Degustação - As queixadas e outros contos guaranis

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Olívio Jekupé

De conto em conto, conheça um pouco da cultura e da língua guarani. As queixadas e outros contos guaranis reúne sete

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narrativas tradicionais, escritas por autores indígenas que moram em aldeias em São Paulo e no Rio de Janeiro. Eles contam, entre outras histórias, por que é tão difícil caçar o urubu-rei, a origem do sol e da lua; por que os sapos fazem tanto barulho; como um menino valente

e outros contos guaranis

colocou limites ao sol, ao vento e ao frio; como um indígena conheceu a Terra sem Males.

Olívio Jekupé Ilustrações Fernando Vilela

ISBN 978-85-322-8447-1

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788532 284471

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e outros contos guaranis

Organização



e outros contos guaranis



e outros contos guaranis Olívio Jekupé Ilustrações Fernando Vilela Organização

1a edição

São Paulo – 2013


Copyright © Olívio Jekupé, Maria Kerexu, Leandro Kuaray, Jera Giselda Guarani, Luiz Carlos Karai, 2013 Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br E-mail: projetos@ftd.com.br Diretora editorial Silmara Sapiense Vespasiano • Editora Ceciliany Alves • Editora adjunta Cecilia Bassarani • Editor assistente Luís Camargo • Assistentes de produção Ana Paula Iazzetto e Lilia Pires • Assistentes editoriais Ândria Cristina de Oliveira e Tássia Regiane Silvestre de Oliveira • Preparadora Débora Andrade • Revisora Elvira Rocha • Coordenador de produção editorial Caio Leandro Rios • Editora de arte Andréia Crema • Diagramação Luis Vassallo, Sheila Moraes Ribeiro• Gerente executivo do parque gráfico Reginaldo Soares Damasceno Olívio Jekupé publicou 11 livros, a maior parte para crianças, três deles selecionados para a Biblioteca Internacional da Juventude, em Munique, Alemanha. Maria Kerexu publicou o livro A mulher que virou urutau (2011), em coautoria com Olívio Jekupé. Leandro Kuaray nasceu na aldeia Ocoy, no Paraná e vive atualmente na aldeia Sapukay, no estado do Rio de Janeiro. Jera Giselda Guarani ganhou o concurso FNLIJ/Inbrapi Tamoios de Textos de Escritores Indígenas, em 2004, e participa da antologia Indiografie: saggi e racconti scritti dai nativi del Brasile (2007), publicada na Itália. Luiz Carlos Karai publicou o livro Massacre indígena guarani, selecionado para o catálago White Ravens da Biblioteca Internacional da Juventude, em 2007.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) As Queixadas e outros contos guaranis / organização, Olívio Jekupé ; ilustração Fernando Vilela. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2013. ISBN 978-85-322-8447-1 1. Literatura infantojuvenil I. Jekupé, Olívio. II. Vilela, Fernando. III. Título. 13-03645

CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático:

1. Literatura infantil 028.5 2. Literatura infantojuvenil 028.5


7 Aguyjevete, ava’i! Aguyjevete, kunhaĩ ! 9 Xapirẽ xii, o urubu-rei Maria Kerexu e Olívio Jekupé 13 Kuaray e Jaxy Leandro Kuaray 21 Oporanduja, o sapo pidão Jera G-iselda G-uarani 29 O valente Tukumbo Jera G-iselda G-uarani 35 A moça que virou sereia Jera G-iselda G-uarani 41 O tapixi Luiz Carlos Karai 47 As queixadas Olívio Jekupé e Luiz Carlos Karai 56 Os G-uarani 58 Um dia na tekoa



Aguyjevete, ava’i! Aguyjevete, kunha˜! Bem-vindo, menino! Bem-vinda, menina! Os indígenas sempre contaram histórias. Muito antes de 1500, quando os primeiros jurua kuery (não indígenas) chegaram ao Brasil, nossos povos já contavam histórias. À noite, ao redor das fogueiras, os sábios guaranis passavam seus conhecimentos por meio de histórias; eles não tinham escrita nem escolas. Hoje, muitas aldeias indígenas têm escolas, e as crianças aprendem a ler e a escrever em suas línguas nativas e também em português. Neste livro você poderá conhecer sete contos tradicionais guaranis, escritos por autores indígenas, que moram nas aldeias Krukutu e Tenonde Porã, no distrito de Parelheiros, na cidade de São Paulo, e Sapukai, em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. Os indígenas são povos de tradição oral. Antigamente, as histórias indígenas eram contadas aos jurua kuery (não indígenas), que as escreviam e as publicavam, mas já faz algum tempo que indígenas de vários povos, como Guarani, Munduruku, Maraguá, entre outros, começaram a registrar por escrito, traduzir e adaptar suas histórias para o português, compondo o que chamamos de literatura nativa. A cada conto, conheça um pouco da língua, da cultura e dos costumes guaranis! Olívio Jekupé

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Xapirẽ xii, o urubu-rei Maria Kerexu e Olívio Jekupé


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erta vez, um índio estava ao redor da fogueira tomando

chimarrão1 e contando histórias para crianças. Um ava’i (menino) de uns 12 anos pediu ao índio para contar a história do xapirẽ xii, o urubu-rei ou urubu-branco, como dizem os jurua kuery. — Sim, claro! O índio começou a contar: — Havia um xapirẽ xii que tinha muito poder; ele era como um pajé. Diziam que ele tinha no estômago uma pedra mágica, com a qual tinha poder para fazer o que quisesse. Para ter muito poder, muitos índios começaram a desejar essa pedra, mas, para consegui-la, teriam de matar o urubu-rei. 1 O chimarrão é uma bebida feita com erva-mate, muito comum no sul do Brasil. Beber chimarrão já era costume entre os Guarani há muitos séculos e acabou tornando-se hábito dos jurua kuery (não indígenas) também.

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Para capturar o xapirẽ xii, era preciso limpar muito bem o local, para não deixá-lo desconfiado, deixar lá um animal silvestre vivo como isca, pois o urubu-rei não come animais mortos e malcheirosos, gosta de comer animal caçado por ele mesmo. Se o xapirẽ xii mordesse a isca, ainda seria preciso laçá-lo e estrangulá-lo. O índio recebeu a cuia de chimarrão e deu uma bicada. O dia estava frio e tomar chimarrão nesses dias é a melhor coisa, principalmente perto de uma fogueira. Em seguida, passou a cuia para o seguinte e continuou: — O urubu-rei é muito esperto e pressente o perigo. Todas as vezes em que se sente ameaçado, ele foge. Muitos tentaram capturá-lo, mas até hoje nunca ninguém conseguiu. Pode ser que agora mesmo mais um ambicioso esteja tentando capturar o xapirẽ xii.

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Kuaray e Jaxy Leandro Kuaray


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