova Inglaterra. Num sermão pregado racionalista. Ele considerava a reveem 1743 ele referiu-se “aos roubadolação, não como divina, mas como a res, piratas e deobra de homens ístas”.25 Edwards honestos que fidizia que a nação zeram uma narO motivo dominante ou estava sendo atarativa justa e fiel o motivo mais forte, é que cada pelo Deísmo dos acontecimende homens como tos. Ele era dúbio determina a ação da vontade”. Chubb. Ele mena respeito de uma ciona que o Deprovidência parísmo “está fazenticular, portanto, do um espantoso progresso em nossa da oração. Ele argumentava contra a nação”, de forma que “grande parte da profecia e milagre e cria na dignidade nação tem se tornado deísta”.26 da natureza humana e no livre arbítrio. Foi num ambiente teológico de Jonathan Edwards foi um dos controvérsias libertárias como essa que maiores opositores de Chubb, no seu Edwards escreveu o seu livro Freedom livro The Freedom of the Will, em 1754. of the Will. Se Edwards não reagisse a Ali ele gastou cerca de 19 páginas para esse libertarismo de Taylor, Whitby e refutar a doutrina da vontade livre de Chubb, o Calvinismo seria banido da Chubb. Chubb foi muito lido nos EsNova Inglaterra. Toda estrutura teotados Unidos em sua época.21 58 | Revista f é pa r a h o j e
lógica Reformada cairia em colapso. O libertarismo estava tomando conta de muitos redutos outrora Calvinistas da Nova Inglaterra. Winslow colocou de forma correta o problema: Se a vontade do homem fosse livre, e ele pudesse aceitar a graça divina ou rejeitá-la, então sua eterna salvação não mais poderia ser preordenada por um poder fora de si mesmo: ele seria salvo por sua própria escolha, não pelo decreto imutável. E se isto fosse verdadeiro, então a soberania de Deus seria limitada, não absoluta... Se a vontade do homem fosse livre, a estrutura calvinista estaria arruinada.27 O calvinismo de Edwards, portanto, veio a negar a liberdade libertária ensinada pelos arminianos da época. Edwards não poderia ficar calado diante de perigo tão grande causado pelo libertarismo, para a fé calvinista. Por essa razão, em sua Freedom of the Will, Edwards atacou violentamente o arminianismo, fortalecendo, assim, novamente, o sistema calvinista de teologia na Nova Inglaterra. Edwards procura, com todas as suas forças, eliminar a noção arminiana de Vontade Livre, mas não elimina a liberdade no homem. Ele passa a discorrer a respeito de um tipo diferente de liberdade, estranho aos arraiais arminianos. Winslow escreve: Sua refutação da posição arminiana significa, em essência, uma nova
definição de liberdade humana pela qual ele pensou numa pancada para salvar ambos, a dignidade do homem e a onipotência de Deus. Ele concede ao homem a liberdade de ação para levar a cabo suas próprias escolhas, mas insiste que essas escolhas são determinadas pelos motivos que repousam fora do controle do homem... A contribuição de Jonathan Edwards foi fazer da liberdade do homem um passo intermediário. Ele tinha qualificado antes do que negado a liberdade; ou, numa frase mais moderna, ele reproduzido a liberdade humana como ‘condicionada’.28 É do combate à liberdade libertária do arminianismo e de sua nova definição de liberdade que o seu livro Freedom of the Will trata.
1 Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edwards, vol. 1, p. 347.
2 Robert W. Jenson, America’s Theologian: A Recommendation of Jonathan Edwards (New York: Oxford University Press, 1988), 53-54.
3 Smith, Shelton H. Changing Conceptions of Original Sin: A Study in American Theology Since 1750. New York: Charles Scribner’s Sons, 1955), 11.
4 Murray, Jonathan Edwards: A New Biography, 211.
5 Jeremy Goring summarizes this treatise as a candid examination of «what we call today Original Guilt. The first two parts of the book, with their minute analysis of biblical texts and lengthy footnotes in Hebrew and Greek, are a monument of careful scholarship, but it is perhaps the third part, where the textual critic turns moral philosopher and holds up some of the tenets of Calvinism to the clear light of reason, that made the biggest and most lasting impressions on contemporary readers. ‹What can be more destructive of virtue,› he asks, ‹than to have a notion that you must, in some degree or other, be necessarily vicious?›» «CalviRevista fé par a h oje | 59
nism in Decline,» Hibbert Journal 60 (October 1961--July 1962): 206.
6 John Taylor, The Scriptural Doctrine of Original Sin, quoted in Randall E. Otto, “The Solidarity of Mankind in Jonathan Edwards’ Doctrine of Original Sin,” Evangelical Quarterly 62 (1990): 206. 7 David Weddle, «Jonathan Edwards on Men and Trees, And the Problem of Solidarity,» Harvard Theological Review 67 (1974): 158. 8 Edwards writes, “God in each step of his proceeding with Adam, in relation to the covenant or constitution established with him, looked on his posterity as being one with him. And though he dealt more immediately with Adam, it yet was as the head of the whole body, and the root of the whole tree; and in his proceedings with him, he dealt with all the branches, as if they had been then existing in their root.
From which it will follow, that both guilt, or exposedness to punishment, and also depravity of heart, came upon Adam’s posterity just as they came upon him, as much as if he and they had all coexisted, like a tree with many branches . . . I think, this will naturally follow on the supposition of there being a constituted oneness or identity of Adam and his posterity in this affair.” Jonathan Edwards, Original Sin, ed. Clyde A. Holbrook (New Haven, CT: Yale University Press, 1970), 389-90.
9 Citação de Giese, op. cit. 13.
10 Citado por Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface
19 Observações de Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface
20 Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http://www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface
21 Chubb foi muito prolífico em publicação, e seu deísmo ardente foi expresso nos títulos de algumas de suas poucas obras. : The Comparative Excellence and Obligation of Moral and Positive Duties (1730); A Discourse concerning Reason, With regard to Religion and Divine Revelation (1731); The Suff iciency of Reason in Matters of Religion Farther Considered (1732); The Equity and Reasonableness of the Divine Conduct, In Pardoning Sinners upon Their Repentence Exemplif ied (1737), que foi dirigida contra a famosa Analogy of Religion do Bispo Butler no ano seguite;; An Enquiry into the Ground and Foundation of Religion. Wherein Is shewn, that Religion Is founded in Nature (1740); e A Discourse on Miracles, Considered as Evidence to Prove the Divine Original of a Revelation (1741). Outras obras de chubb são: Four Tracts (1734) e Some Observations Offered to Publick Consideration…. In which the Credit of the History of the Old Testament Is Particularly Considered (1735).
Informações retiradas do site http://www.bookrags. com/research/chubb-thomas-16791747-eoph/.
22 Gerald R. Mc Dermott, Jonathan Edwards Confronts the gods (Oxford University Press, 2000), 36. (ver Freedom of the Will, 69, 70-71, 235). 23 Gerald R. Mc Dermott, Jonathan Edwards Confronts the gods (Oxford University Press, 2000), 36.
11 Smith, Shelton H. Changing Conceptions of Original Sin: A Study in American Theology Since 1750. New York: Charles Scribner’s Sons, 1955), 11.
24 Gerald R. Mc Dermott, Jonathan Edwards Confronts the gods (Oxford University Press, 2000), 37.
13 Frank Hugh Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface
26 Gerald R. Mc Dermott, Jonathan Edwards Confronts the gods (Oxford University Press, 2000), 38 (Lecture on 2Peter 1.19, August 1737, Edwards papers 22-23.)
12 Citação de Giese, op. cit. 14.
14 Frank Hugh Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface 15 Citado por Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface 16 Citado por Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface 17 Citado por Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface
18 Observações de Foster, A Genetic History of the New England Theology, 1907, encontrado no site http:// www.gospeltruth.net/genetic_history.htm#preface
60 | Revista f é pa r a h o j e
25 Gerald R. Mc Dermott, Jonathan Edwards Confronts the gods (Oxford University Press, 2000), 38
27 Ola Elizabeth Winslow, Jonathan Edwards (MacMillan Co., 1940; repr., New York: Collier Books, 1961), 274. 28 Ola Elizabeth Winslow, Jonathan Edwards (MacMillan Co., 1940; repr., New York: Collier Books, 1961), 275-76
Heber Carlos de Campos: É ministro presbiteriano, professor de Teologia Sistemática no CPAJ e o coordenador do Jonathan Edwards Center no Brasil. Palestrante e autor de vários livros e artigos. É Doutor (PhD) em Teologia Sistemática no Concordia Theological Seminary, Saint Louis, Missouri, EUA.
Ă€ Jonathan Edwards Tiago J. Santos Filho
Glória a Deus, glória a Deus, Este era seu moto, sua resolução, Sua busca, seu encanto, sua vida, Sua religiosa afeição, Proporção e simetria, Via na criação, Divina perfeição. Incansável erudito, de ideias, forjador. Cientista, filósofo, escriba, De tratados filosóficos à vida das aranhas, Na ponta da pena, suas miscelâneas. Pastor-missionário, de Deus escravo, A Bíblia foi seu livro, sua luz, alento, Sopro do Espírito, força motriz do Despertamento, Em pronúncia eloquente o orador, Com santa reverência despertou, Desespero, choro e terror, Pelas chamas do inferno e da dor, Que se via, no rosto estampado, Do pecador, ao ouvir estremecido, Que está perdido, nas mãos de um Deus irado. Mas lembrou que aos olhos de Deus, Um pecador não é justificado, A menos que ponha seu eu de lado, E com fé renda-se a Cristo, crucificado. E assim seguiu seu zelo puritano, Fez da mesa do Senhor seu bem cabal, Foi acuado por seu próprio pegulhal, Herói marcado, firmou-se em seus princípios, – Há agora tempo para pregar aos índios! A luz brilhou forte, mas logo se apagou. Seu gênio, virtudes, caráter iluminado, À posteridade é sua herança, seu legado. 62 | Revista f é pa r a h o j e
“Tolle, lege, tolle, lege...”
Foi ao som destas palavras e com o texto de Romanos nas mãos que Agostinho se converteu. Esta importante epistola também foi fundamental para estrutrar sua teologia. Lutero tinha esta carta como “a mais importante do novo testamento”, Calvino a classificou como “a porta de acesso aos mais profundos tesouros das escrituras”. Sem dúvida Romanos ocupa um lugar de destaque na história da interpretação bíblica e este comentário de John Murray é tido como um dos mais teologicamente rico e exegeticamente apurado de todos os tempos. Tome e leia este comentário e certamente você será enriquecido com esta obra. .do Dr Murray.
“Entre os grandes comentários a esta epístola, ‘Romanos’ de John Murray está entre os mais importantes” Franklin Ferreira, diretor do seminário Martin Bucer
Série
Um Per f il de Homens Piedosos Calvino, Spurgeon, Edwards e Knox eram homens que, a despeito de suas limitações e pecados, pela graça de Deus se tornaram gigantes na fé. Descubra através desta série o perfil destes homens piedosos que dedicaram sua vida ao Senhor e que até os dias de hoje continuam a nos ensinar através de seu legado
As Firmes Resoluções de Jonathan Edwards Steven Lawson Neste livro Lawson sonda os escritos de Edwards para revelar as formas práticas, segundo as quais Edwards procurou cumprir suas resoluções. Ele exorta os cristãos contemporâneos a fazerem o mesmo, vivendo para a glória de Deus, com paixão ilimitada.
A Poderosa Fraqueza de John Knox Douglas Bond Pode um cristão que é pequeno em estatura, fraco no corpo e tímido no coração ser usado para o Reino de Deus? Este perfil do reformador escocês John Knox mostra que a reposta é um sonoro sim. Deus se deleita em usar os fracos e humildes.
A Arte Expositiva de João Calvino Steven Lawson Neste livro Dr Lawson apresenta a vida do pregador João Calvino e encoraja o leitor a seguir o exemplo de Calvino na exposição da palavra de Deus. Este modelo irá lhe ajudar a apresentar a glória de Deus a partir de qualquer texto da Escritura que você pregar.
O Foco Evangélico de Charles Spurgeon Steven Lawson Este livro é uma chamada amorosa para que todo cristão siga Spurgeon em sua paixão ardente em propagar o evangelho de Jesus Cristo. Aqui Lawson nos mostra que Spurgeon ensinava ousadamente as doutrinas da graça e, ao mesmo tempo, apresentava a oferta gratuita de salvação em Jesus Cristo.
Fé para Hoje na sua tela!
www.editorafiel.com.br/feparahoje Acesse gratuitamente através de seu computador ou tablet todas as edições da Revista Fé para Hoje