Degustação - Vendedor de sustos

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joão anzanello

carrascoza

O

Vendedor de sustos

utro dia, vi os objetos da sala lá de casa conversando. Depois, ouvi, bem baixinho, o silêncio do meu anjo. Então, vi o pote de ouro buscando o fim do arco-íris. Vi rios, árvores e montanhas me chamando para brincar. E vi um vendedor de sustos chegar, discretamente, na pequena cidade onde eu nasci. Foi aí que resolvi contar estas histórias.

ISBN 978-85-322-9282-7

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João Anzanello Carrascoza

joão anzanello

carrascoza

Vendedor de sustos

Ilustrações

juliana russo



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joão anzanello

carrascoza

Vendedor de sustos Ilustrações

juliana russo

1ª. edição

São Paulo | 2014

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Copyright © João Anzanello Carrascoza, 2014 Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br E-mail: projetos@ftd.com.br

Diretora editorial Silmara Sapiense Vespasiano Gerente editorial Ceciliany Alves Editora Cecilia Bassarani Editor assistente Luís Camargo Assistentes de produção Ana Paula Iazzetto Lilia Pires Assistentes editoriais Tássia Regiane Silvestre de Oliveira Thalita R. Moiseieff Preparadora Bruna Perrella Brito Revisora Elvira Rocha Coordenador de arte Eduardo Rodrigues Editora de arte Andréia Crema Projeto gráfico e diagramação [sic] comunicação Finalização Sheila Moraes Ribeiro Digitalização e tratamento de imagens Ana Isabela Pithan Maraschin Diretor de produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

João Anzanello Carrascoza nasceu em 1962, em Cravinhos, pequena cidade do estado de São Paulo. É autor de romances, novelas, livros de contos e obras para o público infantojuvenil. Algumas de suas histórias foram traduzidas para o inglês, francês, italiano, sueco e espanhol. Recebeu prêmios nacionais importantes, como o Jabuti, APCA, Fundação Biblioteca Nacional e Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, além do Prêmio Internacional Guimarães Rosa (Radio France Internationale).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Carrascoza, João Anzanello Vendedor de sustos / João Anzanello Carrascoza ; ilustrações Juliana Russo. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2014. ISBN 978-85-322-9282-7 1. Contos - Literatura juvenil I. Russo, Juliana. II. Título. 14-00852

CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura juvenil

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8 Atrás do arco-íris

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O Bilhete do anjo

Coisas de menino

Eu te darei o sol

42 50

Vendedor de sustoS

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Coisas de menino


H

avia tanto silêncio na sala que, de repente, ninguém

mais aguentou ficar calado. A porta da casa foi quem começou a conversa. – O menino ainda não passou por aqui – disse ela. – Nem se sentou em mim – emendou a cadeira. – E nem se espichou aqui – comentou o sofá. – E olha que ele gosta de deitar a cabeça nesse meu braço e apoiar os pés no outro. – Também não vi ele hoje – comentou a tevê. – É o menino quem vê você – disse a mesa. – Aliás, desde ontem ele não se esconde debaixo das minhas pernas. – Onde será que ele anda? – perguntou o espelho. – Sempre me dá uma olhada quando passa.

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– E faz uma careta, não é? – disse o vaso. – Só pra me provocar – disse o espelho. – Pior que não posso fazer nada. Só devolver a careta pra ele. – Bem que você se diverte – comentou a almofada. – Eu só faço o que ele faz – disse o espelho e completou: – Já com você, ele faz aquela festa!

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– Me joga pra lá e pra cá – concordou a almofada. – E bem que você gosta! – disse o abajur. – Mas a mãe dele não – retrucou a almofada. – Ainda bem que ela não sabe – disse o abajur e reclamou: – Ele quase nem me toca... – Também, se você quebra, é sermão na certa – falou o tapete. – Aquele dia, quando ele foi acender a luz e você caiu, eu amorteci a sua queda.


– Eu não tive a mesma sorte – disse o guarda-chuva. – Essa mania de ele me usar como bengala, imitando o Carlitos, já me rompeu uma vareta. – Uma vareta não é nada – disse a bola. – Ele quebrou dois vidros do vizinho e eu levei a culpa. – Pelo menos ele agita a casa – disse a parede. – Melhor do que viver, assim, parada. – E os rabiscos que ele fez em você? – perguntou o tapete. – Eu adorei! – respondeu a parede. – Cansei de ser branca, sem nenhum desenho. – Desenho? O pai dele diz que é garrancho – lembrou a janela.

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– O velho não entendeu nada – disse a mochila. – Foi o próprio pai que ele desenhou. – Tem gente que não vê além do nariz – disse a tevê. – Sinto falta do menino – disse o sofá. – Eu também – disseram, em coro, os outros objetos.

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– Será que ainda está dormindo? – perguntou o relógio. – Ele acorda cedinho... – Já acordou – disse o vaso. – Estou ouvindo um barulhinho no quarto... – Está cantando – disse o telefone. – Conheço bem a voz dele. – O menino está feliz – disse o assoalho. – Aposto que vai sair de meias e escorregar em mim.


– E, se tropeçar, eu é que vou segurar ele – falou a mesa. – Ele deve estar feliz porque o dia está lindo – disse a janela. – Ou talvez porque hoje é o primeiro dia de férias – disse a folhinha na parede. – Acho que ele está feliz por outro motivo – disse a caneta. – Eu também – disse o bloco de papel. – Ele vai passar o dia deitadinho comigo – disse o sofá. – Até parece – comentou o tapete. – Nas férias, o menino gosta é de sair de casa. – E quem não gosta? – perguntou a porta. – Eu, se pudesse, ia dar um giro por aí. – Pelo menos você tem um pezinho do lado de fora – disse o lustre. – Eu vivo preso no teto...

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