360 sociologia

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PARTE I

Sociologia: Diálogos compartilhados

Agnaldo Kupper

VOLUMEVOLUME ÚNICO

Sociologia

ÚNICO

Diálogos compartilhados

ISBN 978-85-20-00303-9

9

788520 003039

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VOLUME

ÚNICO


Agnaldo Kupper Mestre em História pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Licenciado em História pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Professor de Sociologia e História no Ensino Médio e Superior e em cursos pré-vestibulares

Sociologia Diálogos compartilhados VOLUME

ÚNICO

1ª. edição São Paulo – 2015


Copyright © Agnaldo Kupper, 2014 Diretor editorial Lauri Cericato Gerente editorial Flavia Renata P. de Almeida Fugita Editoras Angela C. Di Cesare M. Marques Valquiria Baddini Tronolone Editores assistentes Rosane Cristina Thahira, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Eduardo Augusto Guimarães, Eveline Duarte Gerente de produção editorial Mariana Milani Coordenadora de produção Márcia Berne Coordenadora de arte Daniela Máximo Editor de arte Roque Michel Jr. Projeto gráfico, capa e Infografias Casa Paulistana Diagramação Lucas Trevelin, Rafael Ribeiro Tratamento de imagens Ana Isabela Pithan Maraschin, Eziquiel Rachetti Editores de infografias Wilson Goularte, Rosane Cristina Thahira, Maiza Garcia Barrientos Agunzi, Eduardo Augusto Guimarães Ilustrações Estúdio Mil, Glair Arruda, Ilustra Cartoon, Paulo Nilson Cartografia Mario Yoshida Coordenadora de preparação e revisão Lilian Semenichin Revisão Líder: Viviam Moreira. Revisores: Eliana Medina, F ernando Cardoso, Lilian Vismari, Rita Lopes Supervisora de iconografia Célia Maria Rosa de Oliveira Pesquisa iconográfica Paula Dias, Daniel Cymbalista, Graciela Naliati Diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Kupper, Agnaldo 360º : sociologia : diálogos compartilhados : volume único / Agnaldo Kupper. – 1. ed. – São Paulo : FTD, 2015. ISBN 978-85-20-00303-9 (aluno) ISBN 978-85-20-00304-6 (professor) 1. Sociologia (Ensino médio) I. Título. 15-03719 CDD-301 Índices para catálogo sistemático: 1. Sociologia : Ensino médio 301

Envidamos nossos melhores esforços para localizar e indicar adequadamente os créditos dos textos e imagens presentes nesta obra didática. No entanto, colocamo-nos à disposição para avaliação de eventuais irregularidades ou omissões de crédito e consequente correção nas próximas edições. As imagens e os textos constantes nesta obra que, eventualmente, reproduzam algum tipo de material de publicidade ou propaganda, ou a ele façam alusão, são aplicados para fins didáticos e não representam recomendação ou incentivo ao consumo.

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 Todos os direitos reservados à

Editora ftd S.A. Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. (0-XX-11) 3598-6000 Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br E-mail: ensino.medio@ftd.com.br


Apresentação A Sociologia enquanto ciência emana do processo industrial pleno iniciado a partir do século XVIII na Inglaterra. A prática futebolística acompanhou o desenvolvimento do sistema industrial. É como se industrialização e futebol tivessem dado as mãos, caminhando e avançando juntos. Na verdade, a vida humana, a partir do século XVIII, pode aparentar partidas de futebol, com embates, tempo medido, lutas pela “titularidade”, advertências, disputas, improvisos, regras e transgressões, simbologias da socialização, teatralizações da vida social, encenações abstratas de guerra, entre outros. Nesta obra, estudaremos a Sociologia usando o futebol como pano de fundo. Ou seja, faremos estudos, avaliações, comparações, apresentaremos teorias, muitas vezes levando o jogo da bola em consideração. Além da análise das diversas escolas sociológicas, Sociologia: diálogos compartilhados trará temas relacionados à sociedade contemporânea, como globalização, inclusão social, o papel das minorias, das redes sociais, da indústria cultural, entre outros, relacionando a Sociologia com as ciências afins e procurando dar suportes para a compreensão de conceitos. Já que o convocamos e você está no campo de jogo, fica a torcida para que aproveite bem esta obra.


Conheça seu livro

UNIDADE

III

A BOLA NÃO PARA

Fotos: Agência O Globo

Abertura

Temas contemporâneos

Introduz os principais temas que serão abordados na unidade.

Assim como a bola de futebol, que deve rolar no campo do princípio ao fim da partida, o mundo não para; está sempre em movimento e em constante mudança. Nesta unidade, vamos tratar de assuntos importantes para compreender o mundo em que vivemos. Um desses assuntos é a mudança no modo de encarar o trabalho no decorrer da história da sociedade ocidental. Analisaremos, no capítulo 6, as diversas visões sobre o trabalho. Nesse mesmo capítulo, estudaremos a história do trabalho no Brasil, a organização dos operários e as leis trabalhistas e refletiremos sobre a atual realidade dos trabalhadores no Brasil. Outro assunto fundamental para compreender o mundo de hoje é o das desigualdades sociais. Esse é o tema do capítulo 7, no qual ampliaremos o estudo, já iniciado nas unidades anteriores, da divisão social em diferentes sociedades. Estudaremos também, neste mesmo capítulo, a questão da mobilidade social no mundo capitalista, especialmente em nosso país.

Abertura de capítulo

CAPÍTULO 7

A mobilidade social na atualidade CAPÍTULO 8

O socialismo fora de nossa agenda?

Para concluir a unidade, analisaremos, no capítulo 8, os reflexos, no mundo contemporâneo, da queda dos governos socialistas europeus. Para compreender o assunto, abordaremos a concepção marxista de socialismo e as alternativas de organização igualitária da sociedade propostas por outros teóricos, como os socialistas utópicos e os anarquistas.

Reconhecer a importância da tecnologia nos ajuda a entender a evolução da bola de futebol. Da mesma maneira, precisamos conhecer os processos históricos para compreender o mundo atual.

Levanta questionamentos e relaciona os temas do capítulo com aspectos do cotidiano.

CAPÍTULO 6

Tendências do mundo do trabalho

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Com a palavra, ...

CAPÍTULO 3

A Sociologia clássica

No decorrer do século XIX, a Europa passou a vivenciar a plenitude da fase capitalista industrial, marcada pela internacionalização da produção, pelo crescimento das cidades e pela afirmação da ordem social burguesa. Uma consequência disso, nos países industrializados, foram os problemas sociais decorrentes da exploração da mão de obra pelos donos dos capitais. No plano externo, essa fase do capitalismo foi marcada por conflitos relacionados à expansão neocolonialista dos países europeus, que resultou na partilha dos continentes africano e asiático em áreas coloniais e na conquista de mercados nos países independentes da América Latina. Para essas novas regiões coloniais, foram enviadas as populações excedentes dos países europeus, que desejavam oportunidades de trabalho e de enriquecimento que dificilmente seriam encontradas no Velho Continente. A exploração desses centros coloniais apresentava-se como uma “missão civilizadora”, que ofereceria às populações afro-asiáticas a possibilidade de se inserir no contexto da modernidade europeia. França, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Itália, Bélgica, entre outras nações, mesmo sem o consentimento das áreas partilhadas e dominadas, propuseram-se a elevar essas regiões à condição de civilização, tirando-as do “estado de atraso” em que estavam.

Hildegard Rosenthal. 1940. Acervo Instituto Moreira Salles, São Paulo

O futebol nasceu entre as elites sociais e se popularizou nas ruas com as peladas e as pelejas de várzea. Prática que move e comove e que pode oferecer a imagem idealizada de uma sociedade.

Oferece um trecho escrito por um autor renomado. O nome da seção varia de acordo com o sobrenome do autor.

CONTEXTO: CAPITALISMO INDUSTRIAL E CRESCIMENTO URBANO

Comte, Durkheim, Marx e Weber são representantes da chamada Sociologia clássica. Na obra desses autores encontram-se discussões metodológicas e teóricas que nutriram e ainda nutrem as Ciências Sociais. Para conhecer o ambiente sociocultural no qual esses pensadores atuaram e desenvolveram suas ideias, vamos voltar um pouco no tempo.

COM A PALAVRA, HOBSBAWM OS IMPÉRIOS COLONIAIS

Convida o aluno a realizar uma atividade prática com base naquilo que estudou.

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As tensões políticas e militares entre os blocos socialista e capitalista, formados nesse contexto, não impediram que a URSS e os países sob sua influência passassem por amplo crescimento econômico e grandes transformações sociais. Esse foi o resultado da centralização político-administrativa empreendida pelos Estados que se tornaram dirigentes, produtores, empregadores e reguladores. A centralização, porém, gerou problemas crônicos, como baixa produtividade do trabalho, falta de inovações tecnológicas, desperdício de recursos e inaptidão qualitativa e quantitativa de produção. Esses aspectos formaram a imagem do socialismo real. Em 1985, o reformista Mikhail Gorbatchev ascendeu ao poder na URSS, principal polo do bloco socialista europeu. O dirigente iniciou uma série de transformações políticas e econômicas que tiveram profundas repercussões nos países do Leste Europeu e de outros continentes, como Cuba, por exemplo. A perestroika (reestruturação econômica) e a glasnost (transparência ou abertura política) geraram reformas que impulsionaram, de forma gradual, a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e o desmantelamento do bloco socialista europeu. A partir daí, o socialismo real entrou em colapso e provocou o fim do bloco militar do Pacto de Varsóvia. Terminou, assim, em 1989, a Guerra Fria. Uma nova ordem mundial se estabeleceu e a globalização capitalista contemporânea se configurou. É importante salientar, no entanto, que reduzir o socialismo proposto por Marx ao experimentado pela ex-URSS pode nos levar a um erro grave. Não se pode desconsiderar a importância da luta socialista ao longo da história, devendo-se a ela a implantação de várias políticas de redução de desigualdades, como a introdução das leis trabalhistas em vários países europeus e americanos, inclusive no Brasil.

Na torcida Apresenta problemas sociais que exigem uma solução urgente.

NA TORCIDA O FUTEBOL E O FIM DO PRECONCEITO

Após décadas de espera, em 2010, um país do continente africano sediou a Copa do Mundo de Futebol: a África do Sul. Nos estádios e nas ruas, as vuvuzelas (cornetas de plástico) expressavam a alegria e o orgulho de um país que, por décadas, foi marcado pelo regime de segregação racial. Enquanto o apartheid vigorou, a população negra do país foi discriminada e perseguida.

UM LANCE PRIMOROSO A ASCENSÃO SOCIAL DOS NEGROS NOS ESTADOS UNIDOS

O futebol é um pretexto para o encontro com os outros – culturalmente diferentes. O jogo da bola, por unir os torcedores, pode nos libertar de preconceitos. Mas, infelizmente, isso nem sempre acontece: ainda vemos torcedores, além de jogadores, praticando atitudes racistas contra jogadores negros. Esse fato tem se repetido com alguma frequência em jogos na Europa, na América do Sul e em outras regiões. Fica a torcida para que o respeito seja o 12º jogador de todas as equipes de futebol, sem distinção de cor, de gênero, de religião etc. Michael Steele/Getty Images

Em artigo publicado logo após a eleição de Barack Obama nos EUA, o colunista Dennis Byrne relembrou no jornal Chicago Tribune um episódio de 1967, quando era professor para alunos negros num curso supletivo no estado sulista da Geórgia. Depois de dizer a eles que poderiam ser “o que quisessem”, viu uma aluna arrancar risadas dos colegas ao anunciar ironicamente que seria procuradora-geral. Para Byrne, a aluna estava certa há quarenta anos – hoje, não. Ecoando uma visão crescente nos EUA, ele crê que a eleição de Obama comprova que as políticas de ações afirmativas implantadas a partir da Lei dos Direitos Civis, em 1964, cumpriram o papel de assegurar igualdade de oportunidades aos negros e, portanto, deveriam deixar de existir. [...] Promulgada pelo presidente democrata Lyndon Johnson sob forte pressão do movimento negro, a Lei dos Direitos Civis proibia a segregação em escolas, espaços públicos e no trabalho. Entre outras medidas, determinou que as instituições que recebem fundos públicos, como universidades privadas, eliminassem toda forma de discriminação racial. Desde então, os processos de seleção universitários e de trabalho passaram a criar mecanismos – ações afirmativas – para que o ambiente escolar ou de trabalho refletisse a composição racial norte-americana, [na qual] os negros representam 12%. Ao contrário do que se pensa no Brasil, não há cotas nos EUA – estão proibidas pela Suprema Corte desde 1978. Desde a lei, afro-americanos passaram a ocupar cargos cada vez mais altos nos setores público e privado e aumentaram sua presença nas universidades, mas as estatísticas mostram que o abismo entre brancos e negros continua em áreas como renda e educação (MAISONNAVE, 2008).

No futebol, os diferentes se tornam iguais, mesmo que por instantes. Na foto, torcedores no jogo da África do Sul contra o Uruguai na Copa do Mundo de 2010, África do Sul.

DIRETO DA REDAÇÃO IDEOLOGIA

Existem vários significados para o termo ideologia: conjunto de ideias ou opiniões a respeito de alguma discussão; posicionamento interpretativo sobre determinados fatos expostos por um autor; teoria organizacional de conhecimentos tal como prática pedagógica, ações religiosas ou posicionamentos de determinado partido político. Apesar do conceito de ideologia ter sentidos específicos e variados, é com Karl Marx que o termo ganha nova concepção. Para ele, na tentativa de explicar a realidade e estabelecer formas de ação, é necessário que sejam consideradas as formas de conhecimento ilusório que mascaram os conflitos sociais e as formas de dominação. Para compreender melhor, leia o texto a seguir.

[...] Marx afirma que a consciência humana é sempre social e histórica, isto é, determinada pelas condições concretas de nossa existência. Isso não significa, porém, que nossas ideias representem a realidade tal como esta é em si mesma. Se assim fosse, seria incompreensível que os seres humanos, conhecendo as causas da exploração, da dominação, da miséria e da injustiça nada fizessem contra elas. Nossas ideias, historicamente determinadas, têm a peculiaridade de nascer a partir de nossa experiência social direta. A marca da experiência social é oferecer-se como uma explicação da aparência das coisas como se esta fosse a essência das próprias coisas. [...] Isso não se dá apenas no plano da consciência individual, mas sobretudo no da consciência social, isto é, no conjunto de ideias e explicações que uma sociedade oferece sobre si mesma. [...] Tomadas como ideias, essas imagens ou esse imaginário social constituem a ideologia. A ideologia é um fenômeno histórico-social decorrente do modo de produção econômico (CHAUI, 1998, p. 416-417).

1. Os provérbios podem expressar a sabedoria popular. No entanto, podem adquirir contornos ideológicos. Com base em seus conhecimentos da Filosofia e da Sociologia, aponte o provável discurso ideológico que consta em provérbios como: a) “Cada um por si, Deus por todos.” b) “Em boca fechada não entra mosca.” c) “Quem espera sempre alcança.”

2. Com seu grupo, pesquise, em

Operários, pintura de Tarsila do Amaral, 1933. Para Max Weber, jornais e revistas, charges que toda ação social depende da interação entre os indivíduos. façam referência a discursos ideológicos. A seguir, crie charges que indiquem posicionamentos ideológicos. Exponham o material pesquisado e as criações em um mural.

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Um lance primoroso

Identidades étnicas e nacionais no Leste Europeu

Mostra iniciativas coletivas ou individuais que contribuem para a resolução de problemas sociais.

O fim da União Soviética e dos regimes socialistas, no final da década de 1980, foi comemorado como o início de um novo período, em que finalmente prevaleceriam a paz, a democracia e a prosperidade no Leste Europeu. Esse otimismo, no entanto, foi frustrado pelos desencontros entre as identidades nacionais e as rivalidades entre grupos que desencadearam conflitos separatistas. A fragmentação da ex-Iugoslávia, na região balcânica europeia, é um exemplo de situação desse tipo. Após um período de guerras civis sangrentas, formaram-se novos países, como Sérvia, Croácia, Montenegro e Eslovênia.

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Tarsila do Amaral. 1933. Óleo sobre tela. Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. © Tarsila do Amaral Empreendimentos.

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Direto da redação

Mackenzie Knowles-Coursin/AP/Glow Images

Essa repartição do mundo entre um pequeno número de Estados [...] foi a expressão mais espetacular da crescente divisão do planeta em fortes e fracos, em “avançados” e “atrasados” que já observamos. Foi também notavelmente nova. Entre 1876 e 1915, cerca de um quarto da superfície continental do globo foi distribuído ou redistribuído, como colônia, entre meia dúzia de Estados. A Grã-Bretanha aumentou seus territórios em cerca de 10 milhões de quilômetros quadrados, a França, em cerca de nove, a Alemanha conquistou mais de 2 milhões e meio, a Bélgica e a Itália, pouco menos que essa extensão cada uma. Os Estados Unidos conquistaram cerca de 250 mil, principalmente da Espanha, o Japão algo em torno da mesma quantidade, à custa da China, da Rússia e da Coreia. As antigas colônias africanas de Portugal foram ampliadas em cerca de 750 mil quilômetros quadrados; a Espanha, mesmo sendo uma perdedora líquida (para os Estados Unidos), ainda conseguiu tomar alguns territórios pedregosos no Marrocos e no Saara ocidental. [...] Dentre os impérios coloniais, apenas o holandês não conseguiu, ou não quis, adquirir novos territórios, salvo por meio da extensão de seu controle efetivo às ilhas indonésias, que há muito “pos- Fome e abandono nas regiões africanas cuja história está ligada à suía” formalmente [...] (HOBS- dominação colonial europeia. Na foto, refugiados sudaneses aguardam distribuição de alimento no campo de Yida, no Sudão do Sul, 2012. BAWM, 2011, p. 101-102).

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O ANARQUISMO NÃO MORREU

É um engano acreditar que o pensamento anarquista foi esquecido pelas gerações posteriores às teses libertárias do século XIX. Não foi, apesar da forte repressão que o movimento sofreu desde o seu início – sobretudo as ações repressoras voltadas para as manifestações operárias contra as desigualdades e injustiças sociais. Sufocado por todos os lados, tanto em nome da democracia capitalista, que restringe o poder ao capital, como em nome do comunismo, que colocou o Estado acima de tudo, o ideal de sociedade livre proposto pelos anarquistas parecia relegado – como se assim fosse mais seguro – a permanecer entre os inúmeros textos que povoam a literatura mundial de caráter social e libertário. [...] Um significativo exemplo de resistência anarquista é o Centro de Cultura Social, na cidade de São Paulo. O CCS foi fundado em 1933 por anarcossindicalistas que perdiam espaço na vida política operária por causa da Lei de Sindicalização, aprovada em 1931 por Getúlio Vargas, que instituiu o sindicato único por categoria. Como os anarquistas recusaram-se a aceitar essa imposição, buscaram uma forma de organização fora do espaço controlado pelo governo. Em sua primeira fase, o Centro funcionou de 1933 a 1937, quando foi fechado pela ditadura do Estado Novo. Reaberto em 1945, foi novamente fechado em 1969, dessa vez pela ditadura militar. Voltou a funcionar em 1985, e seus membros mantêm viva até hoje a reflexão sobre nossos problemas sociais. [...] Após o advento da internet, é possível deparar com centenas de páginas da web dedicadas a reivindicações anarquistas, produzidas nos mais diversos idiomas. Nelas se discutem as questões sociais e políticas do ponto de vista libertário. Assuntos recentes, como a globalização e a política de guerra dos Estados Unidos para controlar o petróleo no Oriente Médio, juntaram-se às discussões que compõem as bases da filosofia anarquista, como críticas à existência do Estado, à hierarquização e militarização da sociedade, à formação escolar que visa apenas suprir as exigências do mercado, ao domínio dos meios de produção pela burguesia e a qualquer outra forma de autoritarismo em nome da ordem pública e dos privilégios de uma minoria. A globalização econômica é entendida – e essa análise não é exclusiva dos anarquistas – como um mecanismo que reforçará o controle das grandes potências sobre a economia mundial. Um exemplo de como as teorias libertárias encontram espaço na sociedade de hoje vem da década de 1980, quando um grupo de punks se aproximou do pensamento político anarquista. A partir desse interesse, surgiu o movimento anarcopunk, cuja linha de pensamento rejeita todo tipo de autoritarismo, condena a influência de falsos valores na vida das pessoas, não permite ações de liderança e mantém-se afastado de partidos políticos (DELFINI; PETTA, 2004, p. 78-81).

Este ícone indica a existência de um objeto educacional digital (OED). Trata-se de uma ferramenta multimídia relacionada ao tema ou assunto que você está estudando.

Para Marx, a essência do lucro no capitalismo está na mais-valia (a diferença entre o valor da mercadoria produzida pelo operário e a remuneração obtida pelo trabalhador). A apropriação dessa diferença pelo empresário é necessária para a reprodução do sistema capitalista. Portanto, a sobrevivência do modo de produção capitalista está condicionada à exploração dos trabalhadores.

Por uma sociedade sem classes O proletariado superaria o capitalismo – e, consequentemente, a exploração – por meio da revolução, instaurando uma sociedade sem classes. Em uma primeira etapa da revolução, haveria a socialização dos meios de produção e o controle do Estado pela ditadura do proletariado. No momento seguinte, seria estabelecido o comunismo, no qual todas as desigualdades econômicas e sociais desapareceriam, assim como o Estado. Segundo Karl Marx, “não haveria governo sobre os homens”, mas sim “a administração das coisas”, e a divisão social do trabalho desapareceria.

MESA-REDONDA Junte-se a alguns colegas e discutam a questão a seguir: • As correntes socialistas e o anarquismo poderiam ter contribuído para estabelecer mais justiça, mais liberdade e melhores oportunidades de estudo e trabalho na sociedade em que estamos inseridos? 1936-1939. Coleção particular

BATENDO BOLA! Leia um trecho do livro Para entender o anarquismo, de Luciano Delfini e Nicolina Luiza de Petta.

• Por que, para os autores do texto, a corrente filosófica do anarquismo ainda está presente nos dias atuais?

O socialismo marxista O lançamento, em 1848, do Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, marcou a passagem das teorias socialistas utópicas para as chamadas teorias científicas (socialismo marxista). No Manifesto, escrito após a derrota das classes populares francesas na Revolução de 1848, Marx e Engels concluíram que não seria possível ao proletariado participar do poder político em um Estado organizado pela burguesia. O motivo para isso seria o antagonismo entre as duas classes sociais (proprietários e não proprietários dos meios de produção).

Batendo bola! Estabelece um diálogo com pensadores que refletiram sobre um dos temas do capítulo.

Cartaz produzido pela Federação Anarquista Ibérica (FAI), Espanha, 1936-1939.

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Mesa-redonda Gol de letra Relaciona trechos literários ou de letras de música com os temas tratados no capítulo.

e absolutistas, e indicou que o estabelecimento da liberdade de comércio e da igualdade jurídica representava um caminho sem volta. O capitalismo consolidou-se e passou a alçar voos maiores e definitivos. De forma geral, podem-se considerar três estágios econômicos no desenvolvimento histórico do sistema capitalista. O capitalismo mercantil foi marcado pela predominância da atividade comercial e pelo aparecimento do trabalho assalariado (século XI ao XVIII). O capitalismo industrial foi marcado pelo processo que resultou no domínio e no predomínio da atividade fabril, decorrentes das grandes inovações tecnológicas dos séculos XVIII e XIX. Nesse período, a burguesia industrial fomentou o processo de produção, e os trabalhadores venderam sua força de trabalho com o objetivo de produzir mercadorias. O capitalismo financeiro, a partir do século XIX, teve como características o controle da economia pelas instituições financeiras (os bancos), a formação de monopólios e o enfraquecimento da livre concorrência.

Apresenta um tema polêmico que permite levantar discussões e trocar ideias.

GOL DE LETRA É UMA PARTIDA DE FUTEBOL

Bola na trave não altera o placar Bola na área sem ninguém pra cabecear Bola na rede pra fazer o gol Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? [...] (ROSA, SAmuel; ReIS, NANdO. O samba POcOné. SãO PAulO: SONy muSIc, 1996.)

Essa letra de música interpretada pelo grupo Skank remete à paixão que o brasileiro tem por futebol. Quando da explosão do industrialismo, o futebol era praticado pelas elites. Com o tempo, popularizou-se e fincou raízes entre os populares.

Descendentes de uma tradição repleta de seres fantásticos que inspiraram heróis e vilões de filmes, livros, músicas e histórias em quadrinhos, os atuais habitantes dos países nórdicos parecem ter encontrado a forma ideal para vencer vilões como a má distribuição de renda e a miséria.

O jogador é um trabalhador como qualquer outro. Vende sua força de trabalho em troca de salário. O clube o tem como um patrimônio, vendendo-o como mercadoria, com o objetivo de obter lucro. Após a leitura, troque ideias com os colegas sobre a mercantilização do esporte: o futebol, como prática esportiva de alto rendimento, está se transformando em mercadoria? A produção de craques pode ser comparada à produção fabril?

LANCE PARA CARTÃO Séc. XIX. Xilogravura. Coleção particular. Foto: North Wind Picture Archives/AKG-Images/Latinstock

Gerson Gerloff/Pulsar

À esquerda, chaminés de siderúrgicas de Sheffield, Inglaterra, em xilogravura do século XIX. Ao lado, esgoto despejado diretamente em córrego, Rio Grande do Sul, 2011. O desenvolvimento industrial e a crescente busca por lucros são os principais responsáveis pela degradação ambiental.

Na mitologia nórdica, o teixo é uma árvore sagrada, pois uma delas, chamada Yggdrasil, sustentava o universo e os nove mundos existentes na cosmogonia.

A razão pela qual o Modelo Nórdico é tão celebrado é a altíssima qualidade de vida: mistura de Estado de bem-estar social, livre mercado, mobilidade econômica, igualitarismo, respeito aos direitos humanos e às liberdades individuais. Os países nórdicos conseguiram derrotar as crises econômicas e a pobreza.

As mulheres têm alto grau de participação na política e na economia. Na Noruega, existem políticas de cota para assegurar a presença de mulheres em cargos de chefia.

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Lance para cartão

A serpente Jormungand é um dos três filhos de Loki, deus do caos e do fogo primordial. Sabendo do potencial destrutivo da criatura, Odin, o principal deus da mitologia nórdica e pai de Thor, lança Jormungand no oceano. A serpente cresce em proporções avassaladoras: é tão grande que consegue dar a volta ao mundo e engolir a própria cauda. Na luta final entre as forças da ordem e do caos, Jormungand está destinada a morrer pelas mãos de Thor, que também perde a vida nesta batalha. Uma maneira de interpretar esse mito é que certos acontecimentos atingem proporções tão grandes que se tornam padrões cíclicos, como a serpente gigantesca que pode abraçar o mundo e ainda morder a própria cauda. E que a ruptura desse padrão só é possível a partir de um grande sacrifício.

Expõe práticas sociais que contrariam os princípios democráticos e o respeito ao ser humano e ao meio ambiente.

Noruega, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia estão entre os países com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais alto do mundo. Esse resultado reflete a existência de um Estado que provê educação de qualidade, saúde de ponta, segurança e igualdade social. Esses países compartilham práticas sociais, politicas e econômicas que permitiram aos especialistas cunhar o termo Modelo Nórdico para se referir à versão escandinava do Estado de bem-estar social.

Um dos pontos do successo do modelo nórdico é a transparência governamental. Existe uma longa e sólida tradição de participação política e de liberdade individual. O índice de confiança da população nas instituições governamentais é altíssimo.

A Suécia garante constitucionalmente o acesso a qualquer documento de Estado. Foi também o primeiro país a garantir a liberdade de imprensa (1766) e a abolir os privilégios da aristocracia no acesso a empregos públicos (1840).

O percentual do PIB em gastos públicos de cada país nórdico é muito alto se comparado ao de outros países europeus. Isso ocorre pela alta taxa de pessoas trabalhando para o governo, com sólidos planos de carreira, bem como pela aposentadoria e pelo seguro-desemprego. Uma das poucas críticas ao modelo é justamente em relação aos altos gastos públicos. Não se sabe por quanto tempo é possível manter esse equilíbrio, e qualquer queda na arrecadação poderia gerar sérios problemas. Os nórdicos rebatem dizendo que a confiança de sua população nesse sistema é tão grande que não há motivos para imaginar problemas na arrecadação.

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Como simboliza o mito de Jormungand, o ciclo da instabilidade e da desigualdade foi quebrado e um novo paradigma foi gerado devido aos esforços coletivos. Manter o Estado funcionando dessa maneira resulta em taxações que chegam a ultrapassar 50% da renda de empresas e indivíduos. Porém, a aceitação desse sistema é quase unânime, dada sua funcionalidade.

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Infográfico ENEM E VESTIBULARES QUESTÕES DO ENEM

QUESTÕES DE VESTIBULARES

1.

4. (UEL-PR) Circuito fechado

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. RAMOS, R. CiRCuitO feChAdO. in: Os melhOres cOntOs brasileirOs de 1973. PORtO AlegRe: glObO, 1974.

O texto apresenta, em uma sequência: a) os objetos de uma casa. b) uma lista de compras. c) as mercadorias de uma loja. d) as ações do cotidiano de um homem. e) os sentimentos de um homem.

2. “O único espaço público que temos é o bar. Não temos

outras áreas de lazer.” (Folha de S.Paulo, 15 maio 2006.) A fala é do produtor cultural e poeta Sérgio Vaz. Ele coordena o projeto Coperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), em que poetas da periferia da Zona Sul da cidade de São Paulo reúnem-se no boteco do Zé Batidão para realizar saraus de poesias, que chegam a reunir 400 pessoas. Com o projeto, o bar tornou-se um espaço que oferece à comunidade acesso local: a) à arte e ao entretenimento. b) às notícias e informações. c) à escolarização formal. d) a postos de trabalho. e) à prática esportiva.

3. Atualmente muitos povos com fronteiras comuns, que já foram rivais ou inimigos, estão mantendo relações de cooperação, mas outros povos vizinhos continuam em conflito armado. Nesta última situação temos os: a) brasileiros e argentinos. b) israelenses e palestinos. c) alemães e franceses. d) japoneses e sul-coreanos. e) chineses e japoneses.

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“Socialização significa o processo pelo qual um indivíduo se torna um membro ativo da sociedade em que nasceu, isto é, comporta-se de acordo com seus folkways e mores [...]. Há pouca dúvida de que a sociedade, por suas exigências sobre os indivíduos, determina, em grande parte, o tipo de personalidade que predominará. Naturalmente, numa sociedade complexa como a nossa, com extrema heterogeneidade de padrões, haverá consideráveis variações. Seria, portanto, exagerado dizer que a cultura produz uma personalidade totalmente estereotipada. A sociedade proporciona, antes, os limites dentro dos quais a personalidade se desenvolverá.” KOenig, S. elementOs de sOciOlOgia. tRAduçãO de VeRA bORdA. RiO de JAneiRO: ZAhAR editOReS, 1967. P. 70-75.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar: a) Existe uma interação entre a cultura e a personalidade, o que faz com que as individualidades sejam influenciadas de diferentes modos e graus pelo ambiente social. b) Apesar de os indivíduos se diferenciarem desde o nascimento por dotes físicos e mentais, desenvolvem personalidades praticamente idênticas por conta da influência da sociedade em que vivem. c) A sociedade impõe, por suas exigências, aprovações e desaprovações, o tipo de personalidade que o indivíduo terá. d) O indivíduo já nasce com uma personalidade que dificilmente mudará por influência da sociedade ou do meio ambiente. e) São as tendências hereditárias e não a sociedade que determinam a personalidade do indivíduo.

5. (UEL-PR) De acordo com Octavio Ianni: “Para melhor compreender o processo de estratificação social, enquanto processo estrutural, convém partirmos do princípio. Isto é, precisamos compreender que a maneira pela qual se estratifica uma sociedade depende da maneira pela qual os homens se reproduzem socialmente.” iAnni, O. eStRutuRA e hiStóRiA. in: ____(ORg.). teOrias da estratificaçãO sOcial: leituRA de SOCiOlOgiA. SãO PAulO: CiA. editORA nACiOnAl, 1978. P. 11.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre estratificação social, considere as afirmativas a seguir. I. Os estamentos são formas de estratificação baseadas em categorias socioculturais como tradição, linhagem, vassalagem, honra e cavalheirismo. II. As classes sociais são formas de estratificação baseadas em renda, religião, raça e hereditariedade. III. As mudanças sociais estruturais ocorrem quando há mudanças significativas na organização da produção e na divisão social do trabalho. IV. As castas são formas de estratificação social baseadas na propriedade dos meios de produção e da força de trabalho. A alternativa que contém todas as afirmativas corretas é: a) I e II. b) I e III. c) II e III. d) I, II e IV. e) II, III e IV.

6. (UFU-MG) A partir do século XIX, o ideal científico no campo da Sociologia consistiu na formulação de teorias sobre o Homem e a Sociedade. Acerca do pensamento científico sociológico, assinale a alternativa correta:

a) Os principais métodos nas ciências sociais em geral e na Sociologia em particular excluem a observação sistemática de ambientes sociais, uma vez que os processos de interação entre os homens e os homens e o meio sociocultural são não observáveis. b) A pesquisa sociológica e a realizada nas demais áreas das ciências sociais independem da formulação de generalizações, uma vez que as relações entre os homens e os homens e o meio sociocultural pautam-se pelas particularidades. c) As ideias científicas diferem do senso comum e de outras formas de conhecimento, pois devem ser avaliadas à luz de evidências sistematicamente coletadas e do escrutínio público. d) O pensamento científico na Sociologia deve estar comprometido com a ideia de que as teorias são temporariamente verdadeiras e que as questões nunca estão resolvidas por completo; nesse sentido, o pensamento científico sociológico se iguala ao senso comum.

7. (UFPR) Uma forma de considerar os lugares sociais di-

ferenciados que os indivíduos ocupam numa sociedade determinada constitui aquilo que se denomina, na teoria sociológica, de estratificação social. Cite e comente três critérios que podem ser levados em conta para estratificar a população brasileira.

PARA LER E VER LIVROS ANDERSON, M. S. La Europa del Siglo XVIII (1713-1789). México: Fondo de Cultura Económica, 1968. O autor relata as transformações europeias do século XVIII, tais como a urbanização, o crescimento do liberalismo e a valorização da ciência como conhecimento.

Aprofunda um tema do capítulo por meio de um esquema ilustrado e dinâmico.

Enem e vestibulares Traz atividades no fim do capítulo que avaliam o aprendizado.

DUMONT, Louis. O individualismo: uma perspectiva antropológica da ideologia moderna. Rio de Janeiro: Rocco, 1983. Nesta obra, Dumont analisa as origens do individualismo nas sociedades ocidentais desde o início da era cristã até o mundo contemporâneo. MERTON, Robert K. Sociologia: teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1970. Merton transmite com clareza os princípios da Sociologia, sua fundamentação e seus objetivos. Uma boa dica para quem deseja se aprofundar ainda mais nessa ciência.

Para ler e ver

FILMES DEPOIS de horas. Direção de Martin Scorsese. Estados Unidos: Warner Bros., 1985 (96 min). Um operador de computadores passa horas terríveis em um centro urbano (Nova York). Ele se sente só e conhece uma garota estranha com quem passa momentos complicados e de forte tensão. O que vemos nesse filme são cenários de solidão em meio a uma sociedade altamente urbanizada. MISTÉRIOS da humanidade. Direção de Barbara Jampel. Estados Unidos: National Geographic Society, 1988 (55 min). Documentário sobre a origem e a humanização do homem.

77

Oferece sugestões de livros e filmes relacionados com o que foi estudado no capítulo.


Carl de Souza/AFP/Otherimages

Sumário

UNIDADE I PREPARANDO O JOGO

UNIDADE II ROLA A BOLA

Origens das Ciências Humanas e Sociais

A produção das Ciências Sociais 10

.............................................................................................................

Capítulo 3 A Sociologia clássica

Introdução Enquanto a bola não rola – A busca pelo conhecimento Como saber?

............................

12

...................................................................................

13

A afirmação da ciência

........................................................

Capítulo 1 Um pouco de história

.............................

crescimento urbano

Organicismo

18 31

................................

O neocolonialismo e a constituição da Enem e vestibulares Para ler e ver

......................................................................

46

.......................................................................

59

............................................................................................

Capítulo 2 Indivíduo e sociedade A socialização

..........................

62

...............................................................................

63

Processos sociais

........................................................................

Estratificação social

66

...............................................................

72

.......................................................................

76

...........................................................................................

77

Enem e vestibulares Para ler e ver

61

Walter Astrada/AP/Glow Images

Antropologia

80

81

.......................

84

...................................................................................

86

Comte: dos fenômenos naturais

17

As revoluções dos séculos XVIII e XIX e o surgimento da Sociologia

.....................................................

Charles Darwin e o evolucionismo

14

aos sociais

............................

..............................

78

Contexto: capitalismo industrial e

O pensamento social e político do Renascimento ao Iluminismo

.................................

...............................................................................

87


método

......................................................................................

Marx e a análise do capitalismo Weber e a ação social Enem e vestibulares Para ler e ver

...........................

93

100

........................................................

116

....................................................................

125

........................................................................................

128

UNIDADE III A BOLA NÃO PARA

Capítulo 4 A produção sociológica contemporânea

129

Temas contemporâneos

....................

130

Capítulo 6 Tendências do mundo

..................................................

131

do trabalho

.......................................................

132

....................................................................

142

........................................................................................

144

...................................................................................

A Sociologia na América do Norte A Sociologia na Europa A Sociologia no Brasil Enem e vestibulares Para ler e ver

de diferenças e igualdades Panorama global e local

..............................................

145

................................................

146

Antropologia física e cultural Antropologia e globalização

..................................

147

...................................

148

Durkheim e a divisão do trabalho social

...........

165

capitalismo

.........................................................................

165

Marx: a desumanização do Do pré-capitalismo ao trabalho fabril O trabalho no Brasil

166 172

A realidade do trabalho no Brasil contemporâneo

............................................................

181

....................................................................

187

........................................................................................

188

Enem e vestibulares

....................................................................

158

na atualidade

........................................................................................

161

Enem e vestibulares

..........

..........................................................

Capítulo 7 A mobilidade social

..........................................................................

165

........................................................................

150

os conflitos

164

Weber: valorização do trabalho e

Para ler e ver

A Antropologia, a diversidade e

162

.........................................................

................................................................................................

trabalhador

Capítulo 5 A Antropologia em busca

Para ler e ver

Agência O Globo

Durkheim: a construção de um

...........................................................................................

Estratificação e mobilidade social

189

......................

190

.................................................

193

Tipos de mobilidade em uma sociedade de classes

Identificação das classes sociais

............................

194

........................................

195

....................................................................

204

........................................................................................

206

Mobilidade social no Brasil Enem e vestibulares Para ler e ver

Capítulo 8 O Socialismo fora de nossa agenda?

............................................................................

207

As distintas vertentes do pensamento social

.....................................................

A desintegração do bloco socialista O Socialismo ainda influencia? Enem e vestibulares Para ler e ver

208 214

................

...............................

217

....................................................................

220

........................................................................................

221


Sumário A estrutura política do

UNIDADE IV No campo de jogo

Estado brasileiro

As relações de poder

................................................................

Capítulo 9 Política, Estado e poder

...............

222 224

...............................................

225

........................................................................

O Estado liberal

.....................................................................

O Estado neoliberal

..........................................................

227 228 229

A democracia ideal e seus impasses reais

................................................................

232

..................................................................

237

......................................................................................

238

Enem e vestibulares Para ler e ver

O papel da Igreja Católica na formação do pensamento brasileiro

contemporâneo

...............................

254

..........................................................

260

..................................................................

263

......................................................................................

264

Enem e vestibulares

O liberalismo e o despotismo esclarecido

252

As tendências religiosas do Brasil

A formação do Estado moderno e o Estado absolutista

.........................................................

Para ler e ver

Capítulo 11 Globalização e bem-estar social Globalização

..............................................................................

265

.............................................................................

266

Projetos econômicos que ditam a realidade social

.......................................................

267

Os princípios do Capítulo 10 A formação

Rogério Reis/Pulsar

do Estado brasileiro

subdesenvolvimento

...................................................................

Tensão política no Império do Brasil Advém a República

239

A política social no Brasil

.............

240

Enem e vestibulares

...........................................................

245

Para ler e ver

.............................................

.............................................

..................................................................

.......................................................................................

273 275 280 281


Capítulo 14 Movimentos sociais

.........................

325

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

326

.........................................................

328

O que são movimentos sociais? As manifestações sociais na história do Brasil

Os movimentos sociais contemporâneos

.........................................................

344

Movimentos sociais contemporâneos no Brasil

...............................

347

...................................................................

352

.......................................................................................

354

Enem e vestibulares Para ler e ver

Laurence Griffiths/FIFA/Getty Images

Capítulo 15 Os problemas

Capítulo 12 Cidadania

........................................................

282

.........................................................

284

Cidadania na história

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

285

A instituição familiar

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

287

Pobreza e exclusão social

356

..................

360

......................................................

365

...................................................................

370

.......................................................................................

372

Os problemas das grandes cidades A violência no campo Enem e vestibulares

Capítulo 16 Cultura

..................................................................

A cultura: ação humana Cultura e ideologia

374

.............................................................

376

Cultura de massa e cultura popular Contracultura

................

377

...........................................................................

381

...........................................................

294

A comunicação e as redes sociais

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

301

A transmissão de cultura pelo

...................................................................

304

.......................................................................................

306

Enem e vestibulares

Capítulo 13 Desigualdade étnica

.......................

307

.......................

386

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

387

...................................................................

392

.......................................................................................

395

processo educativo Enem e vestibulares Para ler e ver

373

................................................

293

Refletindo sobre cidadania

355

.............

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Minorias e maiorias

Para ler e ver

..............................................................

O processo de urbanização do Brasil

Para ler e ver

UNIDADE V PENSANDO O JOGO Sociologia no cotidiano

da cidade e do campo

Grupos formadores da população brasileira

..............................................................................

Racismo e discriminação Enem e vestibulares Para ler e ver

...............................................

...................................................................

........................................................................................

308 312

Créditos dos infográficos Referências

.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

396

...............................................................................................

397

322 324

Lista de siglas de exames nacionais

.. . . . . . . . . . . . . . . . .

399


unidade

Carl de Souza/AFP/Otherimages

Estรกdio Nelson Mandela Bay, ร frica do Sul, 2010.

10

I


preparando o jogo

Origens das Ciências Humanas e Sociais “Como saber?”. Eis uma pergunta que nos fazemos há milênios. As respostas têm sido as mais diversas e variam de acordo com a cultura, o período histórico, a tecnologia e as estruturas social e política de cada sociedade. Afinal, vivemos em um mundo cheio de mistérios, e a busca da verdade deve ser uma postura de vida. Nesse sentido, devemos nos lembrar de que todo conhecimento pressupõe dois elementos: o sujeito que quer conhecer e o objeto que é passível de conhecimento. As sociedades e as culturas são objeto de conhecimento das chamadas ciências humanas e sociais, entre as quais figuram a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Economia e a Psicologia Social. Nesta unidade, focalizaremos as raízes e a constituição de duas dessas ciências: a Sociologia e a Antropologia. A Sociologia se constituiu como ciência no século XIX, inserida em um contexto de valorização do conhecimento metódico e racional e de grandes transformações sociais, resultantes, sobretudo, dos processos de industrialização e urbanização. Suas raízes, porém, podem ser localizadas no pensamento social que se desenvolveu na Europa a partir do século XIV, impulsionado pelo Renascimento cultural e científico e, posteriormente, pelo movimento iluminista. A Antropologia, por sua vez, nasceu no contexto da expansão neocolonial europeia dos séculos XIX e XX. Tinha como principal objetivo estudar as características sociais e culturais de sociedades distintas das conhecidas na Europa industrializada e urbanizada. Por essa razão, é conhecida como a ciência da alteridade. Como veremos, a Sociologia e a Antropologia nos fornecem importantes instrumentos para a análise e a percepção dos fenômenos próprios do existir e do conviver em sociedade. Essas ciências procuram explicar as distintas características de sociedades, grupos e subgrupos sociais, destacando suas interações e seus conflitos, bem como os valores, os hábitos, as crenças e as tradições que configuram suas culturas.

introdução

A busca pelo conhecimento Capítulo 1

Um pouco de história Capítulo 2

Indivíduo e sociedade

11


introdução • enquanto a bola não rola

A busca pelo conhecimento

João Prudente/Pulsar

Somos cheios de curiosidades e dúvidas. Sobre tudo ou quase tudo. Por isso, perguntamos o tempo todo. Vejamos um exemplo. Atualmente, quando tomamos conhecimento de notícias sobre conflitos violentos entre torcedores de clubes de futebol rivais, ou sobre fanáticos que agridem atletas que não correspondem às expectativas nos times que defendem, podemos perguntar: Por que tantas pessoas se comportam como se seus problemas se resumissem ao futebol? Para que e para quem serviu e serve o futebol? Como esse esporte se enraizou tão profundamente na vida dos brasileiros? Como uma pessoa tem paixão por um time a ponto de ver seus dias transformados após uma conquista, de se vestir como se fizesse parte do elenco de jogadores, de zombar do derrotado, de se satisfazer com o insucesso do adversário? Você reparou quantas perguntas foram feitas a partir de um só tema? A busca por conhecer sempre mais é constante no ser humano. E é bom que seja assim.

Partida de futebol de várzea disputada em Campinas, São Paulo, 2008.

12


Vivemos na “era da informação”: notícias nos chegam quase em tempo real, normalmente sem análise crítica. Em destaque, satélite de telecomunicações. Ilustração em computação gráfica. A ciência, como conhecimento, é rigorosa e racional. Na foto, cientista trabalhando em laboratório.

Alexander Raths/Shutterstock/Glow Images

Quando crianças, temos necessidade de descobrir um mundo que nos é desconhecido. Indagamos e questionamos muito. Na adolescência, as questões se tornam mais intensas, afinal estamos abandonando o mundo infantil e ingressando no mundo adulto, em uma dicotomia por vezes incentivada, sem querer, pelos mais velhos: “Você não acha que já é bem grandinho para fazer este tipo de coisa?” ou “Você ainda não tem idade para fazer isto!”. E nossa resposta, geralmente, é: “Por quê?”. No mundo atual, a tecnologia proporciona o acesso fácil e rápido a todo tipo de informação. Isso nos beneficia, mas também traz um grande risco. Muitos fatos, significativos ou não, tornam-se imediatamente notícia e chegam até nós quase em tempo real pela internet, pela televisão, pelo rádio, pelos jornais. Pois aí é que está o perigo. Recebemos muitas informações. Mas até que ponto essas informações são verdadeiras? Como decifrar algumas inverdades contidas em uma comunicação? Como identificar em uma notícia a carga ideológica que promove a manipulação dos fatos para moldar opiniões? Para ter uma atitude crítica em relação às informações que chegam até nós, é importante ir além do senso comum, forma de abordagem do mundo que nos fornece um conhecimento espontâneo, sem método, fruto da tentativa de resolver os problemas da vida diária e, portanto, fruto de aparência. O conhecimento científico, ao contrário, é rigoroso e procura evitar ambiguidades, por isso foge dos dogmas e da alienação, já que seu objetivo é obter explicações racionais. Para a ciência, não basta observar: é preciso lançar hipóteses e experimentá-las para chegar a conclusões. Em nossos estudos da sociedade, a visão científica prevalece, favorecendo a construção de um conhecimento consistente e possibilitando a adoção de uma postura crítica diante das informações que nos são apresentadas.

Cristi Mate/Shutterstock/Glow Images

Como saber?

13


A AFIrmAÇÃo DA CIÊNCIA

Séc. I. Museu Nacional Romano Palazzo Altemps, Roma. Foto: AKG Images/Latinstock

Busto de Aristóteles, cópia romana de original grego do século IV a.C.

14

O futebol como atividade de lazer pode ser jogado por todas as pessoas, pois é um esporte de fácil assimilação e improviso. Cada grupo define as regras como quer. O campo pode ser adaptado, assim como as metas (os gols). Dois pares de chinelos ou quatro pedaços de tijolo podem ser o bastante para delimitar o objetivo. O campo pode ser uma parte da calçada ou até da rua, desde que ela seja calma e tenha pouco trânsito. O piso pouco importa: regular, irregular, íngreme. Até a bola pode ser adaptada. O tempo é livre. Pode até ser organizado por número de gols marcados, como “vira a seis, termina a doze”. Oficialmente, deve haver 11 jogadores de cada lado, mas podem ser reunidos quantos jogadores estiverem à disposição. Pode haver goleiro, goleiro-linha ou não haver jogador nessa função. Pode-se apitar por consenso. A tática pode ser seguida à risca ou ser mudada. Ao contrário do futebol, cheio de improvisos, o conhecimento científico, independentemente da área de aplicação, exige método e rigor para ser produzido e deve ser expresso por afirmações sistemáticas, controladas pela experiência. A ciência supõe a análise de dados coletados e interpreta-os, não depende de juízos pessoais que envolvam emoções e valores e aspira à objetividade e à precisão, usando uma linguagem rigorosa. Isso não significa que suas posições sejam definitivas, pois a ciência é constantemente revista. As conclusões obtidas pelos cientistas são avaliadas por membros da comunidade intelectual encarregada de examinar criticamente os resultados de determinada pesquisa. Tais conclusões serão aceitas se consideradas verdadeiras, mas estarão sempre sujeitas a modificações, pois novas explicações podem ser encontradas. Para fazer ciência, é preciso estudar e pesquisar continuamente, ampliando o universo de interesse de cada área. Cada ciência é particular por delimitar um campo de pesquisa e adotar procedimentos específicos. Assim, a Biologia trata do ser vivo; a Química, das transformações; a Física, do movimento dos corpos; a Sociologia, do conjunto das relações sociais etc. Muitas vezes, a complexidade de alguns objetos de conhecimento exige que essas ciências se unam e componham estudos multidisciplinares com o objetivo de estabelecer conclusões mais abrangentes. As origens da busca do conhecimento por meio da razão remontam à Grécia antiga e passam pelo Renascimento cultural, do século XIV ao XVI, e pelos ideais iluministas dos séculos XVII e XVIII, como veremos no capítulo 1. Na cultura ocidental, os antigos gregos foram os primeiros a se preocupar com os métodos de conhecimento e a fazer distinção entre a opinião e a ciência. Platão, filósofo grego, desenvolveu a dialética, método que permitiria a ascensão do mundo das impressões sensíveis ao mundo das ideias. Aristóteles sistematizou a lógica, disciplina que pretendia ser um instrumento mais seguro e preciso para estabelecer conclusões. No início da Idade Moderna, a metodologia aristotélica foi fortemente criticada por ser apenas um instrumento de prova e demonstração, não servindo para produzir a descoberta de novos conhecimentos. O desenvolvimento das Ciências da Natureza, a partir do Renascimento, está ligado à formulação de uma nova metodologia, que se contrapunha à lógica aristotélica: a da indução e da experimentação.


Frans Hals. século XVII. Óleo sobre tela, Museu do Louvre, Paris

Ao escrever o Discurso do método, René Descartes (1596-1650), considerado um dos precursores do Iluminismo, procurou demonstrar que a verdade só pode ser obtida por meio de procedimentos puramente racionais, como os utilizados na Matemática. A ideia de unir a indução e a experiência ficou reservada a Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1642-1727) e Francis Bacon (1561-1626), para quem o conhecimento científico da natureza só poderia ser obtido quando os dados fornecidos pela observação e pela experimentação fossem traduzidos em linguagem matemática. Todo esse avanço do pensamento nos fez chegar ao método científico, baseado em procedimentos rigorosos e controlados. Indo além das explicações religiosas e do senso comum, os cientistas pretendem explicar os fatos da vida por meio da investigação, que compreende as seguintes etapas: observação, lançamento de hipóteses (etimologicamente, hypo = debaixo de; thésis = proposição), experimentação (estudo das condições determinadas pelo pesquisador) e generalização (conclusões). Assim, o conhecimento teria como base a busca pelo verdadeiro e a legitimidade viria da evidência, não da autoridade. Diferentemente das ciências da natureza (Matemática, Física, Química, Biologia, Astronomia), as ciências humanas (como Economia, Psicologia, Sociologia, Antropologia e Ciência Política) demoraram um pouco mais para se tornar autônomas. O interesse do homem moderno por si mesmo se intensificou, especialmente, a partir das transformações que ocorreram entre os séculos XIII e XV e dos questionamentos que surgiram com o Renascimento, somados aos ideais do liberalismo e do racionalismo do movimento iluminista (séculos XVII-XVIII). As transformações sociais, políticas e econômicas que se aprofundaram a partir do século XVII foram fundamentais para o desenvolvimento das ciências humanas. Vejamos por quê. Para chegar ao poder, que há séculos era dominado pela nobreza, a enriquecida burguesia ocidental assumiu papel importante em alguns eventos, como a Revolução Gloriosa (1688-1689), na Inglaterra, a Revolução Francesa (a partir de 1789) e as guerras pela independência das Treze Colônias Inglesas da América (1776-1781). Entre outras ações, esses movimentos questionaram o poder absoluto dos reis, adotaram ideias de liberdade e prepararam o terreno para a consolidação do capitalismo em sua fase industrial. Não é difícil perceber que a Revolução Industrial (tanto a Primeira, na Inglaterra, quanto a Segunda, que abrangeu vários países europeus e foi marcada pela internacionalização do processo fabril) foi parte de um processo histórico amplo e complexo, que envolveu a formação de novas classes sociais e o fortalecimento do capital. Assim, as novas feições dadas às estruturas sociais a partir da ampliação da indústria e da urbanização geraram a necessidade de uma ciência que explicasse os fenômenos sociais abruptos e contínuos que emergiram desse processo. Essa ciência é a Sociologia. Por sua vez, a expansão neocolonialista, impulsionada nesse contexto, propiciou a constituição da Antropologia. Nos capítulos a seguir, examinaremos com mais detalhes as origens e os objetos de conhecimento dessas duas ciências.

Retrato de René Descartes, pintura de Frans Hals, século XVII. O pensador francês afirmou: “Penso, logo existo”. A frase se transformou em síntese do racionalismo.

15


Impactos da urbanização Contam que antigamente os moradores das cidades reclamavam do chiado dos carros de boi e não gostavam nada dos cocôs de burros, cavalos e bois, que davam um cheiro de estábulo às ruas das cidades. Quando chegou o bonde elétrico, havia os que olhavam com desconfiança para aquele “monstro de ferro que andava sozinho”. Ano após ano, as cidades foram crescendo, e quem nelas vivia nem percebeu. Imagine só a cara de espanto que fariam os moradores da pequena Vila de São Paulo de Piratininga, da velha cidade de São Salvador ou da Recife de antigamente, se hoje vissem como cresceu a sua cidade. O crescimento das cidades e os tempos modernos que chegavam com suas invenções mudaram a vida das pessoas. Já não era mais possível conhecer todos os habitantes da cidade, tirar o chapéu e dizer um bom-dia a quem passava, simplesmente porque quem passava era um desconhecido. A conversa da família após o jantar já não acontecia mais porque havia chegado o rádio, que absorvia a atenção de todos. Que dizer então dessas conversas depois que a televisão invadiu as casas e se tornou a verdadeira “rainha do lar”? As cidades cresceram e os tempos mudaram. Muitos problemas deixaram de existir, outros surgiram. A intensidade dos problemas aumenta à medida que as cidades crescem. Mas, em maior ou menor grau, não há cidadão urbano que não reclame da falta de água limpa, de esgoto encanado, rios vivos e agradáveis de se olhar, de casas baratas e confortáveis para viver, escolas, hospitais, de transporte bom e barato, ruas limpas e com todos os melhoramentos: luz, segurança, sinalização, arborização. Talvez, nas cidades pequenas, esses problemas sejam menos graves do que nas grandes. Mas, considerando que os centros urbanos ainda continuam crescendo, é bem possível que a pequena cidade de hoje seja a metrópole de amanhã (RODRIGUES, 1992, p. 51-52).

Hung Chung Chih/Shutterstock/Glow Images

Ar poluído em Xangai, China, 2013. As novas paisagens urbanas podem não surpreender os mais jovens, mas são o resultado de muitas transformações.

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capítulo 1

Um pouco de história

Giorgio Vasari. Séc. XVI. Palazzo Vecchio, Florença. Foto: Photo Scala, Florence/Glow Images

O estudo da sociedade configurou-se como ciência a partir do século XIX. Mas suas raízes podem ser encontradas no pensamento social e político que se desenvolveu na Europa no contexto do Renascimento cultural e científico (século XIV ao XVI) e, posteriormente, do movimento da Ilustração ou Iluminismo (séculos XVII e XVIII). Esses movimentos culturais abriram caminho para o conhecimento científico em detrimento de outras abordagens da realidade, como o senso comum, a religião e o mito, destacando a necessidade de rigor na busca da verdade e valorizando a razão (racionalismo). Vamos conhecer um pouco dessa história.

Disputa de calcio na praça Santo Spirito, Florença, 1527. O número de jogadores dependia do tamanho do campo. O jogo era violento e barulhento.

17


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