Degustação - Um amigo para sempre

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. edição São Paulo – 2017
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Marina Colasanti

Um amigo para sempre

Ilustrações Guazzelli

posfácio

Fanny Abramovich

notas biográficas

Benjamin Abdala Junior e Ruth Rocha

Copyright © Marina Colasanti, 1988, 2017

Todos os direitos reservados à

EDITORA FTD S.A.

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DIRETORA EDITORIAL Ceciliany Alves

GERENTE EDITORIAL Isabel Lopes Coelho

EDITOR ESPECIALISTA Luís Camargo

PREPARADORA Bruna Perrella Brito

SUPERVISORA DE ARTE Karina Mayumi Aoki

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Julia Masagão

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Heidy Clemente

DIRETOR DE OPERAÇÕES E PRODUÇÃO GRÁFICA Reginaldo Soares Damasceno

MARINA COLASANTI nasceu em 1937, na cidade de Asmara, Etiópia (atual Eritreia), então colônia italiana. Em 1948, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Foi cronista e editora de periódicos como Jornal do Brasil e revista Nova, tendo ganho o Prêmio Abril de Jornalismo três vezes. Estreou na literatura em 1968, com Eu sozinha. É autora de mais de 60 livros, traduzida na Argentina, Colômbia, Cuba, Espanha (espanhol, catalão e galego) e França. Dentre outros, recebeu o Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) onze vezes e o Prêmio Jabuti sete vezes, ambos em várias categorias, além de duas vezes o Livro do Ano Ficção.

Este texto foi publicado anteriormente por Quinteto Editorial (1988).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Colasanti, Marina

Um amigo para sempre / Marina Colasanti ; ilustrações Guazzelli. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2017.

ISBN: 978-85-96-01042-9

1. Conto 2. Contos – Literatura infantojuvenil I. Guazzelli. II. Título.

17-04006

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático:

1. Contos : Literatura infantil 028.5

2. Contos : Literatura infantojuvenil 028.5

Esta é uma estória real. A estória de Luandino Vieira, escritor de Angola, que lutou pela independência do seu país. Mas é uma estória tão bonita que eu bem gostaria de tê-la inventado.

M. C.

porque pensava diferente dos que chefiavam seu país, aquele homem estava preso.

Ficava sozinho numa cela. Mas uma vez por dia vinham buscá-lo e o levavam para apanhar sol. Era importante que apanhasse sol, para não morrer. Os que o mantinham preso não queriam que morresse.

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L á fora era uma espécie de grande jardim rodeado de muros altos, e vigiado. Na verdade, nem jardim era, porque não tinha asseio de canteiros. Mas jardim, sim, no pensamento do homem, porque às vezes tinha flores, as árvores desenhavam manchas de sombra no chão, e havia pássaros.

Todos os dias, então, o homem juntava a alegria de que dispunha, para receber a hora de sair. E era sempre sorrindo na alma que passava pela porta maior, entrando na luz. No rosto não, não sorria, porque não queria que seus carcereiros soubessem.

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No início, quando saía, levava um livro, para ficar lendo deitado na grama, naquele que era o seu recreio. Depois percebeu que o livro era desnecessário porque, embora tendo-o aberto diante de si, não o lia, o olhar preferindo pousar sobre as folhas, os talos de grama, as nuvens, verde e azul que lhe faziam tanta falta no monótono cinza da cela.

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a partir daí começou a levar um pedaço de pão. O pão, sim, era importante para aproveitar melhor aquela hora. Botava um pedaço na boca e ficava mastigando, mastigando. Primeiro era gosto de pão mesmo. Depois, com a saliva, ia virando gosto de trigo e, deitado ao sol, de olhos fechados, o homem podia imaginar-se num trigal, com alguma água por perto, de fonte ou rio, que corria clara e na qual banharia o rosto quando tivesse vontade.

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Foi por causa do pão que o passarinho chegou mais perto. Não muito, é claro. Mas um pouco mais que os outros. O suficiente para que o homem reparasse nele e passasse a observá-lo com atenção.

Queria as migalhas. Tinha uma cabecinha delicada e redonda que inclinava para o lado, como se pensasse coisas importantes. E talvez pensasse... Os olhos também eram redondos, brilhantes como se duros. E duro era certamente o bico com que ciscava o chão sem se descuidar da perigosa proximidade do homem.

Esta é uma obra-prima de Marina Colasanti. Tem a forma de conto, mas atinge a qualidade literária e a transcendência de uma parábola. Conta a história de uma amizade entre um homem e um pássaro. O homem está preso. Essa prisão evoca uma “estória real”, a do escritor angolano Luandino Vieira.

Entrelaçando história, biografia, parábola e poesia, este conto encanta por sua refinada simplicidade. Ele pede uma leitura desacelerada, para saborear a musicalidade, as imagens e os vários sentidos do texto, como se pode ver no trecho: “[...] deitado ao sol, de olhos fechados, o homem podia imaginar-se num trigal, com alguma água por perto, de fonte ou rio, que corria clara e na qual banharia o rosto quando tivesse vontade”.

Publicado em 1988, este livro ganha agora ilustrações de Guazzelli, que valorizam o texto e ampliam os pontos de vista. O projeto gráfico, mais do que especial, instiga a reflexão e reserva uma surpresa: no verso oculto de cada página existe um céu a ser descoberto pelo leitor.

posfácio Fanny Abramovich

notas biográficas Benjamin Abdala Junior e Ruth Rocha

9 788596 010429 ISBN 978-85-96-01042-9 13301907

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