Degustação - Macunaíma

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MÁRIO DE ANDRADE

MACUNAÍMA – O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER

Macunaíma – o herói sem nenhum caráter (1928) é a obra-prima de Mário de Andrade, considerado o espírito mais vasto, o mais versátil e culto do Modernismo brasileiro. Na sua construção, o autor recriou mitos e cantigas indígenas, contos populares, rituais amazônicos e afro-brasileiros. Como escreve Noemi Jaffe no posfácio para esta edição, “Macunaíma é uma das obras mais significativas para os jovens de hoje. Se o herói sem nenhum caráter puder ser pensado como uma metáfora para o Brasil e os brasileiros, então o livro terá cumprido seu destino de estrela”. Além do texto integral e de ilustrações deslumbrantes da artista Mariana Zanetti, o leitor encontrará 520 notas e 706 verbetes de glossário, que contribuem para a compreensão de uma das obras mais instigantes da literatura brasileira.

ISBN 978-85-96-00567-8 9

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Ilustrações MARIANA ZANETTI Posfácio e notas NOEMI JAFFE



MACUNAÍMA O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER



MÁRIO DE ANDRADE MACUNAÍMA O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER Ilustrações MARIANA ZANETTI Posfácio e notas NOEMI JAFFE

1ª edição

São Paulo – 2016


Copyright © Editora FTD, 2016 Todos os direitos reservados à EDITORA FTD S.A. Matriz: Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 Internet: www.ftd.com.br E-mail: projetos@ftd.com.br Diretora editorial Ceciliany Alves Gerente editorial Isabel Lopes Coelho Editora Débora Lima Editor especialista Luís Camargo Editora assistente Agueda C. Guijarro del Pozo Preparadora Marta Lúcia Tasso Revisão técnica Renata Nakano Supervisora de arte Karina Mayumi Aoki Projeto gráfico e diagramação Luciana Facchini Designer assistente Nathália Navarro Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno O texto desta edição tomou como base a edição crítica, Paris, Association Archives de la Littérature latino-américaine, des Caraibes et africaine du XXe siècle, Brasília, DF, CNPq, 1988, Coleção arquivos, v. 6. Em respeito ao estilo do autor, foram mantidas as preferências ortográficas do texto original, modificando-se apenas os vocábulos que sofreram alterações nas reformas ortográficas dos anos 1943 e 2009. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Andrade, Mário de, 1893-1945. Macunaíma – o herói sem nenhum caráter / Mário de Andrade; ilustrações Mariana Zanetti; posfácio e notas Noemi Jaffe. – 1. ed. – São Paulo: FTD, 2016. isbn 978-85-96-00567-8 1. Literatura juvenil 2. Romance brasileiro I. Zanetti, Mariana. II. Jaffe, Noemi. III. Título. 16-05960 cdd-028.5 Índice para catálogo sistemático: 1. Romance : Literatura juvenil 028.5

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MACUNAÍMA

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MAIORIDADE

14

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CI, MÃE DO MATO

24

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BOIUNA LUNA

30

5

PIAIMÃ

40

6

A FRANCESA E O GIGANTE

52

7

MACUMBA

64

8

VEI, A SOL

74

9

CARTA PRAS ICAMIABAS

84

10

PAUÍ-PÓDOLE

97

11

A VELHA CEIUCI

106

12

TEQUE-TEQUE, CHUPINZÃO

123

E A INJUSTIÇA DOS HOMENS

13

A PIOLHENTA DO JIGUÊ

134

14

MUIRAQUITÃ

142

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A PACUERA DE OIBÊ

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URARICOERA

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URSA MAIOR

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EPÍLOGO

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POSFÁCIO

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Pensamenteando sobre o herói de múltiplos caracteres NOEMI JAFFE

NOTAS POR NOEMI JAFFE

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BIBLIOGRAFIA

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SOBRE O AUTOR

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SOBRE AS COLABORADORAS

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1 MACUNAÍMA

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma1, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas2 pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si3 o incitavam a falar exclamava: – Ai! que preguiça!4… e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força do homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados5 por causa dos guaiamuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mocambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacororô a cucuicogue6, todas essas danças religiosas da tribo.

Retinto que é muito carregado na cor. Uraricoera rio do estado de Roraima, um dos formadores do rio Branco. Tapanhuma do tupi tapuy-úna, negro. O povo indígena Tapayuna vivia originariamente na região do rio Arinos, próxima ao município de Diamantino, no Mato Grosso. Sarapantar causar espanto; espantar. Jirau cama de varas. Paxiúba palmeira que tem raízes fora da terra e cresce em áreas alagadas.

Saúva espécie de formiga que é uma verdadeira praga agrícola. Apesar de serem importantes na reciclagem de nutrientes e na fertilização do solo, possuem um alto poder de destruição. Guaiamum espécie de caranguejo do litoral brasileiro. Mocambo casa pequena, de construção simples, coberta de palha ou capim; mocambo. Cunhatã mulher; cunhã. Murua, poracê (poracé), torê (toré), bacororô, cucuicogue danças de vários povos indígenas.


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Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem7. Então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar. Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto era sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam, muito simpatizadas, falando que “espinho que pinica, de pequeno já traz ponta8”, e numa pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente. Nem bem teve seis anos deram água num chocalho9 pra ele e Macunaíma principiou falando como todos. E pediu pra mãe que largasse da mandioca ralando na cevadeira e levasse ele10 passear no mato. A mãe não quis porque não podia largar da mandioca não11. Macunaíma choramingou dia inteiro. De-noite continuou chorando. No outro dia esperou com o olho esquerdo dormindo que a mãe principiasse o trabalho. Então pediu pra ela que largasse de tecer o paneiro de guarumá-membeca e levasse ele no mato passear. A mãe não quis porque não podia largar o paneiro não. E pediu pra nora, companheira de Jiguê, que levasse o menino. A companheira de Jiguê era bem moça e chamava Sofará. Foi se aproximando ressabiada porém desta vez Macunaíma ficou muito quieto sem botar a mão na graça de ninguém. A moça carregou o piá

Macuru berço indígena. “São duas rodelas de cipó unidas uma a outra por cordéis, cobertas de algodão, formando como que um cesto, que é suspenso a um caibro da casa por uma corda, ficando distante da terra só a altura necessária para que a criança metida nela possa tocar com os pés o chão, e assim pelo movimento das pernas por si se embalar.” Pajelança ritual de cura realizado por um pajé; pajelança de caboclo: conjunto de práticas de cura xamanística, com origem em crenças e costumes dos antigos índios Tupinambás, sincretiza-

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dos pelo contato com o branco e o negro, desde pelo menos a segunda metade do século XVII. Rei Nagô um deus bom da pajelança da Amazônia, segundo Mário de Andrade no seu livro Música de feitiçaria no Brasil. Paneiro cesto amazônico trançado, feito de talas de guarimã, guarumã ou arumã. Guarumá-membeca espécie de guarumã (arumã ou guarimã), planta de até 4 metros de altura. A haste da planta é utilizada na confecção de paneiros e outros tipos de trançado.

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nas costas e foi até o pé de aninga na beira do rio. A água parara pra inventar um ponteio de gozo nas folhas do javari. O longe estava bonito com muitos biguás e biguatingas avoando na entrada do furo. A moça botou Macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!12… e pediu pra Sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato. A moça fez. Mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo13. Andaram por lá muito. Quando voltaram pra maloca a moça parecia muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. Era que o herói tinha brincado14 muito com ela… Nem bem ela deitou Macunaíma na rede, Jiguê já chegava de pescar de puçá e a companheira não trabalhara nada. Jiguê enquizilou e depois de catar os carrapatos deu nela muito. Sofará aguentou a sova sem falar um isto. Jiguê não desconfiou de nada e começou trançando corda com fibra de curauá. Não vê que encontrara rasto fresco de anta e queria pegar o bicho na armadilha. Macunaíma pediu um pedaço de curauá pro mano porém Jiguê falou que aquilo não era brinquedo de criança. Macunaíma principiou chorando outra vez e a noite ficou bem difícil de passar pra todos. No outro dia Jiguê levantou cedo pra fazer armadilha e enxergando o menino tristinho falou: – Bom-dia, coraçãozinho dos outros. Porém Macunaíma fechou-se em copas carrancudo. – Não quer falar comigo, é? – Estou de mal. – Por causa? Então Macunaíma pediu fibra de curauá. Jiguê olhou pra ele com ódio e mandou a companheira arranjar fio pro menino. A moça fez. 15 Macunaíma

Aninga planta que cresce na periferia de manguezais. Javari espécie de palmeira. Biguá ave aquática que mergulha em busca de peixes e que pode permanecer um bom tempo debaixo da água. FURO canal estreito. Derrame encosta. Tiririca planta considerada daninha às plantações e de difícil erradicação. Tajá erva de folha grande que, quando cortada e cozida, serve como verdura; taioba.

Trapoeraba espécie de planta medicinal. Serrapilheira camada superficial do solo de florestas e bosques, feita de folhas e ramos em decomposição, misturados à terra. Botar corpo adquirir tamanho de adulto. Piá criança. Enquizilar sentir quizila (desgosto). Curauá espécie de bromélia cujas folhas dão fibras para cordas, redes e cestos; curuatá; carauá; craguatá.


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agradeceu e foi pedir pro pai-de-terreiro que trançasse uma corda pra ele e assoprasse bem nela fumaça de petum. Quando tudo estava pronto Macunaíma pediu pra mãe que deixasse o caxiri fermentando e levasse ele no mato passear. A velha não podia por causa do trabalho mas a companheira de Jiguê mui sonsa falou pra sogra que “estava às ordens”. E foi no mato com o piá nas costas. Quando o botou nos carurus e sororocas da serrapilheira, o pequeno foi crescendo foi crescendo e virou príncipe lindo. Falou pra Sofará esperar um bocadinho que já voltava pra brincarem e foi no bebedouro da anta armar um laço. Nem bem voltaram do passeio, tardinha, Jiguê já chegava também de prender a armadilha no rasto da anta. A companheira não trabalhara nada. Jiguê ficou fulo e antes de catar os carrapatos bateu nela muito. Mas Sofará aguentou a coça com paciência. No outro dia a arraiada inda estava acabando de trepar nas árvores, Macunaíma acordou todos, fazendo um bué medonho, que fossem! que fossem no bebedouro buscar a bicha que ele caçara!… Porém ninguém não acreditou e todos principiaram o trabalho do dia. Macunaíma ficou muito contrariado e pediu pra Sofará que desse uma chegadinha no bebedouro só pra ver. A moça fez e voltou falando pra todos que de-fato estava no laço uma anta muito grande já morta. Toda a tribo foi buscar a bicha, matutando na inteligência do curumim. Quando Jiguê chegou com a corda de curauá vazia, encontrou todos tratando da caça, ajudou. E quando foi pra repartir não deu nem um pedaço de carne pra Macunaíma, só tripas. O herói jurou vingança.16 No outro dia pediu pra Sofará que levasse ele passear e ficaram no mato até a boca-da-noite. Nem bem o menino tocou no folhiço e virou num príncipe fogoso. Brincaram. Depois de brincarem três feitas, correram mato fora fazendo

Petum tabaco. Caxiri bebida fermentada à base de mandioca. Caruru prato feito com planta de mesmo nome, ou com quiabos, além de camarões secos, peixe, azeite de dendê, pimenta, amendoim, entre outros.

Sororoca planta nativa das Guianas e do Brasil. Coça surra. Arraiada ato de arraiar, raiar; nascer do sol. Folhiço cobertura de folhas sobre o chão.


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festinhas um pro outro. Depois das festinhas de cotucar, fizeram a das cócegas, depois se enterraram na areia, depois se queimaram com fogo de palha, isso foram muitas festinhas. Macunaíma pegou num tronco de copaíba e se escondeu por detrás da piranheira. Quando Sofará veio correndo, ele deu com o pau na cabeça dela. Fez uma brecha que a moça caiu torcendo de riso aos pés dele. Puxou-o por uma perna. Macunaíma gemia de gosto se agarrando no tronco gigante. Então a moça abocanhou o dedão do pé dele e engoliu. Macunaíma chorando de alegria tatuou o corpo dela com o sangue do pé. Depois retesou os músculos, se erguendo num trapézio de cipó e aos pulos atingiu num átimo o galho mais alto da piranheira. Sofará trepava atrás. O ramo fininho vergou oscilando com o peso do príncipe. Quando a moça chegou também no tope eles brincaram outra vez balanceando no céu. Depois de brincarem Macunaíma quis fazer uma festa em Sofará17. Dobrou o corpo todo na violência dum puxão mas não pôde continuar, galho quebrou e ambos despencaram aos emboléus até se esborracharem no chão. Quando o herói voltou da sapituca procurou a moça em redor, não estava. Ia se erguendo pra buscá-la porém do galho baixo em riba dele furou o silêncio o miado temível da suçuarana. O herói se estatelou de medo e fechou os olhos pra ser comido sem ver. Então se escutou um risinho e Macunaíma tomou com uma gusparada no peito, era a moça. Macunaíma principiou atirando pedras nela e quando feria, Sofará gritava de excitação tatuando o corpo dele embaixo com o sangue espirrado. Afinal uma pedra lascou o canto da boca da moça e moeu três dentes. Ela pulou do galho e juque! tombou sentada na barriga do herói que a envolveu com o corpo todo, uivando de prazer. E brincaram mais outra vez. Já a estrela Papa-ceia18 brilhava no céu quando a moça voltou parecendo muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. Porém Jiguê desconfiando seguira os dois no mato, enxergara a transformação e o resto. Jiguê era muito

Copaíba copaibeira; nome de várias árvores que produzem óleo medicinal e madeira avermelhada muito usada em marcenarias. Piranheira árvore grande com os ramos bem desenvolvidos, em geral parcialmente submersos nas margens dos rios da Amazônia. Seus frutos e sementes servem como alimento para piranhas e outros peixes dos rios da região. Tope a parte mais alta. Ao emboléu sem rumo; boléu ou emboléu quer dizer queda estrondosa; pelo contexto, o autor

utiliza a locução com o sentido de “aos trancos”, isto é, aos saltos, aos solavancos. Sapituca desmaio. Em riba em cima. Suçuarana onça-parda, do tupi coóáçú-arana, “o que se assemelha a veado, o que tem cor de veado”. Felino, Puma concolor, da América do Norte, Central e do Sul, que vive em montanhas, florestas tropicais e cerrados.


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bobo.Teve raiva. Pegou num rabo-de-tatu e chegou-o com vontade na bunda do herói. O berreiro foi tão imenso que encurtou o tamanhão da noite e muitos pássaros caíram de susto no chão e se transformaram em pedra. Quando Jiguê não pôde mais surrar, Macunaíma correu até a capoeira, mastigou raiz de cardeiro e voltou são. Jiguê levou Sofará pro pai dela e dormiu folgado na rede.

Cardeiro cacto comum em praticamente todo o Nordeste brasileiro. Sua raiz é utilizada no tratamento de distúrbios renais, digestivos, respiratórios e hepáticos; mandacaru (Cereus jamacaru).


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