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ilustrações
Anabella López
Rita Carelli![](https://assets.isu.pub/document-structure/240313123616-8c76e26ccb796ae3839bd3ffaf0095c1/v1/2f69de07182c6dfa6cfbc13d8e82e1cb.jpeg)
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Rita Carelli
ilustrações
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Copyright © Rita Carelli, 2018
Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A.
Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP
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Diretora editorial Ceciliany Alves
Gerente editorial Isabel Lopes Coelho
Editor Estevão Azevedo
Editoras assistentes Bruna Perrella Brito e Vanessa Gonçalves
Preparadora Elvira da Rocha Kurata
Revisores Fernanda Simões Lopes e Huendel Viana
Coordenadora de produção Letícia Mendes de Souza
Editor de arte Daniel Justi
Projeto gráfico e diagramação Flávia Castanheira
Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Carelli, Rita
Minha família Enauenê / Rita Carelli; ilustrações Anabella López. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2018.
ISBN 978-85-96-01651-3
1. Índios – Literatura infantojuvenil
2. Literatura infantojuvenil I. López, Anabella. II. Título.
18-15987
Índices para catálogo sistemático:
1. Índios: Literatura infantil 028.5
2. Índios: Literatura infantojuvenil 028.5
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CDD-028.5
Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014
Para minhas duas mães:
Virginia e Kawenero
Para meus dois pais:
Vincent e Ataina
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Eu vou contar a vocês como eu me tornei um menino e voltei a ser uma menina. Comecemos do início.
Eu tive uma infância… bem, um pouco diferente.
Passei parte dela em uma aldeia indígena, no Mato
Grosso, com um povo que se chama
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Quem consegue repetir?
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Os Enauenê-Nauê, mesmo morando no Brasil, falam uma língua diferente do português. Lá na aldeia, as paredes das casas são feitas de palha, e nossa cama é a rede. O banho é no rio, e o futebol eles jogam só com a cabeça. Não tem sofá nem televisão, mas que coisa boa é a vida na aldeia!
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Quando chove, na cidade, os pais e as mães logo chamam as crianças: “Entrem depressa ou vocês vão ficar doentes!”.
Pois na aldeia acontece justamente o contrário: a gente corre pra fora e o banho de chuva vira festa.
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Quando cheguei, ganhei uma mãe e um pai a mais. Isso porque os índios tinham “casado” a minha mãe com o velho Ataina, o pajé da aldeia, e o meu pai com Kawenero, a esposa de Ataina. Então, o meu irmão e eu passamos a ter uma segunda mãe, um segundo pai, e todos os filhos dos nossos novos pais se tornaram nossos irmãos. Você tem irmão ou irmã? Bem, a partir daquele dia nós ganhamos catorze!
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Nós passávamos os dias com os nossos irmãos entre banhos de rio e peixes defumados, entre jogos de arco e flecha e bandos de papagaios… Opa, mas esperem um pouco, estamos avançando rápido demais. No começo, as coisas não eram bem assim; havia um probleminha: eu era uma menina. E lá, sabe, ser menina é um pouco chato. Bem, ao menos era o que eu pensava muitos anos atrás, na época em que esta história se passa.
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Eu via as minhas irmãs o dia inteiro dentro das grandes e sombreadas casas de palha. Elas ajudavam a preparar a comida, a vigiar o fogo, a cuidar dos bebês e em uma porção de outras tarefas. Enquanto lá fora o sol brilhava, os meninos brincavam, o rio corria e as árvores estendiam seus galhos pra quem quisesse subir. Na aldeia, desde muito cedo as meninas andam com as meninas e os meninos com os meninos, sem se misturarem, feito água e óleo, cão e gato, jacaré e jabuti. Então, diante dessa situação, eu decidi… ser um menino!
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Ali, como em todos os lugares, existem regras. As mulheres, por exemplo, são proibidas de passar pelo centro da aldeia. São obrigadas a fazer a volta por trás das casas. Em compensação, ali elas reinam: é lá que põem a conversa em dia, cortam os cabelos, catam os piolhos, contam as histórias… São como dois lados da mesma moeda: o pátio e o lado público da vida são reservados aos homens, enquanto a intimidade da aldeia pertence às mulheres.
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Mas voltemos às vacas-frias: pra provar pra todo mundo que eu tinha me tornado um menino, decidi atravessar a aldeia inteira passando bem pelo centro! Cheia de coragem, ou melhor, cheio de coragem, eu me pus a caminho. Enquanto eu avançava, sentia os olhares assustados fixos em mim, como mariposas atraídas pela luz. Vi a minha mãe branca aparecer na abertura que servia de porta a uma das casas. Ela estava apavorada, mas eu não hesitava: já tinha ido longe demais e agora não havia mais volta. Fora eu, ninguém mexia uma palha.
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