“Minka e eu estamos casados há quarenta anos. Criamos quatro filhos. Minka renunciou voluntariamente à sua carreira de fisioterapeuta para se dedicar aos meninos e ao lar. A indagação ‘você trabalha?’, que ela frequentemente ouvia, me deixava irritado. Pressupunha que a única forma de trabalho era ocupar uma função secular. Este livro lavou minha alma. Obrigado, Claudia e Naná!”
Rev. Augustus Nicodemus, pastor presbiteriano
“O relacionamento da mulher com o trabalho é alvo de muita confusão. Não precisa ser assim — e não deveria ser. Neste livro, Claudia e Naná trazem consolo a mulheres confusas por estereótipos bem-intencionados e julgamentos equivocados. Com base no evangelho que liberta e orienta, você vai encontrar reflexões práticas e bíblicas às tensões e aos dilemas que envolvem a mulher e o trabalho. É um consolo para dúvidas reais, por meio de princípios que vão trazer as perguntas certas para que você trabalhe, ou seja, sirva onde o Senhor a colocar e siga guiada pela sabedoria que só Cristo pode dar!”
Pr. Alexandre “Sacha” Mendes, pastor da Igreja Maranata, em São José dos Campos
“No inspirador livro “Toda Mulher Trabalha”, Naná e Claudia oferecem uma perspectiva sensível sobre o dilema enfrentado por muitas mulheres cristãs ao conciliarem suas carreiras acadêmicas ou profissionais com o chamado de serem esposas, mães e zeladoras do lar. Com profunda sabedoria bíblica, elas auxiliam as leitoras a compreenderem que o trabalho e o estudo são intrinsecamente bons, sendo
que Deus, de maneira generosa, concede a elas talentos, virtudes e dons específicos. Essas dádivas podem ser uma bênção em sua contribuição para a sociedade, sem que isso necessariamente crie uma dicotomia entre o trabalho secular e as responsabilidades domésticas. Acreditamos que este livro será uma fonte de bênçãos e libertação para as irmãs que desejam utilizar seus dons para a glória de Deus.”
Tiago J. Santos Filho, Diretor executivo do Ministério Fiel; pastor na Igreja Batista da Graça, em São José dos Campos; professor no Seminário Martin Bucer
“De maneira muito didática, prática e com exemplos do dia a dia que poderiam muito bem ser os nossos, as autoras nos levam a ponderar sobre o trabalho. Elas contrastam a visão que o mundo tem sobre o trabalho, que, em geral, é orgulhosa, egoísta e extremamente gananciosa, com a visão que a Palavra de Deus nos dá sobre esse tema, que é bem diferente e nem sempre envolve dinheiro. Assim, entendemos que trabalhar sempre envolve servir aos outros em primeiro lugar. O trabalho pode ser feito na mesa de escritório, na sala de aula, na beira da pia, atrás do volante e até mesmo na areia do parquinho. Tudo é trabalho e pode ser feito de maneira que honre ao Senhor Deus, que trabalha desde sempre.”
Nátalie Campos, palestrante, esposa do Pr. Heber Campos Jr.
“Este livro é um encorajamento cheio de esperança e sabedoria. Quanto privilégio contar com duas mulheres tão maduras e admiráveis quanto a Naná e a Claudinha abordando esse assunto de forma bíblica, equilibrada e franca. Em vez de trazer respostas prontas, elas nos desafiam a um olhar mais amplo e profundo; desafiam-nos
a enxergar o trabalho na perspectiva de Deus, e não na nossa, não como um fardo, mas como um privilégio, entendendo o tempo e as estações. Uma leitura necessária para as mulheres cristãs brasileiras.”
Prisca Lessa, fundadora do blog Teologia para Mulheres
“O bom humor, a alegria, a humildade, o embasamento teológico e as experiências da Naná e da Claudinha se uniram primorosamente neste livro para uma compreensão bíblica sobre o trabalho e sobre como trabalhar. Ressalto, de modo especial, a atenção e o cuidado que elas tiveram em realizar uma pesquisa com mulheres cristãs brasileiras e depois aplicar as verdades bíblicas sobre trabalho ao contexto nacional — o que considero necessário para o assunto e algo de que carecíamos. É uma leitura agradável, pessoal, divertida e com aprendizados práticos para alinhar o coração da leitora sobre quem ela é e a quem serve. Você terminará essa leitura glorificando a Deus por ele mesmo capacitá-la diariamente para o trabalho ao qual ele a chama.”
Ana Paula (Sherlocka) Nunes, autora de Unidas contra a rivalidade feminina
“Este livro não poderia ter chegado a mim em momento mais oportuno e tenho certeza de que encontrará suas leitoras no suor da realidade com suas profundas palavras de instrução, exortação e consolo. Muitas vezes, faltam-nos o fôlego, a clareza de mente e até mesmo o tempo necessário para pararmos e contemplarmos o trabalho por aquilo que ele, de fato, é e onde se encontra na Grande História da redenção. Somos engolidas no ciclo de nosso próprio orgulho, egoísmo e medo. Como isso é real para nós, mulheres de
todas as idades! Com isso em mente, Claudia e Naná nos entregam um banquete de sabedoria. Caminhando do Jardim até a Cruz e para além da morte, as autoras trabalham estatísticas bem atuais, e mostram a origem, o significado e o propósito do trabalho. Elas revelam os mecanismos de um coração corrupto que distorce o trabalho e confrontam as consequentes culpa e exaustão com a esperança da redenção em Cristo. Ajudam-nos a pensar biblicamente sobre as decisões que tomamos no dia a dia diante de um Deus sábio, gracioso e soberano. Com palavras de bálsamo, encorajamento, ensino e orientação, esses capítulos foram escritos por duas mulheres submissas a um Deus amoroso, que compreenderam o chamado dele para nossas vidas neste mundo emaranhado nos espinhos e abrolhos. Portanto, este livro é para toda mulher. Porque, afinal, toda mulher trabalha.”
Hendrika Vasconcelos, mestranda em Teologia pelo CPAJ
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Castillo, Naná
Toda mulher trabalha : sabedoria aplicada aos dilemas modernos / Naná Castillo, Claudia Lotti. -- São José dos Campos, SP : Editora Fiel, 2023.
ISBN 978-65-5723-321-4
1. Bíblia - Ensinamentos 2. Mulheres - Aspectos religiosos - Cristianismo 3. Trabalho - Aspectos religiosos - Cristianismo I. Lotti, Claudia. II. Título.
23-178454
CDD-270.082
Elaborado po Eliane de Freitas Leite - CRB 8/8415
Toda mulher trabalha: Sabedoria aplicada aos dilemas modernos
Copyright © 2023 por Ana Márcia
Chiaradia Mendes Castillo e Claudia Beatriz de Campos Lotti
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Copyright © 2023 Editora Fiel
Primeira edição em português: 2024
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora Fiel da Missão Evangélica Literária.
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE
LIVRO, POR QUAISQUER MEIOS, SEM A PERMISSÃO ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª ed. (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
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Diretor Executivo: Tiago J. Santos Filho
Supervisor Editorial: Vinicius Musselman
Editor: Renata do Espírito Santo
Coordenação Editorial: Gisele Lemes
Preparação/ Revisão: Shirley Lima
Diagramação: Caio Duarte
Capa: Caio Duarte
ISBN brochura: 978-65-5723-321-4
ISBN e-book: 978-65-5723-320-7
Caixa Postal, 1601
CEP 12230-971
São José dos Campos-SP PABX.: (12) 3919-9999 www.editorafiel.com.br
Dedicamos este livro às nossas amadas filhas, Ester e Rachel, para que cresçam a fim de serem mulheres que amam a Deus, e que, em cada um dos seus trabalhos, transbordem o amor que graciosamente receberam dele.
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é imenso, mas queremos registrar nosso apreço a todos os mestres e professores da Bíblia que, com excelência e dedicação, têm usado seus dons e talentos para edificar a Igreja com boa literatura cristã. Vocês estão representados aqui!
Queremos agradecer à nossa editora e amiga Renata Cavalcanti, que topou fazer este projeto conosco com alegria. Ela nos encorajou com seu companheirismo e em nenhum momento demonstrou dúvida ou insegurança de trabalhar com duas mulheres cheias de ideias no curto prazo que tínhamos. Nosso agradecimento também à equipe Fiel, por ter confiado nesse projeto de forma tão amorosa e por nos ter acolhido tão bem. Agradecemos a Deus pela vida de cada um de vocês.
Não poderíamos deixar de agradecer às mulheres que preencheram a pesquisa e àquelas amadas amigas que a divulgaram em suas redes sociais; sem dúvida, vocês fizeram a diferença e mostraram quanto este livro precisava ser escrito. Nossa gratidão também às amadas igrejas que nos têm convidado e incentivado a falar sobre o assunto de trabalho à luz da Bíblia e que têm orado por nossos ministérios e famílias. Vocês foram instrumentos por meio dos quais Deus lapidou nosso caráter.
Nossa imensa gratidão ao Dr. Henrique Ceretta Oliveira, estatístico da faculdade de Enfermagem da Unicamp, com quem Naná trabalhou durante oito anos e sempre soube que, se um dia fosse fazer qualquer trabalho que demandasse análise estatística, teria com quem contar. Não deu outra! Foi só ela sair da Unicamp que, em menos de dois meses, precisou justamente da competência e da expertise dele. Agradecemos pela prontidão e a generosidade com que consentiu em analisar os dados de nossa pesquisa em seu tempo livre, em dar bons palpites acerca dos cruzamentos estatísticos possíveis, pela paciência
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em explicar alguns testes mais complexos e pelo interesse em contribuir para que essa análise pudesse ajudar mulheres e famílias brasileiras. Nós temos o privilégio de contar, ambas, com irmãos pastores, professores da Bíblia que muito nos influenciaram. Ter a honra de vê-los, Pr. Alexandre Mendes (Sacha) e Pr. Heber Campos Jr, endossando e escrevendo o Prefácio deste livro, significa muito para nós. Somos gratas pelo apoio, pelas palavras de incentivo e sabedoria, e por levarem sempre tão numa boa quando as comparações entre vocês e suas irmãs são feitas por aí. Não sabemos quanto a vocês, mas nós nos sentimos verdadeiramente orgulhosas quando isso acontece!
Agradecemos também aos outros familiares que amorosamente caminham conosco: nossos sogros, irmãos, cunhados e cunhadas, por cada oração e alegria que partilharam conosco nesta vida.
Aos nossos pais, Marina e Ivantídio (Naná), e Zeli e Heber (Claudia), nossa gratidão porque vocês formaram nossa base e são o exemplo que sempre tivemos de trabalho diligente feito para a glória do Senhor. Sempre nos encorajaram a estudar e nos direcionaram a amar a Palavra de Deus de forma intensa. Sabemos que foi desafiador trabalhar na criação de filhas pequenas tão falantes quanto nós, mas, vejam só, já crescemos e temos nossos próprios filhos falantes, mas nem por isso falamos menos! Somos gratas por nunca nos terem silenciado, mas, sim, dirigido nossos olhos e discursos para Aquele que é digno de cada palavra que proferirmos. Amamos vocês!
Às nossas famílias (da Naná e da Claudia, respectivamente), porque vocês escreveram este livro junto conosco:
Luiz, você é meu parceiro indispensável de vida, que me conhece melhor do que ninguém e sabia que eu não sossegaria enquanto este
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livro não saísse... então você me sossegou, com seu jeito ponderado, previdente, detalhista e cuidadoso. Tornou possível que eu tirasse tempo para escrever, relevou (não sem sacrifício pessoal) a desordem da minha escrivaninha e estante por meses a fio, fez muito café, passeou com o cachorro, levou e buscou as crianças e fingiu não ter visto o tanto de livro novo que chegou em casa para que este saísse. Você modela liderança servil com excelência. Ester e João, com sua torcida sincera e empolgada para que a mamãe escrevesse um livro, comeram uma ou outra pizza a mais sem reclamar, e comemoraram de dar gosto quando viram a capa pela primeira vez. Eu amo vocês! Rinaldo, você é meu melhor amigo e meu doce conselheiro. Foi o primeiro a me encorajar a ler mais sobre aconselhamento e trabalho, além de ser meu “book worm” favorito, a melhor fonte que tenho de boa indicação de livros. Obrigada por se entusiasmar e vibrar com esse projeto. Aos meus filhos, Henrique, Rachel e Benjamin, vocês são os receptores dos melhores trabalhos da mamãe, minha melhor torcida e a razão da maior parte das minhas gargalhadas. Obrigada por se alegrarem com a mamãe e me tranquilizarem toda vez que tenho um trabalho a fazer longe de vocês. Seus abraços apertados e palavras amorosas são graça de Deus para comigo. Amo intensamente cada um de vocês!
Nosso mais primoroso e reconhecido agradecimento vai para Aquele que todas as coisas criou, coordena e controla. Àquele que sabia sobre cada um dos nossos trabalhos e sobre a feitura deste livro muito antes de nós sabermos. Àquele que é a razão de tudo aquilo para o qual queremos apontar com este livro. A Deus, toda a nossa gratidão e toda a glória para sempre!
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SUMÁRIO Prefácio...................................................................................................... 17 Introdução ................................................................................................ 21 1. Mulheres cristãs brasileiras e o trabalho ........................................ 27 2. Criadas para servir .............................................................................. 41 3. O trabalho corrompido ..................................................................... 65 4. Cristo redime nosso trabalho ........................................................... 99 5. Trabalhando para a glória de Deus ................................................. 129 6. E agora? Tomando decisões sobre trabalho ................................ 165 Conclusão ................................................................................................. 207 Apêndice ................................................................................................... 213
PREFÁCIO
É grande o privilégio que eu tenho de prefaciar este livro de Naná e Claudinha, como elas são carinhosamente chamadas. Primeiro, porque tenho o prazer de recomendar uma obra de duas mulheres crentes que honram os seus maridos e servem aos seus filhos, além de virem de famílias cristãs sólidas. Conheço o irmão da Naná, o Pr. Alexandre (Sacha) Mendes, e, como sou irmão da Claudia, posso dizer que as duas autoras foram forjadas na piedade e na sabedoria cristã desde novas. É muito precioso quando vemos essas filhas de Deus desabrochando em serviço na vida madura depois de serem lapidadas pelo Senhor desde sua juventude.
Em segundo lugar, sou privilegiado em prefaciar esta obra porque ambas são mestras muitíssimo competentes, o que é algo raro. Ambas têm experiência de ensino acadêmico em nível superior, com excelente formação profissional. Ambas têm uma facilidade de
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comunicação que deixaria muitas pedagogas com inveja. Mas apenas experiência, formação acadêmica e talentos naturais não as qualificariam para a escrita deste livro. Elas precisariam ter habilidades para o ensino das Escrituras e a formação espiritual de outras pessoas. E isso elas têm, de sobra! Naná tem sido uma benção na formação cristã de tantas mulheres por meio das plataformas virtuais e a Claudia é conhecida entre as amigas e familiares como uma mulher conselheira e mestra do bem.
Todavia, eu não tenho o prazer de recomendar este livro apenas porque admiro as autoras, mas porque o conteúdo que elas produziram é preciosíssimo. Um livro com pesquisa de campo para conhecer as realidades de muitas mulheres cristãs no Brasil, um tópico calcado em muitas conversas com mulheres, com anedotas elucidativas de suas próprias vidas, e todos esses fatores revelam que as autoras conhecem o público ao qual estão falando. Elas sabem dos dilemas envolvidos em trabalhar “fora” e o sentimento de não conseguir dar conta de cuidar adequadamente da casa e dos filhos. Elas sabem das angústias de quem está tentando equilibrar tantas tarefas, da mulher que optou por trabalhar só em casa e se sente subutilizada, ou daquela que gostaria de estar apenas em casa, mas precisa ajudar o marido a compor as finanças do lar. Isso sem contar as mulheres que não têm companheiros para lhes ajudar no cuidado dos filhos, ou das mulheres solteiras que se afligem porque são boas profissionais, mas isso parece não ajudar a encontrar um marido que não se sinta inferiorizado. Este é um livro que considerou várias situações e procurou trazer aplicações a diferentes contextos.
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Além de conhecer o público-alvo, as autoras conhecem o Livro Sagrado. Como é deleitoso observar esta obra repleta das Escrituras e de análises profundas e perspicazes advindas do texto inspirado. Pode parecer redundância dizer que este livro é bom porque é bíblico, mas eu preciso soar o alerta de que somos facilmente impactados por palestras e livros que possuem empatia emocional, dicas práticas e histórias inspiradoras. Porém, é possível que tais livros e palestras sejam vazios de Escritura! A parte mais triste é que muitas mulheres de igreja não têm o discernimento para detectar que essa palestra ou livro que mencionei acima não são bíblicos. Por isso, quero recomendar a vocês que leiam livros como este que você tem em mãos porque lhes ajudarão a desenvolver discernimento a partir das Escrituras. Como este livro é sobre trabalho, quero caminhar na linha dessas autoras tão estimadas e incentivá-las a pensar em “trabalho” com uma palavra mais comum nas Escrituras: serviço (veja At 6.3; Rm 15.25; 1 Co 12.5; Ef 4.12; Fp 2.17). Somos chamados a sermos servos uns dos outros em amor (Gl 5.13), a servir uns aos outros conforme o dom recebido (1 Pe 4.10). Nosso Salvador foi chamado de Servo (Is 53; At 3.13, 26; 4.27, 30), pois o verbo ‘servir’ é o que determina aquilo para o qual fomos feitos para fazer. Fomos criados segundo a imagem do Deus que trabalha. Portanto, ‘trabalho’ pressupõe ‘serviço’. Isso significa que ele está na raiz de nossa origem e não pode ser desconsiderado ou tratado como irrelevante ou secundário (criação); ele foi manchado pelo pecado e por isso frustra muitas mulheres que trabalham e até aquelas que já não conseguem mais servir bem por causa de sua saúde (queda); ele pode ganhar uma nova motivação e novo propósito quando nos lembramos quem é o nosso verdadeiro
P REFÁCIO 21
Patrão, o Senhor (redenção); e ele certamente marcará a nossa vida na eternidade explorando para sempre as potencialidades ricas da nova criação (consumação).
As aplicações práticas desta cosmovisão bíblica de trabalho são muitas: mulher que não trabalha profissionalmente não deixa de ser serva (como diz o livro, ‘Toda mulher trabalha’); seu alvo de vida não deve ser criar os filhos para depois ‘aposentar’ e ‘curtir a vida’ (não fomos feitos para a inutilidade); também não é verdade que criança
‘não trabalha’ e, por isso, vocês devem incentivar seus filhos a serem servos desde pequenos. Estas são apenas algumas formas de pensar de maneira bíblica em serviço.
Agora, comece a jornada da leitura e seja desafiada por essas irmãs a pensar no trabalho de forma honrosa ao seu Senhor e Servo, Jesus Cristo!
Pr. Heber Carlos de Campos Junior
INTRODUÇÃO
Lembro como se fosse ontem. Era fevereiro de 2008, eu tinha 25 anos e estava chegando em casa, depois de um dia de trabalho na faculdade particular na qual eu (Naná) lecionava. Passei pela portaria, um pouco distraída, porque estava admirando, encantada, meu anel de noivado, que reluzia na mão direita, já que eu era noiva havia apenas três ou quatro dias. O porteiro me avisou: “Tem um ‘telegrama’ para você”. Sim, um telegrama! Vocês se lembram deles?
Abri a correspondência ainda no elevador, apressada, porque não me lembrava de já haver recebido um telegrama na vida (e jamais recebi outro depois disso). A mensagem era do Hospital Universitário da USP, e falava de uma convocação para trabalhar. Sim, o concurso que eu havia prestado dois anos antes e no qual fora aprovada em vigésimo nono lugar, estava me convocando para assumir a função de enfermeira assistencial — e a previsão de início era imediata!
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Cheguei em casa um pouco atordoada. Agora? Olhei mais um pouquinho meu anel, que reluzia ainda mais, lembrando a mim mesma que meu noivo trabalhava na Bahia, e que era para lá que eu me mudaria no prazo de seis meses, quando me casasse.
Agora? Mas e agora? Longe de mim pensar em não me casar com o Luiz por causa do emprego! Para mim, a dúvida nunca foi essa! Mas a oportunidade de trabalho como enfermeira assistencial era algo que eu havia perseguido durante muito tempo, o hospital que me convocara era exatamente o que eu sempre quis trabalhar e isso contrastava com a certeza da minha ida para outro estado em questão de meses, associada ao meu doutorado em curso e a loucura dos preparativos para o casamento, que estavam prestes a começar. Tudo isso junto me deixava totalmente dividida entre assumir esse emprego ou não.
Na época, essa foi uma decisão difícil, recordo muito bem, mas hoje olho para ela com carinho. Ah, se, nesses quinze anos que se seguiram a esse telegrama, todas as decisões que tive de tomar fossem dessa magnitude! Desde então, já foram muitas, muitas mesmo.
Eu estava com 29 anos e casada há dois anos e meio (Claudia). Havia acabado de passar na prova de admissão ao mestrado da Universidade Federal de São Paulo e ganharia uma bolsa de estudos para realizar esse tão esperado curso. Acordo pela manhã com a percepção de um atraso importante de algo que vem mensalmente a todas as mulheres. Então, despretensiosamente, comprei um teste de gravidez e, em menos de dez segundos, ele positivou! Que profunda e imensa
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alegria! Acordei meu esposo, que vibrou comigo e oramos em regozijo juntos! Que surpresa especial! Alguns dias depois, fui contar a novidade ao meu orientador do recém-iniciado mestrado, e ele nem mesmo um sorriso deu. Falou em particular a outra pessoa que, sendo mãe naquele momento, eu desperdiçaria minha carreira. Nunca dei bola para esse comentário, mas será que eu daria conta de seguir meus estudos no mestrado, trabalhar e, em poucos meses, também cuidar de um bebê?
Alguns meses após, fui renovar meu contrato anual do único emprego registrado que eu tinha como médica em São Paulo. A moça do RH, já pegando minha papelada para fazer a readmissão (era um contrato emergencial anual), viu minha barriguinha de gestante e falou que não lhes interessava contratar uma grávida. Nunca me senti tão descartável no trabalho! Perdi meu único emprego “seguro”... e agora? Qual seria a saída para auxiliar no sustento do meu lar e passar o máximo de tempo possível com meu primeiro bebê?
É possível que você também tenha tido dúvidas desse tipo, ainda que em circunstâncias completamente diferentes. Somos chamadas para trabalhar, e você verá isso nas próximas páginas. Mas nos acostumamos culturalmente a usar o termo “trabalho” para qualquer atividade desempenhada fora do lar ou que, necessariamente, resulte em algum retorno financeiro, mas o que nós pretendemos com este livro é mostrar que não! Todas nós trabalhamos, e muito — ou, pelo menos, deveríamos fazê-lo.
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O que precisamos discutir, portanto, não é se trabalhamos ou não, mas como. Mulheres precisam tomar decisões quanto à forma que vão trabalhar em praticamente todas as fases da sua vida. Solteiras, casadas, viúvas, sem filhos, com um, dois, três ou mais deles, cada nova transição ou mudança de papéis que desempenhamos ao longo da vida parece exigir de nós muita reflexão, adaptação, reinvenção e equilíbrio diante daquilo que devemos priorizar como mulheres tementes a Deus.
Dessa forma, o projeto deste livro surgiu do desejo de ajudar as mulheres que têm tantas dúvidas relacionadas a equilibrar o trabalho, o cuidado com o lar e o exercício de seus dons na igreja. Mas tudo isso não é trabalho? Sim! Claro que é! Mas há um mais importante que o outro? Na Bíblia, há direcionamento para que eu tome decisões quanto ao trabalho dentro e fora do lar? Essas dúvidas acometem muitas mulheres brasileiras que ajudam seu marido no sustento financeiro da família, que são solteiras ou que sustentam uma família por conta própria. Nós brincamos que esse assunto nos persegue. Porque, por onde andamos, somos abordadas por mulheres que amam Cristo e que não conseguem encontrar na Palavra a resposta aos seus questionamentos.
Perdidas, porém com o desejo de acertar, muitas vezes procuramos soluções olhando para os lados. Buscamos inspiração em mulheres que consideramos felizes, ou bem-sucedidas, ou prósperas (qualquer que seja sua definição do termo), e queremos saber o “segredo” delas. Como elas fazem? Como conseguem? Em outras palavras, no fundo, a pergunta parece ser: como eu faço para encaixar a vida delas na minha?
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E é aí, precisamente, que mora o perigo que nós tanto custamos a descobrir. Ao buscar inspiração e espelho em qualquer coisa criada, corremos o risco de perder de vista o propósito soberano e gracioso que o nosso Deus único, que nos trata de forma única, desenhou para cada uma de nós. A vida de outras mulheres pode não se encaixar na nossa — e isso é uma coisa boa.
Gostamos do trecho narrado no Evangelho de João, em que Jesus, conversando com Simão Pedro, aponta para ele o tipo de morte que teria (Jo 21.15-22). Talvez não tenha sido muito confortável ouvir que ele ficaria debilitado e totalmente dependente, e quando ele viu que João, o discípulo amado, vinha logo atrás, apressou-se em perguntar: “Senhor, e quanto a ele?”.
Respondeu Jesus: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, o que te importa? Quanto a ti, segue-me”. (v. 22, grifo nosso).
Assim como Simão Pedro, nós também insistimos em olhar à nossa volta em busca de direção ou, no mínimo, de conformismo com o que acontece com os outros: “Tudo bem, eu entendo que vou ter que trabalhar, mas, Senhor, e ela? Por que com ela as coisas parecem sempre tão suaves? O marido dela apoia que ela fique em casa, mas o meu, não! E aquela outra, por que o trabalho dela parece bem mais reconhecido do que o meu? Por que esse chefe na minha vida, e na dela, não?”.
Cabe a nós entender o que Jesus claramente ensinou: não nos importa o que ele escolheu para a vida das outras pessoas. A nós, cabe segui-lo. E é a isso que este livro se destina: buscar na Palavra
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instruções precisas acerca de como nós, em nossas vidas individuais e únicas, podemos segui-lo. Sim, a Bíblia tem respostas, diretrizes e princípios que, uma vez conhecidos, mudam tudo sobre a forma de nos relacionarmos com o trabalho. Quanto a buscar o conhecimento e pedir a Deus sabedoria para aplicá-lo em nossa variedade de circunstâncias e histórias pessoais, isso cabe a nós.
Este livro é recheado de exemplos e histórias pessoais, tão somente porque acreditamos que histórias trazem vida a princípios aplicados. Ainda que a sua história seja totalmente diferente da nossa — e provavelmente será —, fique com os princípios, não com as circunstâncias. Ouça Deus dizendo a você: o que lhe importa? Quanto a ti, segue-me!
Que as páginas deste livro sirvam de edificação, encorajamento, instrução, repreensão e esclarecimento. A nossa expectativa é que você termine esta breve leitura amando ainda mais seu Deus trabalhador, que exerce seu ofício de forma incansável, sustentando o universo e orquestrando cada detalhe da sua vida para torná-la ainda mais parecida com ele. E que, à medida que você o amar cada vez mais, também ame ainda mais o ofício que ele hoje a colocou para fazer, e que você o exerça de todo o coração, sabendo que, quando o faz, dá glória ao Senhor!
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MULHERES CRISTÃS
BRASILEIRAS E O TRABALHO
Claudia e eu já éramos conhecidas de longa data, mais de uma década antes da construção deste livro. Claudia se casou com um amigo meu da juventude, ambos estiveram presentes no meu casamento, mas nunca tínhamos nos aproximado muito, apesar de nutrirmos admiração mútua pela vida, família, ministério e carreira uma da outra. Nós nos encontrávamos em festas de aniversário de amigos ou de filhos dos amigos em comum, e costumávamos ter boas conversas nas conferências da Fiel Mulheres. Em uma delas, convidei a Claudia para fazer uma live comigo no Filipenses 4.81 e, a partir de então, teve início a ideia de fazermos outros projetos em conjunto.
1 O Filipenses Quatro Oito é um ministério presente nas principais redes sociais, que tem por objetivo falar sobre vida cristã e aplicação do evangelho na vida real para mulheres de todas as idades. Além do extenso e frequente conteúdo oferecido semanalmente nas plataformas, o Fp4.8 oferece ainda um curso sobre maternidade centrada no evangelho e um clube de leitura cristão para mulheres, somando mais de 1600 alunas ativas em novembro de 2023. Para saber mais, acesse: www.filipensesquatrooito.com, e siga o @filipensesquatrooito.
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CAPÍTULO
Em maio de 2023, a providência divina nos pôs para falar juntas em uma conferência em Recife, e foi ali que a ideia deste livro nasceu. Durante o voo, não apenas esboçamos os tópicos que gostaríamos de abordar, mas também começamos a nos perguntar se eles realmente estariam coerentes com as dúvidas das nossas mulheres — brasileiras e cristãs — que vivem na era em que o feminismo assumiu tons de religião e dogma no mundo secular, cujas ideias têm-se entranhado tão sutilmente na própria igreja e distorcido o plano bom e sábio do nosso Deus Soberano.
Nós conhecemos excelentes livros sobre o tema do trabalho, obras construídas dentro e fora da perspectiva feminina, e não teríamos feito mais um se não desejássemos avançar no conhecimento disponível! A falta de recursos escritos por e para mulheres brasileiras, lidando com a nossa realidade cultural, foi, sem dúvida, nossa maior motivação.
Se havia uma coisa que não queríamos, era escrever algo que fosse coerente com as nossas suposições, e não com a realidade. Como duas mulheres que têm servido em eventos e conferências, ministrando a mulheres em diversas igrejas, já tínhamos ouvido sobre muitos dilemas, histórias, experiências boas e ruins em relação ao assunto, e isso acabou formando em nós algumas hipóteses ou pressuposições acerca de como seriam essas mulheres e quais seriam suas vivências.
Então, para evitar que conversássemos apenas com nossas indagações, decidimos fazer uma breve pesquisa com mulheres brasileiras, com o propósito de conhecê-las melhor e, afinal de contas, entender: com quem estamos falando, e quais são suas lutas, experiências, alegrias e dúvidas? Isso também veio de toda uma trajetória acadêmica minha (Naná), em que aprendi a compreender fenômenos e processos por meio da investigação e da observação dos envolvidos
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diretamente naquilo que pretendo explorar. Por eu ter sido “criada” profissionalmente assim, a tentação de tornar este capítulo um relato de pesquisa foi imensa, mas fui graciosamente impedida pela Claudia e por outros sábios conselheiros. Por isso, apresentamos aqui uma versão resumida dos resultados, mas, caso queira saber detalhes desta pesquisa, leia o breve Apêndice, em que descrevemos sucintamente a metodologia e apresentamos toda a descrição dos resultados.
Para conhecer as mulheres que leriam este livro, perguntamos: quem são as mulheres cristãs brasileiras que, em 2023, estão lidando com questões relativas à forma de exercer o seu trabalho, e como elas têm percebido isso?
O QUE ENCONTRAMOS
Quem são?
Participaram da nossa pesquisa 1.305 mulheres, principalmente na faixa etária entre 25-45 anos (n = 938, 71,88%), das cinco regiões do Brasil, com predomínio do Sudeste (53,4%), embora também tenhamos atingido um pequeno percentual de mulheres que residem em outros países.
Em relação ao estado civil, a maioria (n = 1.085, 82,38%) era casada, tinha entre um ou dois filhos (n = 721, 55,25%) e morava com o marido e filho(s) ou apenas com o marido, além de outras possibilidades, como morar sozinha ou ter outras pessoas da família extensa residindo junto.
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A escolaridade das participantes abrangeu do ensino fundamental completo ao pós-doutorado, com acentuado predomínio de mulheres com ensino superior completo (40,15%) e/ou pós-graduação lato sensu (31,11%).
Quanto à denominação, a maioria (n= 981, 75,13%) declarou seguir as tradições presbiteriana e batista. Entretanto, a gama de diferentes denominações foi extensa, incluindo membros das Igrejas Cristã Evangélica, Assembleia de Deus e outras denominações reformadas, pentecostais e neopentecostais.
Após conhecermos melhor o perfil das mulheres que responderam à pesquisa, vamos agora aproximar o olhar de suas experiências laborais.
Como trabalham?
Conhecer as múltiplas formas de regime de trabalho das mulheres que responderam à nossa pesquisa representou um desafio, mas foi algo bem interessante. Percebemos que as mulheres trabalham de muitas outras maneiras além daquelas que buscamos contemplar no questionário, levantando uma riquíssima variedade de formas de atuação!
Com isso em mente, tivemos de nos esforçar para recategorizar as nossas suposições iniciais, e chegamos ao entendimento de que, em sua maioria, as respondentes trabalham integralmente no lar, sem remuneração (n = 394, 30,19%), ou desenvolvem atividades remuneradas com flexibilidade de carga horária fora de casa (n = 547, 41,91%). Aquelas que trabalham integralmente fora do lar representam 27,13% da nossa amostra (n = 354). Também contamos com uma pequena parcela de aposentadas (n = 10, 0,77%).
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Em relação às mulheres que trabalham integralmente no lar, sem exercer atividade remunerada, 58% delas declararam ter uma atividade remunerada anterior, mas a maternidade acabou por levar a uma mudança em sua forma de trabalho. Outras causas para tomarem a decisão de deixar o emprego foram, respectivamente, casamento, desemprego e a necessidade de cuidar de alguém doente na família.
De forma semelhante, entre as mulheres que cumprem regime parcial de trabalho fora do lar, 42,2% declararam uma redução de sua jornada de trabalho em decorrência da maternidade, seguindo-se por 8,8% que atribuíram essa redução ao casamento, 4,1% ao desemprego e 3,2% para cuidar de alguém doente na família.
No caso das mulheres que trabalham integralmente fora do lar (40h semanais ou mais), a maioria (71%) não atribuiu essa opção de regime de trabalho a alguma transição ou mudança na vida, embora o desemprego de alguém da família tenha surgido como um fator desencadeador dessa forma de trabalho para 7,9% dessas mulheres.
Ao perguntarmos sobre a satisfação com a forma de trabalho atual, 632 mulheres se declararam satisfeitas, o que representa 48,43% do total.
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VOCÊ ESTÁ SATISFEITA COM A FORMA COM QUE TRABALHA HOJE? n % Sim 632 48,43 Mais ou menos 484 37,09 Não 164 12,57 Não sei dizer 25 1,92
Aquelas que se consideram parcialmente satisfeitas ou insatisfeitas com o trabalho atual apontaram as mudanças que gostariam de fazer para reverter essa situação, a maioria girando em torno de uma redução da carga horária de trabalho fora do lar ou da busca de alternativas em home office. Algumas mulheres, porém, responderam que gostariam de começar a exercer alguma atividade remunerada, ou que precisariam, por razões diversas, aumentar a carga horária fora do lar. A seguir, apresentamos alguns trechos de respostas, com o fim de elucidar em que medida a diversidade de respostas foi significativa:
“Amo meu trabalho, mas gostaria de poder trabalhar meio período e ser mais dona de casa também e dedicar mais a serviços na igreja.”
“Gosto do que faço, mas, como não é prioridade, falta excelência.”
“Preciso crescer em contentamento.”
“Gostaria de voltar a ser dona de casa em tempo integral.”
“Preciso voltar a trabalhar fora de casa, mas não queria que fosse o dia inteiro.”
Quando perguntamos se já haviam sido criticadas em relação à sua forma ou opção de trabalho, 52,11% (n = 680) responderam que sim. As mesmas mulheres afirmaram que as críticas vinham, principalmente, de amigos da igreja, membros da família extensa ou da própria mãe.
A maioria das mulheres já ouvira acerca do trabalho feminino dentro e fora do lar em suas igrejas locais (n = 966, 74,02%),
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independentemente da faixa etária. De forma semelhante, 63,37% delas afirmaram não ter dúvida quanto ao trabalho da mulher cristã, enquanto 36,63% expressaram nutrir questionamentos sobre o tema.
Ao abrirmos espaço para essas indagações, pudemos perceber que elas giram essencialmente em torno de aspectos voltados ao equilíbrio entre o trabalho dentro e fora do lar, sobre as escolhas que a mulher faz em diferentes estações da vida, sobre a legitimidade da renda trazida pelo trabalho da mulher no sustento da casa, sobre a maternidade e o trabalho fora de casa, e também sobre o fato de a mulher trabalhar fora “não por necessidade, mas por vontade”. A seguir, compartilhamos alguns trechos de dúvidas que foram expostas, que são bem representativas da essência do todo:
“Tenho dúvidas, sim. Por vezes, penso que estou agindo errado e não de acordo com a Bíblia, e me questiono sempre se devo deixar meu trabalho para exercer melhor a maternidade e também cuidar do meu marido e do lar. Eu me angustio por estar delegando meu filho a outras pessoas que vão passar mais tempo com ele... Por outro lado, sinto que devo trabalhar para que a situação financeira da família não fique apertada demais. Eu me sinto culpada e exausta o tempo todo para tentar dar conta de tudo.”
“ Às vezes, eu me questiono sobre meu trabalho, sei que é um trabalho honesto, mas sempre penso se estou glorificando a Deus nele. Então, oro e peço discernimento, porque amo cuidar do próximo e me sinto feliz atendendo às pessoas. Mas confesso que amaria ser dona de casa e queria ter tempo para me dedicar
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mais ao meu lar. Porém, como sou a responsável financeira pelo lar, preciso trabalhar bastante e dou glória a Deus por isso. Quanto à dúvida, já ouvi muito que lugar de mulher é em casa, e às vezes ao contrário. Mas eu particularmente amo trabalhar fora e cuidar do lar também. E vou administrando o tempo...”
“Sempre sinto uma pressão por parte de alguns membros da igreja. Como se trabalhar fora fosse pré-requisito para o fracasso familiar [...]. Então, trabalhar fora pode realmente ser catastrófico para o lar?”
“Como equilibrar a maternidade e o lado profissional? A partir de qual momento seria um tempo adequado para voltar a trabalhar? Sei que não existe uma resposta correta, mas, considerando que tenho condições de estar em casa cuidando dos filhos, isso pesa na decisão. Após sete anos em que decidi ficar em casa para cuidar das crianças, eu me sinto perdida em relação ao retorno e se devo retornar…”
“Tempo fora de casa reduz meu tempo para cuidar do lar? Estou sendo displicente com meu papel de esposa? Pelo fato de estar sempre ocupada com o trabalho ou cansada por ter trabalhado, não consigo atender a demandas do corpo de Cristo no que diz respeito a relacionamentos (aconselhamento, visita, compartilhar dificuldades etc.). Isso deveria ser um motivo para eu mudar/sair do emprego?”
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Viver as experiências de trabalho, dentro ou fora do lar, debaixo de questionamentos desse tipo inevitavelmente despertam sentimentos variados nas mulheres, e os mais frequentes são o sentir-se útil, tecnicamente empatado com exaustão, ambos experimentados por mais da metade das mulheres. Também foram frequentes os sentimentos de frustração, vontade de largar tudo, medo, culpa, angústia, bem como satisfação e realização. Cabe ressaltar que esses sentimentos estiveram presentes independentemente da forma de trabalho das mulheres.
Um último olhar para os dados, com o auxílio de testes estatísticos específicos, permitiu que cavássemos um pouco mais fundo os resultados, resultando em alguns achados interessantes e surpreendentes.
Quando cruzamos a satisfação das mulheres com algumas variáveis, constatamos que, quanto mais jovens, menos satisfeitas as mulheres estão com suas formas de trabalho. A maior taxa de insatisfação é encontrada no grupo das mulheres entre 18-25 anos; o maior índice de satisfação, entre as de 55 anos ou mais.
Verificamos que a satisfação é maior entre as mulheres que exercem seus trabalhos integralmente no lar ou com algum grau de flexibilidade, sendo que o maior índice de insatisfação vem de mulheres que passam o dia inteiro fora de casa, diariamente. Os dados também apontaram que a forma de trabalho é diretamente influenciada pelo número de filhos. Entre as nossas respondentes, as mulheres sem filhos são mais propensas a trabalhar integralmente fora de casa, enquanto aquelas com filhos tendem a trabalhar no lar ou exercer regimes flexíveis ou parciais de trabalho.
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E AGORA?
Fizemos essa descrição porque entendemos que esse relatório é fundamental para que possamos realmente conversar com mulheres de verdade, mulheres que têm vivido as mais diferentes experiências em relação às suas formas de trabalho.
A multiplicidade de contextos e circunstâncias que a mulher cristã enfrenta em nosso país exige sensibilidade, amor, compaixão e o fim de respostas prontas e únicas a uma questão tão complexa quanto essa.
Não é objetivo deste capítulo comentar e responder a cada item, mas, sim, jogar alguma luz naquilo para o qual ele, de fato, aponta, e levantar perguntas concretas, às quais possamos dar resposta nas próximas páginas.
Por que as mulheres jovens têm estado tão insatisfeitas com seus trabalhos? Em que tipo de mentiras sobre trabalho, identidade, vocação e propósito elas têm acreditado? Qual sonho estão perseguindo para, com tanta frequência, descobrirem que aquilo que tanto queriam era só uma miragem?
Por que o trabalho tem sido fonte tão constante de frustração, exaustão, culpa, medo, dúvidas e tantas outras questões? Acaso o trabalho fora do lar é um terreno proibido, um território cuja entrada inevitavelmente levará a mulher a fracasso pessoal ou familiar, conforme a dúvida sincera e angustiada levantada anteriormente por algumas das mulheres que responderam à pesquisa?
E o que fazer com aquelas que, por causa dos mais diferentes motivos, não têm outra opção que não seja sustentar integralmente o
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lar, passando muito mais tempo do que gostariam fora de casa? Acaso elas estariam fora do tão procurado “centro da vontade de Deus” ou seriam incapazes de se mostrar totalmente piedosas e glorificar a Deus em sua solteirice, viuvez, divórcio, doença ou desemprego do cônjuge?
Como é possível que as principais pessoas a apontarem o dedo umas às outras, julgando e criticando suas formas de trabalho, sejam mais frequentemente aquelas de nossa própria família da fé? O que estamos tentando conseguir, apontar ou mascarar com comentários cortantes que desferimos contra nossas irmãs?
Por que a frase “estou tentando dar conta de tudo” está tão presente nos discursos femininos? O que significa dar conta de tudo e até que ponto este realmente é um ideal legítimo, ou mesmo possível de se atingir?
Cremos que cada uma dessas perguntas renderia, por si só, um livro. Mas também cremos que, se utilizarmos a cosmovisão cristã como lente através da qual enxergamos o trabalho, é possível recebermos sólida e útil fundamentação em respostas cheias de sabedoria. Por isso, o que pretendemos fazer, a partir de agora, é olhar para a narrativa bíblica em seus movimentos (Criação, Queda e Redenção), e compreender o trabalho da mulher por essa perspectiva — e em que medida isso muda tudo.
Toda mulher trabalha — esse é o nosso ponto de partida, um ponto que defenderemos ao longo de todo o livro, pois cremos que assim foi estabelecido, desde a Criação, por nosso Deus bondoso e trabalhador. Entretanto, a forma que trabalhamos foi manchada pelo pecado e por toda a nossa experiência aqui. Às vezes, nos falta
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perspectiva acerca de quanto esse mundo é caído, e quanto o pecado corrompeu por completo todas as nossas experiências. A realidade da Queda afeta o trabalho e a identidade feminina — e também tem afetado as respostas que um mundo cego busca para resolver questões legítimas. Assim, quando buscamos respostas a questões legítimas no lugar errado, os desdobramentos são catastróficos, e nós colhemos isso dentro e fora da igreja.
“Mas Deus...”, essa é a frase mais esperançosa da nossa história. Deus não nos deixou à deriva em nossas confusões e pecados. Ele nos enviou seu Filho perfeito, que cumpriu o seu trabalho, fez tudo o que o homem deveria ter feito, mas não foi capaz de fazer, e assumiu o preço que era nosso para que pudéssemos ter nossa relação com Deus restabelecida! Sim, por causa de Jesus, podemos viver a plenitude de vida para a qual fomos criadas, e somos libertas de nós mesmas para desfrutar a bênção que é ser criada para refletir nosso Deus em tudo o que fazemos, inclusive no trabalho! A questão, então, não é se trabalhamos, mas como trabalhamos.
Depois de apresentar essa perspectiva, vamos trazê-la para a prática diária, com princípios de sabedoria que nos ajudem a compreender como trabalhamos e como tomamos as muitas e inevitáveis decisões que precisamos tomar acerca do trabalho.
Toda mulher trabalha — e esperamos que você esteja pronta para saber mais a esse respeito, de modo a usar o que lhe vier à mão com o propósito de transformar em oportunidade para servir a ele não apenas com mãos ágeis, mas também com o coração em alegre submissão.
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PERGUNTAS PARA REFLEXÃO:
1. Você se viu representada nos resultados da pesquisa? Por quê?
2. Quais resultados achou mais surpreendente? Por quê?
3. Ore a Deus pedindo que as verdades que ele deixou para nós acerca do trabalho (que serão detalhadas nas próximas páginas) criem raízes em seu coração, a fim de que você trabalhe para a glória Dele!
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